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RENATA
PAES
VIEIRA
REIS
MEMÓRIA
GRÁFICA
DA
ARQUITETURA
DE
OLINDA
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentada
ao
Curso
de
Design
do
Centro
Acadêmico
do
Agreste
da
Universidade
Federal
de
Pernambuco
para
a
obtenção
do
grau/título
de
bacharel/licenciado
em
Design.
Aprovado
em:
21/12/2017.
BANCA
EXAMINADORA
________________________________________
Profa.
Paula
Vivana
de
Rezende
e
Valadares
(Orientador)
Universidade
Federal
de
Pernambuco
_________________________________________
a
Prof .
Maria
de
Fátima
Waechter
Finizola
Santana
(Examinador
Interno)
Universidade
Federal
de
Pernambuco
_________________________________________
Profa.
Rosângela
Vieira
de
Souza
(Examinador
Interno)
Universidade
Federal
de
Pernambuco
AGRADECIMENTOS
A
Antenor
In
Memoriam
e
a
Nazaré,
por
terem
me
contaminado
com
o
olhar
sensível
da
preservação
desde
pequena.
Agradeço
imensamente
a
Amélia,
por
ter
sido
meu
alicerce
nesse
caminho
e
ter
me
ajudado
a
perceber
as
etapas
percorridas.
A
Pedro
e
Diana,
pelo
apoio
carinhoso
de
sempre.
A
Gil
e
Clara,
pelas
revisões
incansáveis
noite
a
dentro.
A
Lorena,
pela
visão
afetuosa
de
socióloga.
A
Gabriel
pelo
carinho
e
afago.
A
Bruna
pelo
apoio
total
e
absoluto
nesse
trajeto
e
a
Paula
Valadares,
por
ter
topado
encarar
esse
desafio
pessoal
comigo
e
me
norteado
e
encorajado
sempre.
RESUMO
Este
trabalho
tratou,
inicialmente,
de
uma
pesquisa
que
buscou
o
reconhecimento
dos
elementos
decorativos
da
arquitetura
de
Olinda.
Estes
foram
enquadrados
em
quatro
principais
categorias:
azulejos,
cobogós,
ladrilhos
hidráulicos
e
gradil.
Esses
elementos
passaram
a
ser
entendidos
como
desenhos
que
expressavam
a
memória
gráfica
a
partir
da
perspectiva
do
design.
O
levantamento
desses
elementos
arquitetônicos
deu-‐se
através
de
um
roteiro
baseado
na
cartografia
afetiva.
Os
registros
fotográficos
foram
realizados
e
esses
geraram
um
banco
de
dados
que
utilizou-‐se
do
design
emocional,
baseado
na
memória
afetiva
da
própria
pesquisadora,
para
fechar
a
amostragem.
Por
fim,
este
trabalho
resultou
no
projeto
gráfico
de
um
catálogo
sobre
a
Memória
Gráfica
Arquitetônica
de
Olinda
(MGAO),
assim
como
em
vetores
das
quatro
categorias
que
podem
ser
explorados
em
futuros
trabalhos
de
design
gráfico.
Palavras
Chave:
Arquitetura
de
Olinda.
Memória
Gráfica.
Memória
Afetiva.
ABSTRACT
This
work
began
as
a
research
that
sought
the
recognition
of
decorative
elements
of
the
architecture
of
Olinda.
These
were
classified
into
four
main
categories:
tiles,
cobogós,
hydraulic
tiles
and
ornamental
ironworks.
These
elements
came
to
be
understood
as
drawings
that
expressed
the
graphic
memory
from
a
design
perspective.
The
architectural
elements
where
gathered
by
following
a
road
map
based
on
emotional
cartography.
The
photographic
records
were
made
and
these
generated
a
database
that
used
emotional
design,
based
on
the
affective
memory
of
the
researcher,
to
reach
the
final
sample.
Finally,
this
work
resulted
in
the
graphic
design
of
a
catalog
about
Olinda's
Architectural
Graphical
Memory
(OAGM),
as
well
as
vectors
of
the
four
categories
that
can
be
explored
in
future
works
of
graphic
design.
Key
Words:
Architecture
of
Olinda,
Graphic
Memory,
Emotional
Memory.
LISTA
DE
FIGURAS
Figura
1.
Vista
para
a
ruína
da
Igreja
da
Sé.
>
Pg.19
Figura
2.
Estação
Maxambomba
>
Pg.
21
Figura
3.
Praia
dos
milagres,
Carmo,
Olinda.
Início
do
século
XX
>
Pg.
22
Figura
4.
Gravura
de
Aloísio
Magalhães
>
Pg.
23
Figura
5.
Fachadas
do
casario
de
Olinda
na
Ladeira
da
Misericórdia
>
Pg.
24
Figura
6.
Planta
interna
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7
>
Pg.
25
Figura
7.
Vista
frontal
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7
>
Pg.
25
Figura
8.
Divisão
interna
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7
>
Pg.
26
Figura
9.
Altar
do
Mosteiro
de
São
Bento
>
Pg.
26
Figura
10:
utilização
do
cobogó
>
Pg.
30
Figura
11:
Processo
fabricação
ladrilhos
>
Pg.
31
Figura
12:
Ladrilhos
hidráulicos
encontrados
em
Olinda
>
Pg.
31
Figura
13:
exemplos
de
utilização
dos
azulejos
em
Olinda
>
Pg.
32
Figura
14:
utilização
das
grades
>
Pg.
33
Figura
15:
níveis
emocionais
do
design
>
Pg.
38
Figura
16:
produtos
como
suporte
de
memória
>
Pg.
40
Figura
17:
produtos
como
suporte
de
memória
>
Pg.
40
Figura
18:
Exemplos
de
utilização
do
gradil
como
elemento
gráfico
>
Pg.
41
Figura
19:
Exemplos
de
utilização
dos
ladrilhos
como
elemento
gráfico
>
Pg.
41
Figura
20:
exemplos
de
utilização
do
gradil
e
do
cobogó
como
elementos
gráficos
>
Pg.
41
Figura
21:
mapa
do
coração
andarilha
2006
>
Pg.
43
Figura
22:
mapa
gerado
através
da
intervenção
do
grupo
E/Ou
coletivo
>
Pg.
44
Figura
23:
Trajeto
do
primeiro
mapeamento
afetivo
>
Pg.
48
Figura
24:
roteiro
do
segundo
mapeamento
afetivo
>
Pg.
50
Figura
25:
exemplo
de
preenchimento
da
ficha
catalográfica
>
Pg.
52
Figura
26:
ruas
percorridas
no
roteiro
final
>
Pg.
53
Figura
27:
ruas
percorridas
no
roteiro
final
>
Pg.
53
Figura
28:
resultado
de
uma
parte
da
pesquisa
visual
>
Pg.
55
Figura
29:
Imagens
da
estrutura
do
livro
“Cobogó
de
Pernambuco”
>
Pg.
58
Figura
30:
imagens
internas
do
livro
“cobogó
de
Pernambuco”
e
do
projeto
“Dingbat
cobogó
>
Pg.
58
Figura
31:
imagem
do
espelho
com
a
estrutura
final
do
projeto
>
Pg.
61
Figura
32:
formato
do
livro
aberto
e
fechado
>
Pg.
61
Figura
33:
grid
definido
para
o
projeto
>
Pg.
61
Figura
34:
caracteres
da
fonte
Museo
Sans
>
Pg.
62
Figura
35:
especificações
da
tipografia
utilizada
no
catálogo
>
Pg.
63
Figura
36:
amostra
das
cores
utilizadas
no
catálogo
>
Pg.
64
Figura
37:
amostra
das
cores
utilizadas
no
catálogo
>
Pg.
64
Figura
38:
primeira
capa
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
39:
segunda
capa
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
40:
falsa
folha
de
rosto
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
41:
folha
de
rosto
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
42:
página
de
agradecimentos
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
43:
página
do
sumário
do
catálogo
>
Pg.
64
Figura
44:
páginas
de
apresentação
do
projeto
>
Pg.
65
Figura
45:
páginas
contendo
o
mapa
e
apresentação
dos
mapeamentos
afetivos
do
projeto
>
Pg.
65
Figura
46:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
1
do
catálogo
>
Pg.
65
Figura
47:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
2
do
catálogo
>
Pg.
66
Figura
48:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
3
do
catálogo
>
Pg.
66
Figura
49:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
4
do
catálogo
>
Pg.
66
Figura
50:
página
interna
do
catálogo
>
Pg.
67
Figura
51:
página
interna
do
catálogo
>
Pg.
67
Figura
52:
página
contendo
os
vetores
desenvolvidos
no
projeto
>
Pg.
67
Figura
53:
página
do
índice
contendo
legendas
e
miniaturas
>
Pg.
67
Figura
54:
páginas
contendo
bibliografia
referencial
e
ficha
catalográfica
>
Pg.
68
Figura
55:
página
contendo
o
colofão
>
Pg.
68
Figura
56:
terceira
capa
do
projeto
>
Pg.
68
Figura
57:
quarta
capa
do
projeto
>
Pg.
68
Figura
58:
Junção
do
padrão
geométrico
e
orgânico
na
moldura
do
tapete
de
azulejos
>
Pg.
69
Figura
59:
azulejos
em
tons
de
azul
e
branco
>
Pg.
70
Figura
60:
azulejos
em
tons
de
azul,
branco
e
amarelo
>
Pg.
70
Figura
61:
Composição
onde
apenas
1
azulejo
forma
o
padrão
>
Pg.
70
Figura 62: composição onde 4 azulejos formam o padrão > Pg. 70
Figura 63: azulejo em processo de degradação > Pg. 72
Figura
64:
padrão
geométrico
com
moldura
orgânica
>
Pg.
73
Figura 65: padrão orgânico com moldura geométrica > Pg. 73
Figura
66:
predominância
do
vermelho
nas
composições
de
ladrilhos
>
Pg.
74
Figura
67:
composição
dos
ladrilhos
nas
cores
vermelho
x
branco
>
Pg.
74
Figura
68:
mesmo
ladrilho
em
diferentes
composições
>
Pg.
74
Figura
69:
padrão
formado
por
4
módulos
>
Pg.
75
Figura
70:
padrão
formado
por
um
único
módulo
>
Pg.
75
Figura
71:
módulo
isolado
que
ao
rotacionar
cria
novo
padrão
>
Pg.
75
Figura
72:
modulo
isolado
que
ao
rotacionar
cria
novo
padrão
>
Pg.
75
Figura
73:
ladrilho
coberto
por
restos
de
obra
>
Pg.
76
Figura
74:
volutas
em
C
e
volutas
em
S
>
Pg.
77
Figura
75:
grades
compostas
por
elementos
orgânicos
>
Pg.
77
Figura
76:
grades
geométricas
>
Pg.
77
Figura
77:
gradil
com
a
presença
de
monogramas
>
Pg.
78
Figura
78:
comparação
entre
grades
ornamentais
e
geométricas
>
Pg.
78
Figura
79:
grade
utilizada
para
permitir
passagem
de
luz
e
vento
>
Pg.
79
Figura
80:
utilizações
das
grades
nos
casaris
da
cidade
>
Pg.
79
Figura
81:
cobogó
branco
pintado
a
base
de
cal
>
Pg.
80
Figura
82:
cobogó
respeitando
as
cores
da
fachada
>
Pg.
80
Figura
83:
cobogó
em
cor
de
contraste
a
da
fachada
>
Pg.
80
Figura
84:
novas
formas
a
partir
do
encontro
das
quinas
do
cobogó
>
Pg.
80
Figura
85:
elemento
que
não
revela
novas
formas
>
Pg.
80
Figura
86:
utilização
do
cobogó
em
casa
na
Ladeira
de
São
Francisco
>
Pg.
81
Figura
87:
cobogó
com
repetição
de
elemento
geométrico
simples
>
Pg.
81
Figura
88:
cobogó
com
elemento
de
eixo
simétrico
radial
>
Pg.
81
Figura
89:
utilização
de
dois
modelos
de
cobogós
em
uma
mesma
composição
>
Pg.
82
Figura
90:
cobogó
com
duas
camadas
>
Pg.
82
Figura
91:
presença
do
cobogó
no
muro
das
residências
>
Pg.
83
Figura
92:
utilização
do
cobogó
>
Pg.
83
Figura
93:
diálogo
de
padrão
entre
grade
e
cobogó
>
Pg.
83
Figura
94:
fios
em
frente
as
fachadas
>
Pg.
84
LISTA
DE
TABELAS
Tabela
1.
:
amostra
dos
elementos
encontrados.
>
Pg.
51
Tabela
2:
síntese
dos
elementos
editorias
do
projeto
>
Pg.
57
SUMÁRIO
SEÇÃO
1:
INTRODUÇÃO
>
Pg.
13
SEÇÃO
2:
OLINDA
>
PG.
16
2.1
História
do
Sítio
Histórico
de
Olinda
>
Pg.
18
2.2
Tombamento
de
Olinda
>
Pg.
22
2.3
Arquitetura
de
Olinda
>
Pg.
24
SEÇÃO
3:
A
ARQUITETURA
E
SEUS
ELEMENTOS
GRÁFICOS
>
Pg.
28
3.1
Cobogós
>
Pg.
29
3.2
Ladrilhos
>
Pg.
30
3.3
Azulejo
Português
>
Pg.
31
3.4
Gradil
>
Pg.
32
SEÇÃO
4:
MEMÓRIA
E
AFETIVIDADE
>
Pg.
34
4.1
Memória
gráfica
>
Pg.
35
4.2
Memória
Afetiva
>
Pg.
37
4.3
Cartografia
Afetiva
>
Pg.
43
SEÇÃO
5:
METODOLOGIA
CIENTÍFICA
>
Pg.
45
5.1
tipo
da
pesquisa
>
Pg.
46
5.2
Métodos
de
Abordagem
e
Procedimentos
adotados
>
Pg.
46
5.3
Técnicas
de
pesquisa
>
Pg.
46
5.4
Coleta
de
dados:
cartografia
afetiva
>
Pg.
47
5.5
Amostragem:
seleção
afetiva
>
Pg.
50
5.6
Ficha
de
catalogação
e
imagens
definitivas
>
Pg.
52
5.7
Metodologia
do
projeto
editorial
>
Pg.
54
5.6.1
Problematização
e
conceito
do
projeto
>
Pg.
54
5.6.2
Projeto
Editorial
>
Pg.
55
5.6.2
Referência
projetual
>
Pg.
57
5.8
Etapas
>
Pg.
58
SEÇÃO
6:
RESULTADOS
>
Pg.
68
6.1
O
projeto
do
catálogo
>
Pg.
60
6.2
Apresentação
do
projeto
>
Pg.
64
6.3
Discussão
dos
resultados
>
Pg.
69
6.3.1
Azulejos
>
Pg.
69
6.3.2
Ladrilhos
Hidráulicos
>
Pg.
72
6.3.3
Gradil
>
Pg.
75
6.3.4
Cobogó
>
Pg.
79
6.3.5
Considerações
finais
>
Pg.
82
SEÇÃO
7:
CONCLUSÃO
>
Pg.
85
REFERÊNCIAS
>
Pg.
88
13
Entendemos
que
a
memória
afetiva
valoriza
a
memória
gráfica,
uma
vez
que
seu
conceito
é
calcado
em
objetos
capazes
de
despertar
lembrança
e
onde
sua
aparência
visual
se
torna
um
aspecto
marcante,
nos
levando
a
uma
busca
imagética
que
revela
vivências
e
costumes.
Assim,
os
artefatos
de
memória
aqui
estudados
estão
presentes
nas
construções
arquitetônicas
de
Olinda
e
são
objetos
que
contam
um
panorama
de
sua
história.
A
relação
afetiva
entre
usuário
e
objeto
é
indissociável
dos
estudos
de
Memória
Gráfica
Brasileira.
Vera
Damázio
(2006)
descreve
que
os
objetos
são
capazes
de
elucidar
lembranças
e
por
isso
os
denomina
de
artefatos
de
memória.
A
forte
característica
dos
“artefatos
de
memória”
é
a
permanência
destes
objetos
na
vivência
do
usuário,
mesmo
que
não
possua
formas
de
usá-‐lo
para
suas
funções
projetadas
inicialmente.
O
objeto
passa
ser
parte
de
um
universo
por
vezes
lúdico,
poético
e
nostálgico.
(REIS,
2015,
pg.248)
14
Assim,
partindo
dessas
premissas,
entendemos
o
objeto
de
estudo
desse
trabalho
como
sendo
os
elementos
decorativos
da
arquitetura
de
Olinda,
com
foco
na
sua
expressão
gráfica.
O
objetivo
geral
desse
estudo
é
projetar
um
catálogo
da
memória
gráfica
da
arquitetura
de
Olinda.
Quanto
aos
objetivos
específicos,
esses
são:
15
da
“cartografia
afetiva”.
Essa
foi
um
direcionante
nos
caminhos
percorridos
nesse
estudo,
através
de
dois
mapeamentos.
Na
metodologia
projetual,
para
a
edição
do
catálogo,
usamos
Lupton
(2013),
como
método
para
reconhecimento
do
problema
e
conceituação
do
projeto;
e
uma
síntese
entre
Hendel
(2003)
e
Araújo
(2008),
para
definir
os
elementos
editoriais
pertinentes
ao
catálogo.
Para
isso,
esse
trabalho
foi
divido
em
duas
partes
e
cinco
seções.
Na
primeira
parte,
trazemos
três
seções
que
tratam
da
fundamentação
teórica.
Na
primeira
seção
abordamos
a
história
da
cidade
de
Olinda
e
sua
condição
enquanto
patrimônio;
na
segunda
secão,
falamos
sobre
os
elementos
decorativos
da
arquitetura
os
quais
reconhecemos
como
representativos
da
memória
gráfica
e
sua
fabricação,
utilização
e
características
mais
marcantes;
na
terceira
seção,
falamos
de
memória,
afetividade,
suas
ligações
com
o
design
e
as
diretrizes
da
cartografia
afetiva.
Já
a
segunda
parte,
é
constituída
pela
quarta
e
quinta
seção.
Assim,
na
quarta
seção
tratamos
da
metodologia
usada
nesse
trabalho;
na
quinta
trazemos
os
resultados,
onde
apresentamos
os
requisitos
projetuais
e
discutimos
os
entendimentos
encontrados.
16
2
Olinda
Nessa
sessão,
abordaremos
questões
sobre
a
história
do
Sítio
Histórico
de
Olinda,
sobre
seu
tombamento
e
arquitetura.
17
A
cidade
de
Olinda
foi
fundada
em
1535
pelo
donatário
Duarte
Coelho,
a
quem
o
governo
português
destinou
a
administração
de
uma
das
15
capitanias
existentes
no
Brasil
àquela
época,
a
Capitania
de
Pernambuco.
Como
detentor
da
mesma,
tinha,
por
isso,
o
direito
de
fundar
povoações,
doar
terras,
escravizar
os
índios
e
julgar/condenar
quem
cometesse
crimes.
A
contraponto,
este
tinha
que
morar
no
local,
explorar
e
defender
suas
riquezas
(VICTOR,
2008).
No
local,
Duarte
Coelho
mandou
construir
um
castelo,
o
qual
foi
erigido
no
Alto
da
Misericórdia
(hoje,
Alto
da
Sé)
nas
proximidades
da
atual
Igreja
da
Sé.
Foi,
nessa
localização,
fundada
a
Vila
de
Olinda,
a
qual
tornou-‐se,
a
partir
de
então,
sede
do
governo
da
Capitania
de
Pernambuco
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Consolidada
a
capitania
e
vencida
a
batalha
contra
os
índios,
os
portugueses
deram
início
à
produção
da
cana-‐de-‐açúcar,
o
que
resultou
na
construção
dos
primeiros
engenhos
e
na
produção
de
tabaco
e
algodão.
Logo
depois,
Duarte
Coelho
viaja
a
Portugal
para
tratar
de
assuntos
administrativos
da
capitania,
mas,
devido
à
sua
saúde
debilitada,
veio
pouco
depois
a
falecer,
deixando
à
sua
viúva,
Dona
Brites,
a
responsabilidade
pela
administração
da
Vila
(VICTOR,
2008).
18
Após
esse
episódio,
assume
seu
herdeiro,
Duarte
Coelho
de
Albuquerque
Filho,
que
é
morto
em
batalha.
A
hierarquia
vigente
garantiu
a
passagem
do
comando
da
capitania
para
seu
irmão,
Jorge
de
Albuquerque.
Nesse
momento,
a
capitania
encontrava-‐se
em
plena
prosperidade
e
em
1585
já
existiam
66
engenhos
em
Pernambuco
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Enquanto
isso,
o
cenário
na
terra
dos
colonizadores
era
o
seguinte:
o
rei
de
Portugal,
D.
Sebastião,
havia
sido
morto
em
batalha
e,
por
não
possuir
herdeiros,
o
trono
de
Portugal
passa
a
ser
ocupado
pelo
então
rei
da
Espanha,
Felipe
II.
Por
ser
inimigo
dos
holandeses,
o
rei
proíbe
que
os
mesmos
continuem
comercializando
açúcar
no
Brasil.
Os
holandeses,
entretanto,
não
aceitaram
essa
nova
configuração
dos
eventos
políticos
e
organizam,
em
resposta,
uma
expedição
para
reverter
a
situação
(VICTOR,
2008).
Entre
o
período
de
1624
a
1654,
os
holandeses
invadiram
e
ocuparam
uma
grande
extensão
do
território
do
nordeste
do
Brasil.
Após
invadirem
Salvador,
e
serem
expulsos
sem
grandes
dificuldades
um
ano
depois,
decidiram
adentrar
em
Pernambuco,
onde
conseguiram
conquistar
as
Vilas
de
Recife
e
Olinda,
e
estabeleceram
o
controle
de
grande
parte
do
litoral
brasileiro,
uma
faixa
que
ia
de
Sergipe
ao
Maranhão
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Em
1631,
por
temerem
a
retomada
de
Olinda
pelos
portugueses
e
por
considerarem-‐na
um
local
de
fácil
invasão,
além
de
difícil
e
onerosa
de
ser
fortificada,
os
holandeses
tomaram
a
decisão
de
saquear
as
principais
construções
levando
tudo
de
valor
que
encontravam.
Incendiaram
a
cidade,
que
ficou
completamente
devastada.
Poucas
edificações
sobreviveram
ao
incêndio,
entre
elas
estava
a
Igreja
de
São
João.
Partiram,
então,
para
Recife,
onde
se
estabeleceram
até
1645,
quando
foram
expulsos
através
de
uma
insurreição
popular.
Esse
episodio
é
relatado
no
livro
Olinda:
25
Anos
de
Patrimônio
Cultural
da
Humanidade,
de
Plinio
Victor:
19
e
pintores.
Foi
nesse
momento
que
Frans
Post
(Fig.
1)
e
Albert
Eckhout
pintaram
as
famosas
representações
das
paisagens
de
Recife
e
Olinda
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Figura
1.
Vista
para
a
ruína
da
Igreja
da
Sé.
(Autor:
Frans
Post-‐1662)
O
governo
de
Nassau
durou
apenas
7
anos
(1637-‐1644),
pois,
devido
a
um
desentendimento
com
a
Companhia
das
Índias
Ocidentais,
deixou
o
cargo
que
ocupava.
Essa
ruptura
na
forma
de
administrar
resultou
em
um
governo
que
tomava
frequentemente
medidas
impopulares,
que
prejudicavam
os
senhores
de
engenho,
como
o
aumento
dos
impostos
e
a
cobrança
sucessiva
de
dívidas,
além
do
confisco
dos
bens
daqueles
que
não
conseguissem
pagá-‐las;
exigindo
também
uma
maior
produção
da
cana
de
açúcar
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Os
pernambucanos,
em
resposta
aos
desmandos
da
administração
das
Índias
Ocidentais,
se
organizaram
e
criaram
um
movimento
de
libertação
com
caráter
nativista,
a
chamada
Insurreição
Pernambucana.
Saíram
vitoriosos
dessa
batalha,
e
expulsaram
definitivamente
os
holandeses
em
1654
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Olinda
começa
então
a
ser
reconstruída.
Passados
anos
da
expulsão
dos
holandeses,
os
engenhos
de
Olinda
encontravam-‐se
em
uma
grave
crise
do
açúcar
no
mercado,
em
virtude
da
concorrência
com
o
açúcar
produzido
nas
Antilhas.
Em
meio
à
disputa
entre
as
duas
cidades
pelo
controle
do
poder
político
e
econômico
de
Pernambuco,
e
sem
capital
para
se
reerguer,
os
senhores
olindenses
precisaram
de
empréstimos,
os
quais
foram
dados
pelos
comerciantes
recifenses
favorecidos
pela
coroa
portuguesa,
que
cobravam
juros
altíssimos,
acarretando
no
endividamento
de
grande
parte
dos
olindenses.
Sabendo
de
sua
importância
econômica,
os
comerciantes
recifenses
pediram
ao
rei
de
Portugal
que
o
povoado
do
Recife
passasse
à
condição
de
Vila
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Apesar
de
dependentes
economicamente
dos
comerciantes
portugueses
(credores)
instalados
em
Recife,
os
senhores
de
engenho
olindenses
(devedores)
não
aceitaram
a
emancipação
20
política
e
administrativa
de
Recife,
até
então
subordinado
a
Olinda
e
que,
com
esse
movimento,
passava
a
ocupar
o
mesmo
patamar
de
igualdade
política
(ESTEVES;
FONSÊCA;
PAIVA,
1999).
Desde
o
trágico
e
melancólico
fim
da
hegemonia
da
cultura
açucareira,
na
segunda
metade
do
século
XVII,
Olinda
se
fecha
para
si
mesma,
sendo
gradativamente
apagada
do
cenário
mundial,
até
ser
relembrada
pelo
mesmo
apenas
em
1982.
Nesse
longo
espaço
de
tempo,
a
cidade
foi
recompondo-‐se
lentamente,
reinventando-‐se,
realimentando
suas
tradições
como
qualquer
outra
cidade,
cujo
reconhecimento
sobre
si
mesma
se
dava
apenas,
dentro
do
cenário
nacional,
através
da
sua
retórica,
da
poética,
da
historiografia
e,
especificamente,
da
rebeldia
das
revoluções
do
século
XIX.
Destas,
destacam-‐se
aquelas
germinadas
no
interior
do
Seminário
de
Olinda,
antigo
Real
Colégio
dos
Jesuítas,
como
a
Revolução
de
1817,
a
Convenção
de
Beberibe,
de
1821,
que
desliga
Pernambuco
do
Reino;
a
Confederação
do
Equador,
de
1824;
a
perda
da
condição
de
capital
de
Pernambuco,
em
1827,
com
o
estabelecimento
do
Estado
Nacional,
o
Império
do
Brasil,
em
1822;
e
a
Revolução
Praieira,
de
1848.
Como
observou
acima
o
autor,
a
cidade
passa
por
um
momento
de
declínio
para
então
se
reerguer
econômica
e
culturalmente.
Em
1828,
foi
inaugurado
em
Pernambuco,
no
Mosteiro
de
São
Bento,
um
dos
primeiros
cursos
jurídicos
do
país.
No
local
também
foi
instalada
a
primeira
faculdade
de
Agronomia
e
Veterinária
do
Brasil.
Na
Escola
de
Direito
de
Olinda,
surge
o
primeiro
periódico
estudantil
brasileiro,
o
Jornal
Político
Literário
Olindense,
em
1831.
Após
essas
implantações
a
cidade
ganha
importância
com
relação
a
Recife,
o
lugar
de
trabalho.
Já
na
segunda
metade
do
século
XIX
é
construída
uma
linha
férrea
que
facilitou
a
comunicação
entre
as
duas
cidades.
É
implantado
então
a
Maxambomba
(Fig.
2),
trem
urbano
que
funcionou
até
1914,
quando
foi
substituído
pelos
bondes
elétricos
(MENEZES,
2002).
21
Figura
2.
Estação
Maxambomba
(fonte:
http://www.panoramio.com/photo/114683893)
Mas,
curiosamente,
é
o
banho
de
mar,
recomendado
frequentemente
pelos
médicos
nesta
época,
que
dá
nova
vida
à
cidade.
No
início
do
século
XX,
o
interesse
pelas
áreas
planas
foi
impulsionado,
em
virtude
dos
novos
conhecimentos
da
medicina,
sobre
os
benefícios
da
salubridade
dos
banhos
de
mar,
provocado
pela
procura
das
praias.
Por
falta
de
acesso
para
as
praias
do
Sul,
intensificou-‐se
a
procura
pelas
do
norte.
A
faixa
litorânea
que
compreende
a
área
do
Carmo
deixou
de
ser
habitada
por
casebres
de
pescadores,
deu
lugar
a
moradia
das
classes
menos
favorecidas,
e
ao
longo
desta
surgiram
as
primeiras
casas
de
veraneio
(DIDIER,
1998,
p.
4)
No
final
do
século
XIX
e
início
do
século
XX,
a
cidade
passa
a
ser
reavivada.
A
medicina
higienista,
que
gozava
de
enorme
prestígio
à
época,
propunha
os
benefícios
do
banho
de
mar.
Por
isso,
famílias
de
Recife
vinham
frequentemente
a
Olinda
atrás
do
banho
salgado,
que
passou
a
ser
indicado
para
a
recuperação
da
saúde.
Em
virtude
dessa
nova
cultura
de
veraneio
(figura
3),
houve
uma
nova
expansão
urbana
e
foram
feitas
melhorias
na
cidade,
como
o
calçamento
das
ruas.
Outro
fator
que
influenciou
no
crescimento
da
cidade
foi
a
chegada
da
energia
elétrica,
e
em
contrapartida.
dos
bondes
elétricos,
em
1914,
que
facilitou
ainda
mais
a
comunicação
com
Recife
(DIDIER,
1998).
Segundo
José
Luiz
Mota
Menezes,
nessa
época
as
famílias
compravam
casas
próximas
à
praia,
adaptando-‐as
ao
gosto
eclético.
(MENEZES,
2002).
22
Figura
3.
Praia
dos
milagres,
Carmo,
Olinda.
Início
do
século
XX
(fonte:
Eliane
Nascimento)
2.2 Tombamento
Logo
após
a
criação
do
órgão,
Olinda
foi
nomeada
Cidade
Monumento
e
em
1938
monumentos
do
Sítio
Histórico
da
cidade
foram
pontualmente
tombados
a
nível
federal.
Foi
o
caso
dos
dois
Sobrados
Mouriscos
com
muxarabis:
um
situado
na
Rua
do
Amparo,
no
28,
e
outro,
na
Praça
João
Alfredo,
no
7.
Foram
também
tombadas
as
Igrejas
da
Misericórdia,
de
Nossa
Senhora
do
Monte,
de
Santa
Tereza,
de
Nossa
Senhora
do
Carmo,
a
Igreja
e
Mosteiro
de
São
Bento,
o
Convento
de
São
Francisco,
o
Palácio
Episcopal
e
o
Seminário
de
Olinda(VICTOR,
2008).
Mais
adiante,
em
meio
ainda
à
ditadura
militar
implantada
em
1964,
diante
de
um
quadro
de
fragilidade
institucional
e
de
uma
difícil
situação
econômica,
viu-‐se
no
turismo
uma
saída
econômica.
É
quando,
foi
criado
pelo
Ministério
do
Interior
o
Programa
Cidades
Históricas
e
os
estados
para
se
habilitarem
precisam
ter
seus
próprios
órgão
de
preservação.
Em
1973
foi
criada
a
FUNDARPE
–
Fundação
do
Patrimônio
Histórico
e
Artístico
de
Pernambuco
que
realizou
obras
em
Olinda
como
a
restauração
da
cadeia
pública,
antiga
prisão
eclesiástica
para
instalação
do
MAC
–
Museu
de
Arte
Contemporânea
–,
que
contou
com
a
doação
de
coleção
de
Assis
Chateaubriand
para
compor
seu
acervo
(VICTOR,
2008).
Nessa
época
foi
também
implantado
o
MASPE
–
Museu
de
Arte
Sacra
de
Pernambuco
no
antigo
Palacio
dos
Arcebispos,
restaurado
para
este
fim.
Obras
de
restauração
se
espalharam
nos
monumentos
da
Cidade:
Mercado
da
Ribeira,
Igreja
da
Sé,
Seminário
e
Igreja
da
Graça
(VICTOR,
2008).
23
Olinda
elege,
em
1979,
ainda
na
ditadura
Germano
Coelho,
seu
primeiro
prefeito
após
o
golpe
militar
de
1964.
Numa
visão
ampliada
de
patrimônio
histórico,
considerando
uma
cidade
construída
e
seus
moradores
e
usuários,
em
um
momento
único
onde
aliaram-‐se
sentimentos
preservacionistas
em
todos
os
níveis
governamentais,
foi
implantado
o
Sistema
de
Preservação
dos
Sítios
Históricos
de
Olinda,
pioneiro
na
América
Latina.
Este
é
formado
pela
Fundação
Centro
de
Preservação
dos
Sítios
Históricos
de
Olinda,
o
Instituto
de
Tombamento,
o
Fundo
de
Preservação
e
o
Conselho
de
Preservação,
com
participação
dos
moradores
da
cidade
(VICTOR,
2008).
Figura
4.
Gravura
de
Aloísio
Magalhães
(fonte:
Diário
de
Pernambuco
-‐
http://bit.ly/2ixKkTR)
24
Figura
5.
Altar
do
Mosteiro
de
São
Bento
(fonte:
http://bit.ly/2iP2gdF)
No
casario,
destaca-‐se
uma
das
construções
mais
antigas
da
cidade,
o
Sobrado
Mourisco,
ainda
preservado
e
localizado
na
Avenida
Liberdade,
número
7,
no
Carmo.
Este
sobrado
foi
construído
no
período
colonial,
no
século
XVIII,
foi
construído
a
partir
de
influência
da
arquitetura
moura
e
é
um
bom
exemplo
de
como
a
estrutura
da
casa
grande
do
engenho
foi
adaptada
à
cidade,
trazendo
para
centros
urbanos
a
moradia
do
senhorio.
(VASCONCELOS
2008)
Na
Figura
6,
vemos
uma
planta
de
como
se
configurava
a
divisão
interna
desse
casarão:
25
o
Figura
6.
Planta
interna
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7.
(fonte:
2
guia
prático,
histórico
e
sentimental
de
cidade
brasileira)
Figura
7.
Vista
frontal
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7.
(fonte:
http://bit.ly/2hQbKEJ)
Sua
separação
era
de
típica
casa
de
duplo
uso.
O
térreo
era
destinado
ao
estabelecimento
comercial,
geralmente
bodegas,
vendas,
açougues
e
mercados.
Ainda
era
destinado
a
esse
pavimento
o
pomar,
celas
para
escravos
e
celeiros.
A
moradia
dos
proprietários
se
concentrava
no
primeiro
andar,
onde
havia
uma
sala
de
estar
espaçosa
destinada
ao
convívio
social
(figura
8).
(VASCONCELOS
2008)
26
o
Figura
8.
Divisão
interna
do
sobrado
mourisco
na
Av.
Liberdade,
número
7.
(fonte:
2
guia
prático,
histórico
e
sentimental
de
cidade
brasileira)
Figura
9.
Fachadas
do
casario
de
Olinda
na
Ladeira
da
Misericórdia.
(fonte:
http://bit.ly/2A9El02)
Já
no
interior
das
casas
vemos
pisos
de
ladrilho
hidráulico,
assoalho
ou
cimento
queimado.
Atualmente,
boa
parte
desses
foram
substituídos
por
cerâmica,
quase
não
existindo
mais
os
antigos
tacos
de
madeira.
O
banheiro
e
a
cozinha
ficavam
anteriormente
localizados
na
parte
externa
da
casa,
mas,
com
as
mudanças
sanitárias
impostas
e
necessidades
modernas
de
conforto
das
habitações,
esses
foram
incorporados
à
construção
original
da
moradia
(MILET,
2009).
Nesse
27
contexto,
os
cobogós
aparecem
com
a
função
de
trazer
luminosidade
e
ventilação
(VIEIRA
et
al,
2013),
elementos
presentes
nas
recentes
adaptações.
Atualmente,
dados
os
esforços
de
preservação,
boa
parte
de
seu
casario
permanece
íntegro
e
confere
a
Olinda
ares
de
vilarejo
antigo,
um
tanto
provinciano
e
pacato.
A
cidade
conta
com
praças
espaçosas,
mantendo
ainda
o
sentimento
de
vizinhança,
já
que
grande
parte
de
suas
construções
é
destinada
à
moradia,
preservando,
além
de
suas
construções
de
pedra
e
cal,
o
convívio
entre
vizinhos.
Olinda
é
uma
cidade
verde
à
beira
do
mar,
com
um
espaço
vegetal
tão
importante
quanto
o
próprio
monumento.
Mesmo
a
sua
arquitetura
não
é
tão
definida
(...)
parte
de
uma
casa
é
do
século
XVII,
outra,
do
século
XVIII.
(...)
há
um
acúmulo
de
vivências
que
justificam
a
inclusão
de
Olinda
no
Patrimônio
da
Humanidade
(Magalhães,
1982:
12).
28
3
A
arquitetura
e
seus
elementos
gráficos
Nessa
sessão,
traremos
reflexões
acerca
dos
4
elementos
gráficos
identificados
na
arquitetura
da
cidade
e
suas
principais
características.
29
Os
elementos
que
compõem
a
paisagem
urbana
e
arquitetônica
da
cidade
de
Olinda
estão
fortemente
evidenciados
em
seu
casario.
Nesse
estudo,
vamos
nos
ater
a
4
destes
elementos
construtivos
e
decorativos
de
suas
construções:
Cobogós,
Ladrilhos
Hidráulicos,
Azulejos
e
Gradis.
3.1
Cobogó
Criado
como
solução
arquitetônica
original,
o
cobogó
surgiu
em
Pernambuco
no
ano
de
1920.
Sua
denominação
vem
das
iniciais
do
sobrenome
de
seus
três
criadores:
o
comerciante
português
Amadeu
Oliveira
Coimbra,
o
cidadão
alemão
Ernest
August
Boeckmann
e
o
engenheiro
Recifense
Antônio
de
Góes
(VIEIRA;
BORBA;
RODRIGUES,
2013).
A
função
desse
elemento
construtivo-‐projetual
é
trazer
luminosidade
e
ventilação
para
parte
interna
das
residências,
como
descreve
abaixo
o
arquiteto
Antenor
Vieira:
Essa
utilização
se
expressa
diversamente,
como
anteparo
solar,
cruzamento
de
ventilação,
divisões
de
ambientes,
janelas
de
respiro,
elementos
de
visualização,
proteção
em
áreas
públicas
e
privadas.
É
composto
como
participante
de
controle
e
diminuidor
do
gasto
de
energia
elétrica
por
condicionamento
de
ar,
iluminação
intensa
e
ventilação
mecânica.
Um
componente
original
do
baixo
impacto
arquitetônico
e
da
sustentabilidade
ambiental,
atualmente
requerida
(VIEIRA,
2013,
p.
41).
O
cobogó
foi
inspirado
nos
muxarabis,
herdados
da
cultura
árabe.
Nesse
caso,
os
elementos
vasados
são
talhados
em
madeira
e
aparecem
como
divisória
interna
e
em
suas
varandas,
dada
uma
relação
de
defesa
ao
clima
rigoroso.
Foi
nesse
contexto,
em
uma
viagem
à
Índia,
que
o
comerciante
Amadeu
Oliveira
teve
a
ideia
de
adaptar
esse
elemento
às
construções
Pernambucanas.
Em
algumas
construções
mais
antigas
do
estado
constatamos
tijolos
com
os
furos
virados
para
dentro
(VIEIRA;
BORBA;
RODRIGUES,
2013).
Essa
solução
partiu
da
premissa
de
que
o
clima
pernambucano
necessitava
de
um
elemento
que
permitisse
a
passagem
do
vento
em
suas
construções.
30
O
cobogó
é
implantado
pioneiramente
pelo
arquiteto
Luis
Nunes
em
seu
projeto
modernista
da
Caixa
D’água
de
Olinda
(Fig.
11),
no
Alto
da
Sé,
antecipando
o
vasto
uso
do
elemento
em
construções
modernistas
de
todo
o
país
(VIEIRA;
BORBA;
RODRIGUES,
2013).
Figura
10:
1
–
varanda
na
rua
do
bonfim,
Olinda.
(fonte:
arquivo
da
pesquisadora)
2-‐
Caixa
d’agua
de
Olinda,
Alto
da
Sé
(disponível
em
http://bit.ly/2jV20NH)
3
–
muxarabi
(disponível
em
http://bit.ly/2n1Zl5W)
4
–
muro
de
residência
na
rua
Joaquim
Cavalcanti,
Olinda.
(fonte:
acervo
pessoal)
3.2
Ladrilho
Hidráulico
O
ladrilho
hidráulico
surge
na
metade
do
séc.
XIX
no
sul
da
Europa
e
chega
a
Pernambuco
em
meados
de
1820
como
substituição
à
pedra,
principalmente
ao
mármore.
Trata-‐se
de
um
revestimento
para
pisos
(atualmente
utilizado
também
em
paredes)
feito
de
forma
individual
e
artesanal,
o
que
dificultou
sua
produção
em
grande
escala,
e
motivo
pelo
qual
no
começo
dos
anos
de
1960
muitas
fábricas
encerraram
suas
atividades
(MENEZES
et
al,
2014).
Confeccionado
a
base
de
cimento,
pó
de
pedra,
areia
fina,
pigmentos
minerais
e
água,
o
artefato
não
precisa
de
forno
para
cura,
uma
vez
que
esse
processo
é
feito
na
água,
tornando-‐se
um
produto
de
baixo
impacto
ambiental.
É
feito
um
molde
de
bronze
para
cada
desenho
do
ladrilho,
separado
por
cor.
Nesse
molde
é
inserida
a
mistura
mencionada
acima
(MENEZES
et
al,
2014).
O
molde
é
retirado,
colocada
uma
camada
de
secante
e
o
artefato
passa
por
uma
prensa
hidráulica.
Depois
de
descansar
por
24h,
é
submergido
em
água
para
o
processo
de
cura,
descansa
por
algumas
semanas
e
está
pronto
para
ser
utilizado
(Fig.
12).
31
Figura
11:
Processo
fabricação
ladrilhos.
(fonte:
Josivan
Rodrigues)
Além
de
ser
utilizado
nos
ambientes
internos,
esse
revestimento
também
é
encontrado
em
calçamentos
externos.
Por
possibilitar
que
se
criassem
“texturas”
em
sua
superfície,
o
ladrilho
se
mostrou
extremamente
eficiente
como
piso
antiderrapante.
Em
Olinda,
encontramos
exemplares
desse
calçamento
nos
pisos
internos
das
Igrejas,
órgãos
públicos,
residências
e
em
algumas
calçadas
(Fig.
13).
Figura
12:
Ladrilhos
hidráulicos
encontrados
em
Olinda
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
3.3
Azulejo
A
chegada
dos
azulejos
coloniais
se
dá
no
Brasil
por
volta
dos
séculos
XVII
e
XVIII.
Foram
trazidos
pelos
portugueses
em
seus
navios,
onde
também
eram
utilizados
como
lastro:
elemento
que
serve
como
peso
para
dar
sustentação
às
embarcações.
Nestas
cargas
eram
trazidos
os
painéis
para
uso
decorativo
em
palácios
e
igrejas
e
o
azulejo
branco,
elemento
utilitário
usado
como
revestimento
de
resistência
ao
clima
úmido
e
quente
brasileiro.
A
utilização
nas
fachadas
brasileiras
se
dá
também
no
século
XVIII
e
Portugal
passa
também
a
fazer
uso
dessa
tradição
criada
no
Brasil
(AMORIM,
1996).
Esse
elemento
cerâmico
de
revestimento
é
constituído
por
uma
placa
de
barro
cozida
e
vitrificada
e
é
utilizado
como
proteção
contra
a
erosão,
uma
vez
que
isola
a
superfície
e
atua
como
32
refletor
de
calor,
diminuindo
a
temperatura,
além
de
ser
de
alta
durabilidade
e
cumprir
muito
bem
sua
função
estética,
como
relata
abaixo
Sandra
Amorim:
Em
boa
parte
das
unidades
religiosas
situadas
no
Sítio
Histórico
de
Olinda
é
possível
avistar
painéis
de
azulejos
portugueses.
O
convento
de
São
Francisco,
situado
na
ladeira
de
mesmo
nome,
possui
um
dos
maiores
acervos
de
azulejaria
histórica
no
Brasil,
onde
se
faz
uso
desse
elemento
em
seu
claustro,
corredor,
capela
e
sacristia
(CAVALCANTI,
2006).
Em
Olinda,
podemos
observar
azulejos
em
fachadas
do
casario,
ocupando
sua
totalidade,
como
um
elemento
único
de
repetição
em
painéis
mono
ou
policromáticos
que
criam
um
padrão
gráfico.
Algumas
vezes,
o
artefato,
ainda
que
em
outros
formatos
e
desenhos,
é
usado
como
moldura
ou
base
para
os
painéis,
respeitando
as
cores
do
padrão
principal.
(CAVALCANTI,CRUZ,
2002).
Figura
13:
exemplos
de
utilização
dos
azulejos
em
Olinda
1-‐
azulejo
na
Rua
Prudente
de
Morais
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
2-‐
painel
de
azulejo
na
Igreja
de
São
Francisco
(disponível
em
http://bit.ly/2A3WePP)
3
e
4-‐
azulejos
na
Rua
Bernardo
Vieira
de
Melo
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
2.4
Gradil
Segundo
Lúcia
Madeira
(2015),
os
gradis
surgem
no
Brasil
no
período
colonial
barroco.
Por
não
haverem
ainda
fábricas
ou
fundições
no
país,
esses
ornamentos
assumiam
desenhos
menos
rebuscados.
Foi
quando
D.
João
VI
proibiu,
por
demandas
de
saúde
pública,
a
utilização
de
treliças
de
madeira.
Atrelada
a
essa
questão
e
consequente
substituição
das
peças
em
madeira,
os
ingleses
iniciam
a
produção
do
ornamento
nacionalmente
com
a
criação
de
fundições,
fábricas
e
treinamento
de
mão
de
obra
no
Brasil.
Podemos
diferenciar
dois
tipos
de
produção
desse
elemento:
os
de
ferro
fundido
e
os
de
ferro
forjado.
Os
de
ferro
forjado
emanam
de
uma
produção
artesanal,
em
que
os
serralheiros
são
os
responsáveis
por
sua
execução.
Não
tão
raramente,
eram
também
os
encarregados
pelo
desenho
dos
gradis.
Há
também
os
feitos
em
ferro
fundido:
o
ferro
é
colocado,
em
estado
líquido,
em
moldes
33
de
areia
e
toma
a
forma
desejada,
possibilitada
por
esse
processo.
Por
se
tratar
de
um
processo
industrial,
acaba
criando
uma
maior
reprodutibilidade,
uma
vez
que
seu
tipo
de
produção
seriado
permite
que
seja
feito
em
grande
escala
(GOULART,
2014).
Em
Olinda,
como
pudemos
observar
em
nosso
primeiro
levantamento,
as
grades
aparecem
delimitando
sacadas,
em
parapeitos
e
bandeiras
de
janelas
e
portas
como
complemento
das
esquadrias
de
madeira
ou
função
decorativa
e
também
em
sua
totalidade
como
proteção.
Ainda
podemos
observá-‐las
delimitando
espaços
como
jardins
e
terrenos
laterais,
em
“meias
paredes”
para
proteger
sem
impedir
a
visão
e
a
ventilação.
Na
sua
aplicação
mais
recente,
as
grades
são
elementos
usados
para
suprir
a
necessidade
de
segurança
dos
imóveis.
Figura
14:
1
e
2-‐
grades
de
ferro
fundido,
3
e
4
-‐
grade
de
ferro
forjado.
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
34
4
Memória
e
afetividade
Abordaremos
aqui
questões
acerca
da
memória
gráfica,
memória
afetiva
e
cartografia
afetiva.
35
Buscando
maior
entendimento
sobre
memória
gráfica,
e
para
melhor
embasar
nosso
estudo,
tomamos
como
apoio
o
artigo
Um
olhar
do
design
gráfico
sobre
memória,
efêmeros
e
afeto:
delineando
a
memória
gráfica
brasileira
(REIS,
2015).
Baseando-‐se
nos
estudos
de
Maurice
Halbwachs
(1990),
a
autora
observa
que,
por
ser
a
memória
coletiva
construída
como
a
soma
das
memórias
individuais,
seu
fluxo
contínuo
é
aprofundado
tanto
pela
dimensão
sociocultural
como
pelas
dimensões
visuais
e
materiais.
Segundo
ela:
é
relevante
especificar
a
diferença
entre
história
e
memória.
Para
ele,
[Halbwachs]
a
memória
é
contínua
e
sobrevive
num
processo
de
fluxo
entre
passado
e
presente.
Já
a
história,
esta
é
uma
linha
contínua
e
reta
dos
grandes
fatos
da
humanidade.
Portanto,
a
memória
e
a
história,
por
obterem
métodos
de
reconstrução
distintos,
também
apresentam
resultados
diversos
(REIS,
2015,
244).
A
autora
finaliza
a
reflexão
sobre
o
tema
afirmando
que
a
“memória
gráfica
se
preocupa
com
o
cotidiano,
com
o
que
é
produzido
entre
as
vivências,
já
a
história
se
inclina
para
os
grandes
fatos,
grandes
acontecimentos”
(LIMA
apud
REIS
2015,
244).
O
estudo
sobre
a
memória
gráfica
é
um
campo
de
pesquisa
recente
no
Brasil,
surgido
com
o
intuito
de
resgatar,
valorizar
e
preservar
os
objetos
gráficos
encontrados
no
cotidiano.
Surge
também
com
a
necessidade
de
reconhecer
a
cultura
local
e
a
identidade
do
design
gráfico
nacional,
como
cita
abaixo,
Reis
(2015
p.
244):
(...)
apesar
de
não
haver
extensivo
reconhecimento
da
área
de
estudo
pelo
público
acadêmico,
há
atualmente
pesquisadores
motivados
a
encontrarem
significados
e
vestígios
formadores
da
identidade
nacional
através
do
levantamento,
tratamento,
análise
e
acervo
destes
objetos.
Estudar
memória
gráfica
é
atentar-‐se
para
o
cotidiano.
Ouso
a
dizer,
que
é
valorizar
o
corriqueiro,
não
no
sentido
de
‘o
que
é
sem
graça,
vulgar’,
mas
no
sentido
‘do
que
é
usual,
habitual’.
Olhar
para
esses
objetos
é
procurar
sinais
deixados
pela
sociedade
daquele
tempo
do
qual
pertencia
esse
objeto,
por
isso,
trabalhar
com
a
memória
gráfica
se
torna
tão
especial:
a
busca
imagética
que
revela
vivências
e
costumes
(REIS,
2015,
p.
244).
Os
pesquisadores
que
se
dedicam
a
estudar
a
memória
gráfica
brasileira
se
debruçam
sobre
objetos
que
vão
de
impressos,
imagens
que
compõem
a
paisagem
urbana
até
as
relações
de
afeto
36
que
as
pessoas
desenvolvem
com
esses
objetos.
No
caso
dos
impressos,
são
elementos
gráficos
considerados
“efêmeros”
por
não
serem
duradouros
nem
permanentes,
passíveis
de
desaparecer
e
serem
esquecidos
rapidamente
ao
serem
jogados
fora.
É
o
caso
de
jornais,
cartazes,
embalagens,
panfletos,
entre
outros.
Para
auxiliar
nosso
entendimento
sobre
objetos
efêmeros,
utilizaremos
a
definição
de
Michael
Twyman,
que
os
define
da
seguinte
forma:
“documentos
cuja
relevância
ocorre
por
um
curto
espaço
de
tempo,
normalmente
apenas
por
um
dia
ou
período
que
antecede
ao
evento
a
que
estariam
relacionados”
(TWYMAN
2008
apud
REIS,
2015,
p.
247).
Segundo
FARIAS
(2014),
o
termo
“memória
gráfica”
unido
ao
campo
do
design
gráfico,
a
cultura
visual
e
memória
afetiva
é
utilizado
apenas
por
países
de
língua
portuguesa
e
espanhola
da
América
Latina.
Em
países
que
utilizam
outras
línguas,
como
a
inglesa
e
a
francesa,
o
conceito
de
memória
gráfica
é
atribuído
a
outros
tipos
de
relações,
como
os
dados
de
computador.
Ainda
segundo
ela,
o
campo
da
memória
gráfica
“é
uma
linha
de
estudos
que
pretende
revisar
o
significado
e
valor
de
artefatos
visuais,
e
em
particular
os
impressos
efêmeros,
para
estabelecer
uma
noção
de
identidade
local
através
do
design"
(FARIAS,
2014,
p.
1).
Para
um
melhor
conhecimento
acerca
dos
grupos
de
pesquisa
da
memória
gráfica
brasileira,
usamos
as
informações
de
LESCHKO
et
al
(2016
p.
3)
que
investigou
a
produção
científica
e
cultural
desses
grupos
e
identificou
4
núcleos
que
atuaram
a
atuam
para
a
construção
dessa
memória.
São
eles:
• Instituto
Memória
Gráfica
Brasileira
(IMGB)
–
Instituição
formada
em
2007
com
o
objetivo
de
resgatar
e
valorizar
o
legado
do
design
gráfico
no
Brasil.
A
partir
de
investigações
com
temas
definidas,
o
grupo
inventaria
essa
produção
composta
por
objetos
que
fazem
parte
do
cotidiano,
contextualiza
e
disponibiliza
para
acesso
público.
• Projeto
de
pesquisa
“Memória
Gráfica
Brasileira:
estudos
comparativos
de
manifestações
gráficas
nas
cidades
do
Recife,
Rio
de
Janeiro
e
São
Paulo”
–
Projeto
de
pesquisa
criado
em
2007,
surgiu
com
o
intuito
de
aproximar
pesquisadores
das
três
cidades
que
já
possuíam
pesquisas
na
área
da
memória
gráfica.
Seu
objetivo
principal
era
“identificar
e
analisar
exemplos
relevantes
de
manifestações
gráficas
que
marquem
a
memória,
a
paisagem
urbana
e
a
identidade
das
cidades
do
Rio
de
Janeiro,
Recife
e
São
Paulo”
(CARDOSO
et
al,
2007,
apud
LESCHKO
p.
33).
• Núcleo
de
Identidade
Gráfica
Capixaba
(Nigráfica
–
UFES)
–
O
grupo
têm
o
objetivo
de
levantar
e
analisar
impressos
produzidos
no
Espírito
Santo
e
identificar
características
gráficas
próprias
do
estado,
mas
ampliou
sua
proposta
inicial
para
analisar
impressos
de
outros
estados.
37
• Memória
Gráfica
de
Pelotas:
Design,
tradição
e
sociedade
(Pelotas/RS)
–
O
grupo
constatou
a
existência
de
materiais
que
apontavam
indícios
de
uma
tradição
gráfica
na
cidade.
O
grupo
identificou,
categorizou
e
analisou
os
materiais
e
promoveu
ações
de
conservação
e
preservação
dos
mesmos.
Entendemos
então,
que
apesar
de
ser
recente,
o
estudo
da
memória
gráfica
possui
pesquisas
qualificadas
no
meio
acadêmico
e
que,
através
da
busca
de
artefatos
que
participam
da
construção
dessa
memória,
sua
conservação
e
preservação
podem
contribuir
para
a
construção
da
identidade
do
design
gráfico
nacional
e
para
a
valorização
dos
objetos
gráficos
estudados.
4.2
Memória
Afetiva
Donald
Norman
(2008)
estuda,
através
de
análises
científicas,
a
relação
emocional
entre
o
indivíduo
e
o
produto
de
design.
Ele
propõe
que
é
crucial
gerar
boas
experiências
ao
indivíduo
através
dessa
relação,
pois
isso
irá
definir
o
sucesso
ou
fracasso
de
um
produto
e
sua
relação
de
consumo.
Segundo
ele,
“o
lado
emocional
do
design
pode
ser
mais
decisivo
para
o
sucesso
de
um
produto
do
que
seus
elementos
práticos”
(NORMAN,
2008,
p.
24).
Os
aspectos
do
design
emocional
podem
ser
divididos
em
três
níveis:
38
Figura
15:
níveis
emocionais
do
design
(fonte:
Rafael
Roffmann)
Com
a
intenção
de
reformular
os
princípios
que
conduziam
a
atividade
do
Designer,
BRUINSMA
(1995
apud
DAMAZIO,
2006)
afirma
que
o
Design
abrange
muito
mais
do
que
questões
físicas
e
que
precisava
de
uma
nova
mentalidade,
ao
invés
de
novas
formas.
Ele
denominou
isso
de
“o
lado
invisível
do
design”,
assinalando
que
dar
forma
às
coisas
não
se
trata
apenas
de
“vestir
o
objeto
com
uma
bela
forma”
mas
considerar
importante
os
significados
que
ele
poderia
vir
a
assumir.
É
nesse
ponto
que
a
produção
do
designer
se
debruça
sobre
a
relação
das
pessoas
com
seus
artefatos
de
memória
e
pelo
quanto
eles
são
importantes
para
uma
produção
de
objetos
que
despertem
lembranças,
criando
uma
relação
entre
as
pessoas
e
o
entorno
físico,
sociabilizando,
assim,
os
resultados
do
Design.
O
design
e
a
memória
são
campos
do
conhecimento
que
caminham
em
paralelo
à
medida
que
interagem
entre
o
sujeito
e
seu
repertório
por
meio
do
canal
visual,
tátil
ou
auditivo.
O
designer
utiliza
referencias
visuais
que
muitas
vezes
são
retiradas
de
artefatos
de
memória
que
integram
os
espaços
sociais
e
urbanos,
como
os
tipos
vernaculares,
grafismos
e
outros.
(BRITO,
2014,
p.
24)
39
As
ideias
de
Vera
Damazio
(2006)
contribuem
para
essa
pesquisa,
pois
ela
relaciona
artefatos
que
são
capazes
de
“despertar
lembranças”
e
sua
memória
emocional
a
objetos
domésticos
e
demonstra
como
a
aparência
visual
deles
se
torna
um
aspecto
marcante,
através
de
relatos
de
entrevistas
que
ela
analisou.
Um
dos
entrevistados
descreve
sua
carteira
preta
de
couro,
outro,
um
caderninho
encapado
com
plástico
xadrez
branco
e
vermelho.
A
partir
dos
depoimentos
que
a
autora
colheu,
ela
afirma
que:
os
depoimentos
confirmam
que
os
atributos
dos
artefatos
de
memória
estão
na
qualidade
dos
acontecimentos
dos
quais
participam
e,
consequentemente,
das
relações
afetivas
que
promovem,
das
emoções
que
evocam
e
das
lembranças
que
encerram
(DAMAZIO,
2006,
p.
5)
A
autora
conclui
que
a
aparência
estética
dos
objetos
ajuda
a
identificar
esses
artefatos
e
tem
papel
importante
na
construção
da
memória
dos
entrevistados,
mas
não
é
o
foco
de
suas
lembranças.
Ela
finaliza
afirmando
que
“os
designers
dão
forma
física
a
seus
produtos,
mas
são
as
pessoas
que
com
eles
convivem
que
lhes
dão
forma
social
e
acabam
estendendo
suas
funções
e
significados
para
muito
além
daqueles
para
os
quais
foram
projetados”
(DAMAZIO,
2006,
p.
10).
Já
Lima
(2010)
traz
importantes
ideias
sobre
a
relação
do
design
com
a
memória.
Segundo
ela,
os
produtos
do
design
gráfico
podem
ser
considerados
integrantes
da
cultura
material
das
sociedades,
o
que
possibilita
uma
aproximação
com
os
conceitos
de
memória.
Essa
afirmação
parte
da
premissa
de
que
o
design
é
responsável
por
grande
parte
dos
elementos
que
fazem
parte
do
cotidiano
das
pessoas
e,
por
isso,
estabelecem
com
elas
uma
relação
intima.
A
partir
dessas
afirmações,
podemos
entender
que
esses
produtos
podem
ser
considerados
suportes
que
carregam
consigo
vestígios
da
memória
de
um
tempo
passado
(LIMA,
2010,
p.
1).
Consideramos,
então,
que
as
imagens
originadas
do
design
gráfico
podem
servir
como
suportes
de
memória
de
determinada
época,
a
partir
dos
quais
memórias
podem
ser
desencadeadas.
Candau
(2001
apud
LIMA,
2010)
conceitua
o
tema
alegando
que
o
design
gráfico
funciona
como
um
40
importante
integrante
da
cultura
visual
de
uma
época
e,
a
partir
disso,
funciona
como
um
ato
de
memória
coletiva.
Ainda
sobre
as
reflexões
levantadas
pelo
autor,
HEIDEN
(2008
apud
LIMA
p.
6)
afirma
que:
O
produto
de
design
gráfico
pode
ser
considerado
um
sociotransmissor
que,
enquanto
um
registro
visual,
pode
trabalhar
como
um
elemento
evocador
de
memórias,
de
forma
que
o
individuo,
ao
interagir
com
ele
e,
sobre
ele,
atualiza
o
passado
a
partir
de
toda
carga
acumulada
e
que
o
constitui
(subjetiva
e
social)
no
memento
em
que
a
lembrança
é
desencadeada.
A
partir
disso,
podemos
pensar
que
uma
parte
da
referência
imagética
do
designer,
pode,
assim,
ser
criada
através
da
construção
de
suas
memórias/significados,
da
experiência
proporcionada,
da
memória
que
ativa.
Ele
pode
se
valer
de
seus
artefatos
de
memória
como
referência
para
a
criação
de
produtos
inovadores
e
utilizar
o
design
como
suporte
para
a
memória.
Abaixo,
(Fig.
16,
17,
18,
19
e
20)
veremos
exemplos
de
designers/artistas
que
fizeram
uso
de
sua
memória
afetiva
e
da
memória
gráfica
de
sua
cidade
para
a
criação
de
objetos:
Figura
16:
produtos
como
suporte
de
memória.
1-‐
leite
de
rosas,
2-‐
minancora,
3-‐
phebo,
4-‐
guaraná
jesus,
5-‐
maizena.
(fonte:
google
imagens)
Figura
17:
produtos
como
suporte
de
memória.
1-‐
kit
de
unhas
da
granado,
2-‐
sabonetes
da
granado,
3-‐
produtos
para
a
pele
da
granado
(fonte:
google
imagens)
41
Figura
18:
Exemplos
de
utilização
do
gradil
como
elemento
gráfico
–
Urbano
Ornamento
(fonte:
facebook/urbano
ornamento)
Figura
19:
Exemplos
de
utilização
dos
ladrilhos
como
elemento
gráfico
–
Chão
que
eu
piso.
(fonte:
facebook/chaoqueeupiso)
Figura
20:
exemplos
de
utilização
do
gradil
e
do
cobogó
como
elementos
gráficos
1-‐Marcadouro
(fonte:
facebook.com/marcadouro)
2-‐
Rendas
Urbanas
(fonte:
facebook.com/rendasurbanas)
3
–
Dingbat
Cobogó
(fonte:
facebook.com/dingbatcobogo)
Os
elementos
gráficos
encontrados
nas
construções
arquitetônicas
da
cidade
de
Olinda,
como
os
cobogós,
ladrilhos
hidráulicos,
azulejos
e
gradis,
objetos
deste
estudo,
fazem
parte
da
construção
da
memória
gráfica
local
da
cidade.
São
elementos
presentes
no
cotidiano
imagético
dos
moradores
e
também
símbolos
que
contam
aos
visitantes
um
panorama
de
sua
história,
como
num
resgate
de
seu
passado,
uma
vez
que
grande
parte
dela
é
contada
através
da
observação
destes
elementos
de
seu
casario.
A
memória
afetiva
contida
nesses
elementos
é,
portanto,
ressaltada
pela
necessidade
de
registrá-‐los
e
de
estudá-‐los
sob
esse
viés,
dada
sua
grande
importância
histórica.
42
na
Seção
1.3
deste
estudo,
Olinda
é
Patrimônio
Cultural
da
Humanidade,
e
existem
correntes
teóricas
que
se
ocupam
da
interação
da
preservação
desses
elementos
com
seus
traços
e
laços
afetivos
que
possuem,
e
a
preservação
de
sua
memória
visual.
4.3
Cartografia
Afetiva
A
partir
desta
seção,
iremos
conjugar,
por
meio
do
conceito
de
cartografia
afetiva,
a
discussão
até
aqui
proposta
sobre
conservação
de
objetos
materiais
como
forma
de
preservação
da
história
ligada
à
afetividade.
De
início,
podemos
observar
a
cartografia
afetiva
a
partir
da
perspectiva
de
que:
As
questões
centrais
para
a
construção
do
conhecimento
são
para
os
defensores
desta
cartografia:
estudar
processos
acompanhando
movimentos,
mais
do
que
apreendendo
estruturas
e
estados
de
coisas;
elaborar
uma
concepção
de
método
tão
processual
quanto
o
próprio
social;
assegurar,
no
plano
dos
processos,
a
sintonia
entre
objeto
e
método
(PASSOS;
KASTRUP;
ESCÓSSIA,
2010,
p.
8
APUD
SANDRONI,
TARIN).
Gilles
Deleuze
e
Félix
Guattari
iniciaram
os
relatos
sobre
esse
instrumento
de
pesquisa
em
seu
livro
Mil
Platôs:
capitalismo
e
esquizofrenia
(1995).
O
processo
cartográfico
proposto
por
eles
assinala
que
o
cartógrafo
faz
parte
dos
movimentos
que
analisa
e
passa
a
cartografar
relações
enquanto
e
porque
se
relaciona
com
elas,
construindo
o
conhecimento
através
dos
encontros
onde
o
sujeito
e
o
objeto
de
pesquisa
são
extremamente
relacionais.
Utilizamos
o
conceito
de
“cartografia
afetiva”
no
presente
estudo
como
um
instrumento
que
une
o
pesquisador,
colocado
como
protagonista
na
geração
do
conhecimento,
à
história
presente
e
seus
artefatos
de
memória.
Essa
abordagem
vem
sendo
utilizada
por
pesquisadores
de
diversas
áreas
de
atuação
com
o
intuito
de
formular
novas
possibilidades
de
construção
do
conhecimento,
atrelando
a
cartografia
às
experimentações
interdisciplinares,
de
modo
a
cruzar
referências
e
produzir
novas
formas
de
pensar
em
diferentes
áreas
do
conhecimento
-‐
e
não
apenas
uma
junção
de
resultados
ou
práticas
metodológicas.
Abaixo,
citaremos
3
projetos
que
se
baseiam
na
cartografia
afetiva
em
sua
construção.
É
uma
plataforma
de
pesquisa
e
curadoria.
Os
pesquisadores
se
dedicam
a
mapear
processos
criativos
que
estão
presentes
em
nossa
cultura.
Visam
registrar,
salvaguardar
e
difundir
história
de
profissionais
de
diversas
áreas
que
buscam
no
cotidiano
de
suas
vidas
referências
para
projetos
inspiradores.
O
projeto
coloca
os
modos
de
fazer
e
conhecimentos
enraizados
no
cotidiano
como
43
protagonistas
e
criadores
de
uma
memória
afetiva
comum.
O
grupo
convida,
a
cada
ano,
um
artista
para
produzir
um
mapa
afetivo
(Fig.
21).
Figura
21:
mapa
do
coração
andarilha
2006
(fonte:
www.
http://projetoandarilha.com/coracao/#)
Coletivo
E/Ou
O
coletivo
E/Ou,
de
Curitiba,
propõe
uma
desconstrução
da
cartografia
convencional.
O
grupo
cria
novos
símbolos
e
signos
que,
segundo
eles,
só
é
possível
através
da
experiência
cotidiana
no/do
espaço.
Em
Memórias
de
caminhos
para
casa
o
coletivo
cria
um
registro
gráfico
através
do
acúmulo
da
lembrança
dos
indivíduos,
em
desenhos
de
trajetos
percorridos
no
caminho
para
casa
e
palavras
que
traduziam
a
experiência
cotidiana
desses
percursos.
“Descartógrafos”,
outra
obra
do
grupo,
foi
uma
intervenção
no
Terminal
Pinheirinho
(Fig.
22)
na
zona
sul
da
cidade,
onde
as
pessoas
foram
convidadas
a
intervir
em
um
mapa
dado
numa
reflexão
entre
o
território
vivido
e
o
território
desejado.
44
Figura
22:
mapa
gerado
através
da
intervenção
do
grupo
E/Ou
coletivo
(fonte:
https://luciodearaujo.wordpress.com/portfolio/memorias-‐de-‐caminhos-‐para-‐casa)
Projeto
cartografia
afetiva
da
cidade
de
Salvador
Realizado
pela
Casa
Castro
Alves,
o
projeto
busca
traçar
uma
cartografia
a
partir
da
imersão
no
mundo
vivido,
através
de
um
mapeamento
sobre
a
relação
das
pessoas
com
a
cidade
com
o
intuito
de
abrir
canais
de
expressão
artística
e
diálogos.
A
primeira
ação
do
projeto
foi
o
curso
“Cartografia
afetiva
na
Cidade
–
Memórias,
lugares
e
(Re)Criação”,
onde
a
escritora
Ana
Maria
Gonçalves
fala
sobre
oito
referências
espaciais
históricas
de
Salvador,
abordando
a
importância
desses
lugares
e
dessa
memória
afetiva
nos
processos
criativos.
45
5
Metodologia
Científica
Nesta
sessão,
iremos
abordar
aspectos
metodológicos
da
pesquisa
e
do
catálogo,
além
dos
mapeamentos
afetivos,
amostragem
da
pesquisa
e
as
inspirações
para
construção
do
projeto
gráfico
da
publicação.
46
Essa
trabalho
de
conclusão
de
curso
tem
natureza
projetual,
pois
objetivamos
por
fim
projetar
um
catálogo
sobre
a
memória
gráfica
arquitetônica
de
Olinda
(MGAO).
Para
isso,
precisamos
antes
realizar
o
estudo
sobre
os
elementos
arquitetônicos
da
memória
gráfica
de
Olinda.
Dentro
de
um
viés
da
metodologia
cientifica,
entendemos
que
esta
se
trata
de
uma
pesquisa
subjetiva,
relativista,
por
considerar
o
ponto
de
vista
pessoal
da
pesquisadora
e
as
emoções
relacionadas
com
o
objeto
de
estudo
47
Fizemos
uso
dessa
técnica
de
pesquisa
por
meio
de
experiências
de
observação
casual,
sem
estruturação.
Os
exercícios
de
observação
foram
feitos
através
de
caminhos
afetivos,
passíveis
de
mudanças
de
direção
e
extensão
de
trajeto,
sem
planejamento
prévio.
5.4
Coleta
de
dados:
Cartografia
afetiva
Para
coletar
os
dados
desta
pesquisa,
fizemos
uso
do
conceito
de
cartografia
afetiva
e
realizamos
dois
mapeamentos
que
serão
melhor
explicados
a
seguir.
48
Depois,
pelas
ruas
Bernardo
Vieira
de
Melo
e
São
Bento,
passando
pela
frente
da
prefeitura
da
cidade,
onde
trabalha
minha
mãe
Nazaré
e
trabalhou
meu
pai,
Antenor.
Desci
pela
rua
15
de
novembro,
a
ladeira
da
Câmara
de
Vereadores,
onde
foi
o
velório
de
meu
pai,
falecido
recentemente.
Passei,
então,
pela
rua
onde
mora
Lorena,
uma
grande
amiga
que
visito
sempre
e
funcionava
–
até
há
pouco
tempo
-‐
A
Casa
do
Cachorro
Preto
e
o
Bike
Fit
Café,
que
pertence
à
minha
amiga
do
peito,
Mari
Cesse,
na
rua
13
de
Maio.
Fui
até
a
padaria
e
o
mercadinho,
aproveitando
para
passar
pela
Bodega
de
Véio
–
outro
ponto
turístico
da
cidade
–
e
logo
depois
à
casa
da
artista
plástica
Teresa
Costa
Rêgo,
na
rua
do
Amparo.
Passei
pela
rua
Coronel
Joaquim
Cavalcanti,
onde
moraram
Lia
e
Nina,
esta
última
minha
amiga
de
infância,
e
subi
no
sentido
da
Ladeira
da
Boa
Hora,
onde
se
encontra
a
cerveja
mais
gelada
da
cidade.
Terminei
o
percurso
passando
pela
rua
onde
morava
minha
avó
e
funciona
a
choperia
de
um
amigo,
na
rua
Prudente
de
Morais.”
Figura
23:
Trajeto
do
primeiro
mapeamento
afetivo.
(fonte:
acervo
pessoal)
Neste
momento,
realizamos
também
uma
revisão
bibliográfica
sobre
os
elementos
gráficos
encontrados,
que
nos
ajudou
a
definir
quais
seriam
estudados,
diante
dos
que
registramos
neste
primeiro
mapeamento.
Pudemos
observar
que
haviam
poucas
publicações
e
informações
disponíveis
acerca
dos
adornos
de
fachada,
chamados
também
de
estuque.
Por
se
tratar
de
uma
técnica
quase
artesanal,
há
poucos
registros
da
construção
desses
elementos.
Fizemos
a
escolha
de
não
incluir
esse
artefato
nesta
pesquisa.
Diante
dos
artefatos
que
permaneceram,
observamos
que
tínhamos
em
mãos
elementos
decorativos
e
construtivos
da
arquitetura
da
cidade
de
Olinda.
Esse
recorte
dos
aspectos
arquitetônicos
se
mostrou
mais
expressivo
e,
portanto,
decidimos
excluir
também
os
letreiros
49
informativos.
Ficamos
então
com
4
grupos
de
elementos:
cobogós,
gradis,
azulejos
e
ladrilhos
hidráulicos.
Foi
necessário
fazer
um
levantamento
de
dados
complementar
sobre
os
elementos
selecionados
que
foi
realizado
através
de
um
segundo
mapeamento
afetivo.
Segundo
mapeamento
afetivo
–
De
portas
abertas
Já
com
os
4
grupos
definidos,
partimos
para
o
segundo
mapeamento
afetivo.
Este
teve
o
objetivo
de
registrar
artefatos
que
se
encontravam
na
parte
interna
das
casas:
os
ladrilhos
hidráulicos
e
alguns
cobogós.
Complementamos
também
os
registros
dos
outros
2
grupos
elementos
externos
registrados
no
primeiro
mapeamento
(gradis
e
azulejos).
O
roteiro
desse
trajeto
(Fig.
24)
foi
baseado
na
memória
da
pesquisadora
sobre
onde
esses
artefatos
internos
das
residências
se
encontravam,
a
partir
de
sua
vivência
enquanto
moradora
e
frequentadora
da
cidade,
e
de
indicações
colhidas
através
de
conversas
informais
com
amigos.
Este
segundo
percurso
seguiu
a
seguinte
orientação,
segundo
diário
registrado
pela
pesquisadora
no
dia
22.08.2017:
50
Figura
24:
roteiro
do
segundo
mapeamento
afetivo
(fonte:
acervo
pessoal)
5.5
Amostragem:
seleção
afetiva
Foram
registrados,
ao
todo,
233
elementos
gráficos
durante
os
dois
mapeamentos
afetivos
(Tab.
1).
No
primeiro,
que
totalizou
88
elementos,
tivemos
um
maior
registro
de
azulejos
(6),
gradis
(24)
elementos
de
fachada
(14)
e
letreiros
(32),
por
se
tratarem
de
elementos
encontrados
na
parte
externa
das
casas
e
por
estarem
ao
alcance
dos
olhos.
Houve
o
registro
de
apenas
um
ladrilho,
pois
estava
em
local
de
fácil
acesso.
51
Tabela
1:
amostra
dos
elementos
encontrados
(fonte:
acervo
pessoal)
Organização
das
fotografias
Nessa
etapa
da
pesquisa,
organizamos
as
imagens
geradas
nos
dois
primeiros
mapeamentos
afetivos.
Reunimos
todos
os
registros
fotográficos
produzidos
e
iniciamos
o
processo
de
organização,
que
seguiu
o
seguinte
método:
1. Excluímos
duplicatas
e
arquivamos
as
fotos
dos
elementos
que
não
seriam
estudados;
2. Juntamos
as
imagens
dos
4
grupos
restantes,
imprimimos
suas
miniaturas
em
papéis
de
formato
A3
e
fizemos
um
exercício
de
observação
dos
elementos;
3. Dentro
dos
4
grupos,
fizemos
uma
subdivisão
em
elementos
com
características
geométricas
e
elementos
com
características
orgânicas;
4. Dentro
dessa
primeira
subdivisão,
fizemos
uma
segunda,
dessa
vez
por
semelhança
e
estilo
gráfico.
Imprimimos
mais
uma
vez
as
miniaturas
das
imagens
em
papel
de
formato
A3,
para
então
dar
início
ao
processo
de
observação,
seleção
e
categorização
dos
elementos
a
serem
estudados.
52
Após
o
processo
de
seleção
dos
elementos,
foi
feita
mais
uma
divisão
através
da
observação
dos
mesmos,
como
descrito
no
método
abaixo:
Fizemos
uma
ficha
catalográfica
(Fig.
25)
montada
de
forma
simples,
contendo
as
informações
dos
45
elementos
selecionados
para
o
catálogo,
com
o
intuito
de
auxiliar
na
organização
e
arquivamento
dos
registros
finais.
Figura
25:
exemplo
de
preenchimento
da
ficha
catalográfica
(fonte:
acervo
pessoal)
53
Após
as
duas
primeiras
fases
de
levantamento,
passamos
para
o
registro
fotográfico
dos
elementos
selecionados
para
o
catálogo,
onde,
dos
223
elementos
levantados,
45
deles
foram
selecionados
para
compor
um
recorte
da
memória
gráfica
da
cidade.
Para
o
registro
final
das
imagens,
realizamos
um
percurso
final
nas
ruas
da
Cidade
Alta
de
Olinda.
Neste
momento,
voltamos
aos
lugares
que
percorremos
antes,
em
busca
de
fotos
com
maior
qualidade
técnica
e
luminosidade
e,
para
isso,
contamos
com
o
auxílio
de
um
fotógrafo
profissional.
Mapeamos
todos
os
elementos
selecionados
e
identificamos
15
ruas
ao
todo
(FIg.
26
e
27).
Figura
26:
ruas
percorridas
no
roteiro
final
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
27:
ruas
percorridas
no
roteiro
final
(fonte:
acervo
pessoal)
54
O
processo
de
design
é
uma
mistura
de
ações
intuitivas
e
intencionais.
Começar
um
projeto
pode
envolver
rituais
pessoais,
como
uma
longa
caminhada
ou
uma
ducha
quente,
ou
esforços
estruturados,
como
entrevistar
o
cliente
ou
aplicar
um
questionário.
Muitos
designers
começam
pelo
brainstorming,
que
consiste
em
uma
busca
incansável
por
ideias
inovadoras,
que
ajuda
a
refinar
o
problema
e
a
ampliar
a
forma
como
se
pensa
sobre
ele
(LUPTON,
2013).
Segundo
a
autora,
os
métodos
de
criar
e
pensar
sugeridos
por
ela
podem
ser
adaptados,
misturados
e
combinados.
No
início
da
elaboração
do
projeto
do
catálogo,
foi
feito
uma
brainstorming
de
forma
mais
simples
do
que
o
proposto
por
Lupton.
Durante
20
minutos
a
própria
pesquisadora
tomou
nota,
a
partir
da
observação
das
fotografias
registradas,
de
todas
as
ideias
e
conceitos
gerais
que
surgiram.
Depois,
organizou
isso
em
post-‐it’s
coloridos,
o
que
auxiliou
na
conceituação
do
projeto.
Com
esses
parâmetros,
foram
definidas
as
4
palavras
chaves,
foram
elas:
Valorizar,
revelar,
proteger
e
destacar.
55
Figura
28:
resultado
de
uma
parte
da
pesquisa
visual
(fonte:
http//:behance.net)
5.7.2
Projeto
Editorial
Para
as
definições
dos
conceitos
dos
elementos
editoriais
do
projeto,
nos
baseamos,
com
adaptações,
nas
alusões
de
HENDEL
(2003)
e
ARAÚJO
(2008):
Não
é
somente
o
que
o
autor
escreve
num
livro
que
vai
definir
o
assunto
do
livro.
Sua
forma
física,
assim
como
sua
tipografia,
também
o
definem.
Cada
escolha
feita
por
um
designer
causa
algum
efeito
sobre
o
leitor
(...)
(HENDEL,
2003,
p.
11).
Hendel
(2008)
cita
elementos
cruciais
no
projeto
de
um
livro,
onde
suas
definições
vão
refletir
diretamente
na
mensagem
que
a
publicação
irá
passar
e
afirma
que
o
designer
do
livro
é
um
elo
entre
o
autor
e
o
leitor,
responsável
por
tornar
a
comunicação
entre
ambos
56
o
mais
claro
quanto
for
possível.
A
escolha
do
formato
da
publicação,
das
margens
das
páginas,
do
tipo
de
texto
e
de
título
são
alguns
dos
elementos
que
influenciam
nessa
comunicação.
O
texto
pode
ser
composto
em
dezenas
de
tipos
diferentes,
mas,
somente
quando
o
espaçamento
de
todos
os
elementos
e
margens
forem
relacionados
entre
si
e
o
corpo
do
tipo
escolhido
ajustar-‐se
com
exatidão
a
largura
da
linha
do
texto,
poderá
o
leitor
trabalhar
sem
esforço.
O
espaço
na
página
revela
a
mensagem
tanto
quanto
o
espaço
na
cidade
revela
os
detalhes
arquitetônicos
(RYDER
apud
HENDEL,
2003,
p.
31).
1. Formato
do
Livro
–
É
a
forma
física
do
livro,
suas
medidas,
que
pode
assumir
qualquer
formato.
2. Grid
–
O
grid
divide
a
página
em
unidades
regulares,
e
pode
ser
simples
ou
complexo.
Para
a
construção
do
grid
de
uma
publicação,
alguns
elementos
precisam
ser
definidos,
como:
margem,
número
de
colunas,
espaço
entre
colunas,
alinhamento
da
caixa
de
texto
e
imagens
e
etc.
3. Justificação
–
A
justificação
são
as
decisões
acerca
da
organização
do
texto
e
dos
parágrafos,
ele
será
hifenizado?
Qual
sua
entrelinha?
Blocado
ou
alinhado
à
esquerda/direita?
4. Tipografia
–
Nessa
fase,
deve-‐se
escolher
as
fontes
para
o
texto
e
suas
variações,
como:
no
corpo
de
texto,
título,
sub
título,
notas,
folio
e
etc.
5. Cor
-‐
Definição
das
cores
que
irão
ser
utilizadas
no
projeto
gráfico
de
acordo
com
os
elementos
escolhidos.
A
escolha
da
cor
pode
influenciar
definitivamente
no
tipo
de
sensação
que
se
quer
passar
com
a
publicação.
6. Suporte
–
O
tipo
de
papel
que
será
utilizado
em
toda
a
publicação
e
suas
especificações.
7. Técnicas
de
impressão
-‐
Que
tipo
de
impressão
será
utilizado.
Podemos
escolher
entre
off
set,
digital,
jato
de
tinta
e
outras
técnicas
artesanais
de
impressão.
Também
é
importante
especificar
a
quantidade
de
cores
da
publicação.
8. Acabamento
-‐
Definição
dos
detalhes
de
acabamento
da
publicação.
É
a
fase
final
da
produção
da
publicação
e
nela
devemos
definir
se
será
colado,
costurado,
se
vai
ser
encadernado,
grampeado.
Também
definimos
os
acabamentos
sobre
o
papel,
que
57
pode
receber
verniz
fosco
ou
brilhoso,
verniz
localizado,
hot
stamp
e
vários
outros
tipos
de
acabamento.
Por
fim,
foi
feita
uma
síntese
dos
elementos
editoriais
do
projeto
(Fig.
29)
através
de
informações
colhidas
pelo
meio
de
Hendel
(2003)
e
Araújo
(2008),
que
resultou
na
seguinte
tabela
de
especificações:
Tabela
2:
síntese
dos
elementos
editorias
do
projeto
(fonte:
acervo
pessoal)
5.7.3
Referência
Projetual
A
principal
referência
projetual
do
catálogo
foi
a
publicação
Cobogó
De
Pernambuco
(Fig.
29
e
30),
de
autoria
de
Antenor
Vieira,
Josivan
Rodrigues
e
Cristiano
Borba.
O
livro
traz
o
resultado
de
uma
pesquisa
imagética
sobre
o
cobogó,
artefato
de
origem
pernambucana
e
propõe
um
inventário
visual,
embasado
por
uma
pesquisa
teórica
e
documental
sobre
o
elemento,
seu
surgimento,
desenvolvimento
e
uso
no
estado
onde
se
originou.
58
O
livro
começa
com
cerca
de
30
páginas
de
fotografias
do
elemento,
onde
todas
sangram
a
margem.
Nessa
primeira
parte
do
livro,
vemos
fotografias
de
detalhes
e
do
cobogó
isolado.
A
segunda
parte
do
livro
trata
da
pesquisa
documental,
com
textos
dos
autores.
A
terceira
parte,
conta
com
também
cerca
de
30
fotografias
do
elemento
em
construções
arquitetônicas
de
maior
porte.
Ao
final
do
livro,
há
um
índice
com
as
miniaturas
das
imagens
e
uma
legenda
com
sua
localização.
O
livro
gerou
também
o
projeto
“dingbat
cobogó”,
feitos
por
Guilherme
Luigi,
onde
foram
disponibilizados
vetores
dos
cobogós
documentados
na
pesquisa.
Figura
29:
Imagens
da
estrutura
do
livro
“Cobogó
de
Pernambuco”
(fonte:
google
imagens)
Figura
30:
imagens
internas
do
livro
“cobogó
de
Pernambuco”
e
do
projeto
“Dingbat
cobogó”.
(fonte:
google
imagens)
5.8
Etapas
Neste
projeto,
seguimos
11
etapas,
que
envolveram
a
pesquisa
em
si
e
a
construção
do
catálogo.
59
6
Resultados
Nessa
sessão,
demonstraremos
o
projeto
final
do
catálogo
e
trataremos
da
discussão
dos
resultados
obtidos.
60
Figura
31:
imagem
do
espelho
com
a
estrutura
final
do
projeto
Formato
do
livro
O
formato
do
livro
foi
escolhido
para
que
pudesse
ser
transportado
com
facilidade,
tendo
como
formato
quadrado
medindo
20,5cm
x
22,5cm.
Diferente
de
livros
de
mesa,
em
formatos
grandes
e
pesados,
o
catálogo
é
fácil
de
ser
transportado.
Pretendemos
com
isso
que
ele
possa
ser
lido
em
vários
lugares,
inclusive
enquanto
o
leitor
percorre
as
ruas
da
cidade
de
Olinda
ao
mesmo
tempo
em
que
identifica
os
elementos
que
nele
estão
presentes.
61
Figura
32:
formato
do
livro
aberto
e
fechado
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
Grid
Figura
33:
grid
definido
para
o
projeto
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
Fizemos
a
escolha
de
um
grid
com
6
colunas,
pois,
dessa
forma,
tivemos
mais
flexibilidade
quanto
ao
posicionamento
das
imagens
e
foi
satisfatório
para
o
posicionamento
dos
textos,
que
seguiram
a
mesma
orientação
durante
todo
o
projeto.
A
margem
escolhida
foi:
Superior
com
20mm,
inferior
com
22mm,
interna
com
22mm
e
externa
com
20mm.
Utilizamos
também
uma
sangria
com
0,5mm,
pois
algumas
fotos
sangram
a
página.
A
disposição
das
imagens
através
desse
grid
buscou
seguir
o
caminho
do
olhar.
Varandas
e
objetos
mais
altos
alinhados
ao
topo
da
página,
janelas
ao
centro
e
alguns
detalhes
tomando
toda
a
página.
Foram
dadas
margens
brancas
generosas,
para
criar
um
respiro
entre
as
fotos.
Também
não
foram
inseridas
legendas
nas
fotografias,
elas
aparecem
no
índice,
ao
final
da
publicação.
62
Justificação
A
justificação
do
nosso
projeto
foi
escolhida
para
direcionar
o
olhar
com
facilidade,
sem
prender
muita
atenção
ao
texto,
para
que
possamos
focar
na
imagem.
Fizemos
a
escolha
de
não
hifenizar
os
parágrafos
e
os
alinhamos
à
esquerda,
e
a
entrelinha
utilizada
foi
de
15pt.
Tipografia
Por
ter
como
foco
as
fotografias,
o
livro
foi
concebido
com
uma
estética
minimalista,
com
espaços
em
branco
generosos,
sem
deixar
que
a
fonte
interferisse
na
imagem.
Para
isso,
deslocamos
as
legendas
para
o
final
do
catálogo
e
a
numeração
aparece
sutilmente,
em
fonte
cinza,
no
canto
de
algumas
páginas
para
que
esses
elementos
não
poluíssem
a
página
e
nem
manchassem
os
detalhes
brancos.
A
família
tipográfica
escolhida
foi
a
Museo
Sans.
Ela
não
possui
serifa
e
passa
uma
ideia
de
leveza
e
fluidez.
A
tipografia
tem
a
seguinte
especificação
no
catálogo:
Corpo
de
texto
–
11p,
título
–
30pt,
subtítulo
–
20/15pt,
índice
–
6,5pt.
Figura
34:
caracteres
da
fonte
Museo
Sans
Figura
35:
especificações
da
tipografia
(fonte:
acervo
da
pesquisadora)
Cor
A
escolha
da
cor
foi
feita
através
de
um
processo
sensitivo.
O
azul
se
repete
nas
tonalidades
de
azulejos,
elemento
ao
qual
se
remete
a
primeira
memória
de
infância
da
pesquisadora.
É
também
o
tom
mais
encontrado
nas
portas
e
janelas
dos
casaris
da
cidade.
Como
cor
de
apoio,
escolhemos
o
amarelo,
que
também
aparece
de
forma
sutil
em
alguns
azulejos.
63
Figura
36:
amostra
das
cores
utilizadas
no
catálogo
37:
amostra
das
cores
utilizadas
no
catálogo
Suporte
O
papel
escolhido
para
a
capa
do
projeto
foi
Duodesign
300g,
pois
se
trata
de
um
papel
firme
que
garante
uma
boa
estrutura.
O
miolo
foi
feito
em
Papel
Couchê
Fosco
90g,
pois
oferece
melhor
resolução
em
impressão
digital,
garantido
uma
boa
qualidade
na
impressão
das
fotos.
Técnica
de
impressão
O
tipo
de
impressão
escolhido
digital
na
impressora
Linoprint
C901
Heidelberg,
com
4x4
cores,
pois
fizemos
uma
pequena
tiragem
do
catálogo.
Acabamento
A
encadernação
foi
feita
através
de
costura
e
cola,
para
garantir
melhor
estabilidade
devido
à
quantidade
de
folhas
contidas
no
miolo.
A
capa
receberá
um
acabamento
em
laminação
fosca.
64
Figura
38:
primeira
capa
do
catálogo
Figura
39:
segunda
capa
do
catálogo
Figura
40:
falsa
folha
de
rosto
do
catálogo
Figura
41:
folha
de
rosto
do
catálogo
Agradecimentos
e
sumário
Figura
42:
página
de
agradecimentos
do
catálogo
Figura
43:
página
do
sumário
do
catálogo
65
Apresentação
Figura
44:
páginas
de
apresentação
do
projeto
Mapa
e
mapeamentos
afetivos
Figura
45:
páginas
contendo
o
mapa
e
apresentação
dos
mapeamentos
afetivos
do
projeto
Abertura
do
Capítulo
1
Figura
46:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
1
do
catálogo
66
Figura
47:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
2
do
catálogo
Abertura
do
Capítulo
3
Figura
48:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
3
do
catálogo
Abertura
do
capítulo
4
Figura
49:
páginas
contendo
a
abertura
do
capítulo
4
do
catálogo
67
Páginas internas
Figura
50:
página
interna
do
catálogo
Figura
51:
página
interna
do
catálogo
Vetores
e
índice
Figura
52:
página
contendo
os
vetores
desenvolvidos
no
projeto
Figura
53:
página
do
índice
contendo
legendas
e
miniaturas
68
Figura
54:
páginas
contendo
bibliografia
referencial
e
ficha
catalográfica
Colofão
Figura
55:
página
contendo
o
colofão
Terceira
e
quarta
capa
Figura
56:
terceira
capa
do
projeto
Figura
57:
quarta
capa
do
projeto
69
6.3.1 Azulejos
Figura
58:
Junção
do
padrão
geométrico
e
orgânico
na
moldura
do
tapete
de
azulejos
(fonte:
acervo
pessoal)
70
Na
amostragem,
percebemos
que
o
padrão
de
cores
mais
utilizado
nos
azulejos
é
o
azul
escuro
com
fundo
branco
(7
de
18)
(Fig.
59),
com
amarelo
como
terceiro
elemento
em
alguns
casos
(
6
de
18)
(Fig.60).
A
quarta
cor
encontrada
foi
o
verde,
mas
só
está
presente
em
um
modelo
de
azulejo
dentre
os
que
registramos.
Figura
59:
azulejos
em
tons
de
azul
e
branco
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura 60: azulejos em tons de azul, branco e amarelo (fonte: acervo pessoal)
Alguns
módulos
de
azulejos
se
encaixam
nas
quatro
faces
e
seus
elementos
se
adequam
com
perfeição
independente
da
posição
que
sejam
colocados
(Fig.61)
Já
outros,
precisam
seguir
uma
lógica
de
encaixe
para
representar
o
padrão,
geralmente
composto
por
quatro
azulejos
(Fig.62).
71
Figura
61:
Composição
onde
apenas
1
azulejo
forma
o
padrão
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
62:
composição
onde
4
azulejos
formam
o
padrão
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto à tipologia
Os
azulejos
tem
a
função
de
proteger
as
fachadas
da
erosão
e
de
infiltrações.
Atua
também
como
refletor
de
calor
e
é
um
elemento
de
alta
durabilidade.
É
uma
forma
de
manter
a
aparência
estética
dessa
superfície
por
mais
tempo,
cumprindo
também
uma
função
decorativa.
72
refazer
o
mesmo
em
locais
especializados
ou
até
mesmo,
como
solução
mais
barata
e
temporária,
utilizam
adesivos,
como
podemos
ver
na
abaixo:
Figura
63:
azulejo
em
processo
de
degradação
(fonte:
acervo
pessoal)
6.3.2
Ladrilhos
hidráulicos
Nos
ladrilhos
hidráulicos,
observamos,
em
sua
maioria
(22
de
44),
padrões
geométricos.
Os
padrões
orgânicos
aparecem
em
menor
quantidade
(9
de
44)
e
há
também,
uma
junção
dos
dois
padrões
em
algumas
composições.
Além
disso,
um
conjunto
geométrico
pode
apresentar
uma
moldura
orgânica
e
vice
e
versa
(Fig.
45
e.
Figura
64:
padrão
geométrico
com
moldura
orgânica
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
65:
padrão
orgânico
com
moldura
geométrica
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
à
coloração
dos
ladrilhos,
são
encontrados
tons
variados
e
em
sua
maioria
com
pigmentos
terrosos.
A
primeira
coisa
que
nos
chamou
a
atenção
foi
quanto
a
utilização
da
cor
73
vermelha.
Essa
cor
se
repete
em
mais
da
metade
dos
elementos
fotografados
(28
de
44)
(Fig.
66).
Ainda
sobre
a
utilização
do
vermelho,
foi
possível
perceber
que
o
padrão
cromático
vermelho
+
branco
é
o
mais
utilizado
nos
ladrilhos
de
apenas
duas
cores
(Fig.67).
Figura
66:
predominância
do
vermelho
nas
composições
de
ladrilhos
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
67:
composição
dos
ladrilhos
nas
cores
vermelho
x
branco
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
aos
módulos
A
configuração
dos
módulos
dos
ladrilhos
se
parece
bastante
com
a
dos
azulejos,
citado
no
item
5.2.1
da
pesquisa.
Em
alguns
casos,
o
elemento
isolado
forma
o
padrão,
se
encaixando
perfeitamente
em
todos
os
lados
e
cantos.
Em
outros,
são
necessários
quatro
módulos
para
forma
o
padrão.
Percebemos
também,
que
o
padrão
pode
ser
composto
por
um
único
módulo
seguindo
a
mesma
orientação
mas,
se
ele
for
rotacionado
cria
um
novo
padrão
(Fig.
70).
Figura
68:
mesmo
ladrilho
em
diferentes
composições
(fonte:
acervo
pessoal)
74
Figura
69:
padrão
formado
por
4
módulos
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
70:
padrão
formado
por
um
único
módulo
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
71:
módulo
isolado
que
ao
rotacionar
cria
novo
padrão
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
72:
modulo
isolado
que
ao
rotacionar
cria
novo
padrão
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
à
tipologia
Nos
ladrilhos
hidráulicos,
observamos
que
nos
padrões
geométricos
são
utilizados
desenhos
formados
por
retângulos,
cubos,
losangos,
linhas,
círculos
e
outros
que
podem
assumir
feições
simples
e
complexas.
Os
elementos
de
formas
orgânicas
apresentam,
em
sua
maioria,
padrões
florais
e
arabescos,
assim
como
nos
azulejos.
O
ladrilho
hidráulico
tem
a
função
de
revestimento
de
piso.
Ele
surgiu
como
substituto
ao
piso
de
mármore
e
é
considerada
uma
solução
adequada
ao
nosso
clima,
uma
vez
que
é
um
piso
fresco.
Quanto
a
sua
utilização,
aparece
atualmente,
além
do
piso,
como
revestimento
para
parede
e
balcões.
Percebemos
sua
incidência
em
diversas
casas
do
mapeamento
que
fizemos,
porém,
em
áreas
mais
afastadas,
identificamos
a
troca
do
piso
de
ladrilho
hidráulico
por
cerâmica.
75
Quanto
à
conservação
Quanto
a
conservação
do
ladrilho
seu
ponto
mais
crítico
é
a
substituição
por
outros
tipos
de
piso,
geralmente
cerâmicas.
Esse
fator
foi
encontrado
em
todas
as
ruas
visitadas
mas,
se
mostrou
mais
evidente
nas
ruas
mais
afastadas,
onde
as
construções
sofrem
mais
modificações
irregulares.
Um
ladrilho
encontrado
em
um
anexo
ao
Arquivo
público
de
Olinda,
que
está
passando
por
reformas,
foi
parcialmente
coberto
por
tinta,
restos/lixo
da
obra.
Esse
objeto
já
tinha
sido
identificado,
selecionado
e
registrado
através
de
fotografia,
porém
não
foi
incluído
no
catálogo
por
estar
encoberto
neste
momento
final
de
registro.
(Fig.
75)
Figura
73:
ladrilho
coberto
por
restos
de
obra
(fonte:
acervo
pessoal)
6.3.3 Gradil
76
Os
módulos
não
foram
encontrados
em
todas
as
grades,
diferente
do
que
vimos
em
relação
aos
ladrilhos,
azulejos
e
cobogós,
que
são
estruturas
formadas
unicamente
a
partir
dessa
estrutura.
Os
módulos
só
aparecem
nos
gradis
que
tem
padrões
geométricos.
Quanto à tipologia
Encontramos
uma
grande
variedade
de
elementos
em
sua
composição,
mas,
em
sua
maioria,
estão
presentes
as
volutas
em
S
e
C
(Fig.
76).
As
grades
ornamentais
são
formados
a
partir
de
elementos
sinuosos,
de
formas
livres,
com
muitas
curvas,
as
volutas
em
S
e
C
se
fazem
presentes
de
forma
bem
generosa
(Fig.77)
.
Nas
grades
geométricas,
aparecem
padrões
formados
por
círculos,
linhas,
estrelas,
losangos,
quadrados
e
outros
(Fig.78).
Figura
74:
volutas
em
C
e
volutas
em
S
(
fonte:
Urbano
Ornamento)
Figura
75:
grades
compostas
por
elementos
orgânicos
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
76:
grades
geométricas
(fonte:
acervo
pessoal)
Encontramos
um
elemento
particular
em
nossa
pesquisa
em
relação
a
tipologia
das
grades:
a
utilização
de
monogramas
em
um
portão,
como
mostra
abaixo:
77
Figura
77:
gradil
com
a
presença
de
monogramas
(fonte:
acervo
pessoal)
Pudemos
observar
também
uma
diferença
na
ornamentação
das
grades
de
acordo
com
as
ruas.
Nas
principais
ruas,
as
grades
têm
características
mais
orgânicas
e
com
detalhes
sinuosos;
nas
mais
afastadas,
sua
composição
é
mais
simples
ou
geometrizada.
Como
apresentado
abaixo,
podemos
ver
um
exemplo
de
gradil
bastante
sinuoso
e
rico
em
detalhes,
da
Rua
de
São
Bento,
considerada
uma
das
principais
ruas
da
cidade
(e
onde
se
localiza
a
Prefeitura
de
Olinda),
e
um
outro
gradil,
mais
simples
e
modular,
da
Rua
Coronel
Joaquim
Cavalcanti,
um
pouco
mais
afastada
das
ruas
principais
(Fig.
80)
Figura
78:
comparação
entre
grades
ornamentais
e
geométricas
(fonte:
acervo
pessoal)
As
grades
tem
a
função
de
estabelecer
segurança
e
em
alguns
casos
permitir
a
passagem
de
luminosidade
e
ventilação,
como
quando
são
inseridas
diretamente
nas
fachadas
das
casas,
como
demonstrado
na
figura
abaixo:
78
Figura
79:
grade
utilizada
para
permitir
passagem
de
luz
e
vento
(fonte:
acervo
pessoal)
Dessa
forma,
Identificamos
duas
sub
categorias
em
relação
à
utilização
das
grades.
A
primeira
é
quando
é
utilizada
como
elemento
de
proteção,
presente
em:
portas,
janelas,
balcões,
guarda
corpo
da
janela
e
portões.
A
segunda,
quando
ela
é
utilizada
como
elemento
de
respiro
e
ventilação,
presente
em:
bandeiras
das
portas,
inseridas
diretamente
em
fachadas,
e
em
almofadas/arcos
das
portas.
(Fig.
81))
Figura
80:
utilizações
das
grades
nos
casaris
da
cidade
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
à
conservação
O
gradil
foi
o
elemento
que
se
mostrou
mais
bem
conservado
e
nossa
amostragem.
A
não
ser
nas
ruas
mais
periféricas
onde
as
pessoas
trocam
por
portões
de
ferro,
mas
no
geral,
as
grades
encontradas
com
suas
características
originais
estão
com
bom
estado
de
conservação.
79
6.3.4
Cobogós
Quanto
às
formas
Diante
dos
elementos
que
encontramos,
pudemos
observar
que
todos
eles
têm
forma
geométrica.
Não
identificamos
nenhum
cobogó
orgânico.
Quanto
às
cores
São
encontrados,
em
sua
maioria
(26
de
40)
na
tonalidade
branca
e
pintados
a
base
de
cal.
Encontramos
elementos
também
pintados
de
cores
que
dialogam
com
a
coloração
das
fachadas
ou
como
elemento
de
destaque,
pintados
com
cores
contrastantes
as
da
fachada
(Fig.
83,84
e
85).
Figura
81:
cobogó
branco
pintado
a
base
de
cal
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
82:
cobogó
respeitando
as
cores
da
fachada
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
83:
cobogó
em
cor
de
contraste
a
da
fachada
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
aos
módulos
Os
módulos
de
cobogó
podem
ser
dispostos
em
qualquer
orientação
e
geram
a
mesma
forma.
Possuem
todas
as
laterais
e
cantos
iguais.
Podem
ser
dispostos
de
qualquer
fora
e
rotacionados
em
qualquer
posição
e
formarão
o
mesmo
desenho.
Na
sua
composição,
em
alguns
casos
observamos
que,
além
do
elemento
isolado
já
formar
um
desenho,
o
agrupamento
deles
para
formar
o
conjunto
pode
fazer
surgir
novas
formas
(Fig.
86
e
87)
Figura
84:
novas
formas
a
partir
do
encontro
das
quinas
do
cobogó
(fonte:
acervo
pessoal)
80
Figura
85:
elemento
que
não
revela
novas
formas
(fonte:
acervo
pessoal)
O
único
artefato
encontrado
que
não
segue
esse
padrão
modular
foi
um
elemento
vasado
em
formato
de
“escama
de
peixe”,
localizado
na
varanda
e
escada
de
uma
moradia
na
Ladeira
de
São
Francisco
(Fig.
88)
Figura
86:
utilização
do
cobogó
em
casa
na
Ladeira
de
São
Francisco
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
à
tipologia
São
formados
por
elementos
geométricos
simetricamente
ligados
como
linhas,
quadrados,
círculos,
losangos
e
do
encontro
desses
elementos.
Podem
apresentar
formatos
básicas
como
a
repetição
de
círculos
e
formas
complexas
com
eixo
radial,
formados
por
elementos
que
partem
do
centro
e
induzem
a
uma
leitura
circular
da
forma
(Fig.
89
e
90).
Figura
87:
cobogó
com
repetição
de
elemento
geométrico
simples
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
88:
cobogó
com
elemento
de
eixo
simétrico
radial
(fonte:
acervo
pessoal)
Geralmente,
apenas
um
modelo
de
cobogó
é
utilizado
na
composição
do
painel,
em
um
único
registro
foram
identificados
dois
modelos
com
desenhos
diferentes
(Fig.
91).
81
Figura
89:
utilização
de
dois
modelos
de
cobogós
em
uma
mesma
composição
(fonte:
acervo
pessoal)
Uma
particularidade
encontrada
foi
um
cobogó
com
duas
camadas,
onde
a
volumetria
do
elemento
se
sobressai
formando
um
“X”
(xis)
(Fig.
92):
Figura
90:
cobogó
com
duas
camadas
(fonte:
acervo
pessoal)
Quanto
à
funcionalidade
e
utilização:
O
cobogó
tem
a
função
de
trazer
luminosidade
e
ventilação
para
a
parte
interna
das
residências.
Notamos
uma
variação
com
relação
ao
seu
uso
em
nossa
pesquisa.
Ele
aparece,
em
sua
maioria,
nas
ruas
mais
afastadas,
nas
fachadas
ou
nos
muros
das
residências,
onde
observamos
sua
maior
utilização.
Este
fato
se
dá
provavelmente
pela
data
de
construção
das
moradias
e
pelas
mudanças
de
técnicas
de
acabamento
das
residências
ao
longo
do
tempo,
como
acontece
com
os
azulejos.
Percebemos
que
sua
maior
utilização
é
nos
muros
das
residências
(Fig.
93).
Observamos
também
sua
utilização
em
varandas,
em
poucas
fachadas
e
em
banheiros
e
cozinhas
(Fig.
94).
82
Figura
91:
presença
do
cobogó
no
muro
das
residências
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
92:
utilização
do
cobogó
em
1-‐fachada
2-‐
cozinha
3-‐
sacada
4-‐
banheiro
(fonte:
acervo
pessoal)
Figura
93:
diálogo
de
padrão
entre
grade
e
cobogó
(fonte:
acervo
pessoal)
83
Em
relação
a
incidência
dos
elementos,
percebemos
que
os
mais
antigos
e
de
estilo
colonial,
como
os
azulejos
e
grades
com
composições
orgânicas,
são
encontrados
nas
ruas
principais
da
cidade,
onde
estão
as
construções
construídas
a
mais
tempo
e
remontam
a
uma
época
anterior.
Os
mais
modernos,
como
cobogós
e
grades
com
composições
geométricas,
tem
maior
incidência
nas
ruas
mais
periféricas,
onde
estão
presentes
construções
mais
recentes.
A
fotografia
foi
um
fator
extremamente
importante
para
nossos
registros.
Ela
se
mostra
como
dimensão
operacional
do
trabalho
enquanto
forma
de
registro
e
a
partir
dela
buscou-‐se
representar
o
olhar
da
pesquisadora
em
relação
a
esses
elementos.
Os
ângulos
escolhidos
para
as
fotos
seguem
o
direcionamento
do
olhar
de
um
transeunte
em
relação
aos
mesmos.
Os
balcões
são
registrados
vistos
de
baixo,
as
janelas
e
portas
em
suas
alturas.
Registramos
as
fotos
durante
a
manhã,
buscando
uma
menor
variação
em
relação
a
incidência
de
luz.
Utilizamos
filme
digital
a
partir
de
uma
máquina
grande
angular
para
possibilitar
uma
visão
mais
ampla
das
fachadas
das
residências.
Uma
dificuldade
encontrada
nos
mapeamentos
afetivos
desta
pesquisa
foi
a
grande
quantidade
de
fios
de
energia
no
meio
e
no
topo
da
fachada
de
algumas
casas
(Fig.
96),
o
que
dificultou
o
registro
de
alguns
elementos.
A
única
rua
em
que
esse
problema
não
foi
identificado
foi
a
rua
de
São
Bento,
trecho
onde
os
fios
foram
“escondidos”
por
cima
das
casas.
Também
observamos
um
melhor
cuidado
com
a
fiação
da
Rua
Prudente
de
Morais,
onde
os
fios
estão
melhor
organizados
e
em
menor
quantidade.
Consideramos
que
esse
cuidado
se
deu
por
serem
as
duas
principais
ruas
da
cidade
e
por
exigências
da
ONU
em
relação
ao
título
de
Patrimônio
Cultural
da
Humanidade.
Figura
94:
fios
em
frente
as
fachadas
(fonte:
acervo
pessoal)
84
É
nesse
contexto
que
surge
a
necessidade
de
preservar
essa
memória,
de
elementos
que
também
são
efêmeros,
que
podem
ser
arrancados
e
substituídos
por
elementos
“mais
modernos”
a
qualquer
momento.
Em
alguns
casos,
como
o
do
azulejo
modernista
da
praça
João
Lapa,
citado
no
tópico
5.2.1
deste
capítulo,
houve
um
retorno,
o
artefato
foi
recuperado.
Em
outros
casos,
essas
mudanças
só
são
percebidas
a
longo
prazo,
algumas
vezes
sem
a
possibilidade
do
artefato
voltar
a
seu
estado
original.
Por
fim,
identificamos
que
a
memória
gráfica
de
Olinda
se
expressa
nos
elementos
que
vem
da
arquitetura
e
se
transformam
em
expressões
gráficas
decorativas.
Corroborando
com
os
dois
primeiros
propósitos
da
grámatica
do
ornamento
de
JONES
(2010):
Proposição
1
–
As
artes
decorativas
advêm
da
arquitetura
e
devem
atende-‐la
adequadamente.
Proposição
2
–
A
arquitetura
é
a
expressão
material
dos
desejos,
habilidades
e
sentimentos
da
era
em
que
é
criada.
(JONES,
2010,
pág
23)
As
proposições
foram
ditas
por
JONES
(2010)
em
um
contexto
inglês
e
foram
definidas
dentro
de
um
conjunção
histórica
anterior
a
atual,
mas
se
mantêm
atual,
pois
continuam
sendo
refletidos
em
nossa
atualidade.
85
De
início,
a
intenção
desse
trabalho
era
pesquisar
a
Memória
Gráfica
da
Arquitetura
de
Olinda
em
qualquer
que
fosse
sua
manifestação
na
paisagem
urbana.
No
primeiro
registro
fotográfico,
por
exemplo,
capturamos
várias
manifestações
gráficas
como
grafites,
letras
vernaculares
em
muros,
desenhos
das
fachadas
das
casas,
entre
outros.
O
primeiro
entendimento
que
focou
o
recorte
foi
compreender
que
só
trataríamos
de
elementos
encontrados
na
arquitetura,
pois
havíamos
identificados
um
conjunto
de
expressões
gráficas
oriundas
da
mesma.
Depois,
com
uma
percepção
mais
aprimorada
desses
elementos
arquitetônicos,
focou-‐se
nas
quatro
categorias
de
manifestações:
cobogó,
ladrilho
hidráulico,
gradis
e
azulejos.
Entender
essas
categorias
como
essenciais
fundamenta
nosso
entendimento
do
que
seja
a
Memória
Gráfica
Arquitetônica
de
Olinda.
Talvez
essa
seja
uma
das
principais
conclusões
desse
trabalho.
86
A
fotografia
foi
um
fator
extremamente
importante
para
nossos
registros.
A
partir
dela
buscou-‐se
representar
o
olhar
da
pesquisadora
em
relação
aos
elementos
encontrados,
porém,
o
registro
de
alguns
desses
elementos
foi
dificultado
pela
interferência
dos
fios
de
energia
no
topo
de
várias
casas.
O
propósito
desse
trabalho
era
desenvolver
um
catálogo
contendo
as
fotografias
dos
elementos
estudados
e
isso
foi
realizado.
Para
sua
criação,
levantamos
e
identificamos
os
elementos
que
compõem
a
memória
gráfica
da
cidade
e
mapeamos,
através
da
cartografia
afetiva,
a
localização
desse
acervo.
Organizamos
a
amostragem
através
do
registro
fotográfico
e
identificamos
um
recorte
do
que
entendemos
pela
memória
gráfica
da
arquitetura
de
Olinda.
Todos
esses
passos
foram
dados
em
busca
da
preservação
e
valorização
desses
elementos
gráficos
.
Claro
que
essa
é
uma
iniciativa
primeira,
mas
já
é
um
passo
na
solução
dos
problemas
reconhecidos.
Avaliamos
assim,
que
os
objetivos
pretendidos
no
início
deste
trabalho
foram
alcançados.
Assim,
é
com
muita
satisfação
que,
no
final
desse
trabalho,
disponibilizados
20
vetores
dos
elementos
catalogados.
Acreditamos
que
com
isso
eles
possam
ser
úteis
aos
colegas
profissionais
para
que
possam
utilizar
em
seus
projetos
que
tratem
de
representar
a
memoria
gráfica
de
Olinda,
sítio
histórico.
Essa
não
era
uma
meta
planejada
no
projeto
inicial,
mais
sim
um
“plus”
que
pela
dedicação
conseguimos
ofertar.
Sentimo-‐nos
orgulhosos
por
isso.
A
metodologia
aplicada
na
pesquisa
foi
feita
através
de
um
percurso
espontâneo,
utilizando
o
conceito
de
cartografia
afetiva,
onde
fotografamos
os
elementos,
organizamos
a
coleção,
encontramos
as
categorias
e
desenvolvemos
o
projeto
gráfico
a
partir
das
referências
estudadas.
Consideramos
que
a
metodologia
escolhida
foi
eficiente
para
o
desenvolvimento
do
projeto,
tornando
possível
que
os
objetivos
da
pesquisa
fossem
alcançados,
porém,
gostaríamos
de
ter
tido
um
modelo
para
facilitar
a
síntese
gráfica
dos
elementos.
Também
percebemos
que,
só
depois
de
todo
o
processo
terminado,
conseguimos
mensurar
o
grande
valor
da
fotografia
nesse
trabalho,
gostaríamos
de
ter
dado
maior
foco
a
esse
aspecto.
Acreditamos
que
a
perspectiva
do
design
nesse
estudo
revela
valores
dos
elementos
decorativos
da
arquitetura
que
podem
ser
desconhecidos.
O
design
se
apropria
da
arquitetura
e
toma
para
si
suas
expressões
gráficas.
Prova
disso
é
a
possibilidade
de
criarmos
vetores
que
podem
ser
reutilizados
em
qualquer
peça
gráfica
que
venha
futuramente
a
ser
criada.
De
mãos
dadas,
arquitetura
e
design,
se
unem
nesse
trabalho
com
o
propósito
de
guardar
o
que
temos
de
valor.
Ao
longo
do
estudo,
pudemos
perceber
que
um
processo
de
degradação
do
patrimônio
da
cidade
lentamente
se
instaura,
levando
consigo
os
elementos
gráficos
e
visuais
da
arquitetura.
Esse
processo
se
dá
em
parte
pelo
descaso
do
poder
público
e
por
uma
política
preservacionista
87
ineficiente.
Em
parte,
essa
também
é
causada
pela
descaracterização
dos
imóveis
pelos
próprios
proprietários,
através
de
modificações
muitas
vezes
feitas
de
forma
irregular.
Acredita-‐se
que,
após
esse
trabalho,
a
catalogação
dos
elementos
decorativos
da
arquitetura
de
Olinda,
em
suas
características
materiais
singulares,
é
um
modo
de
estimular
a
sua
preservação.
E
esse
era
um
propósito
que
demanda
preocupação
para
aqueles
que
vivem
e
amam
a
cidade.
A
questão
de
preservação
patrimonial
é
uma
condição
intrínseca
advinda
da
própria
relação
familiar
dessa
pesquisadora.
Dessa
forma,
a
base
de
um
ponto
de
vista
pessoal,
calcado
no
conceito
de
cartografia
e
memória
afetiva,
que
conduzisse
a
uma
compreensão
da
memória
gráfica
de
Olinda,
foi
fundamental
para
a
base
desse
trabalho.
Essa
é
uma
monografia
que
trás
no
seu
âmago
o
afeto
e
a
emoção
para
seu
entendimento.
88
REFERÊNCIAS
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DE
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CAVALCANTI,
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O
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