Você está na página 1de 3

A ARMA MAIS FORTE DE PUTIN

Geraldo Bonadio

Da antiga União Soviética, da qual foi centro político e


estratégico, a Rússia herdou um poderio militar
desmesurado, com enorme capacidade destrutiva, e um
notável desenvolvimento tecnológico, mas o que tira o sono
da Europa Ocidental e da OTAN expandida é o controle
estatal sobre a prospecção e exportação de gás natural. Se
Moscou fechar os gasodutos que a conectam à Europa
Ocidental, pode levar à morte, por desaquecimento,
milhões de europeus no próximo inverno. Ainda que
existam, como efetivamente existem, outros centros
supridores daquela commodity, será impossível, aos
governos detentores de tais jazidas e à União Europeia,
somadas as dificuldades políticas, logísticas e financeiras a
resolver, criar alternativa ao suprimento propiciado pela
Rússia.
Essa realidade, que a grande mídia oculta ao tratar do
confronto que gera as manchetes dos veículos de
comunicação dos últimos dias, fornece dados essenciais
para entendermos a crise energética, hoje uma das
ameaças mais diretas à sobrevivência das populações
pobres do Brasil e desmascara a inconsistência dos que,
supostos porta-vozes do “mercado”, tentam convencer os
brasileiros de que não temos necessidade de uma estatal
do petróleo com a amplitude alcançada em dado momento
pela Petrobras, que ia do poço ao posto.
O caos do nosso sistema energético, cujas
consequências diretas atingem do gás de cozinha, cujos
botijões passaram a ser vendidos em parcelas nos cartões
de crédito de quem os possui, aos combustíveis
automotivos, é uma realidade perversa deliberadamente
construída e não capricho do destino ou castigo dos deuses.
Seus autores foram dois governos apartados do interesse
nacional: o de Fernando Henrique Cardoso – com o
impatriótico projeto de converter a Petrobras em Petrobrax
– e, em especial, o de Michel Temer com seu sinistro
programa de destruição da soberania nacional cinicamente
rotulado de Ponte para o Futuro.
E a corrupção na Petrobras durante os governos do
PT? Não teve nada a ver com o desastre que aí está? Teve,
sim, principalmente por haver levado a desatinos, como a
Operação Lava Jato na qual, a pretexto de se restaurar a
moralidade, destruíram-se CNPJs essenciais à economia
brasileira ao mesmo tempo em que se construíam, através
do mau uso das delações premiadas, rotas de fuga e
garantias de impunidade para os CPFs dos que com ela se
locupletaram. Essa, entretanto, é outra história da qual
aqui não trato para manter o foco da narrativa. O certo é
que, se não eliminarmos os fatores que criaram a crise
energética, nunca iremos recolocar o preço dos derivados
de petróleo, no mercado interno, em patamares
compatíveis com a renda dos brasileiros.
Tudo o que se fala e propõe, na grande mídia
corporativa - subsídios, mudanças tributárias e por aí a fora
- é mera tentativa de má fé, ecoada por incautos, de
desviar o foco da questão, a saber: sem uma forte estatal
da energia nenhum Estado contemporâneo preserva sua
soberania. Tanto isso é verdade que empresas dessa
natureza, muito maiores do que a estatal brasileira foi em
seus melhores momentos, existem em países tão diferentes
em sua forma de governo, níveis de democracia e respeito
aos direitos humanos, etnias e religiões dos povos que os
habitam, como a Arábia Saudita, a Rússia, a Noruega, a
China, o Irã e o Japão. Ou seja, quanto menor e mais
impotente for a Petrobras, menor será a soberania do Brasil
e maior os padrões de miséria de nossa gente

Geraldo Bonadio – Jornalista, advogado e escritor, natural


de Sorocaba – SP.
18 de fevereiro de 2022.

Você também pode gostar