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GEPPRAU
Urgências traumáticas
Módulo 2
Tema 4
Traumatismo cranioencefálico – TCE
1
Urgências Traumáticas
2
Urgências Traumáticas
URGÊNCIAS
TRAUMÁTICAS
Neste material, serão apresentadas as
principais emergências na área da cirurgia
do trauma. O profissional de saúde que
atua na área terá informações importantes
sobre anatomia, fisiologia, manejo e
principais condutas a serem tomadas no
atendimento ao traumatizado.
Tema 4
Traumatismo cranioencefálico – TCE
Objetivos de
aprendizagem
• Conhecer a epidemiologia do TCE.
• Compreender a anatomia do sistema
nervoso central.
• Conhecer a fisiologia do sistema nervoso
central.
• Entender a fisiopatologia do TCE.
• Identificar aspectos da avaliação do TCE.
• Saber como proceder à investigação do TCE.
Síntese...............................................................................................38
Referências bibliográficas...................................................................... 39
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Trauma
cranioencefálico – TCE
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1. Introdução
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2. Anatomia
Externamente ao osso, há o couro cabeludo, formado por cinco camadas:
1. couro cabeludo;
2. tecido subcutâneo;
3. gálea aponeurótica;
4. tecido areolar frouxo;
5. pericrânio.
Anotações:
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Osso parietal
Osso temporal
Osso esfenoide
Osso lacrimal
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Entre os ossos cranianos, há as suturas. Nas crianças de até dois anos de idade,
as suturas não estão completamente fechadas, formando duas bossas princi-
pais, uma anterior e outra posterior, denominadas fontanelas.
Crânio de um recém-nascido
Fontanela anterior
OSSO FRONTAL
OSSO PARIETAL
Fontanela esfenoidal
Fontanela posterior
OSSO OCCIPITAL
Osso temporal
Fontanela mastóidea
OSSO PARIETAL
Sutura frontal
Fontanela posterior
OSSO OCCIPITAL
Fontanela anterior
Sutura sagital
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A base do crânio é formada por ossos com formato irregular e conta com a
presença de forames (orifícios), por onde saem os nervos cranianos e vasos
sanguíneos. Esse assoalho craniano é dividido em fossas cranianas anterior,
média e posterior.
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As fossas anterior e média são separadas da fossa posterior pela tenda do cere-
belo. Em sua margem, percorre o terceiro par de nervos cranianos (nervo
oculomotor).
Oblíquo inferior
Reto inferior
Reto medial
Nervo oculomotor
(terceiro par)
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Meninges
Face periosteal
Dura-máter
Face meníngea
Vilosidade
aracnóidea
Espaço subdural
Aracnoide
Espaço
subaracnóideo
Pia-máter
Substância
cinzenta
Substância Cérebro
Vasos sanguíneos branca
Foice do cérebro
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Lobo límbico
Corpo
caloso Sulco Parieto-
occipital
Lobo
Tálamo occipital
Glândula
pineal
Hipotálamo
Quiasma
Quarto
óptico
Ponte ventrículo
Lobo temporal Cerebelo
Corpo mamilar
Medula oblonga
Anotações:
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Polígono de Willis
Artéria cerebral
média
Artéria
carótida interna
Artéria comunicante
posterior
Artéria cerebral
posterior
Artérias pontinas
Artéria basilar
Artéria vertebral
Artéria espinhal anterior
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dendritos
axônio
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3. Fisiologia
O sistema nervoso é responsável por receber, transmitir, produzir e armazenar
informações provenientes do meio externo e dos órgãos internos através de es-
tímulos.
Os neurônios são as células do sistema nervoso responsáveis pela recepção e
transmissão desses estímulos através de impulsos nervosos.
Os neurônios podem ser sensitivos ou motores, e levam o impulso nervoso
através dos axônios até outro neurônio ou a uma célula executora da função.
Para a produção de energia necessária para o funcionamento dos neurônios,
deve haver a presença de glicose e obrigatoriamente de oxigênio, ou seja, o
funcionamento cerebral ocorre em meio aeróbico exclusivo.
Fórmula:
PPC = PAM - PIC
Uma PPC ideal deve ser em torno de 60-65 mmHg.
As pressões dos compartimentos do paciente variam, dentro da faixa de norma-
lidade, entre 10 e 15 mmHg.
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4. Fisiopatologia
O crânio é uma estrutura não expansível que contém alguns componen-
tes em volume estável:
• cérebro;
• sangue venoso;
• sangue arterial;
• líquor.
O aumento do volume de algum desses componentes ou o surgimento de
alguma massa resulta em compensação, inicialmente com a diminuição da
quantidade de algum outro componente, conforme a doutrina de Monro-Kellie.
Esse efeito de massa pode ocorrer, no contexto de trauma, por edema cerebral
ou surgimento de hematoma, por exemplo.
Os mecanismos compensatórios iniciais são:
• o deslocamento do líquor do compartimento intracraniano para o comparti-
mento intratecal;
• o deslocamento do sangue venoso para as veias jugulares;
• e o deslocamento do sangue arterial para o sistema carotídeo interno.
Porém, a persistência do efeito de massa, além dos mecanismos de compensa-
ção, faz com que o cérebro seja forçado a sair, herniando.
Doutrina de Monro-Kellie
Volume Volume
Encéfalo LCR
venoso arterial
Volume Volume
Encéfalo Massa LCR
venoso arterial
Volume
Encéfalo Massa LCR
arterial
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Hérnia de úncus
Foice do cérebro
Ventrículo lateral
Massa supratentorial
Úncus
Tenda do cerebelo
Anisocoria
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5. Avaliação
A avaliação do paciente com TCE respeita os mesmos princípios do atendimento
de qualquer vítima de trauma, seguindo a diretriz “ABCDE”.
Os achados da biomecânica do trauma a seguir podem auxiliar a suspeitar de
lesões intracranianas.
• “Olho de boi”, a marca no para-brisa do carro em forma estrelada, decorrente
da projeção da cabeça em direção ao para-brisa quando o indivíduo não está
usando o cinto de segurança.
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Entre os princípios dessa avaliação, todo paciente vítima de TCE deve receber
medidas com o objetivo de evitar lesão secundária. Por isso, é necessário ao
paciente:
• ser submetido à via aérea definitiva se estiver inconsciente/comatoso, já
que esses pacientes não conseguem manter as vias aéreas pérvias;
• ser ofertado oxigênio (lembrando que o cérebro só funciona em metabolis-
mo aeróbico);
• ser mantida a normovolemia. O TCE não origina choque hipovolêmico,
visto que não há como caber volume suficiente dentro da caixa craniana
sem herniação cerebral. O choque, quando presente, é originado em outro
local e deve ser tratado agressivamente para manter a PPC através de uma
adequada PAM.
O exame neurológico é avaliado na letra “D” do atendimento inicial e consiste
em avaliar a pupila, a escala de coma de Glasgow (ECG) e a presença de
sinais localizatórios.
Anisocoria
A presença de assimetria entre as reativi-
dades pupilares é denominada anisocoria.
A presença de anisocoria denota gravidade,
já que representa a possibilidade de her-
niação cerebral. Não há como um pacien-
te apresentar anisocoria e estar consciente
Fonte: Faculdade de Ciências Médicas da Uni- e orientado, tendo que, nesses casos, ser
camp - acervo pessoal 2017.
descartado o trauma ocular direto.
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Avaliação Escore
Abertura ocular
Espontânea 4
Estímulo verbal 3
Estímulo doloroso 2
Ausente 1
Resposta verbal
Orientado 5
Confuso 4
Palavras inapropriadas 3
Sons incompreensíveis 2
Ausente 1
Resposta motora
Obedece a comandos 6
Localiza dor 5
Flexão normal (retirada) 4
Flexão anormal (decorticação) 3
Extensão (descerebração) 2
Ausente 1
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6. Investigação
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7. Classificação
O TCE pode ser classificado quanto ao mecanismo de lesão, à gravidade e à
morfologia da lesão apresentada.
Fechado
Mecanismo de lesão
Penetrante
Fraturas de crânio
Hematoma epidural
Hematoma subdural
Morfologia da lesão
Contusão intracerebral (intraparenquimatosa)
Hemorragia subaracnóidea
Concussão
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Anotações:
25
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Osso
temporal
Ductos semicirculares
Nervo vestibular
Nervo
coclear
Cóclea
Canal auditivo
Anotações:
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7.6. Concussão
A concussão decorre de um quadro de “chacoalhar” do cérebro, que colide
com a calota craniana. O paciente pode apresentar amnésia, falar repetida-
mente e não ter lesões graves à tomografia.
Entre as lesões decorrentes da concussão, está a lesão axonal difusa (LAD),
uma lesão dos axônios dos neurônios. Pela localização na substância branca, é
difícil confirmar por tomografia, que pode apresentar pequenos focos hemorrá-
gicos. A confirmação seria por ressonância magnética, mas não há indicação de
realizar rotineiramente por não mudar a conduta.
Ruptura do axônio
Osso
Substância
cinzenta
Substância
branca
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Anotações:
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8. Tratamento
O tratamento inicial do paciente com TCE consiste na manutenção dos sinais
vitais através de uma adequada reanimação, mantendo oxigenação e perfusão
cerebral. Tais medidas devem ser adotadas para todos os pacientes, indepen-
dentemente da gravidade, a fim de não agravar a lesão presente, prevenindo
uma lesão secundária.
Nos traumatismos leves (ECG 14 ou 15), o paciente pode ser observado por
12 a 24 horas se estiver completamente assintomático, acordado, alerta e neu-
rologicamente normal, sem realização de tomografia de crânio.
Nos traumatismos moderados (ECG 9 a 13), deve ser repetida a tomografia
em 24 horas, mesmo se a TC inicial se mostrar normal.
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9. Neuromonitorização
Em um paciente com TCE, há diversas medidas que devem ser adotadas para
monitorização, a fim de não agravar a lesão e identificar a degeneração aguda,
mesmo nos pacientes submetidos a intervenção cirúrgica.
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O conceito de morte envolve diversas condições que podem dificultar a real com-
preensão do quadro apresentado. Segundo o dicionário, morte é a interrupção
definitiva da vida de um organismo.
Porém, com o avanço do conhecimento, notou-se que existe uma condição ir-
reversível em que o cérebro não funciona mais, incluindo todas as funções do
tronco cerebral. Essa condição foi denominada morte encefálica (ME).
Para ocorrer um quadro de ME, é necessária alguma situação que gere destrui-
ção definitiva das células neuronais, através de um quadro de associação de au-
mento da pressão intracraniana com hipóxia do tecido cerebral. O traumatismo
craniano é uma das condições que leva a esse quadro.
Protocolo ME
Um paciente entra no protocolo de ME quando apresentar coma, sem
uso de medicações depressoras do sistema nervoso central (SNC).
Cada medicamento sedativo tem um determinado tempo para ser completa-
mente eliminado do organismo. Por isso, deve-se esperar esse tempo para se
considerar abertura do protocolo.
Além disso, o paciente não pode estar hipotérmico, já que a baixa tempera-
tura por si só já reduz o metabolismo cerebral.
Após o tempo de metabolização das drogas depressoras do SNC e o paciente
sem hipotermia, são realizadas duas avaliações clínicas por médicos diferen-
tes com intervalo de tempo entre eles, conforme a idade do paciente (quadro
abaixo). Essa avaliação clínica é um exame neurológico minucioso em que são
avaliadas diversas funções do SNC, principalmente do tronco cerebral.
Idade Intervalo
Após a realização dos exames clínicos, com achado positivo para ME, ou seja,
ausência de funcionamento do SNC, deve ser realizado um exame complemen-
tar confirmatório.
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Exame neurológico
O exame neurológico consiste na confirmação do coma aperceptivo (ausência de
resposta à dor) e da ausência de reflexos de tronco e de movimentos respirató-
rios aparentes.
1. Coma aperceptivo
3. Reflexo corneopalpebral
4. Reflexo oculocefálico
5. Reflexo vestibulocalórico
6. Reflexo de tosse
7. Teste de apneia
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Exames complementares
Exames disponíveis
Angiografia
Cintilografia radioisotópica
PET
Atividade metabólica cerebral
Extração de oxigênio
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Anotações:
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Síntese
O traumatismo craniano é uma das condições em trauma que merece atenção,
desde o reconhecimento dos sinais no atendimento pré-hospitalar para levan-
tar suspeitas de lesão, bem como dos achados clínicos à avaliação. Conhecer
a anatomia com os achados tomográficos é imprescindível para o diagnóstico
e tratamentos das lesões, bem como saber quais os cuidados que devemos ter
para um melhor prognóstico.
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Urgências Traumáticas
Referências bibliográficas
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