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Ergonomia e Segurança

do Trabalho
Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Introdução à Ergonomia e
Segurança no Trabalho

• Segurança Industrial;
• O Mundo do Trabalho;
• Conceito de Ergonomia;
• Origem da Ergonomia;
• Os Precursores da Ergonomia;
• A Ergonomia, do Taylorismo até os Dias de Hoje;
• Campos de Atuação para o Profissional da Ergonomia.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apreender o conceito de segurança e ergonomia, sua origem, objetivos básicos,
seus precursores e sua evolução.
UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

Contextualização
No Brasil, a preocupação com a saúde, segurança e ergonomia nos locais de trabalho
vem se destacando na sociedade moderna e isso se dá pelo fato de crescer diariamente o
número de acidentes e doenças relacionadas às atividades produtivas nos mais variados
campos de trabalho.

Para conhecer mais sobre os dados de acidentes de trabalhos no Brasil.


Disponível em: https://bityl.co/7VQw

Em meados de 1978, na tentativa de fixar medidas de segurança aplicadas à saúde


no trabalho na rotina das empresas, foi instituída uma gama de estruturas legais repre-
sentadas especialmente pelo Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e
pelas Normas Regulamentadoras (NR). Essa foi a maneira encontrada para garantir aos
trabalhadores um ambiente de trabalho seguro e saudável, com a redução dos riscos
inerentes ao trabalho (ROSA; QUIRINO, 2017).

A segurança no trabalho surge, então, como um campo que visa subsidiar constantes
transformações de processos no ambiente de trabalho, no maquinário, nas ferramentas e
nos produtos que são utilizados nas diferentes atividades laborais no decorrer da história,
tendo como característica o aumento da qualidade de vida aos trabalhadores durante
suas jornadas de trabalho.

No território brasileiro, as legislações são relativamente recentes no campo da segurança


do trabalho e saúde do trabalhador. Até o início do século XX, a economia nacional era
focada no serviço braçal de escravos e na agricultura, e nessa época já existiam acidentes
decorrentes do trabalho.

Em 1970, o Brasil era o campeão mundial de acidentes de trabalho e desde então


começaram os avanços na área que preserva a saúde do trabalhador. Nesse contexto,
surge a medicina do trabalho, que se destaca por trabalhar em prol da preservação
da saúde do trabalhador, proporcionando aos empregados aumento das condições de
saúde nos espaços de trabalho, bem como auxiliando no manejo das consequências de
adversidades causadas durante o trabalho.

Essa área atende o trabalhador desde o ingresso na empresa, com os exames admis-
sionais, até o término de seu contrato de trabalho, com os exames demissionais, além
de intervenções que visam empoderar o trabalhador frente aos cuidados com sua saúde
durante sua vida laboral.

Tavares (2009, p. 16 e 17) destaca que diversos são os fatores que se relacionam à
implantação de programas de segurança e saúde do trabalho nos espaços organizacio-
nais, dentre eles a autora aponta:
• Aspectos sociais: O ônus pelo acidente do trabalho reflete-se em toda a nação; é
ela que paga, através da arrecadação de impostos, ao incapacitado ou à família da
vítima de um acidente fatal o seguro social a que tem direito. É expressivo o número

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de brasileiros aposentados por invalidez, que ficam à espera apenas do seu irrisório
salário, quando poderiam estar produzindo e, consequentemente, contribuindo para
o desenvolvimento do país;
• Aspectos humanos: Embora não se possa representar em números, o aspecto
humano é o mais importante, pois não há dinheiro que pague o preço de uma
vida, assim como não há indenização que corresponda ao valor de uma mão, de
um braço ou de qualquer parte do corpo mutilada em um acidente. Não dá para
mensurar o significado para os familiares de um indivíduo que saiu para trabalhar
e não voltou vítima de um acidente de trabalho que poderia ter sido evitado. Outro
fator não quantificável são os traumas que um acidente acarreta para os compa-
nheiros do acidentado;
• Aspectos econômicos: A queda na produção de uma empresa e da nação como
um todo, decorrente de acidentes de trabalho, é um aspecto que deve ser conside-
rado, pois, além do custo final dos produtos, o acidente acarreta gastos com aten-
dimento médico, transporte, remédios, indenizações, pensões etc.

A segurança no trabalho e a ergonomia surgem, então, como campos que visam


subsidiar constantes a segurança e as transformações de processos no meio ambiente
de trabalho, no maquinário, nas ferramentas e nos produtos que são utilizados nas dife-
rentes atividades laborais no decorrer da história, tendo como característica o aumento
da qualidade de vida aos trabalhadores durante suas jornadas de trabalho.

Fatos históricos da segurança e ergonomia no Brasil:


• 1919 – Criada a Lei de Acidentes do Trabalho, tornando compulsório o seguro
contra o risco profissional;
• 1923 – Criação da caixa de aposentadorias e pensões para os empregados das
empresas ferroviárias, marco da Previdência Social;
• 1930 – Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, atual MTPS;
• 1943 – Criada a consolidação das leis do trabalho, CLT, que trata de segurança e
saúde do trabalho no título II, capítulo V do artigo 154 ao 201;
• Década de 1960, no curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP,
com o professor Sérgio Penna Kehl, através da abordagem “O Produto e o Homem”;
• 1966 – Criação da fundação Jorge do Duprat Figueiredo de segurança e medicina
do trabalho – FUNDACENTRO, que atua em pesquisa científica e tecnológica rela-
cionada à segurança e saúde dos Trabalhadores;
• Década de 1970, ocorreu com a introdução do ensino de ergonomia no curso de
Engenharia de Produção, do Programa de Pós-graduação em Engenharia da UFRJ.
Contou com o professor Itiro Iida como docente e constituiu-se num centro de dis-
seminação de conhecimentos da ergonomia, produzindo várias teses e dissertações
nessa área de conhecimento;
• Na década de 1970, foi identificada através de estudos relacionados à psicologia
ergonômica, com ênfase na percepção visual aplicada no estudo do trânsito, no
curso de Psicologia da USP de Ribeirão Preto, no qual se implantou uma linha de
pesquisa, coordenada pelos professores Reinier Rozestraten e Paul Stephaneck;

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UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

• Na década de 1970, compreendeu a área de Psicologia do Instituto Superior de


Estudos e Pesquisas Psicossociais da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro,
o qual foi coordenado pelo professor Franco Lo Presti Seminério e promoveu, em
1974, o 1º Seminário Brasileiro de Ergonomia, marco fundamental na história da
ergonomia brasileira. Também coube a esse instituto a implantação do primeiro
curso de especialização em ergonomia no Brasil, no ano de 1975;
• Na década de 1970, pesquisadores da área de design trouxeram pesquisadores de
outros países para seminários sobre Ergonomia. Foram convidados professores da
Europa (entre eles Alain Wisner) e dos EUA;
• 1983, Criação da ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia;
• 1976, com a introdução do ensino de ergonomia no curso de Desenho Industrial
da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, com o professor Karl Heinz
Bergmiller, lecionando ergonomia para o desenvolvimento de projetos de produtos;
• 1978 – criação das normas regulamentadoras;
• 1990 – elaboração da Norma Regulamentadora nº 17.

Associação Brasileira de Ergonomia. Disponível em: https://bityl.co/7WPO

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Segurança Industrial
A história dos acidentes industriais é dolorosa com muitas perdas materiais, ambien-
tais e humanas, mas as oportunidades de ações de prevenção foram desenvolvidas para
que não ocorressem os acidentes de processo similares, é se apoiou, inicialmente, sobre
uma concepção técnica: o trabalho dos engenheiros permitiu preservar a integridade
das instalações em situações não habituais (DANIELLOU et al., 2010).
Segundo Daniellou et al. (2010, p. 3):

Os acidentes de Seveso (1976) e Three Miles Island (1979) levaram a


reforçar as exigências regulamentares (diretiva Seveso 1 em 1982) e a
implementar políticas globais de segurança nas empresas de alto risco.
Esse formalismo foi intensificado com a diretiva Seveso 2 (1996) e com a
implementação dos Sistemas de Gestão da Segurança. Essas ações técni-
cas e de organização possibilitaram, em certos setores, uma diminuição
contínua de acidentes ligados ao processo. Mas, em muitas empresas,
essa melhora marca um patamar, e o reforço dos formalismos não leva a
uma diminuição das falhas.

A evolução da segurança ao longo da história precisa ser refletida pelos alunos


e alunas de segurança e ergonomia, uma vez que são descritos em três patamares:
1) o técnico, no qual a preocupação se concentrou essencialmente sobre a integridade
das instalações, máquinas e equipamentos; 2) o dos sistemas de gestão, centrado no
conjunto de regras que compõem as normas de segurança; 3) e o patamar da atividade
humana, que se baseia no desenvolvimento dos Fatores Humanos e Organizacionais
(DANIELLOU et al., 2010).

A construção de uma linha do tempo dos patamares da segurança industrial podemos


observar na Figura 1.

1960 – 1980

Engenharia e Qualidade
Integridade das Instalações 1980 – 2000
Taxas de Acidentes

Técnica Sistema de Gestão


da Segurança
2000 – ...
Sistema de Gestão
Integração de Fatores
Humanos e Organizacionais
Atividade Humana da segurança

Tempo

Figura 1 – Abordagens sucessivas da segurança industrial


Fonte: Adaptada de DANIELLOU et al., 2010, p. 3

No campo preventivo e protetivo, as ações em segurança no meio ambiente de tra-


balho buscam sempre antecipar o previsível e combater o imprevisto. Para isso, é ne-
cessário que os profissionais que atuam na área fiquem atentos, uma vez que as regras
e os procedimentos formais conseguem preparar os riscos e perigos previstos dentro

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do sistema, e por isso seu papel é fundamental para enfrentar essas situações. Mas no
meio ambiente de trabalho vão ocorrer, na produção, situações que não foram anteci-
padas, observadas, identificadas etc. E a resposta do sistema para essas situações vai
depender dos recursos locais das equipes e do gerenciamento disponível em tempo real
(DANIELLOU et al., 2010).
As equipes de segurança precisam conhecer a resiliência de um sistema, uma vez
que têm:

A capacidade de antecipar, de detectar precocemente e de responder


adequadamente a variações do funcionamento do sistema no que diz res-
peito às condições de referência, visando minimizar seus efeitos sobre a
estabilidade dinâmica. (DANIELLOU et al., 2010)

As equipes de segurança e saúde precisam compreender que os trabalhos relacionados


à segurança sistêmica mostram que essa resistência depende de dois componentes.
Nesse sentido, Daniellou et al. (2010) apresentam as definições a seguir:
• A segurança normatizada: evitar todos os defeitos ou panes previsíveis pelos for-
malismos, regras, automatismos, medidas e equipamentos de proteção, formações
com relação aos “comportamentos seguros” e por um gerenciamento que assegure
o respeito às regras;
• A segurança em ação: capacidade de antecipar, de perceber os disfuncionamentos
não previstos pela organização e de responder a eles. Ela se baseia nos conheci-
mentos e na experiência humana, na qualidade das iniciativas, no funcionamento
dos coletivos e das organizações e num gerenciamento atento à realidade das situ-
ações, que favorecem a articulação entre diferentes tipos de conhecimentos úteis
para a segurança.
Para exemplificar, as equipes de segurança precisam atuar de forma a buscar a pre-
venção e a proteção. Para isso, é preciso que sejam somados os olhares dos profissionais
para as ações normativas e as atividades na ação do trabalho, conhecer este cenário é
peça fundamental ao profissional proteger os trabalhadores, conforme podemos observar
a Figura 2:

Segurança Segurança
Normatizada:
Prever o melhor
possível
+ em Ação:
Presença diante
do imprevisto
= Segurança
Industrial

Figura 2 – Os componentes da segurança


Fonte: Adaptada de DANIELLOU et al.,2010

O Mundo do Trabalho
Um dos principais objetivos no mundo de hoje é a produção máxima com custo mí-
nimo. Isso vale tanto para os países subdesenvolvidos que buscam de alguma maneira

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alternativas que possam melhorar seus custos para, eventualmente, alcançar o cresci-
mento quanto para os países desenvolvidos que buscam o controle econômico, deixando
de lado, muitas vezes, o bem-estar do ser humano, sendo necessário que exista algo que
possa tratar da sua segurança.

Veja a charge. Disponível em: https://bit.ly/3nfJQow

A partir do exposto, cabe considerar que os conceitos de segurança e ergonomia


podem e devem atuar em conjunto, como vetor de eficiência nas Organizações, tanto as
manufatureiras quanto as Empresas Prestadoras de Serviços.

Nesse momento, cabe um esclarecimento: considera-se manufatura de um produto


quando, durante o processo produtivo, há mudança na característica física do produto.
Caso contrário, todos os demais “trabalhos” são prestação de serviço: bancos, hospitais,
escolas, portos e aeroportos etc.
É possível afirmar que não há relevância específica do estudo da ergonomia e da
segurança do trabalho em um segmento de mercado específico, ou em um trabalho
específico. Todos os tipos de trabalhos em todos os segmentos de mercado justificam o
conhecimento, a aplicação e a gestão da ergonomia e da segurança do trabalho.
Nas empresas, como meio de se obter a motivação e o bom resultado (lucro) a partir
da sustentabilidade do trabalho, e fora do “trabalho”, na vida cotidiana, como política de
bem-estar pessoal.

Conceito de Ergonomia
O conceito de Ergonomia está relacionado à concepção do trabalho, de todo tipo de
trabalho, e remonta à história do homem na Terra – a primeira definição de trabalho
conhecida está nas Sagradas Escrituras, em Gênesis 3: 17 p, 19:

Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua
causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do rosto
comerás teu pão, até que tornes a terra; pois dela foste tomado; pois és
pó, e ao pó tornarás.

É conclusivo, pois que o trabalho está relacionado à noção geral de sofrimento e pena
(SOCIEDADE BÍBLIA DO BRASIL, 1995).
Há muitas definições sobre Ergonomia. Vamos apresentar algumas delas.
Segundo Falzon (2009), a International Ergonomics Association (IEA), em 2000,
adotou uma definição que é referência internacional. Todavia, vamos apresentar a definição
que antecedeu a definição de 2000, para que o leitor possa compreender a evolução da
conceituação entre os próprios ergonomistas.

Assim, ilustramos a premissa de que além de ser uma disciplina “nova”, em especial
no Brasil, o conceito vem sendo continuamente revisto, causando constante ampliação
do escopo da citada Disciplina.

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UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

A primeira definição de Ergonomia proposta pelo IEA é:

A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus


meios, métodos e ambientes de trabalho. Seu objetivo é elaborar, com a
colaboração de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo
de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve ter como
finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de
produção e dos ambientes do trabalho e da vida.

A segunda definição de Ergonomia proposta pelo IEA em 2000 é:


A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que visa à com-
preensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros
componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos,
dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem estar das pessoas e o
desempenho global dos sistemas.
Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas, contribuem
para a planificação, concepção e avaliação das tarefas, empregos, produtos,
organizações, meios ambientes e sistemas, tendo em vista torná-los compa­
tíveis com as necessidades, capacidades e limites das pessoas.

Note que, conforme apontado anteriormente, é evidente a ampliação do escopo da


Ergonomia. Se compararmos atentamente as duas definições do IEA, notamos que há
uma evolução significativa na percepção do conceito de trabalho e de quem o executa
vindo ao encontro da “Escola das Relações Humanas” e em oposição à “Escola da
Administração Científica de Taylor”, especificamente, no reconhecimento da força de
trabalhador (homem) como ser humano.
Nota-se, também, “preocupação” no sentido de adequar harmonicamente a interação
da força de trabalho humana aos sistemas, de maneira que a especificação do trabalho
laboral não venha a prejudicar a saúde do homem e, tampouco, venha a comprometer
sua força de trabalho futura.
Ainda na segunda definição do IEA, o universo da Ergonomia é dividido em três
dimensões:
• Ergonomia física: está relacionada às características da anatomia humana, da antro-
pometria, da fisiologia e da biomecânica e sua relação com a atividade física. Os tópi-
cos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais,
movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho,
projeto de posto de trabalho, segurança e saúde;
• Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como percepção, me-
mória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres hu-
manos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem estudo da
carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação
homem computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos
envolvendo seres humanos e sistemas;
• Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sociotécnicos, in-
cluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes
incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM – domínio

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aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em
grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo,
cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade.

As “áreas de especialização da Ergonomia” propostas pela IEA, segundo Falzon


(2009), são citadas por autores em todo mundo e, assim, adotadas como referência in-
ternacional. Segundo Falzon (2009), a segunda definição proposta pelo IEA, em 2000,
esclarece que a palavra Ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos [normas,
regras, leis]. Trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos
os aspectos da atividade humana.

Para darem conta da amplitude dessa dimensão e poderem intervir nas atividades
do trabalho, é preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem multidisciplinar de
todo o campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como
sociais, organizacionais, ambientais etc.

Contudo, pode-se dizer que a Ergonomia está apoiada em dois pilares fundamentais.
De um lado, o objetivo centrado nas organizações e sua busca incansável pela eficiência,
produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade etc. a fim de serem mais compe-
titivas reduzindo custos. De outro, o objetivo centrado no ser humano, considerando-se
segurança, saúde, conforto, facilidade de uso, motivação etc.

Sob o enfoque de projeto do trabalho, a Ergonomia é definida por Barnes (2008)


como o meio de encontrar a mais eficiente combinação entre homem e máquinas,
equipamentos e materiais no ambiente de trabalho. Ele cita que o objetivo da Ergonomia
é a adaptação das tarefas ao ambiente de trabalho e às características sensoriais,
perceptivas, mentais e físicas das pessoas e, como resultado, obtém se, então, melhores
projetos de equipamentos, sistemas homem-máquina, de produtos de consumo, métodos
e ambiente de trabalho.

No Brasil, contamos com a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, que


é uma associação sem fins lucrativos cuja finalidade é o estudo, a prática e a divulgação
da interação das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando
suas necessidades, habilidades e limitações.

Origem da Ergonomia
A Ergonomia surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial, em virtude da com-
plexidade de manuseio de armamento e dispositivos de ataque. Todo planejamento e
investimento feito no desenvolvimento de materiais bélicos seria inútil se o “operador”
(soldado) não soubesse como fazê-lo. E, ainda, frente aos horrores da Guerra, muitos
soldados desenvolveram doenças psiquiátricas.

Para amenizar o impacto, tanto de manuseio como da saúde mental dos soldados
e procurar “manter a produtividade”, grupos multidisciplinares foram mobilizados para
entrar como “suporte” no cenário da Guerra.

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Mais especificamente, a Ergonomia nasceu em 12 de junho de 1949, data em que


se reuniu, pela primeira vez na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores moti-
vados em discutir essa “nova disciplina” interessada em discutir e formalizar esse novo
campo de pesquisa multidisciplinar da Ciência, que propunha uma interação harmônica
entre homens e sistemas.

Todavia, já em meados de 1857, um polonês, Wojciech Jastrzebowski já havia publi-


cado um Artigo sob o título “Ensaios de Ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas
leis objetivas da ciência sobre a natureza”.

Entretanto, a Ergonomia só veio a adquirir status de Disciplina mais organizada na pri-


meira metade de 1950, com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra.

Os membros dessa organização, muitos deles pesquisadores, disseminavam seus co-


nhecimentos e propunham a aplicação da Ergonomia na indústria, e não somente na
área militar, como era difundido até então.

Objetivos Básicos da Ergonomia


Conforme citado, o objetivo da Ergonomia é estudar a interação entre o homem e os
sistemas, considerando fatores físicos e psicológicos, a fim de obter ganhos em eficiência
para os sistemas (empresas), bem como a manutenção da saúde por parte dos colabora-
dores, procurando reduzir a fadiga, o estresse, os erros e os acidentes.

Nesse cenário, a eficiência produtiva, bem como a motivação, é consequência direta


da assertividade dessas ações.

Para o “exercício e aplicação da Ergonomia”, conforme discutido até agora, é preciso


deixar claro que não é o empenho de apenas um colaborador, ou ainda, a contribuição
de uma área específica de conhecimento que vai obter resultados esperados.

É preciso contar com grupo multidisciplinar com representantes de várias áreas da


Organização, como: médico do trabalho, psicólogos dos recursos humanos, técnicos
da segurança do trabalho, representantes da operação, engenheiros da produção, en-
genheiros do desenvolvimento do produto ou serviço e do processo, profissionais da
manutenção e demais áreas que possam se fazer necessárias.

E, ainda, além do grupo multidisciplinar, é preciso ter o conhecimento de que, se


necessário, profissionais de outras áreas de conhecimento devem ser convidados a parti-
cipar dos projetos de Ergonomia, tais como: Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Orga-
nização do Trabalho, Design e Métodos de Avaliação e Tecnologia da Informação,
entre outros.

Os Precursores da Ergonomia
Discorrendo sobre a Ergonomia, é imprescindível citar as definições, a origem, mas
para um completo entendimento da aplicação da Ergonomia nos dias de hoje não podemos
deixar passar despercebidos os precursores da Ergonomia.

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Vamos a eles!
Já foi mencionado, nessa seção, que identificamos nas Escrituras da Bíblia a noção
de trabalho do homem voltado para a sua sobrevivência.
Vimos, também, que a noção de Ergonomia acompanha a necessidade de trabalho
que o homem tem, a partir da mais básica, que é caçar para comer. Ainda na Pré-
-história, quando o homem era nômade, precisava caçar para comer e, quando a comida
começava a faltar em uma determinada região, migrava para outra.
Quando saía para a caça, procurava uma pedra que melhor se encaixasse em sua
mão a fim de usá-la como arma e auxiliar na caçada.
Nota-se que, desde a Pré-história, ainda que intuitivamente, o homem procura por
dispositivos que o auxiliem no trabalho. Essa ideia também esteve presente na era da
produção artesanal que antecedeu a revolução industrial quando os artesãos procuravam
adaptar as tarefas às necessidades humanas.

Alguns nomes foram muito importantes para a Evolução Histórica Da Ergonomia no


Mundo, vamos a esses pioneiros na tabela abaixo:

Tabela 1 – Pioneiros históricos da ergonomia


Nome Profissão Descrição
O Pintor combinou em um mesmo desenho
o homem inserido no círculo e no quadrado,
Leonardo promovendo estudos acerca das dimensões e
Artista
da Vinci movimentos humanos. Atualmente, o conheci-
mento das formas e medidas do corpo aplicado
em projetos é denominado antropometria.
No fim do século XVII, as substituições dos seres
humanos por máquinas nos postos de trabalho
eram iminentes, por isso iniciou pesquisas que
poderiam construir sistemas para poupar a
Bernard Forest saúde e integridade física dos trabalhadores.
Pesquisador
de Bélidor É exatamente nessa ocasião que se incluem os
estudos de Bernard com planejamento do tra-
balho e das interfaces na organização do tra-
balho. Promoveu algumas contribuições para a
engenharia civil e mecânica.
No século XIX, o médico observa as doenças
relacionadas ao trabalho, como o saturnismo
e a silicose, e promove ações para proteger os
trabalhadores, como os equipamentos de pro-
teção individual. Para isso preconizou o uso de
bexigas animais para a proteção respiratória e
Patissier Médico de óculos para proteção dos corpos estranhos.
Ele recomenda aos ourives levantar a cabeça
de vez em quando e olhar para o infinito como
modo de evitar a fadiga visual. Também pre-
coniza proteção dos moinhos e concebe má-
quinas para diminuir o esforço físico, como as
máquinas de lavar.

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UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

Nome Profissão Descrição


Taylor estudou e tornou-se Engenheiro Mecânico
e, no ambiente que conhecia, foi de simples ope-
rário à gerente industrial promovendo estudos
sistêmicos acerca de como organizar a produção
Frederick e melhorar a sua eficiência. Esses estudos trans-
Engenheiro, adminis-
formaram-se em publicações que preconizavam
Wisnslow Taylor trador e pesquisador
uma maneira sistêmica, científica de analisar o
trabalho buscando redução de movimentos e
aumento de eficiência. A essa “maneira científi-
ca” de “organizar o trabalho” deu-se o nome de
Administração Científica ou Taylorismo.
Amar descreve os princípios mecânicos gerais
do corpo humano como uma máquina. Co-
menta sobre a energia humana e os efeitos fi-
siológicos causados pelo trabalho. Com relação
à interação homem e ambiente ele apresenta
os resultados dos seus estudos e de outros que
Jules Amar Fisiologista
avaliaram o efeito do trabalho, cognitivos, psi-
cológicos, fisiológicos, sociais e ambientais so-
bre o corpo humano. Aborda as medidas cien-
tíficas do corpo humano, a energia produzida é
dissipada, e considera o corpo como uma má-
quina em sua relação com o trabalho industrial.
Fonte: Adaptada de SILVA; PASCHOARELLI, 2010

A Inglaterra foi “arrastada” para a Revolução Industrial a partir da formação de uma


classe burguesa ávida por consumir bens, pelo êxodo dos ingleses do campo para a
cidade e, ainda, o domínio da tecnologia da máquina a vapor.

Essa união de fatores promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra, evento esse que
mudou a face do mundo.

A onda da “produção de bens” em escala industrial (larga escala) invadiu a Europa


rapidamente por uma questão de proximidade geográfica e subsequentemente, a América.
As primeiras fábricas que surgiram nesse cenário eram sujas, escuras, barulhentas e
perigosas; era o ambiente de trabalho de milhares de pessoas. As fábricas dessa época
em nada parecem com o ambiente industrial nos moldes que conhecemos hoje em dia.

Naquela época, o trabalho era realizado por homens, mulheres e crianças que ti-
nham jornadas de trabalho de até 18 horas por dia e, constantemente, submetidos a
castigos físicos, sem férias, sem indenizações de qualquer espécie e o pagamento pelo
trabalho era feito diariamente.

No final do século XVIII e início do século XIX, surge nos Estados Unidos da América
um simples operário que revolucionaria a maneira de se produzir bens industrialmente
(em larga escala), seu nome é Frederick Winslow Taylor. Taylor estudou e tornou-se
Engenheiro Mecânico e, no ambiente que conhecia, foi de simples operário à gerente
industrial promovendo estudos sistêmicos acerca de como organizar a produção e me-
lhorar a sua eficiência. Esses estudos transformaram-se em publicações que preconiza-
vam uma maneira sistêmica, científica, de analisar o trabalho buscando redução de mo-
vimentos e aumento de eficiência. A essa “maneira científica” de “organizar o trabalho”
deu-se o nome de Administração Científica ou Taylorismo.

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Na Europa, mais especificamente na Alemanha e França e países escandinavos em
meados de 1900, surgiram estudos sobre a fisiologia humana voltada ao trabalho (fisio-
logia do trabalho) e gastos energéticos na tentativa de migrar os conhecimentos sobre
fisiologia desenvolvidos em laboratório para ambientes extremos tais como: minas de
carvão, fundições e outras situações onde a energia gasta para realizar o trabalho huma-
no era máxima e o ambiente extremamente agressivo à saúde humana.

Ao redor do mundo, muitos esforços foram mobilizados para realização de estudos


relacionados sobre os movimentos do corpo como: fadiga muscular, fadiga psicológica,
aptidão física, postura no trabalho, desenvolvimento de mobiliário, iluminação, ventilação,
temperatura, ruído, umidade, vibração etc. Todos esses conhecimentos que foram acerca
da combinação harmônica entre homens e sistemas acumulados em todas as partes do
planeta foram de grande valor na ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com a
finalidade de desenvolver projetos e promover a construção de materiais bélicos sofistica-
dos tais como submarinos, tanques, radares, navios, aviões, sistemas contra incêndio etc.

Além do alto custo de cada um desses produtos, o operador (soldado) no manu-


seio dessas “máquinas” era exposto a condições de extrema fadiga física e psicológica.
Assim, estudos foram promovidos por equipes multidisciplinares a fim de melhorar a
adaptação do homem ao sistema, ou seja, do soldado às máquinas bélicas no campo de
batalha. A Ergonomia do pós-guerra, em tempos de paz, era frequentemente ridicula-
rizada por sua “falta de credibilidade” que perdurou até o Departamento de Defesa dos
EUA desenvolver pesquisas em Universidades e Centros de Pesquisa Especializados.

A Ergonomia, do Taylorismo
até os Dias de Hoje
Conforme citado anteriormente, o ícone da Administração Científica é o Engenheiro
americano, Frederick Winslow Taylor (1856-1915), todavia, devido à importância de
seus métodos, vamos conhecê-lo melhor. Taylor começou sua vida profissional como
simples funcionário de uma empresa metalúrgica americana e chegou, como engenheiro
mecânico ao nível, do que se conhece de estrutura organizacional nos dias de hoje, dire-
toria industrial tendo passado também pelo Nível Gerencial.

Pelo fato de Taylor iniciar sua vida profissional como simples operário, nessa função,
teve a oportunidade de vivenciar o que a sociologia do trabalho chama de código de
trabalho. Código de trabalho é quando os funcionários de um determinado setor de uma
empresa definem regras próprias quanto ao ritmo de trabalho e, muitas vezes, regras
próprias para o método de trabalho também. Por isso, mais tarde, Taylor definiu os fun-
cionários de “indolentes”; oportunamente retornaremos a essa afirmação.

Ao receber sua primeira promoção, Taylor, como qualquer líder, inclusive nos dias de
hoje, passou a ser cobrado por resultados. Como era conhecedor de como o trabalho
era realizado em sua Empresa, sabia que era vital para seu sucesso profissional orga-
nizar a parte feia, suja e desorganizada da Empresa chamada de produção. Como não
havia nenhum histórico anterior relacionado a estudos específicos sobre organização da

19
19
UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

produção ou eficiência do processo produtivo, Taylor pode realizar, sem nenhum tipo
de cobrança ou expectativa, seus experimentos acerca do que ele, imaginava ser uma
empresa organizada e eficiente.
Taylor fez muitos testes como tentativa e erro. O resultado desses testes e observa-
ções fez com que Taylor publicasse sua teoria de organização do trabalho conhecido
como “Princípios da Administração Científica” que consistia primeiramente na Divisão
do Trabalho. Taylor pregava que para se obter ganhos de eficiência na produção de todo
trabalho a ser realizado, esse “trabalho todo” deveria ser dividido em tarefas simples e
repetitivas e que o funcionário deveria ser treinado nas suas tarefas seguindo rigorosa-
mente a “prescrição da tarefa”.
Naquela época, o funcionário recebia por dia e não havia um vínculo formal de tra-
balho na forma de “emprego” como conhecemos hoje. Antes de seu método, não havia
nenhuma recomendação da sequência de atividades que deveriam ser feitas ou como essas
atividades deveriam ser feitas. Cada um fazia, mais ou menos, o que queria da forma que
queria e com a “carga de trabalho” que achava justa pelo seu ganho diário. Ou seja, um
funcionário que trabalhava muito ganhava o mesmo dinheiro que um funcionário que
trabalhava pouco; logo, a realização do trabalho era nivelada por baixo.
E Taylor sabia disso, sabia que havia uma boa parcela de ineficiência aceita pelo for-
mato de trabalho da época. Foi nesse cenário que Taylor, ao dividir o trabalho, impôs
uma sequência de trabalho, posto a posto de trabalho. Ele definiu que, em cada posto
de trabalho, as tarefas deveriam ser feitas de maneira simples e repetitivas. Foi uma ma-
neira inteligente de definir um fluxo contínuo de produção além de tentar garantir que o
trabalho fosse feito, sempre, da mesma maneira e, como consequência, distribuiu a carga
de trabalho uniformemente entre os operários em cada um dos seus postos der trabalho.
Na prescrição da tarefa dos postos de trabalho, Taylor procurava pensar na tarefa e rever
os movimentos de maneira a eliminar os movimentos desnecessários a fim de economizar
tempo e energia. A fim de tornar o trabalho mais eficiente e menos exaustivo ao operário,
começou a medir o trabalho no tempo, o que mais tarde seria chamado de cronoanálise.

Além de dividir o trabalho, passou a definir a sequência e fazer a prescrição da tarefa,


Taylor também imprimiu um ritmo de trabalho na produção com as esteiras móveis. A estei-
ra móvel a que nos referimos, nesse momento, não é a esteira móvel de Ford que foi a
precursora da produção em massa. A esteira móvel de Ford veio mais tarde.

Taylor teve preocupações relativas à organização da fábrica, bem como à sua efici-
ência, e preocupou-se, também, em organizar o espaço fabril, ordenando os elementos
(máquinas) de maneira eficiente no meio (fábrica). Após a publicação dos “Princípios da
Administração Científica”, de Taylor, muitas empresas adotaram seus métodos. Taylor
foi muito criticado em sua obra, pois se afirmava que ele rebaixava o homem à condição
de animal. Ele dizia que o estudo do método de trabalho deveria ser executado por uma
parte da Empresa composta por pessoas que deveriam ter estudado e estar devidamente
preparadas para isso.
Para ele, jamais deveria ser dada ao simples funcionário a autonomia de decidir o
que, como e quando fazer. Falava-se, com essa afirmação, que Taylor definia o simples
funcionário como “acéfalo”, ou pouco dotado de inteligência, e incapaz de tomar de-
cisões racionais. Taylor dizia, também, que o trabalho deveria ter um método definido

20
com ritmo a fim de “impedir” que o funcionário “burlasse intencionalmente” os índices
de eficiência esperados.

Hoje em dia, poderíamos dizer que Taylor não queria que o simples funcionário “en-
costasse o corpo” e, com essa situação, afirmava-se que ele havia rotulado o simples
funcionário de indolente ou, se preferir, de vagabundo.

Taylor, para “motivar” seus funcionários, oferecia prêmios para ganhos em produ-
tividade; quem produzisse mais, ganhava mais. Todavia, nem sempre os princípios de
Taylor eram devidamente empregados. Muitas vezes, o tempo definido para a execução
da tarefa e o próprio método eram definidos por quem sequer conhecia a fábrica e, as-
sim, impossíveis de ser cumpridos.

Os funcionários sentiam-se oprimidos pela Gerência da Fábrica e, várias vezes, rea-


giam descumprindo as normas (prescrição da tarefa) e danificando, intencionalmente, os
equipamentos, além de não se sentirem minimamente comprometidos com a qualidade.
Por se sentirem vítimas de um ambiente absolutamente coercitivo, houve reclamações
generalizadas por todo o país (EUA), envolvendo inclusive os Sindicatos.

O descontentamento era tão grande que Taylor foi chamado a se explicar no Congresso
Nacional Americano sob o argumento de que nesse “novo método de trabalho” trabalha-
va-se mais (produzia-se mais) e se ganhava a mesma quantidade em dinheiro, além de ele
ser coercitivo. Taylor defendeu-se dizendo que, na Administração Científica, o traba­lhador
não trabalhava mais, trabalhava melhor. Como havia uma grande preocupação com a
economia de energia do trabalhador por meio da racionalização dos movimentos, ele
trabalhava menos, produzia mais e ainda tinha prêmio relativo ao seu desempenho.

Segundo a Física, toda ação requer uma reação e, como reação à Administração Cien-
tífica de Taylor, ou Taylorismo, surge a Escola das Relações Humanas, cujo ícone é Elton
Mayo. Até Mayo, a noção de trabalho era relacionada à pena bem como na Bíblia. E a
imagem de operário era relacionada a quem não tem vontade, direitos ou, sequer, dores.

Em meados da década de 1920, Mayo promoveu uma pesquisa que revolucionou


a relação homem x trabalho, na Empresa Western Electric em Hawtorne, EUA. Mayo
pretendia estudar os efeitos da iluminação na eficiência da fábrica. Separou um grupo
de trabalhadores da produção e os colocou num ambiente isolado da produção. Nesse
espaço, não havia a presença do “capataz”, do encarregado ou do supervisor de produção
como é nos dias de hoje. Muitas vezes, o capataz era coercitivo, a ponto de castigar
fisicamente o operário. Mayo forneceu iluminação adequada e a produção aumentou e,
num segundo momento, ele reduziu a iluminação, e a produção continuou a subir.

Esse efeito foi chamado de efeito Hawtorne, e Mayo concluiu que a eficiência na pro-
dução não era explicada ou justificada apenas por fatores físicos; havia o componente
humano, que deveria ser identificado, reconhecido e valorizado.

Os operários escolhidos para esse estudo receberam atenção especial e, ao saberem


que estavam sendo filmados, sentiram-se valorizados. Ao contrário da proposta de Taylor,
na qual o operário era analisado isoladamente, Mayo propôs, a partir do efeito Hawtorne,
a humanização da produção, criando incentivos morais e psicológicos. Afinal, posto que
o trabalho é um meio de vida e não de morte, não precisa ser “penoso”.

21
21
UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

A partir do efeito Hawtorne, surge um novo campo de pesquisa, conhecido como


Sociologia Industrial e, com ela, os grupos autônomos, com tarefas mais integradas, nos
moldes da organização do trabalho como conhecemos nos dias de hoje.

Campos de Atuação para


o Profissional da Ergonomia
Vivemos um momento em que ocorrem muitas transformações no mundo do trabalho
com a constante transformação, humana, ambiental e tecnológica. Por isso, diante das
novas tecnologias, entre elas a indústria 4.0, e novos materiais, aplicativos, drones,
sistemas, big datas etc. como as nanotecnologias – muitas mudanças na legislação,
que visam à flexibilização de regras e diminuição da ação regulatória do Estado, do
envelhecimento da população, além da necessidade de inovação visando à maior
competitividade e a busca por sustentabilidade e responsabilidade social –, a contribuição
da Ergonomia procura diminuir o impacto nas condições de trabalho atuando em diversos
campos de interesse das empresas e instituições e do seu corpo administrativo e técnico
(DONATELLI et al., 2021).
Atenção! Vamos apresentar atividades de trabalho para profissionais com formação
em ergonomia.
Quadro 1 – Ações e Descrição

Programas de Os ergonomistas e profissionais de saúde das empresas podem favo-


prevenção de acidentes recer o desenho de programas de atenção e vigilância à saúde dos
e agravos relacionados trabalhadores mais abrangentes, promovendo ações preventivas e
ao trabalho protetivas para adoecimentos, acidentes e a segurança industrial.

Os ergonomistas podem participar ativamente em projetos, simu-


Projeto de produtos e lações, contribuindo para o desenho de postos de trabalho (entre
de sistemas técnicos e eles salas de controle), mobiliário, sistemas informatizados, inter-
organizacionais faces físicas e informatizadas, organização do trabalho e forma-
ção das equipes de trabalho.

Os profissionais podem desenvolver e/ou utilizar métodos e téc-


Inclusão de pessoas nicas que garantam a efetiva inclusão (ou reinserção/retorno)
desses trabalhadores, homens e mulheres, em atividades, sem
com deficiência (PCD) e colocar em risco sua saúde. Assim, torna-se necessário o conhe-
retorno ao trabalho cimento das condições reais de trabalho, como a abordagem pro-
posta pela ergonomia da atividade.

Os profissionais podem desenvolver e/ou utilizar métodos e téc-


nicas que garantam a efetiva inclusão (ou reinserção/retorno)
Programa de formação desses trabalhadores, homens e mulheres, em atividades, sem
profissionais colocar em risco sua saúde. Assim, torna-se necessário o conhe-
cimento das condições reais de trabalho, como a abordagem pro-
posta pela ergonomia da atividade.

Nas universidades, faculdades e cursos técnicos os profissionais


Programa de formação podem exercer atuação na formação dos profissionais deste cam-
profissionais po de trabalho, bem como treinamentos específicos para setores
que precisam conhecer sobre a temática.

Fonte: Adaptado de DONATELLI et al., 2021

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Engenharia do Trabalho
https://bit.ly/3zZvpbL
Ergonomia da Atividade - Produção de Conteúdo Sobre o Trabalho Real
https://bit.ly/3tBzAIs

Vídeos
PGR e a Nova NR-17 I Live com Marçal Jackson, Maria de Lourdes Moure e Mauro Muller
https://youtu.be/4tmyX-MonUQ
Live CANPAT | Especial PGR
Campanha Nacional de Prevenção de Acidente de Trabalho – Programa de Gerenciamento
de Risco.
https://youtu.be/wrpdwR8aP5Q
Lives sobre ergonomia, segurança e cultura no trabalho
https://bit.ly/3BXcU8u

Leitura
Livro Engenharia do Trabalho Saúde, Segurança, Ergonomia e Projeto
https://bityl.co/7WNK
Parte VIII. Gestão de Acidentes e Segurança – OIT
https://bit.ly/399qB81

23
23
UNIDADE Introdução à Ergonomia e Segurança no Trabalho

Referências
ABERGO. Associação Brasileira de Ergonomia. Disponível em: <http://www.abergo.
org.br/>. Acesso em: 23/03/2021.

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 17. Disponível: <https://enit.trabalho.gov.br/


portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf>. Acesso em: 26/03/2021.

DANIELLOU, F.; SIMARD, M.; BOISSIÈRES, I. Facteurs humains et organisationnels


de la sécurité industrielle: un état de l’art. Cahiers de la Sécurité Industrielle,
nº 2010-02, Institut pour une Culture de Sécurité Industrielle, Toulouse, France (ISSN
2100 – 3874), 2010. Disponível em: <https://www.icsi-eu.org/FHO-etat-art>. Acesso
em: 23/03/2021.

DONATELLI, S. LIMA, F. P. A.; JACKSON FILHO, J. M.; SIMONELLI, A. P. Elemen-


tos da história da ergonomia no Brasil. Engenharia do Trabalho: saúde, segurança,
ergonomia e projeto. [on-line] Editora Libris – (2021) – Prelo – Disponível em: <http://
engenhariadotrabalho.com.br/sobreolivro/>. Acesso em: 26/03/2021.

FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Edgard Blucher, 2010.

IEA. Internatinal Ergonomics Association. Disponível em: <http://www.iea.cc/>.


Acesso em: 23/03/2021.

LIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Blucher, 2005.

PAVANI, R. A. Avaliação dos riscos ergonômicos como ferramenta gerencial em


saúde ocupacional. XIII SIMPEP, Bauru, São Paulo, nov. 2006.

ROSA, M. A. G.; QUIRINO, R. Ergonomia, saúde e segurança no trabalho: intersec-


cionalidade com as relações de gênero. CIENTEC – Revista de Ciência, Tecnologia e
Humanidades do IFPE, v. 9, n. 3, 2018.

SILVA, J. C. P.; PASCHOARELLI, L. C. Orgs. A evolução histórica da ergonomia no


mundo e seus pioneiros. São Paulo: UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
103 p. ISBN 978-85-7983-120-1. [on-line] Available from SciELO Books. Disponível
em: <http://books.scielo.org>.

SOCIEDADE BÍBLIA DO BRASIL. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento.


Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: So-
ciedade Bíblia do Brasil, 1969.

TAVARES, C. R. G. Segurança do Trabalho I. Natal: UFRN, 2009.

WISNER, A. A análise da atividade em trabalhos complexos. In: Por dentro do trabalho:


ergonomia, método e técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.

24
Ergonomia e
Segurança do Trabalho
Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

• Regulamentação do Trabalho no Brasil;


• Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);
• Normas Regulamentadoras (NR);
• Organização Internacional do Trabalho (OIT);
• Constituição Federal;
• Aplicação das Normas Regulamentadoras.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar aos alunos informações básicas sobre as obrigações legais, as responsabilidades
e as ações que visem à proteção e à prevenção no meio ambiente de trabalho – especial-
mente as Normas Regulamentadoras;
• Apresentar estudos casos para promover a reflexão.
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Contextualização
No mundo do trabalho, um dos principais objetivos é a produção máxima com custo
mínimo. Isso vale tanto para os países subdesenvolvidos, que buscam de alguma ma-
neira alternativas que possam melhorar os seus custos para, eventualmente, alcançar o
crescimento, quanto para os países desenvolvidos, que buscam o controle econômico,
mas, muitas vezes, esse interesse deixa de lado o bem-estar do ser humano e, para isso,
é necessário que exista algo que possa tratar da sua segurança.

Com isso, podemos pensar nos conceitos de Segurança, Saúde do Trabalhador e


Ergonomia, que podem e devem atuar em conjunto com um fator imprescindível na
redução dos custos: a Tecnologia.

Neste contexto globalizado, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na busca


de melhoria nas relações e condições formalizou, em 1999, a OIT o conceito de Tra-
balho Decente como uma síntese:

[...] sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e


mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade, em condições
de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas. O Trabalho De-
cente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT
(o respeito aos direitos no trabalho, a promoção do emprego, a exten-
são da proteção social e o fortalecimento do diálogo social), e condição
fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades
sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento
sustentável. (GUIMARÃES, 2012, p. 9)

Para ampliar o conhecimento e permitir a ampliação dos olhares, é de suma impor-


tância conhecer as informações sobre o Trabalho Decente, por isso selecionados dois
espaços de pesquisa:

Conheça os dados do Trabalho Decente no Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3xNiTdO


Explore a pesquisa Perfil do Trabalho Decente no Brasil conduzida pela Organização Interna-
cional do Trabalho (OIT). Disponível em : https://bit.ly/3xPRqIC

Para conhecer o mundo do trabalho, é fundamental compreender como se desen-


volveu as atividades de trabalho manuais “trabalho de campo”, e quem eram os atores
que tomavam as decisões, e qual a remuneração destes trabalhadores – nesse sentido, é
importante refletir:

Durante as fases do Mercantilismo (Século XV – XVIII), da Revolução Industrial (Século XVIII


– XIX) e da Hegemonia do Sistema Financeiro (Século XX), quem são os trabalhadores que
realizavam os trabalhos manuais – “trabalho de campo”? Como eram as condições de tra-
balho em cada época? Como eram as formas de remuneração desses trabalhadores?

8
Regulamentação do Trabalho no Brasil
A fim de regulamentar as relações entre empregador e empregado e de conter a
exploração do trabalho humano, o Governo brasileiro, a exemplo de outros governos,
procurou formalizar as regras de desenvolvimento do trabalho humano em ambientes
específicos, com o objetivo de proteger e manter a vida do trabalhador.

Existem normas que definem essa relação. Essas normas são conhecidas como Nor-
mas Regulamentadoras e advêm da Consolidação das Leis do Trabalho, sancionada pelo
então Presidente da República Federativa do Brasil, Getúlio Vargas, em 1943.

A atividade de trabalho humana inicia na busca da sua subsistência, em que o homem


nômade saía à caça, mas não era remunerado.

Quando surge o trabalho remunerado, ou seja, o trabalho humano assalariado, surge


também a preocupação com eficiência, competitividade e lucros. Muitas vezes, a pre-
ocupação com lucros rouba a cena de tal forma que não há espaço para preocupação
com o humano, tampouco com as condições de trabalho, nem se a atividade de trabalho
pode gerar risco/perigo para os trabalhadores no meio ambiente de trabalho.

Com o passar do tempo e o desenvolvimento da sociedade, houve a necessidade de


formalizar, em forma de Lei, as relações entre empregador e empregado. Assim surge
o trabalho assalariado.

Para esclarecer o trecho supracitado, é preciso fazer uma viagem no tempo. Nos
primeiros séculos da Idade Média, no feudalismo, quando houve uma migração da mão
de obra do campo para as cidades, as terras dos feudos, em algumas situações, foram
arrendadas e o trabalho humano passou a ser assalariado.

Os artesãos e os pequenos comerciantes não moravam dentro dos feudos; moravam


fora em comunidades conhecidas como burgos, que deram o nome à classe financeira-
mente privilegiada, que ficou conhecida como burguesia.

Os habitantes dos burgos passaram a se preocupar em aumentar a área de suas ope-


rações e procuraram expandir seus negócios em outros mercados (localidades fora da
vizinhança em que então negociavam).

A burguesia acumulava riquezas a partir da expansão de suas operações, que era basi-
camente o comércio. Nesse cenário, surge a figura dos “detentores dos meios de produ-
ção”, que tinham como objetivo principal obter lucros a partir desses meios de produção.

A utilização dos meios de produção com o objetivo de gerar lucros (acumular rique-
zas) é a definição de Capitalismo.

Havia quem detinha os meios de produção e havia também uma franca expansão dos
mercados consumidores.

Com a “onda do Capitalismo comercial” invadindo o mundo e, ainda, na Inglaterra,


uma seara fértil, com a descoberta da bomba hidráulica e da máquina a vapor em um
momento em que havia mão de obra disponível, matéria-prima abundante (carvão) e um

9
9
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

governo com políticas favoráveis, explode a Revolução Industrial, advento que reinven-
taria, definitivamente, a face do mundo em termos de consumo e produção.

No cenário da Revolução Industrial, os detentores dos meios de produção eram os do-


nos de Indústrias, que tinham como maior preocupação o lucro, a acumulação de riquezas,
a partir da utilização desses seus meios de produção e da utilização do trabalho humano.

O mundo estava em efervescência e a possibilidade de acumular riquezas era “des-


lumbrantemente possível”. Foi nesse cenário que, equivocadamente ou não, houve a
exploração do trabalho humano na forma de longas jornadas de trabalho, até 18 horas
por dia, trabalho feminino e infantil, além de, frequentemente, algumas organizações
exporem seus trabalhadores a castigos físicos.

Mesmo com a Administração Científica de Taylor, essas questões não foram ameni-
zadas. Equivocadamente, muitas pessoas acreditavam que era o taylorismo que empu-
nha essa dinâmica ao trabalho.

Em resposta ao taylorismo, veio Elton Mayo, com o “Efeito Hawthorne” conforme


vimos na unidade anterior.

Ao redor do mundo, governos se mobilizaram para, de alguma maneira, impor limi-


tes à relação capital trabalho ou empregador empregado, a fim de acabar com a explo-
ração do trabalho humano.

Na Itália, surge a Carta del Lavoro, no governo de Benito Mussolini.

No Brasil, em 1 de maio de 1943, Getúlio Vargas, Presidente da República Federa-


tiva do Brasil, sancionou o Decreto-Lei nº 5.452, criando a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT).

É a principal norma legislativa brasileira referente ao Direito do Trabalho e ao Direito


Processual do Trabalho, que tem como objetivo principal a regulamentação das relações
individuais e coletivas do trabalho nela – CLT – previstas.

O Decreto-Lei nº 5.452 foi assinado em pleno Estádio de São Januário (Clube de


Regatas Vasco da Gama), na cidade do Rio de Janeiro, que estava lotado para a come-
moração da assinatura da CLT.

A seguir, a transcrição do Art. 1º da CLT:


• Art. 1º. Esta Consolidação estatui as normas que regulam as relações
individuais e coletivas de trabalho, nela previstas.

O termo “celetista”, derivado da sigla “CLT”, costuma ser utilizado para denominar o
indivíduo que trabalha com registro em Carteira de Trabalho (BRASIL, 1943).

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)


O Cap. V do Título II da CLT trata de “Segurança e Medicina do Trabalho”. Normas
Regulamentadoras de SST emitidas pelo extinto Ministério do Trabalho vêm sendo

10
ampliadas e alteradas ao longo dos anos, ajustando-se às mudanças legais, técnicas,
sociais e ao texto constitucional (BRASIL, 1977). No momento atual (2021), as com-
petências do Ministério do Trabalho foram transferidas para o Ministério da Economia,
que responde pela Inspeção do Trabalho em nosso país (BRASIL, 2019).

A seguir, são descritos os itens mais importantes do Capítulo V da CLT (artigos 154
a 201), atualizados, sobre segurança e saúde no trabalho.

Tabela 1
Artigo
Descrição Importância
CLT
Define a obrigação de as empresas cumprirem as normas
Permite que os profissionais de saúde, segurança e ergo-
157 de SST e instruir os empregados quanto às precauções
nomia atuem para prevenir e proteger os trabalhadores.
contra acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais.
Define a possibilidade de interdição de estabelecimento, Permite que os auditores fiscais do trabalho realizem
161 máquina ou equipamento, pela autoridade trabalhista re- a interdição de situações que podem gerar a morte
gional, se houver grave e iminente risco para o trabalhador. dos trabalhadores.
Define que as empresas são obrigadas a manter ser-
Permite que as empresas contratem os profissionais de
162 viços especializados em segurança e em medicina do
saúde e segurança.
trabalho (SESMT).
Define a obrigação da Comissão Interna de Prevenção de
Permite ter representantes dos trabalhadores para pro-
163 a 165 Acidentes (CIPA) nas empresas, de acordo com o número
mover ações de melhorias no meio ambiente de trabalho.
de empregados e o tipo de atividade.
Definem que a empresa é obrigada a fornecer aos em-
pregados, gratuitamente, Equipamentos de Proteção Permite o uso de EPI regularizado e gratuito para prote-
166 e 167
Individual (EPI) adequados ao risco quando não houver ção dos trabalhadores.
proteção completa.
Define a obrigatoriedade do exame médico dos trabalhado-
168 res por conta do empregador, conforme a NR 7, sobre o Pro- Permite o controle médico da saúde dos trabalhadores.
grama de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).
Exige que o empregador faça a notificação ao INSS das
Importante para o controle epidemiológico dos adoeci-
169 doenças do trabalho comprovadas ou mesmo ainda
mentos relacionados ao trabalho / ocupacional.
quando em fase de suspeita.
Define princípios importantes quanto à segurança na
184 a 186 Permite ações de proteção de máquinas e equipamentos.
operação de máquinas e equipamentos.
Define que reparos, limpeza e ajustes somente poderão Permite ações de proteção dos trabalhadores durante as
185
ser executados com as máquinas paradas. fases de ajustes, manutenção, limpeza etc.
Define ações de proteção nas caldeiras e vasos sob pres-
Permite atuação da equipe de segurança para a proteção dos
187 e 188 são, que deverão dispor de válvulas e outros dispositivos
trabalhadores operadores de caldeiras e vasos sob pressão.
de segurança.
Prevê o pagamento de adicionais de insalubridade para
Permite os profissionais atuarem no campo da higiene do
189 a 192 trabalhadores expostos a agentes insalubres acima dos
trabalho – riscos físicos, químicos e biológicos.
limites de tolerância.
Permite o profissional de segurança avaliar as condições
Define o trabalho em condições de periculosidade onde
periculosas na exposição a inflamáveis, explosivos ou
193 assegura ao empregado um adicional de 30% sobre o seu
energia elétrica, tendo sido incluídos os trabalhadores em
salário mensal.
vigilância armada e aqueles em trabalho com motocicletas
Estabelece que não sejam exigidos do empregado servi- Permitem aos profissionais de saúde, ergonomista e se-
198
ços superiores às suas forças gurança ações de prevenção da fadiga.
Fonte: BRASIL, 1943 – 1977

11
11
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Normas Regulamentadoras (NR)


No campo da segurança, saúde do trabalhador e ergonomia, a normatização está mui-
to presente e, dentre as várias formas de atuação, as mais concretas são as Normas Regu-
lamentadoras, que, na linguagem dos profissionais, são conhecidas como NR, cuja função
é regulamentar e fornecer orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à
Segurança e Medicina do Trabalho no Brasil, que estão contidas no Capítulo V, Título II,
da Consolidação das Leis do trabalho (CLT) e são relativas à Segurança e Medicina do
Trabalho. Foram aprovadas pela Portaria N.º 3.214, 08 de junho de 1978.

Ponto importante das NR é que atingem uma parcela do meio ambiente de trabalho,
especificamente a obrigatoriedade de todas as empresas brasileiras regidas pela CLT,
para a modificação das NRS são necessários a participação tripartites (três lados) espe-
cíficas, compostas por representantes do Governo, empregadores e empregados.

Uma forma de entender melhor essas alterações é compreendendo muito bem a Clas-
sificação das Normas Regulamentadoras. Essa classificação é trazida a nós pela Portaria
nº 787 de 27 de Novembro de 2018. Essa Portaria classifica as NR em três categorias:
gerais, especiais e setoriais.

Vamos entender cada uma delas abaixo: Normas Regulamentadoras Gerais são as
normas que regulamentam aspectos decorrentes da relação jurídica prevista na Lei sem
estarem condicionadas a outros requisitos, como atividades, instalações, equipamentos
ou setores e atividades econômicas específicas.” (Art. 3º, §1º.). Ou seja, as NR Gerais são
aquelas que estão presentes em todos os setores econômicos do Brasil.
• Normas gerais regulamentam aspectos decorrentes da relação jurídica prevista na
Lei sem estarem condicionadas a outros requisitos, como atividades, instalações,
equipamentos ou setores e atividades econômicas específicas.
» Exemplo. O item 1.5.3.1.1 da Norma NR 1 descreve que o gerenciamento de
riscos ocupacionais deve constituir um Programa de Gerenciamento de Riscos -
PGR. E o item 1.5.3.2 descreve como deve se dar a organização deve: a) evitar os
riscos ocupacionais que possam ser originados no trabalho; b) identificar os peri-
gos e possíveis lesões ou agravos à saúde; c) avaliar os riscos ocupacionais indican-
do o nível de risco; d) classificar os riscos ocupacionais para determinar a necessi-
dade de adoção de medidas de prevenção; e) implementar medidas de prevenção,
de acordo com a classificação de risco e na ordem de prioridade estabelecida na
alínea “g” do subitem 1.4.1; e f) acompanhar o controle dos riscos ocupacionais.
Portanto, a NR 1 deve ser utilizada por todos os setores que envolvem rela-
ção de trabalho regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho;
• Normas especiais regulamentam a execução do trabalho considerando as ativi-
dades, instalações ou equipamentos empregados, sem estarem condicionadas a
setores ou atividades econômicas específicas.
» Exemplo. O item 12.1.9 da NR 12 descreve que na aplicação da NR e de seus
anexos, devem-se considerar as características das máquinas e equipamentos,
do processo, a apreciação de riscos e o estado da técnica. Portanto, deve ser
utilizada em todos os setores que possuem máquinas e equipamentos que

12
oferecem risco de acidentes e adoecimentos dos trabalhadores que envol-
vem relação de trabalho, regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho.
• Normas setoriais regulamentam a execução do trabalho em setores ou atividades
econômicas específicas.
» Exemplo. O item 18.1.1 Esta Norma Regulamentadora – NR 18 estabelece dire-
trizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização, que objetivam
a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança
nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na Indústria da
Construção. Portanto, deve ser utilizada apenas nos setores na Indústria da
Construção que envolvem relação de trabalho regido pela Consolidação das
Leis do Trabalho (BRASIL, 2018).

As Normas Regulamentadoras organizam-se conforme exposto a seguir:

Tabela 2
Norma Classificação
Descrição
Regulamentadora da NR
Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais: O objetivo é
estabelecer as disposições gerais e as diretrizes e os requisitos para o gerencia-
1 GERAL
mento de riscos ocupacionais e as medidas de prevenção em Segurança e Saúde
no Trabalho – SST.
Inspeção Prévia: foi revogada pela PORTARIA SEPRT nº 915, de 30 de julho de
2 REVOGADA
2019, publicada no DOU de 31/07/2019.
Embargo ou Interdição: estabelece as diretrizes para caracterização do grave e
3 GERAL
iminente risco e os requisitos técnicos objetivos de embargo e interdição.
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Tra-
balho (SESMT): estabelece os critérios para a organização dos SESMT, de forma
a reduzir os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais. Para cumprir suas
4 funções, o SESMT deve ter os seguintes profissionais: Médico do Trabalho, Enge- GERAL
nheiro de Segurança do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho, Técnico de Segurança
do Trabalho e Auxiliar de Enfermagem, em quantidades estabelecidas em função
do número de trabalhadores e do grau de risco.
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA): As Empresas privadas e
públicas e os Órgãos Governamentais que tenham empregados regidos pela CLT
– Consolidação das Leis do Trabalho ficam obrigados a organizar e a manter em
5 GERAL
funcionamento da CIPA, que tem como objetivo a prevenção de acidentes e de
doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemen-
te o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.
Equipamento de Proteção Individual (EPI): O EPI – Equipamento de Proteção
Individual é todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional ou estran-
6 ESPECIAL
geira, destinado a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador. A Em-
presa é obrigada a fornecer os EPIs gratuitamente aos empregados.
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): Estabelece a
obrigatoriedade da elaboração e da implementação, por parte de todos os empre-
7 GERAL
gadores e Instituições que admitam trabalhadores como empregados. O PCMSO
tem o objetivo de promover e preservar a saúde do conjunto dos seus trabalhadores.
Edificações: Estabelece requisitos técnicos mínimos que devem ser observados
8 ESPECIAL
nas edificações para garantir segurança e conforto aos que nela trabalham.

13
13
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Norma Classificação
Descrição
Regulamentadora da NR
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): Estabelece a obrigato-
riedade da elaboração e da implementação, por parte de todos os empregadores
9 e Instituições que admitam trabalhadores como empregados, do PPRA, por meio GERAL
da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência
de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho.
Serviços em Eletricidade: Estabelece os requisitos e as condições mínimas exigi-
das para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que interagem com ins-
10 ESPECIAL
talações elétricas, em suas etapas de projeto, construção, montagem, operação e
manutenção, bem como de quaisquer trabalhos realizados em suas proximidades.
Transporte, Movimentação, Armazenagem, e Manuseio de Materiais: Esta-
belece Normas de Segurança para a operação de elevadores, guindastes, trans-
11 ESPECIAL
portadores industriais e máquinas transportadoras. O armazenamento de ma-
teriais deverá obedecer aos requisitos de segurança para cada tipo de material.
Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos: Estabelece os procedi-
mentos obrigatórios nos locais destinados a máquinas e a equipamentos, como
12 ESPECIAL
piso, áreas de circulação, dispositivos de partida e parada, normas sobre proteção
de máquinas e equipamentos, bem como manutenção e operação.
Caldeiras e vasos de Pressão: Estabelece os procedimentos obrigatórios nos
locais onde se situam as caldeiras de qualquer fonte de energia, projeto, acom-
13 panhamento de operação e manutenção, inspeção e supervisão de inspeção de ESPECIAL
caldeiras e vasos de pressão, em conformidade com a regulamentação profissio-
nal vigente no país.
Fornos: Estabelece os procedimentos mínimos, fixando construção sólida, revesti-
14 da com material refratário, de forma que o calor radiante não ultrapasse os limites ESPECIAL
de tolerância, oferecendo o máximo de segurança e conforto aos trabalhadores.
Atividades e Operações Insalubres: Estabelece os procedimentos obrigatórios,
nas atividades ou nas operações insalubres que são executadas acima dos limites
15 de tolerância previstos na Legislação, comprovados por meio de laudo de inspe- ESPECIAL
ção do local de trabalho. Agentes agressivos: ruído, calor, radiações, pressões,
frio, umidade e agentes químicos.
Atividades e Operações Perigosas: Estabelece os procedimentos nas ativida-
des exercidas pelos trabalhadores que manuseiam e/ou transportam explosivos
16 ou produtos químicos, classificados como inflamáveis, substâncias radioativas e ESPECIAL
serviços de operação e manutenção, bem como os trabalhadores em vigilância
armada e aqueles em trabalho com motocicletas.
Ergonomia: Estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a pro-
porcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, incluindo
17 GERAL
os aspectos relacionados ao levantamento, ao transporte e à descarga de ma-
teriais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de
trabalho e à própria organização do trabalho.
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção: Esta-
belece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização,
18 que objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos SETORIAL
de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na
Indústria da construção.
Explosivos: Estabelece os procedimentos para manusear, transportar e armaze-
19 ESPECIAL
nar explosivos de uma forma segura, evitando acidentes.
Líquidos Combustíveis e Inflamáveis: Estabelece a definição para líquidos com-
20 bustíveis, líquidos inflamáveis e Gás de Petróleo liquefeito, parâmetros para ar- ESPECIAL
mazenar, como transportar e como devem ser manuseados pelos trabalhadores.

14
Norma Classificação
Descrição
Regulamentadora da NR
Trabalhos a céu aberto: Estabelece os critérios mínimos para os serviços reali-
21 zados a céu aberto, sendo obrigatória a existência de abrigos, ainda que rústicos, ESPECIAL
com boa estrutura, capazes de proteger os trabalhadores contra intempéries.
Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: Estabelece sobre procedi-
mentos de Segurança e Medicina do Trabalho em Minas, determinando que a
22 Empresa adotará métodos e manterá locais de trabalho que proporcionem a seus SETORIAL
empregados condições satisfatórias de segurança e saúde aos trabalhadores pro-
tegendo o meio ambiente de trabalho.
Proteção Contra Incêndios: Estabelece os procedimentos que todas as Empre-
sas devem possuir, no tocante à proteção contra incêndio, saídas de emergência
23 ESPECIAL
para os trabalhadores, equipamentos suficientes para combater o fogo e pessoal
treinado no uso correto.
Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho: Estabelece crité-
rios mínimos, para fins de aplicação de aparelhos sanitários, gabinete sanitário,
24 ESPECIAL
banheiro, cujas instalações deverão ser separadas por sexo, vestiários, refeitó-
rios, cozinhas e alojamentos.
Resíduos Industriais: Estabelece os critérios para a eliminação de resíduos in-
25 dustriais dos locais de trabalho, por meio de métodos, equipamentos ou medidas ESPECIAL
adequadas, de forma a evitar riscos à saúde e à segurança do trabalhador.
Sinalização de Segurança: Tem por objetivos fixar as cores que devem ser usa-
26 das nos locais de trabalho para prevenção de acidentes, identificando, delimitan- ESPECIAL
do e advertindo contra riscos.
27 Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho. REVOGADA
Fiscalização e Penalidades: Estabelece que fiscalização, embargo, interdição e
penalidades, no cumprimento das disposições legais e/ou regulamentares sobre
28 GERAL
segurança e saúde do trabalhador, serão efetuadas obedecendo ao disposto nos
Decretos-Leis.
Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: Estabelece ações de proteção obri-
gatória contra acidentes e doenças profissionais, alcançando as melhores condi-
29 ções possíveis de segurança e saúde dos trabalhadores que exerçam atividades SETORIAL
nos portos organizados e nas instalações portuárias de uso privativo e retropor-
tuárias, situadas dentro ou fora da área do Porto organizado.
Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário: Esta norma aplica-se aos traba-
lhadores das embarcações comerciais que utilizam no transporte de mercadorias
ou de passageiros, inclusive naquelas utilizadas na prestação de serviços, seja na
30 SETORIAL
navegação marítima de longo curso, na de cabotagem, na navegação interior, de
apoio marítimo e portuário, seja em plataformas marítimas e fluviais, quando
em deslocamento.
Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Ex-
ploração Florestal e Aquicultura: Tem por objetivo estabelecer os preceitos a
serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar
31 SETORIAL
compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura,
pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura com a segurança e saúde
e meio ambiente do trabalho.
Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde: Tem por fina-
lidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de pro-
32 SETORIAL
teção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como
daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral.
Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados: Estabelece os requi-
sitos mínimos para a identificação de espaços confinados e o reconhecimento,
33 avaliação, monitoramento e controle dos riscos existentes, de forma a garantir ESPECIAL
permanentemente a segurança e a saúde dos trabalhadores e que interagem
direta ou indiretamente nestes espaços.

15
15
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Norma Classificação
Descrição
Regulamentadora da NR

Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Re-


paração Naval: Estabelece requisitos mínimos e as medidas de proteção à se-
34 SETORIAL
gurança, à saúde e ao meio ambiente de trabalho nas atividades da indústria de
construção e reparação naval.

Trabalho em Altura: Estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção


para o trabalho em altura, como o planejamento, a organização e a execução, a
35 ESPECIAL
fim de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores com atividades executa-
das acima de dois metros do nível inferior, onde haja risco de queda.
Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de
Carnes e Derivados: Estabelece os requisitos mínimos para a avaliação, controle
e monitoramento dos riscos existentes nas atividades desenvolvidas na indústria
36 SETORIAL
de abate e processamento de carnes e derivados destinados ao consumo huma-
no, de forma a garantir permanentemente a segurança, a saúde e a qualidade de
vida no trabalho.
Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo: Estabelece os requisitos
37 mínimos de segurança, saúde e condições de vivência no trabalho a bordo de SETORIAL
plataformas de petróleo em operação nas Águas Jurisdicionais Brasileiras.
Fonte: BRASIL – Escola Nacional da Inspeção do Trabalho – ENIT

Website da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho – ENIT.


Disponível em: https://bit.ly/3zUkKzm

Organização Internacional do Trabalho (OIT)


A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência das Nações Unidas, na
sua composição tem estrutura tripartite, na qual representantes de governos, de organi-
zações de empregadores e de trabalhadores possam participar na construção de políticas
públicas visando oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um tra-
balho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade.

O Brasil tem ratificadas muitas Convenções da OIT, dentre elas destacamos: Idade
Mínima de Admissão nos Trabalhos Industriais, Repouso Semanal na Indústria, Proteção
à Maternidade, Férias Remuneradas, Inspeção do Trabalho na Indústria e no Comércio,
Organização do Serviço de Emprego, Proteção do Salário, Direito de Sindicalização e de
Negociação Coletiva, Normas Mínimas da Seguridade Social, Abolição do Trabalho For-
çado, Proteção Contra as Radiações, Proteção das Máquinas, Proteção Contra os Riscos
da Intoxicação pelo Benzeno, Prevenção e Controle de Riscos Profissionais Causados por
Substâncias ou Agentes Cancerígenos, Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações, Seguran-
ça e Saúde dos Trabalhadores, Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes,
Serviços de Saúde do Trabalho, Sobre a Segurança e Saúde na Construção, Segurança
no Trabalho com Produtos Químicos, Sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores,
Sobre segurança e saúde nas minas, Convenção e Recomendação sobre Trabalho Decente
para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos etc.

16
Convenções ratificadas pelo Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3zY70n6

A OIT possui um material didático muito importante no campo da saúde, segurança e er-
gonomia no trabalho, esse material está distribuído em uma enciclopédia de quatro volumes:

Tabela 3
Volume Descrição do conteúdo
Este volume trata de três temas, o primeiro descreve “O corpo humano” e “Cuidados de saúde”, e é adotada uma
abordagem descritiva e médica, disponibilizando informação sobre doenças, sua detecção e prevenção, serviços
de medicina do trabalho e atividades de promoção da saúde.
O segundo descreve ações sobre a “Gestão e política de saúde e segurança” e os aspectos legais, éticos e sociais,
I
bem como os recursos educacionais, informativos e institucionais.
O terceiro descreve “Ferramentas e abordagens relacionadas com o estudo e aplicação da saúde e seguran-
ça no trabalho”: ergonomia, epidemiologia e estatística, higiene e segurança industrial, bem como controle de
riscos em geral. Uma seção é dedicada à toxicologia geral e aplicada à prevenção.
Este volume trata de assuntos “específicos dos riscos e perigos” no meio ambiente de trabalho, portanto, des-
creve os riscos sociais, mecânicos, físicos e químicos; métodos de gestão de acidentes e segurança que podem ser
encontrados em todo o mundo. Detalha a natureza dos riscos e fornece informações técnicas sobre sua identifi-
II
cação, avaliação e controle. Inclui artigos sobre radiação da qualidade do ar interior, ruído, equipamentos com
telas, violência, estresse e outros. Todas as facetas do uso de produtos químicos, armazenamento, transporte,
identificação e utilização.
Este volume trata de assuntos do “como realizar as ações” nos setores industriais e profissionais, portanto, expli-
ca “como funcionam as coisas” e “como são controlados os riscos” nos principais setores da indústria. Amplamente
III
ilustrado com diagramas e fotografias, direciona o leitor às operações básicas da indústria, agricultura e serviços,
com foco nos riscos, sua prevenção, controle e as consequências.
Este volume trata de construção de “Guias de profissões” e descreve as atividades de riscos/perigos e as medidas
de prevenção.
IV Também possui um “Guia de Produtos Químicos” que apresenta informações básicas sobre a identificação, usos
industriais e seus riscos, propriedades químicas, físicas e toxicológicas de mais de 2.000 substâncias químicas,
incluindo tabelas de fácil acesso ao leitor.
Fonte: Enciclopédia OIT – 20 de fevereiro de 2012

Enciclopédia OIT. Disponível em: https://bit.ly/2T2Rw0G

Constituição Federal
A legislação de Segurança e Saúde do Trabalhador está consolidada na Constituição
Federal que é a atual Carta Magna do Brasil que serve de parâmetro para as demais
legislações vigentes no país. Aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte, ela foi
promulgada no dia 5 de outubro de 1988, durante o governo do presidente José Sarney.

A constituição regulou vários campos para a proteção da saúde e segurança dos tra-
balhadores e, dentre eles, destacamos: a Saúde, Previdência Social, Meio Ambiente, dos
Direitos Sociais e da Seguridade Social, conforme apresentado a seguir:

17
17
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Tabela 4
Título Capítulo Artigo Descrição
São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que vi-
Dos Direitos e Dos Direitos
7º sem à melhoria de sua condição social [...] XXII – redução dos riscos ine-
Garantias Fundamentais Sociais
rentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma di-
Seguridade
195º reta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
Social
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
ticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
196º
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
Dispõe que “são de relevância pública as ações e serviços de saúde,
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regula-
Saúde 197º mentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita dire-
tamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica
Da Ordem Social
de direito privado”.
Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos ter-
mos da lei: Inciso II: executar as ações de vigilância sanitária e epidemio-
200º
lógica, bem como as de saúde do trabalhador; Inciso VIII: colaborar na
proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social [...] I - cobertura dos eventos de incapacidade tem-
porária ou permanente para o trabalho e idade avançada; II - proteção
201º
à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador
em situação de desemprego involuntário; [...] V - pensão por morte do
Previdência segurado [...].
Social
A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independen-
temente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: [...]
203º III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação
e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária;
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
Meio Ambiente 225º
-lo para as presentes e futuras gerações. [...] V - controlar a produção,
a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Fonte: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988

Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3vV02vW

Aplicação das Normas Regulamentadoras


Nesse contexto, vamos discorrer sobre a NR-11 (Transporte, Movimentação, Armaze-
nagem e Manuseio de Materiais) e a NR-12 (Máquinas e Equipamentos).

18
Estudo de caso Norma Regulamentadora 11 – Transporte,
Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais
Para compreender a aplicação da NR 11, será apresentado, a seguir, um acidente
fatal decorrente de atividade de movimentação de carga:

A atividade, nesse caso, consistia na retirada de uma carreta de cana de cima da


carroceria do caminhão com auxílio de um caminhão Munck (figura 1). A tarefa era
executada por dois trabalhadores, o operador de Munck e o motorista do caminhão.
A primeira carreta foi retirada com sucesso. Na carreta seguinte, o operador posi-
ciona o Munck ao lado da carreta (figura 1). O caminhoneiro e o operador sobem
na carroceria do caminhão para ajustar a cinta e a corrente no gancho do Munck e
na carreta (figura 2). Não existe ponto de fixação que garanta a estabilidade exata
na carreta, porém, os trabalhadores têm que colocá-los de forma que garantam a
estabilidade. O caminhoneiro fica sobre o caminhão, mas o operador que se deslo-
cou para o Munck não o vê. O operador desceu em direção ao local de acionamento
do Munck, mas resolveu parar e beber água. Depois, retornou ao comando e acio-
na o Munck para levantamento da carreta. O levantamento inicia-se, mas a alça da
corrente escapa (Figura 3), ocasionando o deslocamento da carreta que atingiu a
cabeça, abdômen e tórax do trabalhador que estava na carroceria do caminhão (Fi-
gura 4). O operador do Munck chama pelo motorista. O motorista não responde. O
operador do Munck vai à carroceria verificar o que ocorreu e encontra o motorista
prensado pela carreta, tenta levantar a carreta, mas não consegue. Em seguida, cor-
re no pátio até a portaria solicitando ajuda. Acionaram a ambulância da empresa.
A equipe vai para o socorro. Movimentam o Munck e retiram o trabalhador. O tra-
balhador é encaminhado para o Pronto-Socorro e, posteriormente, para o hospital,
passa por cirurgia, mas não resiste aos ferimentos e vem a óbito (SILVA, 2016a).

Figura 1 – Vista superior das carretas lateral e dos ganchos


Fonte: Adaptada de CEREST

19
19
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Figura 2 – Vista lateral das carretas no momento que escapa o gancho


e vista superior das carretas no momento do AT
Fonte: Adaptada de CEREST

Figura 3 – Ações tomadas adotadas após acidente no gancho (errado e certo)


Fonte: CEREST

Considerando a NR 11 e os Princípios de Prevenção e Proteção em Movimentação Manual de


Cargas, explore a NR para apontar os itens que não foram atendidos. Para ampliar a pesqui-
sa, seguem itens importantes apontados pela OIT (HÄKKINEN, 2021):
• Garantir que os pontos, as cintas e as correntes sejam conectados ao centro de gravi-
dade da peça/carreta;
• Fornecer os equipamentos (cintas, correntes) adequados para o içamento;
• Planejar todas as etapas do processo: descarregamento, armazenagem, processo e
expedição;
• Eliminar todas as operações desnecessárias de transporte e manipulação de carga;
• Afastar as pessoas do espaço delimitado para transporte e manipulação de carga;
• Separar ao máximo as operações de transporte de carga para evitar choques entre as
cargas;
• Proporcionar espaço suficiente para transporte e manipulação;
• Projetar processos de transporte contínuo, evitando pontos de descontinuidade;
• Utilizar elementos-padrão na manipulação de materiais;
• Conhecer o material a ser manipulado ou transportado;
• Manter o peso da carga abaixo da capacidade de trabalho segura;

20
• Estabelecer um limite de velocidade suficientemente baixo para garantir um movi-
mento seguro;
• Evitar a elevação de cargas em altura acima dos trabalhadores;
• Evitar métodos de manipulação que exijam subir ou trabalhar em alturas elevadas;
• Colocar proteções nos pontos de perigo;
• Transportar e elevar pessoas utilizando somente equipamentos destinados a esse fim;
• Manter a estabilidade de equipamentos e cargas;
• Proporcionar aos operadores uma boa visibilidade;
• Substituir a manipulação e transporte manual por mecanizada e automatizada;
• Proporcionar e manter uma comunicação eficaz;
• Aplicar os princípios de ergonomia, visando às interfaces humanas com a manipula-
ção de material;
• Proporcionar capacitação e assessoramento adequados;
• Proporcionar aos trabalhadores envolvidos os EPI adequados;
• Realizar trabalhos de inspeção e manutenção adequados;
• Prever no planejamento as mudanças das condições ambientais, tais como: chuva,
vento etc.;
• Promover a participação dos trabalhadores nas etapas descritas.

Correto
Equip
amen

soal
Pes
to

Resultado
Entorno Tarefa
Pro Análise de
ced Segurança
im
ent
Carga

o Incorreto

Organização/Gestão – Projetos – Sistema de Segurança

Melhorias

Figura 4 – Princípio da melhoria contínua na manipulação de materiais


Fonte: Adaptada de HÄKKINEN, OIT 2021

Estudo de caso Norma Regulamentadora


12 – Máquinas e Equipamentos
Para compreender a aplicação da NR 12, será apresentado, a seguir, um acidente
com amputação de dedos durante a operação de máquina guilhotina que corta borracha.

Acidente guilhotina – Acidente com amputação de quatro dedos (Figura 1). O Sr. X
relata que a guilhotina (Figura 2) pequena estava dando problema há algum tem-
po, que estava travando há, pelo menos, quatro meses, a alavanca que comandava
a subida e descida da lâmina estava com problema na mola, ao empurrá-la para

21
21
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

subir, ela enroscava e não parava e vice-versa ao descer, tinha que mexer em um
parafuso para parar ou balançar a alavanca para parar a lâmina. A guilhotina foi para
manutenção onde permaneceu por dez dias para amolar a lâmina e, consequente-
mente, realizar manutenção no pistão da guilhotina. Ao retornar para a empresa,
a guilhotina foi instalada por trabalhadores da própria empresa contratante, não
havendo mão de obra especializada na instalação. Não havia um controle sistemáti-
co (autorização) por parte da empresa para operação da guilhotina, o que é exigido
por Lei para operação desse tipo de máquina, que estabelece curso de capacitação
para a operação de prensas e outras máquinas perigosas. Nesse novo cenário de
funcionamento da máquina, o Sr. X foi trabalhar com a guilhotina. No início da ati-
vidade, pegou um pedaço de borracha no chão, na lateral direita, colocou na guilho-
tina, segurou a borracha com a mão esquerda e com a mão direita na alavanca para
acionar e descer. O trabalhador percebeu que a lâmina estava baixa e que precisava
subi-la para melhor encaixar a borracha em baixo da lâmina, quando movimentou a
alavanca para subir a mesma desceu prensando sua mão que segurava a borracha.
Na tentativa de subir a lâmina, novamente realizou movimento com a alavanca para
subir como era de costume e a lâmina baixou ainda mais vindo a cortar o 2°, 3°, 4°
e 5° dedos da mão esquerda. Percebeu então que o comando estava invertido e
movimentou a alavanca para baixo. Quando a lâmina subiu e ele conseguiu puxar
sua mão, visualizou que seus dedos estavam pendurados, refere ter gritado e saído
em direção ao escritório, encontrou com seu irmão no caminho (na calçada) que foi
chamar o proprietário, outro trabalhador trouxe uma camiseta para enrolar em sua
mão, foi levado ao hospital. (SILVA, 2016b)

Figura 5 – foto da mão do trabalhador acidentado com os dedos amputados


fonte: Acervo do Conteudista

Figura 6 – Foto da máquina que gerou o acidente


fonte: Acervo do Conteudista

22
Considerando a NR 12 e os Princípios de Prevenção e Proteção no uso da Guilhotina, explore a NR
para apontar os itens que não foram atendidos, para ampliar a pesquisa segue itens importantes:
• Criar barreiras físicas em todas as áreas de acesso às partes móveis da zona de corte;
• Realizar os levantamentos de riscos na empresa para identificar pontos sem proteção
nas partes móveis e transmissão de força;
• Adotar medidas que não permitam o ingresso de partes do corpo, tais como: mãos,
dedos e pés nas partes móveis;
• Adotar medidas de redundância de segurança no acesso às partes móveis;
• Criar responsáveis pela manutenção;
• Criar sinalizações diferentes para os componentes de acionamento e desligamento e
a sua interação;
• Podem-se criar conexões diferentes para o sistema hidráulico para evitar a inversão
do sistema de acionamento;
• Capacitar os operadores.

23
23
UNIDADE Aspectos Legais e Normativos da
Ergonomia e Segurança do Trabalho

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Live CANPAT 09/06/2020 - 9h - especial PGR
https://youtu.be/wrpdwR8aP5Q
Canpat 2020 - Especial NR-18
https://youtu.be/c3bZe6awWbA
PGR e a Nova NR-17 I Live com Marçal Jackson, Maria de Lourdes Moure e Mauro Muller
https://youtu.be/4tmyX-MonUQ
Cultura de Segurança e sua importância na promoção da saúde e segurança no trabalho
https://youtu.be/NoRJUKyKRY0

Leitura
Livro Engenharia do Trabalho – Saúde, Segurança, Ergonomia e Projeto
https://bit.ly/3jbCyQI

24
Referências
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis
do trabalho. Lex: coletânea de legislação: edição federal, São Paulo, v. 7, 1943.

________. Lei Nº 13.844, de 18 de junho de 2019. Estabelece a organização básica dos


órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. Disponível em: <http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13844.htm>. Acesso em: 28/03/2021.

________. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo


II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/
L6514.htm>. Acesso em: 28/03/2021.

________. Ministério do Trabalho. Normas Regulamentadoras. Disponíveis em: <ht-


tps://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-menu/
sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default>. Escola Nacional da Inspeção do Tra-
balho - ENIT.Acesso em: 28/03/2021.

_______ _. Portaria Nº 787 de 27 DE Novembro de 2018. Dispõe so-


bre as regras de aplicação, interpretação e estruturação das Normas Regula-
mentadoras. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/
Kujrw0TZC2Mb/content/id/52490706/do1-2018-11-29-portaria-n-787-de-27-de-no-
vembro-de-2018-52490318>. Acesso em: 28/03/2021.

GUIMARÃES, J. R. S. Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um olhar sobre as


Unidades da Federação durante a segunda metade da década de 2000. Organização
Internacional do Trabalho. Escritório da OIT no Brasil. Brasília: OIT, 2012. 416p.

HÄKKINEN, K. Principios de la prevención: Manipulación de materiales y trafico


interno. Parte do capítulo “Aplicaciones de la seguridad” da Enciclopedia de Salud e
Seguridad en el Trabajo - OIT, 2021, 58.82 pág. Disponível em: <https://www.insst.es/
documents/94886/162520/Cap%C3%ADtulo+58.+Aplicaciones+de+la+seguridad>.
Acesso em: 28/03/2021.

SILVA, A. J. N. (a). Alerta de segurança para Movimentação de carga em Usi-


nas. CEREST Piracicaba, 2016. Disponivel: <http://www.cerest.piracicaba.sp.gov.br/
site/images/Alerta_de_Seguranca_AT_fatal_Movim_de_carga_usina.pdf>. Acesso em:
28/03/2021.

________. (b). Alerta de segurança no setor de borracha. CEREST Piracicaba, 2016.


disponivel: <http://www.cerest.piracicaba.sp.gov.br/site/images/Alerta_de_Seguranca_
AT_com_guilhotina_no_setor_de_borracha.pdf>. Acesso em: 28/03/2021.

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Ergonomia e Segurança
do Trabalho
A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
A Relação entre Saúde,
Trabalho e Adoecimento

• Doenças Relacionadas ao Trabalho;


• Fatores de Risco para a Saúde e Segurança dos Trabalhadores;
• Lesões por Esforço Repetitivo e os Distúrbios Osteomusculares
Relacionados com o Trabalho (LER/DORT);
• Atuação de Equipe Multiprofissional;
• A Investigação das Relações Saúde & Trabalho;
• Ações de Proteção e Prevenção em Saúde do Trabalhador;

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Estudar os conceitos das Doenças Relacionadas ao Trabalho, em especial as Lesões por Esforços
Repetitivos (LER) e dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT);
• Apresentar os Fatores de Risco para a Saúde e Segurança dos Trabalhadores;
• Apresentar ações para a atuação multiprofissional e a investigação dos casos;
• Apresentar medidas preventivas e protetivas para a saúde do trabalhador.
UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Doenças Relacionadas ao Trabalho


Os profissionais que atuam no campo da segurança, saúde e ergonomia no trabalho ne-
cessitam compreender a concepção de Saúde Pública e Coletiva, desenvolvida no campo
da Saúde do Trabalhador (ST) no Sistema Único de Saúde, que visa ampliar o olhar para
a determinação no social e ultrapassar as visões reducionistas de causa e efeito (MENDES;
DIAS, 1991; LACAZ, 2007). A ST rompe com esse olhar reducionista e individualizado e
se baseia no conceito de saúde coletiva, que é uma área do conhecimento que tem como
princípio compreender o processo saúde-doença levando em conta muitos elementos os
quais, dentre eles, destacamos os sociais, ambientais, culturais, produtivos. Sendo assim,
ela permite a junção de muitos instrumentos científicos e tecnológicos para a compreen-
são dos processos que determinam a saúde da população, e tem como objetivo proteger
e prevenir o desenvolvimento ou a disseminação de problemas de saúde por meio da
implantação de perfis sanitários (PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998).

O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo


saúde-doença dos trabalhadores tem implicações éticas, técnicas e legais, que se refle-
tem sobre a organização e o provimento de ações de saúde para esse segmento da po-
pulação na rede de serviços de saúde. Nessa perspectiva, o estabelecimento da relação
causal ou do nexo entre um determinado evento de saúde – dano ou doença – individual
ou coletivo, potencial ou instalado, e uma dada condição de trabalho constitui a condi-
ção básica para a implementação das ações de Saúde do Trabalhador nos serviços de
saúde. De modo esquemático, esse processo pode se iniciar pela identificação e controle
dos fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e condições de trabalho e/ou
a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos, lesões ou doenças provoca-
das pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores (MS, 2001).

Importante!
A Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho organiza os agravos a partir dos agentes
etiológicos, fatores de risco de natureza ocupacional e doenças, incluindo neoplasias,
transtornos mentais, doenças infecciosas, parasitárias, do sangue, do sistema nervoso,
do olho, do ouvido e dos sistemas circulatório, respiratório, digestivo, osteomuscular e
endócrino, dentre outras. Disponível em: https://bit.ly/3w1d2jR

No campo da saúde pública, todos os casos de adoecimentos dos trabalhadores são


relevantes, durante esse período de avaliação. Por definição, qualquer caso de doença
relacionada ao trabalho pode ser considerado um evento sentinela, ou seja, um único
caso seria suficiente para desencadear modificações no processo de trabalho visando
impedir uma nova ocorrência (CORRÊA FILHO, 1994). O evento sentinela aponta a
hipótese de não estarem atendidas as medidas de segurança e prevenção já recomenda-
das, ou então indica o surgimento de susceptibilidades individuais ou coletivas desconhe-
cidas, cuja detecção implica em novas medidas de controle.

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É a lógica do “trabalhador saudável”. O trabalhador só consegue trabalhar por-
que tem saúde. Se ele perde saúde no trabalho, esse é um evento inaceitável
do ponto de vista de saúde pública.

Como exemplo, vamos refletir e, para isso, vamos para ano de 1700 quando o Pai
da Medicina do Trabalho, Bernardino Ramazzini, descreve em seus relatos o caso
das doenças dos coveiros:

A tarefa dos enterradores e dos empregados das pompas fúnebres era


antigamente mais penosa do que agora; com grande cuidado prepa-
ravam os corpos dos mortos, lavando-os, untando-os, cremando-os e
guardando suas cinzas em urnas. Homens da mais vil plebe eram recru-
tados para as tarefas de embalsamadores, carregadores e cremadores
dos cadáveres. Atualmente os corpos são levados aos tem atualmente
os corpos são levados aos templos ou aos cemitérios, onde os coveiros
os sepultam. Nas cidades e povoações, pelo menos em nossa Itália, as
famílias possuem tumbas nas mais nobres igrejas. A plebe, nas suas pa-
róquias, põe os seus mortos amontoados em promiscuidade, dentro de
grandes sepulcros; quando os coveiros descem a esses antros fétidos,
cheios de cadáveres semipútridos, para depositarem outros mortos que
trazem, expõem-se a perigosas doenças, como febres malignas, morte
repentina, caquexia, hidropisias, catarros sufocantes e outras doenças
mais, muito graves; apresentam face cadavérica e aspecto amarelado,
como quem vai trabalhar no inferno. Pode-se acreditar que a causa mais
ativa e pior desses males pestíferos está na descida ao sepulcro, pois,
no seu interior, respira-se necessariamente uma atmosfera pestilenta à
qual se incorporam os espíritos animais (cuja natureza deve ser etérea),
inabilitando-os para a sua função, isto é, para a manutenção de toda a
máquina vital. [...] Cumprindo o meu propósito, direi que é justo velar pela
incolumidade dos coveiros, cujo ofício é tão necessário, porque sepultam
na terra os corpos dos mortos junto com os erros dos médicos, devendo,
pois, a arte médica compensá-los com algum benefício por sua própria
dignidade ameaçada. As precauções que se propõem para que padeçam
menos prejuízo no seu trabalho funerário deverão ser as usadas em épo-
ca de pestes; além de lavar a boca e a garganta com vinagre, e levar no
bolso um pano empapado em vinagre para modificar o ar e o mau odor,
deixar uma abertura no túmulo para que a atmosfera fechada pouco a
pouco se desvaneça; terminado o trabalho e de volta à casa, mudarão de
roupa e procurarão ficar limpos, quanto o permita sua mísera condição.
Se sofrem de outra doença, é preciso curá-la com muita prudência. Cada
vez que tive de tratar dessa classe de homem fui parcimonioso na sangria,
pois seu sangue é parecido com o de cadáver, e quase da cor de sua face.
De preferência, empregar-se-ão os purgantes a esses homens que sofrem
de alteração dos humores e passam logo a figurar na família dos mortos.
(FUNDACENTRO, 2016, p. 107)

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Como o médico Bernardino Ramazzini construiu essa narrativa? Quais os problemas dos
coveiros naquela época? Transportando para os dias atuais, em plena pandemia (março de
2021), como você enxerga o trabalho dos coveiros? Considerando o capítulo anterior das
normas regulamentadoras, quais NR devem ser usadas para proteger esses trabalhadores?

Fatores de Risco para a Saúde


e Segurança dos Trabalhadores
No campo normativo mundo do trabalho no Brasil, os fatores de risco para a saúde
e segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, podem ser classi-
ficados em cinco grandes grupos:

Quadro 1 – Descrição dos tipos de fatores de risco

Agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou


Químicos de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos
de trabalho.

Vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em


Biológicos hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária.

Decorrem da organização e gestão do trabalho, por exemplo: da


utilização de equipamentos, máquinas e mobiliário inadequados,
levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com
Ergonômicos e más condições de iluminação, ventilação e de conforto para os
Psicossociais trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou rit-
mo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações
de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos
trabalhadores, entre outros.

Mecânicos e Ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza


do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produtos e
de Acidentes outros que podem levar a acidentes de trabalho.

Diante desses fatores de riscos, todos os profissionais que se preocupam com a prote-
ção dos trabalhadores devem considerar a gravidade das situações – para isso, precisam
estabelecer o excesso de risco, seguindo as etapas determinadas pela Norma Regula-
mentadora n.º 3 (NR 3):
• Avaliar o risco atual (situação encontrada) decorrente das circunstâncias encontra-
das, levando em consideração as medidas de controle existentes, ou seja, o nível
total de risco que se observa ou se considera existir na atividade;
• Estabelecer o risco de referência (situação objetivo), ou seja, o nível de risco rema-
nescente quando da implementação das medidas de prevenção necessárias;
• Determinar o excesso de risco por comparação entre o risco atual e o risco de
referência.

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Uma estratégia a ser usada pelos profissionais é utilizar o método adotado pela NR 3,
no qual a caracterização de uma atividade de trabalho com risco grave e iminente risco
precisa considerar: a) a consequência, como o resultado ou resultado potencial espera-
do de um evento e b) a probabilidade, como a chance de o resultado ocorrer ou estar
ocorrendo. Assim, a aplicação deve considerar que o risco é expresso em termos de
uma combinação das consequências de um evento e a probabilidade de sua ocorrência,
conforme descritos nos Quadros 2 e 3 e na Tabela 1:

Quadro 2 – Classificação das consequências da NR 3

Morte Pode levar a óbito imediato ou que venha a ocorrer posteriormente.

Pode prejudicar a integridade física e/ou a saúde, provocando le-


Severa sões ou sequelas permanentes.

Pode prejudicar a integridade física e/ou a saúde, provocando le-


Significativa são que implique em incapacidade temporária por prazo superior
a 15 (quinze) dias.

Pode prejudicar a integridade física e/ou a saúde, provocando le-


Leve são que implique em incapacidade temporária por prazo igual ou
inferior a 15 (quinze) dias.

Nenhuma Nenhuma lesão ou efeito à saúde.

Quadro 3 – Classificação das probabilidades da NR 3

Medidas de prevenção inexistentes ou reconhecidamente inade-


Provável quadas. Uma consequência é esperada, com grande probabilidade
de que aconteça ou se realize.

Medidas de prevenção apresentam desvios ou problemas signi-


ficativos. Não há garantias de que as medidas serão mantidas.
Possível Uma consequência talvez aconteça, com possibilidade de que se
efetive, concebível.

Medidas de prevenção adequadas, mas com pequenos desvios.


Ainda que em funcionamento, não há garantias de que sejam
Remota mantidas sempre ou em longo prazo. Uma consequência é pouco
provável que aconteça, quase improvável.

Medidas de prevenção adequadas e com garantia de continuidade


Rara desta situação. Uma consequência não é esperada, não é comum
sua ocorrência, extraordinária.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Tabela 1 – Tabela de excesso de risco: exposição individual ou reduzido número de potenciais vítimas
Consequência Probabilidade
Nenhuma Rara N N N N N N N N N N N
Remota N N P N N N P N N N P
Classificação do risco atual

Leve Possível N N P N N N P N N P P
(situação encontrada)

Provável N N M N N N M N P M M
Remota N N M N N N M P M M M
Significativa Possível N N M N N M M M M M M
Provável N N S N M M S M M M S
Remota N N S M M M S M M S S
Morte/Severa Possível N M E M S S E S S S E
Provável S S E S S S E S S E E
Possível

Remota

Rara

Provável

Possível

Remota

Rara

Provável
Possível
Remota
Rara
Probabilidade de referência

Consequência de referência Morte/Severa Significativa Leve/Nenhuma


Classificação do risco de referência
(situação objetivo)
Excesso de Risco:
E – Extremo; S – Substancial; M – Moderado; P – Pequeno; N – Nenhum.

Coloque-se no lugar de um profissional de saúde e segurança e realize uma avaliação da


exposição dos trabalhadores em atividades de trabalho em frigoríficos utilizando o método
adotada pela NR 3. Para conhecer as condições de trabalho, assista ao documentário “Carne
e Osso”. Disponível em: https://youtu.be/imKw_sbfaf0

Considerando os fatores de riscos e a descrição de casos coletivos, o pai da medi-


cina do trabalho atentou para a atividade de trabalho e mostrou quais eram as causas
de adoecimentos daqueles trabalhadores. Por isso, para aprofundar nosso olhar, vamos
conhecer as narrativas das condições de saúde e de trabalho dos pintores:

[...] várias afecções costumam atacar os pintores, como tremores nos


membros, caquexia, enegrecimento dos dentes, palidez da face, melan-
colia e abolição do olfato; e ainda que os pintores retratem os outros em
imagens elegantes e coloridas, raramente acontece que eles mostrem,
por sua vez, o mesmo colorido e o bom semblante daqueles que são
retratados. [...] A culpa disso atribuem à vida sedentária e ao caráter me-
lancólico desses homens, geralmente segregados do convívio social, que
conturbam a mente com ideias fantásticas; porém, existe latente outra
causa da enfermidade. A matéria corante que têm sempre sob o nariz e
nas mãos: óxido de chumbo, cinábrio, cerusa, verniz, azeite de nozes e
de linho utilizados para misturar cores e vários pigmentos extraídos de
diversos fósseis. Devido a isso, percebe-se nas oficinas um odor fétido,
bastante pesado, que o verniz e os mencionados óleos expelem, sendo
muito funesto para a cabeça e, provavelmente, ocasiona a abolição do

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olfato. Os pintores vestem, para trabalhar, blusas sujas e manchadas de
tinta, e, ao pintar, absorvem vapores malignos pelo nariz e pela boca, os
quais penetram nas vias respiratórias, passam ao sangue, perturbam a
economia das funções naturais e provocam os distúrbios já referidos aci-
ma. O cinábrio é parente do mercúrio, a cerusa se prepara com chumbo,
o verde bronzeado com cobre, a cor ultramarina com prata (os pintores
preferem cores minerais, mais duradouras que as vegetais), pois sabemos
que quase toda a matéria corante é extraída do reino mineral e ocasiona
prejuízos graves. (FUNDACENTRO, 2016, p. 61 )

Trazendo para nossa realidade, as equipes multidisciplinares avaliam os postos de trabalho?


Ficam quanto tempo observando as atividades de trabalho? Escutam as dificuldades e afli-
ções dos trabalhadores? Como é feita esta avaliação? É multidisciplinar? Os instrumentos de
avaliação são adequados?

Atualmente, a equipe multidisciplinar deve levar em conta que o gerenciamento de


riscos ocupacionais deve estar integrado com planos, programas e outros documen-
tos previstos na legislação de segurança e saúde no trabalho. Dentre eles, podemos
destacar o PPRA, o PCMSO, Inventário de Máquinas, Análise Ergonômica do Traba-
lho, dentre outras. Esse conjunto de ações e documentos constituem o Programa de
Gerenciamento de Riscos – PGR.

Lesões por Esforço Repetitivo


e os Distúrbios Osteomusculares
Relacionados com o Trabalho (LER/DORT)
As LER/DORT se destacam por serem consideradas síndromes que vêm provocando
sequelas para a saúde dos trabalhadores, o que pode implicar em invalidez permanente,
alterações físicas e psicológicas. A dor e a fragilidade nos membros inferiores e supe-
riores, ou na região da coluna, podem se tornar crônicas, impossibilitando a realização
desde tarefas simples até as mais complexas, no cotidiano do trabalhador, o que pode se
estender para as atividades em nível social e domiciliar.

Nesse contexto, as LER/DORT permeiam os pilares do trabalho e, inicialmente, eram


associadas a trabalhos manuais repetitivos. Pensando nos conceitos históricos, em mea-
dos de 1713, o médico Ramazzini apresentou e descreveu um grupo de afecções mus-
culoesqueléticas, dentre as quais, a encontrada em notários e escreventes que, acreditava
ele, ser pelo uso excessivo das mãos, bem como a repetição no trabalho de escrever.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Essa patologia que, anos depois, foi denominada de “câimbra do escrivão” ou “pa-
ralisia do escrivão”, para o médico Ramazzini, era caracterizada por três fatores básicos
que, em sua essência, influenciavam de forma determinante no seu surgimento.

Os três fatores eram:


• Sedentarismo;
• Uso contínuo e repetitivo da mão em um mesmo movimento;
• Grande atenção mental para não borrar a escrita.

Desse modo, a doença tinha como caracterização uma sensação de parestesia de


membros superiores, acompanhada por sensação de peso e fadiga nos braços, tendo
como fator associado dores cervicais e/ou lombares. Nesse momento histórico, uma
nova doença estava descrita pelo pesquisador, que, tempos depois, por possuir sintomas
comuns, foi também relacionada e descrita em diversas outras atividades laborais.

Já no ano de 1833, houve diversos casos de trabalhadores ingleses acometidos por


sintomas semelhantes aos já descritos por Ramazzini, nos anotadores do serviço britânico,
sendo tal aspecto relacionado ao uso de uma pena de aço mais pesada.

Parestesia: são sensações cutâneas subjetivas (exemplo: frio, calor, formigamento,


agulhadas, adormecimento, pressão, dentre outras).

Como exemplo, vamos realizar a leitura da narrativa de Ramazzini, mas para isso
precisamos viajar no tempo e ir próximo ao ano de 1700, quando o médico descreve em
seus relatos o caso das doenças dos escribas e notários:

Consta-nos que foi muito maior o número de escribas e notários anti-


gamente do que em nossos dias, depois do invento da arte tipográfica;
todavia, sabemos que nas cidades e povoados muitos ganham o sustento
para si e sua família somente com escritas. Os escribas e notários eram
geralmente servos ou escravos libertados, como Rossini demonstra am-
plamente. Com o nome de “notário”, não quero aqui designar os que, em
nosso tempo, redigem contratos e testamentos, mas sim aqueles que, por
meio de pequenas notas, donde a denominação de notários, distinguiam-
-se pela arte de escrever com velocidade. [...] Hoje, na ordem civil,
temos escribas que cobram salários para exercerem seu ofício na cúria,
junto aos magistrados, nas lojas dos mercadores e nas cortes dos prínci-
pes. Investiguemos, pois, as doenças a que estão expostos tais operários.
Três são as causas das afecções dos escreventes: primeira, contínua
vida sedentária; segunda, contínuo e sempre o mesmo movimento
da mão; e terceira, atenção mental para não mancharem os livros
e não prejudicarem seus empregadores nas somas, restos ou outras
operações aritméticas. Conhecem-se facilmente as doenças acarreta-
das pela sedentariedade: obstruções das vísceras, como fígado e baço,
indigestões do estômago, torpor nas pernas, demora no refluxo do san-
gue e mau estado de saúde. Em suma, carecem esses operários dos be-
nefícios que um moderado exercício promove, mas a que não se podem
dedicar, ainda que queiram, pois fizeram contrato e precisam cumprir sua

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jornada de escrita. A necessária posição da mão para fazer correr a
pena sobre o papel ocasiona não leve dano que se comunica a todo
braço, devido à constante tensão tônica dos músculos e tendões, e
com o andar do tempo diminui o vigor da mão. Conheci um homem,
notário de profissão que ainda vive, o qual dedicou toda sua vida a es-
crever, lucrando bastante com isso; primeiro começou a sentir grande
lassidão em todo o braço e não pôde melhorar com remédio algum
e, finalmente, contraiu uma completa paralisia do braço direito.
A fim de reparar o dano, tentou escrever com a mão esquerda; porém,
ao cabo de algum tempo, esta também apresentou a mesma doença. Em
verdade, martiriza os operários, o poderoso e tenaz esforço do ânimo,
necessitando para o seu trabalho grande concentração de todo o cérebro,
contenção dos nervos e fibras; sobrevêm as cefalalgias, corizas, rouqui-
dões, lacrimejamento de tanto olharem fixamente o papel, consequências
estas que afetam muito mais os contadores e mestres de cálculos, como
assim se chamam os que se alugam aos comerciantes. Na mesma cate-
goria estão compreendidos os secretários dos príncipes cujo prazer da
companhia não é a última glória. Passam por grande tortura mental
não só pela multidão de cartas que escrevem, como porque não
adivinham suas intenções ou porque, por astúcia dos príncipes, não
querem ser entendidos de duas maneiras; o certo é que aqueles que
se destinam a esse emprego maldizem seu trabalho e, ao mesmo
tempo, a corte. [...]. (FUNDACENTRO, 2016, p. 249)

O que o médico Ramazzini fez para construir esta narrativa? Quais os problemas osteomuscu-
lares e mentais que foram narrados? Transportando para os dias atuais, como você enxerga o
trabalho do outro? Trabalhadores da limpeza? Dos dentistas? Das telefonistas? Dos professores?

No cenário brasileiro, a década de 1980 foi marcada pelo conhecimento acerca das
LER/DORT, pois os casos de tenossinovite entre os profissionais digitadores levaram
os sindicatos de trabalhadores em processamento de dados a começarem a lutar pelo
reconhecimento das lesões como doenças profissionais. No dia 06 de agosto de 1987,
o Ministério da Previdência identificou coerência na solicitação do sindicato, elaborando
assim, por meio da portaria 4.602, a inclusão da tenossinovite do digitador no índice
de doenças do trabalho. A portaria supracitada, embora mencionasse outras categorias
profissionais além do digitador, era compreendida pela perícia do INSS como exclusiva
aos digitadores.

Já em 1993, foi publicada uma norma técnica, que instituiu o nome Lesões Por Es-
forços Repetitivos (LER), o que ampliou o conceito e aplicação dos direitos previdenciá-
rios ao grupo de trabalhadores portadores de doenças relacionadas ao trabalho.

Em 1998, na revisão de sua norma técnica, a Previdência Social mudou o termo LER
para Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, reduzindo conside-
ravelmente os direitos previdenciários.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

No campo da prevenção, fruto de mobilização sindical, há uma Norma Regulamen-


tadora (NR-17) que fixa alguns limites para as empresas em que há postos de trabalho
que exigem esforços repetitivos, ritmo acelerado e posturas inadequadas, mas ainda não
contempla diversos fatores responsáveis pelas lesões.

Após conhecer um pouco do contexto histórico, vamos aprofundar nosso conheci-


mento sobre a LER/DORT.

A Prevalência de Afastamentos do INSS. Disponível em: https://bit.ly/35Ym8mU

Afinal, o que é a LER?

Vale ressaltar que a LER não corresponde a uma doença ou enfermidade, a sigla é
denominada para caracterizar “Lesões por Esforços Repetitivos” e representa um grupo
de afecções presentes no sistema musculoesquelético. São várias essas afecções, que
apresentam manifestações clínicas distintas e podem variar em graus de intensidade.
Desse modo, não é uma patologia, mas sim uma síndrome inflamatória que provoca dor e
incapacidade funcional. O diagnóstico inclui patologias bastante conhecidas no âmbito da
ortopedia como: a tendinite, reumatismo, bursite, esclerose sistêmica, traumática e artrite,
por exemplo, já que essas também apresentam lesões causadas por esforço repetitivo.

Tabela 2 – Classificação da LER por fase, estágio e grau


Fase Estágio Grau
Grau 1: dor em uma determinada região corporal es-
Estágio 1: Cansaço e dor nos braços du-
Fase 1: as dores são mal de- pecífica apresentando a atividade repetitiva. A região
rante a jornada de trabalho, tendo mo-
finidas e podem melhorar afetada transmite a sensação de “peso” e ocasional-
mentos de melhora do horário de trabalho
com repouso. mente surge durante a jornada de trabalho, mas não
e sem alterações no desempenho normal.
interfere na produtividade.
Grau 2: dor em diversas regiões durante a realização da
Fase 2: dores com poucos si- Estágio 2: Dor e cansaço persistentes atividade que causou a síndrome. A dor é contínua, in-
nais objetivos que melhoram mesmo durante o repouso. Sono agitado tensa e surge durante a atuação nos postos de trabalho,
com repouso. e incapacidade para o trabalho repetitivo. não passa, mas é tolerável. Pode estar acompanhada de
formigamento, calor e sensibilidade no local lesado.
Grau 3: dor intensa e forte, além de ser persistente e
Estágio 3: Dor, fadiga e fraqueza cons- surgir diversas vezes durante as atividades e também
tantes, mesmo em situações em que o no repouso. Características: perda/redução de força
Fase 3: muita dor que não indivíduo esteja em repouso. muscular, redução de produtividade e, em diversos
melhora com repouso.
Dificuldades para dormir, o que prejudi- casos, impossibilidade de executar a função que lhe é
ca o sono. Presença de lesões. designada. Edemas, dores, suor excessivo e perda de
função são típicas desse grau.
Grau 4: Dor intensa e presente de maneira ativa e pas-
siva, durante o movimento ou em repouso, e, durante
a noite, existe aumento considerável da sensibilidade
por todo o membro afetado. O membro afetado fica
Estágio 4: Limitações articulares, sinais
Fase 4: dor intensa com inca- sem força e perde o controle dos movimentos. A ca-
inflamatórios, perda de força, etc.; a capa-
pacidade funcional. pacidade para exercer o trabalho é nula e os hábitos e
cidade de esforço está muito diminuída.
atividades de vida diária são prejudicados. Neste grau,
além dos aspectos físicos, os aspectos mentais geram
situações de estresse, angústia, medo e alguns casos
de depressão.

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Desde o ano 2000, o dia 28 de fevereiro é considerado o Dia Internacional de Combate às
Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DORT). Assista à pesquisadora da Fundacentro Dr.ª Maria Maeno que narra sobre o dia 28
de fevereiro, Dia Internacional de Combate às LER-DORT, a pesquisadora comenta as mani-
festações de diferentes formas de apresentação dos quadros, dificuldades encontradas no
reconhecimento das relações entre quadros e o histórico de exposições.
Disponível aqui: https://youtu.be/nPXyQArsiK0

A visão do profissional deve ser direcionada de maneira que abarque o pensamento


nos fatores de riscos das LER/DORT que incluem, em um panorama mais amplo: os
itens do trabalho que se relacionam de maneira direta ou indiretamente com as mani-
festações clínicas.

Você perceberá que alguns fatores receberão atenção especial a fim de evitar possí-
veis riscos de doenças ocupacionais, como:
• Identificação se existe sobrecarrega ao trabalho executado pelo trabalhador;
• Se esse trabalhador exerce suas funções sob pressão, seja da chefia, coordenador,
supervisor, ou dos colegas de trabalho (o que pode acarretar no aumento significa-
tivo de alterações nos aspectos físicos e mentais);
• Visualizar os aspectos gerais em que o trabalhador não tem controle sobre suas
atividades (caixa, digitador, operador de telemarketing e outros);
• Obrigatoriedade na manutenção rítmica de maneira acelerada para garantir o ren-
dimento da produção;
• Trabalho fragmentado, que é compreendido como aquele em que cada trabalhador
exerce uma única tarefa de forma repetitiva;
• Identificar o baixo número de profissionais para determinadas funções;
• Alta jornada de trabalho, além da parte de mobiliários, ambiente, equipamentos,
falta de EPIs adequados e necessários para aquela determinada função;
• A ausência de pausas durante o trabalho também é um grande fator para desenvol-
vimento de doenças ocupacionais.

Os fatores supracitados podem afetar de maneira negativa a saúde do trabalhador e


alguns fatores podem elevar as chances de intensificar os acidentes, afastamentos e/ou
queixas que diminuem a qualidade de vida do trabalhador.

Assim, pode-se pensar em cinco fatores de riscos que devem ganhar um olhar am-
pliado do profissional que atua com ergonomia.

Fatores de risco:
• Fatores intrínsecos: relacionam-se com o trabalhador como, por exemplo: má
postura, antropometria inadequada, dentre outros;
• Fatores extrínsecos: referem-se às empresas e organizações, como o ritmo das
atividades, condições ambientais desfavoráveis, organização do trabalho etc.;

17
17
UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

• Fatores biomecânicos: força excessiva na realização de determinada atividade la-


boral, por exemplo;
• Riscos organizacionais: a ausência de pausa, seja para ir ao banheiro, beber água,
alongar a musculatura, dentre outros;
• Riscos ambientais: altas ou baixas temperaturas a que os trabalhadores podem
ser expostos;
• Riscos psicoemocionais: o estresse é a alteração mais comumente citada dentre
os fatores de risco, sendo essa, por sua vez, uma alteração grave que pode modifi-
car de maneira acentuada a qualidade de vida do profissional durante os momentos
de trabalho, ampliando essa modificação para sua vida pessoal.

Você percebeu que, dessa maneira, para realizar um diagnóstico voltado para a saúde
do trabalhador de forma eficaz, os profissionais irão se basear em avaliações ocupacio-
nais (por meio de técnicas, escalas, questionários) e exames clínicos com o máximo de
detalhes possíveis para se identificar as alterações nos aspectos biopsicossociais voltados
à atenção da saúde do trabalhador, bem como realizar análise das situações ocupacio-
nais, por meio de dados ergonômicos e epidemiológicos.

O profissional que atua com a saúde do trabalhador precisa conhecer o guia para os profis-
sionais de saúde em LER, material educativo desenvolvido pela Médica Ada Ávila Assunção e
pela auditora fiscal Lailah Vasconcelos Oliveira Vilela. Disponível em: https://bit.ly/3x1eVhG

Atuação de Equipe Multiprofissional


Cabe ressaltar que são vários os profissionais que compõem uma equipe multiprofis-
sional no que tange à saúde do trabalhador, como enfermeiros, médicos, nutricionistas,
assistentes sociais, dentistas, fonoaudiólogos, profissionais da segurança do trabalho,
fisioterapeutas, psicólogos, dentre outros. Desse modo, vamos enfatizar que a atuação
multidisciplinar é fundamental para a prevenção, promoção, recuperação e reabilitação
da saúde do trabalhador.

Nos espaços laborais, existem três níveis de atenção preventiva. A seguir, vamos
compreender cada um deles:
• Prevenção primária: a análise da atividade é fundamental para ações de preven-
ção para a eliminação ou diminuição dos riscos/perigos que possam gerias lesões e
distúrbios osteomusculares. Atendimentos coletivos e individuais como massagens,
liberação miofascial, osteopatia, alongamentos, fortalecimento muscular, podem
contribuir com a redução de danos;
• Prevenção secundária: caracterizada pelo período de patogênese, sendo necessá-
rio inserir intervenções terapêuticas para que o trabalhador retorne ao seu estado
de saúde, baseando-se na conceituação da qualidade de vida ao exercer sua rotina
laboral. O fisioterapeuta deverá realizar avaliações contínuas e assistência integral

18
ao trabalhador (incluindo ações que viabilizem a promoção e prevenção da saúde,
para que a saúde do trabalhador seja protegida);
• Prevenção terciária: visa elaborar ações que evitem o surgimento refratário das
lesões acometidas ao trabalhador, ou seja, que já tenha passado pelos estágios an-
teriores, por exemplo, tratamento de algum pós-operatório, reabilitação funcional
durante o período de recuperação.

A equipe multidisciplinar atuará na prevenção e promoção da saúde do trabalhador a


fim de evitar a LER/DORT, tendo como subsídios a equipe multiprofissional e a CIPA.
Desse modo, os profissionais irão atuar de maneira unida com a finalidade de eliminar
ou amenizar as mais variadas situações e/ou condições que promovam o início de algum
fator negativo, investigando, elaborando estratégias e planejamentos nos quais as causas
ou condições de trabalho estão associadas, prevenindo-as por meio de orientações e
intervenção aos níveis primário, secundário e terciário da base ergonômica no ambiente
de trabalho.

Você pensou nas possibilidades benéficas que a atuação da equipe multidisciplinar


pode trazer para as organizações quando se trabalha em prol da saúde do trabalhador?
• Melhoria na qualidade do serviço prestado;
• Diminuição de ausências e faltas;
• Redução de atrasos e faltas nos postos laborais;
• Atuação profissional com qualidade no desempenho do trabalhador em determinadas;
• Funções, porém, com segurança e qualidade de vida no ambiente laboral;
• Diminuição dos quadros de dores, bem como diminuição do cansaço, desânimo e
fadiga muscular;
• Melhora no relacionamento entre os colegas de trabalho;
• Maior disposição, valorização e proteção profissional, bem-estar no trabalho, prazer
em exercer a função na empresa, dentre outros benefícios.

É necessário que exista uma compreensão mútua, pois ambas as partes são impor-
tantes nas organizações: o trabalhador, com sua mão de obra e conhecimento, e a orga-
nização, com a oferta de trabalho, devendo existir preocupação entre os pares, zelando
uns pelos outros para aumento da qualidade de vida e saúde no ambiente de trabalho.

De modo similar, as equipes, durante a investigação ocupacional, devem incluir pro-


cedimentos que abarquem as seguintes etapas:
1. Realizar questionamentos sobre a história clínica de maneira ampla e com de-
talhes (história da moléstia atual);
2. Investigar e avaliar os diversos sistemas corporais;
3. Identificar comportamentos e hábitos relevantes do indivíduo;
4. Questionar acerca dos antecedentes pessoais e familiares;
5. Anamnese ocupacional: identificar o cenário, função e todos os detalhes que
envolvem o profissional no espaço laboral;
6. Exame físico detalhado e exames complementares, caso o profissional veja
necessidade de solicitação.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Assim, a anamnese ocupacional é uma etapa que, além de relevante para elaboração
de tratamentos e diagnóstico, torna-se investigativa, o que amplia a visão do profissional
para inserir condutas que beneficiem a saúde do trabalhador. É indispensável que o pro-
fissional avalie, estabeleça metas e condutas, bem como oriente e reavalie o trabalhador.

A Investigação das
Relações Saúde & Trabalho
No campo do reconhecimento do acidente do trabalho e doenças ocupacionais, os
profissionais tais como médicos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, engenheiros, dentre outros, devem se atentar para as normas legais e
ético-profissionais para análise.

O Ministério da Saúde (2001, p. 27) aponta que é importante que o:

“reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo


saúde-doença dos trabalhadores tem implicações éticas, técnicas e legais, que se
refletem sobre a organização e o provimento de ações de saúde para esse segmento
da população, na rede de serviços de saúde”.

Assim os profissionais que estão na linha de frente para a proteção da saúde dos
trabalhadores devem estabelecer a relação causal ou do nexo entre um determinado
evento de saúde – dano ou doença – individual ou coletivo, potencial ou instalado, e
uma dada condição de trabalho. De modo esquemático, esse processo pode se iniciar
pela identificação e controle dos fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e
condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos,
lesões ou doenças provocadas pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Pontos importantes que devem ser considerados sobre o adoecimento dos trabalha-
dores e sua relação com o trabalho:

Tabela 3 – Classificação das Doenças Segundo sua Relação com o Trabalho


Grupo Descrição Exemplos
Intoxicação por chumbo/Silicose/
Doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças pro-
I doenças profissionais legalmente
fissionais, stricto sensu, e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional.
reconhecidas.
Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas
Doença coronariana, doenças do
não necessário, exemplificadas pelas doenças comuns, mais frequentes
II aparelho locomotor, câncer, varizes
ou mais precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o
dos membros inferiores.
nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica.
Doenças mentais e ostemusculares
Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou
III Bronquite crônica, Dermatite de
agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa.
contato alérgica, Asma
Fonte: Adaptada de Ministério da Saúde, 2001 | SCHILLING, 1984

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Segundo as Diretrizes Sobre Prova Pericial em Acidentes do Trabalho e Doenças
Ocupacionais, proposto pelo Comitê Gestor Nacional do Programa Trabalho Seguro,
que é uma iniciativa do Conselho Superior da Justiça do Trabalho e do Tribunal Supe-
rior do Trabalho e pela resolução do Conselho Federal de Medicina CFM Nº 2183 DE
21/06/2018, para a investigação dos profissionais, precisam considerar:

A história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou investigação


de nexo causal;
• O estudo do local de trabalho;
• O estudo da organização do trabalho;
• Os dados epidemiológicos;
• A literatura técnica específica atualizada;
• A ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições
agressivas à saúde;
• A identificação dos riscos existentes no meio ambiente do trabalho;
• O depoimento e a experiência dos trabalhadores;
• Os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam
ou não da área da saúde;
• A capacitação dos trabalhadores ou outros aspectos de gestão de segurança e saú-
de do trabalho que influenciaram a ocorrência do evento.
• Relatar se havia medidas de prevenção que poderiam ter evitado a agressão e/ou
lesão ao trabalhador, bem como as medidas de proteção que poderiam ter reduzido
as suas consequências.

Para conhecer o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho desenvolvido


pela equipe do Trabalho Seguro. Disponível em: https://bit.ly/3x8sD2A

Pontos importante nos casos de reconhecimento do nexo com o trabalho é necessário


abrir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), onde é regulada pelo Lei 8.213/1991,
onde descreve que o acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a servi-
ço da empresa ou pelo exercício de trabalho dos segurados, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária,
da capacidade para o trabalho.

Importante!
A abertura da CAT possibilita o controle estatístico dos órgãos federais, além de garantir
a assistência do trabalhador junto ao INSS ou mesmo a sua aposentadoria por invalidez,
se for o caso. Após a comprovação do acidente de trabalho ou doença profissional, o
trabalhador terá direito ao auxílio-doença acidentário.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Nesse campo da notificação, é de suma importância o profissional conhecer sobre o


Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP, que foi implementado nos siste-
mas informatizados do INSS, para concessão de auxílios-doença de natureza acidentária.

Existem 3 (três) tipos de nexos técnicos previdenciários:


• Nexo técnico profissional ou do trabalho: fundamentado nas associações entre do-
enças e exposições constantes das listas A e B do anexo II do Decreto nº 3.048/99;
• Nexo técnico por doença equiparada a acidente de trabalho ou nexo técnico
individual: decorrente de acidentes de trabalho típicos ou de trajeto, bem como de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele relacionado diretamen-
te, nos termos do § 2º do art. 20 da Lei nº 8.213/91;
• Nexo técnico epidemiológico previdenciário: aplicável quando houver signifi-
cância estatística da associação entre o código da Classificação Internacional de
Doenças – CID e o da Classificação Nacional de Atividade Econômica – CNAE,
fundamentado na lista C do Anexo II do Decreto nº 3.048/1999.

Ações de Proteção e
Prevenção em Saúde do Trabalhador
As equipes de saúde e segurança devem se organizar visando a ações que permitam
gerar ações em vários níveis, lembrando que muitas ações podem levar muito tempo
para transformar as ações propostas pela equipe. Nesse sentido, vamos observar a fi-
gura abaixo:

Tabela 4 – Aplicação de Medidas Preventivas


Prevenção Nível Período de Aplicação Objetivo
1 Pré-Patogênese Promoção da Saúde
Primária
2 Pré-Patogênese Proteção Específica
3 Patogênese Pré-Clínica Diagnóstico Precoce
Secundária Tratamento Imediato
4 Patogênese Clínica Limitação de Incapacidade
Terciária 5 Sequelas e Incapacidades Reabilitação
Fonte: Adaptada de ANAMT, 2002

A Associação Nacional de Medicina do Trabalho aponta que “É comum, nas empresas


e locais de trabalho, o médico do trabalho privilegiar as ações secundárias e mesmo
terciárias, uma vez que estas têm impacto mais mensurável e evidente e, na maior parte
das vezes, mais urgentes”.

Nesse sentido, vamos apresentar três cenários em que podem ter atuação:

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Elaboração de políticas de
Estado e Regulamentações
MACRO Definição de plano industrial
Sociambiental e de serviços

Intervenção direta nos


MESO postos de trabalho
Técnico-organizacional Concepção/correção
Plano prático

MICRO
Queixa e atividade Anamnese
Estudos ergonômicos

Figura 1
Fonte: ASSUNÇÃO; VILELA, 2009

Na atividade MICRO, os profissionais no atendimento ao trabalhador que procura o


centro de saúde são estimulados a refletir sobre os principais fatores de risco. Eles devem
manter o monitoramento, para identificar perturbações declaradas por ocasião dos exa-
mes periódicos. O acompanhamento dos trabalhadores que retornam ao trabalho pode
oferecer pistas importantes sobre as demandas das tarefas, os arranjos espaciais, o grau
de variabilidade dos processos e as modificações sobre os riscos físicos.

No campo MESO, os profissionais que atuam na linha de frente devem atentar em


quais fases eles podem atuar e desenvolver suas ações; no sistema técnico-organizacio-
nal, os profissionais devem realizar ações de busca ativa visando aos esforços entre os
atores para diagnosticar os determinantes internos dos fatores de risco, com ênfase para
adequação do efetivo, incorporação tecnológica, degradação das instalações e equipa-
mentos, fluxo de produção, divisão do trabalho, sincronia das metas de produção e as
metas comerciais. No caso dos ergonomistas, precisam verificar quais instrumentos já
existem na empresa que visa à análise do conteúdo das tarefas, dos modos operatórios,
do ritmo e da intensidade do trabalho; dos fatores mecânicos e condições físicas dos
postos de trabalho do paciente ou da primeira aproximação do setor.

Importante que os instrumentos usados permitam os atores observarem as situações


de trabalho em que predominam os riscos, por exemplo:
• Posto de trabalho sentado;
• Transporte manual de cargas;
• Repetitividade;
• Posto de trabalho em pé.

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Para ajudar os profissionais, o International Labour Office, em colaboração com a International


Ergonomics Association, desenvolveu os Pontos de Verificação Ergonômica – soluções
práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança, a saúde e as condições de
trabalho que foi publicada pela Fundacentro. Disponível em: https://bit.ly/3lpLwcq

Como esse mesmo material acima, a International Labour Organization lançou o aplicativo
Checkpoints de Ergonomia com download gratuito! Onde o aplicativo permite a interação
de checkpoints de ergonomia, para ser utilizado nos postos de trabalho. No total, são 132
checkpoints que podem auxiliar na análise do trabalho. Disponível em: https://bit.ly/3w5b7uu

No campo MACRO, as instituições que atuam no campo da saúde e segurança dos


trabalhadores devem, como exemplo, convocar um conjunto de atores e estimular pro-
jetos industriais para as micro e pequenas empresas, com a participação de instituições
como SESI e SENAI. Ações intersetoriais, privilegiando ações da Política Nacional de Se-
gurança e Saúde no Trabalho – PNSST, onde podem ser dirigidas para a elaboração de
um plano com hierarquia estabelecida, utilizando-se dos relatórios técnicos disponíveis.

A Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – PNSST tem por objetivos a promo-
ção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes
e de danos à saúde advindos, relacionados ao trabalho ou que ocorram no curso dele, por
meio da eliminação ou redução dos riscos nos ambientes de trabalho.
Disponível aqui: https://bit.ly/2SverRW

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Protocolo de Complexidade Diferenciada – LER/DORT
https://bit.ly/3x3L3RY
Carne, Osso: documentário sobre trabalho em frigoríficos
https://bit.ly/3qw8MYl

Leitura
Lesões por esforços repetitivos (LER) e Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort)
https://bit.ly/2U8ncSq
Promoção de ambientes de trabalho saudáveis e seguros na
prevenção das doenças e agravos relacionados ao trabalho
https://bit.ly/35ZdLaw

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UNIDADE A Relação entre Saúde, Trabalho e Adoecimento

Referências
ANAMT. Sugestão 7. Em Relação às Ações de Promoção da Saúde. 2002. Dis-
ponível em: <http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/sugestao_de_condu-
ta_13120151011467055475.pdf>. Acesso em: 03/04/2021.

ASSUNÇÃO, A. A.; VILELA, L. V. O. Lesões por esforços repetitivos: guia para pro-
fissionais de saúde. Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST, 2009.
Disponível em: <http://www.cerest.piracicaba.sp.gov.br/site/images/LIVRO_LER_2_
corrigido%201605X230.pdf>.

CORRÊA FILHO, H. R. Isto é trabalho de gente? Vida, Doença, e Trabalho no Brasil.


Capítulo 12 Outra contribuição da epidemiologia. Petrópolis: Petrópolis, 1994.

FUNDACENTRO. Bernardino Ramazzini – As Doenças dos Trabalhadores. Tradução


de Raimundo Estrela. 4. ed. São Paulo: Fundacentro, 2016. 107Disponível em <https://
www.unicesumar.edu.br/biblioteca/wp-content/uploads/sites/50/2019/06/Doencas-
-Trabalhadores-portal.pdf>.

________. Pontos de verificação ergonômica: soluções práticas e de fácil aplicação


para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho. Organização Interna-
cional do Trabalho; tradução, Fundacentro. 2. ed. São Paulo. Disponível em: <https://
www.gov.br/trabalho/pt-br/inspecao/escola/cartilhas-manuais-publicacoes/pontos-de-
-verificacao-ergonomica-livro-da-fundacentro.pdf/viewb>. Acesso em: 03/04/2021.

LACAZ, F. A. de C. O campo Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e prá-


ticas sobre as relações trabalho-saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4,
p. 757-766, 2007.

MENDES, R.; DIAS, E. C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de


Saúde Pública, São Paulo, v.25, n.5, p.341-349, 1991.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Doenças relacionadas ao trabalho: manual de pro-


cedimentos para os serviços de saúde. Ministério da Saúde do Brasil, Organização Pan-
-Americana da Saúde no Brasil; organizado por Elizabeth Costa Dias; colaboradores
Idelberto Muniz Almeida et al. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.

PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. de. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo
aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, vol. 32, n. 4, pp. 299-316, 1998.

PROGRAMA TRABALHO SEGURO. Diretrizes Sobre Prova Pericial em Acidentes do


Trabalho e Doenças Ocupacionais. Brasília, 25 de fevereiro de 2014. Disponível: <http://
www.trt18.jus.br/portal/arquivos/2015/08/diretrizes.pdf>. Acesso em: 02/04/2021.

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Ergonomia e Segurança
do Trabalho
Análise do Trabalho em Ergonomia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Análise do Trabalho em Ergonomia

• Abrangência da Ergonomia;
• Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17) – Ergonomia;
• Antropometria;
• Biomecânica;
• Fisiologia;
• Métodos de Aplicação da Ergonomia.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar as normativas básicas de ergonomia;
• Fornecer instrumentos de trabalho que permitam o desenvolvimento de projetos e concepções
de postos/ambientes de trabalho que levem em consideração as características psicofisiológicas
dos trabalhadores;
• Apresentar a Antropometria, Biomecânica e Fisiologia, que são elementos necessários à aná-
lise do trabalho, bem como o projeto do posto de trabalho para as atividades relacionadas à
indústria e às atividades relacionadas à prestação de serviços.
UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

Abrangência da Ergonomia
A amplitude do conceito de Ergonomia vem sendo ampliado dia após dia.

Quanto maior o conhecimento das pessoas em geral sobre o que vem a ser Ergonomia
e suas respectivas aplicações, não só o conceito fundamental se consolida, como também
se aperfeiçoa de acordo com a resposta da Sociedade.

No Brasil, não há cursos de graduação que formam ergonomistas. Todavia, há uma


grande variedade de cursos de pós-graduação nessa área, para os mais diversos profissio-
nais, que vão desde a Engenharia até disciplinas ligadas à Saúde, à Psicologia e à Sociologia.

A maioria das empresas que aplicam a Ergonomia não possui uma área composta de
ergonomistas, mas possui um grupo de profissionais ligados, direta ou indiretamente, à
execução do trabalho e suas derivações.

Esse grupo deve ser multidisciplinar, ou seja, composto por profissionais de áreas
diversas, com aptidões e competências diferentes e complementares.

Isso permite que grupos multidisciplinares de Ergonomia possam e devam agir ergo-
nomicamente em qualquer tipo de trabalho e em qualquer segmento de mercado, no que
diz respeito à atividade ocupacional.

Seguindo esse princípio, sua aplicação depende do ser humano.

Na organização do meio ambiente de trabalho, que é um ambiente cada vez mais


competitivo, não é raro as empresas “incorporarem” a preocupação com a Ergonomia
e a segurança do trabalho, até porque existem normas brasileiras que regulamentam a
relação entre empregador e empregado.

A fim de aplicar devidamente a Ergonomia em toda sua amplitude, muitas empresas


criam e mantêm o “Comitê de Ergonomia”, que é um grupo de profissionais multidisci-
plinar, a fim de “garantir” que, nessa organização, as interações entre homens e sistemas
aconteçam harmonicamente.

Esse grupo deve se reunir periodicamente e planejar a aplicação de ações imedia-


tas, além de planejar eventos futuros, guardando a premissa de “melhoria contínua”.
De acordo com Lida (2005), há profissionais ligados à saúde do trabalhador, à organi-
zação do trabalho, ao projeto de máquinas e equipamentos. Trazem consigo sua contri-
buição em conhecimentos úteis que devem ser considerados na solução de problemas
ergonômicos, dentre os quais, destacam-se:
• Médicos do Trabalho: Podem ajudar na identificação dos locais que provocam
acidentes ou doenças ocupacionais e realizar acompanhamentos de saúde e, ainda,
criar um dossiê de “histórico de dor” por setor. Essa prática vai servir para orientar
o “Comitê de Ergonomia” na revisão de processos de trabalho atuais e no projeto
de novos processos de trabalho;
• Engenheiros de Projeto: Contribuem com os técnicos, procurando adequar máqui-
nas e ambiente de trabalho;

8
• Engenheiros de Produção: Procuram distribuir o trabalho sem sobrecarga, esta-
belecendo um fluxo racional de materiais e postos de trabalho; devem estudar os
métodos de trabalho, tempos e postos de trabalho;
• Engenheiros de Segurança e Manutenção: Identificam áreas, máquinas e pro-
cessos de trabalho que podem oferecer risco ao trabalhador;
• Desenhistas Industriais: Ajudam na adaptação de máquinas e de equipamentos,
projeto do posto de trabalho e sistemas de comunicação;
• Psicólogos: São comumente envolvidos na análise dos processos cognitivos, relacio-
namentos humanos, seleção e treinamento de pessoal e podem dar sua contribuição
no estabelecimento de novos métodos;
• Enfermeiros e Fisioterapeutas: devem procurar agir preventivamente no histórico
de dor e de lesões ocupacionais. Quando a prevenção não tiver sido possível, atuam
na recuperação desses trabalhadores;
• Programadores de Produção: podem contribuir definindo, na medida do possível,
um fluxo contínuo de produção e evitando trabalhos noturnos;
• Administradores: podem atuar na elaboração de cargos e salários mais justos,
melhorando a autoestima do trabalhador;
• Compradores: devem ser conhecedores dos Princípios de Ergonomia, a fim de
procurarem adquirir máquinas, equipamentos e materiais mais limpos, seguros,
confortáveis e menos tóxicos.

Quando não existe um grupo multidisciplinar, que aqui chamamos de “Comitê de


Ergonomia”, apoiado incondicionalmente pela alta administração, ou quando a orga-
nização dá os primeiros passos dentro do universo da Ergonomia, muitas vezes, ela é
aplicada de acordo com a ocasião que é feita e, segundo Lida (2005) essa “Ergonomia
de ocasião” é classificada em concepção, correção, conscientização e participação:
• Ergonomia de concepção: Quando a abordagem ergonômica nasce com a ideia
inicial sobre uma máquina, um equipamento, um mobiliário é um processo de fa-
bricação e/ou prestação de serviços, o projetista já pensa na aplicação final de seu
produto e/ou serviço dentro dos preceitos da Ergonomia;
• Ergonomia de correção: Quando o problema já existe, seja histórico de dor física
seja alguma patologia psíquica desenvolvida pela natureza do trabalho feito, é ne-
cessária a mobilização de profissionais capacitados nessas áreas específicas, a fim
de corrigir esse histórico já existente;
• Ergonomia de conscientização: Ainda que a empresa forneça EPIs (Equipamentos
de Proteção Individual), ainda que haja palestras de integração quando o trabalhador
inicia seu trabalho na empresa, ainda que a empresa disponibilize equipamentos
ergonômicos para os funcionários e os engenheiros e fisioterapeutas promovam trei-
namentos sobre os movimentos corretos em novos processos; o trabalhador PRE-
CISA entender que toda essa mobilização de recursos é para ele; todavia, depende
dele o trabalho correto. É preciso preparar devidamente o trabalhador, por meio
de palestras de informação e conscientização da sua própria responsabilidade, para
a manutenção da sua própria saúde e motivação no ambiente de trabalho. Altos
investimentos são feitos por parte das organizações e, sem a devida participação
do trabalhador, todos esses esforços, bem como os investimentos mobilizados por

9
9
UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

parte da empresa de NADA valem. A dor vai existir, o assédio moral vai existir, o
afastamento e o aumento nos custos, bem como a perda de eficiência vão persistir.
Por mais que seja oneroso “parar” a operação para palestras, ainda é bem mais
barato do que perder os investimentos de energia, de tempo e de dinheiro para
“aplicar devidamente a Ergonomia”;
• Ergonomia de participação: É quando o trabalhador ou o usuário participam do
processo de desenvolvimento de máquinas, equipamentos, mobiliário e processo
de fabricação e/ou prestação de serviços. A Ergonomia de participação é efetiva
quando o trabalhador ou usuário já possui conhecimentos prévios sobre o que vem
a ser Ergonomia.

Traçando um paralelo entre o conceito de Ergonomia e o conceito de qualidade, igual-


mente atuais, aplicáveis em qualquer segmento de mercado, em constante ampliação de
escopo, sabemos que, quando o conceito de qualidade invade toda a organização, podemos
entender que ela ampliou o escopo, de tal forma que tomou, invadiu toda a organização.

Para essa situação, é possível afirmar que a empresa chegou ao estágio de QUALI-
DADE TOTAL. Bem como a empresa que invade toda a organização com os conceitos
de qualidade e chega ao estágio de qualidade total, a organização, seja de natureza
manufatureira, seja de prestação de serviços, quando “invade” toda a empresa com os
conceitos de Ergonomia, podemos afirmar que aplicou a MACROERGONOMIA. Onde
há trabalho humano, sempre, em qualquer segmento de mercado, inclusive em nossa
vida cotidiana, deve haver Ergonomia. No ato de um estudante levar uma mochila para
escola, deve haver ergonomia de correção, na conscientização sobre como carregar a
mochila: as duas alças devem ser usadas uma em cada ombro. Caso seja possível, as
mochilas com rodinhas devem ser escolhidas.

Norma Regulamentadora
nº 17 (NR-17) – Ergonomia
No Brasil (2018), a NR 17 é a normativa que estabelece os parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

Nesse caminho, os profissionais com especialização em ergonomia, bem como pro-


fissionais que atuam no campo da saúde, segurança, projeto, produção etc., todos esses
atores podem observar as condições de trabalho onde incluem aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às
condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.

Ponto importante que os profissionais precisam estar atentos é avaliar a adaptação


das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, e cabe
ao empregador realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, devendo a mesma abordar,
no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido na NR 17.

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Como exemplo, o livro Pontos de Verificação Ergonômicas, traduzido pela Funda-
centro, mostra exemplos de ações simples que podem ser realizadas no meio ambiente
de trabalho (FUNDACENTRO, 2018).

Figura 1 – O profissional pode apontar ações que eliminem


as diferenças de altura das superfícies de trabalho
Fonte: Fundacentro, 2018

Figura 2 – Criar estratégias para que o trabalhador possa empurrar ou puxar os materiais pesados, em
lugar de erguê-los ou baixá-los. Mover os materiais ao longo de superfícies da mesma altura
Fonte: Fundacentro, 2018

O item 17.3 da NR 17 trata do mobiliário dos postos de trabalho. Para isso, o profissional
tem vários instrumentos de trabalho, desde o mais simples ao mais complexo, dependendo
muito da necessidade de cada momento de atuação, seja ele na fase de projeto ou de
melhorias. Para auxiliar, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou
algumas normas que permitem auxiliar os profissionais, conforme apresentado a seguir:

Quadro 1 – Coletânea Eletrônica de Normas Técnicas | Ergonomia | Antropometria e Biomecânica

Diretrizes ergonômicas para a otimização das cargas de tra-


ABNT ISO/TS 20646:2017 balho sobre o sistema musculoesquelético.

ABNT NBR ISO 11226:2013 Avaliação de posturas estáticas de trabalho.

ABNT NBR ISO 11228-1:2017 Ergonomia – Antropometria e Biomecânica.

ABNT NBR ISO 11228-2:2017 Ergonomia – Movimentação manual – Parte 2: Empurrar e puxar.

Ergonomia – Movimentação manual – Parte 3: Movimenta-


ABNT NBR ISO 11228-3:2014 ção de cargas leves em alta frequência de repetição.

Requisitos gerais para o estabelecimento de bases de dados


ABNT NBR ISO 15535:2015 antropométricos.

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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

Um exemplo de proposta de melhoria do mobiliário e posto do trabalho é uma em


que se alterne a postura de pé com a posição sentada, que permite uma maior eficiência
e um maior conforto. Assim o designer pode seguir o exemplo uma banqueta alta com
um bom repouso para os pés, o que é muito útil para alternar as posições de pé e sen-
tada quando se realizam as mesmas tarefas ou tarefas semelhantes sobre uma mesa de
trabalho. Certifique-se de que haja disponibilidade de espaço suficiente para as pernas
em ambas as posições da figura a seguir:

Figura 3 – Mobiliário e posto do trabalho que permitam alternância de posição corporal


Fonte: Fundacentro, 2018

Condições Ambientais de Trabalho Iluminação


As condições ambientais de trabalho são variadas e devem estar adequadas às carac-
terísticas psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
Como exemplo, vamos destacar a iluminação geral ou suplementar que deve ser projeta-
da e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes
excessivos. Os métodos de medição e os níveis mínimos de iluminamento a serem ob-
servados nos locais de trabalho são os estabelecidos na Norma de Higiene Ocupacional
nº 11 (NHO 11) da Fundacentro – Avaliação dos Níveis de Iluminamento em Ambientes
de Trabalho Internos.

Figura 4 – As luminárias altas proporcionam uma melhor distribuição da luz


Fonte: Fundacentro, 2018

12
Nota-se que as luminárias altas proporcionam uma melhor distribuição da luz. Uma
ação simples que os profissionais que atuam no campo da ergonomia podem proporcionar
para os trabalhadores uma iluminação suficiente, de forma que possam operar em todo
momento de modo eficiente e confortável.

Os benefícios de uma boa iluminação são:


• Aumento do seu rendimento do trabalhador, porque o posto de trabalho passa
a ser um lugar agradável para a execução das tarefas;
• Diminui erros nas tarefas e proporciona redução de riscos de acidentes;
• A iluminação de boa qualidade ajuda os trabalhadores a visualizarem os ele-
mentos de trabalho de forma rápida e com o nível de detalhamento exigido
pela tarefa, portanto, auxilia na melhora da qualidade.

Organização do Trabalho
A ergonomista aposentada da Fundacentro Leda Leal Ferreira aponta que devemos
olhar para a organização do trabalho, considerando nove elementos: 1) Deve haver
instrumentos de trabalho apropriados; 2) Deve haver uma ideia clara sobre o produto
que se quer 3) Deve haver local de trabalho apropriado para trabalhar, isto é, com boa
iluminação, espaço para se movimentar, ventilação etc. 4) Deve haver matéria-prima;
5) Ter tempo suficiente; 6) Ter trabalhadores em número suficiente; 7) Ter qualificação
necessária; 8) Ter tranquilidade para se dedicar ao trabalho; 9) Ter uma remuneração
condizente com as suas necessidades (FERREIRA, 2016).

Se o trabalhador tiver todas as nove condições já mencionadas, poderá fazer um tra-


balho útil, bonito e bem feito e ser reconhecido como um bom trabalhador. Mesmo que
tenha que trabalhar duro e ficar cansado no fim da jornada, se sentirá bem.
Mas, se algumas dessas condições faltarem, o que pode acontecer?

A primeira conclusão que a autora tira é que, quando analisamos o trabalho, conse-
guimos compreender: a) o que está neste trabalho é bom e faz bem aos trabalha-
dores e o que neste trabalho é ruim e pode fazer com que os trabalhadores sofram e
até fiquem doentes, com doenças físicas e mentais (FERREIRA, 2016).

O item da NR 17 descreve a organização do trabalho, onde os profissionais devem


sempre levar em consideração, no mínimo:
• As normas de produção;
• O modo operatório;
• A exigência de tempo;
• A determinação do conteúdo de tempo;
• O ritmo de trabalho;
• O conteúdo das tarefas.

13
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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

“O” de Organização do Trabalho. Disponível em: https://bityl.co/7jPX

Um exemplo que podemos utilizar neste tema é o retorno de experiência dos tra-
balhadores. Para podermos colocar em prática melhorias nos itens citados, podemos
utilizar um espaço de formação ou treinamento aos trabalhadores para que assumam
responsabilidades e fornecer-lhes os meios para que tragam melhorias nas suas tarefas.
A Fundacentro (2018, p. 271), sobre a organização do trabalho, destaca:

Os trabalhos interessantes e produtivos são aqueles nos quais os traba-


lhadores assumem responsabilidades no planejamento e na produção. Os
trabalhos com responsabilidades podem aumentar o grau de satisfação no
emprego. Os trabalhos sem responsabilidades reais não apenas são abor-
recidos, como ainda exigem supervisão contínua, convertendo-se em uma
carga adicional tanto para a empresa quanto para os trabalhadores. Todos
nós necessitamos sentir que nosso trabalho serve para algo, e que ele nos
permite desenvolver nossas capacidades e habilidades. Para alcançar esse
fim, é necessário formar os trabalhadores a fim de que assumam trabalhos
com responsabilidades.

• Organize grupos de discussão sobre como melhorar os trabalhos. Inclua nas


discussões as maneiras pelas quais os trabalhos com mais responsabilidades
podem beneficiar tanto a empresa quanto os trabalhadores;
• Forme grupos de discussão sobre organização do trabalho e das tarefas nas
sessões de treinamento sobre melhorias do trabalho e de desenvolvimento
profissional. Nessas sessões de treinamento, utilize exemplos de trabalhos bem
organizados que possam melhorar a satisfação no trabalho;
• Promova planos de trabalho em grupo, já que isso pode aumentar a consciência
de que os trabalhos que acarretam mais responsabilidades para o grupo são
mais interessantes e melhores para o desenvolvimento de habilidades;
• Proporcione boas oportunidades para a formação, seja no trabalho, seja me-
diante sessões especiais de treinamento ou de cursos, para a realização de tra-
balhos com mais responsabilidades e com múltiplas habilidades.

Antropometria
Segundo Lida (2005), a origem da antropometria está na Antiguidade, pois egípcios
e gregos já observavam e estudavam a relação das diversas partes do corpo. O reconhe-
cimento dos biótipos aparece nos tempos bíblicos, e os nomes de muitas unidades de
medida, utilizados hoje em dia, são derivados de segmentos do corpo.
A antropometria trata das medidas do corpo humano. Aparentemente, medir as pes-
soas seria uma tarefa fácil, bastando para isso ter uma régua, trena e balança.

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Entretanto, isso não é tão simples assim quando se pretende obter medidas represen-
tativas e confiáveis de uma população, que é composta de indivíduos dos mais variados
tipos e dimensões.

Uma das muitas aplicações das medidas antropométricas na ergonomia é relacionada


ao dimensionamento do espaço de trabalho, desenvolvimento de mobiliário, definições
dos espaços internos dos automóveis, ferramentas e dispositivos, além de melhor definição do
“tamanho humano” relacionado a roupas e equipamentos, principalmente com os avanços
tecnológicos associados às coordenadas tridimensionais da Engenharia e da Biomecânica.
Com isso, amplia-se a possibilidade do uso da tecnologia supracitada em procedimentos
diagnósticos e construção de próteses ortopédicas, por exemplo.

Quando os profissionais que estiverem na linha de frente do projeto, deve observar


que o trabalho deverá ser projetado de forma que resulte no menor desgaste de energia
e menor tensão fisiológica possível, portanto propiciando as melhores condições de tra-
balho para os trabalhadores (BARNES, 1977).

A antropometria Divide-se em:


• Antropometria estática: Refere-se a medidas gerais de segmentos corporais com
o indivíduo em posição estática (parado);
• Antropometria dinâmica: Refere-se a pequenos movimentos realizados por seg-
mentos corporais nos três planos de secções anatômicas;
• Antropometria funcional: Refere-se à análise dos movimentos específicos de uma
atividade considerando os três planos de secção e delimitações anatômicas em um
posto de trabalho.

Biomecânica
Qual a importância da Biomecânica para os estudos ergonômicos?
Para refletirmos sobre isso, precisamos compreender do que trata essa ciência. Ou seja:
• Considerando que a análise do movimento humano é feito pela Biomecânica e
Cinesiologia, respectivamente. A primeira refere-se às formas de avaliação dos mo-
vimentos (provas e funções), e a segunda busca analisar o movimento e o efeito da
força ao trabalhador (LIDA; GUIMARÃES, 2018);
• Considerando que o corpo humano é movido por um sistema musculoesquelético
e possui limitações, as quais devem ser respeitadas no desenvolvimento de um pro-
jeto ou uma atividade de trabalho (LIDA; GUIMARÃES, 2018);
• Considerando que a biomecânica é uma disciplina que estuda a estrutura e a função
dos sistemas biológicos, contribuindo para a devida compreensão do funcionamento
do sistema musculoesquelético que é composto por ossos, articulações, ligamentos,
músculos e tendões.
Para mostrar a importância dessa ciência, vamos refletir sobre o estudo realizado
por Vilela et al. (2015, p. 38). Eles realizaram uma análise ergonômica da atividade de
trabalho de um trabalhador no corte de cana manual e chegaram ao seguinte resultado:

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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

O trabalhador destinou durante o período de 107 minutos de filmagem


1.373 golpes de podão e realizou 1.209 flexões de coluna. Com base na
medição linear de cana cortada durante o tempo da filmagem, a metragem
total do dia e a produção do trabalhador amostrada pela empresa nesse
dia, pode-se estimar que o trabalhador realizou nesse dia cerca de 3.080
flexões de coluna e pelo menos 3.498 golpes de podão durante aproxima-
damente 8 horas de jornada de trabalho. Essa atividade, realizada em alta
repetitividade, é composta por operações que exigem força, precisão no
golpe, flexão de coluna (44% do tempo da atividade), atividade exercida em
pé (43% do tempo), rotações de quadril (9% do tempo) e sentado (4% do
tempo), as três primeiras em situações extremamente prejudiciais a saúde.
O golpe no feixe de cana é “devolvido” na forma de impactos no sistema
musculoesquelético. Uma das evidências do risco de lesões é o tamanho
do ciclo medido em segundos. O ciclo de trabalho no corte da cana, so-
mando-se os tempos médios de cada ação que compõem a operação de
corte em diversas modalidades, obteve um ciclo médio no corte de três
ruas de 5,68 segundos; no corte de uma rua, 4,36 segundos.

Qual o papel do ergonomista ao avaliar biomecanicamente uma atividade de trabalho? Qual


a importância dessa avaliação?

Fisiologia
As análises ergonômicas do trabalho devem ser realizadas para avaliar a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores e subsi-
diar a implementação das medidas e adequações necessárias previstas na NR-17.
Portanto, precisamos compreender o que significa a Fisiologia, que é uma área de es-
tudo sobre o funcionamento físico, orgânico, mecânico e bioquímico dos seres humanos.
A fisiologia do trabalho está relacionada aos gastos energéticos, preocupando-se em re-
duzir a carga física e os fatores de sobrecargas fisiológicos, como temperatura ambiental
e ruídos (LIDA; GUIMARÃES, 2018).
Como usar o conhecimento da fisiologia nas avaliações ergonômicas?
Um exemplo pode ser uma avaliação realizada junto aos trabalhadores cortadores de
cana no estudo conduzido por (VILELA et al., 2015), no qual, ao avaliar um trabalhador,
evidenciou o corte de 22,4 toneladas no dia do monitoramento. Tal situação trouxe uma re-
percussão fisiológica que pode ser vista no registro dos batimentos cardíaco do trabalhador:

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Figura 5 – Monitoramento de parâmetros fisiológicos (frequência cardíaca) e do Índice de Bulbo Úmido
Termômetro de Globo (IBUTG) durante uma jornada de trabalho no corte manual de cana-de-açúcar
Fonte: VILELA et al., 2015

Alguns aspectos do funcionamento dos estudos da Fisiologia:


• Respiração;
• Circulação;
• Reprodução;
• Digestão;
• Cardiovação (sistema circulatório).

Figura 6 – Sistemas do Corpo Humano


Fonte: Getty Images

Métodos de Aplicação da Ergonomia


Considerando que a NR 17 determina que a elaboração da AET é originalmente
composta de procedimentos de coleta de dados como entrevistas, análise de dados da
empresa e da população trabalhadora, análise dos procedimentos de trabalho, análises
dos levantamentos de riscos/perigos e observações do trabalho real. Nota-se que, antes
de iniciar uma AET na empresa, é preciso criar o método de análise que pode ser de-

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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

senvolvido por uma equipe multidisciplinar. A fim de promover uma análise ergonômica
adequada e técnica do posto de trabalho, são utilizadas as ferramentas auxiliares aplica-
das à ergonomia.

Importante!
A Análise do Trabalho em Ergonomia, existem termos “modelo”, “método” e “ferramenta”
que são, muitas vezes, utilizados de maneira indiscriminada e acabam se confundindo nos
estudos práticos, por isso, abaixo, apresentamos uma descrição para ajudar na reflexão.

Quadro 2 – Termos utilizados na Análise do Trabalho em Ergonomia

Um modelo é uma redução, uma simplificação da realidade que


contêm somente algumas características do seu objeto (caso
contrário, seria o objeto em si). Ele funciona como “ponte” entre
a teoria e a realidade, servindo algumas vezes para verificação
Modelo empírica de uma teoria, e outras vezes para dar origem a novos
modelos e novas teorias. Um modelo é, assim, uma representação
(desenho, diagrama, esboço, ilustração, maquete etc.), fruto de
uma elaboração mais ou menos complexa de modelização a partir
de uma teoria.

Um método propõe as bases – o passo a passo – para se realizar


um conjunto de tarefas visando a chegar a um objetivo. Trata-se
Método de uma maneira sistemática e organizada de realizar algo. Em ci-
ência, ele visa a guiar o processo de produção de conhecimento
científico através de experiências, observações, cálculos etc.

As ferramentas, por sua vez, são instrumentos ou recursos empre-


Ferramentas gados na aplicação do método.

Fonte: Adaptado de NASCIMENTO; ROCHA, 2021

Os profissionais que atuam com o campo da Ergonomia precisam ficar atentos às


ferramentas utilizadas, uma vez que a sua maioria é quantitativa e traduz em números
os dados coletados, que são analisados e classificados. O uso indiscriminado dessas
ferramentas, muitas vezes, “fechando diagnósticos” errôneos, mostra o cuidado que o
profissional deve ter em evitar o que não corresponde à realidade. Mas as ferramentas,
quando utilizadas em momentos corretos – ou seja, na fase de tratamento de dados da
AET, conforme determina a NR 17 –, após terem passado por todas as fases relacionadas
à construção de hipóteses, análises de documentos, observações em campo e entrevistas,
podem servir de auxílio na construção de um diagnóstico do trabalho (NASCIMENTO;
ROCHA, 2021).

A equipe que vai analisar pode escolher um modelo ou mais, e uma ou várias ferramen-
tas de análise. Veja, como exemplos, as tradicionais (OCRA, Owas, Equação NIOSH, Rula,
Reba, Questionário Nórdico, EWA, lista de verificação etc.) que serão descritas abaixo.

Antes de dar continuidade no estudo, assista ao vídeo Ferramentas Ergonômicas? Para quê?
Disponível em: https://bityl.co/7jPB

18
O uso das ferramentas ergonômicas é variada e, por isso, é preciso refletir sobre suas
características, tais como:
• Qualidade da aplicação;
• Rapidez em obtenção de resultados;
• Resultado objetivo;
• Reconhecimento internacional;
• Uso para identificação de funções de maior risco;
• Estudo comparativo após melhorias;
• Efeito judicial;
• Comercial.
Segundo Pavani e Quelhas (2006), a legislação brasileira, embora afirme que visa es-
tabelecer parâmetros para a adaptação das condições de trabalho às características psi-
cofisiológicas dos trabalhadores e que para avaliar essa adaptação cabe às organizações
realizar análise ergonômica do trabalho, não deixa claro ou não sugere metodologias
para essas avaliações de riscos ergonômicos.
O manual de aplicação da NR 17 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2002) também
não define ou orienta quanto aos métodos a serem utilizados para avaliação dos riscos er-
gonômicos das atividades ocupacionais, citando apenas a equação do National Institute
for Occupational Safety and Health – NIOSH, órgão do governo americano que desen-
volveu uma equação que permite calcular qual seria o limite recomendável para levan-
tamento e transporte manual de peso, levando-se em conta alguns fatores específicos.
Existem muitas ferramentas de análise de riscos ergonômicos encontrados na lite-
ratura disponível, delineados para determinar e quantificar a exposição a fatores de
risco devido à sobrecarga biomecânica dos membros superiores. Entre eles, destacam-se
aqueles que evidenciam de forma qualitativa a presença de características ocupacionais
que podem levar o avaliador em direção à possível presença de um risco, aqueles que,
por outro lado, na base de checklist, permitem um rápido enquadramento do problema
e aqueles mais complexos que podem caracterizar a multifatoriedade da exposição. Não
existem métodos de avaliação de risco que podem atender completamente todos os
critérios, apesar disso, alguns deles se apresentam mais completos em sua formulação.
Nesse cenário, abordaremos algumas das ferramentas aplicadas à ergonomia:

Quadro 3 – Ferramentas Ergonômicas

Avalia os fatores de risco, considerando a postura, repetitividade,


RULA aplicação de força e ações musculares;

Determina o limite do peso recomendado considerando a cons-


Equação NIOSH tante carga, distância horizontal, distância vertical, deslocamento
vertical, assimetria, frequência e qualidade da pega;

Avalia a postura de trabalho, no que concerne à posição das cos-


Owas tas, braços e pernas, o manuseio de carga e uso da força e a frequ-
ência, considerando diagramas posturais e tabelas;

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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

Avalia fatores de risco trabalhos com uma única tarefa repetitiva


ou multitarefas, em que se centraliza a análise nos membros su-
periores, como ombro e braço (flexão, extensão e abdução), coto-
OCRA velo (flexão, extensão e supinação com a palma da mão para cima
e pronação com a palma da mão para baixo), pulso (flexão, exten-
são, desvio lateral), mãos e dedos (movimento de pega). Avalia
a repetitividade, ausência de pausas, temperaturas e vibrações.

Avalia a postura e a capacidade de manipulação de cargas, consi-


REBA derando as posições do tronco, pescoço, pernas, braços, antebraços
e punhos;

Caracteriza o local de trabalho, considerando o espaço de traba-


lho, a atividade física desempenhada, manuseio de carga, postu-
EWA ras, movimentos, risco de acidentes, conteúdo do trabalho entre
outros, com peso de validação dos trabalhadores.

Revisão de Ferramentas para Avaliação Ergonômica. Disponível em: https://bityl.co/7jOx

Exemplos de Ferramentas Ergonômicas


RULA – Rapid Upper Limb Assessment
A ferramenta foi desenvolvida para ser usada em investigações ergonômicas de
postos de trabalho onde existe a possibilidade de desenvolvimento de LER/DORT em
membros superiores.

A ferramenta RULA avalia: Postura, Atividade Muscular e Força


Segundo Pavani e Quelhas (2006), a ferramenta RULA (Rapid Upper – limb assessment)
é um instrumento ágil e veloz que permite obter uma avaliação da sobrecarga biomecânica
dos membros superiores e do pescoço, em uma tarefa ocupacional. Essa ferramenta deve
ser utilizada em um contexto de avaliação ergonômica geral. Essa afirmação parece eviden-
te pelo fato de que o output principal da ferramenta é aquele de identificar a necessidade
de uma análise mais profunda do risco com outros métodos, portanto, é um instrumento de
investigação genérica como o de outros checklist.

O determinante de risco ergonômico nessa ferramenta é representado pelas postu-


ras assumidas pelos trabalhadores, na jornada de trabalho. As posturas avaliadas são
as adotadas pelos membros superiores, o pescoço, o tronco e os membros inferiores.
A avaliação de risco é feita a partir de uma observação sistemática dos ciclos de trabalho,
pontuando as posturas, frequência e força dentro de uma escala que varia de 1 (um),
correspondente ao intervalo de movimento ou postura de trabalho onde o fator de risco
correlato é mínimo, até ao valor 9 (nove) onde o fator de risco correlato é máximo. Essa
pontuação é fundamentada na literatura especializada em Biomecânica ocupacional.

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Tabela 1 – Nível de Intervenção para os Resultados do Método RULA
Nível de Ação Pontuação Intervenção
A postura è aceitável se não for mantida ou repe-
1 1-2
tida por longos períodos;
São necessárias investigações posteriores; Algum
2 3-4
intervenções podem se tornar necessárias;
3 5-6 É necessário investigar e mudar em breve;
4 ≥ É necessário investigar e mudar imediatamente.

REBA – Rapid Entire Boby Assessment


É usado para avaliar a exposição dos trabalhadores a fatores de risco.

Segundo Pavani e Quelhas (2006), a ferramenta REBA (Rapid Entire Boby Assessment)
foi desenvolvida para estimar o risco de desordens corporais ao que os trabalhadores estão
expostos. As técnicas que se utilizam para realizar uma análise postural têm duas caracterís-
ticas que são a sensibilidade e a generalidade. Uma alta generalidade quer dizer que é apli-
cável em muitos casos, mas provavelmente tenha uma baixa sensibilidade, que quer dizer
que os resultados que se obtenham podem ser pobres em detalhes. Porém, as técnicas com
alta sensibilidade, em que é necessária uma informação muito precisa sobre os parâmetros
específicos que se medem, parecem ter uma aplicação bastante limitada.

A ferramenta REBA é para avaliar a quantidade de posturas forçadas nas tarefas ma-
nipuladas pessoas ou qualquer tipo de carga animada, apresentando uma grande simi-
laridade com a ferramenta RULA, e assim como ela, é dirigida às análises dos membros
superiores e a trabalhos onde se realizam movimentos repetitivos. A ferramenta inclui
fatores de carga postural dinâmica e estática, na interação pessoa-carga, e um conceito
denominado de “a gravidade assistida” para a manutenção da postura dos membros supe-
riores; isso quer dizer que é obtida a ajuda da gravidade para manter a postura do braço
onde é mais custoso manter o braço levantado do que tê-lo pendurado para baixo. Ela foi
concebida inicialmente para ser aplicada em análises de posturas forçadas, adotadas pelo
pessoal da área médica e hospitalar, como auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas etc.

A avaliação de risco também é feita a partir de uma observação sistemática dos ciclos
de trabalho, pontuando as posturas do tronco, pescoço, pernas, carga, braços, antebraços
e punhos em tabelas específicas para cada grupo. Após a pontuação de cada grupo, é
obtida a pontuação final, que é comparada com uma tabela de níveis de risco e ação em
escala que varia de 0 (zero), correspondente ao intervalo de movimento ou postura de
trabalho aceitável e que não necessita de melhorias na atividade, até ao valor 4 (quatro),
onde o fator de risco é considerado muito alto sendo necessária atuação imediata.

Tabela 2 – Verificação dos níveis de risco e ação do método REBA


Intervenção e
Nível de Ação Pontuação Nível de Risco
Posterior Análise
0 1 Inapreciável Não necessário
1 2-3 Baixo Pode ser necessário
2 4-7 Médio Necessário

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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

Intervenção e
Nível de Ação Pontuação Nível de Risco
Posterior Análise
3 8 - 10 Alto Prontamente necessário
4 11 - 15 Muito Alto Atuação imediata

NIOSH
Em 1981, nos Estados Unidos, sob iniciativa do National Institute for Ocupational
Safety and Health – NIOSH, patrocinou-se o desenvolvimento da ferramenta para de-
terminar a carga máxima a ser manuseada numa atividade de trabalho.

A ferramenta NIOSH foi revisada em 1991, sendo proposto o limite de peso reco-
mendado (LPR) e o Índice de levantamento (IL).

Ao determinar o LPR e o IL, estima-se o risco de lesão naquela situação, naquele


posto de trabalho.

Deve-se respeitar o peso que uma pessoa possa levantar em situação de trabalho, na
qual 90% dos homens e, no mínimo, 75% das mulheres o façam sem lesão.

Tarefas de levantamento e de abaixamento de pesos têm idêntico potencial para


causar lesões lombares.

Cálculo:

Limite de peso recomendado:


• LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC ou;
• LPR = 23 x HM x VM x DM x FM x AM x CM.

Onde o valor 23, corresponde ao peso limite ideal, quer dizer, aquele que pode ser ma-
nuseado sem risco particular, quando a carga está idealmente colocada, compreendendo:
• FDH (Fator de Distância Horizontal em relação à carga) = 25 cm;
• FAV (Fator de Altura Vertical em relação ao solo) = 75 cm;
• FRLT (Fator de Rotação Lateral do Tronco) = 0;
• FFL (Fator Frequência de Levantamento) menor que uma vez a cada 5 minutos;
• Pega carga fácil e confortável (boa).

Questionário Nórdico
O questionário nórdico foi desenvolvido para autopreenchimento. Há um desenho
dividindo o corpo em 9 partes. Os trabalhadores devem responder “sim” ou “não” para
3 situações que envolvem essas 9 partes:
• Você teve algum problema nos últimos 7 dias?
• Você teve algum problema nos últimos 12 meses?
• Você quis deixar de trabalhar algum dia nos últimos 12 meses devido ao problema?

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O questionário é distribuído juntamente com uma carta explicando os objetivos do
levantamento e solicitando a colaboração. Segue-se um bloco de caracterização do su-
jeito, pedindo para indicar o sexo, idade, lateralidade (destro, canhoto, ambidestro). Fi-
nalmente, indica-se onde devem ser entregues os questionários preenchidos e faz-se um
agradecimento pela colaboração.

Figura 7 – Formulário – Questionário Nórdico


Fonte: Reprodução

Segundo Lida (2005), o questionário é válido, sobretudo, quando se quer fazer um le-
vantamento abrangente, rápido e de baixo custo. Ele pode ser usado para que se faça um
levantamento inicial das situações que requerem análises mais profundas e medidas cor-
retivas. Os dados podem ser processados eletronicamente para identificar os principais
problemas posturais em uma empresa. Pode ser usado como diagnóstico preliminar que
será usado no primeiro pilar da primeira fase de implantação do Comitê de Ergonomia.

23
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UNIDADE Análise do Trabalho em Ergonomia

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Ferramentas ergonômicas podem ser pesquisadas no site Ergolândia 7.0
https://bityl.co/7jNn

Vídeos
Antropometria
https://youtu.be/b7kdFt2Hpdc
Técnicas Antropométricas
https://youtu.be/QwXcKAuhooE
Biomecânica do Pé
https://youtu.be/0EHV2PfDv7I
Laboratório de Biomecânica
https://youtu.be/AUYYjawZsH0
Ciência das artes marciais – Biomecânica do judô
https://youtu.be/oLRpzvBkXmE
Fisiologia humana
https://youtu.be/w4-1-QaXc5c

Leitura
Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17
https://bityl.co/7jNj
Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação da Norma Regulamentadora nº 36
https://bityl.co/7jNk

24
Referências
BARNES, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho.
São Paulo. Editora Blucher, 1977.

BRASIL. Escola Nacional da Inspeção do Trabalho. Normas Regulamentadoras de


Segurança e Saúde no Trabalho. NR 17 – Ergonomia, 2018. Disponível em: <https://
enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-17.pdf>. Acesso em:
13/04/2021.

FERREIRA, L. L. Análises do Trabalho: Escritos Escolhidos. Belo Horizonte:


Fabrefactum, 2016.

FUNDACENTRO. Pontos de verificação ergonômica: soluções práticas e de fácil apli-


cação para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho. Organização In-
ternacional do Trabalho. Tradução, Fundacentro. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2018.

LIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Blucher, 2005.

LIDA, I.; GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia: projeto e produção. 3. ed. São Paulo:


Blucher, 2018.

LAPERUTA, D. G. P.; OLIVEIRA, G. A.; PESSA, S. L. R.; LUZ, R. P. da. Revisão


de Ferramentas para Avaliação Ergonômica. Revista Produção Online. Florianópolis,
SC, v. 18, n. 2, p. 665-690, 2018.

NASCIMENTO, A.; ROCHA, R. Análise do Trabalho em Ergonomia: modelos, mé-


todos e ferramentas. Livro Engenharia do Trabalho. Saúde, Segurança, Ergonomia e
Projeto. Campinas: Libris, 2021. Prelo. Disponível em: <http://engenhariadotrabalho.
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PAVANI, R. A.; QUELHAS, O. L. G. Avaliação dos riscos ergonômicos como ferramen-


ta gerencial em saúde ocupacional. XIII SIMPEP, Bauru, São Paulo. Novembro de 2006.

VILELA, R. A. de G. et al. Pressão por produção e produção de riscos: a “maratona”


perigosa do corte manual da cana-de-açúcar. Rev. bras. saúde ocup. [on-line]. 2015,
vol. 40, n. 131 [cited 2021-04-13], pp. 30-48.

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Ergonomia e Segurança
do Trabalho
Contribuições da Simulação em Ergonomia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Contribuições da Simulação em
Ergonomia

• Ergonomia e Atividade Futura;


• Simulação do Trabalho;
• Simulação Humana.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Proporcionar olhares diferentes em uma dinâmica participativa envolvendo diferentes atores
(multiprofissionais) de uma organização no conhecimento da atividade de trabalho;
• Apresentar ferramentas que permitam a simulação de atividades de trabalho.
UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Ergonomia e Atividade Futura


François Daniellou (2007) apresenta para os ergonomistas a abordagem da “atividade
futura provável” que visa criar cenários e possibilidades durante a concepção das ativi-
dades de trabalho. Essa metodologia permite considerar a variabilidade das situações de
trabalho para uma população futura nem sempre conhecida. Dessa forma, as “situações
de referência” tornam-se um poderoso instrumento para a investigação da atividade
futura. Pode-se extrapolar a simulação humana como um ferramental útil para ampliar
o espaço de interação entre diferentes atores no processo de projeto, buscando uma
construção social (BITTENCOURT; DUARTE, 2021).
Nesse caminho da construção social, a participação de multiatores tem diferentes
pontos de vista do trabalho, e esse é o fator principal na confrontação das diferentes
lógicas. Os vários atores (operadores, ergonomistas, projetistas, gerentes e diretores)
usam os seus conhecimentos e questionamentos que possam apresentar similaridade
com a situação em concepção e serem utilizadas no processo de projeto (situações de
referência) (BITTENCOURT; DUARTE, 2021).
Para a construção do projeto de uma atividade futura, é preciso um aprofundamento
em outra vertente, a construção técnica, que permite à equipe multidisciplinar buscar e
criar ferramentas e soluções operacionais para realizar as simulações das situações de re-
ferência identificadas e analisadas. Os resultados da simulação são prognósticos relativos
ao trabalho futuro (BITTENCOURT; DUARTE, 2021).
Para Bittencourt e Duarte (2021), a integração da dimensão do trabalho aos projetos
de engenharia foi impulsionada com o advento dos departamentos de Engenharia de Pro-
dução nas universidades e com as pesquisas que projetaram atividades de trabalho que
proporcionaram melhorias das condições de trabalho e eficiência do processo de produção.

O envolvimento dos trabalhadores no processo de projeto de seus futuros locais de trabalho


tem gerado benefícios, tais como soluções mais focadas nas necessidades dos usuários, me-
lhoria das soluções e aumento da aceitabilidade do projeto (BITTENCOURT; DUARTE, 2021).

Simulação do Trabalho
A simulação do trabalho deve ser uma das estratégias que permite trazer contribuições
para a integração do projeto aos sistemas de trabalhos. Por isso o ergonomista ou o comitê
de ergonomia, quando tiver uma demanda, pode criar um projeto e envolver os trabalha-
dores, gerentes e projetistas para discutir as futuras condições de trabalho e soluções.
Nesse caso, o uso de simulação do trabalho é uma oportunidade para esses atores
exteriorizarem e reconstruírem suas representações acerca do trabalho. Isso permite a
troca de representações de diferentes atores no momento do desenvolvimento do pro-
jeto que contribui para integração do conjunto das soluções futuras (BITTENCOURT;
DUARTE, 2021).

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As abordagens que as equipes vêm usando no meio ambiente de trabalho são variadas
e essas representações (Tabela 1) dos sistemas de trabalho (ex. maquetes físicas e virtuais)
são usadas como suporte para trabalhadores apresentarem sugestões de soluções com
base em sua experiência (LUVIZOTO; FONTES; TORRES, 2021).

Tabela 1 – Apresenta as técnicas para a


representação suas vantagens e desvantagens
Técnicas para a
Vantagens Desvantagens
representação
Transforma ideias/conceitos
em formas; baixo custo; ra-
pidez; pode ser usada indivi-
Pouca precisão; pouca utilidade
dualmente ou coletivamente;
fora das fases iniciais de projeto,
Croqui ou desenho feito à requer recursos e materiais pode ser difícil de entender em
simples e de fácil manipula-
mão livre função de uso de símbolos ou
ção; é adequada para elaborar
por ser extremamente simplifi-
esquemas, para definir as pri-
cada, entre outras.
meiras formas, estudar fluxos
ou eixos de percurso, setoriza-
ções de uso, entre outras.
Possui baixo custo em relação
a modelos em tamanho real
Exige algumas noções para ser
ou outras técnicas, é um ob-
construída, é necessário pro-
jeto tátil que pode ser mani-
Maquete física pulado, pode permitir um alto
porcionalidade entre a minia-
tura e a situação representada,
grau de compreensão, facilita
modificar pode ser difícil.
trocas em discussões coletivas
de projeto.
Permitem projetar, apresen-
tar e documentar projetos de Exigem treinamento, normal-
forma individual ou em grupo. mente são utilizados apenas
São adequados para represen- em fases intermediárias ou
tar desenhos precisos em di- finais de projeto, são repre-
mensão e forma, representa- sentações abstratas que não
ções em planta, corte, vistas e podem ser fisicamente ma-
Desenhos em CAD 2D e 3D perspectiva (2D/3D); poderem nipuláveis, exigem alguma
gerar desenhos técnicos corre- familiaridade.
tos. Permitem dimensionar al- Para sua compreensão, alguns
turas e superfícies de trabalho, podem requerer conhecimentos
alcances, layout de fábrica, especializados como o das NR.
fluxos e percursos, replicabili-
dade, entre outros.
Produz objeto único, exige al-
Permite testar antes da fabri- guma capacidade de realizar
cação em escala industrial, an- testes, exige conhecimentos
Protótipo físico tecipar o uso, facilitar as trocas especializados para sua cons-
entre projeto e uso, represen- trução, é utilizado comumente
tar objetos em escala natural. em fases intermediárias ou
finais de projeto.
Exige conhecimentos para sua
Permite que o objeto acabado construção, exige disponibili-
em escala natural, possibi- dade e domínio de tecnologias
lidade de rápida construção digitais, são mais comumente
Prototipagem Rápida para o uso, redução do tempo utilizados em fases intermedi-
total de desenvolvimento até árias ou finais de projeto; nem
o mercado ou uso. todos os materiais podem ser
ainda usados.
Fonte: LUVIZOTO; FONTES; TORRES, 2021

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

O uso da simulação do trabalho é feito para gerar conhecimento sobre o trabalho.


O resultado desse teste é permitir recriar possíveis situações de trabalho e provocar
comportamentos. Baseado nessas situações simuladas de trabalho, o ergonomista
poderá gerar conhecimento sobre o trabalho e contribuir para melhorar soluções de
projeto. Nessa perspectiva, a simulação se apresenta como uma oportunidade de
construção coletiva desse trabalho futuro (tanto no que diz respeito às soluções téc-
nicas como à atividade de trabalho). Logo, ela não precisa ser usada apenas quando
o projeto se encontra em etapas avançadas. Mas também em fases iniciais do pro-
jeto visando a uma maior integração e aproximação da realidade dos trabalhadores
(BITTENCOURT; DUARTE, 2021).

Para maior conhecimento, apresentamos algumas técnicas que são utilizadas para a
simulação:

Quadro 1 – Apresenta as técnicas para a simulação para


soluções técnicas e a atividade de trabalho

Uso de modelos físicos A simulação física compreende todas aquelas em que são utilizados
para a simulação um meio físico e um cenário físico.

Simulação utilizando O uso do croqui para a simulação remete à intenção de representar


o desejo dos/das projetistas (trabalhadores) em relação a determi-
croquis nado objeto a ser transformado ou criado.

Simulação utilizando As maquetes de uma situação produtiva permitem um bom nível de


maquetes interação entre os e as projetistas e entre projetistas e trabalhadores.

O uso dos manequins permite simular a situação como se houvesse


Simulações utilizando um homem ou mulher no local; assim, no projeto do trabalho, ma-
manequins nequins podem ser utilizados igualmente para simular variáveis,
como o espaço para as pernas em um posto de trabalho.

Simulação utilizando Os protótipos são construídos para revelar, resolver ou validar es-
protótipos pecificações.

Simulação A simulação computadorizada é aquela predominantemente reali-


computadorizada zada em ambientes digitais e com modelos digitais.

As simulações no CAD 2D permitem elencar as variáveis que se


Simulação utilizando desejam analisar, o modelo desenvolvido em pode servir como
CAD 2D pano de fundo para se analisar o fluxo de pessoas, equipamentos
e materiais em uma indústria.

Simulação utilizando As simulações no CAD 3D aprimoram as dimensões, os detalhes,


os espaços, dentre outros aspectos, que podem ser mais bem vi-
CAD 3D sualizados e testados.

Simulação de eventos A simulação computacional é capaz de reproduzir sistemas por


meio de um modelo para realizar experimentos, antecipando a
discretos análise de cenários.

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Simulação humana computacional utiliza os benefícios da reali-
dade virtual e da computação gráfica para aplicações nas áreas
Simulação humana de projeto de instalações industriais e na concepção, avaliação e
implantação de sistemas de produção.

Fonte: LUVIZOTO; FONTES; TORRES, 2021.

Simulação Humana
As ferramentas computacionais de cronoanálise da atividade são softwares ou aplica-
tivos de dispositivos móveis utilizados para auxiliar a análise da cronologia da atividade,
que permite compreender a sequência, os deslocamentos, construindo-se o curso tem-
poral da operação, permitindo compreender significados de arranjos organizacionais
informais ou mesmo o desencadeamento de uma sobrecarga de trabalho (RODRIGUES;
TONIN, 2021).

Rodrigues e Tonin (2021) descrevem que as ferramentas mais conhecidas pelos ergono-
mistas no Brasil talvez sejam o Captiv (Teaergo) e o Kronos (Actogran Kronos). O software
Kronos “é um software de suporte à análise do trabalho, que torna visível a evolução de ati-
vidades laborais ao longo do tempo, em curtos ou longos períodos” (ROCHA, 2015, p. 1).

Os softwares citados, o analista insere variáveis de observação e/ou utiliza sensores


para monitoramento de variáveis previamente definidas e executa a análise da situação,
podendo ser em tempo real ou posteriormente, com auxílio de vídeos (RODRIGUES;
TONIN, 2021).

Software Kronos
O software Kronos pode ser usado durante a observação direta no local de trabalho ou
posteriormente, quando as observações diretas são utilizadas por meio de acoplamento a
computadores de dimensões reduzidas, que normalmente cabem no bolso ou na mão do ob-
servador. Por sua vez, as observações que são realizadas posteriormente ocorrem por meio
de análises de filmes da atividade, que podem ser integradas ao Kronos (ROCHA, 2015).

O resultado esperado do software é que permite visualizar o trabalho através de grá-


ficos e a obtenção de estatísticas das variáveis. Os gráficos permitem uma representação
do desenvolvimento temporal de determinada observável. É possível verificar visualmente,
por exemplo, quais atividades foram mais realizadas, em que local um determinado fun-
cionário esteve, ou qual movimento foi mais solicitado (ROCHA, 2015).

O Kronos é, portanto, uma ferramenta extremamente útil na coleta de dados sobre o trabalho
conforme pode ser analisado no artigo “A cadeirologia e o mito da postura correta”, da profes-
sora de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais Ada Ávila Assunção, que é Mestre e
Doutora em Ergonomia. Disponível em: https://bityl.co/7uHy

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Software Captiv
Em estudo no setor canavieiro, o pesquisador Erivelton Laat utilizou a ferramenta
Captiv (Teaergo), mas, para o início da avaliação, foi preciso observação da filmagem iso-
lada, na qual foram definidas na pré-codificação as variáveis que seriam usadas (Figura 1).
Essas variáveis foram apontadas como as mais importantes na compreensão do trabalho
dos cortadores (LAAT, 2010).

Tabela 2 – Variáveis descritas para uso no software CAPITV


Variáveis de observação
Subvariáveis Descrição
de comportamento
• Início do ciclo com abraço ao feixe;
• Abraçar; • Deslocamento sem cana;
• Caminhar; • Condução da cana até o monte;
• Carregar; • Golpe na cana com o podão;
Atividade • Cortar; • Arremesso da cana no monte;
• Jogar; • Limpeza dos feixes com as mãos e
• Preparar; podão para retirada de fuligem e
• Reposicionar. palha seca;
• Aguardar para recomeçar o ciclo;
• Deslocamento superior a 3 passos;
• Andar;
• Deslocando até dois passos;
Deslocamento • Balançar;
• Parado realizando o corte ou tracio-
• Sem deslocamento.
nando os feixes;
• Tronco ereto;
• Em pé; • Tronco com flexão aproximada de 45
• Flexão da coluna; graus;
Postura • Rotação ereto; • Giro da coluna no seu próprio eixo;
• Rotação lombar; • Giro da coluna no seu próprio eixo
• Sentado. em flexão;
• Abaixado ou assentado;
• Corte no chão; • Corte da cana rente ao solo;
Tipo de corte • Despontar; • Corte das ponteiras nos montes;
• Preparar. • Limpeza do local para o golpe.
Fonte: LAAT. 2010.

Figura 1 – Apresenta a sequência, ilustra o uso do software CAPTIV


na análise do corte manual de cana
Fonte: Adaptada de LAAT, 2010

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A atividade do ergonomista, após a filmagem, é descrever as variáveis e realizar o início
do registro quantitativo da análise. Observe, na figura acima, à direita, os botões que são
resultados das observações pré-selecionadas na filmagem. Em vermelho, o tipo de atividade,
em azul, as ações de deslocamento, em roxo, o tipo de postura e, em verde, o tipo de corte.
Do lado esquerdo, a imagem da filmagem transferida para o software (LAAT, 2010).

Conforme apresentado na Figura 1, na parte inferior da tela, aparece a linha do tempo,


logo abaixo do vídeo, então, no caso de análises com vídeo (mais comuns), o analista faz a
codificação da seguinte forma: conforme o vídeo vai “executando”, o analista vai clicando
no “botão” da categoria de análise correspondente, em geral, deve-se “rodar” o vídeo e
analisar uma categoria de cada vez (RODRIGUES & TONIN, 2021).

Importante!
Através de registros automáticos do tempo é possível obter gráficos e dados estatísticos
sobre a duração e as transições de variáveis previamente definidas por um observador.
Por fim, o software fornecerá informações em formatos de gráficos e poderá auxiliar na
análise estatística da situação (RODRIGUES; TONIN, 2021).

Lembrando que os ciclos menores que 30 segundos representam riscos de lesões


osteoarticulares. Para esse caso, o software permitiu a análise do ciclo com o proces-
samento estatístico de 107 minutos da atividade de corte manual de cana-de-açúcar,
conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 – Mostra o tamanho do ciclo de trabalho no corte da cana, somando-se


os tempos médios de cada operação que compõe a atividade
Classe Atividade T Médio – segundos
Abraçar 00:00:01.330
Carregar 00:00:00.753
Cortar 00:00:01.623
Corte 3 Ruas
Jogar 00:00:00.560
Reposicionar 00:00:01.075
Segurar 00:00:00.336
Tamanho Ciclo 5,677
Abraçar 1 00:00:01.049
Carregar 1 00:00:00.470
Corte 1 Rua Corte 00:00:01.114
Jogar 1 00:00:01.239
Segurar 1 00:00:00.486
Tamanho Ciclo 4,36

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Classe Atividade T Médio – segundos


Arrumar mão 00:00:00.689
Arrumar pé 00:00:00.463
Cortar 2 00:00:01.375
Despontar Corte auxílio mão 00:00:00.992
Corte auxílio pé 00:00:00.790
Jogar mão 00:00:00.752
Jogar pé 00:00:01.660
Tamanho Ciclo 6,728
Fonte: Adaptada de LAAT, 2010

No caso de algumas ferramentas, como o Captiv, Rodrigues e Tonin (2021) informam:

[...] existe a possibilidade de se utilizar sensores na análise, monitorando-


-se, por exemplo, a frequência cardíaca ao longo da atividade. Com isso,
podem-se identificar situações que poderiam estar associadas aos au-
mentos excessivos da frequência cardíaca, o que pode ser útil em várias
situações. Nesta ferramenta existe compatibilidade com diversos tipos
de sensores, como goniômetros (para avaliação de angulações nas ar-
ticulações), sensores de pressão, sensores de poeira etc. A utilização de
sensores permite a aquisição e sincronização dos dados dos sensores de
forma automática, sem necessidade da fase de codificação apresentada
acima (para as categorias de análise monitoradas pelo sensor). A utili-
zação combinada da codificação e dos sensores pode auxiliar muito para
que sejam evidenciados os constrangimentos e sobrecargas nas atividades
(RODRIGUES; TONIN, 2021, p. 421).

Exemplos de sensores que podem ser usados no CAPITV

Importante!
O software Captiv permite captar medidas por outros instrumentos periféricos, tais como
frequência cardíaca, temperatura corporal e IBUTG, que podem ser agregadas na mesma
linha de tempo do mesmo caso. Portanto, permite uma avaliação mais integrada com
várias variáveis que podem comprometer a saúde do trabalhador.

O CAPITV permite uma conexão entre vários sensores desde que tenha um cabo
para conectar no computador em que será instalado o software. Nesse estudo da cana,
um dos instrumentos usados foi o aparelho de IBUTG, que monitora a sobrecarga tér-
mica durante a jornada de trabalho a céu aberto.

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Figura 2 – Monitor de IBUTG integrado com estação climática
Fonte: LAAT, 2010

O monitor de frequência cardíaca, de marca Polar Team System, com 10 unidades,


faz o levantamento da frequência cardíaca do trabalhador, e foi usado para medir a carga
física de trabalho no período filmado.

Figura 3 – Monitor de frequência cardíaca


Fonte: LAAT, 2010

No caso do monitor de temperatura corpórea para esse tipo de estudo, ocorreram


muitas dificuldades na fixação, fator preponderante para captação dos dados, pois a
sudorese e a movimentação intensa do trabalhador impediam um contato satisfatório do
termômetro sensor com as paredes do ouvido, prejudicando a leitura desejada.

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Figura 4 – Monitor Quest de temperatura corpórea


Fonte: LAAT, 2010

A estação climática permite a captação de informações referentes à temperatura, umi-


dade, velocidade e direção do vento, que é muito importante para a atividade de campo.

Figura 5 – Estação climática


Fonte: LAAT, 2010

No caso do uso de ferramentas de cronoanálise do trabalho, é preciso compreender


as limitações. Dentre elas, podemos destacar os erros na definição das variáveis e coleta
de dados, o que, por vezes, depende muito da atuação do ergonomista e da sua experi-
ência. Para evitar erros grosseiros, é preciso conversar com os trabalhadores para validar
as variáveis.

Outro ponto que é preciso ter muito cuidado é quando se usam os sensores, uma
vez que é preciso garantir a calibração e sincronização com aceitável nível de precisão,
pois isso pode afetar a qualidade dos dados gerados e a interpretação dos resultados
(RODRIGUES; TONIN, 2021).

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Figura 6 – Sistema Captiv integrando as variáveis de
observação e medidas fisiológicas e ambientais
Fonte: Adaptada de LAAT, 2010

Figura 7 – Demonstração da associação das


medidas fisiológicas e ambientais
Fonte: LAAT, 2010

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Sistemas de Captura de Movimentos


Na simulação humana, podem ser utilizados os Motion Capture Systems (MoCap) ou
Sistemas de Captura de Movimentos, que permitem capturar os movimentos humanos
reais, editar e reproduzir em ferramentas computacionais por meio de manequins digi-
tais, conforme mostra a figura 8 a seguir:

Figura 8 – Capturas de movimentos em ambiente real


Fonte: SANTOS et al., 2016

O Design Lab da Universidade Federal de Santa Catarina aprofunda os usos e amplia os


estudos do Motion Capture, o sistema de captura de movimentos que registra e traduz
movimentos humanos para animação em três dimensões.
Disponível em: https://youtu.be/M_gLaLMXkzs

Em Síntese
O software auxilia na análise das situações de trabalho, fornecendo evidências estatís-
ticas. E também auxilia na visualização (diálogo com os trabalhadores) dos constrangi-
mentos e variabilidades nas atividades e identificar as estratégias explícitas ou tácitas
adotadas pelo operador.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Captura de imagem CAPTIV VR by TEA
https://www.youtube.com/watch?v=DJiAXJJV0G8
Efeitos de cinema – Motion Capture/Captura de Movimento
https://www.youtube.com/watch?v=LZ-esdw2ZWg
O que é Ergonomia?
https://www.youtube.com/watch?v=F0GJJUb1Qxc
Simulação e participação na Ergonomia
https://www.youtube.com/watch?v=XYlQjD2jC04
Simulador de Percepção de Riscos 360° – Ergonomia
https://www.youtube.com/watch?v=wSM639-fcps

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UNIDADE Contribuições da Simulação em Ergonomia

Referências
BITTENCOURT, J. M.; DUARTE, F. J. de C. M. Contribuições da simulação em ergo-
nomia para a engenharia do trabalho: perspectivas metodológicas e conceitos operacio-
nais. In: BRAATZ, D; ROCHA, R.; GEMMA, S.(orgs.). Engenharia do Trabalho – Saú-
de, Segurança, Ergonomia e Projeto. Campinas: Libris, 2021. Disponível em: <http://
engenhariadotrabalho.com.br/sobreolivro/>.Acesso em: 01/10/2021. No prelo.

DANIELLOU, F. A ergonomia na condução de projetos de concepção de sistemas de tra-


balho. In: FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007. p. 303-315.

LAAT, E. F. Trabalho e risco no corte manual de cana de açúcar: a maratona perigosa


nos canaviais. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Metodista de
Piracicaba, Santa Bárbara D’Oeste, 2010.

LUVIZOTO, R.; FONTES, A. R. M.; TORRES, I. Técnicas de apoio ao projeto do Traba-


lho. In: BRAATZ, D; ROCHA, R.; GEMMA, S.(orgs.). Engenharia do Trabalho – Saú-
de, Segurança, Ergonomia e Projeto. Campinas: Libris, 2021. Disponível em: <http://
engenhariadotrabalho.com.br/sobreolivro/>. Acesso em: 01/10/2021. No prelo.

ROCHA, R. Kronos, Laboreal [On-line], v. 11, n. 1, 2015. Disponível em: <http://jour-


nals.openedition.org/laboreal/4452>. Acesso em: 18/04/2021.

RODRIGUES, D. da S.; TONIN, L. Das bases dos fatores humanos às ferramentas e


técnicas de apoio à compreensão da atividade de trabalho. In: BRAATZ, D; ROCHA,
R.; GEMMA, S.(orgs.). Engenharia do Trabalho – Saúde, Segurança, Ergonomia e
Projeto. Campinas: Libris, 2021. Disponível em: <http://engenhariadotrabalho.com.br/
sobreolivro/>. Acesso em: 01/10/2021. No prelo.

SANTOS, W. R. dos; BRAATZ, D.; TONIN, L. A.; MENEGON, N. L. Análise do uso


integrado de um sistema de captura de movimentos com um software de modelagem e
simulação humana para incorporação da perspectiva da atividade. Gestão & Produ-
ção, v. 23, n. 3, p. 612-624, 2016.

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Ergonomia e Segurança
do Trabalho
Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alessandro José Nunes da Silva

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Por uma Cultura de Segurança
nas Organizações

• Introdução à Cultura de Segurança;


• Sistema de Gestão de Ergonomia;
• Gestão da Ergonomia – Comitê de Ergonomia;
• Constituição do Comitê de Ergonomia – COERGO.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar o tema cultura de segurança visando à proteção e prevenção dos trabalhadores
e dos meios ambientes de trabalho;
• Apresentar a organização e as normativas para construção de Sistema de Gestão de Ergonomia;
• Apresentar a organização e as ações do Comitê de Ergonomia.
UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Introdução à Cultura de Segurança


Por que é importante compreender a cultura?

Essa compreensão permite integrar as ações fragmentadas dentro de uma organi-


zação e, assim, permite aprimorar as ações de proteção e prevenção dentro do meio
ambiente de trabalho.

Para Rocha e Vilela (2021),

a cultura pode ser definida como maneiras de agir compartilhadas, sendo


repetidas e convergentes, baseadas em maneiras de pensar, saberes, crenças
e valores comuns. Falar de cultura é se referenciar a maneiras de fazer e pen-
sar compartilhadas no seio de um determinado coletivo. (ROCHA; VILELA,
2021, p. 324)

A construção cultural dentro de uma organização tem uma variação muito grande,
uma vez que existem ao longo do tempo muitas mudanças (vendas, troca de gestores,
de diretores, de proprietários etc.). Por isso a cultura da organização é progressivamente
construída pelas interações dos indivíduos no curso da história, determinando as maneiras
de fazer e pensar do grupo como um todo (ROCHA; VILELA, 2021).

O que é Cultura de Segurança? Disponível em: https://youtu.be/viU0y08kW6E

A Comissão de Saúde e Segurança (HSC – Health and Safety Commission) é um órgão


público não departamental do Reino Unido que foi criado Lei de Saúde e Segurança no
Trabalho, e essa instituição define:
A cultura de segurança de uma organização é o produto dos valores,
atitudes, percepções, competências e padrão de comportamento de in-
divíduos e grupos que determinam o comprometimento, o estilo e a pro-
ficiência do gerenciamento da segurança do trabalho da organização.
Organizações com culturas de segurança positivas são caracterizadas pela
comunicação fundada na confiança mútua, pela percepção compartilhada
da importância da segurança e pela confiança na eficácia das medidas
preventivas. (REASON, 1997, p. 194)

Na catástrofe de Chernobyl, os investigadores apontaram que a cultura da empresa


é amplamente enfraquecida quando, em todos os níveis da organização, no que diz res-
peito à segurança industrial, colocam as prioridades:
• Produção em detrimento da segurança;
• Tolerância de não conformidades técnicas e de procedimentos em segurança;
• Deficiências na formação e na comunicação de segurança;
• Clima de trabalho deteriorado etc.
Para aprofundar esse olhar, o professor Hudson (2001) propõe os estágios de matu-
ridade de cultura de segurança conforme descritos abaixo:

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Quadro 1 – Estágios de Maturidade

Na maioria das vezes, neste estágio praticamente não existem pro-


fissionais que atuam com a preocupação da saúde e segurança no
Patológico meio ambiente do trabalho; neste estágio, não há ações na área de
segurança do trabalho na organização. O máximo que se procura
fazer é atender à legislação.

Os profissionais de saúde e segurança podem não ter autonomia ne-


cessária ou não têm formação para mudar de cenário. Neste estágio,
as ações da organização da área de saúde e segurança no trabalho
Reativo são realizadas somente depois de acidentes de trabalho terem
acontecido. Ações não são sistemáticas, buscam dar respostas aos
acidentes do trabalho, procurando remediar a situação.

Os profissionais de saúde e segurança têm mais autonomia ne-


cessária e começam a trabalhar com equipes multidisciplinares.
Neste estágio, a organização tem sistema para gerenciar riscos
Calculativo nos locais de trabalho, mas ainda não tem a visão sistêmica da
saúde, segurança e meio ambiente. Ações estão mais voltadas
para quantificar os riscos.

Os profissionais de saúde e segurança têm bastante autonomia e


as atividades de trabalho estão entre equipes multidisciplinares.
É o desenvolvimento do estágio de transição para o estágio da
Proativo cultura construtiva. O líder da organização, com base nos valores
da organização, conduz as melhorias contínuas para a saúde, se-
gurança e meio ambiente. Procura se antecipar aos problemas, ou
seja, busca conhecê-los antes que aconteçam.

Os profissionais de saúde e segurança têm que possuir muita expe-


riência nas áreas de atuação, bem como é necessário um bom rela-
cionamento com as equipes multidisciplinares, uma vez que serão
cobrados por indicadores de melhorias constantemente. Existe um
Construtivo sistema integrado de saúde, segurança e meio ambiente, no qual a
organização se baseia e se orienta para realizar seus negócios. A or-
ganização tem as informações necessárias para gerir o sistema de
segurança do trabalho, está constantemente tentando melhorar e
encontrar as melhores formas de controlar os riscos.

Gonçalves Filho et al. (2011) organiza uma proposta para que as equipes de saúde e se-
gurança das organizações possam criar a estratégia de implantar o modelo desenvolvido:

Quadro 2 – Fatores de maturidade de cultura de segurança

Neste momento os trabalhadores têm que relatar os erros, os


acidentes e os incidentes ocorridos dentro da organização, que
Informação geram indicadores para a organização monitorar o desempenho
da segurança do trabalho.

A atuação da organização visa aprimorar as informações, desta-


cando as análises dos acidentes e dos incidentes em profundidade,
Aprendizagem sem procurar culpados, e gerando propostas de ações de melhoria
organizacional que serão implementadas, com comunicação aos trabalhadores.
Sempre ocorre a busca contínua de melhorar os processos visando
à segurança do trabalho.

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Em uma organização democrática, necessita de comunicar com


todos os trabalhadores, por isso a forma de comunicar os temas
relativos à segurança do trabalho é fundamental. deve existir
Comunicação canal aberto de comunicação entre os empregados e superiores hie-
rárquicos. Inclui também se comunicação chega aos empregados, se
é compreendida por eles e se a organização monitora a efetividade
da comunicação.

A organização planeja e permite organização das equipes, dispo-


nibiliza recursos (tempo, dinheiro, pessoas) e suportes alocados
para a gestão da segurança do trabalho, pelos status da segurança
do trabalho em relação à produção, pela existência de um Sistema
de Gestão da Segurança do Trabalho, em que constam a visão e
Comprometimento objetivos da organização, definição de responsabilidades, a polí-
tica de treinamento e qualificação, procedimentos, recompensas,
sanções e auditorias. O verdadeiro comprometimento significa
mais que políticas escritas e mencionar a importância da segu-
rança do trabalho nos discursos, precisa haver coerência entre as
palavras e a realidade.

Busca sempre que todos participem deste processo, o retorno de


experiência é uma estratégia, as equipes devem permitir a partici-
pação dos empregados nas questões de segurança, como na análi-
se dos acidentes e incidentes que lhe diz respeito, na identificação e
Envolvimento análise dos riscos do ambiente de trabalho, nas propostas de ações
para melhoria da segurança do trabalho e sua implementação, na
elaboração e revisão dos procedimentos relacionados com sua ati-
vidade, no planejamento das suas atividades, e a participação em
comitês de segurança, encontros de segurança etc.

Fonte: Adaptado de GONÇALVES FILHO, et al.,2011

Para refletir, a cultura de segurança somente pode ser observada em organizações que
têm compromissos prévios. Fleming (2001) descreve um alerta de que o seu modelo de cul-
tura de segurança somente é aplicável em organizações que atendam aos seguintes critérios:

Importante!
• Tenha um adequado Sistema de Gestão da Segurança do Trabalho;
• A maioria dos acidentes de trabalho não é causada por falhas técnicas;
• Atenda às leis e normas sobre segurança do trabalho;
• A segurança do trabalho é dirigida para evitar acidentes.

Sistema de Gestão de Ergonomia


Nesta unidade, discutiremos, detalhadamente, como criar o comitê e como mantê-lo,
a fim de oferecer uma metodologia adequada para sua implantação e manutenção, como
forma de garantir a aplicação adequada da ergonomia e todos os seus desmembramentos.
Já estudamos, anteriormente, Antropometria (medidas dos segmentos corpóreos), Fi-
siologia (funcionamentos dos sistemas dos seres vivos) e Biomecânica (estudo dos movi­
mentos do corpo humano). Esses conceitos serão de grande utilidade ao estudarmos

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algumas ferramentas e métodos aplicados à ergonomia, dentre os vários existentes.
Todavia, neste contexto, compreender a forma de execução, seus estágios e a condução
da negociação são fundamentais para o sucesso das ações ergonômicas.

O Sistema de Gestão visa organizar uma empresa por meio da identificação dos pro-
cessos de uma organização, identificando-se entradas e saídas, deve-se estabelecer um
sistema de controle – verificação a fim de criar dados “vivos” sempre atualizados – que
permita aos líderes tomarem decisões objetivas e efetivas. Todo e qualquer conjunto de
normas e procedimentos que a organização seja sistêmica pode ser considerado um sis-
tema de gestão. O conjunto de normas e procedimentos mais conhecidos são as normas
da série ISO 9000.

A família de normas International Standart Organization - ISO 9000 originou-se na


Suíça na década de 1980. Em virtude da formação e consolidação do Mercado Comum
Europeu, surgiu a necessidade de estabelecerem padrões que norteassem as operações
de negócios neste bloco. Surge, então, em 1987, a primeira versão de normas ISO 9000.

As normas ISO 9000, versão 1987, possuíam 20 elementos, eram extremamente


burocráticas e divididas em:
• ISO 9001: Todas as operações da cadeia produtiva atendiam aos pré-requisitos da
norma (inclusive projeto);
• ISO 9002: Todas as operações da cadeia produtiva atendiam aos pré-requisitos da
norma (exceto projeto);
• ISO 9003: Garantia da qualidade na inspeção final.

Em 1994, houve uma revisão nas normas ISO 9000. Nessa época, a indústria auto-
mobilística mundial vivia um cenário em que cada região era precedida por um sistema:
• VDA: Sistema alemão;
• AVSQ: Sistema Italiano;
• EAQF 94: Sistema francês;
• GM, Chrisler, Ford: (big 3) – QS – Norma certificável.

Em 2000, houve uma grande revisão na norma de caráter conceitual, passando de


“Gestão pela garantia da qualidade” para “Gestão por processos”. A QS 9000 tinha
base na revisão de 1994 da ISSO, que era excessivamente burocrática e, com a evolução
conceitual que veio com a revisão do ano 2000, a QS 9000 tinha ficado obsoleta. Com
a pressão dos fornecedores da indústria automobilística para que houvesse uma norma
única a ser seguida a nível global, surge a ISO TS 16.949.

A ISO TS 16.649 foi uma harmonização dos requisitos na norma e de outros sis-
temas vigentes no segmento (VDA, AVSQ, EAQF 94, QS) e surge conceitualmente
atualizada, pois se baseia na revisão 2000 da ISO com foco em gestão por processos.

A ISO TS 16.649 conta, além dos requisitos da norma, com a seção de “Requisitos
específicos do cliente” que são, basicamente, o atendimento às normas internas do cliente
como simbologia, nomenclatura, características críticas, especificações, regime de quali-
ficação de fornecedores etc.

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Historicamente, a grande maioria das inovações tecnológicas e de gestão toma forma


e ganham força na indústria automobilística, abrindo precedente para aplicação nos
demais segmentos de mercado. A família de normas ISO 9000 é “certificável”, isso quer
dizer que deve ser contratado um organismo certificador, externo à empresa, que en-
viará pessoas qualificadas, treinadas e com larga experiência de mercado. Essas pessoas
são chamadas de auditores e vão promover auditoria no sistema de gestão da empresa.

Os auditores vão verificar in loco se a documentação elaborada pela empresa (manual,


procedimentos, instruções de trabalho e registros) é condizente com a realidade. São res-
ponsabilidades do auditor:
• Definir os requisitos para cada auditoria, incluindo as qualificações exigidas do auditor;
• Planejar a auditoria, preparar os documentos de trabalho e instruir a equipe auditora;
• Analisar criticamente a documentação para determinar sua adequação;
• Relatar imediatamente ao auditado as não conformidades;
• Relatar quaisquer obstáculos importantes encontrados durante a realização da auditoria;
• Relatar os resultados da auditoria de maneira clara, conclusiva e sem atraso indevido;
• Agir de acordo com os requisitos de auditoria aplicáveis;
• Comunicar e esclarecer os requisitos da auditoria;
• Planejar e realizar sua atribuição eficaz e competentemente;
• Verificar a eficácia das ações corretivas adotadas como resultado da auditoria (caso
seja solicitado);
• Cooperar e apoiar o auditor líder;
• Manter-se dentro do escopo da auditoria;
• Ser objetivo;
• Coletar e analisar evidências relevantes e suficientes para permitir a formulação de
conclusões;
• Ficar atento a quaisquer indicações de evidências que possam influenciar os resultados
da auditoria e, possivelmente, exigir uma auditoria mais ampla.

Por outro lado, há responsabilidade do auditado, dentre as quais se destacam:


• Informar aos funcionários envolvidos os objetivos e escopo da auditoria;
• Apontar membros responsáveis para acompanhar a equipe auditora;
• Prover a equipe auditora de todos os recursos necessários para assegurar um pro-
cesso de auditoria eficaz e eficiente;
• Prover o acesso às instalações e ao material comprobatório, conforme solicitado
pelos auditores;
• Cooperar com os auditores para permitir que os objetivos da auditoria sejam atingidos;
• Determinar e iniciar ações corretivas baseadas no relatório de auditoria;
• Determinar a necessidade e o propósito da auditoria;
• Determinar a organização auditora;

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• Determinar o escopo geral da auditoria, a norma de sistema da qualidade, ou docu-
mento que deve ser seguido;
• Receber o relatório de auditoria;
• Determinar o acompanhamento a ser adotado.
ISO série 14.000 – Gestão Ambiental: A ISO 14.001 é uma norma de, relativamente,
simples aplicação, mas, em um dos seus requisitos, pede-se que siga as legislações am-
bientais vigentes no local da unidade a ser certificada. No caso do Brasil, são mais de
80.000 leis relacionadas ao meio ambiente. Deve-se considerar também a hierarquia
das leis: municipal, estadual e federal que, em muitos casos, são divergentes. Deve ser
aplicada a lei mais rígida independentemente da hierarquia das leis. A norma consiste
basicamente em três pontos:
• Levantamento dos aspectos e impactos ambientais;
• Classificação dos riscos relacionados aos impactos ambientais (pode ser FMEA);
• Estabelecimento de planos para que esses aspectos sejam identificados e controlados,
além da aplicação de toda legislação vigente.
A organização deve ter um plano de atendimento a emergências (fogo, explosão,
contaminação etc.), deve-se responder à questão: qual o dano que vai causar ao meio
ambiente se isso acontecer? O plano de atendimento à emergência deve contar, inclusive,
com simulações.

Você Sabia?
Hoje, o país que mais certifica a norma ISO 14.001 (gestão ambiental) e a ISO 50.000
(gestão de energia) é o Japão.

Existem outras normas que não pertencem à família ISO, mas são igualmente certi-
ficáveis:
• Normas de segurança: OHSAS – abordada mais profundamente, ainda nesta
unidade. A partir de dezembro de 2017, a norma que conhecemos como OHSAS
18.001 integrará a família ISO com o nome de ISO 45.001;
• Responsabilidade social: SA 8.000 (norma criada a partir do “escândalo da Nike”,
quando veio a público a submissão do ser humano ao trabalho escravo – regime de
escravidão – sem condições dignas de trabalho);
• PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat): o
programa brasileiro de qualidade e produtividade do habitat foi uma forma do go-
verno federal brasileiro fazer com que a indústria da construção civil se preocupasse
com qualidade e produtividade. As construtoras (e não incorporadoras) que seguem
todos os elementos da norma do PBQP-H ganham o direito de usar o selo de quali-
dade, após passar por auditoria de organismo certificador devidamente qualificado.

O PBQP-H segue a norma ISO revisão 2000 (com ênfase em gestão de processos).
A empresa que possui a certificação PBQP-H consegue financiamento de todo seu
empreendimento com recursos do governo sem precisar dispor de recursos próprios

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

que, muitas vezes, pode ser a fronteira entre o sucesso e o fracasso de construtoras de
qualquer porte.

O PBQP-H é uma norma evolutiva com três níveis:


• Nível D: é a fase em que as construtoras firmam um compromisso junto ao mi-
nistério das cidades, para desenvolver um manual de documentos e mais alguns
documentos que provem que a empresa existe (contrato social etc.) e, ainda, um
cronograma evolutivo da organização até o nível A.
• Do nível C ao nível A, o processo corre com organismo certificados, posto que a
norma PBQP-H é certificável.
• O nível A é a ISO completa, mais o “PQO” (planejamento de qualidade da obra) que
consta, dentre outros requisitos, os de estrutura organizacional da obra, projeto do
canteiro, objetivos da obra, plano de contingência da obra etc.

A OIT /2001 – diretrizes sobre o sistema de gestão em segurança e saúde no trabalho


define sistema de gestão como:

“O conjunto de elementos inter-relacionados ou interativos que tem por pressu-


postos o estabelecimento de uma Política de Saúde e Segurança do Trabalho e que
alcance os objetivos propostos.”

Gestão da Ergonomia –
Comitê de Ergonomia
Trocando Ideias...
Antes de iniciarmos nossos estudos sobre a indicação de um modelo de aplicação de
gestão da ergonomia, é importante ressaltar que a gestão da ergonomia é necessária
quando a organização mobiliza recursos para promover a integração, mais harmônica
possível, entre homem, sistema e ambiente. Apesar de termos afirmado, anteriormente,
que a ergonomia deve propor um “modelo um mental” no sentido de ser uma forma de
pensar e agir no emprego e fora dele, nesse contexto, o modelo sugerido de gestão da
ergonomia dedica-se a uma organização, seja manufatureira, ou de serviços. O modelo
proposto oferece um “caminho” ao sistema de certificação internacional de saúde e se-
gurança do trabalho, que, a partir de dezembro de 2017 será “rebatizado” e passará a
integrar a família ISO com a identificação de ISO 45.001.

Sugere-se que “Gestão da ergonomia” seja um processo maior a ser implantado em fases:
• 1º Fase: Início do processo;
• 2º Fase: Ciclo de melhoria – atuação;
• 3º Fase: Desenvolvimento em longo prazo.

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Sugere-se, ainda, que a implantação da primeira fase, denominada “Início do Processo”,
seja feita a partir dos 5 pilares:
• 1º Pilar: Apoio da alta administração;
• 2º Pilar: Treinamentos;
• 3º Pilar: Participação dos funcionários;
• 4º Pilar: Estruturação do serviço médico;
• 5º Pilar: Estruturação administrativa.

1º Pilar – Apoio da Alta Administração


Deve-se promover uma reunião inicial com a alta administração e líderes de todas as
áreas relacionadas à saúde do trabalhador, cujo objetivo deve ser criar consciência da
importância da ergonomia na alta administração, e esta deve dar seu apoio em todas as
fases do processo. A reunião deve, também, mostrar à alta administração um resumo e
a estrutura do projeto e custo benefício dessa iniciativa.

Importante!
Deve ser solicitado apoio ao staff e promover a assinatura de Declaração de Princípios de
Atuação Ergonômica.

A Declaração de Princípios de Atuação Ergonômica é um documento, assinado pela


alta administração, que deverá nortear as ações ergonômicas da organização, tais como:
o que fazer, quando fazer, como fazer, quanto fazer, quem deve fazer e quanto deve custar
às ações ergonômicas que a organização deverá tomar.

2º Pilar – Treinamentos
A organização deve promover treinamentos sobre conhecimentos gerais em ergono-
mia, tais como:
• Situações atuais da empresa;
• Processo de gestão;
• Participação efetiva.
Participação na identificação de problemas e identificação de soluções mais adequa-
das (8 horas para engenheiros e técnicos, 4 horas para encarregados e líderes e de 1 a
2 horas para funcionários).

3º Pilar – Participação dos Funcionários


Identificar precocemente os aspectos ergonomicamente inadequados. Direcionar
qual proposição de solução terá melhor chance de dar resultados. Aplicar questionários.

4º Pilar – Estruturação do Serviço Médico


Atender e entender quadros álgicos, identificando possíveis fatores causais, detectando
áreas e movimentos críticos a serem trabalhados pelo comitê. Médico do trabalho deve

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

acompanhar as reuniões do comitê ajudando em análises ergonômicas e em estabeleci-


mento de ações prioritárias.

5º Pilar – Estruturação Administrativa


Acompanhamento de problemas e medidas corretivas e preventivas.

Constituição do Comitê de
Ergonomia – COERGO
• Ações do Comitê: identificar problemas ergonômicos, implantar soluções realizando
mudanças para reduzir ou eliminar riscos (causas de desconforto, fadiga e lesões)
aplicando princípios da ergonomia, validar dados e acompanhá-los periodicamente;
• Nº de Comitês de Ergonomia: depende da organização da empresa, da relação
matriz x filiais, dos riscos ergonômicos existentes e, caso haja, dos processos indus-
triais diferenciados;
• Nº de Integrantes do Comitê: em média, 8 membros (4 representantes da empresa
e 4 representantes dos funcionários). Para empresas de grande porte, são recomen-
dados de 10 a 12 integrantes, a fim de evitar dificuldades operacionais (encontros,
discussões etc.);
• Coordenador do Comitê: profissional da área operacional (engenheiro, técnico
operacional, supervisor, gerente etc.). O coordenador deve ter, dentre suas com-
petências, respeito para com os demais colegas, boa articulação ao lidar com os
representantes dos funcionários e alta gerência. Deve interessar-se por problemas
ergonômicos que eventualmente demandem aprovação orçamentária, negociação e
aprovação de investimentos. O coordenador deverá abrir e fechar a reunião, manter
o foco na discussão, garantir a participação de pessoas envolvidas, garantir a for-
mação do consenso e poderá, eventualmente, convocar pessoas para participar de
reuniões do comitê ou projetos;
• Líder de Ergonomia: encarregado de assumir problemas de natureza ergonômica
de cada setor, ele deve ter um perfil criativo e comunicativo;
• Representante dos Funcionários: deve ser indicado pela chefia, ter interesse nas condi-
ções de trabalho, ser capaz de identificar problemas ergonômicos e ser um porta-voz,
além de poder selecionar em cada projeto o auxílio de um funcionário do setor;
• Secretário Executivo do Comitê: ocupa uma função estratégica e deve ter um bom
senso de organização. Verificar, antes da reunião, se a sala está pronta e os ma-
teriais necessários disponíveis. Tomar nota das discussões utilizando uma folha de
evolução do processo de ergonomia;
• Ata da Reunião: determinar data, horário de início e término, local e itens a serem
discutidos. A pauta da próxima reunião deve ser elaborada e afixada em quadro de
avisos. As atas das reuniões devem ser distribuídas, e o registro com problemas de
acompanhamento deve ser mantido. Deve ser tomado como base o plano de ação
desenvolvido. Dever ser mantido o foco durante as reuniões;

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• Integrantes Complementares: escolher um representante ligado à área com maiores
problemas ergonômicos, identificando problemas junto aos integrantes da CIPA;
• Profissionais de Saúde e Segurança: devem, obrigatoriamente, participar das reuniões
do comitê, mesmo não sendo integrantes efetivos;
• Engenheiros de Diversas Áreas: experiência em projetos e “re-projetos” devem par-
ticipar das soluções;
• Consultor de Ergonomia: interno ou externo.
Os membros do comitê devem ser devidamente treinados e qualificados na prática
da análise ergonômica e na dedução de soluções adequadas. O período de treinamento
deve ser de 40 horas teórico e prático. O conteúdo programático deve conter: conceito
de ergonomia, estrutura da coluna vertebral, patologias da coluna vertebral, LER/DORT,
princípios da ergonomia, acessórios ergonômicos, antropometria, ferramentas de análise,
posturas corretas domiciliares e no trabalho e, atividades e ações do Coergo.
O comitê deve ser oficializado junto à alta administração, deve ter legitimidade e ser
de conhecimento de todos. Deve haver uma minuta oficializando o Comitê.
As reuniões devem ser regulares, em intervalos fixos, sempre na mesma hora e local.
Em média, 1 hora a cada 15 dias. O secretário deve informar previamente sobre a pro-
gramação da reunião.
Os membros do comitê devem sempre ser capazes de relacionar todos os principais pro-
blemas analisados, os problemas atuais, grau de prioridade e encaminhamento do momento.
O comitê deve estar alerta e aberto aos problemas novos por meio de uma adminis-
tração dinâmica e eficiente. As inspeções e questionamentos periódicos são importantes.
Deve ser elaborado um formulário de acompanhamento de problemas.
• 1º fase: Início do processo;
• 2º fase: Ciclo de melhoria – Atuação;
• 3º fase: Desenvolvimento em longo prazo.
O ciclo de melhoria dos processos de atuação, propriamente dito, pode ser feito em
6 passos:

I. Identificar os problemas prioritários – demanda de trabalho


Levantamento: afastamentos (em ambulatório, menos que 15 dias, auxílio doença),
processos judiciais, questionários de dor, relatos de insatisfações, gravidade do problema,
número de pessoas que serão beneficiadas.

II. Fazer análise ergonômica


• Análise organizacional;
• Análise do posto de trabalho;
• Análise da postura do trabalhador;
• Análise do ambiente físico;
• Classificação de nível de ação.

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Classificação quanto ao Nível de Ação Ergonômica

Ações em curtíssimo prazo Altissimo risco ergonômico


Ações em curto prazo Alto risco ergonômico
Ações em médio prazo Médio risco ergonômico
Ações em longo prazo Baixo risco ergonômico

Figura 1

III. Estudar as Soluções


Discussão do grupo: solução mais eficiente. Procurar obter, em média, 3 soluções
criativas. Consultar fornecedores e solicitar a opinião de supervisores. Deve ser conside-
rado: custos, materiais, tempo e treinamento.

A partir da avaliação de prioridade do grupo deve-se estabelecer o Plano de Ação:

Deve prever custos necessários para as melhorias (contratação de pessoal, treinamento


de pessoal, medidas escritas e planejadas e cronograma de ação com datas e responsáveis).

IV. Implementar Soluções:


Postos de testes – linha piloto: cronometrar ciclo, colher opinião dos trabalhadores,
adaptações necessárias e registro de implementação.

V. Documentar as soluções:
Riscos, recomendações, planos de ação, evolução das medidas adotadas e validação
dos funcionários sobre a solução adotada.

VI. Acompanhar resultados:


Após semanas ou meses, verificar se o funcionário está trabalhando adequadamente,
em boas condições ergonômicas. Observar a ocorrência de lesões. Promover o acom-
panhamento da gravidade das lesões e dos resultados dos programas.
A fase de desenvolvimento em longo prazo pode constar de 7 fases:

I. Resolução das dificuldades do comitê:


• Ergonomia em terceiros: Contatar comitê do terceiro, o terceiro (prestador de
serviços) pode ter participação no comitê e atuar normalmente como prestador de
serviços (terceiro);
• Planejamento de tempo: Descentralização de responsabilidades, dia da ergonomia
e qualidade da atividade;
• Os problemas grandes: Devem ser fragmentados em problemas pequenos.

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II. Aperfeiçoamento da Documentação Evidenciada:
Deve ser criado um arquivo comparativo em vídeo. Os formulários devem ser arqui-
vados. Deve, também, ser documentado o problema identificado e a solução aplicada.
Deve haver uma organização de pastas por setor.

III. Treinamentos Especializados:


Com o passar do tempo, devem ser oferecidos treinamentos mais avançados, por
exemplo: ergonomia em projetos e ergonomia cognitiva.

IV. Detecção de situações causadoras de


desconforto, dificuldade e fadiga:
Após a redução de afastamentos e redução de “situações problema”, o comitê deve
continuar o acompanhamento e detecção de fatores causais de desconforto, dificuldade
e fadiga por meio de apoio médico, questionários e entrevistas informais.

V. Auditoria Periódica:
Aspectos levantados: registro de entrada de processos, análise ergonômica, perio-
dicidade de reuniões do comitê, presença dos membros às reuniões, oficialização das
mudanças dos membros do comitê, análise dos problemas em categorias, verificação e
acompanhamento.

VI. Revisão e melhoria constante do processo:


As revisões devem ser semestrais e, em cada rodada, devem revisar a situação de
projetos ergonômicos e das estatísticas de afastamento, fazer a priorização dos aspectos
a serem melhorados, desenvolver objetivos para melhorias e desenvolver planos para
implantação de melhorias.

VII. Comunicação de sucessos:


• Deve ser feita a comunicação de atividades e resultados. As áreas devem ser infor-
madas sobre os resultados;
• Periodicamente deve haver prestação de contas, à alta administração, com relação
a alterações em produtividade, redução de afastamentos, redução de processos
judiciais e redução de custos;
• O funcionamento do comitê de ergonomia muito se assemelha a um sistema de
gestão, conforme já citado anteriormente;
O OHSAS – Occupational health and safety assessment series – é uma norma bri-
tânica reconhecida internacionalmente.
A OHSAS 18.001 é uma norma de requisitos (chamada Especificação) que é utilizada
para auditar e certificar os Sistemas de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho.
A OHSAS pode ser implantada independente de a empresa ter ou não outro sistema.
Entretanto, se ela tiver um sistema de gestão ISO 9001 e/ou 14001, a experiência tem
mostrado que a implantação da OHSAS é consideravelmente mais fácil.

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

A integração dos sistemas de gestão – qualidade, ambiental, segurança e saúde ocu-


pacional são denominados Sistema de Gestão Integrado (SIG) para resultados eficazes,
que pode ser utilizado no planejamento o Ciclo de Melhoria Contínua utilizando o sis-
tema PDCA que é um método iterativo de gestão de quatro passos, utilizado para o
controle e melhoria contínua de processos e produtos.

Em Síntese
Para uma boa atuação da equipe do Sistema de Gestão Integrado, deve-se sempre buscar
a antecipação do previsível e enfrentar o imprevisto, para isso as equipes precisam estar
formadas para atuar com a resiliência que é um sistema que busca “a capacidade de ante-
cipar, de detectar precocemente e de responder adequadamente a variações do funciona-
mento do sistema no que diz respeito às condições de referência, visando minimizar seus
efeitos sobre a estabilidade dinâmica” (DANIELLOU et al., 2010). Os trabalhos relacionados
à segurança sistêmica mostram que essa resistência depende de dois componentes:

A segurança normatizada: evitar todos os defeitos ou panes previsíveis por formalismos,


regras, automatismos, medidas e equipamentos de proteção, formações com relação aos
“comportamentos seguros” e por um gerenciamento que assegure o respeito às regras
(DANIELLOU et al., 2010).
A segurança em ação: capacidade de antecipar, de perceber os disfuncionamentos não
previstos pela organização e de responder a eles. Ela se baseia nos conhecimentos e
na experiência humana, na qualidade das iniciativas, no funcionamento dos coletivos
e das organizações e num gerenciamento atento à realidade das situações, que favo-
recem a articulação entre diferentes tipos de conhecimentos úteis para a segurança
(DANIELLOU et al., 2010).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Como produzir indicadores de segurança confiáveis?
https://https://youtu.be/mwiA1QY9SNI
Como medir a Segurança no Trabalho?
https://youtu.be/0kTxU03q4x0
“Safety Differently”, o Filme. Apresentado por Sidney Dekker
https://youtu.be/iy1g1hqwBhU

Leitura
Fatores Humanos e Organizacionais da Segurança Industrial
https://bityl.co/7s8z
O Essencial da Cultura de Segurança
https://bityl.co/7s8w

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UNIDADE Por uma Cultura de Segurança nas Organizações

Referências
DANIELLOU, F.; SIMARD, M.; BOISSIÈRES, I. Fatores Humanos e Organizacionais
da Segurança Industrial: um estado da arte. Traduzido do original Facteurs Humains
et Organisationnels de la Sécurité Industrielle por ROCHA, R.; LIMA, F.; DUARTE, F.
Número 2013-07. Cadernos da Segurança Industrial, ICSI, Toulouse, França, 2010.

FLEMING, M. Safety culture maturity model. Health and Safety Executive.


Norwich: British Library Document Supply Center Colegate, 2001.

GONÇALVES FILHO, A. P.; ANDRADE, J. C. S.; MARINHO, M. M. de O. Cultura e


gestão da segurança no trabalho: uma proposta de modelo. Gestão & Produção, v. 18,
n. 1, p. 205-220, 2011.

HUDSON, P. Aviation safety culture. Safeskies, p. 1-23, 2001.

REASON, J. Managing the risks of organizational accidents. Inglaterra: Ashgate


Publishing Limited, 1997. 252 p.

ROCHA, R. S.; VILELA, R. A. G. Por uma Cultura de Segurança nas organizações.


Org. Daniel Braatz, Raoni Rocha e Sandra Gemma. In: Engenharia do Trabalho –
Saúde, Segurança, Ergonomia e Projeto. Campinas: Libris, 2021. Prelo. Disponível em:
<http://engenhariadotrabalho.com.br/sobreolivro/>. Acesso dia 20/06/2021.

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