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A lm ir Del Prette / Z ilda A.P.

Del Prette

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P S IC OL OG IA DAS
R E L A Ç Õ E S IN T E R P E S S O A IS

V I V Ê N 3É i R A O

T R A ■B. ^ A- -
.
M GRU

I
Dad o s I n t e rn ac i o n ai s d e C at alo g aç ão na P ubli c aç ão (CI P )
(C âm ara Brasi le i ra d o Liv ro , SP, Brasi l)

Del Prette, Almir


Psicologia das relações interpessoais : Vivências para o trabalho em
grupo / Almir Del Prette, Zilda A.P. Del Prette. Petrópolis, RJ : Vozes,
2001.

B ibliografia.
ISBN 85.326.2596-7

1. Habilidades sociais 2. Psicologia social 3. Relações interpessoais 4.


Trabalho em grupo I. Del Prette, Zilda A.P. ÍI. Título.

01.2861 CDD-158.2

í n d i c e s p ara c at álo g o sist e m át ic o :


1. Relações interpessoais : Psicologia aplicada 158.2
4
HABILIDADES SOCIAIS PARA UMA NOVA
SOCIEDADE

E pe ns o com os olhos e com os ouv idos


E com as mãos c com os pés
E co m o n a riz e com a boca.

Fernando Pessoa

Co n fo r m e se ve r ificou no c a pítulo ante r ior , e xis te m c on­


te xtos com de manda s de de s e mpe nhos s ociais específicos e
t a m b é m dife r e nte s conte xtos c om de ma nda s pa r a classes se­
me lha nte s de de s e mpe nho s ocial. Rigor os ame nte fa la ndo, a
lis ta ge m de classes de ha bilida de s s ociais e xclus ivas par a de ­
te r mina dos conte xtos parece u m a tar e fa inviáve l. Isso po r ­
que ta nto os eve ntos , como as s ituaçõe s que var iam c ontinua­
me nte , cr iando a ne ce s s idade de alte raçõe s corre s ponde nte s
no de s e mpe nho das pessoas. Por isso, é pre feríve l falar e m
classes e subclasses de habilidade s sociais e m dife rentes graus
de comple x idade . As classes mais comple xas são compos tas
por diversas ha bilidade s e estas, por s ua vez, pode m ser s ubdi­
vididas e m novas subclasses var iando, por tanto, das mais
comple xas ou molare s às mais específicas o u mole culare s . O
e s que ma a s e guir representa u m contínuo molar- mole cular
com as subclas s es compone nte s d a classe ge ral “coorde nar
g r up o ”, or ga nizadas e m or de m cre s ce nte de c omple x idade .

CC
MOLECULAR MOLAR

Lidar com tensões Direcionar 0


*N _ e administrar — - grupo para a
Klogiar Mediar O àt* conflitos tnrefa
estabelecimento 4
Fazer perguntas c seguimento /
de normas
Resumir COORDENAR
GRUPO
Parafrasear

Dar feedback Organizaras Estimular 0


etapas da * envolvimento e
Incentivar tareia participação
de todos

Ne s te dia gr a ma , as habilidade s s itua das do la do m o le c u­


lar p o de m faze r par te das que se e nc ontr a m e m pos içõe s in ­
te r me diár ias e estas, po r s ua vez, c o m põe m ha bilida de s de
cres cente comple x ida de que se e olocain, ta mbé m, como
compone nte s da clas se ge ral “coor de nar g r upo”. T e or ica­
me nte , c ada ha bilida de , me s mo as de m e no r comple x ida de ,
pode ser de compos ta e m outras . Além dis s o, cada ha b ilid a de
pos s ui compone nte s n ão ve rbais , pa r alingüís ticos e mis tos ,
por e x e mplo, c ontato vis ual, sorriso, pos tur a, ge s tua lidade e
e nto na ção de vo z.1
Qu a n t o mais comple x a um a classe de ha bilida de , mais
subclasses de ha bilida de s e la pos s ui. O c o ntínuo e x e mplifica ­
do a cima pode ser a plic a do na anális e de outr as classes de
ha bilida de s . Essa de compos ição é m uito impor ta nte no p la ­
ne ja me nto de um pr og r a ma de pr o moção de ha bilida de s s o­
ciais, pois a lgumas pe ss oas pode m apre s e ntar déficits e m a l­
guma s subclasses e n ão e m outras . Des sa ma ne ir a , a r e le vân­

1. Os tr abalhos de Golds icin apre s e ntam programas dc "apr e ndizage m e s tr utur a­


d a ” de habilidade s sociais c m que cias são or ganizadas cm pe lo me nos tres níve is de
comple x idade : os conjuntos maior e s , as liabilidados compone nte s de ca da c onjunto
e os "pas s os ” e nvolvidos no de s e mpe nho dc cada habilidade . Em McGinnis c Gold-
s te in (19 84), os autore s pr opõe m, para crianças c m ida de e scolar, cinco gr upos dc
habilida de s : s obre vivência c m classe: fazer amizade s , lida r com s e ntime ntos , apre-
s qntar alte rnativas à agr e s s ão c lidar com.Ureís. Ver: McGinnis , E., Golds te in, A.P.,
Spr afkin, R.P. e Ge rs haw, N.J. (19 84). SfcijkirearmVi# tke elementary school ( h ild : A
ju id e fo r teaching piv s ocial skills. Cha mpaign: Illinois : Research Press.
cia de u m a ha bilid a de não e s tá ne ce s s ar iame nte r e lacionada
à s ua c omple x ida de , mas s im ao seu valor func io na l par a um
de s e mpe nho s ocialme nte compe te nte .
Feitas essas ressalvas, apr e s e ntamos neste c a pítulo a des­
crição de u m c o njunto de ha bilida de s que cons ide r amos im ­
por tante s pa r a os pr ogr amas de T r e iname nto de Ha bilidade s
Sociais . Várias de las s ão e ncontr adas na lite r atur a a tua l da
áre a; outras s ão ha bilida de s mais amplas e ge r alme nte não
incluída s nas clas s ificaçõe s us uais .
Essas ha bilida de s for am or ga nizadas e m sete conjuntos ,
dis tribuídos e m qua tr o níveis de comple xidade crescente, con­
forme o qua dr o a se guir. A or ga nização das ha bilida de s e m
dife re nte s c onjunto s te m como bas e a anális e de s e u c onte ú­
do e func iona lida de , mas não e xclui a lgumas s obre pos içõe s ,
ine vitáve is de vido à va r iabilidade e a comple x ida de das re la­
çõe s inte rpe s s oais .

H S A sse rt iv as, D ire it o e


C idadan ia
HS d e c o m un ic aç ão HS d e t rabalh o
A J M anifestar opinião,
•f Coordenar grupo
•/ Fazer e responder
(I perguntas
concordar, discordar
■S Falar em público
r • f Pedir fe e d ha ck
•f Fazer e aceitar e recusar
pedidos
S Resolver problemas,
0 s Gratificar/elogiar * Desculpar-se, adm itir falhas
tom ar decisões e
K S Dar feedback Intcragii com .nitnririgrip
m ediar conflitos
•s H a í il idades sociais
0 •s Iniciar, m anter e J EstetbeteccrrêtãciÕüü menti i
educativas
H encerrar conversação afetivo e/ou .sexual

1 ■S Encerrar relacionam ento I

r HS d e c iv ilid ad e
J Expressar raiva/desagrado e
pedir mudança d e f j
0 '.comportamento \ HS d e e x p re ssão
s D izer jror fa v o r d e se n t im e n t o
R y Apadecer •s Interagir com Autoridades
p o sit iv o
1 S Apresenrar-se Lidar com críticas 1 _
S Cumprimentar IV Fazer am izade
S Despedir se HS e m p át ic a s •S Expressar a
solidariedade
J Parafrasear x' Cultivar o amor
-R efletir sentimentos F -
j Expressar apoio

A pr opos ta de ta x onomia a c ima re que r a lgumas cons ide ­


rações adicionais . Confor me j á de finido ante r ior me nte , a dis ­
po nibilida de de u m var iado r e pe r tór io de ha bilida de s sociais
não implica, necessariamente, e m um des empenho socialmente

An
compe te nte , e mbor a s e ja u m a das condiçõe s pa r a isso. For
outr o lado, e s pe cialme nte no cas o de de s e mpe nhos mais
comple xos , é impor ta nte cons ide rar a c omple me nta r id a de
de algumas ha bilida de s pa r a ga r a ntir os e fe itos que car acte ­
r iza m a c ompe tênc ia s ocial e a qua lida de das re laçõe s inte r ­
pessoais. Por e x e mplo, cons ide rando- s e o de s e mpe nho de
ma nte r conve rs ação, não bas ta a ha bilida de de falar de sí
me s mo: é impor ta nte que esta seja a c ompa nha da d a h a b ili­
dade de faze r pe r guntas e ouvir o outr o de mons tr a ndo in t e ­
resse; caso contr ár io e s tar íamos dia nte de pe s s oa que fala
m uito de si me s ma e pouc o se impor ta com o inte r loc utor .
Alg ué m a ltame nte as s e rtivo, por é m c om falta de ha bilida de s
e mpática s e de e xpre s s ão de s e ntime ntos , pode te r d ific ulda ­
de no e s tabe le cime nto de re laçõe s de a mizade . Outr o pode
e mitir compe te nte me nte ha bilida de s e mpáticas , de c o m u n i­
cação e de civilidade mas se não cons e gue e mitir as as s e rti­
vas pode dar a impr e s s ão de pouc a s ince ridade , dific ulta ndo
r e laçõe s mais es táve is e dur adour a s .

1. A p re n d e n d o a apre n d e r: a aut o m o ni t o ri a
D igo ao s e nhor que eu mes m o n ote i que estava fa la n d o
alto demais ( . . . ) coração b ru to b atente p o r d eb aixo de
tudo. Senti ou tra fo g o n o m e u ros to, o s alteio de que to­
dos a fin q u e me olhav am ( . . . ) P o r isso, p re n d i m inhas
vistas só n u m hom em , um que fo i o qu a lqu e r s em ne m
escolha m in h a e porqu e estava b em p o r m in ha fre n te .

Guimarães Rosa

São muitos os conce itos de a uto mo nito r a me nto na lite r a ­


tur a ps icológica. As vezes s ão a mplos e ge néricos como o de
Snyde r 2 que o des creve como “obs e rvação, r e gula ção e c o n­
trole da ide ntida de pr oje ta da no púb lic o ”, ou res tritos como

2 . Ver: Snyde r, M. (1 9 87 ). Pubitc appcarence priv ate realities: The psy chology o f
Ne w York: F r iman (p. 35).
s elf- m onitoring.

£.1
o ae LrOd e colaborador e s 3 que o re fe re m como u m processo
pe lo qua l as pe ss oas obs e rvam e r e gis tr am pe ns a me ntos so­
bre si me s mas e m s uas inte r açõe s c o m o me io a mbie nte .

Cons ide r ando as inte r açõe s c om o ambie nte s ocial, p o ­


de mos conceber o automonitoramento como uma ha bi­
lidade me tacognitiva e afe tivo- comportame ntal pe la qual a
pessoa observa, descreve, inte rpre ta e re gula seus pe ns ame n­
tos, s e ntime ntos e compor tame ntos e m situações sociais.

As re laçõe s e ntre pessoas pr o vê m opor tunidade s fre ­


qüe nte s par a a a pr e ndiza g e m de ha bilida de s s ociais im po r ­
tante s no a jus ta me nto do in d ivíd uo . Nessas ocas iõe s , ao m o ­
nitor a r o seu de s e mpe nho, a u m e n t a a pr oba bilida de de a l­
ca nça r uma boa compe tê nc ia s ocial. Pessoas com pouc a h a ­
bilid a d e na a uto mo nito r ia de de s e mpe nhos sociais te nde m a
r e s ponde r de m a ne ir a r azoa ve lme nte a uto mátic a aos e s tí­
mulo s intr ace ptivos e ambie ntais . Es tando com fome inge ­
r e m o pr ime ir o a lime nto que e nc ontr a m, s e ntindo r aiva in ­
te ns a, pode m des carre gá- ia e m u m a pe s s oa não r e s pons áve l
pe lo seu estado. Na maior ia das vezes, as pessoas pouc o cons­
cie nte s de seus de s e mpe nhos mos tram- s e incapaze s de id e n­
tificar e nome ar seus s e ntime ntos e pe ns ame ntos ou descrever
c omo agir am.
Exis te m, por ta nto, pe lo me nos qua tr o r e quis itos par a o
de s e mpe nho dessa ha bilidade de automonitorame nto: contro­
le da impuls ividade , observação do outro, intros pe cção e refle­
xão. Aque las pessoas que apr e nde r am a monitorar a si próprias
s ão ge ralme nte conscientes de s uas emoções, pe ns ame ntos e
compor tame ntos , conhe ce m suas pote ncialidade s e pontos vul­
neráveis, plane jam me tas pe rtine nte s aos seus recursos e alte ­
r a m seu de s e mpe nho qua nd o isso se faz ne cess ário.

3 . Vcr: God, S R., Le io umc a u, E.J. e O’Do nohue , W. (1995). Se x ual inte r action
skills . Em: O’Donohue CL. Krasne r (E d s ), H andb ook o f psy chological skills training:
C linical techniques and applications (229 24 6). Ne w York: Allyn and Baton.
Po r ta nto, essa ha bilid a de pos s ibilita:
S me lhor a no r e conhe cime nto das e moçõe s pr ópr ia s e
d o outro;
S e xpe riência dir e ta da r e lação e moção- pe ns ame n-
to- compor tame n to;
S m a io r pr o ba bilid a d e de sucesso no e nfr e nta me nto de
s ituaçõe s comple xas ;
Sanális e e compr e e ns ão mais acur adas dos r e la c io na ­
me ntos ;
v'' me lhor a na auto- e s tima e na autoconfia nça ;
S a juda a outras pess oas na s olução de pr oble mas inte r ­
pess oais.

Um e x e mplo de a ut o m o nit o r a m e n to pode ser e xtr aído


da citação inicial de s te tópic o. Na na r r a tiva de Guima r ãe s
Ros a, Rioba ldo, ho m e m do s e rtão das Minas Gerais, conta a
s ua vida e, nesse tre cho, e xibe de for ma a dmir áve l a h a b ili­
dade de a uto mo nito r a m e nto . Fica e vide nte a difícil s ituação
que Rio b a ld o e nfr e ntou: a de toma r a pa la vr a e c ontr adize r
seu che fe (Joca Ra mir o) dia nte de todos . Ele des creve seu
c ompor ta me nto: e u m e s m o n o te i q u e e s ta v a fa la n d o a lto d e­
m a is . Embor a não utilize o te r mo, pode- se infe r ir a s ua ans ie ­
dade : co ra çã o b ru to b a te n te ...; s e n ti fo g o n o m e u ro s to ... Cons ­
cie nte me nte , ele procur a r e gular (monitor a r ) a s ua ação,
de ntr o das dis ponibilida de s de seu r e pe r tór io de c o mpo r ta ­
me ntos . Rio ba ldo s abe de suas dific ulda de s e utiliza a e s tra­
tégia de olha r par a a lgué m, uma ve z que lhe seria difícil olhar
dir e ta me nte para o seu c oma nda nte : p o r is so, p re n d i m in h a s
v is ta s n um s ó h o m e m .

2. H abi li d ad e s so c i ai s de c o m unic aç ão
A c omunic a ção é u m me c anis mo e s s e ncial da vid a e da
e volução, a come çar pe la me ns age m dos genes que in fo r ­
m a m , através das pr opr ie dade s fís ico- químicas das molécu-

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