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NÃO se trata de um estudo completo.

Apenas um norte sobre o que você deve estudar em algumas matérias.

Parabéns pelo seu comprometimento com os estudos! Ao contrário da


maioria que espera a publicação do edital do próximo concurso para começar a
estudar, você já está tomando medidas proativas para se preparar.

Estudar com antecedência lhe dará uma grande vantagem sobre seus
concorrentes. Mantenha seu esforço e dedicação e, em breve, você realizará seu
sonho de se tornar um Policial Rodoviário Federal

Seu futuro só depende de você!

Preparamos este breve arquivo para que seja seu ponto de partida nos
estudos, rumo à aprovação na PRF.

Assim, não queremos que você saiba dar aula de cada assunto, mas adquira
uma base (para depois realizar um estudo completo).

• Não trave diante de um conteúdo;

• Leia, releia, sublinhe, faça anotações ou crie um sistema de perguntas e


respostas. Memorize, em um PRIMEIRO MOMENTO, sem entender mesmo.
Quanto mais palavras-chaves dos conteúdos você memorizar, melhor será
seu desempenho ao resolver algumas questões.

Enfim, caro aluno...


Utilize este arquivo para colocar suas técnicas de estudo em prática.

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Quer entrar em contato com nossa equipe?

#ChamaNoWhats

http://whatsapp.quebrandoasbancas.com/

Bons estudos!

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SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................. 05

ANKI........................................................................................................ 13

Português............................................................................................... 17

Direito Constitucional....................................................................32

Direito Penal .................................................................................45

Direito Processual Penal................................................................74

Direito Administrativo....................................................................91

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QUAIS OS SEUS MOTIVOS PARA AÇÃO?

Para se manter motivado, você precisa ter de forma bastante clara quais
são seus grandes motivos para agir. Se seus motivos forem fracos, você não terá
força para persistir diariamente em um trabalho árduo na busca de seu objetivo.

Na prática, motivos fracos levam a resultados fracos: diante da primeira


dificuldade você irá desistir.

Motivos fortes, por outro lado, fazem você seguir em frente de forma
consistente. Quando surgir uma dificuldade, você estará preparado para superá-
la. E acredite: as dificuldades vão surgir.

Esteja preparado!

Vou contar um pouco para vocês dos meus três principais motivos que eu
tinha para agir quando comecei a estudar para concurso público...

Eu sempre sonhei em viajar para o exterior. Sonhava muito em conhecer a


Disney. Quando criança meus pais não tiveram condições de bancar essa viagem
para mim... Então eu só escutava as histórias de meus colegas do colégio que
haviam ido para lá e do quão espetacular era a Disney.

Outro grande motivo que eu tinha era simplesmente mostrar para as


pessoas (e para o Mundo) que eu era capaz de ser aprovado em um concurso
público. Queria dar orgulho para meus pais e silenciar aqueles que duvidavam de
mim...

Por fim, o terceiro grande motivo era ter independência financeira. Queria
ter condições de sair da casa de meus pais, de morar onde eu quisesse... de
comprar um bom carro... enfim, ter acesso às coisas boas da vida =)

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Todos esses objetivos seriam concretizados com a aprovação em um
concurso público. E, de fato, tudo se concretizou.

E aqui estão alguns registros de minha ida para a Disney/Orlando - EUA...

Ninguém pagou as minhas passagens de avião para o Orlando.... Meu


esforço nos estudos pagou. E foi incrível.

Cada hora de esforço nos estudos foi recompensada (e ainda está sendo).

Talvez você já conheça essa frase, mas vale repetir (pois é muito
verdadeira):

A DOR NOS ESTUDOS É TEMPORÁRIA, MAS A APROVAÇÃO É PARA O


RESTO DA VIDA.

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Ter motivos fortes é o primeiro passo para conquistar um cargo público.

Contudo, não basta apenas ter motivos fortes. Você necessita


estar o tempo todo relembrando seus motivos. Somente assim você
vai ter a CLAREZA necessária para seguir em frente e passar horas
estudando todos os dias, abdicando do lazer, do convívio da família, etc.

E como ter CLAREZA constante dos motivos para agir? Uma forma eficaz
disso é construir um PAINEL
 PAINEL DA MOTIVAÇÃO.

Vou falar para você da minha experiência com o meu painel da motivação:
meu rendimento dobrou depois que eu construí o meu painel da motivação.
Sempre que estava cansado, olhava para ele a energia para estudar retornava.

Agora é a hora de você construir o seu PAINEL DA MOTIVAÇÃO (se você já


tem um, melhore-o).

Como construir o PAINEL DA MOTIVAÇÃO?

Você pode colocar no centro de seu painel seu objetivo principal: o cargo
público almejado. Ao redor dessa imagem, você pode colocar seus grandes
motivos para agir (exemplo: carro novo, viagens, estabilidade financeira, etc)...

Além disso, frases impactantes também podem ser colocadas no painel.


Uma frase que está muito conectada a mim é: “Eu sou implacável na busca
de meus sonhos”. Essa frase me fornece muita força em meus momentos de
fraqueza. Encontre aquilo que mais motiva você e coloque no PAINEL.

Comece hoje mesmo a construir o seu painel da motivação.

Vai valer a pena.... confia!

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ESTUDANDO POR FLASHCARDS

Dentro do Extensivo PRF ensinamos diversas técnicas de estudo. Como este


material é mais enxuto, escolhemos mostrar uma das técnicas mais utilizadas
pelos nossos alunos.

Para falar sobre flashcards, uma das técnicas de estudos, podemos fazer
uma analogia com um policial que vai para uma missão. São diversas armas que o
policial poderá empregar: submetralhadora cal.40, fuzil 556, fuzil 762, espingarda
cal. 12, glock 9mm...

Para cada arma, há uma indicação de uso. Se você quer uma arma para
curta distância mas que tenha grande dano, podendo atingir até mais de uma
pessoa com o único disparo, então irá utilizar a espingarda cal. 12. Assim, se você
precisa de uma arma com alto poder de penetração para, por exemplo, enfrentar
um grupo armado com colete de proteção balística, então irá utilizar o 762. Por

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outro lado, para realizar uma ronda padrão, em área urbana, talvez seja melhor
portar a submetralhadora cal. 40, em razão de seu baixo poder de penetração
(assim, caso dispare contra um veículo, as chances de que a munição atrevesse
o veículo e acabe acertando um pedestre são bem menores). Enfim... para cada
arma, uma finalidade de uso.

Com as técnicas de estudos também é assim:

Diferentemente do que ocorre com os fichamentos, os quais buscam


colocar no papel TUDO que é importante sobre o conteúdo estudado (com suas
próprias palavras), nos flashcards não é possível colocar tudo. O flashcard deve
ser utilizado para assuntos que exigem memorização bruta, ou seja, aqueles
assuntos em que não há muito o que “entender”.

Abaixo deixaremos exemplos de assuntos que podem estudados por meio


dos flashcards:

• Requisitos para o uso de algemas, conforme súmula vinculante do STF;

• Fórmulas de matemática e física;

• Casos facultativos da crase;

• Requisitos do princípio da insignificância;

• Atributos do ato administrativo.

Pegou a ideia? Sempre que você se deparar com algum assunto que exige
memorização bruta, cuja resposta é do tipo bate-pronto, você poderá se valer do
uso de flashcards em seu estudo.

Flashcard não é indicado para assuntos que exigem conceitos complexos,


mas sim para informações de resposta rápida.

Se quiser evoluir um pouco mais seu flashcard, poderá no verso fazer um


mapa mental do conteúdo que está na parte da frente do flash card. Figuras e
desenhos aumentam a taxa de retenção da informação.

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Se você conseguir colocar algum mnemônico no flashcard, melhor ainda:
assim sua taxa de retenção será absurda. Exemplo clássico de mnemônico
é o LIMPE (princípios da administração pública - art. 37 da CF): legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Outro exemplo de mnemônico temos em relação ao uso de algema:

Súmula Vinculante n. 11 do STF:

Só é lícito o uso de algemas em casos de  resistência  e


de fundado receio de  fuga  ou de  perigo à integridade
física  própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que
se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Portanto, os requisitos para o uso de algema são PRF: Perigo, Resistência


e Fuga.

É importante não colocar muita informação no flashcard. Lembre-se: tem


que ser algo bate pronto.

Ao estudar os flashcards, se possível, leia-os em voz alta: isso aumentará


sua taxa de retenção da informação.

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Exemplo de flashcard:

Frente:

Requisitos para o uso de algemas:

PRF:

- Perigo à integridade física própria ou alheia do preso ou terceiros.

- Resistência

- Fundado receio de fuga.

Verso:

Poderia fazer um desenho de uma algema no meio com flechas para as


palavras: Perigo, Resistência e Fuga. Se possível, utilizando uma imagem para
cada palavra.

Outra alternativa seria criar uma pergunta sobre a informação estudada na


frente e no verso colocar a resposta.

Faça um teste e veja com quais dessas opções você tem maior rendimento.

E como fazer o flashcard?

Você pode comprar cartolina e recortá-la no tamanho de uma carta de


baralho ou comprar fichas já prontas nesse tamanho.

Para guardar o flashcard, uma sugestão é comprar uma pasta com divisores
de matérias. Assim poderá organizar melhor seus materiais:

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Quer trocar a maneira mais artesanal de estudo por um estudo profissional?
Aprenda a utilizar a ferramenta ANKI.

No mundo dos concursos, o QB foi um dos pioneiros a utilizar este aplicativo


para automatizar o processo de revisão de seus alunos. Aliando essa inovação
com outras ferramentas, o resultado conquistado pelo QB (no último concurso
da PRF) foi surpreendente.

Segundo pesquisa realizada (com os próprios aprovados) pelo Volts (especialista


em concursos públicos), fomos o segundo curso que MAIS aprovou no último
concurso em números absolutos.

Proporcionalmente, ficamos em PRIMEIRO LUGAR.

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Está preparado para automatizar seu processo de revisão?

O QUE É O ANKI?

O Anki é um aplicativo de revisão espaçada, que irá auxiliar você a não


esquecer determinado conteúdo estudado por meio de flashcards de perguntas
e respostas.

Com os baralhos do anki, suas revisões se tornam automatizadas e você


ganha tempo e otimização. Trata-se de um jeito de garantir que você não esqueça
os conteúdos mais importantes para a prova.

O único problema do Anki é que leva bastante tempo para você identificar
quais são os assuntos mais importantes e formular os baralhos. Sabendo dessa
dificuldade, a equipe do QB confeccionou os baralhos para seus alunos, focando
naquilo que tem maior importância para a prova da PRF.

Aproveite este material para começar a criar seus baralhos. Assim, você já vai
estudando e aprendendo a utilizar essa poderosa ferramenta de revisão.

COMO UTILIZAR O ANKI?

O Anki, primeiramente, mostra para você um card com uma pergunta. Ao


clicar na tela, ele mostra a resposta, no verso, a exemplo da imagem abaixo:

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Assim, teremos 03 (três) cenários:

1. Quando você souber a resposta com facilidade, o aplicativo irá demorar mais
tempo para mostrar para você o cartão novamente.
2. Se você souber a resposta, mas não com todos detalhes, o aplicativo irá
mostrar o cartão para você em um tempo médio.
3. Se você não souber a resposta, ele irá mostrar com mais frequência esse
cartão para você.

Para nossos alunos do extensivo, preparamos diversos baralhos para


garantir que os principais assuntos do edital da PRF sejam memorizados até a
data da prova.

Para isso, fizemos um trabalho de análise de questões da banca


organizadora do concurso da PRF.

INSTALANDO O ANKI NO COMPUTADOR

Recomendamos que, incialmente, instale o Anki em seu computador,


acessando:

https://apps.ankiweb.net

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Depois de fazer a instalação, faça seu cadastro com e-mail e senha em
(recomendamos que utilize o mesmo e-mail utilizado na google play store ou
applestore):

https://ankiweb.net/about

Agora que você já tem a conta e o programa instalado, pode começar a


utilizar o Anki em seu computador.

Para a criação de novos baralhos ou cards, é melhor utilizar o programa


para computador do Anki.

INSTALANDO O ANKI NO CELULAR

Em celular Android, acesse a Play Store e procure por “Anki Droid”:

Faça o download e login, utilizando os mesmos dados cadastrados em sua


conta no computador.

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Se você utilizar Iphone, você deve acessar a App Store e procurar por
“Ankimobile”:

Contudo, para dispositivos apple, o aplicativo é pago.

Importante: sempre que você fizer alguma modificação


em um baralho ou cartão, sugerimos que faça a sincronização de seu Anki para
que ele seja atualizado nas outras plataformas que você usa (tablet, computador,
celular, etc).

UM ALERTA: não utilize o aplicativo no modo noturno, pois terá dificuldade


em visualizar determinadas cores.

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PORTUGUÊS
Regras básicas de acentuação

A acentuação é um assunto que costuma ser cobrado em 99,9% das provas


de concurso público. Por este motivo, é muito importante que você estude e saiba
alguns macetes para facilitar o seu aprendizado.

Neste material, iremos apresentar as regras básicas de acentuação e


abordar o uso da crase.

I – Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em A(S), E(S), O(S).

Exemplo: Pá, Pé e Pó

Dica: Relacione essa regra com a palavrabOnEcA. Assim você saberá todas
as terminações dos monossílabos tônicos que devem receber acento.

II – Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em A(S), E(S), O(S), EM, ENS.


Dica: Basta lembrar que a regra é a mesma dos monossílabos, você apenas
deve acrescentar o EM (seguido ou não de “S”).

III – Acentuam-se TODAS as palavras proparoxítonas.

Observação: NÃO existe exceção.

IV – Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em I(S), L, N, R, X, PS, N,


UM(S), US, Ã(S) e DITONGOS.

Dica: leia os esquemas abaixo e escolha um para facilitar a sua memorização:


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1- Procure palavras paroxítonas que você sabe que são acentuadas e faça
uma lista: Exemplo: US: Vírus, PS: Bíceps, L: Móvel;

2 - Essa dica é do tempo do colégio! Lembre-se da frase: Liga Nacional do


Raio X (L, N, R, X);

3 - Memorize a frase: UM ROUXINOL FOI AO (ditongo) INAM (Ã) PS. Com


essa frase, você saberá todas as terminações das paroxítonas que devem receber
acento.

Observação: Paroxítonas terminadas em ENS NÃO devem ser acentuadas.

Questão comentada

(CESPE/2022 – MPC-SC – Procurador de Contas do Ministério Público) Acerca


de propriedades gramaticais e semânticas do texto 1A16- I, julgue o item que se
segue.

Os vocábulos “África” e “Atlântico” são acentuados graficamente pelo mesmo


motivo.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. Os vocábulos “África” e “Atlântico” são acentuados graficamente


pelo mesmo motivo, pois ambas são proparoxítonas.

Á-fri-ca.

A-tlân-ti-co.

Lembre: acentuam-se TODAS as palavras proparoxítonas.

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CRASE

Vamos começar “memorizando” um macete bastante útil para esse assunto.

Breve explicação: a crase é a “fusão” da preposição “a” com o


artigo “a“.

Obs.: na maioria das vezes, será a “fusão” da preposição com o


artigo.

Macete antigo, mas IMPORTANTE:


Se vou A... e venho dA
dA -> Crase no A.

Se vou A... e venho dE -> Crase pra quê?

Vamos treinar um pouco o macete:

Ex.: Fomos (a ou à) Argentina.

Então... Trocando o FOMOS por VIEMOS, a frase ficaria:

Viemos da Argentina. (Agora, lembrando do macete: Se vou A... e venho dA


– Crase no A)

Então...

A frase ficaria: Fomos à Argentina. (com crase)

Mas... Se fosse PORTUGAL?

Ex.: Vamos (a ou à) Portugal.

Novamente... Trocando o Vamos por VIEMOS, a frase ficaria:

Viemos de Portugal. (Olhando o macete: Se vou A... e venho dE– Crase pra
quê?)

Então, a frase correta é: vamos a Portugal.

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É importante lembrar alguns casos em que a utilização da crase é facultativa.

Um pequeno macete é lembrar da frase (Até a minha Marta é facultativa).

Pode parecer besta, mas irá ajudar a lembrar dos seguintes casos:

I – Depois da preposição ATÉ:

Nesse caso, pode (ou não) ocorrer crase, pois o uso da preposição A é
facultativo.
Ex.: Fui até a (ou à) viatura.

II – Diante dos pronomes adjetivos possessivos femininos (Utilizando o pronome


do macete: MINHA)

Ex.: Nunca desobedeci a (ou à) minha tia.

III - Diante de nomes próprios de pessoas do sexo feminino (Utilizando a palavra


do macete: Marta)

Ex.: Ele entregou a arma a (ou à) Marta.

Continuando o assunto CRASE. Palavra CASA:

Nunca haverá́ crase diante da palavra casa (se a palavra casa estiver com o
sentido de moradia, lar).

Palavra TERRA:

Nunca haverá́ crase antes da palavra terra (se a palavra terra estiver com o
sentido de chão, terra firme).

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E com a palavra DISTÂNCIA?

Com a palavra distância, ocorrerá crase quando ela estiver DETERMINADA.


Se não estiver determinada, não haverá crase. (Regra geral)

Exemplos:

Todos devem ficar à distância de 20 metros do acidente.

Reconheci o policial a distância.

Memorizar as situações acima destacadas já pode garantir a você algumas


questões em prova.

Questão comentada

(CESPE/2021 – CODEVASF – Analista) No que se refere aos aspectos linguísticos


e às ideias do texto apresentado, julgue o item que se segue.

O emprego do sinal indicativo de crase no trecho “de caráter suplementar às


chuvas”, no terceiro parágrafo, é facultativo; portanto, a supressão desse sinal
não prejudicaria a correção gramatical do trecho.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. No presente caso, a crase é obrigatória.

- Verbo/Nome + às + palavra no plural -> Crase OBRIGATÓRIA.

- Verbo/Nome + a + palavra plural -> Crase PROIBIDA.

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REDAÇÃO OFICIAL

Ofício

Nas versões anteriores do Manual da Presidência da República sobre


redação oficial, havia o ofício, o memorando e o aviso.

Agora, esses três foram aglutinados no chamado “padrão


ofício”.

Vamos agora ao estudo das partes do documento padrão ofício. As


informações aqui contidas serão extraídas diretamente do Manual da Presidência
da República. Vamos lá.

Cabeçalho:

No cabeçalho deverão constar os seguintes elementos:

- brasão de Armas da República2: no topo da página. Não há


necessidade de ser aplicado em cores. O uso de marca da
instituição deve ser evitado na correspondência oficial para não se
sobrepor ao Brasão de Armas da República.

- nome do órgão principal;

- nomes dos órgãos secundários, quando necessários, da maior


para a menor hierarquia; e

- espaçamento: entrelinhas simples (1,0).

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Identificação do expediente:

Os documentos oficiais devem ser identificados da seguinte maneira:

a) nome do documento: tipo de expediente por extenso, com todas as letras


maiúsculas;

b) indicação de numeração: abreviatura da palavra “número”, padronizada


como No;

c) informações do documento: número, ano (com quatro dígitos) e siglas


usuais do setor que expede o documento, da menor para a maior hierarquia,
separados por barra (/); e

d) alinhamento: à margem esquerda da página.

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Local e data do documento:

Na grafia de datas em um documento, o conteúdo deve constar da seguinte


forma:

a) composição: local e data do documento;

b) informação de local: nome da cidade onde foi


expedido o documento, seguido de vírgula. Não se
deve utilizar a sigla da unidade da federação depois
do nome da cidade;

c) dia do mês: em numeração ordinal se for o primeiro


dia do mês e em numeração cardinal para os demais
dias do mês. Não se deve utilizar zero à esquerda do
número que indica o dia do mês;

d) nome do mês: deve ser escrito com inicial minúscula;

e) pontuação: coloca-se ponto-final depois da data; e

f) alinhamento: o texto da data deve ser alinhado à


margem direita da página.

Endereçamento:

O endereçamento é a parte do documento que informa quem receberá


expediente.

Nele deverão constar os seguintes elementos:

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a) vocativo: na forma de tratamento adequada para quem
receberá o expediente (ver subitem “4.1 Pronomes de
tratamento”);

b) nome: nome do destinatário do expediente;

c) cargo: cargo do destinatário do expediente;

d) endereço: endereço postal de quem receberá o expediente,


dividido em duas linhas:

- primeira linha: informação de localidade/


logradouro do destinatário ou, no caso de
ofício ao mesmo órgão, informação do setor;

- segunda linha: CEP e cidade/unidade da


federação, separados por espaço simples. Na
separação entre cidade e unidade da federação
pode ser substituída a barra pelo ponto ou pelo
travessão. No caso de ofício ao mesmo órgão,
não é obrigatória a informação do CEP, podendo
ficar apenas a informação da cidade/unidade da
federação; e

e) alinhamento: à margem esquerda da página.

Pronome de Tratamento

O pronome de tratamento no endereçamento das comunicações dirigidas


às autoridades tratadas por Vossa Excelência terá a seguinte forma: “A Sua
Excelência o Senhor” ou “A Sua Excelência a Senhora”.

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Quando o tratamento destinado ao receptor for Vossa Senhoria, o
endereçamento a ser empregado é “Ao Senhor” ou “À Senhora”. Ressalte-se
que não se utiliza a expressão “A Sua Senhoria o Senhor” ou “A Sua Senhoria
a Senhora”.

Assunto:

O assunto deve dar uma ideia geral do que trata o documento, de forma
sucinta. Ele deve ser grafado da seguinte maneira:

a) título: a palavra Assunto deve anteceder a frase que define o conteúdo do


documento, seguida de dois-pontos;

b) descrição do assunto: a frase que descreve o conteúdo do documento


deve ser escrita com inicial maiúscula, não se deve utilizar verbos e sugere-
se utilizar de quatro a cinco palavras;

c) destaque: todo o texto referente ao assunto, inclusive o título, deve ser


destacado em negrito;

d) pontuação: coloca-se ponto-final depois do assunto; e

e) alinhamento: à margem esquerda da página.

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Texto do documento:

O texto do documento oficial deve seguir a seguinte padronização de


estrutura:

I – nos casos em que não seja usado para encaminhamento de documentos,


o expediente deve conter a seguinte estrutura:

a) introdução: em que é apresentado o objetivo da comunicação. Evite o uso


das formas: Tenho a honra de, Tenho o prazer de, Cumpre-me informar que.
Prefira empregar a forma direta: Informo, Solicito, Comunico;

b) desenvolvimento: em que o assunto é detalhado; se o texto contiver


mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas em parágrafos
distintos, o que confere maior clareza à exposição; e

c) conclusão: em que é afirmada a posição sobre o assunto.

II - quando forem usados para encaminhamento de documentos, a estrutura


é modificada:

a) introdução: deve iniciar com referência ao expediente que solicitou o


encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver sido solicitada,
deve iniciar com a informação do motivo da comunicação, que é encaminhar,
indicando a seguir os dados completos do documento encaminhado (tipo,
data, origem ou signatário e assunto de que se trata) e a razão pela qual está
sendo encaminhado; e

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b) desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer algum
comentário a respeito do documento que encaminha, poderá acrescentar
parágrafos de desenvolvimento. Caso contrário, não há parágrafos
de desenvolvimento em expediente usado para encaminhamento de
documentos.

III – tanto na estrutura I quanto na estrutura II, o texto do documento deve


ser formatado da seguinte maneira:

a) alinhamento: justificado;

b) espaçamento entre linhas: simples;

c) parágrafos:

c.1) espaçamento entre parágrafos: de 6 pontos após cada parágrafo;

c.2) recuo de parágrafo: 2,5 cm de distância da margem esquerda;

c.3) numeração dos parágrafos: apenas quando o documento tiver três ou


mais parágrafos, desde o primeiro parágrafo. Não se numeram o vocativo e
o fecho;

d) fonte: Calibri ou Carlito;

d.1) corpo do texto: tamanho 12 pontos;

d.2) citações recuadas: tamanho 11 pontos; e

d.3) notas de Rodapé: tamanho 10 pontos;

e) símbolos: para símbolos não existentes nas fontes indicadas, pode-se


utilizar as fontes Symbol e Wingdings;

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Fechos para comunicações

O fecho das comunicações oficiais objetiva, além da finalidade óbvia


de arrematar o texto, saudar o destinatário. Os modelos para fecho
anteriormente utilizados foram regulados pela Portaria no 1, de 1937, do
Ministério da Justiça, que estabelecia quinze padrões.

Com o objetivo de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual estabelece


o emprego de somente dois fechos diferentes para todas as modalidades
de comunicação oficial:

a) Para autoridades de hierarquia superior a do remetente, inclusive o


Presidente da República:

Respeitosamente,

b) Para autoridades de mesma hierarquia, de hierarquia inferior ou demais


casos:

Atenciosamente,

Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a autoridades


estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios.

O fecho da comunicação deve ser formatado da seguinte maneira:

a) alinhamento: alinhado à margem esquerda da página;

b) recuo de parágrafo: 2,5 cm de distância da margem esquerda;

c) espaçamento entre linhas: simples;

d) espaçamento entre parágrafos: de 6 pontos após cada parágrafo; e

e) não deve ser numerado.


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Identificação do signatário

Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da República, todas


as demais comunicações oficiais devem informar o signatário segundo o
padrão:

a) nome: nome da autoridade que as expede, grafado em letras maiúsculas,


sem negrito. Não se usa linha acima do nome do signatário;

b) cargo: cargo da autoridade que expede o documento, redigido apenas


com as iniciais maiúsculas. As preposições que liguem as palavras do cargo
devem ser grafadas em minúsculas; e

c) alinhamento: a identificação do signatário deve ser centralizada na página.

Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura em página


isoladado expediente. Transfira para essa página ao menos a última frase
anterior ao fecho.

Questão comentada

(CESPE/2021 – PRF – Policial Rodoviário Federal) Considerando as disposições


do Manual de Redação da Presidência da República (MRPR) acerca da redação
oficial, julgue o item a seguir.

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O vocativo, nas comunicações oficiais, deverá ser sempre seguido de vírgula.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa.

O Manual de Redação da Presidência da República define o vocativo como uma


invocação ao destinatário. Também determina que nas comunicações oficiais o
vocativo será sempre seguido de vírgula.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal e a Hierarquia das normas

Primeiramente, é importante que você tenha uma noção de hierarquia


das normas. Faremos isso brevemente aqui, apenas para que você possa
entender o assunto.

A Constituição Federal está no topo da hierarquia das normas. Nenhuma


norma pode se sobrepor à CF. Abaixo da CF estão todas as leis, as quais devem
obedecer à CF, seja lei ordinária ou lei complementar. E abaixo das leis estão
os Decretos, os quais devem obedecer às leis e à CF. Então, como regra, esse
é o panorama:

A Constituição Federal possui normas originárias e derivadas. As primeiras


foram inseridas na Constituição pelo próprio Poder Constituinte Originário, no caso
o Poder Legislativo ao criar a CF. Já as derivadas são fruto de uma necessidade
de atualização do texto constitucional, a fim de manter a sua atualidade, sendo
materializadas em emendas de revisão e emendas constitucionais.

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As normas constitucionais originárias servem de parâmetro para todas as
outras normas, inclusive para as Emendas à Constituição. Assim, as EC devem
respeitar as normas constitucionais originárias. Portanto, há uma diferença entre
normas constitucionais originárias e emendas constitucionais.

Desde 2004, a nossa pirâmide hierárquica sofreu uma modificação. A


Constituição Federal, por meio de uma Emenda Constitucional de 2004, em seu
art. 5º, §3º, nos diz que: os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às Emendas Constitucionais.

Memorize isso, pois pode aparecer na prova!

Podemos citar como exemplo de convenção/tratado internacional sobre


Direitos Humanos com equivalência à Emenda Constitucional a “Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo”.

Portanto, se o Tratado for aprovado conforme prevê a CF e versar sobre


Direitos Humanos, terá ele a mesma força que uma Emenda à Constituição. E
como fica a situação de um tratado/convenção sobre direitos humanos que não
tenha sido aprovado conforme a regra do art. 5º, §3º, da CF?

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, se o tratado ou


convenção internacional sobre direitos humanos tiver sido aprovado antes de
2004, ou seja, antes da regra do art. 5º, §3º, da CF, terá ele valor supralegal
supralegal, ou
seja, abaixo da Constituição Federal, mas acima de todas as leis.

ESTE TEMA É BASTANTE COBRADO EM CONCURSO PÚBLICO!

Por outro lado, se o tratado ou convenção internacional não for sobre


direitos humanos, ele terá força de lei ordinária. Então a nossa pirâmide ficaria
assim:

33
Se liga:

→ Tratados e convenções sobre DH aprovados conforme o art. 5º, §3º,


da CF, não equivalem a normas constitucionais originárias, mas a emendas
constitucionais, ou seja, normas constitucionais derivadas.

Exemplo prático: a questão do Depositário Infiel

A CF, no art. 5º, LXVII, afirma que não é admitida a prisão civil por dívida,
salvo no caso de obrigação alimentícia e no caso de depositário infiel. Portanto,
de acordo com a CF, seria possível a prisão do depositário infiel.

Ocorre que o Pacto de São José da Costa Rica (também conhecido como
a convenção americana sobre Direitos Humanos), em seu art. 7º, parágrafo
7º, proíbe a prisão civil por dívida, excetuado o devedor voluntário de pensão
alimentícia.

O Pacto de São José não foi aprovado nos termos do art. 5º, §3º, da CF, logo
tem status supralegal. Por isso, todas as leis que o contrariem estão revogadas.

34
Assim, embora a Constituição Federal permita, é necessário que uma lei
diga como seria a prisão do depositário infiel.

Todavia, tal lei contrariaria o Pacto.

Assim sendo, decidiu o STF que não é possível a prisão do depositário


infiel.

Memorize as assertivas a seguir:

• A possibilidade de extensão aos estrangeiros que estejam no Brasil, mas


que não residam no país, dos direitos individuais previstos na CF deve- se ao
princípio da primazia dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil.

• Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.

• Os direitos e garantias expressos na CF/88 não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.

• STF - Súmula Vinculante 25 - É ilícita a prisão civil de depositário infiel,


qualquer que seja a modalidade de depósito.

• Os Direitos Humanos (plano internacional), quando positivados na


Constituição Federal (ordem interna), são chamados de Direitos Fundamentais.

35
Questão comentada

(CESPE/2018 – SEFAZ-RS – Assistente Administrativo) Tratados e convenções


internacionais sobre direitos humanos, depois de aprovados internamente
em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, são considerados equivalentes às emendas
constitucionais.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. Conforme vimos, Os tratados e convenções internacionais


sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais.

FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DOS DIREITOS E DEVERES


FUNDAMENTAIS.

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS.


Os direitos e garantias fundamentais estão disciplinados no Título II da CF
(arts. 5º a 17), os quais foram divididos em cinco grupos:

• Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º);

• Direitos sociais (arts. 6º a 11);

• Direitos de nacionalidade (arts. 12 e 13);

• Direitos políticos (arts. 14 a 16); e

• Direitos de existência dos partidos políticos (art. 17).

Lembrando que há diversos direitos fundamentais presentes em outros


dispositivos, que são, por esse motivo, denominados “direitos fundamentais não-
36
catalogados” (fora do catálogo próprio). Por exemplo, direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225/CF).

O caput do art. 5º da Constituição afirma que os direitos e garantias


fundamentais são garantidos aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país.
Todavia, a expressão “estrangeiros residentes no País” deve ser entendida como
“estrangeiros sob as leis brasileiras”. Ou seja, aplica-se a estrangeiros residentes
ou não residentes, enquanto estiverem sob o manto do nosso ordenamento
jurídico, e até mesmo para os apátridas (aqueles sem nacionalidade).

Mas nem todos os direitos fundamentais são destinados a estrangeiros. A


ação popular, por exemplo, é garantia que não poderá ser estendida a estrangeiros
em geral, pois apenas o cidadão é legitimado ativo.

CF/88 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
Vida, à Liberdade, à Igualdade, à Segurança e à Propriedade, nos
termos seguintes (VLISP):

37
CF/88 - Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição.

Temos aqui o princípio da isonomia,


isonomia também conhecido como princípio da
igualdade, o qual representa o símbolo da democracia, pois indica um tratamento
justo para os cidadãos.

É essencial dentro dos princípios constitucionais, porém complexo e para


sua completa compreensão é necessário entender o contexto cultural e histórico
em que foi criado.

Desde muito tempo, esse princípio tem feito parte das antigas civilizações.
Ao longo da história, foi muitas vezes desrespeitado, assumindo um conceito
errado, por entrar em atrito com os interesses das classes dominantes.

Quando a CF/88 prevê que “todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza” estamos tratando da chamada igualdade formal. De
acordo com ela, é vetado que os legisladores criem ou editem leis que a violem.
O princípio da igualdade garante o tratamento igualitário de acordo com a lei para
os cidadãos.

Ainda, temos a chamada igualdade material. Vejamos as duas:


✔ Igualdade Formal: é aquela presente na Constituição Federal e que trata
da igualdade perante a lei. De acordo com o artigo 5º, isso quer dizer que homens,
mulheres e todos os cidadãos brasileiros são iguais conforme a legislação.

✔ Igualdade Material: tipo de igualdade, em que todos os seres humanos


recebem um tratamento igual ou desigual, de acordo com a situação. Quando
as situações são iguais, deve ser dado um tratamento igual, mas quando as
situações são diferentes é importante que haja um tratamento diferenciado.

De acordo com a doutrina jurídica, esse princípio pode ser usado para
limitar o legislador (não será possível criar outras leis que violem o princípio da
igualdade), limitar o intérprete da lei (consiste na aplicação da lei de acordo com
o princípio), limitar o indivíduo (que não poderá apresentar condutas contrárias a
igualdade, ou seja, realizar atos preconceituosos, racistas ou discriminatórios).

38
Esse princípio deve ser interpretado de forma que seja dado tratamento
equivalente aos iguais, mas que sejam desigualmente tratados os desiguais,
na medida das suas desigualdades (igualdade material). Segundo o texto
constitucional, homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações (art. 5º,
I/CF). Mas a lei pode criar distinções entre homens e mulheres, desde que haja
razoabilidade para o critério eleito para a discriminação. Por exemplo, concurso
para agente penitenciário em uma delegacia feminina que só admita a inscrição
de mulheres.

O limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima em


face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza
das atribuições do cargo a ser pretendido (Súmula 683 do STF). Ou seja, pode
haver determinadas distinções por critério de idade, desde que haja justificativa e
razoabilidade.

Estão plenamente de acordo com o princípio da igualdade as políticas de


“cotas” e outras ações afirmativas, eis que representam meio apto a efetivar a
igualdade material e permitir a suplantação de desigualdades ocasionadas por
situações históricas particulares.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

CF/88 – Art. 5º - II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma


coisa senão em virtude de lei.

Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, pois somente


mediante espécies normativas elaboradas segundo as regras do processo
legislativo pátrio podem-se criar obrigações para os indivíduos. Aos particulares é
lícito fazer tudo aquilo que a lei não proíba (não é necessária uma lei autorizando
determinado comportamento, basta que não exista uma norma que o proíba).

Diferentemente, para os agentes públicos, o princípio da legalidade tem


outra conotação, eis que ele somente pode agir conforme o estabelecido em lei
(se não houver previsão legal para determinada atuação, não há possibilidade de
o poder público proceder daquela forma).

É o princípio da legalidade estrita (ou restrita).

39
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o


sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

O conceito de liberdade de expressão é extremamente abrangente e tem


diversas implicações: desde um cidadão expor sua opinião; um político, sua
ideologia; um artista, sua arte; um jornalista, sua investigação, e por aí vai. Além
de garantir a expressão, o direito também se refere ao amplo acesso à informação
a partir de diferentes e variadas fontes, dentro de um ambiente democrático, que
garanta as liberdades de expressão e de imprensa.

É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato (art. 5º,


IV). A vedação ao anonimato objetiva possibilitar a responsabilização de quem
cause danos a terceiros. Afinal, a Constituição também assegura o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem (art. 5°, V).

Assim, veiculada expressão indevida de juízos e valores é cabível o direito


de resposta – acumulável com a indenização por danos morais e materiais –
aplicável tanto às pessoas físicas e quanto às jurídicas que sejam ofendidas.

É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença (art. 5º, IX).

40
STF o Supremo Tribunal Federal declarou inexigível (com fundamento nos direitos
STF:
fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística,
produção científica) autorização de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária autorização
de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de
pessoas falecidas ou ausentes).

Atenção:
NÃO existem direitos fundamentais absolutos.
absolutos. Assim, a incitação ao racismo,
assim como o discurso de ódio e violência, não está protegida pela liberdade de
expressão.

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA


VII - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Escusa de consciência: ninguém será privado de direitos por motivo de


crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei (art. 5º, VIII). Ou seja, o indivíduo pode não cumprir obri-
gação a todos imposta e não ser privado de direitos, desde que cumpra prestação
alternativa fixada em lei.

41
STF (RE 494601) - É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de
resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos
de religiões de matriz africana.

Liberdade de trabalho/profissão

XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas


as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Liberdade de Locomoção

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus
bens.
A violação a esse direito poderá ensejar a impetração do remédio constitucional
chamado habeas corpus.

Liberdade de Reunião

XVI - todos podem reunir se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso
à autoridade competente.

Requisitos para o exercício da liberdade de reunião:


• Reunião pacífica.

• Sem armas.

• Não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local.

• Prévio aviso à autoridade competente.

Sobre o direito constitucional de reunião, o STF fixou a seguinte tese, dando


sua interpretação ao texto da CF (você deve conhecer essa tese para provas):

42
- A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de
reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público
zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra
reunião no mesmo local.

Haverá restrição ao direito de reunião na hipótese de decretação do estado


de defesa e suspensão no caso de decretação do estado de sítio (art. 136, §1º, I,
“a” e art. 139, IV, ambos da CF). São limitações circunstanciais.

Atenção a este ponto: Marcha da maconha

STF (ADPF 187) - passeata pela liberalização do uso da maconha (marcha


da maconha) foi uma manifestação considerada legítima pelo STF.

Princípio da Intranscendência ou pessoalidade da pena

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,


condenado podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido.

Questões comentadas

(CESPE/2009 – MMA – Agente Administrativo) A atual CF tem uma clara


expansão dos direitos e garantias fundamentais, em relação aos modelos então
vigentes. A esse respeito, julgue os itens a seguir.

Os direitos e garantias fundamentais encontram-se destacados exclusivamente


no art. 5º do texto constitucional.

( ) Certo ( ) Errado

43
Comentário: errada.

Os direitos fundamentais estão catalogados do art. 5º ao 17° da CF/88.

- Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5).

- Direitos Sociais (art. 6 ao 11).

- Nacionalidade (art. 12 e 13).

- Direitos políticos (art. 14 ao 16).

- Partidos políticos (art. 17).

(CESPE/2011 – STM – Analista Judiciário) Acerca de direito constitucional,


julgue os itens a seguir.

As liberdades individuais garantidas na Constituição Federal de 1988 não possuem


caráter absoluto.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa.

Não há possibilidade de tornar um direito fundamental absoluto, uma vez que


ele encontra limites em outros direitos tão fundamentais quanto ele. Cumpre
destacar que até mesmo o direito à vida é passível de relativização.

44
DIREITO PENAL

CONCEITO DE DIREITO PENAL

O Direito Penal pode ser conceituado segundo diversos aspectos, sendo os


principais:

- Conceito formal: sob o aspecto formal, Direito Penal é um conjunto de normas.

- Conceito material: sob o aspecto material, o Direito Penal é o conjunto de


comportamentos reprováveis.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL

A partir do conceito do Direito Penal, é necessário que se estabeleça quais


são as características fundamentadoras deste ramo do direito. As características
elencadas a seguir tornam o Direito Penal diferente dos demais ramos:

- Finalidade preventiva: as normas penais objetivam prevenir novos delitos.

- Subsidiariedade: o Direito Penal visa proteger bens jurídicos, porém é


instrumento por demais gravoso para ser utilizado indiscriminadamente.
Somente lesões especialmente graves devem ser tuteladas pelo Direito Penal.
Portanto, quando se está diante de uma lesão a um bem jurídico, deve-se avaliar
qual ramo do direito é necessário e proporcional para a reprimenda da conduta,
servindo o Direito Penal como última ratio, ou seja, somente quando os demais
ramos se mostrarem insuficientes.

- Fragmentariedade: decorrendo da subsidiariedade, tem-se que o Direito Penal


somente tutelará parte das condutas e parte dos bens jurídicos, especialmente
aquelas mais graves e aqueles mais valiosos.

45
FUNÇÃO DO DIREITO PENAL

Atualmente, a doutrina moderna divide-se quando o assunto é a função do


Direito Penal. Para a doutrina majoritária (nacional e estrangeira), cujo principal
expoente é Claus Roxin, a missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos.

“Bens jurídicos” são todas as realidades da vida social ou todas as


finalidades que sejam importantes para uma interação pacífica entre as pessoas,
para a realização pessoal de cada um. Ainda, o aparato estatal necessário para o
gozo destas realidades e finalidades. Sendo assim, são bens jurídicos:

(i) realidades sociais e finalidades que permitam a interação/convivência pacífica


entre as pessoas;

(ii) o necessário à realização pessoal dos indivíduos;

(iii) toda a estrutura estatal que dê suporte a isso (tais como a Administração
Pública, a Administração da Justiça, a fé pública etc.).

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Direito Penal é o ramo do direito que visa tratar dos casos mais graves de
conflitos existentes. Por se valer de reprimendas severas, como a pena privativa
de liberdade, deve se ater aos casos que mais afligem a comunidade. Para
tanto, o Direito Penal se vale de normas – regras e princípios – para disciplinar a
comunidade.

Os princípios são fundamentos que norteiam o ordenamento jurídico


(conjunto de leis em sentido amplo) como um todo, podendo ser explícitos
(expressamente previstos) ou implícitos (decorrentes do ordenamento, a partir
da interpretação do aplicador do Direito).

46
PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE

Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade

De acordo com este princípio, nenhum fato pode ser considerado crime,
nem podem ser impostas punições criminais, sem que antes sejam previstos
em lei.

A definição de uma conduta e das penas em lei constitui uma imposição


constitucional (art. 5º, XXXIX, da CF/88), bem como infraconstitucional (art. 1º
do Código Penal). A norma constitucional atual tem redação idêntica àquela
vigente no Código Penal:

“Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal”.

O princípio da legalidade constitui uma restrição real à intervenção do


Estado na esfera de liberdades individuais.

Francisco de Assis Toledo destaca os desdobramentos deste princípio:

a) Lei prévia (lex praevia);

b) Lei escrita (lex scripta);

c) Lei estrita ou taxativa (lex stricta);

d) Lei certa (lex certa).

Esclarecendo os pontos citados:

a) Lei prévia (lex praevia) (exigência de lei anterior): a lei que institui o delito
e comina a pena deve ser anterior ao fato que se pretende punir. Além disso,
somente a lei em sentido estrito pode criar infrações penais e cominar sanções.

47
b) Lei escrita (lex scripta) (hipóteses de exclusão e de admissibilidade dos
costumes): a lei deve ser escrita, portanto, os costumes não podem ditar
comportamentos proibidos, tão pouco podem revogar condutas já tipificadas.
Costume é o comportamento realizado pelas pessoas de forma repetida e
constante de tal forma que passa as ser respeitado e visto como se fosse
obrigatório. Contudo, observe, não podemos incorrer no erro de achar que os
costumes são totalmente proibidos no âmbito penal, eles são especialmente
importantes quando da interpretação dos tipos penais. Por exemplo, o repouso
noturno no delito de furto, o qual será delimitado segundo os costumes da
localidade em que o furto é perpetrado; o repouso noturno de uma capital se dá,
obviamente, em momento diverso de uma pacata cidade do interior.

c) Lei estrita ou taxativa (lex stricta) (exclusão e admissibilidade da analogia): a


lei deve ser taxativa, ou seja, descrever de forma completa, precisa e determinada
as condutas delitivas. Ocorre que, por vezes, o aplicador do direito se vê diante de
uma lacuna no ordenamento jurídico, uma situação que não fora prevista. Como
desdobramento do princípio da legalidade, tem-se que tal lacuna não pode ser
integrada valendo-se do instituto da analogia (utilização de situação semelhante),
quando tal processo trouxer prejuízo ao imputado. Deste raciocínio, a doutrina
delimita que é vedada a analogia in malam partem no Direito Penal. Por outro
lado, aquele que está sujeito a lei penal não pode ser prejudicado em virtude da
omissão do Estado, logo, em seu benefício, pode ser utilizada a analogia (analogia
in bonam partem).

d) Lei certa (lex certa): a lei deve ser clara, não deve deixar margens a dúvidas,
portanto, deve ser evitado o emprego de vocábulos imprecisos ou vagos.

Princípio da anterioridade da lei

O princípio da anterioridade também encontra previsão constitucional, no


art. 5º, XXXIX, bem como infraconstitucional, no art. 1º do Código Penal. Segundo
este princípio, é necessária existência de lei anterior ao cometimento da conduta
para que se possa responsabilizar aquele que a realizou.

48
“Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal”.

O crime e a pena devem estar definidos em lei prévia ao fato cuja conduta se
pretenda punir. Assim, a lei penal somente produzirá efeitos a partir do momento
que entrar em vigor. Consoante o princípio, a lei penal incriminadora não poderá
retroagir para alcançar fatos praticados antes da sua vigência.

Princípio da Intervenção Mínima

O princípio da intervenção mínima, também conhecido como “utima ratio”,


é um princípio constitucional penal implícito, segundo o qual o Direito Penal
somente deve interferir nas relações sociais para resolver os casos mais graves.
E a referida intervenção somente deve acontecer quando os demais ramos do
direito não forem capazes de solucionar a demanda.

Em outras palavras, impõe-se que a tipificação penal de condutas somente


será legitima quando o Direito Penal consubstanciar-se em meio absolutamente
necessário à proteção de bens jurídicos. Além disso, tal proteção, por intermédio
do Direito Penal, somente deve se dar quando absolutamente necessária à
convivência pacífica e harmônica da sociedade.

Princípio da Lesividade ou Ofensividade

Neste contexto da intervenção mínima, o princípio da lesividade ou da


ofensividade ganha especial relevo, o qual reforça a limitação do exercício do
direito de punir estatal. Alinhando-se à função do Direito Penal, de proteção de
bens jurídicos, somente haverá crime quando efetivamente a conduta causar
lesão ou expor tais bens jurídicos a perigo.

49
Princípio da Insignificância

Seguindo a mesma linha de raciocínio inaugurada com o estudo dos princípios


da lesividade ou ofensividade e da intervenção mínima, tem-se o princípio da
insignificância. Dita o princípio: para que a conduta seja materialmente, típica é
necessária uma relevante afronta ao bem jurídico protegido pela norma penal.

Em certos casos, a conduta do agente não atinge suficientemente o bem


jurídico tutelado para justificar a atuação do Direito Penal (atipicidade material),
ainda que a conduta se amolde perfeitamente ao tipo penal (tipicidade formal).
Nestes casos, aplicando-se o princípio da insignificância, tal conduta deixa de
ser considerada crime, sendo considerada materialmente atípica, afastando a
incidência do Direito Penal.

Sem adentrar especificamente nos parâmetros estabelecidos pela


jurisprudência, vamos ao caso concreto para aclarar a compreensão do instituto.
Caso uma pessoa subtraia uma caneta de uma loja, apesar da conduta amoldar-se
perfeitamente no que prescreve o delito de furto (“subtrair, para si ou para outrem,
coisa alheia móvel”), tal conduta não consegue lesionar de forma relevante o bem
jurídico patrimônio da loja, de forma a ensejar a aplicação do Direito Penal. Sendo,
portanto, a cond uta do agente atípica.

Os requisitos (ou vetores) estabelecidos pelo STF para avaliar a conduta e a


eventual aplicação do princípio, com a consequente exclusão da tipicidade são:

(a) mínima ofensividade da conduta;

(b) ausência de periculosidade social da ação;

(c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e

(d) inexpressividade da lesão jurídica.

50
Consoante a análise destes requisitos, extrai-se da jurisprudência as
situações casuísticas que afastam a incidência do princípio como:

(a) condições pessoais do agente - não ser reincidente contumaz, não ser
criminoso habitual;

(b) súmula 599 STJ “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes


contra a Administração Pública”;

(c) em regra não se aplica aos crimes previstos na Lei de Drogas, a exceção
de alguns julgados do STF nos quais houve a aplicação para o art. 28 da Lei
11.343/06 (porte para consumo pessoal);

(d) aplica-se aos crimes de natureza tributária, especialmente ao


descaminho;

(e) STF/STJ: não aplica-se ao contrabando;

(f) em regra, não se aplica ao porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei
10.826/03), mas o STF já aplicou no caso da posse de 1 munição.

Princípio da Alteridade

De acordo com o princípio da alteridade, ninguém pode ser punido por


causar mal apenas a si próprio. Para que a conduta do agente seja considerada
uma infração penal, deve ultrapassar sua esfera de disponibilidade, a exemplo
disso, a autolesão, em regra, não é crime.

51
Doutrina:

Rogério Sanches Cunha nos ensina que: “o princípio da lesividade não se


confunde com o da alteridade, que se fundamenta na impossibilidade de que
alguém seja penalmente responsabilizado por fato que não ultrapasse sua
esfera particular, ou seja, que não cause danos a terceiros. Com fundamento
neste princípio, embora seja possível punir, por exemplo, o induzimento, a
instigação e o auxílio ao suicídio, não se pune a tentativa de suicídio em si,
pois a conduta não ultrapassa a esfera de interesse exclusivo do agente,
não atinge diretamente bem jurídico alheio”.

Princípio da Adequação Social

O princípio da adequação social estabelece que situações consideradas


aceitáveis pela sociedade não podem ser consideradas infrações penais. Logo,
determinadas condutas, apesar de se adequar ao modelo legal, não devem
ser consideradas típicas, se forem socialmente aceitas ou reconhecidas. Em
outras palavras, apesar da conduta do agente se amoldar formalmente a um
tipo penalmente previsto, não há justificativa social para sua punição, já que a
comunidade tolera o comportamento.

ATENÇÃO! O princípio não tem o condão de revogar o tipo penal, ou seja, o crime
continua existindo no ordenamento jurídico (uma lei somente pode ser revogada
por outra lei). O que acontece é a não incidência do tipo penal em determinados
casos concretos.

Jurisprudência:

A jurisprudência dos tribunais superiores já analisou a possibilidade de indecência


do referido princípio, por exemplo, à conduta de vender CDs e DVDs piratas. Tendo
firmado o entendimento de que apesar de comum entre a sociedade, a prática de
vender CDs e DVDs piratas é crime e não se admite a aplicação do princípio da
adequação social.

52
STJ - O Superior Tribunal de Justiça, que já havia pacificado o entendimento
sobre o assunto, editou a Súmula 502, que consolida a questão (“presentes a
materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art.
184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”).

Princípio da Individualização da Pena

Expresso no art. 5º, XLVI, CF/88, o princípio da individualização da pena


determina que a reprimenda penal deve ser particularizada, impondo a cada um
o que lhe cabe, de acordo com o seu comportamento. Deve-se, portanto, ser
considerado não apenas com a norma penal em abstrato, mas sim os aspectos
subjetivos e objetivos do caso concreto, de cada um dos agentes, individualmente,
considerados.

Tal individualização da pena deve se dar nos planos legislativo, judicial e


executório (ou administrativo):

a) Legislativo: o legislador, ao tipificar a conduta e cominar a pena


correspondente, deve legislar com proporcionalidade, considerando a importância
do bem jurídico tutelado e a gravidade da conduta descrita;

b) Jurisdicional: o juiz, ao aplicar a lei ao caso concreto, determinando o


quantum de pena adequável, deve realizar a dosimetria da pena se atendo às
circunstâncias do caso concreto, fixando a pena de acordo com a reprovabilidade
individual dos atos praticados pelo autor, consoante os ditames do art. 59 do CP.

c) Executório (ou administrativo): por fim, quando da execução da pena


imposta, o Estado deve ater-se às particularidades do preso condenado, a
individualização da pena irá incidir nas questões de progressão e regressão do
regime prisional, como também nas concessões de outros benefícios.

53
Princípio da Confiança

Segundo o princípio da confiança, as pessoas podem e devem confiar que


o comportamento dos outros se dará dentro das regras, de forma responsável e
condizente com o ordenamento jurídico, evitando-se, assim, prejuízos a terceiros.
Não se exige, portanto, que os indivíduos vivam desconfiados.

Princípio da Humanidade

Decorre do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88),


princípio base do Estado Democrático de Direito. De acordo com este princípio,
todo ser humano deve ser respeitado e tratado de forma digna. Ademais,
preconiza que é inconstitucional a criação de tipos penais ou penas que violem a
incolumidade física ou moral.

Princípio da Pessoalidade ou Intranscendência da Pena

De acordo com o Princípio da Pessoalidade ou Intranscendência da Pena,


a pena não deve passar da pessoa do condenado, ou seja, ninguém pode ser
responsabilizado por fato cometido por terceiros, conforme apregoa o art. 5º, XLV,
CF/88. Segundo o Supremo Tribunal Federal, o postulado da intranscendência
impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão
estritamente pessoal do infrator.

Assim, o princípio da intranscendência da pena determina que nenhuma


pena passará da pessoa do condenado. Convém, contudo, ressaltar que a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido (herança).

Dita o art 5º, XLV, da CF/88 que “Nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento
de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido”.
54
Quebrando as bancas (dicas diretas, assertivas e objetivas):

1) Princípio da Legalidade: tal princípio se aplica às contravenções e medida


de segurança; impede a criação de crimes por meio de medida provisória; impede
incriminação genérica por meio de tipos imprecisos e está previsto no texto
constitucional vigente.

2) O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas


penais incriminadoras, ou seja, os tipos penais de tal natureza somente podem
ser criados por meio de lei em sentido estrito.

3) Por lei em sentido estrito devemos entender: lei complementar e lei


ordinária (emanadas do Poder Legislativo). Lei em sentido amplo: medida
provisória, decretos, etc. (emanadas de um órgão que tenha poder para legislar,
mesmo que não seja do Poder Legislativo).

4) O princípio da legalidade compreende a obediência às formas e aos


procedimentos exigidos na criação da lei penal e, principalmente, na elaboração
de seu conteúdo normativo.

5) É inaplicável o princípio da insignificância aos crimes contra a administração


pública.

6) A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito.

7) Não é possível a edição de medida provisória que verse sobre Direito


Penal. O Supremo Tribunal Federal já admitiu o uso de Medida Provisória para as
normas penais benéficas (as que abolem crimes, abrandam penas, etc.).

8) A analogia somente pode ser utilizada em Direito Penal para beneficiar o


réu.

55
9) É vedada a analogia para criar tipo penal incriminador, entretanto, é possível
a utilização da analogia para alterar a pena, desde que seja para beneficiar o réu.

10) STJ - Súmula 599: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes


contra a administração pública.

11) Princípio da intervenção mínima: o Direito Penal somente deverá


cuidar da proteção dos bens mais relevantes e imprescindíveis à vida social.
Lembrando que o princípio da intervenção mínima é composto pelo princípio da
fragmentariedade e subsidiariedade.

12) O princípio da reserva legal aplica-se, de forma absoluta, às normas


penais incriminadoras, excluindo-se de sua incidência as normas penais não
incriminadoras.

13) O princípio da fragmentariedade determina que o Direito Penal somente


tutele uma pequena fração dos bens jurídicos protegidos, operando nas hipóteses
em que se verificar lesão ou ameaça de lesão mais intensa aos bens de maior
relevância.

14) No Direito Penal, o princípio da irretroatividade da lei não se aplica de


forma absoluta, já que é possível a retroatividade benéfica da lei penal.

Questões comentadas

(CESPE/2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal) O art. 1.º do Código Penal


brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena
sem prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões


jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue.

56
A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é
proibida, em caráter absoluto, a analogia no Direito Penal, seja para criar tipo
penal incriminador, seja para fundamentar ou alterar a pena.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito
✅  , razão por que é proibida, em caráter absoluto, a analogia no Direito Penal
❌  , seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar ou alterar a
pena.✅

A analogia (forma de integração de lacunas legislativas) é vedada em Direito


PenalDireito Penal quando prejudicar o imputado. Porém, tal vedação não tem
caráter absoluto, a analogia in bonam partem (em benefício do imputado) é
permitida.

(CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal) Com relação aos princípios,
institutos e dispositivos da parte geral do Código Penal (CP), julgue os itens
seguintes.

O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas penais


incriminadoras, ou seja, os tipos penais de tal natureza somente podem ser
criados por meio de lei em sentido estrito.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. Vamos relembrar? Conforme desdobramento do princípio da


legalidade, a lei que institui o delito e comina a pena deve ser anterior ao fato
que se pretende punir (lei prévia ou lex praevia). Além disso, somente a lei em
sentido estrito pode criar infrações penais e cominar sanções.

57
(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) A respeito de princípios gerais do
direito penalDireito Penal, julgue o item seguinte.

Em caso de urgência, a definição do que é crime pode ser realizada por meio de
medida provisória.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada.

Nesta questão a CESPE novamente aborda a necessidade de lei em sentido


estrito para a criminalização de condutas.

58
No âmbito do direito constitucional brasileiro, a Medida Provisória é um ato
unipessoal do presidente da República, com força de lei, editada sem, a
princípio, a participação do Poder Legislativo, que somente será chamado a
discuti-la e aprová-la em momento posterior.

Em que pese não haver consenso na doutrina sobre a natureza jurídica nas
Medidas Provisórias, é consenso que elas não podem criar crimes, nem cominar
penas. 

A medida provisória, embora tenha força de lei, com ela não se identifica
inteiramente.

Esta é ato oriundo do Poder Legislativo, resultante da representação popular. Já


aquela, é manifestação de vontade do Presidente da República quando verificar as
hipóteses previstas no artigo 62, caput, da Constituição Federal. Por tais razões, e
em obediência aos princípios da separação dos poderes (art. 2º) e o da legalidade
(artigo 5º, inciso XXXIX), ambos da Constituição Federal, as normas de natureza
penal somente podem ser editadas através de lei em sentido estrito, única fonte
formal imediata do Direito Penal.

A Constituição Federal prevê:

“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 

Relativa a: 

(…) 

b) Direito Penal, processual penal e processual civil”.

Embora haja expressa vedação à edição de medidas provisórias sobre


material penal, há uma corrente que defende que a medida provisória poderá tratar
de matéria penal caso beneficie o réu. Nesta linha, o Supremo Tribunal Federal já
admitiu o uso de Medida Provisória para as normas penais benéficas. 

59
Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal, extraída
pela doutrina consensual da interpretação sistemática da Constituição, não
compreende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes
restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de
isenção de pena ou de extinção de punibilidade. [RE 254.818, rel. min. Sepúlveda
Pertence, j. 8-11-2000, P, DJ de 19-12-2002.]

DOS CRIMES CONTRA A HONRA


Os crimes contra honra são crimes de dano, cuja consumação reclama uma
efetiva lesão ao bem jurídico honra, objetiva ou subjetiva. A doutrina denomina
honra objetiva o juízo que terceiros fazem acerca dos atributos de alguém, por sua
vez, honra subjetiva o juízo que determinada pessoa faz acerca de seus próprios
atributos.

Tratam-se de crimes formais, de consumação antecipada, visto que, apesar


da previsão de resultado naturalístico, a consumação se dá com a prática do
verbo núcleo do tipo, sendo o resultado naturalístico mero exaurimento.

Ressalta-se que deve haver seriedade na conduta do agente consistente na


prática dos crimes contra a honra (DOLO + PROPÓSITO DE OFENDER). Ademais,
o elemento subjetivo do delito é o dolo, ainda, o dolo específico, não se admitindo
o dolo genérico. Por essa razão, a intenção de brincar (animus jocandi), ou a
mera narrativa por parte daquele que testemunha ou se defende dos fatos,
desacompanhada da vontade de ofender, afastam a incidência dos crimes contra
a honra.

São crimes contra a honra:

60
MACETE!!!!

CALÚNIA 138

DIFAMAÇÃO 139

INJURIA 140

Em ordem alfabética, as seis seguintes afirmações estão ligadas


aos dois primeiros crimes (calúnia e difamação):

1) Atinge a honra objetiva;

2) Para a consumação, terceiro tem que tomar conhecimento;

3) A conduta depende da descrição de um fato concreto


(calúnia: falso e criminoso difamação: não precisa ser falso e
não é criminoso);

4) Não se admite o perdão judicial;

5) Admitem exceção da verdade (calúnia: regra difamação:


exceção, só cabe se é funcionário público e se o fato se
relaciona com as funções);

6) Admite-se a retratação quando de ação privada.

CALÚNIA
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

61
• Objeto material: ser humano.

• Núcleo: caluniar.

• Sujeito ativo: qualquer pessoa.

• Sujeito passivo: qualquer pessoa.

• Consumação: momento em que a imputação falsa de crime chega ao


conhecimento de terceira pessoa, sendo irrelevante se a vítima tomou ou não
ciência do fato.

- Classificação: crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), formal
(apesar de prevista, não se requer a ocorrência resultado para sua consumação);
de dano (reclama a efetiva lesão em bem jurídico tutelado); de forma livre (pode
ser praticado pelos mais diversos modos); em regra, comissivo (conduta descrita
por uma ação); instantâneo (marcada sua consumação no tempo); em regra,
unissubjetivo (pode ser praticado por um só agente); em regra, unissubsistente (na
sua forma mais comum, oral, seus atos executórios não podem ser fracionados,
não se admitindo, portanto, a tentativa).

- A auto calúnia é crime? Não é crime contra honra, pois não se pune a autolesão.
Contudo, a depender dos elementos concretos, pode caracterizar o crime de
autoacusação falsa, crime contra a administração da justiça, fulcro no art. 341
do CP.

- Atribuição antecipada de culpa pelo agente público e abuso de autoridade: se


a conduta ofensiva a honra objetiva da vítima consistir na atribuição antecipada
de culpa pelo responsável pelas investigações, mediante meio de comunicação
(inclusive redes sociais), antes de concluídas as apurações e formalizada a
acusação, estará configurado crime de abuso de autoridade, tipificado no art. 38
da Lei 13.869/19.

- É possível a imputação dos crimes de calúnia, injúria e difamação, ao mesmo


tempo, ao agente que pratica as três condutas de forma individualizada, ainda
que mediante a divulgação de uma única carta (STJ, informativo 557).

62
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou
divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

- Atenção! Não há proteção à família do morto quanto aos crimes de difamação


e injúria, somente quanto à calúnia (hipótese de dano reflexo).

EXCEÇÃO DA VERDADE
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 (contra


o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro);

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível.

A exceção da verdade é um incidente processual concedido ao réu a fim


de provar que os fatos por ele imputados são verdadeiros.

Cabe destacar que a exceção de verdade na DIFAMAÇÃO conduz à exclu-


são de ilicitude, enquanto na CALÚNIA há excludente de tipicidade, se julgada
procedente.

Exceção de verdade (natureza jurídica: meio de defesa) é regra diante da


calúnia (inclusive na calúnia contra os mortos). Sendo inadmissível na injúria.

63
DIFAMAÇÃO
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena -
detenção, de três meses a um ano, e multa.

• Objeto material: ser humano.

• Núcleo: difamar.

• Sujeito ativo: qualquer pessoa.

• Sujeito passivo: qualquer pessoa.

• Consumação: quando terceira pessoa toma conhecimento da ofensa dirigida à


vítima.

• Classificação: crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa),


formal (apesar de prevista, não se requer a ocorrência resultado para sua con-
sumação); de dano (reclama a efetiva lesão em bem jurídico tutelado); de forma
livre (pode ser praticado pelos mais diversos modos); em regra, comissivo (con-
duta descrita por uma ação); instantâneo (marcada sua consumação no tempo);
em regra, unissubjetivo (pode ser praticado por um só agente); em regra, unissub-
sistente (na sua forma mais comum, oral, seus atos executórios não podem ser
fracionados, não se admitindo, portanto, a tentativa).

• A difamação consiste na imputação de fato ofensivo à reputação da ví-


tima. Crime que tutela a honra objetiva. Na difamação, o fato pode ser falso ou
verdadeiro, desde que ofensivo, já que ninguém poderá atuar como censor da
vida alheia (Nelson Hungria).

• Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo no qual


o discurso da vítima seja editado. Configura difamação a conduta do agente que
publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do orador é editada, trans-
mitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição
de um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com
o objetivo de difamar a honra de uma pessoa, configura dolo da prática criminosa.
Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada por Deputado Fe-

64
deral, não estará protegida pela imunidade parlamentar. Caso concreto: durante
a reunião de uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte
frase: “tem um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de se-
gurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais
perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que
está impregnado na gente”. O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua pá-
gina no Facebook, um vídeo no qual o discurso de Jean Wyllys é editado. No vídeo
publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e ouve-se apenas: “Uma
pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma
pessoa branca de classe média”. Para o STF, essa conduta configurou o crime de
difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
18/8/2020 (Info 987).

EXCEÇÃO DA VERDADE
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
- A exceção da verdade alcança o funcionário público que está aposentado,
se o fato a ele imputado relacionar-se ao período que ele ainda estava em exercí-
cio.
- Ação penal: Súmula 714 do STF “É concorrente a legitimidade do ofendi-
do, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do
ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão
do exercício de suas funções”.

INJÚRIA
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção,
de um a seis meses, ou multa.

• Objeto material: ser humano.

• Núcleo: injuriar.

65
• Sujeito ativo: qualquer pessoa.

• Sujeito passivo: qualquer pessoa.

• Consumação: quando a vítima toma conhecimento da ofensa.

• Classificação: crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa),


formal (apesar de prevista, não se requer a ocorrência resultado para sua con-
sumação); de dano (reclama a efetiva lesão em bem jurídico tutelado); de forma
livre (pode ser praticado pelos mais diversos modos); em regra, comissivo (con-
duta descrita por uma ação); instantâneo (marcada sua consumação no tempo);
em regra, unissubjetivo (pode ser praticado por um só agente); em regra, unissub-
sistente (na sua forma mais comum, oral, seus atos executórios não podem ser
fracionados, não se admitindo, portanto, a tentativa).

• Tutela a honra subjetiva e se caracteriza pela ofensa à dignidade ou o


decoro da vítima.
• Ainda que a imputação de fato atraia a análise dos delitos de difamação
e calúnia, se o fato imputado é genérico, indeterminado, vago, estará configurado
o delito de injúria.

• Auto injuria em regra não é crime, somente é crime quando a expressão


ultrapassar a orbita da personalidade do indivíduo. Ex. “sou corno”.

• O crime de injúria é incompatível com a exceção da verdade, sendo irrele-


vante a natureza falsa ou verdadeira da ofensa.

• Injúria contra funcionário público x Desacato: se ofensa é realizada na


presença do funcionário público, no exercício da função, ou em razão dela, não
se trata de simples agressão à sua honra, mas de desacato (crime contra a admi-
nistração pública). Contudo, caso a ofensa seja irrogada na sua ausência ou sem
qualquer ligação com suas funções o crime será o de injúria.

66
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Injúria Real

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou


pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à


violência.

- A violência aqui é infligida para ofender a honra da pessoa vítima, a


exemplo de um tapa, um cuspe no rosto, etc.

- A ação penal ao crime de injuria real corresponde àquela prevista para a


modalidade de lesão corporal praticada.

Injúria preconceituosa

§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,


religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

- Como diferenciar a injúria preconceituosa do crime de racismo do art. 20, da


Lei 7716/89?

67
A injúria preconceituosa atinge a honra subjetiva do indivíduo, sem que haja
agressão direta à coletividade (ex. seu preto safado) que detém as características
da vítima. Já o crime de racismo, disposto no art. 20, da Lei 7716/89, a manifestação
busca agredir a coletividade: “Só podia ser preto mesmo”; “Você faz parte de uma
sub-raça!”.

Injúria: o conteúdo racial é meio intensificador da ofensa à honra subjetiva de


pessoa determinada. Exemplo: agente diz para o prestador de serviços: “que
serviço mal feito, só poderia ter sido realizado por um negro mesmo”.

Racismo: ordem inversa – injúria é crime meio para o crime discriminatório


(enaltecer uma diferença ou superioridade decorrente de fator racial, de credo,
nacionalidade, etc.). Normalmente, é dirigido a uma coletividade. Exemplo:
atendente fala para uma pessoa negra que ela não poderá ser atendida, já
que naquele estabelecimento não se atende pessoa preta. Isso é praticar a
discriminação, o que caracteriza crime de racismo.

→ Atenção para a distinção de tratamento processual: crime de racismo é


inafiançável, imprescritível e de ação penal pública incondicionada.

Disposições comuns

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:

I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

II - contra funcionário público, em razão de suas funções;

III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da


calúnia, da difamação ou da injúria.

IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,


exceto no caso de injúria (por constituir forma qualificada).

68
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-
se a pena em dobro. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes


sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

Exclusão do crime

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;

- Em regra, o advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria ou


difamação puníveis a sua manifestação, no exercício de sua atividade, em juízo ou
fora dele, ainda que contra o magistrado. STJ. 5ª Turma. HC 202059-SP, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/2/2012 (Info 491). Não alcança a calúnia.

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando


inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou


informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação
quem lhe dá publicidade.
publicidade

- Ressalta-se que o Código Penal não prevê estas formas de exclusão do crime
para o delito de calúnia.

- Natureza jurídica: causas especiais excludente da ilicitude (hipóteses especiais


de estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito).

69
Retratação

Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou


da difamação, fica isento de pena.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a


difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

- Natureza jurídica: causa de extinção da punibilidade.

- Cabível exclusivamente na calúnia e na difamação, quando os crimes de


processarem por ação penal privada.

- Em regra, é ato unilateral, mas se praticados pelos meios de comunicação


é necessária a oitiva da vítima, para saber se ela deseja que a retratação de dê
pelos mesmos meios.

- A retratação da calúnia ou da difamação, feita antes da sentença, acarreta


a extinção da punibilidade do agente independente de aceitação do ofendido. A
retratação não é ato bilateral, ou seja, não pressupõe aceitação da parte ofendida
para surtir seus efeitos na seara penal, porque a lei não exige isso. O Código,
quando quis condicionar o ato extintivo da punibilidade à aceitação da outra parte,
o fez de forma expressa, como no caso do perdão ofertado pelo querelante depois
de instaurada a ação privada. O art. 143 do CP exige apenas que a retratação seja
cabal, ou seja, deve ser clara, completa, definitiva e irrestrita, sem remanescer
nenhuma dúvida ou ambiguidade quanto ao seu alcance, que é justamente o de
desdizer as palavras ofensivas à honra, retratando-se o ofensor do malfeito. STJ.
Corte Especial. APn 912/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 03/03/2021 (Info
687).

Pedido de explicações

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou


injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

70
- Caso a narrativa seja dúbia, gerando dúvida quanto ao que a pessoa
realmente quis dizer, quem se julga ofendido pode pedir explicações. Estas devem
ser feitas em juízo e o juiz é o responsável por determinar o que a pessoa quis
dizer, se realmente era ofensivo ou se não passou de um mal entendido.

Ação Penal

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do


inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido,
no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033. de 2009)

Em regra, os crimes contra a honra são de AÇÃO PENAL PRIVADA.

EXCEÇÕES:

1) Ofensa contra o P. da República ou Chefe de Governo Estrangeiro teremos


hipótese de crime de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro
da Justiça;

2) Ofensa contra funcionário público no exercício de sua função temos


competência concorrente deste mediante queixa e do MP mediante representação
da vítima. (Súmula 714 STF); uma exclui a outra, denomina-se esta espécie de
ação penal alternativa ou secundária (não confundir com subsidiária).

3) No caso de injuria real, a modalidade da ação penal segue aquela


compatível com a violência suportada pela vítima. Na injuria real através de vias
de fato, a ação é privada, pois entende-se que as vias de fato são absorvidas pela
injúria. No caso da injúria real através da lesão corporal, a ação penal dependerá
da ação penal correspondente à gravidade da lesão.

4) Na injúria preconceituosa, a ação é pública condicionada à representação,


consoante art. 145, parágrafo único, do Código Penal (CP).

71
Questões comentadas

(CESPE/2022 – PC-RO – Delegado - adaptada) No que concerne aos crimes


contra a honra, a calúnia contra os mortos é impunível, por se tratar de crime
impossível.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. A calúnia contra os mortos está prevista no artigo 138, § 2º,
do Código Penal.

(CESPE/2022 – PC-RO – Delegado - adaptada) No que concerne aos crimes


contra a honra, não se admite o instituto da retratação nos crimes de calúnia e
difamação.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. É permitida a retratação nos crimes de calúnia e difamação.

CP - Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


calúnia ou da difamação, fica isento de pena.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou


a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se
assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

(CESPE/2022 – PC-RO – Delegado - adaptada) No que concerne aos crimes


contra a honra, no delito de injúria, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se o
ofendido, de forma reprovável, provocar diretamente a ofensa.

( ) Certo ( ) Errado

72
Comentário: certa. CP - Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode
deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria.

73
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Espécies de prisão

Para o objetivo de nosso pequeno resumo aqui, queremos que você


memorize a seguinte diferenciação: prisão em flagrante x prisão pena x prisão
preventiva.

Veja a notícia abaixo:

Quando tratamos desse tipo prisão, noticiada acima, em que alguém é


preso cometendo um crime, estamos diante da chamada prisão em flagrante.
A prisão em flagrante é bastante corriqueira no serviço policial das instituições
ostensivas, como a PRF e as Polícias Militares.

No caso acima, em que o sujeito foi preso em flagrante por tráfico de drogas,
ele ainda não foi condenado. Deverá ele responder ao processo criminal para,
depois de condenado, ser efetivamente preso (aí estaríamos diante da chamada
“prisão pena”).

74
Antes da prisão pena, pode o sujeito ser preso também por uma “prisão
preventiva”, por determinação do poder judiciário. A prisão preventiva é uma
modalidade de prisão processual, determinada exclusivamente pelo juiz quando
presente os requisitos previstos em lei.

Para você distinguir bem as prisões mencionadas, vamos a um exemplo.

João foi preso pela PRF por estar dirigindo embriagado (crime de trânsito
previsto no art. 306 do CTB) e matar, culposamente, um pedestre. Trata-se de
hipótese de prisão em flagrante. Após efetuada a prisão e passado algum tempo,
cessado o risco social, possivelmente João será solto para responder ao processo
em liberdade. Será preso novamente após a condenação criminal (prisão pena).

Agora imagine outra situação: Pedro, conhecido assaltante de banco e


foragido do sistema prisional pelo cometimento de diversos homicídios, comete
novo assalto. Na fuga, é preso pela PRF (prisão em flagrante). Em razão do
elevado risco que o indivíduo representa para a sociedade se estiver solto, pede-
se a prisão preventiva de Pedro, para que ele não se livre solto após o flagrante, e
permaneça preso até sua condenação criminal. Após a condenação, Pedro passa
então da prisão preventiva para a prisão pena.

PRISÃO EM FLAGRANTE
Quando estudamos a prisão em flagrante, é necessário que se atente ao
art. 302 do Código de Processo Penal, que assim dispõe sobre o tema:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

Flagrante Próprio

I - está cometendo a infração penal (próprio);

II - acaba de cometê-la (próprio);

75
FLAGRANTE IMPRÓPRIO
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração (impróprio,
imperfeito ou quase flagrante);

FLAGRANTE PRESUMIDO
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração (presumido, assimilado ou ficto).

Em resumo, quando alguém pratica um crime, será ele preso se a polícia o pegar
em flagrante. Mas o que é flagrante? Vamos aos diversos tipos de flagrante:

- Flagrante próprio (ou real ou verdadeiro ou propriamente dito): o indivíduo está


cometendo a infração ou acaba de cometer o fato.

- Flagrante impróprio: o indivíduo não é encontrado no local do fato, mas se inicia


uma busca imediata ao indivíduo (perseguição), acabando ao final por ser preso.

- Flagrante Presumido: o indivíduo é encontrado com objetos do crime que fazem


presumir que foi o autor do delito. Não necessita ter ocorrido perseguição.

- Flagrante Provocado: é um flagrante inválido, tratando-se de crime impossível.

- Flagrante Forjado: é um flagrante inválido que se refere a um fato que não


ocorreu, mas criado para incriminar o indivíduo.

Quem efetua prisão em flagrante?

- Qualquer do povo poderá (flagrante facultativo); e

76
- As autoridades policiais e seus agentes deverão prender (flagrante obrigatório)
quem quer que seja encontrado em flagrante delito.

Não podem ser presos em flagrante:

- Menores de 18 anos (entre 12 e 18 podem ser apreendidos, mas não


presos – ECA).

- Presidente da República.

- Deputados Federais e Senadores: só podem ser presos em flagrante de


crime inafiançável.

- Juiz e membro do MP: só podem ser presos em flagrante de crime


inafiançável.
- Diplomatas estrangeiros.

- Aquele que, após cometer o delito, apresenta-se espontaneamente à


autoridade policial.

- O autor de crime de menor potencial ofensivo só será preso se recusar


comparecer ao juizado ou se negar a assumir o compromisso de comparecer em
juízo.

Disposições legais

- Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor


(aquele que efetuou a prisão) e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando
a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à
oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.

- A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em


flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas
pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.

77
- Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo,
o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham
ouvido sua leitura na presença deste.

- A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre


serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

Quando alguém é preso em flagrante, no prazo de entrega da chamada “nota


de culpa” ao preso (24h horas), o juiz deverá convertê-la em prisão preventiva (se
presente os requisitos e pressupostos) ou deverá aplicar as medidas cautelares.
Caso contrário, a prisão será considerada ilegal.

Uma exceção: ficará preso preventivamente aquele que for preso em


flagrante que seja reincidente em crime doloso.

Quando recebida a comunicação da prisão em flagrante, o juiz deverá:

- Relaxar a prisão, se ilegal (ausente os requisitos e pressupostos da


preventiva ou não for cabível medida cautelar);

Conceder a Liberdade Provisória com ou sem Medida Cautelar;

- Converter em Prisão Preventiva.

A prisão em flagrante possui natureza “precautelar”. Trata-se, portanto,


de uma ferramenta de preservação da segurança social. Retira-se um indivíduo
perigoso de circulação (encarcedando-o), com respaldo nos seguintes dispositivos:
art. 5º, LXI, da CF, e nos artigos 301 a 310 do CPP.

78
Importante:

A partir da Lei nº 13.961/2019, a prisão em flagrante perdeu status de prisão


cautelar, pois foi consolidado a necessidade de realização de audiência de
custódia, antes que o indivíduo seja recolhido à prisão, conforme disposto no art.
310 do Código de Processo Penal (CPP).

Veja:

CPP - Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de
até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou
membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência,
o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Quebrando as bancas:

→ Uso de algemas, conforme STF -> PRF = Perigo, Resistência ou Fuga

- Só é lícito o uso de algemas em caso de Resistência e de fundado receio de


Fuga ou de Perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

79
Questões comentadas

(CESPE/2021 – PC-DF – Escrivão) Acerca da prisão, julgue o item que se segue.

Ainda que não haja testemunhas da infração penal, poderá ser realizado o auto de
prisão em flagrante, caso em que o auto deverá ser assinado por duas testemunhas
da apresentação do preso à autoridade e pelo condutor do flagrante.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. CPP - Art. 304, §  2º do CPP.  A falta de testemunhas da


infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o
condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado
a apresentação do preso à autoridade.

(CESPE/2021 – PC-DF – Agente) No que se refere ao autor do fato criminoso e


ao processo penal brasileiro, julgue o próximo item.

Mesmo que não ocorra perseguição, haverá flagrante delito quando o agente for
encontrado logo depois da infração com o instrumento do crime em situação
em que se presuma ter sido ele o autor da infração.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa.

CPP - Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

Flagrante Próprio

I - está cometendo a infração penal (próprio);

II - acaba de cometê-la (próprio);

80
Flagrante Impróprio

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração (impróprio,
imperfeito ou quase flagrante);

Flagrante Presumido

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que


façam presumir ser ele autor da infração (presumido, assimilado ou ficto).

DAS PROVAS

O que é prova:

- O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em


contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares não repetíveis e antecipadas.

- Inquérito policial colhe elementos informativos (não é prova, como regra).

- Prova é aquela produzido sob contraditório judicial.

- O Brasil NÃO adotou o sistema taxativo da prova (como regra) no CPP.

- O CPP traz uma lista de provas. Porém, a doutrina admite outras provas,
como vídeos (provas inominadas), desde que respeitem as regras constitucionais.

81
Há fatos que não precisam ser provados:

- Fatos notórios: todos sabem.

- Presunção legal: a lei presume que tenha sido de tal forma.

Requisitos da prova e ônus da prova:

A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de


ofício:

- ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada


de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida;

- Há quem dia que esta medida está tacitamente revogada, pois o juiz
não poderia mais agir de ofício (sem quem alguém peça a ele) desde o pacote
anticrime.

- determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de


diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Provas ilícitas:

São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas


ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou
legais.

Exemplo: busca e apreensão sem ordem judicial.

82
São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas (teoria dos frutos
da árvore envenenada), salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade
entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras.

Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites


típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.

Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível,


esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o
incidente.

MEIOS DE PROVA (OS MAIS RELEVANTES):

Cadeia de custódia

Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado
em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir
de seu reconhecimento até o descarte.

A cadeia de custódia tem início:

- Com a preservação do local do crime;

- Ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a


existência de vestígio.

O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse


para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
83
É o caso do PRF que se depara com uma cena de crime. Ele deverá isolar o
local para preservar o ambiente.

Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou


recolhido, que se relaciona à infração penal.

A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito


oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo
quando for necessária a realização de exames complementares.

É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer


vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável,
sendo tipificada como fraude processual a sua realização.

EXAME DE CORPO DE DELITO E PERÍCIAS


Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Não sendo possível o exame de corpo de delito, por terem desaparecido os


vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Para a jurisprudência, não só a prova testemunhal, mas qualquer prova


pode suprir o exame, quando desaparecidos os vestígios.

Nos crimes de menor potencial ofensivo, o exame de corpo de delito está


dispensado quando a inicial acusatória vier acompanhada de boletim médico (ou
prova equivalente) atestando o fato.

84
Será dada prioridade ao exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva:

- Violência doméstica e familiar contra a mulher;

- Violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Exige-se no exame de corpo e delito:

- Um perito oficial; ou

- Dois peritos não oficiais.

O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em


parte (sistema liberatório de apreciação da prova pericial).

CONFISSÃO

- A confissão não pode ser feita por procurador.

- Não se admite confissão tácita.

- Pode ser extrajudicial, mas terá menor valor probatório.

85
A confissão será divisível (pode valer só para uma parte da conduta) e
retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das
provas em conjunto.

PROVA DOCUMENTAL

A fotografaria do documento, devidamente autenticada, tem o mesmo valor


do original.

INDÍCIOS

Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo


relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
outras circunstâncias.

BUSCA E APREENSÃO

A busca e apreensão é utilizada por se obter uma prova.

Pode ocorrer na fase judicial ou na investigação policial.

Pode ser determinada de ofício (pelo juiz) ou a requerimento de qualquer


das partes.

A carta aberta pode ser objeto de busca e apreensão (segundo doutrina


majoritária).

As buscas domiciliares serão executadas de dia (do nascer ao por do sol),


salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na
casa, os executores mostrarão o mandado ao morador, ou a quem o represente,
intimando-o, em seguida a abrir a porta. Vale a mesma ideia quando se tiver
de proceder a busca em compartimento habitado ou em aposento ocupado de

86
habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público, onde alguém
exercer profissão ou atividade (exemplo: consultório particular, quarto de hotel,
etc).

- Boleia de caminhão: segundo o STJ, arma apreendida no interior da boleia


do caminhão tipifica o crime de porte ilegal de arma de fogo, não considerando o
veículo como casa (se considerasse como casa, o crime seria de posse).

Quando ausentes os moradores, qualquer vizinho, se houver presente, será


intimado para assistir a diligência.

BUSCA PESSOAL (muito importante para PRF, pois faz parte do dia a dia)

É realizada quando há fundada suspeita para encontrar arma proibida ou


determinados objetos.

Não se exige ordem judicial. Exemplo: equipe da PRF em ronda visualiza uma
pessoa suspeita, com um volume na cintura com contornos de uma pistola, em
um local de alto índice de criminalidade. Será feita a busca pessoal no indivíduo e
em seus pertences, e inclusive no veículo de eventual suspeito (havendo fundada
suspeita).

A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento
ou prejuízo da diligência.

O CESPE/CEBRASPE considerou corretas as seguintes assertivas:

- CPP não admite as provas ilícitas, determinando que devem ser


desentranhadas do processo as obtidas com violação a normas
constitucionais ou legais, inclusive as derivadas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando
as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente.

87
- Provas obtidas por meios ilícitos podem excepcionalmente ser
admitidas se beneficiarem o réu.

- A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores


pode ser usada como prova, mesmo que tenha sido feita sem qualquer
autorização ou sem o conhecimento de quem estava na outra ponta
da linha.

- A teoria dos frutos da árvore envenenada, de origem norte- americana


e consagrada na CF, proclama a mácula de provas supostamente
lícitas e admissíveis, obtidas, todavia, a partir de provas declaradas
nulas pela forma ilícita de sua colheita.

Questões comentadas

(CESPE/2021 – PF – Escrivão) Com relação ao direito penal e ao direito processual


penal, julgue o item que se segue.

Armazenamento consiste no procedimento de embalar, de forma individualizada,


cada vestígio coletado, de acordo com suas características físicas, químicas e
biológicas, para análise posterior.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. CPP - Art. 158-B, IX do CPP. armazenamento: procedimento


referente à  guarda, em condições adequadas, do material a ser processado,
guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com
vinculação ao número do laudo correspondente.

88
(CESPE/2021 – PF – Delegado) Quanto à prova criminal, julgue o item que se
segue.

Na ausência de um perito oficial, a perícia pode ser feita por duas pessoas
idôneas portadoras de curso superior, preferencialmente com habilitação técnica
relacionada à natureza do exame.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. CPP - Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias
serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.

1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

(CESPE/2018 – MPE-PI – Analista) Durante uma festa, após desentendimentos


entre Carlos e Miro, este proferiu xingamentos racistas contra aquele, o que levou
Carlos a empurrar seu agressor, que caiu em uma mesa de vidro. Com o forte
impacto, a mesa se despedaçou completamente e seus cacos causaram cortes
profundos por todo o corpo de Miro. Os convidados ligaram para a polícia e para
o corpo de bombeiros: Carlos foi preso em flagrante e Miro foi encaminhado
ao hospital, onde ficou internado por cinco dias, com risco de morte; passou
por procedimentos cirúrgicos e, posteriormente, teve de ficar afastado de sua
atividade laboral por trinta e dois dias. O Ministério Público denunciou Carlos por
lesão corporal de natureza grave.

Nessa situação hipotética, mesmo que Carlos confesse o crime, esse ato não
suprirá a necessidade do laudo pericial para comprovar a materialidade do crime
e a gravidade das lesões sofridas por Miro.

( ) Certo ( ) Errado

89
Comentário: certa. CPP - Art.  158.    Quando a  infração deixar vestígios, será
INDISPENSÁVEL o exame de corpo de delito, direto ou indireto, NÃO podendo
supri-lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito


quando se tratar de crime que envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

90
DIREITO ADMNISTRATIVO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Estado - Noções Gerais

De acordo com o Barão Montesquieu (nobre pensador Francês), a vontade


estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado.
Os Poderes de Estado, na tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos
Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e
harmônicos entre si e com suas funções indelegáveis (CF, art. 2º).

O Estado Brasileiro é um Estado Federal, onde sua organização política


era dual, abrangendo unicamente a União (detentora da Soberania) e os Estados-
membros ou Províncias. Atualmente, a nossa Federação compreende a União, os
Estadosmembros, o Distrito Federal e os Municípios, que também são entidades
estatais, com autonomia política reconhecida pela Constituição da República
(art. 18), embora em menor grau que a dos Estados-membros (art. 25). De acordo
com art. 18 da Constituição da República, nossa Federação, é formada pelas
seguintes entidades estatais: a União, os Estadosmembros, os Municípios e o
Distrito Federal.

Governo é o direcionamento político dos negócios públicos. Ora se


identifica com os Poderes e órgãos supremos do Estado, ora se apresenta nas
funções originárias desses Poderes e órgãos como manifestação da Soberania.
A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de comando, de
iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica
vigente.

O Governo atua mediante atos de Soberania ou, pelos menos, de autonomia


política na condução dos negócios públicos.

91
A definição da palavra Estado varia segundo o enfoque em que é
considerada. Sociologicamente falando, trata-se da porção de terra que possui
um poder de mando inicial; sob o viés político, é comunidade de pessoas fixada
sobre um território, com poder de agir, de ordenar e de coagir; sob o enfoque
constitucional, é pessoa jurídica de direito público soberana e de acordo com o
Código de Civil Brasileiro, em seu artigo 41, trata-se da pessoa jurídica de Direito
Público Interno (art. 41 do Código Civil).

O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis:


Povo, Território e Governo soberano.
soberano. Povo é o componente humano do Estado;
Território, a sua base física; Governo soberano, o elemento condutor do Estado,
que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização
emanado do Povo. Não há nem pode haver Estado independente sem Soberania,
isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se e
de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas
decisões inclusive pela força, se necessário.

Administração Pública é o conjunto de órgãos instituídos para a realização


dos objetivos do Governo. Numa visão ampla, a Administração é, pois, todo o
aparelhamento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à
satisfação das necessidades coletivas. A Administração pratica atos de execução,
com maior ou menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão e de
seus agentes. São os chamados atos administrativos.

O Governo e a Administração, como criações abstratas das normas


jurídicas, atuam por intermédio de suas entidades (pessoas jurídicas), de seus
órgãos (centros de decisão) e de seus agentes (pessoas físicas investidas em
cargos e funções).

Direito Administrativo

É o ramo do Direito Público que tem por objetivo o estudo da Administração


Pública, ou ainda, o conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os

92
órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta
e imediatamente os fins desejados pelo Estado.

Questão comentada

(CESPE/2013 – MI – Analista Técnico) Os conceitos de governo e administração


não se equiparam; o primeiro refere-se a uma atividade essencialmente política,
ao passo que o segundo, a uma atividade eminentemente técnica.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. Os conceitos de governo e administração não se equiparam.


Governo se refere a uma atividade essencialmente política, ao passo que
administração a uma atividade eminentemente técnica.

FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

As fontes do Direito Administrativo são as responsáveis diretas pela criação,


elaboração e aperfeiçoamento de toda ciência administrativista, produzindo,
aprimorando e até justificando, suas Leis, normas internas e decisões judiciais.

Em se tratando do Direto Administrativo propriamente dito, é importante


ressaltar, dentre outras, quatro principais espécies de fontes jurídicas: a Lei, a
doutrina, a jurisprudência e os costumes.

As Leis e a Constituição Federal

A lei, considerada em seu sentido amplo, representa importante fonte do


Direito e, em se tratando do Direito Administrativo especificamente, representa
a sua principal fonte jurídica. Tal como ocorre aos demais ramos do Direito, a
Constituição Federal é a principal fonte do Direito Administrativo.

93
É na Constituição Federal que se encontram todos os fundamentos e
princípios jurídicos que irão servir de base para a criação das outras normas
jurídicas. Por exemplo, os artigos 37 e 38, ambos da Constituição Federal, trazem
as disposições gerais concernentes aos princípios e normas que devem ser
seguidos por toda a Administração Pública.

A Constituição Federal também dispõe acerca de outras questões


relacionadas ao Direito Administrativo, como por exemplo, os Servidores Públicos
que é tratado em seus artigos 39 até 41.

Demais Leis

Todavia não somente a Constituição Federal constitui uma fonte jurídica


para o Direito Administrativo. As Leis, os regulamentos, as instruções normativas,
as resoluções e até mesmos as portarias expedidas pela Administração Pública,
também, figuram como fontes jurídicas para o Direito Administrativo.

Em se tratando de Leis, especificamente, deve-se citar como exemplo, a Lei


8112/90 que dispõe acerca do regime jurídico dos servidores civis da União ou a
Lei 8666/93, que dispõe acerca do processo licitatório. Na realidade, para facilitar
a compreensão, deve-se entender que constitui fonte do direito, todas as normas
expedidas pela ou para a Administração Pública, desde a Constituição Federal até
os regulamentos.

A Doutrina

Quando estudiosos do Direito publicam seus estudos, pesquisas ou suas


interpretações jurídicas acerca de determinado ponto da Lei, isso quer dizer, que
foi publicada uma doutrina acerca daquele tema.

Doutrina é a interpretação dada pelos operadores do Direito acerca de


determinada questão jurídica. Desta forma, não se engane, a doutrina, não se

94
presta somente a interpretar a Lei, mas também a todas as outras questões
relacionadas ao Direito, tais como sua origem, seus princípios, objetivos e sua
evolução.

Existe certa divergência jurídica, quanto ao fato da doutrina representar


uma fonte do Direito. Para estes autores, entender que doutrina representa uma
fonte do Direito significa em afronta direta ao princípio da Legalidade. Todavia,
para a maior parte dos autores, a doutrina constitui uma fonte do Direito, não
havendo qualquer empecilho neste sentido. Inclusive, não se pode olvidar que a
doutrina é constantemente utilizada quando da realização dos julgamentos pelos
Tribunais.

Jurisprudência

Quando uma decisão judicial é proferida de forma reiterada, pode-


se considerar que foi formada uma jurisprudência naquele sentido, ou seja,
jurisprudência, nada mais é que uma reunião de várias decisões judiciais, acerca
determinada matéria.

Uma jurisprudência se cristaliza, ou seja, se pacifica, quando determinada


matéria é julgada sempre no mesmo sentido. A jurisprudência é uma importante
fonte do Direito, em se tratando de Direito Administrativo. As decisões
proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça em questões relacionadas ao Direito
Administrativo é um bom exemplo de jurisprudência do Direito Administrativo.

Os Costumes

Os costumes, também, representam importante fonte do direito. Surgem


através de comportamentos, atos ou condutas praticadas reiteradamente que
com o passar do tempo começam a integrar o cotidiano das pessoas.

Em se tratando do direito Administrativo especificamente, é importante


ressaltar a questão da “prática administrativa” como importante fonte do Direito
Administrativo.

95
É que ante a ausência de norma legal específica para a solução de
determinado «caso», o administrador público decide por sempre solucionar esta
questão, desempenhando determinado procedimento. Desta forma, como o
passar do tempo, a «solução» dada pelo administrador público e sua aplicação
reiterada, poderá se tornar “praxe” em toda Administração Pública, sendo assim,
aplicada na resolução de todas as questões semelhantes.

Questão comentada

(QB/2023 – PRF) No que concerne às fontes do Direito Administrativo, tanto a


Constituição Federal como a lei em sentido estrito constituem fontes primárias
do Direito Administrativo.

( ) Certa ( ) Errado

Comentário: certa. Vimos que a Constituição Federal e a lei em sentido estrito


são elencadas como fontes primárias do Direito Administrativo.

PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Devido à organização do Estado, e pelo fato deste assumir funções


primordiais à coletividade, no interesse desta, fez-se necessário criar e aperfeiçoar
um sistema jurídico que fosse capaz de regrar e viabilizar a execução de tais
funções, buscando atingir da melhor maneira possível o interesse público visado.
Face à natureza desses interesses, são conferidos à Administração direitos
e obrigações que não se estendem aos particulares. Logo, a Administração
encontra-se numa posição de superioridade em relação a estes.

A Administração Pública, na maioria de suas relações, possui um regime


jurídico diferenciado. Para que possa exercer, de forma eficaz, as funções a ela
determinadas, o interesse público está sobreposto a interesses particulares.

96
Tal regime denomina-se Regime Jurídico Administrativo ou Regime Jurídico de
Direito Público.

Os princípios da Administração Pública são regras que surgem como


parâmetros para a interpretação das demais normas jurídicas. Têm a função de
oferecer coerência e harmonia para o ordenamento jurídico. Quando houver mais
de uma norma, deve-se seguir aquela que mais se compatibiliza com os princípios
previstos na Constituição Federal, ou seja, interpreta-se, sempre, consoante os
ditames da Constituição.

Os princípios basilares e que orientam a Administração Pública são:

- Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado – aqui


temos as prerrogativas da Administração, que, para buscar de maneira eficaz
os interesses públicos, se coloca em um patamar de superioridade em relação
aos particulares. Sempre que houver conflito entre um interesse individual e
um interesse público deve prevalecer o interesse público. São as prerrogativas
conferidas à Administração Pública, porque esta atua por conta de tal interesse.
Ex: Uso do Poder de Polícia ao interditar um estabelecimento.

- Princípio da Indisponibilidade – aqui temos as sujeições da


Administração. Para que a Administração alcance o bem comum, se utiliza do
princípio da supremacia, somado ao princípio da indisponibilidade, pois, tal busca
é irrenunciável, por não haver faculdade de atuação ou não do Poder Público,
mas sim dever de atuação. Temos a restrição da autonomia da vontade da
Administração Pública, a qual atua somente nos limites da lei ou para atender os
interesses públicos. Ex: Licitação para efetuar compras, Concurso Público para
seleção de candidatos para um cargo público.

97
Os princípios básicos que a Administração deverá seguir estão dispostos
no art. 37, caput, da CF/88. O disposto no referido artigo constitucional é rol
meramente exemplificativo; desta forma, existem outros princípios que poderão
ser invocados pela Administração. Com relação à sua abrangência, os princípios
básicos da Administração alcançam a Administração Pública direta e indireta de
quaisquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
(art. 37 da CF/88), possuindo, portanto, amplo alcance.

São cinco os princípios da Administração Pública previstos no Artigo 37, caput,


da Constituição Federal. Além destes princípios, há os previstos em legislações
esparsas e os definidos pelos doutrinadores.

a) Legalidade – a Administração pública só pode fazer o que a lei determina


(poder-dever).

b) Moralidade – a atuação do agente público deve obedecer a padrões


éticos e justos de honestidade e decência.

c) Impessoalidade ou Finalidade – o mérito pela prática de um ato pertence


à Administração e não às autoridades que as executam.

98
d) Publicidade – os atos praticados pela Administração Pública devem ser
divulgados, para conhecimento do público e início dos efeitos.

e) Eficiência – de acordo com tal princípio, o particular tem direito a mais


serviços públicos, em menos tempo, com mais qualidade e com menos custos
para o Estado (introduzido na CF pela EC 19/98 – Reforma Administrativa).

Existem outros princípios previstos em outras leis e os definidos pelos


pensadores, sendo eles:

f) Princípio da Motivação - é a obrigação dirigida ao administrador de


motivar a maioria dos atos que edita. Sem a devida motivação não há o devido
processo legal, pois a fundamentação surge como meio interpretativo da decisão
que levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro meio de viabilização do
controle da legalidade dos atos da Administração.

g) Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos - Pelo princípio da


continuidade dos serviços públicos, o Estado é obrigado (em regra) a não
suspender a prestação dos serviços públicos.

h) Princípio da Razoabilidade - O Princípio da Razoabilidade determina que


na autuação administrativa, o agente público aja de acordo com os padrões de
conduta de um homem médio. Tal princípio afasta a prática de condutas bizarras
por parte do administrador.

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Questões comentadas

(CESPE/2016 – TRT 8ª Região – Técnico Judiciário) De acordo com o princípio


da legalidade, é permitido ao agente público, quando no exercício de sua função,
fazer tudo que não seja expressamente proibido pela Constituição Federal.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. O princípio da legalidade dentro da Administração Pública


preconiza que o agente público só poderá fazer o que a lei permite.

De acordo com o princípio da legalidade, é permitido ao particular/administrado


fazer tudo que não seja expressamente proibido pela Constituição Federal.

(CESPE/2016 – TRT 8ª Região – Técnico Judiciário) A observância dos princípios


da eficiência e da legalidade é obrigatória apenas à administração pública direta.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. A Administração Indireta também deve, obrigatoriamente,


observar os princípios da eficiência e legalidade.

(CESPE/2016 – TRT 8ª Região – Técnico Judiciário) A proibição de nomear


parentes para ocupar cargos comissionados na administração pública é expressão
da aplicação do princípio da moralidade.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: certa. O princípio da moralidade visa uma conduta proba, uma


conduta pautada na ética.

100
STF – Súmula Vinculante nº 13 (vedação ao Nepostismo): “A nomeação de
cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até
o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
exercício em cargo em comissão ou de confiança, ou ainda, de função gratificada
na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a constituição federal.”

(CESPE/2016 – TRT 8ª Região – Técnico Judiciário) O princípio da publicidade


não está expressamente previsto na CF.

( ) Certo ( ) Errado

Comentário: errada. Está sim previsto na CF/88. Lembre do LIMPE.

Legalidade

Impessoalidade

Moralidade

Publicidade

Eficiência

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