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Hugon, Eduardo
A doutrina teológica de Cristo rei [livro
eletrônico] / Eduardo Hugon ; [tradução Douglas
Abreu]. – Londrina, PR : Instituto Padre Pio, 2023
PDF
Título original: Doctrina theologica de Christo rege
ISBN: 978-85-52993-13-1
1. Concílio Vaticano (2. : 1962-1965) 2. Deus
(Cristianismo) 3. Doutrina cristã 4. Liturgia –
Igreja Católica 5. Teologia católica I. Título
23-178921 CDD-231.72
Nota Prévia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
I. Fundamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
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A D O U T RI NA T E O LÓ G I CA D E C RI S TO REI
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A DOU TRINA
TEOLÓGICA DE
CRISTO REI
SEGUNDO A ENCÍCLICA DE PIO XI
‘QUAS PRIMAS’ E A LITURGIA DA NOVA FESTA
DOCTRINA THEOLOGICA
DE CHRISTO REGE
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I n t ro d u ção
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I. <Fundamenta>. I. Fundamentos
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I . F u n da m en t o s
Liturgia festi ambos titulos ef- A Liturgia da Festa refere ambos os títulos.
fert. Sive collecta sive præfat-
Tanto a coleta quanto o prefácio cantam o
io canunt universorum regem,
eodem nempe iure nativo, quo “Rei do universo”, pelo mesmo direito de
Paulus dicit hæredem univer- natureza por que S. Paulo o chama “herdei-
sorum (Hb 1, 2). In matutino
recolitur Rex qui est a Deo con- ro universal” (cf. Hb 1, 2). Nas Matinas, fa-
stitutus, qui gentes accipit ut la-se do Rei constituído por Deus, que re-
hæreditatem suam, quem ado-
rabunt omnes reges terræ, cui
cebeu os povos como sua herança, a quem
omnes populi et tribus et linguæ adorarão todos os reis da terra, a quem ser-
servient. virão todos os povos, tribos e línguas.
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I . F u n da m en t o s
Opinio negans videtur rem ni- A opinião negativa parece considerar o as-
mis restricte et imperfecte in- sunto de maneira demasiado restrita e im-
spexisse ac regnum temporale
cum regno mere mundano con- perfeita, além de confundir reino temporal
fundere; rationes quas afferebat com reino meramente mundano; as razões
evincunt tantum non habuisse
Christum exercitium et usum,
que aduz mostram apenas que Cristo não
at nullatenus ostendunt defuisse o usou e exerceu, mas não demonstram
ipsi verum ius regium. de modo algum que Ele não possuísse um
verdadeiro direito régio.
Encyclica altiori et universaliori A Encíclica considera e resolve a questão
respectu quæstionem considerat
et solvit, ostendendo Christum
de um ângulo mais alto e universal, mos-
totum, seu Salvatorem illum trando que Cristo todo, isto é, o Salvador
qui subsistit in utraque natura, que subsiste nas duas naturezas, divina e
divina et humana, esse regem
absolute in quovis ordine, tem- humana, é Rei absolutamente, em qual-
porali et spirituali, quia semper quer ordem, temporal e espiritual, porque
inspiciendum est quænam iura
et prærogativæ ex unione hypo-
sempre se devem considerar quais são os
statica toti Christo conveniant: direitos e prerrogativas que convêm a Cris-
“Nemo non videt nomen pote- to todo em virtude da união hipostática:
statemque regis, propria quidem
verbi significatione, Christo ho- “É manifesto que o nome e o poder de Rei,
mini vindicari oportere” (AAS no sentido próprio da palavra, competem a
loc. cit., 596).
Cristo em sua humanidade” (n. 5).
Ratio princeps huius asserti ex A razão principal dessa tese a partir da ín-
indole unionis hypostaticæ re-
dole da união hipostática se encontra no
petitur in præfato documento,
potestque in forma syllogisti- referido documento e pode assim ser pro-
ca sic proponi: vi hypostaticæ posta em forma silogística: (1) por força da
unionis Christus tantum me-
união hipostática, Cristo é digno de tanta
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retur honorem, ut omnes ho- honra, que todos os homens, príncipes e an-
mines et principes et angeli,
omnia scilicet creata, debeant jos (ou seja, todas as coisas) devem adorá-lo
illum cum natura assumpta com a natureza assunta; (2) ora, quem está
adorare (Cf. S. Thom., STh III,
obrigado a venerar e adorar a Cristo está,
25, De adoratione Christi, aa.
1 et 2). Sed qui tenentur Chri- por isso mesmo, obrigado a sujeitar-se ao
stum colere et adorare eo ipso seu império; (3) logo, por força da mesma
tenentur eius imperio subiici.
Ergo, vi eiusdem unionis, tan- união, Cristo tem tamanho império, que to-
tum obtinet Christus imperium, dos, absolutamente, devem-lhe obediência
ut omnes creaturæ, etiam reges
e sujeição. Por isso, só pelo título de união
et angeli, debeant illi obedire et
subiici absolute. Quocirca, iam hipostática, Cristo, também na natureza as-
solo unionis hypostaticæ titulo sunta, tem poder e direito sobre todo o uni-
seu nomine, Christus etiam in
natura assumpta potestatem et verso, embora não tenha querido, enquanto
ius obtinet in totum universum, viveu neste mundo, exercer essa potestade
licet noluerit in terris degens
régia, como adverte a Encíclica:
hanc regiam exercere potesta-
tem, prout monet encyclica:
Contudo, enquanto viveu sobre a Terra,
“Attamen, quod in terris
vitam traduxit, ab eiusmo-
absteve-se totalmente de exercer este
di dominatu exercendo se domínio temporal, e desprezou a posse e
prorsus abstinuit, atque, regimento das coisas humanas, que dei-
ut humanarum rerum
possessionem procuratio-
xou e deixa ainda ao arbítrio e domínio
nemque olim contempsit, dos homens. Verdade graciosamente
ita eas possessoribus et expressa no conhecido verso: “Não arre-
tum permisit et hodie bata diademas terrestres, quem distribui
permittit. In quo perbelle
illud: Non eripit mortalia, coroas celestes” (Hino Crudelis Herodes,
qui regna dat cælestia”. no Ofício da Epifania) (n. 13).
Plura hic tradit S. Doctor: 1º) Muito mais ensina aqui o santo Doutor:
Christum quoad ius esse etiam 1.º) Cristo é por direito, também na ordem
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I . F u n da m en t o s
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II. <Motivum II. O motivo da Encarnação
Incarnationis>.
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I I . O m o t i vo da En ca r n ação
sequitur. Nos utique tenemus vi Nós, com efeito, defendemos que, em vir-
huius unionis Christum consti-
tui omnium regem et recipere tude dessa união, Cristo foi constituído Rei
gentes hæreditatem suam; at de todas as coisas e recebeu os povos como
probandum est Scotistis fore
sua herança; são os escotistas que devem
unionem independenter ab ho-
minis lapsu. provar que se daria a união <hipostática>
independentemente da Queda do homem.
Argumentum Scotistarum de- O argumento dos escotistas deveria ser
beret hoc modo proponi: Si fit
unio hypostatica, constituitur proposto dessa forma: (1) se se dá a união
Christus rex. Atqui foret unio hipostática, Cristo é constituído Rei; (2)
hypostatica etiam homine non
ora, dar-se-ia a união hipostática, mesmo
peccante. Ergo, etiam homine
non peccante, constitueretur que o homem não pecasse; (3) logo, ainda
Christus rex. que o homem não tivesse pecado, Cristo
seria constituído Rei.
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Hinc concludit encyclica Chri- Portanto, conclui a Encíclica que Cristo foi
stum esse constitutum a Patre
hæredem universorum, ut abo- constituído pelo Pai herdeiro universal, a
leat peccatum et regnum pec- fim de abolir o pecado e o reino dos pe-
catorum: “oportet autem ipsum
cadores: “Cumpre que reine até o fim dos
regnare donec, in exitio orbis
terrarum, ponat omnes inimi- tempos, quando arrojará todos os seus
cos sub pedibus Dei et Patris”. inimigos sob os pés de Deus e do Pai” (cf.
Non meminit Papa alicuius
regni quod non sit ad nostram 1Cor 15, 25). O Papa não fez menção a ne-
redemptionem et salutem ordi- nhum reino que não esteja ordenado à nos-
natum.
sa redenção e salvação.
Pariter liturgia canit Regem Sal- Outrossim, a Liturgia canta o Rei Salvador,
vatorem, cui dixit Pater: Ecce a quem disse o Pai: “Vou fazer de ti a luz
dedi te in lucem gentium, ut sis
salus mea usque ad extremum das nações, para propagar minha salvação
terræ; hymni celebrant Princi- até os confins do mundo” (Is 49, 6); e os hi-
pem qui debet: devios ovile in
unum ducere; quæ omnia reco-
nos celebram o Príncipe que deve “recon-
lunt lapsum. duzir os que erram a um só redil”, tudo o
qual se refere à Queda.
Obiici posset in liturgia efferri Poder-se-ia objetar que se aduzem na Li-
textus, Pauli qui dicunt Chri-
stum esse primogenitum omnis
turgia textos de Paulo que dizem ser Cristo
creaturæ, in quo condita sunt o primogênito “de toda a criação”, no qual
universa… ut sit in omnibus foram criadas todas as coisas, e por isso
ipse primatum tenens.
tem o primeiro lugar em todas as coisas (cf.
Col 1, 15.18).
Resp. 1: In hoc loco quædam Resposta 1: Nessa passagem, predicam-se
dici de Christi ratione naturæ
divinæ, ut sit conditor et con- algumas coisas de Cristo em razão da na-
servator omnium: “omnia per tureza divina, como o ser criador e con-
ipsum et in ipso creata sunt…
servador de tudo: “Tudo foi criado por
omnia in ipso constant”; qua-
edam vero ratione naturæ hu- ele e para ele […] e todas as coisas sub-
manæ, nempe ut sit caput cor- sistem nele” (Col 1, 16s); outras, porém,
poris Ecclesiæ, primogenitus
ex mortuis. Sophisma porro est em razão da natureza humana, como o ser
applicare Verbo ut incarnato Cabeça do Corpo, que é a Igreja, e o pri-
quæ competunt Verbo ut Deo.
mogênito dentre os mortos. É, portanto,
Asserit solum Paulus Verbum ut
Deum esse creatorem et finem um sofisma aplicar ao Verbo como encar-
omnium rerum, nullatenus vero nado o que compete ao Verbo como Deus.
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I I . O m o t i vo da En ca r n ação
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tentia. Iam collecta, quæ recolit que recorda que Deus quis instaurar todas
Deum in dilecto Filio suo, uni-
versorum Rege, omnia instaurare as coisas em seu Filho amado, Rei do uni-
voluisse, quæque petit ut cunctæ verso, e pede que todos os povos, feridos e
familiæ gentium peccati vulnere
dispersos pelo pecado, se sujeitem ao seu
disgregatæ eius suavissimo sub-
dantur imperio, innuere videtur suavíssimo jugo, parece indicar que a En-
Incarnationem, qua constituitur carnação, pela qual é constituído Rei do
Rex universorum, ordinari ad
perficiendam omnium instaura- universo, se ordena à instauração de todas
tionem, quæ sane redemptionem as coisas (o implica, logo, a Redenção) e à
importat, et ad curandum pecca-
cura da ferida do pecado. Tudo isso expri-
ti vulnus; quæ omnia et lapsum
et reparationem exprimunt. me tanto a Queda quanto a reparação.
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I I . O m o t i vo da En ca r n ação
Si Christus esset sacerdos tan- Se Cristo fôra apenas sacerdote, não pode-
tum, non posset tradere Deo ria entregar a Deus um reino; se fôra ape-
regnum, si esset tantum rex,
non posset se ipsum hostiam nas Rei, não poderia imolar-se a si mesmo
immolare et sacrificium pretii como hóstia e oferecer o sacrifício do nosso
nostri offerre; at si est simul sa-
cerdos et rex, valet se victimam
preço; mas, se é ao mesmo tempo sacerdo-
pacificam offerendo redemp- te e Rei, pode, oferecendo-se como vítima
tionis humanæ sacramenta pe- pacífica, realizar o mistério da redenção
ragere et simul immensæ Patris
maiestati tradere universale re- humana e, a um tempo, entregar à imen-
gnum veritatis et vitæ, regnum sa majestade do Pai o reino universal da
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Quod etiam innuit nomen Iesu. Sugere-o também o nome de Jesus. Com
Nomen ab ipso Deo imposi-
efeito, um nome imposto por Deus deve
tum debet ipsam quidditatem
exprimere. Atqui nomen a Deo exprimir a própria quididade <da coisa
vi præsentis decreti imposi- nomeada>. Ora, o nome imposto por Deus
tum Christo est Iesus, quod in
a Cristo, em virtude do presente decreto, é
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præfatis documentis toties repe- Jesus, o que se repete várias vezes nos men-
titur. Ergo vi præsentis decreti,
quidditas Christi est ut sit Sal- cionados documentos. Logo, em virtude
vator, ac proinde Incarnatio vi do presente decreto, a quididade de Cristo
præsentis decreti est intenta ut
consiste em ser o Salvador, e por isso a En-
salus et redemptio, ita ut, nisi
esset redemptio, non fieret In- carnação, em virtude do presente decreto,
carnatio vi præsentis decreti. foi querida como salvação e redenção, de
tal modo que, se não houvesse redenção,
não haveria a Encarnação, em virtude do
presente decreto.
Nec absre erit indicare simile Nem será fora de lugar indicar um argu-
argumentum quod subministrat
mento semelhante, subministrado pela
bulla Ineffabilis Pii IX. Quum iu-
xta illam bullam B. Virgo Maria Bula Ineffabilis, de Pio IX: (1) dado, confor-
dicatur et sit proprie redempta, me a Bula, que a Bem-aventurada Virgem
non foret B. Virgo independen-
ter a redemptione. Sed Incarna- Maria se diz e foi, propriamente, redimida,
tio vi præsentis decreti non est não existiria a Bem-aventurada Virgem in-
independenter a B. Virgine Ma-
dependentemente da redenção; (2) ora, a
ria. Ergo Incarnatio vi præsentis
decreti non est independenter a Encarnação, em virtude do presente decre-
redemptione. to, não é independente da Bem-aventurada
Virgem Maria; (3) logo, a Encarnação, em
virtude do presente decreto, não é inde-
pendente da redenção.
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III. <Christi regni III. As qualidades do
dotes>. reino de Cristo
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illum sine quo nequeunt finem tra forma: (1) os povos e sociedades devem
attingere. <2> Atqui gentes et
societates accipiunt a Christo reconhecer e venerar como rei aquele sem
influxum sine quo nequeunt o qual não podem atingir seu fim; (2) ora,
finem attingere; quia non po-
os povos e sociedades recebem de Cristo o
test vita moralis et honesta in
societatibus constitui et servari influxo sem o qual não podem atingir seu
sine auxiliis quæ a Salvatore de- fim, porque não pode haver nem se con-
rivantur. <3> Ergo gentes et so-
cietates debent agnoscere Chri- servar uma vida moral e honesta nas so-
stum Regem, et hoc erit efficax ciedades sem os auxílios que derivam do
remedium contra pestem ætatis
Salvador; (3) logo, os povos e sociedades
nostræ: laicismum.
devem reconhecer a Cristo Rei, e isso será
um eficaz remédio contra a peste do nosso
tempo: o laicismo.
Triplex præsertim est forma São principalmente três as formas sob as
quæ se prodit ille nefarius error.
quais se manifesta este erro nefário.
<a> Imprimis contendit religio- a) Em primeiro lugar, defende que a reli-
nem esse ordinis mere privati
neque inter officia quæ socie- gião pertence à ordem meramente pri-
tatem externam spectant esse vada nem deve ser posta entre os deveres
reponendam. Si autem procla-
matur universale Christi im-
concernentes à sociedade externa. Ora, se
perium super omnes gentes et se proclama o império universal de Cris-
societates, iam vindicatur ius to sobre todos os povos e sociedades, já se
divinum et lucet veritas quam
exponebat Leo XIII: “Natura et reivindica o direito divino e resplandece
ratio quæ iubet singulos sancte a verdade que Leão XIII expunha: “A na-
religioseque Deum colere, quod
in eius potestate sumus et quod
tureza e a razão que mandam a cada um
ab eo profecti ad eundem reverti adorar santa e religiosamente a Deus, por
debemus, eadem lege adstringit estarmos em seu poder e devermos, tendo
civilem communitatem” (Leonis
XIII, Acta, V. 122). dele saído, a Ele voltar, obriga pela mesma
lei a comunidade civil” (Acta V, 122).
<b> Secundo, asserit laici- b) Em segundo lugar, afirma o laicismo: se
smus: si qua religio forte sit
amplectenda, liberum esse
houver, porventura, que abraçar alguma
unicuique, et præsertim socie- religião, deve cada um, e principalmente
tati, quam maluerit profiteri. a sociedade, ter a liberdade de professar
Proclamato autem Iesu Christo
omnium gentium et societatum aquela que preferir. Proclamado, porém,
rege et domino, constat eo ipso Jesus Cristo como Rei e Senhor de todos
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IV. <Ratio et indoles IV. Razão e índole da Festa
novi festi>.
Rei de qua nunc agitur applicari À matéria ora vertente podem aplicar-se
possunt verba quibus concilium as palavras com que o Concílio de Trento
Tridentinum ostendit æquissim-
um esse sacros aliquos statutos mostra ser muitíssimo conveniente instituir
esse dies, cum christiani omnes determinados dias sagrados, nos quais to-
singulari ac rara quadam signi-
ficatione gratos et memores te-
dos os cristãos testemunhem seu reconheci-
stentur animos erga communem mento e gratidão ao Senhor e Redentor co-
Dominum et Redemptorem: mum, com singular e especial significação:
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Sic quoque, nostra ætate, vi- Assim também, no nosso tempo, a verdade
ctrix fulgebit veritas, si speciale
ac solemnissimum in univer- brilhará vitoriosa se for celebrada na Igreja
sa Ecclesia festum celebretur, universal uma especial e soleníssima Festa,
quo etiam adversarii fracti et
graças à qual também os adversários surjam
confusi appareant. Illa quip-
pe festivitas, modo externo et debilitados e confusos. Tal Festa, com efeito,
hominibus accommodato, pro- de modo externo e acomodado aos homens,
clamabit Christum esse Regem,
cui debent gentes et societates irá proclamar que Cristo é Rei, a quem de-
subicere et intellectum et disci- vem os povos e sociedades submeter a inte-
plinam et mores et instituta et
ligência, a disciplina, os costumes, as insti-
totam vitam.
tuições e a vida inteira. Diz a Encíclica:
“Sane, ait recens encyclica
(AAS 17, 603), cum homo
animo et corpore constet, Composto de corpo e alma, precisa o
debet is exterioribus die- homem dos incitamentos exteriores das
rum festorum solemnibus festividades, para que, através da varie-
ita commoveri atque exci-
tari, ut divinas doctrinas
dade e beleza dos sagrados ritos, recolha
per sacrorum varietatem no ânimo a divina doutrina, e, transfor-
pulchritudinemque rituum mando-a em substância e sangue, tire
copiosius imbibat et, in suc-
cum ac sanguinem conver-
dela novos progressos em sua vida espi-
sas, sibi ad proficiendum in ritual (n. 19).
spirituali vita servire iubeat”.
Opponi potest festum speciale Pode-se objetar que uma festa especial é
institui quidem pro facto quo- instituída em razão de algum fato histórico
dam historico vel mysterio ex-
terno, quo recolitur vita, passio,
ou mistério externo, pela qual se faz me-
resurrectio, ascensio Christi, mória, <por exemplo>, da Paixão, Ressur-
vel descensus Spiritus Sancti in reição ou Ascensão de Cristo, ou da des-
Apostolos, non vero pro obiec-
to invisibili, ut est regia dignitas cida do Espírito Santo sobre os Apóstolos,
seu principatus Christi. mas não em razão de um objeto invisível,
como é o caso da dignidade régia ou prin-
cipado de Cristo.
Respondetur: Quum liturgia sit Resposta: Dado que a Liturgia é expressão
viva dogmatis expressio lexque
exterius orandi ostendat legem do dogma e que a lei externa de oração ex-
interius credendi, poterit con- prime a lei interna da fé, poderá instituir-
stitui visibile festum de invisibili
-se uma festa visível sobre um objeto invi-
obiecto, dummodo istud non
remaneat vagum et abstractum, sível, contanto que ele não permaneça vago
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I V. R a z ão e í n d o le da F es ta
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I V. R a z ão e í n d o le da F es ta
Oportet autem ut festum istud a Cumpre que essa festa seja celebrada por
toto populo celebretur, et idcir- todo o povo e, portanto, num domingo,
co die dominica, ut possit fieri
omnium concursus et præclara para que haja a presença de todos e uma
solemnitas; atque, ut appareat preclara solenidade; e, para que se veja
distinctio a festo SS. Sacramenti
et a festo SS. Cordis, celebran-
a diferença entre <ela> e as festas do SS.
dum erit postea circa finem anni Sacramento e do S. Coração, deve essa ce-
liturgici, ante festum omnium lebrar-se mais tarde, por volta do fim do
Sanctorum, sicut ipsum regnum
Christi in regno Sanctorum ano litúrgico, antes da Festa de Todos os
completur et absolvitur. “Itaque, Santos, pois que o próprio reino de Cristo
concludit Pius XI, auctoritate
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184) ac per tria vota, quæ triplici ção (cf. S. Tomás, STh II-II 184) que, pelos
concupiscentiæ resistunt, pro-
vehere regnum Christi, et effice- três votos, que resistem à tríplice concupis-
re ut sanctitatis nota in Ecclesia cência, edificam o reino de Cristo e fazem
resplendeat. Inde colligitur sta-
resplandecer na Igreja a nota de santidade.
tum religiosum ad integritatem
Ecclesiæ quodam modo perti- Donde se segue que o estado religioso é, de
nere, ac proinde ius habere ad algum modo, parte da integridade da Igre-
illam libertatem quæ competit
Ecclesiæ. Citanda sunt hæc au- ja e, por isso, tem direito àquela liberdade
rea verba Summi Pontificis: que compete à Igreja. Devem ser citadas as
áureas palavras do Sumo Pontífice:
“Immo haud dissimilem
debet præterea respubli-
ca libertatem iis præstare […] idêntica liberdade deve o Estado
religiosorum utriusque conceder às ordens e congregações re-
sexus Ordinibus ac Soli- ligiosas de ambos os sexos, pois são os
dalitatibus, qui, cum adiu-
tores Ecclesiæ Pastoribus auxiliares mais firmes dos Pastores da
adsint validissimi, tum in Igreja, os que mais eficazmente se empe-
regno Christi provehen- nham em difundir e confirmar o reina-
do stabiliendove quam
maxime elaborant, sive
do de Cristo, primeiro debelando em si,
triplicem mundi concupi- com a profissão religiosa, o mundo e sua
scentiam sacrorum religio- tríplice concupiscência, e depois, pelo
ne votorum oppugnantes,
fato de haverem abraçado uma profissão
sive ipsa perfectioris vitæ
professione efficientes, ut de vida mais perfeita, fazendo resplan-
sanctitas illa quam divi- decer aos olhos de todos, com fulgor
nus Conditor insignitam contínuo e cada dia crescente, esta san-
Ecclesiæ notam esse iussit,
perpetuo auctoque in dies tidade de que o divino Fundador quis
splendore ante oculos om- fazer uma nota distinta de sua Igreja au-
nium emicet et colluceat”. têntica (n. 32).
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dicendo, tum etiam in adule- ciarem, quer na promulgação das leis, quer
scentium animis ad doctrinam
morum informandis. na administração da justiça, quer enfim na
formação do espírito dos jovens segundo
os bons costumes.
<d> Demum respectu directio- d) Em último lugar, com respeito à direção
nis animarum. Debet omnino
Christus in omnes nostras facul- das almas. — Deve Cristo exercer sobre
tates exercere imperium absque todas as nossas faculdades um império
limite: in mentes, ut doctrinæ
eius adhæreant; in voluntates, ut
sem limite: sobre as mentes, para assenti-
iussa Regis exequantur; in corda rem à sua doutrina; sobre as vontades, para
et corpora, ut sint sanctitatis et cumprirem as ordens do Rei; nos corações
iustitiæ instrumenta (“Arma iu-
stitiæ Deo” Rm 6, 13), prout iam e corpos, para serem instrumentos de san-
monuimus. “Quæ quidem om- tidade e justiça, como já dissemos. “Eis os
nia, ait Summus Pontifex, si chri-
stifidelibus penitus inspicienda
pensamentos”, diz o Sumo Pontífice, “que,
ac consideranda proponantur, propostos à reflexão dos fiéis e atentamen-
multo iidem facilius ad perfectis- te ponderados, hão de facilmente levá-los a
sima quæque traducentur”.
mais elevada perfeição” (n. 34).
Sicque vita vere christiana effi- E assim, a vida verdadeiramente cristã
ciet ut tandem Christus vincat,
regnet et imperet. fará, até que enfim, que Cristo vença, rei-
ne e impere!
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