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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
DISCIPLINA: ESTÁGIO CURRICULAR

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR


ESTÁGIO EM PRODUÇÃO - GELNEX
INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.

COORDENADOR: Prof. Dr. José Eduardo Olivo

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Eduardo Olivo

DISCENTE: Brenda Tiemi Miranda Matsukawa RA: 109572

MARINGÁ, 2023.
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

Trabalho apresentado ao Departamento de


Engenharia Química da Universidade Estadual de
Maringá, juntamente com a empresa Gelnex
Indústria e Comércio LTDA com o intuito da
conclusão da disciplina de Estágio Curricular
Supervisionado.

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Eduardo Olivo

SUPERVISOR: Vinicius Pais Catharin

MARINGÁ, 2023.

AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço meus pais, André e Eliane Matsukawa e meu irmão
Braian Matsukawa, que sempre me deram suporte durante minha jornada acadêmica.

Aos engenheiros da Gelnex, Guilherme Martins e Gabriel Veiga, por me guiarem


durante esses 9 meses de estágio e pelo conhecimento técnico passado.

Por fim, à Gelnex, por proporcionar essa experiência enriquecedora.


RESUMO.............................................................................................................................................................
1. Introdução........................................................................................................................................................
1.1. Empresa....................................................................................................................................................
1.2. Gelatina....................................................................................................................................................
1.3. Colágeno..................................................................................................................................................
1.4. Atividades de estágio...............................................................................................................................
2. Processos industriais.......................................................................................................................................
2.1. Fluxograma de produção..........................................................................................................................
2.2. Pré-tratamento da matéria-prima.............................................................................................................
2.3. Corte.........................................................................................................................................................
2.4. Preparação................................................................................................................................................
2.5. Extração...................................................................................................................................................
2.6. Clarificação..............................................................................................................................................
2.7. Concentração............................................................................................................................................
2.8. Gelificação...............................................................................................................................................
2.9. Secagem...................................................................................................................................................
2.10. Moagem.................................................................................................................................................
3. Atividades desenvolvidas................................................................................................................................
3.1. Atividades rotineiras................................................................................................................................
3.2. Projetos desenvolvidos.............................................................................................................................
4. Conclusões........................................................................................................................................................
Referências...........................................................................................................................................................
RESUMO

O relatório presente sumariza as atividades exercidas durante o período de estágio, exercido


na empresa Gelnex. A empresa conta com seis unidades industriais, sendo cinco localizadas
na América do Sul e uma nos Estados Unidos, e é considerada como uma das maiores
produtoras de gelatina do mundo. A Gelnex possui capacidade produtiva de 46 mil toneladas
ao ano, com exportação para mais de 60 países, figurando entre os maiores fabricantes
mundiais do segmento de gelatina e peptídeos de colágeno. O processo de produção da
gelatina envolve diversas operações unitárias, que foram abordadas durante a graduação. O
estágio curricular obrigatório possibilita a aproximação do acadêmico com o conteúdo teórico
apresentado durante a graduação e a prática, proporcionando uma visão holística da cadeia de
suprimentos da indústria de alimentos, desde a produção até a distribuição.

Palavras-chave: estágio, gelatina, colágeno.


1. Introdução
1.1. Empresa

A Gelnex é uma empresa brasileira renomada no setor de produção de gelatina e


colágeno, amplamente utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica, de suplementos e
cosméticos.

Fundada em 1986 em Itá-SC, a indústria se especializou na produção de gelatina de


colágeno bovino e suíno. Com o tempo, a empresa expandiu suas operações e conquistou
uma posição de destaque no mercado global de gelatina.

Com capacidade produtiva de mais de 46 mil toneladas ao ano, figura entre os


maiores fabricantes mundiais no ramo de gelatina e colágeno. A Gelnex também direciona
recursos para programas educacionais, culturais, saúde e qualificação profissional para as
comunidades. Além de se preocupar com as questões sociais, também há o comprometimento
com a sustentabilidade, buscando métodos sustentáveis desde a matéria prima até o produto
final (Gelnex, 2023).

Com o crescimento da empresa, foram fundadas mais 3 unidades no Brasil, uma no


Paraguai e uma nos Estados Unidos. A unidade de Nazário-Go, onde foram desenvolvidas as
atividades de estágio, possui duas fábricas, uma suína e uma bovina. Além das fábricas, conta
com a estação de tratamento de efluente, estação de tratamento de água e caldeira.

Figura 1 - Gelnex, Nazário-GO.

Fonte: Aerovista Brasil (2020)


Em suas unidades de produção, a Gelnex está focada no crescimento sustentável,
tendo como missão formular e executar políticas de gestão ambiental nas fábricas,
promovendo o desenvolvimento de maneira sustentável e integrada com as comunidades.

1.2. Gelatina

A gelatina é uma substância proteica transparente e incolor, obtida a partir do


colágeno, uma proteína encontrada nos tecidos conjuntivos de animais, principalmente na
pele e nos ossos. É amplamente utilizada na indústria alimentícia e em outros setores devido
às suas propriedades gelificantes e espessantes. A dissociação térmica ou química das cadeias
polipeptídicas do colágeno forma o produto conhecido como gelatina. A partir do tratamento,
o colágeno insolúvel é convertido em gelatina solúvel por tratamentos hidrolíticos.

Uma gelatina típica é essencialmente constituída de proteína, contém 14% de


umidade, 84% proteína e 2% de cinzas (RIX, 1990). A proteína consiste de uma mistura de
aminoácidos, dos quais glicina, prolina e hidroxiprolina estão presentes em maior
abundância.

As repetidas sequências de aminoácidos são necessárias para a formação da estrutura


característica em tripla hélice na gelatina e em outras proteínas da família do colágeno
(Figura 2). Essa estrutura é que afere a habilidade de formar gel sendo os segmentos em tripla
hélice a base para as ligações cruzadas e a formação da rede tridimensional (CLARK, 1990).
Figura 2 - Estrutura do colágeno e gelatina.

Fonte: https://www.researchgate.net/

Existem duas classificações para gelatina: tipo A e tipo B. A gelatina tipo A é


produzida com matéria-prima suína, onde são utilizados processos diferentes dos necessários
para a realização da extração da gelatina tipo B. Além disso, a gelatina tipo A apresenta
características específicas, possuindo um ponto isoelétrico entre 8 e 9, e maior facilidade na
formação de espumas.

Já a gelatina tipo B é normalmente produzida a partir do couro bovino. O couro


bovino precisa ser tratado em solução alcalina para que a gelatina seja possível de ser
extraída com a água quente. A gelatina tipo B possui um ponto isoelétrico de 4,8 e 5,4.

Ao longo dos anos, a gelatina tem apresentado aplicações na indústria de alimentos,


fotográfica, cosmética e farmacêutica (BINSI, 2009). A força de gel, viscosidade e ponto de
fusão da gelatina dependem do seu peso molecular e da distribuição e composição de
aminoácidos.
1.3. Colágeno

A estrutura molecular do colágeno contém cerca de 35% de glicina e cerca de 11% de


alanina, 25% de prolina e hidroxiprolina, proporções inusitadamente altas destes
aminoácidos. Ainda mais característico é o alto conteúdo de prolina e hidroxiprolina, um
aminoácido raro em outras proteínas que não o colágeno e a elastina.

O colágeno não é uma substância de composição uniforme. Hoje, 27 tipos de colágenos


já foram identificados. O colágeno Tipo I está relacionado a pele, ossos e tendões, o colágeno
tipo II está presente exclusivamente na cartilagem e tipo III é bastante variável com a idade:
pode compor até 50% de todos os colágenos presentes em peles jovens e menos de 5% em
peles velhas. Os outros tipos de colágeno são, em sua maioria, pouco presentes e específicos
de determinados órgãos (GAREIS e SCHRIEBER, 2012).

O produto é nutricionalmente interessante, podendo ser empregado como suplemento


proteico, associado a outras proteínas, além de ser um ingrediente muito procurado
atualmente, na obtenção de produtos dietéticos, de baixa caloria, sem colesterol e gordura
reduzida.

Enquanto o colágeno não é solúvel em água, sua versão hidrolisada, a gelatina, é solúvel
em meio aquoso o que a torna um ingrediente moderno e versátil, utilizável nas indústrias
alimentícias, farmacêuticas, fotográficas, etc.

A Gelnex produz o colágeno hidrolisado com uma mistura dos colágenos tipo I e tipo
III. Para produção do colágeno é utilizada a gelatina de ambos os tipos A e B produzida pela
própria empresa. O colágeno é vendido com a premissa de ser um produto que ajuda na
manutenção da pele, dos músculos e das articulações (GELNEX, 2023).

1.4. Atividades de estágio

Monitoramento de variáveis de processos, acompanhamento de testes industriais,


acompanhamento e desenvolvimento de processos e melhorias contínuas, desenvolvimento e
acompanhamento de testes piloto e de bancada, além da pesquisa bibliográfica.
2. Processos industriais
2.1. Fluxograma de produção

Figura 3 - Fluxograma do processo produtivo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

2.2. Pré-tratamento da matéria-prima

A planta NZR da Gelnex em Nazário-GO é responsável pela produção de gelatina


partindo da matéria prima bovina em temperatura ambiente. A matéria prima é a pele/couro
bovino que pode ser de diferentes “qualidades” colagênicas, que são partes e formas
diferentes da pele bovina.

2.3. Corte

A partir do recebimento da matéria prima, os couros são separados para o corte. Nesta
etapa é importante o controle da granulometria para que não ocorra o subtratamento ou
supertratmento da pele. Ou seja, é preciso ser minucioso no corte para que não haja um
possível extração antecipada ou dificuldade de extrair.

2.4. Preparação

Após o corte da matéria prima, é necessário tratá-la, retirando os materiais não


colagênicos. É na preparação que ocorre a quebra das ligações de tripla-hélice por tratamento
químico. Tal tratamento pode ser realizado por meios ácidos ou básicos, essa etapa facilitará
a extração da gelatina posteriormente.

Dependendo do tipo de tratamento, a gelatina pode ser classificada em tipo A e tipo


B, sendo o tipo A referente a matéria prima que apenas recebe o tratamento ácido e o tipo B,
tratamento básico, podendo sofrer tratamento ácido em outras etapas.

Aqui o objetivo é aumentar o rendimento e garantir boa extratibilidade da pele na


etapa posterior, além de controlar parâmetros de qualidade da gelatina.

2.5. Extração

A extração é feita com água quente, alimentada em contracorrente. A partir da


extração sólido-líquido é possível obter o produto de interesse: a gelatina. Nesta etapa o
controle de temperatura é rigoroso, pois influencia diretamente no ritmo de produção e
qualidade do produto final.

2.6. Clarificação

Na clarificação, através das operações unitárias envolvidas, é possível retirar


partículas e impurezas que ainda estão na gelatina, fazendo o controle de turbidez e cor do
gel.

2.7. Concentração

Nesta etapa são utilizadas operações para garantir a concentração da gelatina. Após a
clarificação a gelatina ainda está muito diluída no solvente e por isso passa por vários
processos para a retirada desse solvente até atingir uma concentração aceitável.
A concentração ideal ajudará na etapa da secagem.

2.8. Gelificação

A gelificação da gelatina é necessária para sua posterior secagem. Para a gelificação, é


feito o resfriamento da gelatina em um trocador de calor de superfície raspada, no qual tem-se
uma corrente de amônia passando na parte posterior e corrente de gelatina na camada interior.
Com o resfriamento, a gelatina é gelificada e é passada adiante por meio de sistemas que
empurram o material contra uma grade/trefila, fazendo a extrusão da gelatina em forma de
macarrões.
2.9. Secagem

O macarrão gelificado é disposto sobre uma esteira que passa por túneis e recebe ar
previamente tratado por uma central de tratamento de ar e gradualmente aquecido (em que a
temperatura é aumentada a cada túnel, afim de manter-se a umidade relativa baixa e favorecer
o mecanismo de secagem), retirando assim a umidade sem liquefazer a gelatina.

2.10. Moagem

A gelatina por fim é moída por moinho de martelos e separada por um conjunto de
peneiras de diferentes aberturas, gerando assim gelatina a diferentes granulometrias. Depois
de moídos, os lotes são caracterizados através de análises laboratoriais, que definem
quantidade de cinzas, bloom, umidade, viscosidade, entre outros parâmetros de interesse.

3. Atividades desenvolvidas

O estágio foi desenvolvido no setor de produção e processo da gelatina bovina. A


partir de maior contato com o cotidiano fabril, foi possível desenvolver senso crítico de
parâmetros de controle e realizar propostas de melhorias no processo e nos equipamentos

3.1. Atividades rotineiras

Durante o período de estágio foram passadas algumas atividades rotineiras, como


coleta para acompanhamento da umidade da matéria-prima e checagens diárias com a
finalidade de reportar se os parâmetros de controle de cada operação estavam dentro do
esperado.

Ambas as atividades foram enriquecedoras para formular a noção de planta e, caso,


fossem observados desvios, era possível apresentar sugestões para melhorar o cenário.

3.2. Projetos desenvolvidos

Checagem de planta: diariamente eram coletadas amostras de diversas operações da


fábrica com o objetivo de conferir os parâmetros de controle e, caso necessário, realizar
diagnósticos pontuais. Por meio dessa atividade foi possível ter noção maior da plantae
desenvolvimento do senso crítico.

Checagem de matéria-prima: eram realizadas análises da matéria prima vinda dos


curtumes. As peles de má qualidade podem ocasionar em um rendimento ruim, sendo assim,
caso apresentasse desvios, era reportado aos superiores com o objetivo de cobrar melhoria
dos curtumes.

Curva de secagem: foram realizadas curvas de secagem ao longo do período de


estágio. A partir do levantamento de dados de umidade e temperatura e observando a
integridade dos túneis foi possível analisar a eficiência da etapa de secagem. Com os dados
eram feitas as curvas, sendo possível realizar apontamentos, diagnosticar patologias e sugerir
melhorias.

Dimensionamento do trocador de calor: foi realizado um projeto de dimensionamento


de trocador de calor de placas com o intuito de resfriar a gelatina após a operação de
extração, caso a temperatura atingisse um valor superior ao máximo permitido, poderia
danificar os equipamentos das etapas seguintes. Para tal, foi coletado dados da operação e
construiu-se vários cenários para resfriar a gelatina até a temperatura desejada.

Permeabilidade da terra: em escala laboratorial foram realizados ensaios de filtração


para obter a permeabilidade das terras utilizadas na fábrica, com os resultados confere-se se a
permeabilidade da terra reportada pelo fabricante estava correta e se os blends utilizados são
satisfatórios para retirada da turbidez, sem causar paradas na operação.

4. Conclusões

Por meio do estágio, foi possível compreender a importância da eficiência operacional


e da gestão estratégica em um contexto industrial. Foi uma oportunidade valiosa para aplicar
os conhecimentos desenvolvidos em sala de aula, aprofundando nos processos industriais,
desde a seleção de matérias-primas até o controle de qualidade do produto final.

O contato diário com diversos equipamentos industriais permitiu a sedimentação dos


conceitos ministrados na disciplina de operações unitárias, já que foi possível observar a
montagem, operação e manutenção destes.
Ademais, acompanhou-se o ritmo de uma indústria de alimentos e suas especificações,
como auditorias internas, requeridas por clientes e também no âmbito de fiscalização federal.

Em resumo, foi um experiência enriquecedora para integrar o conhecimento teórico


com a prática, ampliando as habilidades técnicas, interpessoais e a compreensão da indústria
alimentícia como um todo.

Referências

Gelnex. Available from: https://www.gelnex.com.br/pt/ [accessed 01 Oct, 2023].

Polymer-Based Carriers in Dental Local Healing—Review and Future Challenges - Scientific


Figure on ResearchGate. Available from: https://www.researchgate.net/figure/Molecular-
structure-of-collagen-a-gelatin-b-113_fig9_353250152 [accessed 27 Sep, 2023].

Bogue, R.H. 1922. The Chemistry and Technology of Gelatin and Glue, McGraw Hill, New
York, NY.

Schreiber, R. and Gareis, H., Gelatine Handbook, 2007, Wiley-VCH, Weinheim, DE.

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