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5.2.2. Caracterização da pequena propriedade rural “Sitio


Yaginuma”, em Mogi das Cruzes

Histórico da família e da propriedade

A Família Yaginuma é originária da província de Fukushima, município Iwase,


bairro Kagashi Ishi, no Japão.

Segundo Ikeda (1954) e conversa com descendentes, a família partiu do


Japão em agosto de 1928, à bordo do navio “La Plata Maru”, sendo composta pelos
patriarcas Kyugo Yaginuma (32 anos), sua esposa Tama (31) e 4 filhos: Teru (10),
Fuji (7), Ken (3) e Hiraku (1).

No Brasil, a família instalou-se inicialmente na Colônia Aliança II, região


noroeste do Estado de São Paulo, onde iniciou a cultura de café nos 10 alqueires
previamente adquiridos ainda no Japão. Porém, após 1 ano de trabalho árduo, a
“grande geada negra” acabou com a plantação e a esperança da família de se tornar
grande produtora naquela região. Era uma época muito difícil não só para a família,
mas para toda a população brasileira e mundial, que enfrentou a grande recessão
global de 1929, com consequente falência de grandes fazendas seculares, assim
como de pequenas propriedades produtivas. Não bastando estes ocorridos, havia a
guerra civil constituinte no Estado de São Paulo contra a Federação (1921-32) e a
região era afetada por doenças como a malária, fatal e muito temida na época.

Assim, no ano de 1932, a família Yaginuma migrou para o município de Mogi


das Cruzes, mas na região de Biritiba Mirim, estabelecendo-se em um sitio alugado
de 2 alqueires. Nesta época, já havia na região de Mogi das Cruzes cerca de 7 a 10
famílias japonesas. Neste sitio, a família optou pela cultura de tomate (Fig.40),
seguindo outros imigrantes da região, pois naquela época os brasileiros consumiam
apenas tomate, batata e couve manteiga como vegetais.
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Figura 40: Família Yaginuma trabalhando na cultura de tomate. Fonte: acervo pessoal da família.

Em 1939, passados 11 longos e árduos anos, a família finalmente adquiriu a


tão sonhada “terra próspera”. Era um lote de cerca de 6 alqueires, próximo ao km 9
da estrada Mogi-Salesópolis, adquiridas por 10 contos de reis da família Inoue, uma
das pioneiras em Cocuera e que haviam comprado as terras de Carlos Stemberg.
Nesta ocasião já haviam nascido mais 4 crianças, Tiseko, Hirobumi, Shizue e Shisei,
totalizando 8 filhos. No sitio, já desmatado (as matas nativas eram cortadas para
comercialização de lenha e o terreno nu era vendido a preços baixos) (Fig. 41),
foram plantadas 500 mudas de pessegueiro, 100 mudas de caqui e 100 mudas de
pera, cultura que já estava estabelecida na região na época (Ikeda, 1954).
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Figura 41: Família Yaginuma trabalhando na terra recém comprada, em Cocuera - Mogi das Cruzes,
São Paulo, Brasil. Fonte: acervo pessoal da família.

Após 24 anos longe do Japão, O patriarca Kyugo Yaginuma retornou à sua


cidade natal (em 1952) para reencontrar seus pais idosos e parentes e trazer ao
Brasil a futura esposa do filho primogênito Ken Yaginuma, a sta. Nobu Nizeki,
também natural de Fukushima. Aproximandamente 1 ano após o seu casamento
(Fig. 42), Ken e Nobu deram à luz ao primogênito Jairo Yooiti Yaginuma (1954),
herdeiro e atual proprietário do sitio. A família final era composta por 6 filhos, sendo
o primogênito e filho único homem já supracitado, e as filhas Olga Hiromi, Elizabete
Nanako, Célia Miyako, Rita Ayako e Lúcia Tamae.
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Figura 42: Familia Yaginuma no casamento de Ken e Nobu Yaginuma (1953). Laterais da 1ª fileira:
Tama e Kyugo Yaginuma. Centro da 1ª fileira: Nobu e Ken Yaginuma. Ao fundo, a 1ª casa construída
na propriedade, feita de pau a pique. Fonte: acervo pessoal da família.

Em relação à produção agrícola, relatos de familiares indicam que após


décadas de produção de pêssego (Fig. 43 e 44) e caqui, na década de 60 a
fruticultura no sitio ainda era predominante, havendo cultivo de nêspera e caqui
ramaforte, e sendo a uva a principal cultura, que perdurou por cerca de 15 anos (Fig.
45). Entretanto, por volta de 1972, uma forte chuva de granizo comprometeu a
plantação de uva e a criação de frango de corte manteve o sitio por cerca de 5 anos.
Na década de 80 os relatos indicam produção de ovos de codorna e maracujá doce,
além do ensaio com outras culturas na época pouco comuns, como o kiwi, o qual
não passou da 1ª safra. Nesta década ocorreu o esvaziamento do sitio, entende-se
por redução da mão de obra familiar, com a geração jovem saindo para estudar e se
estabelecer em outros lugares, além de formar suas próprias famílias. Todos os
filhos de Ken Yaginuma foram formados em cursos superiores no Brasil, pelo
trabalho e esforço na produção agrícola. Entretanto, nenhum dos filhos retornou ao
trabalho agrícola na propriedade, sendo que ao longo do tempo, já na década de 90,
a produção se reduziu e se manteve com o auxílio de no máximo 2 empregados e
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nos anos 2000 encerrou-se a comercialização da produção própria e iniciou-se o


arrendamento do sitio para terceiros, os quais sempre trabalharam com horticultura
intensiva.

Figura 43: Familia Yaginuma trabalhando no encaixotamento de pêssego. Indivíduos da direita para
a esquerda: patriarcas Kyugo e Tama, o primogênito Ken e seus irmãos e irmãs. Fonte: acervo
pessoal da família.

Figura 44: Ken Yaginuma, ainda jovem, no pomar de pêssego. Fonte: acervo pessoal da família.
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A
B

C D

Figura 45: Ken Yaginuma, e a família, na produção de uva. A e B: Ken Yaginuma no embalamento
de caixas de uva. C e D: a família sob as videiras. C: a criança (menino) no centro é Jairo Yaginuma.
Fonte: acervo pessoal da família.

Ken Yaginuma era muito atuante em diversos setores da sociedade da região.


Destaque para sua atuação como presidente do Kaikan de Cocuera entre 1991 e
1992, mandato em que a tradicional festa do Pêssego de Cocuera foi alterada para o
atual Furusato Matsuri, em adequação à realidade da agricultura da região, que na
época estava se diversificando e tendo a produção de pêssego reduzida (Fig. 46).
Outras atuações foram os longos anos de magistério de judô, com diversas
participações em campeonatos e conquistas para o bairro e a cidade (Fig. 47), e a
atuação religiosa na Igreja budista Zenguenji, localizada no bairro do Ipiranga, onde
foi presidente em um mandato.
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A B

Figura 46. A: painel comemorativo na I Festa do Furusato (Festa da Terra Natal), realizada pela
Associação dos Agricultores de Cocuera, sob a presidência de Ken Yaginuma (1991). B: Fachada do
prédio da Associação, na festa comemorativa dos 70anos da imigração Japonesa ao Bairro Cocuera.
A criança em destaque é Marcos Yaginuma (filho de Jairo Yaginuma, 4ª geração da família no Brasil,
em 1989).

Figura 47: representantes


do Judô de Cocuera, um dos
pioneiros no Brasil,
premiados e reconhecidos
nacionalmente e
Mundialmente. Na extrema
esquerda, Ken Yaginuma,
faixa preta 4º Dan e
professor na Associação por
muitos anos.

Em 2003 Ken Yaginuma sofreu um AVC que paralisou a parte esquerda de


seu corpo e assim, ficou impossibilitado de administrar o sitio de forma próxima. O
uso da terra ficou livre para os arrendadores, sendo supervisionado na medida do
possível pelo seu filho mais velho, Jairo, na época residente há mais de 500 km de
distância, na região de Ribeirão Preto e Barretos, norte do Estado de São Paulo.

Com o agravamento do estado de saúde de Ken e sua esposa Nobu, Jairo,


seguindo a tradição japonesa como primogênito e único filho homem, mudou-se com
sua esposa para o sitio, para cuidar dos pais e da propriedade em (2006).
Entretanto, o cuidado intensivo com a família e as atividades externas oriundas de
seu trabalho de eng. Mecânico dificultavam o manejo do sitio, optando-se por manter
o arrendamento da maior parte da propriedade para produção de hortaliças. Nesta
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mesma época procurou-se arrendar o remanescente de pés de caqui ramaforte que


ainda existe na propriedade. O trato seria de que o arrendador se responsabilizaria
pelo manejo das árvores, colheita, beneficiamento e venda das frutas, e poderia ficar
com todo o lucro da produção. Entretanto, mesmo com estas condições facilitadoras,
não foi encontrado nenhum interessado na atividade que já não estivesse muito
ocupado com sua própria produção, ou se interessava apenas na compra do produto
já beneficiado para comercialização.

Em 2011, com o falecimento de Ken e Nobu, Jairo e sua esposa, Laura,


assumiu completamente a administração do sitio, utilizando 30% da área produtiva
para a produção de plantas ornamentais destinadas ao paisagismo e mantendo o
arrendamento para hortaliças. Em 2013, com o crescimento do interesse em turismo
rural, a propriedade recebeu a 1ª turma de turistas para visitação, colheita e
consumo in natura de caqui ramaforte e colheita de “takenoko” (broto de bambu –
muito utilizado na culinária oriental). A turma era composta principalmente de
senhoras da 3ª idade, descendentes de orientais e moradoras/frequentadoras do
bairro Liberdade e outros bairros urbanos da zona sul de são Paulo.

No final de 2013 ocorreram 2 incêndios durante o longo período de seca, os


quais destruíram cerca de 1/3 dos remanescentes de caqui ramanforte, e uma
pequena parte da reserva legal da propriedade.

Na primeira metade de 2014 a família encerrou o contrato de arrendamento


do sitio, devido ao legado de degradação ambiental verificada nos últimos anos e
ficou livre para planejar e retomar o uso da terra.

Benfeitorias

Ao longo do tempo e das gerações, a família realizou benfeitorias no sitio


como a construção de açudes para disponibilização de água para irrigação e vários
poços rasos para consumo humano (por volta de 3); uma casa de pau a pique, a
qual foi substituída por um grande casarão de 7 dormitórios até hoje muito bem
conservada (residência com cerca de 70 anos), um barracão galpão auxiliar, uma
garagem para carros e outra para tratores e implementos, ambas cobertas, uma
casa para família de funcionários e algumas construções acessórias, tais como
quarto para amadurecimento de caqui e pequeno viveiro de aves (granja).
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Na atualidade, restou a casa sede, bem conservada e habitável, o barracão


para insumos e equipamentos e a garagem para carros. O Galpão para tratores, a
casa de funcionários e a granja se deterioraram e o quarto para amadurecimento de
caqui foi transformado em sanitários para trabalhadores e turistas.

Figura 48: Benfeitorias na propriedade. A: casa sede, onde reside os atuais proprietários. B: galpão
estacionamento de tratores e implementos, atualmente em estado deteriorado.
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Caracterização geográfica e ambiental

O sitio Yaginuma está localizado em Cocuera, bairro rural do município de


Mogi das Cruzes, São Paulo, encontrando-se à aproximadamente 5 km da mancha
urbana, e uma distância de menos de 1km (900m) da rodovia Mogi-Salesópolis por
estrada de terra (Fig. 49 e 50) e cerca de 2km do rio Tietê em linha reta.

Figura 49: Localização do Sitio Yaginuma em relação à cidade de Mogi das Cruzes. O círculo
vermelho indica a localização.

Fonte: imagem Google Earth, 2014, acessado em 05/03/2014.

Figura 50: Localização do Sitio Yaginuma em relação à ao rio Tietê. O corpo d’água mais próximo é o
córrego Cocuera, há cerca de 100m da propriedade.
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Os limites da propriedade (Fig. 51) foram definidos por 4 pontos (A, B, C e D),
cujas coordenadas geográficas encontram-se na tabela 9, compreendendo uma área
total de 145.000m2, ou 14,5ha.

Figura 51: Imagem panorâmica do Sitio Yaginuma. A linha laranja é o contorno da propriedade.

Fonte: modificado de imagem Google Earth, acessado em 07/03/2014.

Tabela 9: coordenadas geográficas dos pontos limites do “Sitio Yaginuma, georreferenciadas pelas
imagens do Google Earth.

Ponto Coordenadas S Coordenada W


A 23º 33’ 38’’ S 46º 09’ 08’’
B 23º 33’ 47’’ S 46º 08’ 51’’
C 23º 33’ 52’’ S 46º 08’ 52’’
D 23º 33’ 50’’ S 46º 09’ 10’’

Fonte: modificado de Google Earth, acessado em 07/03/2014.


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Relevo e disponibilidade de água

Bouzid et al. (2005), cita quatro tipos morfogeográficos agricultáveis presentes


na região do alto Tietê Cabeceiras, sendo que o Sitio está localizado em uma área
do tipo 2: Várzea em área de morros, conforme figura 52 e tabela 10. Entretanto,
apesar deste tipo de relevo indicar possibilidade de escassez de água em
determinados períodos (tabela 10), o sitio nunca passou por nenhum problema de
estiagem ou secagem de suas fontes de água.

Figura 52: tipos de domínio morfogeográficos agricultáveis na região do Alto Tietê Cabeceiras. O
Sitio Yaginuma encontra-se no em área tipo2.

Fonte: Bouzid et al., 2005

Tabela 10: tipos de domínio morfogeográficos agricultáveis na região do Alto Tietê Cabeceiras e seus
riscos em relação á disponibilidade de água.

Fonte: Bouzid et al., 2005.


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Ocupação atual do solo

Do total de 14,5ha, o sitio é cortado por uma faixa de servidão de passagem


de linhas de transmissão de energia elétrica da empresa Furnas Centrais Elétricas,
que ocupam área de cerca de 3,35ha. No centro da propriedade há uma nascente
(localizada em 23º 33’ 46’’S e 46º 09’ 03’’W), envolta por uma área de proteção
permanente - APP de 7.100m2 de vegetação (nativa e exótica). Nas duas
extremidades opostas há duas áreas de reserva legal, não declaradas, que juntas,
abrangem 17.800m2 do território. O sítio possui também três açudes decorrentes de
barramento artificial do corpo d’água originado pela nascente, que ocupam uma área
total de 2.550m2, antes de sofrer assoreamento.

Segundo dados do cadastro da propriedade no INCRA (Certificado de


Cadastro de Imóvel Rural - CCCIR), a propriedade possui 3,97 módulos rurais
(sendo o Módulo Rural da região: 3,5012ha) e 2,9 módulos fiscais (sendo o Módulo
Fiscal da região: 5ha). Do total da propriedade, 0,7ha são declarados como áreas
ocupadas por benfeitorias (moradias, estradas e construções úteis e necessárias às
atividades rurais), restando 12,2ha de área aproveitável para atividades produtivas
agropecuárias. Os dados do sitio estão resumidos na tabela 11 e figura. 53.
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Figura 53: Diagnóstico Ambiental do Sitio Yaginuma. APP: Área de Proteção Permanente de
nascente. RL1 e RL2: Reservas Legais contendo remanescente de vegetação nativa e exótica.

LEGENDA:
Nascente
Limites da propriedade
Açudes – área inicial (2008)
Faixa servidão Furnas

APP
RL2

RL1
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Tabela 11: áreas e respectivas % de tipo de ocupação do solo na propriedade.


% da área
Tipo de ocupação do solo Área (m2)
total
Propriedade total 145.000 100
Faixa Servidão Furnas 33.538 23,13
APP (nascente) 7.100 4,90
RL1 5.800 4,00
RL2 12.000 8,28
Açudes (originais) 2.550 1,76
Área Moradias e Benfeitorias 7.000 4,83
Área produtiva restante 110.550 76,24

Faixa de servidão de linhas de transmissão de Energia Elétrica

Segundo a EPTE (2014), as faixas de servidão para passagem de linhas de


transmissão caracterizam-se como locais com restrições, com limitações no tocante
à implementação de uso e ocupação que configurem violação dos padrões de
segurança estabelecidos nas normas técnicas e procedimentos das concessionárias
de energia. O uso compartilhado destes locais depende de análises técnicas e de
segurança, não sendo vedada, entretanto, usos que não exponham pessoas a
condições de risco, nem venham a representar óbices ou limitações à plena
operação da instalação.

No caso das faixas instaladas em áreas rurais, a convivência e o usufruto da


área de servidão são permitidas, embora o proprietário ou usuário da terra deva
observar restrições quanto a determinadas atividades, tais como plantio de
vegetação de porte arbóreo, implantação de edificações, criação de animais e
realização de queimadas (EPTE, 2014).

No sítio Yaginuma, as faixas de servidão das linhas de transmissão de Furnas


ocupam uma área considerável, 33.538m2, representando mais de 20% do território
da propriedade. Este dado é relevante para o planejamento de uso do solo, não se
podendo prever construções, silvicultura e sequer restauração de florestas nesta
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área, sendo que a APP da nascente encontra-se praticamente no limite da faixa, no


lado de fora (Fig. 54-A), mas deveria ser expandida para melhor proteção da
nascente. As faixas começaram a ser instaladas a partir de 1987, época em que na
área havia cultura de uva, kiwi e caqui. Apesar de apresentar porte arbóreo, os pés
de caqui são baixos e não necessitaram ser retirados, sendo uma parte do pomar
existente até os dias de hoje sob as linhas (Fig. 54-B). Atualmente a maior parte da
área está preenchida por cultivo de hortaliças (Fig. 54-C).

A B

C Figura 54: Faixa de servidão sob as linhas


de transmissão de energia elétrica da
empresa Furnas, que ocupa mais de 20%
da área da propriedade e possui restrições
de uso do solo. A: APP da nascente ao
lado das linhas de transmissão. B:
Caquizal sobrevivente sob as linhas de
transmissão. C: plantio de hortaliças, uma
das práticas permitidas nas faixas de
servidão.

Áreas de proteção da Vegetação – APP e RLs

Área de Proteção Permanente – APP da nascente

Para uma propriedade rural, ter disponibilidade de água é fundamental, e


assim, possuir uma nascente é um bem precioso, que deve ser conservado todo
custo. A “Área de Proteção Permanente” – APP tem a finalidade de conter a erosão
e manter a permeabilidade do solo ao redor da nascente e, assim, manter a
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produção de água em boa quantidade e qualidade. A APP da propriedade abrange


uma área de 7.100m2, porém em formato retangular, deixando as laterais mais
estreitas com uma distância de em torno de 25m da nascente. O Código Florestal de
2012 instituiu o dever de manter área florestada circular com raio de 50m distante da
nascente (inciso IV do art. 4º), mas no art. 61-A desta mesma lei, no §5º,
regulamenta a recomposição de apenas 15m de raio da nascente, em caso desta
ser considerada área rural consolidada. Assim, no caso desta propriedade frente à
legislação, o tamanho da área da APP está adequada e não necessitaria ser
alterada. Entretanto devemos considerar outros aspectos desta APP, como a
diversidade biológica e se esta está exercendo a função acima referida de proteção
da nascente, manutenção da produção de água e da qualidade desta água.

Em relação à diversidade biológica vegetal, pode-se observar claramente que a


APP é composta em sua maior parte por uma única espécie ou indivíduo vegetal, o
bambu “vara de pesca” (provavelmente a espécie Phyllostachys bambusoides var.
áurea) de origem chinesa. Esta espécie provavelmente foi introduzida no Brasil por
meio da colônia japonesa, e antigamente era muito recomendada para controle da
erosão (assim como outros bambus alastrantes) por formar uma malha de rizoma no
solo, além de ser utilizada na confecção de varas de pesca, cercas e tutores para
árvores frutíferas (Tombolato et al., 2012). Entretanto, por ser altamente rústica e
alastrante, este bambu dominou toda a área, em detrimento da diversidade das
espécies nativas. Há também incidência de outra espécie de bambu,
provalvelmente o Bambusa vulgaris Schrad. ex J.C.Wendl, entouceirante, também
de origem chinesa, muito utilizada na alimentação humana e apreciada pela colônia
oriental. Outras poucas árvores nativas foram observadas sobressaindo-se do
bambuzal (Fig.55), tais como 3 árvores de cedro (Cedrela fissillis), 1 araucária
(Araucaria angustifolia), 1 capixingui (Croton florimbundus) e 1 palmeira jerivá
(Syagrus romanzoffiana) já na borda do bambuzal. Provavelmente todas estas
espécies arbóreas nativas ou foram plantadas ou já existiam antes da instalação do
bambuzal, dado o porte das árvores. Dentro do bambuzal há uma incidência grande
de lianas (plantas trepadeiras) e uma diversidade grande de plântulas de outras
espécies arbóreas crescendo no sub-bosque, mas que não excedem 70cm de altura
(Fig. 56). A explicação provável é de que o bambu alastrante impede o
estabelecimento das espécies arbóreas nativas, por possuir compostos alelopáticos
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ou sufocar o crescimento. Entretanto a grande diversidade de plântulas indica que o


banco de sementes da área é muito rica, viável e pode ser utilizada para restauração
florestal da própria área.

B C

Figura 55: Espécimes arbóreos sobressaindo sobre o bambuzal no Sitio Yaginuma. A: Araucária
(Araucaria angustifólia) e Capixingui (Croton florimbundus). B: Cedro (Cedrella fissilis) e palmeira
jerivá (Syagrus romanzoffiana). C: Cedro (Cedrella fissilis).
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Figura 56: Plântulas de espécies arbóreas crescendo no sub-bosque do bambuzal da APP.

Nascente

Dentro da APP, em meio ao bambuzal, observa-se um afloramento de água e


a formação de um corpo d’água que atravessa uma calha assoreada. Há 1 década
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atrás, este leito formava uma represamento, mas o assoreamento e a ravinação das
margens (Fig. 57) alteraram o aspecto da nascente, tornando-o a espalhada. Apesar
do aspecto impactado das margens, a produção de água da nascente é
praticamente constante, mas o fluxo de terra carreada pela água da irrigação e
chuvas deixou o corpo d’água difuso e a água com coloração marrom.

Figura 57: Nascente e suas margens. A: nascente assoreada. Há uma década atrás, esta área
formava um pequeno lago. B-E: Margens do corpo d’água recém formado dentro da APP, com focos
de desmoronamento e ravinas. A seta azul mostra a direção da água que escorre da plantação, entra
no bambuzal (APP), provoca desmoronamento das margens e assoreia o corpo d’água. E: Ravina na
cabeceira da nascente. A Ravina tem quase 2 metros de desnível. Em todas as imagens é possível
observar as raízes de árvores e bambu nuas, indicando que estas não estão sendo suficientes para
conter o desbarrancamento.
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Reserva Legal - RL

O Art. 12. do Código Florestal institui a necessidade de conservação de 20%


da área da propriedade com vegetação nativa, a título de Reserva Legal, e o art. 15º
acrescenta que as áreas de APP podem ser computadas para o cálculo deste
percentual, com algumas ressalvas.

O sítio Yaginuma, possui duas áreas de vegetação nativa remanescente


visíveis nas imagens do Google Earth (Fig. X, pag 3), a qual denominamos RL1 e
RL2. No total, a soma de áreas com vegetação nativa remanescente (reunindo as
RLs e a APP já existente) é de 17,18% da área da propriedade, não alcançando os
20% necessários

Ambas as RLs apresentam boa variedade de espécies nativas, e plantas


muito altas, ainda que os remanescentes sejam de regeneração secundária. Em um
breve levantamento inicial pôde-se observar grande presença de espécies nativas
denominadas pioneiras, como capixingui, sangra d’água, tapiá e embaúbas,
espécies de valor econômico como cedro, aroeira mansa, além de angicos, ingás,
mamica de porca, frutíferas como o araçá amarelo e grumixama, e palmeiras como o
jerivá. Destaque é dado à considerável presença de palmito Jussara e existência de
samambaias-uçu (xaxim) (Fig. 58), plantada ou/e conservada pelas gerações
anteriores de proprietários. Entretanto é relevante citar a grande quantidade de
vegetação exótica e ornamental encontrada também nas RLs da propriedade, o que
demonstra o histórico da intervenção antrópica, com elementos da cultura nipônica e
a aptidão ao cultivo de plantas ornamentais pela família. Algumas das espécies são
exóticas invasoras, estão em grande quantidade e apresentam ameaça a diversas
espécies nativas na propriedade. Um exemplo é a Palmeira Real Australiana,
introduzida no Brasil por ser muito ornamental e produzir palmito, mas que ameaça o
Palmito Jussara. Outro exemplo é o bambu Mossô, espécie chinesa muito alastrante
e que está dominando a RL1 e sufocando o crescimento e sobrevivência dos
indivíduos das outras espécies arbóreas. Há também crescimento espontâneo de
árvores de nêspera e cafeeiros, ainda que estas culturas nunca tenham sido
plantadas de forma sistemática na propriedade.
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Figura 58: Espécies ameaçadas de extinção presentes no sitio Yaginuma. A: Banco de plântulas de
Palmito Jussara (Euterpe edulis) ao redor da árvore mãe. B: espécimes de Xaxim (Dicksonia
sellowiana), conservada por várias gerações de proprietários da família.

Açudes

São um total de (3) três açudes na propriedade, decorrente de barramento do


corpo d’água, logo após a emergência deste da área de APP. Estes açudes foram
construídos há mais de 60 anos atrás, para suprimento de água de irrigação da
propriedade, ornamentação e lazer da família (Fig. 61-A). Entretanto, a partir de
2005, com a arrendamento das áreas ao redor para olericultura intensiva, a falta de
manejo adequado do solo, adubação química e irrigação em excesso (Fig. 59) tem
levado à degradação dos açudes. Imagens de 2014 (Fig. 60-A e B, tabela 12)
mostram o desaparecimento total do 1º açude por assoreamento (pois este era
originalmente o mais raso, com profundidade inicial de 50cm), e de perda de área e
volume de água considerável dos outros dois açudes mais fundos (profundidade
inicial entre 1,5 a 2m, em 2005). O segundo açude apresentava área aproximada da
lâmina de água (ano de 2005) de 750m2, tendo perdido após quase 10 anos cerca
de mais de 58% de sua área (440m2) ou 880m3 de volume de água. O 3º açude, o
maior e único atualmente aproveitável, apresentou perda não menos relevante: 51%
de área e aproximadamente 930m3 de água.
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Figura 59: escorrimento de excesso de água de irrigação da horticultura arrendada, lavando o solo e
nutrientes, causando sulcos, ravinas, erosão, assoreamento e eutrofização dos açudes. Imagens de
2013. A: água da irrigação formando sulcos. B: lavagem do solo. C: ravinas e erosão acentuada. Por
este buraco, a água da irrigação corria direto para os açudes. D: água de irrigação formando
cachoeira e empoçando na estrada de terra do bairro.

Tabela 12: estimativa de perda de área e volume de água dos açudes entre 2006 e 2014.
Volume
Área lâmina
Área lâmina d’água Área % água
Açude d’água inicial* –
atual* – 2014 (m2) perdida* perda perdido
2008 (m2)
(m3)
1 600 0 600 100 300
2 750 310 440 58,67 880
3 1200 580 620 51,67 930
Total 2550 890 1660 65,09 2110
*Valores aproximados, estimados a partir das imagens do Google Earth em 2008 e 2014.
134

A B

3
2
1

Figura 60: Açudes da


C propriedade Yaginuma em
diferentes anos, mostrando o
assoreamento e perda de lâmina
de água.
3
A: açudes em 2005. Imagem
Google Earth, acessada em
2 04/12/2008. As setas e
números indicam a ordem dos
1 açudes, de montante à jusante.

B: O esquema em detalhe
mostra a perda de área de
lâmina de água de cada açude
entre 2005 e 2014, por meio de
sobreposição de imagens no
AutoCAD.

C: Açudes em 2014. Imagem


Google Earth, acessada em
28/03/2014.
135

B C

D E

Figura 61: Imagens dos açudes em


F diferentes momentos. A: Açude em bom
estado de conservação, utilizado para
recreação da família, em 2010. B: 2º açude
em 2013, muito assoreado. C: 3º açude em
2013, eutrofizado por excesso de
nutrientes depositados pela água da
irrigação da área de cultvo de hortaliças
arrendada. D-F: açudes em momentos
diferentes de proliferação excessiva de
plantas aquáticas, também por excesso de
nutrientes carreados pela água de
irrigação.
136

Saneamento básico

Apesar da característica rural do bairro Cocuera, o sitio localiza-se em área


considerada urbana, possuindo iluminação pública e coleta de lixo, mas não recebe
abastecimento de água e nem esgotamento sanitário do sistema público.

Esgotamento Sanitário

O sistema utilizado atualmente para esgotamento sanitário são duas fossas


negras, distante 50m da casa sede, fechada por telhas de barro e isolada por uma
cerca de bambu para evitar acidentes como quedas (Fig. 62). A cobertura encontra-
se mal conservada, com telhas quebradas, o que expõe a fossa ao contato de
animais externos como ratos, répteis, anfíbios e insetos. As fossas encontram-se
distantes 12m do poço de irrigação, e 13m do 1º açude (corpo d’água), em ponto
mais elevado que ambos, representando risco de contaminação do poço e dos
açudes. Como a água do poço não foi analisada, nada podemos inferir sobre se há e
qual o estado da contaminação. Ao redor das fossas encontra-se um pomar cujos
frutos são para consumo da propriedade.

Os efluentes líquidos não sanitários (não provenientes das latrinas) são


despejados diretamente no solo por meio de encanamento direcionado a uma vala a
céu aberto, liberando odor e ao redor da qual é realizado o cultivo de frutas e
verduras para consumo da propriedade.
137

A B

Figura 62: A: fossas negras que recebem


esgoto sanitário e outros efluentes
líquidos da propriedade. As fossas estão
cobertas por telhas e isoladas por cerca
de bambu, as setas amarelas indicam
frutos de árvore frutífera na proximidade.
B: telha quebrada permitindo acesso à
fossa por animais. C: Esgoto doméstico
C sendo despejado em vala aberta. A seta
vermelha indica o encanamento.

Resíduos sólidos

A coleta pública de lixo foi implantada na região a partir de 2012. Por não ser
seletiva, a propriedade não envia todos os resíduos para a coleta, acumulando a
maior parte dos resíduos sólidos no próprio sítio.

Na propriedade, o lixo doméstico é separado em orgânico, seco reciclável e


contaminado (lixo sanitário). Parte dos resíduos secos recicláveis produzidos na
propriedade, como embalagens plásticas, caixas de papelão e sacolas plásticas são
reaproveitados como recipientes de armazenamento e transporte. As caixas de leite
e suco “Tetrapack” são utilizadas como recipientes para parte das mudas produzidas
no viveiro. A propriedade recebe e reutiliza pneus para formação de canteiros de
plantas aromáticas e hortaliças para consumo próprio (Fig. 63-A) e recolhe doações
de restos de toras de eucalipto para composição das cercas da propriedade (Fig. 63-
B). Os resíduos orgânicos (restos de alimentos) são espalhados na mata ao redor da
138

propriedade para decomposição natural. O lixo contaminado (lixo sanitário e lixo


molhado) é atualmente enviado para coleta pública, mas antes era queimado em
fogueiras semanais, juntamente com restos de materiais não aproveitáveis na
propriedade, como aparas de madeira e produtos têxteis deteriorados. Estes últimos
ainda são queimados, mas com menor frequência (em geral mensalmente). As
fogueiras geram efluentes gasosos e risco de incêndios, pois além de não ser
realizado isolamento da área, a fogueira é feita próxima à floresta da APP da
nascente, área dominada por bambuzal contendo densa serrapilheira de folhas
secas e bambus secos (Fig. 63-C).

O material não reutilizado, não descartado em coleta pública e não queimado


é armazenado para doação a empresas de sucata (Fig. 63-D). Entretanto o contato
com as empresas é complicado, pois na maioria das vezes é necessária muita
insistência para que a retirada do material seja realizada e, quando efetuada, as
empresas contratadas recolhem somente o que lhes interessam. O restante do
material fica armazenado sem prazo determinado, por meses ou anos, de forma
desorganizada, ao ar livre, sendo potencial foco de contaminação, acúmulo de água
e atração de animais indesejados, como ratos, cobras, lagartos e insetos vetores de
doenças ou peçonhentos.

Por fim, há as embalagens de insumos e agrotóxicos, as quais são


armazenadas no barracão de insumos, até que se encontre destino apropriado.
Conforme a Lei Federal 9.974, de 6/06/2000 (Lei dos Agrotóxicos), estas deveriam
ser lavadas de forma adequada e devolvidas às empresas de onde são compradas.
Entretanto a realidade é a grande dificuldade de retorno destas embalagens, uma
vez que a maioria das empresas não possuem pontos de recebimento destas
embalagens usadas.
139

Figura 63. A: reutilização de pneus para formação de canteiros de hortaliças e plantas


aromáticas. B: armazenagem de troncos de eucalipto tratados recebidos como doação,
para utilização em paisagismo. C: fogueira para queima de lixo sobre a palha seca e
próxima ao bambuzal, com alto risco de causar incêndios. D: armazenagem dos resíduos
sólidos sem critérios, trazendo risco de contaminação, ferimentos e atração de animais
indesejados.
140

Caracterização potencial produtivo e econômico

Na propriedade atualmente moram 3 pessoas da família na casa sede e 1


pessoa no alojamento. Trabalham na propriedade 4 pessoas da família, sendo todas
em tempo parcial, uma vez que funciona uma empresa de Paisagismo com escritório
sede na propriedade, mas pela qual são executados trabalhos externos ao sítio.
Trabalham 1 parente em tempo integral na manutenção do sitio e 2 funcionários
registrados na empresa de Paisagismo, mas que nos horários livres ajudam no
trabalho do sitio. No total são 7 trabalhadores, cujas habilidades e funções estão na
tabela 13.

Tabela 13: Recursos Humanos potenciais para o sítio Yaginuma

Trabalhador Função/responsabilidade Período


Habilidades
/formação no sitio trabalho

Projeto e execução de Administração geral, planejamento


obras e jardins, e coordenação de obras,
especialista em lagos revitalização do sitio, coordenação
Arquiteta Paisagista parcial
ornamentais produção plantas ornamentais,
recursos humanos, manutenção
sitio

especializado em design e
Administração geral, planejamento,
implantação de plantas
Engenheiro coordenação e manutenção do
industriais do setor de parcial
mecânico sitio, planejamento
processamento de frutas
estratégico/produtivo
(sucos e derivados)

Administrador de
finanças Administração geral / finanças parcial
empresas

Planejamento, coordenação e
Botânica/Gestão
Bióloga execução – viveiro de mudas e parcial
Ambiental
plantas ornamentais

Limpeza e manutenção sitio, rega


Auxiliar geral Serviços gerais integral
plantas, manutenção equipamentos

Manutenção do viveiro e produção


Auxiliar de
jardinagem nas horas livres da empresa de parcial
Jardinagem1
Paisagismo

Manutenção do viveiro e produção


Auxiliar de
Jardinagem / motorista nas horas livres da empresa de parcial
Jardinagem2
Paisagismo
141

O esquema de trabalho é familiar/empresarial. A maioria dos trabalhadores


dispõem de tempo parcial para o sitio pois trabalham com prioridade na empresa de
Paisagismo. Os funcionários são registrados pela empresa de paisagismo.
Entretanto, o próprio sítio possui uma área que é utilizada para produção de parte do
material vegetal utilizado nas obras de paisagismo e jardinagem, mas que não supre
completamente as obras, devido à variedade de plantas exigida e a falta de
disponibilidade de tempo dos trabalhadores para se dedicar exclusivamente a
produção.

A ocupação produtiva do sítio é a seguinte: em torno de 1/6 da área


potencialmente produtiva (área agriculturável, sem vegetação remanescente) é
utilizada para produção de plantas ornamentais e viveiro de mudas, 2/6 são
ocupados com pés de caquis hamaforte atualmente sem tratos culturais e o restante
é de área até recentemente arrendada para horticultura, mas que agora está
disponibilizada.

O sítio possui um (1) trator e dois (2) implementos agrícolas, (roçadeira e pá),
mas carece de mão de obra qualificada na condução destes equipamentos e nos
tratos culturais. Possui um galpão para insumos, equipamentos e materiais. Possui
também eletrificação rural e comunicação telefônica e via celular e internet (apesar
de muito falhas e deficientes). Uma área da moradia sede é destinada ao escritório
administrativo e a varanda desta moradia é utilizada para a recepção de pessoas
(visitantes de turismo e eventos).

Segundo o histórico de uso da área, formação dos trabalhadores e familiares,


disponibilidade de tempo de trabalho para o sítio e uso das áreas vizinhas,
identificamos as aptidões produtivas para o sítio como: horticultura, fruticultura,
plantas ornamentais e paisagismo, plantas nativas, turismo e lazer rural, turismo
pedagógico.

5.2.2.1. Próximos passos sugeridos para o Sítio Yaginuma

Assim, os próximos passos sugeridos para o sítio Yaginuma são:


142

1) Regularização e adequação ambiental:

- cadastro no CAR e pedido de outorgas de desassoreamento de corpo dágua


(desassoreamento dos açudes) e captação de águas superficiais (para irrigação);

- manejo do solo: confecção de terraços e valas para contenção da água da


irrigação e chuvas, impedindo o assoreamento da nascente, corpo dágua e açudes,
bem como redução dos eventos de eutrofização;

- recuperação da nascente com proteção das encostas e recomposição da APP com


vegetação Nativa.

2) Saneamento básico:

- Implantação de Saneamento rural: fossa séptica/biodigestor, e Estação de


tratamento de esgotos (ETE);

- desenvolvimento do processo de separação e destinação de resíduos sólidos;

- realização de compostagem para processamento de resíduos orgânicos e


produção de adubo.

3) Construções e benfeitorias:

- abertura;conserto das estradas internas;

- construção do galpão de armazenagem de insumos;

- construção e melhoria do viveiro de mudas;

- reforma galpão/garagem equipamentos e tratores;

- construção de moradias para funcionários e outros colaboradores (familiares);

- construção de salão restaurante/auditório para eventos/recepção dos turistas.


143

4) Desenvolvimento das atividades produtivas de modo sustentável


(algumas sugestões):

- expansão da produção de mudas nativas e ornamentais com práticas sustentáveis;

- desenvolvimento de horticultura e fruticultura orgânica;

- criação integrada de animais (galinhas, carneiros, psicultura);

- desenvolvimento do turismo rural sustentável;

- desenvolvimento de turismo pedagógico.

5.2.2.2. Conclusões preliminares e perspectivas

Esta propriedade contém as características típicas da zona rural deste


Município e de boa parte da região rural do Alto Tietê Cabeceiras, apresentando,
assim algumas das características da nova ruralidade, como abordagem dos
negócios rurais como empresa, ainda que essencialmente familiar, equiparação do
modo de vida rural e urbano e foco em prestação de serviços, em redução da
produção de produtos primários. Entretanto necessita de adequações ambientais e
sanitárias, mas nada que não possa ser realizado nos próximos meses. A maior
dificuldade é a falta de disponibilidade de tempo e recursos financeiros dos
trabalhadores e a necessidade de reforma/construção de algumas benfeitorias
(galpões, viveiro).

Por fim, aproveitando-se estas características supracitadas com associadas a


um bom planejamento produtivo e gestão desta propriedade, acreditamos que seja
possível integrar as múltiplas funções designadas à esta propriedade rural, como a
de provedora de recursos naturais, de serviços ambientais, de segurança alimentar,
de renda e de qualidade de vida.

Os resultados futuros indicarão se foi possível a associação entre a


conservação do meio ambiente e a atividade rural sustentável.
144

6. Considerações Finais

Ao longo deste trabalho foram surgindo particularidades que a serem


destacadas: um deles é o quanto a imigração japonesa na região influenciou a
história local, e, principalmente a agricultura. E o quanto a colônia Nikkei do o
município e particularmente do bairro de Cocuera contribuíram com pioneirismo no
desenvolvimento de tecnologias agrícolas, sendo muitas delas perdidas nas
lembranças dos moradores, ou registradas como traços nos livros e reportagens
locais, de forma superficial ou com informações desencontradas. Alguns exemplos
bem sucedidos foram registrados timidamente, como por exemplo, algumas técnicas
de irrigação, variedades de frutas e hortaliças e o pioneirismo no associativismo.
Outras, porém permanecerão no escuro, como as pesquisas de variedades de aves
da granja Nagao e principalmente as de fundo de quintal, como as experiências de
novos cultivos de frutas como o Kiwi e o maracujá doce realizados por meu avô em
nosso sitio.

Outros legados que este trabalho deixa são, na verdade o início:

O trabalho com a Associação dos Agricultores de Cocuera revelou que no


manejo das culturas, estamos no meio das mudanças tecnológicas. Muitas das
“novas” tecnologias consideradas mais sustentáveis atualmente são, na realidade,
um resgate de práticas tradicionais utilizadas por nossos ancestrais. Na década de
20 -30 do século passado, já havia relatos dos técnicos agrícolas da região
instruírem a adubação com esterco, por exemplo. Sugestão de novos trabalhos
poderiam ser o resgate destas técnicas, ou o planejamento do futuro da região,
através de um diagnóstico mais técnico e detalhado das propriedades e de sua
história. Outros trabalhos, muito necessários, são no esforço de idealizar, adaptar e
implantar projetos e soluções que visam à sustentabilidade da região. Ao menos a
maioria dos proprietários demonstraram interesse.

Em relação ao próprio Kaikan, será importante realizar adaptações às novas


realidades, principalmente em relação ao envelhecimento dos associados e às
mudanças da região que incorpora traços do “novo rural”, com a diversificação da
produção, de atividades, surgimento de novos serviços e a conservação ambiental.
145

Quanto à propriedade “Sítio Yaginuma”, o objetivo inicial era realizar um


diagnóstico ambiental e um planejamento ambiental/produtivo para a propriedade.
Entretanto, acabamos realizando um trabalho mais inicial, com o resgate histórico e
apresentação da situação atual da propriedade, subsídios para os próximos
trabalhos de planejamento, adequação e implementação dos projetos escolhidos.
Um dos caminhos sugeridos pelo contexto é a exploração do turismo rural, dada a
região, município, bairro ter uma aptidão natural para o turismo que está se
emergindo na atualidade. Associando-se ao resgate cultural, teremos muito o que
mostrar. Entretanto ainda é só o começo. Antes disto é necessário arrumar a casa e
prepará-la para a festa.

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