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ELSON MATOS DA COSTA

VIREI DELEGADO
DE POLÍCIA.
E AGORA?
2017
ELSON MATOS DA COSTA
Delegado Geral de Polícia. Doze anos de
experiência na área de operações especiais
e combate ao sequestro no Estado de Minas
Gerais, atuando como Delegado e Chefe
da DAs – Divisão Antissequestro e Chefe
do DEOEsp – Departamento Estadual de
Operações Especiais, de 1991 a 2003.
Ocupou o cargo de Superintendente Geral de
Polícia Civil em 2003. Promovido a última
classe, Delegado Geral por ATO DE BRAVURA
após ter se envolvido em violento confronto
armado com sequestradores na cidade de
Taubaté-SP em 1997.

Trabalha como Coordenador/Professor


da ACADEPOL/MG – Academia de Polícia
Civil de Minas Gerais – em Gerenciamento
de Crises, Busca e Apreensão na prática,
Uso Diferenciado da Força, Planejamento
Operacional e de Técnicas de Ação Policial
desde 1993.

CONTATO:
elson.mcosta@hotmail.com
(31) 99972 0285 (WhatsApp)
SUMÁRIO
1. Introdução........................................................................ 05
2. Preparação para aprender sobre a sua cidade
de lotação......................................................................... 07
3. Expectativas no trabalho................................................. 15
4. Apresentando-se à Delegacia de Polícia........................ 18
4.1. Não seja o dono da verdade............................ 21
4.2. Diminua o nível de ansiedade......................... 21
4.3. Preserve o seu antecessor............................... 23
4.4. Compreendendo os seus problemas.............. 23
4.5. Seja um receptor............................................... 25
4.6. Perguntas a serem feitas................................. 26

Virei Delegado de Polícia. E agora? 3


4.7. Numa situação difícil: aprenda........................ 28
4.8. Caixa de Pandora.............................................. 29
4.9. Conversas para melhorar o diálogo................ 30
5. Estabeleça mudanças e crie condições........................ 33
6. Ninguém faz nada sozinho............................................. 35
6.1. A equipe é um reflexo de você......................... 36
7. Conclusão......................................................................... 38
8. Delegado de Polícia: primeira vez na chefia.................. 39
9. Virei Chefe: e agora?........................................................ 44
10. Dicas para ser um bom chefe...................................... 49
11. Ser Policial..................................................................... 55
12. Atendimento ao público da Polícia Civil....................... 62
13. Como encantar o público da Polícia Civil..................... 67
14. Atribuições do Delegado de Polícia.............................. 71
15. Arma no alcance das mãos........................................... 87
16. Perigo da arma de fogo em casa.................................. 93
17. Porte de arma para policial feminina............................ 97
18. Uso do distintivo policial..............................................102
19. Cinto de segurança na viatura policial.......................106
20. Características entre policiais.....................................112
21. Bibliografia....................................................................116

4 Virei Delegado de Polícia. E agora?


1. INTRODUÇÃO
Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia,
Coordenador do TAP – Técnicas de Ação Policial – da
ACADEPOL/MG responsável pelo texto que foi baseado
no livro: VIREI CHEFE. E AGORA? James Citrin e
Thomas Neff, Editora Negócio (www.campus.com.br)

Entrei para a Polícia Civil de Minas Gerais em 1976 como


Escrivão de Polícia e sendo designado para atuar em Guaxupé
onde fiquei até 1984, quando já formado em Direito trabalhei
como Delegado Especial na cidade de Muzambinho. Esta
figura de Delegado Especial fora criada para complementar as
vagas que existiam na carreira e eram destinadas aos policiais
civis possuidores do curso de Direito. Logo após, em 1985
passei no concurso e nomeado em 1986, tendo trabalhado
em Alterosa, Ouro Preto, Perdões e Lavras.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 5


Nesta última me inscrevi num Curso de Operações Especiais
na ACADEPOL onde passei por durante 08 meses e ao término
designado para a Divisão de Tóxicos e Entorpecentes que
funcionava no antigo DI – Departamento de Investigações –
hoje DHPP – Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa.

Em 1991 fui transferido para a Divisão de Operações


Especiais do DEOEsp – Departamento Estadual de Operações
Especiais – onde trabalhei principalmente na DAS – Divisão
Antissequestro, ficando até 2003 quando já era o Chefe deste
departamento policial de grande importância para a história
de nossa Polícia Civil.

Neste ano de 2003 fui convidado a ocupar o cargo


de Superintendente Geral de Polícia Civil, hoje SIPJ –
Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária – onde
então, por motivos pessoais pedi a minha aposentadoria.

A finalidade de contar sobre a minha trajetória é apenas


para explanar o que o assunto nos traz a mente. As diversas
unidades policiais pelas quais passei, juntamente com o texto
do livro do qual foi baseado, confundindo assim, literatura e
experiência, acredito devam servir como um norte àqueles
que se iniciam na carreira policial como Delegado de Polícia,
ou mesmo os mais antigos que já trabalham e futuramente
irão ocupar cargos de relevância na administração de nossa
instituição. É claro que cada caso terá a sua particularidade,
mas pelo menos temos alguma coisa para iniciarmos os
nossos trabalhos num local novo e que as vezes nos causa
temor, pelo menos inicialmente.

Gostaria desta forma, de contribuir para que esta


passagem fosse a menos traumática possível.

6 Virei Delegado de Polícia. E agora?


2. PREPARAÇÃO PARA
APRENDER SOBRE A
SUA CIDADE DE LOTAÇÃO
O Delegado de Polícia antes de assumir a unidade policial
para a qual foi designado deverá procurar saber algumas
coisas sobre ela. Hoje temos uma facilidade que é o serviço
de buscas na Internet onde várias informações estarão ali
disponibilizadas. Além disto, saber quais os colegas que por
lá passaram, telefonar coletando dados como o número de
policiais da cidade bem como seus nomes e cargos, nomes
das autoridades locais e o relacionamento destes com a Polícia
Civil, viaturas, equipamentos, população, maiores problemas
enfrentados com relação a criminalidade.

Converse com o colega que irá substituir e ele poderá repassar

Virei Delegado de Polícia. E agora? 7


informações que desejar e até mesmo o local de hospedagem
que será a sua moradia inicialmente. Ou seja, procure o
máximo de informações e tudo o que puder saber sobre a
cidade e o trabalho desenvolvido pela Polícia Civil.

É normal que o Delegado de Polícia esteja ansioso com a nova


função e até mesmo temeroso antes de assumir a unidade
policial, o que é muito comum. Este conhecimento adquirido
antes lhe dará uma maior consciência do que irá encontrar e
assim diminuir o grau de ansiedade.

Inicialmente, caso seja casado, a família não deverá lhe


acompanhar neste momento inicial e somente após alguns
dias, se for o caso, com um maior conhecimento da cidade e se
quiser ficar neste local é que a família então faria a mudança.
Toda movimentação e o início de um novo trabalho traz uma
apreensão normal, você não é diferente de ninguém, lembre-
se que isto é muito natural.

Esta preparação servirá para que este início de trabalho


seja o menos traumático possível. É comum esta ansiedade
e verá depois de alguns poucos dias que a preocupação era
exagerada, não é um “bicho de sete cabeças” ser Delegado de
Polícia e respondendo por uma unidade policial. Além do mais
você teve uma preparação bem intensa dentro da ACADEPOL
exatamente te preparando para este dia.

Podemos dizer que o início do seu trabalho como Delegado de


Polícia começa muito tempo antes, quando você entra para a
Faculdade de Direito, estuda para o concurso, passa em todas
as fases, faz o curso e é nomeado, empossado e designado.
Dentro em breve, assumirá uma posição de liderança, e

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encontrará pessoas que sabem muito mais do que você
do trabalho que está prestes a ser iniciado, sem nenhuma
experiência em ter chefiado quem quer que seja. Pode ser que
já seja da instituição e está tendo uma promoção ou então
vindo de fora. Qualquer um dos dois terá que se preparar
para a nova função. Pode acontecer também do Delegado já
veterano que consegue uma transferência ou uma promoção
e brevemente irá assumir um cargo em local diverso e/ou de
maior responsabilidade. A preocupação será a mesma.

No livro VIREI CHEFE. E AGORA?, diz Dave Peterschmidt, CEO da


Security (empresa de segurança na Internet) e antigo CEO da
Inktomi e diretor de operações da Skybase (ambas pioneiras
na Internet), “não se deve esperar entrar para uma nova posi-
ção de liderança com um plano estratégico estabelecido. Em
vez disso, é preciso entrar preparado para liderar um processo
estratégico”. Isto quer dizer que o novo Delegado de Polícia,
deverá primeiro verificar quais os problemas e soluções que
irá enfrentar, quem é o público alvo da sua atividade, alianças
que fará para levar adiante a sua meta de trabalho, construir
novos relacionamentos importantes para sua atividade. Deve
também conversar com as pessoas que tem experiência e
conhecimento da área em que atuará e assim ser satisfeita
as exigências do novo cargo. Esta preparação é importante
tendo em vista que o estado emocional estará alterado pelas
expectativas criadas.

Ninguém entra em uma competição sem antes ter se preparado


durante muitos anos, como é o seu caso. Ao sair da ACADEPOL,
pelo menos teoricamente estará apto a exercer suas funções
e esta preparação prévia possibilita atingir as metas que você
se propõe. No dia em que assumir a Delegacia de Polícia, não

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será o seu primeiro dia de trabalho, mas a continuação de
uma preparação elaborada por você durante alguns anos.

Quando se assume uma nova posição é preciso estabelecer


prioridades e colocar todas as suas energias para obter um
retorno o mais rápido possível. Para isso precisará saber onde
deve focar suas atitudes e um planejamento efetivo deverá
ser elaborado para atingir os seus objetivos.

Eis alguns itens em que o Delegado de Polícia deverá


estabelecer como metas:

• Procurar dentro da comunidade, autoridades, empresários,


comerciantes, bancários, políticos, policiais civis e militares
etc e assim levantar informações sobre os problemas daquela
comunidade que afetam mais diretamente a população local
no que concerne a segurança pública.
• Com as informações coletadas poderá definir os desafios
que terá de enfrentar com relação a sua atividade.
• É importante que as pessoas, com as quais mantiver
contato, se convençam da sua credibilidade e confiança em
fazer um trabalho sério a frente da unidade policial que chefia.
• Em conversa com os colegas de sua unidade policial e
que serão as pessoas em ajudá-lo a cumprir as suas difíceis
tarefas, fazer uma avaliação de cada um deles.
• Estar preparado para reveses no rumo que tomar de
acordo com o seu planejamento, e se for o caso, desviar
momentaneamente dos seus passos iniciais preparando-se
emocionalmente para a tarefa que será bastante difícil.

Durante o tempo em que estiver fazendo o curso de formação

10 Virei Delegado de Polícia. E agora?


na ACADEPOL, aproveite para se aproximar daqueles
professores que mais encontrar afinidades, já que depois
ele poderá ser o seu consultor nos momentos de indecisões
em sua atividade diária. Aproveite para discutir aspectos
relacionados a direção de uma Delegacia de Polícia, como
conviver harmoniosamente com os policiais, como dispensar
um policial que traz problemas para a boa convivência com a
sociedade local e mesmo internamente, relacionamento com
o Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Militar, Prefeito,
Vereadores etc.

Com este tipo de preparação será possível estabelecer alguns


critérios para elaboração de um processo estratégico, não em
grande profundidade, mas dar os primeiros passos em resolver
problemas pontuais que afetam sobremaneira a sociedade
local. Uma forma de se preparar é dividir em grupos para atacar
cada um dos problemas:

01 – Policiais que irão trabalhar com você;


02 – Funcionários emprestados à Delegacia de Polícia;
03 – Pessoas que procuram à Delegacia de Polícia e
necessitam dos serviços;
04 – Pessoas representativas da sociedade local;
05 – Problemas relacionados à segurança pública que tiram
o sono de toda a população.

Podemos resumir alguns aspectos que devem ser considerados


neste momento, para que o Delegado de Polícia tenha noção
do que poderá e deverá fazer em prol da segurança pública
daquela cidade e de um bom começo de trabalho:

• Visite todas as pessoas na cidade que podem te dar um

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feedback de como a Polícia Civil local é vista e assim aprender
com quem já teve algum tipo de experiência ao procurar estes
serviços.
• Observe o atendimento de seus policiais para quem chega à
Delegacia de Polícia a procura de informações, serviços etc e
veja como é o tratamento dispensado a todos eles bem como
o atendimento aos telefones.
• Se na cidade tiver policiais que se aposentaram, procure
por eles e mantenha um contato mais estreito, já que poderão
lhe repassar informações preciosas sobre diversos aspectos,
relacionadas a pessoas do local bem como é visto a Polícia
Civil pela sociedade. Além do mais poderá te alertar sobre
fatos que podem vir a prejudicar o seu trabalho.
• De acordo com as amizades feitas durante o tempo de curso
na ACADEPOL, procure por pessoas que tem uma experiência
maior sobre os diversos aspectos de direção de uma Delegacia
de Polícia e troque ideias com ela. Será uma importante fonte
de informações, já que ela passou por tudo isto que você está
iniciando e seus conselhos podem lhe ser úteis.
• Faça um blog ou grupo no FB, WhatsApp ou qualquer outro
meio com os formandos de sua turma de Delegado de Polícia,
onde poderão trocar informações sobre como cada um está
enfrentando os diversos problemas. Várias pessoas pensando
juntas conseguem resolver melhor do que você sozinho.
• Atualmente as diversas redes sociais aproximam as
pessoas, independentes do lugar onde estejam lotadas, e
assim se comunicarem com facilidade ou mesmo usando o
telefone que em muito poderão contribuir com suas dúvidas.
• Todas estas conversas devem ser objetos de anotações,
para que depois, quando estiver sozinho, escrever sobre o
assunto de acordo com sua capacidade de entendimento de

12 Virei Delegado de Polícia. E agora?


cada um dos problemas enfrentados e de como resolvê-los.
• Faça um planejamento para os primeiros três meses de
sua atuação a frente da unidade policial, como as metas
pretendidas, como irá realizar, onde buscar recursos, de que
forma ocorrerá.
• Dedique-se de forma completa a sua atividade e a
possibilidade de ter êxito será muito grande, desde que trate
sempre lealmente com todos que o cercam.

Ao assumir a Delegacia de Polícia é importante que eleja


alguém que poderá ser o seu confidente, trocar idéias, lhe
dar conselhos e que tenha a coragem de apontar as suas
deficiências sempre voltadas para o seu crescimento. Esta
pessoa poderá ser a sua arma secreta para que tenha sucesso.
A sua família poderá ser o seu confidente, um colega da
ACADEPOL, um Professor. Não se esqueça de que também os
policiais que trabalham com você devem ser ouvidos sempre
que estiver planejando qualquer atividade. Não se importe
em ser questionado, e se for o caso, mudar de opinião caso
verifique que os argumentos da outra pessoa, mesmo que
seja seu subordinado, esteja mais em consonância com o que
se pretendia inicialmente.

Ao iniciar o seu trabalho, longe muitas vezes de sua família


e colegas de infância é preciso que haja uma preparação
individual. É uma mudança que irá afetar todo mundo,
principalmente se tiver filhos. Deve haver uma conversa
franca com todos para que compreendam a confusão que
irá se instalar em suas vidas durante um período, que com
certeza deverá ser passageiro. A ligação afetiva que existe
entre pessoas da família não pode ser “deletada” de repente
como se isto não fosse importante. Muito pelo contrário, é um

Virei Delegado de Polícia. E agora? 13


motivo de estabilização, ou não, este afastamento que deve
ser feito da forma menos traumática possível, lembrando-se
que poderá ser momentâneo.

Considere pelo menos nos primeiros dias, semanas, em deixar


a família onde se encontra morando e somente depois de
algum tempo estudarem a possibilidade ou não da mudança
para o novo local do trabalho. Para quem tem filhos o ano
letivo é que deve ser considerado antes de discutirem uma
mudança. Hoje com a possibilidade de enviarmos mensagens,
ou mesmo utilizarmos a internet para comunicação via
câmera, é possível que a família sofra menos com a ausência.
No entanto, para a grande maioria a falta da família traz um
grande vazio emocional. Aproveite durante este tempo que a
família ainda não se mudou, para manter contatos, formando
novos relacionamentos e quando a família estiver presente
facilitar a adaptação ao local de moradia.

14 Virei Delegado de Polícia. E agora?


3. EXPECTATIVAS NO TRABALHO
DEVEM ESTAR DENTRO DE
UM PARÂMETRO REALISTA

Ao se apresentar a Delegacia de Polícia, todos já deverão ter


conhecimento qual é a visão desta Autoridade Policial com
relação ao que ela pensa fazer frente a esta nova lotação?
Entendemos que necessariamente não. Cada cidade tem
suas peculiaridades e seus problemas característicos, e
primeiro é preciso conhecer a cultura local e os problemas
que os cercam, para ter uma noção do que realmente deseja
fazer com relação a melhorar a segurança pública da cidade.

Lembre-se de que ao assumir o cargo de Delegado de Polícia,


você está também assumindo a responsabilidade de tomar
decisões que serão exclusivamente suas. Isto pesa demais nos

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ombros de quem dirige uma unidade policial, já que ele pode
estar substituindo alguém que é muito bem considerado pelos
bons serviços prestados, e esta qualidade terá de continuar,
agora com um Delegado novato, mas com muita vontade de
trabalhar.

Ter sido um policial antes de ser Delegado de Polícia lhe dará


apenas a tranquilidade de que conhece o sistema, mas em
hipótese nenhuma de que tenha agora de tomar decisões
solitárias. A melhor forma de trabalhar é ser um chefe
democrático, em determinadas situações, onde os colegas
de profissão serão chamados para opinarem e ajudarem na
tomada de decisão, sendo que a responsabilidade é somente
do Delegado se ela for correta ou não.

É bom lembrar que situações que exijam decisões rápidas


devem ser tomadas unicamente pela Autoridade Policial,
onde não existe a possibilidade de discutir a situação com
maior aprofundamento. Por exemplo, no cumprimento de
um mandado de busca e apreensão, no instante da ação a
Autoridade Policial verificando que uma situação pode fugir
do controle ele toma a decisão de algemar, dar a busca em
uma criança, em uma mulher grávida, deter pessoas que
inicialmente nada teriam a ver com a operação etc etc.

Caso o Delegado seja alguém que foi promovido da própria


Polícia Civil será mais tranquilo o seu caminhar na instituição?
Existem vantagens e desvantagens. As vantagens é que
o policial já conhece praticamente todos os problemas na
instituição, como resolvê-los e também a quem recorrer caso
tenha algum tipo de dificuldades.

No entanto, com relação as desvantagens é que se está

16 Virei Delegado de Polícia. E agora?


acostumado a fazer as mesmas coisas do mesmo jeito e
terá dificuldades de agir de forma diferente neste momento.
Quem vem de fora já terá uma visão totalmente diferente dos
mesmos problemas e agirá possivelmente de outra forma,
desde que faça antes uma consulta, converse com as pessoas
que trabalham consigo. Quem vem de dentro da Polícia Civil a
tendência é que não haja muitas mudanças. Outra dificuldade
é quando há a necessidade de transferir um mau policial, ou
mesmo instaurar uma sindicância contra ele, este Delegado
de Polícia ficará em dificuldades para executar esta tarefa,
devido a proximidade que sempre existiu entre eles, o que
acontecerá com menor frequência com aquele que veio de
fora. É o que se chama de “espírito de corpo”, existente em
qualquer profissão que impede ou dificulta em punir pessoas
que trabalham ao seu lado. O que na verdade importa, é que os
seus auxiliares o conheçam mais de perto e verifiquem a sua
vontade de fazer as coisas da melhor forma possível e investir
em uma boa relação com todos eles. Seja intransigente com a
corrupção, senão isto poderá manchar indelevelmente a sua
vida profissional.

Para concluir esta primeira fase de preparação cada um fará


de acordo com o seu entendimento, mas estas, de forma geral
seriam as atitudes a serem tomadas inicialmente.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 17


01/01/2023

4. APRESENTANDO-SE À
DELEGACIA DE POLÍCIA
A chegada ao seu novo local de trabalho irá com certeza gerar
enormes expectativas entre aqueles a quem irá chefiar/liderar.
As expectativas suas devem ser as mais adequadas possíveis,
já que você ainda não conhece os problemas que irá enfrentar
apesar de todas as informações que possa ter recebido. O
que conhece lhe foi dito por outras pessoas e ainda terá que
confirmar ou não sobre tudo que ouviu, então, nunca poderá
tomar decisões antecipadas, antes de realmente conhecer “in
loco” tudo que terá de fazer para dar um bom andamento na
direção da unidade policial.

Além do mais, sua chegada à Delegacia de Polícia causa


um grande transtorno emocional entre os funcionários, já

18 Virei Delegado de Polícia. E agora?


que eles não sabem como é a pessoa que estará chegando.
Quais as suas aspirações, como ela gosta que o trabalho seja
executado, se tem algumas prioridades, vai mudar alguma
coisa, transferir outros, mexer naquilo que já está funcionando,
é honesto, é corrupto dentre outras inúmeras preocupações
que são normais acompanharem uma nova chefia.

As suas expectativas também serão enormes onde estará se


perguntando que equipe encontrará, quais as dificuldades do
local, conseguirá atender a expectativa da equipe, dará conta
do recado, será um bom Delegado de Polícia, conseguirá
chefiar pessoas que tem o dobro de sua idade e experiência
etc. O interessante é que as expectativas dos dois lados se
casem, para que possam ter uma convivência pacífica e muito
profissional e com isto reinar a harmonia no local de trabalho.

Por isto a importância da preparação inicial antes de assumir


o cargo e conhecer cada um dos profissionais da sua equipe,
e com quem poderá contar nos momentos mais difíceis de
tomadas de decisões extremas.

De acordo com o plano que havia proposto antes de chegar


à cidade, agora poderá ver se realmente esta é a melhor
solução, ou se haverá necessidade de uma mudança de rumo
conforme for entendendo a cultura local. O mais provável é
que algumas mudanças serão incrementadas de acordo com
o que conversar com a sua equipe.

Na sua apresentação ao grupo de policiais ou mesmo


autoridades, serão utilizadas as mesmas perguntas que
fazemos quando de uma investigação e assim o Delegado de
Polícia deverá dizer aos seus ouvintes:

Virei Delegado de Polícia. E agora? 19


01 – Quem sou?
02 – De onde venho?
03 – Por que estou aqui?
04 – O que planejo realizar?
05 – Como espero fazê-lo?

E claro que para cada um dos públicos que irá se apresentar o


discurso terá diferenciação, mas sempre voltados para o que
deseja realizar com relação a segurança pública na cidade.
Como na maioria das vezes o Delegado de Polícia terá pouca
experiência na área, ele precisará contar com a colaboração
de todos que podem lhe ajudar na cidade, e ter a humildade
em dizer que irá aprender na prática e chamando a equipe
para que o auxilie.

Irá programar reuniões com seus auxiliares, nos inícios das


semanas para fazerem um planejamento para aqueles sete
dias próximos, exigir pontualidade de todos no serviço para
que o atendimento às pessoas não seja prejudicado, esforço
no cumprimento da missão de cada um dos policiais e outros
que entenderem necessários no momento. Colocando-se
como um intermediário para procurar diversas soluções para
os muitos problemas que aparecerem, a confiança entre todos
irá crescendo e se afirmando.

Durante a sua apresentação você estará colocando a sua


credibilidade em jogo durante o tempo que permanecer a
frente deste local de trabalho. Desta forma utilize as seguintes
diretrizes para fortalecer a sua imagem perante todos.

20 Virei Delegado de Polícia. E agora?


4.1 - NÃO SEJA DONO DA VERDADE
Por ser Delegado de Polícia, não quer dizer que sabe todas as
respostas, e por isto seja honesto com todos que encontrar
e peça ajuda neste trabalho que está se iniciando. Desta
forma as pessoas te verão como alguém honesto e que não se
furtará a tomar decisões, sejam elas quais forem e que assim
quer realmente aprender. Chamando as pessoas para o seu
lado e encontrar a maioria das respostas para os problemas
de segurança que a cidade apresenta, fortalecerá ainda mais
a sua posição e a visão de todos sobre o que realmente deseja
construir. Uma sociedade mais justa. Assim ao assumir um
cargo disse o empresário Paul Pressler, pág. 59, Virei chefe,
e agora?: “Tenho milhões de idéias, muitas das quais são
realmente estúpidas. Mas tudo bem – vocês me dirão”.

4.2 - DIMINUA O NÍVEL DE ANSIEDADE


Toda vez que assumimos uma Delegacia de Polícia, os dias que
antecedem a posse são angustiantes para os funcionários,
pois não tem ideia do que os espera. Se for possível, eles irão
fazer uma pesquisa ou perguntar de onde você está vindo e
assim ter uma idéia da autoridade que está para chegar. Se
já for policial, ficará mais fácil contactar os colegas e ter um
perfil daquilo que espera do futuro Delegado e muitas vezes o
perfil traçado não é o mais adequado. Por isso a importância
de uma reunião tão logo assuma o cargo com os funcionários
da Delegacia de Polícia e uma conversa franca sobre o que
todos esperam e assim diminuir expectativas e ansiedades.
Ninguém gosta de muitas mudanças, principalmente se elas
forem radicais e se for preciso efetivá-las vá com calma pelo

Virei Delegado de Polícia. E agora? 21


menos nos primeiros dias até que tome conta da situação.

Uma forma de saber das expectativas dos novos funcionários


com relação a sua pessoa é distribuir entre eles, após a
primeira reunião, o questionário abaixo que deverá ser
respondido por todos individualmente, entregue ao Escrivão
de Polícia que compilará todas as respostas no computador,
sem identificação de nenhum dos colegas. Não havendo
a necessidade que se saiba quem respondeu, o Delegado
poderá ter uma visão mais completa do que esperam de sua
nova administração.

Serão estes questionamentos a serem entregues a cada um


dos policiais:

• O que espero deste novo Delegado de Polícia?


• O que precisamos saber a respeito deste novo Delegado de
Polícia?
• Com o que devemos nos preocupar com este novo Delegado
de Polícia?
• O que o novo Delegado de Polícia gostaria de saber sobre a
minha pessoa?
• O que fazemos bem?
• O que precisamos melhorar?
• Quais as nossas dificuldades neste trabalho?
• Do que necessitamos?
• Quais são os problemas que temos de resolver de imediato
em nossa Delegacia de Polícia?
• Qual obstáculo enfrentará o novo Delegado de Polícia?

22 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Além destas, de acordo com cada situação, o Delegado
de Polícia poderá acrescentar quantas perguntas forem
necessárias, e assim ter uma radiografia mais completa dos
problemas enfrentados pela unidade e que não são ditas por
temor dos policiais. Lembre-se de que as respostas devem ficar
no anonimato para que não haja nenhum constrangimento.

4.3 - PRESERVE SEU ANTECESSOR


Procure demonstrar respeito e consideração pelo colega
que passou pela Delegacia antes de você, e em hipótese
nenhuma, faça qualquer crítica a seus procedimentos
anteriores. Caso ele ainda esteja na cidade no dia de sua
apresentação, convide-o para a primeira reunião com os
policiais e teça elogios a sua atuação frente aquela unidade.
Tratar de forma deselegante o seu antecessor é primeiro, uma
falta de educação, e depois pode ser que dentre os policiais
onde você está assumindo existam amigos dele, e caso faça
alguma crítica ao seu comportamento, já estará criando uma
barreira de aproximação com estes.

4.4 - COMPREENDENDO OS
SEUS PROBLEMAS
O Delegado de Polícia, ao chegar ao novo local de trabalho,
começará a se inteirar dos problemas que irá enfrentar para
implantar a sua filosofia e de como resolverá as dificuldades
que encontrará. Conhecerá a sua equipe, e irá verificar as
pessoas com quem irá contar e com quem trocará ideias a
respeito do que deverá ser feito, para que a Polícia Civil seja

Virei Delegado de Polícia. E agora? 23


vista como essencial na vida da cidade. Conversando com sua
equipe de trabalho, poderá ter uma visão mais apropriada
daquilo que deverá fazer, bem como trazendo estes para perto
de suas soluções e com isto engajando todos no trabalho que
deverá ser feito. É preciso que haja um alinhamento entre o
que você, Delegado de Polícia quer e o que a equipe entende o
que deve ser feito, assim ficará mais fácil que todos trabalhem
em uma mesma direção.

Não pense que por ser o Chefe da unidade policial a sua


determinação será cumprida integralmente. Você precisa
angariar a confiança dos seus colegas para que façam aquilo
que deve ser feito. Ninguém consegue trabalhar sozinho
se a equipe estiver remando contra. Você dará uma ordem
para intimar uma pessoa no endereço tal. O policial chegará
ao local, não encontra a pessoa a ser intimada, volta faz a
comunicação e pronto. Cumpriu o que você determinou.

Caso ele estiver trabalhando de comum acordo com seus


pensamentos ele faria muito mais. Iria procurar com os vizinhos
maiores informações a respeito do intimado e descobriria que
ele se mudou para outro endereço. Iria até este novo local
até que finalmente o localizasse. Isto é apenas um pequeno
exemplo do que acontece quando a chefia acha que manda e
pronto. Não é assim que funciona o trabalho de equipe, todos
devem estar conscientes do que deve ser feito e acreditar no
que será feito.

Acompanhe inicialmente os seus policiais até o local de uma


ocorrência, verifique as dificuldades que eles encontram,
converse, troque ideias, ajude a encontrar uma solução para as
dificuldades, mostre-se interessado no crescimento de todos
e assim conseguirá o respeito e a credibilidade com todos que

24 Virei Delegado de Polícia. E agora?


neste momento passarão a trabalhar em prol daquilo que o
líder acredita. Mesmo depois, cumprindo o que determina o
art. 6º do CPP, sempre que possível, (esforce-se para isso)
esteja presente no local de crime.

4.5 - SEJA UM RECEPTOR


Quando o Delegado de Polícia inicia as suas atividades pela
primeira vez em uma Delegacia, podemos dizer que ele ainda
está fazendo um estágio e não tem conhecimento de todas
as suas atividades, e assim não pode dar as respostas para
todos os problemas que lhe são apresentados. A Autoridade
Policial deverá estar aberta a perguntar muito, aprendendo
com todos. Quando chegamos a um cargo máximo dentro da
Polícia Civil, que é o de Delegado de Polícia é porque houve
uma grande determinação em estar sempre aprendendo.

Assumindo uma Delegacia de Polícia, a primeira coisa que se


deve fazer é não modificar nada até que tenha uma visão geral
de tudo, do trabalho em si, dos policiais que trabalham naquele
local, das pessoas da cidade, dos crimes que acontecem.
Poderá formar uma opinião mais abalizada depois de algum
tempo e neste momento tomar as decisões que achar melhor
para a direção de sua Delegacia. Se mudar tão logo chegue, a
probabilidade de errar será muito maior, então não faça nada
nos primeiros momentos. Tenha ciência primeiro de como as
coisas estão ocorrendo e somente depois redirecione, se for o
caso, a forma de atuação na Delegacia de Polícia.

Lembre-se de antes de tomar qualquer decisão, ouça as


pessoas que estão próximas e que serão afetadas por aquilo

Virei Delegado de Polícia. E agora? 25


que você resolver a fazer. Se desde o início começar a impor
o seu ponto de vista não poderá contar com a parte mais
importante de seu trabalho: o comprometimento de toda a
equipe e sem ela o seu trabalho irá por terra. Você estará junto
a inúmeras pessoas, mas ao mesmo tempo sozinha em seus
propósitos. Isto acontecendo você caminhará em uma direção
e a sua equipe para outro lado, dificultando ao máximo o seu
trabalho.

É claro que o Delegado de Polícia ao chegar a seu novo local


de trabalho irá querer “mostrar serviço” devido a ansiedade
normal e natural em qualquer início de trabalho, mas o
desejável é que vá com calma, e ouça muito todos que podem
lhe ajudar a formar um consenso sobre o que deve ou não ser
modificado. Não se torne um Delegado de Polícia arrogante,
como se tivesse respostas para todas as perguntas, assim
ao invés de responder, pergunte. Você está começando a
conhecer pessoas que nunca tinha visto anteriormente e com
personalidades distintas, caminhe com passos lentos até que
se sinta mais seguro e contando com o apoio de todos será
mais fácil a sua chance de sucesso.

4.6 - PERGUNTAS A SEREM FEITAS


As perguntas a serem feitas dependem muito da maneira
como você irá encontrar a Delegacia de Polícia. Ela está
atravessando um período de turbulência? Ela está tranquila
e com uma administração sem nenhum tipo de problema? De
qualquer forma, o novo dirigente terá de colher informações
que lhes serão essenciais para dar continuidade ou modificar
completamente o rumo do que vinha ocorrendo anteriormente.

26 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Assim terá de perguntar muito e ouvir ainda mais.

Desta forma fará reuniões coletivas e individuais ouvindo


de todos sobre o que acontece naquela unidade policial e
assim uma sugestão de perguntas poderia ser estas abaixo e
também aquelas que o Delegado de Polícia achar necessárias
para o momento.

• Quais são as cinco coisas mais importantes a respeito desta


unidade policial que devemos preservar e por quê?
• Quais são as três coisas mais importantes que precisamos
mudar e por quê?
• O que você mais espera que eu faça?
• O que mais o preocupa a respeito do que eu possa fazer?
• Que conselhos você tem para mim?
• Existe mais alguma coisa que você gostaria de discutir
comigo ou perguntar?

Enviar estas perguntas a todos os funcionários da Delegacia de


Polícia antes da reunião, para que assim eles se preparassem
e já viessem munidos de diversas informações que lhes serão
úteis para o direcionamento daquilo que pretende fazer e as
atitudes a tomar. Na reunião ficará quase que apenas ouvindo,
o que irá lhe acrescentar em muito nos conhecimentos acerca
daquele local onde está tomando posse naquele momento e do
qual não conhece absolutamente nada. Esta reunião não deve
se restringir apenas nesta, mas sim se tornar uma constante,
onde posteriormente você fará apenas duas perguntas: Como
vão as coisas? Você tem algum conselho para mim? Ficará
então informado do que está acontecendo e de como vai
sendo levada a sua administração.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 27


4.7 - NUMA SITUAÇÃO
DIFÍCIL: APRENDA
É comum ocorrer alguns momentos de crise em uma Delegacia
de Polícia e o dirigente ficar sem saber o que decidir naquele
momento, já que você não encontra todas as respostas nos
livros em que estudou. Verifique o que deve ser resolvido de
imediato e urgente, daquilo que pode ser adiado e junte aliados
para resolver tudo da melhor maneira possível. Comprometa
o envolvimento da equipe para encontrar a melhor resposta
para aquele problema tendo todos, uma visão geral do que
deve e como ser resolvido.

Quando temos qualquer tipo de problema, que sai da rotina


e que pode nos causar grandes transtornos no futuro, caso
não seja resolvido de uma forma satisfatória, precisamos
de outras cabeças pensantes para que assim cheguemos a
uma solução que traga as menores repercussões negativas
possíveis. Ao chamar os demais funcionários, estes devem
entender o problema e concordar em ajudar, sentindo-se
assim responsáveis pelas decisões a serem efetuadas.

Não adianta nada ficar desesperado e tomando decisões


antagônicas a cada minuto já que só irá piorar a situação.
Neste momento é necessário dar uma parada e ouvir pessoas,
antes que alguma providência seja tomada. Você pode até ter
uma ideia de como resolver este tipo de problema, mas ao
ouvir outras opiniões, pode clarear os seus pensamentos e
acrescentar com novas contribuições dadas pelos colegas.

28 Virei Delegado de Polícia. E agora?


4.8 - CAIXA DE PANDORA
Quando pedimos as pessoas que nos relatem as suas
preocupações, reclamações, sugestões é como se
estivéssemos abrindo uma Caixa de Pandora. Todos terão
os seus problemas. Isto é importante já que situações que
estavam ou ficariam encobertas trazendo enormes prejuízos
a administração de uma unidade policial acabem surgindo e
assim propiciando soluções.

Estas “sessões” são também importantes para o policial,


já que ele gostaria de dar a sua sugestão e como nunca foi
procurado para isto, fica para ele e que poderia ser uma
contribuição brilhante para ajudar a correções de rumo. No
entanto, existem aqueles que falam pouco, e uma sugestão é
começar perguntando sobre assuntos pessoais, e desta forma
fica mais fácil ele se abrir e discutindo um assunto próximo
a ele, em pouco tempo, afloram também os problemas
decorrentes da profissão.

Importante nestes momentos é de ouvir o que incomoda o


funcionário, mas também do dirigente tranquilizar o policial a
respeito de sua situação dentro da equipe, para que ela possa
recuperar o equilíbrio e dando-lhe um feedback acerca da sua
contribuição para o engrandecimento da instituição.

Como líder de uma organização policial, o Delegado de


Polícia deverá estar sempre servindo de embaixador, relações
públicas junto a nomes da sociedade local e ouvindo acerca do
que a Polícia Civil está fazendo na cidade e assim receber de
bom grado as críticas que forem feitas para ajudar a melhorar
cada vez mais.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 29


4.9 - CONVERSAS PARA
07/01/2023
MELHORAR O DIÁLOGO
Quando começar a conversar com seus policiais, muitos
questionamentos começarão a ser levantados e alguns
aspectos devem ser focados para haver um melhor en-
tendimento do que deve funcionar melhor. Veja as áreas
estratégicas de uma Delegacia de Polícia que poderão ser
focadas:

O PÚBLICO
• Qual o público que a Polícia Civil mais atende?
• Quais são os problemas que enfrentamos para solucionar
os questionamentos deste público que nos procura?
• O que você, policial, tem de fazer para obter sucesso no
atendimento ao público que o procura?
• Existe alguma inovação de nossos colegas de outras
unidades que trabalham nesta mesma área?
• Por que outras unidades policiais conseguem melhores
resultados do que nós?
• Estamos realmente no caminho certo para a solução dos
problemas que somos demandados ou precisamos fazer
mais? O que, por exemplo?
• As metas que estamos atingindo estão dentro do aceitável,
abaixo ou acima? Se abaixo, como melhorar?

30 Virei Delegado de Polícia. E agora?


NOSSA INVESTIGAÇÃO
• Como iremos demonstrar ao nosso cliente que estamos
fazendo todo possível para desvendar o crime de que ele foi
vítima?
• Estamos realmente imbuídos do propósito de desvendar
os crimes que nos chegam às mãos? O que fazemos para
isto? Fazemos o mínimo necessário ou vamos um pouco mais
além?
• Que estratégia utilizamos para elucidar cada um dos tipos
de delito que investigamos? É preciso haver uma nova visão
ou modificação de atitude para as nossas investigações?

QUESTÃO FINANCEIRA
• A Polícia Civil nos dá condições financeiras de elucidarmos
os crimes afetos à nossa Delegacia de Polícia?
• Quais os problemas nesta área que estamos enfrentando?
O que se pode fazer para melhorar?
• É possível procurar parcerias e assim diminuir as dificuldades
encontradas?

POLICIAIS DISPONÍVEIS
• A Delegacia de Polícia tem o efetivo necessário para bem
desempenhar suas funções de investigação?
• A Delegacia de Polícia tem o efetivo necessário para bem
desempenhar o atendimento do público internamente?
• Quem são os policiais que fazem a diferença na Delegacia

Virei Delegado de Polícia. E agora? 31


de Polícia? Se todos tem a mesma condição de trabalho
porque todos não têm o mesmo desempenho?

TRABALHO EM CONJUNTO
• As equipes têm desempenhado bem os seus papeis
e trabalhado realmente em conjunto? Existe algum
desentendimento entre os policiais? É possível ser resolvido
através do diálogo ou uma movimentação entre equipes ou
mesmo de cidade?
• Como são tomadas as decisões e implantadas dentro das
equipes por aqueles que as chefiam?
• Está havendo algum tipo de problema que deva ser falado
para que se possa haver uma correção de rumo?

32 Virei Delegado de Polícia. E agora?


5. ESTABELEÇA MUDANÇAS
E CRIE CONDIÇÕES
Para que se possa ter sucesso nas mudanças é necessário
estabelecer algumas condições para se superar a inércia
organizacional e esta é a função do líder, do Delegado de
Polícia sendo preciso escolher o meio certo onde ocorrerá a
transformação.

Para isto atentar às condições abaixo:

• O que realmente precisa ser mudado? Diagnóstico correto


do desafio da mudança.
• Reunir os chefes das equipes e discutir a melhor forma de
implantar mudanças.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 33


• Dar oportunidades a todos para que ajudem nesta mudança
e revisando os planos iniciais e dando um novo rumo quando
necessário.
• Planejar as mudanças para terem início de imediato e que
todos tenham consciência da necessidade destas mudanças
e que tenham resultados.
• Ter como foco, quatro prioridades simples, que deverão ter a
mudança e lutar para que estas sejam atendidas, assim ficará
mais fácil ir aprofundando em questões mais complexas.
• Discutir com todos os funcionários sobre a necessidade das
mudanças e que eles também “comprem” a ideia para que
possam lutar por ela.
• Havendo resistência atacar de forma implacável este
bolsão para que as mudanças sejam atingidas e o objetivo
seja alcançado.

34 Virei Delegado de Polícia. E agora?


6. NINGUÉM FAZ
NADA SOZINHO
Devemos sempre nos lembrar de que as pessoas são os ativos
mais importantes de uma Delegacia de Polícia. Nada, nada é
mais importante do que elas. São através delas que a Polícia
Civil se torna uma instituição respeitada ou desmoralizada,
dependendo do que é feito pelos nossos policiais em suas
diversas atividades. Não pense que por ser a autoridade
máxima dentro de uma unidade policial você pode desprezar
os demais funcionários. Pelo contrário, eles são importantes
e sem eles o Delegado nunca conseguirá fazer sucesso em
sua carreira profissional. Mas ter uma equipe apenas não
é o suficiente para se alcançar o sucesso, esta tem de ser
boa. Quando o Delegado de Polícia se destaca dentro da sua
instituição é porque conseguiu formar uma equipe de sucesso

Virei Delegado de Polícia. E agora? 35


que conjugando as suas experiências e talentos, concentraram
as suas forças para um determinado fim.

Conseguindo criar uma equipe forte e coesa, o líder estará


dando um grande passo para conseguir sucesso na sua
atividade, já que estas equipes irão projetar todo o en-
tusiasmo, visão, valores, objetivos e exigências do Delegado
de Polícia. Por isto a importância de conhecer a sua equipe e
que ela possa acompanhá-la em seus projetos de vida.

6.1 - A EQUIPE É UM REFLEXO DE VOCÊ


Quando montamos uma equipe, esta será um reflexo daquilo
que somos tanto na parte positiva quanto na negativa.
Devemos conhecer os nossos pontos fortes e pontos fracos
e assim quando formos efetuar a montagem, estas equipes
devem suplementar suas forças e fraquezas. Eu como chefe
não preciso de alguém que seja como eu, mas sim alguém
que saiba ainda mais e que possa auxiliar na alavancagem de
nossa missão.

Desta forma, o Delegado de Polícia por mais experiente que


seja ou cargo que ocupe, iniciando na atividade ou já experiente
e ocupando cargos importantes, ele tem de entender que não
conhece todos os meandros daquela posição que ora passa a
ocupar. Irá precisar de outras pessoas para que possa fazer
um excelente trabalho e ser reconhecido pelos seus pares.

O que acontece na maioria das vezes é que quando o


Delegado é designado para determinado local, ele já encontra
uma equipe montada onde poder haver reação contra a sua
presença, seus interesses, desconfiança e a lealdade será

36 Virei Delegado de Polícia. E agora?


questionável. Enfrentar estes problemas não é fácil, mas
devemos encarar isto de frente e tentar passar por cima de
todos estes questionamentos de uma forma que não traga
mais problemas e sim soluções.

É para isto que a conversa com todos é essencial, para que


desconfianças de ambas as partes sejam desfeitas e procurar
também entender cada um dos integrantes de sua nova
equipe. Avaliar a competência e a credibilidade de cada um
deles e o que eles provocam com suas experiências no grupo.
Assim você deve se perguntar sobre cada um dos membros:

• Ele exerce uma influência positiva sobre as pessoas com


quem trabalha?
• Sua preocupação com interesses próprios é compensada
pela preocupação com o bem coletivo da organização?
• Ele incentiva seus pares e subordinados, ou os explora?
• Os atos dele estão de acordo com os padrões e valores que
você defende, ou ele diz uma coisa e faz outra?
• Ele é um bom modelo para a espécie de liderança de que a
organização necessita?

Virei Delegado de Polícia. E agora? 37


7. CONCLUSÃO
Estas são em linhas gerais o que um Delegado de Polícia novato
deverá verificar para que possa se posicionar de forma mais
efetiva no seu local de trabalho. No entanto, aqueles já mais
experientes e que também irão assumir cargos de relevância
na instituição deverão se orientar por estas observações o que
facilitará o caminho de todos. Trabalhar com uma equipe já
formada necessita de um bom “jogo de cintura” até que todos
se conheçam e a confiança se estabeleça fazendo com que o
trabalho flua de uma maneira mais tranquila e sem sobressaltos
para ninguém. Isto é o que todos aqueles ao assumirem um
cargo de proeminência desejam, e tenho certeza de que estas
breves adaptações do livro “VIREI CHEFE? E AGORA”, possam
ajudar a todos, onde pude adicionar um pouco da experiência
na minha passagem pela Polícia Civil.

38 Virei Delegado de Polícia. E agora?


8. DELEGADO DE POLÍCIA:
PRIMEIRA VEZ NA CHEFIA
11/01/2023
Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia,
Coordenador/Professor do TAP – Técnicas de Ação
Policial da ACADEPOL/MG, baseado no texto
de Lauro Jardim da Revista EXAME –
www.exame.abril.com.br em 15/10/2011

Depois de muitos anos de estudos, você finalmente conseguiu


atingir a sua meta sonhada há muito tempo e passou no
concurso para Delegado de Polícia. Após o curso preparatório
irá iniciar na sua nova atividade, mas uma preocupação está
te acompanhando já alguns dias. Nunca na vida chefiou quem
quer que seja, e dentro de pouco tempo terá uma equipe à sua
disposição onde será o líder, espera-se, aquele que irá orientá-

Virei Delegado de Polícia. E agora? 39


los e ainda motivá-los para o trabalho. Acostumado a receber
ordens finalmente terá o poder de ditar ordens. Eu disse ditar?
Lembra a palavra ditadura? Cuidado naquilo que você vai se
tornar em breve. Poderá ser um sucesso na nova empreitada
ou um completo fracasso. Chefiar, ou melhor, liderar é mais do
que puxar as orelhas dos funcionários, terá que desagradar
em algum momento, podendo até mesmo transferir aquele
policial que não se enquadra na sua maneira de trabalhar.

Cuidado para não se tornar um chefe arrogante e prepotente, ou


ao contrário, em inseguro e tenso. Nestes primeiros momentos
como chefe, o Delegado de Polícia, na ânsia de acertar pode
cometer um erro primário de querer fazer tudo sozinho para
que não haja erros no trabalho. Verá que isto é impossível e
o ideal é conversar com a equipe, delegar funções, monitorar,
corrigir possíveis erros. Lembre-se que o policial subordinado
hierarquicamente a você deve temer errar por omissão, nunca
por ação.

CENTRALIZAÇÃO
Caso o Delegado de Polícia centralize todos os serviços em
cima dele, dificilmente terá condições de se preocupar com
situações mais importantes que ocorrem na Delegacia de
Polícia, e terá uma grande carga de preocupações menores
que deveriam estar com os seus auxiliares. Chame a equipe
para si, converse muito, conquiste a confiança e delegue
tarefas. Foque no relacionamento com seus auxiliares, para
que aquele estranhamento inicial entre chefe e subordinados,
seja uma passagem bem rápida e que eles possam confiar
em você. Não se esqueça de que num grupo, cada um tem a
sua personalidade, e pessoas diferentes devem ser tratadas

40 Virei Delegado de Polícia. E agora?


diferentes. Esta insegurança inicial no trabalho faz parte de
todos nós seres humanos, que a princípio não acreditamos
em nossa competência para o cargo que ora começamos
a exercer. Não se esqueça de que passou em um concurso
extremamente difícil e foi aprovado, portanto inteiramente
preparado para exercer a sua função. Falta-lhe experiência
prática que irá adquirir no período que exercer a sua atividade.

Procure se inteirar de cada uma das seções de sua unidade


policial e assim ter uma visão mais completa da realidade em
que irá trabalhar. Acompanhe-os em algumas das atividades,
atenda o pessoal no balcão do trânsito, aproxime-se dos
investigadores quando de uma investigação, veja como é
o trabalho no dia a dia do Escrivão e assim poderá tomar
algumas providências para ajudá-los, sempre trocando ideias
quanto a atividade de cada um deles.

APRENDA COM TODOS

Ao assumir o cargo de Delegado de Polícia, muitos acham que


tem o poder nas mãos e que por isso podem ser extremamente
arrogantes e mal-educados, podendo “mandar” nas pessoas.
Aquele que lidera não manda, lidera desafios. Mandar nas
pessoas não faz parte do papel do Delegado de Polícia, o que
faz é o de manter permanente negociação que é uma habilidade
essencial. Quando você manda, o subordinado obedece e
cumprirá estritamente aquilo que lhe foi determinado. Quando
você lidera, ele fará aquilo que deve ser feito para solucionar o
problema. Portanto, podemos verificar uma enorme diferença
entre uma atitude e outra. Quando estamos começando numa
nova carreira é normal que tenhamos insegurança, ansiedade

Virei Delegado de Polícia. E agora? 41


e arrogância tudo por causa do desconhecimento daquilo que
iremos enfrentar e muitas vezes pela pouca experiência e
maturidade.

Assim, quando iniciar nas suas novas atividade, tente ser


menos centralizador e delegue tarefas, pois também só assim
poderá saber em quem confiar as situações mais espinhosas
ou não.

IMPONDO ESTILO DE TRABALHO

Antes de começar a implantar seu estilo de trabalho, converse


muito com seus funcionários, aprenda sobre a cultura do
local, quem são as pessoas com quem irá interagir. Primeiro
tome assento na cadeira de sua sala, e somente depois de
algum tempo, aos poucos, ao perceber que alguma coisa
não está correndo como gostaria é que mudanças devem
ser implantadas. De preferência aos poucos, e mesmo assim
depois de muita conversa e troca de ideias com os seus
auxiliares. Casa haja a necessidade de dizer “não” ao seu
auxiliar, faça-o de forma que ele não se sinta agredido, não
usando de agressividade, mas lhe explicando os motivos
pelos quais não concorda com aquele posicionamento, ideia
ou ação. De preferência, seja o exemplo dentro da Delegacia
de Polícia. Se o funcionário veio lhe pedir para faltar um dia
da semana sem motivos aparentes, ao lhe dizer não, explique
os motivos pelos quais não poderia deixar que ele fizesse isto
e também seja o exemplo, faça com que ele te veja todos os
dias no horário certo trabalhando.

Quando assumir uma Delegacia de Polícia, pode ser que na

42 Virei Delegado de Polícia. E agora?


ânsia de mostrar trabalho o Delegado de Polícia vá trabalhar às
06h00 da manhã e saindo às 20h00. É uma carga de trabalho
sobre humana e pode prejudicar inclusive o relacionamento
com a família. Além do mais não pode ele exigir que seus
auxiliares façam a mesma coisa. Enquanto estiver no trabalho
faça todo o possível para cumprir religiosamente com suas
obrigações, dê um tempo para a família, lazer, amigos,
condicionamento físico, estudo etc. Caso haja necessidade
extrema de estender o trabalho, já que a vida policial não
é uma rotina, combine com a família, converse a respeito e
reponha estas horas em outro momento, desde que isto não
se torne uma constância.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 43


9. VIREI CHEFE,
E AGORA?
Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia, Coordenador/
Professor do TAP – Técnicas de Ação Policial da ACADEPOL/
MG, baseado no texto de Ana Guimarães, especialista em
recrutamento para o mercado financeiro e extraído
do site: www.empregoecarreira.com em 15/10/2011

Para quem está assumindo pela primeira vez o cargo de


Delegado de Polícia vão algumas informações:
TENHA ATITUDES
Lembre-se que na nova atividade os conflitos são inerentes
à carreira, assim esteja preparado para lidar com eles.
Implantar na Delegacia de Polícia que estiver assumindo
novas ideias. Delegue tarefas para que assim possa estar

44 Virei Delegado de Polícia. E agora?


pensando em estratégias que irão melhorar o desempenho de
seus subordinados e desta forma mostrando trabalho haverá
uma possibilidade de ser notado e conseguir uma promoção
em sua carreira.

Ao assumir o cargo de Delegado de Polícia você está apenas


começando em uma nova carreira e continue com a mesma
determinação pensando, desde os primeiros dias de serviço
em como almejar postos mais altos dentro da instituição,
por exemplo, em ser o Chefe de Polícia, no mínimo em sua
atividade profissional.

Em hipótese nenhuma trate o seu subordinado,


(hierarquicamente) como se fosse um empregado onde
você pode fazer o que bem quiser com ele. Ele é um policial
como você e desta forma não está ali para satisfazer suas
necessidades pessoais como para comprar o seu cigarro no bar
da esquina, fazer depósitos ou retirada de dinheiro em banco,
buscar ou levar a sua esposa ou filho na escola, supermercado,
cabeleireiro etc. Isto destrói a imagem do Delegado com
relação ao respeito que ele deveria nutrir ao seu auxiliar que
poderá cumprir a ordem dada com medo de ser transferido.
No entanto caso ele descumpra estas “ordens” o Delegado de
Polícia ficará em uma situação completamente desconfortável
com relação a ele e os outros que fatalmente saberão do
ocorrido. Não haverá possibilidade de punição por não estar
elencado na Lei Orgânica este tipo de procedimento. Nestes
casos é melhor o Delegado de Polícia pedir para ser transferido
e não cometer o mesmo erro em outra localidade, apesar de
que esta mancha irá lhe acompanhar por toda a sua carreira,
por onde quer que vá. NUNCA se esqueça que o policial é seu
subordinado, hierarquicamente, não é seu empregado.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 45


AJUDE A SUA EQUIPE
Tendo conhecimento do que cada um de seus auxiliares faz
na Delegacia de Polícia, tente lhes dar um suporte para que
possam cumprir seus deveres da melhor forma possível,
discutindo os problemas que porventura aparecerem,
tentando sanar dificuldades, ensinando-lhes quando
necessário. Quando você assume como Delegado de Polícia
a sua postura será diferente de quando trabalhava em outra
área, isto não quer dizer que deverá haver um distanciamento
já que a proximidade é importante para o bom desempenho
de todas as atividades que são exercidas dentro de uma
Delegacia de Polícia. Aquele que se coloca na posição de chefe,
distante, fechado em seu gabinete acaba perdendo o contato
pessoal cara a cara com seus auxiliares distanciando-se dos
problemas, das dificuldades e perdendo assim o respeito que
deveria granjear de todos que o auxiliam. Você ficará isolado
e consequentemente não conseguirá liderar uma equipe para
que façam o trabalho de forma motivada. Aproxime-se de sua
equipe e só terá a ganhar inclusive o respeito.
DELEGADO NOVATO
Quem consegue galgar ao cargo de Delegado de Polícia é
porque têm um conhecimento um pouco acima da média
das demais pessoas dada as dificuldades que é o ingresso
na carreira. Somente aqueles melhores preparados é que
conseguem chegar ao final da seleção. Assim, ao assumir uma
unidade policial lembre-se que os policiais com os quais irá
trabalhar não têm os mesmos aprendizados do que os seus e
muito menos a sua formação acadêmica podendo ter alguns
que se aproximam, mas que ainda lhes faltam algum estudo
para chegar aonde você chegou. Desta forma encontrará
uma diversidade muito grande de conhecimentos e também

46 Virei Delegado de Polícia. E agora?


dificuldades para apreender alguns dos conceitos emitidos
por você. Não caia na tentação de fazer as tarefas de seus
auxiliares já que eles não conseguem acompanhar o seu ritmo
e com a qualidade que gostaria. A sua função é administrar
pessoas, não trabalhar por elas. A forma então será a de dialo-
gar, conversar, ensinar, treinar, fazer algumas tarefas juntos
e mostrar como gostaria e como devem ser feitos alguns
procedimentos legais. Somente assim conseguirá ganhar a
confiança dos seus auxiliares os quais terão um prazer maior
em fazer suas tarefas.
COBRAR E SER MODELO
Todos nós quando iniciamos em uma profissão ou em um
cargo novo sempre procuramos alguém em que possamos nos
espelhar e estes devem ser modelos na condução de pessoas.
Como esta pessoa trata aqueles que formam as suas equipes?
Ele cobra muito e faz diferente ou cobra e realmente pratica o
que cobra? Quando assumimos um cargo de destaque ficamos
expostos em todas as nossas atitudes. Você vai perceber,
principalmente se for uma cidade menor, que ao andar pela
cidade depois de pouco tempo de ali chegar que praticamente
todos saberão que se trata do novo Delegado de Polícia da cidade
mesmo sem ter sido mostrado na mídia ou feito um discurso
para toda a cidade. Toda e qualquer atitude tomada por você
ou mesmo sua família será notada e motivo de comentários.
Você foi mal-educado com a caixa do supermercado isto será
motivo de temas de discussões entre os habitantes e formará
uma imagem, às vezes, deturpada de sua personalidade e que
será difícil posteriormente desfazê-la. Assim quando cobrar
pontualidade, chegue ainda um pouco mais cedo do que todos
o que obrigarão aqueles que não tem muito cuidado com isto
que sejam pontuais em seus compromissos. No entanto, se
a sua equipe trabalhou em uma investigação durante a noite

Virei Delegado de Polícia. E agora? 47


não é justo que os obrigue a chegar no mesmo horário do que
os outros. Seja além de um modelo, justo.
APROVEITE O PROFISSIONAL QUE TEM
Cada um de nós possui uma habilidade maior para algumas
coisas. Por isto temos jogadores de futebol, músicos, cantores,
advogados, promotores etc. Cada um se encontra naquilo que
mais gosta de fazer. Em uma Delegacia de Polícia é a mesma
coisa. Por exemplo: se temos ali dez Investigadores de Polícia
veremos que nem todos têm a aptidão para sair a rua e
prender alguém. Alguns irão preferir ficar na Inteligência e dar
o suporte para que a equipe de rua faça o seu serviço. Tente
descobrir as habilidades de cada e dentro do possível coloque-
os em um local em que irão render muito mais. Aquele policial
acostumado a “quebrar portas”, “dar cana”, algemar pode ser
que não seja o mais indicado a atender na recepção aqueles
que procuram os serviços da instituição. Evitará inúmeros
problemas para todos, inclusive você responsável maior pela
Delegacia de Polícia.

Finalmente podemos fazer uma observação que erros


serão cometidos pelos seus comandados bem como por
você também, mas nada que uma boa conversa não possa
resolver. No entanto não permita que seus auxiliares cometam
ilegalidades e caso venha a ocorrer deve ser bastante duro
com quem se desviar de suas obrigações e pagar pelo que fez.
Para isto o exemplo deve vir de cima e o Delegado de Polícia
além de pregar esta honestidade e correção na execução
de suas atividades também deve ser um exemplo. A equipe
será aquilo que o seu líder é. Um modelo de correção. Em
todas as oportunidades possíveis estas questões deverão ser
colocadas. Lembre-se que todos têm “masp” (matrícula do
servidor público) e assim responsáveis por suas atitudes.

48 Virei Delegado de Polícia. E agora?


10. DICAS PARA SER UM
BOM CHEFE
Finalmente você conseguiu atingir o seu objetivo de entrar
para a Polícia Civil como Delegado. Era um sonho acalentado
desde criança e que agora se torna realidade. Na formatura
é uma alegria só, compartilhada com toda a família. O curso
na ACADEPOL foi intenso e cheio de cobranças com horários
rígidos, formatura, fila para se dirigir as salas de aula,
levantar quando o professor chegar, ou seja, normas que
deviam ser seguidas e fazem parte do aprendizado sobre
disciplina e hierarquia e que você deverá cobrar quando
iniciar as suas atividades na nova carreira. Isto tudo ficou
para trás, o estresse, a ansiedade, os compromissos etc., o
maior problema realmente começa agora. Dentro de alguns
dias você irá assumir a direção de uma Delegacia de Polícia

Virei Delegado de Polícia. E agora? 49


onde terá de administrar diversas personalidades diferentes
e pessoas com uma maior experiência do que você. Como
possivelmente será a primeira vez em que irá ter alguém sob
a sua subordinação, como deve proceder o novo Delegado de
Polícia na chefia desta equipe?

I – TRABALHE EM EQUIPE 22/01/2023

Sendo do Delegado de Polícia a responsabilidade por tudo de


bom e de ruim que acontecer, será debitado em sua conta
o que seus colegas policiais realizarem. O que acontece é
que ninguém consegue trabalhar sozinho e quando uma
investigação chegar ao final com sucesso todos os que se
fizeram presentes nela deverão receber os elogios e se o
Delegado de Polícia quiser somente para si os louros da
vitória criará enormes dificuldades para conseguir levar a
equipe a uma real liderança. Cairá em descrédito com seus
subordinados.

II – INCENTIVE A SEUS AUXILIARES TOMAREM DECISÕES

Quando você determina que uma equipe vá à rua realizar


determinadas investigações eles deverão ser incentivados a
tomar decisões já que ali fatos acontecem sem que possamos
interferir na decisão daquele momento. O Delegado pede
a equipe que prenda determinada pessoa e que a traga à
Delegacia tendo vista um mandado expedido pela Autoridade
Judiciária. Ao chegar ao local a equipe irá verificar que a
pessoa está em casa só que cercado por pessoas da família e
vários colegas o que naquele momento não seria interessante
a prisão devido aos problemas adjacentes que poderiam
ocorrer. Com certeza a família composta por cinco irmãos

50 Virei Delegado de Polícia. E agora?


criadores de caso mais os colegas de criminalidade poderia
investir contra a equipe de apenas três policiais e assim evitar
a possibilidade de levar o preso à Delegacia. O Chefe da Equipe
tomará naquele momento a decisão de não efetuar a prisão
e deixar para depois conforme planejamento a ser efetuado
e não se ter mais problemas que uma prisão normalmente
já pode ocasionar. Ao se reunir com sua equipe os policiais
poderão ter uma visão e abordagem daquela questão de uma
forma diferente da sua. Escute, discuta e se ao final realmente
aquela visão for boa aceite e assim dar força para que a equipe
dê sugestões e não aceite passivamente as ordens recebidas
que às vezes não são as melhores em determinas ocasiões.
Nem sempre o Delegado poderá estar por perto para tomar
todas as decisões e assim incentivando-os a se decidirem irá
fortalecer a confiança que eles depositam em seu Chefe.

III – APROXIME-SE DOS SEUS POLICIAIS

A proximidade com seus policiais apenas irão facilitar o seu


entendimento como cada um deles pensa sobre o trabalho
que executam. Por que eles entraram para a Polícia Civil e não
outra atividade? Gostam do que fazem? Gostam do local onde
estão trabalhando? O que não gostam? Procure saber o que
cada um pensa da sua atividade, seus desejos, insatisfações,
dificuldades, e assim dentro do possível lhes dê as melhores
condições para que possam executar suas atividades sempre
pensando na administração de sua Delegacia e instituição e
alinhando as expectativas com o funcionário, desde que seja
possível. LEMBRE-SE: seja sempre justo, se, por exemplo,
liberar um funcionário para não comparecer de manhã no
trabalho faça o mesmo com o outro que faça o mesmo pedido
desde que realmente exista esta necessidade.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 51


IV – VALORIZAÇÃO DOS POLICIAIS

Valorize os policiais que estão no comando, seja o Chefe


de Cartório ou o Inspetor. Sem querer afastar os demais
policiais do seu convívio diário, o que é bastante benéfico,
os problemas que ocorrem dentro da instituição devem ser
tratados por aquelas pessoas inicialmente. Acostume-se a
transmitir determinações através deles que assim se sentirão
confiantes e motivados para o trabalho e farão com que os
demais trabalhem também de forma cooperativa.

V – ATRITOS ENTRE POLICIAIS

É comum haver atritos entre os próprios policiais e de início os


chefes é que devem solucionar e o Delegado deverá intervir
somente quando estes questionamentos não puderam ser
resolvidos. Ouça as duas partes antes de tomar uma decisão
e se for o caso outras pessoas para estar seguro do que
deverá fazer. É comum equipes concorrerem sobre aquelas
que mais trabalhem, quem mais prende, quem mais investiga
e isto pode acabar terminando em pequenas discussões. Uma
boa conversa coloca as coisas no seu devido lugar, mas esta
competição caso não extrapole é até saudável. O importante
é que eles devem entender que não existe a necessidade
de que os policiais sejam amigos (o ideal é que sim), mas
extremamente profissionais nas suas atividades.

VI – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Uma das funções do Delegado de Polícia é a mediação de


conflitos e quando procurado e ouvindo o problema procurar
resolver o mais rápido possível para que não cresça a

52 Virei Delegado de Polícia. E agora?


insatisfação e torne-se um problema insolúvel. Nunca em
hipótese nenhuma chame a atenção das pessoas na frente de
outras e caso seja preciso procure buscar as palavras certas
para dizer que o policial não agiu como deveria e sempre de
forma amistosa e nunca com grosseria. Se estiver com raiva
do que aconteceu espere esta passar para que tenha uma
conversa a mais amistosa que puder e assim sanar aquela
ocorrência e para que ela não volte a ocorrer. No entanto seja
firme nas suas colocações e que esta situação não venha
novamente a ocorrer.

VII – ELOGIO AOS FUNCIONÁRIOS

Não se esqueça de elogiar o funcionário que fez um trabalho


bem feito para que ele saiba que você está prestando atenção
em tudo que ele faz. Todos nós precisamos do reconhecimento
das outras pessoas e um elogio de um chefe é um motivo a
mais para se esforçar em todos os trabalhos que somos
designados. Isto dá uma maior confiança ao policial para
continuar trabalhando corretamente nas suas atividades.
Os elogios devem ser feitos na frente do maior número de
pessoas possíveis aumentando a confiança dos subordinados
em seu chefe.

VIII – DEFENDA O SEU FUNCIONÁRIO

Pode acontecer de alguém vir reclamar de atitudes do policial da


sua Delegacia e conhecendo os fatos, se for o caso, defenda-o
com “unhas e dentes” não importando quem esteja fazendo
a reclamação. Não se amedronte, principalmente quando
estiver com a razão, diante de quem quer que seja e quais
forem as consequências. Assim ganhará o respeito de todos

Virei Delegado de Polícia. E agora? 53


aqueles que com você vierem a trabalhar. Seja intransigente
com a ilegalidade, mas caso o funcionário estiver certo lute
por ele em todas as instâncias possíveis, não o deixe sozinho
nestas horas em que ele mais precisa de seu apoio.

IX – FAÇA UM CURSO DE “OUVITÓRIO”

É comum vermos nos noticiários os cursos de oratória. Como


falar bem em público. Nunca temos um para ouvir bem nossos
funcionários. Isto é muito importante. Caso eles lhes tragam
alguma preocupação ouça-os com atenção, deixe-os falarem
e assim despejarem todas as suas ansiedades. Caso seja
necessário repita com suas palavras o que acabou de ouvir
para confirmar que entendeu bem. Dê conselhos, reflita e
faça-o refletir sobre o que está acontecendo em sua vida, se
possível ajude-o, faça ver a ele que suas preocupações são
importantes mesmo que não consiga resolver os problemas
apresentados, mas que realmente estas preocupações são
extremamente importantes.

X – SEJA O PAI OU A MÃE, MAS COBRE

Sendo amigo, compreensivo, aproximando-se, ouvindo,


trabalhando juntos não quer dizer que deverá ser conivente
com os erros dos policiais. Alguém cometeu algum erro,
chame-o em particular e peça para que ele explique o que
aconteceu. Depois de ouvir muito bem o que aconteceu,
tome uma decisão e se for o caso instaure um procedimento
administrativo para aplicar uma punição sempre lembrando
ao policial que atitudes que sejam tomadas contra a lei têm
a obrigação de serem punidas para que estes fatos não se
repitam nunca.

54 Virei Delegado de Polícia. E agora?


11. SER POLICIAL
Você que está hoje aqui lendo este texto e entrou para os
quadros da Polícia Civil, pode ter a certeza de que daqui
em diante sua vida sofrerá uma mudança radical. Alguma
coisa aconteceu para que você optasse por esta carreira
na instituição. Quando criança a gente sonha com diversas
profissões e a de ser policial, com certeza, é uma delas.
Assistindo a filmes que envolvem uma investigação, muitos dos
jovens acabam por escolher este seu ideal. Nestes momentos,
a pessoa fica pensando em como deve ser esta atividade.
Acontece um crime, sem testemunhas, não se tem nenhuma
informação e aos poucos o quebra-cabeça vai se formando e
finalmente se chega a autoria. Isto é fantástico para trabalhar
como profissão. Realmente é inebriante, envolvente.

Pode acontecer de alguém procurar o concurso para a Polícia

Virei Delegado de Polícia. E agora? 55


Civil no sentido de ter um emprego fixo, seguro, salário certo
sendo que este passará como mais um funcionário público
sem nenhum brilho na sua carreira e nenhuma história para
contar a seus pares ou familiares. Mesmo assim terá algumas
atribuições que desempenhará de forma bem discreta e
assim conseguirá chegar até a aposentadoria sem maiores
problemas.

O que gostaríamos de aqui falar seria sobre aqueles que


realmente se dedicam à carreira e amam aquilo que fazem.
O que realmente escolheu se tornar um policial na melhor
acepção do termo. É sobre este policial que pretendemos dar
algumas recomendações já que a sua atividade profissional
acarretará certamente muitas consequências em sua vida,
inclusive pessoal.

De início ficará muito mais preocupado com o que acontece


à sua volta e muito mais observador sobre tudo que se
movimenta e que possa lhe trazer algum perigo. Andando
pelas ruas de sua cidade ou mesmo dentro do veículo oficial
ou particular observará de um outro prisma tudo que está
acontecendo e para não ser apanhado de surpresa.

A sua arma de fogo estará sempre ao alcance de suas mãos,


e a princípio ninguém de seu convívio familiar conseguirá
entender o motivo pelo qual este seu equipamento irá te
acompanhar para onde quer que vá. A arma nunca deverá ser
usada no sentido de amedrontar alguém e sim para defender a
integridade física do policial e de terceiros, conforme preceitua
a nossa legislação. Como policial você acaba desagradando a
muitos, e a qualquer momento pode acabar acontecendo uma
retaliação e para isto o policial precisa estar preparado para
qualquer eventualidade.

56 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Toda vez que entrar em um local público, no ônibus,
restaurante, supermercado ou onde tiver pessoas, a primeira
providência a tomar será observar o ambiente e verificar se
existe um ambiente de tensão, caso ocorra, com certeza estará
naquele momento ocorrendo um assalto que o policial ainda
não conseguiu visualizar, mas que está em andamento. Fique
sempre alerta para não ser apanhado de surpresa, ou seja,
esteja sempre em condições de perceber o perigo antes do
marginal e poder agir antes do seu oponente. Esteja sempre
de frente para todos os outros que estiverem no mesmo local
e assim poder visualizar o que está acontecendo.

Ao se tornar policial terá de modificar o seu comportamento


com relação as pessoas que conhece e também locais que
frequenta. Irá se policiar já que nesta atividade qualquer
deslize pode te atrapalhar para o resto de sua vida na carreira.

Apesar de ser uma profissão estressante as atitudes de


um policial devem sempre estar pautadas na legalidade,
necessidade, oportunidade, conveniência e tentar resolver as
situações difíceis na base da negociação antes de partir, se for
o caso, para atitudes drásticas. O que a sociedade espera de
um policial é no sentido de que este passe uma tranquilidade
a todos e por isso deve se pautar pela coerência no tratamento
às pessoas, sejam quem forem.

Mantenha a sua forma física e saúde já que em determinado


momento precisará de utilizar de toda a sua destreza e força
para conter alguém mais violento, sem haver a necessidade
de utilizar a arma de fogo. Para agir desta forma, aprenda
e pratique artes marciais o que irá te facilitar no confronto
desarmado.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 57


Não deixe de treinar as técnicas aprendidas durante sua
passagem pela Academia de Polícia e mesmo que esta não
proporcione estas aprendizagens posteriormente, treine
sozinho ou procure locais onde você consiga se exercitar. Isto
fará muito bem para sua profissão pois estará em condições
de enfrentar qualquer situação difícil.

O policial terá de se adaptar ao local onde estiver trabalhando,


sendo que em alguns momentos poderá estar hospedado
em um hotel 5 estrelas e em outra oportunidade dormirá
no meio do mato e inclusive passando fome. Vai depender
muito do local onde trabalha, mas isto não é impossível de
acontecer. Prepare-se para diversificar seus conhecimentos e
improvisar dentro das técnicas que aprendeu durante os seus
ensinamentos e mesmo com sua própria experiência. Estes
desconfortos fazem parte da rotina de todos os policiais da
área operacional e principalmente quando numa situação de
confronto armado. É um momento tenso, mas quem tem a
profissão de policial no sangue, passará por esta experiência
e se tornará um policial mais “cascudo” e isto lhe servirá
de ensinamento quando estiver novamente numa situação
semelhante.

Tenha certeza de que passando incólume por todas as


dificuldades que a profissão exige, você se tornará dentro de
pouco tempo uma referência na sua profissão e servirá de
exemplo para os mais novatos que forem surgindo. Da mesma
maneira como foi ajudado no início, faça o mesmo com
seus colegas que não possuem o mesmo tempo de serviço
ou que não tenham passado por experiências iguais a sua.
Seja humilde para aprender com todos, seja o policial mais
velho ou um novato, todos têm alguma coisa para nos ensinar.

58 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Caso tenha alguém com visão deturpada de sua profissão e o
ataque aja com tranquilidade e procure mudar a sua atitude
explicando os pontos que tragam estas divergências. Em
toda profissão, digo e repito, toda profissão existem os bons
e maus profissionais. E a polícia é formada por pessoas saída
da mesma sociedade, que se tornaram profissionais, sendo
estes o que temos na nossa população, mas que apesar disto,
a grande maioria é formada de gente de bem e que estão
exercendo esta atividade com todas as dificuldades inerentes
à atividade e com absoluta honestidade.

NUNCA trate mal as pessoas, sejam elas quem forem, procure


trata-las sempre com respeito e educação e terá muito a ganhar
em sua vida pessoa e profissional. Pode ser que algumas
destas pessoas com as quais teve contato, posteriormente
poderá lhe passar alguma informação útil, apenas porque o
policial foi educado.

É louco. Civil nenhum consegue absorver. Ninguém entende


por que vamos ao barzinho e nunca ficamos de costas para rua.

Ninguém entende porque estamos no carro com a arma embaixo


da perna olhando para os retrovisores e qualquer movimento
brusco ela vem automaticamente na mão e destravada.

Se alguém nos assaltar e achar nossa arma ou nossa funcional,


já era parceiro, xeque-mate, mais um policial morto.

Ninguém entende o porquê no final do ano, feriados e dias


festivos, estão todos na praia curtindo e nós estamos
trabalhando. Acordamos cedo, saímos de casa sem a certeza
de voltar, sempre de prontidão, tipo cão de guerra.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 59


Enquanto uns vão para o bar depois da faculdade, nós só
queremos voltar para casa e ter a certeza de reencontrar
nossos filhos, mulher, pais.

Afinal, nesse caminho de meia hora até em casa, tudo pode


acontecer, e a chegada não ocorrer como deveria, e sim com
uma triste notícia. Ganhamos mal.

Não temos estrutura, muitas de nossas armas apresentam


defeitos, não temos apoio do governo, raramente temos
aumento. Procure treinar com sua arma, nem que seja à seco
para que ela não te surpreenda.

Arriscamos a vida todo dia que entramos em serviço para


puxar plantão ou trabalhar na rua.

Faça sol, chuva, frio, calor, lá estamos nós. Sem ar-


condicionado, “vidrão” aberto, muitas vezes sem o rádio
funcionar, mas “a milhão”.

Olhar ligado em tudo atrás do vagabundo. Acha que está doce?


Para trombar com o demônio são dois segundos. É louco meu
irmão.

Decidir se aperta ou não o gatilho em fração de segundos. Se


morre você e seus parceiros ou morre o “mala”.

Entramos em lugar que ninguém entra. Há quem diga que


somos loucos, mas cada um com sua loucura. Treinamento
precário, mas sempre preparado.

Sempre pronto e em condições de. Afinal, a morte é nossa

60 Virei Delegado de Polícia. E agora?


companheira diária, não sabemos quando ela sairá do nosso
lado e virá bater de frente, trombar com a gente face a face.
Perdemos irmãos... Mas, se estivermos de plantão, não
podemos ir ao velório. Não podemos nos despedir. E não
adianta reclamar. Ordens são ordens, se cumpre.

É bico, pressão de todo lado, superior na sua cola, filho na


escola, mulher em casa, “mala” te caçando na rua. É muito
louco, mais a pressão em casa, o pau canta na rua.

O mistério de tudo isso, é que, não obstante toda essa parada


louca, fazemos isto por vocação.

Nós servimos por vocês, morremos por vocês, sofremos por


vocês, população, cidadão de bem. Ninguém entende e nunca
vai entender. O sistema é louco.

Ele te engole, te deixa doente, mas diante disso tudo a gente


faz o que pode para colocar ordem nesse caos instaurado na
sociedade.

Nós somos a POLÍCIA CIVIL.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 61


12. ATENDIMENTO AO
PÚBLICO DA POLÍCIA CIVIL
Adaptado da revistapegn.globo.com – 10 dicas para atender
bem os clientes difíceis – 24/07/2014
28/01/2023

Quando falamos sobre o usuário da Polícia Civil no que tange


ao atendimento, este sempre terá razão quando nos procurar.
Pelas dificuldades pelas quais passa a nossa instituição nem
sempre conseguimos atender todas as demandas que nos são
atribuídas. Por isto é comum o cidadão vir reclamar sobre uma
ocorrência não atendida. Pelo que a pessoa passou pode ser
que ela esteja extremamente nervosa e frustrada pelo pouco
caso com o fato tratado pela Polícia Civil.

Temos de ter um cuidado muito maior quando não conseguimos


resolver o problema daquele que precisou de nossos serviços

62 Virei Delegado de Polícia. E agora?


e com certeza estará extremamente nervoso e colocando a
culpa naquele que o atende. É uma ótima oportunidade em
ouvir a reclamação e assim tentar ajudar da melhor forma
possível, transformando aquela reclamação em satisfação e
demonstrar que a nossa instituição conseguirá resolver o seu
problema, ou pelo menos, dar toda a atenção e dirigir esforços
no sentido de solucionar a questão. Esta forma de atuação
fará com que o cidadão saia com uma boa ideia sobre a nossa
polícia e disseminará esta informação aos demais com quem
tiver contato.

ACIMA DE TUDO, OUÇA

Quando o cidadão nos procura reclamando de nossa


ineficiência em não ter resolvido o seu problema, o policial
que estiver atendendo não deve interromper o seu interlocutor
e em hipótese nenhuma discutir no mesmo tom com ele.
Deixe-o falar mesmo que esteja dizendo algo que nada tem a
ver com o assunto. Escute-o atenciosamente e educadamente,
aproveitando quando tiver uma oportunidade de esclarecer os
pontos que ele disse e tentar explicar também as dificuldades
de uma investigação policial. Ex.: Estelionato, ele quer que a
pessoa seja presa e que pague na Delegacia o que lhe deve.

PRATIQUE A EMPATIA

Imagine você procurando uma Delegacia de Polícia para


relatar um problema e o seu caso não sendo colocado como
prioridade. Coloque-se no lugar dele e com isto haverá uma
possibilidade de que haja uma sintonia e ele se sentira mais
confortável e compreendido em suas dificuldades. O meu
problema sempre será o mais sério do que o dos outros.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 63


BAIXE O TOM DE VOZ

Se o seu interlocutor estiver falando alto, fale num tom baixo,


calmo, tranquilo e mais devagar. Ele mesmo irá verificar
que está extrapolando e ajudará a se acalmar. Mantendo
a tranquilidade e explicando numa forma compreensível,
tranquila, tom baixo, ajudará a pessoa a se acalmar e esquecer
de sua raiva. Cuidado para não passar uma ironia o que irá
causar uma reação pior ainda.

FINJA QUE OUTRAS PESSOAS ESTÃO OLHANDO

Olhe para os lados e atrás dele como se as pessoas estivessem


prestando atenção na falta de educação do usuário. O policial
ao mesmo tempo deve desviar a sua atenção para a pessoa
nervosa e olhar para ele como se estivesse havendo uma
plateia. Mudando esta perspectiva, servirá como amortecedor
emocional para o seu interlocutor e que está abusando de sua
forma de se dirigir ao policial. Este então pensará com maior
clareza e assim responder ou explicar aquilo que está confuso
para o cidadão.

SAIBA QUANDO DESISTIR

Cidadão intransigente com o seu problema e percebendo


que não irá mudar de opinião e sendo evidente que a culpa
realmente foi da sua unidade policial que não tratou o problema
de forma como deveria, chame o Inspetor ou o Delegado de
Polícia e lhe explique a situação. Eles podem avaliar novamente
o caso e dar outro rumo as investigações. Assim este primeiro
policial que atendeu a pessoa muito nervosa poderá continuar
o seu trabalho e resolver o problema de outras pessoas que

64 Virei Delegado de Polícia. E agora?


precisam também do bom atendimento da Polícia Civil e que
estejam esperando na fila. Cidadão percebe que estão dando
importância ao seu caso e o outro policial que o atender terá
melhores condições de dar a devida resposta.

NÃO SE ENERVE

Se for desrespeitado, tente entender a princípio o motivo pelo


qual a pessoa está nervosa, pode ser que ele é quem esteja
com a razão. Se a culpa é da Polícia Civil, nós é que devemos
pedir desculpas. Não entre em discussão com a pessoa pois
somente irá dificultar a conversa, tente se manter calmo.
Não conseguindo resolver chame um colega para que assim
outra pessoa, com outros argumentos consiga explicar o que
aconteceu e o que poderá ser feito pela polícia.

NUNCA LEVE PARA O LADO PESSOAL

Se o cidadão começar a falar mal da Polícia, volte o assunto


para o tema que o levou a procurar a Delegacia. Ignore as
críticas a sua instituição já que neste momento não será
possível discutir este assunto com ele pelo estado de
nervosismo que se encontra. Em outra oportunidade, explique
os diversos problemas enfrentados para conseguir dar
continuidade a todos os problemas existentes. O importante é
dar uma satisfação que contente o seu interlocutor. Não leve
para o lado pessoal.

SEJA HUMANO

Pode ser que o cidadão tenha tido algum tipo de problema em


casa ou na rua e quer descontar em alguém. Estes problemas

Virei Delegado de Polícia. E agora? 65


mais a falta de resolução da sua ocorrência na Delegacia
podem deixar a pessoa bastante chateada. Tente entender o
seu lado falando de forma calma e agradável e direcionando
a resolução de sua ocorrência ou pelo menos tentar ajudar
naquilo que for possível. Outra vez, coloque-se na posição dele.
Testemunha de flagrante. É comum as oitivas terminarem de
madrugada, leve-a até sua casa ou pelo menos facilite com
que a sua chegada na residência seja o menos traumático
possível.
Empatia, empatia, empatia.
CUMPRA COMPROMISSOS

Ao término da conversa, se prometeu lhe dar um retorno, faça


isso, mesmo que não tenha nenhuma informação nova sobre o
assunto. O cidadão irá verificar que estão dando crédito aquilo
que aconteceu com ele e medidas estão sendo tomadas,
mesmo que não se chegue a um resultado positivo. Pelo
menos o cidadão terá a percepção de que tudo foi tentado,
houve um esforço para elucidação do seu caso.

EXPLIQUE O PRÓXIMO PASSO

Explique o que será feito pela Polícia Civil assim como o


que pode ser feito. É possível que o cidadão não tenha
conhecimentos jurídicos e estas informações devem ser
repassadas facilitando assim uma possível volta desta pessoa
a Delegacia de Polícia. Não deixe de anotar seus dados para
que possa entrar em contato em todos os momentos que se
fizerem necessários.

66 Virei Delegado de Polícia. E agora?


13. COMO ENCANTAR O
PÚBLICO DA POLÍCIA CIVIL
Atender bem quem procura a Delegacia de Polícia, além de fazer
uma grande diferença na percepção sobre o trabalho policial,
pode contar muitos pontos na avaliação deste tipo de trabalho.
Quando você atende bem uma pessoa, demonstra educação
e muito mais do que isto, a sensibilidade, compreensão e a
técnica de transmitir o que a polícia poderá fazer e até onde
pode ir no cumprimento das legislações vigentes.

Quando o policial atende mal quem procura os serviços da


unidade, perde um informante precioso na cidade. Este,
sabedor ou tendo alguma informação importante para
alguma investigação, dificilmente terá confiança e coragem de
repassar a estes policiais que foram grosseiros com ele na
Delegacia. As pessoas da cidade gostam da polícia e gostaria

Virei Delegado de Polícia. E agora? 67


que ela também fizesse a sua parte no sentido de prover
segurança a todos os cidadãos, portanto, a sociedade é uma
parceira fundamental em nossas atividades. Atendendo mal,
você não terá a recíproca quando precisar, por exemplo, de
uma testemunha para acompanhar um mandado de busca e
apreensão. A polícia acaba sendo mal vista pela população
e os comentários que repassam de boca a boca dificultam
ainda mais a obtenção de informações preciosas para sua
investigação. Caso as respostas sejam negativas, modifique
urgentemente.

Você Inspetor ou Delegado de Polícia se preocupa como está


o andamento dos atendimentos no local onde comanda? O
que tem feito para que isto melhore? Conversa com seus
comandados? Dá-lhes instruções? Orienta-os? Caso as
respostas sejam negativas, modifique urgentemente já que
sua unidade policial está seriamente ameaçada de ir de contra
a população que deseja ardentemente que os policiais façam
parte da comunidade local e isto depende de quem chegou
depois ao local. Enturme-se. Isto pode começar com um bom
atendimento a toda população.

Os policiais quando no atendimento ao público devem encantar


estes e tentar de toda forma resolver os seus problemas.
Vejamos algumas dicas.

01 – Como o público que procura a delegacia de Polícia


necessita urgentemente que seu problema seja resolvido,
tente ser rápido e útil para lhe dar uma resposta positiva,
dentro do possível. O policial deve estar em condições de
prestar o melhor atendimento ao seu cliente e para isto precisa
dominar o seu ambiente de trabalho.

68 Virei Delegado de Polícia. E agora?


02 – O policial deve entender sobre o trabalho em geral
desempenhado por sua unidade e assim oferecer o melhor
serviço a quem lhe procurar.

03 – Não ache que está perdendo tempo fornecendo


informações detalhadas ao seu interlocutor, pelo contrário a
pessoa sairá da Delegacia encantada com seu atendimento
e poderá contar com ela em todos os momentos. Poderá
inclusive ser sua testemunha quando atirar em alguém na
legítima defesa. A favor ou contra, depende de que como foi
tratada dentro da Delegacia de Polícia por você.

04 – Quando receber o usuário, o faça de forma cortês e


um tratamento amistoso, ofereça, se tiver, uma água, café.
Deixe que ele se sinta em casa. Não é porque é uma delega-
cia de Polícia é que tem de ser um local com pessoas mal-
educadas, pelo contrário. A maciça maioria das pessoas que
nos procuram são cidadãos de bem.

05 – Seja sincero com a pessoa quando tratar de resolver o


problema e pergunte bastante para clarear os dados que ele
te passar e assim poder agilizar ou quem sabe resolver da
melhor forma possível.

06 – Cada pessoa que o procura na delegacia é diferente da


outra. Umas mais ágeis na apresentação de seus problemas
e outras que precisam ser ajudadas. De qualquer forma seja
bastante tolerante, calmo e paciente no atendimento. Algumas
precisam ser estimuladas a falar, então questione até que
tenha uma visão clara do ocorrido.

07 – Se prometer, cumpra. Nunca dê esperança se não puder


cumprir, mas procure esclarecer que tudo fará a seu alcance
para ajudar.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 69


08 – O policial por sua própria profissão onde o mesmo tem
a função de reprimir aqueles que agem fora da lei, deve ser o
primeiro cumpridor de todos os deveres legais e sociais para
que assim a sociedade tenha o respeito e confiança por você.
Seja um policial exemplar.

09 – Se tiver muitas pessoas para atender, peça para alguém


verificar quais são os problemas de cada um e dependendo
do caso já dê o encaminhamento para a pessoa certa e não a
deixar esperando até que o outro policial termine de resolver
uma questão. Ou então, avise o tempo que irá demorar o
atendimento e que logo outro será chamado. Assim a pessoa
se sentirá prestigiada e com mais calma para aguardar.
Temos de dar satisfação para a sociedade, é parte do nosso
atendimento de encantar aqueles que nos procuram. Esta é a
nossa obrigação.

10 – Não use gírias quando atender uma pessoa ou mesmo


erros de português. Veja com quem está conversando, pessoas
menos e mais instruídas e se adapte para entender e explicar
conforme o entendimento de cada um.

11 – Caso a pessoa deva ser atendida pelo escrivão, por


exemplo, verifique se realmente é isto que irá ocorrer para
que ela não fique esperando indefinidamente e depois não
ser atendida pois não era o local adequado. A pessoa vai ficar
com raiva e talvez extrapole este sentimento, com toda razão.
Leve a intimação da pessoa ao Cartório e pergunte em quanto
tempo ela será atendida. Trate bem as pessoas, a Polícia Civil
só tem a ganhar e também o policial que é bem-educado.

12 – Os dados da pessoa deverão ser anotados e se for o caso


retorne um telefonema/e-mail informando sobre o andamento
do caso.

70 Virei Delegado de Polícia. E agora?


14. ATRIBUIÇÕES DO
DELEGADO DE POLÍCIA
DELEGADO NO LOCAL DE CRIME

O Delegado de Polícia deve estar sempre a frente das


investigações. Aconteceu um crime, compareça ao local para
conhecer pormenores que somente quem estiver onde o
fato se deu é que poderá aquilatar de como ocorreu e quem
poderia ter cometido este fato. No momento do interrogatório
saberá perguntar com muito mais propriedade. Dentro
do possível, acompanhe de perto as investigações mais
importantes e assim irá aprender cada vez mais e ajudar aos
colegas a tomarem decisões bem como ter uma noção ampla
sobre como ocorreu o crime. Delegue, mas ao mesmo tempo
não deixe os seus policiais perdidos em crimes de difíceis
resoluções. Apanhe junto e obtenha vitórias nas investigações

Virei Delegado de Polícia. E agora? 71


junto. O Delegado de Polícia não é apenas para dar entrevista
sem ter participado ativamente dos trabalhos desenvolvidos
onde se chegou à apuração final. A presença dele junto com
seus comandados é fundamental.

DELEGADO LIDERA A EQUIPE

O Delegado de Polícia lidera a sua equipe. Para isto, orientar


e indagar sobre algum fato que está sendo investigado e
perguntar sobre o que já foi feito e o que poderá acontecer.
Discuta entre a equipe sobre quais caminhos devem ser
seguidos e no final tire a sua conclusão e defina o que será
feito. De preferência, nunca tome decisão sozinho, procure
sempre ouvir seus pares, seus colegas de trabalho, seja quem
for. Com certeza no final terá um resultado melhor. No entanto,
em determinadas situações, onde isto não for possível, seja a
pessoa que irá direcionar os passos da equipe, determinando
o que será feito.

DELEGADO RESPONSÁVEL PELAS FALHAS

Se houver alguma falha de sua equipe em determinado


momento, assuma a responsabilidade por isto, já que deveria
ser você o responsável pela condução dos trabalhos. O pior
chefe ou líder é aquele que assume as vitórias e se exime das
derrotas. Esteja com a equipe sempre. Não estou dizendo em
compartilhar atitudes dos policiais fora da lei, mas erros que
acontecem em uma atividade policial corriqueira. Internamente,
questione-os, pergunte, indague, tome conhecimento sobre
os fatos para que possa entender e assim ajudá-los caso seja
possível. Seja amigo das pessoas que trabalham com você. É
uma forma para que a equipe trabalhe por você independente
do que aconteça e uma das formas do profissional crescer na

72 Virei Delegado de Polícia. E agora?


profissão. Do contrário o profissional terá desde o início de sua
carreira uma pecha de que tem uma difícil convivência o que
irá lhe dificultar sobremaneira a sua trajetória na PC. Ninguém
consegue vencer sozinho se não tiver uma boa equipe consigo.
Isto não quer dizer que irá passar a mão na cabeça de quem
foge das regras e se for o caso punindo-o exemplarmente. O
Delegado deverá ser um bom gestor de pessoas, se for o caso
fazer um curso nesta área.

IP NÃO FICA VENCIDO NA DP 30/01/2023

Não deixe inquéritos policiais atrasarem na sua unidade.


Procure conclui-los dentro do prazo, não conseguindo por
qualquer motivo, peça prazos tantas vezes que se fizerem
necessários. Procure fazer um levantamento ajudado pelos
demais policiais sobre cada um deles e achar uma solução
para resolver as pendências de cada um. Faça um mutirão.
Utilize do conhecimento de alunos de Direito para ajudar
na finalização dos mesmos. Não deixe armas e drogas
apreendidas na Delegacia, encaminhe o mais rápido possível
para a Justiça.

Procure deficiências na segurança da sua unidade e procure


saná-las. Se for o caso instale sistema eletrônico de segurança.
Se tiver um cofre, as armas deverão estar neles bem como
documentos importantes. Um problema grande enfrentado
pelos policiais é normalmente a falta de segurança no local
onde se trabalha e deveria ser de segurança máxima.

LIBERE ARMAMENTO PARA OPERAÇÕES POLICIAIS

Armas acauteladas na Delegacia deverão estar sempre à


disposição dos policiais para suas necessidades nas operações

Virei Delegado de Polícia. E agora? 73


policiais. Procure um jeito de lhes dar treinamento solicitando
munição ao escalão superior ou associando os policiais em
estande de tiro. O preço da munição sai bem em conta. Para
incentivar o treinamento, promova um campeonato de tiro
entre os policiais.

DELEGADO PRESENTE NOS CUMPRIMENTOS DE MANDADOS

Cumprimento de mandado de busca e apreensão deverá ter


a presença da Autoridade Policial tendo em vista os inúmeros
problemas que podem ocorrer nesta operação bem como
será ela quem prestará informações do que foi arrecadado ao
Juiz bem como todo problema que ali ocorrer, portanto é de
sua responsabilidade de que tudo saia conforme preceitua a
legislação.

PRESERVE SUA DIGNIDADE

Não aceite e nem peça dinheiro para despachantes, bicheiro


ou quem quer que seja para arrumar a Delegacia, veículo,
pintar salas, fazer churrasco. Tente com o escalão superior
para que faça a reforma necessária. Faça uma caixinha para
ratear quando de alguma festa no interior do local do trabalho.
Policial quando bebe muito costuma criar um grande tumulto
e a primeira coisa é querer sacar a sua arma e tem de ser
contido pelos colegas. Faça festas que terminem logo, apenas
para reunir os colegas e seus familiares, alertando-os antes
sobre o comportamento que devem ter nestes momentos.
Respeito pelas pessoas que comparecerem.

TODOS SÃO BEM TRATADOS NA DELEGACIA

Trate sempre bem as pessoas independente de classe social

74 Virei Delegado de Polícia. E agora?


que procurarem a Delegacia, seja quem for, testemunhas,
vítimas, indiciados ou quem for necessitar de qualquer tipo
de serviço. Dissemine esta ideia junto aos demais policiais.
Preste atenção em como as pessoas são tratadas dentro da
unidade policial e se for o caso marque uma reunião para
discutir o assunto. Pergunte se alguém gostaria de ver sua
mãe, esposa, filhos sendo atendido de forma mal-educada
em alguma repartição pública. Para ser policial não existe
a necessidade de ser grosseiro, muito pelo contrário, sendo
educado o policial conquista a confiança das pessoas e com
isto pode receber muito mais informações relacionadas.

SE FAÇA PRESENTE NA SOCIEDADE LOCAL

Procure participar de alguma associação que faça o bem na


sociedade local. Isto lhe dará um comprometimento com todos
que irão lhe olhar com outros olhos. É uma forma também de
se entrosar com a sociedade local e desmistificar sobre o mito
de que policial é corrupto, violento, mal-educado etc. Deixe
ver que somos pessoas normais com uma profissão diferente
e muito importante dentro de uma sociedade. É uma ma-
neira de ter informações importantes que podem lhe ajudar a
resolver casos aparentemente insolúveis.

CONVERSE CONSTANTEMENTE COM SEUS POLICIAIS

Chame os policiais para conversar em seu gabinete sobre


assuntos relacionados ao trabalho e também para um bate
papo informal. Eles irão se sentir prestigiados e o Delegado
terá um ambiente muito mais saudável. Fique sabendo quem
são os colegas que trabalham com você e os problemas que
cada um enfrenta. Ficará mais fácil entender algumas atitudes
deles frente a determinados problemas.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 75


SEGURANÇA COM INDICIADO PERIGOSO

Indiciado perigoso deve ser ouvido acompanhado de no


mínimo dois Investigadores. Dependendo do caso o mesmo
deverá estar algemado para trás. Lembre-se também que a
obrigação de interrogar quem quer que seja é da Autoridade
Policial, não do Escrivão ou do Investigador. A ajuda destes é
muito bem-vinda e irá acrescentar muito no esclarecimento do
crime, mas a obrigação é do Delegado.

VIATURA COM POLICIAIS ARMADOS

Quando uma viatura sair para a rua deverá estar com pelo
menos dois policiais e os mesmos armados. Viatura policial não
sai com policiais desarmados em hipótese nenhuma, podendo
ser Delegado, Investigador, Escrivão ou Perito Criminal. A
qualquer momento poderão ser chamados a intervir em
uma ocorrência e não poderão fugir de suas obrigações. Em
qualquer situação, repito, em qualquer situação, o policial ao
estacionar o veículo obrigatoriamente deverá retirar a chave
do contato. É comum acontecer do preso que estiver nela
(mesmo algemado) ou alguém que estiver fugindo poderá usar
a viatura para sair o mais rapidamente do local. Fica bastante
ridículo a equipe ter de explicar na sua unidade o que ocorreu.

AVALIAR MELHOR MOMENTO

Quando for cumprir um mandado de prisão ou busca e


apreensão, avaliar o melhor momento. Por exemplo, pode
acontecer de que no dia do cumprimento da ordem judicial
tenha uma festa na casa apontada e onde se tem um grande
número de pessoas o que pode dificultar ou até mesmo
impedir que se cumpra a operação.

76 Virei Delegado de Polícia. E agora?


SUPERIORIDADE DA PC

Sabendo de antemão que pessoas extremamente perigosas


estão para ser presas, deve-se buscar reforços nas delegacias
próximas e junto a PM. Devemos sempre estar em superioridade
numérica, de armamento e com treinamento apropriado para
este tipo de ocorrência.

ELO DE LIGAÇÃO É O INSPETOR

Tenha um bom relacionamento com o Inspetor, pois é o elo


de ligação entre os Investigadores e o Delegado. Será ele o
responsável por direcionar o trabalho de seus comandados
repassando as informações a autoridade bem como tomando
medidas para sanar dificuldades encontradas no dia-a-dia.

GRUPO DE DELEGADOS NO “WHATSAPP”

Montar um grupo de colegas Delegados no WhatsApp para


discutir os assuntos do dia-a-dia da unidade policial, como
por exemplo a chegada de uma ocorrência policial onde se
tem dúvidas com relação a tipificação. Postando um resumo
do caso os colegas terão condições de auxiliar e discutir o
assunto e assim chegar a uma tipificação mais apropriada.

RESPOSTA ADEQUADA COM A POLÍCIA AFRONTADA

Quando uma equipe de sua Delegacia for agredida, humilhada


no exercício de suas atividades policiais, por quem quer que
seja, o Delegado de Polícia deverá se dirigir imediatamente
ao local com os demais policiais para resolver o problema.
Se a situação envolver marginais, solicitar ajuda a todos que
possam auxiliar de alguma forma, PM, PF, GM e demais policiais

Virei Delegado de Polícia. E agora? 77


civis. Ou seja, dar uma resposta adequada demonstrando que
situações semelhantes não serão aceitas, dando portanto, uma
resposta adequada até a prisão de quem tenha participado
desta ação contra o Estado e contra a Polícia Civil. Caso tenha
sido uma agressão por parte de outra instituição como a
PM, PF, PRF, GM, da mesma forma comparecer com o maior
número possível de policiais civis e de preferência com outros
Delegados e de forma firme forçar a resolução do problema
de forma legal. Se for o caso, dar voz de prisão em flagrante
dos policiais que agiram de forma ilegal. Caso não se consiga
a prisão dos policiais já que a pressão será muito grande,
instaurar IP e pedir temporária ou preventiva, conforme o caso
e assim demonstrar que situações semelhantes não serão
toleradas.

QUEM DECIDE É O DELEGADO

Outras instituições que queiram forçar a lavratura do flagrante


na Delegacia deverão ouvir do Delegado de Polícia que tal
decisão cabe unicamente a ele. Caso esta autoridade tome
uma decisão contrária a legislação ele é quem responderá pela
ilegalidade. Dirá ainda que sabe muito bem sobre o motivo pelo
qual o colega de outra instituição entende de forma contrária a
sua mas, que na sua avaliação a ocorrência não se enquadra
nos ditames do que preconiza o flagrante delito e assim é que
será feito pelos motivos que será explicado ao policial que
pensa em contrário. Evidente que o Delegado de Polícia deverá
estar bem embasado quando na tomada de sua decisão para
não ter que modificar posteriormente, mas verificando que
errou em seu posicionamento, não tenha vergonha de voltar
em sua decisão. Trate sempre bem as pessoas que trabalham
em outra instituição, mas, seja firme em suas decisões e
sempre de acordo com o que a lei permite ou não.

78 Virei Delegado de Polícia. E agora?


MONTE OPERAÇÕES REGULARES

Promova pelos menos 03 (três) a 04 (quatro) vezes por ano


uma operação que cause impacto na cidade no cumprimento
de mandados de prisão e/ou de busca e apreensão. Solicite
cobertura e ajuda dos demais colegas das cidades vizinhas
bem como de outras instituições se for necessário.

REUNIÃO E DISCUSSÃO COM POLICIAIS

Promova reunião com os policiais civis e militares das cidades


vizinhas com relação a fechamento de vias em caso de
crime de grande repercussão no sentido de encurralar os
marginais e impedir que os mesmos tenham sucesso em
suas ações. Dependendo do armamento, especialmente no
caso do conhecido “novo cangaço” onde diversos infratores
invadem a cidade com fuzis e encurralam a polícia, não se
deve tentar o confronto. É preferível que os mesmos fujam e
posteriormente em investigações se consiga prender um a um
sem que haja tanto risco para os policiais. No entanto, se a
polícia tomou conhecimento antecipadamente da ocorrência,
como um acompanhamento pela interceptação telefônica,
fará o planejamento e contando com equipes especializadas
será possível e também desejável o enfrentamento. Neste
caso, a polícia deverá estar em maior número de pessoas e
armamentos e assim fazer frente a quem quer que se defronte.

VISTORIA EM DESMANCHES

Realize vistorias constantes em desmanche de carros e


oficinas para verificar a possibilidade de haver alguma indústria
de venda de peças usadas adquiridas de forma fraudulenta.
Caso existam pedreiras no seu município, realize vistorias

Virei Delegado de Polícia. E agora? 79


constantes no quesito segurança dos explosivos para que
os mesmos não venham a ser desviados e utilizados contra
caixas eletrônicos.

ESTEJA SEMPRE PRESENTE NAS INVESTIGAÇÕES

Realize reuniões rápidas toda manhã no início do expediente


com toda a sua equipe. Quais são as investigações que estão
em andamento? O que já foi apurado? Quais as dificuldades
que estão sendo encontradas? O que é possível fazer para
caminhar mais? Será necessário pedir medidas cautelares?
Ou seja, questione o que está sendo feito e direcione
as investigações. Ajude, peça ajuda, contribua, espere
contribuições dos demais colegas que não estão envolvidos
diretamente na investigação. Ou seja, faça um planejamento
diário sobre as atividades daquele dia. Não deixe que
investigações antigas caiam no esquecimento. Tente alguma
coisa. Mantenha um diário sobre cada uma das investigações
em curso na sua unidade policial. Desta forma poderá fazer o
acompanhamento e ter um direcionamento sobre o que será
preciso fazer para chegar ao autor de determinado crime.
Nada conseguindo apesar disto, relate e encaminhe urgen-
temente ao Judiciário.

PLANEJAR UMA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Como planejar uma investigação criminal. O QUÊ? Descrever


o que será feito ou quais ações serão feitas. Especificar e
delimitar bem as ações para se saber quando termina a
ação. Cada verbo desencadeia um planejamento. Ação a
ser desenvolvida: descrever a investigação a ser apurada,
definindo cada ação a ser executada. POR QUÊ? Justificar.
Serve para nivelar todas as pessoas envolvidas no plano com as

80 Virei Delegado de Polícia. E agora?


razões específicas (legislação, recomendações). Justificativa:
descrever as razões. Enumerar os objetivos. QUEM? Nomear
responsáveis. A pessoa ou pessoas que irão praticar as ações
e a que irá liderar a ação. Indicar o grupo e o líder para poder
identificar o responsável. Executores: nomear os executores
e coordenadores. ONDE? Estabelecer o local onde serão
coordenadas as ações (não onde estão sendo realizadas as
ações). Local da coordenação: indicar o local de onde será
feita a gestão das atividades. QUANDO? Estabelecer prazo. O
tempo para desenvolver as ações propostas no “o quê?”. Dizer
o dia de começo da ação e se for o caso, o término. Período
de execução: descrever durante quanto tempo será executada
a investigação. Como não há uma previsão de tempo para se
concluir uma investigação, colocar o prazo do inquérito policial.
COMO? Descrever como será feito. Se houver várias ações,
descrever as atividades de cada uma. Técnicas: descrever as
técnicas a serem aplicadas para cada ação.

PROVAS INCONTESTES

Quando o Delegado de Polícia chega ao final das investigações


e ao término do IP deve-se perguntar se existe prova inconteste
nos autos de que o indiciado realmente foi o autor do crime. O
seu relatório será questionado tanto pelo MP quanto e princi-
palmente pelo Advogado que tentarão criticá-lo caso o mesmo
não traga maiores informações seguras quanto a autoria e
materialidade do crime.

MARKETING PESSOAL

Marketing pessoal no cargo de Delegado de Polícia. Alguns


requisitos que devem ter aquele que está na chefia de uma
unidade policial: liderança, confiança, visão, integridade,

Virei Delegado de Polícia. E agora? 81


espírito de equipe, maturidade, visibilidade, empatia, otimismo
e paciência.

DELEGADO PRESENTE NAS OITIVAS

O Delegado de Polícia, sempre que possível deverá estar


presente na tomada de depoimentos/declarações sendo
ele o responsável pelo interrogatório e ditar isto ao Escrivão
de Polícia. Este acompanhamento é importante para que a
autoridade entenda muito bem sobre as investigações que
estão sendo feitas e possa dar o devido direcionamento na
apuração dos fatos. Caso não possa estar presente na tomada
de depoimentos/declarações por estar na rua fazendo alguma
diligência, elaborar um rol de perguntas que gostaria que
fossem feitas.

ORIENTAÇÃO AOS SEUS POLICIAIS

Desde que possível o Delegado de Polícia acompanhará


todas as operações que forem feitas pela sua unidade policial
estando sempre a frente e orientando aos seus policiais.
Nos cumprimentos de mandado de prisão e/ou de busca e
apreensão é obrigatória a presença do Delegado comandando
todas as ações. A responsabilidade, estando ou não o
Delegado à frente desta ocorrência, recairá sobre ele, assim,
estando presente poderá controlar a operação para que ela
ocorra estritamente nos limites legais.

TENHA UM BOM RELACIONAMENTO COM A PM

Ao receber a ocorrência do Policial Militar, o Delegado é que


ficará responsável em decidir pela autuação em flagrante ou
não. Entendendo que não estão presentes os requisitos deste,

82 Virei Delegado de Polícia. E agora?


poderá explicar os motivos aos policiais ou o Chefe da Equipe
sobre os motivos legais pela não autuação como uma questão
de cordialidade que deve prevalecer entre as instituições.

É comum os PMs se rebelarem contra uma decisão do


Delegado da não autuação e haver até uma discussão mais
acirrada. O Delegado deve manter a sua calma e tentar
explicar juridicamente o motivo pelo qual entende não se
tratar de um flagrante e que fará um inquérito através da
portaria e surtirá o efeito desejado que é reunir maiores
provas. Havendo desrespeito com relação ao Delegado, o
mesmo, em último caso, poderá dar voz de prisão ao militar por
desacato, desobediência ou qualquer outro crime que venha
a ser cometido. Tratando-se de crimes de menor potencial
ofensivo o mesmo será liberado, mas o TCO será elaborado e
encaminhado à Justiça.

Em caso mais grave, o policial militar com certeza não aceitará


a voz de prisão e não havendo condições de efetuar a sua
detenção naquele momento, tais fatos serão consubstanciados
em um IP com cópias à Corregedoria da PC e PM. Dependendo
do caso, pedir a sua prisão temporária/preventiva. No entanto,
o ideal é ter um bom relacionamento com os PMs já que serão
eles que o ajudarão em diversas situações onde houver a
necessidade de um número maior de policiais e sua unidade
não tiver um grande contingente. Faça palestras em todas as
oportunidades aos PMs e assim estreitar o relacionamento e
evitar desconforto quando tais fatos vierem a tona.

O GERENTE DA DP É O DELEGADO

Delegado é o gerente da unidade policial. Aquele que


consegue fazer o que a Polícia Civil exige que o Delegado de

Virei Delegado de Polícia. E agora? 83


Polícia faça, através das pessoas que trabalham com ele.
Você se transforma automaticamente em gerente quando se
compromete com o trabalho. Você só é um líder quando as
pessoas o reconhecem como tal.

MELHORE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO 07/02/2023

A sala do Delegado é toda arrumada, com poltrona, mesas,


computador, impressora, tapetes, ar condicionado etc. Olhe
como estão as salas da sua equipe, a entrada da Delegacia,
sala dos investigadores, cartório. Estão em condições
parecidas com a sua? Dê um jeito de pensar no conforto
daqueles que serão o seu sustentáculo enquanto ali estiver
trabalhando. Eles são muito importantes no trabalho que você
Delegado de Polícia irá desenvolver.

ADVOGADOS SÃO NECESSÁRIOS

Trate com toda deferência os Advogados que frequentam a


Delegacia de Polícia. Ele não é seu inimigo ou adversário,
apenas cumpre o seu trabalho necessário e também quem
pode apontar alguma deficiência na sua investigação e pode
ajudá-lo em alguns casos. Faça o melhor que puder para
ter estes profissionais do seu lado, inclusive convidando o
Presidente da OAB local e os associados a comparecerem na
Delegacia para um “happy hour”. Faça um relacionamento
bem próximo, sabendo que existem profissionais (em todas
as áreas, inclusive colegas de serviço, sua equipe) que agem
desonestamente, prestando bastante atenção para não ser
envolvido em falcatruas.

84 Virei Delegado de Polícia. E agora?


PLANEJAMENTO TÁTICO

Faça um planejamento junto com a Polícia Militar prevendo


uma situação de um assalto a banco ou caixa eletrônico.
Como estes crimes estão na moda, a qualquer mo-
mento em sua cidade esta ocorrência irá acontecer. Faça
patrulhamento preventivo próximo a estes locais, abordagem
a veículos desconhecidos ou suspeitos. Se a cidade tiver
acompanhamento de câmeras faça com que estes locais
sejam prioritários. Os colegas de cidades próximas também
podem ajudar no caso de uma ocorrência deste tipo e cercar
as rodovias e estradas alternativas.

CONFERÊNCIA SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA

Promova na sua cidade uma conferência sobre segurança


pública envolvendo os mais diversos setores da sociedade
local. Chame a PM, GM, PRF, PF, Poder Judiciário, MP, Câmara
Municipal, Prefeito, Jornalistas, Gerentes de Bancos, Setores
organizados. Trabalhe em conjunto com a sociedade local que
poderá frutificar um trabalho mais coeso e a PC com certeza
será vista como uma parceira de toda comunidade.

USO DE VEÍCULO CARACTERIZADO E DESCARACTERIZADO

Uso veículo caracterizado e descaracterizado. A finalidade


do veículo descaracterizado é no sentido de ser utilizado
nas investigações onde haja a necessidade dos policiais
passarem despercebidos. Estes levantamentos podem ser
feitos sem levantar maiores suspeitas. O descaracterizado
não deve ser utilizado indiscriminadamente, mas tão somente
nestes momentos acima descritos. Caso seja utilizado para o

Virei Delegado de Polícia. E agora? 85


serviço diário da Delegacia, logo ele ficará “queimado”e não
se prestará a participar de investigações sigilosas. Quanto ao
veículo caracterizado este sim servirá para levar documentos
ao Fórum, fazer intimações, operações policiais. Ou seja,
o policial quer mostrar que se trata de uma viatura e assim
evitar interpretações equivocadas. Por exemplo, o uso da
viatura descaracterizada em um local que ocorrem muitos
crimes pode ser interpretado pelos marginais como alguém
querendo tomar a sua “boca”. O veículo descaracterizado
deve ser preservado ao máximo e somente utilizado para a
finalidade de efetuar levantamentos.

FILMAGEM DAS OPERAÇÕES POLICIAIS

Filmagem das operações policiais. É importante documentar


as operações policiais como o cumprimento de um mandado
de prisão ou de busca e apreensão ou mesmo blitzs, caso
esta venha a ser realizada. Hoje com a facilidade de filmar
que temos nos telefones celulares e mesmo na câmera GoPró,
sendo que esta pode ser acoplada na cabeça ou no peito do
policial, tudo que ocorrer no ambiente será documentado. Estas
filmagens irão servir como prova dentro dos autos bem como
no “debriefing”, ou seja, após a operação a movimentação e
ação dos policiais podem ser discutidas e erros porventura
cometidos serão corrigidos. Além do mais, caso haja interesse
a operação poderá ser disponibilizada à imprensa, sendo uma
forma de divulgação do trabalho da unidade policial. Dá uma
visibilidade muito boa à Polícia Civil. Acontece também que a
polícia as vezes é acusada de usar violência contra alguém e
a filmagem seria uma boa prova a favor dela.

86 Virei Delegado de Polícia. E agora?


15. ARMA NO
ALCANCE DAS MÃOS
Aos colegas ou futuros colegas, sendo estes aqueles que ainda
estão cursando uma Academia de Polícia, sempre se ouvirá
de seus professores da área tática que na função policial,
os mesmos deverão andar armados quando em serviço ou
mesmo nos momentos de folga. Não é o que se vê na realidade.
Após o término do curso de ingresso na polícia muitos irão
trabalhar no serviço administrativo e alguns poucos na área
dita operacional.

Na primeira, os policiais não terão o desgaste de enfrentar


praticamente todos os dias a emoção da adrenalina ao prender
alguém procurado, ou entrar na residência de algum marginal
e ali efetuar o cumprimento de um mandado de busca e
apreensão, ou mesmo abordar uma pessoa a pé ou em um

Virei Delegado de Polícia. E agora? 87


veículo. São momentos de extrema tensão onde o policial não
pode errar. Estando longe destas situações e indo direto para
um serviço burocrático, dificilmente irá se acostumar a colocar
uma arma na cintura, e esta ficará esquecida trancada no
guarda-roupa de casa.

Na segunda situação, aqueles direcionados para a área


operacional e que terão todos os enfrentamentos ditos acima,
em hipótese nenhuma conseguirão exercer a sua atividade
sem que estejam devidamente armados. É possível e até
desejável que ande com uma arma “back up”, ou seja, a arma
reserva. Como não sabe a que momento precisará utilizar
o seu equipamento indispensável nesta atividade, esta se
tornará uma companheira de todas as horas. Onde quer que
vá o policial estará sempre próximo a sua arma, e quando
digo próximo, estou querendo dizer que esta deverá estar no
alcance das mãos, junto ao seu corpo. Em trajes civis a arma
deverá estar na cintura, encoberta pela camisa podendo ou
não utilizar um coldre macio, já que o contato dela com o
corpo durante muito tempo poderá enferrujá-la pelo sal que
o suor possui. Nada que uma limpeza frequente não consiga
resolver.

Desta forma, quando estiver em sua residência o policial irá


relaxar, e a arma será colocada ao mesmo tempo em um local
de fácil acesso em caso de necessidade urgente, e ao mesmo
tempo de difícil acesso a pessoas estranhas a instituição. Isto
quer dizer que os próprios familiares não devem manusear
este equipamento, principalmente crianças, para que não
aconteça uma desgraça familiar como é comum lermos nos
noticiários diários. Todos devem ser instruídos sobre o perigo
do manuseio incorreto deste equipamento de segurança,

88 Virei Delegado de Polícia. E agora?


e inclusive devem assistir um treinamento de tiro, para que
possam visualizar os estragos além do barulho que uma
arma provoca. Assim, crianças e demais familiares serão os
primeiros a cuidarem da segurança familiar no que concerne
ao manuseio incorreto da arma de fogo.

Ao sair de casa, a ou as armas deverão estar municiadas


e prontas para ação. No caso específico das pistolas
semiautomáticas caso a munição não esteja inserida na câ-
mara de explosão o policial terá uma enorme dificuldade em
caso de assalto, por exemplo, a colocá-la em condições de
uso. Este é um momento de extrema tensão e o raciocínio
ficará lento, e possivelmente o policial não saberá o que fazer,
ou então irá sacar a sua arma e tentar fazer o disparo. Nada
irá acontecer, sem que o policial saiba o motivo pelo qual o
projétil não saiu. Para isto o treinamento é fundamental e um
enorme cuidado na segurança do gatilho e do cano.

Utilize sempre munição na câmara da sua pistola (trocas


de tiro, em geral, não duram mais que 1,5 segundo em
situação de defesa pessoal, o que exigirá o menor número
de movimentos possíveis para se acelerar a capacidade de
reação). No momento em que há um confronto, por causa da
adrenalina, você não pensa claramente e só fará o que treinou
exaustivamente: sua reação será mecânica.

Estudos já demonstraram que a visão periférica do policial é


diminuída sensivelmente em um confronto armado, formando
o que se chama de “Visão de Túnel”, onde ele só enxerga
um local e nada nas adjacências. Cuidado, pois seu agressor
poderá estar acompanhado de outro colega também armado.
Procure abrigo imediatamente.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 89


Desta forma a sua arma deverá estar sempre no mesmo
lugar e do modo como você treinou, pois, os seus reflexos
funcionarão como praticou. Por isto a necessidade de
treinamento contínuo, para quando chegar num momento
como este, haja a possibilidade de esboçar uma reação que
lhe permita continuar vivo. Não estando com a munição na
câmara, no caso da pistola, terá que lembrar se é que é
possível, de municiar a arma antes de fazer o disparo o que
lhe dará alguns milésimos de segundo de atraso, caso seja
bastante rápido, antes que esteja em condições de fazer o
disparo. O seu agressor já estará com a arma apontada em
sua direção e você em enorme desvantagem.

O policial novato, com muito orgulho de ter conseguido entrar


para a nossa instituição, normalmente quer demonstrar para
todo mundo que é um policial e gosta de exibir a sua arma
o que é um tremendo erro. Pessoas próximas podem estar
observando e tentar conseguir uma arma de fogo, assaltando-o
e desta forma o que poderia ser uma surpresa com o policial
reagindo, acaba se tornando provavelmente em uma tragédia.
O porte de arma, em trajes civis, deve ser encoberta e passar
despercebido o máximo possível não dando “pala” de que
se encontra armado. Assim terá uma grande possibilidade
de surpreender o assaltante, apontando-lhe a sua arma de
fogo. Na primeira oportunidade em que ele se distrair e se
for o caso efetuar o disparo. Isto somente poderá ocorrer se
atender todos os requisitos constantes da legítima defesa
própria ou de terceiros.

A sua arma deve estar sempre no alcance para ser utilizada


a qualquer momento. Não espere que aconteça o imprevisto
para somente depois tentar localizá-la. A mesma não deverá

90 Virei Delegado de Polícia. E agora?


estar em uma bolsa com zíper, pochete, porta-luvas, porta-
malas etc. Como os marginais atacam de repente, de surpresa,
não se tem tempo de ficar procurando e tentando achar a sua
arma no local em que a colocou. Com a adrenalina que toma
conta de nosso corpo nestes momentos, caso a arma não
esteja sempre no mesmo lugar, dificilmente iremos conseguir
encontrá-la em uma situação de extremo estresse. Ela deverá
estar em local de fácil acesso e onde sempre a colocamos,
para que num gesto instintivo de sobrevivência, consigamos
alcançá-la rapidamente e estarmos em condições de revidar
ao nosso oponente. Para que esta oportunidade de sacar a
arma antes de nos defrontarmos com nosso agressor venha
acontecer, devemos estar sempre alertas para o que ocorre
em nossa volta. Não podemos ser apanhados de surpresa.

Outra dica é a de que em hipótese nenhuma a sua arma deve


ser deixada dentro do seu carro quando você vai a um banco
ou entrar em casa e logo sair. Estes breves momentos podem
ser a oportunidade de quem está à espreita para estourar o
vidro, pegar o seu equipamento de segurança e fugir. Lembre-
se: ocorrências não avisam quando irão acontecer e portar a
sua arma de fogo poderá lhe possibilitar evitar uma desgraça
como o assalto a sua família, ferimento ou morte do colega e
outras ocorrências correlatas. Não é possível ser policial e ficar
distraído, principalmente na rua já que poderá ser apanhado
desprevenido, assim a sua arma deverá estar sempre em
condições de ser empunhada rapidamente.

Use sempre a sua arma ou a mesma com a qual tenha


treinado e deposite confiança nela. Se não conhece a arma,
treine com ela antes de utilizá-la em serviço. É muito mais
correto ir para um local de confronto com um equipamento

Virei Delegado de Polícia. E agora? 91


confiável do que não ter a absoluta certeza de que aquele
instrumento de trabalho pode não funcionar quando precisar.
Na impossibilidade de usar a sua própria arma, antes de
sair faça um teste com a arma nova para verificar se está
funcionando a contento. Você irá com uma confiança maior
para a ocorrência.

Da mesma forma, munição velha ou recarregada onde


você não conhece a procedência deve ser descartada no
treinamento, nunca em situação real, pois elas podem vir a
falhar no momento em que você mais precisa. As munições
de fábrica têm um acompanhamento técnico/profissional
na sua montagem e assim dificilmente irá acontecer algum
problema, como uma “nega”, portanto, a preferência por elas
numa atividade real darão uma confiança maior.

92 Virei Delegado de Polícia. E agora?


16. PERIGO DA ARMA DE
FOGO EM CASA
O instrumento de trabalho do policial é constituído de sua
inteligência, vontade de trabalhar em prol da sociedade,
equipamentos que são colocados à sua disposição, tecnologia,
treinamentos que recebe ao longo da carreira e se não estou
esquecendo mais nada de sua arma de fogo. Este último faz
parte de sua atividade desde quando começa até o término de
sua atividade e para muitos perdura quando já aposentado.
É pouco utilizado, ainda bem, quando falamos em termos de
Minas Gerais, no entanto não podemos nos esquecer deste
importante instrumento colocado a nossa disposição. Quando
menos se espera haverá a necessidade de seu emprego e
neste momento não poderá haver nenhum tipo de falhas.

A profissão exige que a arma esteja sempre ao alcance das

Virei Delegado de Polícia. E agora? 93


mãos já que não se pode saber quando é que ela se fará
necessária e se fizer deveremos estar o mais próximo dela
possível. Ou seja, arma de fogo deve estar junto ao corpo
do policial já que ele pode ser surpreendido pelo infrator e
deve ter como poder se defender. Neste momento entra em
ação o seu importantíssimo instrumento de trabalho, único
representante que os marginais respeitam em momentos de
extremo estresse. É para isto que precisamos nos preparar
constantemente para que talvez nunca entremos em ação,
mas caso necessário tenhamos condições de responder a
altura.

Como a arma de fogo estará conosco 24 horas por dia, tão


logo tenhamos cumprido nossa função profissional voltamos
ao aconchego do lar junto a nossa família. Como somos
normais, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas,
também temos esposa (o), filho (os) e outros agregados.
Estes nem sempre são do meio policial e pouco entendem
sobre armas de fogo. Podemos dizer, com certeza de que
este instrumento de trabalho traz um atrativo enorme sobre
as pessoas, veja o exemplo de filmes de ação nos cinemas
que estão normalmente com as suas salas lotadas. Os filhos
dos policiais não fogem a regra e acabam ficando fascinados
pela arma de fogo dos seus pais. É um tremendo perigo caso
algumas providências não sejam tomadas pelos pais policiais.

Desde cedo os pais devem ensinar aos filhos que armas de


fogo foram feitas para matar alguém que esteja subvertendo a
ordem e/ou coloca em perigo a vida dos policiais ou de outras
pessoas. Somente quem é policial deve fazer uso de arma
de fogo e os filhos enquanto não entrarem para a instituição
devem ser proibidos de tocar na arma. Mesmo que ela esteja

94 Virei Delegado de Polícia. E agora?


em cima da mesa de jantar, em hipótese nenhuma a mesma
deve ser tocada, retirada, colocada em outro local. O filho
deverá ser ensinado que ao ver a arma em local impróprio
avisará aos pais que tomarão as devidas providências de guar-
dá-la.

Como a arma de fogo é um instrumento de trabalho e serve


para salvar a vida do policial e de terceiros, os cuidados que
devem ser tomados é que quando chegar a casa e se desarmar
ela deverá ir para um local seguro onde haja dificuldade da
criança ter acesso. Ao mesmo tempo, como um paradoxo,
deverá ela ficar em local de fácil acesso pelo policial caso
haja a necessidade de proteger a família na eventualidade
de um marginal conseguir adentrar o seu lar. Nestes casos,
protegendo a sua residência, que chamamos de combate em
ambiente fechado, todo cuidado é pouco já que algum parente
pode acordar e perambular pela casa e ser confundido. Os
treinamentos nos ensinam que devemos atirar naquilo que
estamos vendo e desde que se constitua um perigo para a
nossa vida ou de nossos familiares. É preciso, mesmo com
a adrenalina “a mil” continuar raciocinando antes de efetuar
qualquer disparo. Pense na legítima defesa e se o fato pre-
sente se enquadra nele.

Se for possível fazer um treinamento quando estiver na zona


rural, em local seguro para efetuar disparos e a família estiver
presente, ensine os filhos o perigo que é o uso de uma arma
de fogo por pessoas sem um conhecimento específico nesta
área. O barulho do estampido é muito alto bem como o estrago
que um projétil causa ao atingir determinado objeto. Os filhos
irão entender que este não é um brinquedo para crianças e
quando estes receberem amigos da mesma idade não irão

Virei Delegado de Polícia. E agora? 95


permitir que os mesmos também coloquem a mão neste
equipamento de trabalho do pai.

Muitos acidentes já aconteceram dentro de casas de policiais


pelo manuseio incorreto destas armas vitimando pessoas. Isto
trará um enorme arrependimento por parte dos profissionais
que não fizeram a sua lição de casa que seria o de ensinar os
filhos do perigo que é o uso desta. Estes devem ser sempre
lembrados que não podem mexer na arma em hipótese
nenhuma e não deixar que seus amigos o façam caso a arma
esteja em local visível e de fácil acesso. O melhor é deixá-la
em local que somente os pais possam ter com ela contato no
momento em que saem para o trabalho ou quando chegam.

O fato ocorrido recentemente com o menor Marcelo Pesseghini


de 13 anos em São Paulo, onde possivelmente teria matado
os pais policiais e mais duas parentas e depois se suicidado
nos dão a certeza do acerto destas orientações que devem
estar frescas nas mentes de nossos colegas. Todo cuidado é
pouco quando tratamos de armas de fogo que foram feitas
exclusivamente para matar, desde que esteja dentro da lei.
Ela não pode estar nas mãos de curiosos, amigos, crianças ou
de quem quer que seja que não o policial para que acidentes
não venham a acontecer.

96 Virei Delegado de Polícia. E agora?


17. PORTE DE ARMA PARA
POLICIAL FEMININA
Uma das grandes dificuldades que o policial iniciante
enfrenta é onde transportar a sua arma diariamente. Para
tanto começará a usá-la da mesma forma que os “antigões”
no saque frontal direito para o destro e o canhoto do lado
contrário, sendo a arma colocada entre o cinto/calça e o
corpo, podendo ou não utilizar um coldre macio. No início,
se sentirá incomodado com aquele equipamento pesado
e rústico lhe machucando o corpo, e tão logo seja possível,
o mesmo será retirado e colocado dentro de uma gaveta, e
ali ficará guardado até que tenha de novamente recolocá-lo
em seu devido lugar. Assim se passarão alguns dias até que
a sua arma começará a lhe fazer falta quando não estiver
consigo. Colocará a mão na cintura por cima da camisa e
um importante equipamento de trabalho não estará no local,

Virei Delegado de Polícia. E agora? 97


ficará incomodado e imediatamente a encontrará, acariciará
e com todo cuidado a mesma ocupará o seu espaço preferido
enquanto o policial continua trabalhando em sua atividade,
seja ela operacional ou mesmo administrativa.

Sentirá-se muito melhor ao lado de sua eterna companheira daí


por diante até o término de sua carreira policial. Aposentado,
ainda assim verificará que será impossível a separação e
manterá os mesmos hábitos de quando estava na ativa. Esta
velha companheira lhe acompanhará pelo resto de sua vida
após a entrada na Polícia Civil.

Alguns policiais no início da carreira acabam não se


acomodando com a arma na cintura e optam por uma
“pochete” que incomoda muito menos. Atualmente é difícil
vermos algum policial portando esta peça para guardar a sua
arma, mas que era muito comum antigamente e inclusive
dava para “sacar” de longe quem era um policial. Hoje está
em desuso e os policiais mais novos optam pelo uso mais
prático que é trazê-la na cintura.

No entanto temos hoje uma grande parte do efetivo de


policiais femininas e aí reside o problema. Como elas devem
transportar as suas armas? No corpo como os homens ou
dentro das bolsas inseparáveis delas?

Como sempre advogamos que a arma de fogo deve estar


junto ao policial vinte e quatro horas por dia, estando a
mesma na bolsa que está com a mulher neste período a
mesma atenderia a estes requisitos. Não é mesmo? Sim, este
requisito de estar constantemente perto da arma é básico
quando falamos de segurança pessoal. Arma não foi feita
para ficar dentro do carro e neste no porta-luvas, embaixo do

98 Virei Delegado de Polícia. E agora?


banco, porta-malas ou em casa trancada em um cofre. Ela
deve estar disponível e à mão quando de repente se precisar
dela. Ocorrência como um roubo não avisa quando ocorrerá,
surge de repente e assim o acesso a sua arma deverá ser
o mais rápido possível. É um momento de grande estresse
onde a adrenalina toma conta do corpo e dependendo da
reação de cada um dos policiais o mesmo tomará uma
atitude. Se continuar pensando e raciocinando verificará que
sua arma está na cintura, com fácil acesso e ainda dá tempo
para o saque antes que seja abordado. Desta forma poderá
sobreviver a um ataque revertendo a surpresa para o outro
lado. Se a tensão tomar conta do policial a adrenalina não o
deixará pensar e se esquecerá que está armado e se tornará
uma presa fácil. Desta forma, treinamento é fundamental e
de preferência com muita pressão para que o policial entenda
como a sua consciência funciona quando é submetido a um
estresse enorme e assim ainda continuar pensando no que
fará de acordo com o que treinou.

Quando trazemos a arma na cintura ela estará conosco a todo


o momento independente onde estejamos. Fará parte ela de
uma extensão de nosso corpo e se tornará então normal e
natural você portá-la em qualquer situação seja ela profissional
ou social. O problema é quando a mesma é acondicionada
em uma “pochete” ou bolsa feminina. Neste momento não
atenderia o segundo requisito que é o de estar em local de
fácil acesso e saque.

Imagine um ladrão que irá abordar uma pessoa que está


com uma “pochete” ou uma bolsa. Será o primeiro objeto a
ser retirado após ter-lhe apontado uma arma. Sua arma está
sendo puxada pelo ladrão dentro de um dos dois locais onde
está acomodada e o policial percebe a dificuldade que se

Virei Delegado de Polícia. E agora? 99


encontra já que ao ser a mesma descoberta a possibilidade
de que venha a receber um disparo será grande. O ladrão não
irá querer deixar uma vítima/testemunha viva já que sofrerá
retaliações se for descoberta a sua identidade. Não existe a
possibilidade de sacar a arma imediatamente ao avistar o
perigo e a sua arma está sendo levada e pouco se pode fazer
para impedir tal ação. Por isto a recomendação de que arma
esteja na cintura ou se for o caso de uma arma “back up”
normalmente de dimensões menores no coldre de perna.

No caso das policiais femininas estas têm uma compleição


física normalmente mais delicada além de utilizarem
vestimentas que podem incompatibilizar o uso da arma na
cintura. Não havendo a possibilidade de utilizar a arma da
melhor forma possível conhecida até os dias de hoje, que
é o porte frontal na cintura, é até possível acomodar seu
equipamento de segurança em uma bolsa, apesar de não ser
de todo recomendável.

Mas, fazer o quê! Vamos lá. Como a bolsa feminina, isto de


forma universal, é utilizada para carregar, não sei para quê,
tantos e tantos objetos, caso uma arma seja colocada no
interior de uma e no caso de necessitar de seu uso, dificilmente
alguém conseguirá encontrá-la na velocidade que se precisa.
A mesma se misturará com batons, escovas, brilhos, laquês,
shampoos etc etc dificultando e impossibilitando o seu saque.
Para melhorar o desempenho do saque, o que deve ser também
objeto de treinamento com ele sendo feito em diversas situações
de perigo a bolsa deverá passar por algumas modificações e
assim poder ser utilizada com alguma eficiência.

O Policial Federal Humberto Wendling, Agente e Professor de


Armamento e Tiro lotado na Delegacia de Polícia Federal de

100 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Uberlândia/MG – comunidadepolicial.blogspot.com – trata com
maestria esta questão e de quem extrai a maioria das ideias deste
artigo e que passo a reproduzir para conhecimento de todos:

“De qualquer modo, você precisa de um coldre


(de couro rígido ou cordura), mesmo que tenha
escolhido uma arma pequena como a Glock 26.
Você precisa de um coldre que proteja o gatilho e
impeça que uma caneta, um batom, suas chaves ou
seu próprio dedo pressione o gatilho e provoque um
disparo acidental. Obviamente, bolsas femininas
não foram projetadas para o porte de armas de
fogo e, de modo geral, a maioria delas não possui
apenas um grande compartimento no qual ficam
todos os objetos. Nessa configuração, ou seja, sem
um adequado, a arma representa apenas mais
um objeto perdido dentro da bolsa e cujo acesso
e empunhadura estão fora de questão na maioria
dos casos. Sua bolsa precisa de um lugar específico
para a arma. Este local pode ser o próprio coldre,
desde que ele fique preso à estrutura interna da
bolsa numa posição ergonômica e adequado ao
saque. Ao prender o coldre à parte interna da bolsa,
toda a estrutura interna deve ser bem reforçada
para impedir que a arma se incline devido ao peso
e dificulte e empunhadura e o saque em situações
de estresse. Um coldre dedicado mantém a arma
sempre na mesma posição, com o cano apontado
para uma direção conhecida e com a empunhadura
disponível de forma natural. Assim, você não
precisa vasculhar o interior da sua bolsa a procura
da arma no momento em que sua atenção deve
estar voltada para a ameaça que se aproxima”.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 101


18. USO DO DISTINTIVO
POLICIAL
O policial civil na grande maioria do seu tempo de trabalho
estará em vestes civis já que a sua atividade principal é o de
investigação. As roupas, ditas operacionais, calça tática, cinto
de perna ou de cintura lateral, coldre externo, bota e colete
balístico é quando uma ocorrência está se aproximando do
fim após meses de intensos trabalhos e haja a necessidade de
se cumprir um mandado de prisão ou de busca e apreensão.

Invariavelmente, a primeira veste aqui mencionada, será


o usual durante praticamente todo o tempo de trabalho do
Investigador de Polícia. Ocorrendo algum delito na sua área de
atuação, conforme prevê o art. 6 do CPP, este policial deverá
comparecer e ali iniciar o seu trabalho fazendo todos os
levantamentos necessários, tentando desta forma descobrir

102 Virei Delegado de Polícia. E agora?


como o crime foi cometido, quando, porque, onde, quem foi
o autor e a vítima. Normalmente neste local estarão policiais
civis e/ou de outras corporações no local, que possivelmente
estará ou pelo menos deveria estar isolado.

É onde exatamente começam as apurações e muita coisa


pode ser ouvida, dita por populares, testemunhas, curiosos,
vizinhos. O policial em trajes civis estará circulando pelas
imediações e assim tentando conseguir carrear para os autos
de inquérito policial o maior número possível de informações.
Normalmente estarão presentes no local do crime o Delegado
de Polícia, Investigador de Polícia e o Perito Criminal no caso da
Polícia Civil. Os militares que normalmente são os primeiros a
serem acionados são os responsáveis iniciais pelo isolamento
do local do crime e pelas primeiras informações sobre o que
aconteceu. Além do grande número de curiosos também
outros profissionais podem estar presentes como cinegrafistas
e repórteres dos mais variados meios de comunicação.

Assim fica difícil, dependendo do local e principalmente da


importância social da vítima ou autor do crime, pelo acúmulo
de pessoas, diferenciar quem é ou não policial. Para que o
policial civil possa se distinguir daquela multidão, dependendo
do caso, e a fim de se identificar aos demais colegas que estão
trabalhando no local, utilizar o DISTINTIVO POLICIAL.

Temos então duas opções: uma é a própria identidade


funcional que fica dentro de uma carteira própria contendo o
brasão do estado e com os dizeres: DELEGADO DE POLÍCIA ou
quaisquer uma das outras atividades desta corporação. Esta
carteira permite que seja colocada no bolso externo dianteiro
do paletó com a carteira para dentro e o brasão do lado de

Virei Delegado de Polícia. E agora? 103


fora. Não estando o policial civil com o paletó a carteira será
colocada no cinto e o brasão do lado de fora identificará desta
forma o profissional que ali está trabalhando.

Outro tipo de distintivo é o brasão que vem em outro formato


sendo o mesmo acompanhado por uma corrente e é colocado
no pescoço ficando a vista bem no peito do policial. Este é visto
instantaneamente por quem estive de frente para o policial e
retira qualquer dúvida que porventura possa existir quanto a
ação que estiver sendo desenvolvida no momento.

É uma forma bastante eficiente de se identificar onde várias


pessoas estão circulando e assim não ser confundido com
populares que apenas estão curiosos em saber o que está
acontecendo. Outros policiais que ali estão trabalhando no caso
poderão visualizar rapidamente a Autoridade Policial ou um de
seus agentes e não haver nenhum tipo de constrangimento
como a entrada destinada somente a policiais e este que
estiver trabalhando ser barrado e evitando maiores confusões.

É evidente que se o policial estiver circulando no meio dos


curiosos, ouvindo os comentários sobre aquele crime cometido
na comunidade, deverá estar sem esta identificação e assim
facilitando ouvir alguma coisa que lhe interessará em suas
investigações.

É importante que o policial civil entenda que ao ser abordado


em uma blitz de trânsito efetuada pela PM, estando em
uma viatura descaracterizada ou mesmo em seu particular,
terá a obrigação legal de apresentar a documentação do
veículo bem como a pessoal como a carteira de motorista.
No caso do primeiro veículo, descaracterizado, além das

104 Virei Delegado de Polícia. E agora?


documentações acima, a sua identificação policial para que
não se paire nenhuma dúvida com relação ao condutor da
viatura policial. Sendo os agentes encarregados da aplicação
da lei, deveremos também ser os primeiros a respeitá-las.
Assim nossa documentação deverá estar em dia com o que
reza a legislação.
24/02/23
Quando a equipe está circulando de carro descaracterizado
por alguma rua da cidade e existir a necessidade de fazer
a abordagem a algum veículo ou pessoa, alguns cuidados
devem ser tomados. Como os policiais estão todos em trajes
civis e a viatura não anuncia que são da instituição, podem
perfeitamente ser confundidos com marginais que irão atacar
alguém ou algum comércio.

Normalmente não haverá tempo para colocação do colete


balístico ou qualquer outra identificação, sendo que o ideal
é que os coletes balísticos estivessem próximos e pudessem
ser utilizados. Não o podendo, o distintivo seria o modo mais
prático de se identificar. O mesmo pode ser utilizado com o
brasão da carteira policial ou então aquele que vem junto com
uma corrente no pescoço. Este pode ser dissimulado por dentro
da camisa e facilmente ser colocado a mostra em momentos
de ação. Quem estiver presenciando a abordagem, caso seja
um policial, em hipótese nenhuma fará um disparo a quem
se apresenta como representante da lei. É um equipamento
bastante simples, barato e que pode salvar a vida de colegas.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 105


19. CINTO DE SEGURANÇA
NA VIATURA POLICIAL
Em algumas oportunidades, a mídia através de reportagens,
questiona acerca do uso do cinto de segurança pelos mais
diversos tipos de profissionais que utilizam o carro como
instrumento de trabalho. Entre estes, estão inseridos os
policiais em seus veículos caracterizados, portanto no
momento de seu trabalho diuturno.

As respostas, principalmente deste segmento profissional,


policiais, são as mais disparatadas possíveis e não conseguem
convencer nem mesmo a eles. Um dos argumentos utilizados
é de que como o profissional está a trabalho, não pode ficar
preso ao cinto. Utilizam este argumento, mas eles mesmos
não acreditam no que estão dizendo. Como é que é isto? O
cinto irá me impedir de ter uma reação rápida caso eu seja

106 Virei Delegado de Polícia. E agora?


atacado? Seria isto o que ele gostaria de dizer? Vamos supor
que sim. Os policiais, pela própria atividade, de risco, com
certeza devem sempre estar atentos no veículo policial ou no
seu particular. No entanto, isto nada tem a ver a não usar o
cinto. Este é uma medida protetiva, é um dispositivo de defesa
dos ocupantes de um meio de transporte.

A finalidade do cinto de segurança é para que no caso de


uma colisão o seu ocupante não seja lançado para fora do
habitáculo, e nem que este bata a cabeça contra as partes
do veículo como o para-brisa. Ou seja, se o veículo sofrer um
impacto, o cinto não irá permitir que as pessoas no interior
do mesmo, sofram uma segunda colisão contra a estrutura,
como bancos dianteiros, para-brisa ou do lado de fora em uma
pedra, muro, poste etc.

Mas voltemos aos policiais. Criou-se um mito de que o cinto


de segurança é um empecilho ao seu trabalho, pois o mesmo
deverá estar com seus movimentos liberados para agir mais
rapidamente em caso de necessidade. No entanto não é isso
o que eu entendo por segurança. Segurança é algo muito
mais importante. Como professor da ACADEPOL/MG e diante
de minha experiência, principalmente no combate a extorsão
mediante sequestro por toda Minas Gerais e outros estados,
onde percorríamos enormes distâncias em cada um dos
casos, posso assegurar que a preocupação primordial é que
antes de agirmos devemos estar em segurança. Nos diversos
serviços efetuados pudemos constatar que a possibilidade de
um acidente de trânsito está sempre presente em nosso dia-
a-dia. Em 2003 perdemos três colegas, sendo um Delegado
de Polícia e dois Agentes de Polícia, quando estes a bordo
de um veículo, próximo a cidade de Araxá colidiram de frente

Virei Delegado de Polícia. E agora? 107


com uma carreta. O único sobrevivente sofreu algumas
escoriações e hoje continua firme trabalhando entre nós. Há,
ia me esquecendo, o policial sobrevivente estava afivelado ao
cinto de segurança. Com certeza, você policial deve conhecer
colegas que se envolveram em acidentes de trânsito, e
perderam a vida e ou tiveram ferimentos graves porque não
estavam utilizando um dispositivo de defesa, gratuitamente
colocado a sua disposição.

Vejamos. Quando desconfiamos de um suspeito que esteja


armado, a primeira coisa que devemos fazer é antes da
abordagem estar abrigado, protegido, para que caso ocorra
uma reação, tenhamos condições de responder ao fogo com
segurança. Portanto, se vamos perseguir alguém utilizando
uma viatura policial, a primeira preocupação nossa deverá ser
a de nos protegermos, e isto se faz entre outras coisas com
o cinto de segurança. O uso excessivo de velocidade poderá
fazer com que sejamos envolvidos em um acidente de trânsito,
e se não estivermos utilizando o cinto de segurança, seremos
projetados, pelo menos, contra o para-brisa e perderemos a
consciência ou até mesmo a vida.

Outra preocupação de nossos policiais é que estando com o


cinto afivelado teríamos uma pronta resposta dificultada, o que
também não me convence, já que a arma de porte (Pistola .40)
poderia estar embaixo da perna, e não na cintura onde passa
exatamente o cinto, e naquela situação facilitando o saque.
Estando no coldre, ao se aproximar do local de desembarque
o cinto será desafivelado tendo um fácil acesso a sua arma.
Quanto à arma ofensiva ou longa, o cinto em nada impede
nosso movimento de levar a coronha até o rosto para atirarmos,
se for preciso. Por exemplo, quando atiramos embarcados em

108 Virei Delegado de Polícia. E agora?


aeronaves (helicóptero), estamos devidamente seguros pelos
nós e amarrações, que substituem o cinto de segurança dos
veículos.

Outra, é que como a Polícia Civil trabalha na investigação, todas


as nossas ações são anteriormente planejadas e, portanto,
sabemos onde e como devemos agir, não necessitando de
que andemos sem o cinto de segurança. Mesmo no caso da
Polícia Militar, as mesmas recomendações também devem ser
seguidas, sem nenhum prejuízo para a entrada em combate,
se for o caso, pelos mesmos motivos.

Mais uma contraposição aos que ainda insistem em andar


sem o cinto de segurança afivelado, é que em caso de extrema
necessidade, um simples toque no botão que prende o cinto
e ele se solta imediatamente, não havendo perda de tempo
de reação, por isso que o policial deve estar sempre atento
a todas as situações quando em trânsito para que não seja
apanhado de surpresa. E caso seja, rapidamente poderá agir,
no entanto, se não dá tempo de soltar o cinto também não
terá tempo de sacar a sua arma. Posso afirmar ainda que se
o policial se acostumar a andar com o cinto de segurança,
facilmente acostumará também a retirá-lo de forma rápida.

Um problema quase idêntico, ainda hoje, depois de tantos e


tantos acidentes é a dificuldade de fazer com que o policial civil
utilize o colete balístico, em suas operações policiais apesar
de ser ensinado exaustivamente nas aulas de TAP – Técnicas
de Ação Policial em nossa academia. O policial pensa que é
um super-homem, até o dia em que é atingido, que o diga
o subscritor deste texto. O que estamos vendo atualmente
nas operações desta instituição, é que a grande maioria dos

Virei Delegado de Polícia. E agora? 109


colegas começou a perceber a importância deste importante
instrumento de trabalho e o estão utilizando.

Esta conscientização (colete balístico e cinto de segurança)


deveria estar presente em todos estes profissionais, que
tratam especificamente com a segurança da sociedade, mas
se esquecem de sua própria, até o dia que se envolvem em
um acidente de trânsito, e aí, caso sobrevivam, terão o resto
da vida para se lamentar.

Portanto, não vejo e não conheço nenhum argumento que


possa me convencer de que o policial não deva utilizar o cinto
de segurança, não só os que transitam na frente, como os
que também estão do banco traseiro. Evidentemente, quando
estivermos para desembarcar ou, ainda que não seja nossa
atividade precípua, no caso da Polícia Civil, patrulhando,
portanto em baixa velocidade e prontos para desembarcar em
alguma “zona quente”, poderíamos deixar de usar o cinto de
segurança, mas friso, essa seria a exceção. Quantos policiais
já perdemos em um confronto por estarem “presos” ao cinto?
Não há nenhum relato em nosso estado a esse respeito. E
quantos se foram por não terem tomado um cuidado mínimo
de afivelarem-se ao cinto? Diversos. Conforme estatística
da rede de Hospitais SARAH, especializado em atendimento
neste tipo de ocorrência, sete de cada dez pessoas que
chegam aquele hospital e viajavam no banco traseiro sem
cinto sofreram LESÃO MEDULAR no acidente em que foram
vítimas. Imagine os que estavam na frente.

Não devemos esquecer que o Código de Trânsito Brasileiro


exige em seus artigos 65 e 167 o cinto de segurança, tanto
para o condutor quanto passageiros, e os policiais não são

110 Virei Delegado de Polícia. E agora?


diferentes de nenhum outro motorista. Eles também têm
a obrigação de seguir a legislação vigente em nosso país. A
mesma norma serve para quando estamos em nossos veículos
particulares e transportando a família. Um motivo mais do que
suficiente para seguirmos a legislação e obrigarmos a família
a fazer o mesmo. As crianças, principalmente, irão crescer
com esta consciência e evitaremos no futuro, quando estes se
tornarem motoristas, um sem número de acidentes de trânsito
com vítimas fatais. PENSE NISTO.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 111


20. CARACTERÍSTICAS ENTRE
GRUPOS DE POLICIAIS
Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia, texto adaptado
do livro: Profissão Perigo: o policial e o confronto armado.
SANDES, Wilquerson Felizardo, Editora CRV. (Págs. 35-37).

É comum que os profissionais de polícia sejam vistos


pela sociedade como semelhantes entre si nos seus
comportamentos. No entanto, a realidade é diferente para
quem está dentro dela e onde podemos dividir em algumas
subcategorias. Exatamente nesta divisão é que iremos
destacar aqueles que são os policiais que irão se envolver no
uso da força letal. A intenção é tratarmos sobre o confronto
armado em uma pesquisa que faremos em breve sobre o
assunto e este seria apenas um preâmbulo.

112 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Na formação das equipes, normalmente são escolhidos
aqueles que possuem algumas características semelhantes
ou que se completam com a finalidade de executar os servi-
ços de sua unidade policial.

Podemos dividir os policiais entre: operacional, sugador,


alterado, treteiro, administrativo, cansado e o zero um.

OPERACIONAL: é o sonho de todos os que entram na


polícia ou pelo menos a grande maioria já que conhecem a
instituição porque ouviram falar ou pelos filmes de ação e
investigação que assistiram. A realidade é bem diferente. Os
policiais considerados operacionais são os mais admirados,
gostam do que fazem, procuram pelo trabalho perigoso, muita
coragem pessoal e usam da força legal na consecução de seus
objetivos. É o ideal de toda Polícia Civil e quando necessário
apresenta disposição para enfrentar o marginal. Preferem
companheiros com o mesmo perfil, mas, conseguem interagir
com os: alterados, cansados, adm.

SUGADOR: policiais que arrumaram uma profissão policial,


mas, que, no entanto, poderiam ser um caixa de banco,
vendedor ou qualquer outra coisa para continuar a sua vida
tranquila. São aqueles que se estiverem numa ação policial
irão preferir tomar conta das viaturas a se envolver na prisão
ou troca de tiros com alguém. Preferem passar em branco,
ou seja, não se envolver em confusão nenhuma e conseguir
se aposentar sem nunca ter dado voz de prisão a quem quer
que seja e muito menos se envolver com a “corró”. Como
são rejeitados pelos companheiros, aceitam trabalhar com
qualquer equipe que os aceite.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 113


ALTERADO: normalmente são operacionais, não tem controle
sobre suas emoções e se perdem facilmente em meio a
violência em que estão envolvidos na profissão. Os seus
problemas pessoais dizem respeito diretamente em suas
ações e podem interferir diretamente nas operações policiais
onde são descontadas todas as suas frustrações. Nas suas
atividades operacionais podem estragar toda a operação com
uma atitude inusitada como agredir alguém que já está sob
domínio. Normalmente é um inquilino da “corró” seguidas
vezes sendo, portanto, preterido nas promoções o que o
desestimula a continuar a trabalhar.

CANSADO: não se sente prestigiado em sua atividade e por


isto fica desmotivado. Preferem trabalhar em locais onde a
sua profissão não lhe exijam nenhum tipo de confronto, em
locais mais tranquilos, podendo fazer parte da equipe dos
operacionais sem nenhum brilho em sua atividade profissional.

TRETEIRO: uma gíria muito comum utilizada e se refere ao


policial envolvido em extorquir a comunidade. Estes são os
piores policiais já que denigrem toda a instituição e pouco
produzem para a sociedade, evitando qualquer ação policial
que não lhes dê um retorno financeiro. Costumam ser
contaminados pelos colegas ou já entraram para a polícia
pensando em levar vantagem a qualquer custo. Os colegas
de profissão mesmo sabendo deste tipo de pessoa, convivem
com o mesmo e fazem “vista grossa”. É olhado com muita
reserva pelos outros colegas, apesar de conseguir trabalhar
com todos. Quem não coaduna com o seu modo de viver e
trabalhar, normalmente pede para que o mesmo seja trocado
de equipe sem, no entanto, esclarecer o motivo pelo qual quer
a substituição do mesmo. Na polícia, o “dedo-duro” não é

114 Virei Delegado de Polícia. E agora?


bem visto, mesmo que seja para depuração dentro da própria
instituição. O policial inexperiente, caso venha a trabalhar com
este poderá vir a ser contaminado e portanto, deverá estar
sempre sob a vigilância de alguém superior hierárquico.

ADM: significa administrativo, ou seja, não é o mesmo talhado


para o que se chama de serviço operacional, aquele que
enfrenta a ocorrência de confronto armado. O “adm” tem o seu
lugar na polícia já que a instituição por mais operacional que
seja a unidade policial em que esteja lotado, sempre haverá
um local onde possa prestar seus serviços e que podem ser
inclusive de muita utilidade para a equipe que estiver na
rua diuturnamente. Não é aconselhável que o “adm” seja
escalado para um serviço onde haja possibilidade de um
confronto armado, já que pode não responder a altura dos
acontecimentos e colocar-se em perigo ou deixar a equipe em
situação difícil. Nem todos que estejam na parte administrativa
de uma unidade policial podem ser considerados um “adm”
na acepção do termo, podem estar “quebrando um galho”
temporariamente até que retornem para o local onde gostariam
de estar.

ZERO UM: mentalmente transtornado, ou “quase louco”. O


código na polícia é utilizado com este número e o policial é
aquele que tem um comportamento imprevisível trazendo
sérias consequências em sua vida profissional, aos
companheiros e pessoas envolvidas nas ocorrências onde se
faz presente. Pode também estar envolvido com drogas ou
álcool. Normalmente são afastados dos serviços de rua e não
confiáveis necessitando de um acompanhamento médico/
psicológico de muito perto.

Virei Delegado de Polícia. E agora? 115


21. BIBLIOGRAFIA
Adaptado da revistapegn.globo.com – 10 dicas para atender
bem os clientes difíceis – 24/07/2014.

Ana Guimarães, especialista em recrutamento para o mercado


financeiro e extraído do site: www.empregoecarreira.com em
15/10/2011.

COSTA, COSTA, Elson Matos da, Marco Aurelio Matos da.


Investigação na Extorsão Mediante Sequestro: procedimentos
policiais. 1ª ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2011.

COSTA, Elson Matos da. VIOLÊNCIA URBANA: Como se defender


– 1ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora Livre Expressão,
2011.

116 Virei Delegado de Polícia. E agora?


Dicas para ser um bom chefe – Livre adaptação de WiK How.

Informações úteis aos policiais – Recebido via e-mail, sem


autoria.

Lauro Jardim da Revista EXAME – www.exame.abril.com.br em


15/10/2011.

SANDES, Wilquerson Felizardo. Profissão Perigo: o policial e o


confronto armado. Editora CRV. (Págs. 35-37).

VIREI CHEFE. E AGORA? James Citrin e Thomas Neff, Editora


Negócio (www.campus.com.br).

Virei Delegado de Polícia. E agora? 117


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