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Ministro Marco Aurélio

25 ANOS NO STF

Brasília, junho de 2015

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Secretaria-Geral da Presidência
Manoel Carlos de Almeida Neto

Secretaria de Documentação SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Dennys Albuquerque Rodrigues

Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência


Juliana Viana Cardoso Ministro Enrique Ricardo Lewandowski (16-3-2006), Presidente

Redação: Amélia Lopes Dias de Araújo, Dennys Albuquerque Rodrigues, Dimitri de Almeida Prado, Juliana Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha (21-6-2006), Vice-Presidente
Viana Cardoso, Mariana Sanmartin de Mello, Patrícia Keico Honda Daher, Patrício Coelho Noronha, Priscila
Heringer Cerqueira Pooter, Rochelle Quito e Valquirio Cubo Junior Ministro José Celso de Mello Filho (17-8-1989), Decano

Produção gráfica e editorial: Juliana Viana Cardoso, Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Revisão: Amélia Lopes Dias de Araújo, Lilian de Lima Falcão Braga, Mariana Sanmartin de Mello, Patrícia Keico Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002)
Honda Daher, Patrício Coelho Noronha, Rayane Lima Martins (estagiária), Rochelle Quito e Vitória Carvalho Costa
Ministro José Antonio Dias Toffoli (23-10-2009)
Capa e projeto gráfico: Eduardo Franco Dias
Ministro Luiz Fux (3-3-2011)
Diagramação: Camila Penha Soares, Eduardo Franco Dias, Neir dos Reis Lima e Silva e Roberto Hara Watanabe
Ministra Rosa Maria Weber Candiota da Rosa (19-12-2011)
Fotografias: S ecretaria de Comunicação do Supremo Tribunal Federal;
Secretaria de Documentação do Supremo Tribunal Federal; Ministro Teori Albino Zavascki (29-11-2012)
Sérgio Amaral (p. 114 e 119)
Ministro Luís Roberto Barroso (26-6-2013)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Ministro Marco Aurélio : 25 anos no STF / Supremo Tribunal Federal. — Brasília : STF, 2015.

157 p. : il., fots.

Modo de acesso: < http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalComemoracoes/anexo/Ministro_Mar-


co_Aurelio_25_anos_no_STF.pdf >

ISBN : 978-85-61435-50-9.

1. Ministro do Supremo Tribunal Federal, homenagem. 2. Ministro do Supremo Tribunal Federal, biografia. 3. Tribunal supremo,
jurisprudência. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). II. Mello, Marco Aurélio Mendes de Farias, 1946-.

CDD 341.4191
APRESENTAÇÃO

O ano de 2015 reserva um momento raro para o Supremo Tribunal Federal. Em 13 de junho, o
Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello completa um quarto de século de exercício
judicante nesta Casa. São vinte e cinco anos honrando a cadeira que um dia foi ocupada pelo Mi-
nistro Carlos Madeira.
Para celebrar a ocasião, muito especial para a Corte, vem a lume a presente obra, no propósito
despretensioso de homenagear o eminente Ministro Marco Aurélio, um juiz à moda antiga, como
ele mesmo se descreve.
Neste livro-homenagem, procura-se traçar um breve perfil do homem público de firmes opi-
niões e do brasileiro que sempre faz questão de deixar claro seu zelo e carinho pela Carta Maior da
República.
Nascido no Rio de Janeiro e formado na tradicional Faculdade Nacional de Direito, da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro — o que é motivo de orgulho e frequente menção em seus
pronunciamentos no Tribunal —, o Ministro Marco Aurélio, antes de compor o STF, já detinha
um passado de sucesso no serviço público: fora Membro do Ministério Público do Trabalho junto
à Justiça do Trabalho da 1ª Região, Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região e Ministro
Togado do Tribunal Superior do Trabalho.
Ao longo dessa trajetória, o Ministro Marco Aurélio construiu uma bela família na capital brasi-
leira e uma carreira jurídica irretocável, da qual se extrai para os anais da história judiciária pátria o
retrato de um humanista cuja reputação ímpar o coloca no panteão dos nossos consagrados juristas.
Com a maestria que lhe é peculiar, guiou os trabalhos deste Supremo Tribunal Federal ao presidi-lo,
no período de 2001 a 2002. Para além da Presidência da mais alta Corte brasileira, a contribuição para
a formação da moderna jurisprudência constitucional do STF é inegável. O Ministro Marco A ­ urélio
participou de praticamente todos os debates de maior relevância na Corte no período pós-1988.
Por três vezes esteve à frente do Tribunal Superior Eleitoral, e é importante realçar que, na pri-
meira ocasião, foi responsável por conduzir as até então inéditas eleições informatizadas no Brasil.
Vale registrar, ainda, os exercícios interinos como Presidente da República, em especial quando
sancionou a lei de criação da TV Justiça, marco na história do Judiciário nacional.
São esses e outros momentos marcantes que, humildemente, foram retratados nesta singela
porém cuidadosa homenagem.

Secretaria de Documentação do Supremo Tribunal Federal


Jubileu de Prata do Ministro Marco Aurélio

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BIOGRAFIA
M

BIOGRAFIA
arco Aurélio Mendes de Farias Mello nasceu no Rio de ríodos de 13 de agosto de 1991 a 31 de maio de 1993 e de 7 de respectivamente. De 21 a 31 de agosto esteve na China, a convite pela Fundação Dom Cabral em convênio com a Pontifícia Uni-
Janeiro/RJ, em 12 de julho de 1946, filho do Dr. Plínio agosto de 2003 a 28 de fevereiro de 2005, e Efetivo, de 1º de de autoridades, com o objetivo de conhecer o sistema judiciário versidade Católica de Minas Gerais e Federação do Comércio
Affonso de Farias Mello e de D. Eunice Mendes de Farias Mello. junho de 1993 a 5 de dezembro de 1994. Como Vice-Presidente daquele país. Em 21 de maio de 2003, viajou para Portugal, do Estado de Minas Gerais, com apoio da Academia Internacio-
É casado com a Dra. Sandra De Santis Mendes de Farias Mello, eleito, em sessão de 29 de novembro de 1994, atuou entre 6 de convidado pelas autoridades judiciais do país, em visita oficial nal de Direito e Economia, sobre o tema “O Poder Normativo
Desembargadora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dezembro de 1994 e 31 de maio de 1995 e de 1º de junho de ao Tribunal Constitucional português. na Justiça do Trabalho”, em Belo Horizonte/MG; participou de
Territórios, com quem tem quatro filhos: Letícia, Renata, Cris- 1995 a 19 de maio de 1996. Foi Presidente em exercício de 20 Seu mandato como Presidente do Supremo Tribunal Federal mesa-redonda sobre o tema “A Constituição de 1988 — Alguns
tiana e Eduardo Affonso. de maio a 12 de junho de 1996, quando tomou posse como findou-se em 5 de junho de 2003. Temas Polêmicos”, durante a Semana Universitária, promovida
Cursou o primário e o ensino médio no Colégio Souza Mar- Presidente, cargo que exerceu de 13 de junho de 1996 até 1º de Desde setembro de 1982, é Professor Universitário, inte- pela Universidade de Brasília em abril de 1991; foi painelista no
ques e o científico no Colégio Pedro II, ambos em sua cidade junho de 1997. Novamente tomou posse como membro efe- grante do Quadro Docente do Departamento de Direito da I Fórum Nacional de Debates sobre o Poder Judiciário, com o
natal. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Fa- tivo em 1º de março de 2005 e tornou-se Presidente da Corte Faculdade de Estudos Sociais Aplicados da Universidade de tema “O Judiciário: Como Deve Ser?”, promovido pelo Supe-
culdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 4 de maio de 2006 a 6 de maio de 2008. Em 12 de maio de Brasília e Professor do Curso de Pós-Graduação lato sensu em rior Tribunal de Justiça e pelo Conselho da Justiça Federal, em
em 1973 e cursou o Mestrado em Direito Privado na mesma 2009 voltou a tomar posse como membro substituto. Em 19 de Direito Processual Civil do Centro Universitário de Brasília — junho de 1997; foi painelista no seminário A Constituição de
Faculdade, tendo-o concluído em 1982. novembro de 2013, torna-se, pela terceira vez, Presidente do UniCEUB. 1998 é ainda a Constituição Cidadã?, promovido pelo Conselho
Advogou no foro do Estado do Rio de Janeiro e chefiou o Tribunal Superior Eleitoral, cargo em que permaneceu até 13 Entre as inúmeras atividades didáticas exercidas pelo Mi- Federal da Ordem dos Advogados do Brasil em Brasília/DF, em
Departamento de Assistência Jurídica e Judiciária do Conse- de maio de 2014. nistro Marco Aurélio no âmbito jurídico-acadêmico, podem-se outubro de 1998, sobre o tema “Jurisdição Constitucional —
lho Federal dos Representantes Comerciais e o Departamento Foi eleito Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, em salientar as seguintes: foi conferencista no V Curso de Especia- A Ampliação do Controle de Constitucionalidade: Um Balanço
de Assistência Jurídica e Judiciária do Conselho Regional dos sessão de 14 de abril de 1999, para o biênio 1999/2001, tomando lização em Direito do Trabalho, Processo e Previdência Social, de Dez Anos”; proferiu palestra na inauguração do novo Au-
Representantes Comerciais no Estado do Rio de Janeiro, tendo posse em 27 de maio de 1999. Escolhido por seus pares para a realizado na Faculdade Cândido Mendes e promovido pelo ditório do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
sido também advogado da Federação dos Agentes Autônomos Presidência do Tribunal em 18 de abril de 2001, assumiu o cargo Instituto de Direito do Trabalho e Previdência — IDTP, sobre o sobre o tema “Justiça do Terceiro Milênio”, em Brasília/DF, em
do Comércio do Antigo Estado da Guanabara. em sessão solene realizada em 31 de maio seguinte. tema “Processo Civil e Processo Trabalhista”, no Rio de Janeiro/ abril de 2000; presidiu o I Congresso das Américas de Ciências
Entre 1975 e 1978, integrou o Ministério Público junto à Ocupou o cargo de Presidente da República, no período RJ, em outubro de 1979; proferiu Aula Magna do segundo pe- Criminais (Penal, Processo Penal, Criminologia e Vitimologia),
Justiça do Trabalho da 1ª Região. Ingressando na Magistratura, de 15 a 21 de maio de 2002, durante a viagem do Presidente, ríodo letivo de 1986 na Faculdade de Direito da Universidade realizado em maio de 2000 no Centro de Convenções de Per-
foi Juiz Togado do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região Fernando Henrique Cardoso, ao exterior. Nessa oportunidade Federal Fluminense, sobre o tema “Constituição — Reivin- nambuco, na cidade de Recife, cujo tema central foi “As Ciências
no período de 1978 a 1981, quando presidiu a Segunda Turma, sancionou, em solenidade realizada no Palácio do Planalto, a dicação Básica dos Trabalhadores”, no Rio de Janeiro/RJ, em Criminais e a Realidade Social do Terceiro Milênio”, sobre o
no biênio 1979/1980. Lei 10.461, que criou a TV Justiça, destinada a divulgar notícias setembro de 1986; foi conferencista em evento realizado na qual também proferiu conferência; foi palestrante no Tribunal
Foi Ministro Togado do Tribunal Superior do Trabalho en- do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública e Associação dos Magistrados do Trabalho da 3ª Região, sobre Superior do Trabalho em 20 de novembro de 2001, em Brasília/
tre setembro de 1981 e junho de 1990. Ao longo desse período, da advocacia. Voltou a ocupar interinamente a Presidência da o tema “Os Enunciados da Súmula do Tribunal Superior do DF, sobre o tema “Óptica Constitucional — A Igualdade e as
foi Membro do Conselho da Ordem do Mérito Judiciário do República nos dias 4, 5 e, posteriormente, 25 a 27 de julho, 20 Trabalho”, em Belo Horizonte/MG, em abril de 1988; foi paine- Ações Afirmativas”; proferiu Aula Magna da Escola de Direito
Trabalho, atuou como Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, e 21 de agosto e de 31 de agosto a 4 de setembro de 2002, pelo lista no III Fórum Brasileiro da Justiça do Trabalho, promovido da UniverCidade sobre o tema “O Judiciário e a Paz Social”, no
entre dezembro de 1988 e junho de 1990, e foi eleito Presidente mesmo motivo anterior. pelo Sindicato do Comércio Varejista de Veículos e de Peças Rio de Janeiro/RJ, em 25 de março de 2002; foi Presidente da
da Primeira Turma para os biênios 1985/1986 e 1987/1988. Em 2 de agosto de 2002, o Ministro Marco Aurélio inau- e Acessórios para Veículos no Estado do Rio Grande do Sul, Mesa no painel Paz e Direito Social, durante o XX Seminário
Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por de- gurou o estúdio da TV Justiça, cuja programação entrou no ar com o tema “Justiça do Trabalho como Poder Normativo”, em Roma-Brasília, promovido pela Universidade de Brasília, GDF,
creto de 28 de maio de 1990, para a vaga decorrente da apo- no dia 11 do mesmo mês, data em que se comemora a criação Gramado/RS, em maio de 1988; foi conferencista no seminário CNPq, Consiglio Nazionale delle Ricerche — CNR e Associa-
sentadoria do Ministro Carlos Madeira, tomou posse em 13 de dos cursos jurídicos no Brasil. A Crise Econômica e o Direito do Trabalho, promovido pela zione di Studi Sociali Latino-Americani — ASSLA, em 29 de
junho do mesmo ano. Representou a República Federativa do Brasil na posse do Academia Nacional de Direito do Trabalho, na Universidade agosto de 2003; foi palestrante no XXXIII Encontro Nacional
Escolhido pelo Supremo Tribunal Federal, participou do Presidente da Bolívia, Gonzalo Sanchez, e na do Presidente de Brasília, em maio de 1988; foi conferencista no III Fórum do Colégio de Corregedores Gerais da Justiça do Brasil, promo-
Tribunal Superior Eleitoral como Ministro Substituto, nos pe- da Colômbia, Alvaro Uribe Velez, em 5 e 7 de agosto de 2002, Jurídico — A Nova Ordem — Aspectos Polêmicos, promovido vido pelo Colégio de Corregedores Gerais da Justiça do Brasil

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e realizado no Centro de Convenções do Hotel Intercontinen- culdades Integradas; Conselho Superior do Instituto Metropoli-
tal, no Rio de Janeiro/RJ, em 7 de novembro de 2003, sobre o tano de Altos Estudos — IMAE; Conselho Editorial da Revista
tema “A Reforma do Judiciário”; foi palestrante no Seminário do Curso de Direito do Centro Universitário das Faculdades
de Verão — A Ordem Mundial e a Resolução de Conflitos, Metropolitanas Unidas — UniFMU.
promovido pela Faculdade de Direito de Coimbra, em 13 de Da copiosa lavra de publicações da autoria do Ministro, po-
julho de 2005, em Coimbra, Portugal, sobre o tema “A Primazia dem-se destacar as seguintes: “Coletânea de Pareceres Jurídicos”
da Constituição: A Experiência Brasileira”. (emitidos quando Marco Aurélio era membro do Ministério
Membro de diversas bancas examinadoras de concursos Público — 1977); “Empregador, Insalubridade e a Segurança
públicos para a magistratura e a Procuradoria, participou, entre do Trabalho”, Diário do Comércio & Indústria de 11 de maio de
outros, do Concurso para Provimento de Cargos de Juiz do 1985; “A Questão da Insalubridade”, Correio Braziliense de 14 de
Trabalho Substituto da 1ª Região realizado em 1979, no qual junho de 1985; “O Alcance da Sentença Normativa”, Revista do
atuou como Presidente; do Concurso para Provimento de Car- Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Paraná, janeiro e
gos de Juiz do Trabalho Substituto da 1ª Região realizado em junho de 1985; “Temas de Direito Penal. ‘1. Nosso Direito Po-
1980 e 1981, que coordenou; do Concurso para Provimento de sitivo e a Tortura; 2. Da Inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º
Cargos de Procurador da Fazenda Nacional realizado em 1986; da Lei n. 8.072, de 25-7-1990’”, Revista Brasileira de Ciências
do III Concurso para Provimento de Cargos de Juiz do Trabalho Criminais — publicação oficial do Instituto Brasileiro de Ciên-
Substituto da 10ª Região, realizado em 1988; do IV Concurso cias Criminais —, Editora Revista dos Tribunais, ano 2, n. 8,
para Provimento de Cargos de Juiz do Trabalho Substituto da outubro/dezembro de 1994; “O Estado Democrático de Direito
10ª Região, realizado em 1989; do V Concurso Público para e as Minorias”, artigo publicado na Revista Trimestral de Direito
Ingresso na Magistratura do Trabalho da 10ª Região, realizado Público, n. 47/2004, e nos livros Temas Atuais de Direito Eleito-
em outubro de 1989; do X Concurso para Provimento de Car- ral, em janeiro de 2009, e Os Alicerces da Redemocratização, em
gos de Procurador da República; do I Concurso Público para 2008; “O Uso de Algemas e a Dignidade da Pessoa Humana”,
Provimento de Cargos de Juiz do Trabalho Substituto da 18ª artigo publicado na revista Justiça & Cidadania, edição n. 102,
Região, na condição de Presidente da Comissão Examinadora em janeiro de 2009. Constam ainda do seu currículo colabora-
da prova escrita de Direito do Trabalho, Direito Processual do ções diversas para o periódico ADT, do Centro de Orientação,
Trabalho, Direito Processual Civil e Direito Civil (Parte Geral e Atualização e Desenvolvimento Profissional — COAD, e para
Obrigações); e do Concurso Público para Provimento de Car- a revista LTr.
gos de Procurador do Distrito Federal realizado pelo Instituto
de Desenvolvimento de Recursos Humanos — IDR em 1998.
Além de atuar no Supremo Tribunal Federal, o Ministro
Marco Aurélio também é membro, entre outras, das seguintes
instituições: Instituto Brasileiro de Direito Social; Academia
Nacional do Direito do Trabalho, com assento na Cadeira 119;
Academia Internacional de Direito e Economia; Conselho de
Minerva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da qual
recebeu o título de Conselheiro Emérito; Associação Paulista
de Magistrados; Conselho Editorial da Revista da UPIS — Fa-

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LINHA DO TEMPO
LINHA DO TEMPO
Passa a integrar o Passa a exercer o cargo de
Ministério Público junto Corregedor-Geral da Justiça Exerce o cargo de Presidente da República no período Recebe da Academia Pela terceira vez,
à Justiça do Trabalho da do Trabalho, em dezembro. de 15 a 21 de maio, durante viagem do Presidente, Brasileira de Letras a toma posse no cargo
Primeira Região. Permanece no cargo até Fernando Henrique Cardoso. Na oportunidade, Medalha Machado de de Presidente do
junho de 1990. sanciona, em solenidade realizada no Palácio do Assis, alta condecoração Tribunal Superior
Planalto, a Lei 10.461, que criou a TV Justiça. da ABL. Eleitoral, em 19 de
Em 12 de julho, nasce na Conclui o Mestrado em Direito Ainda em maio, recebe a Ordem do Mérito das novembro.
cidade do Rio de Janeiro/RJ, Privado na mesma faculdade em Toma posse, em 13 de Comunicações, grau Grã-Cruz, concedida pelo
filho de Plínio Affonso que se graduou. Em setembro, junho, como Presidente Presidente da República. Novamente, ocupa Recebe o Mérito
de Farias Mello e Eunice torna-se integrante do Quadro do Tribunal Superior interinamente a Presidência da República, em 4 e 5 Marechal Cordeiro de
Mendes de Farias Mello. Docente do Departamento Eleitoral. Comanda e, posteriormente, de 25 a 27 de julho, entre 20 e 21 Farias, concedido pela
de Direito da Faculdade de as primeiras eleições de agosto e de 31 de agosto a 4 de setembro. Em 2 de Escola Superior de
Estudos Sociais Aplicados da informatizadas do País. agosto, inaugura a TV Justiça. Guerra – ESG, no Rio
Universidade de Brasília, onde de Janeiro/RJ.
atua até 2007.

1946 1973 1975 1978 1981 1982 1988 1990 1996 2001 2002 2003 2004 2006 2007 2009 2010 2011 2013 2015

Gradua-se em Ciências Toma posse, em 13 de junho, Recebe da Suprema


Jurídicas e Sociais pela no cargo de Ministro do Corte da Ucrânia É agraciado com a Completa, em junho,
Faculdade de Direito da Supremo Tribunal Federal. medalha de honra Ordem do Ipiranga, grau Jubileu de Prata, por
Universidade Federal “pela fidelidade à lei”. Grã-Cruz, concedida 25 anos de exercício no
do Rio de Janeiro. pelo Governador do cargo de Ministro do
Ingressa no cargo de Estado de São Paulo. Supremo Tribunal
Ingressa na Ministro Togado Toma posse, em Federal.
Magistratura, como Juiz do Tribunal Superior Toma posse, em 31 de maio, como Presi- Recebe o Troféu Raça Negra, 4 de maio, como
Togado do Tribunal do Trabalho. dente do Supremo Tribunal Federal, para concedido pela Sociedade Afro Presidente do
Regional do Trabalho da o biênio 2001/2003. Torna-se Professor Brasileira de Desenvolvimento Tribunal Superior É agraciado com o Mérito
Primeira Região. do Curso de Pós-Graduação lato sensu Sócio Cultural – AFROBRAS, Eleitoral, para sua Tamandaré, concedido pelo
em Direito Processual Civil do Centro em São Paulo/SP. segunda gestão na Comandante da Marinha do
Universitário de Brasília – UniCEUB. Corte. Brasil, em Brasília/DF.

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VENCIDO E VENCEDOR
Caráter mandamental do mandado de injunção

vencido e vencedor
– MI 219 – – MI 670 – Ementa

“(...) tenho externado convencimento quanto ao mandado de tanque o provimento judicial na mera ciência da omissão ao No julgamento do MI 670, no qual se pretendia o reconhe- “Mandado de injunção. Garantia fundamental (CF, art. 5º,
injunção, tal como definido no texto constitucional, que não órgão? A meu ver, não; não podemos frustrar a expectativa cimento da mora legislativa, considerado o direito de greve inciso LXXI). Direito de greve dos servidores públicos civis
coincide, não se harmoniza, com a jurisprudência da Corte. generalizada do povo brasileiro, e até mesmo do mundo dos servidores públicos civis, o Colegiado do STF confirmou (CF, art. 37, inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência
(...) jurídico — especialmente deste —, em torno da matéria. a mora — que já havia sido declarada por diversas vezes — e do Supremo Tribunal Federal (STF). (...) Em observância aos
Creio que, frente à jurisprudência da própria Corte, há, no Aguarda-se muito mais da Suprema Corte do que, data estabeleceu prazo para que o Legislativo procedesse ao sa- ditames da segurança jurídica e à evolução jurisprudencial na
caso concreto, o reconhecimento explícito da omissão, há o venia, o que até aqui vem sendo proporcionado aos juris- neamento, restando consignada a aplicação do disposto nas interpretação da omissão legislativa sobre o direito de greve
reconhecimento de que, a persistir o quadro atual, inexiste a dicionados, quanto ao instituto do mandado de injunção. Leis 7.701/1988 e 7.783/1989, enquanto perdurasse a omissão. dos servidores públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta)
possibilidade do exercício das prerrogativas concernentes à (...) Nesse sentido, em 2007, o Tribunal promoveu uma evolução dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria.
nacionalidade, à soberania e, no caso concreto, à cidadania. (...) a minha consciência de magistrado, a minha forma- da garantia fundamental do mandado de injunção, ao modi- Mandado de injunção deferido para determinar a aplicação
Indaga-se: é possível contemplar essa situação sem ca- ção humanística e profissional são conducentes à conclusão ficar o seu alcance para entender que, se reconhecida a inércia das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989.
minhar no sentido direcionado pela Carta? É possível, na em torno de colar-se ao inciso LXXI do art. 5º da Carta da do legislador, não configura afronta ao princípio da separação (...)
espécie, chegar-se à confusão de institutos, como se não República a eficácia e o alcance que nele se contêm sobre o dos poderes a tomada de medidas, pelo Poder Judiciário, que (...) o STF flexibilizou a interpretação constitucional pri-
tivessem, consagrados que são pela Carta, sentido próprio, mandado de injunção, distinto, sobremaneira, da ação direta tornem efetivo o direito previsto no texto constitucional. meiramente fixada para conferir uma compreensão mais
porque integram a ciência do Direito? É plausível que se es- de inconstitucionalidade por omissão.” abrangente à garantia fundamental do mandado de injun-
ção. A partir de uma série de precedentes, o Tribunal passou
a admitir soluções ‘normativas’ para a decisão judicial como
alternativa legítima de tornar a proteção judicial efetiva (CF,
art. 5º, XXXV).”

1990
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2007 19
Progressão de regime — crimes hediondos

vencido e vencedor
– HC 69.657 – – HC 82.959 – Ementa

“É que tenho como relevante a arguição de conflito do § 1º minimização desta, ou o benefício indevido, porque con- O Plenário do Supremo Tribunal Federal, fundado na garan- “Pena — Regime de cumprimento — Progressão — Razão
do art. 2º da Lei 8.072/1990 com a Constituição Federal, trário ao que inicialmente sentenciado, daquele que acabou tia da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CF/1988), de ser. A progressão no regime de cumprimento da pena,
considerado quer o princípio isonômico em sua latitude perdendo o bem maior que é a liberdade. Está, isto sim, no decidiu por maioria de votos, em 6 de agosto de 2003, rever nas espécies fechado, semiaberto e aberto, tem como razão
maior, quer o da individualização da pena previsto no in- interesse da preservação do ambiente social, da sociedade, o posicionamento anterior e deferir pedido de habeas corpus, maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos
ciso XLVI do art. 5º da Carta, quer, até mesmo, o princípio que, dia menos dia, receberá de volta aquele que inobservou declarando a inconstitucionalidade (incidenter tantum) da dia, voltará ao convívio social.
implícito segundo o qual o legislador ordinário deve atuar a norma penal e, com isso, deu margem à movimentação do proibição de progressão de regime em crimes hediondos, Pena — Crimes hediondos — Regime de cumprimento —
tendo como escopo maior o bem comum, sendo indisso- aparelho punitivo do Estado. A ela não interessa o retorno de em decorrência da imposição normativa do cumprimento Progressão — Óbice — Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990 —
ciável da noção deste último a observância da dignidade um cidadão, que enclausurou, embrutecido, muito embora de regime integralmente fechado pelo § 1º do art. 2º da Lei Inconstitucionalidade — Evolução jurisprudencial. Conflita
da pessoa humana, que é solapada pelo afastamento, por o tenha mandado para detrás das grades com o fito, entre 8.072/1990. com a garantia da individualização da pena — art. 5º, inci-
completo, de contexto revelador da esperança, ainda que outros, de recuperá-lo, objetivando uma vida comum em so XLVI, da Constituição Federal — a imposição, mediante
mínima, de passar-se ao cumprimento da pena em regime seu próprio meio, o que o tempo vem demonstrando, a mais norma, do cumprimento da pena em regime integralmente
menos rigoroso. não poder, ser uma quase utopia. (...) fechado. Nova inteligência do princípio da individualização
(...) (...) da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconsti-
(...) tenho o regime de cumprimento da pena como Assentar-se, a esta altura, que a definição do regime e tucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990.”
algo que, no campo da execução, racionaliza-a, evitando a modificações posteriores não estão compreendidas na in-
famigerada ideia do ‘mal pelo mal causado’ e que sabida- dividualização da pena é passo demasiadamente largo, im-
mente é contrária aos objetivos do próprio contrato social. plicando restringir garantia constitucional em detrimento
A progressividade do regime está umbilicalmente ligada à de todo um sistema e, o que é pior, a transgressão a princí-
própria pena, no que, acenando ao condenado com dias pios tão caros em um Estado Democrático como são os da
melhores, incentiva-o à correção de rumo e, portanto, a igualdade de todos perante a lei, o da dignidade da pessoa

1992 2006
empreender um comportamento penitenciário voltado à humana e o da atuação do Estado sempre voltada ao bem
ordem, ao mérito e a uma futura inserção no meio social. comum. A permanência do condenado em regime fecha-
O que se pode esperar de alguém que, antecipadamente, do durante todo o cumprimento da pena não interessa a
sabe da irrelevância dos próprios atos e reações durante o quem quer que seja, muito menos à sociedade que um dia,
período no qual ficará longe do meio social e familiar e da mediante o livramento condicional ou, o mais provável, o
vida normal a que tem direito um ser humano; que ingressa esgotamento dos anos de clausura, terá necessariamente que
em uma penitenciária com a tarja da despersonalização? recebê-lo de volta, não para que este torne a delinquir, mas
Sob esse enfoque, digo que a principal razão de ser da para atuar como um partícipe do contrato social, observados
progressividade no cumprimento da pena não é em si a os valores mais elevados que o respaldam.”

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Prisão CIVIL de Depositário infiel

vencido e vencedor
– HC 72.131 – – HC 87.585 – Ementa

“Ainda que se pudessem colocar em plano secundário os há de ser cumprida tão inteiramente como nela se contém. Em 2008, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no “Depositário infiel — Prisão. A subscrição pelo Brasil do
limites constitucionais, a afastarem, a mais não poder, a Ora, o inciso VII do art. 7º revela que ‘ninguém deve ser julgamento do HC 87.585, aplicando o § 7º do art. 7º da Pacto de São José da Costa Rica, limitando a prisão civil
possibilidade de subsistir a garantia da satisfação do débito detido por dívida’. Esse princípio não limita os mandados Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São por dívida ao descumprimento inescusável de prestação
como meio coercitivo, no caso de alienação fiduciária, que de autoridade judiciária competente, expedidos em virtude José da Costa Rica), reviu o entendimento anterior da Corte alimentícia, implicou a derrogação das normas estritamente
é a prisão, tem-se que essa, no que decorre não da Carta de inadimplemento de obrigação alimentar. Constata-se, e excluiu a possibilidade de haver, em qualquer hipótese, legais referentes à prisão do depositário infiel.”
Política da República, que para mim não a prevê, mas do assim, que a única exceção contemplada corre à conta de prisão de depositário infiel.
Decreto-Lei 911/1969, já não subsiste na ordem jurídica em obrigação alimentar. A promulgação sem qualquer reserva
vigor, porquanto o Brasil, mediante o Decreto 678, de 6 de atrai, necessariamente e no campo legal, a conclusão de que
novembro de 1992, aderiu à Convenção Americana sobre hoje somente subsiste uma hipótese de prisão por dívida
Direitos Humanos, ao chamado Pacto de São José da Costa civil, valendo notar a importância conferida pela Carta de
Rica, de 22 de novembro de 1969. (...) Entrementes, a adoção 1988 aos tratados internacionais que a República Federativa
mostrou-se linear, consignando o art. 1º do Decreto me- do Brasil seja parte.”
diante o qual promulgou a citada Convenção que a mesma

1995
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2008 23
Execução provisória da pena e Princípio da não culpabilidade

vencido e vencedor
– RHC 71.959 – – HC 84.078 – Ementa

“As hipóteses ensejadoras da prisão estão contidas no corpo (...) No julgamento do HC 84.078, em 5 de fevereiro de 2009, “Habeas corpus. Inconstitucionalidade da chamada ‘execução
da Carta de 1988: ‘ninguém será preso senão em flagrante (...) Como, então, entender que, em questão a liberdade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal consignou que a antecipada da pena’. Art. 5º, LVII, da Constituição do Brasil.
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade bem maior dos cidadãos, ao qual somente se sobrepõe o prisão, antes do trânsito em julgado de decreto condenató- Dignidade da pessoa humana. Art. 1º, III, da Constituição
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão mili- relativo à própria vida, possa-se, antes da preclusão maior, rio, somente seria possível a título cautelar, tendo em vista do Brasil.
tar ou crime propriamente militar definidos em lei’. A par da impor a execução da pena e, portanto, ter quadro que pres- o princípio da não culpabilidade. Assim, concluiu-se pela 1. O art. 637 do CPP estabelece que ‘[o] recurso extraor-
previsão do inciso LXI, exsurge a relativa ao cumprimento supõe a certeza quanto à culpabilidade? A razão de não se não recepção do art. 637 do Código de Processo Penal pela dinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados
da pena, cuja execução há de se fazer em campo que revele poder executar de imediato sentença condenatória, ainda Carta da República. pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão
absoluta segurança no que tange à imputação e à condena- pendente apreciação de recurso, é constitucional e decorre à primeira instância para a execução da sentença’. A Lei de
ção operadas. É preciso que se tenha, portanto, o trânsito da impossibilidade de, uma vez fulminada, atrair o retorno Execução Penal condicionou a execução da pena privativa
em julgado do decreto condenatório, pois somente assim ao status quo ante. A natureza das coisas — e disse Napoleão de liberdade ao trânsito em julgado da sentença condenató-
transparece constitucional o cumprimento da pena, tendo que ela é um amo implacável — obstaculiza a devolução ao ria. A Constituição do Brasil de 1988 definiu, em seu art. 5º,
em vista o princípio da não culpabilidade insculpido no Paciente — esmagado pela força do Estado, em que pesem os inciso LVII, que ‘ninguém será considerado culpado até o
inciso LVII do rol das garantias constitucionais — ‘ninguém direitos constitucionais assegurados — dos dias de clausura, trânsito em julgado de sentença penal condenatória’.
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sen- de recolhimento à custódia do Estado.” (...)
tença penal condenatória’. 8. Nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de
direitos. Não perdem essa qualidade, para se transformarem
em objetos processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas
beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade
(art. 1º, III, da Constituição do Brasil). É inadmissível a sua
exclusão social, sem que sejam consideradas, em quaisquer

1995 2009
circunstâncias, as singularidades de cada infração penal, o
que somente se pode apurar plenamente quando transitada
em julgado a condenação de cada qual.
Ordem concedida.”

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inConstitucionalidade da exigibilidade de depósito prévio

vencido e vencedor
para recurso administrativo

– ADI 1.922 MC – – RE 389.383 – Ementa

“Entendo que a Constituição Federal encerra um princípio (...) compreendo o recurso administrativo como inserto Em 2007, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a exi- “Recurso administrativo — Depósito — §§ 1º e 2º do art. 126
implícito que se revela como garantia de todo cidadão. Que no gênero ‘direito de petição aos poderes públicos em defesa gência de depósito prévio como pressuposto de admissibi- da Lei 8.213/1991 — Inconstitucionalidade. A garantia
princípio é esse? É o princípio segundo o qual deve haver de direitos’, tal como previsto na alínea a do inciso XXXIV lidade de recurso administrativo ofendia a garantia cons- constitucional da ampla defesa afasta a exigência de de-
campo próprio ao exercício, à exaustão, do direito de defesa. do art. 5º. titucional da ampla defesa. Em 2009, o Plenário editou a pósito como pressuposto de admissibilidade de recurso
(...) (...) Súmula Vinculante 21, cujo enunciado apresenta a seguinte administrativo.”
A Carta de 1988 contém até mesmo dispositivos explí- (...) o Estado não pode dar com uma das mãos e tirar evolução: “É inconstitucional a exigência de depósito ou
citos, expressos, conducentes à conclusão de não se poder com a outra. A exigibilidade do depósito importa em dar arrolamento prévios de dinheiro ou bens para a admissibi-
exigir, visando a contar o erário com parte do numerá- com uma das mãos e tirar com a outra, e, repito, quase sem- lidade de recurso administrativo”.
rio controvertido, depósito de percentagem do tributo. pre impede a própria continuidade da atividade. É certo que
Refiro-me ao inciso LV do art. 5º da Constituição Federal, o recurso administrativo não é uma garantia constitucional.
no que revela, inclusive nos processos administrativos, Mas, a partir do momento em que previsto, não se pode ter,
que ficam assegurados aos acusados ‘o contraditório e a relativamente ao contribuinte, um obstáculo que conflite
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes’. com a própria razão de ser que motivou a previsão.”
A ampla defesa está prevista via o recurso administrativo
contemplado em lei. Ora, é consentâneo com essa regra
constitucional exigir-se o depósito, mesmo que parcial?

1999
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2007 27
Competência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para julgar

vencido e vencedor
corréus sem PRERROGATIVA DE foro

– Inq 2.462  – – Inq 3.515 AgR – Ementa

“A competência do Supremo é de direito estrito e está pre- E a atração do processo para esta Corte, sem norma consti- Em 13 de fevereiro de 2014, o Plenário do Supremo Tribunal “Competência — Prerrogativa de foro — Natureza da disci-
vista em diploma de envergadura maior — a Constituição tucional que a preveja, acaba por ferir de morte — é o meu Federal negou provimento ao Inq 3.515 AgR, por unanimi- plina. A competência por prerrogativa de foro é de Direito
Federal. Normas instrumentais comuns não acarretam o convencimento — o princípio do juiz natural, o princípio do dade, consagrando o entendimento de que a Corte é compe- estrito, não se podendo, considerada conexão ou continên-
aditamento a essa mesma competência, a ponto de apanhar devido processo legal, até porque ocorrerá julgamento em tente para julgar apenas os corréus com prerrogativa de foro. cia, estendê-la a ponto de alcançar inquérito ou ação penal
situações concretas em que envolvido quem não detém a penada única, aspecto negativo da própria prerrogativa de O posicionamento anterior restou, portanto, modificado. relativos a cidadão comum.”
prerrogativa de foro. Aliás, quanto à prerrogativa de foro, foro, quando normalmente existe a possibilidade de revisão
vejo-a como uma exceção e, por isso mesmo, interpreto as de possível decreto condenatório. O Supremo também pode
normas que a revelam de forma estrita. errar quer na arte de proceder, quer na de julgar e, decidin-
Há mais, verifica-se o envolvimento de cidadãos que do, não há a quem recorrer.”
teriam, constitucionalmente, direito a certos juízos naturais.

2008
28

2014 29
do ministrO
Frases, pensamentos e citações
“É tempo de aproximar-se não o povo do Judiciário, mas este daquele, o que só se concretizará efetivamente,

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“Eu sou um juiz ainda à antiga, com a total transparência do que vem sendo realizado neste Poder.”
eu não delego a quem quer que seja o ato de julgar.”  Gazeta Mercantil de 3/7/2001

Jornal da Cidade de 7/10/2003

“Numa época em que o tecnicismo exacerbado, a quase obsessiva especialização das


ciências, a danosa impessoalidade das relações econômicas contemporâneas promovem
desvirtuamento ímpar de valores, convém a toda a sociedade, sobretudo aos magistrados,
restabelecer o enfoque no ser humano. Por dever de ofício, cabe a nós, magistrados e
operadores do Direito, não medir esforços para colocar o homem como cerne, princípio
“No imaginário popular, a figura do herói sempre se mostrou associada a feitos extraordinários, a batalhas em
e finalidade última de todas as ações.”
princípio invencíveis, as quais, todavia, ao fim, não se sustentariam diante do comando desse mítico ser dotado
de poderes especiais. Talvez por isso a humanidade frequentemente busque líderes onipotentes cujas soluções,  Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001
mágicas, tenham o condão de superar, num instante, problemas por vezes seculares. Entretanto, um olhar mais
atento, uma reflexão mais cautelosa conduzirá, com certeza, a conclusão diversa. O grande homem, sem dúvida
alguma, é aquele que, no dia a dia, cioso dos próprios deveres, consegue, com simplicidade, mas com a galhardia
da honradez, vencer os percalços que a existência cotidiana incessantemente lhe oferece. Ao contrário do que
sói apregoar-se, uma nação digna e respeitável se forma de grandes homens, e não de falsos heróis.” “Precisamos perceber que não somos infalíveis, não somos os
 Discurso proferido na solenidade de entrega da medalha censores da República de uma forma geral. A nossa atuação é
“Medalha-Prêmio” ao Ministro José Néri da Silveira, em reconhe- vinculada ao direito posto, à Constituição Federal.”
cimento aos cinquenta anos de serviço público, em 17/4/2002
 O Estado de S. Paulo de 14/11/2009

“É possível afirmar que testemunhamos época alvissareira, já que a impunidade, outrora


“Por certo haveríamos de nos defrontar com realidade menos cruel se abandonássemos o prática habitual, está a se revelar, dia após dia, e cada vez mais, coisa do passado. Caminha-
medo e nos envolvêssemos com a dor alheia para amenizá-la.” -se a passos largos para a constatação de uma mudança cultural, provocada pela percepção,
 Discurso proferido na festa de confraternização natalina
do homem comum, da existência de freios inibitórios.”
dos servidores e colaboradores do STF, em 12/12/2001  O Globo de 20/5/2002

32 33
“No futuro, meu sonho é que o próprio eleitor afaste corruptos. Ou que ele, naturalmente, “A Constituição Federal não há de ser tida como um documento lírico, que pode ser

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
não vote em candidatos investigados, até que tudo esteja claro.” metamorfoseado em função dos acontecimentos e da vontade das maiorias reinantes.”
 O Estado de S. Paulo de 2/10/2006  Jornal do Commercio de 1º/10/2001

“Voto é poder. Deve ser exercido. (...) É preciso que se tenha pre-
“Naquele plenário não temos semideuses, temos homens, dos sente que a sociedade não é vítima. A sociedade é autora.”
quais se espera uma conduta que honre o cargo.”  Jornal do Brasil de 1º/10/2006
 Folha de S.Paulo de 24/4/2009

“Nada é mais alvissareiro que o justo reconhecimento, principalmente quando o aplauso


não se alicerça somente num instante de bravura, num ato de heroísmo, ou em algum feito
genial, espetacular, mas vem referendado pelo aval incontestável do tempo, consolidando-
“Cada qual tem uma formação técnica, um perfil. Não ocupamos cadeira voltada às rela- -se no veredicto do cotidiano — e não existe, de fato, aprovação mais exigente.”
ções públicas. Dizem que eu sou um juiz polêmico. Se nós entendermos o vocábulo no Discurso proferido na solenidade de entrega da medalha “Mérito
sentido grego, realmente sou polêmico. Porque, no sentido grego, quer dizer guerreiro. Eu do Servidor do Supremo Tribunal Federal”, em 6/12/2001
realmente sou guerreiro. Não tenho o menor receio de desagradar a quem quer que seja.”
 Correio Braziliense de 13/4/2006

“A sociedade brasileira não quer semideuses; ela quer homens investidos desse ofício, o
qual é sublime, de julgar os semelhantes, os concidadãos e os conflitos que os envolvam
e que ajam a partir da formação humanística, da formação profissional que possuem e
“O magistrado não pode evitar a decisão. Está na virtude do equilíbrio, do bom senso e na de acordo com a própria consciência.”
aptidão para a tarefa, o segredo da descoberta do direito. E não é só. É na busca da justiça Entrevista concedida à rádio Jovem Pan em 17/12/2002
que se encerra toda a problemática jurídica, que lança mão da lei, do costume e de princí-
pios para resolver as questões.”
 Palavras proferidas por ocasião da aposentadoria do Ministro Ildélio Martins no TST, em 1986

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“No estágio em que nos encontramos, simples críticas são infrutíferas. A sociedade não

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
é vítima, é autora. Necessário se faz que cada um, dando o melhor de si, contribua para
“A justiça é obra do homem.” o afastamento da impunidade, ainda que, num primeiro momento, possa parecer que se
trata de uma luta contra moinhos de vento.”
Palavras proferidas no TSE por ocasião do encerramento do segundo semestre forense e
da despedida do Ministro Carlos Velloso, em 19/12/2005  Mensagem aos formandos da Faculdade de Direito da UPIS — primeiro semestre de 2010

“O juiz não deve ser algoz. Mas não deve passar a mão na cabeça
de quem teve procedimento à margem do figurino legal.”
 O Estado de S. Paulo de 5/2/2005

“Não há dúvidas: quanto maior for o grau de confiabilidade dos cidadãos no Judiciário,
mais respeitadas serão as normas e princípios que asseguram a convivência social pacífica.
Em síntese, sem leis, não há pacto social duradouro.”
 Gazeta Mercantil de 3/7/2001
“Temos de homenagear mais as decisões de primeira instância, já que é o juiz que mantém
contato direto com as partes, é quem percebe a sinceridade de uma testemunha, de uma
parte que é ouvida.”
 Consultor Jurídico de 23/4/2003

“Hoje é quase consensual o entendimento de que o juiz precisa se fazer atento aos problemas
sociais rotineiros, e não alheio, estar de olhos bem abertos ao cotidiano, retirando quaisquer “Centro nevrálgico do Poder, aqui se traçam as diretrizes vitais para o bem-estar do nosso
vendas, mormente as ideológicas, para poder sabiamente decidir. (...) finalmente a magistra- povo; coração pulsante da enorme nação brasileira, daqui emanam os exemplos que hão
tura parece haver entendido a necessidade de sair das torres de marfim nas quais se procura de nortear a conduta de todos — dos mais simples aos mais empertigados. E não me
resguardar, de onde provém a maioria das sentenças inverossímeis, apartadas da realidade refiro só à seara política. Brasília é mais que uma tribuna, de vez que encarna a própria
e, por isso mesmo, desacreditadas já no nascedouro.” representação do que a vontade humana sucede conseguir.”
 Folha de S.Paulo de 19/5/2002  Discurso proferido por ocasião do recebimento do título de Cidadão de Brasília, em 28/5/2003

36 37
DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“Por serem os alicerces do Estado Democrático de Direito, os poderes constituídos deve- “Todo privilégio é odioso.”
riam merecer mais reverência ou, quando menos, nesses tempos de tão pouca liturgia, a Folha de S.Paulo de 31/5/2012
presunção de honorabilidade.”
Folha de S.Paulo de 9/5/2003

“Pela participação do povo na escolha de seus representantes revelam-se as forças políticas


vivas do país. Esse é o clima a prevalecer em todo Estado que almeje a qualificação de
“Eu, particularmente, apenas confio no ofício judicante a partir da maior espontaneidade democrático de direito.”
possível por parte daquele que o exerça. Sou contrário ao efeito vinculante. (...) Sou um
O Globo de 18/9/1996
juiz à antiga, que pega no pesado, não delego o ofício judicante. (...) Agora, julgamento a
partir de bateção de carimbo — e implicará a súmula vinculante uma bateção de carim-
bo — não se coaduna sequer com a separação de Poderes.”
 Entrevista concedida ao programa Direito em Debate, da TV Educativa, em 1º/8/2002

“Impõe-se a reorientação do Judiciário nacional, para exercer ativamente atribuições que


possibilitem a realização do objetivo principal e último: a concretização inquestionável,
“Pelo fato de nós não termos acima um órgão que possa corrigir as e não apenas teórica, virtual, da garantia de acesso à Justiça a todos, indistinta e eficaz-
mente, sem o que qualquer democracia não passa de caricato arremedo ou mera utopia.”
nossas decisões, nós precisamos ter uma responsabilidade maior.”  Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001
 O Estado de S. Paulo de 14/11/2009

“Um juiz, quando tem de tomar a sua decisão, não pode atropelar a lei para votar de acordo
com pressões externas ou com a política governamental vigente. Tem que votar com a sua “Sinto-me — e sempre me senti assim — um servidor dos meus semelhantes. Encaro a
consciência jurídica e não com as circunstâncias políticas. Se isso significa que o teto vai missão de julgar, o ofício judicante, como ofício verdadeiramente sublime, no que en-
cair em cima do governo, vai cair, paciência. O que não se pode fazer é atropelar o que está frentamos conflitos substituindo a vontade das partes e damos solução a esses conflitos,
estabelecido pela lei.” devendo atuar, portanto, de acordo com a ciência e consciência possuídas.”
Gazeta de Alagoas de 18/7/2004 Discurso proferido por ocasião dos trinta anos de seu ingresso na magistratura, em 6/11/2008

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“O juiz vocacionado, que entende a judicatura como algo pessoal, trabalha vinte e quatro
horas por dia, sábados, domingos e feriados; e o faz prazerosamente.”
“Se nós queremos a observância das regras jurídicas,
Entrevista concedida à rádio Jovem Pan em 17/12/2002
nós temos de dar o exemplo.”
O Estado de S. Paulo de 14/11/2009

“Precisamos de uma mudança cultural. Primeiro para se buscar meios de composição


amigáveis; em segundo lugar, para que os dirigentes observem o Direito posto e, portanto,
não venham a espezinhar direito do cidadão; e, em terceiro lugar, devemos abandonar a
mania de acreditar que podemos corrigir o Brasil, afastar as mazelas brasileiras mediante
novos diplomas, gerando uma instabilidade normativa enorme.”
“Ao Supremo incumbe a chefia do Judiciário nacional, mas esse comando surge em regime
 Entrevista concedida ao Programa Econômico em 5/3/2003
essencialmente democrático, no qual o diálogo construtivo entre todos os membros deve
imperar, sob pena de dar-se exemplo negativo de intolerância e autoritarismo.”
Discurso proferido por ocasião da posse do Ministro Ricardo Lewandowski
na Presidência do STF, em 10/9/2014
“Não é justa a opressão do homem pelo homem.”
Discurso proferido por ocasião de sua posse na
Presidência do STF, em 31/5/2001

“O regime democrático pressupõe segurança jurídica (...). A paz social embasa-se na “São tantas e tão deslavadas as mentiras, tão grosseiras as justificativas, tão grande a falta de
confiança mútua e, mais do que isso — em proveito de todos, em prol do bem comum —, escrúpulos que já não se pode cogitar somente de uma crise de valores, senão de um fosso
no respeito a direitos e obrigações estabelecidos, não se mostrando consentâneo com a moral e ético que parece dividir o País em dois segmentos estanques — o da corrupção, se-
vida gregária, com o convívio civilizado, ignorar-se o pacto social, a única possibilidade duzido pelo projeto de alcançar o poder de uma forma ilimitada e duradoura, e o da grande
de entendimento.” massa comandada que, apesar do mau exemplo, esforça-se para sobreviver e progredir.”
Jornal do Commercio de 1º/10/2001 Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 4/5/2006

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“A bondade é um exercício que não será recompensado apenas com o galardão do reino

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
dos céus. Antes, a satisfação em sermos bons, aperfeiçoando-nos, só nos tornará, dia
“O Judiciário não atua politicamente. O Judiciário atua, como eu disse, a partir do que após dia, mais completos, mais dignos, mais elevados.”
está estabelecido. Agora, busca implementar a almejada justiça; busca dar a cada um o
Discurso proferido na festa de confraternização natalina
que é seu.”
dos servidores e colaboradores do STF, em 12/12/2001
Entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 11/12/2001

“A esperança é a mola mestra da própria vida.


Acredito na re­cupe­ração de qualquer pessoa.”
Jornal do Brasil de 15/9/2002
“Claro está que somente o substrato da educação norteia a consciência.”
Mensagem por ocasião da inauguração da Biblioteca Reitor João Herculino, em 20/2/2003

“O juiz só deve se curvar à própria consciência. Ele não deve julgar pela capa dos autos,
pelas pessoas envolvidas, não deve julgar considerando o conteúdo econômico da ação,
nem temeroso da repercussão, da incompreensão do que deva implementar em termos de
decisão judicial.”
Diário da Manhã de 18/8/2002
“Compete ao Presidente, com força de caráter, velar pela harmonia no Colegiado con-
siderados diferentes experiências, estilos e pensamentos. Como sempre digo, ‘ser um
algodão entre os cristais’, o exemplo maior de tolerância com as ópticas dissonantes, não
“Não podemos presumir o excepcional, o extravagante, o extraordinário, o teratológico. Não permitindo que desacordos em votos afetem a interação. Deve coordenar, com a cortesia
podemos presumir que todos os homens, todos os juízes, todos os desembargadores, todos indispensável, as opiniões convergentes e divergentes na direção do resultado comum
os ministros dos tribunais superiores são salafrários. Eu tenho de presumir uma postura que todos almejam: proclamar a melhor aplicação da Constituição.”
digna por parte de alguém que personifica o Estado, o Estado-Juiz.” Discurso proferido por ocasião da posse do Ministro Ricardo Lewandowski
na Presidência do STF, em 10/9/2014
O Estado de S. Paulo de 18/10/2009

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“Mais do que nunca, o cidadão há de compreender o valor de uma decisão individual,
mas de crucial e definitiva consequência para a coletividade: a participação interessada
e construtiva nas eleições. A força está no voto consciente, não apático.” “Prefiro pecar por excesso a pecar por omissão.”
O Globo de 20/5/2002 O Estado de S. Paulo de 20/8/2006

“O Supremo não governa. O Supremo é um fator de equilíbrio.


Surge como poder moderador, destinado a garantir a estabilidade “O Ministro do Supremo Tribunal Federal (...) não ocupa uma cadeira de forma balizada
e os valores nacionais, que são perenes.” no tempo. Ele é vitalício naquela cadeira. Então, ele se encontra praticamente ungido para
exercer essa missão sublime, que é julgar o próprio semelhante e os conflitos de interesse
O Estado de S. Paulo de 22/3/2006
que envolvam os semelhantes.”
Entrevista concedida ao programa Direito em Debate, da TV Educativa, em 1º/8/2002

“Por ser caixa de ressonância a exercer decisiva influência na opinião nacional, a mídia
deveria contribuir cada vez mais para aumentar a historicamente reduzida autoestima dos
brasileiros. Crescemos sob o estigma de que fomos colonizados pelo que resultou de uma
mistura indigesta: brancos criminosos — por isso condenados ao degredo — e negros caça-
dos selvagemente e escravizados — portanto, rudes e rebeldes — teriam se miscigenado com “Se pudesse colocar na balança da experiência uma decisão unânime e uma decisão por
índios indolentes e obtusos — porque teimosamente se recusaram a uma aculturação malé- maioria, diria que a decisão por maioria tem o valor maior do que a unânime, porque mostra
vola e covarde. Essa lição disparatada foi-nos incutida desde os primórdios e está no nosso que os aspectos do processo — o acerto ou desacerto do que decidido pela última instân-
inconsciente coletivo, daí talvez a razão pela qual supervalorizamos tudo que é importado cia — foram realmente discutidos, surgindo, no julgamento da apelação, correntes diversas,
e cultivamos o vício de achar que nada do que é daqui presta, mormente a classe política.” e a maioria elegendo uma dessas correntes como a mais consentânea com o direito posto.”
Pronunciamento na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal, em 8/8/2001
Gazeta Mercantil de 15/4/2002

44 45
DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“O Brasil não precisa de novos diplomas legais, mas de homens que observem os existen-
tes. O entulho legislativo é causa de insegurança jurídica, não devendo ser ainda mais
exacerbado.”
O Globo de 20/5/2002

“A virtude está no meio-termo.”


Folha de S.Paulo de 24/4/2009

“O nosso dever, já que a nossa atuação é uma atuação vinculada ao direito posto, é de
preservar a lei maior do País, que é a Constituição Federal, lei que precisa inclusive ser
um pouco mais amada pelos brasileiros, especialmente pelos homens públicos.”
Folha de S.Paulo de 31/5/2012
“A prisão temporária não pode resultar da capacidade intuitiva de quem quer que seja.
Não pode estar alicerçada em suposições. Se houver um fato concreto, que se submeta
o suspeito à segregação. Mas o que é pior? Um inocente na cadeia? Ou um culpado em
liberdade até que se tenha a causa transitada em julgado?”
“Brasília se me revela como a própria configuração da serenidade.”
Correio Braziliense de 27/6/2005
Discurso proferido por ocasião do recebimento do título de Cidadão de Brasília, em 28/5/2003

“Como julgador, aprendi, nos primeiros dias de ofício judicante, que a lei é feita para os ho-
mens e não os homens para a lei. O que está revelado nessa premissa? Está revelada a óptica “Dias melhores não tardam. Não. Ainda que haja muito por fazer, dias melhores devem
do julgador que, ao defrontar-se com interesses resistidos, não empolga, em primeiro lugar, ser sempre os que vivemos, porque não se repetem jamais. Então é abrir as portas do
a dogmática, para fazê-la incidir nos fatos da causa. A partir desses fatos, isto sim, idealiza, coração à alegria e ao entusiasmo e, enfim, ao agradecimento por tudo que de bom con-
à mercê de formação humanística e profissional toda própria, a solução mais justa para a seguimos com o só mister do trabalho contínuo e honesto, sem guerras, trapaças, ódios
controvérsia. Somente após, busca, então, na ordem jurídica em vigor, o apoio indispensável ou intolerâncias, e celebrar o ano que se avizinha com alvíssaras e cantos de paz.”
à consagração da solução eleita.”
Folha de S.Paulo de 30/12/2001
Pronunciamento por ocasião de sua despedida da Presidência do TSE, em 27/5/1997

46 47
“A sociedade quer, sim, juízes, e não semideuses encastelados em

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
torres de marfim.”
Folha de S.Paulo de 30/12/2001

“A última palavra será do Supremo, trincheira maior da cidadania.”


Jornal do Brasil de 29/7/2003

“Ouso sustentar que o que diferencia os povos, o que torna uma nação soberana interna
e externamente é a dignidade, o respeito e a confiança na pronta prestação jurisdicional.”
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 13/6/1996
“Eu não sou um justiceiro. Eu sou juiz. Não ocupo cadeira voltada a relações públicas. Se
há coincidência entre o anseio popular e o meu convencimento, eu atuo. Mas, se não há,
eu continuo atuando da mesma forma. Não posso dar esperança vã à sociedade.”
O Estado de S. Paulo de 19/6/2010

“Fiz do Supremo a minha casa e, já acostumado com o colegiado, percebendo-o como


um somatório de forças distintas no que nós nos completamos mutuamente, apenas bus-
quei, nesse espaço de tempo, revelar, segundo ciência e consciência possuídas, a minha
concepção sobre a matéria em debate, a matéria em julgamento.”
“A legislação penal em vigor é suficiente. O que falta é sanar os vícios na infraestrutura do  Discurso proferido por ocasião da homenagem pelos seus vinte anos no STF, em 17/6/2010
País. Não dá para escapar do óbvio — é urgente que se enfrente a corrupção, desfazendo
nós górdios, como a obsolescência do modelo de segurança em uso. Não bastam as medi-
das paliativas usuais, em que se notam muito aparato e pouco siso. Sobejam marqueteiros
e politicagens, a contrastar com a notória falta de estratégia e de políticas públicas, agora
definitivamente insuportável.”
O Globo de 15/4/2004
“O voto é o maior indicativo do estágio democrático de uma nação. Eis instrumento da
manifestação da vontade de um povo. Deve ser genuinamente livre, refletido e resultado
das convicções e expectativas de cada cidadão sobre o futuro do país. Não pode estar
atrelado a cabrestos ideológicos, promessas vãs, interesses particulares e circunstanciais.”
Folha de S.Paulo de 1º/1/2014

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“As pessoas não podem se comportar como se o problema não fosse delas, como se fossem
apenas vítimas. O voto tem um poder incrível, e a chave de parte do problema está nas
“Parece-me contraditório cultivar o pessimismo num país em que contamos com a garantia
escolhas que fazemos.”
de um processo eleitoral isento, ágil e seguro, no qual impera, soberana, a vontade do
 O Estado de S. Paulo de 20/8/2006
eleitor, principalmente quando este se mostra cada vez mais esclarecido e participante.”
Folha de S.Paulo de 30/12/2001

“A democracia é construção de todos.”


O Globo de 18/9/1996

“É inegável que a profusão de processos amesquinhou o papel do


Supremo Tribunal Federal, que não pode ficar reduzido à simples
“É fácil ser bom e generoso sob aplausos e holofotes; difícil é ser e permanecer íntegro condição de quarta instância deliberativa.”
em meio a uma vida inteira de provações e dificuldades. O mais complicado é se manter
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001
fiel aos próprios valores, apesar de tanta adversidade.”
Discurso proferido por ocasião da formatura dos alunos do Programa de Aprimoramento
Educacional dos Empregados Terceirizados do STF, em 3/12/2001

“Das melhorias ninguém fala, como se não existissem. Tornamo-nos uma nação de quei-
“A democracia é obra de construção diária, ininterrupta, a ser erguida, tijolo a tijolo, por xosos, circunstância que também deixa antever um aspecto positivo, já que reflete a
aqueles que não desistem ante as dificuldades, não temem a dor do cansaço, não cedem diante salutar exigência do cidadão por direitos básicos: reclama bons serviços, porquanto tem
de vis ameaças, não toleram a indiferença, não admitem a injustiça. É obra que depende de consciência de que a contrapartida do pagamento de impostos há de ser necessariamente
fundação sólida, alicerçada em pilares que nem o tempo poderá destruir: verdade, justiça o alcance do bem-estar social. Estamos longe disso, infelizmente, mas nem assim cabe
e solidariedade, em última análise, a ética.” defenestrar as autoridades públicas e as instituições nacionais — não se há de matar a
galinha porque um ovo apodreceu.”
 Mensagem aos formandos do curso de Direito da FMU, em 31/7/2009
Gazeta Mercantil de 15/4/2002

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“No Brasil, acredita-se que teremos melhores dias editando leis. Precisamos, sim, de uma
mudança cultural quanto à observância ao direito posto.”
“Cada qual atue com a independência e a coragem, Folha de S.Paulo de 3/7/2005
que é a síntese de todas as virtudes.”
 Folha de S.Paulo de 31/5/2012

“Não consigo imaginar o ofício sem a independência, a espontaneidade; sem se ter o juiz
apenas submetido à própria consciência.”
Entrevista concedida ao programa Direito em Debate, da TV Educativa, em 1º/8/2002
“Nosso compromisso não é com políticas governamentais, e sim com algo maior, que é
o previsto na Carta. Assusta-me quando se proclama que se deve homenagear a gover-
nabilidade ao interpretar as leis. A governabilidade é que tem de se adaptar à legislação.”
O Estado de S. Paulo de 22/3/2006

“Entendo assim a sagrada missão de julgar, de dar (...) a cada um


o que é seu.”
Pronunciamento por ocasião de sua despedida da Presidência do TSE, em 27/5/1997

“Prestam um desserviço à Magistratura aqueles que não elegeram a bondade, a compreen-


são desapaixonada, a visão predispostamente flexível, a serenidade e lucidez de propósitos
como instrumentos de trabalho. A esses que sucumbiram ao ceticismo, à amargura, aos
ressentimentos advindos com as inevitáveis desventuras, cabe partir em busca de outros “Cabe ao Supremo o papel de Corte constitucional, afirmadora de valores essenciais, ina-
afazeres, porquanto a Justiça há de requerer sempre o tributo da fé na célere caminhada da fastáveis, a serem reverberados por todo o Judiciário de maneira sintonizada com o
humanidade em direção ao bem comum.” tempo, com as necessidades da população, com o reequilíbrio das posições, de forma
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 13/6/1996 a fazer justiça social, sem a qual não há Justiça nem, portanto, Estado Democrático de
Direito pleno.”
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“É possível dizer que o voto é, talvez, o símbolo mais preciso da esperança, da crença dos
povos em dias cada vez melhores, em um tempo em que a miséria, a violência, a igno-
“Sou juiz, sou humano, sou emotivo.” rância, a fome, a injustiça, entre outros, serão vocábulos adequados apenas para remissão
O Estado de S. Paulo de 20/8/2006 a tristes épocas passadas.”
O Estado de S. Paulo de 11/10/1996

“Paga-se um preço por se viver em uma democracia, o qual não chega a ser exorbitante,
importando apenas na observância irrestrita ao que validamente pactuado pelas partes e “Faz-se em jogo o Brasil, gigante em dimensões, riquezas e problemas.”
previsto no arcabouço normativo. Urge o restabelecimento da confiança dos brasileiros
Folha de S.Paulo de 1º/1/2014
naquilo que (...) foi posto no papel.”
Jornal do Commercio de 1º/10/2001

“Há pessoas que escolhem o mundo como pátria, mas estou entre aqueles que não sabe-
riam ter outra nacionalidade que não a brasileira.”
“Eu já disse na bancada do Supremo que tenho uma profissão de fé, tenho uma convicção. Discurso proferido por ocasião do recebimento do título de Cidadão de Brasília, em 28/5/2003
O Supremo não é um cemitério de inquéritos, de ações penais contra autoridades. Tocamos
os processos normalmente, agora a avalanche de processos é algo desumano. Como o ofício
de julgar não é passível de delegação, não se pode delegar. Nós somos lá no Supremo apenas
11, no STJ são 33. Não damos conta. Eu me considero um estivador do direito, é como se
eu estivesse enxugando gelo. Busco conciliar celeridade e conteúdo, mas não dá para sair
julgando como se fosse uma bateção de carimbo.” “Sou contra a visualizar-se a Constituição como algo que possa ser modificado ao sabor
das circunstâncias reinantes. Sou favorável a um documento perene, a um documento
Folha de S.Paulo de 15/2/2010
estável (...). Não se dê uma esperança vã ao povo brasileiro quanto à rapidez na solução
dos processos com a reforma do Judiciário a partir da alteração da Constituição Federal.”
Entrevista concedida à rádio Jovem Pan em 17/12/2002

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“Se o teto, com o meu voto, tiver que cair sobre a minha cabeça, vai cair. Porque vou me

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
pronunciar segundo a ciência e consciência possuídas e nada mais.”
“Mais de vinte anos são passados desde o dia em que aqui desembarquei, trazendo na
Folha de S.Paulo de 31/5/2012
bagagem a vontade impetuosa de construir um futuro voltado à causa pública. E Brasília
me acolheu de coração aberto logo no primeiro instante, num abraço apertado que até
hoje me aquece.”
Discurso proferido por ocasião do recebimento do título de Cidadão de Brasília, em 28/5/2003

“Quem inutiliza o voto presta um desserviço ao país.”


O Globo de 4/5/2006

“Toda vez que se fustiga em muitas frentes também se fica na


vitrine dos estilingues impiedosos.”
“Somente fortalecendo os homens, serão fortalecidas as instituições. Somente potenciali-
Folha de S.Paulo de 24/4/2009
zando as qualidades relacionadas ao desenvolvimento social — o respeito ao próximo, à
coisa pública e ao povo brasileiro —, com real abandono de práticas desleais, poderemos
voltar a crer na vitória da honra e da dignidade.”
Mensagem aos formandos da Faculdade de Direito da UPIS — primeiro semestre de 2010

“A população, outrora inerte por ignorância ou muitas vezes por conveniência, hoje se
sente segura para reagir às distorções notadas nos diversos segmentos da vida pública e
se manifesta de forma razoavelmente amadurecida. O cidadão brasileiro, mais consciente,
“Não imaginava, quando estava nos bancos da Nacional de Direito, chegar ao ponto que não só observa os fatos, ainda que à distância, mas opina e pressiona, sobretudo porque
cheguei. Não me imaginava, sequer, juiz. Queria ser, realmente, advogado e seguir os passos os meios de comunicação aproximaram a elite dirigente dos eleitores. E o veredicto vem
de meu pai, ser advogado, talvez, do Banco do Brasil. Agora, o ofício que exerço é muito de forma clara, rápida, mostrando-se cada vez mais rigoroso frente às eventuais fragili-
gratificante. Sinto-me útil ao meu semelhante e procuro atuar com a maior espontaneidade dades e deficiências na estrutura do Estado.”
possível.”
Perfil Econômico de 13/9/2001
Entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 11/12/2001

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“O verdadeiro protesto está em não dar o voto àqueles que real-

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
mente não o mereçam.”
O Estado de S. Paulo de 5/2/2005

“Nada, absolutamente nada, gratifica mais um homem do que


servir aos seus semelhantes.”
Discurso proferido por ocasião da homenagem pelos seus vinte anos no STF, em 17/6/2010
“É a partir da abertura ao diálogo com as partes e respectivos procuradores que fazemos
do processo verdadeiro instrumento da democracia.”
Discurso proferido por ocasião da posse do Ministro Ricardo
Lewandowski na Presidência do STF, em 10/9/2014

“A omissão do Estado, deixando de proporcionar aos cidadãos condições mínimas de sub-


sistência digna, como segurança, saúde, educação, resultou no aprofundamento das desi-
gualdades sociais, cujo preço é o recrudescimento sem peias da violência urbana e até rural.”
“A divergência é uma constante no Judiciário. O colegiado é um órgão democrático por O Globo de 15/4/2004
excelência. Prevalece a corrente majoritária, não minoritária.”
Folha de S.Paulo de 31/5/2012

“A Justiça em si é obra do homem. Costumo dizer que o conhecimento técnico se presu-


“Quem ousará discordar que a crença na impunidade é que fermenta o ímpeto transgressor, me, que todo aquele, investido do ofício judicante, que atue como Estado-Juiz tenha; o
a ostensiva arrogância na hora de burlar todos os ordenamentos, inclusive os legais? Quem importante é ter a formação humanística. Eu mesmo, como juiz, não parto da lei para
negará que a já lendária morosidade processual acentua a ganância daqueles que consideram o caso concreto; parto do caso concreto para a lei. Quando me defronto com o conflito,
não ter a lei braços para alcançar os autoproclamados donos do poder? Quem sobriamente primeiro idealizo a solução que entendo mais justa para esse conflito; depois vou à legis-
apostará na punição exemplar dos responsáveis pela sordidez que enlameou gabinetes pri- lação buscar o apoio. E, quase sempre, porque a interpretação da lei é um ato de vontade,
vados e administrativos, transformando-os em balcões de tenebrosas negociações?” eu encontro esse apoio. Assim devem proceder todos os magistrados.”
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 4/5/2006 Entrevista concedida à rádio Jovem Pan em 17/12/2002

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DO ministro
Frases, pensamentos e citações
“E já que o Estado tudo pode — legisla, executa as leis e julga as controvérsias surgidas
“Reconheço que não posso mais esconder a idade, mas digo-lhes que, ante uma vida di-
das múltiplas relações jurídicas —, que o faça bem; que atue com os olhos voltados à
nâmica, ante uma vida entregue de corpo e alma a servir aos meus semelhantes, o fardo
certeza de que o cidadão comum tem como parâmetro a conduta das autoridades legi-
foi um fardo leve.”
timamente constituídas.”
Discurso proferido por ocasião da homenagem pelos seus vinte anos no STF, em 17/6/2010
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001

“Toga não pode ser usada para se chegar a um cargo eletivo.” “É no equilíbrio entre o que já é e o que está para vir, e deve ser acolhido pela comuni-
O Estado de S. Paulo de 5/2/2005 dade, que se coloca e se apoia o justo. E é no destemor em declará-lo que se reconhece
o Poder Judiciário.”
Palavras proferidas por ocasião da aposentadoria do Ministro Ildélio Martins no TST, em 1986

“No contexto da organização do Estado, nada se equipara a uma eleição. Daí a certeza
de que os espíritos orientam-se para um fim único: o aprimoramento, por sua natureza,
inesgotável, da democracia.” “O Judiciário não pode se fechar em torno de si mesmo, omitindo-
O Globo de 18/9/1996 -se, furtando-se de participar dos destinos da sociedade brasileira.”
Folha de S.Paulo de 30/12/2001

“De novo, no entanto, é preciso voltar ao meio, onde está a virtude, segundo Aristóteles. Nem
o derrotismo improducente, nem o ufanismo enganador. Basta ver a realidade com olhos “Educar é ofício para quem nutre apaixonada esperança no gênio humano. É tarefa para
limpos de ideologias vãs. Basta valorar o que se conseguiu, sem se encastelar no mau hábito os que jamais cansam de lutar, tantos são os obstáculos, mormente num país de imensas
do conformismo. O amadurecimento do processo democrático brasileiro é visível e irrever- demandas como o nosso, cuja estrada para o desenvolvimento tem como alicerce ainda
sível, o que bem reflete a posição dos brasileiros em relação ao cotidiano político do País.” a instrução do povo brasileiro.”
Gazeta Mercantil de 15/4/2002 Mensagem por ocasião da inauguração da Biblioteca Reitor João Herculino, em 20/2/2003

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“Devemos saber ouvir. Não somos infalíveis. Não podemos ter compromisso sequer com

DO ministro
Frases, pensamentos e citações
os próprios erros, o que dirá com os alheios. Independência não implica arrogância.”
Discurso proferido por ocasião da posse do Ministro Ricardo
Lewandowski na Presidência do STF, em 10/9/2014
“O juiz não pode ser um justiceiro. Ele deve apreciar as peças apresentadas
pelo titular da ação, que é o Ministério Público, e pela defesa e formar
um convencimento a respeito.”
Entrevista concedida ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, em 28/7/2002
“Isto é o que vale cada voto: vale o Brasil inteiro!”
 Folha de S.Paulo de 1º/1/2014

“O que nós estamos notando nos dias atuais é uma inversão de valores, como se se pre- “É tempo de deixarmos a estagnação, retomarmos o desenvolvimento; é tempo de nos
sumisse de imediato a culpa. O princípio da não culpabilidade está ficando em segundo preocuparmos não com uma nação simplesmente econômico-financeira, mas com uma
plano. Prende-se, para depois apurar.” nação social, buscando a preservação da dignidade do homem; e só há dignidade quando
Correio Braziliense de 27/6/2005 ele consegue ser útil ao seu semelhante.”
Entrevista concedida ao programa Direito em Debate, da TV Educativa, em 1º/8/2002

“No Brasil, parece que se presume sempre o erro na decisão que é contrária aos respectivos “A ninguém escapa que, quanto mais se acredita na evolução do ser humano, mais se pro-
interesses. (...) Se, de um lado, precisamos viabilizar algo que afaste, do cenário, erros, de picia o exercício da cidadania. Daí o compromisso obrigatório das forças dirigentes de
outro, devemos buscar o objetivo maior da atuação do Estado-Juiz, que é restabelecer a paz uma nação com outra rainha-mãe, a Democracia, por sua vez filha amada e inseparável da
social, e isso deve ocorrer num espaço de tempo satisfatório, socialmente aceitável.” Liberdade, condição primeira e única vertente para a plenitude a que destinado o homem.”
Entrevista concedida ao Programa Econômico em 5/3/2003 Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 13/6/1996

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“São absurdamente mais elevados os níveis de corrupção e da violência nos lugares em “Essa pecha de lentidão — que se transmuda em ineficiência — recai sobre o Judiciário

DO MINISTRO
Frases, pensamentos e citações
que a prestação jurisdicional não se mostra de todo eficaz (...). Se longínquo é o caminho injustamente, já que não lhe cabe outro procedimento senão fazer cumprir a lei, essa
a percorrer até a definitiva realização da justiça, tíbia se revelará a vontade de diligente- mesma lei que por vezes o engessa e desmoraliza, recusando-lhe os meios de proclamar
mente atender aos seus ditames.” a Justiça com efetividade, com o poder de persuasão devido.”
Gazeta Mercantil de 3/7/2001 Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do TSE, em 4/5/2006

“Sou um operador do Direito, percebendo-o como a reger a vida em sociedade, tomando “Há de buscar-se a conciliação dos valores ‘justiça’ e ‘segurança
as leis como confeccionadas para os homens, e não o inverso.”
jurídica’, sem prejuízo, é certo, para o exercício do direito de defesa.”
Discurso proferido por ocasião da homenagem pelos seus vinte anos no STF, em 17/6/2010
Discurso proferido por ocasião de sua posse na Presidência do STF, em 31/5/2001

“O direito ao voto torna-se um dever em face da grandiosidade “Eu sou contra alterações sistemáticas da Constituição. A Constituição de 1988 já foi
do bem jurídico que se protege — o país.” emendada 45 vezes em menos de 15 anos. É muito. Nós temos que acabar com essa mania
 Folha de S.Paulo de 1º/1/2014 de que se pode alcançar dias melhores com novas leis. Nós já temos muitas leis. O que
nós precisamos no Brasil é de pessoas que observem a legislação em vigor.”
Correio Braziliense de 24/2/2003

“A impunidade leva à irresponsabilidade, ao menosprezo pelo que está estabelecido, às regras


tão caras à vida em sociedade. Toda vez que alguém é surpreendido num desvio de conduta,
esse fato serve de exemplo e serve de alerta aos demais cidadãos, para que busquem a pos-
tura que se aguarda do homem médio, para que mantenham os freios inibitórios rígidos.”
Folha de S.Paulo de 15/2/2010

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SOBRE O minISTRO
Frases, pensamentos e citações
SOBRE O ministro
Frases, pensamentos e citações
“O gosto de sentir a prevalência dos seus votos não leva o Ministro Marco Aurélio a buscar
a adesão do Tribunal, à custa das suas convicções, embora ele compreenda que, por vezes,
seja necessário abdicar de um entendimento pessoal e seguir a maioria, quando não se
trata de transigir com os fundamentos da sua crença quanto ao modo de exercer a mis-
são a que foi convocado. A divergência não o assusta, nem combale a sua determinação,
“Homem de posições firmes, não se furta ao debate, não tem receio do embate e enfrenta
ainda quando o deixe em posição solitária.”
as eventuais derrotas em votações plenárias com a tranquilidade que só a crença profunda
em torno das próprias convicções assegura.” Doutor Sergio Bermudes, Advogado, no prefácio do livro Vencedor e Vencido, em maio de 2006

Ministro Cezar Peluso, por ocasião dos vinte anos do Ministro Marco Aurélio no STF, em 17/6/2010

“O Ministro Marco Aurélio Mello engrandece cada vez mais o nosso país, que, além de
rico de natureza, é também um Brasil cheio de pessoas como ele, que segue sempre na
direção do certo e progride junto com o futuro, que sempre se torna próspero quando
há quem trabalhe em prol desse futuro.”
Jornal da Cidade, Sergipe, de 7/10/2003
“Saiba, ilustre e estimado colega e amigo, que seu nome fica indelevelmente gravado no Tri-
bunal Superior do Trabalho, como sinônimo de magistrado competente, sério, trabalhador,
probo, idealista, estudioso e brilhante. Soube Vossa Excelência, como ninguém, honrar as
tradições desta Corte, exercendo o seu cargo com dignidade, discrição e com a devoção de
um sacerdote do Direito. Seu acendrado respeito às leis, que não o impediram de inovar e “Temos a mais sincera convicção de que saberá exercer com dignidade, competência,
renovar com julgados magistrais espargidos em toda a jurisprudência predominante nesta destemor e altanaria a Presidência da mais Elevada Corte de Justiça do País. Conhece-
Corte, a iluminar caminhos e a orientar os pósteros, muitas vezes o colocaram diante da mos e admiramos a grandeza de suas atitudes, a postura independente do magistrado
escolha da senda mais áspera, em detrimento do aplauso fácil e ilusório, mesmo que o preço imanente a seus atos, a integridade de uma personalidade irreprochável, mesmo que
da satisfação de sua consciência fosse a perda de efêmeras popularidades.” possa parecer polêmica.”
Ministro Marco Aurélio Prates de Macedo, do TST, em solenidade de Doutor Rubens Approbato Machado, Presidente do Conselho Federal da OAB, por ocasião
despedida do Ministro Marco Aurélio daquela Corte, em 12/6/1990 da posse do Ministro Marco Aurélio na Presidência do STF, em 31/5/2001

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“Ele sempre teve muita coragem de buscar a verdade, ainda que contrariasse amigos, ainda

SOBRE O ministro
Frases, pensamentos e citações
que fosse voz isolada. Ele sempre teve o cuidado para examinar o fato e as provas, foi a
primeira virtude que encontrei nele, virtude que permanece.” “[O] Supremo jamais olha para os fatos, mas só para o Direito. Ora, interpretar o Direito é
aplicá-lo, e isso só é possível quando se amolda o texto do diploma legal a fatos, criando-
Desembargador Ederson de Mello Serra, em 13/6/2010, por ocasião
dos vinte anos do Ministro Marco Aurélio no STF
-se a norma. Esses fatos são, não raro, pequenos, prosaicos até, mas isso é o exercício da
jurisdição constitucional que Marco Aurélio tão bem pratica.”
Consultor Jurídico de 15/6/2010

“O Ministro Marco Aurélio vai além: ouvindo, embora, atentamente os seus pares, não
hesita em discordar deles, ainda que a divergência o deixe sozinho. O STF não procura “É um grande ministro, pela cultura jurídica, pela sensibilidade social, pelo compromisso
agradar a opinião pública, nem Marco Aurélio aos seus colegas de toga. Ele afirma as que tem com a Constituição brasileira. É um ministro corajoso, de posições próprias. Ele
suas convicções, em julgamentos destinados a permanecer, alguns minoritários hoje, mas é desassombrado, meticuloso, estudioso. Sou fã da personalidade, do caráter, da cultura
triunfantes amanhã, como sói acontecer nos colegiados.” e do talento de Marco Aurélio Mello.”
Doutor Sergio Bermudes, Advogado, no prefácio do livro Vencedor e Vencido, em maio de 2006 Ministro Ayres Britto — Jornal da Cidade, Sergipe, de 7/10/2003

“Considero, aliás (...), o Ministro Marco Aurélio como aqueles justices americanos que, na
“O Eminente Ministro Marco Aurélio, que hoje assume a Presidência desta Colenda Suprema formatação do Direito Constitucional americano ou mesmo na formatação dos grandes
Corte, é jurista de perfil liberal e progressista, defensor intransigente das liberdades e com votos da Suprema Corte americana, desempenharam papel relevante na história da Su-
grande sensibilidade às questões sociais. As qualidades morais e intelectuais de Sua Exce- prema Corte dos Estados Unidos, pelo seu ativismo jurídico, até porque, em uma nação
lência são conhecidas de todos. Vindo de uma nova geração de juristas da melhor estirpe, como a nossa, ainda com fragilidades institucionais, é muito importante que a consciência
amante da polêmica na medida em que o contraditório leve à aplicação do melhor Direito jurídica e o Direito Constitucional sejam sempre lembrados e despertados com vibração
e da melhor Justiça, não poupa energias nos debates com sua inteligência e o seu talento na e convicção por um Ministro do porte de Marco Aurélio de Farias Mello.”
defesa de suas convicções, enriquecendo a jurisprudência deste Excelso Pretório.”
Deputado Paes Landim, discurso proferido no Plenário da Câmara dos Deputados,
Doutor Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral da República, por ocasião da em homenagem aos vinte anos do Ministro Marco Aurélio no STF, em 24/6/2010
posse do Ministro Marco Aurélio na Presidência do STF, em 31/5/2001

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“Sob a solidão e a renúncia de sua toga, com a generosidade de sua mocidade, o seu valor

SOBRE O ministro
Frases, pensamentos e citações
“[O] Ministro Marco Aurélio é elogiado por seus pares pela singular eficiência — predica- pessoal, o brilho de sua inteligência e de seu talento, a sua capacidade criadora, a força de sua
do valioso em tempos de clamor por celeridade processual — e pela ousadia na prolação integridade e a emulação de sua já vasta experiência, haverá de se plasmar e de consolidar
de votos que, mesmo quando esposam posicionamento dissidente, contribuem para a uma das mais completas e perfeitas vocações de Magistrado já surgidas em nossa pátria.”
evolução da jurisprudência do STF.” Ministro Marco Aurélio Prates de Macedo, do TST, em solenidade de
Professor Doutor Arruda Alvim, no prefácio do livro Ministro Marco despedida do Ministro Marco Aurélio daquela Corte, em 12/6/1990
Aurélio Mello — acórdãos — comentários e reflexões

“[É] graças ao espírito irrequieto e aos questionamentos de Marco Aurélio que muitos
“Homem de seu tempo, probo, inteligente, culto, brilhante, independente e altivo, sem arro- pontos de vista quase fossilizados, nos últimos anos, foram revistos e hoje fazem parte
gância, sensível aos dramas sociais, aberto ao diálogo, sempre cortês, franco e transparente, da jurisprudência da Casa.
o Ministro Marco Aurélio integra a galeria de personagens-síntese da judicatura nacional. (...) ele é o Ministro mais aclamado entre os advogados, que se entusiasmam com a
Assim, por personificar as qualidades exigidas do verdadeiro magistrado, não busca o criatividade do juiz que não hesita em contrariar um tabu da Justiça brasileira: o de que
aplauso fácil, não corteja os poderosos, não verga aos caprichos de governantes nem tam- primeiro vem a lei e depois o direito de quem reivindica.”
pouco cede a pressões apaixonadas da imprensa e da opinião pública, por mais bem inten- Consultor Jurídico de 22/3/2006
cionadas que sejam, porém divorciadas da realidade dos fatos e das regras da ordem jurídica.”
Diário do Nordeste de 13/3/2002

“O Supremo Tribunal Federal já não tem hoje apenas a magna função de atuar como
guarda da Constituição. Nessa quadra sombria da vida nacional, compete-lhe algo ainda
mais importante: servir como último baluarte da defesa da dignidade do povo brasileiro
“Combativo e ardoroso, esgrimindo com maestria seus argumentos, não se recusa, porém, e da independência do País, severamente ameaçadas pela ação das grandes potências es-
quando apropriado, a favorecer a composição de entendimentos na busca da melhor decisão. trangeiras e das empresas multinacionais. Ora, no desempenho individual dessa elevada
Só não transige em relação ao Flamengo — mas isto já extrapola os limites do exigível até missão, o Ministro Marco Aurélio tem-se destacado pela sua intransigente independência
para um Ministro do STF.” em relação ao governo federal e às forças políticas que o apoiam, habitualmente submissas
Ministro Cezar Peluso, por ocasião dos vinte anos do Ministro Marco Aurélio no STF, em 17/6/2010 às pressões antinacionais.”
Folha de S.Paulo de 10/8/2000

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SOBRE O ministro
Frases, pensamentos e citações
“[O] Eminente Ministro Marco Aurélio tem-se revelado um homem do seu tempo e magis-
trado talvez à frente do nosso tempo (...).”
Doutor Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral da República, por ocasião da
posse do Ministro Marco Aurélio na Presidência do STF, em 31/5/2001
“Marco Aurélio possui, naturalmente, o gosto pela controvérsia, que tempera com o apuro
do bom senso e, sobretudo, com o sentido de obediência definitiva à norma da Lei —
ainda que interpretada em decisões com as quais não concorde.”
Ministro Cezar Peluso, por ocasião dos vinte anos do Ministro Marco Aurélio no STF, em 17/6/2010
“O Ministro Marco Aurélio Mello, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), é um
sujeito polêmico, como costumam ser as pessoas com compromisso exclusivo com suas
próprias convicções. Não se curva a patrulhamentos do governo nem da oposição e, suprema
coragem, nem da opinião pública nem de sua própria corporação.”
Folha de S.Paulo de 28/3/2002

“Hoje, o respeito e a admiração que granjeou no meio jurídico são de tal ordem que,
quando o Ministro comparece a encontros de advogados ou juízes, sua entrada é sempre
saudada com uma verdadeira aclamação. Por quê? Porque ‘a do Ministro’ — com o per-
dão da expressão prosaica e do título deste artigo, talvez até mesmo desrespeitoso — é a
“Um espírito independente, cioso da autonomia da sua reflexão; um conhecimento amplo e integrado dos múl-
da defesa intransigente do Direito; é a da mais inabalável independência, jamais se cur-
tiplos campos do Direito; uma larga experiência de magistrado e dos desafios inerentes ao jus dicere; uma clara
vando à tendência de considerar indulgentemente atos praticados pelo governo apenas
consciência das responsabilidades institucionais do STF como um dos poderes constitucionais da República
por provirem do poder. Seu ofício não é o de administrar, mas o de julgar, o que exige
são traços da personalidade jurídica do Ministro Marco Aurélio.
um exame isento: se lisos perante o Direito, reconhece-lhes a validade; se afrontosos ao
Esses traços explicam e revelam o significado próprio da sua atuação como integrante de um colegiado com
Direito, seu voto os fulmina. ‘A dele’ é o compromisso com os valores constitucionais; é
a importância que tem o STF no sistema político brasileiro; o alcance específico do seu papel na vida jurídica
a da atenção firme e inabalável na defesa dos interesses dos mais fracos, reverente aos
nacional, que se expressa nos seus acórdãos e votos como Ministro do STF, e a relevância da contribuição que
valores sociais insculpidos na Lei Magna.”
vem dando como jurista e magistrado ao Estado de Direito em nosso país.”
Folha de S.Paulo de 10/8/2000
Professor Doutor Celso Lafer, na epígrafe do livro Ministro Marco
Aurélio Mello — acórdãos — comentários e reflexões

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SOBRE O ministro
Frases, pensamentos e citações
“Que bom para o Brasil seria ter alguém como Marco Aurélio em cada vara, em cada grotão,
em cada juízo de primeiro grau nas grandes capitais, em cada tribunal de apelação. Não
haveria maneira melhor de desafogar o Supremo das causas que ali chegam.” “Marco Aurélio tem interpretado a Constituição com forte consciência do social e com
independência. A independência no pensar, no julgar e no exprimir opiniões tem seu
Consultor Jurídico de 15/6/2010
preço, fazendo prever, nos próximos dois anos, que a relação entre o Judiciário e o Exe-
cutivo seja tensa.”
Folha de S.Paulo de 26/5/2001

“[O] que deve ser ressaltado são os exemplos que o Ministro Marco Aurélio nos deixa:
o de homem público exigente e rigoroso com o trato da coisa pública; e o de servidor
público — categoria em que o Ministro Marco Aurélio se enquadrou em certa ocasião,
o que muito honrou e estimulou a todos os servidores do Poder Judiciário; (...) e, prin-
cipalmente, por sua preocupação com o ser humano — servidor, advogado, enfim, com
qualquer pessoa (...).” “Aquele que vota vencido (...) não pode ser visto como um espírito isolado nem como
Doutora Linda Maria Lima de Oliveira, Secretária Judiciária do TSE, em cerimônia uma alma rebelde, pois, muitas vezes, é ele quem possui o sentido mais elevado da ordem
informal de despedida do Ministro Marco Aurélio daquela Corte, em 27/5/1997 e da justiça, exprimindo, na solidão de seu pronunciamento, uma percepção mais aguda
da realidade social que pulsa na coletividade, antecipando-se aos seus contemporâneos,
na revelação dos sonhos que animarão as gerações futuras na busca da felicidade, na
construção de uma sociedade mais justa e solidária e na edificação de um Estado fundado
em bases genuinamente democráticas.
“Figura singularíssima na Corte, (...) ele tem-se distinguido pela originalidade de muitas das
Aquele que vota vencido, por isso mesmo, (...) deve merecer o respeito de seus con-
suas decisões, tanto as monocráticas quanto as proferidas nos órgãos colegiados, Turma ou
temporâneos, pois a história tem registrado que, nos votos vencidos, reside, muitas vezes,
Tribunal Pleno. Esses julgamentos não quedam encerrados nos repositórios de jurisprudência.
a semente das grandes transformações.”
Frequentemente, alcançam a mídia e, por meio dela, a parte consciente, sensível e engajada
dos brasileiros que, concordando com ele, ou dele divergindo, rendem-lhe a homenagem Ministro Celso de Mello, por ocasião da posse do Ministro
Marco Aurélio na Presidência do STF, em 31/5/2001
de um grande respeito.”
Doutor Sergio Bermudes, Advogado, no prefácio do livro Vencedor e Vencido, em maio de 2006

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JULGADOS EM DESTAQUE
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Importância do Posicionamento Imediato do Supremo Tribunal Federal  – –  Singularidade do Processo  –

“Digo mesmo que a Corte há de estar sempre propensa a examinar os grandes temas nacionais, “(...) desde cedo percebi que cada processo é uma lide individualizada, com aspectos e, portanto,
contando, para tanto, com a competência de julgar os processos objetivos. O grande número de parâmetros objetivos e subjetivos próprios, a obstaculizar a observância automática de precedentes.”
demandas individuais, o vulto do varejo, não pode servir a posicionamento esvaziador da atividade
RE 192.568/PI
precípua que lhe é reservada constitucionalmente — de guarda da Lei Fundamental — e da qual
não deve e não pode despedir-se. Tudo recomenda que, em jogo matéria de extrema relevância,
haja o imediato crivo do Supremo, evitando-se decisões discrepantes que somente causam perplexi-
dade, no que, a partir de idênticos fatos e normas, veiculam enfoques diversificados. A unidade do
Direito, sem mecanismo próprio à uniformização interpretativa, afigura-se simplesmente formal, –  Importância do Direito Instrumental  –
gerando insegurança, o descrédito do Judiciário e, o que é pior, com angústia e sofrimento ímpares
vivenciados por aqueles que esperam a prestação jurisdicional.” “(...) processo para mim não é forma pela forma, não é fetichismo da forma, é liberdade, como cos-
tumo dizer, em seu sentido maior. É saber o que pode, ou não, ocorrer na tramitação, no andamento
ADPF 46/DF
de uma ação ajuizada. Mesmo assim, contando a Pátria com normas processuais imperativas, há
certos solavancos, certas surpresas (...).
(...) a organicidade, a dinâmica do Direito instrumental é indispensável à efetivação do Direito
material, do Direito substancial, a dar-se, no exercício da missão sublime, que é a de julgar, a cada
–  Humor Jornalístico e Charge em Período Eleitoral  – um o que é seu. Em um Estado de Direito — perdoem-me —, o fim não justifica o meio. Quando
se tem embate aparentemente desequilibrado, o equilíbrio decorre, justamente, do arcabouço nor-
“O que nos vem da Constituição Federal? Vem-nos algo que, como ressaltei, é primordial num mativo e, essencialmente, do arcabouço normativo constitucional.”
Estado Democrático de Direito — principalmente em uma quadra em que notamos o abandono
Ext 1.085/República Italiana
a princípios, a inversão de valores, a perda de parâmetros, o dito passa pelo não dito, o certo pelo
errado e vice-versa —, que é a liberdade, diria, o direito-dever de informar, a liberdade de expressão.
Essa liberdade não se sobrepõe, porque assim o quer o texto constitucional, ao direito à privacidade.
Tanto não se sobrepõe que, no caso de mau-trato à privacidade, estão previstas na própria Cons-
tituição as consequências no campo cível e também no penal. É inimaginável uma censura, quer –  Antissemitismo e Liberdade de Expressão  –
administrativa, quer normativa, quer jurisdicional, à liberdade de expressão.
(...) “O livro do paciente deixa claro que o autor tem uma ideia preconceituosa acerca dos judeus.
Claro que o exercício abusivo do Direito tem consequências, mas tem consequências no cam- Acredito que, em tese, devemos combater qualquer tipo de ideia preconceituosa, mas não a partir
po próprio, consequências que pressupõem o próprio ato, ou seja, a prática indevida, o exer- da proibição na divulgação dessa ideia, não a partir da conclusão sobre a prática do crime de racis-
cício indevido. mo, de um crime que a Carta da República levou às últimas consequências quando, declarando-o
(...) imprescritível, desprezou a consagrada e salutar segurança jurídica. O combate deve basear-se em
Evidentemente, aquele que se apresenta na disputa de um cargo eletivo o faz sem receio de sofrer critérios justos e limpos, no confronto de ideias. (...) Só teremos uma sociedade aberta, tolerante
críticas ou mesmo de ser alvo de alguma colocação mais jocosa quanto ao respectivo perfil. E não e consciente se as escolhas puderem ser pautadas nas discussões geradas a partir das diferentes
é demais ressaltar que se imagina que o homem público seja um livro aberto.” opiniões sobre os mesmos fatos.”

ADI 4.451 MC-REF/DF HC 82.424/RS

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Estado Laico e Liberdade Religiosa  – –  Excepcionalidade da Prisão Preventiva  –

“Se, de um lado, a Constituição, ao consagrar a laicidade, impede que o Estado intervenha em as- “Em face do princípio constitucional da não culpabilidade, a custódia acauteladora há de ser toma-
suntos religiosos, seja como árbitro, seja como censor, seja como defensor, de outro, a garantia do da como exceção, cumprindo interpretar os preceitos que a regem de forma estrita, reservando-a
Estado laico obsta que dogmas da fé determinem o conteúdo de atos estatais. Vale dizer: concepções a situações em que a liberdade do acusado coloque em risco os cidadãos, especialmente aqueles
morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias, não podem guiar as decisões prontos a colaborarem com o Estado na elucidação de crime.”
estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada. A crença religiosa e espiritual — ou a ausência
HC 85.455/MT
dela, o ateísmo — serve precipuamente para ditar a conduta e a vida privada do indivíduo que a
possui ou não a possui. Paixões religiosas de toda ordem hão de ser colocadas à parte na condução
do Estado. Não podem a fé e as orientações morais dela decorrentes ser impostas a quem quer que
seja e por quem quer que seja. Caso contrário, de uma democracia laica com liberdade religiosa
não se tratará, ante a ausência de respeito àqueles que não professem o credo inspirador da decisão –  Farra do Boi  –
oficial ou àqueles que um dia desejem rever a posição até então assumida.
(...) “Se, de um lado, (...) a Constituição Federal revela competir ao Estado garantir a todos o pleno
(...) Não se cuida apenas de ser tolerante com os adeptos de diferentes credos pacíficos e com exercício de direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiando, incentivando a va-
aqueles que não professam fé alguma. Não se cuida apenas de assegurar a todos a liberdade de fre- lorização e a difusão das manifestações culturais — e a Constituição Federal é um grande todo —,
quentar esse ou aquele culto ou seita ou ainda de rejeitar todos eles. A liberdade religiosa e o Estado de outro lado, no Capítulo VI, sob o título ‘Do Meio Ambiente’, inciso VII do art. 225, temos uma
laico representam mais do que isso. Significam que as religiões não guiarão o tratamento estatal proibição, um dever atribuído ao Estado:
dispensado a outros direitos fundamentais, tais como o direito à autodeterminação, o direito à saúde
física e mental, o direito à privacidade, o direito à liberdade de expressão, o direito à liberdade de Art. 225. (...)
orientação sexual e o direito à liberdade no campo da reprodução.” (...)
VII — proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ADPF 54/DF
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

(...) é justamente a crueldade o que constatamos ano a ano, ao acontecer o que se aponta como
folguedo sazonal. A manifestação cultural deve ser estimulada, mas não a prática cruel. Admitida a
–  Postura do Magistrado  – chamada ‘farra do boi’, em que uma turba ensandecida vai atrás do animal para procedimentos que
estarrecem, como vimos, não há poder de polícia que consiga coibir esse procedimento. Não vejo
“Aprendi (...) como Juiz, desde cedo, que toda vez que o magistrado se defronta com uma contro- como chegar-se à posição intermediária. (...)
vérsia, com um interesse resistido, deve idealizar a solução mais justa para o caso concreto. Ele deve (...)
partir para a fixação do desiderato, inicialmente, de acordo com a formação humanística que possui Entendo que a prática chegou a um ponto a atrair, realmente, a incidência do disposto no inci-
e, somente após, já fixado o desiderato desejável para o caso, partir para a dogmática e, aí, tentar so VII do art. 225 da Constituição Federal. Não se trata, no caso, de uma manifestação cultural que
buscar, na dogmática, o apoio para a conclusão a que chegou inicialmente. Encontrando esse apoio, mereça o agasalho da Carta da República. (...) cuida-se de uma prática cuja crueldade é ímpar e
como quer o Direito, torna translúcido o Direito do provimento judicial. Não encontrando, aí, sim, decorre das circunstâncias de pessoas envolvidas por paixões condenáveis buscarem, a todo custo,
lamenta e conclui de forma diametralmente oposta à solução idealizada.” o próprio sacrifício do animal.”

RE 111.787/GO RE 153.531/SC

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Proatividade do Juiz a Serviço da Eficiência Judicante  – –  Liberdade de Expressão e Estado Democrático de Direito  –

“Considerada a existência de relação direta entre o exercício da atividade probatória e a qualidade “(...) os direitos fundamentais localizam-se na estrutura de sustento e de eficácia do princípio demo-
da tutela jurisdicional, a finalidade de produção de provas de ofício pelo magistrado é possibilitar a crático. Nesse contexto, o específico direito fundamental da liberdade de expressão exerce um papel
elucidação de fatos imprescindíveis para a formação da convicção necessária ao julgamento do mérito. de extrema relevância, insuplantável, em suas mais variadas facetas: direito de discurso, direito de
É claro que se recomendam temperamentos na aplicação da regra. A atenuação do princípio opinião, direito de imprensa, direito à informação e à proibição da censura. É por meio desse direito
dispositivo no direito processual moderno não serve a tornar o magistrado o protagonista da ins- que ocorre a participação democrática, a possibilidade de as mais diferentes e inusitadas opiniões
trução processual. A iniciativa probatória estatal, se levada a extremos, cria, inegavelmente, fatores serem externadas de forma aberta, sem o receio de, com isso, contrariar-se a opinião do próprio
propícios à parcialidade, pois transforma o juiz em assistente de um litigante em detrimento do ou- Estado ou mesmo a opinião majoritária. E é assim que se constrói uma sociedade livre e plural, com
tro. As partes continuam a ter a função precípua de propor os elementos indispensáveis à instrução diversas correntes de ideias, ideologias, pensamentos e opiniões políticas. (...)
do processo, mesmo porque não se extinguem as normas atinentes à isonomia e ao ônus da prova. (...)
A par desse aspecto, não se espera mais do magistrado uma atitude passiva, inerte, porquanto (...) A liberdade de expressão serve como instrumento decisivo de controle da atividade go-
imparcialidade não se confunde com indiferença. Abriu-se caminho para que possa suprir a defi- vernamental e do próprio exercício de poder. Essa dimensão foi até mesmo a fonte histórica da
ciência da instrução. Da constatação da natureza pública da relação jurídico-processual e da busca conquista e do desenvolvimento de tal liberdade. À proporção que se forma uma comunidade
da verdade real decorre a exigência de prática de atos voltados a viabilizar a formação da certeza livre de censura, com liberdade para exprimir os pensamentos, viabiliza-se a crítica desimpedida,
jurídica e da tranquilidade necessárias ao julgamento do mérito.” mesmo que contundente, aos programas de governo, aos rumos políticos do país, às providências
da administração pública. Enfim, torna-se possível criticar, alertar, fiscalizar e controlar o próprio
ADI 1.082/DF
exercício dos mandatos eletivos.
(...)
Há de se proclamar a autonomia do pensamento individual como uma forma de proteção à tira-
nia imposta pela necessidade de adotar-se sempre o pensamento politicamente correto. As pessoas
–  Exigência de Documento com Foto para Votar nas Eleições  – simplesmente não são obrigadas a pensar da mesma maneira. Devem sempre procurar o melhor
desenvolvimento da intelectualidade, e isso pode ocorrer de maneira distinta para cada indivíduo. (...)
“(...) o que notamos diante desse contexto? Que a inspiração do legislador, versando em lei os dois (...)
documentos — título eleitoral e carteira de identificação oficial —, esteve nos pronunciamentos da (...) Parece-me temerária, ou no mínimo arriscada, a restrição acintosa da liberdade de opinião
Justiça Eleitoral — merecedora (...) de encômios. Se levarmos a interpretação para o campo literal, pautada somente em expectativas abstratas ou em receios pessoais dissociados de um exame que
tendo em conta o conectivo ‘e’, título de eleitor e documento de identidade, realmente estabelecere- não leve em consideração os elementos sociais e culturais ou indícios já presentes de nossa história
mos que o eleitor, muito embora registrado no caderno eleitoral, na seção, ainda que se identifique bibliográfica. Assim sendo, também não pode servir de substrato para a restrição da liberdade de
e comprove que é ele mesmo, não poderá exercer esse direito-dever tão importante, ligado à cida- expressão simples alegação de que a opinião manifestada seja discriminatória, abusiva, radical, ab-
dania, que é o de escolher os representantes. Mas não podemos partir para essa óptica, sob pena surda, sem que haja elementos concretos a demonstrarem a existência de motivos suficientes para
de menosprezo à razoabilidade, sob pena de adentrarmos o campo da simples burocratização do a limitação propugnada.”
exercício de escolher os representantes.
HC 82.424/RS
(...)
(...) Se há eleitor, ainda que único, que possa deixar de exercer o direito de escolha de seus repre-
sentantes, ante interpretação extremada do preceito legal, a ponto de exigir-se o duplo documento,
há campo para a atuação do Supremo, visando justamente esse exercício.”

ADI 4.467 MC/DF

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Caráter Não Absoluto do Direito à Vida  – exigidas pela lei. Ela é a salvaguarda de que as profissões que representam riscos à coletivida-
de serão limitadas, serão exercidas somente por aqueles indivíduos conhecedores da técnica.
“Inexiste hierarquia do direito à vida sobre os demais direitos, o que é inquestionável ante o próprio (...)
texto da Constituição da República, cujo art. 5º, inciso XLVII, admite a pena de morte em caso de (...) É dizer: o perigo de dano decorrente da prática da advocacia sem o exame de conhecimentos serve
guerra declarada na forma do art. 84, inciso XIX. Corrobora esse entendimento o fato de o Código a justificar a restrição ao direito fundamental e geral à liberdade do exercício de profissão? Os benefícios
Penal prever, como causa excludente de ilicitude ou antijuridicidade, o aborto ético ou humanitá- provenientes da medida restritiva são superiores à ofensa à garantia do inciso XIII do art. 5º da Carta? (...)
rio — quando o feto, mesmo sadio, seja resultado de estupro. Ao sopesar o direito à vida do feto e os (...)
direitos da mulher violentada, o legislador houve por bem priorizar estes em detrimento daquele — e, (...) quem exerce a advocacia sem a capacidade técnica necessária afeta outrem? A resposta é
até aqui, ninguém ousou colocar em dúvida a constitucionalidade da previsão.” desenganadamente positiva. Causa prejuízos, à primeira vista, ao próprio cliente, fazendo-lhe pere-
cer o direito ou deixando-lhe desguarnecido, mas também lesa a coletividade, pois denega Justiça,
ADPF 54/DF
pressuposto da paz social. Atrapalha o bom andamento dos trabalhos judiciários, formulando pre-
tensões equivocadas, ineptas e, por vezes, inúteis. Enquanto o bom advogado contribui para a reali-
zação da Justiça, o mau advogado traz embaraços para toda a sociedade, não apenas para o cliente.”

RE 603.583/RS
–  Exame da Ordem e Garantia Constitucional do Livre Exercício Profissional  –

“A liberdade de exercício de profissão é um direito fundamental de elevada significância no con-


texto constitucional. (...) Por ser pressuposto à realização plena de um projeto de vida, liberdade de
profissão e dignidade da pessoa humana estão inegavelmente relacionadas. –  Mandado de Injunção  –
(...)
(...) A escolha de determinada profissão revela a opção por certo modo de vida, que se converterá “Iniludivelmente, buscou-se, com a inserção do mandado de injunção, no cenário jurídico-cons-
em esteio econômico do indivíduo — e quiçá da família — de maneira que, quando o Poder Público titucional, tornar concreta, tornar viva a Lei Maior, presentes direitos, liberdades e prerrogativas
condiciona ou simplesmente lhe impede o exercício, nega-lhe um elemento importante da própria inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Não se há de confundir a atuação no julgamento
razão de existir. (...) a proteção ao projeto de vida e à busca da felicidade tem alto valor existencial, do mandado de injunção com atividade do Legislativo. Em síntese, ao agir, o Judiciário não lança,
regida pelo princípio da dignidade da pessoa humana. na ordem jurídica, preceito abstrato. Não, o que se tem, em termos de prestação jurisdicional, é
(...) a viabilização, no caso concreto, do exercício do direito, do exercício da liberdade constitucional,
(...) o constituinte originário limitou as restrições à liberdade de ofício às exigências de qualifica- das prerrogativas ligadas a nacionalidade, soberania e cidadania. O pronunciamento judicial faz
ção profissional. Cabe indagar: por que assim o fez? Ora, precisamente porque o trabalho, além da lei entre as partes, como qualquer pronunciamento em processo subjetivo, ficando, até mesmo,
dimensão subjetiva, também ostenta relevância que transcende os interesses do próprio indivíduo. sujeito a uma condição resolutiva, ou seja, ao suprimento da lacuna regulamentadora por quem
Em alguns casos, o mister desempenhado pelo profissional resulta em assunção de riscos — os quais de direito, Poder Legislativo.
podem ser individuais ou coletivos. Quando o risco é predominantemente do indivíduo — exemplo É tempo de se refletir sobre a timidez inicial do Supremo quanto ao alcance do mandado de in-
dos mergulhadores, dos profissionais que lidam com a rede elétrica, dos transportadores de cargas junção, ao excesso de zelo, tendo em vista a separação e harmonia entre os Poderes. É tempo de se
perigosas, etc. —, para tentar compensar danos à saúde, o sistema jurídico atribui-lhe vantagens perceber a frustração gerada pela postura inicial, transformando o mandado de injunção em ação
pecuniárias (adicional de periculosidade, insalubridade) ou adianta-lhe a inativação. (...) simplesmente declaratória do ato omissivo, resultando em algo que não interessa, em si, no tocante à
Quando, por outro lado, o risco é suportado pela coletividade, então cabe limitar o acesso à prestação jurisdicional, tal como consta no inciso LXXI do art. 5º da Constituição Federal, ao cidadão.”
profissão e o respectivo exercício, exatamente em função do interesse coletivo. Daí a cláusula cons-
MI 721/DF
tante da parte final do inciso XIII do art. 5º da Carta Federal, de ressalva das qualificações legais

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Interpretação dos Direitos Fundamentais  – –  Importância do Advogado no Estado Democrático de Direito  –

“(...) cabe ao Supremo Tribunal Federal ampliar a proteção dos direitos fundamentais mediante “O advogado ocupa papel central e fundamental na manutenção do Estado Democrático de Direito.
construção constitucional e restringir-se a uma interpretação quase que literal nas hipóteses de li- O princípio geral da inércia da jurisdição, estampado no art. 2º do Código de Processo Civil, faz
mitação a esses direitos, ainda que expressas no corpo da própria Carta Política. Não é permitido a com que o advogado assuma um papel relevantíssimo na aplicação e defesa da ordem jurídica. A ele
este Tribunal ou a qualquer hermeneuta da Constituição interpretar de forma aberta ou ampliativa cabe a missão de deflagrar o controle de legalidade e constitucionalidade efetuado pelos juízos e
preceitos que impliquem a diminuição de eficácia dos direitos fundamentais.” tribunais do país. Todo advogado é um potencial defensor do Direito, e essa nobre missão não pode
ser olvidada. O constituinte foi altissonante e preciso ao proclamar, no art. 133 da Lei Maior, que
HC 82.424/RS
o advogado mostra-se indispensável à administração da Justiça. Insisto: justiça enquadra-se como
bem de primeira necessidade; a injustiça, como um mal a ser combatido.
Transparece claro o interesse social relativo à existência de mecanismos de controle — objeti-
vos e impessoais — concernentes à prática da advocacia. O Direito não apenas envolve questões
–  Conciliação e Paz Social  – materiais, mas também tutela situações existenciais. Já está superada a fase do Direito centrado no
patrimônio, do ter, e não do ser.”
“(...) ninguém coloca em dúvida a valia, sob o ângulo da preservação da paz social, do entendimento
RE 603.583/RS
direto entre os titulares dos direitos envolvidos na relação jurídica. Esforços devem ser direcionados
no sentido da solução dos conflitos que se apresentem, sem chegar-se ao litígio, à formalização de
demanda, aos ares que, induvidosamente, levam ao acirramento de ânimos, passando, por vezes, o
réu a ver no autor um inimigo, quando este simplesmente aciona direito inerente à cidadania (...).”

ADI 2.139 MC/DF –  Importância do Contraditório  –

“Vejo o contraditório como espinha dorsal do devido processo legal, ou seja, o cidadão que tenha
uma certa situação constituída não pode, sem a cientificação, ser despojado dela em Juízo. De início,
essa é a regra. Deve haver o conhecimento, mesmo da medida intentada em um fórum diverso.
–  Devido Processo Legal e Prestação Jurisdicional  – (...)
A não ser no caso de urgência maior, de risco de perecimento de direito.”
“A decisão, como ato de inteligência, há de ser a mais completa e convincente possível. Incumbe
STA 389 AgR/MG
ao Estado-Juiz observar a estrutura imposta por lei, formalizando o relatório, a fundamentação e o
dispositivo. Transgride comezinha noção do devido processo legal, desafiando os recursos de revista,
especial e extraordinário, pronunciamento que, inexistente incompatibilidade com o já assentado, “O direito de defender-se é, antes de mais nada, um direito natural, senão a mola-mestra do pro-
implique recusa em apreciar causa de pedir veiculada por autor ou réu. O juiz é um perito na arte cesso — o contraditório —, reveladora de predicado da dignidade do homem, fundamento que
de proceder e julgar, devendo enfrentar as matérias suscitadas pelas partes, sob pena de, em vez tenho como síntese dos demais previstos, também, no art. 1º da Carta Federal. Sem ele não é dado
de examinar no todo o conflito de interesses, simplesmente decidi-lo, em verdadeiro ato de força, falar em soberania, cidadania, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político.
olvidando o ditame constitucional da fundamentação, o princípio básico do aperfeiçoamento da Do homem para o homem há de ser a tônica da vida pública, da vida gregária, a interpretação ina-
prestação jurisdicional.” fastável do arcabouço normativo pátrio.”

RE 435.256/RJ Pet 3.388/RR

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Devido Processo Legal e Ofensa Indireta à Constituição Federal  – –  Antecipação Terapêutica do Parto × Aborto  –

“A intangibilidade do preceito constitucional assegurador do devido processo legal direciona ao “(...) mostra-se inteiramente despropositado veicular que o Supremo examinará, neste caso, a des-
exame da legislação comum. Daí a insubsistência da óptica segundo a qual a violência à Carta Polí- criminalização do aborto, especialmente porque, consoante se observará, existe distinção entre
tica da República, suficiente a ensejar o conhecimento de extraordinário, há de ser direta e frontal. aborto e antecipação terapêutica do parto. Apesar de alguns autores utilizarem expressões ‘aborto
Caso a caso, compete ao Supremo Tribunal Federal exercer crivo sobre a matéria, distinguindo eugênico ou eugenésico’ ou ‘antecipação eugênica da gestação’, afasto-as, considerado o indiscutível
os recursos protelatórios daqueles em que versada, com procedência, a transgressão a texto cons- viés ideológico e político impregnado na palavra eugenia.
titucional, muito embora torne-se necessário, até mesmo, partir-se do que previsto na legislação Inescapável é o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada
comum. Entendimento diverso implica relegar à inocuidade dois princípios básicos em um Estado sua dignidade e, de outro, os interesses de parte da sociedade que deseja proteger todos os que a
Democrático de Direito — o da legalidade e do devido processo legal, com a garantia da ampla integram — sejam os que nasceram, sejam os que estejam para nascer — independentemente da
defesa, sempre a pressuporem a consideração de normas estritamente legais.” condição física ou viabilidade de sobrevivência. O tema envolve a dignidade humana, o usufruto
da vida, a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais,
RE 158.655/PA
especificamente, os direitos sexuais e reprodutivos de milhares de mulheres. No caso, não há colisão
real entre direitos fundamentais, apenas conflito aparente.
Na discussão mais ampla sobre o aborto, (...) incumbe identificar se existe algum motivo que
autorize a interrupção da gravidez de um feto sadio. No debate sobre a antecipação terapêutica do
–  Interpretação Evolutiva e Leis Anacrônicas  – parto de feto anencéfalo, o enfoque mostra-se diverso. Cabe perquirir se há justificativa para a lei
compelir a mulher a manter a gestação, quando ausente expectativa de vida para o feto.”
“Nos nossos dias não há crianças, mas moças de doze anos. Precocemente amadurecidas, a maioria
ADPF 54/DF
delas já conta com discernimento bastante para reagir ante eventuais adversidades, ainda que não
possuam escala de valores definida a ponto de vislumbrarem toda a sorte de consequências que
lhes pode advir. (...)
Portanto, é de se ver que já não socorre à sociedade os rigores de um Código ultrapassado,
anacrônico e, em algumas passagens, até descabido, porque não acompanhou a verdadeira revolu- –  Imparcialidade do Supremo Tribunal Federal  –
ção comportamental assistida pelos hoje mais idosos. Com certeza, o conceito de liberdade é tão
discrepante daquele de outrora que só seria comparado aos que norteavam antigamente a noção de “O Estado não pode contar com o privilégio de editar a lei, aplicá-la e vê-la sopesada pelo Judiciário
libertinagem, anarquia, cinismo e desfaçatez. ao sabor de política governamental, a partir de óptica tendenciosa, sempre isolada e momentânea,
Alfim cabe uma pergunta que, de tão óbvia, transparece à primeira vista como que desnecessária, sempre a revelar o oportunismo de plantão. Ao Estado-Juiz, especialmente ao Supremo Tribunal
conquanto ainda não devidamente respondida: a sociedade envelhece; as leis, não? Federal, cumpre, em razão de compromisso maior — e a história é uma cobradora infatigável —,
Ora, enrijecida a legislação — que, ao invés de obnubilar a evolução dos costumes, deveria zelar pela intangibilidade da ordem jurídico-constitucional, pouco importando que, assim o fazendo,
acompanhá-la, dessa forma protegendo-a —, cabe ao intérprete da lei o papel de arrefecer tanta seja incompreendido. (...) Os incautos, os míopes, os pobres de espírito democrático, não esperem
austeridade, flexibilizando, sob o ângulo literal, o texto normativo, tornando-o, destarte, adequado do Supremo Tribunal Federal atitude acomodadora, por mais convidativa que seja a quadra, já
e oportuno, sem o que o argumento da segurança transmuda-se em sofisma e servirá, ao reverso, que se afigura, na concepção da Carta da República, como o Juiz Maior da Federação, não se lhe
ao despotismo inexorável dos arquiconservadores de plantão, nunca a uma sociedade que se quer sendo opostos óbices ao cumprimento do dever constitucional de assegurar a intangibilidade da
global, ágil e avançada — tecnológica, social e espiritualmente.” ordem jurídica.”

HC 73.662/MG ADI 1.098/SP

90 91
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Hermenêutica e Aplicação do Direito  – –  Diploma de Jornalista  –

“(...) a lei, documento abstrato, é universal. Assim o requer a República, assim o requer a democra- “Penso que o jornalista deve deter formação, uma formação básica que viabilize a atividade profissional
cia, assim o exige o povo brasileiro, assim há de pronunciar-se o Judiciário, especialmente na voz no que repercute na vida dos cidadãos em geral. Ele deve contar — e imagino que passe a contar, colando
do guardião maior da Carta Federal — o Supremo. Descabe distinguir onde a lei não distingue. Eis grau no nível superior — com técnica para entrevistar, para se reportar, para editar, para pesquisar o
princípio básico de hermenêutica e aplicação do Direito implícito na Constituição Federal. Fora que deva publicar no veículo de comunicação, alfim, para prestar serviço no campo da inteligência.
isso, prevalece o despotismo, consagrando-se casta privilegiada.” Quando se concebe — como se concebeu em 1969 — a exigência do curso superior e quando se
admite essa exigência, fazendo-o no campo da opção político-normativa, tem-se em vista a presta-
HC 102.732/DF
ção de serviço de maior valor, de serviço que sirva, realmente, à formação de convencimento sobre
temas, passando-se, até, a contar com orientação na vida gregária. (...)
A existência da norma a exigir o nível superior implica uma salvaguarda, uma segurança ju-
rídica maior quanto ao que é versado com repercussão ímpar, presentes aqueles que leem jornais,
– Prouni – principalmente jornais nacionais.
(...) devo presumir o que normalmente ocorre, não o excepcional: tendo o profissional o nível
“Indago: é razoável, é aceitável, observa a ordem natural das coisas, o princípio do determinismo, dito superior, estará mais habilitado à prestação de serviços profícuos à sociedade brasileira.
o Estado cumprimentar com chapéu alheio? Por que não potencializa o instituto das universidades É difícil, no Colegiado, após tantos votos em certo sentido, adotar entendimento diverso. No en-
públicas, viabilizando o acesso com maior largueza? Por que esse acesso é tão afunilado, revelando tanto, já afirmei que a minha sina é divergir. Detenho uma alma, reconheço, irrequieta, um espírito
via crucis, que é revelada pelo vestibular para uma universidade pública? Não o faz porque é mais irrequieto e não posso menosprezar a minha ciência e a minha consciência jurídica; não posso,
fácil utilizar-se de um poder de pressão maior, do poder que é inerente à soberania, e compelir-se também, abandonar o que venho ressaltando quanto ao Colegiado, que é um somatório de forças
a iniciativa privada a fazer o que ele próprio — Estado — deveria fazer, viabilizando o acesso uni- distintas. Nós nos completamos mutuamente.”
versitário, de uma forma larga, àqueles que tenham o requisito de escolaridade para cursar o nível
RE 511.961/SP
universitário, sem essa carnificina — e assim rotulo — como o é o vestibular para uma universidade
pública, com afunilamento insuplantável. Mas veio o Estado, como disse, a cumprimentar com
chapéu alheio, deixando no ar a perda da imunidade prevista no art. 150 na Carta da República,
a impor, para ter-se a isenção — e não se pode cogitar de sobreposição, a um só tempo, versar-se
o direito à imunidade e o direito à isenção, já que são valores que se excluem, sendo o primeiro –  O Direito e as Mudanças Histórico-Sociais  –
mais abrangente do que o segundo —, até mesmo àquelas universidades detentoras da prerrogativa
estampada na imunidade, para continuarem tendo jus a essa imunidade, a adesão ao Prouni e fazer “O Direito, para manter-se atual, tem de estar aberto aos influxos sociais. Na quadra vivida, as
o que ele não faz: abrir vagas aos estudantes egressos de escolas públicas. mudanças constantes e rápidas tornam difícil ao operador do Direito acompanhá-las e, com maior
(...) razão, ao legislador. Antes se pensava no passar do tempo como algo positivo ao Direito, necessário
O meu compromisso — e talvez esteja errado, porque voz isolada no Colegiado — não é com o à maturação das questões jurídicas, à reflexão sobre temas com relevante impacto social. Hoje, um
politicamente correto. É com o politicamente correto, se estiver, sob a minha óptica, segundo ciên- simples piscar de olhos pode nos fazer obsoletos. Cito os avanços em campos como o da genética,
cia e consciência possuídas, harmônico com a Carta da República. E, no que editada essa medida das relações sociais, da internet, etc. Nesse contexto, o princípio da legalidade há de ser tomado
provisória, convertida em lei, atropelando-se o que seria normal, o que seria o trânsito do projeto em termos, não devendo prosperar a conclusão segundo a qual, ainda que a natureza da obrigação
apresentado pelo próprio Executivo, não tenho algo afinado com a Constituição Federal.” jurídica reclame certa integração em nível administrativo, surgiria, por tal razão, inexigível.”

ADI 3.330/DF RE 603.583/RS

92 93
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Atuação do Supremo Tribunal Federal no Processo Objetivo  – Sob a óptica constitucional, a norma também é corolário da incidência do princípio da proibição
de proteção insuficiente dos direitos fundamentais, na medida em que ao Estado compete a adoção
“Observe-se a importância dos processos objetivos. Neles, o Supremo Tribunal Federal tem oportu- dos meios imprescindíveis à efetiva concretização de preceitos contidos na Carta da República.
nidade de enfrentar de imediato questões de repercussão maior, que interessam à sociedade como A abstenção do Estado na promoção da igualdade de gêneros e a omissão no cumprimento, em
um grande todo. (...) atua o Supremo de pronto e o faz em prol da unidade do próprio Direito, no maior ou menor extensão, de finalidade imposta pelo Diploma Maior implicam situação da maior
que aplicável, de forma linear, no território nacional. Mediante o processo objetivo ensejador do gravidade político-jurídica, pois deixou claro o constituinte originário que, mediante inércia, pode
controle concentrado de constitucionalidade, o Supremo exerce, na plenitude, a atribuição que lhe o Estado brasileiro também contrariar o Diploma Maior.
é precípua, isto é, de guardar a Constituição Federal (...). Daí a conveniência de não ficar a Corte a A Lei Maria da Penha retirou da invisibilidade e do silêncio a vítima de hostilidades ocorridas
reboque, a pronunciar-se processo a processo, de modo irracional, visando à prevalência do direito na privacidade do lar e representou movimento legislativo claro no sentido de assegurar às mulheres
posto, especialmente do direito constitucional. Passo a passo, o Constituinte alargou o âmbito de agredidas o acesso efetivo à reparação, à proteção e à Justiça. A norma mitiga realidade de discrimi-
atuação do Tribunal em tal campo, começando com a representação interventiva, e, hoje, conta- nação social e cultural que, enquanto existente no país, legitima a adoção de legislação compensatória
-se não só com a ação direta de inconstitucionalidade nas duas modalidades, englobado o vício da a promover a igualdade material, sem restringir, de maneira desarrazoada, o direito das pessoas per-
omissão, a declaratória de constitucionalidade, mas também com a mais nova irmã dessas ações, tencentes ao gênero masculino. A dimensão objetiva dos direitos fundamentais, vale ressaltar, reclama
a arguição de descumprimento de preceito fundamental. A instrumentalidade está ao alcance do providências na salvaguarda dos bens protegidos pela Lei Maior, quer materiais, quer jurídicos, sendo
Tribunal, cumprindo dar concretude ao que previsto na Carta da República. Dessa maneira, aciona- importante lembrar a proteção especial que merecem a família e todos os seus integrantes.”
-se sadia política judiciária, eliminando-se as perplexidades decorrentes de julgamentos díspares,
ADC 19/DF
ainda que idênticos os fatos e o arcabouço normativo.”

ADPF 54 QO/DF

–  Conselho Nacional de Justiça  –

–  Lei Maria da Penha  – “(...) continuamos a acreditar que poderemos ter, no Brasil, mediante novos diplomas e novas leis,
dias melhores, a retomada do desenvolvimento, o abandono da estagnação. Repito o que tenho dito:
“Para frear a violência doméstica, não se revela desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo como precisamos, no Brasil, de homens, cidadãos, especialmente homens públicos, que observem — é
critério de diferenciação. A mulher é eminentemente vulnerável quando se trata de constrangimentos esse o preço que se paga por se viver em um Estado Democrático de Direito — a ordem jurídica.
físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Não há dúvida sobre o histórico de discri- Aponta-se, e se dá uma esperança vã à sociedade brasileira, o Conselho Nacional de Justiça como
minação e sujeição por ela enfrentado na esfera afetiva. As agressões sofridas são significativamente solução para os problemas do Judiciário, não se perquirindo, em si, a origem desses problemas,
maiores do que as que acontecem contra homens em situação similar. Além disso, mesmo quando partindo-se quase do pressuposto de que o Judiciário nacional é composto por pessoas que, costu-
homens, eventualmente, sofrem violência doméstica, a prática não decorre de fatores culturais e meiramente, adentram o campo do desvio de conduta; que o Poder Judiciário nacional não possui,
sociais e da usual diferença de força física entre os gêneros. considerado o poder constituinte originário — e aqui estamos a defrontar com emenda decorrente do
Na seara internacional, a Lei Maria da Penha está em harmonia com a obrigação, assumida pelo poder constituinte derivado —, organização própria para corrigir atos que discrepem do arcabouço
Estado brasileiro, de incorporar, na legislação interna, as normas penais, civis e administrativas ne- normativo de regência, quer na área administrativa, quer na área jurisdicional.”
cessárias para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, tal como previsto no art. 7º,
ADI 3.367/DF
item c, da Convenção de Belém do Pará e em outros tratados internacionais ratificados pelo país.

94 95
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Princípio da Anterioridade Nonagesimal  – –  Ação Penal Pública Incondicionada e Lei Maria da Penha  –

“O princípio da anterioridade representa garantia constitucional estabelecida em favor do contri- “Sob o ângulo constitucional explícito, tem-se como dever do Estado assegurar a assistência à família
buinte perante o Poder Público, norma voltada a preservar a segurança e a possibilitar um mínimo na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de
de previsibilidade às relações jurídico-tributárias. Destina-se a assegurar o transcurso de lapso suas relações. Não se coaduna com a razoabilidade, não se coaduna com a proporcionalidade, deixar
temporal razoável a fim de que o contribuinte possa elaborar novo planejamento e adequar-se à a atuação estatal a critério da vítima, a critério da mulher, cuja espontânea manifestação de vontade
realidade tributária mais gravosa.” é cerceada por diversos fatores da convivência no lar, inclusive a violência a provocar o receio, o
temor, o medo de represálias. Esvazia-se a proteção, com flagrante contrariedade ao que previsto
ADI 4.661 MC/DF
na Constituição Federal, especialmente no § 8º do respectivo art. 226, no que admitido que, verifi-
cada a agressão com lesão corporal leve, possa a mulher, depois de acionada a autoridade policial,
atitude que quase sempre provoca retaliação do agente autor do crime, vir a recuar e a retratar-se
em audiência especificamente designada com tal finalidade, fazendo-o — e ao menos se previu de
–  Concurso Público: Finalidade e Direito à Nomeação  – forma limitada a oportunidade — antes do recebimento da denúncia, condicionando-se, segundo
o preceito do art. 16 da Lei em comento, o ato à audição do Ministério Público.
“(...) passo a passo, constatamos que a vigorosa espada da Justiça implica equilíbrio no embate cida- Deixar a cargo da mulher autora da representação a decisão sobre o início da persecução penal
dão/Estado. O Estado não pode brincar com o cidadão, principalmente ante os ares constitucionais significa desconsiderar o temor, a pressão psicológica e econômica, as ameaças sofridas, bem como
vivenciados, em que potencializada a cidadania, a dignidade do homem. a assimetria de poder decorrente de relações histórico-culturais, tudo a contribuir para a diminui-
O concurso público não é responsável pelas mazelas do Brasil. Ao contrário, busca-se, com esse ção de sua proteção e a prorrogação da situação de violência, discriminação e ofensa à dignidade
instituto, a lisura, o afastamento do apadrinhamento, do benefício, considerado o engajamento desse ou humana. Implica relevar os graves impactos emocionais impostos pela violência de gênero à vítima,
daquele cidadão, o enfoque igualitário dando-se as mesmas condições àqueles que disputam um cargo. o que a impede de romper com o estado de submissão.
(...) (...)
(...) qual é o objetivo do concurso público? É saber se há no mercado mão de obra habilitada ao Descabe interpretar a Lei Maria da Penha de forma dissociada do Diploma Maior e dos tratados
exercício do cargo? Não. É selecionar a partir do pressuposto segundo o qual necessita a Administra- de direitos humanos ratificados pelo Brasil, sendo estes últimos normas de caráter supralegal tam-
ção Pública de mão de obra. Se a Administração Pública anuncia no edital que o concurso é realizado bém aptas a nortear a interpretação da legislação ordinária. Não se pode olvidar, na atualidade, uma
para preenchimento de número definido de vagas, não pode simplesmente postergar a convocação consciência constitucional sobre a diferença e sobre a especificação dos sujeitos de direito, o que traz
dos aprovados e classificados, para, posteriormente, até potencializando (...) critério que deveria legitimação às discriminações positivas voltadas a atender as peculiaridades de grupos menos favo-
ser expungido da Administração Pública, que é o da pessoalidade, vir a convocar outro concurso. recidos e a compensar desigualdades de fato, decorrentes da cristalização cultural do preconceito. (...)
(...) (...)
(...) em linhas gerais, é esse, hoje, o consenso unânime do Tribunal, abandonando, portanto, Representa a Lei Maria da Penha elevada expressão da busca das mulheres brasileiras por igual
aquela jurisprudência que remetia, para ter-se o direito à nomeação, à preterição. O concursado consideração e respeito. Protege a dignidade da mulher, nos múltiplos aspectos, não somente como
aprovado, classificado, anunciadas as vagas no edital do concurso, tem o direito subjetivo à nomea- um atributo inato, mas como fruto da construção realmente livre da própria personalidade. Contribui
ção. As portas da Justiça estarão sempre abertas para agasalhar esse direito (...).” com passos largos no contínuo caminhar destinado a assegurar condições mínimas para o amplo
desenvolvimento da identidade do gênero feminino.”
RE 598.099/MS
ADI 4.424/DF

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Gravidade do Crime e Direito de Defesa  – –  Antecipação Terapêutica do Parto de Feto Anencéfalo  –

“Se em jogo o devido processo legal, pouco importa a acusação envolvida no processo. Aliás, quanto “A incolumidade física do feto anencéfalo, que, se sobreviver ao parto, o será por poucas horas ou dias,
mais grave, maior deve ser a atenção com as franquias constitucionais, viabilizando-se o direito de não pode ser preservada a qualquer custo, em detrimento dos direitos básicos da mulher. No caso,
defesa à exaustão, atentando-se para o figurino instrumental, tão indispensável a preservar a liberdade.” ainda que se conceba o direito à vida do feto anencéfalo — o que, na minha óptica, é inadmissível,
consoante enfatizado —, tal direito cederia, em juízo de ponderação, em prol dos direitos à digni-
HC 85.969/SP
dade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à autonomia, à privacidade, à integridade
física, psicológica e moral e à saúde, previstos, respectivamente, nos arts. 1º, inciso III, 5º, cabeça e
incisos II, III e X, e 6º, cabeça, da Carta da República.”

ADPF 54/DF
–  Princípio da Publicidade e Atuação dos Magistrados  –

“O respeito ao Poder Judiciário não pode ser obtido por meio de blindagem destinada a proteger
do escrutínio público os juízes e o órgão sancionador. Tal medida é incompatível com a liberdade
de informação e com a ideia de democracia (...). Faz-se necessário, portanto, que as decisões em –  Uso de Algemas e Princípio da Dignidade  –
processos disciplinares que envolvam magistrados sejam tomadas à luz do dia, à luz da democra-
cia. Não é dado a juízes e órgãos sancionadores pretender eximir-se da fiscalização da sociedade. “O julgamento perante o Tribunal do Júri não requer a custódia preventiva do acusado, até então
O sigilo imposto com o objetivo de proteger a honra dos magistrados contribui para um ambiente simples acusado — inciso LVII do art. 5º da Lei Maior. Hoje não é necessária sequer a presença do
de suspeição e não para a credibilidade da magistratura, pois nada mais conducente à aquisição de acusado (...). Diante disso, indaga-se: surge harmônico com a Constituição mantê-lo, no recinto,
confiança do povo do que a transparência e a força do melhor argumento. com algemas? A resposta mostra-se iniludivelmente negativa.
Com a edição da Emenda Constitucional 45, de 2004, o constituinte derivado modificou o art. 93 Em primeiro lugar, levem em conta o princípio da não culpabilidade. É certo que foi submetida
da Carta Federal, assegurando, nos incisos IX e X, a observância do princípio da publicidade no ao veredicto dos jurados pessoa acusada da prática de crime doloso contra a vida, mas que merecia
exercício da atividade judiciária, inclusive nos processos disciplinares instaurados contra juízes. o tratamento devido aos humanos, aos que vivem em um Estado Democrático de Direito. Segundo o
(...) art. 1º da Carta Federal, a própria República tem como fundamento a dignidade da pessoa humana.
Os dispositivos estão em plena consonância com os ditames democrático e republicano, bem Da leitura do rol das garantias constitucionais — art. 5º —, depreende-se a preocupação em resguar-
assim com o art. 37 da Lei Maior, segundo o qual a Administração Pública — gênero — está sub- dar a figura do preso. A ele é assegurado o respeito à integridade física e moral — inciso XLIX. (...)
metida aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da efi- (...)
ciência. Impõe-se, portanto, o acesso a informações passíveis de serem enquadradas como públicas Ora, esses preceitos — a configurarem garantias dos brasileiros e dos estrangeiros residentes
e iniludivelmente o são as alusivas à atuação dos magistrados, aos eventuais desvios e às sanções no país — repousam no inafastável tratamento humanitário do cidadão, na necessidade de lhe ser
disciplinares aplicadas. (...) preservada a dignidade. Manter o acusado em audiência, com algema, sem que demonstrada, ante
(...) práticas anteriores, a periculosidade, significa colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior,
Não se cuida de caça às bruxas, quando, então, ficaria inaugurada verdadeira época de descontrole não bastasse a situação de todo degradante. O julgamento do Júri é procedido por pessoas leigas,
social, de terror. A quadra é reveladora de um novo senso de cidadania, transparecendo o interesse que tiram as mais variadas ilações do quadro verificado. A permanência do réu algemado indica, à
geral em dominar, sob o ângulo do conhecimento, tudo o que se implemente na seara administrativa, primeira visão, cuidar-se de criminoso da mais alta periculosidade, desequilibrando o julgamento
presentes atos omissivos e comissivos.” a ocorrer, ficando os jurados sugestionados.”

ADI 4.638 MC/DF HC 91.952/SP

98 99
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Obrigatoriedade de Realização do Exame de Paternidade  – –  Direito de Reunião e Liberdade de Expressão  –

“Discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais implícitas e explícitas — preservação da “(...) os direitos fundamentais revelam-se essenciais para que se dê lugar à verdadeira seara pú-
dignidade humana, da intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do império da lei e da blica democrática. Existem para garantir a abertura dos espaços comunicativos e a possibilidade
inexecução específica e direta de obrigação de fazer — provimento judicial que, em ação civil de de participação geral. São imposições decorrentes do reconhecimento mútuo entre os indivíduos
investigação de paternidade, implique determinação no sentido de o réu ser conduzido ao labo- da condição de seres autônomos, livres e iguais, autolegisladores e membros de uma comunidade
ratório, ‘debaixo de vara’, para coleta do material indispensável à feitura do exame DNA. A recusa jurídica comum. (...)
resolve-se no plano jurídico-instrumental, consideradas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, Trata-se de uma concepção procedimental dos direitos fundamentais capaz de conciliá-los com
no que voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova dos fatos.” o princípio democrático. A proteção dos espaços públicos de comunicação, instrumentalizada — é
realmente um instrumento — pelo princípio da liberdade de expressão, assume papel preponderante,
HC 71.373/RS
pois somente com tal garantia o Direito será produzido de forma legítima. (...)
(...)
Concluo que a liberdade de expressão não pode ser tida apenas como um direito a falar aquilo
que as pessoas querem ouvir, ou ao menos aquilo que lhes é indiferente. Definitivamente, não. Li-
–  Meio Ambiente e Poder Público  – berdade de expressão existe precisamente para proteger as manifestações que incomodam os agentes
públicos e privados, que são capazes de gerar reflexões e modificar opiniões. Impedir o livre trânsito
“Consoante dispõe o art. 225 da Constituição Federal, todos têm direito ao meio ambiente ecologi- de ideias é, portanto, ir de encontro ao conteúdo básico da liberdade de expressão.”
camente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Impôs-se
ADPF 187/DF
ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras
gerações. Visando a assegurar a concretude desse direito, assentado em princípio básico, a própria
Carta previu caber ao poder público — à administração pública, ressalte-se — definir, em todas as
unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos.
Somente se permitem a alteração e a supressão por meio de lei, vedada qualquer utilização que com- –  Preconceito e Discriminação  –
prometa a integridade dos atributos a justificarem sua proteção — inciso III do § 1º do citado artigo.
Observem, de início, que a previsão constitucional, voltada ao coletivo, ao bem comum, não “É preciso nesse ponto fazer uma reflexão sobre a necessária distinção entre o preconceito e a
distingue áreas a serem protegidas. Vale dizer que o ditame maior alcança terras devolutas e também discriminação. Preconceito, no sentido etimológico, quer dizer conceito prévio, opinião formada
a propriedade privada. Outra interpretação não pode ser conferida ao mencionado preceito, sob antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, ideia preconcebida. Ora, todos
pena de esvaziar-se o objetivo com ele previsto — a preservação da Mãe-Terra. nós temos ‘pré-conceitos’ acerca de muitos fatos da vida, desenvolvidos com base em experiências
De qualquer modo, a proteção à propriedade não se sobrepõe ao interesse comum. Tanto é assim nutridas ou em ideais a que perseguimos. Preconceito não quer dizer discriminação, esta sim, con-
que a garantia constitucional respectiva está condicionada à função social, versando-se procedimento denável juridicamente, porque significa separar, apartar, segregar, sem que haja fundamento para
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, mediante justa tanto. Muito menos, preconceito revela óptica racista. A maior parte dos preconceitos fica apenas
e prévia indenização em dinheiro. Em síntese, a propriedade, de nítido caráter individual, não é no âmbito das ideias, das reservas mentais, não chegando a ser externada. E ninguém sofre pena
um direito absoluto. Está condicionada a valor maior presente o interesse coletivo. Confiram com pelo ato de pensar, já dizia o brocardo latino. O preconceito, sem se confundir com o racismo, só se
os arts. 5º, incisos XXII, XXIII e XXIV, e 184 da Constituição Federal, este último a dispor sobre a torna punível quando é posto em prática, isto é, quando gera a discriminação, ainda em seu sentido
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária.” aquém do racismo, sem que se tenha, nesse caso, a cláusula da imprescritibilidade.”

MS 25.284/DF HC 82.424/RS

100 101
JULGADOS EM DESTAQUE
–  Direito à Vida dos Fetos Anencéfalos  – –  União Estável e Concubinato  –

“(...) não é dado invocar o direito à vida dos anencéfalos. Anencefalia e vida são termos antitéticos. “(...) para ter-se como configurada a união estável, não há imposição da monogamia, muito em-
Conforme demonstrado, o feto anencéfalo não tem potencialidade de vida. Trata-se, na expressão bora ela seja aconselhável, objetivando a paz entre o casal. Todavia, a união estável protegida pela
adotada pelo Conselho Federal de Medicina e por abalizados especialistas, de um natimorto cere- Constituição pressupõe prática harmônica com o ordenamento jurídico em vigor. Tanto é assim
bral. Por ser absolutamente inviável, o anencéfalo não tem a expectativa nem é ou será titular do que, no art. 226 da Carta da República, tem-se como objetivo maior da proteção o casamento. (...)
direito à vida, motivo pelo qual aludi, no início do voto, a um conflito apenas aparente entre direitos O reconhecimento da união estável pressupõe possibilidade de conversão em casamento. O reconhe-
fundamentais. Em rigor, no outro lado da balança, em contraposição aos direitos da mulher, não se cimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
encontra o direito à vida ou à dignidade humana de quem está por vir, justamente porque não há sua conversão em casamento, direciona à inexistência de obstáculo a este último. (...)
ninguém por vir, não há viabilidade de vida. (...)
Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em potencial. No caso do anencéfalo, repito, não Abandonem a tentação de implementar o que poderia ser tida como uma justiça salomônica,
existe vida possível.” porquanto a segurança jurídica pressupõe o respeito às balizas legais, a obediência irrestrita às
balizas constitucionais. (...)
ADPF 54/DF
(...)
O concubinato não se iguala à união estável referida no texto constitucional, no que esta acaba
fazendo as vezes, em termos de consequências, do casamento. Gera, quando muito, a denominada
sociedade de fato.”
–  Sustentação Oral do Advogado após o Voto do Relator  – RE 397.762/BA
“(...) vejo com simpatia a possibilidade de o advogado falar após o voto do Relator. Não receio
qualquer atrito, qualquer incidente considerado esse fato. Muito menos posso dizer que se atrai
para o contraditório a participação do juiz, porque na relação processual ele ocupa espaço próprio,
distinto daquele reservado às partes e aos representantes processuais. Que diferença faz a concessão –  Fidelidade aos Princípios  –
da palavra, logo após o relatório e antes do voto do Relator ou após este último, além de elastecer o
campo reservado ao exercício do direito de defesa? Em qualquer hipótese, o advogado falará uma “(...) certa vez, li — e colhi a máxima de um doutrinador — que há mais coragem em ser justo,
vez iniciado o julgamento com a efetivação do pregão e a prática de ato por integrante do Colegia- parecendo injusto, do que em ser injusto para salvaguardar as aparências de justiça. (...) desde cedo
do. Não vejo diferença maior nem, muito menos, empecilho constitucional no deslocamento da percebi que, quanto mais remota a possibilidade de revisão de uma óptica, maior deve ser o apego
oportunidade conferida para sustentação das razões recursais e das contrarrazões. Por mais que ao direito posto, maior deve ser a fidelidade aos princípios, maior deve ser o receio em claudicar na
me esforce, não consigo distinguir entre a situação homenageante da oralidade e aquela da palavra arte de proceder e de julgar.
escrita revelada na interposição de um recurso, no que voltado não a infirmar o voto isolado de um Não é por não existir, acima do Supremo, órgão capaz de examinar o acerto ou o desacerto das
integrante do órgão, mas o provimento por este formalizado. Indaga-se: a protocolação de um recurso, decisões que profira que poderemos, simplesmente, fechar a legislação e deixar de lado a Constituição
a manifestação de inconformismo diante de uma sentença exsurgem como consubstanciadoras de Federal para implementar — segundo nosso critério, nossa formação simplesmente humanística,
crítica imprópria ao autor do ato atacado? A resposta é, desenganadamente, negativa. Como, então, colocada a técnica em segundo plano — a solução que entendamos mais adequada.”
dizer que a palavra falada, com as peias da inibição da presença, o é?”
RE 363.889/DF
ADI 1.105/DF com repercussão geral

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Papel do Supremo Tribunal Federal  – –  Contribuição de Inativos  –

“(...) o Supremo tem a guarda da Constituição e não pode despedir-se desse dever, imposto de forma “Há aqui configurado um verdadeiro confisco, no que, a par de não se repor o poder aquisitivo dos
expressa pelo Constituinte de 1988, sob pena de a história cobrar-lhe as consequências da omissão, de benefícios, dos vencimentos dos servidores, tem-se a audácia, digo mesmo a audácia, de onerá-los.
comprometimento da própria credibilidade. (...) o Supremo é órgão da República, última trincheira (...)
do cidadão, comprometido com os princípios caros a Estado que se diga organizado, a Estado de (...) diria que se deu uma no cravo e outra na ferradura. A Emenda Constitucional 41/2003
Direito, responsável, enfim, pela palavra final sobre conflitos de interesses que se lhe apresentam preservou os parâmetros alusivos aos proventos quanto à quantia a ser observada; preservou, como
para julgamento. Eis a melhor síntese sobre o primordial papel do Tribunal. Paga-se um preço por deveria ocorrer, em vista do instituto do direito adquirido, as pensões que vinham sendo usufruí-
se viver em uma democracia e ele não é exorbitante, mas módico, encontrando-se ao alcance de das. De outro lado, porém, rasgando a Carta da República, desconhecendo a norma do art. 60,
todos os homens de boa vontade. Implica apenas o respeito irrestrito ao arcabouço normativo.” surpreendendo aqueles que se encontravam nos respectivos lares, certos do respeito às regras da
aposentadoria, às regras da pensão, criou essa contribuição que, a todos os olhos, não é uma con-
Pet 3.388/RR
tribuição; criou esse ônus referente ao ‘custeio’, visando ao ‘custeio’ da própria previdência. Ou seja,
talvez para minimizar o rombo da previdência social e da previdência dos servidores públicos,
principalmente da União — que, certamente, não foi provocado pelos servidores públicos e, por isso
mesmo, não podem ser tidos os aposentados e pensionistas como bodes expiatórios —, criou-se o
–  Cláusula de Barreira e Minorias Parlamentares  – tributo, rotulando de contribuição, e contribuição não é.
(...)
“Ainda sob o ângulo do pluripartidarismo, da representatividade dos diversos segmentos nacionais, (...) precisamos preservar a Carta da República para, realmente, constatar que a República Federa-
é dado perceber a ênfase atribuída pela Carta Federal às minorias. (...) tiva do Brasil é um Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a cidadania, a pressupor
(...) uma vida gregária sob ordem, e a dignidade da pessoa humana. Volto a afirmar que o Estado tudo
No Estado Democrático de Direito, a nenhuma maioria, organizada em torno de qualquer pode, mas desde que proceda com observância irrestrita ao que se contém na Constituição Federal.”
ideário ou finalidade — por mais louvável que se mostre —, é dado tirar ou restringir os direitos e
ADI 3.105/DF
liberdades fundamentais dos grupos minoritários, entre os quais estão a liberdade de se expressar,
de se organizar, de denunciar, de discordar e de se fazer representar nas decisões que influem nos
destinos da sociedade como um todo, enfim, de participar plenamente da vida pública, inclusive
fiscalizando os atos determinados pela maioria. Ao reverso, dos governos democráticos espera-se
que resguardem as prerrogativas e a identidade própria daqueles que, até numericamente em des- –  Transferência de Militar para Universidade Pública  –
vantagem, porventura requeiram mais força do Estado como anteparo para que lhe esteja preservada
a identidade cultural ou, no limite, para que continue existindo. “(...) é consentânea com a Carta da República previsão normativa asseguradora, ao militar e ao
Aliás, a diversidade deve ser entendida não como ameaça, mas como fator de crescimento, como dependente estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade para onde é removido. Toda-
vantagem adicional para qualquer comunidade que tende a enriquecer-se com essas diferenças. via, a transferência do local do serviço não pode se mostrar verdadeiro mecanismo para lograr-se
O desafio do Estado moderno, de organizações das mais complexas, não é elidir as minorias, mas a transposição da seara particular para a pública, sob pena de se colocar em plano secundário a
reconhecê-las e, assim o fazendo, viabilizar meios para assegurar-lhes os direitos constitucionais. isonomia — art. 5º, cabeça e inciso I —, a impessoalidade, a moralidade na Administração Pública,
Para tanto, entre outros procedimentos, há de fomentar diuturnamente o aprendizado da tolerância a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola superior, prevista no inciso I do
como valor maior, de modo a possibilitar a convivência harmônica entre desiguais. Nesse aspecto, art. 206, bem como a viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino, no que o inciso V
é importante sublinhar, o Brasil se afigura como exemplo para o mundo.” do art. 208 vincula o fenômeno à capacidade de cada qual.”

ADI 1.351/DF ADI 3.324/DF

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Doação de Órgãos dos Fetos Anencéfalos e Dignidade da Mulher  – –  Sanções Políticas em Matéria Tributária  –

“A mulher (...) deve ser tratada como um fim em si mesma, e não, sob uma perspectiva utilitarista, “O abuso dos meios, com a consequente corrupção dos fins, é a nota essencial e autoritária das me-
como instrumento para geração de órgãos e posterior doação. Ainda que os órgãos de anencéfalos didas cujo gênero foi rotulado de sanções políticas em matéria tributária. A falta de sintonia desses
fossem necessários para salvar vidas alheias — premissa que não se confirma (...) —, não se poderia mecanismos de coação fiscal com as garantias constitucionais do Estado Democrático de Direito,
compeli-la, com fundamento na solidariedade, a levar adiante a gestação, impondo-lhe sofrimentos inaugurado com a Carta de 1988, revela caráter ditatorial e perverso.”
de toda ordem. Caso contrário, ela estaria sendo vista como simples objeto, em violação à condição
RE 565.048/RS
de humana.
(...)
A solidariedade não pode, assim, ser utilizada para fundamentar a manutenção compulsória da
gravidez de feto anencéfalo, seja porque violaria o princípio da dignidade da pessoa humana, seja
porque os órgãos dos anencéfalos não são passíveis de doação.” –  Evolução do Conceito de Família  –
ADPF 54/DF
“O § 5º do art. 226 da Constituição Federal equiparou homens e mulheres nos direitos e deveres
conjugais, determinando a mais absoluta igualdade também no interior da família. O § 4º do men-
cionado dispositivo admitiu os efeitos jurídicos das denominadas famílias monoparentais, formadas
por apenas um dos genitores e os filhos. Por fim, o § 3º desse artigo expressamente impôs ao Estado
–  Interpretação Constitucional e Realidade Social  – a obrigatoriedade de reconhecer os efeitos jurídicos às uniões estáveis, dando fim à ideia de que
somente no casamento é possível a instituição de família.
“Interpretar significa apreender o conteúdo das palavras, não de modo a ignorar o passado, mas de Revela-se (...) a modificação paradigmática no direito de família. Este passa a ser o direito ‘das
maneira a que este sirva para uma projeção melhor do futuro. (...) famílias’, isto é, das famílias plurais, e não somente da família matrimonial, resultante do casamento.
(...) Assim, quando o intérprete analisa um texto do passado, não deve esvaziar a sua memória, Em detrimento do patrimônio, elegeram-se o amor, o carinho e a afetividade entre os membros
nem abandonar o presente, mas levá-los consigo e utilizá-los para compreender e projetar um como elementos centrais de caracterização da entidade familiar. Alterou-se a visão tradicional
futuro. (...) sobre a família, que deixa de servir a fins meramente patrimoniais e passa a existir para que os
Nessa linha de entendimento é que se torna necessário salientar que a missão do Supremo, a respectivos membros possam ter uma vida plena comum. Abandonou-se o conceito de família
quem compete, repita-se, a guarda da Constituição, é precipuamente a de zelar pela interpretação enquanto ‘instituição-fim em si mesmo’, para identificar nela a qualidade de instrumento a serviço
que conceda à Carta a maior eficácia possível, diante da realidade circundante. Dessa forma, urge da dignidade de cada partícipe (...).
o resgate da interpretação constitucional, para que se evolua de uma interpretação retrospectiva e (...) Se o reconhecimento da entidade familiar depende apenas da opção livre e responsável de
alheia às transformações sociais, passando-se a realizar interpretação que aproveite o passado, não constituição de vida comum para promover a dignidade dos partícipes, regida pelo afeto existente
para repeti-lo, mas para captar de sua essência lições para a posteridade. O horizonte histórico deve entre eles, então não parece haver dúvida de que a Constituição Federal de 1988 permite seja a
servir como fase na realização da compreensão do intérprete, mas não pode levar à autoalienação união homoafetiva admitida como tal. Essa é a leitura normativa que faço da Carta e dos valores
de uma consciência, funcionando como escusa à análise do presente.” por ela consagrados, em especial das cláusulas contidas nos arts. 1º, inciso III, 3º, incisos II e IV, e
5º, cabeça e inciso I.”
ADPF 46/DF
ADPF 132/RJ

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JULGADOS EM DESTAQUE
– Anistia – –  Proliferação de Cursos de Direito sem Qualidade  –

“Anistia é o apagamento do passado em termos de glosa e responsabilidade de quem haja claudica- “(...) a permissividade com que se consegue abrir os cursos de Direito de baixo custo, porquanto
do na arte de proceder. Anistia é definitiva virada de página, perdão em sentido maior, desapego a restritos ao ‘cuspe e giz’, decorrente de uma ideologia fiada no adágio ‘quanto mais, melhor’, merece
paixões que nem sempre contribuem para o almejado avanço cultural. Anistia é ato abrangente de severas críticas. Vende-se o sonho e entrega-se o pesadelo: após cinco anos de faculdade, o bacharel
amor, sempre calcado na busca do convívio pacífico dos cidadãos.” se vê incapaz de ser aprovado no exame de conhecimentos mínimos da Ordem, condição imposta
para que possa exercer a advocacia e, com esta, prover a própria subsistência. A alegria do momen-
Ext 974/República Argentina
to transmuda-se em drama pessoal. A reflexão sobre essa realidade cabe não só ao Supremo, mas
também à sociedade brasileira.”

RE 603.583/RS

–  Demarcação da Terra Indígena “Raposa Serra do Sol”  –

“De tudo, surge o descompasso. Abandonou-se a premissa constitucional voltada à apuração da posse
indígena em outubro de 1988 para ter-se, quem sabe considerado o menor esforço, a demarcação – União Homoafetiva –
contínua como se, em toda a extensão territorial alcançada, houvesse a referida posse. O segundo
descompasso está ligado à inviabilidade de harmonizar-se o isolamento ventilado, afastando-se a “O Estado existe para auxiliar os indivíduos na realização dos respectivos projetos pessoais de vida,
presença de brasileiros da área com a demarcação contínua. Uma coisa é dar-se a verificação da posse que traduzem o livre e pleno desenvolvimento da personalidade. O Supremo já assentou, numerosas
pelos indígenas em 1988 e preservá-la, impedindo-se a permanência de terceiros. Outra diversa, vezes, a cobertura que a dignidade oferece às prestações de cunho material, reconhecendo obrigações
que não se coaduna com os ditames constitucionais, que a todos submetem, é fazer-se a demarcação públicas em matéria de medicamento e creche, mas não pode olvidar a dimensão existencial do
contínua e, aí, em área de tamanho incompatível com o conceito de posse, chegar-se à exclusão dos princípio da dignidade da pessoa humana, pois uma vida digna não se resume à integridade física
que não sejam considerados, na via direta ou indireta, indígenas. e à suficiência financeira. A dignidade da vida requer a possibilidade de concretização de metas e
Neste caso, caminhar-se-á, na verdade, para o indesejável separatismo, para a limitação à liberdade projetos. Daí se falar em dano existencial quando o Estado manieta o cidadão nesse aspecto. Vale
de ir e vir prevista na Carta da República quanto a tantos outros brasileiros a formarem a maioria. (...) dizer: ao Estado é vedado obstar que os indivíduos busquem a própria felicidade, a não ser em caso
(...) de violação ao direito de outrem, o que não ocorre na espécie.
Há de fazer-se justiça. A Constituição brasileira mostra-se um todo composto de normas interli- Certamente, o projeto de vida daqueles que têm atração pelo mesmo sexo resultaria prejudicado
gadas, que não apresentam, considerado, ao menos, o texto primitivo, contradições. O que se passa a com a impossibilidade absoluta de formar família. Exigir-lhes a mudança na orientação sexual para
ter é visão distorcida, à mercê de interpretação discrepante do que nela se contém, potencializando-se que estejam aptos a alcançar tal situação jurídica demonstra menosprezo à dignidade. Esbarra ainda
certos dispositivos, e se lhes dando alcance insuplantável, em detrimento de outros, como se houvesse, no óbice constitucional ao preconceito em razão da orientação sexual.
no Documento Maior, preceitos de hierarquias diversas. Repito, à exaustão, para ouvidos que não (...)
se fazem sensíveis à realidade: a Carta Federal consagra, acima de tudo, a ordem natural das coisas, Com base nesses fundamentos, concluo que é obrigação constitucional do Estado reconhecer a
é ato de inteligência decorrente da vontade do povo brasileiro, não possuindo normas em prejuízo condição familiar e atribuir efeitos jurídicos às uniões homoafetivas. Entendimento contrário discrepa,
de outras, não possuindo normas de patamares diferentes. Deve-se perceber essa verdade maior, a mais não poder, das garantias e direitos fundamentais, dá eco a preconceitos ancestrais, amesquinha a
sob pena de grassar a insegurança jurídica no que vieram a predominar critérios circunstanciais, personalidade do ser humano e, por fim, desdenha o fenômeno social, como se a vida comum com in-
critérios momentâneos, destoantes de valores perenes.” tenção de formar família entre pessoas de sexo igual não existisse ou fosse irrelevante para a sociedade.”

Pet 3.388/RR ADPF 132/RJ

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JULGADOS EM DESTAQUE
–  Quebra de Sigilo de Dados Bancários  – Nunca é demais relembrar a importância de todos os esforços, por menores ou insignificantes
que pareçam ser, no sentido da preservação da liberdade, o bem supremo e atributo maior a di-
“Conforme disposto no inciso XII do art. 5º da Constituição Federal, a regra é a privacidade quanto ferençar a espécie humana. Por outro lado, também já se afigura bastante conhecido o velho ardil
à correspondência, às comunicações telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção — da tributação excessiva como forma de obnubilar a livre atividade dos homens, ao tempo em que
a quebra do sigilo — submetida ao crivo de órgão equidistante — o Judiciário — e, mesmo assim, se engendra a mais vergonhosa das discriminações, porque sorrateira e subliminar: aquela que,
para efeito de investigação criminal ou instrução processual penal. viabilizada pela ignorância, pelo desconhecimento, conduz a uma crescente elitização, a separar os
(...) mais poderosos das massas populacionais mais carentes. Tal tipo de tributação diz com um modo
É sempre oportuno atentar para os princípios consagrados na Carta Maior. A República Federa- ignóbil de manipular o que transparece ser direito inerente à cidadania: a liberdade de expressão e,
tiva do Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoa humana — art. 1º, inciso III —, estando por conseguinte, o acesso à informação.”
as relações internacionais norteadas pela prevalência dos direitos humanos — art. 4º, inciso II.
RE 174.476/SP
A vida gregária pressupõe segurança — arts. 5º e 6º —, pressupõe estabilidade, e não a surpresa.
No rol das garantias constitucionais de que desfrutam brasileiros e estrangeiros residentes no país,
figura a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas — inciso XII.”

RE 389.808/PR – Nepotismo –

“(...) embora sem querer enveredar os caminhos do moralismo barato, pondero ser necessária uma
reflexão mais profunda sobre o sentido ético que lastreia normas deste quilate. As primeiras perguntas
a serem feitas dizem com a razão de ser e o momento em que vêm à balha proposições normativas
–  Imunidade Tributária para Livros, Jornais e Periódicos  – como a examinada. Pois bem, não há mesmo como olvidar as radicais transformações por que passa
o Brasil. Colhemos os frutos benfazejos da democracia madura. E esperamos muito tempo por isso.
“O preceito constitucional há de merecer interpretação teleológica, buscando-se atingir, de forma O povo brasileiro já não tateia, mergulhado nas trevas da ignorância e consequente subserviência,
plena, o objetivo visado, que outro não é senão afastar procedimentos que, de algum modo, possam em busca da mão ditadora e assistencialista (...). Procura, sim, firmeza na condução da nau, sem
inibir a produção material e intelectual de livros, jornais e periódicos. Sob o meu ponto de vista, a despotismo, porém. O brasileiro de hoje não mais implora pelo seus naturais direitos, exige-os.
parte final do preceito, concernente à imunidade e à referência a livros, jornais e periódicos, não (...)
é exaustiva, e, tampouco, merecedora de interpretação literal, a ponto de dizer-se que somente se É esse o contexto no qual exsurgem as leis que, em última instância, indo ao encontro do anseio
tem a imunidade quanto à venda e aos atos que digam respeito diretamente ao papel utilizado. Tal popular pela afirmação definitiva da moralidade como princípio norteador das instituições públicas,
óptica redundaria no esvaziamento da regra constitucional. (...) atuam como diques à contenção da ancestral ambição humana. A um só tempo, mediante normas
(...) desse feitio, presta-se homenagem à justiça, na mais basilar acepção do termo, permitindo-se a quem
Abandone-se, na espécie, a tentação ligada ao literalismo, perquirindo-se o objetivo maior da nor- de direito alcançar o patamar pelo qual pagou o preço do esforço, da dedicação e da competência.
ma constitucional, isso diante da impossibilidade, e, diria mesmo, da inconveniência de o legislador ser Por outro lado, usando da cartilha dos diletantes do Neoliberalismo, tão em voga nas altas esferas
casuísta. Para mim — e aí não estaríamos agora a discutir o alcance do preceito constitucional — seria dirigentes do País, cabe lembrar que o mérito é a fórmula eficiente para chegar-se à qualidade total
suficiente a referência a livros, jornais e periódicos. A alusão ao papel, destinado a impressão, outro desejada aos serviços públicos, ditos essenciais. Ora, como é possível compatibilizar tais assertivas
sentido não tem senão o de exemplificar um dos itens que entram na produção do bem. Os demais com a possibilidade de nomeação de parentes próximos para ocupar importantes — e até estraté-
também estão abrangidos pela imunidade tributária, sob pena de tornar-se restrita a imunidade, gicos — cargos de direção nas repartições públicas comandadas pelo protetor?”
desconhecendo-se o objetivo precípuo que, há de ser incansavelmente repetido, é o de verdadeiro
ADI 1.521/RS
estímulo à veiculação de notícias e ideias, tal como inerente ao próprio Estado Democrático de Direito.

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JULGADOS EM DESTAQUE
– Depositário Infiel – –  Dignidade da Mulher e Direito de Escolha pela Antecipação Terapêutica do Parto  –

“Ainda que se pudessem colocar em plano secundário os limites constitucionais, a afastarem, a mais “(...) vale ressaltar caber à mulher, e não ao Estado, sopesar valores e sentimentos de ordem estri-
não poder, a possibilidade de subsistir a garantia da satisfação do débito como meio coercitivo, no tamente privada, para deliberar pela interrupção, ou não, da gravidez. Cumpre à mulher, em seu
caso de alienação fiduciária, que é a prisão, tem-se que essa, no que decorre não da Carta Política íntimo, no espaço que lhe é reservado — no exercício do direito à privacidade —, sem temor de
da República, que para mim não a prevê, mas do Decreto-Lei 911/1969, já não subsiste na ordem reprimenda, voltar-se para si mesma, refletir sobre as próprias concepções e avaliar se quer, ou não,
jurídica em vigor, porquanto o Brasil, mediante o Decreto 678, de 6 de novembro de 1992, aderiu à levar a gestação adiante.
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, ao chamado Pacto de São José da Costa Rica, de 22 Ao Estado não é dado intrometer-se. Ao Estado compete apenas se desincumbir do dever de in-
de novembro de 1969. (...) Entrementes, a adoção mostrou-se linear, consignando o art. 1º do Decreto formar e prestar apoio médico e psicológico à paciente, antes e depois da decisão, seja ela qual for (...).
mediante o qual promulgou a citada Convenção que a mesma há de ser cumprida tão inteiramente (...)
como nela se contém. Ora, o inciso VII do art. 7º revela que: ‘ninguém deve ser detido por dívida’. Não se trata de impor a antecipação do parto do feto anencéfalo. De modo algum. (...) Está em
Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente, expedidos em virtude jogo o direito da mulher de autodeterminar-se, de escolher, de agir de acordo com a própria vontade
de inadimplemento de obrigação alimentar. Constata-se, assim, que a única exceção contemplada num caso de absoluta inviabilidade de vida extrauterina. Estão em jogo, em última análise, a pri-
corre à conta de obrigação alimentar. A promulgação sem qualquer reserva atrai, necessariamente vacidade, a autonomia e a dignidade humana dessas mulheres. Hão de ser respeitadas tanto as que
e no campo legal, a conclusão de que hoje somente subsiste uma hipótese de prisão por dívida civil, optem por prosseguir com a gravidez — por sentirem-se mais felizes assim ou por qualquer outro
valendo notar a importância conferida pela Carta de 1988 aos tratados internacionais em que a motivo que não nos cumpre perquirir — quanto as que prefiram interromper a gravidez, para pôr
República Federativa do Brasil seja parte.” fim ou, ao menos, minimizar um estado de sofrimento. (...)
(...) A imposição estatal da manutenção de gravidez cujo resultado final será irremediavelmente a
HC 72.131/RJ
morte do feto vai de encontro aos princípios basilares do sistema constitucional, mais precisamente
à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à autodeterminação, à saúde, ao direito de privacida-
de, ao reconhecimento pleno dos direitos sexuais e reprodutivos de milhares de mulheres. O ato
de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a em uma espécie de cárcere privado em seu
–  Garantias Constitucionais da Magistratura  – próprio corpo, desprovida do mínimo essencial de autodeterminação e liberdade, assemelha-se à
tortura ou a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido.”
“As garantias da magistratura, longe de representarem um valor em si, possuem forte conotação
ADPF 54/DF
instrumental. Destinam-se a salvaguardar a imparcialidade do juiz e o bom exercício da função
judiciária. O juiz exerce o controle da atividade estatal, do que decorre a necessidade de ter garan-
tida a independência em relação aos demais Poderes e a influências externas, ainda que as pressões
surjam dentro do próprio tribunal.
A efetiva possibilidade de responsabilização dos juízes pela prática de infrações consubstancia
conquista fundamental da democracia brasileira e traduz imperativo do sistema republicano, mas
não cabe, para alcançar esse fim, flexibilizar as garantias processuais do magistrado previstas no
Diploma Maior e colocar em risco a independência que lhe é essencial.”

ADI 4.638 MC/DF

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ESTIVADOR DO DIREITO
FIRMEZA DE CONVIcÇÃO: ATRIBUTO DO

ESTIVADOR DO DIREITO
enviados por outros tribunais. Esses processos passaram a ƒƒ Certa vez, ao ser questionado sobre o caráter polêmico
receber imediatamente número e código de barras, para HOMEM, PREDICADO DO JUIZ de suas decisões, o Ministro Marco Aurélio declarou já es-
acompanhamento desde o primeiro dia. Antes, levavam de tar acostumado às reações contrárias à sua atuação no STF.
ƒƒ O Ministro Marco Aurélio tomou posse no Supremo 30 a 60 dias para serem protocolados. Os setores responsá- ƒƒ Jovialidade, pontualidade e cordialidade são caracterís- Disse ele: “Se polêmico for atuar de acordo com as próprias
Tribunal Federal com 43 anos de idade, tornando-se o mais veis pelos processos originários do Supremo também ganha- ticas tidas como marcantes da personalidade do Ministro convicções, com o que eu denomino de espontaneidade
jovem entre os Ministros daquela composição. ram novas máquinas de protocolo durante a Presidência do Marco Aurélio. A tendência a polemizar também constitui maior, eu sou um juiz polêmico.”4
Ministro Marco Aurélio, com o objetivo de tornar o sistema nota peculiar de seu caráter. O Ministro não hesita em ado- ƒƒ O Ministro Celso de Mello já fez defesa pública do voto
mais seguro e rápido.1 tar posicionamentos controversos, o que faz com a inde- vencido, ao afirmar: “Aquele que vota vencido, por isso mes-
ƒƒ Quando foi Presidente do Tribunal Superior Eleitoral em pendência e a segurança de quem detém vasto e profundo mo, deve receber o respeito de seus contemporâneos, pois a
1996, o Ministro Marco Aurélio enfrentou o desafio de con- conhecimento do Direito, de um lado, e elevada consciência história tem registrado que, nos votos vencidos, reside, mui-
duzir a primeira eleição totalmente informatizada nas capitais social e ética humanista, de outro.1 tas vezes, a semente das grandes transformações”. Tal afir-
e nos municípios brasileiros com mais de 200 mil eleitores. mação foi feita em tom de homenagem ao Ministro ­Marco
ƒƒ O Ministro Marco Aurélio foi o primeiro Presidente do Aurélio, que naquela tarde assumia a Presidência do STF.1
STF a participar de um bate-papo na internet. Para ele, o
evento ensejaria a oportunidade de “reformular a relação
entre o Judiciário e a população”.2 O debate virtual ocorreu
em 18 de junho de 2001, promovido pela Folha Online. Par- JUIZ HUMANISTA E DE GRANDE
ticiparam do chat aproximadamente 915 internautas, uma CONSCIÊNCIA ÉTICA E SOCIAL
das maiores audiências do horário já registradas pelo site
Universo Online (UOL). O Ministro respondeu a 35 das ƒƒ O Ministro Marco Aurélio primeiro submete os casos
perguntas enviadas pelos internautas.3 que precisa decidir ao crivo de sua formação humanística,
em busca da solução mais justa. Somente depois ele se apoia
ƒƒ Atualmente o STF está integrado às principais redes so- na ordem jurídica em vigor para consagrar a solução eleita.
ciais virtuais: tem página na internet, no Twitter e no You- É também com base nessa óptica humanista que o Minis-
Tube, por exemplo. Essas ferramentas, hoje consolidadas, tro adotou em seu Gabinete “a preferência da preferência”,
informam o público sobre o trabalho da Corte em tempo para estabelecer que prioridade dar aos tantos processos
real. Quem deu início a esse diálogo foi o Ministro Marco ƒƒ Segundo o jurista Sergio Bermudes, o Ministro tem-se que aguardam sua apreciação. Por esse critério, costumam
Aurélio, em 2001, quando era Presidente do Tribunal.1 distinguido, desde seu ingresso no STF, “pela originalidade” ser privilegiados os casos que implicam mais angústia e so-
ƒƒ Foi também na gestão do Ministro Marco Aurélio que as das suas decisões. “Embora ouvindo atentamente os seus frimento às partes.5
pautas de julgamento do Tribunal passaram a ser divulga- pares, não hesita em discordar deles, ainda que a divergência ƒƒ Em sua gestão à frente do STF, o Ministro Marco Aurélio
das na internet, para que a sociedade tivesse conhecimento o deixe sozinho”, afirma o jurista no prefácio do livro Ven- determinou a adoção da cota de 20% para negros nas em-
prévio dos temas a serem discutidos. Essa abertura garantiu cedor e Vencido, de autoria do próprio Ministro. Na opinião presas prestadoras de serviços ao Tribunal. A Suprema Corte
maior transparência e melhor acompanhamento pela socie- de Bermudes, a divergência não assusta o Ministro Marco tornou-se a segunda instituição pública do País a adotar
dade do que acontece no Supremo.1 Aurélio nem abala a sua determinação, ainda quando o deixe ação afirmativa voltada à ampliação do acesso da população
ƒƒ O Ministro Marco Aurélio também foi responsável pela em posição solitária. Para o jurista, “vencedor ou vencido, negra ao mercado de trabalho.6
criação, em 2001, de um sistema de protocolo dinâmico o Ministro Marco Aurélio deixará, nos seus julgamentos, a ƒƒ Em 18 de dezembro de 2002, o Ministro Marco Aurélio,
para recursos extraordinários e agravos, que chegam ao STF sua marca pessoal”.1 então Presidente do STF, criou, por meio da Resolução 246,

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ESTIVADOR DO DIREITO
o Código de Ética dos Servidores do Supremo Tribunal Fe- de Chico Buarque, Caetano Veloso e Mozart. O Ministro democracia” e “A coisa julgada tem envergadura constitu- Em 1973, o futuro Ministro do STF graduou-se bacharel
deral e a Comissão de Ética. também aprecia grandes nomes da literatura brasileira, tan- cional. Nem mesmo a lei pode feri-la de morte”. em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direi-
ƒƒ O Ministro Marco Aurélio sempre reconheceu o valor to que, quando lhe perguntaram quem ele ressuscitaria, se ƒƒ Romântico, o Ministro Marco Aurélio adquiriu um fusca to da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em
dos servidores públicos e os defendeu frente à opinião públi- tivesse esse poder, respondeu: “Nestes tempos tão ácidos, cor verde-musgo, ano 1969, apenas porque o veículo des- 1982, concluiu o mestrado em Direito Privado na mesma
ca. Em 1996, por exemplo, escreveu um artigo para o jornal Drummond e Vinícius para nos acalentar com mais poesia”.8 pertava nele uma lembrança especial: em 1972, foi dirigindo faculdade e participou de uma série de cursos de extensão
Correio Braziliense intitulado “Servidor: uma questão de ƒƒ De personalidade complexa e multifacetada, o Ministro um veículo dessa cor e modelo que o Ministro chegou até o e aperfeiçoamento no Brasil e no exterior.1
justiça”. No texto, registrou: “Não há como esquecer que os Marco Aurélio tanto recita ditos populares como cria frases Paraguai para desfrutar de sua lua de mel.5 ƒƒ Para o Ministro Marco Aurélio, a tarefa de julgar é in-
servidores públicos formaram, ao longo de toda a história espirituosas e de impacto durante os julgamentos. É comum ƒƒ Um dos hobbies preferidos do Ministro Marco Aurélio é delegável. Aos assessores diretos cabe apenas a pesquisa (de
do Brasil, a espinha dorsal que possibilitou o contínuo, ainda ver em seus votos frases como “Cesteiro que faz um cesto, andar de motocicleta. Apesar de não dispor de muito tempo legislação ou jurisprudência) e a elaboração de minutas de
que lento, crescimento do país”. Coerente em suas convic- faz um cento” (HC 102.732) e “Filho feio não tem pai, mas para passear em sua “boneca nissei”, uma Kawasaki de 1.500 relatório, em que resumem todas as informações do proces-
ções, durante o período em que presidiu o STF, o Ministro filho bonito tem” (ADI 4.638 MC), ao lado de outras de sua cilindradas, o Ministro afirma que já a usou como meio de so para subsidiar o voto do Ministro.1 e 5
Marco Aurélio lutou em prol de reajuste dos vencimentos própria lavra, como “Paga-se um preço por se viver em uma transporte para chegar ao STF. “Eu perguntei à velha guarda, ƒƒ O método de trabalho do Ministro Marco Aurélio é o
dos servidores do Judiciário.7 à época, se implicava quebra de decoro ir com a moto ao mesmo há mais de 30 anos. Em casa, as decisões, elaboradas
Supremo. (...) e eu próprio respondi, brincando como bom por ele oralmente, são registradas em um gravador. Depois,
carioca e com o humor que nós devemos manter na vida, a equipe do Gabinete encarrega-se de degravar e revisar o
espiritualidade maior: depende da garupa.” texto. Por fim, o Ministro relê e assina o voto.1 e 10
HOMEM INTENSO E APRECIADOR DA ƒƒ A servidora que há mais tempo convive com o Minis-
CULTURA POPULAR tro Marco Aurélio, desde quando ele integrava o Tribunal
Superior do Trabalho, é quem garante: o tempo passa para
ƒƒ Fã de futebol, em agosto de 2003 o Ministro Marco Auré- todo mundo, menos para ele. “É lógico que ele envelheceu,
lio recebeu homenagem do América Futebol Clube de Minas ficou com os cabelos brancos, mas continua com o mes-
Gerais (o América Mineiro). A condecoração traduziu o mo idealismo, com o mesmo entusiasmo, com a mesma
agradecimento do clube pela contribuição do Ministro para coragem, com o mesmo vigor que tinha em 1987, quando
o desenvolvimento do esporte e por sua destacada atuação o conheci. Ele é incansável. Faz cada processo, um a um,
no Judiciário em benefício da sociedade.1 como se fosse o primeiro e como se fosse o último”, conta a
ƒƒ O time de futebol do coração do Ministro Marco Aurélio assessora, que o compara à figura de Dom Quixote, só que
é o Flamengo, do qual já ganhou de presente uma camisa 10 “com o pé no chão”.1
com o seu nome grafado nas costas. O Ministro costuma ir ƒƒ A mesma assessora relata que o Ministro é extrema-
a estádios para assistir aos jogos do clube, e até no Gabinete mente rigoroso consigo mesmo. Ele não se permite errar, e
há uma bandeira do time. O hino do clube costumava ser isso acaba refletindo em sua atuação como chefe. “Ele cobra
o toque do celular do Ministro, mas isso o deixou descon- o máximo de atenção no trabalho, tendo em vista que o
certado em certa ocasião. Ele presidia sessão plenária da PROFISSIONAL COMPROMETIDO COM A Supremo é a ponta. Se errarmos aqui, quem vai corrigir? A
Corte quando alguém lhe telefonou. Como o Presidente MISSÃO DE JULGAR quem recorrer?”, justifica a servidora. Quando o Ministro
havia esquecido o aparelho ligado próximo ao microfone, encontra algo errado, chama o responsável e conversa. Com
levou o som do hino rubro-negro a todo o Plenário.1 ƒƒ Quando menino, Marco Aurélio queria seguir os passos gentileza, pondera que houve uma negligência, um descuido,
ƒƒ Quando trabalha em casa, o Ministro Marco Aurélio, do pai e ser advogado do Banco do Brasil. Mas sua trajetó- e que o processo não foi tratado como deveria. No Gabinete,
apreciador de boa música que é, costuma fazê-lo ao som ria foi se tornando mais ampla a cada passo que ele dava. não há cobrança de produtividade nem estipulação de cotas

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a serem alcançadas. “A regra aqui é a qualidade, e, quando
alguém erra, todos ficam contrariados”, conta.1
ƒƒ Outra regra do Gabinete do Ministro Marco Aurélio é
ser feliz, registra outro assessor. Quando as pessoas estão
felizes, trabalham melhor, mais satisfeitas, e isso reflete no
dia a dia do Gabinete. “Lido com os processos criminais, e o
que sobressai é o aspecto humanista do Ministro Marco Au-
rélio na aplicação da lei penal. Ele considera essencial que o
Estado esteja aparelhado para julgar em tempo hábil, porque
a prisão sem que haja uma sentença torna-se algo ilegal pela
morosidade do Estado em aparelhar-se”, afirma o servidor.1
ƒƒ O Ministro Marco Aurélio é conhecido por ser bastante
acessível. Por mais que lhe falte espaço na agenda, não se recu-
sa a receber advogados.9 Com paciência e cordialidade, ouve
atentamente o que estes têm a dizer e demonstra preocupação
com as causas, sejam quais forem. No entanto, o Ministro faz
questão de ressaltar que “embargos auriculares” não têm efeito
algum sobre as decisões que profere.10 Ele sempre vota de acor-
do com a sua consciência e com o que consta no processo.11
ƒƒ Uma característica notável do Ministro Marco Aurélio
é a pontualidade. Em geral, ele é o primeiro a chegar às Os textos foram adaptados das seguintes fontes:
sessões de julgamento. 1. Notícias STF de 13 jun. 2010.
ƒƒ Entre os doutrinadores preferidos do Ministro, estão 2. Folha Online de 17 jun. 2001 (http://www1.folha.uol.com.br/
José Afonso da Silva e Paulo Bonavides.12 Dotado de exce- fsp/brasil/fc1706200123.htm).
lente memória, o Ministro Marco Aurélio não usa notebook 3. Notícias STF de 18 jun. 2001.
durante as sessões de julgamento nem recorre a anotações 4. Folha de S.Paulo de 18 maio 1996, p. 8.
para citar leis, jurisprudência e doutrina. 5. Anuário da Justiça — 2007, p. 73.
ƒƒ De acordo com seus assessores, outro aspecto admirável 6. Jornal do Brasil de 7 dez. 2001, p. 3.
no trabalho do Ministro Marco Aurélio é que não há, para 7. Correio Braziliense de 26 nov. 1996, p. 17.
ele, um processo mais relevante do que outro. Cada caso 8. Revista Dinheiro de 17 jan. 2001, p. 32-34.
é único e requer o mesmo distanciamento em relação aos 9. Folha Online de 2 jan. 2001 (http://www1.folha.uol.com.br/
aspectos analisados. De fato, em várias entrevistas e dis- folha/brasil/ult96u13153.shtml)
cursos, o Ministro afirma que “o processo não tem capa, 10. Anuário da Justiça — 2010, p. 53.
tem conteúdo” 11 e 13, ou seja, em sua análise não importa 11. Anuário da Justiça — 2011, p. 44.
quem seja a parte ou o patrono, mas sim a questão posta a 12. Anuário da Justiça — 2011, p. 47.
ser julgada, o que ressalta a imparcialidade como princípio 13. Revista Época de 17 fev. 2010 (http://colunas.revistaepoca.
ético maior a nortear o trabalho do julgador. globo.com/falabrasil/tag/marco-aurelio-mello/).

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FOTOGRAFIAS
FOTOGRAFIAS
Ministro Marco Aurélio, na solenidade de sua posse no cargo de
Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 13 de junho de 1990.

Composição plenária por ocasião da posse dos


Ministro Marco Aurélio, quando criança. Ministros Carlos Velloso e Marco A
­ urélio no
Supremo Tribunal Federal, em 13 de junho
de 1990. Da esquerda para a direita, senta-
dos: Ministros Sydney Sanches, Moreira Al-
ves, Néri da Silveira (Presidente), Aldir Pas-
sarinho (Vice-Presidente) e Octavio Gallotti.
Na mesma ordem, de pé: Ministros Carlos
Velloso, Sepúlveda Pertence, Célio Borja, Paulo
O Ministro Marco Aurélio e Brossard, Celso de Mello e Marco Aurélio, e o
a esposa, Desembargadora Procurador-Geral da República, Dr. Aristides
Sandra De Santis Mendes Junqueira.
de Farias Mello.

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FOTOGRAFIAS
Composição plenária por ocasião da segunda posse do Ministro Francisco Rezek no Supremo Tribunal
Federal, em 21 de maio de 1992. Da esquerda para a direita, sentados: Ministros Octavio Gallotti (Vice-
-Presidente), Moreira Alves, Sydney Sanches (Presidente), Néri da Silveira e Paulo Brossard. Na mesma
ordem, de pé: Ministros Ilmar Galvão, Carlos Velloso, Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio
e Francisco Rezek, e o Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Moacir Antonio Machado da Silva.

Ministro Marco Aurélio em seu Gabinete


no Supremo Tribunal Federal.

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FOTOGRAFIAS
Composição plenária do Supremo Tribunal Federal por ocasião da posse dos Ministros Marco Aurélio O Ministro Marco Aurélio assina a ata de posse
e Ilmar Galvão, respectivamente, na Presidência e na Vice-Presidência da Corte, em 31 de maio de no cargo de Presidente do Supremo Tribunal
2001. Da esquerda para a direita, sentados: Ministros Sydney Sanches, Moreira Alves, Marco Aurélio Federal, em 31 de maio de 2001.
(Presidente), Néri da Silveira e Sepúlveda Pertence. Na mesma ordem, de pé: Ministros Nelson Jobim,
Ilmar Galvão (Vice-Presidente), Celso de Mello, Carlos Velloso, Maurício Corrêa e Ellen Gracie, e o
Procurador-Geral da República, Dr. Geraldo Brindeiro.

Ministros Marco Aurélio e Ilmar Galvão em evento


de maio de 2001.

O Ministro Marco Aurélio preside sessão plenária do Supremo


Tribunal Federal, em 4 de junho de 2001.

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FOTOGRAFIAS
Em 15 de maio de 2002, no exercício interino da Presidência da República,
o Ministro Marco Aurélio despede-se do Presidente Fernando Henrique
Cardoso, que embarca em viagem para o exterior.

O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tribu-


nal Federal, recebe o Presidente do Clube de Regatas do
Flamengo, Edmundo Silva, em 3 de julho de 2001.

O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tri-


bunal Federal, em visita oficial ao Papa João Paulo II,
no Vaticano, em 3 de outubro de 2001.

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Solenidade de entrega ao Ministro Marco Aurélio, Presi-
dente do Supremo Tribunal Federal, do título de acadêmi- Em 3 de julho de 2002, o Ministro Marco Aurélio, Presi-
co “honoris causa” da Academia Paulista de Magistrados, dente do Supremo Tribunal Federal, recebe o Presidente
em 19 de fevereiro de 2002. dos Estados Unidos do México, Vicente Fox, em visita
oficial deste à Corte.

O Ministro Marco Aurélio, no exercício da Presidência da O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tribu-
República, recebe em audiência o Ministro da Fazenda, Pedro nal Federal, conversa com o Vice-Ministro da Justiça da
Malan, em 15 de maio de 2002. República Popular da China, Fan Fangping, durante visita
oficial deste à Corte, em 3 de julho de 2002.

Ministro Marco Aurélio, durante Em 29 de julho de 2002, o Ministro Marco Aurélio, Presi-
aula no Centro Universitário de dente do Supremo Tribunal Federal, recebe o Presidente da
Brasília (Uniceub), em 20 de maio República Federativa de Timor-Leste, Xanana Gusmão, em
de 2002. visita oficial.

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FOTOGRAFIAS
Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tribunal
Federal, em visita oficial ao Supremo Tribunal Popular
da China, em agosto de 2002.

Em 6 de agosto de 2002, em La
Paz, o Ministro Marco Aurélio,
Presidente do Supremo Tribunal
Federal, representa o Brasil na
cerimônia de posse do Presidente O Ministro Marco Aurélio posa com a família, em maio de 2002. Da esquerda
da República da Bolívia, Gonzalo para a direita: os filhos Eduardo Affonso e Renata; o Ministro Marco Aurélio; a
Sánchez de Lozada. esposa, Sandra; e as filhas Leticia e Cristiana.

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FOTOGRAFIAS
O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo
Tribunal Federal, recebe a visita de estudantes da
rede pública de ensino do Estado de Rondônia, em
6 de setembro de 2002.

O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tribunal Federal, recebe grupo de índios Pataxó Hã-Hã-Hãe, em 6 de fevereiro de 2003.
Em 17 de maio de 2002, o Ministro Marco Aurélio, Presidente da República em exercício,
sanciona a lei que criou a TV Justiça, em solenidade no Palácio do Planalto.

O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo


Tribunal Federal, inaugura as instalações da TV
Justiça, em 2 de agosto de 2002.

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FOTOGRAFIAS
Solenidade de Honra ao Mérito do Servidor do
Supremo Tribunal Federal, em 11 de fevereiro de
2003. Da esquerda para a direita: Ministros Aldir
Passarinho (aposentado), Marco Aurélio (Presiden-
te), Néri da Silveira (aposentado), Sydney Sanches,
Sepúlveda Pertence e Rafael Mayer (aposentado).

O Ministro Marco Aurélio conversa com o Ministro


da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em solenidade de
instalação do Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social, no Palácio do Planalto, em fevereiro de 2003.
O Ministro Maurício Corrêa cumprimenta o
Ministro Marco Aurélio, durante solenidade de
aposição do retrato deste na Galeria de Presidentes
do Supremo Tribunal Federal, em 10 de dezembro
O Ministro Marco Aurélio, Presidente do Supremo Tribunal Federal, recebe o título de Cidadão de 2003.
Honorário de Brasília, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 29 de maio de 2003.

Solenidade de aposição do retrato do Ministro


Marco Aurélio na Galeria de Presidentes do
Supremo Tribunal Federal, em 10 de dezembro
de 2003.

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FOTOGRAFIAS
O Ministro Marco Aurélio recebe os cum-
primentos do Ministro Nelson Jobim pela
posse como membro efetivo do Tribunal
Superior Eleitoral, em 2005.

Ministro Marco Aurélio, em entrevista sobre a posse como Ministro


efetivo do Tribunal Superior Eleitoral, em março de 2005. O Ministro Carlos Velloso cumprimenta
o Ministro Marco Aurélio em cerimônia
de posse deste como membro efetivo do
Tribunal Superior Eleitoral, em 2005.

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FOTOGRAFIAS
Em 15 de agosto de 2007, o Ministro Marco Aurélio
e a Presidente do Supremo Tribunal Federal, Minis- O Ministro Marco Aurélio e o ex-jo-
tra Ellen Gracie, inauguram o primeiro canal da TV gador Edson Arantes do Nascimento,
Justiça com sinal aberto. o Pelé, durante a exposição “As Mar-
cas do Rei”, em 25 de junho de 2008,
no Museu Nacional da República.

O Ministro Marco Aurélio conversa com


o Ministro Eros Grau durante intervalo
Lançamento do livro “Vencedor e Vencido”, de autoria do Mi- de sessão plenária do Supremo Tribunal
nistro Marco Aurélio, em 6 de dezembro de 2006, no Espaço Federal, em 11 de setembro de 2008.
Cultural da Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal, no Supremo
Tribunal Federal.

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FOTOGRAFIAS
Abertura da exposição “O Supremo e
o Cidadão”, em 1º de outubro de 2008.

Ministro Marco Aurélio ao lado da Ministra Ellen Gracie,


durante intervalo da sessão plenária do Supremo Tribunal
Federal de 9 de dezembro de 2009.

Ministros Marco Aurélio e Menezes Direito,


durante sessão plenária do Supremo Tribunal
Federal, em 19 de março de 2009.

Em 4 de março de 2010, o Ministro Marco


Aurélio conversa com o Ministro Celso de
Em 1º de setembro de 2002, o Ministro Marco Aurélio, Mello antes de sessão plenária do Supremo
Presidente do Supremo Tribunal Federal, no exercício Tribunal Federal.
da Presidência da República, abre as comemorações da
Semana da Pátria durante solenidade de troca da Bandeira
Nacional, na Praça dos Três Poderes.

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FOTOGRAFIAS
Ministros Marco Aurélio e Gilmar
Mendes, durante sessão plenária
do Supremo Tribunal Federal, em
27 de outubro de 2010.

Cerimônia de posse do Ministro Marco Aurélio no Tribunal


Superior Eleitoral, em 13 de maio de 2010.

O Ministro Marco Aurélio e a Ministra Cár-


men Lúcia conversam antes do início de ses-
são plenária do Supremo Tribunal Federal,
em 27 de setembro de 2010.

Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso,


antes de sessão plenária do Supremo Tri-
bunal Federal, em 25 de fevereiro de 2010.

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FOTOGRAFIAS
Ministros Marco Aurélio e Dias Toffoli, em sessão de julga-
mento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal,
em 10 de maio de 2011.

Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, durante


a sessão plenária do Supremo Tribunal Federal de 28 de
setembro de 2011.

Ministros Marco Aurélio e Ayres Britto, durante a


sessão plenária do Supremo Tribunal Federal de
24 de agosto de 2011. O Ministro Marco Aurélio conversa com a Ministra
Rosa Weber antes da sessão plenária do Supremo
Tribunal Federal de 8 de março de 2012.

Os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux conversam


O Ministro Marco Aurélio concede entre- antes do início de sessão plenária do Supremo
vista sobre o atentado contra as torres do Tribunal Federal, em 15 de março de 2012.
World Trade Center, em 11 de setembro de
2001.

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FOTOGRAFIAS
Cerimônia de posse do Ministro Marco Aurélio
no cargo de Presidente do Tribunal Superior Elei-
toral, em 19 de novembro de 2013.

O Ministro Marco Aurélio abre audiência pública sobre o uso Ministro Marco Aurélio, durante sessão de julgamento da Primeira Turma do Supremo
do amianto na indústria brasileira, em 24 de agosto de 2012. Tribunal Federal, em 25 de novembro de 2013.

Ministro Marco Aurélio, após encontro com estudantes no


Supremo Tribunal Federal, em 23 de maio de 2013.

Os Ministros Marco Aurélio e Joaquim Barbosa, Presidente do Su-


premo Tribunal Federal, dirigem-se ao Plenário, para a sessão de
julgamento de 2 de outubro de 2013.

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FOTOGRAFIAS
O Ministro Marco Aurélio conversa com o Ministro Teori
Zavascki antes da sessão plenária do Supremo Tribunal
Federal de 20 de março de 2014.

O Ministro Marco Aurélio abre sessão plenária do Supremo


Tribunal Federal, em 14 de maio de 2014.

Ministros Marco Aurélio e Roberto Barroso.

Em 5 de dezembro de 2013, o Ministro Marco Aurélio dirige-se a


sessão de julgamento no Plenário do Supremo Tribunal Federal.

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Esta obra foi concluída em 14 de maio de 2015

ISBN 978-85-61435-50-9
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