Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURSO DE DIREITO
FORTALEZA
2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO FARIAS BRITO
CURSO DE DIREITO
Fortaleza
2023
Esta monografia foi submetida ao curso de Direito do Centro Universitário
Farias Brito como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do
grau de Bacharel em Direito. Na avaliação este trabalho obteve o conceito
___________________________________ conferido pelos avaliadores da banca e
outorgado pelo referido Centro Universitário.
___________________________________
David Felix de Lima
Banca Examinadora:
____________________________________
Prof. Dr. Marcel Mota
ORIENTADOR
____________________________________
Prof. Ms. xxxxxxxxxxxxxxx
____________________________________
Prof. Dr. xxxxxxxxxxxxxxx
Monografia avaliada em xx de dezembro de 2023
RESUMO FORMATAÇÃO INADEQUADA – FALTOU FALAR DO TIPO DE PESQUISA
E A PROPRIA FORMATAÇÃO E QUAL PROBLEMA DE PESQUISA?
Palavras-chave: Locação por temporada, lei do inquilinato, Direito contratual, Direito Digital,
Sumário
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................6
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................47
REFERÊNCIAS........................................................................................................................50
6
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como mote o estudo dos aspectos da celebração dos contratos de
locação por temporada, firmada exclusivamente por meio de aplicativos de mensagens
instantâneas.
Nesse alugar “por fora” que se dá toda a negociação de uso, valores, período, que
normalmente ocorre por aplicativo de mensagens instantâneas. Essa modalidade de por
fora que se constrói a relação contratual objeto de análise do presente trabalho. A validade
jurídica do negociado, dentro do princípio do direito civil de liberdade contratual.
A locação por temporada sempre existiu, porém com o surgimento das plataformas
digitais de locação, cresceu exponencialmente, entrou em evidência e tem criado muita
controvérsia,seja com o setor hoteleiro, seja em demandas judiciais relacionadas ao direito
condominial, que começam a criar precedentes importantes, face a clara omissão
legislativa.
locação por temporada (contrato típico). Fato esse que tem chamado a atenção das Ciências
Jurídicas, que tem cumprido seu papel e se debruçado sobre o problema e produzido vasto
material acadêmico.
1
Concierge é um termo da língua francesa e que pode ser traduzido literalmente como “porteiro” para o
português. O concierge é um cargo comum no ramo hoteleiro, consistindo na função do profissional
responsável por atender as necessidades básicas e especiais dos hóspedes. Entre as principais funções do
concierge de hotel está o controle de entrada e saída dos hóspedes, além de prestar serviços personalizados
para os mesmos, como compra de passeios, aluguel de automóveis, indicação de bons restaurantes e pontos
turísticos na cidade para visitação, entre outras coisas. https://www.significados.com.br/concierge/
8
Superior tem decido casos em matéria relacionadas ao direito digital e locação por
temporada.
O artigo 104 do Código Civil deixa claro os elementos necessários a formação dos
contratos, quais sejam: agente capaz, objeto lícito, possível e determinado e forma prescrita
ou não defesa em lei.
contrato” (GAGLIANO, 2023, p.107). Da mesma forma AZEVEDO (2004, p.18) traz em
seu conceito a “acomodação de interesses”.
Tecnicamente ao que foi descrito acima, estamos diante do que leciona TARTUCE
(2018) PAGINA?, que divide para fins didáticos a formação do contrato em 4 fases: Fase
de negociação preliminar ou pontuação, fase de proposta,policitação ou oblação; fase do
contrato preliminar e fase do contrato definitivo.
Interessante destacar que essas fases podem acontecer de forma muito rápida, indo
da primeira fase a última em alguns minutos, como também a formação do contrato pode
levar dias, meses ou anos até a conclusão.
Havendo contraproposta, os papéis são invertidos, pois quem antes era policitante
se torna oblato.
Vencida esta etapa, é forçoso que o locatário tenha o cuidado de saber com quem
está negociando, pois por trás de uma tela (computador ou celular) uma pessoa pode ser
qualquer pessoa, num ambiente virtual. Deve o locador exigir uma foto do documento de
identidade, CPF e comprovante de endereço. Sugiro que no mínimo requeira do
pretendente locatário os dados previstos no artigo 319, inciso II do Código de Processo
Civil, para caso haja necessidade de demandar judicialmente, tais informações já estão a
mão. Esse procedimento prévio é importante para que se tenha certeza que o negócio que
ele está se formando seja eficaz, exista no plano jurídico. Sendo confirmada a eficácia do
negócio, salta-se para o plano da validade: essa negociação é válida? De acordo com Nader
o contrato de locação: “não se trata de contrato formal ou solene, pois a forma é livre, as
partes podem optar por instrumento público ou particular ou então pela oralidade”.
(NADER, 2018, p. 291)
Por fim, afase do contrato definitivo, que como o nome já diz é o momento em que
o contrato se torna formado, respeitadas todos os requisitos da escada ponteana de
existência, validade e eficácia necessárias para a produção de efeitos, que no caso
específico da locação de temporada, o contrato definitivo tem como cláusula padrão o
11
O estudo da classificação dos contratos se faz necessário para dissecá-los para que a
Ciência do Direito possa sistematizar didaticamente, conforme GAGLIANO, (2021, p.263)
leciona que o estudo das classificações denota uma necessidade pedagógica, de
“agrupamento por similitudes”. Conceito este que muito se assemelha ao de NADER,
(2018, p.45), quando diz que a importância da classificação dos contratos é necessária para
“reduzir a categorias jurídicas singulares”, onde sua utilidade se dá acompreensão das
espécies contratuais, enquanto TARTUCE (2021, p.21) chama de “fulcral importância” os
estudos das classificações das espécies contratuais.
pagar o preço para se hospedar neste imóvel (locatário) por haver entre as partes
obrigações recíprocas constituindo-se entre as partes direitos e obrigações.
O que ocorre hoje com a locação por temporada via AIRBNB, é que essa
plataforma conseguiu confluir locadores e locatários para, neste ambiente, construir uma
grande vitrine de alcance mundial e consequente balcão de negócios o que mexeu no
mercado hoteleiro de tal maneira que estes o consideram concorrência desleal e em muitas
cidades pelo mundo e no Brasil não tem sido diferente, tem tentando mudar o
enquadramento jurídico desta modalidade de contrato de locação para hospedagem, tratado
por leis distintas. NADER, (2018) leciona:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?
componente=ATC&sequencial=125643759&num_registro=201900606333&data=20210527&tipo=2&forma
to=PDF
14
No que tange ao quesito principais e acessórios, NADER (2018) faz uma crítica a
essa classificação, pois muitas espécies contratuais são únicas e em si mesmo, ou seja, se
não existe um contrato acessório é impossível falar em contrato principal e vice-versa,
sendo a expressão mais adequada a ser usada é dependência ou independência.
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita.
Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de
comunicação semelhante;
Embora o referido código quando de sua aprovação não tenha trazido em sua
exegese elementos que contemplassem os meios eletrônicos como parte integrante e
essencial a vida civil, sendo essa omissão alvo de duras críticas por parte de TARTUCE, o
16
O Código Civil em seu artigo 434, traz a seguinte redação: “Art. 434. Os contratos
entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida;” pela literalidade da
norma entende-se que o contrato de locação por temporada estaria formado quando da
expedição da reposta do oblato com o seu de acordo aos termos propostos e a partir desse
momento já começaria a produzir seus efeitos, porém em se falando de contrato de locação
por temporada a vinculação entre as partes não ocorre pela simples aceitação do oblato,
pois de acordo com o artigo 49 da lei do inquilinato, o locador fica autorizado a cobrar até
cem por cento do valor acordado, antecipadamente, para garantir o bloqueio da data
solicitada. Normalmente o que se pratica é a cobrança de cinquenta por cento do valor
negociado a título de reserva.
Para DINIZ, (2018) o contrato eletrônico é negócio entre ausentes, enquanto para
TARTUCE, (2018) afirma que haverá momentos que o contrato poderá ocorrer entre
presentes ou entre ausentes. (PAGINAS??)
Ao receber uma pergunta o anfitrião tem três opções além de responder o que foi
perguntado: aprovar a consulta transformando-a em proposta não vinculante, pois não gera
bloqueio de datas no calendário, reprovar por não ser interessante ou oferecer uma oferta
especial que é uma espécie de desconto no valor final da locação.
Grande espaçamento
O Artigo 48, da lei 8245/91 traz um conceito preciso do que vem a ser locação por
temporada como sendo:
No parágrafo único estabelece que caso o imóvel seja alugado com mobília, este
deve constar obrigatoriamente no contrato sua descrição, bem como o estado em que se
encontram. O legisladorao positivar conceitualmente o que vem a ser locação por
temporada, o fez para distinguir da locação convencional além de proporcionar ao locador
a devida segurança jurídica de que seu patrimônio estará protegido quando entregá-lo ao
usufruto de outrem que não conhece e que em muitos casos não tem o devido zelo pela
19
Neste sentido, o contrato se considera como meio de prova de tudo que foi
acordado entre as partes. Em um contrato de locação residencial, o contrato costuma ser
levado ao cartório para o reconhecimento de firma das partes e cada um fica com uma via.
Essa prática, nas locações por temporada é inviável, poderiam dificultar ou até mesmo
inviabilizar o negócio, pois as partes envolvidas nem sempre estão próximas a ponto de
dirigirem-se a um cartório para dar fé pública aos termos por meio de reconhecimento de
firma.
É neste ponto que se faz necessário desenvolver o entendimento de até onde uma
negociação feita por aplicativo de mensagens pode ter validade jurídica como instrumento
contratual.
O locador quer a melhor oportunidade de locação e que o locatário use seu imóvel e
zele por ele. Enquanto o locatário, em certos casos, por achar que aquela estada é uma
breve passagem por um local diferente e quer dessa experiência tirar o melhor proveito
possível, muitas vezes excedendo no uso da coisa e assim causando algum tipo de dano
que pode gerar direito de reparação além de perdas e danos.
Neste tópico faremos uma breve explanação do que vem a ser a plataforma digital
AIBNB, que surge dentro de um contexto de economia de compartilhamento, onde as
pessoas dispõem de espaços em seus imóveis ou imóveis todos, através de remuneração e
mediante pagamento de comissão pela intermediada pelo aplicativo.
Não se trata, no mais das vezes, apenas de facilitar a comunicação entre eles,
mas sim de criar a confiança necessária para que a relação entre eles exista e se
desenvolva. As plataformas estabelecem condições mais previsíveis e uniformes
para ambas as partes, que fazem com que a relação seja possível. A diferença
reside justamente nesse ponto: eliminar os riscos envolvidos no
compartilhamento com alguém que não se conhece e de quem não se tem
nenhuma referência. (CARVALHO apud MACHADO e MENEGUETTI; 2017,
p. 200)
O Airbnb foi fundado em São Francisco no ano de 2008 por três estudantes,
Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk, que dividiam um apartamento.
Vendo que os hotéis da cidade estavam cheios em razão de um congresso,
decidiram colocar à disposição três colchões de ar (airbed, em inglês) e café da
manhã (breakfast) para uma hospedagem temporária. Daí surgiu a ideia e o nome
da startup. (CARVALHO, 2018, p.13)
O hóspede deve também se cadastrar para ter uma conta de usuário, onde terá
acesso a um filtro de busca de imóvel de acordo com sua expectativa. Ao encontrar o
imóvel pretendido verifica a disponibilidade no calendário e simula os valores totais da
reserva. Caso as informações do anúncio restem dúvidas, é possível realizar perguntas em
um bate papo (chat), dentro da própria plataforma, sendo responsabilidade do anfitrião
responder em no máximo 24 horas, pois a plataforma o avalia por isso como já
mencionado anteriormente.
Uma vez fazendo uma reserva instantânea, criou-se um vínculo obrigacional entre
as partes que começa a produzir os efeitos. Do lado do anfitrião, o imóvel fica com a data
bloqueada no calendário não podendo ocorrer outra reserva no período. Pelo lado do
hospedem há o pagamento antecipado de cem por cento do valor da reserva na modalidade
escolhida, seja débito, seja crédito.
As informações acima foram trazidas para a pesquisa de forma empírica por este
autor, por ser usuário da plataforma como anfitrião na categoria superhost, desde de 2019.
8
AIRBNB. Revise os requisitos dos hóspedes do Airbnb. Disponível em https://www.airbnb.com.br/become-
a-host/23679092/guest-requirements>. Acesso em: 10 set. 2023.
23
“Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.
Devemos dar atenção a parte final do artigo, no que vem a ser “discutir ou
modificar substancialmente seu conteúdo”, pois denota um conceito muito aberto. Será que
o preço e prazo da locação esse conteúdo substancial?
Não havendo muitas cláusulas as serem discutidas e ajustadas até que o contrato
possa de fato atender os interesses dos envolvidos, que nas palavras de GAGLIANO,
chama o contrato de adesão comostandardizado9, modelo onde o princípio da igualdade
material foi colocado de lado e adotado um modelo massificado com a premissa básica,
além de ser suportada em quarto pilares: uniformidade, predeterminação unilateral, rigidez
e posição de vantagem segundo este autor é:
9
Categoria usada por Gagliano para se referir a contrato onde um adere ou não a vontade da outra parte.
24
Importante que se observe que mesmo que o contrato de locação por temporada
fosse de fato um contrato de adesão, incidindo sobre as características mencionadas acima
de denotam uma imperatividade de uma parte e passividade da outra, o artigo 423, do
Código Civil estabelece que em caso de cláusula contraditória ou ambígua, a interpretação
deve ser mais favorável ao aderente.
25
Grande espaçamento
Patrícia Peck Pinheiro, constrói uma excepcional linha do tempo sobre a evolução
das tecnologias que culminaram coma chamada Era Digital e como ela tem impactado o
cotidiano social, o que ela chama de “fatos rumo a sociedade convergente” (PINHEIRO,
2021, p.88).
26
As pessoas que nasceram no século XX, época em que ter um telefone fixo em casa
era praticamente artigo de luxo pelo custo de aquisição e o custo alto de manutenção de
uma linha,viu tal objeto se transformar em peça de museu. Algo parecido aconteceu aos
computadores, cheios de microchips, que ocupavam grandes espaços e que hoje um
equipamento de bolso, faz infinitas funções a mais e que faz até ligações, fácil
27
compreender esse contexto tendo vivido o período em questão. Foi a história do avanço
tecnológico acontecendo, bem debaixo de nossos olhos. NATIVOS E IMIGFRANTES
DIGITAIS
10
O Capital (1867), significando o caráter que asmercadorias possuem, dentro do sistema capitalista, de
ocultar as relações sociais deexploração do trabalho, sedimentando-se, por conseguinte, em toda a sociedade.
Sob o ponto de vista da teoria do valor de Marx, encontra-se no cerne dessas relações sociais a
obtenção do lucro por parte de quem detém os meios de produção. Trecho extraído do artigo:O CONCEITO
DE FETICHISMO DA MERCADORIA CULTURALDE T. W. ADORNO E M. HORKHEIMER: UMA
AMPLIAÇÃO DOFETICHISMO MARXIANO; SILVA, Fábio Cesar;
https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/FabioCesardaSilva.pdf
28
Quando se fala em novas tecnologias,devemos entender que não basta ter sido um
computador imenso transformado em um equipamento de bolso que executa milhares de
funções que o outro não fazia, pois paralelo a isso caminhou a conectividade. Um aparelho
de telefone móvel de última geração sem acesso a rede de comunicação (internet) é só um
aparelho de comunicação caro que faz e recebe chamadas.
A forma como o mundo,as relações sociais têm convergido para o meio digital está
mais que provado ser um caminho sem volta, pelo menos é difícil imaginar qualquer
movimento no sentido inverso.
29
Alinhada a este pensamento está PINHEIRO, (2021) quando afirma que “não existe
a necessidade de um Direito específico”, pois pra ela o que realmente importa é que o
Direito possa seguir sua vocação natural de refletir as mudanças culturais e
comportamentais vividas pela sociedade, ou seja o Direito Digital está pautado numa base
principiológica, pois a velocidade com que as tecnologias se movimentam é extremamente
diferente da atividade legislativa e sendo ela pautada em princípios, para poder
acompanhar.
O que está em jogo aqui é a forma como as pessoas contratam, que vem sofrendo
drasticamente mudanças. Até pouco tempo atrás não se concebia a idéia de se contratar um
carro por aplicativo, saber os detalhes do motorista, do carro, da rota e pode compartilhar
com outras pessoas para saberem que está a se deslocar e que sua viagem poderá ser
acompanhada por terceiros.
11
Streaming é a tecnologia de transmissão de dados pela internet, principalmente áudio e vídeo, sem a
necessidade de baixar o conteúdo. https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-streaming/
31
faculdade ou até mesmo aplicativo de compra e venda de coisas móveis e imóveis e até de
relacionamento.
O surgimento da internet ao longo dos anos nos mostrou que ela aparenta ser um
ambiente sem leis, para ser mais preciso um lugar onde é difícil a responsabilização dos
usuários por comportamento inadequado. Todos que acessam a rede mundial de
computadores são identificados por meio de um código IP – endereço de protocolo de
Internet, sendo este código individual de cada equipamento que tenha acesso a internet e
que segundo o site Tecnoblog conceitua o IP como:
As tecnologias sãoo maior aliado do homem quando a utiliza a seu favor até quando
se está cometendo crimes, face a quantidade de crimes virtuais e tentativas de golpes que
vemos noticiar.
O Código Civil, carece de normas que integrem o uso das tecnologias, pois a sua
aprovação ocorreu em um período que a mundo digital era embrionário, não se imaginava
que essa evolução ocorreria tão rápido. O legislador tem entendido esse movimento e
paulatinamente revisado diversas normas para conseguir abarcar o maior número de
comportamentos, pois com a era digital, ainda há uma espécie de anomia, forçado
magistrados a recorrer aos princípios gerais do direito para as devidas soluções. O CPC,
12
O que é endereço IP? Disponível em: https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-ip/ Acesso em: 20 de outubro
de 2023.
32
como por exemplo, no artigo 106, traz exemplos claros § 2º, intimação por correio
eletrônico.
Essa problemática gerada pelo comércio eletrônico e pelos contratos via internet
tem grande relevância no mundo jurídico pela sua enorme complexidade e pelo
fato de não estar estruturada normativa, jurisprudencial e doutrinariamente.
(DINIZ, 2018, p. 802)
Para Diniz, (2018) as contratações por meio eletrônico, por falta de norma
específica, são o grande desafio da ciência jurídica, devido as inúmeras questões
polêmicas, faltando desde elementos doutrinários e jurisprudências. “As normas jurídicas
contratuais constituem uma realidade que não se pode ignorar. ” (DINIZ, 2018, p. 802)
Importante mencionar que o fato de não haver doutrina e jurisprudência que versem
sobre o tema não impedem que as relações ocorram, muito menos que demandas judiciais
sejam resolvidas. Isso é princípio básico do direito que se aprende nas primeiras letras da
ciência jurídica que o que não for devidamente proibido pela lei é permitido. A LINDB em
seu artigo 4º, estabelece que o juiz deverá decidir os casos concretos utilizando a analogia,
os costumes e os princípios gerais do direito.
Os contratualistas trazem para o debate teórico diversos conceitos do que vem a ser
o contrato. Diniz, 2018 conceitua o contrato com sendo: “...espécie de negócio jurídico, de
natureza, bilateral ou plurilateral, dependendo, para sua formação o encontro de vontade
das partes, sendo que Azevedo, 2004, menciona que o contrato é o encontro de vontades
numa “acomodação de interesses”. O elemento volitivo parece ser um consenso entre eles
como base para a conceituação dessa relação privada.
evidenciado que as relações jurídicas estão em constante movimento para acompanhar essa
evolução.
Os formalismos são pressupostos de validade para contratos tidos pela lei como
solenes. Os demais casos que não estão previstos em lei o formalismo contratual constitui
meio de prova da relação jurídica. Diniz (2018), chama atenção para a distinção entre o
que deve ser uma formalidade contratual para um meio de prova e que um pode ser
condição essencial para o outro, mas nunca poderão ser confundidos. O meio de prova visa
demonstrar a existência do fato jurídico e suas vinculações.
Assim como ocorre no âmbito presencial, a formação dos contratos ocorridas pelo
meio digital devem respeitar a base principiológica definida na lei e na doutrina e aqui já
discutido, a autonomia da vontade, a boa-fé objetiva, a função social do contrato
continuam a se fazer presentes.
É mais que consenso que o contrato firmado por meio digital não caracteriza uma
espécie nova de contrato, mas um meio como os contratos podem ser formados. Nada mais
é que uma adequação a vida moderna onde o direito jamais poderia colocar amarras para
que essa evolução pudesse acontecer enquanto ele não tiver respostas para os conflitos que
se criam.
produtos e serviços, bem como indicação de quem já usou o serviço e compartilhou com
pessoas do círculo de amizade.
Não há o que se discutir mais a validade do contrato eletrônico, visto que esse
entendimento já está pacificado e vem sendo tratado em âmbito internacional
desde 1996, com as discussões da Lei Modelo da UNCITRAL 13, que em seu
artigo 5º disse o seguinte: “não se negarão efeitos jurídicos, validade ou eficácia
à informação apenas por que esteja na forma de mensagem eletrônica.
A mesma lei tratou em seu artigo 11 sobre a formação e validade dos contratos,
onde “salvo disposição em contrário das partes, na formação de um contrato, a
oferta e sua aceitação podem ser expressas por mensagens eletrônicas. Não se
negará a validade ou eficácia a um contrato pela simples razão de que se
utilizaram mensagens eletrônicas para a sua formação” (PINHEIRO, 2021, p.
1000-1001)
Posicionamento devidamente respeitado, mas que não devo concordar com ele, pois
a mera omissão a este quesito não desnatura o contrato de locação por temporada por
omissão. O que pode acontecer em caso de o contrato não possuir esse inventário é em
caso de dano causado a algum dos bens móveis pelo locatário não poder requerer
indenização pelo prejuízo ocorrido nos termos do referido artigo.
Como já exposto no tópico anterior, a formação dos contratos pela via eletrônica
não cria outra modalidade de contrato, somente muda o ambiente onde ele se processa. O
direito precisa estar em constante movimento assim como as tecnologias, embora não
consiga acompanhar na mesma velocidade, já o direito nasce das relações sociais, para
depois se transformar em lei quando um comportamento precisa de balizas
regulamentadoras, evitando assim que pareça uma terra sem lei onde todo mundo pode
tudo.
Conforme expusemos no tópico 1.5, que fala sobre a locação por temporada pelo
AIRBNB, toda negociação gira em torno de um anúncio publicado na plataforma que
também possui as informações mínimas e necessárias para iniciar uma pontuação ou até
36
O que percebemos, e está mais que evidente é que as fases para a formação do
contrato como abordadas no capítulo 1 devem ser perfeitamente serem respeitadas seja no
ambiente real ou no ambiente virtual.
O Código de Defesa do Consumidor, como é sabido visa proteger a parte mais fraca
da relação contratual. Em havendo interpretação duvidosa, aplica-se a que for mais
favorável ao consumidor.
estender essa aproximação do CDC a lei do inquilinato, pelo fato de também versarem
sobre contratos sendo que doutrinariamente a base principiológica ser a mesma.
Neste capítulo analisaremos dois julgados que considerei relevantes com a temática
aqui desenvolvida e que envolvem locação por temporada, AIRBNB, aspectos da
celebração dos contratosde locação por temporada firmados por meio de aplicativos de
mensagens instantâneas, para podermos congregar todos os pressupostos discutidos ao
longo do trabalho e acompanhar como o STJ tem discutido tais temáticas.
da validade jurídica dos contratos de locação por temporada realizados por meio de
aplicativos de mensagens instantâneas, talvez porque o recorte epistemológico foi preciso.
Neste sentido analisaremos dois julgados da Corte Superior com temáticas afins.
É forçoso lembrar que a locação por temporada por meio de aplicativos como
AIRBNB não se restringem a imóveis em condomínios edilícios, sendo também ofertadas
casas veraneio, principalmente, com acesso independente e que não se sujeitam a
regramentos condominiais. Sendo que o escopo da pesquisa não está restringiua analisar os
aspectos contratuais da locação por temporada e o com direito condominial e seus
impactos no direito propriedade.
Os demais casos aqui trazidos, embora o tema não tenha precisamente relação com
o assunto aqui estudado, há elementos que reputo importantes que podemos extrair para
40
compreender as demandas correlatas ao uso dos meios digitais e seus aspectos na formação
do contrato e suas implicações jurídicas.
Acredito que a assinatura digital nos contratos de locação por temporada firmados
por aplicativos de mensagens é um elemento que traz segurança para ambas as partes,
demonstrando diligência no trato da relação contratual, por conta da rastreabilidade dos
dados, da integridade e validade.
Lembro que a época, houve uma grande repercussão na mídiasobre o caso, onde
alegava-se que o Superior Tribunal havia proibido locação por temporada via AIRBNB.
Aos olhos mais desavisados, as manchetes até pareciamverdade, mas é importante analisar
os documentos referente ao processo, o relatório, os votos e a tese prevalente na referida
corte para que se possa tirar uma conclusão mais precisa do que foi a decisão.
No voto do Ministro relator, que foi favorável a recorrente para reconhecer que a
locação realizada se amolda ao modelo de contrato de locação por temporada e que o
oferecimento de determinados serviços aos seus hóspedes não é fator determinante para a
categorização da atividade como serviço de hospedagem, o que não desnatura a locação
por temporada, sendo esse o núcleo essencial da discussão conforme transcrição abaixo:
No voto que abriu a divergência, proferido pelo ministro Raul Araújo. Ele
reconhece que o modelo de contrato praticado pela recorrente se enquadra em hospedagem
em modalidade atípica, por não parecer com a modalidade prevista na lei 11.771/2008,
muito menos com a modalidade de contrato de locação por temporada conforme artigo 48
da lei 8.245/91. Sendo o voto acompanhado pela ministra, Maria Isabel Gallotti e o
Ministro Antônio Carlos Ferreira, estando ausente neste julgamento o Ministro Marco
Buzzi.
A parte que nos interessa nesse julgado é o voto do Ministro Antonio Carlos
Ferreira, pois faz um recorte preciso do problema jurídico de fato, relacionado a
controvérsia se o uso do imóvel pela recorrente está ou não ferindo a convenção
condominial, conforme extraímos as seguintes transcrições:
Não se discute aqui, penso eu, a modalidade pela qual é feita a publicidade ou
ainda a contratação do negócio desempenhado pela recorrente (na hipótese, por
intermédio de um aplicativo), que pelas peculiaridades do caso concreto está
sendo compreendido como atividade comercial, um "contrato de hospedagem
atípico" segundo a expressão gravada no voto do em. Ministro RAUL ARAÚJO.
(p. 41)
É indiferente o meio pelo qual ele é divulgado ou a forma com que é feita a
contratação, se por intermédio de um aplicativo, imobiliária, anúncio em jornal
ou até mesmo contato pessoal. (p.42)
43
Outro aspecto importante no voto acima analisado, é que pouco importa o meio
como a relação contratual foi firmada entre a recorrente e seus hóspedes, em nada mudará
o núcleo central do conflito.
O Fato é que o voto acima analisado se revestiu de muita prudência técnica para
que a solução jurídica fosse dada, muito embora eu comungue completamente com o voto
do ministro Luiz Felipe Salomão.
O caso em questão embora não possua informações que o liguem a nossa pesquisa,
o que em partes é verdade, traz elementos importantes que como os transcritos no voto do
ministro acima mencionadosnos trazem reflexões que não poderiam deixar fora do debate.
44
Nota do Airbnb
Em nota o Airbnb declarou que "os ministros destacaram que, no caso específico
do julgamento, a conduta da proprietária do imóvel, que transformou sua casa
em um hostel, não estimulada pela plataforma, descaracteriza a atividade da
comunidade de anfitriões. Além disso, os ministros ressaltaram que a locação via
Airbnb é legal e não configura atividade hoteleira, e afirmaram que esta decisão
não determina a proibição da atividade em condomínios de maneira geral.
Proibir ou restringir a locação por temporada viola o direito de propriedade de
quem aluga seu imóvel regularmente."
Diante disso, foi interposto Recurso Especial, ora analisado, sob os fundamentos de
violação a alínea "a" do inciso III do art. 105 da CF, contra o acórdão do Egrégio Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e Territórios,
Pelos grifos aqui trazidos nos reforça a idéia, digamos progressista do entendimento
do ministro relator em reconhecer a executividade do contrato assinado digitalmente sem
as assinaturas das duas testemunhas.
Esse julgado mostra como o direito é uma ciência viva e em movimento, pois a
medida que a tecnologia avança, faz-se necessário que o direito também acompanhe esse
avanço, pois os conflitos inerentes a vida em sociedade também avançará.
precisará uniformizar seu entendimento, bem como o legislativo precisará avançar mais em
garantir a segurança jurídica necessária em sintonia com a relações na era digital.
48
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que o recorte epistemológico foi preciso o suficiente para que o trabalho
não ficasse demasiadamente grande e cansativo para o ato a que ele se propõe e nem curto
o bastante por conta de sua elementaridade no mundo jurídico.
Ao longo da pesquisa, deparamo-nos com um fato jurídico que ainda pode render
muitos trabalhos acadêmicos, muita discussão judicial e pode até ser objeto para
dissertação de mestrado ou tese de doutoramento, para que possa subsidiar o legislador a
amortecer tal anomia que paira sobre o enquadramento jurídico dos contratos de locação
firmados pelas plataformas digitais, pela inegável relevância que o assunto inspira. O
enquadramento jurídico do aluguel pelo AIRBNB me fez lembrar do conceito de hard
case, criado por Ronald Dworkin.
Embora as relações contratuais firmadas por esta plataforma digital não fossem
objeto de nossa pesquisa, era impossível não ter trazido ela para análise e comparação com
o modelo de locação por temporada firmado por meio de aplicativo de mensagens
instantâneas, por ele representar o avanço desse modelo de relação contratual.
puxou a si mesmo pelos cabelos, até que conseguiu sair com cavalo e tudo do
atoleiro.
prestador de serviços seja ele qual for, não mencionarei aqui nenhuma categoria para não
parecer preconceituoso, mas que diariamente nos condomínios entram vários.
Esse entendimento tem sido a principal tese que beneficia a indústria hoteleira, que
tem visto seus lucros caírem com a explosão no uso desta modalidade de hospedagem, nos
últimos anos e que timidamente vem provocando legisladores locais a aprovarem leis como
barreiras ao avanço dessa prática.
Não estamos aqui fazendo propaganda para nenhuma empresa. Nossa análise é
jurídica, técnica e fria, pois aqui estamos a fazer ciência com neutralidade necessária para
com tranquilidade ter e expressar um posicionamento firme quanto a modalidade de
contrato firmado na plataforma. Há algumas impropriedades que podem ser corrigidas para
que ela se adeque a lei a lei do inquilinato. Isso não é garantia, de que os usuários tentem
burlar, tanto o anfitrião como o hospede suas regras de uso como no Recurso Especial
analisado, na intenção de conseguir alugar por fora e não pagar as comissões de uso do
aplicativo.
A pergunta que fica: sendo proibida a locação via AIRBNB a locação firmada por
meio de aplicativos de mensagens instantâneas seriam proibidos também? Acho difícil que
isso ocorra, pois seria ferir gravemente direitos constitucionais garantidos no que tange ao
direito real de habitação, além de ser desproporcional. Considero que a locação por meio
de aplicativos de mensagens instantâneas não oferece o mesmo nível de segurança negocial
que as plataformas digitais, pois a internet é terra fértil de golpista, somente a recomendo
se houver referências de quem já contratou ou conhece o locador, pois em caso de golpe a
plataforma é responsável pelo ressarcimento enquanto alugando direto o risco é do
locatário.
51
REFERÊNCIAS
AGHIARIAN, Hércules. Curso de direito imobiliário. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
1999.
AZEVEDO, Alvaro Vilaça – Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos: Curso de
Direito Civil / 2ª ed. São Paulo: Atla; 2004.
BRASIL. Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991; dispõe sobre as locações dos imóveis
urbanos e os procedimentos a elas pertinentes.Diponível
em:https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8245.htmAcesso em 20 set. 2022.
https://repositorio.pucsp.br/bitstream/handle/27121/1/CATHARINE%20CUNHA%20DE
%20CARVALHO%20-%20NOTA%2010%2c0.pdf ; acesso em 14 de agosto de 2022
CONTRATOS ELETRÔNICOS: Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/325485/contratos-eletronicos acesso em 22 de
outubro de 2023.
DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das obrigações
contratuais e extracontratuais / Maria Helena Diniz. – 34 ed. rev.e atual – São Paulo:
Saraiva Educação, 2018.
GAGLIANO, Pablo Stolze; Novo Curso de Direito Civil, v.4 / Pablo StollzeGagliano,
Rodolfo Pamplona Filho. 6ª ed. São Paulo, SaraivaJur, 2023.
Locação por Airbnb não é residencial e pode ser vedada por condomínio, diz STJ,
disponível em;https://www.conjur.com.br/2021-abr-20/locacao-airbnb-nao-residencial-
vedada-predio ; acesso em 26 de outubro de 2023
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, Vol. 3: contratos /Paulo Nader – 9. ed. rev. e
atualizada – Rio de Janeiro – Forense, 2018.
TARTUCE, Flavio; Direito Civil vol. 3; Teoria Geral dos Contratos e contratos em
Espécie; Flávio Tartuce; 13ª ed. atual. e ampliada – Rio de Janeiro – Forense, 2018.
STJ define que condomínio pode barrar locação temporária de imóvel via Airbnb;
Disponível em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/stj-define-que-
condominio-pode-barrar-locacao-temporaria-de-imovel-via-airbnb/ ; Acesso em: 20
de outubro de 2023.