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Introdução à Engenharia

de Segurança do Trabalho

Rosivany Gomes
Unidade 1
Unidade 1| Introdução
A segurança do trabalho é hoje uma
atividade multidisciplinar que engloba um
conjunto de normas e procedimentos
preventivos que tem como finalidade
antecipar, reconhecer e avaliar os riscos
existentes no ambiente ocupacional. A
história do prevencionismo vem
percorrendo uma longa estrada e tem
Figura 1 - Segurança do trabalho
como principal objetivo a prevenção de Fonte: pixabay
acidentes, doenças ocupacionais e doenças
do trabalho.
Unidade 1| Objetivos
1. Descrever a evolução da Engenharia de Segurança do Trabalho.
2. Conhecer os aspectos econômicos, políticos e sociais que norteiam o
prevencionismo.
3. Discernir a história do prevencionismo no Brasil e no mundo.
4. Diferenciar os aspectos da segurança de trabalho nas entidades públicas
e privadas e o trabalho do SESMT.
1. Evolução da engenharia de segurança
Podemos chamar de trabalhadores todos
os seres humanos, homens e mulheres
que exercem uma atividade que tenha
por finalidade o seu sustento, estando
inseridos no mercado de trabalho por
meio de uma relação contratual; que
pode ser formal, quando o trabalhador
tem um contrato de trabalho registrado
mediante carteira de trabalho pela
Figura 2 – Pré-história
consolidação das leis do trabalho (CLT) ou Fonte: pixabay
estatutário, quando seu contrato é
registrado em uma entidade pública.
A relação do homem com o trabalho pode ser encontrada na história da
humanidade de forma muito marcante em seus acontecimentos e em suas
mudanças, tanto nas relações sociais entre os homens como na relação do
homem com o meio.
A relação do homem com o meio é um importante registro da evolução da
humanidade. Por isso, Walter Bazzo (2006) analisa o desenvolvimento das
relações humanas.
Na pré-história, o homem apresenta uma relação extrativista com o meio e
sua energia é consumida no trabalho de retirar do ambiente o fruto de sua
sobrevivência. Ele precisava ir em busca da caça, do alimento, do abrigo
estando exposto a diferentes situações de risco e vulnerabilidade. Ainda na
pré-história, no período Neolítico, o homem começa a busca por PROTEÇÃO,
por mais SEGURANÇA em relação ao meio com o qual ele interage.
Essa busca o leva a desenvolver habilidades em talhar a pedra e
posteriormente os metais para fabricar suas armas de caça e de proteção. É
também nesse momento histórico que o homem trabalha na terra,
cultivando, domesticando animais e produzindo alimentos e se tornam
sedentários, formando pequenos grupos familiares com o mesmo objetivo
(SILVA, 2019).
Podemos ver nesse momento que o trabalho para o homem é uma relação dele
com o meio e com os outros. É pela força do trabalho que o homem constrói suas
primeiras comunidades. Além disso, a formação da comunidade também foi uma
forma de gerar mais segurança e conforto. Os homens agora saíam para caçar em
bandos com as armas confeccionadas por eles enquanto as mulheres e crianças
cultivavam a terra e cuidavam dos animais (SILVA, 2019).
No estudo do ambiente de trabalho é preciso avaliar os pontos de tensão e os
conflitos que fazem com que os homens criem novas relações de trabalho. Dessa
forma, primeiramente analisemos pela ótica do trabalho, partindo da pedra lascada,
passando pelos metais até o domínio do conhecimento técnico, com a construção
de máquinas, ainda que rudimentares. Depois, por uma ótica social, partindo de
uma sociedade caçadora/coletora, passamos para uma sociedade rural até
chegarmos em ambientes urbanos, com novas relações de produção para obter
lucro e consumo capitalista.
Evolução da formação profissional
Assim como as máquinas e os
processos evoluíram, a formação
profissional também precisou evoluir,
saindo do Assistente de Segurança do
Trabalho, passando pelo Auxiliar de
Segurança do Trabalho até chegarmos
no Técnico de Segurança do Trabalho e
Engenheiro de Segurança do Trabalho.
Figura 3 – Evolução
Fonte: pixabay
Auxiliar Técnico de Segurança no Trabalho: é o profissional responsável por
promover a segurança e prevenção de riscos. Ele orienta os funcionários a
utilizar os EPIs de forma correta, estabelece normas de segurança, informa
sobre meios de prevenção de acidentes, inspeciona áreas de trabalho a fim
de verificar as condições do ambiente e verifica equipamentos usados para
determinar possíveis fatores de risco. O profissional trabalha diretamente
com a área de saúde e segurança em empresas (Empregos.com.br, 2015).
Técnico de Segurança do Trabalho: o profissional de Segurança do Trabalho
pode atuar em empresas, brigadas de incêndio e instituições públicas e
privadas. Sua meta é preservar a segurança dos trabalhadores a partir de
programas de prevenção, como a Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA), que visa a precaução de acidentes e doenças relacionadas
ao trabalho (BRASIL, 2017).
A engenharia de segurança que vemos hoje está inserida em uma nova
cultura organizacional, que iniciou durante uma reunião em Londres em 1946,
onde foi decidido pelos vinte e cinco países representantes criar uma
organização internacional, International Organization for Standardization
(ISO), que tem como objetivo facilitar a coordenação de normas industriais.
A história da Segurança do Trabalho acompanha a Revolução Industrial nos
países europeus e nos EUA e não seria diferente no Brasil. Porém, como nos
demais países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, a Revolução
Industrial no Brasil ocorreu de forma tardia, por volta de 1930, e não tardou
para que o país fosse um dos que registrava o maior número de acidentes e
mortes no trabalho (MACEDO, 2012).
2. Aspectos econômicos, políticos e sociais
Inicialmente, temos uma relação harmônica
entre os povos nômades e coletores, que
depois desenvolveram a capacidade de
confeccionar peças de forma artesanal até a
chegada da Revolução Industrial, na qual nos
dedicaremos mais detalhadamente no
capítulo seguinte. A Revolução Industrial
pode servir de marco, onde o conhecimento
técnico se torna um diferencial nas relações Figura 4 – Aspectos econômicos
de trabalho (VIERA, 2019). Fonte: pixabay
Podemos dividir os aspectos econômicos em dois períodos, o período pré-
industrial e pós-industrial, por isso é tão importante nos dedicarmos ao estudo da
Segurança do Trabalho após a Revolução Industrial.
No período pré-industrial, a morte ou os acidentes nos ambientes de trabalho
eram comuns devido aos inúmeros perigos enfrentados pelos trabalhadores que
eram tratados com fatos corriqueiros, sem grande impacto econômico.
Mas o que mudou na economia após a Revolução Industrial? Por que agora era
economicamente viável investir em segurança? Como você profissional de
Segurança do Trabalho explicaria as vantagens de investir em condições mais
seguras de trabalho e qualidade de vida?
Essa resposta pode ser dada entendendo que os investimentos feitos pelo poder
público no processo de industrialização tinham como finalidade tirar os países da
condição de subdesenvolvimento.
Uma sociedade industrializada que não investe nas condições de trabalho é uma
sociedade com saldo negativo em relação aos custos com acidentes e doenças
do trabalho. Quando um trabalhador era afastado do sistema de produção, havia
uma redução na produção da empresa e consequentemente dos lucros, além da
paralisação da produção pelo tempo que levasse o afastamento do acidentado
ou que fosse treinado outro para ficar em seu lugar.
Aspectos políticos
Ao analisar os diversos aspectos que
envolvem a segurança do trabalho,
percebemos a evolução dos valores
morais e sociais dentro da cultura
organizacional. Grande parte das
mudanças organizacionais foi
impulsionada por pensamentos políticos,
atendendo as pressões de diversos
fatores e agentes sociais, principalmente Figura 5 – FACTORY ACTS
os aspectos econômicos. Fonte: https://images.app.goo.gl/Pght8y1HuK6WQqJ3A/.
Acesso em: 8 nov. 2020.
Não diferente da abordagem econômica capitalista, que em princípio trata o
trabalhador como a parte do processo produtivo, sem direitos legais
trabalhistas ou sociais, após a Revolução Industrial, junto com os pensamentos
marxistas, o trabalho ganha valor político e social, podendo acompanhar os
movimentos operários que lutam contra a sociedade industrializada capitalista.
No entanto, ambos, capitalismo e socialismo, falharam na construção de uma
política prevencionista e protetiva ao trabalhador.
Os estudos socioeconômicos nos mostram que a Revolução Industrial gerou
mais que uma sociedade mecanizada, mas também abriu novas fontes de
trabalho, emprego melhorias e soluções tecnológicas. Mas como toda
mudança, ela também apresenta aspectos negativos em relação à
industrialização que envolve problemas sociais. As questões econômicas, de
certa forma, impulsionaram o avanço protecionista no intuito de reduzir os
custos com acidentes e doenças ocupacionais.
3. História do prevencionismo
A história prevencionista pode ser
descrita como envolvente e
reveladora, que nos motiva cada vez
mais conhecer e entender os
processos que envolvem um
contexto histórico e social,
principalmente quando
evidenciamos saltos que envolvem Figura 6 – Globalização tecnológica
os conhecimentos técnicos Fonte: pixabay
científicos e transformações
tecnológicas inovadoras.
O advento das máquinas foi apenas o primeiro marco dessa longa jornada.
Depois da primeira Revolução Industrial, tivemos ainda o descobrimento do
poder energético dos combustíveis fósseis, o surgimento dos bancos e
processadores de dados até a incrível habilidade de transformar uma
imagem digital em produtos 3D, que atrelados à inteligência artificial
proporcionam ao mundo um avanço nas relações do homem com o meio.
Como antecipar, reconhecer avaliar e prevenir os novos riscos presentes nos
ambientes de trabalho transformados pelas as inovações tecnológicas? Esse
é o grande desafio do profissional prevencionista no mercado atual. Há uma
necessidade em desenvolver novas habilidades e competências para
adequar os novos postos de trabalho, automatizados, conectados,
globalizados sem abrir mão da humanização desses setores.
Prevencionismo pré-Revolução Industrial
Assim como a história do trabalho
está diretamente ligada à história do
homem, o mesmo podemos dizer
que os acidentes de trabalho fazem
para da humanidade, assim como as
doenças ocupacionais fazem parte da
história do trabalho e
consequentemente do homem. Figura 7 – Elementos tóxicos
Fonte: pixabay
Ao longo da história o trabalho, o causador de acidentes tem sido como o
trabalho dos escravos, que era exigido o exercício até a exaustão na construção
de cidades e monumentos, greco-romanos ou os antigos artesãos medievais,
que tinham suas mãos lesionadas na confecção e modelagem de peças. Nesse
mesmo período, podemos pontuar o registro em papiros egípcios e greco-
romanos a ocorrências de doenças ocupacionais, algumas ligadas aos agentes
químicos e trabalhos manuais e as tentativas de preveni-las.
Os avanços nos conhecimentos científicos à aplicação de técnicas não
ocorreram em um único momento, muitos desses avanços estão ligados a
filósofos e pensadores. Alguns marcos que podemos destacar são os escritos
de Hipócrates, Aristóteles e Platão, referindo-se a trabalhadores das minas de
estanho, doenças de corredores e deformações do esqueleto em certas
profissões, respectivamente.
A Revolução Industrial é um marco nessa história e podemos usar como
base a divisória em um período pré-revolução, em que não há ações legais e
jurídicas a favor da segurança do trabalhador e o período pós-revolução,
com os movimentos sociais gerando forte apelo e respostas políticas e
legais para as condições de trabalho. Vimos ainda que o prevencionismo
não é algo estático, já criado que se estabelece com as atuais leis e normas,
ele precisa estar em constante atualização e adequação às novas formas de
relação de trabalho.
4. Entidades públicas e privadas
Atualmente, a prevenção de acidentes
de doenças do trabalho está presente
em diferentes setores de trabalho, com
inúmeras leis criadas para garantir as
condições de higiene, e segurança do
trabalho. Vários setores estão
envolvidos no processo de
prevencionismo, todos com o objetivo Figura 8 – Entidades púbicas e privadas
de garantir e gerar melhorias nas Fonte: pixabay
condições de trabalho no Brasil.
As entidades públicas e privadas, segundo o código de trabalho
vigente em nosso país, apresentam direitos e deveres do
empregador para a prevenção e reparação de acidentes e doenças
profissionais.
O papel do serviço especializado em
engenharia e medicina do trabalho (SESMT)
A relação tripartite, governo, empresa e
empregador que apesar de investirem na
saúde e segurança do trabalho os
trabalhadores ainda sofrem com as
consequências da exposição aos agentes
de riscos ocupacionais em ambientes
laborais, assim como as condições
inseguras que ainda são responsáveis por
acidentes no trabalho. Figura 9 – Medicina do trabalho
Fonte: pixabay
As entidades públicas e privadas obrigadas por lei a constituírem o Serviço
de Engenharia e Medicina do Trabalho (SESMT) para aquelas que
estabelecem contratos de trabalho baseados na CLT, porém ficando
desobrigadas as entidades públicas com contratos não estabelecidos pela
CLT a constituírem o SESMT.
Para que os trabalhadores possam atuar em seu ambiente de trabalho que
atenda às condições de saúde e segurança do trabalho, é necessário um
constante processo de formação e informação acerca de direitos e deveres
para evitar a falta de saúde e segurança em detrimento do lucro.

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