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Processo Administrativo de Trânsito Prático com


Erica Avallone Lima

Introdução
Se você ainda está na faculdade, já é advogado ou tem interesse em trabalhar com no
Mercado de Trânsito, pode ter certeza que este curso, bem como esse material será
muito útil para você, afinal, quantos especialistas você conhece trabalhando nesta área?

O objetivo do meu curso é capacitar o profissional para atuar com excelência na defesa
de motoristas e proprietários de veículos, dominando a prática do Processo
Administrativo de Trânsito, que também serve para as estratégias, teses de defesa das
ações judiciais.

Eu quero que você entenda efetivamente como defender o motorista, afinal de contas,
existem muitos profissionais desqualificados e desonestos trabalhando com
"modelinhos" de internet.

Eu quero frisar que nós, especialistas comprometidos e sérios, também usamos


modelos. Na verdade, um banco de modelos, mas que usamos somente para otimizar o
tempo, já que cada caso é único e precisa ser tratado como tal.

Para atuar com no Mercado de Trânsito, o profissional deve estar preparado para trazer
um resultado satisfatório ao motorista e/ou ao proprietário de veículo automotor. Eu
digo resultado satisfatório, para que você tenha em mente que você DEVE fazer o que
estiver ao seu alcance para ajudar o seu cliente, já que não podemos, em hipótese
alguma, prometer o êxito, já que nossa atividade é de meio e não de fim. Estude e
aprenda. Com responsabilidade ética o resultado vem.

E pensando em te ajudar de forma prática, trazendo os conteúdos mais relevantes para


iniciar a atuação no Mercado de Trânsito, eu preparei este manual prático, que ainda te
ensina como você vai conseguir os seus primeiros clientes.

E porque eu ensino a “iniciar a atuação”? Por que ao longo do tempo, você vai sentir
necessidade de se aprofundar cada vez mais e buscar mais conteúdo de qualidade para
defender os seus clientes.

Fique tranquilo(a), eu vou estar aqui para te ajudar, SEMPRE!

O Direito de Trânsito é complexo e uma defesa mal feita pode prejudicar muito o
motorista que não é defendido da maneira correta.

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Para trabalhar com no Mercado de Trânsito é preciso que você conheça o Código de
Trânsito Brasileiro, as Resoluções do CONTRAN, uma Portaria da SENATRAN, o Manual
Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, legislação complementar e ter noções de Direito
Administrativo e Constitucional.

Mas fique calmo(a)! Mesmo que você não seja formado em direito, eu vou ensinar tudo
que você precisa para poder defender o motorista da melhor forma possível.

Imagine um caminhoneiro que tem o direito de dirigir suspenso, ele pode perder o
emprego e não ter mais como sustentar sua família! Então, é preciso que ele seja
defendido da maneira correta, seguindo os trâmites do processo administrativo e
sempre com base na legislação. Viu como é sério?!

Então eu estou aqui para te ajudar a ajudar esse motorista e, claro, sendo muito bem
remunerado para isso.

Espero que vocês gostem do estudo, pois o que eu tentei fazer foi unir a teoria e prática,
para que a absorção do conteúdo seja melhor para todos.

Bem vindos ao Mercado de Trânsito! Bora faturar muito?! Vem comigo, que estamos
juntos nessa.

Noções de Direito Administrativo e Constitucional


Todo e qualquer cidadão que está sendo acusado de alguma penalidade tem o direito
de se defender.

Pense em alguém que comete um crime. Essa pessoa não será imediatamente
sentenciada após cometer o crime.

Ela terá que passar por um processo, que vai analisar o fato, sua versão dos fatos, as
provas, para depois, ao final, ser proferida uma decisão que condenará ou absolverá
essa pessoa.

Tendo essa máxima em mente, podemos concluir que no processo administrativo de


trânsito não é diferente, pois também estamos diante de aplicação de penalidades,
como veremos a seguir.

E, assim sendo, aquele que está prestes a ser punido, mesmo que administrativamente,
também tem direito de se defender.

Em outras palavras, trazendo essa conceituação para nossa realidade, o motorista que
foi autuado ou que já está recebendo uma penalidade, tem o direito de ter ciência da
infração/penalidade que ele, supostamente, cometeu e, então, ter a oportunidade de

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apresentar suas justificativas, ou seja, contradizer o que foi a ele imputado. É o direito
de resposta.

Isso garante que seja dado um tratamento isonômico (igual) em relação ao acusador,
que nesse caso é o Estado, através dos órgãos de trânsito municipais, estaduais e
federais e entre aquele que está sendo acusado, ou seja, o seu cliente.

Os Princípios Constitucionais, ou seja, aqueles previstos na nossa Constituição Federal,


que garantem o direito de resposta/defesa ao acusado, são os princípios do
contraditório e da ampla defesa.

O contraditório é o direito de contradizer, enquanto o da ampla defesa diz que o


acusado pode se defender usando todos os meios de defesa em direito admitidos.

Além desses princípios constitucionais aplicáveis ao direito de trânsito, você também


precisa ter conhecimento dos princípios da Administração Pública, quais sejam:
Legalidade, impessoalidade, moralidade, da publicidade e eficiência.

Vou falar rapidamente cada um deles, mas não precisam se apegar muito a eles, é mais
para que vocês tenham conhecimento.

O da legalidade impõe à administração pública o dever de sempre observar a lei, ou


seja, suas ações devem estar intimamente ligadas com o que a lei determina. Se a lei
não for observada, o ato administrativo será nulo.

O princípio da impessoalidade prega que o agir da administração pública deve ser


voltado para satisfazer o interesse público. Não pode haver nenhum ato motivado pela
vontade pessoal do agente. Isso porque, deve-se ter em mente que quem pratica o ato
é a administração pública, mesmo que ele aconteça pelas mãos de um agente de
trânsito, por exemplo.

O da moralidade implica dizer que a administração deve praticar atos morais, éticos,
honestos e condizentes com o interesse público.

O princípio da publicidade veda que a administração pública atue as escondidas. Por


isso existe o dever de informar os seus atos e prestar contas de sua atuação.

Por fim, o princípio da eficiência prega que a atuação da administração pública deve
visar a rapidez. Veda o descaso, a omissão e a negligência por parte dos agentes.

Eu quis dar uma pequena pincelada nesses princípios, pois é importante que você os
conheça, porém, no direito de trânsito usamos com mais frequência os princípios da
legalidade, do contraditório e da ampla defesa.

Para esses, vale a pena dedicar um tempo a uma boa leitura doutrinária específica, se
você tiver interesse.

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Além desses princípios, no direito de trânsito é muito comum usarmos o princípio da
motivação. Por ele, a administração fica obrigada a justificar seus atos, apresentando as
razões que a fizeram decidir daquela maneira, levando ao conhecimento dos
administrados (nós) as razões de direito que a levaram a proceder/agir/decidir daquele
modo.

Conforme a leitura deste material for seguindo, você vai entender a necessidade de
compreender esses princípios. Mas não se preocupe, estou aqui para te ajudar!

Caso a Administração Pública descumpra ou não aplique qualquer um desses princípios


quando estamos diante de um processo administrativo de trânsito, haverá a nulidade
do ato administrativo como veremos a seguir.

Então, conhecendo esses princípios e sabendo quando eles devem ser aplicados e não
o foram, mesmo sem entrar no mérito de um processo administrativo (multa ou
processo administrativo de suspensão/cassação da CNH) podemos anular o ato
administrativo.

No caso do direito de trânsito, as penalidades são comunicadas aos motoristas ou


proprietários de veículos por meio de uma carta, conhecida como notificação (depois
detalharemos todas elas).

Vamos ao caso prático:

Como dito, para aplicação de qualquer penalidade, é necessário que o acusado tenha
ciência formal do que lhe está sendo imputado, ou seja, é necessário que ele receba
uma notificação para, a partir de então, exercer o direito constitucional de se defender.

Se o motorista te procura e diz que está com uma penalidade de suspensão do direito
de dirigir, mas que nunca foi notificado, temos um ato NULO, ou seja, depois de
averiguar se o que o cliente disse é verdade – vamos falar sobre isso depois – você pode
alegar em sua defesa, nulidade do ato administrativo por violação aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, já que não foi dado a ele a oportunidade de se
defender.

Trabalhando com o direito de trânsito, pude perceber que nem sempre que o que o
cliente fala é a verdade. Na realidade ele fala o que é mais conveniente para ele.

No caso da ausência de notificação, muita coisa pode acontecer. Por isso, é


indispensável que você vá até o órgão autuador, peça cópia integral do processo
administrativo da penalidade em questão e analise tudo, inclusive o envio das
notificações.

Pode ser que o cliente tenha mudado de endereço e não o tenha atualizado nos
cadastros do DETRAN, pode ser que o correio tenha entregado no lugar errado e por
isso, ele não tenha sido notificado, enfim. Muita coisa pode acontecer.
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Se você não estiver seguro que realmente não houve expedição/postagem de
notificação, sua tese da nulidade por ausência de notificação pode cair por terra, pois,
como dito, é preciso que você tenha PROVAS do que vai alegar. Mas fique tranquilo,
teremos um capítulo próprio para falar sobre as notificações.

Isso porque, ouvindo somente o acusador, qual seja, o órgão de trânsito autuador,
estaria a administração pública ferindo, além daqueles, ao Princípio da Isonomia.

É importante você saber que a defesa técnica, pode ser elaborada por profissional
legalmente habilitado com capacidade postulatória, no caso, os advogados.

Mas quando falamos de defesas em processo administrativo de trânsito (defesa da


autuação e recursos de 1ª e 2ª instâncias) o próprio acusado/infrator pode se defender
ou delegar o exercício do seu direito de defesa por meio de procuração. E, neste caso, o
procurador não precisa ser advogado.

Somente se ultrapassar a seara administrativa, ou seja, caso de prazo expirado, desde


que não caiba autotutela, por exemplo, é que o acusado/infrator, deverá procurar um
advogado.

Nas suas ações de marketing estratégico, é importante que você deixe claro para os
prospects (que são possíveis clientes) que para que a defesa do motorista infrator seja
feita com excelência e as chances de êxito aumentem é necessário que a defesa seja
feita por um “especialista”, um profissional “qualificado”, “especializado”.

E é aqui que você – PROFISSIONAL DO DIREITO DE TRÂNSITO – entra na defesa do


motorista e proprietários de veículos. Cobrando honorários que você nunca imaginou
cobrar e, o melhor, recebendo no ato da assinatura do contrato.

Também trataremos desse assunto em um próximo capítulo. E eu vou te ensinar a se


posicionar dessa forma. Para que o prospect te veja como autoridade no assunto.

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Ato Administrativo

Outro ponto muito importante do direito administrativo e que é extremamente usado


no direito de trânsito é o ato administrativo.

Segundo conceituação de Hely Lopes Meirelles, um grande mestre do Direito


Administrativo, ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da
administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos
administrados.

Posso te dar como exemplo de ato administrativo no direito de trânsito, o auto de


infração, o julgamento dos recursos, a expedição da notificação de instauração de um
processo administrativo de suspensão, entre outros.

Isso quer dizer que, ato administrativo, no direito de trânsito, é o instrumento que
exterioriza a manifestação de vontade da administração pública através dos agentes,
autoridades, entidades e órgãos de trânsito.

Então, para que o ato administrativo seja válido, ele precisa ter um agente capaz, objeto
lícito, forma prescrita ou não defesa em lei, finalidade e motivo. Por isso os requisitos
do ato administrativo são: competência, objeto, forma, finalidade e motivo.

E por que eu estou falando tudo isso pra vocês? Porque se no caso da competência, por
exemplo, o agente não for legitimado, ou seja, se ele não tiver competência para praticar
aquele ato, este será inválido, portanto, passível de anulação.

Vamos falar rapidamente de cada um desses requisitos, para que você se familiarize com
eles e saiba quando alegar vício nos requisitos do ato administrativo.

Para a prática do ato administrativo, a competência é a condição primeira de validade.


Nenhum ato discricionário ou vinculado pode ser realizado validamente sem que o
agente disponha de poder legal para praticá-lo.

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Requisitos do Ato Administrativo:

a) Competência (ou Sujeito)

Assim, competência é ter o agente público competência para a prática de um dado ato
administrativo, que a lei atribuiu.

Competência pode ser definida, então, como a possibilidade ou o dever legal de agir,
atribuído a um dado agente público, para fins de atender à finalidade prevista na lei.

Dito de outro modo, é o conjunto de poderes legalmente atribuídos a um agente


público, por meio dos quais deve-se satisfazer a interesses públicos.

Como somente a lei pode atribuir competências, trata-se de elemento sempre vinculado
dos atos administrativos. Significa dizer: jamais pode haver discricionariedade em
relação ao elemento competência.

Vale anotar que a competência das Polícias Militares para executar a fiscalização do
trânsito decorre de convênio firmado, com agente do órgão ou entidade executivos de
trânsito ou executivos rodoviários, conforme o art. 23, III1 do CTB.

Em outras palavras, a Polícia Militar não pode autuar infrações de trânsito se não houver
convênio firmado com o órgão ou entidade competente, sob pena de nulidade da
autuação.

b) Finalidade

Corresponde ao objetivo que se almeja com a prática do ato. Sempre equivale à


satisfação do interesse público. Todo ato administrativo deve atender a um interesse
público. É inconcebível imaginar que um ato administrativo seja praticado para
satisfazer interesses estritamente privados.

Além disso, a finalidade sempre é aquela explicitamente imposta na lei. A própria leitura
do preceito legal em que se fundamentou o ato evidencia o que se objetiva com a prática
do ato.

Vício de Finalidade: desvio de finalidade (ou desvio de poder) = o agente público até age
dentro de suas competências, mas pratica o ato visando a um fim diverso daquele
previsto em lei.

O ato praticado em desvio de finalidade será um ato nulo.

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III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme convênio firmado, como agente do órgão ou
entidade executivos de trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os demais agentes
credenciados;
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O desvio de finalidade jamais admite convalidação. Atos que incidam nesse vício serão
nulos, insuscetíveis de convalidação.

c) Forma

A forma consiste na maneira pela qual o ato é exteriorizado. Seria o revestimento


externo do ato e todas as formalidades que integram o processo de formação do ato.

Em regra, os atos administrativos devem adotar a forma escrita.

No caso do auto de infração, este DEVE obedecer ao que está previsto no artigo 280 do
Código de Trânsito Brasileiro e no artigo 3° da Resolução 918/22 do CONTRAN, vejam:

Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de


infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros
elementos julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou
equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do
cometimento da infração.
§ 1º (VETADO)
§ 2º A infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do agente
da autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual,
reações químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível,
previamente regulamentado pelo CONTRAN.
§ 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agente de trânsito relatará o
fato à autoridade no próprio auto de infração, informando os dados a respeito do
veículo, além dos constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento previsto no
artigo seguinte.
§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração
poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado
pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua
competência.

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Art. 3º Constatada a infração pela autoridade de trânsito ou por seu agente, ou


ainda comprovada sua ocorrência por aparelho eletrônico ou por equipamento
audiovisual, reações químicas ou qualquer outro meio tecnológico disponível,
previamente regulamentado pelo CONTRAN, será lavrado o AIT, que deverá conter
os dados mínimos definidos pelo art. 280 do CTB e em regulamentação específica.
§ 1º O AIT de que trata o caput poderá ser lavrado pela autoridade de trânsito ou
por seu agente:
I - por anotação em documento próprio;

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II - por registro em talão eletrônico isolado ou acoplado a equipamento de detecção
de infração regulamentado pelo CONTRAN, atendido o procedimento definido pelo
órgão máximo executivo de trânsito da União; ou
III - por registro em sistema eletrônico de processamento de dados, quando a
infração for comprovada por equipamento de detecção provido de registrador de
imagem, regulamentado pelo CONTRAN.
§ 2º O órgão autuador, sempre que possível, deverá imprimir o AIT lavrado nas
formas previstas nos incisos II e III do § 1º para início do processo administrativo
previsto no Capítulo XVIII do CTB, sendo dispensada a assinatura da autoridade ou
de seu agente.
§ 3º O registro da infração, referido no inciso III do § 1º será referendado por
autoridade de trânsito, ou seu agente, que será identificado no AIT.
§ 4º Sempre que possível, o condutor será identificado no momento da lavratura do
AIT.
§ 5º O AIT valerá como NA quando for assinado pelo condutor e este for o
proprietário do veículo ou o principal condutor previamente identificado, desde que
conste a data do término do prazo para a apresentação da defesa da autuação, nos
termos do art. 281-A do CTB.
§ 6º O talão eletrônico previsto no inciso II do § 1º constitui-se de sistema
informatizado (software) instalado em equipamentos preparados para esse fim ou
no próprio sistema de registro de infrações do órgão autuador, na forma
disciplinada pelo órgão máximo executivo de trânsito da União.

São nesses artigos que você deve se basear quando tiver em mãos um auto de infração.
Se seguir essa “receita” ok, o ato administrativo é válido, caso contrário será passível de
anulação.

Vamos estudar esses requisitos mais adiante.

Vício de forma: Em regra, é passível de convalidação, salvo se a forma prevista em lei


constituir elemento essencial à validade do ato.

Exceções: atos verbais (ordens de superior hierárquico a seus subordinados) e gestos,


apitos, sinais luminosos e placas utilizados na ordenação do trânsito.

d) Motivo

São as razões de fato e de direito que impõem ou ao menos autorizam a prática do ato
administrativo. É a causa imediata do ato, fato gerador.

e) Objeto

Esse elemento é o conteúdo material do ato administrativo, correspondendo ao efeito


imediato que o ato irá produzir. Devendo o objeto ser lícito, possível e determinado.

O objeto constitui aquilo que se pode traduzir no conteúdo/matéria do ato. Por meio
dele, a administração manifesta a sua vontade ou trata sobre situações preexistentes.

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Consiste, em outras linhas, na alteração que esse elemento causa no universo jurídico,
que é imediato.

Importante ressaltar, que a COMPETÊNCIA, FINALIDADE E FORMA, são elementos


vinculados, ou seja, não geram margem de escolha para o administrador.

Já o MOTIVO e o OBJETO podem se apresentar de modo vinculado ou discricionário, se


a lei assim estabelecer.

No caso do das multas de trânsito, o auto de infração, que é um ato administrativo, é o


fato gerador da penalidade de multa, sendo assim, este DEVE obedecer a forma prevista
na lei.

Então, aplicando alguns conceitos de ato administrativo ao Direito de Trânsito, imagine


a seguinte situação:

O Código de Trânsito Brasileiro prevê em seu art. 65 que é obrigatório o uso do cinto de
segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional.

Note que a finalidade da norma é a segurança dos ocupantes do veículo (motorista e


passageiros).

O descumprimento desta norma, segundo o art. 167 do CTB é infração de trânsito.

Assim, se “A” dirige sem usar o cinto de segurança, ele deu ensejo (motivo/fato gerador)
a infração prevista no art. 167 do CTB e, sendo flagrado por agente de trânsito, este
deverá lavrar um auto de infração, uma vez que o mesmo é um ato administrativo
vinculado, pois decorre de lei.

Porém, para fazer valer a finalidade da norma, é necessário que haja, segundo o Manual
Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, a retenção do veículo até a colocação do cinto pelo
motorista e/ou passageiros do veículo, já que a finalidade desta norma é a segurança
dos envolvidos.

Se assim não for, teremos um ato nulo, pois não está de acordo com a finalidade da
norma.

Veremos tudo isso mais adiante, quando falarmos das teses de defesa.

Percebeu porque estamos falando tanto dessas questões de direito administrativo?


Porque, se você conseguir, preliminarmente, achar qualquer violação dos princípios
administrativos ou descumprimento dos requisitos no ato administrativo, que no nosso
caso é o auto de infração, você já terá um ato nulo mesmo sem entrar no mérito da
questão.

Sem adentrar muito nas questões de direito administrativo, um atributo do ato


administrativo que você precisa conhecer é a presunção RELATIVA de legitimidade.
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Isso quer dizer que todo e qualquer ato administrativo nasce com a presunção relativa
de legitimidade, o que quer dizer que todo ato administrativo é verdadeiro até prova
em sentido contrário.

Se a presunção fosse absoluta, não haveria processo administrativo. Porém, ele existe,
para dar ao penalizado a oportunidade de se defender e, cabe a nós, buscar
irregularidades, ilegalidades, insubsistências e inconsistências para que o ato praticado
seja declarado nulo.

Presta atenção que eu não disse que o agente de trânsito tem fé pública, mas sim que o
ato que ele pratica tem presunção relativa de veracidade.

Na prática, isso quer dizer que para contrariar um ato administrativo é preciso provar.
Então, não adianta dizer que o policial que te multou está agindo ilegalmente sem
provar.

Essas são as principais colocações sobre o ato administrativo. Porém, se você deseja
aprofundar ainda mais os seus estudos nas questões de direito administrativo, procure
doutrinas relacionadas, aqui eu trouxe apenas o necessário para que você inicie a
atuação no direito de trânsito, conhecendo o básico para argumentar com a finalidade
de anular o ato administrativo.

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Legislação do Processo Administrativo de Trânsito
Passaremos agora para a análise da legislação de trânsito propriamente dita. Para isso,
a leitura dos artigos 280 a 290 são indispensáveis, pois são utilizados nos processos
administrativos das penalidades de multa e também nas penalidades de suspensão do
direito de dirigir e cassação da CNH.

Tratam do processo administrativo para possibilitar o contraditório e a ampla defesa, ou


seja, o direito de se defender.

Código de Trânsito Brasileiro – CTB

O Código de Trânsito Brasileiro - CTB foi instituído pela lei 9.503 de 23 de setembro de
1997 e é a principal legislação que o profissional que trabalha no Mercado de trânsito
deve conhecer, pois nele está previsto o que é trânsito, normas de circulação e conduta,
educação para o trânsito, competência, sinalização de trânsito, infrações e penalidades.

Ele, assim como os demais códigos do nosso ordenamento jurídico, é dividido por
capítulos, facilitando a compreensão e leitura.

Resoluções e Portaria

O profissional que atua nessa área precisa conhecer as Resoluções do CONTRAN e uma
Portaria da SENATRAN.

Elas são tão importantes quanto o próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

As resoluções estabelecem muitas regras sobre as quais você já ouviu falar, mas talvez
desconheça os detalhes. E é por isso que você está estudando isso agora. Para ser um
especialista no assunto.

Segundo o CTB, o CONTRAN, Conselho Nacional de Trânsito, atua como um coordenador


do Sistema Nacional de Trânsito, funcionando como órgão máximo normativo e
consultivo.

O Conselho Nacional de Trânsito possui diversas funções, que vão muito além de
publicar resoluções para complementar as normas do CTB.

E é o próprio Código de Trânsito que determina quais as atribuições e competências do


órgão.

No art. 12 do CTB, são listadas as competências do CONTRAN. Veja todas elas abaixo:

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1. estabelecer as normas regulamentares do CTB e as diretrizes da Política
Nacional de Trânsito.

Nesse caso, vale uma explicação: algumas regras do Código de Trânsito Brasileiro são
resolvidas por si próprias, mas outras exigem a regulamentação através das normas do
CONTRAN, conforme previsto no trecho acima.

Por exemplo, quanto às placas de identificação do veículo, o CTB determina algumas


diretrizes básicas, mas as especificações são estabelecidas pelo CONTRAN, conforme
estipula o art. 115 do Código, veja:

Art. 115. O veículo será identificado externamente por meio de placas dianteira e
traseira, sendo esta lacrada em sua estrutura, obedecidas as especificações e
modelos estabelecidos pelo CONTRAN.

Outras atribuições importantes do CONTRAN como órgão normativo, também são


listadas no art. 12 do CTB, veja:

2. coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, objetivando a integração


de suas atividades;
3. criar Câmaras Temáticas;
4. estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para o funcionamento do
CETRAN e CONTRANDIFE;
5. estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
6. zelar pela uniformidade e cumprimento das normas contidas no CTB e nas
resoluções complementares;
7. estabelecer e normatizar os procedimentos para o enquadramento das condutas
expressamente referidas neste Código, para a fiscalização e a aplicação das
medidas administrativas e das penalidades por infrações e para a arrecadação
das multas aplicadas e o repasse dos valores arrecadados;
8. responder às consultas sobre a aplicação da legislação de trânsito;
9. normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem, habilitação, expedição de
documentos de condutores, e registro e licenciamento de veículos;
10. aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de sinalização e os dispositivos
e equipamentos de trânsito;
11. analisar e solucionar processos sobre conflitos de competência ou circunscrição,
ou, quando necessário, unificar as decisões administrativas;
12. dirimir conflitos sobre circunscrição e competência de trânsito no âmbito da
União, dos Estados e do Distrito Federal;
13. normatizar o processo de formação do candidato à obtenção da CNH,
estabelecendo seu conteúdo didático-pedagógico, carga horária, avaliações,
exames, execução e fiscalização.

Como você pode ver, são várias as áreas relacionadas ao trânsito que devem estar sob
a responsabilidade e a fiscalização do CONTRAN.

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Na sequência, trarei algumas Resoluções desse órgão, relevantes para o dia a dia de
todo condutor e, portanto, relevantes a você!

Começaremos, então, pelo básico. Afinal, o que é uma Resolução do CONTRAN?


Descubra no próximo tópico.

O que são as Resoluções do CONTRAN?

Resolução é, de acordo com o regimento interno do CONTRAN, um ato normativo,


destinado a regulamentar dispositivos do CTB, de competência do Conselho.

Em outras palavras, trata-se de um instrumento que permite ao órgão estabelecer as


normas para uma regra presente no Código de Trânsito.

Como já mencionamos, existem algumas resoluções que são muito importantes e é


indispensável que você as conheça.

Elas delimitam algumas regras que precisam ser cumpridas no dia a dia do trânsito. Caso
contrário, o condutor poderá sofrer as penalidades previstas no CTB.

Após a consolidação das Resoluções, algumas Resoluções importantes que eu posso


citar são:

● Resolução 900 do CONTRAN: Consolida as normas sobre a padronização dos


procedimentos para apresentação de defesa prévia e de recurso, em 1ª e 2ª
instâncias, contra a imposição de penalidades de advertência por escrito e de
multa de trânsito
● Resolução 918 do CONTRAN: Consolida as normas sobre procedimentos para a
aplicação das multas por infrações, a arrecadação e o repasse dos valores
arrecadados, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
● Resolução 432 do CONTRAN: Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados
pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de álcool
ou de outra substância psicoativa que determine dependência, para aplicação do
disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
- Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
● Resolução 723 do CONTRAN: Referendar a Deliberação CONTRAN nº 163, de 31
de outubro de 2017, que dispõe sobre a uniformização do procedimento
administrativo para imposição das penalidades de suspensão do direito de dirigir
e de cassação do documento de habilitação, previstas nos arts. 261 e 263, incisos
I e II, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), bem como sobre o curso preventivo
de reciclagem.
Essa Resolução foi alterada pela Resolução 844/2021, vale a pena a leitura desta
nova Resolução.
● Resolução 798 do CONTRAN: Dispõe sobre requisitos técnicos mínimos para a
fiscalização da velocidade de veículos automotores, elétricos, reboques e
semirreboques.

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● Resolução 789 do CONTRAN: Consolida normas sobre o processo de formação
de condutores de veículos automotores e elétricos.

Nós temos mais de 900 Resoluções e elas podem ser encontradas neste link:
https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-denatran/resolucoes-contran

Então, sempre que você quiser saber se uma Resolução está vigente e se existe
Resolução do CONTRAN sobre referido assunto, você pode pesquisar nesse site.

Portaria da SENATRAN

A Portaria da SENATRAN nº 354/22, que revogou a Portaria n. 59/07 do DENATRAN,


estabelece os campos e informações mínimas que devem compor o Auto de Infração de
Trânsito (AIT) e seu preenchimento em todo território nacional.

Nesta portaria estão previstas as regras sobre o preenchimento, ou seja, as informações


que o agente de trânsito deve anotar no AIT, algumas obrigatórias e outras facultativas.

Estabelece, portanto, uma uniformização que DEVE ser observada por todos os órgãos
de trânsito.

Além disso, no Anexo I da Portaria n° 354/22, você verá os campos obrigatórios e


facultativos do auto de infração; no Anexo II os campos de preenchimento obrigatório
e facultativo do auto de infração; no Anexo III as informações para fins de
processamento de dados de infrações; no Anexo IV, você terá a tabela de códigos de
enquadramento das infrações; no Anexo V, você terá a tabela de codificação dos órgãos
autuadores; por fim, no Anexo VI você terá a tabela de codificação dos países.

Válido é dizer que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) deixou de existir e


deu lugar à Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), por meio do Decreto Federal nº
10.788/21, que aprova a estrutura regimental e o quadro demonstrativo dos cargos de
comissão e das funções de confiança do Ministério da Infraestrutura, remaneja e
transforma cargos em comissão e funções de confiança e altera o Decreto nº 9.660, 1º
de janeiro de 2019.

A SENATRAN passou a ser, então, o órgão máximo executivo do Sistema Nacional de


Trânsito - SNT, e tem autonomia administrativa e técnica, e jurisdição sobre todo o
território brasileiro e tem suas competências previstas no art. 19 do CTB.

Sua sede é em Brasília/DF. E este Órgão é subordinado à Secretaria Nacional de


Transportes Terrestres - SNTT do Ministério da Infraestrutura - MINFRA, o
Departamento tem como objetivo principal fiscalizar e fazer cumprir a legislação de
trânsito e a execução das normas e diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Trânsito - CONTRAN. Além disso, o Departamento possui a atribuição de supervisionar
e coordenar os órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização da execução da Política
Nacional de Trânsito.

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Sistema Nacional de Trânsito - SNT
Já que falamos do Sistema Nacional de Trânsito, é importante dizer que este é o
conjunto de órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios que tem por finalidade o exercício das atividades de planejamento,
administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação,
habilitação e reciclagem de condutores; educação, engenharia e operação do sistema
viário, policiamento, fiscalização e julgamento de infrações e de recursos e aplicação de
penalidades.

Os objetivos do SNT estão listados no art. 6º do CTB:

● Estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas à segurança, à


fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação para o trânsito, além de
fiscalizar seu cumprimento;
● Fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios técnicos,
financeiros e administrativos para a execução das atividades de trânsito;
● Estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informações entre os seus
diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração
do Sistema.

Não há como falar em eficiência se em cada estado existir um tipo diferente de


procedimento.

Compõe o Sistema Nacional de Trânsito (Art. 7 do Código de Trânsito Brasileiro):

● O Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do Sistema e órgão


máximo normativo e consultivo. É responsável pela regulamentação do Código
de Trânsito Brasileiro e pela atualização permanente das leis de trânsito.
● Os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito do Distrito
Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e coordenadores;
● Os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios:
○ Na União: SENATRAN, cuja obrigação é supervisionar, coordenar,
controlar e fiscalizar a política do Programa Nacional de Trânsito.
Conforme art. 19 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB.
○ Nos Estados e do Distrito Federal: os Departamentos Estaduais de
Trânsito
○ Nos Municípios: os órgãos executivos locais, responsáveis pela
fiscalização das infrações de circulação, parada e estacionamento, assim
como pela construção, manutenção e sinalização das vias urbanas.
● Os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
○ Na União: Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e ao
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), este
último ficando responsável pelas rodovias federais que continuaram sob
administração da União, que tem a responsabilidade de construir,
17
manter e sinalizar as rodovias federais e fiscalizar aquelas concedidas à
iniciativa privada; e a Polícia Rodoviária Federal, que tem a
responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das normas de trânsito
pelo patrulhamento ostensivo das rodovias federais;
○ Nos Estados e no Distrito Federal: o Departamento de Estradas e
Rodagem (DER), responsável pela construção, manutenção e sinalização
das rodovias estaduais e que tem como agentes a Polícia Rodoviária
Estadual; e as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal, que são
responsáveis por executar a fiscalização de trânsito, a partir do momento
em que é firmado convênio.
● As Juntas Administrativas de Recursos e Infrações (JARIs), que são órgãos de
proteção dos direitos do cidadão, possibilitando-lhes a defesa nos casos em que
estes se sentirem inconformados com as infrações que lhes são atribuídas.

ÓRGÃO ÓRGÃO ÓRGÃO ÓRGÃO DE ÓRGÃO


INSTÂNCIA NORMATIVO EXECUTIVO EXECUTIVO FISCALIZAÇÃO RECURSAL
RODOVIÁRIO

FEDERAL CONTRAN SENATRAN DNIT PRF JARI

ESTADUAL CETRAN/ DETRAN DER PM JARI


CONTRANDIFE

Órgão
MUNICIPAL - - municipal de - JARI
trânsito

Eu quero aproveitar esse assunto e trazer aqui os comentários do CTB comentado do


Julyver Modesto de Araújo sobre os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito.

I) ÓRGÃOS NORMATIVOS – são os Conselhos de Trânsito, que possuem como


atribuição principal a elaboração de normas, de forma complementar ao estabelecido
no Código de Trânsito Brasileiro. Por elaborarem as normas, também respondem as
consultas relativas à aplicação e compreensão da legislação de trânsito em vigor.
Também possuem a competência de coordenarem as atividades de trânsito dos demais
órgãos. Somente existem órgãos normativos na esfera da União (Conselho Nacional de
Trânsito - CONTRAN) e dos Estados (Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e, no caso
do Distrito Federal, Conselho de Trânsito do Distrito Federal – CONTRANDIFE); assim,
eventuais Conselhos Municipais de Trânsito, criados em algumas cidades, têm mera
função de assessoramento nas tomadas de decisões do poder público local, não sendo
prevista sua participação no Sistema Nacional de Trânsito;

II) ÓRGÃOS EXECUTIVOS – são aqueles que, efetivamente, colocarão em prática o que
se encontra previsto na lei, a fim de lhe dar cumprimento. Se atuarem nas rodovias, são
denominados órgãos (e entidades) executivos RODOVIÁRIOS e, se tiverem como área
de atuação as vias urbanas, recebem a nomenclatura de órgãos (e entidades) executivos
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DE TRÂNSITO. Tais órgãos executivos são previstos para as três esferas de Governo,
respeitada a autonomia local, de acordo com o artigo 8º do CTB, sendo que, para a
constituição dos órgãos executivos dos municípios, devem ser obedecidos os requisitos
constantes da regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito (Resolução do
CONTRAN n. 811/20). No âmbito da União, o órgão executivo de trânsito é o
Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, cujo funcionamento é regulado pelo
Regimento interno do Ministério da Infraestrutura, aprovado pela Portaria n. 124/20,
deste Ministério; já o órgão executivo rodoviário é o Departamento Nacional de Infra-
Estrutura de Transporte – DNIT, criado pela Lei n. 10.233/01, em substituição ao antigo
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER;

III) ÓRGÃOS FISCALIZADORES – são os órgãos responsáveis pelo controle do


cumprimento da lei, no âmbito de sua competência e dentro de sua circunscrição. O
artigo 7º estabelece, taxativamente, dois órgãos com esta finalidade precípua: a Polícia
Rodoviária Federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destinado, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais (artigo 144, § 2º, da Constituição Federal) e as Polícias Militares dos Estados e
do Distrito Federal, às quais competem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública (artigo 144, § 5º, da CF). Além destes dois órgãos, componentes da Segurança
pública, há que se ressaltar a possibilidade de que os órgãos e entidades executivos de
trânsito e rodoviários constituam corpos próprios de agentes de fiscalização,
responsáveis por tal atividade na sua esfera de competência;

IV) ÓRGÃOS JULGADORES – são, na sua essência, as Juntas Administrativas de Recursos


de Infrações – Jari, criadas junto a cada órgão e entidade executiva de trânsito e
rodoviário, com o objetivo de julgar os recursos interpostos contra as penalidades por
eles aplicadas (nos termos dos artigos 16 e 17 do CTB). Também exercem a função de
órgãos julgadores os Conselhos de Trânsito, nas situações especificadas pelo artigo 289
do CTB.

Em suma, esse é o Sistema Nacional de Trânsito e as atribuições de cada um.

Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – MBFT

Trata-se de um manual que prevê de forma detalhada todas as infrações previstas na


legislação de trânsito, abordando de maneira minuciosa a exata conduta que os agentes
fiscalizadores devem adotar ao se deparar com qualquer uma delas, procedendo com a
lavratura do auto de infração de trânsito (AIT), a aplicação das medidas administrativas,
quando cabíveis, e demais providências pertinentes ao ato infracional.

Ele contém centenas de fichas de enquadramento para as infrações de trânsito. Todas


elaboradas com riqueza de detalhes, tais quais permitem ao leitor entender cada
parâmetro estabelecido para a atuação dos agentes fiscalizadores.

Atualmente, o MBFT está no anexo da Resolução 925 do CONTRAN, que aprova o


Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito (MBFT), sendo o Volume I - Infrações de

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competência municipal, incluindo as concorrentes dos órgãos e entidades estaduais de
trânsito, e rodoviários, e o Volume II - Infrações de competência dos órgãos e entidades
executivos estaduais de trânsito e rodoviários.

A padronização estabelecida pelo Manual de Fiscalização reveste-se de grande


importância, enquanto permite aos órgãos fiscalizadores de todo o país, ter um
referencial de como devem ser autuadas as infrações de trânsito sob sua
responsabilidade de autuação.

Além disso, cria uma paridade de tratamento no controle do cumprimento das normas
viárias, por qualquer órgão competente, já que a legislação de trânsito (assim como o
Direito como um todo) permite diferentes interpretações dos seus dispositivos legais, o
que exige que se adote um parâmetro único.

Assim, ainda que sejam possíveis entendimentos diversos, sobre qualquer infração
prevista no Código de Trânsito, todos os profissionais ligados à área deverão adotar os
mesmos procedimentos estabelecidos no Manual, o que, por certo, proporciona uma
maior segurança jurídica na aplicação do CTB.

O Manual está em anexo, no material complementar.

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Penalidades do CTB
No artigo 256 do CTB podemos encontrar seis penalidades administrativas que serão
aplicadas pelas autoridades de trânsito no âmbito de sua circunscrição e competência,
vejamos:

Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências estabelecidas neste


Código e dentro de sua circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele previstas, as
seguintes penalidades:
I - advertência por escrito;
II - multa;
III - suspensão do direito de dirigir;
IV - (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016)
V - cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
VI - cassação da Permissão para Dirigir;
VII - frequência obrigatória em curso de reciclagem.
§ 1º A aplicação das penalidades previstas neste Código não elide as punições
originárias de ilícitos penais decorrentes de crimes de trânsito, conforme
disposições de lei.
§ 2º (VETADO)
§ 3º A imposição da penalidade será comunicada aos órgãos ou entidades
executivos de trânsito responsáveis pelo licenciamento do veículo e habilitação do
condutor.

São elas:

• ADVERTÊNCIA POR ESCRITO: Penalidade administrativa de trânsito substitutiva à


pena pecuniária, consistente em um registro formal de repreensão de um condutor que
tenha cometido uma infração de natureza leve ou média pela primeira vez nos últimos
doze meses (artigo 267);

• MULTA: Penalidade administrativa de trânsito, de natureza pecuniária, decorrente de


um ato classificado como infração de trânsito (artigos 258 e 260);

• SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR: Penalidade administrativa de trânsito de


retirada temporária da licença concedida pelo Estado para que alguém dirija veículos
automotores (artigo 261 do CTB e Resolução do CONTRAN n° 723/18);

• CASSAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO: Penalidade administrativa de


trânsito de retirada definitiva da licença concedida pelo Estado para que alguém dirija
veículos automotores (artigo 263 do CTB e Resolução do CONTRAN n° 723/18);

• CASSAÇÃO DA PERMISSÃO PARA DIRIGIR: Penalidade administrativa de trânsito de


cancelamento do documento de habilitação provisório, em decorrência do
cometimento de infração gravíssima ou grave, ou, ainda, reincidência em infração
média, no período probatório (artigo 148, §§ 3º e 4º); e

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• FREQUÊNCIA OBRIGATÓRIA EM CURSO DE RECICLAGEM: Penalidade administrativa
de trânsito, caracterizada por um treinamento teórico ao condutor que tenha adotado
um comportamento irregular na via pública, demonstrando a necessidade de sua
requalificação (artigo 268 e Resolução do CONTRAN n. 789/20).

Vejamos ainda o §1° do artigo 256:

§ 1º A aplicação das penalidades previstas neste Código não elide as


punições originárias de ilícitos penais decorrentes de crimes de trânsito,
conforme disposições de lei.

Neste caso, é possível que o infrator responda pela infração cometida nas esferas
administrativa e penal, como por exemplo, em caso de acidente de trânsito, a
possibilidade de se atribuir, ainda, responsabilidade civil ao infrator.

A prática de infrações de trânsito pode configurar também crime de trânsito nas


seguintes hipóteses:

● em diversas infrações, os crimes dos artigos 302 e 303 (homicídio culposo e lesão
corporal culposa na direção de veículo automotor, respectivamente);
● na infração do artigo 176, I, o crime do artigo 304 (omissão de socorro);
● na infração do artigo 165, o crime do artigo 306 (embriaguez ao volante);
● na infração do artigo 162, II, os crimes dos artigos 307 e 309 (violar a suspensão
do direito de dirigir e dirigir com o documento de habilitação cassado,
respectivamente);
● nas infrações dos artigos 173, 174 e 175, o crime do artigo 308 (participar de
disputa ou competição não autorizada);
● na infração do artigo 162, I, o crime do artigo 309 (dirigir sem habilitação);
● nas infrações dos artigos 163, 164 e 166, o crime do artigo 310 (permitir, confiar
ou entregar o veículo a pessoa sem condições de conduzi-lo com segurança);
● na infração do artigo 220, XIV, o crime do artigo 311 (trafegar em velocidade
incompatível);
● na infração do artigo 176, III, o crime do artigo 312 (fraude processual em
acidente de trânsito com vítima).

Ademais, a aplicação de penalidade por infração de trânsito, obviamente, não elimina a


aplicação de penalidade atribuída apenas aos crimes de trânsito, mas a qualquer crime.

Como exemplo, tem-se a condução do veículo com placas falsas, o que caracteriza a
infração de trânsito do art. 230, I, do CTB, e o crime do artigo 311 do Código Penal.

Porém, dependendo das circunstâncias, é possível que o infrator responda apenas em


uma das esferas, administrativa ou penal.

Por exemplo, se submetido ao teste de etilômetro, o condutor apresentar concentração


de álcool de até 0,33 mg/L, responderá somente pela infração de trânsito do artigo 165,
pois tal concentração não configura o crime do artigo 306. Somente responderá por
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crime, se a medição for superior a 0,34 mg/l, após o desconto da margem de erro do
equipamento.

Advertência por Escrito

Com relação às alterações trazidas pela Lei 14.071/2020, o art. 267 do CTB, que fala da
advertência por escrito, merece destaque, já que teve nova redação, além de ter os §§
1° e 2° revogados, veja só como ficou:

Art. 267. Deverá ser imposta a penalidade de advertência por escrito à


infração de natureza leve ou média, passível de ser punida com multa, caso
o infrator não tenha cometido nenhuma outra infração nos últimos 12 (doze)
meses.

Na redação anterior, o art. 267 usava a palavra “PODERÁ” no lugar de “DEVERÁ”. Assim,
interpretando a nova redação, ao invés de ser uma faculdade do órgão autuador aplicar
a advertência por escrito, ela passou a ser obrigatória, ou seja, é um ato vinculado, pois,
como dito, esta é a vontade da lei.

Da mesma forma, temos essa previsão dos artigos 10 e 11 da Resolução 918 do


CONTRAN, vejam:

Art. 10. Em se tratando de infrações de natureza leve ou média, a autoridade de


trânsito deverá aplicar a penalidade de advertência por escrito, nos termos do art.
267 do CTB, na qual deverão constar os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB
e em regulamentação específica.
§ 1º A aplicação da penalidade de advertência por escrito deverá ser registrada no
prontuário do infrator depois de encerrada a instância administrativa de
julgamento de infrações e penalidades.
§ 2º Para fins de cumprimento do disposto neste artigo, o órgão máximo executivo
de trânsito da União deverá disponibilizar transação específica para registro da
penalidade de advertência por escrito no RENACH e no Registro Nacional de
Veículos Automotores (RENAVAM), bem como acesso às informações contidas no
prontuário dos condutores e veículos para consulta dos órgãos e entidades
componentes do Sistema Nacional de Trânsito (SNT).
§ 3º A penalidade de advertência por escrito deverá ser enviada ao infrator, no
endereço constante em seu prontuário ou por sistema de notificação eletrônica, se
disponível.
§ 4º A aplicação da penalidade de advertência por escrito não implicará em registro
de pontuação no prontuário do infrator.
§ 5º A notificação devolvida por desatualização do endereço do infrator junto ao
órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo seu prontuário será
considerada válida para todos os efeitos.
§ 6º Na hipótese de notificação por meio eletrônico, se disponível, o proprietário ou
o condutor autuado será considerado notificado 30 (trinta) dias após a inclusão da
informação no sistema eletrônico.
§ 7º Para atendimento do disposto neste artigo, os órgãos e entidades executivos
de trânsito dos Estados e do Distrito Federal deverão registrar e atualizar os

23
registros de infrações e os dados dos condutores por eles administrados nas bases
de informações do órgão máximo executivo de trânsito da União.
§ 8º É nula a penalidade de multa aplicada quando o infrator se enquadrar nos
requisitos estabelecidos no art. 267 do CTB.

Art. 11. Para as infrações cometidas antes de 12 de abril de 2021, a penalidade de


advertência por escrito poderá ser imposta à infração de natureza leve ou média,
passível de ser punida com multa, não sendo reincidente o infrator, na mesma
infração, nos últimos 12 (doze) meses, quando, considerando o prontuário do
infrator, a autoridade entender esta providência como mais educativa.
§ 1º Até a data do término do prazo para a apresentação da defesa da autuação, o
proprietário do veículo, ou o condutor infrator devidamente identificado, poderá
requerer à autoridade de trânsito a aplicação da penalidade de advertência por
escrito de que trata o caput.
§ 2º Não cabe recurso à Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI) da
decisão da autoridade que aplicar a penalidade de advertência por escrito solicitada
com base no § 1º, exceto se essa solicitação for concomitante à apresentação de
defesa da autuação.
§ 3º Para fins de análise da reincidência de que trata o caput, deverá ser
considerada apenas a infração referente à qual foi encerrada a instância
administrativa de julgamento de infrações e penalidades.
§ 4º Caso a autoridade de trânsito não entenda como medida mais educativa a
aplicação da penalidade de advertência por escrito, aplicará a penalidade de multa.
§ 5º Para fins de cumprimento do disposto neste artigo, o órgão máximo executivo
de trânsito da União deverá disponibilizar transação específica para registro da
penalidade de advertência por escrito no RENACH e no RENAVAM, bem como
acesso às informações contidas no prontuário dos condutores e veículos para
consulta dos órgãos e entidades componentes do SNT.
§ 6º Para cumprimento do disposto no § 1º, o infrator deverá apresentar ao órgão
autuador documento emitido pelo órgão ou entidade executivo de trânsito
responsável pelo seu prontuário, que demonstre as infrações cometidas, se houver,
referente aos últimos 12 (doze) meses anteriores à data da infração, caso essas
informações não estejam disponíveis no RENACH.
§ 7º Até que as providências previstas no § 5º sejam disponibilizadas aos órgãos
autuadores, a penalidade de advertência por escrito poderá ser aplicada por
solicitação da parte interessada.

Vale frisar que existe uma distinção com relação a data do cometimento da infração. Se
a infração for cometida ANTES de 12 de abril de 2021, a advertência é facultativa e será
aplicada mediante solicitação do interessado, conforme redação do art. 11 da Resolução
918 do CONTRAN.

Evidente que, para que isso ocorra, é necessário que o motorista cumpra os requisitos
descritos no texto legal, ou seja, que a infração seja de natureza leve ou média, passível
de ser punida com multa, caso não tenha cometido nenhuma outra infração nos últimos
12 meses.

Sempre lembrando que antes de uma penalidade ser efetivamente imposta contra o
motorista (pontuação) e o valor ser exigido no documento do veículo ($$) o órgão de

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trânsito responsável pela autuação DEVE dar ao infrator oportunidade de exercer o
direito ao contraditório e à ampla defesa.

Essa oportunidade se dá por meio das notificações. Por isso é importante orientar o
cliente a manter o endereço do veículo devidamente atualizado nos cadastros do
DETRAN para evitar complicações com o envio das notificações.

Isso porque, qualquer notificação devolvida por desatualização de endereço, será


considerada válida para todos os efeitos, conforme redação do § 5° do art. 10 e do § 5°
do art. 32 da Resolução 918 do CONTRAN, veja:

§ 5º A notificação devolvida por desatualização do endereço do infrator junto


ao órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo seu prontuário
será considerada válida para todos os efeitos.

***

§ 5º Caso não seja providenciada a atualização do endereço prevista no § 4º,


a notificação devolvida por esse motivo será considerada válida para todos
os efeitos.

Veremos mais sobre as notificações adiante.

É importante que você saiba diferenciar autuação ou infrações de trânsito de


penalidade, por isso eu fiz um tópico só para fazer essa distinção para você, confira.

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Infrações de Trânsito X Penalidade de Multa


Infração de trânsito não é a mesma coisa que penalidade.

Em primeiro lugar, temos que entender o que o CTB diz ser uma infração. Neste aspecto,
o tema foi tratado em dois momentos: o primeiro, no art. 161 (com nova redação pela
ADI 2998 do STF) localizado no capítulo XV referente às próprias infrações:

Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito


deste Código, da legislação complementar, e o infrator sujeita-se às
penalidades e às medidas administrativas indicadas em cada artigo, além
das punições previstas no Capítulo XIX.

Aqui vale uma consideração no que diz respeito a ADI 2998 do STF que tirou do
CONTRAN a competência para estabelecer sanção, julgando inconstitucional a
expressão “ou Resoluções do CONTRAN” que constava no caput do art. 161 do CTB.

Isso porque, segundo a ADI 2998, A expressão “ou das resoluções do CONTRAN” que
constava no caput do art. 161 contraria o princípio da reserva legal.

Você pode ter acesso ao inteiro teor do acórdão no material complementar.

No anexo I do Código, também foi reservado um espaço para a conceituação e definição


de Infração, sendo esta:

“inobservância a qualquer preceito da legislação de trânsito, às normas


emanadas do Código de Trânsito, do Conselho Nacional de Trânsito e a
regulamentação estabelecida pelo órgão ou entidade executiva do
trânsito.”

Como se vê, infração de trânsito é a simples violação de qualquer preceito do código


que estabeleça uma determinada conduta como proibida.

E multas, como vimos, são uma das penalidades previstas no CTB.

Infrações de trânsito são punidas com multas após esgotados todos os meios de defesa
em direito admitidos, conforme redação do art. 18 da Resolução 918 do CONTRAN e art.
290 do CTB.

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Veja este exemplo: A infração ao art. 208 do CTB. A conduta proibida é: “avançar o sinal
vermelho”; segundo o CTB é uma infração gravíssima que tem como penalidade multa.

Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória:


Infração - gravíssima;
Penalidade - multa.

As infrações, então, são punidas por multas e classificam-se de acordo com sua
gravidade, conforme previsão do art. 259 do CTB:

Art. 259. A cada infração cometida são computados os seguintes números de


pontos:
I - gravíssima - sete pontos;
II - grave - cinco pontos;
III - média - quatro pontos;
IV - leve - três pontos.

O valor das multas, segundo a previsão do art. 258 do CTB, varia de acordo com a
natureza da infração: Leve – R$ 88,38; Média – R$ 130,16; Grave – R$ 195,23 e
Gravíssima – R$ 293,47.

Pode acontecer das multas terem um valor maior do que esses aqui expostos.

Trata-se do que chamamos de fator multiplicador que é a previsão é o § 2° do art. 258


do CTB, veja:

§ 2º Quando se tratar de multa agravada, o fator multiplicador ou índice adicional


específico é o previsto neste Código.

Isso quer dizer que, as infrações que são mais graves, terão o índice adicionado ao caso
específico, quer ver um exemplo?

A infração ao art. 203, V do CTB, prevê multa gravíssima em 5 vezes:

Art. 203. Ultrapassar pela contramão outro veículo:


(...)
V - onde houver marcação viária longitudinal de divisão de fluxos opostos do tipo
linha dupla contínua ou simples contínua amarela:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes).

Ou seja, a multa por ultrapassar em faixa contínua amarela custa R$ 293,47 x 5, que
totaliza o valor de R$ 1.467,35.

Nestes casos, aumenta-se apenas o valor pecuniário ($$$), não havendo multiplicação
da pontuação relacionada à infração de trânsito.

Ainda com o fator multiplicador, temos as seguintes possibilidades:

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● multa gravíssima vezes 2 – infrações dos artigos 162, III; 163 c/c 162, III; e 164
c/c 162, III;
● multa gravíssima vezes 3 – infrações dos artigos 162, I e II; 163 c/c 162, I e II; 164
c/c 162, I e II; 193; e 218, III;
● multa gravíssima vezes 5 – infrações dos artigos 165-B; 176, I a V; 202, I e II; e
203, I a V;
● multa gravíssima vezes 10 – infrações dos artigos 165; 165-A; 173; 174; 175; e
191;
● multa gravíssima vezes 20 – infração de trânsito do artigo 253-A;
● multa gravíssima vezes 60 – infração de trânsito do artigo 253-A (organizador da
conduta);
● multa gravíssima prevista no artigo 246, que pode ser agravada em até cinco
vezes, a critério da autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança; e
● multa imposta à pessoa jurídica, pela não identificação do infrator, nos termos
do artigo 257, § 8º do CTB e Resolução CONTRAN n. 710/17.

E é por isso que temos multas tão caras.

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Penalidades para o Permissionário

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A Permissão para Dirigir (PPD), também conhecida como CNH Provisória, é uma fase
obrigatória na vida de todo motorista.

A ''Permissão para Dirigir'' trata-se, portanto, de um documento transitório de


habilitação, idêntico à habilitação definitiva, mas que possui um prazo temporário de
validade, de apenas 1 (um) ano, cujo objetivo é criar um ''período de experiência'' para
o condutor iniciante, de modo que se verifique, ao final deste período, como foi o seu
comportamento no trânsito.

Vale a leitura da Resolução 789/20 do CONTRAN, que foi alterada pela Resolução
849/21.

Segundo o art. 148, § 2º do CTB, o candidato à habilitação que for aprovado em todos
os testes, adquire a PPD que possui validade de 12 meses.

Art. 148. Os exames de habilitação, exceto os de direção veicular, poderão ser


aplicados por entidades públicas ou privadas credenciadas pelo órgão executivo de
trânsito dos Estados e do Distrito Federal, de acordo com as normas estabelecidas
pelo CONTRAN.
§ 1º A formação de condutores deverá incluir, obrigatoriamente, curso de direção
defensiva e de conceitos básicos de proteção ao meio ambiente relacionados com o
trânsito.
§ 2º Ao candidato aprovado será conferida Permissão para Dirigir, com validade de
um ano.
§ 3º A Carteira Nacional de Habilitação será conferida ao condutor no término de
um ano, desde que o mesmo não tenha cometido nenhuma infração de natureza
grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média.
§ 4º A não obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, tendo em vista a
incapacidade de atendimento do disposto no parágrafo anterior, obriga o
candidato a reiniciar todo o processo de habilitação.
§ 5º O Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN poderá dispensar os tripulantes
de aeronaves que apresentarem o cartão de saúde expedido pelas Forças Armadas
ou pelo Departamento de Aeronáutica Civil, respectivamente, da prestação do
exame de aptidão física e mental.

No documento físico da PPD, vem escrito que o motorista está na permissão para dirigir,
veja:

29
Sendo assim, depois do período definido pela legislação (12 meses) e após cumprir todos
os requisitos exigidos, o permissionário poderá solicitar sua CNH “definitiva”. O que
muda na estética do documento é apenas o campo “permissão”, que fica encoberto por
um traço preto.

Para isso, no entanto, é preciso cumprir todos os requisitos exigidos pela Lei de Trânsito.

Tecnicamente o termo “CNH definitiva” é errado, já que remete a algo que é perpétuo,
mas o direito de dirigir, que é uma licença concedida pelo estado, não é permanente,
isso porque ele pode ser suspenso e/ou cassado.

O artigo 148, §§ 3º e 4º, do CTB, estabelece que somente será conferida a CNH definitiva
àquele que não tiver cometido nenhuma infração de trânsito de natureza gravíssima ou
grave, nem seja reincidente em infrações médias, no período permissionário; e, em caso
de registro deste tipo de infração, obriga-se que se reinicie todo o processo de
habilitação, com todas as etapas realizadas anteriormente (curso teórico, exame
escrito, curso prático e exame de prática de direção veicular), para a concessão de nova
PPD.

Temos então, em complemento com o art. 256 do CTB, a penalidade de CASSAÇÃO DA


PERMISSÃO PARA DIRIGIR, que é uma penalidade administrativa de trânsito que cancela
o documento de habilitação provisório.

O cancelamento se aplica, então, quando, no período permissionário (primeiro ano da


habilitação), o condutor cometer qualquer infração de natureza grave ou gravíssima, ou,
ainda, for reincidente em infrações médias, veja a previsão do artigo 148, §§ 3º e 4º, do
CTB:

Art. 148. (…)


3º A Carteira Nacional de Habilitação será conferida ao condutor no término de
um ano, desde que o mesmo não tenha cometido nenhuma infração de natureza
grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média.
4º A não obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, tendo em vista a
incapacidade de atendimento do disposto no parágrafo anterior, obriga o
candidato a reiniciar todo o processo de habilitação.”

Vale dizer que as demais penalidades previstas no art. 256 do CTB não se aplicam para
o motorista permissionário.

Assim, diferentemente do que prevê os artigos 258 e 259 do CTB, para o motorista
permissionário o sistema de pontos é diferente.

Isso porque a PPD não tem como base a pontuação para a perda do direito de dirigir,
mas o requisito para adquirirem a CNH definitiva é não terem cometido infrações de

30
natureza grave ou gravíssima nem serem reincidentes de infrações médias, ou seja, não
pode cometer infrações médias mais de uma vez.

Quando for defender um permissionário, toda atenção é devida. É preciso observar se a


infração é de responsabilidade do condutor ou do proprietário, se houve venda do
veículo, etc.

Ainda é preciso utilizar todas as instâncias recursais, como previsto no art. 290 do CTB,
bem como estar atento às infrações administrativas.

Infrações Administrativas
O Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 161, conceitua “infração de trânsito”
como sendo o descumprimento de qualquer preceito do Código, tipificando as condutas
infracionais nos artigos seguintes (162 a 255).

Entretanto, se analisarmos o conceito complementar, da própria palavra “trânsito”, que


é apresentada sinteticamente, pelo Anexo I do CTB, como a “movimentação e
imobilização de veículos, pessoas e animais nas vias terrestres”, teremos de nos
questionar se a “infração de trânsito” somente é aquela ocorrida durante a utilização da
via pública ou abrange qualquer conduta considerada pelo Código como irregular.

Da leitura e análise dos artigos 162 a 255, percebemos, claramente, que, em sua maioria,
as condutas ocorrem realmente na utilização da via pública, ainda que de maneira
indireta, como a punição ao promotor de competição esportiva não autorizada (artigo
174, parágrafo único) ou ao proprietário que entrega ou permite a condução do veículo
a pessoa não habilitada, com habilitação suspensa ou cassada, com categoria diferente
ou vencida há mais de trinta dias (artigos 163 e 164).

Todavia, existem 7 (sete) infrações especiais, que não ocorrem na utilização da via
pública:

I - Confeccionar, distribuir ou colocar, em veículo próprio ou de terceiros,


placas de identificação não autorizadas pela regulamentação (parágrafo
único do artigo 221);

II - Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de trinta dias, junto ao


órgão executivo de trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no art. 123, por
exemplo, na transferência de propriedade (art. 233);

III - Falsificar ou adulterar documento de habilitação e de identificação do


veículo (artigo 234);

IV - Deixar o responsável de promover a baixa do registro de veículo


irrecuperável ou definitivamente desmontado (art. 240);

31
V - Deixar de atualizar o cadastro de registro do veículo ou de habilitação do
condutor (art. 241);

VI - Fazer falsa declaração de domicílio para fins de registro, licenciamento


ou habilitação (art. 242);

VII - Deixar a empresa seguradora de comunicar ao órgão executivo de


trânsito competente a ocorrência de perda total do veículo e de lhe devolver
as respectivas placas e documentos (art. 243).

Apesar de estarem tipificadas no Capítulo do CTB destinado às infrações de trânsito,


pode ser considerada inapropriada tal qualificação, pois são, na verdade, infrações
administrativas, por constituírem descumprimento à legislação não diretamente
relacionada às normas viárias.

Aliás, embora seja prevista, inclusive, a penalidade de multa a tais condutas, também é
de se questionar a forma de imposição da sanção administrativa a algumas delas, pois o
sistema constante no Código de Trânsito pressupõe a existência do registro de um
veículo, para a devida inclusão da multa de trânsito, o que não ocorre, necessariamente,
nas infrações de falsificação de documento de habilitação (artigo 234) ou falsa
declaração de domicílio para registro da habilitação (artigo 242).

Assim, a Lei 14.071/202 trouxe uma alteração legislativa e incluiu o parágrafo 4º no


artigo 259 do CTB, que versa sobre a pontuação pelo cometimento de infrações,
esclarecendo o seguinte:

Art. 259.
[...]
§ 4º Ao condutor identificado será atribuída pontuação pelas infrações de sua
responsabilidade, nos termos previstos no § 3º do art. 257 deste Código, exceto
aquelas:
I - praticadas por passageiros usuários do serviço de transporte rodoviário de
passageiros em viagens de longa distância transitando em rodovias com a
utilização de ônibus, em linhas regulares intermunicipal, interestadual,
internacional e aquelas em viagem de longa distância por fretamento e turismo ou
de qualquer modalidade, excluídas as situações regulamentadas pelo Contran
conforme disposto no art. 65 deste Código;
II - previstas no art. 221, nos incisos VII e XXI do art. 230 e nos arts. 232, 233, 233-
A, 240 e 241 deste Código, sem prejuízo da aplicação das penalidades e medidas
administrativas cabíveis;
III - puníveis de forma específica com suspensão do direito de dirigir.

Note que neste inciso, a legislação incluiu quase todas as infrações consideradas
administrativas, ou seja, de certa forma, o Código entendeu a necessidade de separar
as infrações administrativas das infrações de trânsito, não gerando, para tanto, no caso
dessas últimas, pontuação ao infrator.

32
Infrações Simultâneas

Sim, é possível que um motorista cometa várias infrações seguidas com uma ou mais
ações no mesmo momento ou próximo.
O Código de Trânsito Brasileiro adota, no seu artigo 266, o princípio da cumulatividade
das penalidades.

Pelo princípio entende-se que quando o infrator cometer simultaneamente duas ou


mais infrações ele será penalizado, cumulativamente, por cada uma delas, veja a
redação do art. 266 do CTB:

Art. 266. Quando o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-
lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as respectivas penalidades.

Contudo, a regra do Código de Trânsito não deve ser sempre aplicada de forma literal,
pois o condutor pode praticar várias infrações simultâneas muito semelhantes e que
seja injusto puni-lo várias vezes.

Por este motivo, o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, previu tratamento às


infrações simultâneas.

Segundo o CONTRAN as infrações simultâneas podem ser classificadas em dois tipos:


concorrentes ou concomitantes e, para cada modalidade deve ser dado tratamento
diferenciado.

Infrações de trânsito concorrentes

São concorrentes aquelas em que o cometimento de uma infração, tem como


consequência o cometimento de outra, ou seja, uma única conduta, gera dois ou mais
resultados.

Por exemplo: ultrapassar pelo acostamento (art. 202) e transitar com o veículo pelo
acostamento (art. 193).

Ambas as condutas são típicas, porém, a mais específica e que demonstra a intenção
do condutor é ultrapassar pelo acostamento.

Nesses casos, a primeira conduta absorve a segunda e o condutor deve ser autuado
apenas pela mais específica (ultrapassar pelo acostamento).

Nesses casos, o agente deverá lavrar um único AIT, que melhor caracterizou a infração,
pois, nessa hipótese, apesar de serem duas ou mais infrações, a conduta mais específica
deve prevalecer sobre a conduta secundária.

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Para ser qualificada como infração de trânsito concorrente, devem estar presentes as
seguintes características: 1. Uma única ação; 2. Tipificação de duas ou mais infrações; 3.
Simultaneidade das autuações; 4. Uma única intenção específica.

Infrações de trânsito concomitantes

São concomitantes aquelas em que o cometimento de uma infração não implica no


cometimento de outra na forma do art. 266 do CTB.

Por exemplo: dirigir veículo com a CNH vencida há mais de trinta dias (art. 162, V) e de
categoria diferente para a qual é habilitado (art. 162, III).

Nesses casos, o agente deverá lavrar os dois AIT.


Infrações concomitantes são, então, aquelas absolutamente independentes, que não
guardam qualquer relação entre si, apesar de terem ocorrido simultaneamente,
devendo o condutor responder por ambas as infrações.
Outro exemplo é o condutor que arranca bruscamente com o seu veículo ao sinal verde
do semáforo, com o intuito de exibir-se (art. 175), ao mesmo tempo em que deixa de
observar a preferência do pedestre que não havia concluído a travessia da via (art. 214,
II).
Nesse caso, as condutas tipificam infrações distintas e independentes, gerando
resultados diferentes e consequentemente uma autuação para cada infração.
Para ser qualificada como infração concomitante, devem estar presentes as seguintes
características: 1. Simultaneidade das autuações; 2. Ausência de dependência entre as
condutas; 3. Resultados diferentes pelas condutas praticadas.

Bis In Idem e Infrações de trânsito continuadas

Bis in idem é uma expressão em latim que significa "duas vezes o mesmo" ou "repetição
sobre o mesmo". O uso deste termo pode indicar a ação de repetir.

No Direito é um princípio que faz uma referência à repetição de uma decisão ou


aplicação de pena sobre um mesmo fato.

Neste caso, o princípio do non bis in idem (com o significado de "não duas vezes o
mesmo") representa a proibição à repetição de uma pena ou outra ocorrência de forma
duplicada.

Previsão do non bis in idem na lei

O non bis in idem não está disposto na Constituição Federal. Entretanto, ele faz parte
do Pacto de San José da Costa Rica (ou Convenção Interamericana sobre Direitos
Humanos), assinada em 1969. O Brasil assinou o Pacto no ano de 1992 e, por essa razão,
ele deve ser cumprido integralmente no país.

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Infrações Continuadas

Já as infrações continuadas têm como característica principal a lavratura de várias


autuações, no mesmo artigo infracional, em mesmo local, no mesmo dia e em horários
aproximados.
Não se trata de múltiplos cometimentos de infrações e sim de uma única infração de
trânsito ocorrida de forma continuada, constatada por agentes de trânsito diversos ou
por flagrante em vários aparelhos eletrônicos instalados no mesmo trecho e que
originaram duas ou mais autuações iguais.
Um exemplo é de um condutor que transita ao longo de uma mesma via, no mesmo
horário e dia, em velocidade acima da permitida e é flagrado por mais de um
equipamento eletrônico (radar) em poucos minutos. Apesar de ter até três tipos de
infrações do artigo 218 do CTB, o fato gerador das infrações continua o mesmo, o
excesso de velocidade.
Para configurar uma infração de trânsito continuada, as autuações devem possuir os
seguintes requisitos: a) pluralidade de autuações; b) infrações da mesma espécie; c)
conexão temporal e geográfica entre as infrações; d) autuações subsequentes.

Essa regra estava prevista no MBFT, mas hoje, podemos usar essa estratégia de defesa
com base na jurisprudência.

A manutenção das penalidades decorrentes de infrações continuadas viola o princípio


ne bis in idem, que em uma breve explicação, indica a ideia de que um único fato não
pode gerar duas penalidades distintas.

Destarte, nas autuações de trânsito decorrentes de infrações continuadas estão


presentes a tríplice identidade, que caracterizam o bis in idem:

1. Mesmo condutor infrator; 2. Mesmo órgão autuante; 3. Mesmo


fundamento para autuação.

Nas lições de René Ariel Dotti, em singular explicação, ensina que:

[…] há um princípio clássico de justiça segundo o qual ninguém pode ser


punido duas vezes pelo mesmo fato. A detração visa impedir que o Estado
abuse do poder-dever de punir, sujeitando o responsável pelo fato punível a
uma fração desnecessária da pena sempre que houver a perda da liberdade
ou a internação em etapas anteriores à sentença condenatória.

O Conselho Nacional de Trânsito adotou o mesmo entendimento, ainda que de forma


implícita e tímida, ao estabelecer no Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito que:

“O agente só poderá registrar uma infração por auto e, no caso da


constatação de infrações em que os códigos infracionais possuam a mesma
raiz (os três primeiros dígitos), considerar-se-á apenas uma infração”.

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Exemplo: condutor e passageiro sem usar o cinto de segurança, lavrar somente o auto
de infração com o código 518-51 e descrever no campo ‘Observações’ a situação
constatada (condutor e passageiro sem usar o cinto de segurança).”

Segundo a ficha do MBFT do art. 167 do CTB, nas definições e procedimentos, temos a
seguinte redação: “ainda que haja mais de um ocupante do veículo sem usar o cinto de
segurança, incluído o condutor, somente poderá haver uma autuação com base no art.
167 do CTB”.

Há que se concluir, portanto, que restando caracterizada a ocorrência de infrações de


natureza continuadas, é dever do órgão de trânsito manter apenas a primeira autuação
lavrada, promovendo o cancelamento das demais, enquanto perdurar a conexão
temporal e geográfica da infração, além, é claro, de ter que ser observado o código
infracional.

Medidas Administrativas X Penalidades


Diferentemente das penalidades, que têm um caráter punitivo e somente podem ser
aplicadas pela autoridade de trânsito – dirigente máximo de órgão ou entidade
executivo integrante do Sistema Nacional de Trânsito, as medidas administrativas
podem ser aplicadas tanto pela autoridade, quanto pelos seus agentes, no limite de suas
competências e dentro de sua área de atuação (circunscrição territorial).

Medidas administrativas tem como característica a autoexecutoriedade, isso quer dizer


que elas podem ser aplicadas sem a intervenção do Poder Judiciário.

O que é uma medida administrativa?

A medida administrativa é uma conduta realizada pelo agente de trânsito diante de uma
situação onde se presuma haver perigo, ou seja, que possa vir colocar em risco a vida
do próprio condutor ou da sociedade.

O art. 269, § 1º do CTB descreve qual é o objetivo do agente de trânsito ao realizar a


medida administrativa:

Art. 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na esfera das competências


estabelecidas neste Código e dentro de sua circunscrição, deverá adotar as
seguintes medidas administrativas:
I - retenção do veículo;
II - remoção do veículo;
III - recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;
IV - recolhimento da Permissão para Dirigir;
V - recolhimento do Certificado de Registro;
VI - recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual;
VII - (VETADO)
VIII - transbordo do excesso de carga;

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IX - realização de teste de dosagem de alcoolemia ou perícia de substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica;
X - recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e na faixa de domínio
das vias de circulação, restituindo-os aos seus proprietários, após o pagamento de
multas e encargos devidos.
XI - realização de exames de aptidão física, mental, de legislação, de prática de
primeiros socorros e de direção veicular.
§ 1º A ordem, o consentimento, a fiscalização, as medidas administrativas e
coercitivas adotadas pelas autoridades de trânsito e seus agentes terão por
objetivo prioritário a proteção à vida e à incolumidade física da pessoa.
[...]
§ 5º No caso de documentos em meio digital, as medidas administrativas
previstas nos incisos III, IV, V e VI do caput deste artigo serão realizadas por meio
de registro no Renach ou Renavam, conforme o caso, na forma estabelecida pelo
Contran.

As medidas administrativas servem, então, para proteger a vida e à incolumidade física


da pessoa, conforme previsão do §1° do artigo 269 do CTB, acima citado.

Vale a pena conferir o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, sobre as medidas


administrativas.

Como funciona a medida administrativa na prática?

As medidas administrativas da infração ao artigo 165 e 165-A do CTB, por exemplo, estão
previstas no próprio texto infracional, vejam:

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do


veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro
de 1997 - do Código de Trânsito Brasileiro.

Também estão previstas na Resolução 432 do CONTRAN. Ambas que devem ser
aplicadas nos casos onde o condutor é flagrado em uma blitz da Lei Seca ou que é alvo
de fiscalização e comete as infrações aos artigos supramencionados.

Vejamos os arts. 9º e 10 da Resolução 432 do Contran:

art. 9º. O veículo será retido até a apresentação de condutor habilitado, que
também será submetido à fiscalização.

Parágrafo único. Caso não se apresente condutor habilitado ou o agente verifique


que ele não está em condições de dirigir, o veículo será recolhido ao depósito do
órgão ou entidade responsável pela fiscalização, mediante recibo.

art. 10º. O documento de habilitação será recolhido pelo agente, mediante recibo,
e ficará sob custódia do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação
até que o condutor comprove que não está com a capacidade psicomotora alterada,
nos termos desta Resolução

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As medidas administrativas previstas nas normas acima mencionadas, deverão ser
aplicadas tanto nos casos em que o condutor infrator realiza o teste do etilômetro ou
bafômetro, e é constatado algum teor alcoólico, quanto para aquele que se recusa a
fazer o teste do bafômetro.

Após a abordagem do agente de trânsito e a sua constatação da inaptidão de dirigir por


motivo de embriaguez ao volante, ele DEVE RECOLHER a habilitação e realizar a
RETENÇÃO do veículo.

ATENÇÃO!! O agente de trânsito DEVE realizar esse ato que é chamado de medida
administrativa.

Porque o agente de trânsito DEVE realizar essa conduta obrigatoriamente?

Ora, se o motorista está visivelmente embriagado, pressupõe que ele não está em
condições de dirigir um veículo, pois se assim o fizer colocará em risco a vida das pessoas
que cruzarem o seu caminho, ou seja, pedestres ou outros veículos automotores,
podendo ocasionar um acidente de trânsito.

E isso se justifica porque o agente de trânsito tem “por objetivo prioritário a proteção
à vida e à incolumidade física da pessoa” (art. 269, § 1º, CTB).

É importante não confundir medidas administrativas com a imposição da penalidade


(efetivamente).

Isso porque, ao contrário das medidas administrativas que são aplicadas da hora, no
momento da autuação, as penalidades só podem ser impostas após finalizado todo
processo, ou seja, após o órgão de trânsito dar ao penalizado a oportunidade de se
defender e exercer o direito ao contraditório e à ampla defesa.

Qual é a diferença entre a penalidade e a medida administrativa?

As penalidades são sanções (punições) prevista no CTB aplicáveis a quem comete uma
infração de trânsito, conforme leitura do art. 257 do CTB.

PENALIDADES MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Multa – valor de R$ 2.934,70 Recolhimento da CNH

Suspensão do direito de dirigir por 12 meses Retenção do veículo

Remoção do veículo

Vale frisar que quando previstas para determinadas infrações de trânsito, as medidas
administrativas são de aplicação obrigatória (tendo em vista o princípio da legalidade);
todavia, quando não ocorrerem, por qualquer motivo que seja, tal omissão NÃO é um
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impedimento para a aplicação da multa cabível à conduta infracional, por força do § 2º
do artigo 269, uma vez que estamos diante de uma providência complementar à
penalidade principal.

Ocorre que tal previsão é discutível. Imagine a seguinte situação: o motorista “x” é
autuado pela lei seca. Ele chama um condutor habilitado que vai retirar o veículo do
local da infração. Se o novo motorista não for submetido ao teste do bafômetro (ou
mesmo que ele seja e isso não conste no AIT), teremos uma nulidade, já que há violação
da previsão legal.

Outro exemplo, é o fato de o agente de trânsito não indicar no auto de infração qual foi
o motorista habilitado que retirou o veículo do local da infração. Isso gera nulidade por
inobservância da forma do ato administrativo, pois gera dúvida e dá a entender que a
medida administrativa não foi cumprida e que, consequentemente, o condutor
inicialmente abordado não estava sob efeito de álcool.

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Sujeitos Passivos - quem pode sofrer penalidade? Art. 257 CTB

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O CTB separou e dividiu a responsabilidade quando do cometimento de uma infração.
No nosso estudo, o que vai interessar, é a divisão de responsabilidades entre o
proprietário e o condutor do veículo.

Vamos fazer a leitura do artigo 257:

Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do veículo, ao


embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de obrigações
e deveres impostos a pessoas físicas ou jurídicas expressamente mencionados neste
Código.
§ 1º Aos proprietários e condutores de veículos serão impostas concomitantemente
as penalidades de que trata este Código toda vez que houver responsabilidade
solidária em infração dos preceitos que lhes couber observar, respondendo cada um
de per si pela falta em comum que lhes for atribuída.
§ 2º Ao proprietário caberá sempre a responsabilidade pela infração referente à
prévia regularização e preenchimento das formalidades e condições exigidas para
o trânsito do veículo na via terrestre, conservação e inalterabilidade de suas
características, componentes, agregados, habilitação legal e compatível de seus
condutores, quando esta for exigida, e outras disposições que deva observar.
§ 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infrações decorrentes de atos
praticados na direção do veículo.
§ 4º O embarcador é responsável pela infração relativa ao transporte de carga com
excesso de peso nos eixos ou no peso bruto total, quando simultaneamente for o
único remetente da carga e o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto for
inferior àquele aferido.
§ 5º O transportador é o responsável pela infração relativa ao transporte de carga
com excesso de peso nos eixos ou quando a carga proveniente de mais de um
embarcador ultrapassar o peso bruto total.
§ 6º O transportador e o embarcador são solidariamente responsáveis pela infração
relativa ao excesso de peso bruto total, se o peso declarado na nota fiscal, fatura
ou manifesto for superior ao limite legal.
§ 7º Quando não for imediata a identificação do infrator, o principal condutor ou o
proprietário do veículo terá o prazo de 30 (trinta) dias, contado da notificação da
autuação, para apresentá-lo, na forma em que dispuser o Contran, e, transcorrido
o prazo, se não o fizer, será considerado responsável pela infração o principal
condutor ou, em sua ausência, o proprietário do veículo.
§ 8º Após o prazo previsto no § 7º deste artigo, se o infrator não tiver sido
identificado, e o veículo for de propriedade de pessoa jurídica, será lavrada nova
multa ao proprietário do veículo, mantida a originada pela infração, cujo valor
será igual a 2 (duas) vezes o da multa originária, garantidos o direito de defesa
prévia e de interposição de recursos previstos neste Código, na forma estabelecida
pelo Contran.
§ 9º O fato de o infrator ser pessoa jurídica não o exime do disposto no § 3º do art.
258 e no art. 259.
§ 10 O proprietário poderá indicar ao órgão executivo de trânsito o principal
condutor do veículo, o qual, após aceitar a indicação, terá seu nome inscrito em
campo próprio do cadastro do veículo no Renavam.
§ 11 O principal condutor será excluído do Renavam:
I - quando houver transferência de propriedade do veículo;
II - mediante requerimento próprio ou do proprietário do veículo;
III - a partir da indicação de outro principal condutor.
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Com a simples leitura deste artigo é fácil entender que o proprietário é responsável
pelas infrações referentes à documentação e ao estado de conservação do veículo.
Enquanto o condutor é responsável pelas infrações que acontecem quando se está
dirigindo um veículo automotor.

Exemplos:

A infração por farol/lâmpadas queimado(as) - prevista no inciso XXII do artigo 230 do


CTB diz: “Conduzir o veículo: com defeito no sistema de iluminação, de sinalização ou
com lâmpadas queimadas”, é de responsabilidade do proprietário, já que está
relacionada ao estado de conservação do veículo e não com o fato de dirigir.

Por sua vez, a infração ao art. 233 do CTB: “Deixar de efetuar o registro de veículo no
prazo de trinta dias, junto ao órgão executivo de trânsito, [...]”, é uma infração referente
a documentação, sendo assim ela é de responsabilidade do proprietário, uma vez que é
ele quem deve manter a documentação do mesmo em dia.

Já a infração ao artigo 218 do CTB: “Transitar em velocidade superior à máxima


permitida para o local[...]” é de responsabilidade do condutor, uma vez que acontece
quando se está dirigindo o veículo.

Tendo isso em mente, no caso da Lei Seca, a responsabilidade pelo cometimento dessa
infração é EXCLUSIVA do condutor, uma vez que acontece quando se está dirigindo um
veículo automotor.

Sendo assim, o proprietário não terá em sua CNH aplicada nenhuma das penalidades
previstas por infração ao artigo 165 ou 165-A do CTB. O único ônus que ele terá que
suportar é o pagamento da multa, porém poderá cobrar o valor desembolsado do
condutor através da ação judicial competente.

Por isso, não devemos confundir as responsabilidades previstas no artigo


supramencionado, com a que diz respeito ao ônus de suportar as penas pecuniárias, ou
seja, responsabilidade pelo pagamento das multas.

E a previsão legal, no que se refere ao pagamento das multas, está no § 3° do art. 282
do CTB, bem como na Resolução 108 do CONTRAN, vejamos:

§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a condutor, à exceção daquela


de que trata o § 1º do art. 259, a notificação será encaminhada ao proprietário do
veículo, responsável pelo seu pagamento.

Resolução 108. Art. 1º Fica estabelecido que o proprietário do veículo será sempre
responsável pelo pagamento da penalidade de multa, independente da infração
cometida, até mesmo quando o condutor for indicado como condutor-infrator nos
termos da lei, não devendo ser registrado ou licenciado o veículo sem que o seu
proprietário efetue o pagamento do débito de multas, excetuando-se as infrações

41
resultantes de excesso de peso que obedecem ao determinado no artigo 257 e
parágrafos do Código de Trânsito Brasileiro.

Assim, o legislador deixou claro a quem cabe o pagamento das multas. Portanto, há no
CTB duas categorias de responsabilidades:

1. A que está ligada com a infração, cujo resultado prático é a somatória de pontos
no prontuário da CNH que podem levar à suspensão do direito de dirigir, a
cassação da CNH ou cancelamento da PPD e
2. A que traz a obrigação de pagar as multas aplicadas.

Ainda é válido dizer que as multas sempre estarão vinculadas ao veículo,


independentemente de ser ou não o proprietário o condutor infrator, vejam o que diz o
§ 2° do art. 131 do CTB:

Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será expedido ao veículo licenciado,


vinculado ao Certificado de Registro, no modelo e especificações estabelecidos pelo
CONTRAN.
(...)
§ 2º O veículo somente será considerado licenciado estando quitados os débitos
relativos a tributos, encargos e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao
veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas.

Assim, concluímos: Existem duas categorias distintas de responsabilidades estabelecidas


no CTB: a responsabilidade pela infração e a responsabilidade pelo pagamento das
multas;

Responsável pela infração é aquele que terá computado em seu prontuário de CNH os
pontos referentes às infrações praticadas, seja ele o condutor infrator ou o próprio
proprietário;

A responsabilidade pelo pagamento das multas é sempre do proprietário do veículo e,


em caso de não pagamento das mesmas, os débitos ficarão vinculados ao licenciamento
do veículo, independentemente de quem seja o responsável pela infração;

O proprietário do veículo pode exigir em juízo que o condutor infrator o ressarça dos
valores desembolsados com as multas geradas por atos destes (exercício do direito de
regresso), em tema pacificado no judiciário;

E, por fim, mesmo que haja indicação de condutor, esta não é hábil para afastar a
responsabilidade do proprietário do veículo pelo pagamento das multas.

Eu quis trazer este assunto porque ele é importante para o estudo do próximo tópico
sobre as notificações. Esse tópico é de suma importância, pois é possível que seja
declarada a nulidade de toda a penalidade pelo simples fato de o órgão de trânsito não
notificar o sujeito correto.

42
Sujeitos Ativos - quem pode aplicar penalidades?
A competência de cada órgão que compõe o Sistema Nacional de Trânsito, está prevista
no Código de Trânsito Brasileiro.

A competência dos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito


Federal, que é o DETRAN, embora não exista essa denominação no CTB, está prevista
no art. 22 do CTB.

Uma das competências é aplicar penalidades, ou seja, o DETRAN pode aplicar


penalidades.

A competência dos órgãos e entidades executivos de trânsito dos municípios tem


previsão no art. 24 do CTB e a fiscalização, autuação e penalização de infratores que
violem as leis de trânsito por infrações de circulação, estacionamento e parada é
privativa dos órgãos municipais.

A Polícia Militar dos Estados e do Distrito Federal é um importante órgão de fiscalização


de trânsito, atuando através de convênio, ou seja, podem executar a fiscalização de
trânsito, a partir do momento em que é firmado convênio, na forma do art. 23 do CTB:

Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal:


[...]
III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme convênio firmado, como
agente do órgão ou entidade executivos de trânsito ou executivos rodoviários,
concomitantemente com os demais agentes credenciados;

Vale dizer que a competência da Polícia Militar acontece após realizar o convênio com
algum outro órgão ou entidade do sistema para só então exercer com legalidade a
fiscalização de trânsito.

Caso não haja convênio, toda a atuação da Polícia Militar caracteriza ato nulo por vício
de competência.

Vale lembrar que o policial militar não é autoridade de trânsito, mas quando ele atua na
função de fiscal do trânsito, se torna agente da autoridade de trânsito e o anexo I do
CTB nos traz a diferença conceitual:

AUTORIDADE DE TRÂNSITO - dirigente máximo de órgão ou entidade executivo


integrante do Sistema Nacional de Trânsito ou pessoa por ele expressamente
credenciada.

AGENTE DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO - agente de trânsito e policial rodoviário


federal que atuam na fiscalização, no controle e na operação de trânsito e no
patrulhamento, competentes para a lavratura do auto de infração e para os
procedimentos dele decorrentes, incluídos o policial militar ou os agentes referidos

43
no art. 25-A deste Código, quando designados pela autoridade de trânsito com
circunscrição sobre a via, mediante convênio, na forma prevista neste Código.

AGENTE DE TRÂNSITO - servidor civil efetivo de carreira do órgão ou entidade


executivos de trânsito ou rodoviário, com as atribuições de educação, operação e
fiscalização de trânsito e de transporte no exercício regular do poder de polícia de
trânsito para promover a segurança viária nos termos da Constituição Federal.

Tendo em vista, então, que somente a autoridade de trânsito pode aplicar penalidades
e, sendo a multa uma penalidade de trânsito, resta claro que o policial militar não pode
multar, mas sim autuar.

Quando o PM lavra o AIT ele está autuando e não multando!

O auto de infração lavrado será remetido à apreciação da autoridade de trânsito que,


após o regular processo administrativo de trânsito, irá aplicar a multa, se for o caso,
veremos isso mais adiante.

A polícia Rodoviária Federal, por sua vez, faz parte do SNT e não pode ser confundida
com a Polícia Federal. O campo de atuação da PRF é composto pelas rodovias e estradas
federais e sua competência tem previsão no art. 20 do CTB.

Diferentemente da PM, a PRF pode aplicar multas, por esse motivo, na PRF sempre
haverá uma autoridade de trânsito competente para a aplicação desta penalidade.

Uma recente alteração da legislação de trânsito, é o fato de que foi incluída na


competência da PRF a aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir,
vejamos:

XII - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir, quando prevista de


forma específica para a infração cometida, e comunicar a aplicação da penalidade
ao órgão máximo executivo de trânsito da União.

Ou seja, anteriormente, a competência que era somente do DETRAN dos estados e do


Distrito Federal, passou a ser também da PRF, quando esta for a responsável pela
aplicação de uma penalidade que prevê de forma específica a suspensão do direito de
dirigir.

Por exemplo: se a PRF autuar um motorista pela infração prevista no art. 165-A do CTB,
ela também será a responsável por aplicar a penalidade de suspensão do direito de
dirigir, instaurado e processando o competente processo administrativo.

Os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito podem aplicar penalidades, seguindo


as regras de competência de cada um, conforme previsão da legislação de trânsito.

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Auto de Infração de Trânsito

Como dito, no começo do nosso estudo, o processo administrativo se inicia com o


cometimento de uma infração, que é o motivo hábil para justificar a lavratura do auto
de infração, que é o ato pelo qual a infração é registrada.

Em primeiro lugar, temos que entender o que o CTB diz ser uma infração. Neste aspecto,
o tema foi tratado em dois momentos: o primeiro, no art. 161 localizado no capítulo XV
referente às próprias infrações:

Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste


Código ou da legislação complementar, e o infrator sujeita-se às penalidades e às
medidas administrativas indicadas em cada artigo deste Capítulo e às punições
previstas no Capítulo XIX deste Código.

Como vimos, constitui infração de trânsito tudo aquilo que contraria ou desobedece a
legislação de trânsito.

Assim, havendo uma conduta tipificada pela legislação como infração de trânsito,
haverá a lavratura de um auto de infração, leitura do caput do artigo 280 do CTB.

45
Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de
infração [...]

O processo administrativo para aplicação de uma penalidade de multa, inicia-se, então,


com o cometimento de uma infração de trânsito.

Auto de infração, por sua vez, é um ato administrativo vinculado, ou seja, para o agente
da autoridade de trânsito não há opção.

Ao constatar uma infração de trânsito, ele deve registrar o fato, por escrito, no auto de
infração de trânsito. Além disso, por ser um ato administrativo vinculado, ele deve estar
revestido dos requisitos essenciais para sua validade, quais sejam competência, objeto,
forma, finalidade e motivo, conforme já estudado anteriormente.

O AIT tem por finalidade, então, levar ao conhecimento da autoridade de trânsito que
uma infração ocorreu em uma via terrestre sob sua circunscrição, conforme redação do
caput do art. 280: Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto
de infração (...)

Se o agente trânsito for omisso e não lavrar o auto de infração, a depender das
circunstâncias, ele pode incorrer no crime de prevaricação (artigo 319 do Código Penal).

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, as Resoluções 900 e 918 do CONTRAN,


Portaria n° 354 da SENATRAN, bem como o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito
(MBFT), o auto de infração de trânsito é o principal documento do processo
administrativo para a imposição da penalidade de punição em decorrência de alguma
infração à legislação de trânsito.

Nele deve conter, além dos requisitos previstos no artigo 280 do CTB, a descrição da
situação observada no campo observações, conforme orientação das fichas do MBFT.

Vejamos o texto do artigo 280, bem como artigo 3° da Resolução 918 do CONTRAN:

Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de


infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros
elementos julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador ou
equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como notificação do
cometimento da infração.
§ 1º (VETADO)
§ 2º A infração deverá ser comprovada por declaração da autoridade ou do agente
da autoridade de trânsito, por aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual,

46
reações químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível,
previamente regulamentado pelo CONTRAN.
§ 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agente de trânsito relatará o
fato à autoridade no próprio auto de infração, informando os dados a respeito do
veículo, além dos constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento previsto no
artigo seguinte.
§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração
poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado
pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua
competência.

***

Art. 3º Constatada a infração pela autoridade de trânsito ou por seu agente, ou


ainda comprovada sua ocorrência por aparelho eletrônico ou por equipamento
audiovisual, reações químicas ou qualquer outro meio tecnológico disponível,
previamente regulamentado pelo CONTRAN, será lavrado o AIT, que deverá conter
os dados mínimos definidos pelo art. 280 do CTB e em regulamentação específica.
§ 1º O AIT de que trata o caput poderá ser lavrado pela autoridade de trânsito ou
por seu agente:
I - por anotação em documento próprio;
II - por registro em talão eletrônico isolado ou acoplado a equipamento de detecção
de infração regulamentado pelo CONTRAN, atendido o procedimento definido pelo
órgão máximo executivo de trânsito da União; ou
III - por registro em sistema eletrônico de processamento de dados, quando a
infração for comprovada por equipamento de detecção provido de registrador de
imagem, regulamentado pelo CONTRAN
§ 2º O órgão autuador, sempre que possível, deverá imprimir o AIT lavrado nas
formas previstas nos incisos II e III do § 1º para início do processo administrativo
previsto no Capítulo XVIII do CTB, sendo dispensada a assinatura da autoridade ou
de seu agente.
§ 3º O registro da infração, referido no inciso III do § 1º será referendado por
autoridade de trânsito, ou seu agente, que será identificado no AIT.
§ 4º Sempre que possível, o condutor será identificado no momento da lavratura do
AIT.
§ 5º O AIT valerá como NA quando for assinado pelo condutor e este for o
proprietário do veículo ou o principal condutor previamente identificado, desde que
conste a data do término do prazo para a apresentação da defesa da autuação, nos
termos do art. 281-A do CTB.
§ 6º O talão eletrônico previsto no inciso II do § 1º constitui-se de sistema
informatizado (software) instalado em equipamentos preparados para esse fim ou
no próprio sistema de registro de infrações do órgão autuador, na forma
disciplinada pelo órgão máximo executivo de trânsito da União.

Uma inovação importante de destacar aqui, é a dispensa da assinatura da autoridade ou


de seu agente se o auto de infração for lavrado de forma eletrônica.

São nesses artigos (básicos) que você deve se basear quando tiver em mãos um auto de
infração.

47
E porque eu digo “artigos básicos”? Porque além deles, é necessário ter em mente que
você terá que analisar a legislação complementar e Resoluções específicas para o caso.

Vejamos um exemplo:

A Resolução 798/2020 que estabelece requisitos técnicos mínimos para a fiscalização da


velocidade de veículos automotores, reboques e semirreboques, conforme o Código de
Trânsito Brasileiro, diz que no auto de infração precisa constar os seguintes itens:

Art. 9º Para sua consistência e regularidade, o auto de infração de trânsito (AIT) e


a notificação de autuação (NA), além do disposto no CTB e na legislação
complementar, devem conter, no mínimo, as seguintes informações:
I - imagem com a placa do veículo;
II - velocidade regulamentada para o local da via em km/h;
III - velocidade medida do veículo, no momento da infração, em km/h;
IV - velocidade considerada, já descontada a margem de erro metrológica, em
km/h;
V - local da infração, onde o equipamento está instalado ou sendo operado,
identificado de forma descritiva ou codificado;
VI - data e hora da infração;
VII - identificação do instrumento ou equipamento utilizado, mediante numeração
estabelecida pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via;
VIII - data da última verificação metrológica; e
IX - números de registro junto ao Inmetro e de série do fabricante do medidor de
velocidade.
Parágrafo único. O órgão ou entidade com circunscrição sobre a via deve dar
publicidade, por meio do seu site na rede mundial de computadores, antes do início
de sua operação, da relação de todos os medidores de velocidade existentes em sua
circunscrição, contendo o tipo do equipamento, o número de registro junto ao
Inmetro, o número de série do fabricante, a identificação estabelecida pelo órgão
e, no caso do tipo fixo, também do local de instalação.

Se a receita não estiver ok, há nulidade de FORMA, pois há violação quanto a este
requisito do ato administrativo. Por este motivo é importante conhecer toda a legislação
envolvida, inclusive o próprio Direito Administrativo.

Lembre-se de observar também a Portaria nº 354 da SENATRAN, que estabelece os


campos de informações que deverão constar no auto de infração, os campos
facultativos, obrigatórios e como se dará o preenchimento, para fins de uniformização
em todo o território nacional.

Por fim, é válido trazer a Portaria n° 58/2020 da Polícia Rodoviária Federal, que dispõe
sobre as informações mínimas que devem constar no auto de infração, prazos e
procedimentos para apresentação de defesa da autuação e de recurso de penalidade de
multa, por infrações ao Regulamento para Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos
no âmbito da Polícia Rodoviária Federal.

48
Sempre que os requisitos formais do auto de infração não forem observados ou quando
a peça não revestir a forma prevista na legislação de trânsito, o AIT deve ser anulado,
por ser inconsistente ou irregular, como bem determina o artigo 281, do Código de
Trânsito Brasileiro:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste


Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I – se considerado inconsistente ou irregular;

Havendo inobservância por parte do órgão de trânsito de algum requisito para aplicação
da penalidade de multa, o procedimento deverá ser anulado, com fundamento no art.
281 do CTB.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, a Resolução nº 918 do CONTRAN, bem


como o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, o auto de infração de trânsito é
o principal documento do processo administrativo para a imposição da penalidade de
punição em decorrência de alguma infração à legislação de trânsito.

O AIT é peça informativa que subsidia a Autoridade de Trânsito na aplicação das


penalidades e sua consistência está na perfeita caracterização da infração, devendo ser
preenchido de acordo com as disposições contidas no artigo 280 do CTB e demais
normas regulamentares, com registro dos fatos que fundamentaram sua lavratura.

Quando a configuração de uma infração depender da existência de sinalização


específica, esta deverá revelar-se suficiente e corretamente implantada de forma legível
e visível. Caso contrário, o agente não deverá lavrar o AIT, comunicando à Autoridade
de Trânsito com circunscrição sobre a via a irregularidade observada.

Por isso o acesso ao AIT - que é a peça acusatória - é indispensável, pois a defesa não é
contra a notificação, mas sim contra o auto de infração!

Se você não tem acesso ao AIT há vício do procedimento (modelo de pedido em anexo,
no material complementar). É necessário comprovar que solicitou a cópia e não teve
acesso (pegue algo, como um protocolo, por exemplo, comprovando que você solicitou
o auto de infração e não teve acesso), assim você poderá pleitear a nulidade não
somente do AIT, mas de todo o processo administrativo que é instaurado para a
aplicação de uma penalidade de multa.

Ainda o artigo 280 do Código de Trânsito Brasileiro, em conjunto com o Manual


Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, trazem em seus textos quais são os elementos
formais que devem estar contidos no auto de infração.

Regularidade e consistência do Auto de Infração

49
A inconsistência do auto de infração diz respeito aos requisitos contidos no art. 280 do
CTB, isso porque, o próprio art. 281 em seu caput diz que: "A autoridade de trânsito, na
esfera da competência estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará
a consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível".

A partir daí, vamos imaginar a seguinte situação: O agente de trânsito lavra um AIT
contra o motorista conforme determina o art. 280 do CTB, a Portaria 354 da SENATRAN
e nos termos do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito.

Desse modo, após a autuação, o agente enviará o auto de infração para a autoridade de
trânsito que “JULGARÁ” o auto de infração para verificar se este atende os requisitos
mínimos da lei (consistência) e aplicará a penalidade cabível.

Veja que o art. 281 caput NÃO diz que a autoridade de trânsito julgará a regularidade
do auto de infração, mas apenas a sua consistência. Entende-se por consistente,
também, o AIT que impute a prática de uma infração de trânsito.

AIT inconsistente e irregular é NULO e, assim, havendo inobservância por parte do órgão
de trânsito de algum requisito para aplicação da penalidade de multa, o procedimento
deverá ser anulado com fundamento no art. 281 do CTB.

Por fim, como o auto de infração relata uma suposta infração de trânsito, aquele que foi
autuado pode e deve exercer seu direito de defesa no processo administrativo de
trânsito que será instaurado, pois se trata de uma garantia constitucional, como se
observa no artigo 5º, incisos LIV e LV, da Constituição Federal, como veremos adiante.

Auto de Infração como Peça Informativa

O Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito diz que: “o AIT é peça informativa que
subsidia a Autoridade de Trânsito na aplicação das penalidades e sua consistência está
na perfeita caracterização da infração, devendo ser preenchido de acordo com as
disposições contidas no artigo 280 do CTB e demais normas regulamentares, com
registro dos fatos que fundamentaram sua lavratura”.

Entendemos, então, que aqui estamos diante de um auto de infração consistente.

E sendo uma peça informativa, “não poderá conter rasuras, emendas, uso de corretivos,
ou qualquer tipo de adulteração. O seu preenchimento se dará com letra legível,
preferencialmente, com caneta esferográfica de tinta preta ou azul”.

É isso que determina se um AIT é regular, caso tenha rasuras, emendas, como acima
exposto, ele será irregular.

Cabe, aqui, destacar que a inobservância à forma é vício formal que torna nulo o
processo administrativo para a imposição das penalidades, nos exatos termos do Código
Civil:

50
Art. 145. É nulo o ato jurídico:
III – quando não revestir a forma prescrita em Lei.

A legibilidade pode ser entendida como a facilidade de leitura, que possibilita


compreender o auto de infração, tornando eficiente as informações nele contidas.

Não sendo possível ler e entender o auto de infração, deve ser declarada sua
inconsistência.

As rasuras ocorrem quando o texto do auto de infração é alterado voluntariamente pelo


agente de trânsito, incluindo ou retirando letras na tentativa de corrigir o que estava
escrito, provocando borrões, desgastes, rabiscados, tornando difícil a leitura.

O texto emendado é aquele em que o agente de trânsito, a fim de corrigir eventual


informação que foi colocada de forma errada no auto de infração, introduz a informação
correta no campo de “observações”, retificando os dados.

Corretivos são substâncias (tinta especial branca) utilizadas para apagar totalmente o
que havia sido escrito em determinados campos no auto de infração, possibilitando a
inserção de novas informações sobre aquelas apagadas.

Por fim, a adulteração significa introduzir uma alteração no auto de infração, uma
modificação ou manipulação tentando simular a regularidade da autuação. Nesses
casos, encontramos facilmente autos de infração que foram preenchidos
posteriormente à sua lavratura, com canetas de outras cores, letra de outro agente de
trânsito, dados divergentes entre a primeira via (deixada com o infrator) e a segunda via
que instrui a peça administrativa.

Nesses casos, a inobservância da forma ou dos procedimentos previstos para o


preenchimento do auto de infração produzem o mesmo resultado, a ilicitude do ato
administrativo, consubstanciada pela sua insubsistência ou irregularidade. Isso porque,
a previsão dos requisitos e da forma de preenchimento do auto de infração decorrem
de Lei e não possuem qualquer discricionariedade, devendo serem preenchidas nos
exatos termos previstos.

Isso porque, no direito administrativo, o aspecto formal do ato é de muito maior


relevância do que no direito privado, já que a obediência à forma (no sentido estrito) e
ao procedimento constitui garantia jurídica para o administrado e para a própria
administração;

Sempre que os requisitos formais do auto de infração não forem observados ou quando
a peça não revestir a forma prevista na legislação de trânsito, a autuação deve ser
anulada, por estar inconsistente ou irregular, como bem determina o artigo 281, do
Código de Trânsito Brasileiro:

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Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste
Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I – se considerado inconsistente ou irregular;

Havendo inobservância por parte do órgão de trânsito de algum requisito para aplicação
da penalidade, a exemplo de um vício formal devidamente comprovado no auto de
infração, A SANÇÃO NÃO DEVE EXISTIR em respeito à segurança jurídica e a aplicação
justa do Direito.

Por fim, como o auto de infração relata uma possível penalidade, aquele que foi autuado
pode e deve exercer seu direito de defesa no processo administrativo de trânsito que
será instaurado, pois se trata de uma garantia constitucional, como se observa no artigo
5º, LIV e LV, da Constituição Federal.

Julgamento da consistência do Auto de Infração

Como estudado, o auto de infração inicia o processo administrativo de trânsito. Porém


ele ainda não é um ato consistente até que a autoridade julgue o seu conteúdo e, então,
dê a publicidade a quem de direito através da expedição da notificação.

Após a lavratura do auto de infração, na forma estabelecida pelo artigo 280, a segunda
etapa do processo administrativo de trânsito consiste no julgamento de sua
consistência, para a aplicação da penalidade cabível. Essa é a leitura do artigo 281 do
CTB, vejamos:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste


Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação.

Antes, entretanto, de ser efetivamente emitida a notificação da autuação, caberá à


autoridade de trânsito verificar se o auto de infração apresenta a regularidade formal
necessária, ou seja, significa verificar se o AIT preenche os requisitos do ato
administrativo e dos artigos já mencionados aqui pra você.

Se positivo, aí sim é emitida a notificação da autuação, para o proprietário do veículo


manifestar-se sob dois aspectos: I) indicar o condutor, nas infrações de sua
responsabilidade (nos termos do artigo 257); e II) apresentar a defesa da autuação, para
que a multa não seja aplicada.

52
Importante frisar que a inconsistência ou irregularidade da autuação deve ser
reconhecida de ofício, pela autoridade de trânsito que, ao perceber que houve um
equívoco no preenchimento ou na análise da conduta flagrada, deverá promover o
arquivamento do auto de infração, ante a inconsistência ou irregularidade do mesmo.
Mas pode ser que isso não aconteça. E aí você deverá alegar essa inconsistência ou
irregularidade.

Então, concluindo, o auto de infração consistente deve assegurar que as informações


nele contidas são absolutamente verdadeiras, inclusive no que diz respeito à
competência da autoridade e/ou agente da autoridade de trânsito.

O auto de infração consistente deve ainda ter informações que imputem ao responsável
a prática de uma infração.

Por sua vez, a regularidade do auto de infração é inerente aos seus requisitos. Ele deve
dispor de informações essenciais para que o infrator exerça o seu direito de defesa.

Caso a inconsistência ou irregularidade não seja verificada pela autoridade de trânsito,


você, como defensor do motorista, poderá fazer isso, impugnando o julgamento da
consistência do AIT.

Na defesa prévia buscamos a inconsistência do AIT.

O artigo 281 ainda aponta dois requisitos para que a multa de trânsito seja imposta pelo
órgão ou entidade de trânsito:

O primeiro diz respeito à formalidade do auto de infração, como já exposto;

O segundo relaciona-se ao prazo máximo de trinta dias, para que seja expedida a
notificação da autuação, que veremos adiante.

Possibilidade de impugnar o julgamento da consistência do AIT

Esse tópico é o “pulo do gato”, visto que a consistência do auto de infração pode ser
impugnada.

É preciso que você entenda que há diferença entre julgamento da consistência do auto
de infração e julgamento da defesa prévia.

A primeira oportunidade para impugnar o feito é na defesa da autuação, a partir da


expedição da notificação da autuação.

Veja o que diz o parágrafo único do art. 281 do CTB: O auto de infração será arquivado
e seu registro julgado insubsistente: I - se considerado inconsistente ou irregular;

Temos aqui o “primeiro julgamento”. E você pode e DEVE impugnar esse julgamento.

53
Entretanto, quando um AIT é inconsistente e quando ele é irregular?

Um AIT consistente é aquele constituído, composto por uma informação que impute a
alguém a prática de uma infração. Assim, é ter o auto de infração de trânsito a descrição
de um fato sobre o qual incidiu uma norma jurídica, no caso uma norma jurídica de
trânsito, fazendo nascer o fato jurídico da infração de trânsito.

Por exemplo, um cidadão estaciona o veículo em um local proibido, o agente da


autoridade de trânsito, descreve no auto de infração aquela conduta e tipifica-a, ficando
claro o nascimento do ato jurídico ilícito - infração de trânsito. Assim, por mais que o
auto de infração não atenda aos requisitos formais, previstos no art. 280 do CTB, houve
a infração e isto possui, logicamente, um efeito.

Já a irregularidade do auto de infração é inerente aos seus requisitos, ou seja, é


intimamente ligada à forma do auto de infração.

Ser irregular é não dispor das informações essenciais para que o infrator exerça
regularmente seu direito de defesa. Em outras palavras, é suprimir os elementos
prescritos pelos incisos I, II, III e V, do Art. 280, do CTB.

A irregularidade do auto de infração em nada tem a ver com (in)consistência dele. Tal
afirmação poderá parecer contraditória, mas não o é.

Um auto de infração irregular, que traga consigo a notícia do cometimento de uma


infração de trânsito, não terá seu efeito produzido por vício formal.

Porém, isso não implica dizer que não houve infração. Ao contrário, na maioria dos casos
há a infração, mas a desobediência aos requisitos legais torna ineficaz o auto de infração
de trânsito, se houver a impugnação (defesa ou recursos), o auto será convalidado e as
imputações da multa e da pontuação serão justas.

Vamos agora entender a diferença entre julgamento da consistência do auto de infração


e julgamento da defesa prévia. Veja o vídeo clicando aqui. Você vai entender um pouco
melhor essa questão.

Entendido esse ponto, a primeira oportunidade para impugnar o julgamento da


consistência do AIT é na defesa da autuação, a partir da expedição da notificação da
autuação.

Usando os argumentos aqui trazidos, se verificado que houve falha no julgamento da


consistência do AIT, você deve fazer essa impugnação na defesa prévia ou defesa da
autuação.

Solicitando cópia do Auto de Infração

54
É importante que você solicite cópia do auto infração, uma vez que na notificação, seja
da autuação, seja da imposição da penalidade não constam (apesar de dever) todos os
campos que foram preenchidos no AIT.

Quando do recebimento das notificações, você, como defensor do motorista, DEVE


solicitar cópia do auto de infração com a finalidade de analisar os aspectos formais e
todos os campos de preenchimento obrigatório do mesmo.

Isso porque, é no auto de infração que constam os campos preenchidos pelo agente de
trânsito e, se for o caso, os erros por ele cometidos, ilegibilidade ou rasuras, por isso a
importância de requerer/solicitar junto ao órgão autuador, a cópia do auto de infração.

Solicitar a cópia, assegura a comprovação da veracidade do ato administrativo, caso o


AIT não esteja corretamente preenchido, terá um ótimo argumento para fazer cair por
terra a presunção de legitimidade do ato administrativo.

Ao ter o AIT em mãos, você terá a oportunidade de apontar vícios que podem colaborar
para o arquivamento ou anulação do auto de infração lavrado pelo agente de trânsito
ou verificado pelos equipamentos eletrônicos ou audiovisuais, reações químicas ou
qualquer outro meio tecnológico hábil para tal.

Alguns órgãos disponibilizam a microfilmagem do AIT via site, outros somente mediante
requerimento.

Quando for solicitar a cópia do AIT, procure saber diretamente com o órgão autuador
como proceder.
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Prática: Erros do agente de trânsito que ANULAM o auto de infração

O processo administrativo, como vimos, deve dar oportunidade de o penalizado exercer


o contraditório e ampla defesa. Isso quer dizer que o motorista pode se defender contra
a penalidade que o órgão de trânsito está imputando a ele.

É importante que na hora de se defender, você, como defensor do condutor,


solicite/requeira, junto ao órgão de trânsito competente, a cópia do auto infração, pois,
muitas vezes, os autos infração são lavrados sem abordagem, fazendo com que os
motoristas e proprietários de veículos só tenham conhecimento do cometimento da
suposta infração após receberem a notificação da autuação.

Você vai ver como solicitar a cópia do auto de infração na parte “bônus”.

Auto de infração preenchido de forma errada:

Em que pese o AIT em questão ter sido julgado consistente pela autoridade de trânsito,
pois houve expedição da notificação da autuação, ele merece ser imediatamente
anulado por inobservância do preenchimento do local da infração. Note que neste caso,
o agente de trânsito apenas escreveu o nome da Rodovia, sem mencionar o km/número
onde o suposto cometimento da infração ocorreu.

Especificar o local da suposta infração como sendo apenas “rodovia x”, viola o artigo
280, II do CTB, já que se for uma infração por ultrapassagem em faixa contínua amarela,
por exemplo - artigo 203, V do CTB - há diversos locais em uma rodovia onde é permitido
ou não a ultrapassagem. Percebe a importância do auto de infração ser preenchido da
maneira correta? O auto de infração do exemplo, viola o exercício do contraditório e da
ampla defesa, já que não é possível identificar o local onde ocorreu (ou não) a suposta
ultrapassagem em local proibido.

Fazendo isso, há inobservância do artigo 280, II do CTB, vejam:

Art. 280: Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á auto de


infração, do qual constará:
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[...]
II - local, data e hora do cometimento da infração;

Assim, pelo erro de preenchimento por parte da autoridade de trânsito, o AIT deve ser
anulado, com fundamento no artigo 281 do CTB, uma vez que o AIT é inconsistente e
irregular, pois viola o requisito de existência.

Outro caso que anula o auto de infração: Auto de infração ilegível.

Segundo o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, conforme estudamos o AIT é


peça informativa, e, portanto, não poderá conter rasuras, emendas, uso de corretivos,
ou qualquer tipo de adulteração e o seu preenchimento se dará com letra legível,
preferencialmente, com caneta esferográfica de tinta preta ou azul.

A legibilidade pode ser entendida como a facilidade de leitura, que possibilita


compreender o auto de infração, tornando eficiente as informações nele contidas.

Não sendo possível ler e entender o auto de infração, deve ser declarada sua
inconsistência, com base no artigo 281 do CTB.

No caso em análise o AIT foi lavrado por infração ao artigo 165 do CTB. Assim, segundo
o §3° do artigo 8° da Resolução 423 do CONTRAN, é necessário que no AIT conste a
marca, modelo e nº de série do aparelho, nº do teste, a medição realizada, o valor
considerado e o limite regulamentado em mg/L;

Porém, no AIT acima é impossível “decifrar” qual o número de série do equipamento


utilizado para fazer a medição, o que prejudica o motorista em sua defesa, já que não
consegue pesquisar a data de aferição do equipamento.

Nesses casos, a inobservância da forma ou dos procedimentos previstos para o


preenchimento do auto de infração produzem o mesmo resultado, a ilicitude do ato
administrativo, o que acarreta a sua insubsistência ou irregularidade.

Como estudado, sempre que os requisitos formais do auto de infração não forem
observados ou quando a peça não revestir a forma prevista na legislação de trânsito, o
auto de infração deve ser anulado, por estar inconsistente ou irregular, como bem
determina o artigo 281, do Código de Trânsito Brasileiro.

Processo Administrativo de Trânsito

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Passaremos agora para o estudo do processo administrativo para aplicação da
penalidade de multa. Para isso, a leitura dos artigos 280 a 290 do CTB são indispensáveis.

Há quem diga que o processo administrativo se inicia com o auto de infração de trânsito
(AIT), porém, eu digo que ele se inicia com o cometimento de uma infração, para haver,
então, o motivo que justifique a lavratura do auto de infração.

Após a constatação da infração, o agente competente lavrará o auto de infração e a


autoridade de trânsito a qual pertence aquele agente, fará uma análise prévia do AIT.

Se ela entender que o AIT é consistente, ela notificará o proprietário do veículo, para lhe
dar ciência que alguém, na condução de seu veículo, cometeu uma infração de trânsito.

Essa primeira notificação, é a notificação da autuação (NA). É nesta notificação que vem
a descrição da infração, contendo também o prazo para apresentação de defesa prévia
(ou defesa da autuação) e/ou indicar o real condutor infrator, caso o proprietário do
veículo queira.

Se não for o proprietário do veículo o infrator, ele poderá fazer a indicação do real
condutor infrator e deverá, assim, preencher os campos do formulário que acompanha
a notificação e deverá protocolá-la no órgão competente, seguindo as instruções da
própria notificação e do artigo 5° da Resolução 918 do CONTRAN.

Vale dizer, que existem algumas infrações onde não é possível fazer a indicação de
condutor, como por exemplo nas infrações que dizem respeito ao estado de
conservação do veículo e documentação do mesmo, conforme artigo 257 do CTB, como
estudado.

Abaixo colaciono um exemplo de formulário de indicação de condutor. Qualquer dado


que for preenchido de forma errada ou se a mesma não for acompanhada dos
documentos exigidos, a indicação de condutor não será acatada.

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A correta indicação do condutor infrator, ou seja, o preenchimento correto de todos os
campos exigidos no formulário é de suma importância para que a indicação de condutor
seja aceita, pois, por incrível que parece, divergência na assinatura e falta de
documentos indispensáveis são a maior causa de rejeição das indicações de condutores.

Fazer a indicação de condutor de forma correta e juntando todos os documentos


exigidos é fundamental para que ela seja aceita, evitando que o proprietário do veículo
arque com infrações que não são de sua responsabilidade e para que não seja instaurado
um processo administrativo para a imposição da penalidade de suspensão do direito de
dirigir por acúmulo de pontos.

Além disso, nos casos em que o motorista está cumprindo a penalidade de suspensão
do direito de dirigir, se ele tiver um veículo registrado em seu nome, a indicação é
fundamental para que não haja a instauração de um processo de cassação da CNH, nos
termos do art. 263 do CTB, como será estudado.

Muito bem, superada a questão da indicação de condutor e do prazo para apresentação


de defesa prévia ou da autuação, após passar pelos requisitos de admissibilidade, se
acolhida a Defesa, o Auto de Infração de Trânsito será cancelado, seu registro será
arquivado e a autoridade de trânsito comunicará o fato ao proprietário do veículo.

Não sendo interposta Defesa da Autuação no prazo previsto ou se esta não for acolhida,
a autoridade de trânsito aplicará a penalidade correspondente.

É neste momento que é expedida a Notificação de imposição da penalidade (NIP), que


também vem acompanhada do boleto para pagamento da multa. Aqui o motorista pode
dizer que foi efetivamente multado, pois antes não tinha sobre ele nenhuma
penalidade.

59
É nessa notificação que conterá o prazo para apresentar recurso à JARI, que são órgãos
colegiados responsáveis pelo julgamento dos recursos interpostos contra penalidades
por eles impostas, que funcionam junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito
ou rodoviário, e/ou fazer o pagamento com desconto. Esta notificação deve observar os
artigos 12 e 13 da Resolução 918 do CONTRAN.

Se o recurso for deferido, não tem multa, não tem pontos! Se esse recurso for
indeferido, ainda há a possibilidade de apresentar recurso ao CETRAN ou CONTRANDIF.

Basicamente essa é a estrutura do processo administrativo que existe para dar ao


penalizado a oportunidade de exercer o contraditório e a ampla defesa:

Um dos atributos do ato administrativo, que eu ainda já falei para vocês, é a presunção
RELATIVA de legalidade e veracidade, ou seja, o ato administrativo presume-se legal e
verdadeiro.

Porém, por ser uma presunção RELATIVA, admite prova em sentido contrário, uma vez
que o AIT comunica o SUPOSTO cometimento de uma infração! E é isso que você fará
para o motorista: você fará cair por terra esta presunção relativa de legalidade de
veracidade, impugnando o auto de infração e verificando se ele está de acordo com o
que determina a legislação.

60
Vale frisar que não é o agente que tem “fé pública” como muitos costumam dizer por
aí. Na verdade, a presunção de veracidade paira sobre o ATO e não sobre o agente.

Princípios Constitucionais: o contraditório e a ampla defesa

A característica fundamental do procedimento administrativo, seja ele qual for, é a


garantia do devido processo legal, que significa o dever de obediência à lei.

Colocar tais princípios em prática significa obediência às normas Constitucionais e legais


que dispõem sobre o procedimento de apuração da irregularidade, ou seja, o processo
administrativo deve obedecer à forma prescrita em lei, assegurando o contraditório e a
ampla defesa ao acusado, permitindo a ele se defender eficazmente.

Qualquer ofensa a esse princípio, acarreta a nulidade do procedimento.

A Constituição Federal é a Lei máxima do nosso Brasil, sendo assim, os princípios que
constam na nossa Carta Suprema devem ser respeitados sobre todas as demais leis.

Partindo desse pressuposto, temos o due process of law, que é uma garantia
constitucional dada ao cidadão, segundo a qual ninguém será privado da liberdade ou
de seus bens sem o devido processo legal, conforme previsão do art. 5º, LIV, CF.

De forma sucinta, podemos dizer que o devido processo legal estabelece três requisitos
simultâneos a qualquer investida contra a liberdade de bens: a) não poderá ter
supressão de bens ou direitos sem processo; b) a forma procedimental deve cumprir o
que prevê a lei; e c) o processo deve ser adequadamente desenvolvido.

Porém, muito mais do que uma garantia, o devido processo legal é um super princípio
norteador do ordenamento jurídico, tendo entre seus objetivos proporcionar a qualquer
pessoa, litigante ou acusada, em processo judicial ou administrativo, o contraditório e
a ampla defesa, bem como os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV, CF).

O CONTRADITÓRIO

O contraditório também é um princípio constitucional, consagrado no art. 5º, LV da


Constituição Federal, constituindo-se em elemento essencial do processo.

Para que o princípio do contraditório seja pleno, não basta apenas intimar a parte para
manifestar-se, ouvi-la e permitir a produção de alegações e provas, mas sim, deixar que
possam influir no convencimento do juiz.

Em termos coloquiais, o contraditório nada mais é do que ouvir também a outra parte.
Isso porque, em um processo, temos quem acusa (ou quem quer impor penalidade) e o
acusado ou quem será penalizado. Por isso, não é justo que somente uma das partes

61
fale para formar o convencimento do juiz, é preciso que as duas sejam ouvidas, para que
o juiz ou o julgador possam decidir qual delas tem razão.

E isso se dá pelo exercício do princípio do Contraditório.

A AMPLA DEFESA

Garantido pela Constituição Federal (art. 5º, LV), o princípio da ampla defesa é uma
consequência do contraditório, porém, tendo características próprias.

Por esse princípio deve ser assegurado à parte, em litígio judicial ou administrativo, o
direito e a garantia da ampla defesa, conferindo ao cidadão o direito de alegar e provar
o que alega, bem como tem o direito de não defender-se. Optando pela defesa, o faz
com ampla liberdade, ocupando-se de todos os meios e recursos disponibilizados.

Em conformidade com o princípio constitucional da ampla defesa, pode a parte utilizar-


se de todos os meios legais pertinentes à busca da verdade real, proibindo-se
taxativamente qualquer cerceamento de defesa.

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Notificações

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Vimos então que os Princípios Constitucionais que garantem o direito de
resposta/defesa ao infrator são o contraditório e a ampla defesa.

A ausência de notificação gera nulidade absoluta pelo error in procedendo ou erro no


proceder. É o erro cometido quando não se obedece a determinadas normas
processuais.

Para que esse direito de resposta seja exercido, é preciso que o infrator ou o proprietário
do veículo seja notificado. A notificação visa, então, propiciar o exercício do
contraditório e da ampla defesa. E se a notificação não tiver informações que permitam
ao infrator apresentar sua defesa o ato será nulo.

Isso porque, sem notificação não há exercício do direito de resposta ou direito de defesa
e, assim, é possível que seja alegada a nulidade do ato administrativo.

Entendido isso, após a lavratura do AIT, julgada a consistência do mesmo, o órgão


autuador vai enviar ao proprietário do veículo, a notificação da autuação.

Notificação da Autuação – NA: oportunidade para apresentar Defesa


Prévia e indicar o condutor infrator

Segundo conceituação trazida pela Resolução 918 do CONTRAN, no inciso II do artigo 2°,
procedimento que dá ciência ao proprietário do veículo de que foi cometida uma infração
de trânsito com seu veículo.

E aí, com a simples leitura deste texto legal, entendemos que a notificação da autuação
vai dar ao proprietário do veículo oportunidade de exercer o direito ao contraditório e
a ampla defesa, através da defesa prévia ou defesa da autuação, bem como indicar o
real condutor infrator, caso não seja ele (proprietário) o responsável pela infração,
conforme previsão do § 7° do art. 257 do CTB.

O § 2° do art. 4° da Resolução 918 do CONTRAN também fala da possibilidade de


apresentação de defesa da autuação:

§ 2º Na NA constará a data do término do prazo para a apresentação da defesa da


autuação pelo proprietário do veículo, principal condutor ou pelo condutor infrator
devidamente identificado, que não será inferior a 30 (trinta) dias, contados da data
de expedição da NA ou publicação por edital, observado o disposto no art. 14

[…]
§ 6º Para as NA expedidas antes de 12 de abril de 2021, o prazo de que trata o § 2º
não será inferior a 15 (quinze) dias.

Vale dizer, que a Lei 14.071/20 adicionou o art. 281-A ao CTB e aumentou o prazo para
apresentação de defesa prévia, bem como para apresentação de condutor infrator, que
agora é de 30 dias, veja:

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Art. 281-A. Na notificação de autuação e no auto de infração, quando valer como
notificação de autuação, deverá constar o prazo para apresentação de defesa
prévia, que não será inferior a 30 (trinta) dias, contado da data de expedição da
notificação.

E o art. 5° desta mesma Resolução, fala, novamente, da possibilidade de indicar o real


condutor infrator:

Art. 5º Caso o condutor do veículo seja o responsável pela infração, não seja o
proprietário ou o principal condutor do veículo e não seja identificado no ato do
cometimento da infração, o proprietário ou principal condutor do veículo deverá
indicar o real condutor infrator, por meio de formulário de identificação do condutor
infrator, que acompanhará a NA […]

Já mostrei anteriormente como é um modelo de formulário para indicação de condutor.

Quando há expedição da notificação da autuação, caso não haja abordagem, será o


primeiro contato do proprietário do veículo com o Processo Administrativo para
imposição de penalidade de multa.

Porém, é válido frisar que ainda não temos uma multa propriamente dito, ou seja, não
é exigível.

Ainda é válido frisar e destacar o que prevê o §1º do art. 5° da Resolução 918, que trata
da impossibilidade de colher a assinatura do condutor infrator, nos casos de veículos
registrados em nome de pessoa jurídica:

§ 1º Na impossibilidade da coleta da assinatura do condutor infrator, além do


preenchimento das informações previstas nos incisos do caput, deverá ser anexado
ao formulário de identificação do condutor infrator:
I - para veículo registrado em nome de órgão ou entidade da administração pública
direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios,
ofício do representante legal do órgão ou entidade, identificando o condutor
infrator, acompanhado de cópia de documento que comprove a condução do
veículo no momento do cometimento da infração; ou
II - para veículo registrado em nome das demais pessoas jurídicas, cópia de
documento onde conste cláusula de responsabilidade por infrações cometidas pelo
condutor e comprove a posse do veículo no momento do cometimento da infração,
o qual deve conter, no mínimo:
a) identificação do veículo;
b) identificação do proprietário;
c) identificação do condutor;
d) cláusula de responsabilidade pelas infrações; e
e) período em que o veículo esteve na posse do condutor apresentado, podendo esta
informação constar em documento separado, desde que devidamente assinado
pelo condutor.

Isso é muito comum de acontecer com veículos de locadora e revendedoras de veículos.

64
E quando ocorre a indicação de condutor de pessoa não habilitada/habilitação vencida
ou de categoria diferente; ou de vários condutores quando as infrações forem
concorrentes?

§ 2º No caso de identificação de condutor infrator em que a situação se enquadre


nas condutas previstas nos incisos do art. 162 do CTB, sem prejuízo das demais
sanções administrativas e criminais previstas no CTB, serão lavrados os respectivos
AIT:
I - ao proprietário do veículo, por infração ao art. 163 do CTB, exceto se o condutor
for o proprietário; e
II - ao condutor indicado, ou ao proprietário que não indicá-lo no prazo estabelecido,
pela infração cometida de acordo com as condutas previstas nos incisos do art. 162
do CTB.

Além dessas consequências, caberia crime, na forma do art. 3102 do CTB.

Consequências da não apresentação do condutor infrator

Se no prazo constante na notificação da autuação não for feita a indicação do real


condutor infrator algumas consequências surgem, tais como:

● Se o proprietário do veículo é pessoa física: este será considerado o responsável


pela infração, o que implicará à ele a atribuição dos respectivos pontos e
penalidade decorrentes (suspensão e cassação, se for o caso);

Nos termos do Art. 6° da Resolução 918 do CONTRAN, vejamos:

Art. 6º O proprietário do veículo será considerado responsável pela infração


cometida, respeitado o disposto no § 2º do art. 5º, nas seguintes situações:
I - caso não haja identificação do condutor infrator até o término do prazo fixado
na Notificação da Autuação;
II - caso a identificação seja feita em desacordo com o estabelecido no artigo 5º; e
III - caso não haja registro de comunicação de venda à época da infração.

● Se o proprietário do veículo for pessoa jurídica: não havendo identificação do


condutor infrator, será lavrada nova multa ao proprietário do veículo. São as
conhecidas multas NIC (não indicação de condutor);

Nos termos do Art. 7° da Resolução 918 do CONTRAN, vejamos:

Art. 7º Ocorrendo a hipótese prevista no art. 6º e sendo o proprietário do veículo


pessoa jurídica, será imposta multa, nos termos do § 8º do art. 257 do CTB,
expedindo-se a NP ao proprietário do veículo, nos termos de regulamentação
específica.

2
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com
habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física
ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
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A multa imposta ao veículo registrado em nome de pessoa jurídica, segundo redação do
§ 8° do art. 257 do CTB será dobrada, vejamos:

§ 8º Após o prazo previsto no § 7º deste artigo, se o infrator não tiver sido


identificado, e o veículo for de propriedade de pessoa jurídica, será lavrada nova
multa ao proprietário do veículo, mantida a originada pela infração, cujo valor
será igual a 2 (duas) vezes o da multa originária, garantidos o direito de defesa
prévia e de interposição de recursos previstos neste Código, na forma estabelecida
pelo Contran.

Sobre este tema, vale a leitura da Resolução 710/17 do CONTRAN que regulamenta os
procedimentos para a imposição da penalidade de multa à pessoa jurídica proprietária
do veículo por não identificação do condutor infrator (multa NIC), nos termos do art.
257, § 8º do Código de Trânsito Brasileiro.

Ainda é possível incluir o “principal condutor” ao Renavam do veículo, nos termos dos
§§ 10° e 11° do art. 257 do CTB, vejamos:

§ 10 O proprietário poderá indicar ao órgão executivo de trânsito o principal


condutor do veículo, o qual, após aceitar a indicação, terá seu nome inscrito em
campo próprio do cadastro do veículo no Renavam.

§ 11 O principal condutor será excluído do Renavam:


I - quando houver transferência de propriedade do veículo;
II - mediante requerimento próprio ou do proprietário do veículo;
III - a partir da indicação de outro principal condutor.

Isso quer dizer que, sendo o principal condutor cadastrado no Renavam do veículo, não
será necessária a indicação de condutor, mesmo que o veículo esteja registrado em
nome de outra pessoa.

Expedição da Notificação da Autuação em 30 dias

Além do já exposto, existe um detalhe importantíssimo, que pode ser alegado visando
a nulidade do processo administrativo: a questão da notificação da autuação que não é
expedida no prazo de 30 dias.

Muitas pessoas fazem confusão e muita gente confunde a questão do envio ou


recebimento dentro do prazo de 30 dias.

Isso porque o artigo 281 do CTB traz a previsão de que a notificação da autuação deve
ser expedida dentro do prazo de 30 dias, vejamos:

Artigo 281 do CTB: A autoridade de Trânsito, na esfera da competência estabelecida


neste Código e dentro da sua circunscrição, julgará a consistência do auto de
infração e aplicará a penalidade cabível.

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Parágrafo único: O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
II – se, no prazo máximo de trinta dias não for expedida a notificação de
autuação. (grifo nosso)

Além do artigo 281, temos essa previsão também no art. 4° da Resolução 918 do
CONTRAN.

Art. 4º Com exceção do disposto no § 5º do art. 3º, após a verificação da


regularidade e da consistência do AIT, o órgão autuador expedirá, no prazo
máximo de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento da infração, a NA
dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão constar os dados mínimos
definidos no art. 280 do CTB.
§ 1º A não expedição da NA no prazo previsto no caput ensejará o arquivamento
do AIT.

Prestem atenção nisso! É importantíssimo que o profissional que atua na defesa de


motoristas e proprietários de veículos saiba entender e interpretar a legislação.

Não devemos confundir o ato de expedição acima citado com o ato de receber a
notificação, pois o que a lei exige é que o órgão de trânsito expeça a notificação no prazo
de 30 dias e não que a notificação chegue ao conhecimento do proprietário do veículo
em 30 dias.

Com a leitura do inciso II do parágrafo único do artigo 281 do CTB e do art. 4° da


Resolução 918, podemos perceber claramente que o auto de infração será anulado se,
em 30 dias, não for expedida a notificação da autuação.

Ok. Entendemos! Mas o que significa ser a notificação “expedida”, conforme grifamos
no artigo supramencionado?

A resposta para essa pergunta, encontramos no artigo 30 da Resolução 918 do


CONTRAN. É neste artigo que temos o complemento do artigo 281, acompanhe a leitura:

Art. 30. A expedição das notificações de que trata esta Resolução se caracterizará:
I - pela entrega da notificação pelo órgão autuador à empresa responsável por seu
envio, quando utilizada a remessa postal; ou
II - pelo envio eletrônico da notificação pelo órgão autuador do veículo, quando
utilizado sistema de notificação eletrônica.

Isso quer dizer então, que a notificação da autuação deve ser postada nos correios no
prazo de 30 dias. É isso que a leitura desses artigos nos fala.

Vamos agora entender como identificar na notificação da autuação a data da expedição


e a data da postagem da notificação.

A Polícia Rodoviária Federal é um dos órgãos de trânsito que deixa em evidência a data
de expedição e a data da postagem.

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Peguei esse exemplo para te mostrar onde encontrar e para que você não se confunda
quando for fazer essa alegação na sua defesa, vejam:

Analisando essa notificação, é fácil perceber que nela consta a data da expedição da
notificação da autuação (NA) e depois, no verso, a data da postagem.

Depois do que estudamos, o que é levado em consideração para fins da nulidade


prevista no artigo 281, II do CTB? A data da postagem!

Você vai alegar essa nulidade em uma preliminar dentro da sua defesa da autuação.

O título pode ser: PRELIMINAR - DA NOTIFICAÇÃO EXPEDIDA FORA DO PRAZO DE 30


DIAS.

Percebeu a importância do estudo das notificações? Para que você consiga alegar a
nulidade antes mesmo de adentrar ao mérito da questão.

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Pode ser que a infração tenha acontecido, pode ser que o auto de infração seja
consistente, porém, se a notificação não for expedida dentro de 30 dias, há
descumprimento na forma do ato administrativo, por isso sua nulidade, porque violou
a forma prescrita em lei.

A ausência de notificação motiva o arquivamento do auto de infração e vicia todo o


procedimento administrativo, tornando-o, como vimos, nulo, inclusive os atos dele
decorrentes.

Notificação de Imposição da Penalidade: Recurso à JARI – 1ª Instância

Além da notificação da autuação, nós temos a notificação de imposição da penalidade


(NIP), que comunica, se for o caso, o resultado da defesa prévia.

Segundo redação do inciso III do art. 2° da Resolução 918 do CONTRAN, é procedimento


que dá ciência da imposição de penalidade, bem como indica o valor da cobrança da
multa de trânsito;

Quando falamos de notificação é muito importante que o especialista conheça a Súmula


312 do STJ que diz:

No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são


necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente
da infração.

E também o art. 282 do CTB:

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.
[…]
§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades previstas no art. 256
deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias ou, se houver interposição de defesa
prévia, de 360 (trezentos e sessenta) dias, contados:
I - no caso das penalidades previstas nos incisos I e II do caput do art. 256 deste
Código, da data do cometimento da infração
II - no caso das demais penalidades previstas no art. 256 deste Código, da conclusão
do processo administrativo da penalidade que lhe der causa
[…]
§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no § 6º deste artigo implicará a
decadência do direito de aplicar a respectiva penalidade.

O art. 282 teve nova redação pela Lei 14.229, bem como os §§ 6° e 7°. O texto legal
incluiu prazos que, ao serem desobedecidos, ensejarão a decadência do direito de
punir.

69
Então note: temos dois tipos de notificação obrigatórias: Notificação da autuação e
notificação da imposição da penalidade, a doutrina e a jurisprudência tratam o tema
como “Dupla Notificação”, pois temos duas notificações obrigatórias.

A notificação de imposição da penalidade dá ciência ao infrator que a penalidade foi


imposta, na forma do art. 12 da Resolução 918 do CONTRAN, vejamos:

Art. 12. A NP de multa deverá conter:


I - os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e em regulamentação específica;
II - a comunicação do não acolhimento da defesa da autuação ou da solicitação de
aplicação da penalidade de advertência por escrito;
III - o valor da multa e a informação quanto ao desconto previsto no art. 284 do
CTB;
IV - a data do término para apresentação de recurso, que será a mesma data para
pagamento da multa, conforme §§ 4º e 5º do art. 282 do CTB;
V - campo para a autenticação eletrônica, regulamentado pelo órgão máximo
executivo de trânsito da União; e
VI - instruções para apresentação de recurso, nos termos dos arts. 286 e 287 do CTB.
Parágrafo único. O órgão autuador deverá utilizar documento próprio para
arrecadação de multa que contenha as características estabelecidas pelo órgão
máximo executivo de trânsito da União.

Ela também deve comunicar o não acolhimento da Defesa da Autuação ou da solicitação


de aplicação da Penalidade de Advertência por Escrito, deve informar o valor da multa,
bem como quanto ao desconto previsto no art. 284 do CTB e o prazo para apresentação
de recurso, que será a mesma data para pagamento da multa, conforme § § 4º e 5º do
art. 282 do CTB;

O recurso que a notificação da penalidade oportuniza é o recurso à JARI, conforme


redação dos arts. 12 e 13 da Resolução 918 do CONTRAN. Vale a leitura dos arts. 285 e
seguintes do CTB.

O que é JARI?
A Junta Administrativa de Recursos e Infrações – JARI compõe o Sistema Nacional de
Trânsito.

A JARI, como vimos, não é a primeira oportunidade de “defesa” de um processo


administrativo punitivo. A primeira oportunidade, é a defesa prévia.

Assim, a JARI é a segunda oportunidade de defesa, mas a primeira instância recursal,


pois a mesma só poderá ser provocada após a notificação de penalidade.

Junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito ou rodoviário existirão quantas


JARis forem necessárias para a apreciação dos recursos dentro do prazo legal.

Vejamos a previsão no CTB da JARI:


70
Art. 16. Junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito ou rodoviário
funcionarão Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI, órgãos
colegiados responsáveis pelo julgamento dos recursos interpostos contra
penalidades por eles impostas.
Parágrafo único. As JARI têm regimento próprio, observado o disposto no inciso VI
do art. 12, e apoio administrativo e financeiro do órgão ou entidade junto ao qual
funcionem.

Art. 17. Compete às JARI:


I - julgar os recursos interpostos pelos infratores;
II - solicitar aos órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos rodoviários
informações complementares relativas aos recursos, objetivando uma melhor
análise da situação recorrida;
III - encaminhar aos órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos
rodoviários informações sobre problemas observados nas autuações e apontados
em recursos, e que se repitam sistematicamente.

Muito bem. Após a interposição do recurso à JARI, o proprietário do veículo ou condutor


infrator, deverá ter ciência do resultado deste recurso, conforme redação do art. 17 da
Resolução 918 do CONTRAN: “O recorrente deverá ser informado das decisões dos
recursos de que tratam os artigos 15 e 16.”

Além disso, importante frisar que até a data do vencimento expressa na Notificação da
Penalidade de Multa ou enquanto permanecer o efeito suspensivo sobre o Auto de
Infração de Trânsito, não incidirá qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento
e transferência, nos arquivos do órgão ou entidade executivos de trânsito responsável
pelo registro do veículo.

Essa é a redação do art. 13 da Resolução 918 do CONTRAN.

Efeito Suspensivo: o que e como funciona na prática?


O efeito suspensivo acontece imediatamente após ser apresentado o Recurso à JARI, na
forma do art. 285 do CTB, vejam:

Art. 285. O recurso contra a penalidade imposta nos termos do art. 282 deste Código
será interposto perante a autoridade que imputou a penalidade e terá efeito
suspensivo.

O efeito suspensivo está descrito também no §3º do art. 284 do CTB:

Art. 284.
[…]
§ 3º Não incidirá cobrança moratória e não poderá ser aplicada qualquer restrição,
inclusive para fins de licenciamento e transferência, enquanto não for encerrada a
instância administrativa de julgamento de infrações e penalidades.

71
Isso quer dizer que enquanto houver recurso em julgamento, ou seja, em andamento, a
penalidade de multa não pode ser cobrada.

A fase administrativa, por sua vez, finaliza nos termos do que dispõe o art. 290 do CTB:

Art. 290. Implicam encerramento da instância administrativa de julgamento de


infrações e penalidades:
I - o julgamento do recurso de que tratam os arts. 288 e 289;
II - a não interposição do recurso no prazo legal; e
III - o pagamento da multa, com reconhecimento da infração e requerimento de
encerramento do processo na fase em que se encontra, sem apresentação de
defesa ou recurso.
Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades aplicadas nos termos
deste Código serão cadastradas no RENACH.

Outro ponto importante é que o pagamento da multa pelo proprietário do veículo (para
aproveitar o desconto), não enseja renúncia ao recurso, desde que seja feito com 20%
de desconto e não com 40% de desconto, na forma do art. 284 do CTB.

Recurso em 2ª Instância
E, por fim, conforme leitura do artigo 16 da Resolução 918 do CONTRAN, “das decisões
da JARI caberá recurso em segunda instância na forma dos arts. 288 e 289 do CTB.”

Essa também é a previsão do art. 14, V, “a” do CTB:

Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao


Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE:
[...]
V - julgar os recursos interpostos contra decisões:
a) das JARI;

Quero frisar com vocês que a notificação devolvida por desatualização do endereço do
proprietário do veículo será considerada válida para todos os efeitos, conforme leitura
do §1° art. 282 do CTB.

Quem notificar? Proprietário ou condutor infrator?


Como já vimos, o CTB separou a responsabilidade pelas infrações de trânsito em seu
artigo 257. A redação deste artigo é a seguinte: “As penalidades serão impostas ao
condutor, ao proprietário do veículo...)”. Os demais sujeitos passivos deste artigo não
serão objeto do nosso estudo.

Temos, então, a certeza de que as penalidades podem ser aplicadas ao proprietário ou


ao condutor.

72
O artigo 18 da Resolução 918 do CONTRAN, bem como o art. 290 do CTB preveem que
somente depois de esgotados os recursos, as penalidades aplicadas poderão ser
cadastradas no RENACH.

RENACH é o Registro Nacional de Carteira de Habilitação. É um grande banco de dados


que registra toda a vida do condutor. Ele controla as mudanças de categoria, imposições
de penalidades, suspensões do direito de dirigir e ainda mudança de domicílio e
transferência de estado.

E porque estou falando tudo isso para você? Por conta da nulidade que vem
acompanhada da ausência de notificação de um desses indivíduos.

Vamos ler com atenção o §4° do artigo 282 do CTB:

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.
[…]
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo para apresentação
de recurso pelo responsável pela infração, que não será inferior a trinta dias
contados da data da notificação da penalidade.

Viu?! A notificação será expedida ao responsável pela infração, que pode ser o
proprietário do veículo ou o condutor infrator de um modo que assegure a penalidade
a ser aplicada.

Como lemos, após finalizada a oportunidade de apresentar defesa e recursos, a


penalidade será cadastrada no RENACH do infrator. E, como vimos, as penalidades
podem ser aplicadas ao proprietário ou ao condutor, ou seja, temos aqui dois sujeitos
que podem não ser a mesma pessoa.

Vamos de exemplo prático disso que está sendo exposto: Erica empresta seu carro,
Range Rover Evoque para você. Você vai numa festa, bebe alguns drinks, vai embora
dirigindo e é pego numa blitz da Lei Seca. Enquanto isso, Erica, que é a proprietária do
veículo, está em casa assistindo Netflix.

A multa da Lei Seca é de responsabilidade do condutor infrator. Não confunda a questão


da responsabilidade pelo pagamento da multa, essa sim é do proprietário do veículo.

Fique com isso em mente. Aí eu te pergunto: quem deve ser notificado? O condutor que
cometeu a infração e sobre ele recairá a penalidade em questão ou o proprietário?

ATENÇÃO para o parágrafo 5° do artigo 3° da Resolução 918, vejam:

§ 5º O AIT valerá como NA quando for assinado pelo condutor e este for o
proprietário do veículo ou o principal condutor previamente identificado, desde que

73
conste a data do término do prazo para a apresentação da defesa da autuação, nos
termos do art. 281-A do CTB.

No exemplo, Erica é a proprietária e você o condutor. O auto de infração valerá como


notificação? Não!

Ou seja, em infrações nas quais o CTB atribuiu a responsabilidade exclusiva ao condutor,


torna ele o único legitimado ao exercício da ampla defesa e do contraditório, devendo,
obrigatoriamente, a ele serem encaminhadas as notificações.

Concluindo, nas linhas da legislação estudada, não é possível extrair que apenas o
proprietário do veículo tem o direito ao exercício ao contraditório e a ampla defesa. Pelo
contrário, resta evidente que o direito de resposta se aplica ao condutor quando das
infrações de sua responsabilidade, pois em seu RENACH, são cadastradas as
penalidades.

Podemos citar como exemplo: carro alugado; carro emprestado, etc…

Em casos assim, usamos como fundamentação a violação ao artigo 5º, LV da


Constituição Federal, bem como a Súmula 312 do STJ, além dos artigos aqui já citados,
pois há confusão na legitimidade da pessoa a ser penalizada.

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Quem notificar? Empresas de Arrendamento Mercantil

No caso de veículo objeto de arrendamento mercantil, a previsão também está na


Resolução 918 do CONTRAN, no art. 8° e diz que:

Art. 8º Para fins de cumprimento desta Resolução, no caso de veículo objeto de


penhor ou de contrato de arrendamento mercantil, comodato, aluguel ou
arrendamento não vinculado ao financiamento do veículo, o possuidor,
regularmente constituído e devidamente registrado no órgão ou entidade
executivos de trânsito do Estado ou Distrito Federal, nos termos de regulamentação
específica, equipara-se ao proprietário do veículo.
Parágrafo único. As notificações de que trata esta Resolução somente deverão ser
enviadas ao possuidor previsto neste artigo no caso de contrato com vigência
igual ou superior a 180 (cento e oitenta) dias.

Isso quer dizer então que o contrato de penhor, arrendamento mercantil, comodato,
aluguel e arrendamento devem estar registrados no RENAVAM do veículo, conforme
previsão da Resolução 807/2020, que dispõe sobre os procedimentos para o registro de
contratos de financiamento com garantia real de veículo nos órgãos ou entidades
executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, para anotação no Certificado
de Registro de Veículos (CRV) e no Certificado de Licenciamento Anual (CLA).

Notificações e a desatualização de endereço

Como visto, as notificações para comunicar cometimento de infrações de trânsito, são


enviadas no endereço do veículo, registrado no DETRAN.

Já as notificações de instauração de processos administrativos de suspensão ou


cassação do direito de dirigir, são enviadas no endereço da CNH.

Por isso é importante que você oriente o cliente a manter o endereço do veículo e da
CNH atualizados nos cadastros Detran do estado a qual ele pertence e no RENACH, pois
se o endereço estiver errado essas notificações podem não chegar até a pessoa a ser
notificada.

E se ela não chegar, será difícil usar esse argumento a seu favor, pois uma coisa é chegar
fora do prazo, outra coisa é não chegar porque o seu endereço estava desatualizado.

Isso porque segundo a legislação, serão consideradas válidas para todos os efeitos as
notificações devolvidas por desatualização de endereço, conforme dispõe o Art. 282, §
1º, do Código de Trânsito Brasileiro, bem como o §5° do artigo 10° e do §5º do art. 32
da Resolução 918 do CONTRAN, veja:

Art. 282.
[…]

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§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço do proprietário
do veículo ou por recusa em recebê-la será considerada válida para todos os
efeitos.

***

§ 5º Caso não seja providenciada a atualização do endereço prevista no § 4º, a


notificação devolvida por esse motivo será considerada válida para todos os
efeitos

§ 5º A notificação devolvida por desatualização do endereço do infrator junto ao


órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo seu prontuário será
considerada válida para todos os efeitos.

Depois faça com calma a leitura dos artigos que eu cito neste material e qualquer dúvida,
já sabe.

Notificação por edital e notificações virtuais

A notificação por edital é tratada no Capítulo V da Resolução 918 nos casos de multas
de trânsito.

O Capítulo V inicia-se com o artigo 14 e prevê:

Art. 14 - Esgotadas as tentativas para notificar o infrator ou o proprietário


do veículo por meio postal ou pessoal, as notificações de que trata esta
Resolução serão realizadas por edital publicado em diário oficial, na forma
da lei, respeitados o disposto no § 1º do art. 282 do CTB e os prazos
prescricionais previstos na Lei nº 9.873, de 23 de novembro de 1999, que
estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva.

Com a simples leitura deste artigo, podemos perceber que a notificação por edital só vai
acontecer após esgotadas as tentativas para notificar o infrator ou o proprietário do
veículo.

E ela deve conter os mesmos requisitos da notificação que é enviada de forma postal.

Na prática, muitas vezes essas tentativas não são esgotadas antes da publicação em
edital, resultando em um condutor desinformado sobre a penalidade que corre contra
ele.

Sistema de Notificação Eletrônica (SNE)

O SNE permite ao cidadão condutor ou proprietário de veículos usufruir dos direitos


garantidos por lei (§1º do Art. 284 do Código de Trânsito Brasileiro), veja:

76
§ 1º Caso o infrator opte pelo sistema de notificação eletrônica, conforme
regulamentação do Contran, e opte por não apresentar defesa prévia nem recurso,
reconhecendo o cometimento da infração, poderá efetuar o pagamento da multa
por 60% (sessenta por cento) do seu valor, em qualquer fase do processo, até o
vencimento da multa.
[…]
§ 5º O sistema de notificação eletrônica, referido no § 1º deste artigo, deve
disponibilizar, na mesma plataforma, campo destinado à apresentação de defesa
prévia e de recurso, quando o condutor não reconhecer o cometimento da infração,
na forma regulamentada pelo Contran.

Ao se cadastrar no SNE, o usuário poderá inserir os seus veículos e receber via eletrônica
as notificações referentes as infrações aplicadas pelos órgãos Autuadores que aderiram
à solução. O usuário poderá inserir ou excluir os veículos a qualquer tempo.
O proprietário do veículo informado passará a ser comunicado eletronicamente acerca
das notificações de autuação e penalidade interestaduais, de responsabilidade de
órgãos autuadores optantes pelo Sistema de Notificação Eletrônica.

Ao realizar o cancelamento da adesão do veículo, o proprietário voltará a ser


comunicado de suas notificações de autuação e penalidade para o veículo informado,
via postal.

O proprietário poderá visualizar os detalhes de cada infração e optar pelo seu


reconhecimento. Desta forma, será oferecida a ele a possibilidade de pagar a infração
com 40% de desconto.

As regras para a notificação por meio eletrônico constam na Resolução 931/2022 do


CONTRAN. O motorista só será notificado por esse meio se essa for a sua opção,
conforme o artigo 282-A do CTB, veja:

Art. 282-A. O órgão do Sistema Nacional de Trânsito responsável pela autuação


deverá oferecer ao proprietário do veículo ou ao condutor autuado a opção de
notificação por meio eletrônico, na forma definida pelo Contran.

Nos demais casos, ele receberá a Notificação de Autuação (NA) por remessa postal no
endereço cadastrado no registro de seu veículo.

Prática: Como Recorrer a uma Multa?


Agora que você já estudou toda a teoria, vamos estudar como recorrer de uma multa
de trânsito na prática

É perfeitamente POSSÍVEL recorrer de todas as suas multas, mesmo que o cliente tenha
cometido a infração, afinal é indispensável que o órgão de trânsito dê ao penalizado a
oportunidade de exercer o contraditório e a ampla defesa. Para isso, observar os prazos
é essencial.

77
Também é possível RECORRER de todos os processos administrativos de suspensão e
cassação do direito de dirigir, afinal, como dito, recorrer é um direito e está previsto na
Constituição Federal.

Para recorrer é preciso conhecer a legislação e as formalidades do ato administrativo.


Usando a lei a seu favor e bons argumentos suas chances de êxito aumentam
significativamente e isso você acabou de aprender aqui neste material.

E vamos ao que interessa: o seu cliente, ao receber uma notificação da autuação (desde
que o endereço do veículo esteja devidamente atualizado), vai procurar um especialista
na área.

E você estará pronto e vai conseguir fechar contrato com esse cliente para recorrer da
multa dele e tentar o cancelamento, recorrendo 3 vezes.

Ao ser instaurado esse processo, o órgão de trânsito deve dar ao cliente o direito de se
defender em 3 momentos: na Defesa Prévia, no Recurso em 1ª Instância (JARI) e no
Recurso em 2ª Instância (CETRAN). Isso quer dizer que você poderá recorrer
administrativamente 3 vezes.

Elaborando qualquer defesa ou recurso de multa


Antes de iniciar a elaboração do recurso do seu cliente, É preciso que você tenha em
mente que um recurso bem estruturado aumenta consideravelmente as chances de
deferimento.

Assim é importante que o seu recurso tem a 4 pré-requisitos essenciais:

1. clareza
2. simplicidade
3. ir direto ao ponto
4. não ser prolixo e repetitivo

Muitas vezes quando um recurso é feito, o autor se perde tentando mostrar


conhecimento e escreve termos em latim, palavras extremamente rebuscadas, teses de
direito (ou outras ciências) que nada tem a ver com aquela infração que ele está
questionando, e acaba perdendo a atenção do julgador que se vê confuso com tantas
informações sobre temas variados.

Evite isso!

O seu recurso não é uma tese de mestrado ou um artigo jurídico.

É uma defesa! Então faça uma simples e eficaz defesa.

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Você, que agora ostenta o título de especialista em Legislação de Trânsito, minha dica
é: encontre o problema, a nulidade, o erro, aponte-o para a Administração Pública e
ponto muito escrever não fará diferença nesse caso.

Um recurso limpo, claro e objetivo ajuda o órgão autuador a entender o seu ponto de
vista, e verificar o que deve ser corrigido.

Então, elabore um recurso sucinto, com poucas páginas e sem muitas jurisprudências,
mas apenas aquelas que realmente ratificarem a sua argumentação.

Tenha em mãos os seguintes documentos: o auto de infração, a notificação; todas as


informações que constam no sistema interno do órgão autuador, que nada mais é do
que a cópia do processo administrativo.

Pressupostos de Admissibilidade: prazo, legitimidade e


tempestividade

Se é a primeira vez que você está lendo este nome, pode parecer algo muito complicado,
mas acredite, na verdade não é.

Como eu já falei anteriormente os pressupostos de admissibilidade eles vêm descritos


na própria notificação e são aqueles previstos na resolução 900 do CONTRAN.

Pressupostos de admissibilidade representam um conjunto de pré-requisitos para que


o seu recurso seja aceito e julgado com análise das suas alegações.

Assim, de acordo com o artigo 4º da resolução 900 do CONTRAN, o recurso que não
apresentar alguns dos requisitos abaixo não será conhecido, vejamos:

Art. 4º A defesa prévia ou recurso não serão conhecidos quando:


I - forem apresentados fora do prazo legal;
II - não for comprovada a legitimidade;
III - não houver a assinatura do recorrente ou de seu representante legal; e
IV - não houver o pedido, ou este for incompatível com a situação fática

Portanto, ao formular o recurso, você deve estar bem atento às exigências do artigo
supramencionado, para não perder o direito de ter o seu pleito analisado.

1º) ENDEREÇAMENTO E COMPETÊNCIA DE JULGAMENTO

Saber quem te autuou é o segundo passo para a elaboração de um recurso de multa.

Para saber a quem endereçar, você deve ter em mãos a última notificação recebida
sobre a infração supostamente praticada. Também é possível verificar o órgão autuador
pelo auto de infração.

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Primeiramente, deverá constar o endereçamento ao órgão autuador, ou seja, o órgão
que lavrou o auto de infração

Na fase administrativa, deverá ser remetido ao órgão autuador. Este órgão pode ser o
DETRAN, o DER, a PRF, órgãos municipais, entre outros.

Preste muita atenção no endereçamento, pois o protocolo no local errado poderá gerar
problemas.

Veja alguns exemplos a seguir:

“À JARI do DETRAN do Estado de São Paulo”


“Ao DER do Rio de Janeiro”

2º) QUALIFICAÇÃO E OBJETIVO

O segundo passo para a estruturação de um recurso de multa, é efetuar a qualificação


do recorrente, ainda que ele seja representado por procurador e o objetivo da petição.

Na qualificação você irá informar os seguintes dados básicos: nome completo estado
civil profissão RG, CPF e endereço completo.

Neste momento, você pode achar que são poucas essas informações. Mas, na verdade,
não são.

Pelo CPF do condutor é possível averiguar no sistema RENACH todas as informações do


suposto infrator.

Por esse motivo, essas informações já serão suficientes para dar prosseguimento ao
julgamento da defesa ou do recurso.

Outro ponto importante neste momento, é você dizer o objetivo do recurso.

A peça processual que você está elaborando, tem um objetivo muito bem definido qual
seja, questionar a validade de um ato administrativo.

Por isso você deve informar qual é este ato, veja um exemplo:

À Junta Administrativa de Recursos de Infrações do DER de São Paulo

Eu fulano, estado civil, profissão, RG xxx, CPF xxx, residente e domiciliado à rua xxx,
venho por meio desta apresentar:

Recurso

80
Em face da decisão da comissão de defesa prévia que julgou consistente o auto de
infração nº xxx, lavrado em virtude do suposto cometimento da infração prevista no art.
X do CTB.

Assim, com esse exemplo, note que você já fez o endereçamento do recurso, fez a
qualificação correta e informou qual o objetivo do recurso.

4º) FATOS E PROVAS

Chegamos aonde os pontos mais importantes do recurso, a descrição dos Fatos e a


produção de provas.

Como você deve realizar a exposição dos fatos?

Aqui você deverá seguir a primeira dica que eu dei lá no começo, quando falei dos
requisitos essenciais, ou seja, expor suas razões com clareza, simplicidade, indo direto
ao ponto e não sendo prolixo e repetitivo.

Então, você descrever o que aconteceu, de forma sucinta e objetiva. Não precisa
escrever um recurso com muitas páginas, com detalhes imensos tentando impressionar,
pois, isso é cansativo e ninguém lê.

E as provas?

Não adianta alegar, ou seja, descrever os fatos e não provar que está com a razão.

Antes de te mostrar as possíveis argumentações, eu quero abordar o que você NÃO deve
alegar!

Existem certas argumentações que aparecem sempre nos recursos de multa, mas que,
pelo menos na esfera administrativa, não fazem a menor diferença.

Dentre elas temos:

1 – “Meu cliente precisa dirigir”

Muitas pessoas simplesmente alegam que “precisam dirigir” como se este fato
encontrasse algum respaldo legal para ensejar o deferimento do pedido e o afastamento
da penalidade.

2 – “Meu cliente é motorista profissional”

Ser motorista profissional não é um salvo-conduto para praticar infrações de trânsito,


ou mesmo se “livrar” de uma suspensão ou cassação.
Ao contrário, o motorista profissional deve dar sempre o exemplo no trânsito.
81
3 – “Outras pessoas dependem do meu cliente”

Não é incomum constar em recursos administrativos a tese (verídica muitas vezes) de


que outras pessoas dependem do infrator para locomoção.
Todavia, mais uma vez, não existe nenhum fundamento legal para que esta situação
possa ensejar o provimento de um recurso.

Posto isto, existem muitas defesas possíveis a depender da infração cometida. Algumas,
serão focadas em falhas do procedimento, outras, no auto de infração, e mais algumas
em erros de fato, como, por exemplo a não realização de uma conduta (ex: falta de
medida administrativa) atestada pelo agente da autoridade de trânsito.

Vamos utilizar um exemplo de como deve ser a alegação da defesa neste último caso
com a produção de provas.

Imagine que o seu cliente tenha sido autuado por infração ao art. 165 do CTB e, minutos
após a abordagem ele se dirige até um laboratório e faz um exame para detectar os
níveis de álcool no sangue.

Esse exame de sangue, feito em laboratório, serve como prova.

Como ficariam então os fatos da sua defesa e as provas capazes de atestar a veracidade
das suas informações?

À Junta Administrativa de Recursos de Infrações do DER de São Paulo

Eu fulano, estado civil, profissão, RG xxx, CPF xxx, residente e domiciliado à rua xxx,
venho por meio desta apresentar:

Recurso

Em face da decisão da comissão de defesa prévia que julgou consistente o auto de


infração nº xxx, lavrado em virtude do suposto cometimento da infração prevista no art.
X do CTB.

I – FATOS

Consta na Notificação de Penalidade que foi lavrado o auto de infração nº xx imputando


ao Recorrente o cometimento da infração prevista no artigo 165 do CTB.

Todavia, o auto de infração é nulo, uma vez que conforme documentos em anexo (prova
1), o recorrente não conduzia o veículo sob efeito de álcool, já que logo após a

82
abordagem realizou exame de sangue para certificar a quantidade de álcool em seu
organismo.

Este fato é comprovado pelo exame feito em laboratório no dia xx/xx/xxx às xx hs, em
anexo a esta defesa (prova 2).

Sendo assim, certamente não há tipificação, estando por tal motivo nulo o auto de
infração.

Atenção para não cometer um grande erro!

O maior e mais terrível erro cometido por quem faz recursos de multa, é faltar com a
verdade inventando argumentos.

A Administração Pública não está contra o condutor, está a favor do interesse público,
e não se nega a anular atos que estejam efetivamente equivocados.

5º) PEDIDO

O último passo básico para o seu recurso de multa é o pedido.

Agora você já preparou o terreno de maneira correta para o deferimento do seu


recurso, e é o momento exato para pedir. Afinal de contas do que adianta você
convencer e não pedir não é mesmo?

O pedido tem que ser congruente com as razões expostas nos fatos e ser obviamente
possível.

Como assim? Não adianta pedir, por exemplo, a retratação pública por parte do
DETRAN, ou a prisão de agentes públicos.

É importante lembrar que os recursos de multa não têm este objetivo, muito embora
alguns possam servir como meios de prova para a responsabilização administrativa, cível
e penal de alguns agentes públicos.

Então, na parte do pedido você deverá focar na conclusão lógica que seus argumentos
criaram.

No exemplo que estamos construindo o pedido lógico seria a anulação do auto de


infração e as consequências dali advindas, (pagamento de multa e registro de pontos no
prontuário do condutor infrator).

Ficaria assim:

À Junta Administrativa de Recursos de Infrações do DER de São Paulo


83
Eu fulano, estado civil, profissão, RG xxx, CPF xxx, residente e domiciliado à rua xxx,
venho por meio desta apresentar:

Recurso

Em face da decisão da comissão de defesa prévia que julgou consistente o auto de


infração nº xxx, lavrado em virtude do suposto cometimento da infração prevista no art.
X do CTB.

I – FATOS

Consta na Notificação de Penalidade que foi lavrado o auto de infração nº xx imputando


ao Recorrente o cometimento da infração prevista no artigo 165 do CTB.

Todavia, o auto de infração é nulo, uma vez que conforme documentos em anexo (prova
1), o recorrente não conduzia o veículo sob efeito de álcool, já que logo após a
abordagem realizou exame de sangue para certificar a quantidade de álcool em seu
organismo.

Este fato é comprovado pelo exame feito em laboratório no dia xx/xx/xxx às xx hs, em
anexo a esta defesa (prova 2).

Sendo assim, certamente não há tipificação, estando por tal motivo nulo o auto de
infração.

II – PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

1 – O recebimento deste recurso em virtude do atendimento dos requisitos de


admissibilidade, bem como das provas que o acompanham;

2 – Seja dado provimento ao recurso para declarar a nulidade do auto de infração nº xxx
em virtude dos fatos acima delineados, afastando assim suas consequências lógicas.

Local, Data.

_________________________________
Nome e assinatura do requerente

Viu como não é tão complicado? Basta colocar no papel tudo o que vocês já sabem, tudo
que já aprenderam.

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Fique atendo ao prazo final para apresentação de defesa e dos recursos, para que eles
sejam TEMPESTIVOS, conforme determinam os artigos 6° da Resolução 900 do
CONTRAN e 29 da Resolução 918 do CONTRAN, vejamos:

Art. 6º A defesa prévia ou o recurso deverá ser protocolado no órgão ou entidade


de trânsito autuador ou enviado, via postal, para o seu endereço, respeitado o
disposto no art. 287 do CTB.
§ 1º Para verificação da tempestividade, deverá ser considerada:
I - a data da entrega na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), no caso
de defesa prévia ou de recurso apresentado por via postal; ou
II - a data de protocolo no órgão ou entidade de trânsito da residência ou domicílio
do proprietário ou infrator, quando utilizada a forma prevista no art. 287 do CTB

Art. 29. A contagem dos prazos para apresentação de condutor e interposição da


defesa da autuação e dos recursos de que trata esta Resolução será em dias
consecutivos, excluindo-se o dia da notificação ou publicação por meio de edital, e
incluindo-se o dia do vencimento.
Parágrafo único. Considera-se prorrogado o prazo até o 1º (primeiro) dia útil se o
vencimento cair em feriado, sábado, domingo, em dia que não houver expediente
ou este for encerrado antes da hora normal.

A parte legítima para apresentar defesa e recursos são todos aqueles previstos do art.
2º da Resolução 900 do CONTRAN:

Art. 2º É parte legítima para apresentar defesa prévia ou recurso em 1ª e 2ª


instâncias contra a imposição de penalidade de advertência por escrito ou de multa:
I - a pessoa física ou jurídica proprietária do veículo;
II - o condutor, devidamente identificado;
III - o embarcador, quando responsável exclusiva ou solidariamente pela infração; e
IV - o transportador, quando responsável exclusiva ou solidariamente pela infração.
[...]
§ 2º A parte legítima de que trata o caput poderá ser representada por procurador
legalmente habilitado ou por instrumento de procuração, na forma da lei, sob pena
do não conhecimento da defesa prévia ou do recurso.

Documentos indispensáveis

A notificação vai trazer informações sobre os documentos a serem anexados, bem como
onde você deverá fazer o protocolo da defesa ou recurso, por isso, ler a notificação é
essencial.

Basicamente a notificação menciona o artigo 5º da Resolução 900 do CONTRAN, veja:

Art. 5º A defesa prévia ou o recurso deverão ser apresentados com os seguintes


documentos:
I - requerimento de defesa prévia ou de recurso;

85
II - cópia da notificação de autuação ou notificação da penalidade, conforme o caso,
ou ainda cópia do AIT ou de documento que conste a placa do veículo e o número
do AIT;
III - cópia da CNH ou outro documento de identificação que comprove a assinatura
do requerente;
IV - documento que comprove a representação, quando pessoa jurídica; e
V - procuração, quando for o caso.
Parágrafo único. Na apresentação de defesa ou recurso, em qualquer fase do
processo, para efeitos de admissibilidade, não serão exigidos documentos ou cópia
de documentos emitidos pelo órgão responsável pela autuação.

Observe como exemplo uma notificação do DER:

Como é uma notificação antiga, ela menciona a Resolução 299 do CONTRAN, REVOGADA
pela Resolução 900.

Então, além das informações constantes na notificação, vale a pena verificar as


Resoluções 900 e 918 do CONTRAN.

Veja como funciona cada um dos recursos:

Defesa Prévia

Assim que é constatada uma infração de trânsito, mediante abordagem com a lavratura
de um auto de infração e após o julgamento da consistência do auto de infração, o órgão
de trânsito (autoridade de trânsito) autuador DEVE enviar no endereço do proprietário
do veículo a notificação da autuação em até 30 dias.

A partir do momento que ele recebe esta notificação ou o auto de infração, você já pode
iniciar sua defesa, pois nesta notificação você terá ciência do prazo (30 dias) para
apresentar Defesa Prévia junto ao órgão autuador.

São dias corridos, na forma do art. 29 da Resolução 918 do CONTRAN:


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Art. 29. A contagem dos prazos para apresentação de condutor e interposição da
defesa da autuação e dos recursos de que trata esta Resolução será em dias
consecutivos, excluindo-se o dia da notificação ou publicação por meio de edital, e
incluindo-se o dia do vencimento.
Parágrafo único. Considera-se prorrogado o prazo até o 1º (primeiro) dia útil se o
vencimento cair em feriado, sábado, domingo, em dia que não houver expediente
ou este for encerrado antes da hora normal.

A previsão da parte legitima para apresentar defesa e recursos é o art. 2º da Resolução


900 do CONTRAN, vejam:

Art. 2º É parte legítima para apresentar defesa prévia ou recurso em 1ª e 2ª


instâncias contra a imposição de penalidade de advertência por escrito ou de multa:
I - a pessoa física ou jurídica proprietária do veículo;
II - o condutor, devidamente identificado;
III - o embarcador, quando responsável exclusiva ou solidariamente pela infração; e
IV - o transportador, quando responsável exclusiva ou solidariamente pela infração.
§ 1º Para fins dos §§ 4º e 6º do art. 257 do CTB, considera-se embarcador o
remetente ou expedidor da carga, mesmo se o frete for a pagar.
§ 2º A parte legítima de que trata o caput poderá ser representada por procurador
legalmente habilitado ou por instrumento de procuração, na forma da lei, sob
pena do não conhecimento da defesa prévia ou do recurso

Neste primeiro momento, você deve analisar questões técnicas do auto de infração,
principalmente sobre o ato administrativo conforme outrora estudado, bem como
verificar o julgamento da consistência do mesmo.

Se o cliente não foi abordado ou não teve acesso ao auto de infração, você DEVE solicitá-
lo junto ao órgão autuador, já que a defesa é feita contra o AUTO DE INFRAÇÃO e não
contra a notificação, pois se houver descumprimento dos requisitos técnicos e formais
do AIT você terá boas chances de ter sua Defesa Prévia deferida.

Lembre-se de observar sempre o MBFT, pois ele prevê de forma detalhada todas as
infrações previstas na legislação de trânsito, abordando de maneira minuciosa a exata
conduta que os agentes fiscalizadores devem adotar ao se deparar com qualquer uma
delas, procedendo com a lavratura do auto de infração de trânsito (AIT), a aplicação das
medidas administrativas, quando cabíveis, e demais providências pertinentes ao ato
infracional.

Havendo descumprimento da orientação prevista na ficha específica, ou ao artigo 280


do CTB, o AIT poderá ser anulado com fundamento no artigo 281 do CTB por violação à
forma prevista na legislação.

É preciso, ainda, conhecer a Resolução 900 do CONTRAN, que dispõe sobre a


padronização dos procedimentos para apresentação de defesa de autuação e recurso,
em 1ª e 2ª instâncias, contra a imposição de penalidade de multa de trânsito e também

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a Resolução 918, que estabelece e normatiza os procedimentos para a aplicação das
multas por infrações e dá outras providências.

É importante que você conheça as resoluções específicas ao caso. Por exemplo, a multa
por excesso de velocidade prevista no artigo 218 do CTB, possui a Resolução 798/2020
que dispõe sobre requisitos técnicos mínimos para a fiscalização da velocidade de
veículos automotores, elétricos, reboques e semirreboques.

Outro exemplo são as infrações da Lei Seca (bafômetro), regidas, além da legislação
estudada - CTB, pela Resolução 432 do CONTRAN. É importante verificar também essa
questão para melhor argumentação.

Além dessas resoluções, é fundamental estudar a Portaria n° 354 da SENATRAN, que


estabelece os campos de informações que deverão constar do Auto de Infração, os
campos facultativos e o preenchimento, para fins de uniformização em todo o território
nacional.

O AIT, por ser uma peça informativa PRECISA estar no processo. Você PRECISA dele para
sua defesa, o AIT é indispensável para que você elabore a melhor defesa.

Frisa-se que para conseguir cópia do auto de infração, não é necessário juntar
procuração, em que pese alguns órgãos de trânsito fazerem essa exigência, pois o
processo administrativo é público.

Veja esse vídeo sobre a Lei de Acesso à informação, vai esclarecer bem essa questão.

Cabe, aqui, destacar que a inobservância à forma é vício formal que torna nulo o
processo administrativo para a imposição das penalidades, independentemente do
cometimento da infração. E é isso que você vai alegar na sua DEFESA PRÉVIA.

Você também pode alegar questões de mérito na sua Defesa Prévia (art. 9° da Resolução
918), porém, é preciso que você prove o alegado.

Ex. em casos onde a infração é cometida em outra cidade, porém o proprietário estava
trabalhando; junte o cartão de ponto para comprovar essa alegação.

Importante deixar claro o que buscamos com a defesa prévia, que é justamente a
inconsistência do auto de infração e você vai fazer isso impugnando a consistência do
auto de infração.

Caso a defesa não seja deferida, ou seja, se ela for INDEFERIDA, como estudado, o cliente
receberá uma nova notificação: a notificação de imposição da penalidade. É essa
notificação que comunicará o indeferimento da defesa e trará o prazo para apresentar
recurso à JARI.

Recurso à JARI

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Agora, nesta notificação, o órgão autuador descreverá as penalidades que estão sendo
aplicadas contra o cliente (pontos) e a multa será gerada (boleto para pagamento).

Mas calma que você ainda pode continuar apresentando recursos.

Antes de falar sobre o recurso à JARI, é preciso que você entenda o que é recurso.
Recurso serve para reformar ou invalidar uma decisão e, no Poder Judiciário, outros
recursos servem para esclarecer ou integrar algo em uma decisão.

Quando você recorre de uma decisão que foi proferida na Defesa Prévia, por exemplo,
você não pode enviar uma cópia do mesmo recurso (enviado na defesa prévia), pois
assim, você não está recorrendo de uma decisão com a intenção de reformá-la, mas sim
apresentando os mesmos termos que levaram à essa decisão.

Ex. Encontrou uma inconsistência no AIT, alegou na defesa prévia, mas o julgamento
veio: Indeferido. O que você faz no recurso à JARI? Um tópico falando sobre o erro no
julgamento, ao aplicar a penalidade e não julgá-la deferida.

O pedido é a reforma da decisão da defesa prévia, para que seja declarada a


inconsistência do AIT e o mesmo seja arquivado, nos termos do inciso I do art. 281 do
CTB.

Agora sim, sobre Recurso à JARI, neste momento, o pagamento da multa ou o depósito
recursal, como alguns chamam, não é obrigatório, porém se o proprietário do veículo
não fizer o pagamento dentro do prazo, a multa não paga até o vencimento será
acrescida de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais acumulada mensalmente,
calculados a partir do mês subsequente ao da consolidação até o mês anterior ao do
pagamento, e de 1% (um por cento) relativamente ao mês em que o pagamento estiver
sendo efetuado.

Por outro lado, o pagamento da multa não implica renúncia ao questionamento


administrativo, que pode ser realizado a qualquer momento.

Tudo isso que falamos é a previsão do artigo 284 do CTB.

Recebida a notificação de imposição da penalidade, você poderá apresentar recurso à


JARI (Junta Administrativa de Recursos de Infrações) do órgão autuador.

Utilize a legislação a seu favor e faça um recurso consistente. Vou te mostrar como mais
adiante.

Vale dizer que ausência de argumentação (ausência de motivação) no recurso também


gera a nulidade do ato administrativo (AIT).

89
Isso porque se a defesa não tiver todos os tópicos apreciados no julgamento, você
poderá alegar isso no recurso à JARI. Essa é a previsão do artigo 50, V da Lei 9.784/1999,
vejam:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
[...]
V - decidam recursos administrativos;

O prazo para o recurso à JARI ser apreciado NÃO É DE 30 DIAS! Essa era a antiga redação
do § 3º do art. 285 do CTB.

Agora, a previsão do prazo de julgamento do recurso apresentado à JARI, está no § 6º


do art. 285, que tem a seguinte redação:

§ 6º O recurso de que trata o caput deste artigo deverá ser julgado no prazo de 24
(vinte e quatro) meses, contado do recebimento do recurso pelo órgão julgador.”

Ocorre que essa alteração só entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2024, nos termos
do inciso II do art. 7º da Lei 14.229/2021, veja:

II - em 1º de janeiro de 2024, quanto às alterações ao caput do art. 289 da Lei nº


9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), e quanto aos
acréscimos do § 6º ao art. 285 e do art. 289-A ao referido Código, todos do art. 2º
desta Lei;

Por fim, se o recurso apresentado à JARI também for indeferido você poderá apresentar
o último recurso.

Recurso ao CETRAN

Esta é última instância recursal administrativa, o recurso em 2ª instância, conforme


previsão do art. 14, V, “a” do CTB, deve ser endereçado ao CETRAN (Conselho Estadual
de Trânsito) ou CONTRANDIF, se for o Distrito Federal, vejamos:

Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao


Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE:
(...)
V - julgar os recursos interpostos contra decisões:
a) das JARI;

Aqui você vai usar tudo que estudou sobre a aplicação da multa pela infração que o
cliente cometeu. As Resoluções específicas, o MBFT e o próprio CTB.

Lembre-se, se o julgamento for genérico, a penalidade poderá ser anulada por violação
ao Princípio da Motivação, conforme o artigo 50, V da Lei 9.784/1999.

90
Para todos os recursos e defesa é imprescindível prestar muita atenção aos prazos de
envio, aos endereços de envio e aos documentos que deverão ser anexados junto à
defesa ou ao recurso.

Além disso, alguns órgãos possuem um formulário específico de apresentação de


defesa/recursos, procure saber sobre isso.

Por fim, é importante recorrer até o fim, mesmo que o cliente esteja desesperançoso,
pois os julgadores mudam de uma instância para outra, e os resultados podem ser
diferentes. Além disso, como agora os órgãos de trânsito têm prazo para expedição as
notificações de penalidade, os índices de deferimento estão aumentando. Sendo assim,
não deixe de recorrer até o fim.

O recurso em 2ª instância também tem prazo para ser apreciado – 24 meses, na forma
do art. 289 do CTB:

Art. 289. O recurso de que trata o art. 288 deste Código deverá ser julgado no prazo
de 24 (vinte e quatro) meses, contado do recebimento do recurso pelo órgão
julgador:

Ocorre que essa alteração só entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2024, nos termos
do inciso II do art. 7º da Lei 14.229/2021, veja:

II - em 1º de janeiro de 2024, quanto às alterações ao caput do art. 289 da Lei nº


9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), e quanto aos
acréscimos do § 6º ao art. 285 e do art. 289-A ao referido Código, todos do art. 2º
desta Lei;

Com o julgamento do recurso apresentado em segunda instância, há o encerramento


da fase administrativa, na forma do art. 290 do CTB.

Alegações recursais adequadas: Teses de recursos


Administrativos e Principais Peças Processuais
Agora, quero trazer aqui algumas alegações para você usar de forma prática em seus
recursos contra a penalidade de multa. Todas essas alegações você aprendeu e já pode
colocá-las em prática agora mesmo, quer ver?

a) Legitimidade: Notificação ao proprietário ou ao condutor?

Lembra que falamos da divisão de responsabilidades prevista no CTB? Então, aqui você
deve observar o art. 257 e 282 do CTB, caso a infração tenha sido constatada mediante
abordagem e o motorista infrator não seja o proprietário do veículo, quem deve ser
notificado, com notificação a ele endereçada é o CONDUTOR. Caso de veículo
emprestado na multa do bafômetro, por exemplo.

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Também é alegada em preliminar de mérito. Em casos assim, você deve demonstrar ao
julgador que há um equívoco, uma confusão entre o infrator e a pessoa notificada.

Pode ser que o condutor e o proprietário residam na mesma casa, como marido e
mulher, pai e filho, etc.

Com isso, já vi muitos julgadores e até mesmo juízes de direito alegarem que o simples
fato da notificação ser enviada para o endereço do proprietário (que, em tese, seria o
mesmo do condutor) já é válida, mesmo que esteja endereçada ao proprietário.

Em casos assim, você usará a tese da inviolabilidade da correspondência, conforme


previsão do art. 5°, XII da Constituição Federal, ou seja, mesmo que seja encaminhada
para o mesmo endereço (de registro do veículo e da CNH, no caso do condutor), se a
notificação foi endereçada ao proprietário, o condutor não terá acesso e dependerá da
entrega dessa notificação pelo proprietário do veículo.

O que viola o texto legal, já que a entrega da notificação, em casos assim, não será de
responsabilidade do órgão autuador, mas sim do proprietário do veículo.

b) Ausência de notificação

Uma das melhores argumentações (desde que pautadas na realidade) é a ausência de


notificações. Isso porque a ausência de notificação viola veementemente o Princípio do
contraditório e da ampla defesa, bem como o da Legalidade.

Vale frisar que você deve estar seguro que o endereço do cliente estava devidamente
atualizado, caso contrário, estará dando um tiro no próprio pé.

APELAÇÃO – Mandado de segurança – Suspensão do direito de dirigir – Notificação


demonstrada – Direito de defesa exercido – Nulidade inexistente – Ausência de
notificação – Violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa –
Inteligência do art. 5º, inciso LV, da CF e art. 265, do CTB – Nulidade do processo
administrativo reconhecida – Sentença reformada – Ordem parcialmente
concedida – Recurso parcialmente provido. (TJ-SP - APL: 10206021520198260071
SP 1020602-15.2019.8.26.0071, Relator: Renato Delbianco, Data de Julgamento:
20/02/2020, 2ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 20/02/2020)

Assim, diante do exposto na jurisprudência aqui colacionada, podemos perceber que as


notificações são de suma importância e, se não ocorrerem, acarretarão na nulidade do
ato administrativo, com o consequente arquivamento do processo administrativo em
discussão.

É certo que em cada uma das fases do procedimento administrativo, o órgão autuante
deve cumprir os requisitos formais que, em não sendo observados, podem levar à
nulidade do processo administrativo.

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A inobservância quanto a expedição da notificação de autuação no prazo legalmente
estabelecido, enseja a anulação do AIT por falta de cumprimento de requisitos formais,
nos termos do art. 281, II do CTB, veja como usar:

PRELIMINAR - DA NOTIFICAÇÃO EXPEDIDA FORA DO PRAZO DE 30 DIAS

A Lei é muito clara no que tange aos requisitos obrigatórios que órgãos de trânsito
devem observar, o prazo para expedir a notificação é um desses requisitos obrigatórios,
vejamos:

Artigo 281 do CTB: A autoridade de Trânsito, na esfera da competência estabelecida


neste Código e dentro da sua circunscrição, julgará a consistência do auto de
infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único: O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
II – se, no prazo máximo de trinta dias não for expedida a notificação de autuação.

Ainda, temos a Resolução n° 918 do CONTRAN que fala sobre a notificação no artigo 4º,
§ 1º, que diz:

Art. 4º Com exceção do disposto no § 5º do art. 3º, após a verificação da


regularidade e da consistência do AIT, o órgão autuador expedirá, no prazo máximo
de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento da infração, a NA dirigida ao
proprietário do veículo, na qual deverão constar os dados mínimos definidos no art.
280 do CTB.
§ 1º A não expedição da NA no prazo previsto no caput ensejará o arquivamento do
AIT.

Podemos verificar claramente na notificação do AIT aqui recorrido, desde a data do


cometimento da infração, até o dia da postagem desta notificação ultrapassou-se o
prazo de 30 dias, ou seja, decaiu o direito do órgão de trânsito de punir.

Só pela inobservância destes preceitos legais, tal autuação já é passível de anulação,


bem como que sejam retirados os pontos dela decorrente.

Deste modo, requeiro a ANULAÇÃO e ARQUIVAMENTO do AIT aqui em discussão por


violação aos artigos supramencionados.

PRELIMINARMENTE - Da notificação de PENALIDADE expedida fora do prazo legal de


180 dias

Fui notificado da aplicação da penalidade de multa em epígrafe, decorrente de autuação


por infração ao Código de Trânsito Brasileiro.

Ocorre que, entre a data do cometimento da infração e a expedição da notificação de


penalidade, passaram-se mais de 180 dias, ocorrendo a preclusão do ato administrativo
93
e a decadência do direito de punir deste órgão, nos termos do § 7° do artigo 282 do
Código de Trânsito Brasileiro, vejamos:

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.
[…]
§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades previstas no art. 256
deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias ou, se houver interposição de defesa
prévia, de 360 (trezentos e sessenta) dias, contado:
I - no caso das penalidades previstas nos incisos I e II do caput do art. 256 deste
Código, da data do cometimento da infração;

E, não havendo a aplicação da penalidade nos prazos previstos em lei, ocorre a


decadência do direito de punir:

§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no § 6º deste artigo implicará a


decadência do direito de aplicar a respectiva penalidade.”

E o termo inicial para a decadência do direito de punir é a data do cometimento da


infração. Não há qualquer possibilidade de analisar de outra forma o artigo 282 do CTB,
visto que basta a interpretação literal deste artigo.

Nesse sentido, cabe a regra de preclusão estabelecida no § 7º, do artigo 282.

Logo, o arquivamento deste processo administrativo, a é medida que se impõe, o que


desde logo se requer.

PRELIMINARMENTE - Da notificação de PENALIDADE expedida fora do prazo legal –


360 dias

Fui notificado da aplicação da penalidade de multa em epígrafe, decorrente de autuação


por infração ao Código de Trânsito Brasileiro.

Apresentei defesa prévia.

Ocorre que, desde a data do cometimento da infração até a expedição da notificação de


penalidade, passaram-se mais de 360 dias, ocorrendo a preclusão do ato administrativo
e a decadência do direito de punir, nos termos dos §§ 6° e 7° do artigo 282 do Código
de Trânsito Brasileiro, vejamos:

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.

94
§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades previstas no art. 256
deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias ou, se houver interposição de defesa
prévia, de 360 (trezentos e sessenta) dias, contado:
I - no caso das penalidades previstas nos incisos I e II do caput do art. 256 deste
Código, da data do cometimento da infração;

E, não havendo a aplicação da penalidade nos prazos previstos em lei, ocorre a


decadência do direito de punir:

§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no § 6º deste artigo implicará a


decadência do direito de aplicar a respectiva penalidade.”

E o termo inicial para a decadência do direito de punir é a data do cometimento da


infração. Não há qualquer possibilidade de analisar de outra forma o artigo 282 do CTB,
visto que basta a interpretação literal deste artigo.

Nesse sentido, cabe dizer que apresentei defesa prévia contra o AIT aqui em discussão,
o que atrai a regra de preclusão estabelecida no § 6º, do artigo 282.

Houve apresentação de defesa prévia que foi julgada somente agora, num prazo muito
superior ao que prevê o art. 282.

Logo, o arquivamento deste processo administrativo, a é medida que se impõe, o que


desde logo se requer.

c) Impugnar o Julgamento da Consistência do AIT

Como vimos, julgar a consistência do AIT significa que antes de ser emitida a notificação
da autuação, cabe à autoridade de trânsito verificar se o auto de infração apresenta a
regularidade formal necessária, ou seja, significa verificar se o AIT preenche os requisitos
do ato administrativo.

Se você verificar que esses requisitos não foram cumpridos, caberá a você impugnar o
julgamento da consistência do AIT na primeira oportunidade, ou seja, na defesa prévia.

d) Tese do veículo vendido (antes ou depois do cometimento das infrações)

É muito comum que motoristas vendam seus veículos sem que haja a transferência dos
mesmos.

Isso faz com que as infrações e pontos delas decorrentes sejam inseridas na CNH do
proprietário, mesmo após a venda, uma vez que este não é o possuidor do veículo, ou
seja, não detém a posse do mesmo.
95
Assim, as penalidades podem ser inseridas na CNH de permissionários e de motoristas
que estejam cumprindo penalidades de suspensão. E isso pode causar inúmeros
transtornos, como o cancelamento da PPD e cassação da CNH.

Por isso, usamos a tese de veículo vendido antes ou depois do cometimento das
infrações, veja o modelo:

DA RESPONSABILIDADE PELAS INFRAÇÕES COMETIDAS ANTES DA TRADIÇÃO DO


VEÍCULO

Em que pese o cadastro administrativo estar em seu nome, o veículo foi vendido em
XX/XX/XXXX.

Nesse caso, vale a análise da regra contida no artigo 134, posto que há documentos que
comprovam a venda e também demonstram que o Requerente não detinha a posse do
veículo quando do cometimento da infração que consta na figura 1, não podendo ser
responsabilizado pelas infrações cometidas, vejamos:

Art. 134. No caso de transferência de propriedade, o proprietário antigo deverá


encaminhar ao órgão executivo de trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta
dias, cópia autenticada do comprovante de transferência de propriedade,
devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se responsabilizar
solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências até a data da
comunicação.

O que devemos considerar neste caso é que, na data da infração, o veículo ainda estava
em posse do antigo proprietário, devendo este ser o responsável pela mesma, pois resta
plenamente demonstrado e comprovado que o Requerente não teve qualquer
participação na infração cometida.

Deve existir, pois, uma relação de causalidade entre o infrator e a infração cometida,
não sendo possível admitir a responsabilidade indireta do atual proprietário naquelas
infrações que, sabidamente, não teve qualquer tipo de participação.

Essa relação de causalidade, na autuação anotada no prontuário do Requerente,


simplesmente não existe, posto que, antes da tradição do bem quem detinha a guarda
do veículo era o antigo proprietário.

Vejamos a regra contida no Código Civil, em seu artigo 237:

Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus


melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se
o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. (grifos nossos)

96
Vejamos o que recentemente decidiu o Juizado Especial de Botucatu

Vara: Juizado Especial Cível JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO


ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL. Processo 1001765-19.2018.8.26.0079 -
Procedimento do Juizado Especial Cível - Multas e demais Sanções - Lourival
Antônio Panhozzi - Vistos. Em sede de tutela provisória de urgência, o autor
requer seja afastada sua responsabilidade por infrações de trânsito
vinculadas ao veículo EVOQUE 2.0 DYNAMIC TECH 4WD 16V, de placas FDT
0250, após 30/06/2017, data de alienação do bem a empresa co Requerida
Gatti Veículos Ltda - EPP. A tutela provisória de urgência será concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
(fumus boni iuris ou plausibilidade do direito substancial) e o perigo de dano
(tutela satisfativa) ou o risco ao resultado útil do processo (tutela cautelar),
nos termos do art. 300, caput, do Novo CPC. In casu, vê-se que há elementos
que evidenciam a probabilidade do direito e o perigo de dano, para o fim de
autorizar o deferimento da medida perseguida. O documento de fls. 15
indica que o veículo foi entregue a última requerida em 30/06/2017,
portanto tem-se que a tradição do bem ao adquirente é suficiente para
eximir o alienante de quaisquer responsabilidades advindas da ulterior
utilização do veículo pelo novo proprietário. Sobre o tema, o C. Superior
Tribunal de Justiça já sedimentou o entendimento no sentido de que a regra
prevista no artigo 134 do Código de Transito Brasileiro sofre mitigação
quando restarem comprovadas nos autos que as infrações foram cometidas
após aquisição do veículo por terceiro, mesmo que não ocorra a
transferência. Neste sentido, "Comprovada a transferência da propriedade
do veículo, afasta-se a responsabilidade do antigo proprietário pelas
infrações cometidas após a alienação, mitigando-se, assim, o comando do
art. 134 do Código de Transito Brasileiro".(AgRg no AREsp 454738/RS -
454738/RS - Ministro Napoleão Nunes Maia Filho - 1ª Turma - j. 04.11.2014
- DJe 18.11.2014).Outrossim, e certo que o perigo de dano exsurge da
iminência da instauração de processo administrativo em desfavor do autor,
consistente na suspensão de seu direito de dirigir. Destarte, ANTECIPO a
tutela pretendida para afastar a responsabilidade do autor, após a data
30/06/2017, pelas infrações de transito relacionadas ao veículo EVOQUE 2.0
DYNAMIC TECH 4WD 16V, de placas FDT 0250.Nesta toada, determino aos
requeridos que suspendam a pontuação, decorrente das mencionadas
infrações, atribuída ao prontuário de motorista do autor. Oficie-se. Citem-se
os requeridos para apresentarem contestação, cientificando-os que, caso
tenham proposta de acordo, poderão oferta-la em preliminar, na própria
peça de defesa, salientando que "a apresentação de proposta de conciliação
pelo réu não induz a confissão" (Enunciado nº 76 do FONAJEF).A seguir,
intime-se a parte autora para manifestar-se em replica. Após, conclusos.
Oficie-se. Intimem-se.[...]

Nesse sentido, confirma-se ainda mais o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

97
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. ALIENAÇÃO
DE VEÍCULO. RESPONSABILIDADE PELAS INFRAÇÕES. SOLIDARIEDADE
ENTRE COMPRADOR E VENDEDOR ENQUANTO NÃO HOUVER A
COMUNICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO AO DETRAN. ACÓRDÃO A QUO
QUE AFIRMA ESTAR COMPROVADO QUE AS INFRAÇÕES QUE ENSEJARAM
A PENALIDADE NÃO FORAM COMETIDAS PELO VENDEDOR.
IMPOSSIBILIDADE DE SER-LHE APLICADA A SUSPENSÃO DO DIREITO DE
DIRIGIR. 1. [...] 2. Analisando casos semelhantes, tanto a Primeira como a
Segunda Turma firmaram entendimento de que realmente existe a
solidariedade pelas infrações entre o vendedor e o comprador do veículo,
enquanto a alienação não for informada ao DETRAN. No entanto, tal
solidariedade não é absoluta e deve ser relativizada nos casos em que estiver
comprovado que não foi o vendedor que cometeu as infrações.
Precedentes: REsp 804.458/RS, Rel. Ministro teori Albino Zavascki, Primeira
Turma, DJe 31/08/2009 e REsp 1024815/RS, Rel. Ministro Castro Meira,
Segunda Turma, DJe 04/09/2008. 3. No caso dos autos, não se deve aplicar
a penalidade ao ora recorrido, uma vez que o acórdão a quo é categórico ao
afirmar que a infração não foi cometida pelo recorrido, mas, sim, pelo novo
proprietário do veículo. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1063511/PR,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
18/03/2010, DJe 26/03/2010)

***

ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO.


TRADIÇÃO. AUSÊNCIA DE REGISTRO DE TRANSFERÊNCIA JUNTO AO DETRAN.
1. Ainda que inexistente a comunicação de venda do veículo por parte do
alienante, restando - de modo incontroverso - comprovada a
impossibilidade de imputar ao antigo proprietário as infrações cometidas, a
responsabilização solidária prevista no art. 134 do CTB deve ser mitigada.
Precedentes. 2. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp
804.458/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 20/08/2009, DJe 31/08/2009)

Logo, devemos observar a regra contida no artigo 134, do Código de Trânsito Brasileiro,
afastando-se a responsabilidade do Requerente, posto que A INFRAÇÃO OCORREU
ANTES DA VENDA E ENTREGA DO VEÍCULO AO MESMO.

e) Ausência de Motivação

Outro ponto que você pode usar a seu favor nas defesas e recursos de multas de trânsito
é a ausência de motivação. Lembra que falamos sobre os princípios da administração
pública? Pois é! Aqui é um caso onde podemos usá-lo.

98
Caso o órgão autuador viole o Princípio da Motivação, o ato administrativo estará
passível de nulidade.

Quanto ao Princípio da Motivação, cabe a leitura do artigo 50, V da lei n° 9.784/99,


vejamos:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e
dos fundamentos jurídicos, quando:
[...]
V - decidam recursos administrativos;

Ou seja, todos os julgamentos de TODOS os recursos devem ser motivados e


fundamentados. Caso a decisão padeça de motivação, teremos um ato nulo.

f) Ato praticado com Desvio de Finalidade

Vamos usar como exemplo a medida administrativa que deve ser aplicada na multa do
bafômetro.

Se observarmos o texto legal, a medida administrativa é a remoção do veículo ou o


veículo ser liberado para condutor habilitado que também deverá ser submetido ao
teste do bafômetro.

Se uma dessas condutas não é observada ou se o agente simplesmente não ANOTOU a


medida administrativa adotada no auto de infração, ele deve ser anulado por vício na
forma do ato, mas também porque aquele ato está sendo praticado com desvio de
finalidade.

Veja o exemplo do modelo:

(...)

Não menos importante é o fato de que a medida administrativa não foi


observada. Eis que não há no AIT aqui em discussão, qualquer anotação quanto
ao teste realizado no condutor que supostamente retirou o veículo do local da
infração, o que viola a medida administrativa prevista no art. 9° da Resolução
432 do CONTRAN.

Ora, consta no AIT que o veículo foi liberado para o Sr. Fernando Peres, porém,
em momento algum, este foi submetido ao teste do etilômetro, o que viola,
como dito, o art. 9° da Resolução 432 do CONTRAN, já que o condutor
habilitado, também deverá ser submetido à fiscalização.

99
Medidas Administrativas constituem providências imediatas, que visam sanar a
infração de trânsito no local, têm o objetivo de completar ou complementar as
penalidades, sendo em alguns casos, tão importante quanto a própria
penalidade, não podendo a autoridade ou agente de trânsito omitir-se em
aplicá-la.

Ora, o Requerente, condutor autuado pode ser privado de dirigir por conta da
suposta ingestão de álcool, mas o condutor que retirou o veículo do local pode
dirigir sem ser submetido ao teste do etilômetro? Perceba que a finalidade da
norma acaba inexistindo.

Isso porque, se o condutor não estiver em condições de dirigir, o veículo deverá


ser recolhido, evitando que seja colocado em risco a integridade física dele e de
toda a sociedade. Se assim não for, o DER deixou de observar o que o
ordenamento jurídico previu quando da edição da Lei n° 11705/2008, conhecida
como Lei Seca.

A finalidade é um dos elementos do ato administrativo, diz respeito aos


requisitos para a validade de um ato administrativo.

A finalidade deve sempre ser o interesse público. É o objetivo que a


administração pretende alcançar com a prática do ato administrativo, sendo
aquela que a lei institui explícita ou implicitamente, não sendo cabível que o
administrador a substitua por outra. A finalidade deve ser sempre o interesse
público e a finalidade específica prevista em lei para aquele ato da
administração.

Assim, há vício com relação à finalidade (desvio de finalidade), que está


perfeitamente configurado, uma vez que o ato não foi usado para a finalidade
que dele se espera.

Note que temos o desvirtuamento da regra de competência pelo fato de o ato


administrativo não ser direcionado ao interesse público, nem ao objetivo
específico por ele descrito.

O desvio de finalidade também é encontrado quando há cassação do direito de dirigir


de motorista que não violou a suspensão do direito de dirigir, ou seja, o condutor não
dirigiu enquanto suspenso e não infringiu o art. 263 do CTB.

Isso porque, a finalidade do legislador do Código de Trânsito Brasileiro, ao estabelecer a


individualização das penas em seu artigo 257, foi justamente identificar e punir o real
infrator, evitando que o proprietário do veículo suportasse penas desproporcionais ou
por infrações que não tivesse dado causa.

100
g) Ausência da medida administrativa

Aqui será rebatido o que consta no auto de infração. Vai alegar que não consta nenhuma
medida administrativa descrita no auto de infração pelo agente de trânsito, mesmo que
tenha havido no ato da abordagem.

A tese será construída no intuito de falar da ausência da medida administrativa, por isso
deve-se demonstrar a importância da medida administrativa no momento da
abordagem pelo agente de trânsito.

Deixar bem claro, que a medida administrativa é o ato mais importante na abordagem
da Lei Seca e, consequentemente, da lavratura do auto de infração.

Deverá constar, ainda, que o agente de trânsito colocou em risco a vida do próprio
condutor e da sociedade.

Aqui, o intuito é demonstrar a inconsistência do auto de infração, tornando-o NULO.

101
Neste outro caso, o veículo autuado foi liberado para ser conduzido pelo próprio
motorista, ou seja, o agente de trânsito deixou de relatar no AIT a medida administrativa
prevista no art. 9° da Resolução 432 do CONTRAN.

Isso porque, a medida administrativa da infração ao artigo 165 do CTB é recolhimento


do documento de habilitação e retenção do veículo até apresentação de condutor
habilitado que também será submetido ao teste do etilômetro.

Medidas Administrativas constituem providências imediatas, que visam sanar a infração


de trânsito no local, quando isso for possível ou posteriormente, após o veículo ser
removido para o pátio do órgão autuante, o que pressupõe a impossibilidade de sanar
prontamente a infração.

Têm o objetivo de completar ou complementar as penalidades, sendo em alguns casos,


tão importante quanto a própria penalidade, não podendo a autoridade ou agente de
trânsito omitir-se em aplicá-la.

Ocorre que, neste caso, o agente de trânsito liberou o veículo ao próprio infrator,
deixando de adotar a medida administrativa de retenção do mesmo, até a apresentação
de condutor habilitado.

Nesse caso, é possível concluir que:

1. Ou o agente de trânsito foi omisso na aplicação de seu dever;


2. Ou não havia infração de trânsito a ser regularizada, o que justificou a
liberação do veículo, conduzido pelo Recorrente.

Nessa perspectiva, admitir que o agente da autoridade de trânsito, após lavrar a


autuação ao artigo 165, permita que o condutor volte a transitar livremente com o
veículo, desqualifica a autuação, pois resta perfeitamente comprovado que não havia
qualquer indício de embriaguez que justificasse a medida administrativa e,
consequentemente, a lavratura do auto de infração.

Esse também é o entendimento de nossos tribunais, dos quais, citamos jurisprudência


em situação similar:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO - PENALIDADE IMPOSTA PELO
RECORRENTE CONSUBSTANCIADA NA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR,
MULTA E PONTUAÇÃO NA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO -
CONDUTOR ALVO DE FISCALIZAÇÃO DE TRÂNSITO SOB A ACUSAÇÃO DE
DIRIGIR SOB EFEITO DE ÁLCOOL, APRESENTANDO SINAIS NOTÓRIOS DE
EMBRIAGUEZ - RECUSA DE SE SUBMETER AO EXAME DE "BAFÔMETRO" -
LIBERAÇÃO LOGO EM SEGUIDA, SEM ADOÇÃO DE MEDIDA
ADMINISTRATIVA DE RETENÇÃO DO VEÍCULO, ATÉ A APRESENTAÇÃO DE
CONDUTOR HABILITADO, E RECOLHIMENTO DO DOCUMENTO DE
HABILITAÇÃO - OMISSÃO DO AGENTE DE TRÂNSITO QUE ABALA A
102
PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE E VERACIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO -
ATO ANULADO - ACERTO DA R. SENTENÇA - RESTITUIÇÃO DO VALOR
RECOLHIDO CORRESPONDENTE AO VALOR DA MULTA - JUROS DE MORA E
CORREÇÃO MONETÁRIA - CONDENAÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA -
PARCIAL PROVIMENTO PARA ALTERAR O CRITÉRIO LEGAL ADOTADO,
PASSANDO A SER UTILIZADO O ÍNDICE DE CORREÇÃO DA CADERNETA DE
POUPANÇA - ART. 1º - F DA LEI N.º 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA
LEI N.º 11.960/09 - PARTE RECORRIDA QUE DECAIU DA PARTE MÍNIMA DO
PEDIDO - SITUAÇÃO QUE NÃO SE ALTERA COM O PROVIMENTO PARCIAL DO
APELO - VERBA SUCUMBENCIAL MANTIDA COMO FIXADA - RECURSO
CONHECIDO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO - REEXAME NECESSÁRIO
NÃO CONHECIDO - ART. 475 § 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL.1º9.49411.960475§ 2ºCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (7501888 PR
0750188-8, Relator: Lélia Samardã Giacomet, Data de Julgamento:
14/06/2011, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 659)

Nesses termos, você deve requerer o cancelamento da penalidade, por absoluta


inconsistência do auto de infração de trânsito, conforme determina o artigo 281, do
Código de Trânsito Brasileiro.

Devolução do valor da multa


Ainda que não seja exigível o recolhimento prévio do valor da multa para apresentação
de recurso à JARI, pode ocorrer que o recorrente faça o pagamento da multa.

Se o recurso foi DEFERIDO, o valor pago será devolvido, com correção dos débitos fiscais.

Assim, não se preocupe se o cliente fizer o pagamento da multa, será enviado para ele
um formulário (como o da foto) para restituição do valor pago.

103
Esse formulário pode variar de órgão para órgão de trânsito. Procure saber sobre isso.

Por último, ainda falando sobre notificações, é preciso falar da regra trazida no §1º do
art. 32 da Resolução 918 do CONTRAN:

§ 1º Caso o AIT não conste no prontuário do veículo na data do registro da


transferência de propriedade, o proprietário atual será considerado comunicado
quando do envio, pelo órgão ou entidade executivos de trânsito, do extrato para
pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) e demais
débitos vinculados ao veículo, ou quando do vencimento do prazo de licenciamento
anual.

Isso quer dizer que, havendo a venda do veículo, se não constar a multa no ato da
transferência, o atual proprietário será “notificado” quando do licenciamento. É a
chamada notificação presumida.

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Processo de Suspensão do Direito de Dirigir e Cassação da CNH

Penalidade de Suspensão do Direito de Dirigir

A suspensão, como visto, é uma das penalidades previstas no artigo 256 do CTB e retira,
de forma temporária, a licença concedida pelo Estado para que alguém dirija veículos
automotores.

A suspensão, além de estar prevista no artigo 256 do CTB, também tem previsão no
artigo 261 do CTB e no artigo 3° da Resolução do CONTRAN n° 723/18, alterada pela
Resolução 844/21.

Resumidamente, existem duas situações em que pode ser instaurado um processo


administrativo para aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir de um
motorista: por somatória de pontos e por infração específica.

Vejam o que prevê o artigo 261 do CTB:

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos


seguintes casos:
I - sempre que, conforme a pontuação prevista no art. 259 deste Código, o
infrator atingir, no período de 12 (doze) meses, a seguinte contagem de pontos:
a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais infrações gravíssimas na
pontuação;
b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração gravíssima na pontuação;
105
c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma infração gravíssima na
pontuação;
II - por transgressão às normas estabelecidas neste Código, cujas infrações
preveem, de forma específica, a penalidade de suspensão do direito de dirigir.
§ 1º Os prazos para aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir são
os seguintes:
I - no caso do inciso I do caput: de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e, no caso de
reincidência no período de 12 (doze) meses, de 8 (oito) meses a 2 (dois) anos;
II - no caso do inciso II do caput: de 2 (dois) a 8 (oito) meses, exceto para as infrações
com prazo descrito no dispositivo infracional, e, no caso de reincidência no período
de 12 (doze) meses, de 8 (oito) a 18 (dezoito) meses, respeitado o disposto no inciso
II do art. 263.
§2º Quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir, a Carteira Nacional de
Habilitação será devolvida a seu titular imediatamente após cumprida a penalidade
e o curso de reciclagem.
§ 3º A imposição da penalidade de suspensão do direito de dirigir elimina a
quantidade de pontos computados, prevista no inciso I do caput ou no § 5º deste
artigo, para fins de contagem subsequente.
§ 4o (VETADO).
§ 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo, a
penalidade de suspensão do direito de dirigir de que trata o caput deste artigo
será imposta quando o infrator atingir o limite de pontos previsto na alínea c do
inciso I do caput deste artigo, independentemente da natureza das infrações
cometidas, facultado a ele participar de curso preventivo de reciclagem sempre
que, no período de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, conforme
regulamentação do Contran.
§6° Concluído o curso de reciclagem previsto no § 5°, o condutor terá eliminados os
pontos que lhe tiverem sido atribuídos, para fins de contagem subsequente.
§ 7º O motorista que optar pelo curso previsto no § 5º não poderá fazer nova opção
no período de 12 (doze) meses.
§ 8° A pessoa jurídica concessionária ou permissionária de serviço público tem o
direito de ser informada dos pontos atribuídos, na forma do art. 259, aos motoristas
que integrem seu quadro funcional, exercendo atividade remunerada ao volante,
na forma que dispuser o Contran.
§ 9º Incorrerá na infração prevista no inciso II do art. 162 o condutor que, notificado
da penalidade de que trata este artigo, dirigir veículo automotor em via pública.
§ 10° O processo de suspensão do direito de dirigir a que se refere o inciso II do caput
deste artigo deverá ser instaurado concomitantemente ao processo de aplicação da
penalidade de multa, e ambos serão de competência do órgão ou entidade
responsável pela aplicação da multa, na forma definida pelo Contran.

E o que prevê o artigo 3° da Resolução do CONTRAN n° 723/18:

Art. 3º A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos seguintes


casos:
(Redação do inciso dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021):
I - sempre que o infrator atingir, no período de 12 (doze) meses, a seguinte
contagem de pontos:
a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais infrações gravíssimas na
pontuação;
106
b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração gravíssima na pontuação;
c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma infração gravíssima na
pontuação.
II - por transgressão às normas estabelecidas no CTB, cujas infrações preveem, de
forma específica, a penalidade de suspensão do direito de dirigir.
III - em caso de resultado positivo no exame toxicológico periódico previsto no § 2º
do art. 148-A do CTB, realizado por condutor habilitado nas categorias C, D ou
E. (Inciso acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 1º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo, a contagem
de pontos prevista no inciso I para a aplicação da penalidade de suspensão do
direito de dirigir será de 40 (quarenta) pontos, independentemente da natureza das
infrações cometidas. (Parágrafo acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE
09/04/2021).
(Parágrafo acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021):
§ 2º Para as infrações cometidas antes de 12 de abril de 2021, aplicam-se os limites
de pontos previstos no inciso I nos casos de processos:
I - ainda não instaurados; ou
II - instaurados, cuja instância administrativa ainda não tenha sido encerrada, nos
termos do art. 290 do CTB.
§ 3º A pontuação das infrações cometidas antes de 12 de abril de 2021 continua
sendo considerada para o cômputo de que trata o inciso I. (Parágrafo acrescentado
pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).

Praticamente o texto da lei se repete, mas é possível verificar que temos duas hipóteses
de instauração do processo de suspensão: quando o motorista atingir o novo limite de
pontos no período de 12 meses; e/ou se ele cometer alguma infração auto suspensiva.

Eu discordo da redação dos textos legais supracitados, pois, antes que haja a imposição
da penalidade de suspensão, é necessário que o órgão de trânsito competente, instaure
o processo administrativo competente e dê àquele que será penalizado, oportunidade
de exercer o contraditório e a ampla defesa, conforme resguardado pela Constituição
Federal.

E é exatamente isso que prevê o artigo 265 do CTB: As penalidades de suspensão do


direito de dirigir e de cassação do documento de habilitação serão aplicadas por decisão
fundamentada da autoridade de trânsito competente, em processo administrativo,
assegurado ao infrator amplo direito de defesa.

O texto do artigo 5°3 da Resolução 723 também diz que a penalidade só poderá ser
aplicada se assegurados a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal do
motorista a ser penalizado.

Por isso, o texto dos artigos supramencionados, ao invés de utilizar a palavra “imposta”
deveriam usar a palavra “instaurada”, mas essa é a minha opinião.

3
Art. 5º As penalidades de que trata esta Resolução serão aplicadas pela autoridade de trânsito do órgão de registro
do documento de habilitação, em processo administrativo, assegurados a ampla defesa, o contraditório e o devido
processo legal.

107
Ainda é preciso esclarecer sobre a ‘nova regra’ criada pelo inciso III do art. 3° da
Resolução 723, conforme destacado acima é ilegal, pois não há nada nesse sentido no
CTB.

Isso porque o CONTRAN não tem competência para criar novos tipos de infrações de
trânsito, nem novas modalidades de penalidades, pois, agindo assim, há ofensa ao
Princípio da Reserva Legal, ele deve se limitar a regulamentar os tipos já existentes.

Assim, o inciso III do art. 3° acima citado, viola o princípio da legalidade, como veremos
mais adiante.

Outro ponto importante de ser observado, são as infrações que não mais somarão
pontos para fins de instauração do processo de suspensão do direito de dirigir, vejamos
o art. 259 do CTB:

Art. 259. A cada infração cometida são computados os seguintes números de


pontos:
I - gravíssima - sete pontos;
II - grave - cinco pontos;
III - média - quatro pontos;
IV - leve - três pontos.
§ 1º (VETADO)
§ 2º (VETADO)
§ 3º (VETADO).
§ 4º Ao condutor identificado será atribuída pontuação pelas infrações de sua
responsabilidade, nos termos previstos no § 3º do art. 257 deste Código, exceto
aquelas:
I - praticadas por passageiros usuários do serviço de transporte rodoviário de
passageiros em viagens de longa distância transitando em rodovias com a
utilização de ônibus, em linhas regulares intermunicipal, interestadual,
internacional e aquelas em viagem de longa distância por fretamento e turismo ou
de qualquer modalidade, excluídas as situações regulamentadas pelo Contran
conforme disposto no art. 65 deste Código;
II - previstas no art. 221, nos incisos VII e XXI do art. 230 e nos arts. 232, 233, 233-
A, 240 e 241 deste Código, sem prejuízo da aplicação das penalidades e medidas
administrativas cabíveis;
III - puníveis de forma específica com suspensão do direito de dirigir.

Assim, não são todas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro que
possuem a capacidade para gerar pontos.

Isso porque, a Lei 14.071 reconheceu a existência das chamadas “infrações


administrativas”, ou seja, infrações que não podem ser classificadas como sendo de
trânsito por não estarem diretamente relacionadas à violação de regras de circulação
ou normas de conduta estabelecidas na Lei de trânsito, infrações que em sua maioria,
são aplicadas exclusivamente ao proprietário do veículo, sem que obrigatoriamente
esteja na direção do veículo.

108
Isso é o que determina o parágrafo 4º, do artigo 259:

§ 4º Ao condutor identificado será atribuída pontuação pelas infrações de sua


responsabilidade, nos termos previstos no § 3º do art. 257 deste Código, exceto
aquelas:
I - praticadas por passageiros usuários do serviço de transporte rodoviário de
passageiros em viagens de longa distância transitando em rodovias com a
utilização de ônibus, em linhas regulares intermunicipal, interestadual,
internacional e aquelas em viagem de longa distância por fretamento e turismo ou
de qualquer modalidade, excluídas as situações regulamentadas pelo Contran
conforme disposto no art. 65 deste Código;
II - previstas no art. 221, nos incisos VII e XXI do art. 230 e nos arts. 232, 233, 233-
A, 240 e 241 deste Código, sem prejuízo da aplicação das penalidades e medidas
administrativas cabíveis;
III - puníveis de forma específica com suspensão do direito de dirigir.”

O inciso I traz uma situação exclusiva para ônibus, entretanto, essa mesma modalidade
de serviço de transporte de passageiros pode ser exercida também por microônibus,
que é veículo automotor de transporte coletivo com capacidade para até 20 (vinte)
passageiros.

Logo, por analogia, deve ser aplicada também aos motoristas de vans e similares, sob
pena de violar o princípio constitucional da igualdade, penalizando determinados tipos
de condutores e isentando outros do cumprimento da lei, sendo que a situação
encontrada é similar.

Já o inciso II traz um rol de infrações que não são mais puníveis com a pontuação,
independentemente do tipo de veículo em que ocorrer.

Não geram pontos no prontuário do condutor as seguintes infrações:

Art. 221. Portar no veículo placas de identificação em desacordo com as


especificações e modelos estabelecidos pelo CONTRAN:

Art. 230. Conduzir o veículo:


VII - com a cor ou característica alterada;
XXI - de carga, com falta de inscrição da tara e demais inscrições previstas neste
Código;

Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte obrigatório referidos neste
Código:

Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de trinta dias, junto ao
órgão executivo de trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no art. 123:

Art. 240. Deixar o responsável de promover a baixa do registro de veículo


irrecuperável ou definitivamente desmontado:

109
Art. 241. Deixar de atualizar o cadastro de registro do veículo ou de habilitação do
condutor:

Evidentemente que a interpretação “do que é” uma infração administrativa é muito


mais extensa, entretanto, essa alteração representa um marco, uma sinalização para
que a esfera judicial reconheça cada vez mais as características desse tipo de penalidade,
que não deve gerar pontos no prontuário do proprietário do veículo.

Infrações auto suspensivas, conforme eu citei acima, são aquelas que preveem além da
multa, a penalidade de suspensão, veja, como exemplo, o artigo 165 do CTB:

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância


psicoativa que determine dependência:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze)
meses.
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do
veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro
de 1997 - do Código de Trânsito Brasileiro.

Note que há multa + suspensão do direito de dirigir como penalidade específica quando
da infração ao artigo 165 do CTB.

E, só como um comentário, a penalidade multa (dez vezes) quer dizer que o valor da
multa gravíssima será multiplicado por 10. Isso é, como vimos, o chamado ‘fator
multiplicador’.

Além da infração ao artigo 165, temos mais algumas infrações auto suspensivas, ou seja,
que tem como penalidade, além da multa, a suspensão do direito de dirigir.

Elas estão previstas nos artigos: 148-A, §5°; 165, 165-A, 165-B, 170, 173, 174, 175, 176,
191, 210, 218, III, 244, I, II, III, e V e 253-A do CTB.

Ainda sobre as infrações que tem como penalidade específica a suspensão, precisamos
conversar sobre a questão do §3° do artigo 7° da Resolução 723 do CONTRAN no que diz
respeito ao cômputo da pontuação das infrações auto suspensivas, veja o que diz este
artigo:

§ 3º Não serão computados pontos nas infrações que preveem, por si só, a
penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Assim, para as infrações que tenham como penalidade específica a suspensão do direito
de dirigir não haverá somatória de pontos para não haver penalidade aplicada em
duplicidade (bis in idem) - suspensão por infração específica e (+) suspensão por
pontuação.

110
Isso quer dizer que a pontuação da infração ao artigo 165 do CTB, por exemplo, não será
computada para fins de instauração da penalidade de suspensão por pontos.

Anotações:
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Frequência obrigatória em Curso de Reciclagem


Dentre as penalidades de trânsito previstas no artigo 256 do CTB, temos também a
frequência obrigatória em curso de reciclagem, que não é aplicável especificamente
para uma infração de trânsito, mas cabível toda vez que o condutor se encontrar numa
das situações constantes do artigo 268, sendo a mais comum a sua imposição de forma
cumulativa com a sanção de suspensão do direito de dirigir (inciso II) ou seja, trata-se
de uma penalidade acessória, vejam:

Art. 268. O infrator será submetido a curso de reciclagem, na forma estabelecida


pelo CONTRAN:
[...]
II - quando suspenso do direito de dirigir;

Como é uma penalidade acessória, ela não obsta a imposição de qualquer penalidade
pelo seu descumprimento, isso porque não há previsão dessa penalidade como sendo
fato gerador de multa.

A frequência obrigatória em curso de reciclagem nada mais é do que um treinamento


(curso) teórico ao motorista que tem um mau comportamento na via pública,
demonstrando a necessidade de sua reeducação. (Resolução n° 789/2020 do CONTRAN,
alterada pela Resolução 849/2021- vale a leitura). Tem um caráter educativo, tanto que
pode ser aplicada de forma preventiva.

No caso da suspensão, o cumprimento do curso de reciclagem NÃO é condição


imprescindível para que seja considerado encerrado o processo administrativo de
aplicação da penalidade de suspensão, conforme entendimento do §4° do art. 16 da
Resolução 723 do CONTRAN, veja:

111
§ 4º Caso o condutor já tenha cumprido o prazo de suspensão do direito de dirigir e
seja flagrado na condução de veículo automotor sem ter realizado o curso de
reciclagem, e estiver portando o documento de habilitação físico, esta deverá ser
recolhida e caso não esteja portando ou se trate de documento eletrônico, caberá
a autuação do art. 232 do CTB, observado o disposto no § 4º do art. 270 do CTB.

Isso quer dizer que se o condutor já cumpriu o PERÍODO, não haverá mais suspensão do
direito de dirigir, e só será multado, bem como será instaurado um processo de cassação
da CNH, se NÃO estiver portando a CNH.

Conveniente dizer que a cassação é decorrente da condução do veículo quando


suspenso o direito de dirigir, não podendo ser aplicada a penalidade quando o condutor,
tendo cumprido o prazo de suspensão, é flagrado sem que tenha realizado o curso de
reciclagem.

Isso pode acontecer porque o prazo de suspensão tem início, segundo a resolução 723,
imediatamente após esgotadas as possibilidades de recursos contra a penalidade:

Art. 16. A data de início do cumprimento da penalidade será fixada e anotada no


RENACH:
I - em 15 (quinze) dias corridos, contados do término do prazo para a interposição
do recurso, em 1ª ou 2ª instância, caso não seja interposto, inclusive para os casos
do documento de habilitação eletrônico;
II - no dia subsequente ao término do prazo para entrega do documento de
habilitação físico, caso a penalidade seja mantida em 2ª instância recursal;
III - na data de entrega do documento de habilitação físico, caso ocorra antes das
hipóteses previstas nos incisos I e II.

Logo, cumprida a penalidade principal, a falta de cumprimento da penalidade acessória,


que é o curso de reciclagem, é conduta atípica para configurar a cassação da habilitação,
não sendo considerada sequer como uma infração de trânsito, sendo somente recolhido
o documento de habilitação, nesses casos, como prevê o artigo 16, parágrafo 4º, da
citada resolução, como acima citado.

Há quem entenda que sem que o condutor penalizado tenha concluído o curso de
reciclagem e seja aprovado com certificado, não será considerado encerrado o
cumprimento da penalidade de suspensão do direito de dirigir.

E essa é a redação dos §§ 2° e 3° do artigo 164 da Resolução 723 do CONTRAN. Mas essa
é uma análise equivocada do agente fiscalizador e também da autoridade de trânsito.
4
§ 2º A inscrição da penalidade no RENACH conterá a data do início e término da penalidade, período
durante o qual o condutor deverá realizar o curso de reciclagem.

§ 3º Cumprido o prazo de suspensão do direito de dirigir, caso o condutor não realize ou seja reprovado
no curso de reciclagem, deverá ser mantida a restrição no RENACH, que deverá ser impeditivo para
devolução ou renovação do documento de habilitação, impressão de 2ª via do documento de habilitação
físico ou emissão de Permissão Internacional para Dirigir - PID.

112
Porém, antes de ser aplicada qualquer penalidade, como vimos, é necessário que o
órgão de trânsito autuador instaure o devido processo legal, assegurando ao condutor
amplo direito de defesa (incluindo-se todas as etapas recursais).

Curso de Reciclagem Preventivo


É quase imperceptível, mas a Lei 14.071 alterou o texto do artigo 261, em seu parágrafo
5º, substituindo “em” por “ao”, para definir “quem” tem direito a frequentar o curso de
reciclagem preventivo:

Art. 261, § 5º O condutor que exerce atividade remunerada em veículo [...]


Art. 261, § 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo
[...]

O texto anterior utilizava a preposição “EM” para determinar o tipo, o modo, o meio
utilizado pelos condutores que teriam direito a participar do curso. Sem o meio, não
existe a renda.

Ao trocar a preposição pela contração “AO”, o texto passou a denotar a forma como é
feita ou realizada a coisa. Ou seja, o veículo passou a ser a forma para o exercício da
atividade remunerada e não o meio.

No primeiro caso, apenas os motoristas profissionais que trabalham EM veículo


automotor, como caminhoneiros, motoristas de ônibus de transporte de passageiros,
motoristas de transporte escolar ou turístico, teriam acesso ao curso preventivo.

Observem que, na segunda situação, o condutor não exerce a atividade remunerada EM


veículo, ou seja, a sua renda está relacionada ao uso do automóvel ou motocicleta, mas
o veículo não é o modo como aufere a renda.

No caso do aplicativo como UBER ou 99 táxi, a renda vem do compartilhamento do


veículo e não da atividade de motorista.

No caso do vendedor ou representante comercial, a sua renda vem da venda de


produtos, apesar de utilizar o veículo como forma de realizar essas vendas pela cidade
ou região.

No caso dos entregadores delivery, sua renda vem da taxa de entrega, que pode ser
realizada inclusive com bicicletas ou patinetes motorizados por exemplo, apesar da
motocicleta ser a forma mais rápida e comum para realizar essas entregas.

No caso de motoboys, sua renda vem de vários serviços administrativos que envolvem
deslocamento, busca e entrega de documentos e não do uso da motocicleta,
propriamente dito, tanto que a maioria é registrada como auxiliares de serviço geral.

113
Parece evidente que a pequena mudança no texto proporcionou maior alcance à regra.

Entretanto, o CONTRAN não utilizou a alteração na Resolução 723.

Observe que os parágrafos 1º e 7º mantém o texto anterior à Lei 14.071, o que equivale
dizer que ocorrerá uma restrição aos condutores que exercem atividade remunerada
relacionada ao veículo, que tem no automóvel a forma complementar para o exercício
da atividade remunerada, mas não trabalham em veículo automotor.

Isso, novamente ocasionará desigualdade na aplicação da penalidade, além de uma


evidente violação ao princípio da legalidade, pois o condutor, mesmo exercendo
atividade remunerada ao veículo, não poderá utilizar as normas de pontuação e curso
de reciclagem, estabelecidos no art. 261, § 5º.

Limitar a regra apenas para “motoristas profissionais” não parece ter sido a intenção do
legislador.

Nesses casos, caberá Mandado de Segurança contra a autoridade de trânsito que


aplicou, por exemplo, a penalidade de suspensão sem observar o exercício da atividade
remunerada ou que impediu o condutor de frequentar o curso preventivo.

No segundo caso, condutores que utilizam o veículo como uma ferramenta acessória de
trabalho, como motoristas de aplicativos, entregadores de delivery, vendedores,
representantes comerciais, motoboys e uma série de profissionais, teriam acesso ao
curso preventivo.

Assim, o motorista que exerce atividade remunerada que atingir de 30 a 39 pontos


poderá participar de curso preventivo de reciclagem.

A previsão é o §5° do art. 261 do CTB:

§ 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo, a


penalidade de suspensão do direito de dirigir de que trata o caput deste artigo será
imposta quando o infrator atingir o limite de pontos previsto na alínea c do inciso I
do caput deste artigo, independentemente da natureza das infrações cometidas,
facultado a ele participar de curso preventivo de reciclagem sempre que, no
período de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, conforme regulamentação
do Contran.

Vale frisar que a atividade principal precisa ser a direção de veículos e não o caso do
IFood, por exemplo, que a remuneração principal é a venda de alimentos e o veículo
(moto) é apenas uma ferramenta acessória a sua atividade.

O mesmo exemplo serve para o representante comercial, vendedor de frutas ou de


pamonha de rua.

114
Para que o motorista tem EAR em sua CNH, é necessário que realize um exame
psicológico e cursos especiais, veja o art. 27 da Resolução 789.

Art. 27. Os cursos especializados serão destinados a condutores habilitados que


pretendam conduzir veículo de transporte coletivo de passageiros, de escolares, de
produtos perigosos e de carga indivisível, de emergência e motocicletas e
motonetas destinadas ao transporte remunerado de mercadorias (motofrete) e de
passageiros (mototáxi).

Isso quer dizer que, para que o motorista tenha o EAR na CNH, ele tem que passar por
um desses cursos, exercer uma dessas atividades remuneradas e ter, pelo menos, 21
anos.

Este condutor também poderá participar do curso preventivo de reciclagem, como


acima exposto.

Quando o processo de suspensão pode ser instaurado e, depois


de imposta a penalidade, o motorista ficará impedido de dirigir
por quanto tempo?
Como você já sabe, a previsão legal da suspensão é o artigo 261 do CTB e o artigo 3° da
Resolução do CONTRAN n° 723/18. E ela será instaurada sempre que o motorista atingir
a somatória de pontos na forma do art. 261 no período de 1 ano ou se cometer alguma
infração auto suspensiva.

Mas uma das características que o Código de Trânsito Brasileiro traz e que levanta
questionamentos a respeito de sua aplicação, é o termo inicial da penalidade de
suspensão do direito de dirigir, que tem duplo entendimento.

Termo inicial nada mais é do que o momento em que a penalidade começa a gerar
efeitos, deflagrando o prazo a partir do qual o documento estará suspenso.

Segundo determina o artigo parágrafo segundo, do artigo 261, o condutor terá


devolvido o seu documento assim que cumprir o prazo da penalidade e participar do
curso de reciclagem.

Nesse sentido, parece tanto quanto evidente que, para ser DEVOLVIDA, primeiramente
deve ser RECOLHIDA.

Isso quer dizer que o prazo de suspensão do direito de dirigir teria como termo inicial a
entrega do documento pelo condutor junto ao órgão de trânsito.

Contudo, o parágrafo nono, do mesmo artigo, determina que o condutor que dirigir
veículo em via pública após ter sido notificado da penalidade, incorre em infração ao
artigo 162, II, por conduzir veículo quando suspenso o direito de dirigir:

115
§ 9º Incorrerá na infração prevista no inciso II do art. 162 o condutor que, notificado
da penalidade de que trata este artigo, dirigir veículo automotor em via pública.

Em que pese o texto legal trazer o termo “notificado da penalidade”, parece que a
intenção do legislador foi determinar que a infração se caracteriza quando o condutor
for notificado da “imposição da penalidade”, com o esgotamento dos recursos e
cadastramento da penalidade no RENACH, a teor do que diz o artigo 290, do Código de
Trânsito Brasileiro.

Logo, o termo inicial passaria a ser a data de cadastramento da penalidade no sistema,


independentemente da entrega do documento, na forma do art. 16 da Resolução 723
do CONTRAN.

Essa parece ser a análise mais correta, posto que, se o prazo começar a fluir apenas após
a entrega do documento, os efeitos da penalidade seriam contínuos, desde o seu
cadastramento até a entrega do documento, o que acarretaria em um aumento ilegal
do prazo de suspensão do documento, gerando uma penalidade desproporcional.

Isso aconteceu muito antes da edição da Lei 13.251 e da Resolução 723, não sendo raro
situações em que o condutor foi penalizado com suspensão de apenas 1 (um) mês, mas
permaneceu suspenso por dois, três, quatro anos, até entregar o documento.

Outra causa de debate entre as autoridades de trânsito e os profissionais que defendem


condutores, é a validade dos pontos no prontuário de habilitação, mas isso, veremos a
seguir.

Suspensão por pontos


O Processo de Suspensão do Direito de Direito (PSDD) por acúmulo de pontos é
instaurado sempre que o condutor, no intervalo de 12 (doze) meses, atingir um
determinado limite de pontos em seu prontuário, decorrente do cometimento de
infrações de trânsito.

Importa saber que esses pontos variam conforme a gravidade da infração cometida,
conforme se extrai do artigo 259, do Código de Trânsito Brasileiro, como vimos,
excluindo-se, assim, as infrações administrativas.

Entretanto, na prática administrativa, excluído esses artigos de infrações, todos os


demais originarão pontos no prontuário do infrator, podendo deflagrar a instauração do
processo administrativo punitivo, caso seja atingido os seguintes limites de pontos:

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos seguintes
casos:
I - sempre que, conforme a pontuação prevista no art. 259 deste Código, o infrator
atingir, no período de 12 (doze) meses, a seguinte contagem de pontos:
116
a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais infrações gravíssimas na
pontuação;
b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração gravíssima na pontuação;
c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma infração gravíssima na
pontuação;

É bem simples analisar os critérios estabelecidos para a suspensão do direito de dirigir


por pontos, que tem como regra geral a existência de infrações gravíssimas dentre as
autuações que compõem o processo.

Caso não existam infrações gravíssimas no prontuário do condutor, o limite de pontos


para a instauração do processo administrativo é de 39 (trinta e nove).

Se existir apenas 1 (uma) infração gravíssima, o limite cai para 29 (vinte e nove) pontos.

Agora, se existirem 2 (duas) ou mais infrações gravíssimas, o limite de pontos continua


o mesmo da legislação anterior, em 19 (dezenove) pontos.

Vigência dos pontos

Questão controvertida que foi parcialmente solucionada pela Lei 14.071 diz respeito à
vigência dos pontos no prontuário do condutor.

Parece lógico dizer que os pontos vigoram por apenas 12 (doze) meses no prontuário do
condutor, devendo serem retirados após esse prazo.

Só que os pontos somente são retirados caso o condutor não ultrapasse o limite de
pontos necessários para a instauração do processo de suspensão.

E esses pontos devem ser lançados de forma consistente e dentro da expressa previsão
legal.

Por exemplo, pontos lançados após a decadência do direito de punir, não podem gerar
efeitos para o processo de suspensão do direito de dirigir, ainda que tenham sido
anotados no RENACH.

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da
data do cometimento da infração, por remessa postal ou por qualquer outro meio
tecnológico hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.
[…]
§ 6º Em caso de apresentação da defesa prévia em tempo hábil, o prazo previsto no
caput deste artigo será de 360 (trezentos e sessenta) dias.
§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no caput ou no § 6º deste artigo
implicará a decadência do direito de aplicar a penalidade.”

117
A regra não vale somente para o processo de multa, cabendo a autoridade que vai
aplicar a penalidade de suspensão avaliar se os pontos foram aplicados dentro do prazo
previsto pelo artigo 282 e, caso tenham sido aplicados ultrapassado o prazo decadencial,
devem ser retirados do prontuário do condutor.

Se for computado após esse prazo, o processo administrativo de suspensão por acúmulo
de pontos é irregular.

Mas e se nem todas as autuações forem recorridas, sendo computados pontos no


prontuário do condutor enquanto outros estão aguardando julgamento de recursos?

Nesse caso, a partir do momento em que os pontos geraram efeitos no prontuário do


condutor, sendo retirados após os 12 meses de vigência, devem ser desconsiderados,
pois, se forem novamente incluídos no prontuário, ocasionará o chamado Bis in Idem.

Outrossim, depois que geraram os efeitos, ocorrerá a preclusão dos pontos, o que
também impede serem reutilizados após esse prazo.

Assim, ainda segundo o artigo 6° da Resolução 723 e o parágrafo único do artigo 2905
do CTB, somente depois de esgotadas todos os meios de defesa da(s) infração(ões), na
esfera administrativa, é que a pontuação prevista no artigo 259 será considerada para
fins de instauração de processo de suspensão, veja:

Art. 6º Esgotados todos os meios de defesa da infração na esfera administrativa, a


pontuação prevista no art. 259 do CTB será considerada para fins de instauração de
processo administrativo para aplicação da penalidade de suspensão do direito de
dirigir.

Art. 7º Para fins de cumprimento do disposto no inciso I do art. 3º serão


consideradas as datas do cometimento das infrações.

Isso quer dizer que os pontos só serão efetivamente computados após encerrada a fase
recursal da penalidade de multa, observado o exposto acima.

Essa questão pode ser um argumento extremamente útil quando o processo de


suspensão é instaurado sem observar o esgotamento dos meios de defesa das infrações
de trânsito. Vamos ver essa questão nas teses de defesa.

Porém, muitas vezes o processo de suspensão é instaurado sem que seja observado o
encerramento na instância administrativa, por causa do caput do art. 2856 do CTB. Vale

5
Art. 290. Implicam encerramento da instância administrativa de julgamento de infrações e penalidades:

Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades aplicadas nos termos deste Código serão
cadastradas no RENACH.
6
Art. 285. O recurso contra a penalidade imposta nos termos do art. 282 deste Código será interposto
perante a autoridade que imputou a penalidade e terá efeito suspensivo.
118
dizer que esse artigo é exclusivo dos recursos apresentados à JARI e não se estende aos
recursos interpostos no CETRAN.

Porém, tal previsão viola o Princípio da Inocência, que também pode ser utilizado no
processo administrativo, isso quer dizer que enquanto houver meios de defesa contra
a penalidade de multa, os pontos NÃO devem ser computados no prontuário do
condutor.

Além disso, como visto, o art. 265 do CTB assegura ao infrator o amplo direito de defesa,
ou seja, o penalizado pode participar de todas as fases procedimentais sem que a
penalidade seja aplicada.

Sempre que o processo administrativo de suspensão por pontos for instaurado de forma
precipitada, ou seja, sem que tenha havido o esgotamento das instâncias
administrativas das penalidades de multas, ele tem que ser considerado inconsistente,
nos termos do art. 281 do CTB.

Vale frisar que não poderá ser instaurado outro processo com base nas mesmas
infrações anteriormente computadas, sob pena de ferir ao bis in idem, isso porque, para
que haja correção do ato administrativo (convalidação) é necessário que haja previsão
no CTB e, neste caso, não há previsão legal.

O prazo de suspensão pode variar conforme o tipo de penalidade, sendo um mínimo de


6 (seis) meses podendo chegar a 1 (um) ano, no caso de acúmulo de pontos e de no
mínimo 2 (dois) podendo chegar a 8 (oito) meses no caso de infração específica, segundo
previsão do inciso I do § 1°7 do artigo 261 do CTB. Há, neste caso, uma discricionariedade
à autoridade de trânsito.

Em situações de reincidência do condutor, esses prazos são aumentados, podendo


chegar a 18 (dezoito) meses, desde que a reincidência não tenha como previsão a
penalidade de cassação do documento de habilitação.

Necessário se faz esclarecer que a norma traz uma discricionariedade para o órgão
autuante, entretanto, não fala sobre a dosimetria da penalidade.

Isso quer dizer que fica a critério do órgão estabelecer a quantidade de tempo que
permanecerá suspenso o direito de dirigir do condutor, entretanto, não optando pelo

7
§ 1º Os prazos para aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir são os seguintes:

I - no caso do inciso I do caput : de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e, no caso de reincidência no período de 12
(doze) meses, de 8 (oito) meses a 2 (dois) anos;

II - no caso do inciso II do caput : de 2 (dois) a 8 (oito) meses, exceto para as infrações com prazo descrito
no dispositivo infracional, e, no caso de reincidência no período de 12 (doze) meses, de 8 (oito) a 18
(dezoito) meses, respeitado o disposto no inciso II do art. 263.

119
mínimo legal, deve fazê-lo de forma fundamentada, indicando qual foi a razão que levou
à aplicação de penalidade maior, por força do art. 265 do CTB.

Assim sempre deverá ser aplicada a pena mínima, isso porque não tem como
fundamentar uma pena maior, já que não há como fundamentar a dosimetria por falta
de embasamento legal.

Não havendo decisão devidamente fundamentada, o condutor pode questionar a


penalidade aplicada em período maior do que o mínimo, alegando, inclusive, a
desproporcionalidade do prazo de suspensão em relação às infrações cometidas, o que
pode levar inclusive à anulabilidade do processo.

Suspensão do Direito de Dirigir dos Motoristas Profissionais


Com a leitura do §5° do art. 261 do CTB, podemos perceber que no caso do condutor
que exerce atividade remunerada ao veículo, a penalidade de suspensão do direito de
dirigir de que trata o caput do art. 261, será imposta quando o infrator atingir o limite
de pontos previsto na alínea “c” do inciso I do caput deste artigo, independentemente
da natureza das infrações cometidas, facultado a ele participar de curso preventivo de
reciclagem sempre que, no período de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, não
que seja exatamente 30 pontos, mas sim algo entre 30 até 39 pontos, que é o limite.

§ 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao veículo, a penalidade


de suspensão do direito de dirigir de que trata o caput deste artigo será imposta
quando o infrator atingir o limite de pontos previsto na alínea “c” do inciso I do
caput deste artigo, independentemente da natureza das infrações cometidas,
facultado a ele participar de curso preventivo de reciclagem sempre que, no período
de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, conforme regulamentação do
Contran.

Para esses condutores, o limite de pontos sempre será de 39 (trinta e nove), sendo
facultado a partir dos 30 (trinta) pontos e desde que não supere o limite estabelecido,
frequentar o curso preventivo de reciclagem, eliminando os pontos e recomeçando a
contagem do zero, vejamos:

§ 6º Concluído o curso de reciclagem previsto no § 5o, o condutor terá eliminados


os pontos que lhe tiverem sido atribuídos, para fins de contagem subsequente.

Ou seja, o limite de pontos para o condutor que exerce atividade remunerada ao veículo
pode chegar a 68 (sessenta e oito), caso opte por frequentar o curso de reciclagem
preventivo, limitando a sua frequência em um curso a cada 12 (doze) meses:

§ 7º O motorista que optar pelo curso previsto no § 5º não poderá fazer nova opção
no período de 12 (doze) meses.

120
Apesar de parecer um estímulo ao cometimento de infrações, como muitos profissionais
se manifestaram nesse sentido, devemos lembrar que é muito mais fácil um motorista
profissional, que passa dez, doze horas na direção de um veículo, ser autuado por
infrações de trânsito e atingir o limite estipulado, do que o motorista tradicional, que
passa em média quarenta minutos dirigindo um veículo.

Assim, a legislação na verdade foi adequada para que o trabalhador que exerce essa
profissão não fique sem a possibilidade de auferir renda mensal. Logo, a alteração
legislativa cumpre uma finalidade social e assim deve ser encarada.

Ademais, no caso de acidentes de trânsito, a penalidade criminal sempre será agravada


pelo exercício da atividade profissional e isso desestimula o cometimento de infrações.

Ademais, a Lei 14.071 trouxe também exigências para os condutores de veículos que
exijam as categorias “C, D e E”, como por exemplo a comprovação de resultado negativo
em exame toxicológico para a obtenção ou renovação da CNH.

Suspensão por Resultado Positivo em Exame Toxicológico


A previsão é o art. 8°-A da Resolução 723 do CONTRAN:

Art. 8º-A. Para instauração do processo administrativo destinado à aplicação da


penalidade de suspensão do direito de dirigir decorrente de resultado positivo no
exame toxicológico periódico de que trata o § 2º do art. 148-A do CTB, o órgão ou
entidade executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal competente pelo
registro do documento de habilitação deverá utilizar os dados lançados no RENACH.
§ 1º É garantido o direito de contraprova e de recurso administrativo, sem efeito
suspensivo, no caso de resultado positivo para os exames de que trata o caput.
§ 2º Caso seja realizada a contraprova, será sempre considerado o resultado nela
obtido.
§ 3º O levantamento da suspensão é condicionado ao resultado negativo em novo
exame ou ao cumprimento do prazo de 3 (três) meses de suspensão previsto no §
5º do art. 148-A do CTB, não se exigindo a realização do curso de reciclagem.
§ 4º O novo exame para levantamento da suspensão pode ser realizado a qualquer
tempo.
§ 5º O resultado negativo em novo exame resultará no levantamento da suspensão
do direito de dirigir, por meio da inclusão do referido resultado no RENACH,
independentemente de o processo ter sido instaurado ou de o infrator já estar
cumprindo a penalidade.
§ 6º A reclassificação da habilitação do condutor das categorias C, D ou E para as
categorias A, B ou AB não dispensa a exigência do resultado negativo em novo
exame para fins de levantamento da suspensão do direito de dirigir.

Esse exame deve ser realizado a cada dois anos e meio e pode ocasionar a suspensão do
direito de dirigir do condutor, caso:

121
I. Não seja realizado o exame em até 30 (trinta) dias do vencimento do
prazo estabelecido;
II. No caso do exame realizado ser positivo;
III. Caso não comprove a realização do exame por ocasião da renovação
da CNH.

A suspensão tem como base a infração tipificada no artigo 165-B, do Código de Trânsito
Brasileiro:

Art. 165-B. Conduzir veículo para o qual seja exigida habilitação nas categorias C, D
ou E sem realizar o exame toxicológico previsto no § 2º do art. 148-A deste Código,
após 30 (trinta) dias do vencimento do prazo estabelecido:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 3 (três) meses,
condicionado o levantamento da suspensão à inclusão no Renach de resultado
negativo em novo exame.
Parágrafo único. Incorre na mesma penalidade o condutor que exerce atividade
remunerada ao veículo e não comprova a realização de exame toxicológico
periódico exigido pelo § 2º do art. 148-A deste Código por ocasião da renovação do
documento de habilitação nas categorias C, D ou E.

A primeira questão que parece evidente no artigo supra, é a falta de previsão de uma
medida administrativa para esse tipo de infração, o que impõe a obrigação ao agente
fiscalizador de autuar o condutor e liberá-lo logo em seguida, não podendo sequer reter
ou recolher o documento de habilitação.

Isso quer dizer que o agente de trânsito vai autuar o motorista, mas deverá liberá-lo logo
em seguida, sob pena de abusar do Poder de Polícia, já que não tem previsão legal de
qualquer medida administrativa.

A segunda questão, é que o artigo determina, de forma errada, que a suspensão seja
incluída no RENACH e somente seja retirada diante da apresentação de resultado
negativo em novo exame.

Entretanto, como se trata de uma penalidade de suspensão, antes da inclusão da


penalidade no RENACH, deve existir um processo administrativo, devidamente
instaurado pela autoridade de trânsito que autuou o condutor, oferecendo ao condutor
todas as oportunidades de ampla defesa, sob pena de violação ao contraditório e à
ampla defesa.

Somente depois de esgotados todos os meios de recurso, é que a penalidade será


cadastrada no RENACH, nos termos do artigo 290, do Código de Trânsito Brasileiro.

Outrossim, o texto do artigo 165-B é contrário à disposição legal, conquanto prevê que
o prazo da suspensão é condicionado à apresentação de resultado negativo em novo
exame enquanto o artigo 261 determina que o prazo máximo de suspensão é de oito
meses, quando não houver essa descrição no dispositivo infracional.

122
Como o artigo determina apenas o prazo mínimo, o prazo máximo seria de oito meses,
já que não pode existir uma penalidade que permaneça de forma eterna no prontuário
do condutor.

Por fim, o resultado de exame toxicológico não é um documento de porte obrigatório,


definido pelo Código de Trânsito Brasileiro, não podendo qualquer autoridade de
trânsito determinar sua apresentação no momento da fiscalização, sob pena de violar o
princípio da legalidade.

Aliás, nos termos da resolução 923 do CONTRAN, o resultado do exame é inserido


diretamente no RENACH, o que leva à conclusão de que, tendo obtida a carteira de
habilitação ou tendo renovado o exame de sanidade física e mental, o resultado do
exame foi negativo, não sendo obrigação do condutor comprovar a sua realização, como
pretende o artigo 165-B.

Então, é o agente quem deve dispor de meios para fiscalizar o exame toxicológico.

O laboratório que fez o exame, deve ter um convênio com o DETRAN, pois é ele quem
vai lançar no RENACH o resultado positivo do teste.

A controvérsia a respeito da penalidade de suspensão do direito de dirigir por resultado


positivo no exame toxicológico reside basicamente em duas questões:

1. Trata-se de uma penalidade de trânsito, que deve seguir todos os


procedimentos estabelecidos pelo Código de Trânsito Brasileiro, ou;
2. Trata-se de uma medida administrativa, que pode ser imposta
diretamente no RENACH do condutor?

Para elucidar a questão, cabe citar o artigo 148-A, que traz a previsão dessa suspensão:

Art. 148-A. Os condutores das categorias C, D e E deverão comprovar resultado


negativo em exame toxicológico para a obtenção e a renovação da Carteira
Nacional de Habilitação.
§ 1o O exame de que trata este artigo buscará aferir o consumo de substâncias
psicoativas que, comprovadamente, comprometam a capacidade de direção e
deverá ter janela de detecção mínima de 90 (noventa) dias, nos termos das normas
do Contran.
§ 2º Além da realização do exame previsto no caput deste artigo, os condutores das
categorias C, D e E com idade inferior a 70 (setenta) anos serão submetidos a novo
exame a cada período de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses, a partir da obtenção ou
renovação da Carteira Nacional de Habilitação, independentemente da validade
dos demais exames de que trata o inciso I do caput do art. 147 deste Código.
§ 3º (Revogado).
§ 4º É garantido o direito de contraprova e de recurso administrativo, sem efeito
suspensivo, no caso de resultado positivo para os exames de que trata este artigo,
nos termos das normas do Contran.

123
§ 5º O resultado positivo no exame previsto no § 2º deste artigo acarretará a
suspensão do direito de dirigir pelo período de 3 (três) meses, condicionado o
levantamento da suspensão à inclusão, no Renach, de resultado negativo em novo
exame, e vedada a aplicação de outras penalidades, ainda que acessórias.

Extrai-se do artigo 148-A que estamos diante de uma suspensão do direito de dirigir sem
a sua vinculação a uma infração de trânsito, que deve ser aplicada de forma imediata ao
RENACH do condutor, com a possibilidade de recurso sem efeito suspensivo, situação
única no Código de Trânsito Brasileiro.

Ou seja, é aplicada sem a existência de um auto de infração, diretamente no prontuário


do condutor, com recurso contra o resultado obtido no exame e não contra a decisão
da autoridade de trânsito de aplicar a penalidade.

Portanto, essa modalidade de suspensão não possui as características das penalidades


de trânsito, previstas no artigo 2568, do Código de Trânsito Brasileiro.

As penalidades previstas no artigo 256 são aplicadas ao RENACH do condutor, após


processo administrativo punitivo, garantido o direito de ampla defesa e contraditório,
sendo aplicadas somente após o esgotamento de todas as possibilidades de defesa, por
decisão fundamentada da autoridade de trânsito.

O processo administrativo deve observar o devido processo legal estabelecido entre os


artigos 280 e 290, do Código de Trânsito Brasileiro.

Durante o trâmite processual, não há qualquer restrição ou impedimento à habilitação


do condutor, que pode alterar a categoria da habilitação, renovar a CNH ou transferir o
prontuário para outras unidades da federação, sem qualquer obstáculo.

A suspensão do direito de dirigir por resultado positivo em exame toxicológico não é,


portanto, uma penalidade de trânsito.

O que diz a Resolução 723 do CONTRAN?

Entretanto, o texto da Resolução 723 parece caminhar no sentido de reconhecer, num


primeiro momento, a suspensão como sendo uma penalidade de trânsito.

8 Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências estabelecidas neste Código e dentro de
sua circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes penalidades:
I - advertência por escrito;
II - multa;

III - suspensão do direito de dirigir;


IV - (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016)
V - cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
VI - cassação da Permissão para Dirigir;
VII - frequência obrigatória em curso de reciclagem.
124
Isso porque, determina ao órgão executivo estadual de trânsito a obrigação de notificar
o condutor a respeito da instauração do processo, na forma do art. 10 da Resolução 723,
vejamos:

Art. 10. O ato instaurador do processo administrativo de suspensão do direito de


dirigir de que trata esta Resolução, conterá o nome, a qualificação do infrator, a(s)
infração(ões) com a descrição sucinta dos fatos e a indicação dos dispositivos legais
pertinentes.
II - a finalidade da notificação, qual seja, dar ciência da instauração do processo
administrativo para imposição da penalidade de suspensão do direito de dirigir por
somatório de pontos, por infração específica ou por resultado positivo em exame
toxicológico periódico previsto no § 2º do art. 148-A do CTB;
§ 5º Da notificação constará a data do término do prazo para a apresentação da
defesa, que não será inferior a 30 (trinta) dias contados a partir da data da
notificação da instauração do processo administrativo.
§ 9º No caso de processo de suspensão do direito de dirigir decorrente do resultado
positivo no exame toxicológico, a notificação de instauração do processo
administrativo deverá ser encaminhada ao condutor examinado e conter, além do
disposto no § 2º, no mínimo:
I - nome e CNPJ do laboratório responsável pelo resultado do exame ou da
contraprova, caso esta tenha sido realizada;
II - número do laudo;
III - data do exame;
IV - resultado do exame; e
V - substâncias detectadas.

Já o artigo 14 determina que não apresentada, não conhecida ou não acolhida a defesa,
a autoridade de trânsito competente aplicará a penalidade de suspensão do direito de
dirigir ou de cassação do documento de habilitação, conforme o caso, vejamos:

Art. 14. Não apresentada, não conhecida ou não acolhida a defesa, a autoridade de
trânsito competente aplicará a penalidade de suspensão do direito de dirigir ou de
cassação do documento de habilitação, conforme o caso.

Isso leva à conclusão de que a suspensão do direito de dirigir por resultado positivo de
exame somente pode ser aplicada após a fase de defesa prévia, com a aplicação da
penalidade e prazo para recurso.

Como o artigo 148-A, em seu parágrafo 4º, diz que é garantido o direito de contraprova
e recurso administrativo, sem efeito suspensivo, somente nessa fase procedimental é
que a restrição começaria a ter implicações, suspendendo o direito de dirigir do
condutor.

Nesses termos, o processo administrativo atrairia a norma contida no artigo 282, do


Código de Trânsito Brasileiro, sendo que o prazo para a aplicação da penalidade seria de
180 dias, caso o condutor não apresentasse defesa previa e de 360, caso apresentasse.

125
Até aqui, o processo administrativo para suspender o direito de dirigir se assemelha ao
processo de suspensão por infração específica.

Por outro lado, essa penalidade pode ser também entendida como medida
administrativa, pois aplicada a penalidade, o condutor tem o direito de apresentar
recurso contra o resultado obtido no exame toxicológico:

Art. 148-A, § 4º É garantido o direito de contraprova e de recurso administrativo,


sem efeito suspensivo, no caso de resultado positivo para os exames de que trata
este artigo, nos termos das normas do Contran.

A partir dessa fase processual, a suspensão por resultado positivo em exame


toxicológico perde a característica de penalidade de trânsito.

Isso porque, o recurso não seria interposto contra a decisão da autoridade de aplicar a
penalidade e sim contra o resultado positivo do exame e sem o efeito suspensivo, ou
seja, a restrição somente poderia ser retirada após o julgamento do recurso ou
mediante inclusão no RENACH de resultado negativo em novo exame toxicológico.

E não seria interposto junto à JARI e sim junto à própria autoridade de trânsito que
aplicou a penalidade, não havendo recurso em segunda instância.

Logo, teríamos a partir dessa fase, uma suspensão do direito de dirigir com
características de Medida Administrativa.

Isso porque, a medida administrativa não depende de notificação para ser imposta ao
veículo ou ao documento de habilitação, pois tem característica de penalidade
acessória, complementar à penalidade principal e podem ser realizadas por meio de
registro no RENACH ou RENAVAM.

Da mesma forma, a penalidade de suspensão do direito de dirigir por resultado positivo


em exame toxicológico é aplicada diretamente no RENACH, no prazo de 15 dias
contados da coleta, nos termos do art. 15 da Resolução 923 do CONTRAN:

Art. 15. O laboratório credenciado deverá inserir a informação contendo o resultado


da análise do material coletado (se negativo ou positivo para cada uma das
substâncias testadas) no prontuário do condutor por meio do Sistema de Registro
Nacional de Condutores Habilitados (RENACH), no prazo máximo de 15 dias
contados a partir da coleta.
§ 1º O condutor deverá autorizar, por escrito e previamente à realização do exame
toxicológico, a inclusão da informação do resultado no RENACH.

Se não houver esta autorização, o exame não terá validade para os fins desta Resolução
e não poderá ser utilizado para qualquer outra finalidade junto ao Sistema Nacional de
Trânsito.

126
O problema é que, mesmo com essa característica, a suspensão não se torna uma
medida administrativa.

Medidas administrativas são formas coercitivas adotadas no sentido de preservar a


segurança do trânsito, forçando o infrator a corrigir falhas constatadas através da
fiscalização e constatação da infração, o que não é o caso, já que o exame toxicológico
não aponta quando houve o consumo da substância psicoativa e muito menos se
naquele momento o condutor estava conduzindo um veículo automotor.

Aponta tão somente que houve o consumo em uma janela de 90 (noventa) dias
anteriores à coleta do material biológico.

Portanto, não pode ser considerada como medida administrativa.

E mesmo no artigo 2699 do CTB, também não encontramos qualquer penalidade


acessória similar ao exame toxicológico ou à suspensão do direito de dirigir.

A medida administrativa que mais se assemelha ao exame toxicológico é o de perícia de


substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.

Entretanto, esse exame tem como finalidade comprovar que o condutor dirigiu sob o
efeito dessas substâncias, enquanto o exame toxicológico se destina a demonstrar que
houve a ingestão da substância, independentemente se o condutor estava dirigindo
veículo no dia da ingestão ou não.

Já em relação à suspensão, a medida administrativa mais parecida seria o recolhimento


do documento de habilitação, entretanto, o recolhimento somente pode ocorrer nos
casos previstos pelo Código de Trânsito Brasileiro ou quando houver suspeita de sua
inautenticidade ou adulteração.

E nenhuma das medidas tem a capacidade de ocasionar o bloqueio administrativo do


documento de habilitação.

9
Art. 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na esfera das competências estabelecidas neste
Código e dentro de sua circunscrição, deverá adotar as seguintes medidas administrativas:

I - retenção do veículo;
II - remoção do veículo;
III - recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;
IV - recolhimento da Permissão para Dirigir;
V - recolhimento do Certificado de Registro;
VI - recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual;
VII - (VETADO)
VIII - transbordo do excesso de carga;
IX - realização de teste de dosagem de alcoolemia ou perícia de substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica;
X - recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e na faixa de domínio das vias de circulação,
restituindo-os aos seus proprietários, após o pagamento de multas e encargos devidos.
XI - realização de exames de aptidão física, mental, de legislação, de prática de primeiros socorros e de
direção veicular.
127
Logo, não é possível classificar a suspensão do direito de dirigir por resultado positivo
em exame toxicológico como sendo uma medida administrativa.

Conclusão: Estamos diante de uma penalidade mista, que não se enquadra como
penalidade de trânsito principal e também não se enquadra como medida
administrativa acessória, o que a torna figura atípica ao Código de Trânsito Brasileiro.

Isso demonstra que, mesmo tendo sido alterado pela Lei 14.071, o Código de Trânsito
Brasileiro ainda traz a impossibilidade fática de aplicação da penalidade de suspensão
do direito de dirigir decorrente de resultado positivo em exame toxicológico.

E por mais que o CONTRAN se esforce em demonstrar que há a previsão legal, contida
no artigo 148-A, é insuficiente para tornar lícita a pretensão de suspender o direito de
dirigir.

Suspensão por Infração Específica


Segundo o artigo 261, do Código de Trânsito Brasileiro, alguns artigos de infração podem
originar o Processo de Suspensão do Direito de Dirigir como penalidade concomitante,
coexistente e simultânea.

É coexistente porque depende da existência da penalidade de multa. É simultânea


porque deve ser aplicada ao mesmo tempo em que ocorre a outra penalidade.

Esse tipo de suspensão não gera computo de pontos, já que possui força de aplicação
própria, sendo vedado o seu uso em outros processos administrativos, sob pena de
configurar, como dito, Bis in Idem.

A concomitância dos processos administrativos está prevista no artigo 261, em seu


parágrafo 10º, que diz:

§ 10. O processo de suspensão do direito de dirigir a que se refere o inciso II do


caput deste artigo deverá ser instaurado concomitantemente ao processo de
aplicação da penalidade de multa, e ambos serão de competência do órgão ou
entidade responsável pela aplicação da multa, na forma definida pelo Contran.

Além da previsão no art. 261 do CTB, também temos o art. 8° da Resolução 723 do
CONTRAN que foi recentemente alterada pela Resolução 844/2021 do CONTRAN, mas
que fere o contraditório e a ampla defesa, principalmente se o condutor não for o
proprietário do veículo, veja.

Seção II - Por Infração Específica


Art. 8º Para fins de cumprimento do disposto no inciso II do art. 3º, o processo de
suspensão do direito de dirigir deverá ser instaurado da seguinte forma:

128
I - quando o infrator for o proprietário do veículo, será instaurado processo único
para aplicação das penalidades de multa e de suspensão do direito de dirigir, nos
termos do § 10 do art. 261 do CTB; (Redação do inciso dada pela Resolução
CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
II - quando o infrator não for o proprietário do veículo, o processo de suspensão
do direito de dirigir tramitará concomitantemente ao processo para aplicação da
penalidade de multa, nos termos do § 10 do art. 261 do CTB, podendo ser autuado
um único processo para essa finalidade, observado o disposto na Resolução
CONTRAN nº 619, de 6 de setembro de 2016, e suas alterações. (Redação do inciso
dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 1º Para as autuações que não sejam de competência dos órgãos ou entidades
executivos de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal, relativas às infrações
cometidas antes de 12 de abril de 2021, o órgão ou entidade responsável pela
aplicação da penalidade de multa, encerrada a instância administrativa de
julgamento da infração, comunicará imediatamente ao órgão executivo de trânsito
do registro do documento de habilitação, via RENAINF, para que instaure processo
administrativo com vistas à aplicação da penalidade de suspensão do direito de
dirigir. (Redação do parágrafo dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE
09/04/2021).
§ 2º Na hipótese prevista no inciso I, o procedimento de notificação deverá obedecer
às disposições constantes na Resolução CONTRAN nº 619, de 6 de setembro de
2016, e suas alterações e sucedâneas. (Parágrafo acrescentado pela Resolução
CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 3º O prazo para expedição da notificação da penalidade de suspensão do direito
de dirigir de que trata o caput é de 180 (cento e oitenta) dias ou de 360 (trezentos
e sessenta) dias, se houver defesa prévia, na forma do art. 282 do CTB. (Parágrafo
acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).

O texto alterado pela Lei 14.071 corrige uma falha que persistiu por décadas e que gerou
inclusive a análise equivocada por parte das autoridades de trânsito de que o processo
de multa é totalmente desvinculado do processo de suspensão do direito de dirigir. Não
é.

O processo de multa é o início, a base para a aplicação do processo de suspensão e os


vícios de um se estende ao outro.

Assim, o argumento de que no processo administrativo de suspensão não podem ser


debatidas situações como dupla notificação, erros de preenchimento do auto de
infração ou então razões de mérito relativos à autuação, não pode ser mais aceito, com
base na atual legislação.

O parágrafo 10º, acima citado, torna evidente que ambos os processos devem seguir os
preceitos instituídos no Capítulo XVIII, do Código de Trânsito Brasileiro.

Só que, no texto atual, a competência para julgar ambas as penalidades deixam de ser
exclusivamente do órgão executivo de trânsito estadual, passando a ser
responsabilidade do órgão de trânsito que promoveu a autuação.

Assim, numa primeira análise, já é possível admitir que a duração de um processo de

129
suspensão do direito de dirigir por infração específica é o mesmo do processo de multa,
incluindo os prazos prescricionais.

Instauração do Processo Administrativo

Primeiramente, cabe dizer que o artigo 261 ainda depende de regulamentação pelo
CONTRAN, no que diz respeito aos procedimentos que deverão ser adotados.

Entretanto, seguindo a lógica estabelecida pelo Capitula XVIII, do Código de Trânsito


Brasileiro, a instauração do Processo de Suspensão do Direito de Dirigir por infração
específica pode ocorrer de três maneiras:

I. Sendo o condutor abordado e o auto de infração devidamente assinado,


ambos os processos, de multa e suspensão, seriam deflagrados pela
autuação, já que mediante a assinatura, considera-se como notificado o
condutor (Art. 280, VI);

Mas a informação de que a infração cometida gera a penalidade de suspensão


concomitantemente à penalidade de multa, deve estar registrada também no auto de
infração, sob pena de invalidar a primeira notificação in facie;

Desta maneira, o prazo para apresentar defesa prévia seria o mesmo para ambos
os processos (Art. 281, A).

II. Não havendo assinatura no auto de infração ou não havendo a informação


sobre a concomitância das penalidades, obrigatoriamente o proprietário
teria que ser notificado, no prazo máximo de trinta dias (Art. 281, parágrafo
único, II) da Autuação de Trânsito com a concomitância da penalidade de
suspensão do direito de dirigir, oferecendo o prazo para apresentação de
defesa prévia para ambas as penalidades, em processos separados;

III. Não havendo abordagem e prevendo o artigo de infração a penalidade de


suspensão do direito de dirigir de forma concomitante, o órgão autuante
deverá notificar o proprietário da Autuação de Trânsito, informando ainda
que se trata de penalidade com suspensão do direito de dirigir.

Assim, o prazo para apresentar condutor também será o prazo para apresentar defesa
contra ambas as penalidades, que deve ser feita de forma separada.

A existência de dois processos, ao que parece, é uma obrigação, pois sendo penalidades
diversas, impossível que coexistam em apenas um processo administrativo.

Aliás, a singularidade é um dos princípios do processo administrativo de trânsito.

130
Isso quer dizer que, é possível que o processo de multa seja julgado consistente, mas o
processo de suspensão do direito de dirigir julgado inconsistente, mas o contrário não
pode existir, pois se o auto de infração estiver viciado, o vicio se estende ao processo
de suspensão, nos termos dos §§ 5º e 6º do art. 7º da Resolução 723 do CONTRAN,
vejamos:

[…]
§ 5º A qualquer tempo, havendo anulação judicial ou administrativa do(s) auto(s)
de infração, o órgão autuador deverá efetuar nova comunicação aos órgãos de
registro da habilitação, para que sejam adotadas providências quanto a processos
administrativos de suspensão ou cassação do direito de dirigir eventualmente
instaurados com base nas autuações anuladas.
§ 6º Configurada a hipótese do § 5º, o órgão de registro da habilitação anulará, de
ofício, a penalidade eventualmente aplicada, cancelando registro no RENACH,
ainda que já tenha havido o encerramento da instância administrativa.

Entretanto, o CONTRAN, em sua resolução 723, já havia trazido o entendimento de que


nesses casos, haveria a instauração para a apuração das duas penalidades em um único
processo administrativo:

Art. 8º Para fins de cumprimento do disposto no inciso II do art. 3º, o processo de


suspensão do direito de dirigir deverá ser instaurado da seguinte forma:
I - para as autuações de competência do órgão executivo de trânsito estadual de
registro do documento de habilitação do infrator, quando o infrator for o
proprietário do veículo, será instaurado processo único para aplicação das
penalidades de multa e de suspensão do direito de dirigir, nos termos do § 10 do
art. 261 do CTB;

Como na regra atual cada órgão autuante é responsável também pela instauração do
processo de suspensão, a regra do artigo 8º se tornaria geral e havendo apenas um
processo administrativo para ambas as penalidades, o julgamento seria único, mas com
efeito duplo.

Nesse caso, que é o mais provável que ocorra, todas as notificações seguiriam o padrão
já estabelecido para a penalidade de multa, sem qualquer distinção, com os mesmos
prazos de preclusão e decadência do direito de punir, estabelecidos no artigo 282, do
Código de Trânsito Brasileiro.

Da Competência para Instaurar o Processo Administrativo


Nos termos do artigo 261, em seu parágrafo 10º, ambos os processos, de multa e
suspensão, devem ser instaurados pelo órgão responsável pela aplicação da multa.

§ 10. O processo de suspensão do direito de dirigir a que se refere o inciso II do caput


deste artigo deverá ser instaurado concomitantemente ao processo de aplicação da

131
penalidade de multa, e ambos serão de competência do órgão ou entidade
responsável pela aplicação da multa, na forma definida pelo Contran.

Cabe dizer que, atualmente, os órgãos estaduais tem delegado a competência de


fiscalização e autuação aos órgãos municipais, não deixando, entretanto, a competência
para aplicar a multa de trânsito e a suspensão do direito de dirigir.

Em outras palavras, um autua e o outro pune. Essa condição, de delegação de parte dos
poderes através de convênios não pode mais existir com as novas regras de competência
estabelecidas pela Lei 14.071.

O artigo 22 do Código de Trânsito Brasileiro passou a ter um inciso a mais, que traz a
seguinte determinação:

Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do
Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição:
[…]
XVII - criar, implantar e manter escolas públicas de trânsito, destinadas à educação
de crianças e adolescentes, por meio de aulas teóricas e práticas sobre legislação,
sinalização e comportamento no trânsito.
Parágrafo único. As competências descritas no inciso II do caput deste artigo
relativas ao processo de suspensão de condutores serão exercidas quando:
I - o condutor atingir o limite de pontos estabelecido no inciso I do art. 261 deste
Código;
II - a infração previr a penalidade de suspensão do direito de dirigir de forma
específica e a autuação tiver sido efetuada pelo próprio órgão executivo estadual
de trânsito.”

A competência do órgão executivo de trânsito do estado, o DETRAN, em relação ao


processo de suspensão do direito de dirigir, só pode ocorrer quando o processo for por
acúmulo de pontos ou quando a autuação tiver sido efetuada por seus agentes
fiscalizadores, que no caso é, via de regra, a Policia Militar Estadual.

Logo, o DETRAN somente poderá aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir


por infração especifica quando seus agentes fiscalizadores também participarem da
autuação da infração, em nenhuma outra situação.

Não é mais possível, portanto, que um órgão de trânsito fiscalize enquanto o outro
órgão de trânsito aplica a penalidade.

O mesmo órgão que autuar, também deverá aplicar a penalidade de suspensão do


direito de dirigir e essa é a norma de competência para cada um dos componentes do
Sistema Nacional de Trânsito:

Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e estradas
federais:
[…]

132
III - executar a fiscalização de trânsito, aplicar as penalidades de advertência por
escrito e multa e as medidas administrativas cabíveis, com a notificação dos
infratores e a arrecadação das multas aplicadas e dos valores provenientes de
estadia e remoção de veículos, objetos e animais e de escolta de veículos de cargas
superdimensionadas ou perigosas;
[…]
XII - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir, quando prevista de
forma específica para a infração cometida, e comunicar a aplicação da penalidade
ao órgão máximo executivo de trânsito da União.”

Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
[…]
XV - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir, quando prevista de
forma específica para a infração cometida, e comunicar a aplicação da penalidade
ao órgão máximo executivo de trânsito da União.

Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do
Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição:
[…]
II - Realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, de aperfeiçoamento, de
reciclagem e de suspensão de condutores e expedir e cassar Licença de
Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação,
mediante delegação do órgão máximo executivo de trânsito da União;
Parágrafo único. As competências descritas no inciso II do caput deste artigo
relativas ao processo de suspensão de condutores serão exercidas quando:
I - o condutor atingir o limite de pontos estabelecido no inciso I do art. 261 deste
Código;
II - a infração previr a penalidade de suspensão do direito de dirigir de forma
específica e a autuação tiver sido efetuada pelo próprio órgão executivo estadual
de trânsito.”

Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no
âmbito de sua circunscrição:
[…]
XXII - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir, quando prevista de
forma específica para a infração cometida, e comunicar a aplicação da penalidade
ao órgão máximo executivo de trânsito da União;

Essa divisão de competências, se por um lado desonera os DETRANS, de outro cria uma
grande possibilidade de que os demais órgãos de trânsito não consigam aplicar a
penalidade de suspensão do direito de dirigir de forma efetiva, especialmente em
relação aos municípios, já que ainda não estão estruturados para esse tipo de
procedimento.

Por causa disso, a Lei 14.229 de 2021 incluiu o art. 338-A no CTB, postergando a
competência de alguns órgãos para 1º de janeiro de 2024, vejamos:

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Art. 338-A. As competências previstas no inciso XV do caput do art. 21 e no inciso
XXII do caput do art. 24 deste Código serão atribuídas aos órgãos ou entidades
descritos no caput dos referidos artigos a partir de 1º de janeiro de 2024.
Parágrafo único. Até 31 de dezembro de 2023, as competências a que se refere
o caput deste artigo serão exercidas pelos órgãos e entidades executivos de trânsito
dos Estados e do Distrito Federal.

Assim, até 31 de dezembro de 2023 a competência permanece sendo do DETRAN dos


Estados e do Distrito Federal.

Lembrando que a competência original dos municípios, de acordo com o artigo 23, é
exclusiva para infrações decorrentes de inobservância às regras de circulação,
estacionamento e parada de veículo, excesso de peso em vias municipais, dimensão e
lotação de veículos.

Infrações que envolvam fiscalização de alcoolemia, demonstração de manobra perigosa,


omissão de socorro e que preveem a penalidade de suspensão do direito de dirigir de
forma específica, são competência originais do Estado e somente podem ser fiscalizadas
e autuadas mediante a existência de convênio.

Assim, para essas situações, o convênio firmado com o município, delegando os


poderes, deve contemplar além da possibilidade de fiscalização e autuação, também a
aplicação da penalidade de multa.

Se não houver poderes de aplicação da penalidade de multa, haverá uma ilegalidade


também na aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir, pois não é mais
possível um órgão autuar e o outro aplicar a penalidade.

Ainda sobre a competência para instaurar o processo de suspensão, vale a leitura do


Art. 5° da Resolução 723 do CONTRAN:

Art. 5º As penalidades de que trata esta Resolução serão aplicadas pelas seguintes
autoridades de trânsito, em processo administrativo, assegurados a ampla defesa,
o contraditório e o devido processo legal:
I - no caso de suspensão do direito de dirigir em decorrência do acúmulo de pontos,
pelo órgão ou entidade executivo de trânsito de registro do documento de
habilitação;
II - no caso de suspensão do direito de dirigir em decorrência do cometimento de
infração para a qual esteja prevista, de forma específica no CTB, a penalidade de
suspensão do direito de dirigir:
a) para infrações cometidas antes de 12 de abril de 2021, pelo órgão ou entidade
executivo de trânsito de registro do documento de habilitação;
b) para infrações cometidas a partir de 12 de abril de 2021, pelo órgão ou entidade
responsável pela aplicação da penalidade de multa;
III - no caso de suspensão do direito de dirigir decorrente de resultado positivo no
exame toxicológico periódico previsto no § 2º do art. 148-A do CTB realizado por
condutor habilitado nas categorias C, D ou E, pelo órgão ou entidade executivo de
trânsito de registro do documento de habilitação.

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Ademais, parece evidente, com a nova regra de competência, que o auto de infração
não pode mais ser desvinculado das demais penalidades que dele são decorrentes, no
caso, a suspensão e a cassação.

Assim, sendo parte integrante do processo, deve a autoridade de trânsito do órgão


executivo estadual, analisar a sua consistência e a sua regularidade antes da aplicação
da penalidade, ainda que a autuação tenha sido praticada por outro órgão de trânsito.

A legitimidade PASSIVA é que é o ponto importante. Não é incomum que o órgão


responsável pela instauração do PA de suspensão se engane quanto a pessoa a ser
notificada para a imposição da penalidade de suspensão. Para esclarecer este ponto,
quero te dar como exemplo um caso que já aconteceu várias vezes comigo. Vou chamar
a cliente de um nome fictício, Maria.

Maria te procurou, dizendo que recebeu uma notificação de que sua CNH será suspensa
por infração ao artigo 165 do CTB. Ela ainda te disse que não tinha cometido tal infração
e que naquela data, o veículo autuado tinha sido vendido, porém não transferido, mas
já estava em posse do comprador.

Com este caso em mente, eu quero fazer algumas colocações para vocês. A primeira
delas diz respeito à responsabilidade pelo cometimento da infração ao artigo 165 do
CTB.

Segundo o artigo 25710 do CTB, as penalidades serão impostas ao condutor, ao


proprietário do veículo e a outros, que não serão importantes para o nosso estudo.
Ainda o §3° deste artigo, diz que a responsabilidade por infrações decorrentes de atos
praticados na direção do veículo será do condutor.

Muito bem. A infração ao artigo 165 do CTB acontece enquanto se está dirigindo um
veículo e somente mediante abordagem, assim, a responsabilidade é exclusiva do
condutor.

Note que no caso da Maria, ela era apenas a proprietária do veículo, uma vez que o
registro do mesmo ainda estava em seu nome, não tendo qualquer relação com o ato
de dirigir o veículo. Sendo assim, a penalidade de suspensão não pode recair sobre o
RENACH dela, uma vez que a multa que deu origem (fato gerador) é de responsabilidade
do condutor, comprador do veículo dela.

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Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do veículo, ao embarcador e ao
transportador, [...]

[...]

§ 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infrações decorrentes de atos praticados na direção do


veículo.

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Vale dizer que a responsabilidade pelo pagamento da multa sim será de
responsabilidade do proprietário do veículo.

Assim, se o órgão competente instaurar um processo de suspensão em face do


proprietário do veículo, temos um equívoco quanto à legitimidade do penalizado. Fato
perfeitamente possível de ser alegado em sede recursal.

Conseguem perceber a importância de saber de quem é a responsabilidade pelo


cometimento da infração, bem como a pessoa que tem legitimidade para ter contra o
seu direito de dirigir instaurado um processo administrativo de suspensão?

Por isso eu quis trazer este tópico sobre a legitimidade.

Anotações:
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Multa cumprindo a penalidade de suspensão


Aquele motorista que, no cumprimento da penalidade de suspensão, conduzir qualquer
veículo, além da infração prevista no artigo 23211 do CTB, caso não esteja portando a

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Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte obrigatório referidos neste Código [...]
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CNH, terá contra o seu direito de dirigir instaurado o processo de cassação de sua CNH,
por força do artigo 1912 da Resolução 723 e artigo 26313 do CTB.

Ou seja, o motorista terá instaurado um processo de cassação de sua CNH, que é a


penalidade mais grave do CTB.

Além disso, o proprietário do veículo, caso não sejam a mesma pessoa (condutor e
proprietário) levará uma multa por infração ao artigo 16414 do CTB.

Dirigir com a carteira de habilitação suspensa é crime de trânsito?

A suspensão do direito de dirigir é uma penalidade que tem como função afastar o
condutor infrator da direção de veículos automotores, por determinado período,
quando sua conduta representar um perigo para os demais usuários da via, seja pelo
risco potencial da infração cometida, seja por se tratar de infrator contumaz.

Via de regra essa penalidade tem natureza administrativa, cuja aplicação decorre de
processo administrativo garantido o direito à ampla defesa e ao contraditório na forma
de defesa prévia e recursos em 1ª e 2ª instâncias administrativas, sendo imposta pela
autoridade de trânsito quando esgotadas as possibilidades de recursos.

Mas também pode possuir natureza de sanção penal, já que também é utilizada como
uma pena restritiva de direito (Art. 47, III, do Código Penal) ou pena acessória à
condenação criminal (Art. 92, III, do Código Penal), além de possuir tipificação própria
como Crime de Trânsito, previsto no artigo 307, do Código de Trânsito Brasileiro.

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação


para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no
prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

Essa distinção de natureza administrativa ou penal está bem delineada na Lei de


trânsito, em seus artigos 261 e 293:

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Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do documento de habilitação[...],
quando:
I - suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
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Art. 263. A cassação do documento de habilitação dar-se-á:
I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
14 Art. 164. Permitir que pessoa nas condições referidas nos incisos do art. 162 tome posse do veículo

automotor e passe a conduzi-lo na via:


Infração - as mesmas previstas nos incisos do art. 162;
Penalidade - as mesmas previstas no art. 162;
Medida administrativa - a mesma prevista no inciso III do art. 162.
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Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco
anos.
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar
à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a
Carteira de Habilitação.
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por
efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

A característica de penalidade administrativa ou penal foi delimitada pelo próprio


Código de Trânsito Brasileiro, ao trazer no bojo do Capitulo XVI, que define as
penalidades administrativas, a previsão da suspensão por pontos ou por infração
especifica, enquanto trouxe no Capitulo XIX, dedicado aos Crimes de Trânsito, na Seção
I, que trata das disposições gerais, o artigo 293 e na Seção II, que trata dos Crimes em
Espécie, o artigo 307.

Feitas essas considerações, há que se dizer que muitos agentes da autoridade de


trânsito, por ocasião da fiscalização de trânsito, têm considerado como crime o fato de
o condutor estar conduzindo veículo com a carteira de habilitação suspensa.

Entretanto, o crime só ocorre quando houver uma sentença condenatória,


determinando que o réu entregue o documento de habilitação à autoridade judiciária,
penalidade que não se inicial enquanto o sentenciado estiver recolhido a
estabelecimento prisional.

Logo, há que se concluir que não existe crime quando o condutor estiver conduzindo
veículo com a carteira de habilitação suspensa e essa penalidade tiver natureza
administrativa, por acumulo de pontos ou por infração específica.

Inaplicável o artigo 307 para qualificar o crime de trânsito, pois a conduta, nesses casos,
é atípica.

E a última hipótese que eu não tinha trazido anteriormente, é a suspensão judicial, que
veremos a seguir.

Suspensão Judicial
A penalidade de suspensão do direito de dirigir judicial, já tem previsão no artigo 47,
inciso III do Código Penal.

No CTB essa penalidade está prevista nos artigos 292 a 296 e é aplicada por um juiz de
direito, em decorrência do cometimento de um crime de trânsito. No caso da suspensão

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judicial o tempo de punição varia de 2 meses a 5 anos, conforme previsão do artigo 29315
do CTB.

A suspensão judicial pune quem já é habilitado, que ficará pelo tempo estabelecido
impedido de dirigir veículo automotor e, diferentemente da sanção administrativa
(prevista nos artigos 256, III, e 265), a suspensão judicial pode alcançar também aquele
que ainda não se habilitou, o qual ficará PROIBIDO de se habilitar, pelo prazo fixado
judicialmente, que pode ter a mesma variação indicada.

Com o trânsito em julgado da sentença condenatória, o sentenciado será intimado a


entregar a PPD ou a CNH, em um prazo de 48 horas. Se o condenado desobedecer a
penalidade imposta judicialmente, terá cometido crime de trânsito, conforme previsão
do artigo 30716 do CTB (violação da suspensão), com pena de detenção de seis meses a
um ano, como acima exposto.

A penalidade administrativa só serve para afastar o motorista da condução de um


veículo, enquanto que, caso a suspensão judicial seja violada, o motorista será
desobediente, nos termos do art. 33017 do Código Penal.

Ainda, segundo redação do §2° do artigo 293 o período de suspensão determinado NÃO
SERÁ computado enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver
recolhido a estabelecimento prisional, uma vez que a própria privação de liberdade já
acarretaria a impossibilidade de se dirigir veículo, o que tornaria inócua a sanção
imposta.

Os crimes de trânsito que a preveem expressamente a penalidade de suspensão são:


homicídio culposo (art. 302), lesão corporal culposa (art. 303), em caso de acidente,
deixar o condutor de prestar socorro à vítima ou se afastar do local do acidente (arts.
304 e 305), conduzir veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 306), violar a suspensão
anteriormente imposta (artigo 307); participação em competição não autorizada (art.
308) e demais artigos do CTB da Seção II - “Dos Crimes em Espécie”.

Embora o artigo 292 estabeleça a possibilidade de aplicação da pena de maneira isolada,


em alguns dos crimes de trânsito mencionados, a suspensão ou proibição é prevista
como penalidade cumulativa à pena privativa de liberdade, de detenção.

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Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para
dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.
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Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de
suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no
§ 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
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Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
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É válido ler com atenção essa Seção no CTB.

Cassação da Carteira Nacional de Habilitação


A cassação da CNH, como já vimos, é uma das penalidades previstas no artigo 256 do
CTB. A cassação da CNH retira de forma definitiva a licença concedida pelo Estado para
que alguém conduza veículo automotor.

Vale dizer que essa penalidade CASSA a CNH do motorista, assim, ele perde TODAS as
categorias de sua CNH.

A legitimidade ativa para instaurar e aplicar a penalidade de cassação será SEMPRE dos
DETRANs de cada estado e do Distrito Federal, por força do artigo 22, II18 do CTB e do
artigo 1919 da Resolução 723 do CONTRAN.

A penalidade de cassação, além da previsão no artigo 256 do CTB, também está prevista
no artigo 263 do CTB e no artigo 4° da Resolução do CONTRAN n° 723/18.

Vejam o que prevê o artigo 263 do CTB:

Art. 263. A cassação do documento de habilitação dar-se-á:


I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso
III do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175;
III - quando condenado judicialmente por delito de trânsito, observado o disposto
no art. 160.
§ 1º Constatada, em processo administrativo, a irregularidade na expedição do
documento de habilitação, a autoridade expedidora promoverá o seu
cancelamento.
§ 2º Decorridos dois anos da cassação da Carteira Nacional de Habilitação, o
infrator poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos os exames
necessários à habilitação, na forma estabelecida pelo CONTRAN.

E o que prevê o artigo 4° da Resolução do CONTRAN n° 723/18:

Art. 4º A cassação do documento de habilitação será imposta nos seguintes casos:


I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;

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Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no
âmbito de sua circunscrição:

[...]II - realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de


condutores, expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional de
Habilitação, mediante delegação do órgão federal competente;
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Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do documento de habilitação, pela
autoridade de trânsito do órgão executivo de seu registro, observado no que couber as disposições dos
Capítulos IV, V e VI, desta Resolução, quando:

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II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso
III do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175, todos do CTB.
III - ao condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de receptação,
descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um desses crimes
em decisão judicial transitada em julgado.

Praticamente o texto de lei se repete, mas é possível verificar que temos três hipóteses
(administrativas) para a instauração do processo administrativo de imposição da
penalidade de cassação da CNH:

a) quando o motorista que está suspenso, depois de esgotadas todas as


possibilidades de recurso e cadastrada a penalidade no RENACH, conduzir
qualquer veículo com dolo, ou seja, com a intenção de violar a suspensão do
direito de dirigir - ou seja, se este condutor não sabia que estava suspenso, não
sabe que está cometendo uma irregularidade - (erro de proibição);

b) se ele for reincidente, no prazo de 12 meses de uma das infrações listadas no


texto do artigo legal e

c) Se o condutor cometer crime de receptação, descaminho, contrabando em um


dos 3 crimes previstos no artigo supracitado e a decisão judicial já ter transitado
em julgado, terá a CNH cassada.

Essa última hipótese está prevista no art. 278-A do CTB, que foi inserido no CTB pela Lei
nº 13.804, de 2019.

Esta hipótese tem conflito com o CTB, pois não há essa previsão no art. 263 do CTB,
temos, então, uma situação atípica.

Deve o condutor, necessariamente, agir com dolo, no intuito de insistir em conduzir um


veículo, mesmo sabendo dos impedimentos administrativos impostos em sua
habilitação.

Assim, imprescindível que tenha existido um processo administrativo para a imposição


da penalidade de suspensão do direito de dirigir, cujo procedimento tenha garantido ao
condutor o direito à ampla defesa.

Não se aplica, portanto, a penalidade de cassação quando, mesmo flagrado conduzindo


um veículo, o condutor não tinha como saber do impedimento lançado em seu
prontuário, devido à falta de notificações do processo administrativo.

E isso acontece nos casos em que o processo de suspensão não garantiu ao condutor a
ciência sobre a instauração do processo de suspensão do direito de dirigir, por ausência
de notificações ou pelo chamado “incidente de notificação”, no qual, mesmo tendo sido
expedida a notificação ao condutor, não foi entregue ao destinatário por falha ou erro
de terceiros.

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Essa situação é explicada pela doutrina como ERRO DE PROIBIÇÃO no qual o condutor,
imaginando estar com a carteira totalmente legalizada, conduz o veículo sem saber que,
na verdade, estava com seu direito de dirigir suspenso por determinado período.

Na concepção do ilustre Mirabete: Erro de tipo distingue-se do erro de proibição.


Enquanto o primeiro exclui o dolo, o segundo afasta a compreensão da antijuridicidade.
O erro de tipo se dá quando “o homem não sabe o que faz”; o erro de proibição quando
“sabe o que faz”, mas acredita que não é contrário à ordem jurídica: o erro do tipo
elimina a tipicidade dolosa; o erro de proibição pode eliminar a culpabilidade.

Assim, a ausência de notificações incide o condutor em erro de proibição inevitável, pois


não tinha como saber que sua conduta era ilícita.

Uma observação importante a se fazer é que o texto legal traz um rol taxativo de 6 (seis)
infrações que geram a cassação da CNH caso o infrator seja reincidente no período de
12 meses.

São elas: art. 162, III (dirigir veículo com categoria diferente); art. 163 (entregar veículo
a pessoa não habilitada, com habilitação suspensa/cassada, com categoria diferente,
com CNH vencida há mais de 30 dias ou com inobservância das restrições da CNH); art.
164 (permitir a posse do veículo a pessoa nas mesmas condições anteriormente
mencionadas); art. 165 (conduzir veículo sob influência de álcool); art. 173 (disputar
corrida por espírito de emulação); art. 174 (promoção ou participação em competição
não autorizada) e art. 175 (exibição de manobra perigosa).

Lembrando que não é reincidência a infração de trânsito continuada. Por isso, observar
a data, hora e local do cometimento da infração.

Se tiver pluralidade de autuações; infrações da mesma espécie; conexão temporal e


geográfica entre as autuações e autuações subsequentes, temos infrações continuadas,
que não podem ser consideradas como reincidência.

Quando o Processo de Cassação da CNH vai ser instaurado?


Não existe processo de cassação sem que haja infração ao art. 162, II do CTB.

Porém, o processo de cassação só pode ser aplicado após esgotados todos os meios de
defesa da penalidade de multa.

Vamos a leitura do art. 19 da Resolução 723 do CONTRAN:

CAPÍTULO VII - DA CASSAÇÃO DO DOCUMENTO DE HABILITAÇÃO


Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do documento
de habilitação, pela autoridade de trânsito do órgão executivo de seu registro,

142
observado no que couber as disposições dos Capítulos IV, V e VI, desta Resolução,
quando:
I - suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso
III do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175, todos do CTB.
III - no caso de condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de
receptação, descaminho ou contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um
desses crimes em decisão judicial transitada em julgado. (Inciso acrescentado pela
Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput:
I - o processo administrativo será instaurado após esgotados todos os meios de
defesa da infração que enseja a penalidade de cassação, na esfera administrativa,
devendo o órgão executivo de registro do documento de habilitação observar as
informações registradas no RENAINF; (Redação do inciso dada pela Resolução
CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
II - caso o condutor seja autuado por outra infração que preveja suspensão do
direito de dirigir, será aberto apenas o processo administrativo para cassação, sem
prejuízo da penalidade de multa;
III - a autoridade de trânsito de registro do documento de habilitação do condutor,
que tomar ciência da condução de veículo automotor por pessoa com direito de
dirigir suspenso, por qualquer meio de prova em direito admitido, deverá instaurar
o processo de cassação do documento de habilitação;
IV - quando não houver abordagem, não será instaurado processo de cassação do
documento de habilitação:
a) ao proprietário do veículo, nas infrações originalmente de sua responsabilidade;
b) nas infrações de estacionamento, quando não for possível precisar que o
momento inicial da conduta se deu durante o cumprimento da penalidade de
suspensão do direito de dirigir.
V - é possível a instauração do processo de cassação do documento de habilitação
do proprietário que não realizar a indicação do condutor infrator de que trata o art.
257, § 7º, do CTB.
§ 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput:
I - o processo administrativo será instaurado após esgotados todos os meios de
defesa da infração que configurou a reincidência, na esfera administrativa, devendo
o órgão executivo de registro do documento de habilitação observar as informações
registradas no RENAINF; (Redação do inciso dada pela Resolução CONTRAN Nº 844
DE 09/04/2021).
II - para fins de reincidência, serão consideradas as datas de cometimento das
infrações, independentemente da fase em que se encontre o processo de aplicação
de penalidade da primeira infração;
III - em relação à primeira infração, serão aplicadas todas as penalidades previstas;
IV - em relação à infração que configurar reincidência, caso haja previsão de
penalidade de suspensão do direito de dirigir, esta deixará de ser aplicada, em razão
da cassação.
§ 3º Poderá ser instaurado mais de um processo administrativo para aplicação da
penalidade de cassação, concomitantemente.
§ 4º Após a aplicação da penalidade de cassação, o órgão executivo de trânsito de
registro do documento de habilitação deverá registrar essa informação no RENACH
nos seguintes termos:

143
"Documento de habilitação cassado", com as datas de início e de término da
penalidade, observado o disposto no art. 16.

Prazo da Cassação da CNH


Diferentemente da suspensão, onde o prazo da penalidade pode variar, a penalidade de
cassação impõe ao motorista SEMPRE uma pena de 2 anos. Essa é a previsão do § 2° do
art. 263 do CTB.

Sem muito segredo e sem maiores considerações. Quando a penalidade é imposta, ela
será SEMPRE por 2 anos e depois, para ter a CNH de volta, o motorista deve ser
reabilitar, na forma do art. 20 da Resolução 723 do CONTRAN:

Art. 20. Decorridos 02 (dois) anos da cassação do documento de habilitação, o


infrator poderá requerer a sua reabilitação, submetendo-se a todos os exames
necessários, na forma estabelecida no § 2º do art. 263, do CTB.
§ 1º Decorrido o prazo previsto no caput, o condutor será considerado inabilitado
até a conclusão do processo de reabilitação. (Redação do parágrafo dada pela
Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 2º No caso de cassação decorrente de decisão judicial com base no art. 278-A do
CTB, o prazo para o infrator poder requerer sua habilitação é de 5 (cinco)
anos. (Parágrafo acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).

Anotações:
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Cassação sem flagrante e infrações de responsabilidade do


proprietário
144
O artigo 263 do CTB, exige que o infrator conduza o veículo e pressupõe que ele seja
flagrado nesta condição (e não simplesmente tenha registrado, no seu prontuário,
pontuação por infração cometida com veículo de sua propriedade).

Ou seja, se não for feita a indicação de condutor, na forma do §7º do art. 257 do CTB, a
CNH do proprietário do veículo poderá ser cassada, nos termos do inciso V do art. 19 da
Resolução 723 do CONTRAN:

V - é possível a instauração do processo de cassação do documento de habilitação


do proprietário que não realizar a indicação do condutor infrator de que trata o
art. 257, § 7º, do CTB.

Esse trecho do texto legal aqui destacado, corrobora a ideia de que o flagrante é
desnecessário. Porém, como dito, o CTB dá a entender a necessidade do flagrante. Para
dirimir essa controvérsia, vale a análise do caso concreto e da interpretação do juiz, se
o caso for levado ao judiciário.

Porém, há alguns casos em que, pela redação da Resolução 723, se não houver o
flagrante, a penalidade não poderá ser instaurada.

É o caso do artigo 19, IV, “a” da Resolução 723 do CONTRAN que diz que: NÃO será
instaurado processo de cassação ao proprietário do veículo nas infrações originalmente
de sua responsabilidade, vejamos:

Art. 19. Deverá ser instaurado processo administrativo de cassação do documento


de habilitação, pela autoridade de trânsito do órgão executivo de seu registro,
observado no que couber as disposições dos Capítulos IV, V e VI, desta Resolução,
quando:
I - suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
[...]
IV - quando não houver abordagem, não será instaurado processo de cassação do
documento de habilitação:
a) ao proprietário do veículo, nas infrações originalmente de sua
responsabilidade;

Segundo o § 2º do art. 257 do CTB, ao proprietário caberá sempre a responsabilidade


pela infração referente à prévia regularização e preenchimento das formalidades e
condições exigidas para o trânsito do veículo na via terrestre, conservação e
inalterabilidade de suas características, componentes, agregados, habilitação legal e
compatível de seus condutores, quando esta for exigida, e outras disposições que deva
observar, independentemente da identificação do condutor.

Trocando em miúdos, na regra atual, se a infração cometida for de responsabilidade


exclusiva do proprietário do veículo e, se NÃO HOUVER ABORDAGEM, não poderá ser
instaurado processo de cassação da CNH deste condutor.

145
Vou dar um exemplo: suponhamos que o cliente tenha sido autuado, sem abordagem,
por infração ao art. 230, XXII do CTB, ou seja, “conduzir o veículo com defeito no sistema
de iluminação, de sinalização ou com lâmpadas queimadas”.

Sabemos, olhando a ficha do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, bem como a


Portaria n° 354 da SENATRAN, que estamos diante de uma infração de responsabilidade
do proprietário:

Vide: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-354-de-31-de-marco-de-2022-390301324

Isso quer dizer que, se esse proprietário estiver suspenso e estiver dirigindo seu veículo
com o farol queimado e NÃO HOUVER ABORDAGEM, NÃO poderá ser instaurado
processo de cassação do direito de dirigir deste motorista.

Cassação da CNH Judicial


A penalidade judicial de cassação é aplicada quando um juiz decide pela condenação de
um condutor acusado de crime de trânsito, conforme a leitura do próprio art. 263, III do
CTB.

Recente inovação no CTB, foi quando da edição da Lei n° 13.804/2019, que dispõe sobre
medidas de prevenção e repressão ao contrabando, ao descaminho, ao furto, ao roubo
e à receptação.

Essa lei incluiu o art. 278-A e seus parágrafos:

Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de


receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um
desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá cassado seu
documento de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir
veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos.
1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos
os exames necessários à habilitação, na forma deste Código.
§ 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos crimes de que trata o
caput deste artigo, poderá o juiz, em qualquer fase da investigação ou da ação
penal, se houver necessidade para a garantia da ordem pública, como medida
cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante
representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão
da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de
sua obtenção.

Cassação ou cancelamento da Permissão para Dirigir - PPD?

146
Como vimos, após conferida a permissão para dirigir, o candidato passa a ser
permissionário, uma vez que está em posse da permissão para dirigir.

Analisando o §3° do citado artigo, esquecendo da interpretação gramatical (lei ao pé da


letra), é sabido que há a possibilidade de se defender contra qualquer penalidade.

Isso quer dizer que, antes de ser imposta a penalidade de cassação da PPD, é possível
que o permissionário apresente defesa e recursos da penalidade de multa, conforme
previsão das Resoluções 900 e 918 do CONTRAN.

Como você pode perceber com a explicação acima, cassação e cancelamento são
nomenclaturas completamente distintas, sendo que somente a cassação é uma
penalidade.

Ocorre que, estamos diante de uma letra de lei morta, uma vez que não há cassação da
PPD, mas sim cancelamento da PPD e você vai entender agora o porquê.

O cancelamento acontece toda vez que o permissionário comete uma infração grave ou
gravíssima ou quando ele é reincidente em multa média. Isso quer dizer que ele não
conseguirá, após o período de 12 meses, adquirir a CNH definitiva.

Também vai acontecer o cancelamento da PPD após o permissionário ter adquirido a


CNH definitiva, pelo efeito suspensivo que é concedido à penalidade de multa enquanto
passível de recurso, se o mesmo foi indeferido.

Vou te dar dois exemplos para que você entenda melhor.

Exemplo 1: Bino conseguiu a PPD em fevereiro/2019. Em Maio/2019 ele comete uma


infração gravíssima. Apresenta defesa e recursos e em novembro/2019 o CETRAN nega
provimento do recurso.

Te pergunto: deu tempo de ser a ele conferida a CNH definitiva? Não. Então isso quer
dizer que ele terá a CNH cancelada, que não é uma penalidade. Isso quer dizer que não
é possível apresentar defesa e recursos contra o cancelamento e não contra a
penalidade de multa.

Exemplo 2: Bino conseguiu a PPD em fevereiro/2019. Em Maio/2019 ele comete uma


infração gravíssima. Apresenta defesa e recursos. Em fevereiro/2020, ele adquire a CNH
definitiva e, apenas em abril/2020 o CETRAN julga o recurso, negando provimento.

Neste outro exemplo, onde deu tempo de Bino adquirir a CNH definitiva, por conta do
efeito suspensivo aplicado à penalidade de multa, te pergunto: o que acontecerá com a
CNH definitiva dele?

Neste último caso, o DETRAN vai enviar uma carta/notificação para Bino, informando o
cancelamento da CNH que foi expedida indevidamente, por conta da infração cometida
enquanto ele era permissionário.
147
Nemo Potest Venire Contra Factum Proprium
De outro lado, ao expedir a carteira nacional de habilitação do Requerente, com base
no cumprimento objetivo dos requisitos previstos no artigo 148, §3º, do Código de
Trânsito Brasileiro, não pode o órgão executivo de trânsito voltar-se contra o ato que
praticou, declarando-o viciado e cancelando a carteira definitiva, por ter lançado
tardiamente os pontos no prontuário do condutor, contradizendo aquilo que
anteriormente havia afirmado.

Trata-se de uma atitude juridicamente inaceitável, descrita pela doutrina na expressão


venire contra factum proprium, ou seja, contestar atos que ele mesmo praticou.

Em outras palavras, aquele que aderiu a um determinado comportamento, não poderá


se opor às consequências jurídicas dele exaladas, em razão da legítima expectativa da
outra parte, que, de boa-fé, pressupõe a ocorrência de determinados efeitos.

Assim, mediante a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação com base no artigo 148,
§ 3º, a expectativa é de que resta inaplicável o parágrafo quarto do mesmo artigo, não
havendo justificativa para o órgão de trânsito contrariar seu próprio ato.

O princípio Nemo Potest Venire Contra Factum Proprium está presente nesse tipo de
atitude de cancelamento da permissão em momento posterior à expedição da CNH,
quais sejam:

a) O factum proprium, ou o ato inicial do Requerido que emitiu a carteira de


habilitação com base no artigo 148, § 3º;
b) legítima confiança do condutor na conservação de sua conduta, por ter sido
embasada em requisitos de lei;
c) O comportamento contraditório do órgão de trânsito, que afirma o
descumprimento dos pressupostos do art. 148, § 3º;
d) A existência de um dano ou um potencial de dano a partir da contradição,
qual seja a obrigação de reiniciar todo o processo de habilitação após dois anos
como condutor habilitado, como se nunca tivesse possuído a carteira nacional
de habilitação.

Isso leva ao entendimento que não é possível cancelar a Carteira Nacional de Habilitação
com fundamento no descumprimento de norma que anteriormente foi considerada
como cumprida.

Suspensão X Cassação

148
É muito comum que a grande maioria das pessoas (profissionais e motoristas)
confundam as penalidades de suspensão e cassação. Neste tópico quero diferenciar
essas duas penalidades.

Suspensão do direito de dirigir Cassação da CNH

Prevista no artigo 26320 do CTB, a cassação


Acontece sempre que o motorista atingir, no
período de 12 (doze) meses, a seguinte acontece em 3 (três) hipóteses:
contagem de pontos: (I) sempre que o motorista, que estiver
a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas)
cumprindo a penalidade de suspensão,
ou mais infrações gravíssimas na pontuação;
conduza qualquer veículo;
b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma)
(II) sempre que o motorista for reincidente
infração gravíssima na pontuação; em algumas infrações;
c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste
(III) ou quando ele for condenado
nenhuma infração gravíssima na pontuação;
judicialmente por delito de trânsito;
(Resol. 723) ao condutor que se utilize de
ou se o motorista cometer uma infração veículo para a prática do crime de
auto suspensiva. receptação, descaminho, contrabando,
previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940, condenado por um desses crimes em
decisão judicial transitada em julgado.

É uma penalidade temporária É uma penalidade definitiva

Após o período de suspensão imposto ao Após o período de 2 (dois) anos (SEMPRE


motorista, para voltar a dirigir, ele precisará será pelo período de 2 anos), para voltar a
passar pelo curso de reciclagem. dirigir, o motorista deve se reabilitar.

Essas são as principais diferenças entre as penalidades de suspensão e cassação.


Inclusive a nomenclatura é diferente: SUSPENSÃO do direito de dirigir e CASSAÇÃO do
documento de habilitação (Carteira Nacional de Habilitação - CNH, inclusive da
Permissão para Dirigir).

Anotações:

20
Art. 263. A cassação do documento de habilitação dar-se-á:
I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir qualquer veículo;
II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso III do art. 162 e nos
arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175;
III - quando condenado judicialmente por delito de trânsito, observado o disposto no art. 160.
§ 1º Constatada, em processo administrativo, a irregularidade na expedição do documento de habilitação,
a autoridade expedidora promoverá o seu cancelamento.
§ 2º Decorridos dois anos da cassação da Carteira Nacional de Habilitação, o infrator poderá requerer sua
reabilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à habilitação, na forma estabelecida pelo
CONTRAN.
149
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Notificações e o Processo Administrativo para instauração das


penalidades de suspensão do direito de dirigir e cassação da CNH
A instauração do processo administrativo punitivo de suspensão do direito de dirigir por
acumulo de pontos ocorre sempre que, após esgotadas todas as possibilidades de
recurso, a penalidade de multa e os pontos dela decorrente, for cadastrada no RENACH.

Isso é o que determina o artigo 290, do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 290. Implicam encerramento da instância administrativa de julgamento de


infrações e penalidades:
I - o julgamento do recurso de que tratam os arts. 288 e 289;
II - a não interposição do recurso no prazo legal; e
III - o pagamento da multa, com reconhecimento da infração e requerimento de
encerramento do processo na fase em que se encontra, sem apresentação de defesa
ou recurso.
Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades aplicadas nos termos deste
Código serão cadastradas no RENACH.

Isso leva à conclusão que, havendo autuações pendentes de julgamento em segunda


instância, os pontos relativos a essas infrações não podem ser computados com o intuito
de instauração do processo.

Ademais, o direito de ampla defesa preconizado no artigo 265, remete à participação do


condutor em todas as fases processuais, sem qualquer exclusão.

O CONTRAN também proferiu esse entendimento ao editar a resolução 723, que em seu
artigo 6º prevê que:

150
Art. 6º Esgotados todos os meios de defesa da infração na esfera administrativa, a
pontuação prevista no art. 259 do CTB será considerada para fins de instauração de
processo administrativo para aplicação da penalidade de suspensão do direito de
dirigir.

Logo, se o processo administrativo for instaurado de forma precipitada, deverá ser


considerado inconsistente, sendo arquivado a pedido do condutor.

Depois de arquivado, não pode ser instaurado novo processo administrativo com base
nas mesmas infrações, posto que o Código de Trânsito Brasileiro não traz a previsão de
convalidação do ato administrativo, ou seja, não cabe restaurar o ato administrativo que
havia sido declarado inconsistente, ainda que seja corrigido posteriormente.

Como é sabido, todo ato administrativo que impute penalidade a quem quer que seja,
deverá dar ao penalizado oportunidade de exercer o direito de resposta previsto no
inciso LV21 do artigo 5° da Constituição Federal.

Para que o exercício do contraditório e da ampla defesa aconteça no processo de


suspensão, é necessário que o DETRAN ou o órgão competente notifique o infrator a ser
penalizado.

A notificação inicia todo o processo administrativo para a imposição da penalidade de


suspensão e a notificação que instaura o processo, está prevista no artigo 10° da
Resolução 723 do CONTRAN.

A finalidade desta notificação é dar ciência ao penalizado da instauração do processo


administrativo para imposição da penalidade, conforme previsto no artigo 261 do CTB.

Ela também serve para que o notificado exerça o seu direito ao contraditório e à ampla
defesa, pois é nesta notificação que constará a data do término do prazo para
apresentação da defesa.

A notificação de instauração do processo administrativo para a aplicação da suspensão


do direito de dirigir deve trazer elementos que proporcionem ao condutor saber:

1. Quais são as infrações que compõem o processo;


2. Saber os dados de cada uma dessas infrações, como nº da autuação,
órgão autuante, placa do veículo autuado, tipificação das infrações, local,
data e horário de seu cometimento;
3. Prazo para apresentação da defesa prévia.

A notificação deve ser enviada por remessa postal ou qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.

21
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

151
Veja o que diz o artigo 10 da citada Resolução:

Art. 10. O ato instaurador do processo administrativo de suspensão do direito de


dirigir de que trata esta Resolução, conterá o nome, a qualificação do infrator, a(s)
infração(ões) com a descrição sucinta dos fatos e a indicação dos dispositivos legais
pertinentes.
§ 1º Instaurado o processo, far-se-á a respectiva anotação no prontuário do
infrator, a qual não constituirá qualquer impedimento ao exercício dos seus direitos.
§ 2º A autoridade de trânsito deverá expedir notificação ao infrator, contendo no
mínimo, os seguintes dados:
I - a identificação do infrator e do órgão de registro do documento de habilitação;
II - a finalidade da notificação, qual seja, dar ciência da instauração do processo
administrativo para imposição da penalidade de suspensão do direito de dirigir por
somatório de pontos, por infração específica ou por resultado positivo em exame
toxicológico periódico previsto no § 2º do art. 148-A do CTB; (Redação do inciso
dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
III - a data do término do prazo para apresentação da defesa;
IV - informações referentes à(s) infração(ões) que ensejou(aram) a abertura do
processo administrativo, fazendo constar:
a) o(s) número(s) do(s) auto(s) de infração(ões);
b) órgão(s) ou entidade(s) que aplicou(aram) a(s) penalidade(s) de multa;
c) a(s) placa(s) do(s) veículo(s);
d) tipificação(ões), código(s) da(s) infração(ões) e enquadramento(s) legal(is);
e) a(s) data(s) da(s) infração(ões); e
f) o somatório dos pontos, quando for o caso.
§ 3º A notificação será expedida ao infrator por remessa postal, por meio
tecnológico hábil ou por outro meio que assegure a sua ciência.
§ 4º A ciência da instauração do processo e da data do término do prazo para
apresentação da defesa também poderá se dar no próprio órgão ou entidade de
trânsito, responsável pelo processo, mediante certidão nos autos.
§ 5º Da notificação constará a data do término do prazo para a apresentação da
defesa, que não será inferior a 30 (trinta) dias contados a partir da data da
notificação da instauração do processo administrativo. (Redação do parágrafo
dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).
§ 6º A notificação devolvida, por desatualização do endereço do infrator no
RENACH, será considerada válida para todos os efeitos legais.
§ 7º A notificação a pessoal de missões diplomáticas, de repartições consulares de
carreira e de representações de organismos internacionais e de seus integrantes
será remetida ao Ministério das Relações Exteriores para as providências cabíveis,
passando a correr os prazos a partir do seu conhecimento pelo infrator.
§ 8º Os órgãos ou entidades integrantes do SNT, para fins de instauração do
processo de suspensão do direito de dirigir ou de cassação do documento de
habilitação, deverão considerar, exclusivamente, as informações constantes no
RENAINF. (Redação do parágrafo dada pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE
09/04/2021).
(Parágrafo acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021):
§ 9º No caso de processo de suspensão do direito de dirigir decorrente do resultado
positivo no exame toxicológico, a notificação de instauração do processo
administrativo deverá ser encaminhada ao condutor examinado e conter, além do
disposto no § 2º, no mínimo:

152
I - nome e CNPJ do laboratório responsável pelo resultado do exame ou da
contraprova, caso esta tenha sido realizada;
II - número do laudo;
III - data do exame;
IV - resultado do exame; e
V - substâncias detectadas.
§ 10. Para fins do § 9º, não se aplica o disposto no inciso IV do § 2º. (Parágrafo
acrescentado pela Resolução CONTRAN Nº 844 DE 09/04/2021).

Atenção a este ponto: se esta notificação for devolvida por desatualização do endereço
da CNH, será considerada válida para todos os efeitos legais, conforme leitura do § 6°
supracitado.

Por isso, antes de iniciar sua defesa baseada na ausência de notificação por parte do
órgão de trânsito, é necessário solicitar a cópia integral do processo administrativo em
questão, para verificar se o endereço do motorista estava devidamente atualizado no
RENACH22. Isso porque, muitas vezes, o cliente não se lembra qual o endereço que está
cadastrado e, confiar apenas na palavra dele pode ser um tiro no pé.

Por isso a necessidade de solicitar a cópia integral do processo administrativo, incluindo


o comprovante/envio das notificações. Vamos ver essa questão mais adiante, quando
falarmos das teses de recursos administrativos e peças processuais.

Ressalva deve ser feita de que não existe previsão legal para a notificação
exclusivamente por notificação eletrônica e tão pouco o CONTRAN disciplinou essa
forma de notificação.

Sendo assim, a regra é da notificação via postal e caso seja necessário, a notificação deve
ser realizada mediante publicação de edital em diário oficial.

Não existe um prazo determinado por Lei para que seja expedida a primeira notificação
de instauração do processo administrativo, no caso de suspensão por acúmulo de
pontos, entretanto, uma vez expedida, atrai a regra contida no artigo 282, do Código de
Trânsito Brasileiro, havendo um prazo limite para que a segunda notificação seja
expedida, inclusive no caso de apresentação de defesa prévia.

O condutor poderá apresentar defesa prévia junto à autoridade de trânsito do órgão


executivo estadual, no qual sua carteira de habilitação está registrada, ainda que as
autuações tenham ocorrido em outra unidade da federação.

Nesse primeiro momento, o condutor pode apresentar argumentos relativos aos atos
administrativos que levaram à instauração do processo, tais como:

22
RENACH é a sigla para Registro Nacional de Carteira de Habilitação, onde é um sistema que registra
toda as informações do condutor contendo as informações da CNH ( Carteira nacional de Trânsito),
alteração de categoria, penalidades de trânsito, vencimento da habilitação e alterações de endereço do
condutor.

153
I. Autuação irregular ou inconsistente;
II. Erros de anotação nos autos de infração;
III. Falta de Notificação em prazo hábil;
IV. Decadência do direito de punir do órgão autuante.

Isso porque, mesmo no caso de autuações lavradas por outros órgãos de trânsito, a
competência para analisar esses atos administrativos antes de aplicar a penalidade de
suspensão do direito de dirigir é do órgão executivo de trânsito do estado, o DETRAN.
Senão, vejamos o que diz o artigo 281:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste


Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação.

O caput do artigo 281 não remete exclusivamente à penalidade de multa.

Pelo contrário, determina que cada autoridade competente para aplicar uma
penalidade, qualquer que seja essa penalidade, deve julgar a consistência do auto de
infração.

Logo, se o auto de infração for inconsistente, irregular ou tendo sido expedido fora do
prazo legal, inclusive aqueles prazos estabelecidos no artigo 282, que levam à
decadência do direito de punir, deve a autoridade de trânsito competente por aplicar a
penalidade de suspensão, determinar a exclusão dessas autuações para o fim de compor
o processo administrativo.

Dessa forma, mesmo mantendo a penalidade de multa, já que não terá competência
para declarar sua nulidade, a autoridade pode afastar essa autuação do processo
administrativo de suspensão do direito de dirigir, determinando seu arquivamento.

Nenhuma norma de competência será violada, agindo dessa forma.

Necessário considerar que o art. 282 também deve ser observado, mesmo nos recursos
de suspensão e cassação da CNH.

Muito bem. Recebida essa primeira notificação, o notificado pode apresentar ou não
defesa. Vale frisar que os critérios gerais para apresentação de defesa, recursos ou
outros requerimentos deverão seguir as disposições constantes na Resolução do
CONTRAN nº 900, vale a pena a leitura desta Resolução, ela tem apenas 14 artigos.

Se o órgão julgador acolher as razões da defesa, segundo o artigo 13 da Resolução 723,


o processo será arquivado e nova notificação deverá ser enviada para o interessado.
Esta notificação servirá para avisá-lo sobre o arquivamento da penalidade.

154
Se o notificado não apresentar defesa ou se ela não for conhecida ou acolhida, o DETRAN
aplicará a penalidade de suspensão do direito de dirigir. Assim, será expedida a segunda
notificação denominada Notificação de Penalidade.

Aqui, muito embora não tenha prazo para a expedição da notificação de instauração do
processo de suspensão, para a expedição da notificação de imposição da penalidade,
vamos invocar o art. 282 do CTB e aí teremos um prazo limite para a expedição desta
notificação - 180 dias para aplicar a penalidade (caso não tenha havido apresentação de
defesa) e 360 dias de prazo, caso o condutor tenha apresentado defesa prévia.

Notificação de Aplicação de Penalidade


A Notificação de Aplicação de Penalidade (N.A.P.) inaugura a primeira instância recursal,
com prazo para interposição de recurso à JARI.

Conforme já explanado anteriormente, após expedida a notificação de instauração do


processo de suspensão do direito de dirigir por acúmulo de pontos, haverá um prazo
limite para que seja aplicada a penalidade.

Essa regra está contida no §6º do artigo 282, do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja apresentada no prazo
estabelecido, será aplicada a penalidade e expedida notificação ao proprietário do
veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico
hábil que assegure a ciência da imposição da penalidade.
§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço do proprietário do
veículo será considerada válida para todos os efeitos.

Há que se observar a generalidade do artigo 282, ou seja, não é uma norma exclusiva
para a aplicação da penalidade de multa e sim de qualquer penalidade.

Isso leva ao entendimento de que, havendo a demora por parte do órgão executivo de
trânsito do estado em expedir a segunda notificação, pode perder o direito de punir.

§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades previstas no art. 256
deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias ou, se houver interposição de defesa
prévia, de 360 (trezentos e sessenta) dias, contado:
I - no caso das penalidades previstas nos incisos I e II do caput do art. 256 deste
Código, da data do cometimento da infração;
II - no caso das demais penalidades previstas no art. 256 deste Código, da conclusão
do processo administrativo da penalidade que lhe der causa.
§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no § 6º deste artigo implicará a
decadência do direito de aplicar a respectiva penalidade.

155
A segunda notificação, portanto, deve ser expedida no prazo máximo de 180 dias,
contados da data da instauração do processo administrativo, por analogia ou 360 dias,
se houver apresentação de defesa prévia.

A notificação de aplicação da penalidade tem previsão no artigo 15 da Resolução 723,


vamos lê-lo:

Art. 15. Aplicada a penalidade, a autoridade de trânsito competente deverá


notificar o condutor informando-lhe:
I - identificação do órgão responsável pela aplicação da penalidade;
II - identificação do infrator e número do registro do documento de habilitação;
III - número do processo administrativo;
IV - a penalidade de suspensão do direito de dirigir aplicada, incluída a dosimetria
fixada, e sua fundamentação legal;
V - a data limite para entrega do documento de habilitação físico ou para interpor
recurso à JARI;
VI - a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada, caso não seja
entregue o documento de habilitação físico e não seja interposto recurso à JARI, nos
termos do artigo 16 desta Resolução.

É importante destacar que na notificação de imposição da penalidade já deve constar a


data limite para a entrega da CNH para que se inicie o cumprimento da penalidade, ou
para que o interessado apresente o recurso à JARI, que é o recurso em primeira
instância.

Esses prazos não podem ser alterados por resolução do CONTRAN, posto que tornaria
desigual a regra, em relação ao processo de suspensão do direito de dirigir por infração
específica, que tem exatamente a mesma duração do processo de multa.

E da mesma forma que a multa, nessa segunda fase a regra é o prazo para a aplicação
da penalidade, ou seja, tanto a notificação via postal como a notificação editalícia devem
ocorrer antes da preclusão do prazo e decadência do direito de punir.

O condutor pode apresentar nessa fase processual tanto os argumentos contra os atos
administrativos que levaram à instauração do processo como argumentos de preclusão
de prazos e decadência do direito de punir, além das alegações de mérito a respeito do
cometimento das infrações.

Esses argumentos serão apresentados através da interposição de recurso à JARI,


apresentado junto à autoridade de trânsito que aplicou a penalidade de suspensão do
direito de dirigir, que remeterá a peça à junta administrativa – JARI, nos termos do artigo
285:

Art. 285. O recurso contra a penalidade imposta nos termos do art. 282 deste Código
será interposto perante a autoridade que imputou a penalidade e terá efeito
suspensivo.

156
Após a apresentação do recurso, tem-se o efeito suspensivo ao processo, que não se
estende à segunda instância.

Logo, a prescrição segue a mesma lógica estabelecida para o processo administrativo de


multa, sendo 360 dias de prazo para aplicar a penalidade, três anos para julgar o
processo sem que ocorra a prescrição intercorrente e mais dois anos para a prescrição
definitiva.

Além disso, sobre o efeito suspensivo, importante citar o art. 25 da Resolução 723 do
CONTRAN, como veremos a seguir.

Apresentado recurso à JARI, se este for indeferido, será apresentado novo recurso em
segunda instância, que é julgado pelo ao CETRAN, por força do artigo 14, V, “a”23 do CTB.

Por fim, de acordo com o texto do artigo 16 da Resolução 723, caso o interessado deixe
transcorrer in albis o prazo de apresentação dos recursos à JARI ou ao CETRAN, a partir
do término deste prazo serão contados 15 dias corridos para o início automático do
cumprimento da pena.

§ 1° do artigo 16: Na notificação de resultado dos recursos de 1a e de 2a instâncias


deverão constar as informações definidas no art. 15, no que couber.

A Resolução é falha no sentido de incluir regulamentação específica sobre o recurso ao


CETRAN, assim, com a leitura deste artigo, podemos concluir que se a notificação for
para comunicar o resultado de indeferimento do recurso apresentado à JARI, é
necessário que lá conste o prazo para a apresentação de recurso ao CETRAN, bem como
a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada caso não seja entregue o
documento de habilitação físico e não seja interposto recurso ao CETRAN.

Já se a notificação tiver como objeto informar a negativa de provimento por parte do


CETRAN, deverá constar a data limite para entrega do documento de habilitação físico
e a data em que iniciará o cumprimento da penalidade fixada caso o documento não
seja entregue.

Então, segundo a legislação aqui estudada, temos basicamente 3 (três) notificações que
deverão ser entregues ao motorista: a primeira para apresentar Defesa; a segunda para
comunicar o resultado ou não apresentação da defesa e que dará oportunidade para
apresentar recurso à JARI ou entregar a CNH para início do cumprimento da penalidade
e a terceira e última que comunica o resultado do recurso apresentado à JARI, se for o
caso e abre oportunidade para apresentar recurso ao CETRAN.

23
Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao Conselho de Trânsito do Distrito
Federal - CONTRANDIFE:
[...]
V - julgar os recursos interpostos contra decisões:
a) das JARI;
157
Eu ainda diria que temos mais uma notificação: aquela que deve acontecer para
comunicar o resultado do recurso apresentado ao CETRAN. Se indeferido, a penalidade
será mantida e esta notificação trará o prazo para entrega da CNH para início da
penalidade. Se deferido, comunicará o afastamento da penalidade e arquivamento do
processo administrativo de suspensão.

No meu ponto de vista, então, temos 4 (quatro) notificações obrigatórias que devem ser
enviadas ao motorista a ser penalizado.

Por fim, é preciso que você saiba que nos processos administrativos de suspensão
também existe a possibilidade de notificar o infrator por edital, conforme previsão do
artigo 23 da Resolução 723:

Art. 23. Esgotadas as tentativas para notificar o condutor por meio postal ou
pessoal, as notificações de que trata esta Resolução serão realizadas por edital, na
forma disciplinada pela Resolução CONTRAN nº 619, de 06 de setembro de 2016, e
suas sucedâneas.

As notificações devem ser enviadas pelo correio e caso não deem ciência ao condutor a
respeito da penalidade, deve ser notificada via edital, contendo:

I. Edital de Notificação de Instauração do Processo:


a) cabeçalho com identificação do órgão autuador e do tipo de notificação;
b) instruções e prazo para apresentação de defesa da autuação;
c) lista com a placa do veículo, número do Auto de Infração de Trânsito, data
da infração e código da infração com desdobramento.
II. Edital da Notificação da Penalidade:
a) cabeçalho com identificação do órgão autuador e do tipo de notificação;
b) instruções e prazo para interposição de recurso;
c) lista com a placa do veículo, número do Auto de Infração de Trânsito que
ensejou a penalidade e data da infração.
d) Número do processo administrativo de cassação da habilitação.

Basicamente essa é a estrutura do processo administrativo que existe para dar ao


penalizado a oportunidade de exercer o contraditório e a ampla defesa:

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Anotações:
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Efeito Suspensivo
Sempre que apresentamos recursos contra qualquer penalidade que seja, esta fica
suspensa. As penalidades de suspensão e cassação por força do artigo 25 da Resolução
723 do CONTRAN.

Isso quer dizer que, apresentado recurso, a penalidade de suspensão ou de cassação


entrará em efeito suspensivo, ou seja, o motorista, que ainda não está penalizado,

159
poderá, por exemplo, renovar a CNH vencida e poderá adicionar categoria, tendo em
vista que não haverá restrições em sua CNH.

Vejam o que diz o artigo 25:

Art. 25. No curso do processo administrativo de que trata esta Resolução não
incidirá nenhuma restrição no prontuário do infrator, inclusive para fins de
mudança de categoria do documento de habilitação, renovação e transferência
para outra unidade da Federação, até a efetiva aplicação da penalidade de
suspensão ou cassação do documento de habilitação.

Eu costumo usar muito a questão do efeito suspensivo quando me deparo com alguma
objeção do cliente no que se refere a apresentação de defesa e recursos, pois, além do
que está escrito no artigo supra, o motorista poderá continuar dirigindo sem quaisquer
restrições e impedimentos.

Anotações:
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Prescrição
A prescrição retrata a extinção do direito de punir do Estado, em vista do não exercício
desse direito, em um determinado período de tempo. Em termos técnicos, é a extinção
legal, ou seja, decorre de lei, por decurso de prazo da pretensão (direito subjetivo) de
se exigir o cumprimento de uma obrigação diante da violação a um direito.

No direito de trânsito, usamos a Lei 9.873/99, que é a Lei do Processo Administrativo.

Isso quer dizer que os órgãos competentes não têm o direito de punir o motorista por
tempo indeterminado. Terá um momento que esse direito será extinto pelo decurso do
prazo legal.

Não existe, pois, penalidade que seja eterna.

Os prazos prescricionais aplicados pela Resolução 723/2018 são os previstos na Lei 9.873
de 23/11/1999, conforme previsão do artigo 24 desta Resolução, vejam:

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Art. 24. Aplicam-se a esta Resolução, os seguintes prazos prescricionais previstos na
Lei nº 9.873, de 23 de novembro de 1999:
I - Prescrição da Ação Punitiva: 5 anos;
II - Prescrição da Ação Executória: 5 anos;
III - Prescrição Intercorrente: 3 anos.
§ 1º O termo inicial da pretensão punitiva relativo à penalidade de suspensão do
direito de dirigir será:
I - no caso previsto no inciso I do art. 3º, o dia subsequente ao encerramento da
instância administrativa referente à penalidade de multa que totalizar ou
ultrapassar os limites de pontos no período de 12 (doze) meses;
II - no caso do inciso I do art. 8º desta Resolução, a data da infração;
III - no caso do inciso II do art. 8º desta Resolução, o dia subsequente ao
encerramento da instância administrativa referente à penalidade de multa.
IV - no caso do inciso III do art. 3º, a data do resultado do exame ou da contraprova.
§ 2º O termo inicial da pretensão punitiva relativo à penalidade de cassação do
documento de habilitação será:
I - no caso do inciso I do art. 19 desta Resolução, a data do fato;
II - no caso do Inciso II do art. 19 desta Resolução, o dia subsequente ao
encerramento da instância administrativa referente à penalidade de multa da
infração que configurou a reincidência.
§ 3º Interrompe-se a prescrição da pretensão punitiva com:
I - a notificação de instauração do processo administrativo;
II - a aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir ou de cassação do
documento de habilitação;
III - o julgamento do recurso na JARI, se houver.
§ 4º Suspende-se a prescrição da pretensão punitiva ou da pretensão executória
durante a tramitação de processo judicial, do qual o órgão tenha sido cientificado
pelo juízo.
§ 5º Incide a prescrição intercorrente no procedimento administrativo paralisado
por mais de três anos.
§ 6º A declaração de prescrição acarretará o arquivamento do respectivo processo
de ofício ou a pedido da parte.
§ 7º A declaração da prescrição das penalidades desta Resolução não implicará,
necessariamente, prejuízo da aplicação das demais penalidades e medidas
administrativas previstas para a conduta infracional.

Pela leitura deste artigo, podemos perceber que temos 3 tipos de prescrição: Prescrição
da ação punitiva: 5 anos; Prescrição da ação executória: 5 anos e Prescrição
Intercorrente: 3 anos.

Prescrição da Ação Punitiva

A pretensão da punição começa com a data do fato. No caso de infração auto


suspensiva, a data do cometimento da infração e no caso de suspensão por pontos, da
data da última infração que compõem o bloco.

A prescrição da ação punitiva acontece se se passarem 5 (cinco) anos desde a data da


infração que resultou na suspensão e o motorista não for notificado quanto à abertura
do processo administrativo; Isso, é claro, após esgotados todos os meios de defesa da

161
infração na esfera administrativa é que a pontuação prevista no artigo 259 será
considerada para fins de instauração de processo de suspensão.

Para que você possa entender melhor, eu quero te dar um exemplo. Imagine que o seu
cliente cometeu uma infração auto suspensiva em fevereiro de 2015.

A notificação de instauração do processo administrativo só veio em setembro de 2018.

Assim, quando acontecer a expedição desta notificação, aquela contagem de cinco anos
para a prescrição da ação punitiva, que começou a partir de fevereiro de 2015, ou seja,
quando a infração foi cometida, é zerada.

Isso porque de fevereiro de 2015 até setembro de 2018 são apenas 3 anos e 5 meses,
portanto, tempo insuficiente para caracterizar a prescrição da ação punitiva.

Prescrição da Ação Executória

Por sua vez, a prescrição da ação executória, que é fazer com que o condutor
efetivamente cumpra a penalidade, acontece se completarem 5 (cinco) anos após a
notificação final, que comunica a imposição da penalidade e o penalizado não iniciar o
cumprimento da penalidade.

Como vimos na fase processual, assim que acontece uma das hipóteses do artigo 261
do CTB, é instaurado o processo de suspensão. Se o motorista não recorrer ou caso seus
recursos sejam indeferidos, ele receberá uma última notificação, a de imposição da
penalidade, comunicando, ainda, a necessidade de entregar a CNH ao DETRAN para,
então, dar início ao cumprimento da penalidade.

É a partir daí que o prazo prescricional de cinco anos da ação executória começa a
correr. Mas isso não quer dizer que basta o motorista não entregar a habilitação que,
decorrido esse prazo, haverá a prescrição da suspensão do direito de dirigir.

Na realidade, quando o prazo informado na notificação para o motorista entregar a sua


habilitação encerrar, a penalidade é registrada no Renach, independentemente de
quem tem a posse do documento, conforme orientação do artigo 16 da Resolução 723,
conforme vimos no capítulo de notificações, na parte do início do cumprimento da
penalidade, veja:

Art. 16. A data de início do cumprimento da penalidade será fixada e anotada no


RENACH:
I - em 15 (quinze) dias corridos, contados do término do prazo para a interposição
do recurso, em 1ª ou 2ª instância, caso não seja interposto, inclusive para os casos
do documento de habilitação eletrônico;
II - no dia subsequente ao término do prazo para entrega do documento de
habilitação físico, caso a penalidade seja mantida em 2ª instância recursal;
III - na data de entrega do documento de habilitação físico, caso ocorra antes das
hipóteses previstas nos incisos I e II.

162
§ 1º Na notificação de resultado dos recursos de 1ª e de 2ª instâncias deverão
constar as informações definidas no art. 15, no que couber.
§ 2º A inscrição da penalidade no RENACH conterá a data do início e término da
penalidade, período durante o qual o condutor deverá realizar o curso de
reciclagem.

Isso quer dizer que, neste caso, a prescrição da suspensão do direito de dirigir se
caracteriza quando o motorista não entrega a CNH e o órgão também NÃO registra a
penalidade no Renach.

Então eu posso te dizer que, neste ponto temos duas situações que podem ocorrer a
prescrição: a) De cinco anos entre a abertura e a conclusão do processo administrativo;
b) De cinco anos para o cumprimento de fato da penalidade, após a conclusão do
processo.

A principal diferença entre interrupção e suspensão de prazos é que quando há


interrupção dos prazos, o prazo parou e começou do zero.

A suspensão do prazo, por sua vez, desconta-se o período relacionado à causa da


suspensão, ou seja, remota o prazo de onde houve a suspensão.

Causas de Interrupção e Suspensão da Prescrição

Além dos tipos de prescrição, é preciso falar das causas de interrupção da prescrição.

A principal diferença entre interrupção e suspensão de prazos é que quando há


interrupção dos prazos, o prazo parou e começou do zero.

A suspensão do prazo, por sua vez, desconta-se o período relacionado à causa da


suspensão, ou seja, retoma o prazo de onde houve a suspensão.

Segundo o §3° do artigo 24 da Resolução 723 do CONTRAN, interrompe-se a prescrição:

● Pela emissão da notificação de instauração do processo administrativo;


● Pela aplicação da penalidade de suspensão do direito de dirigir ou de
cassação do documento de habilitação;
● Pelo julgamento do recurso na JARI, se houver.

Além da previsão do artigo que destaquei acima, também temos causas de interrupção
da prescrição previstas no art. 2° da Lei 9.873/99, vejam:

Art. 2° Interrompe-se a prescrição da ação punitiva:


[...]
III - pela decisão condenatória recorrível.

O §4° do mesmo artigo 24 da Resolução 723 do CONTRAN, traz causas de suspensão da


prescrição:
163
● Suspende-se a prescrição da pretensão punitiva ou da pretensão
executória durante a tramitação de processo judicial, do qual o órgão
tenha sido cientificado pelo juízo.

Ora, se o prazo prescricional é interrompido com a notificação de instauração e o novo


prazo começa apenas após a última notificação, no meio disso tudo o Detran pode
demorar o tempo que quiser para impor a penalidade contra o motorista?

Aqui a resposta é não, por conta da prescrição intercorrente.

Prescrição Intercorrente

A resposta para a pergunta feita acima é não. Isso porque após instaurado o processo
de suspensão, o órgão deve dar prosseguimento com ou sem a manifestação do
penalizado. Caso o processo fique paralisado por mais de 3 anos, teremos a prescrição
intercorrente.

Vamos de exemplo: imagine que o motorista tenha sido notificado da instauração do


processo de suspensão e o prazo final para apresentação de defesa era o dia
27/03/2017. O motorista, então, apresenta, tempestivamente sua defesa. O órgão de
trânsito, por sua vez, deixa o processo “aguardando julgamento” até o dia 02/04/2020
e, só após esse dia, profere sua decisão julgando a defesa apresentada.

Neste caso teremos um processo prejudicado pelo instituto da prescrição intercorrente.


Eis que ficou paralisado por mais de 3 anos.

Dito isso, convém atentar-se para o que preceitua a Lei nº 9.873/99, bem como o art. 24
da Resolução 723 do CONTRAN, como visto:

Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal,


direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à
legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de
três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de
ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração
da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso. (grifo nosso)

Entendida as questões e diferenciações das prescrições existentes no processo de


suspensão, é nosso dever, como defensor dos motoristas, alegar em preliminar de
mérito.

A declaração da prescrição, independentemente da modalidade, acarretará, então, no


arquivamento do processo de suspensão de ofício ou a pedido da parte (tese de defesa).

Anotações:

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Autotutela
O princípio da autotutela estabelece que a Administração Pública possui o poder de
controlar os próprios atos, anulando-os quando ilegais ou revogando-os quando
inconvenientes ou inoportunos.

Assim, a Administração não precisa recorrer ao Poder Judiciário para corrigir os seus
atos, podendo fazê-lo diretamente.

Esse princípio possui previsão em duas súmulas do STF, a 346, que estabelece que “A
Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos”, e 473, que
dispõe o seguinte:

Súmula nº 473: A Administração pode anular seus próprios atos, quando


eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.

O princípio também tem previsão legal, conforme consta no art. 53 da Lei 9.784/99: “A
Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e
pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos.

Nesse contexto, a autotutela envolve dois aspectos da atuação administrativa:

a) legalidade: em relação ao qual a Administração procede, de ofício ou por


provocação, a anulação de atos ilegais; e
b) mérito: em que reexamina atos anteriores quanto à conveniência e
oportunidade de sua manutenção ou desfazimento (revogação).

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Quanto ao aspecto da legalidade, conforme consta na Lei 9.784/99, a Administração
deve anular seus próprios atos, quando possuírem alguma ilegalidade.

Trata-se, portanto, de um poder-dever, ou seja, uma obrigação. Dessa forma, o controle


de legalidade, em decorrência da autotutela, pode ser realizado independentemente de
provocação, pois se trata de um poder-dever de ofício da Administração.

Com efeito, a autotutela também encontra limites no princípio da segurança jurídica e


da estabilidade das relações jurídicas. Assim, conforme consta no art. 54 da Lei 9.784/99,
o direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.

Assim, após esse prazo, o exercício da autotutela se torna incabível.

CONCLUSÃO
Após o estudo completo de todo o processo administrativo de trânsito, você já pode se
considerar um expert no assunto e poderá defender efetivamente o cliente (motorista
ou proprietário de veículo) que está sofrendo com multas de trânsito ou problemas em
sua CNH.

Estude direito administrativo no que diz respeito ao ato administrativo, isso é


fundamental, bem como as questões levantadas sobre o direito constitucional.

A legislação também não é pouca, mas logo você se familiariza com tudo isso, e a
matéria vai ficando cada vez mais simples.

É importante diferenciar o processo administrativo para aplicação da penalidade de


multa e o processo administrativo da aplicação da penalidade de suspensão do direito
de dirigir e cassação da CNH, embora pareçam a mesma coisa, como vimos, não é.

São penalidades distintas.

Outra coisa que confunde muito na prática, é a diferença de uma penalidade e de uma
medida administrativa, como diferenciamos aqui. O cliente e alguns desavisados sempre
vão confundir essas duas condutas.

Importante também saber quem pode sofrer a penalidade e quem é a parte legítima
para apresentar defesa e recursos, caso contrário sua defesa/recurso não será sequer
apreciado.

O Mercado de Trânsito é apaixonante e com certeza pode fazer você mudar de vida.

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Confie em mim e coloque tudo que você aprendeu em prática! Eu vou te ajudar, contem
comigo!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Academia do Direito de Trânsito. Vagner Oliveira. 2021. O novo processo


administrativo de trânsito

ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo Descomplicado - 28. ed. - Rio de Janeiro:


Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.

ARAÚJO, Julyver Modesto de. Lições de direito administrativo para os profissionais de


trânsito. 1. ed, São Paulo: Letras Jurídicas, 2018.

CIRINO, Paulo André da Silva. Legislação de trânsito. 2. ed. rev., atual. e ampl. Salvador:
Editora JusPodvm, 2020.

GOMES, Ordeli Savedra. Processo administrativo de trânsito./ Ordeli Savedra Gomes,


Josimar Campos Amaral. Curitiba: Juruá, 2018.

JULYVER MODESTO DE ARAUJO, CTB Digital. Disponível em


<https://www.ctbdigital.com.br/comentaristas>

Livro Digital Comentários à Resolução n° 723/18 do CONTRAN do Dr. Paulo André


Cirino.

MARTINS. Sidney. Multas de trânsito: defesa prévia e processo punitivo. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2010.

MEIRELLES, Hely Lopes. et. al. Direito Administrativo Brasileiro. 36. ed. São Paulo:
Malheiros, 2015.

MAZZA, Alexandre; ANDRADE, Flávia Cristina Moura de. Prática de direito


administrativo. 2. ed. 2. rev. e atual São paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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