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CURSO CANÇÃO E PSICANÁLISE

ANDRESSA NUNES

AULA 2
INTRODUÇÃO

PARTICIPAÇÃO - SUELY AIRES


panaroma da CONCEITOS DE VOZ
aula VOZ COMO OBJETO A
ouroboros de lalínguas: da invocação à clínica
PULSÃO INVOCANTE

VOZ E MUSICALIDADE NA CLÍNICA

PARTICIPAÇÃO - MÁRCIA TOURINHO


Introdução
Majestade, o sabiá:

“um videotape que dentro de mim retrata todo meu inconsciente


de maneira natural”
a entrada no refrão estou indo, agora, a um lugar todinho meu” - o
meu é na tônica - D

Quadro de Dorothea Tanning.


O quadro é um domador de olhar e o
canto é um domador de voz (J. M. Vivés)
Lalangue
Do ato falho ao conceito - Aquilo da palavra que não
consta no dicionário

Participação da professora Suely Aires

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, mestrado e


doutorado em Filosofia da Psicanálise (bolsista CNPq) pela Universidade Estadual
de Campinas e pós-doutorado em Estudos Psicanalíticos pela Universidade Federal
de Minas Gerais. Foi docente de teoria e clínica psicanalítica na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia no período de 2007 a 2018. Atualmente é
professora adjunta no Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia e
compõe o quadro docente permanente do mestrado profissional em Psicologia da
Saúde (IMS-UFBA) e do mestrado acadêmico em Psicologia (IPS-UFBA). É
professora-tutora na Residência Multiprofissional em Saúde HUPES/UFBA. Atua nos
grupos de pesquisa "Filosofia e Psicanálise" e "Psicanálise: clínica, política e cultura"
(líder).
Lalangue

Tudo vem do ven-tudo vem


Do vento vem tudo vento vem
Do vento vem tudo A onda
Tudo vem do ven-tudo vem
Do vento vem tudo vento vem a onda anda
Do vento vem tudo aonde anda
a onda?
Arnaldo Antunes a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

Manuel Bandeira
NO PRINCÍPIO, ERA A VOZ
DEFINIÇÕES DE VOZ

“Sons gerados pelo sistema fonador quando as pregas


vocais estiverem em vibração” - Voz = Som vocal
Livro “A Ciência da Voz”
A voz na fala e no canto [e entre]
Estratégias expressivas que atravessam a barreira
linguística
Mímica glótica (Fonagy!) - gesto expressivo inconsciente

"A voz funciona como um "tradutor" robusto de gestos


corporais para gestos vocais."
NO PRINCÍPIO, ERA A VOZ
DEFINIÇÕES DE VOZ

"Se de fato determinado estado de humor pode ser


associado a determinado gesto, podemos esperar que
esse mesmo estado de humor possa ser também
associado a determinado padrão sonoro vocal." p. 213

“O movimento da língua que, no exemplo da “fala


ameaçadora”, é “disparada como uma flecha” de
uma para outra posição articulatória simbolizaria a
própria ameaça em si.”

“Minha língua é igual a um chicote” (CONKÁ, Karol. 2021)


NO PRINCÍPIO, ERA A VOZ
VOZ NA PSICANÁLISE
Voz além do espelho:

Alors que le “se faire voir” s’indique


d’une flèche qui vraiment revient vers le sujet, le “se faire
entendre” va vers l’autre. p. 64

LA VOIX DE SIRÈNE
D'une incarnation mythique de la voix maternelle (Hervé Bentata)

se fazer ver é uma flecha virada para o sujeito enquanto o se fazer


entender é em direção ao outro
VOZ NA PSICANÁLISE

Freud: Voz na paranóia, recortando a instância reguladora (ideal do eu)

Alucinação auditiva (paranóia) e Insulto Masoquista (neurose e


perversão)

Supereu como instância vocal


Olhar e voz
O olhar e a voz concernem ao desejo – o olhar
está associado ao desejo ao Outro, a voz ao
desejo do Outro.

O olhar é disjunto da visão; a voz é disjunta da


audição (Escutar e ouvir não são a mesma
coisa)
VOZ NA PSICANÁLISE
Lacan: Voz como objeto da pulsão - Primeiro vazio (Audição presente
desde o quinto mês de gestação - enunciação e endereçamento)

A Terceira: Entre a fala e o campo da linguagem.

Voz é o que resta da subtração da significação ao significante:


É o que não contribui para a significação!

EM PSICANÁLISE LACANIANA, VOZ NÃO SIGNIFICA SOM

sobre a escolha do sujeito autista:


SOM- IMAGINÁRIO (corpo)
voz e autismo PROSÓDIA - SIMBÓLICO (significação)
(Catão e Vivès) ALUCINAÇÃO - REAL (irrepresentável)
VOZ NA PSICANÁLISE

REAL IMAGINÁRIO
alucinação som - corpo
irrepresentável
a

SIMBÓLICO
prosódia - significação
VOZ COMO OBJETO A
O que é objeto a?
Objeto causa de desejo
Vazio - Objeto de satisfação mítica que foi perdido

A angústia é a única tradução subjetiva do objeto a:


Denuncia um ponto radical em que o desejo se sustenta
*playlist do seminário 10
VOZ COMO OBJETO A *texto sobre angústia lá
no @alterletra

Angústia da voz - Angústia dá voz


A angústia surge quando um sujeito se vê alienado no desejo do Outro.
Como assim?
O Outro é o inconsciente, o lugar constituído pelo simbólico do qual
recebo uma mensagem invertida

Quando o sujeito se depara com o objeto causa de desejo, ele pode,


por razões várias, se deparar com uma mensagem oposta, que seria o
desejo do Outro. Esse impasse geraria angústia. Numa análise,
trabalhamos em direção a observar a falta do outro no nosso processo
de subjetivação.
VOZ COMO OBJETO A
Angústia da voz - Angústia dá voz
Grafo do desejo é a introdução do objeto a

Eidezelstein: o grafo é o objeto a

Delta - ser vivente


S/ - Sujeito dividido em consequência da linguagem
A- alteridade - mãe - grande Outro - tesouro dos
significantes - corte e sentido retroativo
s(A)- significante do outro [retroativo] / sintoma/
m - eu no espelho
I(a) - Ideal de eu
i(a) - Imagem
d - desejo [aquém e além da demanda]
S<>D - Pulsão - sujeito dividido em relação à demanda
S(A/) - significante da falta no outro castração
S/<>a- Fantasia ICS
VOZ COMO OBJETO A
Subversão do sujeito e dialética do desejo

DIALÉTICA - HEGEL

Hegel via o Outro tomado como consciência


que reconhece o sujeito como objeto; Lacan
propõe que quando o sujeito se inscreve no
campo do Outro ele fica dividido, clivado
pelo significante em uma inconsciência
necessária.

Ato falho - sujeito clivago


VOZ COMO OBJETO A
Subversão do sujeito e dialética do desejo

DIALÉTICA - HEGEL

"O inconsciente, a partir de Freud, é uma


cadeia de significantes que em algum lugar
(numa outra cena, escreve ele) se repete e
insiste, para interferir nos cortes que lhe
oferece o discurso efetivo e na cogitação que
ele dá forma."

É como desejo do Outro que o desejo do


homem toma forma"
VOZ COMO OBJETO A
Angústia da voz - Angústia dá voz
Grafo do desejo é a introdução do objeto a

o objeto a é uma sobra com a qual lidamos no


desejo e na angústia, até que a morte nos separe

a pulsão se aloja no corpo pela


importância que o Outro dá a certas
partes - por isso a pulsão se articula à
demanda

"As pulsões constituem o eco no corpo


do fato que há um dizer."
VOZ COMO OBJETO A
“O objeto a está diretamente implicado quando se trata
da voz e isso no nível do desejo. Se o desejo do sujeito
se funda como desejo do Outro, esse desejo como tal se
manifesta no nível da voz. A voz não é somente o
objeto causal, mas o instrumento pelo qual se manifesta
o desejo do Outro. Esse termo está perfeitamente
coerente e constitui, se posso dizer, o ponto culminante
em relação aos dois sentidos da demanda, seja ao
Outro, seja vinda do Outro.”
(Lacan)
VOZ COMO OBJETO A
“O vazio no que se escuta: é aí que se localiza a voz
enquanto objeto a. Ainda que a voz, por sua ausência,
se faça presente na música, as notas musicais não
podem dizê-la. A música toca e contorna o vazio da
voz por ação da pulsão invocante, que o tem como
causa. Ao fazer isso, ela viabiliza uma transmissão
possível do real.”

Renata Mattos
Pulsão
Invocante
Pulsão Invocante
“A materialidade do som será, a partir daí, irremediavelmente velada pelo
trabalho da significação. A palavra faz calar a voz. A linguagem perfura o
corpo, marca o vivo e implica a apropriação do sujeito pela linguagem e não o
contrário. Nessa medida, esse velamento da voz não permanecerá sem
consequência, já que é ele que permitirá que o sujeito advenha.”

J. M. Vivès

Esse velamento da voz é o que permite que o sujeito advenha


Pulsão Invocante “ Não me chame não, viu?
Não me chame não, que eu vou!”

os três tempos da pulsão invocante


1. "l'entendre"- pleine jouissance d'Ulysse
2. "l'être entendu"- ser entendido
3. "se faire entendre" - se fazer entender
Pulsão Invocante

O circuito da pulsão invocante se declinará, assim, entre um “ser chamado”,


um “se fazer chamar” (eventualmente, de todos os nomes...) e um “chamar”.
Mas, para chamar, é preciso dar voz, depô-la, como depomos o olhar diante
de um quadro. Para que isso ocorra, é preciso que o sujeito a tenha recebido
do Outro que terá respondido ao grito, que ele terá interpretado como uma
demanda. É preciso também que, posteriormente, ele a tenha esquecido, a fim
de poder dispor de sua própria voz sem estar saturado da voz do Outro.
Pulsão Invocante

“Podemos levantar a hipótese de que a dinâmica do tratamento, no que


concerne à pulsão invocante, é caracterizada por uma modificação do lugar
do sujeito no circuito da invocação.”

Caso clínico: Jovem que estranha a voz (mortífera) da mãe. Entre a alucinação
e o supereu.

A análise busca uma saída desse mutismo


Pulsão Invocante

De Ulysses a Orfeu: O cantor é um domador de voz

Numa análise, é importante que um sujeito possa berrar.


Fala e musicalidade na clínica
“Tal musicalidade – que não se confunde com a música, com a arte e a criação
musical – interessa de modo acentuado ao analista. É com e por ela que se podem
escutar as ressonâncias daquilo que se diz para além do que se intenciona dizer.”

“Valer-se da musicalidade e mesmo das dissonâncias na fala, daquilo que faz ruído ao
discurso, é fazer uma aposta de que a invocação primordial do Outro ao sujeito, que é feita
para além das palavras e que veicula o objeto a em sua incidência de voz, possa ser
renovada no processo analítico. Uma aposta que se desdobra em uma esperança.
Trabalhamos, assim, na análise, com a dimensão equivocante da linguagem, de equívoco e
de invocação.”

Renata Mattos-Avril
Caso clínico - Márcia Tourinho

Psicóloga de orientação psicanalítica.


Mestranda em Psicologia pela (UFBA-PPGPSI), bolsista
FAPESB. Possui especialização em Teoria da Clínica
Psicanalítica (UFBA). Percurso de atuação em
psicologia clínica e hospitalar. Integrante do Grupo de
Pesquisa em Psicanálise: Clínica, Política e Cultura
(PPGPSI-UFBA)
Caso clínico - Márcia Tourinho
fim!

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