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Apresentação
Nesta aula, conheceremos os exames realizados para a avaliação óssea da cabeça, nas regiões conhecidas como crânio
neural e visceral, bem como as rotinas básicas mais recorrentes em serviços de emergência e ortopedia.
Aprenderemos a reconhecer estruturas anatômicas importantes em radiografias com aspecto normal e a identificar
padrões típicos em patologias mais recorrentes. Para tanto, é fundamental revisar a anatomia craniana, pois essa região é
complexa, repleta de ossos irregulares e acidentes anatômicos de difícil caracterização.
Embora grande parte das patologias seja efetivamente diagnosticada por exames de alta complexidade, como a
ressonância magnética (RM) e a tomografia computadorizada (TC), utilizaremos as radiografias como padrão de
interpretação radiológica, pois essas imagens mostram os primeiros indícios que sugerem a necessidade de exames
adicionais.
Objetivos
Identificar as principais estruturas anatômicas de interesse;
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Crânio neural
Crânio visceral
Diagrama anatômico representando os ossos cranianos e faciais. | Fonte: BONTRAGER, 2015, p. 368.
As incidências radiográficas são diversas, pois variam em razão do que precisa ser observado. Nos exames do crânio neural, as
indicações, geralmente, são traumáticas. Fraturas são observadas para avaliar suspeitas de lesões mais graves, tais como:
Traumatismo craniano encefálico (TCE), para o qual deve ser requerida avaliação por TC ou RM;
Fraturas por projétil de armas de fogo (PAF), que podem ser avaliadas in vivo ou post mortem.
Outras lesões, como tumores ósseos ou hematomas epidurais, mais bem caracterizadas por
exames de TC e RM;
Luxação ou distúrbios na articulação temporomandibular (ATM);
Processos infecciosos, como osteomielite ou sinusite, sendo esta última a mais comum.
Anatomia radiográfica do crânio neural
O crânio neural, cuja principal função é dar suporte e proteger a estrutura encefálica, é composto de 8 ossos:
1 frontal;
2 parietais;
2 temporais;
1 occipital;
1 esfenoide;
1 etmoide.
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por frontal (anterior), parietais (látero- um assoalho para acomodar o encéfalo. É
superiores) e occipital (póstero-inferior). O composta de temporais (látero-inferiores),
occipital também tem função de suporte, esfenoide (médio-inferior) e etmoide
pois aloja o cerebelo, ponte, bulbo e a saída (médio-anterior).
medular por uma estrutura chamada
forame magno.
Fonte: Radiopaedia, 2019.
PA (0º)
Fonte: Radiopaedia, 2019.
PA axial (método de Caldwell)
Fonte: Bontrager, 2015.
Lateral
Fonte: Radiopaedia, 2019.
A sela túrcica do crânio neural
O esfenoide é um dos principais ossos da base do crânio, juntamente com os ossos temporais. Uma de suas estruturas
estratégicas é a sela túrcica (ou sela turca), responsável por alojar e proteger a hipófise ou glândula pituitária, uma das mais
importantes do corpo humano. Abaixo da sela turca localiza-se o seio esfenoidal.
O nome de sela turca foi atribuído em razão de seu formato selar, em que a glândula se encaixa em uma pequena fossa (dorso
da sela) com elevações ósseas anteriores e posteriores (processos clinoides), como você pode notar comparando as imagens
a seguir.
Na primeira imagem, uma sela Em seguida, reveja a imagem Compare a sela túrcica saudável
árabe usada para montaria. padrão em perfil do crânio (corte com o padrão em J, aspecto
ampliado). típico em lesões císticas na
hipófise.
Radiografia de crânio, incidência lateral, paciente pediátrico. Fonte: Radiopaedia,
2019.
TC de crânio com janela óssea. Paciente vítima de acidente de trânsito. | Fonte:
Radiopaedia, 2019.
Radiografia do crânio de um ex-combatente com mais de dez fragmentos na região da cabeça. A tomografia evidenciou praticamente um estilhaço por corte. Note, na imagem, o
estilhaço brilhante junto ao nervo óptico, próximo ao osso zigomático. | Fonte: Radiopaedia, 2019.
Hematomas intracranianos
São visualizados na cavidade craniana como grandes massas:
Quando esses hematomas não se apresentam como grandes bolhas, mas como finas camadas de sangue dentro das
meninges, a visualização é possível apenas por cortes axiais de TC ou RM. Hematomas geralmente são epidurais, subdurais ou
extradurais. No entanto, a diferença entre eles é vista somente nos cortes axiais.
2. Os osteossarcomas são lesões produzidas por células osteogênicas dentro da matriz óssea. Como as células cancerígenas
produzem uma matriz óssea menos rígida que a normal, o aspecto radiográfico das lesões é mais radiolucente, as são massas
isodensas ou hipodensas, produzindo lesão osteolítica ou esclerótica periférica à região necrosada do tecido cerebral e
descontinuidade nas regiões periosteais.
Sciencecentral, 2019.
Doença de Paget
Os tumores podem ser secundários a doenças crônicas de ordem endócrina ou metabólica. Neste caso, por causa do
desequilíbrio metabólico na atividade de osteoblastos e osteoclastos, há produção descontrolada de matriz óssea nova sobre
tecido ósseo velho.
O aspecto radiográfico mais comum é o padrão algodão
doce na região periosteal (díploe), principalmente de ossos
longos e ossos cranianos. É comum observarmos regiões
de trabeculação grosseira, com excesso de massa óssea, e
outras com padrão mais osteolítico, dada a má distribuição
da matriz óssea nova. O osteossarcoma se aproveita
dessas falhas para se instalar juntamente às zonas
osteolíticas.
Anatomia radiográfica do crânio visceral
São 14 ossos, dos quais apenas dois são solitários: mandíbula (queixo e arcada dentária inferior) e vômer (parte do septo
nasal). Todos os outros se apresentam em pares:
2 nasais;
2 lacrimais;
2 conchas nasais;
2 maxilares;
2 zigomáticos;
2 palatinos.
As incidências padrão para avaliar os ossos da face são póstero-anterior (PA) e lateral. Entretanto, dependendo do osso a ser
avaliado, podem ser requeridos exames específicos. Um desses casos é a mandíbula, que tem rotina radiográfica própria para
avaliação da articulação temporomandibular (ATM).
Atenção
Também é possível ter um bom panorama para o estudo dos ossos faciais com a rotina básica, que, em geral, evidencia fraturas,
processos neoplásicos ou infecciosos (seios paranasais).
Anatomia radiográfica dos seios paranasais
Os seios paranasais são cavidades ocas dentro dos ossos da cabeça, e podem ser classificados em:
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Maxilares Frontais
Mais superficiais, são os únicos localizados na face, e Também são mais superficiais e também contam com
contam com apenas uma fina camada óssea sobre a apenas uma fina camada óssea sobre a cavidade;
cavidade;
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Esfenoidais Etmoidais
Localizados no crânio, no meio do osso esfenoide, são mais Também localizados no crânio, são divididos em várias
internos; cavidades aglomeradas, chamadas células etmoidais.
Anatomicamente, os seios frontais e maxilares aparecem sem sobreposição. Por sua vez, seios etmoidais e esfenoidal
aparecem sobrepostos, sendo os etmoidais anteriores aos esfenoidais.
Todas essas cavidades sinusais se intercomunicam por um
sistema de escoamento chamado complexo ostiomeatal,
que drena o muco produzido de todas as cavidades sinusais
para os orifícios nasais. A grande questão é o processo de
inflamação do muco entra. O líquido torna-se mais denso,
viscoso e supuroso, dificultando a passagem pelos ductos e
cavidades. Quando o processo inflamatório deflagra focos
de infecção, o quadro é denominado sinusite.
Radiografia de face, incidência em PA (Waters). Paciente de 40 anos com queixas de
dores faciais no lado direito e cefaleia. Perceba o velamento inferior no seio maxilar
direito, padrão radiográfico típico para sinusite aguda. | Fonte: Radiopaedia, 2019.
TC para seios paranasais com legenda de cores: frontal em vermelho, esfenoide em verde, células etmoidais em azul e maxilares em magenta. Fonte: Radiopaedia, 2019.
Até os seis anos de idade, os seios paranasais ainda não estão desenvolvidos, e amadurecem até o período da adolescência.
Logo, em exames pediátricos, não é possível observá-los em todos os pacientes. Nas radiografias para avaliação dos seios
paranasais, as cavidades sinusais são vistas com dificuldade por causa da sobreposição de estruturas dos ossos do crânio
sobre elas. Como são cavidades aéreas, espera-se que a imagem dos seios paranasais seja formada por tons radiolucentes.
Tonalidades mais claras ou com perda de nitidez interna podem sugerir alteração do líquido sinusal.
O exame é realizado com três incidências básicas: PA (Caldwell), lateral e AP (Waters), específicas para verificar a profundidade
dos seios maxilares e para avaliar os seios etmoidais sem sobreposição com o seio esfenoidal. Neste exame é realizada a
angulação da cabeça com o queixo tocando a estativa/Bucky.
1. Nesta radiografia, seios frontal e maxilares são vistos perfeitamente. Os seios esfenoidais são cobertos pelas células
etmoidais, que não são bem visualizadas em razão disso.
A incidência pelo método de Caldwell é utilizada para que a pirâmide petrosa fique posicionada no terço inferior das órbitas e
não obstrua a visualização das células etmoidais.
O seio frontal é visto de frente e a crista etmoidal geralmente parece dividi-lo. Pode apresentar um ou dois ramos e costuma ser
maior em homens. Os seios maxilares aparecem laterais à abertura piriforme.
Fonte: Wikimedia, 2019
2. Nesta radiografia, todas as cavidades sinusais são vistas perfeitamente. Apenas o seio maxilar direito aparece sobreposto ao
esquerdo, uma vez que são anatomicamente justapostos. As cavidades são visualizadas em sua profundidade, pois essa é a
principal aplicação das incidências laterais.
O seio esfenoide aparece posterior às células etmoidais, e o seio frontal (cavidade bem rasa) é visto em posição superior às
células etmoidais. Os seios maxilares são os mais profundos, fazendo limite com a cavidade faríngea.
Fonte: Wikimedia, 2019
3. Nesta radiografia, é possível avaliar a profundidade dos seios frontais e maxilares devido à vista axial produzida.
Outra vantagem desse exame é a possibilidade de avaliar os seios etmoide e esfenoide sem sobreposição. Nesse caso, as
células etmoidais aparecem exatamente dentro das cavidades nasais e o seio esfenoidal pode ser visto logo abaixo dela.
Para visualizá-lo, é preciso realizar uma variação do exame, solicitando que o paciente mantenha a boca aberta. Isso é feito
para que a mandíbula não se sobreponha ao seio esfenoidal.
Anatomicamente, é um osso duplo que sofre processo de fusionamento em seu desenvolvimento. Cada uma das partes é
chamada ramo mandibular. Juntas, formam uma articulação imóvel chamada sínfise mandibular. Nas extremidades, existem
cabeças revestidas medialmente por processos condiloides que encaixam em uma cavidade no osso temporal. Essa conexão
é denominada articulação temporomandibular (ATM). Como em qualquer articulação sinovial, traumas de alta energia podem
lesionar o ATM com fraturas ou luxações.
A rotina básica para mandíbula é formada pelas incidências AP axial (Towne) e lateral. Veja as imagens a seguir e perceba a
arcada superior alinhada com a anterior e o encaixe do ATM sobreposto à pirâmide petrosa no perfil, que são sinais típicos de
uma radiografia de aspecto padrão para avaliação da mandíbula.
Rotina básica para mandíbula, incidências AP axial (Towne) e lateral. Fonte: Radiopaedia, 2019.
Observe os traumas mais comuns na mandíbula e na ATM, que são as fraturas e luxações.
1. Na primeira radiografia, podemos ver a fratura com luxação no ramo esquerdo da mandíbula, evidenciada pelo
desalinhamento da arcada dentária inferior com a superior. Note também o aumento da opacidade no tecido mole adjacente e
a fratura cominutiva na região parasinfisária direita;
2. A imagem seguinte diz respeito a um paciente que sofreu lesão após um procedimento dentário. Perceba o desalinhamento
da mandíbula na arcada inferior direita, típico de luxação;
3. Na última imagem, você pode ver uma lesão corrigida após procedimento de redução no ATM.
Na primeira imagem, uma lesão decorrente de golpe no queixo. Em seguida, uma lesão após um procedimento odontológico. Fonte: Radiopaedia, 2019.
Atividade
1 - O neurocrânio é composto de oito ossos, dos quais apenas dois são únicos, solitários: o esfenoide e o etmoide. Em quantas
partes o neurocrânio é dividido? Qual a função de cada uma das partes? Quais ossos foram cada uma delas?
2 - Observe a figura a seguir, que representa uma cabeça com vista em perfil, e informe o nome da estrutura ou do osso
correspondente a cada letra, bem como sua posição anatômica.
Fonte: adaptado de Bontrager, 2015, p. 408.
3 - Observe a imagem a seguir e responda:
Fonte: Radiopaedia, 2019.
04 - A sela túrcica é uma estrutura anatômica do esfenoide, cuja função é alojar e proteger a hipófise. Na radiografia, a sela
túrcica tem um formato de U no padrão radiográfico. Quanto ao padrão radiográfico em J, assinale a opção correta sobre o tipo
de lesão.
Fonte: //gamuts.isradiology.org/data/images/ID1806.htm
Notas
Referências
BONTRAGER, K. L; LAMPIGNANO, J. Tratado de posicionamento radiográfico e anatomia associada. 8. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2015.
DAFFNER, RH. Radiologia clínica básica. 3. ed. São Paulo: Manole, 2003.GREENSPAN, A; BELTRAN, J. Radiologia ortopédica:
uma abordagem prática. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
GREENSPAN, A; BELTRAN, J. Radiologia ortopédica: uma abordagem prática. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
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