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DOI:10.5585/ConsSaude.v16n2.7106 Recebido em 27 jan. 2017 / aprovado em 18 jun.

2017

Aquecimento não modifica o


volume durante o treinamento
com pesos
Warm-up no modify the volume during resistance training

Fábio Luiz Cheche Pina1; Edilaine Fungari Cavalcante2,3; Fernando Hiroyuki Okamura4; Vinicius
Geraldes Belasque4; Thelma Willamowius5; Edilson Serpeloni Cyrino3,6
1
Doutor em Educação Física. Docente no curso de licenciatura/bacharelado em Educação Física. Universidade Norte do Paraná -
UNOPAR. Londrina, PR - Brasil.
2
Mestranda em Educação Física UEM-UEL. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina – UEL. Londrina,
PR - Brasil.
3
Grupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de
Londrina – UEL. Londrina, PR - Brasil.
4
Bacharel em Educação Física pela Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco - CESUCOP. Cornélio Procópio, PR - Brasil.

Artigos
5
Especialista em Hidroterapia. Docente no curso de Fisioterapia. Universidade Norte do Paraná - UNOPAR. Londrina, PR - Brasil.
6
Doutor em Educação Física. Docente no curso de bacharelado em Educação Física. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade
Estadual de Londrina - UEL. Londrina, PR - Brasil.

Endereço para Correspondência


Fábio Luiz Cheche Pina
Avenida Maringá, 478 – Apto 106 - Bairro: Vitória
CEP: 86060-000 – Londrina – PR [Brasil]
fabiocheche@hotmail.com

de caso
Estudo
Resumo
Objetivo: Analisar a influência de diferentes formas de aquecimento sobre o
volume de treino em homens treinados. Métodos: Quatro sessões experimentais
foram realizadas: aquecimento específico (ESP), aquecimento aeróbio (AE), aque-
cimento alongamento (ALO) e sessão controle (CO) pré sessão de treinamento

de literatura
com pesos. O programa de treino foi estruturado com seis exercícios, executados

Revisões
em três séries de oito a doze repetições. Informações referentes ao volume de
treino, duração da sessão e número de repetições foram coletadas. Resultados:
Efeito (P < 0,01) para a duração do treino foi observado, apresentando o CO (42,6
± 2,0 min.) menor duração de treinamento quando comparado as sessões ALO
(62,3 ± 3,0 min.), ESP (51,5 ± 4,0 min.) e AE (52,7 ± 1,0 min.). Não foram observados
efeitos do aquecimento (P > 0,05) com relação ao volume de treino. Conclusão:
Os resultados demonstram que o aquecimento não apresenta melhora no volume
de treino.
Descritores: Calefação; Levantamento de Peso; Suporte de Carga; Exercício de
Aquecimento.

Abstract
Objective: The evaluate the influence of different forms of warm-up on the vol-
ume training in trained men. Methods: Four experimental sessions were held:
specific warm-up (SWU), aerobic (AE), stretch (STR) and control (CO) pre train-
ing. The training program was structured with six exercises, performed in three
sets of eight to twelve repetitions. Information regarding the volume of training,
training duration and number of repetitions were collected. Results: Effect (P <
0.01) for the training duration was observed, with the CO (42.6 ± 2.0 min.) shorter
training sessions compared to STR (62.3 ± 3.0 min.), SWU (51.5 ± 4.0 min.), and
AE (52.7 ± 1.0 min.). There were no warm-up effects (P > 0.05) with respect to the
training volume. Conclusion: The results demonstrate that warm-up presents no
improvement in training volume.
Key words: Heating; Weight Lifting; Weight-Bearing; Warm-up Exercise.

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Aquecimento não modifica o volume durante o treinamento com pesos

Introdução tes para a continuidade de bons resultados. Tal


condição é confirmada por Barroso et al.8 onde
A prática do aquecimento tem sido di- após avaliarem homens jovens com experiência
fundida historicamente além de ser defendida em treinamento com pesos (treinados) em dife-
e recomendada como forma de evitar lesões e rentes formas de alongamento (balístico, facili-
preparar o corpo para o exercício físico1,2. Essa tação neural proprioceptiva e estático) observa-
questão está amparada pelo fato que o aqueci- ram redução no número de repetições e volume
mento é a primeira parte de um exercício físico total, porém sem diferença entre as formas de
cujo objetivo é a preparação fisiológica e psico- alongamento, demonstrando que o alongamento
lógica do indivíduo sendo fundamental para como uma forma de aquecimento pode não in-
a eficácia do treinamento1-3. A realização do terferir na treinabilidade do indivíduo.
aquecimento propicia diversos benefícios que Entretanto, para o nosso conhecimento,
estão relacionados à melhora do metabolismo não há na literatura estudos que analisaram a
energético, menor incidência de lesões, melho- influência de diferentes formas de aquecimento
ria na oxigenação muscular ocasionada pelo (alongamento, específico e aeróbio) sobre o vo-
aumento da temperatura corporal, aumento da lume de treino, número de repetições e duração
elasticidade do tecido conjuntivo, da espessu- (tempo) em sessões de treinamento com pesos.
ra das cartilagens, aumento do débito cardíaco Sendo o volume de treino a quantidade total de
e do fluxo sanguíneo e melhora na função do trabalho realizado em uma sessão, uma semana,
sistema nervoso central e no recrutamento das um mês ou em outro período de treinamento9
unidades motoras1-3. e considerado um dos principais componentes
Em centros de exercícios físicos, especi- voltados à monitoração de carga, possivelmen-
ficamente academias, é comum a utilização de te diferentes estratégias de aquecimento pos-
vários tipos de aquecimentos com o intuito de sam vir a proporcionar benefícios a sessões de
preparar o corpo, entre os quais, destacam-se treinamento com pesos. Dessa forma, o objetivo
os específicos com o objetivo de aprimorar a ca- do presente estudo foi analisar a influência de
pacidade coordenativa com a prática de movi- diferentes formas de aquecimento sobre o volu-
mentos que serão utilizados na sessão de treino1; me de treino, número de repetições e duração
de alongamento que tem a capacidade de alte- do treinamento com pesos em homens treina-
rar as propriedades viscoelásticas da unidade dos. Baseado na literatura, nossa hipótese é que
músculo-tendão 4; e aeróbio com a execução de o aquecimento, em seus diferentes formatos,
exercícios como a corrida de baixa intensidade resultará em melhores respostas as variáveis
com a intenção de elevar a temperatura corpo- do treinamento com pesos (volume, número de
ral5. Além disso, é observado na prática profis- repetições e duração) quando comparado a não
sional a não realização do aquecimento anterior realização de aquecimento.
a sessão de treino, o qual está associado ao tem-
po dispendido para a prática de programas de
exercícios físicos. Sendo a falta de tempo um dos Materiais e métodos
fatores determinantes para a não aderência aos
programas de exercícios físicos, qualquer estra- Delineamento experimental
tégia que venha a reduzir a duração do exercício O presente estudo teve duração de seis
pode favorecer a permanência do indivíduo 6. encontros (duas semanas) e consistiu em um
Uma vez que o aquecimento está relacio- delineamento aleatorizado de quatro sessões
nado com a prática de exercícios com pesos5,7 a experimentais. Nos dois primeiros encontros,
compreensão e a manutenção sistemática de um cada participante foi submetido à familiariza-
acompanhamento dessa variável são importan- ção das técnicas de execução dos exercícios em

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Pina FLC, Cavalcante EF, Okamura FH, Belasque VG, Willamowius T, Cyrino ES

dias não consecutivos (48 hs de intervalo) com a anos. Como critério de inclusão, os participantes
intenção de ajustar a carga de treinamento para deveriam atender regularmente a um programa
as sessões experimentais (três séries de oito a de treinamento com pesos com fre­quência de
doze repetições máximas), seguindo as padro- cinco dias na semana nos últimos seis meses
nizações já existentes na literatura10. O primeiro (treinados). Além disso, não deveriam possuir
encontro foi utilizado para obtenção da carga nenhuma limitação osteomuscular ou cardíaca
máxima nos exercícios e o segundo encontro a que pudesse interferir durante a execução do
reprodutibilidade da carga determinada no pri- experimento. Antes da coleta de dados os par-
meiro encontro. Tanto a reprodutibilidade como ticipantes responderam negativamente aos itens
a confiabilidade das medidas produzidas pelo do questionário de prontidão para prática de
ajuste de carga resultaram em um coeficiente de atividade física (PAR-Q) e validaram sua par-
correlação intraclasse (ICC) > 0,98 e coeficiente ticipação voluntária assinando o termo de con-
de variação (CV) de 0,5 kg para os exercícios sentimento conforme resolução 466/2012 para
utlizados no experimento. experimentos com humanos. Este experimento
Antes do terceiro encontro, os voluntários foi aprovado pelo comitê de ética local (Projeto:

Artigos
foram aleatorizados para realizarem a progra- 04766; Processo: 27509/2006).
mação de aquecimento em cada uma das situ-
ações experimentais no terceiro, quarto, quinto
e sexto encontro. Tanto a sessão de aquecimen- Métodos de aquecimento
to com alongamento (ALO), aquecimento espe- Para o aquecimento ESP foi realizado uma
cífico (ESP) e aquecimento aeróbio (AE) foram série de 20 repetições, a 30% da carga estimada
realizados antes do início do treinamento com de treino individual dos sujeitos para cada exer-

de caso
Estudo
pesos. Para a sessão controle (CO) os partici- cício do programa de treinamento com pesos
pantes não realizavam nenhum aquecimento, antes da sua execução. Durante a execução dos
iniciando o treinamento com pesos no momen- movimentos os participantes foram orientados
to que chegavam ao local de treino. Para tanto, para inspirar na fase excêntrica e expirar na fase
um pesquisador convidado foi responsável pela concêntrica, mantendo a velocidade de execução
aleatorização dos participantes do experimento dos movimentos na razão 1:2 na fase concêntrica

de literatura
utilizando a geração de números aleatórios (ran- e excêntrica, respectivamente. Na condição ALO

Revisões
dom.org). Todas as sessões foram realizadas no os participantes realizaram uma sessão de alon-
mesmo horário (período da manhã) em dias não gamento ativo para os grupamentos musculares
consecutivos (48 hs de intervalo) com controle dos exercícios que compõe o treinamento com
da temperatura ambiente (±23ºC). Durante as pesos. Para os membros superiores foram rea-
sessões, um profissional de Educação Física re- lizados exercícios para o grupamento muscular
alizou todo o acompanhamento do início ao fim peitoral, dorsais e ombro e para membros infe-
da sessão, controlando os intervalos de recupe- riores enfatizando quadríceps, posterior de coxa
ração e ajustando os equipamentos para uso dos e panturrilha. Em cada um dos exercícios foi re-
participantes do estudo, bem como das funções alizado uma série de 30 segundos, com intervalo
tradicionais de manter a segurança e instruir a de 30 segundos entre os exercícios. O limite do
correta execução dos exercícios. alongamento foi determinado a uma amplitude
articular atingida no momento em que o sujeito
relata-se início de desconforto.
Participantes A condição AE foi realizado em uma es-
Foram selecionados para o presente estudo teira ergométrica (Advanced 520 EE, Joinville,
15 homens (25 ± 5 anos, 78,7 ± 12,2 kg, 174,7 ± Santa Catarina, Brasil). Os avaliados permane-
5,9 cm, 25,7 ± 2,8 kg/m 2) com idade entre 18 e 35 ceram por 10 minutos de aquecimento a uma

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Aquecimento não modifica o volume durante o treinamento com pesos

zona de treinamento com intensidade entre cício da sessão de treino. Todos os participantes
60% a 80% da frequência cardíaca máxima11. A foram orientados a manterem os níveis normais
frequência cardíaca foi monitorada por cardio- de atividade física e hábitos alimentares ao lon-
frequencímetro (Polar S810i, Polar Electro OY, go do estudo e a não iniciarem novos programas
Finlândia) com registros a cada cinco segundos. de exercícios físicos ou dietas durante o período
Vale ressaltar que tanto os instrumentos para a experimental.
avaliação (esteira, frequencímetro e exercícios
com pesos) como o aquecimento com alonga-
mento foram realizados para todos os avaliados. Análise estatística
Para o CO os participantes realizaram o treina- O teste de Shapiro Wilk foi utilizado para
mento com pesos logo que chegaram ao local dos verificar a normalidade dos dados e o teste de
testes sem a realização de nenhum aquecimento. Mauchly a esfericidade. Em seguida, para aná-
lise das diferentes formas de aquecimento com
relação ao volume de treino para cada exercício,
Programa de treinamento com duração de treino e volume total levantado foi
pesos utilizada Análise de Variância (ANOVA one-
Os participantes foram submetidos a qua- way). Para verificar o efeito do aquecimento so-
tro sessões experimentais de treinamento com bre o número de repetições em cada série dos
pesos visando a hipertrofia muscular12. O pro- exercícios Análise de Variância (ANOVA fato-
grama de treinamento com pesos foi estrutu- rial) foi empregado. O teste post hoc de Fischer,
rado a partir de uma montagem alternada por para comparações múltiplas, foi aplicado quan-
segmento sendo compostos por seis exercícios do diferenças específicas nas variáveis em que
(Tutech Fitness, Matelândia, Paraná, Brasil) para os valores de F encontrados forem superiores
estimular os diferentes segmentos corporais aos do critério de significância estatística estabe-
(membros superiores, tronco e membros infe- lecida (P < 0,05). Os dados foram processados no
riores), executados na seguinte ordem: supino pacote estatístico Statistica versão 8.0 (StatSoft
em banco horizontal, leg press 45º, remada ho- Inc., Tulsa, OK, USA).
rizontal, flexora de joelhos, desenvolvimento
para ombros na barra e panturrilha em pé no
aparelho “smith”. Cada exercício foi executado Resultados
em três séries de oito a doze repetições máxi-
mas, sendo adotado o método de cargas fixas, O comportamento do volume de treino
os quais foram estipuladas nas duas sessões ini- dos participantes, de acordo com o aquecimento
ciais do experimento. realizado (CO, ALO, ESP e AE) antes do treina-
Durante a execução dos movimentos os mento com pesos para cada exercício é apresen-
participantes foram orientados para inspirar tado na Tabela 1. Não foram encontrados efeitos
na fase excêntrica e expirar na fase concêntrica, significativos entre as sessões (P > 0,05) para as
mantendo a velocidade de execução dos movi- diferentes formas de aquecimento pré-treina-
mentos na razão 1:2 na fase concêntrica e excên- mento com pesos.
trica, respectivamente. Vale destacar que o in- A Figura 1 apresenta a média de repeti-
tervalo de recuperação entre as séries foi de 60 a ções executadas em exercícios com pesos (pai-
90 segundos e entre os exercícios, de dois a três nel A), o comportamento do volume de treino
minutos12. Durante as sessões de treinamento geral (painel B) e a duração total do treina-
foram monitoradas as variáveis duração (tempo mento (painel C) dos participantes após a re-
total), volume (carga x repetições x séries) e nú- alização de diferentes formas de aquecimento.
mero de repetições executados para cada exer- Efeito significativo do aquecimento (F = 9,83 e

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Pina FLC, Cavalcante EF, Okamura FH, Belasque VG, Willamowius T, Cyrino ES

Tabela 1: Volume de treino executado em diferentes exercícios com pesos em homens


treinados (n = 15) submetidos a distintas formas de aquecimento. Os valores estão expressos
em média ± desvio-padrão
Variáveis CO ALO ESP AE P
Supino (UA) 1580±113 1494±105 1635±111 1578±116 0,86
Leg press (UA) 3945±279 3847±270 4080±273 4137±260 0,88
Remada (UA) 1580±110 1494±100 1635±113 1578±136 0,86
Flexora (UA) 1052±52 996±57 1095±57 1082±53 0,63
Desenvolvimento (UA) 985±63 959±64 1021±66 997±66 0,93
Panturilha (UA) 1650±124 1604±123 1682±121 1658±121 0,97
Nota. UA = unidades arbitrárias. Volume de treino = carga x repetições x séries. CO = não realizou aquecimento
antes do treinamento com pesos. ALO = realizou alongamento antes do treinamento com pesos. ESP = realizou
aquecimento específico antes do treinamento com pesos. AE = realizou aquecimento aeróbio antes do treina-
mento com pesos.

P < 0,01) e das séries (F = 1279,85 e P < 0,01) significativos entre as sessões (P > 0,05) para

Artigos
foi observado, com todas as formas de aqueci- as diferentes formas de aquecimento e CO pré-
mento e CO sofrendo quedas no número de re- treinamento com pesos. Para a duração total do
petições entre as séries (Painel A; CO = -15,4%; treinamento (Painel C) após a realização de di-
ALO = -15,8%; ESP = -14,8%; AE = -14,2%, P < ferentes formas de aquecimento, efeito signifi-
0,05). Para a interação séries vs. aquecimento cativo do aquecimento (F = 498,21 e P < 0,01) foi
nenhum efeito ficou constatado (F = 1,92 e P observado, apresentando a sessão CO menor
= 0,08). Com relação ao volume de treino ge- duração de treinamento quando comparado as

de caso
Estudo
ral (Painel B) não foram encontrados efeitos sessões ALO, ESP e AE (P < 0,05).

de literatura
Revisões

Figura 1: Número de repetições (Painel A), média geral do volume de treino (Painel B) e
duração de treino (Painel C) em homens treinados (n = 15) submetidos a diferentes formas
de aquecimento. Os valores estão expressos em média ± desvio-padrão. *diferença para a 1ª
série (P < 0,05). #diferença para a 2ª série (P < 0,05). ‡diferença para o CO (P < 0,05). §diferença
para o ALO (P < 0,05). UA = unidades arbitrárias.

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Aquecimento não modifica o volume durante o treinamento com pesos

Discussão tato ponto final da resíntese de ATP, que quan-


do acumulado resulta em fadiga muscular15,16.
Sendo o aquecimento parte importante do Assim, mesmo ocorrendo diferentes formas de
treinamento, o objetivo do presente estudo foi aquecimento, especialmente com a intenção de
analisar a influência de diferentes formas de preparar o organismo para o treino, isso não
aquecimento sobre o volume de treino, núme- foi suficiente para retardar a fadiga gerada pela
ro de repetições e duração do treinamento com execução de séries múltiplas.
pesos em homens treinados. Os principais re- O volume total de treinamento pode ser
sultados deste estudo foram: 1) queda no núme- um importante sinalizador as adaptações do
ro de repetições entre as séries dos exercícios treinamento com pesos, visto que está relacio-
sem diferença entre as formas de aquecimento; nada ao estresse mecânico no exercício17. Para o
2) comportamento similar do volume geral de presente estudo, a aplicação das diferentes for-
treino dos participantes após os diferentes ti- mas de aquecimento previamente aos exercícios
pos de aquecimento pré-exercícios e 3) menor não influenciou o volume total de treino. Barroso
duração de treinamento na condição CO quan- et. al.8 avaliaram a influência de diferentes tipos
do comparado ao ALO, ESP e AE. Tais achados de alongamento (estático, balístico e facilitação
refutam a hipótese levantada inicialmente onde neural proprioceptiva) no número de repetições
o aquecimento, em seus diferentes formatos re- e volume total no exercício leg press. Os resulta-
sultaria em melhores respostas ao treinamento dos encontrados mostraram que apesar da dife-
com pesos. rença estatística significativa entre as séries em
A procura por informações que esclare- cada um dos protocolos de alongamento (queda
çam a real necessidade do aquecimento é de no número de repetições), nenhuma diferença
suma importância, visto que por ser uma técni- foi registrada no volume total em função do tipo
ca usual em centros de treinamento com pesos, de alongamento sugerindo que o alongamento
tal conhecimento pode auxiliar tanto os prati- não influencia no desempenho tanto para o vo-
cantes, como também treinadores na busca de lume como para a execução de séries múltiplas.
uma melhor prescrição de treino. Essas conside- Tais informações vão de encontro aos achados
rações podem ser observadas quando analisa- de Luz Junior et. al.18 os quais observaram que o
do o número de repetições executadas entre as aquecimento de força máxima levou a um maior
séries dos exercícios. Ficou constatado à queda volume para os membros superiores e inferiores.
no número de repetições ao longo das séries, Adicionalmente, aquecimentos aeróbios e espe-
indiferente ao formato de aquecimento adotado cífico apresentaram melhora no volume para os
previamente. Tal resultado corrobora com estu- membros inferiores em uma menor magnitude.
do realizado por Barquilha et. al.13 em homens Embora os estudos citados8,18 tenham utilizado
treinados o qual foi observada a queda do rendi- poucos exercícios e resultados controversos, no
mento no número de repetições no decorrer da presente experimento o volume de treino foi tes-
realização das séries. Da mesma forma, Brechue tado em um programa estruturado a partir de
e Mayhew14 apresentaram resultados semelhan- uma montagem alternada por segmento sendo
tes quando da execução de séries múltiplas no compostos por seis exercícios. Portanto este es-
exercício agachamento. Tal efeito era esperado, tudo aplicou um programa de treinamento com
considerando que no treinamento com pesos há pesos que priorizou diferentes segmentos cor-
o recrutamento de grande parte das unidades porais visando caracterizar o mais próximo dos
motoras além de ser um exercício de curta du- treinos realizados nas academias. Além disso,
ração. O principal substrato energético do me- sendo o volume de treino um importante indi-
tabolismo durante este tipo de treinamento é a cador de hipertrofia17, os achados do presente
glicose oriunda do glicogênio muscular e o lac- estudo auxiliam, especialmente, as respostas

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Pina FLC, Cavalcante EF, Okamura FH, Belasque VG, Willamowius T, Cyrino ES

adaptativas induzidas pelo treinamento com apresenta algumas limitações que não podem
pesos, mesmo o aquecimento não influenciando ser desprezadas, como a duração do experimen-
em tal variável. to (efeito agudo). A realização de um período
Com relação ao tempo de duração do trei- crônico de treinamento poderia apresentar res-
no, o treinamento que não utilizou nenhuma for- postas diferentes das encontradas no presente
ma de aquecimento pré-exercício (CO) foi o mais estudo. Da mesma forma, a participação apenas
rápido quando comparado aos três sistemas de do sexo masculino e treinados previamente po-
aquecimento (ALO, ESP e AE). O treino realiza- dem não auxiliar a estrapolação dos resultados
do com alongamento prévio, quando comparado para outros públicos (mulheres ou não-treina-
aos demais tipos de aquecimento teve o maior dos, por exemplo). Entretanto, o cuidado com a
dispêndio de tempo. Apesar das evidências ne- coleta das informações, bem como a diminuição
nhum dos resultados influenciou o volume total do tempo na condição sem aquecimento pode
de treino. Levando em consideração que um dos contribuir não somente na duração da sessão,
principais fatores apresentados pelas pessoas mas também na aderência a um programa de
para não praticarem exercícios físicos regular- exercícios19,20.

Artigos
mente está associado à falta de tempo19 e uma vez
que o tempo está relacionado à queda da motiva-
ção determinando a permanência em uma tare- Conclusão
fa6,20, uma sessão mais curta pode proporcionar
uma influência positiva na motivação20 e aderên- Os resultados do presente estudo sugerem
cia6. Esta informação é importante, uma vez que que o aquecimento não modifica o volume e nú-
ao realizar o mesmo volume em uma sessão com mero de repetições durante o treinamento com

de caso
Estudo
tempo reduzido a densidade da sessão de treino pesos. O mesmo não pode ser observado para
foi aumentada, e consequentemente, o trabalho a duração de treino, onde ficou constatada me-
mecânico por unidade de tempo, o que pode ter nor duração de treino após a não realização de
implicações consideráveis nas respostas adapta- aquecimento (CO) quando comparado as demais
tivas ao treinamento com pesos com um maior formas de aquecimento (AE, ALO, ESP).
estresse mecânico17 em longo prazo. Neste con-

de literatura
texto, a diminuição do tempo na condição sem

Revisões
aquecimento pode contribuir não somente na Referências
duração da sessão, mas também fisiológica ao
treinamento. Por exemplo, uma vez que a den- 1. McGowan CJ, Pyne DB, Thompson KG, Rattray
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Aquecimento não modifica o volume durante o treinamento com pesos

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