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Urgências Traumáticas

Gestão para Educação Permanente dos


Profissionais da Rede de Atenção às Urgências

GEPPRAU

Urgências traumáticas

Módulo 2
Tema 5 - Trauma de face

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Urgências Traumáticas

Este conteúdo foi elaborado por Thiago Rodrigues Araújo Calderan,


médico, cirurgião geral e do trauma, mestre em ciências da cirurgia e
seus direitos foram cedidos ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC),
que desenvolveu este material em parceria com o Ministério da Saúde
(MS) no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional
do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). A parceria entre o Ministério
da Saúde e as entidades de saúde portadoras do Certificado de Entidade
Beneficente de Assistência Social em Saúde (CEBAS-SAÚDE) e de
Reconhecida Excelência, a exemplo do HAOC, é regulamentada pela Lei
Federal nº 12.101, de 27 de novembro de 2009.

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Urgências Traumáticas

URGÊNCIAS
TRAUMÁTICAS
Neste material, serão apresentadas
as principais emergências na área
da cirurgia do trauma. O profissional
de saúde que atua na área terá
informações importantes sobre
anatomia, fisiologia, manejo e
principais condutas a serem tomadas
no atendimento ao traumatizado.

Tema 5
Trauma de face

Objetivos de
aprendizagem
• Conhecer a anatomia da face.
• Saber como proceder à avaliação de
um paciente com trauma de face.
• Conhecer a forma de investigação
de trauma de face.
• Conhecer a classificação das
fraturas de face.
• Conhecer as urgências em trauma
de face e como proceder em cada
uma delas.

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Urgências Traumáticas
Sumário

Trauma de face 5

1. Introdução.......................................................................................... 6
2. Anatomia............................................................................................ 7
2.1. Ossos da face............................................................................... 7
2.2. Pares cranianos............................................................................ 8
2.3. Relação com vias aéreas................................................................ 9
3. Avaliação.......................................................................................... 10
4. Investigação..................................................................................... 11
4.1. Radiografia de ossos da face......................................................... 11
4.2. Tomografia computadorizada (TC)................................................. 12
5. Classificação..................................................................................... 13
6. Urgências em trauma de face.............................................................. 13
6.1. Lesão da pálpebra....................................................................... 13
6.2. Sangramento.............................................................................. 14
6.3. Fraturas da órbita....................................................................... 15
6.4. Luxação da mandíbula................................................................. 16
6.5. Acometimento de nervos.............................................................. 16

Síntese................................................................................................ 18
Referências bibliográficas....................................................................... 19

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Trauma
de face

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1. Introdução

O trauma de face, na maioria das vezes, está associado a outros traumas,


porém apresenta aspectos específicos que merecem atenção, com a fi-
nalidade de diminuir sequelas funcionais e estéticas.
Esse tipo de trauma costuma ocorrer em eventos relacionados ao trânsito, à
prática esportiva (como em lutas de boxe e jogos de rúgbi) e, frequentemen-
te, à violência interpessoal, em cerca de 18,6 a 48,1% dos casos.
As lesões de face podem ocorrer no tecido mole devido a lacerações, abrasões
e ferimentos corto-contusos, ou no arcabouço ósseo em função de fraturas.

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2. Anatomia
É importante conhecer a anatomia dos ossos da face e dos pares de nervos cra-
nianos que a inervam, bem como entender o contexto anatômico relacionado às
vias aéreas e à base do crânio.

2.1. Ossos da face


Os ossos da face são aqueles que compõem o crânio, como os ossos frontal,
temporal, esfenoide, nasal, maxilar e zigomático, além da mandíbula.

Osso frontal

Osso parietal

Osso temporal

Osso esfenoide

Osso lacrimal
Osso
zigomático

Osso nasal
Maxila

Vomer

Mandíbula

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2.2. Pares cranianos


Uma fratura de face pode acometer os nervos com lesões parciais ou completas.
Os principais pares cranianos que fazem trajeto na face são os nervo oculomo-
tor (terceiro par), troclear (quarto par), trigêmeo (quinto par), abducente
(sexto par), facial (sétimo par) e vestibulococlear (oitavo par).

Pares de nervos Tipo Função

Movimento dos mús-


III – oculomotor Motor culos da pálpebra e do
globo ocular Nervo oculomotor
(III par)

Movimento dos mús-


IV – troclear Motor
culos do globo ocular
Nervo troclear
(IV par)

Divisão
Oftálmica
Percepção da face e Divisão Nervo
V – trigêmeo Misto boca e movimento da maxilar trigêmeo

bochecha Divisão
mandibular

Movimento do globo
VI – abducente Motor
ocular
Nervo Abducente
(VI par)

Sentido do paladar e
movimento dos mús-
VII – facial Misto
culos da face e das
glândulas salivares
Nervo vestibulococlear
(VIII par)

VIII – vestibulococlear Sensorial Audição e equilíbrio

Anotações:

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2.3. Relação com vias aéreas


Os ossos da face têm correlação direta com as vias aéreas. Por isso, é im-
portante conhecer a anatomia das vias aéreas, já que uma eventual lesão pode
comprometê-las e gerar obstrução. A maxila forma o palato na parte interna da
boca, e a mandíbula forma o assoalho da boca.

Maxila

Mandíbula

Anotações:

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3. Avaliação
A avaliação do trauma de face deve adotar os mesmos princípios de todo
atendimento ao traumatizado, seguindo a sequência do “ABCDE”.
O trauma de face pode resultar em problemas de vias aéreas (“A”) pela des-
truição do arcabouço ósseo, com consequente impossibilidade da entrada ade-
quada de ar, ou, em decorrência das fraturas, originar intenso sangramento que
dificulta a entrada de ar.
Em ambas as condições, está indicada a proteção de vias aéreas com via aé-
rea definitiva. Deve-se tentar a intubação orotraqueal ou nasotraqueal. Se isso
não for possível, deve-se indicar brevemente a realização de cricotireoidostomia
cirúrgica.
Além de possíveis problemas nas vias aéreas, o trauma de face pode ser foco
de instabilidade hemodinâmica através de profuso sangramento do couro
cabeludo e dos vasos da face (“C”). Deve ser tratado conforme protocolo de
reanimação e tentar cessar a hemorragia.
Alguns traumas de face podem estar associados a outras lesões cranianas e
intracranianas. É importante descartar a possibilidade de traumatismo cra-
nioencefálico (TCE) (“D”).
Na avaliação secundária, deve-se realizar exames minuciosos dos ór-
gãos localizados na face, como exame ocular, incluindo avaliação de acuidade,
motricidade e características da visão; exame da orelha, incluindo otoscopia;
exame do nariz, incluindo avaliação especular; e exame da cavidade oral, in-
cluindo dentição e mordida.

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4. Investigação
A investigação do trauma de face é feita com métodos de imagem. A to-
mografia computadorizada (TC) tem substituído as radiografias, por mostrar
melhor as lesões e realizar uma reconstrução, que permite o planejamento do
tratamento. Porém, nem todos os centros possuem TC. Nesses casos, pode-se
realizar as incidências de radiografias de face para identificar eventuais fratu-
ras.

4.1. Radiografia de ossos da face


As incidências a serem consideradas são:
Incidência Imagem O que avalia

Caldwell Região frontal, nasal e órbita

Waters Maxila, seios maxilares, órbita e ossos do nariz

Hirtz Arco zigomático

Towne Côndilos

Perfil da face Fratura nasal e mandíbula

* Fonte: Centro de Simulação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp - acervo pessoal 2017.

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4.2. Tomografia computadorizada (TC)

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5. Classificação
Existem diversos tipos de fraturas de face, porém as maxilofaciais são classi-
ficadas por Le Fort em I a III, conforme a tabela abaixo.

Le Fort I Envolve a maxila, separando-a do palato.

Le Fort II Piramidal. Envolve os ossos nasais e a órbita.


Disjunção craniofacial. Envolve as suturas zigomaticofrontal, maxilofrontal e
Le Fort III
nasofrontal, e os assoalhos da órbita (etmoide e esfenoide).

6. Urgências em trauma de face


A maioria das fraturas de face são tratadas alguns dias após o trauma devido à
necessidade de diminuição do edema para uma adequada reconstrução, porém
há situações que são consideradas urgentes.

6.1. Lesão da pálpebra


A sutura da pálpebra deve ser cui-
dadosa para evitar retrações que
podem levar à exposição do globo
ocular quando a pálpebra estiver fe-
chada e ao comprometimento da lu-
brificação e drenagem do olho atra-
vés do ducto lacrimal.

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6.2. Sangramento
A face possui uma rica rede de vasos sanguíneos que promovem a sua irrigação.
A principal causa de sangramento em trauma de face são lesões do couro cabe-
ludo, porém algumas fraturas podem envolver lesão de artéria.

Artéria temporal
superficial

Artéria maxilar

Artéria occipital

Artéria carótida
interna

Artéria facial

Artéria carótida
externa

Artéria lingual

Artéria
vertebral

Artéria
Artéria carótida
subclávia
comum

Anotações:

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Em alguns casos, o sangramento


é intenso e pode ser necessário o
tamponamento nasal anterior e/
ou posterior para auxiliar a ces-
sá-lo.
Em outros casos, o sangramen-
to pode ocorrer posteriormente,
para a orofaringe, e gerar obs-
trução das vias aéreas. Pode ser
necessária a realização de via
aérea definitiva.

6.3. Fraturas da órbita


A órbita é formada por sete ossos e, como algumas fraturas podem comprome-
ter a visão, deve ser avaliada adequadamente toda a dinâmica ocular através da
motricidade e acuidade visual.
O local mais frequentemente acometido em fraturas de órbita é o forame infraor-
bitário, um local de maior fragilidade. Isso pode levar à lesão do nervo infraorbi-
tário com sintoma de parestesia (formigamento).
É indicativo de cirurgia de urgência quando houver:
• diplopia (visão dupla);
• fratura extensa que pode originar enoftalmia (entrada do olho);
• enoftalmia ou exoftalmia;
• déficit da acuidade visual por aprisionamento do nervo óptico no canal óptico;
• fraturas do tipo blow-in – fraturas que ocorrem nas paredes laterais ou me-
diais da órbita, reduzindo o volume desta e com consequente aumento da
pressão intraorbital;
• fraturas do tipo blow-out – fraturas que decorrem de trauma sobre rebordo,
globo ocular e tecidos moles da órbita (por exemplo, um soco), com conse-
quente aumento súbito da pressão intraorbital.

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6.4. Luxação da mandíbula

A luxação da mandíbula é uma condição em que há deslocamento do côndilo


em relação à sua articulação. Trata-se de uma condição dolorosa que deve ser
reduzida assim que diagnosticada, pois pode originar distúrbios de mastigação.

6.5. Acometimento de nervos


Uma fratura de face pode gerar lesão completa ou parcial ou aprisionamento de
um nervo periférico. Inicialmente, o edema decorrente do trauma não permitirá
uma avaliação adequada, porém, assim que possível, deve ser avaliada a função
desses nervos para evitar sequelas posteriores com déficits ou nevralgias (dores
em trajetos).

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Anotações:

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Síntese
Neste tema você viu que o trauma de face é uma condição que pode com-
prometer a perviedade das vias aéreas e originar o choque. A sua identifica-
ção é importante para minimizar o risco de complicações e sequelas funcio-
nais e/ou estéticas.
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Referências bibliográficas
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