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UNIDADE 3 - SERVIÇO DE REFERÊNCIA: ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS

3.1 BIBLIOTECÁRIO DE REFERÊNCIA

A especificidade da tarefa do bibliotecário de referência foi reconhecida em 1884,


por Melvil Dewey. Este influenciou a vulgarização dos hábitos de leitura das
bibliotecas nos EUA e estava imbuído da crença no poder dos bibliotecários,
para desenvolver novas tarefas e serviços (OCHÔA, 2005 Apud SILVA, 2006).

O bibliotecário de referência segundo Silva (2005), é o profissional que mantêm


o contato mais próximo dos usuários de uma unidade de informação. Através
dele é criada interface direta entre a informação e o usuário, sendo este o
momento em que exerce especialmente o serviço de referência. Juntamente a
sua função de orientador em uma unidade de informação ou ambiente virtual,
ele também tua como educador, utilizando os seus conhecimentos profissionais
para selecionar a informação adequada para seus usuários e capacitando-os
para trabalharem sozinhos no direcionamento de suas pesquisas.

Em seu trabalho como mediador da informação, segundo Silva (2005), o


bibliotecário de referência precisa pesquisar tanto no acervo físico quanto no
espaço eletrônico da informação, que abrange bases de dados, bibliotecas
virtuais contato com especialistas através de e-mail e outros meios eletrônicos
para a obtenção da informação.

Mesmo que os usuários tenham a possibilidade de pesquisar em várias bases


de dados e requisitarem sua pesquisa através de solicitações diretas na unidade
de informação, por e-mail ou através de formulários eletrônicos, eles necessitam
da ajuda do bibliotecário de referência para sintetizar suas formulações de busca
da melhor maneira u utilizar o melhor recurso.

Cada vez mais, há múltiplos pontos de acesso para a informação que é


distribuída de diferentes maneiras. Serviços como a Comutação Bibliográfica,
mantida e supervisionada pelo IBICT (Instituto Brasileiro de Informação
Científica e Tecnológica), permitem que qualquer pessoa possa solicitar e
receber, através de uma biblioteca, cópias de artigos publicados em revistas,
jornais, boletins, teses e anais de congresso existentes em qualquer biblioteca,
criando assim uma rede global de cooperação para a disseminação da
informação e derrubando todas as barreiras físicas de acesso.

Hoje, com a crescente automatização da maior parte dos serviços de uma


unidade de informação, a necessidade de instruir os usuários para lidar com as
novas tecnologias existentes deve ser uma preocupação constante. Para isso, o
bibliotecário de referência afirma Silva (2005), deve realizar um estudo dos
usuários na sua unidade, diagnosticando as suas necessidades e demandas
frente à enorme quantidade de informação disponível, as dificuldades de acesso
ao sistema de consulta ao acervo e a interface com os serviços disponíveis pela
web.

A ideia do bibliotecário acessível ao usuário para orientá-lo surgiu nas bibliotecas


públicas e depois se estendeu às bibliotecas acadêmicas. Conforme Ochôa
(2005, p. 5) Apud SILVA, 2006, Dewey destacou três aspectos fundamentais do
trabalho de referência:

✓ A constituição de uma nova tarefa, mais virada para os instrumentos de


pesquisa, converte-se numa indagação das interações possíveis entre o valor da
coleção documental e a eficácia das respostas aos utilizadores.

✓ Assume importância fundamental a experiência do bibliotecário, que deve


possuir um conhecimento ao mesmo tempo enciclopédico, objetivo e exaustivo
das fontes de informação disponíveis, pensando já em cada utilizador e nas
questões que coloca. Neste sentido, a experiência converte-se na competência
mais relevante para ocupar as novas funções.

✓ Finalmente, o bibliotecário deixaria de se centrar na organização dos fundos


documentais, para se centrar numa nova categoria - o leitor que o procura.

O trabalho deste profissional caracteriza-se pela comunicação formal ou informal


no sentido de orientar, seja pelo contato direto e pessoal ou por mecanismos que
possibilitem o acesso à informação solicitada. Conforme Martucci (2000, p. 110)
apud SILVA, 2006, este trabalho é um processo de diagnóstico, elaboração e
fornecimento de resposta a um problema de informação de um usuário, através
da tomada de decisões. É uma atividade altamente cognitiva, que exige o
conhecimento da questão de referência ou da situação-problema, a seleção e
implementação de uma estratégia de busca e a obtenção da informação que
responde à questão. Portanto, o bibliotecário de referência é um profissional que
ao longo de seu trabalho diário desenvolve processos de observação,
compreensão, análise, interpretação e tomada de decisão.

3.2 SERVIÇO DE REFERÊNCIA

O serviço de referência é a atividade que envolve o usuário no processo de


busca de informação. Este processo parte do contato inicial, quando o usuário
formula sua questão, reconhece a existência de um problema e se estende até
a entrega da resposta, e o entendimento de que o problema foi solucionado.

Para Ranganathan (1961) apud Silva (2006), o serviço de referência é dividido


em três etapas: a primeira envolve a preparação e a manutenção da coleção; a
segunda, o questionamento do usuário; a terceira finaliza com a assimilação da
experiência na procura da resposta do usuário. Para Katz (1997) apud Silva
(2006), o processo de referência consiste em três elementos principais: a
informação, o usuário e o bibliotecário de referência.

Vários autores discutem este processo. Figueiredo (1992) apud Silva (2006)
afirma que ele é composto por seis fases:

• Seleção da mensagem;

• Negociação;

• Seleção da resposta;

• Renegociação;

• Desenvolvimento das estratégias de busca;

• Busca da informação.

O processo proposto por Figueiredo (1992) apud Silva (2006) envolve o usuário
em quatro fases: a seleção da mensagem, a negociação, a seleção da resposta
e a renegociação. As duas restantes são realizadas pelo bibliotecário de
referência.

Já o processo proposto por Grogan (2001) apud Silva (2006) segue uma
sequência lógica constituída por oito passos (Figura 1).

Figura 1: Processo de Referência

Fonte: Adaptado de Grogan (2001)

Segundo Grogan (2001) apud Silva (2006), existem oito tipos de perguntas de
referência possíveis:

• administrativas e de orientação espacial: questões sobre a biblioteca que não


exigem maiores conhecimentos;

• autor/título: quando o usuário está em busca de um determinado documento;

• localização de fatos: consultas de referência rápida, isto é, quando o usuário


busca um dado ou fato;

• localização de documentos;
• mutáveis: questões que mudam de natureza durante a pesquisa, isto é,
quando o usuário não sabe exatamente o que quer;

• consultas de pesquisa: requerem uma busca exaustiva sobre o tema;

• residuais: questões incoerentes ou inconsistentes;

• irrespondíveis: por mais que o bibliotecário tente esclarecer a questão que o


usuário veio resolver, há perguntas que não terão respostas.

A entrevista realizada pelo bibliotecário de referência serve de ponte entre a


questão do usuário e a solução do problema. Conforme Hutchins (1973) apud
Silva (2006), esta entrevista envolve fatores pessoais e impessoais; ela depende
de três fatores: do bibliotecário, do usuário, e das fontes de informação.

Nenhuma pergunta deve ser considerada sem importância. Segundo Grogan


(2001), o descaso na entrevista com o usuário leva a respostas incorretas,
muitas vezes inadequadas, e a usuários insatisfeitos.

A atividade de referência, não se resume a perguntas e respostas. Merlo Vega


(2000 apud SILVA, 2006, p, 47) cita os principais serviços realizados pelo
bibliotecário de referência:

• consultas de resposta rápida;

• consultas bibliográficas;

• acesso ao documento;

• informação sobre novidades;

• difusão seletiva da informação;

• orientação bibliográfica e documental;

• assessoramento técnico;

• formação de usuários.

Para Santin (2020) o serviço de referência inclui o atendimento pessoal e


personalizado mediante ao perfil e ou grupo de usuários. Os serviços de
referência também podem ser divididos em três blocos, como proposto por Bopp
(1995): serviços de informação, serviços de formação e serviços de orientação.
“Dependendo das necessidades dos usuários, são acionadas diferentes
funções, que envolvem informações, orientações e/ou instruções” (SANTIN,
2020, p. 20). No Quadro 1 são apresentadas as funções, descrições e exemplos
das funções essenciais do serviço de referências segunda a autora.

Quadro 1 – Funções essenciais do serviço de referência


Função Descrição Exemplos de ações e serviços

Consulta sobre informação geral


Atendimento a Consulta sobre recursos e serviços
Informativa consultas dos usuários Consulta bibliográfica
em relação à Localização, intercâmbio e entrega de
informação informação
Informação básica, específica ou geral
Seleção de fontes, recursos e
informações
Recomendação de obras, fontes e
recursos
Recomendação de serviços de
Orientação aos informação
usuários na seleção e Orientação bibliográfica e documental
uso de fontes de para o acesso, busca, uso e produção
Consultiva informação, da informação
ferramentas e recursos Apoio à pesquisa e produção de
multimídia para a conhecimentos
aprendizagem, cultura Apoio à normalização, publicação e
e produção de novos divulgação
conhecimentos Assessoramento em assuntos de
informação, aprendizagem, pesquisa,
cultura etc.
Curadoria, seleção e gestão de
conteúdos que os usuários podem usar
de forma independente
Extensão bibliotecária na comunidade
Biblioterapia, ação social e cultural
Ações de formação individual ou em
grupos para o uso das fontes,
ferramentas e recursos
Educação de usuários, Instrução direta no atendimento
Instrutiva ensino e alfabetização Programas de alfabetização
informacional informacional
Desenvolvimento de currículos e
atuação integrada nos processos de
ensino e aprendizagem
Cursos livres, palestras e participação
em ações educativas da instituição e da
comunidade
Comunicação com os usuários e a
sociedade
Promoção da unidade de informação na
sociedade
Produção de conteúdo: informativos,
Comunicação, guias, tutoriais, materiais didáticos etc.
Comunicativa divulgação e relações Comunicação na web: sites, redes
com a comunidade sociais, referência virtual etc.
Divulgação de recursos e serviços de
informação
Serviços de alerta e disseminação da
informação
Divulgação de projetos e do trabalho de
referência
Relações públicas com a comunidade

Fonte: Santin, 2020, p.21

As novas exigências dos usuários requerem a criação de novos serviços para


atender às suas necessidades. Figueiredo (1996) apud Silva (2006) chama a
atenção para o serviço de referência on-line, sugerindo a utilização cada vez
maior de recursos tecnológicos para a disseminação de informações. Segundo
a mesma autora, estes serviços podem variar de uma simples informação até
serviços de aconselhamento. Estes serviços propiciam a transferência direta da
informação, favorecendo a criação, a disseminação e o uso do conhecimento
científico.

Segundo Grogan (2001), a proporção crescente das fontes de informações


disponíveis on-line, ao lado das ferramentas de busca, representa um progresso
para o serviço de referência.

O serviço de referência deve expandir suas fronteiras através do


compartilhamento de serviços com outras unidades de informação. A criação da
referência virtual é uma tendência na disponibilização de produtos e serviços em
bibliotecas, assunto que será abordado na próxima sessão.

3.3 PROCESSO DE REFERÊNCIA TRADICIONAL X PROCESSO DE


REFERÊNCIA VIRTUAL

Frente às novas tecnologias, em especial à internet, as bibliotecas


virtuais/digitais surgem como uma das principais fontes de informação,
modificando a natureza, o tratamento, a recuperação e a disseminação da
informação. Dos bibliotecários espera-se que reconheçam a indispensável
necessidade de mudança, ainda que isso signifique um enorme desafio. A
mudança de paradigma não ocorre apenas na estrutura física das bibliotecas,
mas também, no perfil do usuário e no papel do bibliotecário.

Tradicionalmente, para Silva (2006), o bibliotecário de referência tem exercido o


papel de intermediário entre as fontes de informação e o usuário. Com o advento
do computador e das novas tecnologias da informação, ele, o usuário, atraído
pelas facilidades dos softwares de recuperação das bases de dados em CD-
ROM, passou a executar, com o auxílio do bibliotecário, as buscas antes feitas
pelos bibliotecários.

A introdução da Internet e as bases de dados online motivou o usuário a fazer


as buscas sozinho. Essas mudanças afetaram a mediação entre o usuário e o
bibliotecário. As buscas, antes local e assistidas agora com a internet, passam a
ser remota e sem mediação. A intermediação nos moldes dos sistemas
tradicionais já não é mais necessária. O usuário já não necessita mais de ajuda
para conduzir suas buscas na web. Todavia, ele necessita de orientação sobre
como ele deverá conduzi-la, como selecionar a informação relevante as quais
ele necessita. Nessa perspectiva, o bibliotecário tem um papel fundamental na
orientação dos usuários a conduzir suas pesquisas no ambiente digital/virtual.
Isso deve refletir numa mudança tanto nos métodos quanto no conteúdo dos
treinamentos.

Conforme Tenopir (1999) apud Silva (2006), no futuro, com o aumento da


disponibilidade das ferramentas eletrônicas e da necessidade de aumentar a
oferta de treinamentos formais, o papel instrucional do bibliotecário de referência
será fundamental.

Na discussão sobre as mudanças no serviço de Referência, é fundamental


considerar as duas principais abordagens de estudo do usuário, a abordagem
tradicional cujo papel central do serviço de referência seria a provisão da
informação considerando que o objetivo da busca de informação é o produto e,
a abordagem alternativa cujo foco é a orientação aos usuários na busca da
informação e, o objetivo é o processo.

Essas duas abordagens vão refletir em dois modelos para o bibliotecário de


referência: o tradicional, aquele que assume o papel de intermediário e o
mediador, aquele que guia, orienta, educa. Portanto, cabe ao bibliotecário, o
desafio de criar novas formas de mediação, tanto na obtenção como na
disseminação de informação. Desse modo, ele não pode perder de vista a
necessidade de orientar e estimular as competências dos usuários, à
identificação de seus problemas/necessidade de informação, ao acesso, à
avaliação e ao uso das informações disponíveis.

Essas habilidades tornam-se importantes na sociedade contemporânea devido


à necessidade de formar indivíduos críticos, frutos de um novo modelo de
educação que privilegia o aprender a aprender, a educação continuada e a
autonomia dos aprendizes, na busca de informação para a construção do
conhecimento.

Nessa perspectiva, o bibliotecário deve investir também na formulação da


pergunta ao usuário (a negociação da questão), substituindo a tradicional
entrevista de referência, por um diálogo, porque é na interação que o usuário
percebe, não apenas, que a sua necessidade de informação muda, como
também ela se torna mais clara.

Na orientação da delimitação da questão e na seleção dos conceitos (palavras-


chave), o bibliotecário poderá usar algumas ferramentas cognitivas, como por
exemplo, os mapas conceituais, que são particularmente facilitadoras desse
diálogo no ambiente digital/virtual. Outros recursos como o hipertexto, também
já é utilizado.

A despeito das aparentes facilidades da rede, a orientação do usuário no uso


das ferramentas e serviços adequados (os mecanismos de busca, os catálogos
de bibliotecas, os sites de pesquisa, as bases de dados, o e -mail, apenas para
citar alguns), são fundamentais nos novos ambientes digitais/virtuais.

Convém assinalar que a baixa qualidade e a quantidade de informações,


recuperadas pelos mecanismos de busca dificultam a localização de uma fonte
específica, razão pela qual, as tarefas tradicionalmente executadas pelos
bibliotecários, selecionar, organizar e indexar a informação no ambiente da
Internet, tornaram-se necessárias e indispensáveis. Parafraseando Levacov
(1996), a euforia inicial com a Internet criou a ideia equivocada de que cada
usuário pode ser um bibliotecário de referência.

3.3.1 Fontes de Informação Eletrônica

Neste levantamento são apresentadas algumas das principais fontes de


informação utilizadas em bibliotecas universitárias nacionais e centros de
informação acadêmica e disponibilizadas na Internet.

Estas fontes têm vários aspectos que tendem a facilitar seu acesso ao
pesquisador. Segundo Leggett, Nürnberg e Schneider (1996, p. 95), a publicação
eletrônica tem características que “não são compartilhadas com os documentos
em papel”. Os documentos eletrônicos são disseminados com mais facilidade,
podem sofrer, facilmente, modificações e múltiplas versões podem ser
armazenadas e referenciadas (RODRIGUES, 1999).

Destaca-se que algumas das fontes de informação tendem a unificar seus


serviços e recursos, uma vez que juntam características que anteriormente
faziam parte de apenas um único tipo de fonte, como os índices impressos.
Assim pode-se obter, com um único recurso, a busca, localização e obtenção do
documento, distinguindo-o do panorama anterior onde, para cada passo,
utilizava-se uma ferramenta diferente. Nesse caminho, Taubes (1996) aponta as
vantagens da publicação eletrônica em relação à impressa, como, por exemplo:
recursos de áudio e vídeo, variadas ferramentas de busca (através das
estratégias de busca), links para artigos relacionados e citações e serviços de
alerta por e-mail, entre outros.

Na definição de base de dados, bibliotecas digitais de teses e dissertações e de


repositórios de texto integral, muitas das fontes exercem papéis semelhantes,
uma vez que podem permitir o acesso ao texto completo. Nesse contexto,
Pinheiro (2003), explica que uma biblioteca digital pode abranger outras fontes,
tais como, bibliografias ou bases de dados, demonstrando que as barreiras
conceituais ficam mais tênues na Internet. Em relação a isso, buscou-se, então,
agrupá-las, levando em consideração um maior número de características que
tenham em comum.
a) Periódicos científicos eletrônicos

Conforme relatado por Rodrigues (1999, p. 5), a informatização vem, ao longo


dos anos, operando modificações na forma de apresentação dos periódicos. A
forma impressa divide espaço com o formato online, que permite “o acesso aos
documentos através de uma simples conexão à rede de computadores”. De
acordo com o conceito de Sweeney (1997, p. 9). Um periódico eletrônico pode
ser definido como aquele cujo texto pode ser acessado diretamente por
transferência de um arquivo de um computador ou por outro mecanismo de
leitura na máquina, cujo processo editorial é facilitado pelo computador e cujos
artigos são também disponibilizados na forma eletrônica aos leitores.

Com isto, os periódicos científicos em meio eletrônico apresentam-se, cada vez


mais, como as principais fontes de informação e ferramenta para difusão de
conhecimento em diversas áreas da ciência, como, por exemplo, nas áreas
biomédicas. Cabe aqui salientar, como coloca Rodrigues (1999, p.12), a
importância da urgência em fazer chegar a informação às mãos dos
interessados, mantendo “[...] os pesquisadores relativamente em dia com os
avanços em sua área [...], evitando a defasagem da informação. “O periódico
científico desempenha papel essencial no desenvolvimento da pesquisa
científica. Esta só pode tornar-se contribuição para a ciência a partir da
publicação dos seus resultados (COSTA, 1988) apud Crespo, Rodrigues e
Miranda (2006).

Como os demais periódicos, em seus diversos meios de publicação, esses são


publicados sucessivamente e possuem, em sua maioria, todos os requisitos de
qualidade científica sendo, também, detentores dos recursos do meio eletrônico,
como o acesso rápido aos fascículos, através da Internet, tornando possível o
exame ao conteúdo dos artigos, desprezando o processo da impressão e
distribuição física e atuando em prol da atualização quase que imediata dos
pesquisadores.

b) Bases de dados

As bases de dados são recursos que apresentam muitos modos de se


pesquisar, com diversos pontos de acesso, possibilitando a busca por campos
específicos, como palavras-chave, pelo(s) nome(s) do(s) autor(es), utilizando-se
de lógica booleana, escolhendo o período de cobertura, e outros recursos que
permitem buscas muito específicas, mais eficientes que os demais, como os
índices impressos utilizados anteriormente. Normalmente, disponibilizam
apenas as referências, mas também podem trazer os textos completos dos
documentos (CAMPELLO; CENDÓN; KREMER, 2000).

Segundo Cendón (2005, p. 75), as bases referenciais dividem-se em dois tipos:


bibliográficas, que podem ser “versão eletrônica dos periódicos de indexação e
resumo contendo citações bibliográficas e outros campos adicionais” e diretórios,
“que contêm dados cadastrais sobre instituições, softwares etc”.

Já as de acesso aos textos completos podem ser várias. Cendón (2005, p. 75)
sugere sua organização em quatro tipos: bases de texto completo, bases de
dicionários, bases numéricas - com dados numéricos estatísticos - e bases de
imagens/gráficos, que “[...]~contêm, sob a forma gráfica, fórmulas químicas,
imagens de logotipo, desenhos ou figuras”.

c) Ferramentas de busca na Internet

Neste estudo, o uso das ferramentas de busca na Internet são definidas como
um facilitador para a localização de informações em buscas gerais, servindo, por
exemplo, para identificar o que era desenvolvido sobre um determinado assunto.
Destacam-se, neste modelo, recursos como o Google, Cadê, Lycos, Yahoo
entre outros. Segundo Crespo, Rodrigues e Miranda (2006) ”[...] esse tipo de
ferramenta não é considerado totalmente confiável por não possuir garantias
quanto à qualidade do que disponibiliza, mesmo que, eventualmente, também
recupere documentos que possuam todos os requisitos para serem
considerados científicos”.

Cabe ao bibliotecário dominar estes recursos de modo satisfatório, visando a


obtenção de informações de qualidade e tirando proveito da amplitude
proporcionada por este meio, já que recupera o conteúdo de milhares de páginas
disponíveis na Web.

d) Bibliotecas digitais
Segundo Blattmann (2001, p. 93) “as bibliotecas digitais combinam recursos
tecnológicos e informacionais para acessos remotos, quebrando barreiras físicas
entre eles.” Oferecem vantagens, uma vez que ampliam o acesso à informação,
permitindo consultar o texto na íntegra de vários tipos de documentos em formato
digital. Além disso, podem ser acessados pelos usuários a qualquer momento e
de qualquer lugar.

e) Bibliotecas digitais de teses e dissertações

As bibliotecas digitais de teses e dissertações são ferramentas de pesquisa em


meio eletrônico e on-line, que contêm os trabalhos oriundos de cursos de pós-
graduação. As teses e dissertações são consideradas um tipo de literatura
cinzenta, por não possuírem um sistema de publicação e distribuição comercial
(CAMPELLO; CENDÓN; KREMER, 2000).

Esses recursos se disseminam, sendo disponibilizados por diversas instituições


nacionais e estrangeiras, em formato online e, normalmente, de livre acesso a
partes ou ao documento completo, permitindo o armazenamento e divulgação
de informação científica. Vicentini e Vicentini (2004) explicam que, desde 1999,
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) têm patrocinado este tipo de iniciativa. No Brasil, o crescimento
desse tipo de recurso se deu a partir de 2000, com projetos como a Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo.

Visando uma disseminação mais efetiva das pesquisas financiadas pela


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi
determinado, a partir da Portaria Nº 13 de 15 de fevereiro de 2006, publicada no
Diário Oficial Nº 35 de sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006, que os cursos de
pós- graduação ficam obrigados a adotar um sistema digital e online de todas as
teses e dissertações produzidas através do programa, estando esta, vinculada à
avaliação e continuidade do programa de pós-graduação pela CAPES e
possuindo prazo até 31 de dezembro de 2006 para sua instalação final. Junto às
bibliotecas digitais de teses e dissertações, cabe ao bibliotecário diversas
atividades tais como: a descrição padronizada dos documentos (indexação,
catalogação, classificação) a digitalização e consequente disponibilização
destes na íntegra.

f) Publicações de acesso livre

Historicamente, como já descrito, as formas de transferência da informação


vêm sofrendo mudanças, através dos tempos. À comunicação oral, seguiu-se a
representação gráfica, manual, quando cabia ao clero a censura à informação,
privilegiando poucos. Com a invenção da imprensa, iniciou-se uma
“liberalização” da informação. Liberalização esta, que com o intuito de
resguardar o ineditismo e integridade da obra, levou à proteção das bibliotecas
digitais de teses e dissertações são ferramentas de pesquisa em meio eletrônico
e on-line, que contêm os trabalhos oriundos de cursos de pós-graduação. As
teses e dissertações são consideradas um tipo de literatura cinzenta, por não
possuírem um direito do autor, imputando determinados limites a essa conquista,
estabelecendo contratos para que se pudesse gozar do direito à informação.
Entretanto, com o avanço tecnológico e das pesquisas, as comunicações
científicas vêm em uma evolução tamanha, que sua importância para o bem da
humanidade está levando a ideais de acesso livre à informação.

De acordo Crespo, Rodrigues e Miranda (2006), [...] a informação científica é o


insumo básico para o desenvolvimento científico e tecnológico de uma nação.
Trata-se de um processo contínuo em que a informação científica contribui para
o desenvolvimento científico, e este, por sua vez, gera novos conteúdos
realimentando todo o processo.

As publicações de acesso livre surgiram como uma alternativa ao modelo


tradicional de publicação científica e caracterizam-se por permitir o acesso sem
barreiras, como a necessidade de pagamento ou senhas. Como exemplo deste
tipo de iniciativa, destaca-se os arquivos abertos (open archives) que são
arquivos online de acesso público, nos quais o próprio autor deposita o
documento no meio eletrônico, garantindo a visibilidade sem as barreiras
impostas pelos sistemas tradicionais (CRESPO; RODRIGUES; MIRANDA,
2006). Ainda segundo Crespo, Rodrigues e Miranda (2006) “é importante
observar que o paradigma do acesso livre à informação provocará otimização
nos custos de registro de acesso à informação, além de promover maior rapidez
no fluxo da informação científica e no desenvolvimento científico e tecnológico”.

Destacam-se, como um tipo de recurso de acesso livre, os repositórios de texto


integral. Inicialmente eram temáticos. Agrupados, evoluíram para repositórios
institucionais, utilizados por universidades e instituições de pesquisa
estimulando a publicação de trabalhos científicos produzidos por estas
(CRESPO; RODRIGUES; MIRANDA, 2006).

A posição das bibliotecas é de caracterizar o acesso aberto como prioritário.


Neste sentido, há um movimento buscando provê-las de tecnologias que
permitam o desenvolvimento de acervos de acesso-aberto, iniciando “[...]
políticas cooperativas de repositórios e documentos eletrônicos e cooperar na
criação de recursos informacionais que integrem a busca de documentos de
acesso-livre” (CRESPO; RODRIGUES; MIRANDA, 2006).

g) E-books

A expressão “electronic book”, ou a sua contração “e-book”, pode ser definida,


segundo Crespo, Rodrigues e Miranda (2006), como qualquer texto
suficientemente longo e completo, que pode utilizar metadados descritivos,
disponível em um formato eletrônico e legível através de um computador. O livro
eletrônico possui diversas nomenclaturas como, i-book, livro digital etc. Adota
hipertexto, recursos de interatividade, a web e a utilização de um computador
pessoal.

O e-book é o livro em formato eletrônico que pode ser visualizado na tela do


computador ou baixado através de download, via Internet, podendo ser
acessado de forma gratuita ou mediante pagamento.

Frente a todas essas novas fontes eletrônicas, expandem-se as funções do


bibliotecário. Redefine-se seu papel, transcendendo sua atuação de mero
intermediário entre usuário e informação.

O bibliotecário pode direcionar-se para a organização do acervo digital,


buscando, constantemente, novas fontes, através de observação e
monitoramento dos canais de informação tais como sites de busca, de editoras
científicas, instituições de pesquisa, listas de discussão entre outras e
organização de um acervo digital em seus. Segundo Crespo, Rodrigues e
Miranda (2006, p.47), “domínio das técnicas de acesso às bases de dados é uma
importante característica de qualquer profissional da informação”.

Cabe-lhe, ainda, desenvolver manuais e tutoriais eletrônicos que auxiliem os


usuários em suas pesquisas e dúvidas em relação às fontes de informação.
Também pode fazer uso de ferramentas de referência virtual como chats, fóruns
de discussão, atendimento online em tempo real, inclusive valendo-se de
recursos multimídia como som e imagem.

A partir da análise e observação dos usuários potenciais, o bibliotecário trabalha


na adequação de interfaces, como Web sites de bibliotecas e em ferramentas de
busca, inclusive compilando as fontes e colocando-as à disposição conforme os
interesses deste usuário. Tende a atuar, cada vez mais, em um contexto no qual
o usuário não depende do horário de funcionamento da biblioteca, ou mesmo de
um serviço de comutação bibliográfica para obter um documento, podendo ele
mesmo proceder a pesquisa e baixá-los.

Esta situação é verificada por Milne (1999) o qual conclui, em sua análise, que o
número de visitas à biblioteca diminuiu e que as buscas ocorrem através de
recursos eletrônicos acessados fora deste ambiente físico. A redução do número
de visitas à biblioteca deve-se, em parte, ao acesso direto do pesquisador a partir
de seu computador, aos artigos de periódicos científicos eletrônicos de que
necessita. Entretanto, deve ficar claro que cabe ao profissional em
biblioteconomia a compilação, de maneira a organizar este material, tornando-o
adequado para o acesso do usuário.

Outra função inerente ao profissional é a divulgação das fontes eletrônicas, bem


como os serviços a ela vinculados, visando a ampliação do seu uso. Nesta
função destaca-se o uso de Disseminação Seletiva da Informação (DSI) que
consiste em um serviço personalizado, voltado às necessidades do usuário,
enviando-lhe, por exemplo, boletins informativos via e-mail.
Nesse contexto de grandes mudanças, Sayão e Sales (2012, p. 182) afirmam
que novos papéis e responsabilidades surgem como críticos para o
direcionamento da gestão de dados abertos, “dentre eles está o cientista de
dados, que podem ser cientistas da computação ou cientistas da informação,
engenheiros de software e de base de dados, especialistas em disciplinas,
dentre outros”.
Também é importante destacar, de acordo com Guandalini et al. (2019, p.16),
o fato de que bibliotecários podem atuar nessa área, sendo que os
planos de gestão de dados envolvem decisões de como gerir os dados
pesquisa, ou seja, o profissional da informação pode exercer uma
função de suporte informacional ao usuário e ainda exercer suas
habilidades ativamente nas instituições de ensino, podendo fazer parte
de programas científicos e das políticas dos repositórios digitais das
mesmas.

Dudziak (2018) observa que, à medida que os bibliotecários se envolvem cada


vez mais com o apoio aos pesquisadores, assumem atividades de assistência
na condução de diversas etapas da comunicação científica, incluindo a gestão
de dados de pesquisa.

Contudo, as rápidas mudanças no cenário de pesquisa tornam-se abrangentes


e estratégicas para as bibliotecas, de maneira a direcioná-las para além de seu
papel administrativo mais evidente no fornecimento de bibliometria, onde as
bibliotecas precisam se interessar por todos os aspectos da atividade acadêmica
e participar ativamente na curadoria. Bem como aprofundar a compreensão dos
dados, necessidades dos pesquisadores e os tipos de dados que eles desejam
compartilhar, curar e preservar (TECNOPIR; BIRCH e ALLARD, 2012).

Os autores Tecnopir, Birch e Allard (2012, p. 12, tradução nossa), também


afirmam que o cenário traz oportunidades, tanto para profissionais da
informação, como profissionais de tecnologia da informação, dentre outros. Para
eles, “os limites dessa nova área ainda não estão definidos, por isso, faz-se
necessário que o bibliotecário se posicione como um profissional que apresenta
capacidades para lidar com o tratamento de dados”. A Figura 3, ilustra o ciclo do
bibliotecário, proposto também pelos autores, reforçando que um dos aspectos
mais importantes do fornecimento de serviços de dados de pesquisa é a
capacidade do bibliotecário em se comunicar efetivamente com pesquisadores
sobre conceitos relacionados a dados.
Figura 3 - Habilidades do bibliotecário para oferecer pesquisa de dados

Fonte: Tecnopir; Birch; Allard, 2012, p. 12, tradução nossa.

Na Figura 3, é feito o apontamento das habilidades necessárias para o


profissional bibliotecário poder realizar uma pesquisa de dados para seus
usuários. No Quadro 2, Sales et al. (2019), demonstra, além das habilidades
identificadas dos bibliotecários, uma distribuição, de acordo com as fases da
gestão da pesquisa, e outras competências consideradas relevantes pelos
autores, para os bibliotecários que desejam trabalhar com gestão de dados de
pesquisa.

Quadro 2 - Competências dos bibliotecários na gestão de dados de pesquisa


ANTES DA PESQUISA DURANTE A DEPOIS DA PESQUISA
PESQUISA
Auxiliar pesquisadores Tipificar dados de Auxiliar na publicação de
na elaboração do plano pesquisa dados (identificação de
de gestão de dados repositórios ou outras
formas de publicação. Ex:
data journal, periódico de
resultado negativo, etc.)
Planejar a curadoria Conhecer a estrutura Auxiliar na contextualização,
informacional do dado isto é, na documentação de
de pesquisa e o seu conjuntos de dados
ciclo de vida (definições, metodologia de
coleta, etc.)
Identificar fluxos de Administrar o ciclo de
trabalhos (ou mais vida dos dados de
especificamente o fluxo pesquisa, desde sua
da pesquisa) geração/coleta, bem
como seleção e
desenvolvimento de
coleção.

Identificar recursos e Organizar dados de


infraestruturas para pesquisa / atribuir
manutenção e promoção metadados gerais e
de dados de pesquisa disciplinares
Orientar a organização de arquivos de dados e o uso de ferramentas de gestão
de dados de pesquisa
Apoiar na identificação e Apoiar a análise de Apoiar a visualização de
escolha de ferramentas dados e o dados, indicando
adequadas para análise, processamento, ferramentas e provendo
processamento e indicando ferramentas treinamentos
visualização e promovendo
treinamentos
Apoiar a adoção de práticas de gestão de dados de pesquisa em parceria com
departamentos, grupos de pesquisa, comissões, etc.;
Entender e promover Entender e promover Entender e promover
preservação digital, isto preservação digital, isto preservação digital de longo
é, elaboração de política é, gerenciamento de prazo, isto é,
de preservação versões, desenvolvimento de
armazenamento e ambientes confiáveis para
backup preservação
Contribuir para a Gerenciar sistemas de Promover o reuso de dados,
elaboração de políticas armazenamento de através de divulgação e
institucionais de dados dados seleção de dados
de pesquisa adequados
Conhecer aspectos Promover a Auxiliar na elaboração de
legais dos dados de capacitação para o citação e referência de
pesquisa, bem como as desenvolvimento da dados
leis de direitos autorais competência em
gestão de dados de
pesquisa (research
data literacy)
Definir políticas de Criar e oferecer
acesso tutoriais sobre a
elaboração de planos
de gestão de dados
Fonte: Sales et al., 2019, p.311

Refletindo sobre o Quadro 2, existem várias atividades as quais são possíveis


que bibliotecários exerçam apoiando à gestão de dados de pesquisa. Algumas
atividades são específicas de cada fase da gestão de dados e podem criar a
necessidade de que os bibliotecários façam uma capacitação especifica para
conseguirem aplicar e replicar, enquanto outras atividades são semelhantes as
atividades tradicionais desenvolvidas em bibliotecas e centros de informação.
Sendo assim, algumas das atividades irão perpassar todas as fases da gestão.

Sales et al. (2019, p.312), afirmam que


gerenciar dados durante todo o ciclo da pesquisa requer habilidades
específicas e conhecimento a respeito das políticas de gestão de
dados, movimento da ciência aberta, curadoria de dados de pesquisa,
infraestrutura para armazenamento, serviços essenciais do ciclo de
vida dos dados, capacitação de usuários e metadados, etc.

A presença do profissional bibliotecário passa a ser totalmente necessária para


a gestão de dados gerados pela pesquisa, uma condição que evidencia a
necessidade de uma aproximação entre o fluxo de pesquisa e os processos
biblioteconômicos nas instituições de pesquisa (SALES, et al., 2019).

Afirmações, que levam à reflexão de que à medida que os profissionais


bibliotecários, cada vez mais, estão envolvidos no apoio aos pesquisadores,
assumindo nesse contexto atividades direcionadas a gestão de diversas etapas
da comunicação científica, incluindo a gestão de dados de pesquisa.

Também é importante destacar, a respeito do perfil dos bibliotecários de


referência, que o mesmo vai além das suas tradicionais habilidades
biblioteconômicas, e passa a envolver-se, também, nos processos de pesquisa
de dados, sendo capazes de fazer um gerenciamento de dados adequado e, ao
mesmo tempo, auxiliando os pesquisadores no levantamento, seleção e
armazenamento de dados científicos. Uma realidade que leva o profissional
bibliotecário, a atuar de forma colaborativa com pesquisadores, assumindo
competências e habilidades de facilitador e curador de dados, que possam ser
possíveis de reutilização em repositórios de dados, e precisam também assumir
um papel educativo frente aos usuários os ensinando a pesquisar em fontes
confiáveis com pensamento crítico e reflexivo.

3.4 PROCESSO DE REFERÊNCIA EDUCATIVO

Partindo da premissa de que a biblioteca é um espaço peculiar de aprendizagem,


diferente da sala de aula, o ambiente deve ser pensado como um espaço
estratégico de ações complementares às desenvolvidas em sala de aula. A
experiência com a leitura e com o comportamento investigativo, tão importante
para o avanço educacional, pode ser ampliada no espaço de uma biblioteca, por
meio de atividades elaboradas em um ambiente favorável para a apropriação do
saber por parte dos indivíduos.

Tais referências reforçam a hipótese de às bibliotecas contribuir como modelo


de mediação pedagógica na formação do pesquisador, exercendo um papel
ativo nesta função, levando em consideração que os bibliotecários exercem
papel centrado no ensino-aprendizagem por meio de práticas colaborativas
com os professores universitários.

Entretanto é importante refletir sobre os seguintes questionamentos: O


bibliotecário pode ser educador em um ambiente educacional? O bibliotecário
consegue acompanhar a rápida mudança do ecossistema de informações com
qualidade? Esses questionamentos levam-nos a refletir sobre a atuação do
bibliotecário, no século XXI.
O foco do bibliotecário do século XXI é sobretudo o usuário. É para
atender melhor a esse usuário, esse cidadão conectado, que o
bibliotecário deve desenvolver mais e melhores competências
profissionais e pessoais. O bibliotecário do século XXI, um indivíduo
pertencente à era da informação digital, deve, por exemplo, dominar as
redes digitais sociais, conforme dito por Gottschalg-Duque (2016), e se
tornar aquele profissional da informação que conhece e entende das
mídias sociais digitais e que atua como curador digital, educador, filtro,
conector, facilitador, experimentador, guia e norteador.
(GOTTSCHALG-DUQUE; SANTOS, 2018, p.55).

A Association of College and Research Libraries (ACRL), em 2017, publicou o


documento Roles and Strengths of Teaching Librarians, que descreve sobre as
competências e habilidades para os bibliotecários e coordenadores de instrução,
enfatizando que o ambiente em mudança do ensino superior, discretamente,
vem demonstrando um conjunto de habilidades que evoluem rapidamente,
certificando a necessidade de um amplo conjunto de conceitos para descrever
os papéis dinâmicos desempenhados pelos bibliotecários de ensino (ACRL,
2017).
Os papéis do bibliotecário educador não podem ser totalmente
compreendidos sem o envolvimento com os conceitos, práticas de
conhecimento e disposições delineadas na Estrutura, que estabelece
“ideias fundamentais sobre o ecossistema de informação” em que os
bibliotecários trabalham e os alunos aprendem. O bibliotecário
educador trabalha com os alunos como treinador, guia e mentor, à
medida que os alunos navegam por esse complexo ecossistema de
informações em diferentes estágios de seu desenvolvimento pessoal e
cognitivo (ACRL, 2017, p. 2).
Segundo Valentim (2000), as mudanças tecnológicas dos meios de
comunicação estão afetando de maneira complexa os tradicionais modelos de
trabalho dos profissionais da informação. Isso porque o objeto de trabalho
desses profissionais é a informação a qual tem sido afetada pelas Tecnologias
Digitais da Informação e Comunicação (TDICs), modificando seu formato, seu
suporte, seu processamento e sua disseminação, influindo diretamente na forma
de mediação entre o bibliotecário e o usuário, a ponto de provocar novas
problematizações viáveis aos processos de pesquisa.

É nesse novo modelo de atuação que os papéis educativos tanto da BU quanto


do profissional bibliotecário se destacam com relevância nesses tempos em que
o excesso de informação, principalmente no espaço virtual, traz consigo a
urgência na qualificação de indivíduos para serem capazes de identificar e
selecionar o que é relevante e, de forma segura, o que é pertinente às suas
necessidades. Muitos não sabem como desenvolver seus próprios filtros para a
seleção qualificada da informação. Sobre isso, sabe-se que “hoje em dia, o
indivíduo bem-informado é aquele que tem a competência para agregar valor à
informação recebida, transformando-a em conhecimento” (SOUSA; FUJINO,
2012, p.1780).

Diante desse contexto, evidencia-se o papel educativo dos bibliotecários


atuantes nas Bibliotecas Universitárias (BU), como facilitadores para o
desenvolvimento de habilidades digitais que permitam à comunidade acadêmica
maior autonomia diante dos desafios impostos pela sociedade contemporânea
fortemente direcionada ao uso de tecnologias. (FEIJÓ; CORRÊA, 2020).

É preciso destacar, dentro do universo da IES e do contexto da sociedade, uma


explosão informacional. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) se
tornaram importantes instrumentos para o desenvolvimento social, tecnológico e
científico, ofertando diferentes serviços que apoiam o dia a dia das pessoas, e
dentre os quais está a Educação, como afirmam Moyses; Mont’alvão e Zattar
(2019, p.6):
A mediação tecnológica na educação permitiu inovar em diferentes
dinâmicas e, especialmente, no processo de ensino-aprendizagem. No
século XXI, o modelo pedagógico está inserido em um contexto
comunicativo e interativo, tendo em vista que a internet, os dispositivos
móveis e as redes sociais digitais facilitam esse modo de se relacionar.
Com isso, as tecnologias tornaram as atividades de ensinar e de
aprender mais dinâmicas, colaborativas e inclusivas.

O bibliotecário, para acompanhar as mudanças nas práticas pedagógicas vividas


nas IES, precisa se apropriar de habilidades que o possibilitem replicar, em seus
programas de competência em informação, o que os professores estão
aplicando referente às mudanças nas práticas pedagógicas em suas aulas
dentro e fora da sala de aula. A biblioteca, assim, também passa a ser vista como
espaço educativo que fomenta a aprendizagem informacional.
Assim, pensar a educação e informação como indissociáveis,
sobretudo sendo promovidas por meio das bibliotecas universitárias,
coloca-as em um quadro amplo de múltiplas interações. Entende-se
que, nesse contexto, estão inseridos o aprendizado e a geração de
conhecimento, elementos que são construídos por meio da pesquisa e
da prática. No ensino superior, os estudantes são protagonistas na
elaboração de produtos da ciência, como os trabalhos acadêmicos,
que são o resultado final de um longo processo de interrogações,
pesquisa e construção do conhecimento. (GULKA; LUCAS, 2020, p. 7).

Diante dessas afirmações, as bibliotecas universitárias devem atuar como


espaços para o desenvolvimento de aprendizagem, possibilitando a articulação
de informações, habilidades, saberes e competências que contribuem
diretamente na formação científica e humanista dos alunos e de toda a
comunidade acadêmica.

Assim, as BUs possuem um papel imprescindível no ambiente educacional. Elas


são ferramentas extremamente importantes para desenvolver as habilidades dos
alunos enquanto pesquisadores. No momento em que tanto se fala nas novas
tecnologias que têm adentrado o contexto educacional e, consequentemente, as
bibliotecas universitárias, assim como os novos suportes informacionais, “é
natural que sintamos a necessidade de olhar com mais atenção para este ‘novo
velho usuário’ que se apresenta com várias expectativas e perspectivas
diferentes no que tange a informação” (NASCIMENTO; SANTOS, 2019, p. 25).

No que tange às características do bibliotecário, este estudo forneceu evidências


de que quase todos os participantes fizeram curso de especialização na área de
gestão e ou em educação, além de cursos de capacitação continuada e
participação em eventos da área, ampliando o seu conhecimento para além do
que viram como teoria e prática durante o curso de bacharel em biblioteconomia.
Associam-se os anos de experiência e atuação como gestores que influenciam
diretamente na procura de atualizações constantes na área de atuação e
inovação na forma de oferta de serviços e produtos de informação nas BUs,
provocando, mesmo que indiretamente, o trabalho em colaboração no cotidiano
acadêmico com outros profissionais além dos professores.

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