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Como debater temas polêmicos

em sala de aula
Reconhecer que sua trajetória e a de seu interlocutor são diferentes é
o primeiro passo para estabelecer o diálogo

POR: Paula Peres 03 de Novembro | 2018

Muitas vezes, nossas opiniões e os valores que carregamos estão tão ligados à nossa
trajetória e como nos relacionamos com a sociedade que é custoso conversar com quem tem
outras referências e outros valores sem magoar o outro ou magoar a si mesmo.
Disciplinas que suscitam abordam temas relativos à convivência humana (Língua
Portuguesa, Geografia, História, Sociologia, Filosofia…) em geral não conseguem fugir de temas
polêmicos, que suscitam calorosos debates em sala de aula (e também na sala dos professores).
Não é por medo de lidar com a divergência que devemos evitar o debate. “A divergência é
um desafio. É isso que alimenta uma aula com pensamento crítico, é a oportunidade de trabalhar
diversos valores que são transversais na Educação”. Mas como fazer isso? Marcele Guerra,
formadora de professores, diz que estamos em um momento nacional em que precisamos falar,
mas também precisamos ouvir. E isso leva tempo. “O que vai vir quando o outro se expressa?
Toda a sua trajetória, suas escolhas, que são traduzidas em sua fala”

1) Reconheça-se

Antes de iniciar uma discussão, faça o exercício de refletir sobre seus próprios valores e suas
motivações. Marcele sugere uma lista de perguntas que você pode fazer a si mesmo:
Onde está a divergência em mim? Por que eu acho que esse tema causa polêmica? Por que eu
concordo ou discordo de determinada visão? Quais são as motivações da minha crença? Por que
eu penso assim? O quanto a minha história, minhas escolhas pessoais, minha trajetória de vida
estão ligadas às minhas opiniões? O quanto minhas decisões são condicionadas por isso?

2) Reconheça o outro
As mesmas perguntas que você fez a você mesmo são o início da abertura para você conhecer o
outro. Por que ele concorda ou discorda de determinada visão? Qual é a sua trajetória? Se você
tem uma trajetória e motivações para suas crenças, o outro, mesmo que seja diferente de você,
também tem as dele. Que formam a pessoa que ele é e os valores que ele defende. Ao final
desse processo, o ideal é que você esteja aberto para enxergar o outro, reconhecer sua história
de vida e trajetória e respeitar as escolhas dele.

3) Reconheça o contexto

Agora que os dois lados reconhecem a si mesmos e aos outros como indivíduos que não podem
ser mudados (e que não são responsáveis pela visão que o outro tem), estão prontos para
colocar seus pontos de vista sobre um tema polêmico.
A comunicação em círculo funciona assim: há uma pergunta que serve de motivo para o círculo
existir.
Em roda, para que todos pudessem ver uns aos outros, os participantes dos grupos
compartilharam seus pensamentos e suas experiências situações de divergência. No processo
circular, há um objeto que servirá como “bastão de fala”: só quem pode falar naquele momento é
quem tem o bastão em mãos, sem interrupções. Deve haver um tempo estimado para a
discussão, que será observado pelos próprios participantes, sem estipular tempo máximo ou
mínimo de fala. A proposta é praticar a “escuta ativa e a fala consciente”, como diz Marcele. “No
círculo, todo mundo tem a sua vez de falar, o mesmo poder, a mesma potência”.

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