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TIPOGRAFIA

AULA 4

Prof. Naotake Fukushima


CONVERSA INICIAL

Nas aulas anteriores, vimos um pouco da história da tipografia e


conhecemos brevemente as compensações visuais e a terminologia com relação
a essa área. Nesta aula, vamos conferir as classificações das fontes.
Essas classificações ajudam na busca de fontes. Muitas vezes, suas
origens se encontram ancoradas na evolução da tecnologia e na evolução da
estética, refletindo refletem a filosofia dominante do seu contexto. Assim como
nas aulas anteriores, esses conhecimentos irão familiarizá-lo ainda mais com os
aspectos da tipografia e, com isso, auxiliá-lo a escolher de modo mais consciente
as fontes usadas em seus trabalhos de design.

CONTEXTUALIZANDO

Na história da tipografia, vimos que o alfabeto evoluiu junto com as


tecnologias que permitiram novos formatos e configurações. No século XVIII, o
francês Firmin Didot e o italiano Giambattista Bodoni criaram fontes que só
puderam ser produzidas graças à evolução tecnológica, que permitiu a criação
de letras com elementos muito finos, resultando em letras bem elegantes. É
provável que eles não tenham imaginado que, no futuro, as letras criadas por
eles seriam amplamente utilizadas em revistas de moda.

Figura 1 – Capas de revistas de moda com as fontes dos títulos em alto contraste
(Vogue e Bazaar)

Crédito: Yulia Reznikoy/Shutterstock.

Assim como as fontes Didot e Bodoni, que são muito utilizadas para
representar um estilo, várias outras carregam um estilo que auxilia na
transmissão de uma ideia.

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TEMA 1 – CLASSIFICAÇÃO DA TIPOGRAFIA

Um dos temas recorrentes na discussão da tipografia é a sua


classificação. Vamos conhecer um pouco o percurso pelo qual foram definidas
as classificações das fontes.

1.1 Os percursos da classificação

A classificação surgiu da tentativa de padronizar os termos em vários


países e das oficinas de tipografia. No entanto, poucas propostas tiveram boa
aceitação no início. Para Dixon (1995), as propostas de classificação que
antecederam a de Maximilien Vox, entre elas, a de Vinne, em 1900, a de
Johnson, em 1932, e a de Beatrice Warde, em 1935, eram complexas ou pouco
específicas, não sendo capazes de atender à necessidade.
Em 1954, Maximilien Vox propôs uma simplificação em uma classificação
que era específica o suficiente para que houvesse uma boa adesão. O Vox Type
Classification System (Sistema de Classificação de Tipos de Vox) classificava os
tipos em categorias, tornando-se a base para os sistemas atuais. Por essa razão,
ficou bastante difundida, mas a classificação dos estilos tornou-se difícil com o
advento da tipografia digital.

Figura 2 – Sistema de Maximilien Vox, de 1954

Fonte: Fukushima, 2021.

Hoje em dia, existem sites que utilizam categorias para que se navegue
entre suas fontes:
• O Myfonts (<myfonts.com>) utiliza Sans Serif (sem serifa), Slab Serif
(serifa larga), Display (para títulos), Handwritten (manuscritos) e Script
(caligráficos).

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• O Google Fonts (<fonts.google.com>) utiliza Serif (serifada), Sans Serif
(sem serifa), Display (para títulos), Handwriting (manuscritos) e
Monospace (monoespaçadas), complementado com a possibilidade de
ajustar a seleção por Number of styles (número de estilos, ou seja, as
variações que a letra possui), Thickness (espessura), Slant (inclinação) e
Width (Largura).

Stolarski (2005) entende que, no Brasil, a terminologia da tipografia tem


várias inconsistências e pondera que a curta tradição tipográfica no país e o
distanciamento que aconteceu entre o saber específico dos profissionais
envolvidos na produção mecânica e o dos novos profissionais seriam as causas
disso. Nesta disciplina, vamos conferir os principais grupos de estilos que servem
como base para as classificações.

1.2 Estilos da tipografia

Nos projetos gráficos, existem situações nas quais se exige a


apresentação de uma ênfase em determinada palavra ou mesmo em uma
sentença. Nesses casos, utiliza-se uma variação do estilo da letra, sendo que as
normas recomendam o uso de palavras em itálico. Utilizar uma letra itálica
também é conhecido como grifar, que vem do invento de Francesco Griffo, que,
em 1501, criou a fonte para se destacar no meio do texto. A palavra “itálico”
também se deve à origem do invento, no caso, o país onde foi criada essa
variação de estilo da letra.

Figura 3 – Letra que deu origem à Itálica de Niccolo de Niccoli, de 1420,


encotnrado em A origem e desenvolvimento da escrita humanística, de Berthold
Louis Ullman (1960)

Crédito: CommonsHelper/P.D.

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Para essa e para outras finalidades, os tipos são projetados com diversos
estilos. Como vimos em aulas anteriores, quando comentamos sobre os tipos
necessários para a composição de texto, o estilo mais comum é o Roman
(Romano), em que a letra tem ênfase vertical, como a letra que você está lendo
neste texto. Em seguida há os estilos com as letras inclinadas, chamadas de
Italic (itálico, sendo que temos também a Inclined ou inclinadas, que são
inclinadas, mas não têm um desenho diferente do romano). Também há os
versaletes, que são letras com formato de maiúsculas, porém menores.
Outros estilos são criados por meio de variações da espessura dos traços,
são elas: thin, light, semibold, bold e extrabold. Há também os estilos gerados
pela variação das larguras das letras, que podem ser denominadas de
condensed e extended, e assim por diante. Desse modo, elas formam as
“superfamílias” que, além dessas variações, oferecem, entre outras
características, a versão serifada e sem serifa da mesma fonte.

Figura 4 – Estilos da Fonte Bitter Google fontes

Fonte: Fukushima, 2021.

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Figura 5 – Exemplo de superfamília do Google Noto Fonts. As famílias podem
ser maiores, incluindo condensed, extended etc.

Fonte: Fukushima, 2021.

A partir de agora, vamos conhecer as principais categorias de fontes.

TEMA 2 – PRINCIPAIS CATEGORIAS DE ESTILOS TIPOGRÁFICOS:


CATEGORIA DOS CLÁSSICOS

Categoria dos clássicos podem ser as humanistas, galadinas e


transicionais, tendo como características principais as serifas triangulares e
eixo inclinado com pouco contraste entre as hastes. Dependendo das
classificações, recebem o nome de Oldstyle, ou estilo antigo. Sendo fontes
clássicas, geralmente as proporções entre as letras são bem acentuadas, com
algumas largas e outras estreitas que conferem uma elegância ao texto.

2.1 Estilo humanista

O estilo humanista vem das letras desenvolvidas na Itália, que surgiu logo
que os tipos móveis foram criados e se difundiu no século XV. O desenho tem,
como inspirações, as letras do Império Romano. Esse estilo se opõe às letras
góticas quadradas e caracteriza-se pelas formas arredondadas, eixos
humanistas (inclinado), pequeno contraste entre os traços com pouca variação
de espessura. O traço horizontal da letra e minúscula é inclinado. Exemplo
representante é a fonte Nicolas Jenson e Centaur.

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Figura 6 – Fonte Alice do Google no estilo humanista

Fonte: Fukushima, 2021.

2.2 Estilo galadino

Também chamado de Aldine, o termo vem da junção de nomes de dois


tipógrafos e impressores, o francês Claude Garamond (1500-1561) e o italiano
Aldus Manutius (1450-1515). Esse estilo sucede o estilo humanista com algumas
diferenças. As letras têm serifas triangulares e o eixo desse estilo é inclinado,
mas tem um maior contraste na fonte como um todo. A barra da letra e é
horizontal. Exemplos: Garamond e Bembo.

Figura 7 – Fonte Cormorant

Fonte: Fukushima, 2021.

2.3 Estilo transicional

Esse estilo surge historicamente após o estilo galadino, tendo o eixo


levemente inclinado ou vertical e as serifas finas e planas com terminação aguda.
Incorpora o espírito racional do Iluminismo. Exemplos: William Caslon,
Baskerville e Times Roman.

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Figura 8 – Exemplo de estilo galadino

Fonte: Fukushima, 2021.

TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DE TIPOS: CATEGORIAS MODERNAS

A categoria das modernas vem do período industrial do final do século XIX


e início do XX, quando houve uma simplificação das formas e ênfase na
funcionalidade. Esta categoria pode ser dividida em três estilos: fontes didônicas,
mecânicas e lineares.

3.1 Estilo didônico

Esse estilo vem do francês Firmin Didot e do italiano Giambattista Bodoni.


Nele, as variações das espessuras são bem destacadas. Esse estilo só foi
possível por causa da evolução tecnológica relacionada ao metal, que permitiu
produzir matrizes tipográficas com precisão e durabilidade. As hastes tornaram-
se extremamente finas. As didônicas são muito apreciadas na moda.

Figura 9 – Estilo didônico

Fonte: Fukushima, 2021.

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3.2 Estilo mecânico

Esse estilo é conhecido também como egípcio, de serifa grossa ou slab


serif. Caracteriza-se pelas serifas grossas e tem reflexo da Revolução Industrial.
O nome mecânico vem do seu aspecto de baixo contraste entre as hastes.
Embora letras com serifas grossas já existissem, esse estilo teve uma
grande aceitação na época em que Napoleão realizou suas campanhas militares
no Egito e, dessa forma, recebeu a classificação de egípcio. Exemplos:
Claredon, Rockwell, City.

Figura 10 – Estilo mecânicas

Fonte: Fukushima, 2021.

3.3 Estilo linear

Nesta categoria, incluem-se todas as fontes sem serifas, ou seja, as sans


serif, grotescas, geométricas e humanistas (proporções do estilo humanista,
visto na categoria dos clássicos, mas sem serifas).
Esse estilo inclui as fontes grotescas, que são fontes sem serifas,
originalmente criadas no século XIX. Essas fontes têm um certo contraste entre
as hastes e terminações, geralmente horizontais. As fontes geométricas são
construídas com base em formas geométricas simples, como círculos e
retângulos. Já as fontes humanistas são derivadas das capitais romanas com as
proporções humanistas, mas com contraste moderado e sem a presença das
serifas.

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Figura 11 – Estilo lineares

Fonte: Fukushima, 2021.

TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO TIPOGRÁFICA: CATEGORIA CALIGRÁFICAS

A categoria de fontes caligráficas pode ser dividida em incisas, escriturais,


manuais, entre outras, e derivam do fato de serem feitas à mão.

4.1 Incisas ou glíficas

Estas letras vêm das gravações esculpidas em pedra ou metal e, assim,


diferem das letras caligráficas manuscritas. As letras possuem serifas
triangulares ou trações descendentes agudas. Várias dessas fontes não
oferecem as minúsculas. Exemplos: Albertus, Copperplate Gothic e Trajan.

Figura 12 – Letras lapidadas em pedras

Crédito: Sean Osborne/Shutterstock.

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4.2 Estilo escritural ou script

As letras dessa categoria são decorrentes da estilização de uma escrita


manuscrita cursiva utilizando penas ou canetas. Geralmente, têm aspecto de
letras itálicas. Exemplo: Mistral.

Figura 13 – Estilo escritural ou script

Crédito: Passion artist/Shutterstock.

4.3 Manuais ou gráficas

Fontes também derivadas do manuscrito, mas que não têm intenção de


parecer letras cursivas. Baseiam-se em letras escritas com canetas marcadoras,
pincéis ou outro tipo de escrita manual. São letras do tipo display, ou seja, não
servem para textos longos. Exemplo: Banco.

Figura 14 – Escrita utilizando a fonte Banco

Fonte: Fukushima, 2021.

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4.4 Outros estilos

Existem diversas outras categorias, como a categoria de não latinas, em


que se enquadram todas as fontes de outras línguas e, por si só, seria uma
categoria enorme. O estilo blackletters, que foi dominante no período medieval,
hoje é categorizado junto das Caligráficas em um estilo próprio e com diversas
subdivisões. O importante é saber que nenhuma das classificações de fato
conseguiu ser unânime, assim, de certa maneira, convivem e se complementam.
Existem esforços para se chegar a algumas classificações cruzadas, mas
no dia a dia, o que importa é saber identificar os principais estilos e utilizar este
conhecimento na hora de buscar fontes.

Figura 15 – Letras góticas das quais existem vários modelos

Crédito: DaryaKoM/Shutterstock.

TEMA 5 – EXERCÍCIO DA EXPRESSÃO DA TIPOGRAFIA

Como vimos nesta aula, existem diversos estilos de letras e a


classificação apresentada teve enfoque sua forma. No entanto, é notória a
expressividade das letras para compor a frase conforme seu estilo. Assim, neste
exercício, vamos realizar uma familiarização da semântica das letras e
começaremos a pensar no uso das letras.

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5.1 Etapa 1: criar a base para composição

Faça uma base.

Figura 16 – Exemplo de base

5.2 Etapa 2: compor o texto

Para esse exercício, experimente o texto “Cada qual sabe amar a seu
modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar”, de Machado de
Assis. Componha pelo menos três versões do texto utilizando uma fonte para
cada categoria estudada na aula. Busque fontes nos sites que as oferecem.
Para a primeira imagem do exemplo a seguir, foi utilizada a Garamond,
da categoria das clássicas, estilo galadino. Na segunda, foi utilizada a fonte
Futura, da categoria dos modernos, estilo linear em sua versão Extra Bold. Por
fim, na última imagem, foi utilizada a fonte Brush Script, da categoria caligráfica,
estilo escritural.

Figura 17 – Exercício

Fonte: Fukushima, 2021.


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Não existe solução correta, sendo necessário pensar na adequação do
sentido que você quer enfatizar.
Este exercício pode se transformar em pôsteres de frases que existem
para venda ou exercício para postagem nas redes sociais. É muito comum
utilizar uma imagem, mas para esse exercício, tente passar a mensagem
somente com um texto, por meio de uma fonte que enfatize o estilo da
mensagem e uma composição que condiga com a mensagem. Componha outros
textos e, se gostar do resultado, faça um quadrinho 1 e presenteie uma pessoa.

Saiba mais

Todas as categorias são importantes, pois as fontes podem servir para


diversas finalidades distintas. As categorias são um tema que está em mudanças
e você pode se aprofundar lendo o artigo utilizado para esta aula.

Disponível em:
<arcomodular.com.br/portugues/uploads/File/SILVA_FARIAS-
PanoramaClassif.pdf>. Acesso em: 3 maio 2021.

TROCANDO IDEIAS

Pesquise tipos que você reconhece como aquele que pode identificar uma
época ou um gênero de filme. Poste imagens no grupo e peça a opinião de
colegas para saber se eles concordam ou se há outras letras que identificam
melhor esse tópico.
Escolha um dos resultados da aula prática e justifique a escolha evitando
o argumento “eu gosto”, pensando em algo como “a fonte escolhida confere
seriedade à frase”. Confira com os colegas se eles concordam com a sua
justificativa.

NA PRÁTICA

Na hora de utilizar uma fonte, é muito útil ter uma classificação. Explore
os sites de fontes e, de preferência, tente classificar com as categorias
aprendidas nesta aula. Busque classificá-las de modo que quando for utilizá-las,
consiga acessá-las. É possível utilizar para isso adjetivos, como delicadas,
dinâmicas, provocativas etc.

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Caso queira fazer quadros para venda, busque frases em texto de domínio público.
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FINALIZANDO

Nesta aula, foi abordada a classificação de tipografia tendo em vista que


existem muitas fontes. Assim, na hora de utilizar e trabalhar com as fontes, é
necessário organizá-las. Vimos também que as classificações estão em curso
porque, com a facilidade que a informática proporcionou quando comparado com
a época dos tipos de metal, abriram-se muitas possibilidades, o que dificultou o
uso de classificações. Agora que temos uma maior noção dos tipos de letras,
está na hora de fazer o seu uso.
Nas próximas aulas, vamos finalmente ver os usos da tipografia.
Até lá!

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REFERÊNCIAS

DIXON, C. Classification legacies: past perspectives and their shaping of current


practice views. DESIGN FRONTIERS: ELECTED PAPERS OF THE 8TH ICDHS
CONFERENCE. Preceedings… London: Central Saint Martins: University of the
Arts. v. 1, n. 1, p. 60-66, 2014.

FONTOURA, A.; FUKUSHIMA, N. Vade-mécum de tipografia. 2. ed. Curitiba:


Insight, 2012.

SILVA, F. L. C. M.; FARIAS, P. L. Um panorama das classificações tipográficas.


Estudos em Design, v. 11, n. 2, p. 67-81, 2005.

SPIEKERMANN, E. A linguagem invisível da tipografia: escolher, combinar e


expressar com tipos. São Paulo: Blucher, 2011.

BRINGHURST, R. Elementos do estilo tipográfico. São Paulo: Cosac Naify,


2005.

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