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Obras de Antonio Gramsci

Editor: Carlos Nelson Coutinho


Anton io Grrunsci
Co-editores: Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira

Cadernos do cárcere (6 vais.)

1. Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce


2. Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo
J1IUllHI111
3. Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política Ca der nos
4. Temas de cultura. Ação católica. America nismo e fordismo
5. O Risorgim ento italiano. Notas sobre ·a história da Itália do cárcere
6. Literatura. Folclore. Gramática. Apêndices: variantes e índices

Escritos políticos (2 vols.) Volume 6:


LÍtcr,Itura. fo/(lorc. C1,1111áticr.
1. Escritos políticos 1910-1920
2. Fscritos políricPs ! <..J 21-_ l 926 ApCndices:
' Variantes e índices
Cartas do cárcere (2 uols.

TRADUÇÃO DE
Carlos Nelson Coutinho
Lui: Sérgio l-lc1zriqur:s

CJVIJ.IZ,\ ç\O llll.1'11.EJ H\

Río de J:ineiro
21\02
COPYRIGHT© Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriq1:.es e
Marco Aurélio Nogueira, 2002.
CAPA Sumári o
Evelyn Grurnach
PROJETO GRÁFICO
Evel}1n Grurnach e João de Souza LCJte
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS
Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques

GP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA·FONTE
SINDICATO ~ACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ NOTA PRÉVIA 7

Gcnmsci, Antonio, 1891-19.l7


CADERNOS DO CÁRCERE. VOLUME 6 11
G458c Cadernos do cárcere, volume 6 I Antonio Gramsci; rra-
v.6 dução, organização e edição Carlos Nelson Coutinho, Mar-
co Aurélio Nogueirn e Luiz Sérgio Henriques. - Rio de Ja- !. Literatura. Folclore. Gramática
neiro: Civilização Brasileira, 2C02.
l. Do Caderno 4 (1930-193 2): 15
Tradução de: Quaderni de] c'arcere
Conteúdo: v. 6. Liter;1tur;i.. Folclore. Gram:irica. O CANTO DÉCIMO DO INFERNO
ArGndices: índices e v:1ri;:inrcs.
ISBN 85-200-0609-4
2. Cadcrno2 1 (1934-193 5): 31
1. Gramsci, Anronio, 1891-1937 - Visão política e social. PROBLEMAS DA CULTURA NACIONAL ITALIANA.
2. Literatura. 3. Folclore. 4. Língua italiana. I. Título. 1° LITERATURA POPULAR

CDD - 335.42
02-0242 CDU - 330.342.15 3. Caderno 23 (1934): 61
CRITICA LITERÁRIA

4. Caderno 27 (1935): 131


Todos os direitos reservados. Proibida. a reprodução, armazename nto ou OBSERVAÇÕES SOBRE O "FOLCLORE"
tra.nsmlssão dt- p;:irtes deste livrç;, :1través de quaisquer meios, sem prévia
autorização por escrito.
5. Caderno 29 (1935): 139
Direitos destn edição adquiridos pela NOTAS PARA UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GRAMÁTICA
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
um selo dn
DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S.A. 6. Dos cadernos miscelâneo s 151
Run Argentina 171 - Rio de Jnneiro, RJ·-20921-3 80 -Tel.: 2585-2000 CADERNO 1 (1929-1930) 153
PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL
CADERNO 2 (1929·1933) 155
Caix.-i Po<;r;i] 23.052, Rio de Jnneiro, RJ - 20922-970 CADERNO 3 (1930) 157
CADERNO 4 (1930·1932) 164
Impresso nç· _;~r;isil
2002
5
CADERNOS DO CÁ.RCl'RE

CADERNOS (1930-1932) 165 Nota prévia


CADERN06(1930-1932) 181
CADERNO 7 (1930-1º31) 207
CADERNO 8 (1931-1932) 2 72
CADERNO 9 (1932) 2.24
CADERNO 14 (19J2-1435) 229
CADERNO 15 (19!l) 2' 5
CADERNO 17 (1:i33-1'..l3 1J) 26-5

NOTAS AO TEXTO 271


Para os critérios utilizados na presente edição brasileira dos Cadernos
II. 1\pêndiccs do cárcere, que se completa agora com este volun1e 6, remetemos à
detalhada "Introdução" contida no volume l. Nela, o leitor encontra-
rá niio :--i.penas a cxplicit~1~-8.o desses critérios, mas c11nhé1n uma descri-
,-;-HJ ll()s (;,iJeruus e tuna l1islt-,ri,1 de s11;1s cdi\'(-Jl'S na lt:'t\i;1 e 110 l~rasil.
aq11i apenas ,d~1111s tópicos:
llccord~tn1os
1) Os Cadernos do cârcere se dividem, segundo indicações do pró-
prio Gramsci, em "cadernos especiais" e "cadernos miscelâneos". Nos
3. Índice dos Principais Conceitos 467
primeiros cm geral mais tardios) Gramsci agrupou notas sobre temas
1

ÍNDICE ONOMÁSTICO 483 específicos; nos segundos, reuniu apontamentos sobre diferentes as-
suntos. 1\lém de reproduzir os "cadernos especiais" tais como nos fo-
ram legados por Gramsci, esrn edição os faz sempre acompanhar pelas
notas contidas nos "cadernos miscelâneos" relativas ao conteúdo bási-
co de cada um dos "cadernos especitlis,,.
O presente volume 6 contém quatro desses "cadernos especiais",
dois dedicados a temas de literatura e arte, um ao folclore e outro à
gramática. Também consideramos aqui como "caderno especial" a parte
do caderno 4 (que, em seu conjunto, é um "caderno miscelâneo") na
qual, com titulação própria e destaque gráfico, Gramsci dedicou 11
parágrafos à análise do "Canto décimo do Inferno" de Dante. Estes
quatro cadernos especiais são seguidos, corno nos demais volumes, por
uma parte geral íntitulada "Dos cadernos miscelâneos" 1 onde são reu-
nidas todas as notas esparsas que Gramsci dedicou aos temas aborda-
dos nos n1encionados cadernos especiais, muitas das quais intituladas
"Literatura popular", "Os filhotes do Padre Bresciani", "Caráter não

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CADERNOS DO CÁRCERE
NOTA PRÉVIA

nacional-po pular da literatura italiana", etc., títulos igualmente pre- atual volume, além de muitas notas originais e de outras sugeridas por V
sentes nos "cadernos especiais" contidos neste volume. Também se Gerratana em sua edição crítica, valemo-nos sobretudo de sugestões con-
encontram nesta parte miscelânea as po,ucas notas dedicadas mais es~ tidas nos dois volumes já publicados da edição norte-americana dos Prison
pecificamen te ao folclore(§ 14 do caci 2, § 156 do cad. 5, § 15 do cad. Notebooks, organizada por J. A. Buttigieg, mencionada no volume 1.
9 e§ 7 do cad. 14) e à gramática(§ 74 do cad. 3, § 151 do cad. 5 e§§ 4) O presente volume 6 contém, como apêndices, alguns materiais
20 e 71 do cad. 6). indispensáv eis a uma mais adequada leitura crítica dos Cadernos
Apresentado s aqui em sua presumível ordem cronológica de reda- gramscianos :
ção, os cadernos e as notas (sempre precedid.:i.s no manuscrito de a) Uma antologia de textos A. Na esmagadora maioria dos casos, os
Gramsci por um sinal de§) são datados e numerados segundo os crité- textos C limitam-se a reproduzir os !extos A, ou literalmente , ou
rios adotados na edição crítica organizada por Valentino Gerratana introduzind o apenas correções estilísticas e/ou novos desenvolvi-
(Quaderni dei carcere, Turim, Einaudi, 1975, 4 vols.). mentos, mas quase sempre preservando essencialmen te o que esta-
2) Em sua edição, Gerratana distingue as notas gramscianas em va contido no texto (ou textos) A que lhe(s: serviu (ou serviram) de
textos A, B e C. Os textos A são aqueles que Gramsci cancela e depois base. Em função disso, os textos A foram eliminados não só da ve-
retoma, com maiores oh menores alterações, em textos C; os textos B lha edição temática proposta por Palmiro Togliatti (cf. a "Introdu-
são os de redação úniu Nossa edição, que reproduz a totalidade dos ção", vol. 1), mas também da edição crítica francesa, organizada
textos B e C, contém apenas alguns textos A, a maioria dos quais in- por Robert Paris (Cahiers de prison, Paris, Gallimard, 5 vais., 1978-
cluída no apêndice ao presente volume 6, segundo critérios especifica- 1996), que, no mais, segue o ordenament o por cadernos da ediçii.o
dos abaixo. Enquanto os "'cadernos especiais" s:10 quílSC sc111prc Gcrratan;L Contu<lo, c1n certos casos, o co11hccimcnto do texto A
constituídos por textos e, os "cadernos miscelâneos" (se excluirmos contribui para uma melhor avaliação da evolução do pensamento
os textos A e apenas três textos C) são formados por textos B. Quando gramsciano durante o período carcei-ário. Por isso, num dos apên-
houver exceções a essa "'regra", elas serão indicadas na presente edi- dices ao presente volume, estão incluídos alguns exemplos de tex-
ção mediante a inclusão, após cada parágrafo que não siga a "regra", tos A, que permitem ao leitor ter uma idéia mais precisa do modo
dos signos {B} ou {C}. Cabe advertir que, no presente volume 6, to- pelo qual Gramsci os reelaborava em textos C.
dos os parágrafos contidos nos ''cadernos especiais" 21, 23 (com exce- b) Um "Índice geral dos Cadernos". Em tal "Índice" são indicados,
ção do§ 59, do tipo B) e 27 são do tipo C; e todos aqueles presentes caderno a caderno, todos os parágrafos (com os títulos que lhes deu
nos "cadernos miscelâneos" (bem como na parte intitulada "O canto Gramsci) redigidos no cárcere. Nele estão assim relacionados não
décimo do Inferno") são do tipo B. Mas também - como principal apenas todos os textos B e e, COITI referência ao número do volume
exceção à "regra" - cabe rcgistrar que todos os nove par:í.grafos con- e da p;ígina onde se encontram cm nossn edição, mas também to-
tidos no "caderno especial" 29 (o último redigido por Gramsci) são de dos os textos A, ou com a indicação de onde se encontram na mes-
redação única, ou seja, do tipo B. ma ou com a menção do texto C no qual foram retomados e/ou
3) Scn1prc que o leitor encontrar, ;10 longo do texto Jc Gr:1n1sci, rccL1boraJos. Este "ÍnJicc" pcnnitirá ;10 IL'itor não só localizar n1ais
um número posto entre colchetes ([1], [2], [3 ], etc.), tal número remete rapidamente o texto que lhe interessa, mas também - se assim o
às "Notas ao texto", situadas, neste volume, no final da parte 1. Essas desejar - reler ou reexaminar as notas contidas em nossa edição
"Notas" fazem parte do aparato crítico da presente edição. No caso do dos Cadernos na ordem Pm que presumivelm ente Gramsci as redi-

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CADERN OS DO CÁRCER E

giu, ou, 1nais precisa mente, na orde1n materia l em que aparece


m
na edição organiz ada por Valenti no Gerrata na.
e) Uni ('Índice te1ndtico". Nele est.:í.o arrolad os alguns dos
princip ais
conceit os present es nos Ci1dernos, o que possibilita ao leitor i.;ncon-
tr8r, nos seis volume s de nossa edição, o local exato cm que foram
mcncion;.idos ou desenv olvidos por Gramsci.

C.N.C.

CADERNOS DO CÁRCERE
Vol ume 6

'o
I. Literatura. Folclore. Gramática
1. Do Caderno 4 (1930-1932):
O canto décimo do Inferno [lJ
§ 78. A questão de "estrutura e poesia" na Diuina co111édia segundo B.
Croce e Luigi Russo. Leitura de Vincenzo Morello como corpus uile.
Leitura de Fedei e Rcimani sobre Farinata. De Sanctis [2]. Questão da
'"representação indireta" e das rubricas no drama: as rubricas têm um
valor artístico? Contribuem para a representação dos papéis? Sim, cer-
tamente, na medida em que limitam o arbítrio do ator e caracterizam
mais concretamente um determinado personagem. O caso de Honzeni
e super-hon1-e1n de Shaw, com o manual de John T<lnner como apêndice:
este apêndice é unia rubrica, <la qual u111 ator inteligente pode e deve
extrair clc111cntos p;1r;1 sua intcrprcta\':Í.O f3 l. A pintnr:1 de Mcdé'1;1 que
mata os filhos que teve com .J;1são, encontrada cm Pompéia: Mcdéia é
representada com o rosto vendado: o pintor niío sabe ou não quer re-
presentar aquele rosto [4]. (Há, porém, o caso de Níobe, mas em obra
de escultura: cobrir o rosto significaria retirar da obra seu conteúdo
próprio [5].) Farinata e Cavalcantc: o sogro e o p<Ü de Gnido. Cavai-
cante é o punido no círculo [6]. Ninguém observou que, se não se leva
em conta o drama de Cavalcante, não se vê en1 ato, neste círculo, o
tormento do condenado: a estrutura deveria ter levado a uma mais exata
valorização estética do canto, já que toda punição é representada em
ato. De Sanctis notou a aspereza contida no canto pelo fato de Farinata
mudar repentinamente de caráter: depois de ter sido poesia, ele setor-
na estrutura, passando a agir como o cicerone de Dante, como De
Sanctis explica. A representação poética de Farinata foi admiravelmente
revivida por Romani: Farinata é uma série de estátuas. Depois, Farinata
representa uma rubrica. O livro de Isidoro Dei Lungo sobre a Cronica
de Dino Compagni: nele se estabelece a data da morte de Guido. É

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CADERNOS DO CÁRCERE DO CADERNO 4

estc-1nho que os eruditos n:lo tenh,11n pens;1do antes em se servirem do lisa negativamente Farinara para sugerir os (três) movimentos de Ca-
Canto X P<lra fix,1r apr-:Jxirn;1tivamcnte esta data (c1lgué1n o fez?) . .Nlas valcanre: crispar o semblante, abciix<1r a cabeça, inclinar a coluna. Mas
tcll1lf10\lCO ;) vcrific1~---1\,) fcit:\ por ric\ Lunµo serviu p;lr:l i11tcrpret;1r ;l algo se moJificou também cm Farin.na. Quando retorna) não é mais
figur,\ dL· C:.tv.dc,l\ltl fl.ir l 1..L1r lllria c:-;p]iL':!~';ltJ d.1 f1111,,-.-lll ;JlribuíJ;1 tiio ~dtivo L'u1no cn1 sua prin1L·1c1 ,q),tri~-:·10.
por l).tnrc: a F,1rinat;1 l7J_ Dante ni""to interroga Fari11aL1 apenas p<1r:1 se "i11furin;1r", .1nas por-
Qual é <i posi..;üo Jc (~,1v,dcanrc, qual seu torn1cnto? C;1valcante vê que se con1oveu com o dcsap;;líccirnL:nto dc Cavalcantc. Ele quer que
o passrtdo e vê o futuro, mas não vê o presente, uma zond determinada se desate o nó que o impede de responder a Cavalcante; sente-se cul-
do passado e do futuro IH qual est.\ compreendido o presente. No pas- pado diante de Cavalcante. Portanto, o trecho estrutural não é apenas
sado, Guida está vivo, no futuro está morto. Mas no presente? Está estrutura; é também poesia, é. um elemento necessário do drama que
morto ou vivo? Este é o tormento de Cavalcante, sua obsessão, seu único se desenvolveu.
pensamento domin<11ite. Qu.mdo fala, pergunta pelo filho; quando ouve
o verbo '"desdenhou'', conjugado no passado, ele insiste e, rard<indo a § 79. Crítica do "não expresso"? Minhas observações poderiam dar
resposta, não mais duvid:1: seu filho está morto. Ele desaparece na tumba lugar à seguinte objeção: que se trdta de uma crítica do que não foi
incandescente. expresso, de uma história do que não cxi~tiu, de un1,1 :-lbstrata busca de
Como Dante rcp,-cc;cnta este drama? Ele o sugere ao leitor, não o intcnçôcs pL1usíveis jamais tran:->f0rn1:1d,1c; cn1 pocsi<l conL'rcra, mas da~
rL·r1rcsv11L1; lun1L'L'L' ,tli lt·illir us c[L·tncntos p;1r;1 que o dr.una scj, 1 quais pL:rn 1,11H:ccn1 111;1rc;1:- ex tcri urL·s nu n 1cl·;u1 i SilhJ ll,1 c."1 n ttura. Ali; o
reconstruído e estes clcrncntos s:lo dados pela esrrutur:-L Tod,i.via, h<i símilar ;) posiçr10 frcqüentcmentc assun1íJa por lvlanzoni em Os noi-
unia p;1rtc dr:1111;'1tic;11..· L'_..,1,1 !)rcct.:dc ;1 rubrica. 'l'rl._~ dcix.1s: Cavalc:1ntc vos; por cxL·1np!o, quanJo I\c11zo, .ipc'is ter vag:1do cn1 busca do Rio
aparece, não ereto e viril corno F;lrinatai mas humilde 1 tlbatido, talvez Adda e da fronteira, pensa na tranp negra de Lúcia: "[ ... ]e contem-
de joelhos, e pcrgunL1 con1 inscgur:1nça sobre o filho. Dante responde, plando a irn<1gcm de Lúci;t! N:io lentare1rIOs dizer e que ele sentia: o
inditere11tc ou quasc 1 e1npr•:gando o verbo que se refere a Guido no leitor conhece as circunstâncias: 1j1te use a únaginaçâo!" l\qui também
p;1ssado. Cavalcante percebe imediatamente este faro e grita desespe- pode ser o caso de tentar "imnginJ.r" um drama) conhecendo-lhe as
radarncnte. Nele há Júvidc11 não certeza; pede outras explicações, atra- circunsrânci as.
vés de três perguntas, nas quais h:.í. lllna gradação de estados de espírito. A objeção tcn1 uma aparência de verdade: se n:i.o se pode conceber
"Por que disseste 'dc.c;dcnhou'? Ele já não vive mais? Já não lhe chega Dante impondo limites à sua cxprL:ss~lO por razõc~ pr:íticas (ao contrá-
aos olhos a doce luz?" 1'L1 terceira pergunra1 há toda a ternura paterna rio de Manzoni, que se propõe nJo falar do amor sexual e não repre-
de C<Ivalcanre; a gcn·~fÍl'.;t "vida" humana é vista numa condição con- sentar as paixões cm sua plenirudc por morivos de ·'rnoral católica"),
crct.1, no gozo da luz., que os conJcnados e os mortos perderam. Dante pode-se supor que o fato oco1Tcu por "tr<ILÍÍ~·:io de ling11;1gcrn poéti-
dc-rnorJ a respo!1der e, cnrâc\ cessa a dúvida em Cavalc<lnte. Farinata, ca", que, de resto, Dante nern ~c111pre teria rcspcitaJo (l__.igolino, Mir-
ao contrário, n~o se ubc1la. Cuido é o marido de sua filha, mas, naquele ra, etc.), "fortalecido'' por seus c:>eccíais senti1nentcs pc1r.1 com Guido
r:ion1cnto, este scnri111crno não tcrn poder sobre ele. Dante sublinha [8]. Mas é possível reconstruir e cnticar uma poesi;.-l ;1 não ser com base
cst.1 _..;ti.1 força de cspfrltu. (~:1valc:111tc <lL'S<lb<~, n111s F~1rinata nJo muda no mundo da expressão concreta, da linguctgem hi:-;toricarnente reali-
JL· aspL'Cto, nJo ab;1i;.:,1 .1 L\Ú'LÇl, 11:10 inclina a colnn<t Cava]c,1nte cai zada? Portanto, não foi um elcn1cnto ''voluntário", «Je caráter prático
dl' L·\1Sl.l\ F,iri11;1t.111.-1\ 1 Ivi11 !ll'111:11111 bl'S\\~ llc ;1b.1ti111cnlll; {);111tc ;I!l;l- ou 1ntcll'ct1vo" 1 que cor/ou ;1s ,1s.1s a Dante: ele "voou com as asas que

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CADERN OS DO CÁRCER E
DO CADERN O A

tinha", por assim dizer, e não renunciou volunta riament e a nada. So-
Dante, que é uma reprodução, revista e corrigida, e talvez ampliada,
bre este tema do neomalthusianismo artístico de Manzon i, cf. o livri-
de uma parte da obra sobre Dino Conipagni e la sua Cronica.
nho de Croce e o artigo de Giuseppe Citanna na Nuova Italia de junho
de 1930 [9].
§ 82. O desdém de Guida. Na resenha escrita por G. S. Gargàno
("La lingua nei tem pi di Dante e l'interpe tazione della poesia", Mar-
§ 80. Plínio recorda que Timante s de Sicião pintara a cena do
zocco, 14 de abril de 1929) sobre o livro póstumo de ]:nrico Sicardi,
sacrifíc io de Ifigênia represen tandQ o rosto de Agamen on encober -
La lingua italiana in Dante (Ed. Optima, Roma), mencºona-se a inter-
to [10]. Lessing, no Laocoo nte, foi o primeir o (?) a reconhe cer nes-
pretação de Sicardi sobre o "desdém " de Guida. O trecho, segundo
te artifício não uma incapac idade do pintor em represe ntar a dor
Sicardi, deveria ser assim interpre tado: "Não faço a viagem p'.)r minha
do pai, mas o sentime nto profund o do artista de que não teria sabi-
livre escolha; não sou livre de vir ou não vir; ao contrário, estou aqui
do, por meio da represe ntação de uma face conturb ada, dar uma
trazido por aquele que está ali parado, esperando-me, e coni qr1ern vosso
impress ão tão penosa de infinita tristeza como o fez com esta figura
Guido desdenh ou vir até aqui, ou seja, desdenhou acompanhJ.-1 o até
velada, cujo rosto é coberto pela mi\o. Embora difira da pintura de
aqui." A interpre tação de Sicardi é formal, não substancial: ele não
Timant es na compos ição geral, também na pintura do sacrifíc io de
explica em que consiste o "desdém" (ou pela língua latina, ou pelo
Ifigênia , encontr ada em Pompéia, a figura de Agamen on aparece
imperialismo virgiliano ou pelas demais explicações dadas pelos intér-
velada.
pretes). Dante 1ncrcccu a "gn1ça" do Céu: con10 seria possível conce-
Paolo Enrice Arias fala destas diversas representações de Ifigênia
der a mesma graça a um ateu? (Isto não é exato, já que a "graça", por
no Bollettino dell'Istituto Naziona le dei drarnma antico di Sirawsa,
sua própria nnturcza, não pode ser linlitada por nenhum tnotivo.) Para
artigo resumido no Marzocco de 13 de julho de 1930.
Sicardi, no verso "talvez a quem vosso Guida desdenhou", o quem
Nas pinturas de Pompéia, existem outras figuras veladas: por exem-
refere-se ccrtarncnte a Virgílio, mas não é um coinplemcnto objeto, e
plo, Medéia que mata os filhos. Será que a questão foi tratada depois
sim um destes costumeiras pronom es aos quais falta a preposição com.
de Lessing, cuja interpre tação não é complet amente satisfatória?
E qual é o objeto de "desden hou"? Deduz-se da expressão que antece-
de: "não venho por minha própria vontade " e é, digamos, ou o subs-
§ 81. A data da morte de Guido Cavalcanti foi estabelecida critica- tantivo "vinda" ou, se se prefere, uma oração objetiva: ''vir''.
mente, pela primeir a vez, por Isidoro Dei Lungo, em sua obra Dino
Em sua resenha, em certo ponto, escreve Gargàno: "O amigo de
Compagni e la sua Cronica, cujo terceiro volume, publicado em 1887, Guida diz ao pobre pai desiludido por não ver vivo no Inferno tam-
"contém os índices histórico e filológico de toda a obra e o texto da bém seu filho, etc." Desiludido? É muito pouco: trata-se de uma pala-
Cronica segundo o Códice Laurenziano AShburnhamiano~'; os volumes vra de Gargàno ou é extraída de Sicardi? Não se põe o problema: mas
I e II foram concluídos em 1880 e publicados logo após. Deve-se ver por que deveria Cavalcante esperar que Guida viesse ao Inferno com
se Dei Lungo, ao estabelecer a data da morte de Guida, relaciona esta Dante? "Pela grandez a do gênio"? Cavalca nte não é movido pela
data com o Canto X: ao que me recorde, não. Sobre o mesmo assunto, "racionalidade", mas pela "paixr10": não há nenhum a razão para que
caberia ver, de Dei Lungo: Dante nei tempi di Dante, Bolonha, 1888; Guida devesse acompa nhar Dante; o que há, apenas, é o fato de Ca-
Dai seco/o e dai poema di Dante, Bolonha, 1898; e, particularmente, valcante querer saber se Guida está vivo ou morto e~ com isso, liber-
')a Bonifazio VIII ad Arrigo VII, pagine di storia fiorentina per la vita di tar-se de seu tormento. A coisa mais importante do verso "talvez a quem

20
21
CADERN.OS DO CÁRCERE DO CADERNO 4

Guido desdenhou" não é a exprcss.'.í.o "a quem", ncrn o faro do "des- ração do Canto X, a fim de que não se substituam ds tendências e pai-
dém", mas apenas o uso do verbo no passado. É sobre "desdenhou" xões dos outros pelas próprias e de que se evitem as mais estranhas
que cai o acento "estético" e "dn1mático" do verso, residindo nele <l aberrações. lv1orello afirma que o Canto X é político por excelência,
origem do dran1a de Cav:-dc;1nte, interpretado nas rubri..,·.1s de Farin;1ta. mas não o dc1nonstc1 e não pode: fazê-lo porque isso não é verdade: o
E tem lugar a "catarsc"i Dante se corrige, põe fim à pena de Cc1valcan- Canto X é político como é política toda a Divina conzédia, mas não é
re, isto é, interrompe StLl punição em ato. político por excelência. l\1as esta afirmação tranqüilíza iv1orello por-
que lhe evira cansar o cérebro; jJ que se consiJera uni grande político
§ 8:-L Vincenzo 1'.1orcllo, Dante, Farin{{fa e Ca111t!c(/1Ife, in-8°, 80 e un1 grande teórico da polltica 1 pensa ser fácil dar un1a interpretação
p., Mondadori, 1927. Contém dois escritos: 1) "Dante e Farinata. II política do Canto X, depois de ter passado a vista no canto na primeira
canto X dell'Inferno letto nclla 'Casa di Dante' in Roma il XXV aprilc edição que lhe caiu nas mãos, servindo-se das idéias gerais que circu-
MCMXXV"; 2) "Cavakantc e il suo disdegno". Na ficha bibliográfica lam sobre 8 política de Dante e das quais todo jornalista de sucesso,
do editor, afirn1a-sc: ";\~ intcrprct11i;õcs de Morcllo d,1r:10 lugar adis- como iv1orcllo, deve ter um certu conhecimento superficial, bem como
cussões entre os estudiosos, jJ. que ~e attstam cornplctc-uncnte das tra- um certo número de fichas par;1 consulta.
dicionais e chcg;1n1 a l·n1h_·l l 1s\)CS di Y('fStlS e novas." l\t 1.s ~ lort.:ll o possuía Qut.: ~-1orcllo só tenha lido s11pcrfícialn1cnrc o C:-tnto X é algo cvi-
11n1c1 qi1:1lifi(__.:1\·:to q11;dqtltT 1>.tr:1 (,'q-v tr;1h:tlho e par:1 L·.c;t;1 invc:-.iiµ;~1~·;1n? dcnL·iado pcL1s p;íginas C111 ljlll' iT;ll.1 d;is rcL!\"l-ll'S l'lltrl' F;1rÍll;1t;1 e c;uido
1\ssi111 inii.:í,1 ele u pn111L·in_1 1:scnlo: ''.!\ LTÍtiC<l Jus ulti111us trinta anos Cavai cinte (p. 35). tv1on.:l\u quer explicar a i111passibiliJaJc Jc I-'arinata
explorou t:10 pc:::ifund.1mcntc as fontes(!) da obra danrcs.::a que se pode durante o desenvolvimento "do episódio" de Cavalc.inte. Recorda a
dizer .1gor;1 que"for:11n penetrados e cscL1rccidos os scnr!Jos n1ais obs- opiniüo de FoscoloJ segundo a qual esta indifereni;d dcn1onstra a forte
curos, as referências 1nais difíceis as alusões :nais OL:ultas e att os mais
1 têmpera de farinata, que "n8.o permite que os afetos domésticos o
íntimos detalhes dos person.-1gens d:1s três partes." Feliz é quem se con- impeçam de pensar nas novas c:-1lamidadcs di:i pátria"; e a de De Sanctis,
tenta com tão pouco! E é 111uito cômodo partir de tal prc1nissa: isso segundo a qual Farinata permanece indiferente porque "as palavras de
dispensa a rea!izaçào de um trabalho próprio e muito cans;1tivo de es- Cavalcante chegam a seu ouvido, não à alma, que está inteiramente
colha e de aprofundamento dos resultados alcançados !)ela crítica his- fixada num pensamento único: a arte mal aprendida". Para Morello,
tórica e estética. E ?vlorcllo continua: "Desse modo, !!pós tI devid{/ pode haver "talvez uma explic1~ão mais convincente". Ou seja: "Se
preparaçâo, podemos hoje ler e e:.'ntender a Divina co111L;diil, sem nos Farinata não muda o sembh1nte 1 não baixa a cabeça nem se dobra, tal
perdern1os mais nos Libirinros J;1s velhas conject11r:1s, que <l incomple- como pretendia o poeta, talvez n:ío seja porque é insensível ou pouco
ta informação histónca e .i rfe(icir 1ue dis(:ipli1111 iníelecl11({! con1peti:lm
1
atento J. dor do próximo, mas punjite igllorrr a pessoiI de Cuido, como
cntfl.~ si para constrll!r '-' tor11ar in.;;olúvcis." Morcllo, porLu1to, teria ignorava a Je Dante, e porque ignora que Guído caso11 i.:oin sua filha.
feito a deuida prepdrd(:lo e cstari<l de posse de ur11;1 pcrfcit;1 disciplina Ele morreu cm 1264, três anos antes da volta dos Cavalc:rnte a Floren-
intelr~cru<-11: 11;10 será difícil inosrrar que leu supcrfiçialrncnte até mes- ça, quando Guido tinha sete anos; e este ficou noivo de Bice com a
mo o Canro X e ncn1 n1L'Sn10 c-on-1preendeu seu signific.-1.Jo literal mais idade de nove anos (1269), cinco anos após a morte de Farinata. Se é
evidente. Segundo 1v1orcllo, o Canto X é "político por excelência" e verdade que os niortos não podeni conhecer por si t~iesnzos os fatos dos
''a política, p;:i.ra DantL', é .tlgo tão s.1grado gtL-lnto a rcligi:lu"; é neces~ vivos, 11u1s apenas por nzeio das alnLas que se aproxi11uun deles, ou dos
sárià, portanto, uma "disciplina 111;1is que nunca rigoros<1" na íntcrpre- anjos e dos de111ônios, Farinata pode desconhecer seu parentesco com

22 23
CADERNOS DO CÁRCERE DO CADERNO 4

Guido e permanecer indiferente à sua sorte, se nenhuma alma, anjo ou Mas a incompreensão da letra do Canto por parte de Morei lo reve-
demónio lhe informou a respeito. O que não parece ter ocorrido." O la-se também onde ele fala de Cavalcant", p. 31 e ss.: "Neste Canto, é
trecho é espantoso sob vários pontos de vista e revela quanto é deficiente também representado o drama da família através da dilaceração das
a disciplina intelectual de Morello: 1) O próprio Farinata diz aberta e guerras civis; mas não por Dante e Farinata, f' sim por Cavai cante." Por
claramente que os hereges de seu grupo não ignoram sempre todos os que "através da dilaceração das guerras civis"? Trata-se de um acrésci-
fatos, mas só "quando estes se aproximam e são"; nisto consiste sua mo cerebrino de Morei lo. O duplo elemento família-política aparece em
punição específica, além da tumba incandescente, "por terem querido Farinata e, com efeito, a política o mantém de pé diante do impacto
enxergar o futuro", e somente neste caso é que, "se outros não nos causado pelo desastre familiar da filha. Mas, em Cavalcante, o único
contan;'', eles ignoram. Portanto, Morello nem sequer leu bem o tex- motivo dramático é o amor filial e, na realidade, ele desmorona tão logo
to; 2) E próprio do diletante tentar encontrar, nos personagens de uma tem a certeza de que o filho está morto. Segundo Morello, Cavalcante
obra de arte, intenções situadas para além do que está literalmente "pergunta a Dante chorando: -Por que meu filho não está contigo? -
expresso pelo escrito. Foscolo e De Sanctis (particularmente De Sanctis) Chorando. Na verdade, pode-se dizer que este pranto de Cavalcante é o
não se afastam da seriedade crítica; Morello, ao contrário, pensa real- pranto da guerra civil." Estupidez) decorrente da afi;rmação de que o
mente na vida concreta de Farinata no Inferno para além do que está Canto X é "político por excelência". E mais adiante: "Guida estava vivo
dito no canto de Dante1 chegando mesmo a ,supor ser pouco provável na época da viagem mística; mas estava morto quando Dante escrevia.
que os demónios ou ,anjos tenham podido, em suas horas de folga, in- Portanto, Dante escrevia realmente sobre um morto, enlbora, pela cro-
formar Farinata do 'JUe ele ignorava. Estamos diante da mentalidade nologia da viagenz, devesse dizer o contrário ao pai", etc. Esta passctgem
do homem do povo que, quando acabei de ler um romance, quer sa- demonstra corno Morellc, mal aflorou o conteúdo dramático e poético
ber o que fizeram depois todos os personagens (daí o êxito das aven- do Canto e, literalmente, nem o percebeu quando da leitura textual.
turas em série): é a mesma mentalidade de Rosini, que escreve A nzonja Superficialidade plena de contradições, já que Mcrello, em segui-
de Monza, ou a de todos os escrevinhadores que escrevem as conti- da, atém-se à predição de Farinata, sem pensar_ que, se estes heréticos
nuações de obras famosas ou desenvolvem e ampliam seus episódios podem conhecer o futuro, devem também conhecer o pass .1do, dado
parciais (11]. que o futuro sempre se torna passado: isto não o leva a reler o texto e
Que exista entre Cavai cante e Farinata, na poesia de Dante, uma a verificar seu significado.
íntima relação, é algo evidenciado pela letra do Canto e por sua es- Mas também a chamada interpretação politica que Morei lo faz do
trutura: Cavai cante e Farinata são vizinhos (alguns ilustradores che- Canto X é superficialíssima: não é mais do que a retomada da velha
gam mesmo a imaginá-los na mesma tumba), seus dois dramas são questão de saber se Dante foi guelfo ou gibelino. Para Morei lo, em suma,
estreitamente articulados e Farinata é reduzido à função estrutural Dante foi gibelino e Farinata é "seu herói'', só que Dante foi gibelino
de explicator para possibilitar ao leitor penetrar no drama de Cavai- como Farinata, isto é, mais "político" do que "homem de partido".
cante. Explicitamente, depois do "desdenhou", Dante contrapõe Sobre este assunto, pode-se dizer tudo o que se quiser. Na realidade,
Farinata a Cavalcante no aspecto físico-estatuário, que expressa a como ele mesmo diz, Dante "tomou o partido de si mesmo": era es-
posição moral dos dois; Cavalcante cai, se abate, não mais aparece; sencialmente 11m "intelectual", e seu sectarismo e parti darismo são mais
Farinata, "analitica1ncnte", não muda de semblante, não baixa a ca- de natureza intelectual do que política em sentido imediato. De resto,
beça, não se inclina. a posição política de Dante só poderia ser determinada através ~e uma

24 25
CADERNOS DO CÁRCE-RE DO CADERNO 4

minuciosíssi ma análise, não apenas de tudo o que ele mesmo escreveu, imaginativa, para concluir, com base no testemunho do próprio artis-
mas também das divisões políticas de seu tempo, que eram muito dife- ta, sobre a inferioridad e da última parte do poema [15]. Recentemen -
rentes daquelas de cinqiicnr:l anos antes. Morcllo est.í demasiadam en- te, contudo, cn1 sna rcvisilo crític<I, utilizou prccisa1n<.:ntc aquelas
te preso à rctór!ca litcrt1ria para ter condições de conc<.:bcr de modo renúncias descritivas para lhes atribuir um valor religioso, quase como
realista as posiç.ões políticas dos homens da Idade Média diante do se o poeta pretendesse revelar, de cjuando em quando, que aquele é o
Império, do Papado e Jc sua república comuiial [ 12]. reino do absoluto transcendent e (Die Gouliche Komodie, 1925, II Band,
Onde Morello nos faz sorrir é em seu "desdém" pelos comen- p. 771-772). Ora, parece-me que jamais o poeta conseguiu ser tão ex-
tadores, que aflora aqui e ali, como na p. 52 de seu escrito "Cavalcante pressivo quanto nestas suas confissões de impotência expressiva, as
e il suo disdegno", no qual afirma que "a prosa dos comentadore s alte- quais, na verdade, devem ser considerada s não em seu conteúdo (que
ra freqüenteme nte o sentido dos versos". Mas vejam quem o diz! é negativo), mas em seu tom lírico (que é positivo e mesmo, algumas
Este escrito, "Cav<-1lc.1ntc e il suo disdegno", inclui-se precisamen- vezes, hiperbolicam ente positivo}. Trata-se da poesia do inefável; e
te naquela subliteratur~1 sobre aDivhta co111édia, inúti.l e prejudicial com não se deve confundir a poesia do inefável com a inefabilidad e poé-
suas conjecturas, seus sofismas, seus arroubos de falsrt genialidàde, ela- tica", etc.
borada por pessoas que, por terem a caneta na mão, julgam-se no di- Para Russo, não se pode falar de renúncias descritivas em Dante.
reito de- escrever sobre q11;-1]quer coisa, liberando as c:xtravagant es Trata-se, c1n forma negativa, de expressões plenas, suficientes, de tudo
fantasias de seus ínfin1os ta!t·ntos. aquilo gue verdadeiram ente se agita no peito do poeta.
Russo refere-se em nota a um de seus estudos, "II Dante dei Vossler
§ 84. As "rcnúnci;1s descritivas" na Divina conzédia. De um artigo e l'unità poctica della Commcdia" , no vol. XII dos Studi danteschi,
de Luigi Russo, "Per la poesia dei Paradiso dantesco" (no Leonardo de dirigidos por M. Barbi; mas a mençiio a Vosslcr deve se referir às ten-
agosto Je 1927), ex tr;ti o ;dg11111as referências ús "rcn linci.i.s descri tivas" tativas <le hierarquizar artistican1cntc <ls três partes do pocn1a (16].
de Dante que, de qualquer n1odo, tê1n origem e explicação diversas
daquelas do episódio de Cavalcante. Delas se ocupou Augusto Guzzo, § 85. Em 1918, numa coluna de Sotto la mole, intitulada "II cieco
naRivista d'Italia de 15 de novembro de 1924, p. 456-479 ("II Paradiso Tiresia", publicou-se um esboço dc1 interpretaçã o da figura de Caval-
e la critica di De Sanctis"} [13]. Escreve Russo: "Guzzo fala das 're- cante formulada nestas notas [17]. No artigo publicado em 1918, par-
núncias descritivas' que são freqüentes no Paraíso ('e aqui minha me- tiaMse da notícia, publicada pelos jornais, de que uma mocinha, numa
mória vence meu engenhc/, - 'mesmo se todas as línguas eu ouvisse pequena aldeia da Itália, ficou cega após prever o fim da guerra para
agora') e considera que esta é um<l prova de que, onde Dante n;10 pode
1 1918. A conexão é evidente. Na tradição literária e no folclore, o dom
transfiguràr celestialmcn te a terra, 'prefere renunciar a descrever o da previsão está sempre ligado à enfermidade atual do vidente que,
fenómeno celeste, em vez de, com abstrata e artificiosa fantasia, sub- embora veja o futuro, não vê o presente imediato por ser cego. (Isto
verter, inverter, violentar a experiência' (p. 478) [14]. Ora, ta:nbém talvez esteja ligado à preocupaçtlü de não perturbar a ordem natural
aqui Guzzo, como os outros danrólogos, permanece vítima de uma das coisas; por isso, não se crê nos videntes, como Cassandra; se hou·
i:H'a\i,1ção psii..::ológica de vários versos deste gênero, tão recorrentes no vesse tal crença, suas previsões não se verificariam , já que os homens,
Paraíso. Típico é o caso de Vossler, que certa feita se serviu destas 're- tendo sido avisados, agiriam diferenteme nte e, por conseguinte, os fa-
nt'11ll·i,1s dL'SlTitivas' Jo pucL1 l\)lllo Sl' fosscn1 conflssúl'.S de l111potência tos tcrian1 un1 Jcscnvolvim cnto diverso <laqueie previsto, etc.)

26 27
CADERNOS DO CÁRCERE DO CADERNO 4

§ 86. De uma carta do Prof. U. Cosmo (dos primeiros meses de ditos é arguta e pode ser esclarecedora. Mando para você algumas in-
1932), extraio alguns trechos sobre o problema de Cavalcante e dicações bibliográficas mais fáceis. O estudo de Russo pode ser con-
Farinat~: "Parece-me que nosso amigo [Gramsci] acertou no alvo; sem- sultado, na íntegra, em L. Russo, Problenzi dt nietodo critico, Bári,
pre ensinei algo que se aproxima de sua interpretação. Ao lado do dra- Laterza, 1929. Na Critica, valeria a pena consultar o que Arangio Ruiz
ma de Farinata, há também o drama de Cavai cante, e os críticos fizeram escreveu (Critica, XX, p. 340-357). Segundo Barbi, o artigo é 'be-
mal, e ainda o fazem, em deixá-lo na sombra. Nosso amigo, portanto, líssimo'. Pretensioso, em sua pomposa filosofia, é o artigo de Maria
faria um ótimo trabalho esclarecendo-o. Mas, para esclarecê-lo, seria Botti ('Per lo studio della genesi della poesia dantesca. La seconda
preciso aprofundar-sr um pouco mais na alma medieval. Cada um de- cantica: poesia e struttura nel poema'), nos Annali del'Instruzione
les, Farinata e Cavalcknte, sofre seu drama. Mas o drama específico de media, 1930, p. 432-473. Barbi ocupa-se da questão, mas não diz nada
um não atinge o outro. São ligados pelo parentesco dos filhos, mas são de novo, no último número dosStudi danteschi (XVI, p. 47 e ss.), 'Poesia
de partidos opostos. Por isso, não se encontram. Esta é sua força como e struttura nella Divina Commedia Per la genesi dell'ispirazione central e
dramatis personae, mas é sua culpa como homens. Mais difícil me pa- della Divina Commedia'. Também Barbi, num estudo intitulado 'Con
rece provar que a interpretação refute substancialmente a tese de Croce Dante e coi suoi interpreti' (vol. XV, Studi danteschi), passa em revista
sobre a poesia e a estrutura da Comédia. Sem dúvida, também a estru- as últimas intecpretações do Canto de Farinata. E o próprio Barbi pu-
tura da obra tem valor de poesia. Com sua tese, Croce reduz a poesia blicou um comentário no vol. VIII dos Studi d<111teschi."
da Co111édia a po11c:1s passagens e perde quase inteiramente o poder de I"iá muitas coisas a observar sobre estas noLis Ju Prof_ C~os1no l 18].
sugestão que dela cmanrL Ou seja, perde quase toda a sua poesia. A
virtude da grande poesia é sugerir n1;1is Jo que aquilo que Jiz, e suge- § 87. J.í. q11e n:i.o se deve levar n111ito a sC:rin ;1 gr.tvíssi1n;1 ran:f:1 de
rir sempre coisas novas. Daí sua eternidade. Portanto, seria preciso fazer progredir a crítica dantesca ou de colocar a própria pedrinha no
deixar bem claro que esta virtude de sugestão que emana do drama de edifício de comentários e de esclarecimentos sobre o divino poema,
Cavalcante emana da estrutura da obra (a previsão do futuro e a igno- etc., parece que o melhor modo de apresentar estas observações sobre
rância do presente pelos condenados; o fato de estarem naquele deter- o Canto X deva ser mesmo o polêmico, para destruir um filisteu clás-
minado cone de sombra, como se expressa com muita felicidade o sico como Rastignac, para demonstrar, de modo drástico e fulminan-
amigo; de estarem na mesma tumba [! ?] os dois sofredores; de esta- te, ainda que demagógico, que os representantes de um grupo social
rem ligados por aquelas determinadas leis de construção). Todas estas subalterno podem ridicularizar, em termos científicos e de gosto artís-
partes da estrutura tornam-se fonte de poesia. Se fossem suprimidas, tico, rufiões intelectuais como Rastignac [191- h.tas Rastignac conta
desapareceria a poesia. -Parece-me que, para alcançar um efeito mais menos que nada no mundo cultural oficial! Não é preciso muito esfor-
seguro, seria bom comprovar novamente a tese com um outro exem- ço para demonstrar sua inépcia e nulidade. Sua conferência, porém,
plo. Escrevendo sobre o Paraíso, cheguei à conclusão de que onde a foi pronunciada na Casa de Dante, cn1 Roma. Por quem é dirigida esta
construção é débil também a poesia é débil [... ] Contudo, seria talvez Casa de Dante da cidade eterna? Também a Casa de Dante e seus diri-
mais eficaz buscar a comprovação em algum episódio plástico do In- gentes não valem nada? E; se não valem nada, por que não são elimi-
ferno ou do Purgatório. Penso, portanto, que o amigo faria muito bem nados pela grande cultura? E como a conferência foi julgada pelos
em desenvolver sua tese, com o rigor de seu raciocínio e a clareza de dantólogos? Barbi falou dela, em suas resenhas nos St11di dmzteschi,
sua expressão. A aproximação com as rubricas dos dramas propriamente para mostrar suas deficiências, etc.? E, ademais, é agradável poder puxar

28 29
CADERNOS DO CÁRCER-E

pela gola um homem co1no Rastignac e usá-lo como bola num solitá-
rio jogo de futebol.

§ 88. Shaw e Gordon Craig [20]. Polêmica entre os dois sobre o


teatro. Shaw defende suas longuíssimas rubricas como auxílio não à
representação, mas à leitura. Segundo Aldo Sorani (Marzocco de 1° de
novembro de 1931), estas rubricas de Shaw "são precisamente o con-
trário do que Gordon Craig deseja e exige como algo capaz de dar vida
no palco à fantasia do autor dramático, de recriar aquela atmosfera da
qual surgiu a obra de arte e que se impôs ao próprio autor [21]".
2. Caderno 21 (1934-1935):
Problemas da cultura nacional
italiana. Iº Literatura popular

30
§ 1. Conexão de problemas. Polêmicas surgidas no período de forma-
ção da nação italiana e da luta pela unidade política e territorial e que
continuaram e continuam a envolver de modo obsessivo pelo menos
uma parte dos intelectuais italianos. Alguns destes problemas, como o
da língu;~ são muito antigos. Remetem às primeiras époo1s da forma-
ção de uma unidade cultural italiana. Nasceram do confronto entre as
condições gerais da Itália e as de outros paíscs particularmente da fran-
1

ça, ou do reflexo de condições peculiares italianas, como o fato de que


a penínsuLi foi a sede do Império Romano e tornou-se a sede do maior
ccntTO da rcligi:-10 cristã. O conj1111to dcs\L'.S prohlc1nas é' o reflexo da
difícil elaboraçilo de uma nação italiana de tipo moderno, obstaculizada
por condições de equilíbrio de forças internas e internacionais.
Jamais existiu, entre as classes intelectuais e dirigentes, a consciên-
cia de que há uma conexão entre estes problemas, conexão de coorde-
nação e de subordinação. Ninguém jamais apresentou tais problemas
como um conjunto correlacionado e coerente, mas cada um deles foi
periodicamente reapresentado, conforme interesses polêmicos imedia-
tos, nem sempre claramente expressos, sem vontade de aprofundamento.
Por isso 1 o tratc1n1cnto dos mesmos foi feito de forma abstratamente
cultural, in tclcctu:1l isL1 1 sem pcrspcctiva !i is~óric;1 exata e, portanto, sem
que se fonnulassc para eles uma solução político-social concreta e coe-
rente. Quando se afirma que jamais existiu consciência da unidade
orgânica destes problemas, é preciso esclarecer: talvez seja verdade que
faltou a coragem de formular a questão de modo exaustivo, já que de
tal formulação, rigorosamente crítica e consequente, temia-se que de-
rivassem imediatamente perigos vitais para a vida nacional unitária:

33
Ct-DEKNOS DO CÁRCERE CADERNO 21

esta timidez de muitos intelect1L1is itali8.nos deve ser por sua vez turas, científicos, policiais, etc.) e "popularidade" persistente deste tipo
cxplicc1d,i, e é caractcrístiL'<t de nossa vida nacional. 1\Jcn1ais, parece de romance traduzido de línguas estrangeiras, particularmente do fran-
irrefucísel que nenhun1 destes problen1,1s pode .;;er resolvido isolada- cês· inexistência de uma literatl!Ll infantil [l]. Na Itcí.lia, o romance
mente (11;1 rnedida en1 que s:10 :1ind-i a.ruais e vit,1is). Portanto, um tra- po~ular de produção nacional ou é o anticlerical ou são as biografias
tamento crítico e desap::i.ixonado de rodas estas questões - que ainda de bandidos. Mas se verifica urr1 primado italiano no melodrama, que
obcecam os intelecru,ús e s7io aprcsent<1dos hoje, aliás, co1no estando é o romance popular musicado.
em \"iJ.s de solução orgânica (unidade da língua; relaçdo entre arte e Uma das razões pelas quais estes problemas não foram tratados
vidJ.; quest.:í.o do rom,:,nce e do romance popular; questão de uma re- explícita e criticamente deve ser encontrada no preconceito retórico
forma intelectual e mora!, i~to é, de uma revolução popular que tenha (de origem literária), segundo o qual a nação italiana sempre existiu, ,..
a mcsn1a função da Reforma protestante nos países germânicos e da da Roma antiga até hoje, e em algumas outras fantasi.;.s e vaidades inte-
Revolução Francesa; questão da "popularidade" do Risorginzento, que lectuais que, se foram '~úteis" políticamente no período da luta nacional,
teria sido alcançada com a Guerra de 1915-1918 e com as reviravoltas como motivo para entusiasmar e conccntL1r as forças, silo críticamente
postcriorcsi do que resultou o einprego inflacionado dos termos "re- ineptas e, em última instância, tornam-se um elemento de debilidade,
volução" e "revolucion;lrio") - pode fornecer a pista mais útil para já que n~10 permitem avaliar corretamente o esforço realizado pelas
reconstruir 8.S características fundamentais da vida cultura! italiana e gerações que realmente lutaram para constituir a Itália moderna e por-
das L"Xigências que s:-'to por elas indicadas e propostas para solução. que induzem a un1a espécie de fatalismo e de espera passiva de um
Eis o '"'elenco" d;-is m~1ís significdtivas questões a ext1minar e anali- futuro, que seria completamente predeterminado pelo passado. Em
sar: 1) "Por que a litcratur,1 italiana não é popular na Itália?" (para usar outros casos, estes problemas süo mal formuL1dos por causa da influên-
a cxprcssdo de Ruggcro Bonghi); 2) Existe um teatro italiano? Polémi- cia de conceitos estéticos de origem crociana, e1n e~pecial os que se
ca posta por Fcrdinando !\1nrtini e que deve ser rcL1cionadc1 com uma refere1n ao cha1nado "moralisn10" na arte) ao "conteúdo" exterior à
outra, ou seja, a da n1:-1Íor ou menor vitalidade do teatro dialetal e do arte, à afirmação de que a história da cultura não deve ser confundi-
teatro em língua italiana; 3) Questão da língua nacional, tal como foi da com a história da arte. Não se consegue compreender concretamente
formulada por Alessandro J..'ianzoni; 4) Existiu ou não um romantis- que a arte é sempre ligada a um~:i determinada cultura ou civilização e
mo italiano?; 5) É nc...:(·s:-;;'trio provocar na Itália umc1 rcforn1a religiosa que, lut.1ndo-se para reformar ,t cultura, consegue-se modificar o "con-
como a protesta11te? ()u scjJ: a ausência de vastas e profundas lutas teúdo" da arte, trabalha-se para criar uma nova arte, não a partir de
religiosas, determinrtd,t pelo fato de ser a Itália a sede do çapado quan- fora (pretendendo-se uma arte didática, de tese, moralista)_, mas de
do fern1entc1r,1m :..:is in<_•\";\5t:s políticas que estdo na base dos Estados dentro, já que o homem inteiro é modificado na medida em que são
modernos, foi origem d·~ i-·rc,grcsso ou de retrocesso?; 6) O I-Ium;:inismo modificados seus sentimentos, suas conccpçõcs e as rcL1çõcs das quais
e o I<. cnasi:in1cnto foLuT1 progressistas ou rcacion:trios?; 7) Impopula- o homem é a expressão necess.:í.ria.
rid<-J.de do Risorgituenfo, Ol! seja, indiferença popular no período das Ligaç;10 entre o "futuriSIT)O" e o fato de que algurnas destas ques-
lutas pela inJcpendência e pela unidade ncicional; 8) Apol1ticismo do tões foram mal postas e não resolvidas, particularn1cnte o futurismo
povo ítaiiano, que se n:.lnifcst~1 !l<IS expressões "rcbc!Jia", ''subver- em sua forma mais inteligente, a dos grupos florentinos de Lacerba e
sivismo", "antiestatisino" prirnitivo e elementar; 9) inexistência de uma da Voce, com seu "romantismo" ou Sturnz uud. Drang popular. Última
litcr<'ltllr;1 popular cn1 '.~L'l1í-i...1u estriro (ron1ances de folhetim, de aven- manifestação "super-regionalist<1" [2]. lvias tanto o futurismo de

34 35
CADERN OS DO CÁRCER E
CADERN O 21

Marinet ti e o de Papini quanto o super-regionalismo chocaram-se, entre dos mesmos ". Sorani empreg a a expressã o "serviço público reaP', mas
outras coísas, com este obstácu lo: a ausênci a de caráter e de firmeza lhe dá uma definiçã o mesquin ha, que não corresp onde à que utiliza-
de seus protago nistas e a tendênc ia carnava lesca e palhaçal dos peque- mos nestas notas. Sorani observa que esses escritor es, tal como se
nos-bur gueses intelectu ais, áridos e céticos.
depreen de dos artigos de Charens ol, "tornara m mais severos seus cos-
Tamhém a litcrat11ra regional foi essencia lmente folclorís tica e pi- tumes e rnais n1origcr ada sua vid;1 c1n gcr;1l, desde a época agnr<l rcn10-
toresca: o povo "'regional" era visto "'patcrnalisticamentc", de fora, com
ta em que Ponson de ·rerrail e Xavier de Montép in exigiam uma
espírito desenca ntado, cosmop olita, próprio de turistas em busca de
notoried,1dc mnndan a e tudo faziam para obtê-la[ ... ], pretend endo que,
sensações fortes e origin::1is por sua crueza_ O qne prejudic ou os escri-
no fi1n d;1s conL1s, eles só se disting11ian1 Jc seus confrad es 1nais acadê-
tores italiano s foi prccisa1nc11tc seu í11ti1·no "apoliti cismo',, coberto de
micos por uma diferenç a de estilo. Escreviam como se fala, enquan to
retórica naciona l verbosa. Deste ponto de vista, foram mais simpátic os os outros escrevem como não se f<Ila!". (Todavia, também os "ilus-
Enrico Corradi ni e Pascoli, com seu naciona lismo confesso e militan-
tres desconh ecidos', fazem parte, na França, das associaç ões de lite-
te, na medida em que buscara m resolver o dualism o literário tradicio -
ratos, como é o caso de Montép in. Record ar também o rancor de
nal entr<:; povo e nação, embora tenham caído em outras formas de
Balzac contra Sue por causa dos sucessos mundan os e financei ros deste
retórica e de oratória [3].
último.)
Escreve ainda Sorani: "Um aspecto não negligenciável da persis-
§ 2. NoMarz occo de 13 de setembr o dé 1931, Aldo Sorani (que se tência desta literatur a popular [ ... ] é oferecid o pela paixão do público.
ocupou com freqüên cia, em diversas revistas e jornais, da literatur a
Particul armente o grande público francês, aquele público que alguns
pop11!.1r) publicoLt um artigo, "Ron1anzicri popolar i contcrn poranei ",
cnnsidcr;11n n 111;1is 1n:1liL'ioso, críticn c f>lils1; do n11111dn, 111:1ntf·ve-s(' fiel
no qual co111c11L1 a st'.ric Jc esboços sobre os "Ilustre s desconh ecidos",
ao romanc e de aventur as e de folhetim . O jornalis mo francês de infor-
publica dos por Charens ol nasNou velles Littéraires (sobre isso, há uma
mação e de grande tiragem é o que ainda não soube, ou não pôde, re-
nota mais adiante) [4]. "Trata-s e de escritor es popular íssimos , autores
nunciar ao romanc e de folhetim . Proletar iado e burgues ia, em sua
de romance s de folhetim e de aventura s, desconh ecidos ou quase pelo
grande maioria , são ainda tão ingênuo s (!) que têm necessid ade dos
público literário , mas idolatra dos e seguido s cegame nte por aquele pú-
intermin áveis relatos emocion antes e sentime ntais, horripil antes ou
blico de leitores bem maior, que decreta as imensas tiragens e que nada
larmoya nts, como aliment o cotidian o de sua curiosid ade e de sua
entende de literaturr-, mas quer se interess ar e se apaixon ar por enre-
sentime ntalidad e, têm ainda necessid ade de tomar partido entre os
dos sensacionais, tecidos em torno de eventos crimina is ou amoroso s.
heróis da delinqü ência e os heróis da justiça e da vinganç a."
Para o povo, são esses os verdadeiros escritores; e o povo sente por eles
"Difere ntemen te do público francês, o inglês ou america no incli-
uma admiraç ão e uma gratidão que tais romanci stas mantêm de pé,
nou-se para o romanc e de aventur as históric as (e os franceses não?] ou
entrega ndo a editores e leitores uma massa de trabalho s tão contínu a e
para o de aventur as policiais ", etc. Lugares-co.muns sobre as caracte-
impon~nte que parece incrível e insusten tável terem tanta
força, não rísticas nacionais.
digo intelectu al, ma,1 até física." Sorani observa que esses escritores
"Quant o à Itália, creio que se pode pergunt ar por que a literatur a
"consag raram-s e a uma tarefa exaustiv a e prestam um serviço público
popular não é popular na Itália. [Não é uma afirmaç ão exata; não exis-
real, já que infinitas massas de leitores e leitoras não podem passar sem
tem escritores na Itália, mas os leitores são muitíssimos.] Após Mastria ni
eles e os editores obtêm enorme s lucros graças à inesgotável atividad e
e Inverniz io, parece-m e que não mais existem entre nós romanci stas

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l CADERNO 21

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capazes de conquistar a massa, arrepiando e fazendo chorar um públi- vros, mas sobretudo que admira homens. Uma liter~tura só pode flo-
co de leitores ingênuos, fiéis e insaciáveis [5]. Por que este gênero de rescer num clima de admiração e a admiração não é, como se poderia
romancistas não continuou(? ) a existir entre nós? Será que nossa lite- crer, uma recompensa, mas o estímulo ao trabalho. (... ]O público que
ratura, mesmo em seus submundos, foi excessivame nte acadêmica e admira, que admira realmente, de coração, com alegria, o público que
!iterara? Será que nossos editores não souberam cultivar uma plantel tem a felicidade de admirar (nada é mais deletério do que a admiração
considerada por demais desprezível? Será que nossos escritores não têm convenciona l) é o maior animador de uma literatura. Infelizmente ,
fantasia capaz de anin1ar os folhetins e os fascículos? Ou será que nós) vários sintomas indicam que o público está abandonand o os escritores
também neste campo, contentamo- nos, no passado e ainda hoje, em italianos [6]."
importar o que é produzido nos outros mercados? O certo é que não A "admiração" de Ferrero não é mais do que uma metáfora e um
temos 'ilustres desconhecid os' em abundância, como a Françc1, e algu- "nome coletivo" para indicar o complexo sistema de relações, a forma
ma razão deve éxistir para esta d·~ficiência; L-1lvcz vCJ.lcsse a pena de contara entre uma nação e seus escritores. ln existe atualmente este
investigá-la. " contara, ou seja, a literatura não é nacional porque não é popular. Pa-
radoxo da época atual. De resto, não há uma hierarquia no mundo li-
§ 3. Os "humildes". Esta expressão- "os humildes" - é caracte- terário, isto é, não existe uma personalidad e eminente que exerça uma
rística para compreende r a atitude tradicional dos intclectu;-Iis italia- hegemonia cultural. Questão de por quê e como uma literatura é po-
nos cn1 face do povo e, conSl'L}Ücntcn1cn te, o sign i ficJJo Ja "'! iteratura pular. A '"beleza" não basta: é 1.1cccssário um determinado conteúdo
para os humildes". Não se trata da relação contida na expressão dos- intelectual e moral que seja a expressão elaborada e completa das aspi-
toievskiana "humilhddo s e ofendidos". É poderoso em Dostoievski o rações mais profundas de um determinado público, isto é, da nação-
sentimento nacional-pop ular, isto é, a consciência de uma missão dos povo numa certa fase de seu desenvolvim ento histórico. A literatura
intelectuais diante do povo, que talvez seja "objetivame nte" constituí- deve ser, ao mesmo tempo, elemento efetivo de civilização e obra de
do por "humildes", mas deve ser libertado desta "humildade" , trans- arte; se não for assim, a literatura artística cederá lugar à literatura de
formado, regenerado. No inrelectual italiano, a expressão "humildes" folhetim, que, a seu modo, é um elemento efetivo de cultura, de uma
indica uma relação de proteção paterna e divina, o sentimento "auto- cultura certamenre degradada, mas vivamenre sentida.
suficiente" de uma indiscutível superioridad e, a relação como entre duas
raças, uma considerada superior e outra inferior, a reL-1ção gue se dá § 5. Conceito de "nacional-popular". Numa nota da Critica Fas-
entre adulto e criança na velha pedagogia, ou, pior ainda, u1na relação cista de 1° de agosto de 1930, lamenta-se que dois grandes jornais diá-
do tipo "sociedade protetora dos animais" ou do ripo Exército da Sal- rios, um de Roma e outro de Nápoles, tenham inici':a.do a publicação
vação ª.P.glo-saxônico diante dos canibais da Papuásia. em folhetim dos seguinres romances: O Conde de .\follle Cri.<ro e Joseph
B,1fsil1no, de.\. Dum.is, e o C.zh ,irio Lic ttllltl 1n,it:, de P.iul Fonten..iy
§ 4. O príblico e a literatura italiana. Num artigo publicado no [7]. Escreve a Critica: "O século XIX francês foi indubitavelm enre um
Lavoro e reproduzido em parte pela Fiera Letteraria de 28 de outubro período áureo do romance de folhetim, mas aqueles jornais devem ter
de 1928, Leo Ferrero escreve: "Por uma ou outra razão, pode-se dizer um conceito bem pobre de seus leitores para publicaqem romances de
que os escriwres italianos não têm mais público. [... ]De fato, um pú- um século atrJ.s, como se o gosto, o interesse, a experiência literária
blico quer dizer um conjunto de pessoas, não apenas que compra li- não tivessem em nada se modificado de então para cá. E não só isso,

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mas[... ] por que não levar em contà que existe, apesar das opiniões certo, interessam-se particularmente pelo romance e pelo.noticiário dos
contrárias, um romance italiano moderno? E pensar que esta gente está fatos cotidianos). Sempre decorreu disso que os jornais puramente
pronta a derramar lágrimas de crocodilo pela infeliz sorte das letras políticos ou de opinião jamais puderam ter grande difusão (exceto em
pátrias!" A Critica confunde diversas ordens de problemas: o da não- períodos de intensa luta política): eram comprados pelos jovens, ho-
Jifus1o entre o p()vo Ja ch:1n1ada litcr;11!1ra artística e o Ja ni"10-cxis- n1cns e 1nullicrcs, sctn prcoc11p:H_,;6cs Lunili:in:s nu1ito grande~; e que se
tência na Itália de uma literatura "popular", razão pela qual os jornais interessavam fortemente pelo destino de suas opiniões políticas, e por
são "obrigados" a se abastecer no exterior. (Decerto, nada impede teo- um pequeno número de famílias fortemente unidas ideólogicamente.
ricamente que possa existir, inclusive hoje, uma literatura popular ar- Em geral, os leitores de jornal não têm a mesma opinião do jornal que
tística; o exemplo mais evidente é o do êxito "popular" dos grandes compram, ou são por ele pouco influenciados; por isso, deve-se estu-
romancistas russos; mas niio existe, de fato, nem uma popularidade da dar, do ponto de vista da técnica jornalística, o caso do Secolo e do
literatura artística, nem uma produção local de literatura "popular", já Lavara, que chegavam a publicar três romances de folhetim para po-
que falta uma identidade de concepção do mundo entre "escritores" e derem conquistar uma tiragem alta e permanente. (Não se pensa que,
"povo", ou seja, os sentimentos populares não são vividos como pró- para muitos leitores, o "romance de folhetim'~ é como a "literatura"
prios pelos escritores nem os escritores desempenham uma função de bom nível para as pessoas cultas: conhecer o "romance" que a Stampa
"educadora nacionai.", isto é, não se propuseram e nem se propõem o publicava era uma espécie de "dever mundano" de portaria, corredor
problema de elaborar os sentimentos populares após tê-los revivido e e saguão de uso comum; cada capítulo dava lugar a "bate-papos" nos
deles se apropriado.)!iA Critic:a nem sequer se põe tais problemas e não quais brilhav,1111 a intuição psicológica, a capaciJ;1dc lógica de intuição
s:1he extr;1ir ;1s l'< 1nl·l11s(-lt'S "rl';ilisLis" dt) f.11-1> de q11c 1 se os ro111;1nccs Jc dos "1riais dl·st;1l·;1dos'', etc.; p(ldi.'-st· ;1 fi nn. ir qnl' (lS ll·i r1H·cs d11 ro111. 111-
cem anos atrás agradam, isto significa que o gosto e a ideologia do povo ce de folhetim se intc:-cssam e se apaixonam por seus autores com muito
são precisamente os de cem anos atrás. Os jornais são organismos po- maior sinceridade e com muito mais vivo interesse humano do que,
lítico-financeiros e não se propõem divu.lgar as belas-letras "em suas nos chamados salões cultos, as pessoas se interessam pelos romances
colunas", a não ser que estas belas-letras aumentem a receita. Oro~ de D' Annunzio ou pelas obras de Pirandello [9).)
mance de folhetim é' um meio para a difusão desses jornais entre as Contudo, o problema mais interessante é o seguinte: por que os
classes populares (recordar o exemplo do Lavara de Gênova sob adi- jornais italianos de 1930, se querem ser difundidos (e manter-se), de-
reção de Giovanni Ansaldo, que republicou toda a literatura francesa vem publicar os romances de folhetim de um século atrás (ou os mo-
de folhetim, ao mesmo tempo em que buscava dar ao resto do jornal o dernos do mesmo tipo)? E por que não existe n~~ Itália uma literatura
tom da mais refinada cultura), o que significa sucesso político e suces- "nacional" do gênero, embora ela·deva ser lucrativa?. Deve-se obser-
so financeiro [8]. Por isso, o jornal procura aquele romance, aquele var o fato de que, em muitas línguas, "nacional" e "popular" são sinô-
tipo de romance que "certamente" agrada o povo, que garantirá uma nimos ou quase (é o caso em russo; é o caso em alemão1 onde volkisch
clientela "continuada" e permanente. O homem do povo compra um tem um significado ainda mais íntimo, de raça; é o caso nas línguas
só jornal, quando o compra: a escolha do jornal nem sequer é pessoal, eslavas em geral; em francês, "nacional" tem um significado no qual o
mas freqüentemente do grupo familiar: as mulheres pesam muito na termo "popular" já é mais elaborado politicamente, porqueligado ao
escolha e insistem no "belo romance interessante" (isto não significa conceito de "soberania": soberania nacional e soberania popular têm
que os homens não leiam também o romance; mas as mulheres, por ou tiveram igual valor). Na Itália, o termo "nacional" tem um signifi-

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cada muito restrito ideologicam ente e, de qualquer modo, não coinci- (muito menos) igualitário. Os intelectuais não saem do povo, ainda que
de com "popular'', já que ILl Itália os intelectuais estão afastados do acidenwlmen te algum deles seja de origem popular;, não se sentem li-
povo, ou sejd, da "na~ão"; estão ligados, ao contrário 1 cJ. uma tradição gados ao povo (à parte a retóric:i), não o conhecem e não sentem suas
de casta 1 que jamais foi quebrada por um forte movimento político necessidades, suas aspirações e seus sentimentos difusos; mas são, em
popular ou nacional vindo de baixo: a tradição é ''!ivresca" e abstrata, face do povo, algo destacado, solto no ar, ou seja, uma casta e não uma
e o intelectual moderno típico sente-se mais ligado a Annibal Caro ou articulação (com funções orgânicas) do próprio povo. A questão deve
a Ippolito Pindemonre do que a um camponês da Púglia ou da Sicília ser estendida a toda a cultura nacional-pop ular e não se restringir ape-
[10]. O termo "nacional" de uso corrente está ligado na Itália a esta nas à literatura narrativa: o mesmo deve ser dito do teatro, da literatu-
tradição intelectual e livresca: daí a facilidade tola (e, no fundo, peri- ra científica em geral (ciências naturais, história, etc:.). Por que não
gosa) de chamar de "antinaciona l" qualquer pessoa que não tenha esta surgem na Itália escritores como Flammarion [13]? Por que não nas-
concepção arqueológic a e carcon1ida dos interesses do país. ceu uma literatura de divulgação científica, como na França e em ou-
Devem-se examinar os artigos de Umberto Fracchia na Italia tros países? Esses livros estrangeiros, quando traduzidos, são lidos e
Letteraria de julho de 1930, bem como a "Lettera a Umberto Fracchia procurados, obtendo freqüenteme nte enorme sucesso. Tudo isso signi-
sulla critica", de Ugo Ojetti, no Pégaso de agosto de 1930 [11]. As fica que toda :-1 "classe culta", com sua ativid,1de intelectual, está sepa-
lamentflções de Fracchia são muito similares às da Critica Fascista. A rada do povo-naç'1o, não porque o povo-nação não tenha demonstrado
literatura "nacional" chamada de "artística" não é popular na Itália. ou não àemonstre se interessar por esta atividade em todos os seus
De quem é a culpa? Do público que não lê? Da crítica que não sabe níveis, dos mais baixos (romances de folhetim) aos mais elevados, como
apresentar e exâltar junto ao público os "valores" literários? Dos jor- o atesta o fato de que ele procura os livros estrangeiros adequados,
nais qnc, ef11 vez de public;lr em folhetim o "romance moderno italia- mas sim porque o elemento intell'Ctual nativo é mais estrangeiro dian-
no", publicam o velho O Conde de Mollle Cristo? Mas por que o público te do povo-nação do que os próprios estrangeiros. A questão não nas-
italiano, ao contrário de outros países, não lê? E, de resto, é verdade ceu hoje; ela se pôs desde a fundação do Estado italiano, e sm1 existência
que n'1o se lê na Itália' N:io seria mais exato formular o seguinte proble- anterior é um documento para explicar o atraso da formação política
ma: por que o público italiano lê a literatura estrangeira, popular e nacional unitária da península. O li.vro de Ruggero Bonghi sobre a
não popular, e n-ão lê a italiana? O próprio Fracchia não publicou ul- impopularid ade da literatura italiana. Também a questão da língua,
timatos aos editores que publicam (e que, rortanto, devem vender proposta por Manzoni, reflete o problema da unidade intelectual e
relativament e) obras estrangeiras, ameaçando- os com medidas gover- moral da nação e do Estado, buscado na unidade da língua. Mas a
nJ.mentais? E já não houve, pelo menos parcialmente , uma tentativa unidade da língua é uma das modalidades externas, e n;10 necessária se
de intervenção governamen tal através do Deputado Michele Bianchi, tomada isoladament e, da unidade nacional: de qualquer modo, é um
subsecTetário do Interior [12]?
efeito e não uma causa. Escritos de F. Martini sobre o teatro: sobre o
O que significa o fato de que o povo italiano lê preferencial mente teatro, existe e continua a se desenvolver toda uma literatura.
os escritores estrangeiros? Significa que ele sofre a hegemonia intelec- Na Itália, nunca houve, e continua a não haver, uma literatura na-
tual e moral dos intelcct11ais estrangeiros, que se sente mais ligado aos cional-popul ar, narrativa e de outro gênero. (Na poesia, incxistem os
intelectuais estrangeiros do que aos "patrícios", isto é, que não existe tipos como Béranger e, em geral, o tipo do chansonnier fn1ncês [14].)
no país um bloco naciono1l ini:electual e moral, nem hierárquico nem Todavia, existiram escritores individualm ente populares e que tiveram

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grande sucesso: Guerrazzi teve sucesso e seus livros continuam a ser deixar iludir pela razoável difusão obtida por certos livros católicos:
publicados e divulgados; Carolina lnvernizio foi lida e talvez continue ela se deve à vasta e poderosa organização da Igreja, não a uma força
a sê-lo, embora seja de um nível mais baixo do que os Ponson e os de expansivida de interna: os livros são presenteado s nas inúmeras ce-
Montépin. F. Mastriani foi lido, etc. [15] (G. Papini escreveu um ar· rimônias e são lidos por castigo, imposição ou desespero. Surpreende
tigo sobre Invernizio no Resto dei Carlino, durante a guerra, por volta o fato de que, no campo da literatura de aventuras, os católicos tenham
de 1916: ver se o artigo foi coletado em volume. Papini escreveu algo sabido expressar somente mesquinharias; eles dispõem, contudo, de
interessante sobre essa expressão honesta, mas medíocre, da literatu- uma fonte de primeira ordem nas viagens e na vida movimentad a e
ra popular, observando precisament e como ela era lida pelo povo fregüenteme nte arriscada dos missionários. Todavia, mesmo no perío-
miúdo. Talvez se possa encontrar, na bibliografia de Papini publicada do de maior difusão do romance geográfico de aventuras, a literatura
no ensaio de Palmie~i, ou em outra, a data deste artigo e outras indica· católica a respeito foi mesquinha e em nada comparável à francesa,
ções [16].) inglesa ou alemã laicas: as experiências do Cardeal Massaja na Abissínia
Na ausência de uma literatura "moderna" própria, algumas cama- são o livro mais notável; no resto, houve a invasão dos livros de Ugo
das do povo miúdo satisfazem de várias maneiras as exigências intelec- Mioni (que foi padre jesufta), inferiores ao mínimo exigido. Também
tuais e artísticas que existem, apesar .de tudo, ainda que sob uma forma na literatura popular científica os cãtólicos fizeram muíto pouco, ape-
elementar e confusa::: difusão do romance de cavalaria medieval-R eali sar de seus grandes astrônomos (como o Padre Secchi,· jesuíta) e de a
di Francia, Guerino Hetto il Meschino, etc. ~' particularme nte na Itá- astronomia ser a ciência que mais interessa ao povo [18]. Essa literatu-
lia meridional e nas montãnhas; os 1JirTJÇ,f?i na Toscana (os assuntos re- ra católica deixa transpirar a apologia jesuíta por todos os poros e sur-
pn..:st:nt;1JrJs pcJr;s Jllttf,Xi s:io cxtr:iído_<; de livros, ncivc:las e sobretudo preende por sua vulgar mesquinhez. A inc:1paciJade <los intelectuais
de lendas que se tornaram populares, como a Pia dei Tolomei; existem católicos e o escasso sucesso de sua literatura são um dos mais expres-
várias public1çõcs sobre os maggi e seu repertório) [17]. sivos indícios da íntima ruptura que existe entre a religião e o povo:
Os laicos fracassaram em sua tarefa histórica de educadores e este se encontra num miserabilíssimo estado de indiferentism o e de
elaboradore s da intcleclllalidade e d,1 consciência moral do povo-na- ausência de vida espiritual ativa: a religião conservou-se no estágio da
ção; não soubcran1 s·atisfazcr as cxigênci:is intelectuais do povo, preci- superstição, mas não foi substituída por uma nova moralidade laica e
samente por não terem representado uma cultura laica, por não terem humanista por causa da impotência dos intelectuais laicos (a religião
sabido elaborar um "humanismo " moderno, capaz de se difundir até não foi nem substituída nem intimamente transformad a e nacionaliza-
nas camadas mais rudes e incultas (como era necessário do ponto de da, como em outros países, como o próprio jesuitismo na América: a
vista nacional), por se terem mantido ligados a um mundo antiquado, Itália popular ainda está nas condições criadas imediatame nte pela
mesquinho, abstrato, demasiadam ente individualista e de casta. Ao Contra-Refo rma: a religião, quando muito, combinou-se com fol- o
contrário, a literatura popular francesa, que é a mais difundida na Itá- clore pagão e conservou-se neste estágio).
lia, representa, em maior ou menor proporção, de um modo que pode
ser mais ou nicnos slmpi'itico, este hun1a11isn10 moderno, este laicismo § 6. Diversos tipos de roniance popular. Existe uma certa varieda-
moderno, a seu modo: ele foi representado por Guerrazzi, Mastriani e de de tipos de romance popular; e deve-se notar que, embora todos os
os outros poucos escritores populares conterrâneos . Mas, se os laicos tipos desfrutem simultaneam ente de uma certa difusão e sucesso, um
fracassaram, os católicos niío tiveram maior sucesso. Ninguém deve se deles predomina sobre os outros e em grande medida. Com base nesta

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CADERNO S DO CÁRCERE CADERNO 21

predomin ância, pode-se identifica r uma alteração dos gostos fundamen - ingleses. Mas o sentimen to anti inglês é vivo tan1bém no ron1ance his-
tais; do mesmo 1nodo, con1 base n<I simultan eidade do sucesso dos di- tórico e até mesmo no romance scntimcn tal (p. ex., George Sand) [20].
versos tipos, pode-se extrair a prova de que existem no povo diversos (Reação à Guerra dos Cem Anos e ao assassinato de Joana D'Arc, bem
estratos culturais, diversas "massas de sentimen to" preponde rantes num como ao fim de Napoleão .)
e noutro estrato, diversos "modelo s de herói" popular. Portanto , fixar Na Itália, nenhum destes tipos teve escritore s (numeros os) de al-
um elenco destes tipos e estabelec er historica mente seu relativo suces- gum destaque (não destaque literjrio, mas valor "co1nercial", de in-
so maior ou menor tem importân cia para as finalidad es deste ensaio: venção, de construç ão engenhos a de intrigas, certamen te rebuscad as,
1) Tipo Victor Hugo-E ugene Sue (Os 1niserâ11eis, Os n1istérios de mas elaborad as com certa racionali dade). Ncn1 mcs1no o ro1nance
Paris): de caráter nitid,1n1cntc ideológic o-político , de tendênci a demo- policial, que teve tanto êxito intcrn;1cional (e financeir o para autores e
rnítica ligada àe ideologia s de 1848; 2) Tipo sentimen tal, não político editores), encontro u escritore s na Ir-ália; todavia, muitos romances ,
em sentido estrito, mas no qual se expressa o que poderia ser chamado particula rmente histórico s, tomaram como tema a Itália e as vicissitu-
de "democra cia sentimen tal" (Richeb ourg- Decourcelle, etc.); 3) Tipo des histórica s de suas cidades, regiões, instituiçõ es, homens. É o caso
que se apresenta como de pura intriga, mas que tem um conteúdo ideo- da história de Veneza, com suas organiza ções políticas, judiciária s,
1ógico conserva dor-rc;Jc ionúrio (Montép in); 4) O romance
histórico policiais, que forneceu e continu,1 a fornecer tema aos ro1nancistas
de A. Dumc1s e de Ponson de Tcrrail, o q11;1J, alé111 do carútcr histórico , populares de todos os países, con1 exceção da ltúlia .. U1n certo êxito
te1n un1 carúter ideológico-pollrico, mas n1enos nítido: contudo, Ponson teve na Itália a literatura popular sobre'' vida dos brig1111ti, mas a pro-
de 1Crrai! é conscrv;idor-rc;icion;írio 1 e a cxalta~·:lo dos ;1ristocratas e d11ç<io é de baixíssim o nível [21].
de seus servos fiéis tem um caráter bem diverso do das represent ações O último e mais recente tipo de livro popular é a biografia roman-
histórica s de A. Dumas, embora este não tenha uma tendênci a demo- ceada, que de qualquer modo represen ta uma tentativa inconscie nte
crático-p olítica nítida, mas seja antes atravessa do por sentimen tos de- de satisfazer as exigência s culturais de alguns estratos populare s mais
mocrátic os genérico s e "passivos " e se aproxime freqüent emente do sofisticados culturalm ente, que não se contenta m com a história tipo
tipo "sentime ntal"; 4) O romance policial em seu duplo aspecto (Le- Dumas. Também esta literatura não tem muitos represen tantes na Itá-
cocq, Rocambo le, Sherlock Holmes, Arsene Lupin); 6) O romance de lia (Mazzucc helli, Cesare Giardini, etc.): não só os escritore s italianos
terror (fantasma s, castelos misteriosos, etc.: Ann Radcliffe, etc.); 7) O não podem ser compara dos em número, fecundid ade e capacida de de
romance científico de a\'enturas , geográfic o, que pode ser de tendên- diversão literária com os franceses, alemães e ingleses, mas, o que é
cia ou simplesm ente de intriga U. Verne, Boussena rd) [19]. mais significativo, eles escolhem seus temas fora da Itália (Mazzucchelli
De resto, cada um destes tipos tem diferente s aspectos nacionais e Giardini na França, Eucardio Momigli<ino na Inglaterr a), com o obje-
(na América, o romance de av~nturas é a epopéia dos pioneiros , etc.). tivo de se adaptare m ao gosto popular italiano, que se formou a partir
Pode-se observar como, na produção de conjunto de c-1da país esteja sobretud o dos romances histórico s fr,1nccses [22]. O literato italiano
1
implícito u1n scntin1cnto n<lcionalista, n:'lo expresso Jc rnodo retórico, não escreveri a uma biografia rom,1nccada de !vfasaniello, de Michele
mas habilmen te insinuad o na narração. Em Verne e nos fr1nceses, o di Lando, de Cola de Rienzo, sem se crer na obrigaçã o de abarrotá- la
sentimen to antiinglês, ligado à perda das colônias e à irritação causada de cansativas "peças de apoio" retóricas, para que não se creia... não
pelas derrotas 1narítimas, é vivíssimo: no romance geográfic o de aven- se pense .. ., etc. [23] É verdade gue o êxito das Yidas romance adas in-
rurG.s, os franceses não entram em choque com os alemães, mas com os duziu muitos editores a iniciarem a publicaçã o de coleções biográficas,

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CADERNOS DO CARCERE CADERNO 21

mas trata-se de livros que estão para a vida romanceada como A monja Boutet escreveu sobre os espetáculos clássicos (Ésquilo, Sófocles), que
de Monza está para(O Conde de Monte Cristo; trata-se do costumeiro a Companhia Stabile de Roma, dirigida precisamente por Boutet, apre-
esquema biográficc,' em geral filologicamente correto, que pode encon- sentava na Arena do Sol de Bolonha às segundas-feiras - dia das la-
trar no máximo alguns milhares de leitores, mas não se tornar popular. vadeiras - e sobre o grande sucesso destas apresentações. (Estas
Deve-se notar que alguns dos tipos de romance popular acima re- recordações da vida teatral de Boutet foram publicadas pela primeira
lacionados têm correspondentes no teatro e, hoje, no cinema. No tea- vez na revista II Viandante, editada em Milão por T. Monicelli, nos anos
tro, o êxito conside~1 ável de D. Niccodemi deve-se, certamente, ao fato 1908-1909 [26].) Deve-se também sublinhar o sucesso que sempre
de que ele soube dr~matizar temas e motivos eminentemente ligados à obtiveram junto às massas populares alguns dramas de Shakespeare, o
ideologia popular; é o caso de Scampolo, de Aigrette, de Volata, etc. i que demonstra precisamente como é possível ser ao mesmo tempo
Também em G. Forzano existe algo similar, mas baseado no modelo 1 grande artista e "popular". ·
de Ponson de Terrail, com tendências conservadoras. O trabalho tea- No Marzocco de 17 de novembro de 1929, publicou-se uma nota
tral que obteve maior sucesso popular na Itália foi La morte civile, de de Gaio (Adolfo Orvieto), muito significativa: "'Danton', il melo-
Giacometti, de caráter italiano: não teve imitadores de mérito (sem-
pre em sentido não literário) [24]. No campo do teatro, pode-se obser- ! dramma e il 'romanzo nella vita'." A nota diz: "Uma companhia dra-
mática de 'formação' recente, que reuniu um repertório de grandes
var como toda uma série de dramaturgos,. de grande valor literário, 1 espetáculos populares- desde O Conde de Monte Cristo até As duas
pode agradar muitís~imo também ao público popular: Casa de boneca, órfils-, com a legítima esperclnça de trazer alg11n1as pessoas ao teatro,
de Ibsen, agrada muito ao povo das cidades, na medida em que os sen- viu seus desejos rc;1\izados, cm Florença, con1 u1n novíssimo dram•:l de
timentos representados e a tendência moral do autor encontram uma autor húngaro sobre a Revolução fr;1nccsa: D(lnfon." O drama é de
profunda ressonância na psicologia popular [25]. E, de resto, não po- De Pekar e é uma "pura fábula patética com dL·talhcs fantásticos de
deria ser outra coisa o chamado teatro de ídéias, ou seja, a representa- extrema liberdade" (por exemplo, Robespierre e Saint-Just assistem ao
ção de paixões ligadas aos costumes com soluções dramáticas que processo de Danton e discutem com ele, etc.). "~1as é fábula, construída
representem uma catarse "progressista", que representem o drama da com competência, que se vale dos velhos n1étodos infalíveis do teatro
parcela intelectual e moralmente mais avançada de uma sociedade e popular, sem perigosos desvios modernistas. Tudo é elementar, limita-
que expressem o desenvolvimento histórico imanente aos próprios do, de corte nítido. As tintas fortíssimas e os clamores se alternam com
costumes existentes. Estas paixões e este drama, contudo, devem ser oportunas diminuições dt; ênfase, e o público respira e concorda. De-
representados e não desenvolvidos como uma tese, como um discurso monstra apaixonar-se e se diverte. É este o melhor camínho para levá-
de propaganda; isto é, o autor deve viver no mundo real, com todas as lo ao teatro em prosa [27]?" A conclusão de Orvieto~é significativa.
suas exigências contraditórias, e não expressar sentimentos absorvidos Assim, em 1929, para ter público no teatro, é preciso representar O
apenas nos livros. Conde de Monte Cristo e As duas órfãs; e, em 1930, para conseguir
leitores para os jornais, é preciso publicar em folhetim O Conde de
§ 7. Romance e teatro popular. O drama popular é chamado, com Monte Cristo e Joseph Balsamo.
um significado depreciativo, de drama ou dramalhão de arena, talvez
porque existam em algumas cidades teatros ao ar livre chamados «are- § 8. Dados estatísticos. Quantos romances de autor·italiano foram
nas" (a Arena do Sdl em Bolonha). Deve-se recordar o que Edoardo publicados pelos periódicos populares mais difundidos, como o Ro-

48 49
CADERNO:', DO CARCERE CADERNO 21

nu1nzo A1en,.:;i/t!-J a Do1ne.11ic1t dei Corriere, a Triúuua 11/ustrata, o lVIattino catálogos d,1ria algum resultado. l.Trna comparação entre os catálogos
I/lu .-:trafo? A Do11!enr,·<1 ,/,--:/ Corric)n)) té1lvcz nenhum, cm roda a sua vid:i de 50 anos atrás (quando o Seco/o csr:1va no auge) e os atuais já seria
(ccrc:t de 36 .u1os), ·~·1::hur·1 1-1 t--nh.1 publii..::;1do CL'rL'.t JL' Ui11•l centena interessante: toJo o ron1ancc L1cri111oso-:.-vntin1cnta! Jvvc ter caído no
de roni,l!lCcS. 1\ 'J]·il-1,'!I"' J/lu,.:;fr;1fu, alguns (nos últi1nos [Lrnp0s uma esqucci1ncnto, com exccç:10 di.: algu1n<1 "ubr<i-pri1n;1" do gêncro, que
1

séri L' de n:n1.tnccs pLI :.'--~ .1i :-: ,lo Príni..::i pe \'~ti crio Pi)-',ll,ltll I i); n1,1s deve- deve ainJ;1 resistir (corno;\ f0Hfinr·gr11do111u i11/.10, de l.Zilli..:bourg); de
.se noL1r que :i 'J)·ib!f11.' t- Jllliito nll.'llOS Jif11ndiJ,1 do quv a J)un1enica, rl'sto, isso 11:10 quer dizer qut.: Liis livros n:iu ;-.l'j.tn1 lidos por certos es-
niío (· hcrn organiz,td.1 1·._-,J<1,:ion,1!1ncnrc e tem tl!n ripo de ron1ance tratos d,1 população di: províncl<i, onde os "JL·spn:cunccit1 1osos" ainda
111enus selecionado [2~.J- "degustam'' P<tul de Kock e discute-se anirnâJarncntt sobre a filosofia
Scri<-1. intcrcssdntc \'Cr a n~1cion<1!iJaJc dos aurores e o ripo dos ro- de Os nziseráveis [30]. Assin1, serÍ;t intcressanre seguir a publicação dos
1nancc:s de ;1vcnrura f·\ut-,Jic:iJos. O l~on1t1nzo Mensile e a Do1nenica romances cm fascículos, até chcg:tr aos de especuL-tç:-10, que custam
publicam muitos ror:1.111cts ingleses (m<1s devem prcdo1ninar os fran- dezenas e dezenas de liras e sã.o vincuh1Jos a prêmios.
ctscs) e de tipo policidl (pnblicaLnn Sherloc:k l-foln1e8 el\rsl~ne Lupill)i Um certo número de romances populares foi publicado por Edoar-
mas r,unbém :cllcn1:1cs. \i(1ng.1ros (a ílaroncs;1 Orc:;_y é 1n11ito divulg;1d~1 do Perino e, mais recentemente, pur Ncrbini 1 todos Jc fundo anticlerical
e seus rom,1nces sobrl~ J H.cvoluçiio Fr:1nccs,1 ti\'cí.1m v.\rias edições e ligados à tradiç:í.o de Gucrr;.:1:1.zi. (Í~ inútil n:corJar S,ilani, editor po-
tambC:1n no Runianzu 1\lr~n,-:J!e, que deve ter igu:dn1cnrc grcindc difu- pular por excelência.) Seria prL·ci~,o L1zcr 11n1<t lista Jos editores popu-
s:10) Lº <lté at:srralianllS (dL' c;u)· Hourhby, que tl'\'L' \';'tri.ls l·Ji<;ÕL'S): pre- lares.
domina cerran1ente o romance policial ou afin1, embebido de uma
conccp~·:10 cn11scrvaLk1r;1 c- rcacion:íria 011 b,1scadli pl1r.1111L'11rc 11a intri- § 9. Ugo Mio11i. A coky:ío "'ll>llc e lcgc" Ja EJ. "J'í,l Socictà S.
ga [29]. Seria interessetnte saber quem era o encarregado 1 na redação Paolo", Alba-Roma, num elenco que inclui 111 títulos, em 1928, re-
de Corrien~ della Sera, dt.' escolher estes romances e qu:IÍS eram os cri- gistra 65 romances de Ugo Mioni, que certamente núo são todos os
térios que lhe eram indicados 1 já que no Corriere tudo era organizado publicados pelo prolífico monsenhor, o qual, de resro, não escreveu
Lh::ionalmenre. O M1rtti110 I/!11strato, embora sai a em Nápoles, publ íca apenas romances de aventuras, mas também de apologia, de sociolo-
romances do tipo Don1e1lica, mas se deixa guiar por questões financei- gia e também um volumoso tratado de "ciência das n1issões". Editoras
ras e, com freqüênci<l, por veleidadçs literárias (foi por isso, acredito, católicas para publicações populares: existe também uma publicação
que publicou Conrad, Stevenson, London). O mesmo se deve dizer periódica de romances. Mal impressos e em traduções incorretas.
sobre a Illu.·:znzzio11e dei Popolo, de Turim. Relativamente 1 e talvez até
mcs1110 dbsol utdmentc, a .ldrninistração do Corriere é o centro de maior § 10. Verne e o roniancegeogrií/i'co-cientí/ico. Nos livros de Verne,
diiu~}o dos romances populares: publica cerca de 15 deles por ano, jamais há algo complet<lmente in1possível: as "possibilidades " de que
com ,dtíssÍ!Ti"JS tiragens. Depois, deve vir a Editora Sonzogno, que tam- dispõem os heróis de Verne são superiores às realmente existentes na
bém deve ter uma çiublicação periódica. Um ex~1me da atividade da época, mas não demasiada1nen te superiores e, sobretudo, não ~~fora"
Editora Sonzogno ao longo do tempo forneceria um quadro bastante da linha de desenvolvimen to <l<lS conquistas científicas já realizadas; a
aproximativo das variações ocorridas no gosto do público popular; a imaginação não é inteiramente "arbitrária" e, por isso 1 tem o poder de
pesquisa é difícíl, já que a Sonzogno não imprime o ano da publicação excitar a fantasia do leitor já conquistado pela ideologia do fatal de-
e freqüentemente não numera as reedições, mas um exame crítico dos senvolvimento do progresso científico no domínio e no controle das

50 s,
CADERNOS DO CÁRCERE
CADERNO 21

forças naturais. Diferente é o caso de Wells e de Poe, nos quais domina (e mundo). que culminara m na Revolução Francesa e em Napoleão.
0
precisamente, em grande parte, o "arbitrário ", ainda que o ponto de o episódio de Fachoda, com toda a sua gravidade, não pode ser rnm-
partida possa ser lógico e fundado numa realidade científica concreta parado a esta poderosa tradição, que é testemunh ada por toda a litera-
[31]. Em Verne, há aliança do intelecto humano e das forças materiais;
tura popular francesa.
em Wells e Poe, o intelecto humano predomina e, por isso, Verne foi
mais popular, já que mais compreensível. Ao mesmo tempo, porém, § 11. Emilio DeMarchi. Por que De Marchi, ainda que existam em
este equilíbrio nas construçõe s romanescas de Verne tornou-se um li- muitos de seus livros elementos de popularida de, não foi e não é mui-
mite, no tempo, à, sua popularida de (para não falar do escasso valor to lido? Relê-lo e analisar estes elementos , sobretudo em Gi11con10
artístico): a ciência superou Verne e seus livros não são mais "excitan- /'idealista. (Sobre De Marchi e o romance de folhetim, Arturo Pompeati
tes psíquicos". escreveu um ensaio na Cultura, insatisfatório [34].)
Pode-se dizer algo parecido das aventuras policiais, como, por
exemplo, as de Conan Doyle; na época eram excitantes, hoje quase § 12. Sobre o romance policial. O romance policial nasceu .nas
nada e por várias razões: porque o mundo das lutas policiais é hoje margens dr1 litcratura sobre os "julgamen tos célebres". De_ resto1 ~1ga­
mais conhecido , enquanto Conan Doyle em grande parte o revelava, se também a ela 0 romance do tipo O Conde de Monte Cristo. Nao se
relo menos a um grande número de pacífi.cos leitores. Mas sobretudo trata também ãqui de "julgamen tos célebres" romanceados, coloridos
porque, em Sherlock Holmes, existe um equilíbrio racional (excessi- com a ideologia popular sobre a administra ção da justiça, sobret~d~
vo) entre a inteligência e a ciência. Hoje interessa mais a contribuiç ão quando a ela se liga a paixão política? Rodin, do Judeu emlllte, nao e
individual do herói, a técnica "psíquica" em si, e, por isso, Poe e Ches- um tipo do organizad or de "intrigas celeradas", que não recua di~~te
terton são mais interessantes, etc. [32] de nenhum delito ou assassinato, e o Príncipe Rodolfo, ao contrario,
No Marzocco de 19 de fevereiro de 1928, Adolfo Faggi ("Im- não é 0 "amigo do povo", que desfaz outras intrigas e crin;es [35]? A
pressioni di Giulio Verne") observa que o caráter antiinglês de muitos passagem deste tipo de romance para os de pura ~ve~tura e caracten-
romances de Verne deve ser relacionad o com o período de rivalidade zada por um processo de esquematizaçã'? da mera 1ntnga, depurada ~e
entre a França e a Inglaterra que culminou no episódio de Fachoda [33]. qualquer elemento de ideologia democráti ca e pequeno-burguesa: nao
A afirmação é errada e anacrónica: o antibritani smo era (e talvez ainda mais a luta entre 0 povo bom, simples e generoso, e as obscuras forças
seja) um elementq fundamen tal da psicologia popular francesa. O da tirania (jesuítas, polícia secreta ligada às razões de Estado ou à am-
antigerma nismo é Jeiativamente recente e era menos enraizado do que bição de príncipes específicos, etc.), mas apenas a luta entre a ~ehn­
o antibritani smo; não existia antes da Revolução Francesa e só setor- qüência profissional ou especializada e as forç;<s da or~em legal, pnva~as
nou mórbido depois de 1870, após a derrota e a dolorosa impressão ou públicas, com base na lei escrita. A coleçao dos JUigamentos cele-
de que a França não era a mais forte nação militar e política da Europa bres", na famosa edição francesa, teve seu corresponde~te nos ~utros
Ocidental, já que a Alemanha, sozinha, sem coalizão, vencera a Fran- países; a coleção francesa, pelo menos parcialmen te, foi traduzida e,m
ça. O antiinglesismo remonta à formação da França moderna, como italiano, no caso dos processos de fama européia, como o de Fualdesi
Estado unitário e moderno, ou seja, à guerra dos Cem Anos e aos re- no caso do assassinato do carteiro de Lyon, etc. [36]
flexos na imaginaçã o popular da epopéia de Joana D'Arc; foi reforça- A atividade "judiciária " sempre interessou e continua a interessar:
do, mais tarde, pelas guerras visando à hegemonia sobre o Continent e a atitude do sentiment opúblico cm face do aparelho da justiça (sem-

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CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 21

pre desacreditad o, donde o êxito do policial privado 011 diletante) e nais. Demitido por Luís Filipe, fundou uma agência privada de deteti-
em L1cc do criminoso ;1ltcrou'-sc com frt::qüênci;1 ou, pt.lo 1ncnos, ga- ves, mas co1n escasso sucesso: só podia operar nas fileiras da polícia
nhou novos nlatizes. () gr;1ndc crin1inoso foi n111iL1s vczl·-; rl'prL·scntaJo estat;il. l\1urrcu cn1 1857. l)cixotl stJ;ts Me11tt)ri11s, que n:io foram escri-
co1nu superior ao ;1p.11·,Jlio jnJíci;'tri(), <1tL· n1csn10 t.T11110 o 1·L·prcscnt:1ntc tas só por ele e ll<lS quais cxisrc111 n1uitos cx;1geros e vangltirias.
da "vcrda<lcira" justii;;1: influência do H.01nantis1110, ()s !Ji1n,/idos de 2) Deve-se ver o artigo de A!Jo Sorani, "Conan Doyle e la fortuna
Schiller, as novelas de Hoffmann, !\nn Radcliffe, o Vamrin de Balzac. dei romanzo polizieco", no Pl!gaso de agosto de 1930, muito impor-
O tipo dejavert em Os nliseráueis é interessante do ponto de vista tante para a análise deste género de literatura e para as diversas
da psicologia popular: Javert está errado do ponto de vista da "verda- especificações que teve até agora. Ao falar de Chesterton e da série de
deira" justiça, mas Hugo o representa de modo simpático, como um novelas do Padre Brown, Sorani não leva em conta dois elementos
"homem de caráter", fiel ao dever "abstrato", etc. (37] Talvez nasça, a culturais que, contudo, parecem essenciais: a) não se refere à atmosfe-
partir deJavert, uma tradiçilo segundo a qual também o policial pode ra caricatural que se manifesta sobretudo no volume A inocência do
ser "respeitável" . Rocambole, de Ponson de Terrail. Gaboriau conti- Padre Brown, atmosfera que, aliás, é o elemento artístico que eleva a
nua a rcabilita~ão do policial com o "Senhor Lecoq'\ que ,1bre cami- novela policial de Chesterton, quando a expressão (o que nem sempre
nho para Sherlock Holmes. é o caso) é perfeitamen te realizada; b) não se refere ao fato de que as
Não é verdade q11c os ingleses, no rornancc "judiciúrio", rcpn:scn- novcL1s do l1;1drc Brown s:10 '".tpl1!ogi:1s" du c;1to\icisnlli e do clero ro-
1
tc1n a "defesa da lei enquanto os franceses represcnL1n1 ,1 cxd!tação
',
mano, educado para conhecer todas ~1s sinuosidddes da alma humana
do criminoso. Trata-se de uma passagem "cultural" devida ao fato de graças ao exercício da confissão e à função de guia espiritual e de in-
que l'St;l litL'L1tnra tan1hé1n se difunde cn1 ccrt;1s cun;1d;1s L'ti1L1s. I<.e- tcn11c.:Ji,'1riu entre o liurncni e J divi11J:1dc 1 c111 oposi\·i10 ao ''cicn-
cord~1r. que Sue, rnuito liJo pelos dcn1ocratas da cL1sse n1édia, inven- tificismo" e à psicologia positivista do protestante Conan Doyle. Sorani,
tou todo um sistema de repressão à delinqüência profissional. em seu artigo, refere-se às diversas tentativas, particularme nte anglo-
Nesta literatura policial sempre existiram duas correntes: uma saxônicas e de maior significação literária, para aperfeiçoar tecnica-
mecânica, de intriga; outra artística. Chesterton é hoje o maior repre- mente o romance policial. O arquétipo é Sherlock Holmes, em suas
sentante do aspecto "artístico", como outrora o foi Poe. Balzac, com duas característic as fundamentai s, de cientista e de psicólogo; busca-
Vautrin, ocupa-se do criminoso, mas não é "tecnicamen te" um escri- se aperfeiçoar uma ou outra can1cterística, ou ambas conjuntamen te.
tor de romances polici,1is. Chestcrton insistiu precisament e no elemento psicológico, no jogo das
induções e deduções, com o Padre Brown, mas parece que exagerou
§ 13. Romances policiais. 1) Deve-se ver o livro de Henry Jagot, ainda mais em sua tendência, com o tipo do poeta-policial Gabriel Gale.
Vidocq, Ed. Berger-Levra ult, Paris, 1930. Vidocq inspirou tanto o Vau- Sorani esboça urn quadro do imenso êxito do rom;u1ce policial em
trin de Balzac con1o Alexandre Dum;1s (há um pouco dele também no todos os níveis da sociedade e busca determinar a origem psicológica
Jean Vai jean de Hugo e, sobretudo, em Rocambole) . Vidocq foi con- deste êxito: seria uma manifestaçüo de revolta contra a mecani.cídade
denado a oito anos como hlsificador de dinheiro, por uma sua impru- e a estandardiza ção da vida moderna, um modo de evasão da mesqui-
dênci,l, vinte fugas, etc. Em 1812, passou a fazer parte da polícia de nhez cotidiana. Mas esta explicação pode ser utilizada para todas as
Napoleão e, durante quinze anos, comandou um grupo de agentes cria- formas de literatura, popular ou artística: desde o poema de cavalaria
do especialmen te para ele: tornou-se famoso pcias pn:-iôcs scnsacio- (tambóm Dom Quix0te nd() bu>c,i '>C: tva:Jir1 inclu'>ive: pr;-iticamcnrc,

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l s5
CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 21

da mesquinhez e da estandardização da vida cotidiana de uma aldeia de Alexandre Dumao (publicado naStampa de 22 de outubro de 193 O
espanhola?) até o romance de folhetim em seus diversos gêneros. Toda e republicado parcialmente pela Italia Letteraria de 9 de novembro).
a literatura e a poesia seriam então um narcótico contra a banalidade Burzio considera Os três mosqueteiros uma felicíssima personificação,
cotidiana? De qualquer modo, o artigo de Sorani é indispensável para tal como o Dom Quixote e o Orlando Furioso, do mito da aventura,
uma futura pesquisa mais orgânica sobre este gênero de literatura po- ''ou seja, de algo essencial à natureza humana, que parece afastar-se,
pular. de modo grave e progressivo, da vida moderna. Quanto mais a exis-
O problema de saber por que se difundiu a literatura policial é um tência se faz racional [ou não será o caso de dizer, mais precisamente,
aspecto do problema mais geral: por que se difundiu a literatura não racionalizada de modo coercitivo, que, se é racional para os grupos
artística? Certamente por razões práticas e culturais (políticas e mo- dominantes, não o é para os dominados, e que se liga à atividade eco-
rais): e esta resposta genérica é a mais precisa, em seus limites aproxi- nômico-prática, através da qual a coerção se exe!'ce, ainda que indire-
mativos. Mas também a literatura artística não se difunde por razões tamente, também sobre as camadas 'intelectuais'?] e organizada, quanto
práticas ou político-morais, e só mediatamente por razões de gosto mais a disciplina social se faz férrea, quanto mais se faz precisa e pre-
artístico, de busca e gozo da beleza? Na realidade, um livro é lido por visível a tarefa imposta ao indivíduo [mas não previsível para os diri-
impulsos práticos (e deve-se pesquisar por que certos impulsos genera- gentes, como o demonstram as crises e catástrofes históricas], tanto
lizam-se mais do que outros) e relido por.razões artísticas. A emoção mais a margem de aventura se reduz, assim como se reduz a livre selva
estética quase nunca se dá na primeira leitura. Isto se verifica ainda de cada um entre as paredes sufocantes da propriedade privada[... ] O
mais no teatro, onde a emoção estética é um "percentual" mínimo no taylorismo é uma bela coisa e o homem é um animal adaptável, mas
interesse do cspcc,tador, j<í que no p;1!co contam outros clcn1entos, talvez cxistan1 limites à sua mecanização. Se n1c indagasscn1 sobre <IS
muitos dos quais ~ão são sequer de natureza intelectual, mas sim de razões profundas da inquietação ocidental, responderia sem hesitar: a
natureza meramence fisiológica, como o sex-appeal, etc. Em outros decadência da fé[!] e a supressão da aventura" "Vencerá o taylorismo
casos, a emoção estética no teatro não se origina da obra literária, mas ou vencerão os mosqueteiros? Trata-se de uma outra questão, cuja res-
da interpretação dos atores e do diretor; nestes casos, porém, é preci- posta, que parecia certa há trinta anos, é melhor manter em suspenso.
so que o texto literário do drama que serve de pretexto para a inter- Se a atual civilização não se precipitar, assistiremos talvez a interessan-
pretação não seja :"difícil" e rebuscado psicologicamente, mas, ao tes misturas das duas coisas [38]."
··' contrário, seja "elementar e popular", no sentido de que as paixões A questão é a seguinte: Burzio não leva e!'l conta que sempre hou-
representadas sejam as mais profundamente "humanas" e de vivência ve uma grande parte da humanidade cuja atividade foi sempre tay-
imediata (vingança, honra, amor materno, etc.); e, portanto, a análise lorizada e ferreamente disciplinada e que ela buscou se evadir dos
se complica também nestes casos. Os grandes atores tradicionais eram estreitos limites da organização existente, que a esmagava, através da
mais aplaudidos na Morte civile, em As duas órfãs, na Geria di papà fantasia e do sonho. A maior aventura, a maior °'utopia" criada coleti-
Martin, etc., do que nas complicadas tramas psicológicas; no primeiro vamente pela humanidade, ou seja, a religião, não é um modo de eva-
caso, o aplauso era sem reservas; no segundo, era mais frio, destinado dir-se do "mundo terreno"? E não é neste sentido que Balzac fala da
a separar o ator amado pelo público do trabalho representado, etc. loteria como o ópio da miséria, frase posteriormente retomada por
Uma justificação do êxito dos romances policiais similar à de Sorani outros? (Cf. o primeiro dos cadernos sobre Temas de cultura [39].)
se encontra num artigo de Filippo Burzio sobre Os três mosqueteiros Contudo, o mais notável é que, ao lado de Dom Quixote, exista Sancho

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CADERNOS DO CÁRCE_R-E CADERNO 21

Pança, que não quer "aventuras", mas uma vida segura, e que a maio- gias, etc.) podem ter uma dupla expressão: a meramente mecânica, ·de
ria dos homens seja atormentada precisamente pela obsessão da enredo sensacionalista (Sue 1 etc.), e a "lírica" (Balzac, Dostoievski e,
"imprevisibilidade do amanhã", pela precariedade da própria vida co- em parte, V. Hugo). Os contemporâneos nem sempre percebem oca-
tidianJ., isto é, por um excesso de prováveis "aventuras". No mundo ráter inferior de uma parte destas manifestações literárias, como ocor-
moderno, a questão tem um colorido diverso do que tinha no passado reu em parte com Sue, que foi lido por todos os grupos sociais e
porque a n1cionalização coercitiva da existência atinge cada vez mais "comovia" até mesmo pessoas "de cultura", mas que depois decaiu à
as classes médias e intelectuais, em enormes proporções; mas, também condição de '"escritor lido apenas pelo povo" (a "primeira leitura" só
para elas, trata-se não de decadência da aventurJ., mas do caráter ex- fornece, ou qt!ase, sensações '"culturais" ou de conteúdo, e o "povo" é
cessivamente aventuroso da vida cotidiana, isto é, da excessiva preca- leitor de primeira leitura, acrítico, que se comove pela simpatia com a
riedade da existência, unida à convicção de que contra esta precariedade ideologia geral da qual o livro é expressão freqüentemente artificial e
não há nenhum modo individual de resistência: aspira-se, portanto, à programada).
aventura "bela" e interessante, já que devida à própria livre iniciativa, Sobre este mesmo tema, devem-se ver: 1) Maria Praz, La carne, la
em oposi~r10 à aventur;i '"feia" e revoltante, já que devida às condições 111orle e il diavolo nella letteralura ro11uzntica 1 in-16°, X-505 p., Milão-
impostas por outros e não escolhidas. Roma, Ed. La Cultura, 40 liras (ver a resenha de L.F. Bencdctto n0Leo-
/\ j11s1ific1,·r10 dt· S(>r:ini e de B11rzio Sl'rve tanibtn1 par;1 explicar a 1111rdu de 111<11\'<) de 19.11: dl'la se dvtl111. q11l' Pr;1z 11:10 fez ~k· 1nodo exato

torcida csportiva~ ou seja, explic;t dc111;1siadanH.'ntc e, por isso, não d distinção entre os vários graus Jc cultura, o que leva a algun1as objc-

explica nnd;t O fcnôrneno é pelo menos t5.o velho C]ll<lnto ;1 rcligião 1 e çdcs por parte Jc Bcnc<lctto, o qu;il, de resto, niio p:1rcce ter ;tprccndi-
é poliéJrico, n:io 1111iLncr.1l: tcn1 ta111bé111 u111 aspccto positivo 1 isto é, o Jo1 por seu turno, a conexão histórica J;1 qucsr:io histúrico-literúria); 2)
desejo de "educar-se" através do conhecimento de um modo de vida Étienne Servais, Le genre romanesque en France depuis l'apparition de la
que se considera superior ao que se tem, o desejo de elevar a própria "Nouvelle Héloise" jusqu'aux approches de la Révolution, Ed. Armand
personalidade através da proposição de modelos ideais (cf. a observa- Colin; 3) Reginald W Hartland, Le Roman terrifiant ou "Roman noir"
ção sobre a origem popular do super-homem em Tenzas de cultura), o de Walpole à Anne Radclif)e, et sàn influena sur la littérature française
desejo de conhecer mais mundo e mais seres humanos do que é possí- jusqu'en 1860, Ed. Champion, e, do mesn10 autor, pela mesma editora,
vel em certas condições de vida, o esnobismo, etc., etc. [40] O tema da Walter Scott et le "Roman frénetique" (a afirmação de Pozner de que o
"literatura popular como ópio do povo" está anot<ldo num p<1rágrafo romance de Dostoievski é "romance de aventuras" deriva provavelmen-
sobre outro romance de Dumas, O Conde de Monte Cristo [41]. ce de um ensaio de Jacques Riviere sobre o "romance de aventur:1s", talvez
publicado na Nouvelle Revue Fra11faise, que significaria "uma vasta re-
§ 14. Derivações culturais do roniance de (olhetinz. Deve-se ver o presentaçr10 de ações que são ao 1nesmo ten1po dramáticas e psicológi-
número da Cultura dedicado a Dostoievski em 1931. Vladimir Pozner, cas", tal como o conceberam Balzac, Dostoievski, Dickens e George
num artigo, defende correta1nente que os romances de Dostoievski são Elliot); 4) um ensaio de André Moufflet, "Le style du lG""'" teuilleton",
culturalmente derivados dos romances de folhetim tipo E. Sue, etc. Será noMercure de Frana de 1° de fevereiro de 1931 [42].
útil levar em conta esta derivação quando for desenvolvida esta rubri-
ca sobre a literatura popular, na medida em que revela como certas § 15. Bibliografia. N. Atkinson, Eugene Sue et le roman-feuilleton,
correntes culturais (motivos e interesses morais, sensibilidade, ideolo- in-8°, 226 p., Paris, Nizet et Bastard, 40 francos.

58 59
3. Caderno 23 (1934):
Crítica literária
§ 1. Retorno a De Sanctis. Que significa e que pode e deveria significar
a palavra de ordem de Giovanni Gentile: "Voltemos a De Sanctis!"?
(cf., entre outros, o número 1 do semanário II Quadrívio). Significa
"voltar" mecanicamente aos conceitos desenvolvidos por De Sanctis
sobre arte e literatura, ou significa assun1ir diante da arte e da vida uma
atitude similar à assumida por De Sanctis em sua época? Posta esta ati-
tude como "exemplar", cabe examinar: 1) em que consiste tal exem-
plariJaJc; 2) que atitude lhe corresponde hoje, ist9 é que interesses
1

intelectuais e morais correspondem hoje aos que dom;naram a ativida-


de de De Sanctis e lhe imprimiram uma determinada direção.
Não se pode dizer que a biografia de De Sanctis, ainda que essen-
cialmente coerente, tenha sido "retilínea", como vulgarmente se crê.
De Sanctis, na última fase de sua vida e de sua atividade, voltou sua
atenção para o romance "natur8.lista" ou "verista", e esta forma de
romance, na Europa Ocidental, foi a expressão "intelectualista" do
movimento mais geral de "ida ao povo'', de um populismo de alguns
grupos intelectuais no fim do século passado, após o colapso da demo-
cracia na versão própria de 1848 e do advento de grandes massas operá-
rias por causa do desenvolvimento da grande indústria urbana. Deve-se
recordar, de De Sanctis, o ensaio "Scienza e Vira", sua passagem para
a esquerda parlamentar, seu temor às tentativas re2cionárias veladas
por formas pomposas, etc. Um juízo de De Sanctis: "Falta a fibra por-
que falta a fé. E falta a fé porque falta a cultura." Mas o que significa
''cultura" neste caso? Significa, indubitavelmente, uma coerente, uni-
tária e nacionalmente difundida "concepção da vida e do homem", uma
"religião laica", uma filosofia que tenha se transformado precisamente

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em "cultura", isto é, que tenha gerado uma ética, um modo de viver, borra-botas. Esgotar a questão limitando-se a descrever o que ambos
um comportamento cívico e individual. Isto exigia, antes de mais nada representam ou expressam socialmente, isto é, resumindo, mais ou
a unificação da "classe culta", e foi neste sentido que trabalhou D~ menos bem, as características de um determinado momento histórico-
Sanctis com a fundaÇão do "Círculo filológico'', que deveria determinar social, significa nem sequer aflorar o problema artístico. Tudo isso pode
"a.u~ião de todos cs homens cultos e inteligentes" de Nápoles; mas ser útil e necessário (aliás, certamente o é), mas num outro campo: no
ex1g1a sobr~tudo uma nova atitude em face das classes populares, um campo da crítica política, da crítica dos costumes, na luta para destruir
novo conceito do que é "nacional", diverso daquele da direita histórica e superar determinadas correntes de sentimentos e crenças, determi-
mais amplo, menos exclusivista, menos "policial", por assim dizer [1]. "Í:., nadas atitudes diante da vida e do mundo; não é crítica e história da
este lado da ativid~ 1de de De Sanctis que deveria ser esclarecido,. este arte e não pode ser apreSentada como tal, sob pena de confusão e de
elemento de sua ati'lidade que, de resto, não era novo, mas represen- paralisação ou estagnação dos conceitos científicos, isto·é, precisamente
tava o desenvolvimento de germes já existentes em toda a sua carreira da não-obtenção das finalidades inerentes à luta cultural.
de literato e de político. Um determinado momento histórico-social jamais é homogéneo;
ao contrário, é rico de contradições. Ele adquire ''personalidade", é
§ 2.. Urna nota juvenil de Luigi Pirandello. Publicada pela Nuova um "momento" do desenvolvimento, graças ao fato de que, nele, uma
Antologia de lº de janeiro de 1934 e escrita por Pirandello nos anos certa atividade fundamental da vida predomina sobre as outras, repre-
1889-1900, quando era estudante em Bonn: "Lamentamos que em senta uma "linha de frente" histórica. Mas isto pressupõe uma hierar-
nossa literatura não exista o drama; e, sobre isso, dizem-se muitas coi- quia, um contraste, uma luta. Deveria representar o momento em
sas e outras tantas se propõc111, consolos, exortações, conselhos, proje- questão quem representasse esta ativiJadc prcJonlinantc, esta "'linha
tos. Trabalho inútil: o verdadeiro mal não se vê e não se quer ver. Falta de frente" histórica; mas como julgar os que representam as outras
a concepção da vida e do homem. E, não obstante, temos terreno para atividades, os outros elementos? Ser<Í que estes também não sã.o '"re-
a épica e para o drama. Árido e estúpido alexandrinismo é o nosso." presentativos"? E não é "representativo" do "momento" também quem
Esta nota de Pirandello, contudo, talvez apenas ecoe discussões de es- expressa seus elementos "reacionários" e anacrônicos? Ou será que deve
tu~ant_es alemã_es sobre a necessidade genérica de uma Weltanschauung ser considerado representativo quem expressa todas as forças e elemen-
e e mais supcrf1c1al do que parece. De qualquer modo, Pirandello ela- tos em contradição e em luta, isto é, que111 representa as contradições
borou uma concepção da vida e do homem, mas "individual", incapaz da totalidade histórico-social?
de difusão nacional-popular, apesar de ter tido uma grande importân- Pode-se também pensar que uma crítica da civilização literária, uma
ci~1 "crítica~', de corrosão Je un1 velho costun1c teatral. luta para criar tuna nova cultura é artística no sentido de que, da nova
cultura, nascerá unia nova arte; mas isto aparece como um sofisma.
§ 3. Arte e luta por 11111a nova t:iui/izaçifo. A relação artística mos- De qualquer modo, talvez seja a partir de tais pressupostos que se pode
tra, particularn1c11tc na filosofia d;1 pr<ixis, a Lítua ingenuidade dos compreender 111clhor a rela~·;"10 l)c Sanctis-Crocc e as polên1ic;1s so-
papagaios que acreditam possuir, em pÜucas formuletas estereotipa- bre o conteúdo e a forma. A crítica de De Sanctis é militante, não "fria-
das, a chave para abrir todas as portas (chaves chamadas precisamente mente" estética; é a crítica própria de un1 período de lutas culturais,
de "gazuas"). Dois escritores podem representar (expressar) o mesmo de contrãstes entre conccpçõcs de vida antagônicas. As análises de con-
moment~ histórico-social, mas um pode ser artista e o outro simples
teúdo, a crítica da "estrutura" das obras, isto é, da coerência lógica e

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histórico-atual da massa de sentimentos artisticarr:ente representados, tom de civilização e teve assim uma fun~i1o, trabalhou substantivamente
são ligadas a esta luta culturdl: é precisamente nisto que parece residir e suscitou correntes artísticas, no sentido de que ajudou muitos a se
a profunda hurnanidade e o hun1,1nismo de De ScJ.nctis 1 que tornam o reencontraren1 a si mesinos, suscitou uma maior necessidade de inte-
crítico tii.o sin1p:itico ;lÍ111.Ja liojc. ,\grada sentir nc:lc o fervor apaixona- rioridade e de sincera expressão Jl!sta1 crnbora nãu renha surgido do
do do ho1ncm de partido, que tem sólidas convicções n1ordis e políti- movimento nenhum grande arrist;-L
C<lSe não as esconde nem busca escondê-L1s. Crocc consegue distinguir (Rafacllo Ramat escreve, na Itllli11 Letteraria de 4 de fevereiro de
estes diferentes aspectos do crítico, que em De Sanctis estavam organi- 1934: "Já se disse que, por vezes, para a história da cultura, pode ser
camente unidos e fundidos. Em Croce, cst.10 vivos os rr1csn1os motivos mais útil o estudo de um escritor rncnor do que o de urn grande escri-
culturciis que cm De S,1nctis, m:1s no período de sua expansão e de seu tor; e, em parte, isto é verdade. Pois, se no grande escritor triunfa com-
triunfo; continua a luta, mc1s por um refinamento da cultura (de uma pletamente o indivíduo, que termina por não mais ser de nenhuma
ccrLt cultur;1), nüo por SL'll <li rei to Je viver: a paixão e o fervor ron1iln- época, podendo assim se dar o caso (como já se deu) de se atribuir ao
tico compuscr,1m-se na sercnidctdc superior e na indulgência plena de século qualidades próprias do hon1em 1 no escritor menor pode-sedes-
bonomia. ~1cis; mcs1110 vrn (:roce, esta posição não é pern1;1nente. É cobrir com n1aior clareza, se ele for 11n1 espírito atento e autocrítica,
su'-·v,JilLt por urna L1SL' 11.1 qu.d a 2'L'rcnid;1Jl' e a indul~l·n...:ia se quebran1 os n1omentos d,-l dialétic1 daquela c'.'>pccífica cultura, na n1cJi<lc1 em que
e afluctm c1 acrimôni,t e ,t cólera rL·priinid.01 il dunts pcn;1s: fase defensi- ne!e estes momentos não conscg11'-·1n sL· uni fi ctr, corno llL·nrrc no gran-
v.1, 11-l(\ .11~rc<.,_o..,\\',1 t' J,T\·• •1 1, t' ~-, lll'.'>l'\]Dc11lcr11c11tt· lllL't 1i11p.1r.ivcl :l de
(l.' ••
J<.· escritor.'')
De S.111cns [2]. O problema aqui mencionado cncontLl uma confirn1ação pelo
E1n surna, ~tipo de crítica lítcrária próprio à filosofia da práxis é ;,bsurdo no artigo de Alfredo G,1rg:ulo, "DalL1 cultura ai la letteratura",
fornecido por D~ Sanl1is, n:io por Croce ou por qualquer outro (e muito nafta/ia Lettemria de 6 de abril de 1930 (sexto capítulo de um estudo
menos por Carducci): neste ripo devem se fu.ndir a luta por uma nova panorâmico intitulado 1900-1930, que será pronvelmcnte reunido em
cultural isto é, por u1n novo hun1anismo, a crítica dos costumes, dos livro e que deverá ser levado em conta para "Os filhotes do padre Bres-
sentimentos e das conccpçõcs do mundo 1 com a crítica estética ou pu· ciani"). Nessa série de artigos, Gargiulo revela o 1nais con1plcto esgo-
reimente artística, e í~so corn fervor apaixonado) ainda que na forma tamento intelectual (um dos tantos jovens sem "maturidade"); ele se
do S<Ircasmo.
acanalhou completamente no bando da !ta/ia Letteraria e, no capítulo
Nun1.1 época reccntc, correspondeu à fase De Sanctis, num plano citado, adota o seguinte juízo, expresso por G.B. Angiolctti no prefá-
subctlterno, a fase d;-1 \-~'Jce. De S.1nctis lutou pela criaç;10 ex novo n<l cio à antologia Scrittori Nuovi, org:1niz<tda por Enrico Falqui e Elia
Irá!id de umct alta culturct nacional, em oposição às velharias tradicio- Vittorini: °'Os escritores desta antologia, portanto, de 111odo algum são
n.1is, a retórica e o jL"suirisn10 (GL1crr<1zzi e o Padre Bresciani); a Vot.:e novos porque encontraram novas formas ou cc1ntaran1 novos te1nas;
lutou apenas pela divulg<1~i11\ nurna caf11ada inrern1ediúria, daquela
são novos porque têm da arte uma idéia diversa daquela dos escritores
mesrna cultura, contrd o provincianismo 1 etc., etc. [3] ~J\ Voce foi um
que os precederam. Ou, para dizer imediatamente o que é essencial,
aspecto do crocianismo n1ilitdnte, porque quis democrarizar o que for2
são novos porque acreditan-i na artc 1 ao passo que os precedentes acre-
neces:;;--1rian1ente '\1ristocrútico" cn1 De Sanctis e se 1nantivcra "aristo-
ditavam c111 rnuitas outras coisas qHc: nad;1 tinhan1 a ver co1n a arte.
cráti..:u" en1 Croce. De S.111-.::ris tinh~1 em vistd formar um Est,1do-Maior
Esta novidade, por isso, pode permitir a forma tradicional e o conteú-
cultural; a Voce prct,::-nJcu estender aos oficiais subalternos o mesmo
do antigo; mas não pode permitir desvios da idéia essencial da arte

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Não é aqui o local para repetir qual é essa idéia. Contudo, permito-me ser ela própria "original"; 3) os fatos e os temas já conhecidos podem
recordar que os es~ritores novos, realizando uma revolução (!) que, dar lugar a considerações ''novas", secundárias, mas mesmo assim im-
por ter sido silenciosa(!) , não será menos memorável (!),pretendem portantes.
ser sobretudo arlistás, enquanto seus predecessores se compraziam em O julgamento "literário" deve, evidentemente, levar em conta as
ser moralistas, pregadores, estetizantes, psicologista"s, hedonistas, etc." finalidades que um trabalho se propôs: de criação e reorganização cien-
O discurso não é nem muito claro nc1n ordenado: se algo de concreto tífica, de divulgaç:io dos fatos e temas cÓnhccidos num determinado
se pode extrair dele, é a tendência a um seiscentismo programático, grupo cultural, de um detcrn1inado nível cultural e intelectual, etc.
nada mais. Esta concepção do artista é um novo "olhar para a própria Existe 1 por isso, uma técnica da divulgaç8.o que deve ser adaptada e
língua" quando se fala, é um novo modo de construir "pequenos con- rcelabor,1da cn1 c;1da oportunidad e: a divulgaçr10 é um ato eminente-
ceitos". E meros construtores de "pequenos conceitos", não de ima- mente prático, no qual se deve examinar a conformidad e dos meios ao
gens, é a maior parte dos poetas exaltados pelo "bando", chefiado por fim, isto é, precisamente a técnica empregada. Mas também o exame e
Giuseppe Ungaretti (que, entre outras coisas, escreve numa língua com- o julgamento do fato e da argumentação "original'', ou seja, da "origi-
pletamente ,1franccsada e imprópria) [4]. O movimento da Voce não nalidade" dos fatos (conceitos, conexões de pensamento) e dos temas,
podia criar artistas, ut sic, é evidente; mas, lutando por uma nova cul- são muito difíceis e complexos e requerem os mais amplos co~hcci­
tura, por un1 niodo novo de viver, promovia indiretamen te também a mentos históricos. Deve-se ver, no capítulo que Croce dedicou a Loria,
formação de temperamen tos artísticos originais, já que na vida tam- o seguinte critério: "Uma cois<l é trazer à luz unia ohscrvação incidental,
bém há arte. A "revolução silenciosa" de que fala Angioletti não pas- que depois se abandona sem desenvolver, e outra é estabelecer um
sou de nma série de confahuL1ções de botequim e de medíocres artigos princípio do qtL1l se cxtraír:1n1 <IS fcc11nJ;1s cnnsL'qi.1ê·ncins; 111na coisa é
de jornal cst;111JarJizaJos e Jl'. rcvistinhas provincianas. A caricatura enunciar u1n pensamento genérico e abstrato, e outra é pensá-lo real e
do "sacerdote da arte" n~10 é uma gr<lndc novidade, mesmo que se mude concretamen te; uma coisa, enfim, é inventar, e outra é repetir de se-
o ritual. gunda ou de terceira mã9 [6]." Apresentam-se casos extremos: o de
quem acha que j;1mais houve algo de novo sob o sol ~ que o mundo
§ 4. U111rt n1rlxinu1 de Rir•arol [5J. "Para elogiar um livro, não é de inteiro é como a aldeia, mesmo na esfera das idéias; e.o de quem, ao
modo alg11111 ncccss;í.rio c1bri-lo; mas, se se toma a decisão de criticá- contrário, encontra "originalida de" a todo momento e considera ori-
lo, é sempre prudente lê-lo. Pelo menos enquanto o autor estiver ginal qualquer ruminação por causa da saliva nova. O fundamento de
. ••• "
VIVO
toda atividade crítica 1 portanto, deve se btiscar na capacidade de des-
cobrir a distinção e as diferenças por baixo de toda superficial e apa-
§ 5. Alguns critérios de j11lga111e11to "literário". Um trabalho pode rente uniformidad e e semelhança, bem como a unidade essencial por
ser meritório: 1) Pnfque expõe nma nova descoberta que faz progredir baixo de toJo aparente e superficial contraste e diferenciação. (Que
uma dctern1inaJ,t ativída<lc cicntífics.. Mas não só a «originalidade" seja necessário, quando se julga um trabalho, levar em conta a finali-
absoluta é um mérito. Pode realmente ocorrer: 2) que fatos e temas já dade explicitamente proposta pelo autor não significa, certamente, que
conhecidos sejam escolhidos e dispostos segundo uma ordc:m, uma deva ser silenciada, desconhecida ou desvalorizada qualquer outra con-
conexão, um critério mais adequados e probatórios do que os anterio- tribuição real do autor, ainda que em oposição à finalidade proposta.
res. A estrutura (a e~onomia 1 a ordem) de um trabalho científico pode Que Cristóvão Colombo se propusesse ir "em busca do Grande Khan"

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não diminui o valor de sua víagem real e de suas reais descobertas para escolinhas artísticas e literárias senão manifestações de neolalismo cul-
a civilização européia.) tural? Nos períodos de crise, verificam-se as mais extensas e múltiplas
manifestações de neolalismo. A língua e as linguagens. Toda expressão
§ 6. Arte e cultura. Parece evidente que, para ser exílto, deve-se cultural, toda atividade moral e intelectual têm uma língua própria
falar de luta por uma "nova cultura" e não por uma "nova arte" (em historicamente determinada: esta língua é o que se chama também de
sentido imediato). T.1lvez nem sequer se possa dizer, para ser exato, "técnica" e também de "estrutura". Se um literato se pusesse a escre-
que se luta por um novo conteúdo da arte, .já que este não pode ser ver numa linguagem pessoalmente arbitrária (isto é, se se tornasse um
pensado abstratamente, separado da forma. Lutar por uma nova arte "neolálico" no sentido patológico da palavra) e fosse imitado por ou-
significaria lutar para criar novos artistas individuais, o que é absurdo, tros (cada um com uma linguagem arbitrária), chegaríamos a Babel.
já que é impossível criar artificialmente os artistas. Deve-se falar de Não experimentamos a mesma impressão no caso da linguagem (téc-
luta por uma nova cultura, isto é, por uma nova vida moral, que não nica) musical, pictórica, plástica, etc. (Este ponto deve ser meditado e
pode Jcixar de ser intírnam~ntc ligada a uma nova intui~·:10 da vida, aprofundado.) Do ponto de vista da história da cultura e, portanto,
até que esta se torne um novo modo de sentir e de ver <l realidade e, também da "criação" cultural (que não deve ser confundida com a cria-
conscqücntcmenre, munJo intimamente rclacion<lJo com os "artistas ção artística, mas deve ser aproxi1nada, ao contrário, das atividades
possíveis" e com as ''obras Je arte possíveis". Que n:io se poss:1m criar políticas, e, de fato, neste sentido, pode-se falar de uma ''política cul-
arrifi1..·ial111cntc artist.ls i11díYiJ11.1is, r•ort:H1to, 11:1u signii'i1..';1 que o novo tur,11"), cxistl' entre a arte litcr;'1ria e as Jc1nais forn1;1.s de expressão
munJo cu!tuL-11, pclu qt1;d se lur.1, suscitando paixões e 1..'<dur Jc hun1a- artística (figurativas, musicais, orquestrais, etc.) uma diferença que seria
nidade, n:io suscite ncccss;1riarnL·nre "novos artist:1s"; 011 scj<l, não se necessário definir e precisar-de modo teoricamente justificado e com-
pode afirmar que Fulano ou Beltrano se tornarão :--1rtísta:-; 1 mas pode-se preensível. A expressão ''verbal" tem um caráter estritamente nacio-
afinnar que do movimento 118.sccr:10 novos artistas. Urn novo grupo nal-popular-cultural: uma poesia de Goethe, no original, só pode ser
social que Ingressa na vida histórica com posturíl hcgcmônic-1 1 com umíl compreendida e revivida completamente por um alemão (ou por quem
segurJ.nça de si que antes 11:10 posSuía1 n;10 pode deixar de gerar, a partir se "alemanizou"). Dante só pode ser compreendido e revivido por um
de seu interior, persona!idade3 que, antes, não tcri,un encontrado for- italiano culto, etc. Uma estátua de Michelangelo, um trecho musical
ça suficiente para se expressar completamente num cerro sentido. de Verdi, um balé russo, um quadro de Rafael, etc., ao contrário, po-
Assim, não se pode dizer que se formará uma nova "aura poética", dem ser compreendidos quase imediatamente por qualquer cidadão do
segundo uma expressão que esteve em moda há. alguns anos. A "aura n1undo, mesmo de espírito não cosmopolita, mesmo se não superou o
poética" é apenas uma metáfora para expressar o conjunto dos artistas estreito círculo de uma província de seu país. Todavia, a coisa não é
já formados e revelados ou, pelo menos, o procc:;so iniciado e já con- tão simples como poderia parecer à primeira vista. A emoção artística
solidado de formação e revelação. experimentada por um japonês ou um lapão diante de uma estátua de
Michelangelo ou ao escutar uma melodia de Verdi é, por certo, uma
§ 7. Neolalismo. O neolalismo como manifestação patológica da emoção artística (o mesmo japonês ou lapão permaneceria insensível e
lingnagem (vocabulário) individnal. Mas não se pode empregar o ter- surdo se escutasse a declamação de uma poesia de Dante, de Goethe,
mo cm sentido mais geral, para indicar toda urna série <le manifesta- de Shelley, ou admiraria a arte do declamador como tal); todavia, a
ções culturais, artísticas, intelectu:lis? O que são tod:1s as escolas e emoção artística do japonês ou do lapão não terá a mesma intensi.dade

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e calor que a emoção de um italiano médio e, menos ainda, de um ita- ocupa um espaço maior na literatura, mas também aqui não como tra-
liano culto. Isto significa que, ao lado, ou melhor, abaixo da expressão balho e labuta, e sim os camponese s como "folclore" , como pitorescos
de caráter cosmopoli ta da linguagem musical, pictórica, etc., existe uma representa ntes de costumes e sentimento s curiosos e bizarros; por issoi
mais profunda substância cultural, mais restrita, mais "nacional- popu- a "campone sa" tem ainda mais espaço, com seus problemas sexuais em
lar". E isso não basta: os níveis desta linguagem são diversos; há um seu aspecto mais exterior e romântico , e porque a mulher, com sua
nível nacional-p opular (e freqüentem ente, antes deste, um nível pro- beleza, pode facilmente elevar-se às camadas sociais superiores .
vincial-dia letal-folclo rístico), depois o nível de uma determina da "ci: O trabalho do empregad o é fonte inesgotável de comicidad e: em
vilização" , que pode ser empiricam ente fixada pela tradição religiosa cada empregad o se vê o Oronzo E. Marginati do velho Travaso [7]. O
(por exemplo, cristã, mas diferencia da em católica, protestant e, orto- trabalho do intelectual ocupa pouco espaço, ou é apresentad o em sua
doxa, etc.), bem como, no mundo moderno, de uma determina da "cor- expressão de "heroísmo " e de "super-hum anismo'', com o efeito cô-
rente cultural-po lítica". Durante a guerra, por exemplo, um orador mico de que os escritores medíocres representa m "gênios" de sua pró-
inglês, francês, russo podia falar a um público italiano, em sua língua pria estatura, e, como se sabe, se um homem inteligente pode fingir-se
incompree ndida, das devastaçõe s praticadas pelos alemães na Bélgica; de tolo, um tolo não pode fingir-se de inteligente .
se o público simpatizav a com o orador, o público o escutava atenta- Decertoi ;ião se pode impor a uma ou a várias gerações de escri-
mente e o "seguia", pode-se dizer que o ''compreen dia". É verdade que, tores que tenham "simpatia" por este ou aquele aspecto da vida; mas
na oratória, a "palavra" não é o único elemento: há o gesto, o tom da que uma ou várias gerações de escritores tenham certos interesses in-
voz, etc., isto é, um elemento musical que comunica o tr,itn1.otiv do telectuais- e n1orais e não outros tem um significado , ou seja, indica
scntin1cnt o predo111in:1ntc, da paix:-10 principal, e 11111 cll'.111cnto orques- que uma certa orientação c11\t11r;11 prcdo1ni1L1 entre os intclcct11.lis.
tral: o gesto em sentido amplo, que cscande e articula a onda senti- Também o verismo italiano se diferenê:ia das correntes realistas de
mental e passional. , outros países na medida em que ou se limita a descrever a "bestiali-
Para estabelecer~ uma política cultural, estas observaçõ es são indis- dade" da chamada natureza humana (um verismo em sentido vulgar)
pensáveis; para urn~4 política de cultura das massas populares, são fun- ou dirige sua atenção p<-1ra a vida provinci;-1na e regional, pc1ra o que
damentais . Eis a razão atual do "sucesso" internacio nal do cinema e era a Itália real, em contraste com a Itália "moderna " oficial: não
' oferece representa ções valiosas do trabalho e da labuta. Para os inte-
antes, do melodram a e da música etn geral.
lectuais de tendência verista, a preocupaç ão dominante não foi (como
§ 8. Investigaç/iq das te11dê1r~:ias e dos iJ1teresses nzorais e intelectuais na França) estabelece r um contato com as massas populares já "nacio-
predo1niua}{/es enl;e os literatos. Por quais formas de atividade têm nalizadas'' etn scntiJo unitário, mas fornecer os elementos que reve-
"simpatia" os literatos italianos? Por que a atividade econômica , o tra- lavam não estar ainda unificada a Itália real; de resto, há diferença
balho como produção individual e de grupo, não lhes interessa? Se, entre o verismo dos escritores do Norte e do Sul (por exemplo, Ver-
nas obras de arte, é tratado um tema cconômico , o que interessa é o ga, em quem o sentiment o unitário era muito forte, como aparece na
momento da "direção", do "domínio" , do "comando " de um "herói" atitude assumida em 1920 em face do moviment o autonomis ta da
sobre os produtore s. Ou interessa a produção em geral, o trabalho Sicília Nuova) [8].
genérico como elemento genérico da vida e da potência nacional e, Mas 11~10 se trata só do fato de que os escritores não considerem
portanto, como motivo para vôos oratórios. A vida dos camponese s digna de tratamento épi.co a atividade produtiva, embora esta repre-

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sente toda a vida dos elementos ativos da população: quando se ocu- medida, simpatia e compreensão de suas necessidades e exigências. Ora,
pa1n dela, a atitude que assumem é a do Padre Bresciani. a ausência de uma literatura nacional-popular, devida à ausência de preo-
(Devem-se examinar os r~;;criros de Luigi Russo sobre Verga e SO· cupações e de interesse por estas necessidades e exigências, deixou o
bre G. C Abba.) G. C. Abba pode ser citàdo como exemplo italiano de "mercado" literário aberto à influência de grupos intelectuais de outros
escritor "nacional-popuL1r", aind;1 que nilo seja "popularcsco" e não países, os quais, "popular-nacion;üs" cm sua pátria, torna111-se o mesmo
fa~:a p<1rtc de ncnhun1r1 currcntc que critique, por n1otivos partidários na Itália, já que as exigências e necessidades que buscam satisfazer são
ou sectários, a posiçJo Jas cL1sscs dirigentes [9]. Devem·sc analisar não similares também na Itália. Assim, o povo italiano se apaixonou, através
apenas os escritos de J\bb;t gue têm valor poético) mas L1mbém os ou· do romance histórico-popular francês (e continua a se apaixonar, como
tros) como o dirigido ao~ soldados, que foi premiado pelas autorida· demonstram também os mais recentes catálogos das li~Tarias), pelas tra-
des governamentais e militares e divulgado durante algum tempo no dições francesas, monárquicas e revolucionárias, e coiihece mais a figu-
Exército. Na mesma direção, deve·se recordar o ensaio de Papini pn· ra popular de Henrique IV do que a de Garibaldi, mais a Revolução de
blicado cm La,:erba, ;lpl)s os eventos de junho de 1Y14. 1i1n1bém deve 1789 do que o IUso1giJnento 1 mais as ínvectivas de Vic"tor I-Iugo contra
ser destacada a posição de Alfredo Oriani 1 mas ela é demasiadamente Napoleão III do que as dos patriot<lS italianos contra Metternich; apai-
ctbstrat<l e rcróric;1, <ilént dL' dL't11rpad:1 por seu tir;111isn1n de gênio xona-se por 11111 p;1ss;1do qnc não é svu) scrvc·sc c1n Sll<I lingu;1gcm e em
incornprccnJido. I-Lí algo Jc not;ívcl na obra de Picro Jahicr (recordar seu pensan1cnto de n1ctúforas e dL rL-fcrênci;Js culturais fc1nccsas, etc., é
as simpatias de Jahicr por Proudhon), também de caráter popular-mi- culturalmente mais francês do que itali~.ino.
litar} mas maltemperada pelo esrílo bíblico e claudeliano do escriror, Para a orientação nacional-popular dada por De Sanctis à sua ati-
que freqüentcmente o torna irritante e menos eficaz já que n1ascara vidade crítica, deve-se ver a qbra de Luigi Russo, Francesco De Sanctis
uma forma esnobe de retórica [10]. (Toda a literatura do "super-regio- e la cultura napoletana,1860-1885, Ed. La Nuova Italia, 1928, e o
nalismo" deveria ser "nacional·popular" como programa, mas o é pre- ensaio de De Sanctis, "La scienza e la vita". Talvez se possa dizer que
cisan1ente por programa, o que a tornou uma manifestação deteriorada DeSanctis sentiu fortemente o contraste "Reforma-Renascimento", isto
da cultura: tainbém Longanesi deve ter escrito um livrinho para os é, precisamente o contraste entre vida e ciência que havia na tradição
recrutas, o que demonstra como as escassas tendências nacional-popu- italiana, como uma debilidade da estrutura nacional-estatal, e buscou
lares nascem, talvez mais do que de qualquer outra coisa, de preocupa- reagir contra ele. Eis por que, num certo ponto, ele se afasta do idea-
ções militares [ 11].) A preocupação nacional-popular na formulação do lismo especulativo e se aproxima do positivismo e do verismo (simpa-
problema crítico-estético e n1oral-cultural aparece de modo relevante tias por Zola, tal como Russo por Verga e Di Giacomo) [12]. Como
ern Luigi Russo (cujo opúsculo Narratori é preciso ver), como resulta· parece observar Russo em seu livro (cf. a resenha de G. Marzot, na
do de um ''retorno" às experiências de De Sanctis após o ponto de Nuova Italia de maio de 1932), "o segredo da eficácia de De Sanctis
cheg.1Ja do crocianismo. deve ser inteiramente buscado em sua espiritualidade dc1nocrática, que
Dcve·se observar que o brescianismo, no fundo, é individualismo o faz suspeitar e tornar-se inimigo de todo movimento ou pensamento
antiestatal e antinacional 1 mesmo quc1ndo e embora se mascare de nacio.· que assuma caráter absolutista e privilegiado[ ... ]; e na tendência e na
nalismo e estatismo frenético. "Estado" significa, em especial, direção necessidade de conceber o estudo como momento de uma atividade
consciente das grandes multidões nacionais; é necessário, portanto, um mais ampla, tanto espiritual como prática, contida na fórmula de seu
"contato" sentimental e ideológico com estas multidões e, em certa famoso discurso, 'La scienza e la vira'".

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CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 23

A antidemocracia nos escritores brescianos não tem nenhum signi- Ugo Ojetti e o romance Mio figlio ferroviere. Características gerais
ficado politicamente relevante e coerente; é o modo de oposição a da literatura de Ojetti e diversas atitudes "ideológicas" da figura. Escri-
qualquer forma de movimento nacional-popular, determinada pelo tos sobre Ojctti de Giovanni Ansaldo, que, de resto, assemelha-se a Ojctti
espírito econômico-corporativo de casta, de origem medieval e feudal. muito mais do que poderia parecer no passado. A manifestação mais
característica de Ugo Ojetti é sua carta aberta ao Pad~e Enrico Rosa,
§ 9. Os filhotes de Padre Bresciani. Exame de uma parcela substan- publicada no Pi!gaso e reproduzida na Civiltà Cattolica com comentário
tiva da literatura narrativa italiana, particularmente das últimas déca- de Rosa [14]. Ojetti, depois do anúncio da concilição ocorrida entre o
das. A pré-história do brescianismo moderno (do pós-guerra) pode ser Estado e a Igreja, não só estava convencido de que doravante todas as
identificada numa série de escritores como: Antonio Beltramelli (com manifestações intelectuais italianas seriam controíadas de acordo com
livros do tipo Gli uomini rossi, II cavalier Mostarda, etc.), Poli filo (Luca um estreito conformismo católico e clerical, mas já se adaptara a esta
Beltrami), com as diversas representações dos "habitantes de Casate idéia; dirigiu-se então ao Padre Rosa, com um estilo melosamente
Olona", etc. A literatura bastante extensa e difundida em certos ambi- adulatório das benemerências culturais da Companhia de Jesus, para
entes e que possui ~m caráter mais tecnicamente "de sacristia": é pouco solicitar uma "justa" liberdade artística. É impossível dizer, à luz dos
conhecida no ambiente cultural laico e não é absolutamente estudada. eventos subseqüentes (discurso do Chefe do Governo na Câmara), se
Seu caráter tendencioso e propagandístico é abertamente confessado: foi mais abjeta a prostração de Ojetti ou mais cômica a tranqüila audácia
trata-se de "boa literatura". Entre a literatura de sacristia e obres- do Padre Rosa, que, de qualquer modo, deu uma lição de caráter a Ojetti,
cianismo laico, situa-se uma corrente literária que se desenvolveu mui- certamente ao modo dos jesuítas [15]. Ojetti é representativo sob vários
pontos de vista: mas sua covardia intelectual supera toda medida norn1al.
to nos últimos anos (grupo católico florentino dirigido por Giovanni
Alfredo Panzini: já na pré-história com algumas passagens, por
Papini, etc.): um eXemplo típico dessa corrente são os romances de
exemplo, da Lanterna di Diogene (o episódio da "lívida espada" vale
Giuseppe Molteni. Um desses, I.:ateo, reflete o monstruoso escândalo
um poema de comicidade), depois com II padrone sono me, II mondo
Dom Riva-lrmã Fumagalli de uma maneira ainda mais monstruosa-
mente aberrante: Molteni chega a afirmar que, precisamente por sua
erotando e quase todos os seus livros a partir da guerra. Na Vita di
Cavour, existe uma referência precisamente ao Padre Bresciani, ver-
qualidade de padre obrigado ao celibato e à castidade, é necessário
dadeiramente espantosa se não fosse sintomática. Toda a literatura
perdoar Dom Riva (que violentou e infectou trinta meninas de pouca
pseudo-histórica de Panzini deve ser reexaminada do ponto de vista do
idade, que lhe foram oferecidas pela Irmã Fumagalli a fim de mantê-lo brescianismo laico. O episódio Croce-Panzini, referido na Critica, é um
"fiel"); e acredita que a esse massacre pode ser contraposto, como caso de jesuitismo não só literário, mas pessoal [16].
moralmente equivalente, o vulgar adultério de um advogado ateu. De Salvatore Gotta, pode-se dizer o que Carducci escreveu de
Molteni era muito conhecido no mundo literário católico: foi crítico Rapisardi: "Oremus no altar, e flatulências na sacristia [17]." Toda a
literário e articulista de toda uma série de cotidianos e periódicos ele· sua produção literária é bresciana.
ricais, entre os quais ltalia e Vilrz e Pcnsiero [13]. Margherita Sarfatti e seu romance II Palazzone [18]. Na resenha
O brescianismo assume uma certa importância no "laicato" literá- de Goffredo Bellonci publicada pela [ta(ia Letteraria de 23 de junho
rio do pós-guerra e vem se tornando cada vez mais a "escola" narrati- de 1929, lê-se: "[ ... ] de grande veracidade aquela timidez da virgem
va dominante e oficiosa. que se detém pudica, diante do leito matriP.1.onial, embora sinta que
1

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CADERNOS DO CÁRCE-RE CADERNO 23

'ele é benigno e acolhedor para as futuras justas amorosas'." Essa vir- esporádicas, mas endêmicas, de invasão das terras. Inteiramente diver-
gem pudica, que sente co1n as expressões técnicas dos novelistas licen- so é o movimento de 1919-1920, que é simultâneo e generalizado, e
ciosos, é impagável: a virgem Fiorella teria pressentido também os tem uma organização implícita nas associações de ex-combatentes su-
futuros ''muitos milhões" e seu "'castlCO de peles" bem escovado. Sobre listas. Em Gli emigranti, todas estas distinções históricas, essenciais para
a questão das "justas de amor", caberia fazer uma amena divagação: compreender e representar a vida do camponês, são anuladas e o con-
poderia ser recordado o lendário episódio sobre Dante e a pequena junto confuso se reflete de modo tosco, brutal, sem elaboração artísti-
meretriz, relatado na coletânea Papini (Carabba), para dizer que de ca. É evidente que Perri conhece o ambiente popular calabrês não de
"justas amorosas" pode falar o homem, não a mulher [19]. Caberia re- modo imediato, por experiência própria sentimental e psicológica,_ mas
cordar também a expressão do católico Chesterton, na Nova Jerusa· através de velhos esquemas regionalistas (e, se ele é o Albatrelli, deve-
lém, sobre a chave e a fechadura a respeito da luta entre os sexos, para se levar em conta suas origens políticas, mascaradas por pseudônimos,
dizer que o ponto de vista da chave não pode ser o da fechadura. (Deve- a fim de não perder, em 1924, o emprego que tinha no município ou
se observar como Goffrcdo Bellonci, que flerta prazerosamente com a na província de Milão). A ocupação de terras (a tentativa de ocupa-
erudição "preciosa" - barata- a fim de brilhar nos jornal ecos roma- ção) em Pandure nasce de "intelectuais", com uma base jurídica (nada
nos, acha '"verdadeiro" que uma virgem pense em justas de amor.) menos do que as leis subversivas de J. Murar), e termina em nada, como
Mario Sohrero, con1 o ro1nancc Pietro e Paolo, pode entrar no qua- se o fato (que, contudo, é vcrba\111cnrc apresentado con10 tuna emigra-
dro gcr~il do brcscia11is1110 por caus;1 do claro-escuro [20]. ção popular em massa) nem sequer tivesse tocado nos Mbitos de uma
Francesco Perri e o rom<1nce Gli em;granti. Este Pcrri não será o aldeia patriarcal (22). Frases puramente mecânicas. Assim também a
Paolo Albatrelli dos Conquistatori [21]? De qualquer modo, deve-se emigração. Esta aldeia de Pandure, com a família de Rocco Blefari, é
levar em conta também os Conquistatori. Em Gli etnigranti, o traço - para empregar a expressão de um outro calabrês de caráter tempe·
mais característico é a vulgaridade, mas não a vulgaridade do. principian- rado como o aço, Leonida Repaci - um pára-raios para todos os ma-
te ingênuo, que, neste caso, poderia ser o material bruto não elabora- les. Insistência sobre os erros da linguagem falada dos camponeses, que
do, mas que pode vir a sê-lo; trata-se de uma vulgaridade opaca, é típica do brescianismo, se não mesmo da imbecilid:tde literária em
materi;-il, não de primitivo, mas de ir~1becilizado pretensioso. Segundo geral. As '"caricaturas" (Galeoto, etc.) são lamentáveis, sem argúcia nem
Perri, seu romance seria "verista" e ele seria o iniciador de uma espé- hurnorismo. A ausência de historicidade é "desejada", com o objetivo
cie de neo-realismo. !\-1as pode hoje existir um verismo não historicista? de pôr no mesmo saco, caoticamente, todos os motivos folclóricos
O próprio verismo do século XIX foi, no fundo, uma continuação do gerais, que são na realidade bastante diferenciados no tempo e no es·
velho romance histórico no ambiente do historicismo moderno. Em paço.
Gli enligra11ti inexiste qualquer referência cronológica, o que é com-
1 Leonida RCpaci: em L'ulthno cirineo, deve-se desmontar o dispo-
preensível. Existem duas referências genéricas: uma ao fenômeno da sitivo armado de modo revolrnnte; deve-se ver I /rate/li Rupe, que se-
emigração meridional que teve um certo decurso histórico; e outra às
1 ríamos irmãos Repaci, os quais, ao que parece, foram comparados por
tentativas de invasão das terras senhoriais "usurpadas" ao povo, que alguém aos Cairoli [23 ].
também podem ser relacionadas a épocas bem determinadas. O fenô- Umberto Fracchia: deve-se ver, particularmente, Angela Maria.
meno migratório criou uma ideologia (o mito da América), que se opôs (No quadro geral, ocupam o primeiro lugar Ojctti, Beltramelli,
à velha ideologia à qual, antes da guerra, estavam ligadas as tentativas Panzini; nestes, o caráter jesuítico-retórico é mais evidente, e é mais

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importante o lugar que lhes é reservado nas avaliações literárias mais com os Bonaparte (cf. coleção da revista La Conquista dello Stato) [26].
correntes.) No primeiro pós-guerra, ostentou o nome estrangeiro. Pertenceu à
organização de Guglielmo Lucidi, que imitava o grupo francês de Clarté
§ 10. Duas gerações. A velha geração dos intelectuais fracassou, mas (de Henri Barbusse) e o grupo inglês do Controle democrático [27].
teve uma juventude (Papini, Prczzolini, Soffici, etc.). A atual geração Na coleção da revista de Lucidi, intitulada Rassegna (o Rivista) Inter-
não tem sequer esta' fase de brilhantes promessas (Titta Rosa, Angioletti, nazionale, publicou um livro de guerra, La rivolta dei santi maledetti,
Malaparte, etc.). Asnos irrecuperáveis, desde pequenos [24]. uma exaltação da suposta atitude derrotista dos soldados italianos em
Caporetto, brescianamente corrigida em sentido contrário na edição
§ 11. G. Papini. Tornou-se o "autor pio" da Civiltà Cattolica [25]. '
1
subseqüente e, depois, retirada do comércio. A característica prepon-
derante de Suckert é um arrivismo desenfreado, uma desmedida vai-
§ 12. A. Panzinj. Na Italia che scrive de junho de 1929, Fernando dade e um esnobismo camaleônico: para ter sucesso, Suckert era capaz
Palazzi, resenhandd I giorni dei sole e de! grano de Panzini, observa: de qualquer perfídia. Seus livros sobre a !ta/ia barbara e sua exaltação
"[... ] sobretudo se ocupa e se preocupa com a vida campestre como da Contra-Reforma: nada sério e nada que não seja superficial [28].
dela se pode ocupar um patrão que quer estar tranqüilo sobre as capa- Sobre a exibição do nome estrangeiro (que em certo momento se
cidades laborais das bestas de trabalho que possui, tanto as quadrúpedes chocou com as referências a um racismo e populismo de farsante e,
como as bípedes, e que, quando olha para um campo cultivado, pensa por isso, foi substituído pelo pseudônimo, no 'lual Kurt- Conrado -
imediat:imcntc se a colheita será aquela que espera." Em suma, Panzini é latinizado cm Curzio), deve-se notar uma corrente bastante difundi-
senhor de escravos. da entre certos intelectuais italiano~ do tipo "n1oralistas" ou moraliza-
dores: eles crnn1 levados a acreditar q11c, no exterior, ~s pessoas eram
§ 13. Leonida Répaci. Em sua novela "autobiográfica" Crepuscolo mais honestas, mais capazes e mais inteligentes do que na Itália. Esta
(Fiera Lettemria, 3 de março de 1929), escreve: "Já naquela época eu ''mania pelo estrangeiro" assumia formas tediosas e por vezes repng-
alinhava dentro de mim, fortificando-as a cada dia com as mais ínti- nantes em tipos invertebrados, como Graziadei, n1as era mais difundi-
mas raízes do instinto, aquelas belas qualidades que mais tarde, nos da do que se crê e dava lugar a revoltantes poses esnobes; deve-se
anos futuros, teriam feito de mim uma fábrica de infortúnios: o amor recordar o breve colóquio com Giuseppe Prezzolini, em Roma, em
pelos vencidos, ofendidos, humilhados, o desprezo pelo perigo diante 1924, e sua desconsolada exclamação: "Deveria ter conseguido a tem-
da justa causa, a independência do caráter que evidencia a retidão, o po para meus filhos a nacionalidade inglesa!" ou algo similar [29]. Este
louco orgulho que esbraveja até mesmo em face do fracasso", etc., etc. estado de espírito não parece ter sido característico apenas de alguns
Quantas belas qualidades perderia depois Leonida Repaci! Ao contrá- grupos intelectuais italianos, mas parece ter ocorrido, em determina-
rio, parece que, desde sua mais tenra infância, para obter um elogio das épocas de envilecimento moral, também em outros países. De qual-
literário do Corriere della Sera, Repaci passaria até mesmo por sobre o quer modo, além de ser uma estupidez, é um índice importante de
corpo da mãe. ausência de espírito nacional-popular. Confunde-se todo um povo com
algumas de suas camadas corrompidas, particularmente da _pequena
§ 14. Curzio Ma/aparte. Seu verdadeiro nome é Kurt Erich Suckert, burguesia (de resto, tais senhores, eles próprios, pertencem essencial-
... italianizado por volta de 1924 para Mal aparte, graças a um trocadilho mente a tais camadas), a qual, nos países essencialmente agrícolas, atra-

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CADERNOS DO CÁRCERE C A D ERN O 23

sados culturalmente e pobres, é muito difundida e pode ser compara- polti conta que, quando em 1906 se pensou na Suécia cm conceder o
da ao htJnpen-proletariat das cidades industriais. A camorra e a máfia Prêmio Nobel a Giosue Carducci, nasceu a forte dúvida de que um tal
são apenas formas similares de uma tal delinqüência, que vive para- atestado de admiraçr10 ao cantor de s~1tanás pudesse suscitar escândalo
sitando os grandes proprietários e o campesinato. Os moralizadores entre os católicos. Em conseqüência, foram solicitadas informações a
caem no mais tolo pessimismo, já que suas prédicas deixam as coisas Crispolti, que as deu por carta e num colóquio com o embaixador sue-
tais como estão. Os tipos como Prezzolini, em vez de admitirem sua co em Roma, De Bildt. As infonn::1i;ões de Crispolti foram favoráveis.
própria incapacidade orgânica, consideram mais cômodo concluir que Assim, o P~êmío Nobel concedido a Carducci se deveria a ninguém
todo um povo é inferior1 pelo que nada mais resta a fazer salvo acomo- menos do que a Filippo Crispolri [32].
dar-se: "Viva a Alcm,u1hã, viva a França, contanto que se encha a pan-
ça." Estes homens, ainda que por ve~es alardeiem um nacionalismo dos § 18. ':'\rte católica". Edoardo Fenu, num artigo "Domande su
mãis exacerbados, devcri<lm ser registrados pela polícia entre os ele- un'arte cattolica", publicado no l\vveuire d'Italia e resumido na Fiera
mentos capdzcs de espionar contra seu próprio país. Letteraria de 15 de janeiro de 1928, condena "em quase todos os es-
1
critores católicos" o tom apologético. "Ora, a defesa(!) da fé deve de-
§ 15. Lgo Ojetti. Procur;1r o juízo duro e mordaz sobre ele formu- correr dos fatos, do processo crítiL'.O (!) t n;1t11r:1l do reLtto, isto é, deve
lado por Carcl11cci [30].
ser, n11111zoni;1nan1entc, a 'subs1:!11L-i:l' LL1 própri;1 arte. (~evidente(!)
que um escritor verdadeirameútc (!) católico jamais baterá a cabeça
§ 16. G. Papini. G. P8.pini, quando queria levar os filisteus italia-
contra as paredes opacas(!) da hcrcsi~1, moral ou religiosa. Um católi-
nos ;) lo11cuL1, cn1 1912-1913, escreveu em Lacerba o artigo "Gcsü
co, pelo simples fato(!) de sê-lo, j<\ está investido(!) (de fora?) daquele
Pecc1torc", sofística colctr1nca de episódios e de ..::onjct11ras forçadas
espírito sirnplcs e: profun<lo que, 1r.111:-.f1111dindu-sc nas p;íginas de uma
cxtr:1íd;1s Jos I~vangcl hos <lpócri fos. Ao que parece, ele sofreu uma ação
narrativa ou de uma poesia, fará de sua arte(!) unia arte sin1ples, sere-
judicial por causa deste artigo, o que muito o surpreendeu. Afirmara
na, de modo algum pedante. Portanto (!), é perfeitamente inútil ten-
como plausível e provjvcl <I hipótese de rcL1çõcs homossexuais entre
tar, a cada página, fazer-nos con1preendcr que o i::scritor tem uma
Jesus e ]0:10. Em seu artigo sobre o ''Cristo romano", no volume Gli
estrada 8. nos indicar, uma luz a nos iluminar. A arte c1tólica deverá(!)
operai della vigna 1 com os niesmos procedimentos c~íticos e o mesmo
pôr-se em condições de ser, ela 1nesma1 aquela estrada e aquela luz,
"vigor" intelectual, afirn1ou que César é um precursor de Cristo, que a
sem perder-se no lixo (só baratas tontas podem se perder no lixo) dos
Providência fez nascer cn1 Roma para preparar o terreno ao cristianis-
sermões inúteis e das advertências ociosas." (Em literatura),[ ... ] "com
mo. Nu:n terceíro período, f: provável que Papini, emprega.ndo as ge-
niais iltirninaçõcs críticas que caracterizam A. Loria, termine por exceção de alguns homens, como Pc1pini, Giuliotti e, cn1 certo sentido,
concluir sobre a rcL-i_:;:ío necessária entre o cristianismo e a inversão também l\.1anacorda, o balanço é· quase Lilirncntar. Escolas? ... ne
sextul [31]. verbum quidern. Escritores? Sim, corn muita generosidade podem sur-
gir alguns n0111es, mas que dificuldade! A não ser que se queira rotular
§ 17. Fi/ippo Crispo/ti. Num artigo publicado no Momento de ju- Gotta de católico, ou qualificar Gcnnari de romancistJ., ou aplaudir
nho de 1928 (primeira quinzena, ao que parece, já que republicado aquela imensa caterva de perfurnados e enfeitados escritores e escrito-
pa.rcL1lmente pela Fiera Letterariil depois deste pcríodo) 1 Filippo Cris- ras para senhoriras [33]".

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CADERN OS DO CÁRCER E
CADERN O 23

Muitas contradi ções, impropr iedades e ingenuid ades tolas no artigo pio de Manzon i pode servir de prova: quantos artigos sobre Manzon i a
de Fenu. Mas a conclus ão implícit a é justa: o catolicis mo é estéril para a
Civiltà Cattolica publicou , em seus oitenta e quatro anos de vida, e
arte, isto é, não existem e não podem existir ('almas simples e sinceras" quantos sobre Dante? Na realidade, os católicos mais ortodox os des:on-
que sejam escritore s cultos e artistas refinado s e disciplinados. O catoli- fiam de Manzon i e falam dele o menos que podem; por certo, nao o
cismo se tornou, pi-lra os intelectuais, algo muito difícil, que não pode
analisam como analisam Dante e alguns outros [34 ].
dispensar, mesmo em seu íntimo, u!na apologi a minucio sa e pedante . O
fato já é antigo: remonta ao Concílio de Trento e à Contra- Reform a § 19. Tonnnaso Gnllarati Scotti. Em sua colctfinea de novelas Storie
"Escrever", depois disso, tornou-s e perigoso, particula rmente sobre coisas dell'Am or Sacro e dell'Am or Profano, deve-se recorda r o relato no qual
e sentime ntos religiosos. Desde então, a Igreja adotou um duplo pa- se fala do corpo de uma prostitu ta sarracen a, levado para a Itilia me-
râmetro para medir a ortodox ia: ser "católic o" tornou-s e, ao mesmo ridional por um barão cruzado e que é adorado pela populaç ão como
tempo, algo facílimo e dificílimo. É facílimo para o povo, ao qual não se a relíquia de uma santa: são espanto sas as conside rações de Gall~ratt
exige mais do que ' 4 crer" generica mente e obedece r às prúticas do culto: Scotti, embora ele tenha sido um "modern ista" antijesu ítico [35]. 1udo
nenhum a luta efetiva e eficaz contra a superstição, contra os desvios in- isso depois da novela boccacc iana de Frade Cipolla e do ro.mance do
telectua is e morais, contant o que não sejam "teoriza dos". Na realidade, portugu ês Eça de Queiroz , A relíquia, traduzid o por L. S1cd1arn ,(Ed.
um campon ês católico pode ser intclcctuc1l,mente de modo inconscien- Rocco c,1rabb;1, Lancian o), que é Uffi<l <lcriV<l~:10 do C1polla bocc<lCC
1
l:JilÜ
te, protesta nte, ortodox o, idólatra : basta dizer que é "católic o". Tam- [361- Os bollandist;ts s:ío respeitáveis, pelo menos porque contribu í-
bén1 aos intclcctn ais não se exige 11111ito 1 se eles se linlitare111 i'is prúticas Lln1 para extirpar certas raízes de snpcrsti~·:"10 (:linda que suas pcsqu1-
exterior es do culto; nc1n sequer se exige que crci;11n, n1:1s s(1 que n:ío
s;is pcrni;t!ll\'.1111 circ11nscrít;1s a 11111 L·írcnlo 11111ito rcs1rito e sirv;un
<lêc1111n:n1 l'Xcn1p!o1 11cgligc11cia11dn <ls "s;1cran1cntos", partic11larn1cntc sobretu do p;1r;1 convenc er os intcJcçtn ;lis de qnc a Tgrcj;1 combate a~
os n1ais vi.síveis c sobre os quais sc cxcrcc o controle popular : o batismo, falsificações histórica s); o esteticis mo jesuítico -folclór ico de Gallarãt t
o matrimô nio, os funerais (o viático, etc.). Dificílimo, ao contrári o, é ser Scotti é revoltan te [3 7]. Deve-se recorda r o diálogo mencion ado nas
ativo intelectu al '~católico" e artista "católic o" (particu larment e roman- Men·iórias de W Stced, entre um jovem protesta nte e um cardeal, ares-
cista, mas também poeta), pois se exige uma tal bagagem de noções so- peito de São Genaro; bem como a notinha de B. Croce a uma carta de
bre encíclicas, contra-e ncíclica s, breves, cartas apostóli cas, etc., e os
G. Sorel, a respeito de uma conversa de Croce com um padre napolita no
desvios da orientaç ão ortodox a eclesiástica têm sido na história tantos e sobre 0 sangue de São Genaro (ao que parece, existem em Nápoles
tão sutis, que é facílimo cair na heresia. ou na meia heresia ou em um outros três ou quatro sangues que fervem "milagr osamen te'\ mas qu:
quarto de heresia. O genuíno sentime nto religioso tornou-s e infecundo: não são "explor ados" para não desacre ditar o de São Genar~, que e
deve-se ser doutriná rio para poder escrever "ortodo xamente ". Por isso, popular íssimo) [38]. A figura literária de Gallara n Scorti inclui-se sub-
na arte, a religião não é mais um sentime nto originár io: é um motivo,
repticia mentc entre os filhotes do Padre Bresc1an1.
um tema,. E a Iiteratpr a católica pode ter PadresBresciani ou Ugos Mioni,
não pode mais tcr'.-·um São Francisc o, um Passavanti, um Tomás de § 20. Ade/chi Baratono [39]. Escreveu, no segundo número da re-
Kempis; pode ser "militân cia", propaga nda, agitação, não mais pode ser vista Glossa peremie (dirigid a então por Raffa Garzia·e que começo u a
efusão ingênua de fé incontes tada, mas de uma fé que é posta em ques-
ser publica da em 1928-19 29), um artigo, "Novec entismo ", que deve
tão até mesmo no íntimo dos que são sinceram ente católicos. O exem- ser muito rico de temas "~açantes". Entre outros: "A arte e a literatu-

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CADERNOS o·o CÁRC~RE CADERNO 23

ra de uma época só podem e devem ser(!) as que correspondem à vida plesmente um cartesiano. Mas o senhor, caro Mal aparte, é apenas um
(!)e ao gosto da épocai e todas as recriminações, além de ndo servirem patriota."
para mudar sua inspirJção e sua forma, seriam ra1nbén1 contrári8.s ,1 Assim, para Malaparte, até mesmo Herriot é um revolucionário,
todo critério(!) histórico c 1 como tal, justo(?) de julgan1cnto." pelo menos sob certos aspecto.s, e então torna-se ainda mais difícil
lvlas a vi<la e o gosto Jc un1;1 época silo ali;u 111u11ulíticu, ou, ao co1nprcc11Jcr o que significa "rcvolucionúrio", tanto para Malaparte
contrário, algo pleno de contradições? E, sendo assirn, co1no se esta- como em geral. Se, na linguagen1 co1num de certos grupos políticos,
belece a "correspondência"? O período do Riscrgi1111u1to era "cor- "revolucionário" estava assumindo cad;J vez mais o significado de
respondido" por Berchet ou pelo Padre Bresciani [40]? r\ recriminação "ativista", de "intervencionista", de "voluntarista", de '"'dinâmico", é
queixosa e moralista seria certamente tola, mas pode-se criticar e jul- difícil dizer como Herriot possa ser qualificado como tal; e por isso,
gar sem chorar. De Sanctis foi um firme defensor da revol uçdo nacio- com ironia, I-Ierriot respondeu que era um "cartesiano". Parece que,
nal, mas soube julgar brilhanten1ente não só Guerrazzi, mas também para Mal aparte, pode-se entender que "revolucionário" tornou-se um
Bresciani. O agnosticismo de Baratono não é mais do que covardia cumprimento, como outrora ''cavalheiro", ou ''grande cavalheiro", ou
moral e cívica. Se fosse verdade que um juízo de valor sobre os con .. "verdadeiro cavalheiro". Também isto é brescianismo: após 1848, os
tc1nporr1ncos é in1possívcl por falL1 Jc objctiviJaJc e Jc universalida- jesuítas se a11to-intituL1vam os "vcrJadciros liberais" e cha1navam os
de, a crítica deveria fcch~tr as port;1s; m~1s lt1ratono rcoriza ctpL·nas Sll<l liberais de libertinos e dcmagogos.
própria inc1pacidadc csrética e filosófica e sua própria covdrdia.
§ 23. Giovanni Ansa/do. Num lugarziuho à parte, na rubrica dos
§ 21. M11dd1ilend SilHforo: I~'11ntore ili (orti, ron1:1ncc, Bcinporad, "Filhotes do Padre Bresciani", deve ser também inserido Giovanni
1928 (ultrabresciano). Ansaldo. Deve-se recordar seu diletantismo político-literário que, em
determinado período, levou-o a Jcfcn<lcr a necessidade de "estar en-
§ 22. Curzio Maltlpllrte. Veri na Ita!it1 Letter11ria de 3 Jc janeiro de tre poucos", de constituir uma '"aristocracia": sua atitude era mais um
1932, o artigo de M.1L1parte: "Analisi cinica dell'Europa". Nos últimos esnobismo banal do que expressão de uma firme convicção ético-polí-
dias de 1931 1 na sede da École de la Paix em Paris, o ex-primeiro-mi- tica, era um modo de fazer literatura "diferente", como a que se faz
nistro Herriot pronunciou um discurso sobre os n1elhorcs meios de em ambíguas igrejinhas literárias. Assim, Ansaldo tornou-se a "Estrela
organiz<tr •1 paz .européi a [4 11. i\pós llcrri ot, L1l ou l\Ltl ;ip<trtc refutan- Negra" do Lauoro, estrela com cincõ pontas, que não deve ser confun-
do~o: '"1\ssim como L1mb[n1 o scnhor1 sob Cf:rtos <lspecros (sic), é uni dida com aquela que, nosProblenú de! Lavara, serve para indicar Franz
revolucionário - cu disse cn rre 011 rras coisas à I· Icrri ot (cs1._-rcvc Mal a- Weiss e que tem seis pontas (que 1\nsaldo mantenha suas cinco pontas
parte cn1 seu ;trtigo) - , penso que estcj;l cn1 condi\·õcs de con1precn- é algo que pode ser visto no Ai111111uicco delle Muse de 1':131, seção
der que o problema da p:u deveria ser considerado n:-10 apcn;1s <lo ponto genovesa; o Almanacco delle Muse foi publicado pela "Alleanza dei
de vistc1 do pcicifisrno :lL':tdl'rnico, n1;1s t:1111bén1 Jc urn ponto de vista Libra") [42]. ParaAnsaldo, tudo torna-se elegância cultural e literária:
revolucionário. Somente o •.:spírito patriótico e o espírito revolucioná- a erudição, a precisão, o óleo de rícino) o porrete, o punhal; a moral
rio (se é verdade, como é verdade, no fascismo por excn1p!o, que um não é seriedade moral, mas elegância, cravo na lapela. Também esta
não exclui o outro) p0Jc1n '.-iUgcrir os meios de asscgura.r a paz euro- atitude é jesuítica, é uma forma de culto do próprio particular na or-
péia. - Ndo sou um rcvolucion:irio, respondcu-1nc I-IL-rrior; sou sim- dem da inteligência, uma exterioridade típica de sepulcro caiado. De

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resto, como esquecer que precisamente os jesuítas foram sempre mes- 1915, uma robusta consciência nacional-;oopular, que teve ocasião de
tres de "elegância" (jesuítica) de estilo e de língua? se manifestar no tormento da guerra, consciê~cia formada pela tradi-
ção liberal-democrática; e, portanto, propõe mostrar como absurda toda
§ 24. Giuseppe Prezzolini. Artigo de Prezzolini, "Monti, Pellico, pretensão de profunda regeneração neste sentido no pós-guerra. É outra
Manzoni, Foscolo veduti da viaggiatori americani", publicado noPega.-:o questão saber se Omodeo conseguiu cumprir sua tarefa de crítico. De
(di Ojetti) de maio de 1932. Prezzolini menciona uma passagem do resto, Omodeo tem uma concepção muito estreita e mesquinha do que
crítico de arte americano H. Y. Tuckermann (The Italian Sketch-Book, é nacional-popular, concepção cujas origens culturais são facilmente
1848, p. 123): "Na Itália, alguns jovens liberais revelam-se bastante identificáveis; ele é um epígono da tradição moderada, acrescida de
desiludidos porque um deles, que estava para se tornar um mártir de um certo tom democrático (ou melhor, populista), que não sabe liber-
sua causa, preferiu tornar-se devoto, e manifestam mal-estar porque tar-se de fortes traços "bourbonizantes". Na realidade, a questão de
ele resolveu empregar sua pena para escrever hinos católicos e odes uma consciência nacional-popular nr10 se apresenta para Omodeo como
religiosas [43]." E comenta: "O despeito que os mais raivosos manifes- questão de un1a íntima ligação de solídaricdaJc Jcmocnítica entre in-
tavam por não ter encontrado em Pellico um instrumento de pequena telectuais-dirigentes e massas populares, mas como questão interior das
polêmica política é figurado nessas 'observações'." Trata-se de um consciências individuais que atingiram um determinado nível de no-
mistério "profano" da mentalidade bresciana saber por que estaríamos bre desinteresse nacional e de espírito de sacrifício. Estamos ainda,
diante de mesquinho "despeito" e por que, antes de 1848, a polêmica portanto, naquele ponto de exalta~ão do "voluntJ.rismo" moral e da
contra as perseguições austríacas e clericais devia ser "pequena". concepção de elites que se esgotam em si mes1nas e não se põem o
problema de ser organicamente ligadas às grandes massas nacionais.
§ 25. l~íleratura de guerra. Q1ic reflexos teve a tendência "brcs- 2) A literatura de guerra propriamente dita, isto é,· produzida por
cianista" na literatura <lc guerra? A guerra obrigou os diver!>OS estratos escritores "profissionais" que escreviam para ser publicados, obteve na
sociais a se aproximarem, a se conhecerem, a se avaliarem reciproca- Itália um êxito desigual. Logo após o armistício, foi muito es..:assa e de
mente, no comum •sofrimento e na comum resistência sob formas de
1
pouco valor; buscou sua fonte de inspiração noFeu de Barbusse. É muito
vida excepcionais.;que determinavam uma maior sinceridade e uma interessante estudar II diario di guerra, de B. Mussolini, a fim de nele
maior aproximação à humanidade "biologicamente" entendida. O que encontrar as pegadas da série de pensamentos políticos, verdadeira-
os literatos aprenderam com a guerra? E, de modo geral, o que apren- mente nacional-populares, que haviam formado, anos ântes, no plano
deram com a guerra aquelas camadas das quais normalmente surgem, das idéias, a substância do movimento que teve como manifestação
em maior número, os escritores e os intelectuais? Duas linhas de inves- culminante o processo sobre a matança de Roccagorga e os ever.tos de
tigação devem ser ~eguidas: 1) A que se refere ao estrato social, a qual junho de 1914 [45]. Ocorreu, posteriormente, uma segunda onda de
já foi explorada em'muitos de seus aspectos pelo Prot Adolfo Omodeo, literatura de guerra, que coincidiu com um movimento europeu no
na série de capítulosMomenti de/la vila di guerra. Dai diari e dalle lettm mesmo sentido, produzido após o sucesso internacional do livro de
dei caduti, publicados na Critica e depois reunidos em volume [44]. A Remarque e com o propósito predominante de combater a mentalida-
coletânea de Omodeo apresenta um material já selecionado, segundo de pacifista à maneira de Remarque [46]. Esta literatura é de modo
uma tendência que se pode chamar até mesmo de nacional-popular, já geral medíocre, seja como arte, seja como nível cultural, isto é, como
que Omodeo se propõe implicitamente demonstrar como existia, já em criação prática de "massas de sentimentos e de emoções" a serem im-

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li
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postas ao povo. Grande parte desta literatura insere-se perfeitamen te servar que o "Repaci Leonida" carece de qualquer fantasia inventiva,
no tipo "bresciano". Exemplo característic o é o livro de Curzio Ma- para não falar criadora; tem apenas uma certa disposição medíocre para
laparte, La rivolta dei Slfnti ntaledetti> que já foi mencionado . Deve-se ampliar mecanicame nte (por agregação, por inflação) por "sincre-
ver qual foi a contribui1·:io a esta literatura do grupo de escritores que tismo") a série de pequenos Li.tos "dram;íticos " en1 tcnn menor, que
costunLt ser ch,u11;1Jo Jc uoi:ú1110 e que, jú <tntcs Jc 1914, trabalhava> caracterizam o anedotário da m;1iori;1 Jas fa1nílias pequeno-bur guesas
em concordant~ discordúncia, pãra elaborar uma consciência nacional- italianas (sobretudo sulistas) neste início de século, e que caracteriza-
popular moderna. Os melhores livros desse grupo foram escritos por ram também a família Rêpaci, assumida por Leonida como substância
seus autores "menores", como Giani Stuparich (47]. Os livros de Arden- mitológica da própria "escrita". Esse processo de inchamento mecâni-
go Soffici são intiman1ente repugnantes , por causa de umc1 nova forma co pode ser demonstrad o analiticamen te. E, de resto, é uma estranha
de b:lixa r.::rér:ca pior do que a tn1Jicional. É necessária uma resenha mitologia a de Repaci, privada de humanidade séria e pudica de si
d<-t litcratura de gucrLt ll<l rubrica sobre o brescianismo. mesma, privada de dignidade, de decoro, para não falar de grandeza
ética. O impudor de putinha de baixo-nível é a característica de Leonida
§ 26. Leonida Ri:[JdCi, Saiu o primeiro volume de um romance dito diante de seus familiares. O Ultinio Cireneo, com as repugnantes cenas
"cíclico" de Leonida Rép,1ci, 1 /rc11elli R11pe :Milão, Ccschina, 1932, das agitações obscenas de seu irm:10 Ciccio, tornado impotente não por
15 liras), que, cm sc11 conjnnto, dc:vcria representar o dt.:scnvolvimen- inva]i<lcz dl' guerra, TTI<lS por C;\IJS,\S físiu]{)gil':IS taJVt.:Z Jl' urigclll sjfiJí-
tu J.1 \'Í1.L1 iLdiana, nus ~~rin1c1ros trinta anos Jcstt.: século, visto üpartir tÍCa (Ciccio não chegou à frente Jc con1bate e suas proez;1s militares
dd Calábria (no prefacio, Répaci aprcsenra o plano da obra). Além do s;'10 as de Lconida, que foi corajoso e dcstenlido :1ntcs dt.: ;1cov:1rdar-sc
riJíL·ulu llH..Jr~tl Ju títul,)i 1..-;1bL- perguntar se a Ca!úbria teve nessa época na vaidade litcrúri<1), 1nosrra Je que tê111pcra é a humanidade de Leonida
uma função nacional representativ a e, de modo geral, se a província (também nos Fratelli Rupe há um impotente), o qual, pode-se dizer, é
teve na Itália un1a fun~;jo progressista ou qualquer outra funi;ão, como, capaz de se entristecer porque em sua fan1ília não houve um incesto
por exemplo, a de dirigir um movimento qualquer no país, de selecio- que lhe permitisse escrever um ron1ance onde dissesse que os "Rupe"
nar os dirigentes, de ventilar o ambiente fechado, rarefeito ou corrup- conheceram todas as tragédias, até mesmo as de Fedra e de Édipo.
to dos grandes centros urbanos da vida nacional. Na realidade, no que
se refere aos dirigentes, a provínci::-1 (e, particularme nte, no Sul) era § 27. Arnaldo Fr11teili. É o crítico literário da Tribuna{; pertence
muito mais corrupta do que o Centro (no Sul, as massas populares à estirpe inrclcctual dos Forges, que esteriliza a terra oudc pisa (49].
exigiam dirigentes do Norte para seus institutos econômicos) ; e, com Escreveu um romance, Capogiro (;\1il3.o, Bompiani, 1932). Frateili:
muita frcqüência, os provincianos que se urbanizavam trazian1 um novo apresenta-se à fantasia tal como aparece numa caricatura-r etrato
tipo de corrupção, sob a forma da rabulice mesquinha e da mania de publicada pela Italia Letteraria: uma cara de tolo pretensioso com
baixas intrigas. Um caractt:rístico exemplo disso fon1m precisament e uma gatinha no nariz. Frateili cheira rapé? Estará gripado? Por que
os irmãos Repaci, que emigraram de Palmi para Turim e Milão. Os ir- aquela gatinha? Trata-se de um erro "zincogr8.fic o"? De um traço de
mãos H.upe, é evidente, são os irn1ãos 1.ZCpaci; n1as, se se excetua
lápis n;10 progr;1n1ado? ~'fas por guc, então, o desenhista n:to apagou
Mariano, onde está o caráter rupestre dos outros, de Ciccio e de
a gotinha? Angustiante s problemas: os únicos que surgem a propósi-
Leonída? O caráter '"abjeto e gelatinoso" predomina, com o ridículo
to de Frateili.
moral de pretender-se "rocha", nada menos que isso [48]. Deve-se ob-

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§ 28. Literatura de guerra. Ver o cap. IX, "Guerre et littérature", Um momento da crise é representad o pela carta escrita em 1923
do volume de B. Crémieux sobre a Littérature italienne (Ed. Kra, 1928, a P. Gobetti, "Per una società degli Apoti", republicada no livrinho
p. 243 e ss.) [50]. Para Crémieux, a literatura italiana de guerra assina- Mi pare ... Prezzolini sente que sua posição de "espectador " é "um
la uma descoberta do povo pelos literatos. Como Crémieux exagera! pouco, um pouquinho (!) covarde". "Não seria nosso dever tomar
O capítulo, contudo, é interessante e deve ser relido. De resto, tam- partido? Não há algo de tedioso(!), de antipático(! ), de triste(!) no
bém a América foi descoberta pelo italiano Colombo e colonizada por espetáculo destes jovens[... ] que estão quase todos fora da luta, olhan-
espanhóis e anglo-saxões.
do os combatentes e apenas se perguntando como e por que são da-
dos os golpes?" Encontra uma solução, muito cômoda: "Nossa tarefa,
§ 29. Novecentismo de Bontempeili. O manifesto escrito por Bon- , nossa utilidade no presente momento e também [... ] nos próprios
tempelli para a revista 900 é simplesmente o artigo de G. Prezzolini "Viva embates que agora dividem e têm eficácia, no próprio esforço atra-
!'artificio!'', publicado em 1915 e reimpresso nas p. 51 e ss. da coletânea
Mi pare... (Fiume, Ed Delta, 1925) [51]. Bontempelli não fez mais do que
1 vés do qual se prepara o mundo de amanhã, só podem ser aqueles
aos quais nos dedican1os, ou seja, o de esclarecer idéias, de dcst;1car
desenvolver e debilitar, mecanizando-os, uma série de temas contidos no valores, de salvar, acima das lutas, um patrimônio ideal, a fim de que
artigo de Prezzolini. A comédia Nostra Dea, de 1925, é uma extensão ele possa voltar a frutificar no futuro." O modo de ver a situação é
mecânica das palavras de Prezzolini impressas na p. 56 de Mi pare... Devc- espantoso: "O momento que atravcssarno s é de tal modo crédulo(!),
se observar que o 'artigo de Prezzolini é muito ruim e pedante: deixa fanático, partidário, que um fermento de crítica, um elemento de
transparecer o esforço feito pelo autor, depois da experiência de Lacerba, pensamento (!), u1n n(1cleo de pessoas que olhe acima dos interesses
para se tornc1r m;lis «Jcvr e hrilhante''. ()que poderia ser exprcs.._o;;o nnrn sô pode fazer ben1. Nitl) cst<llllos vendo tonL1n:n1~sc cegos n111itos Jus
epigrama é n1;1stigaJo e insalivado com muitos trejeitos entediantes. melhores? 1 Ioje, tudo é aceito pelas massas (mas não era a mesma
Bontempelli imita a ruindade, multiplicando-a. Em Prezzolini, um epigrama coisa na época da guerra líbíca? E, malgrado isso, Prezzolini não se
torna-se um artigo;'j°m Bontempelli, um volume. limitou, então, a propor uma Sociedade de Abstémios!) : o documen-
to falso, a lenda grosseira, a superstição primitiva são aceitas sem
§ 30. Novecentistas e s11per-regio11a/istas. O Barroco e a Arcádia exame, de olhos fechados, e propostas como remédio material e es-
adaptados aos tempos modernos. (O sempre presente Mal aparte, que piritual. E quantos dos líderes têm como programa explícito a escra-
foi redator-chef e do 900 de Bontempelli , tornou-se pouco depois vidão do espírito como remédio para os cansados, como refúgio para
0
''chefe da escola" dos super-region alistas e a vespa que dá ferroadas os desesperado s, como panacéia para os políticos, como calmante para
em Bontempelli .)
os exasperados ! Poderemos nos intitular a Congregaçã o dos Abstê-
mios, 'd:1queles que não bebem', a tal ponto são evidentes e manifes-
§ 31. Prezznli11i. II Godice de//,1 Vila ila/ir111a (Ed. "La Voce", Flo- tos por toda a parte não só o hábito, mas tambérn a vontade geral de
rença, 1921) conclui o período originário e original da atividade de beber tudo isso."
Prezzolini, do escritor moralista sempre em campanha para renovar e Uma afirmação de singular jesuitismo sofístico: "É necessário que
modernizar a cultura italiana. Imediatame nte depois Prezzolini "entra uma minoria, capaz disso, sacrifique-se se for preciso e rehuncie a muitos
em crise", com altos e baixos curio~íssimos, até embarcar na corrente sucessos exteriores, sacrifique até mesmo o desejo de. sacrifício e de
tradicional e louvar o que havia vituperado. heroísmo (!), não diria para ir precisament e contra a corrente, mas

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estabelecendo um ponto só li do a partir do qu·al será retomado o movi- quiavel em mangas de camisa e não em vestes solenes [55]. Um outro
mento para a frente"i etc., etc. ataque a Panzini pode ser lido na Nuoua !ta/ia daquela época: afirma-
Diferença entre Prt:ZJ.olini e Gobetti; ver se a c-irta teve resposta e se que a Vila di Cavour é escrita con10 se Cavour fosse Pinóquio!
qual [52]. Nem se pode dizer que o estilo de PanziniJ em seus escritos de his-
tória) seja "agradável e dramático": trata-se, ao contrário, de um estilo
§ 32. Alfredo Pmzzini. A Vila di Cavour de Panzini foi publicada em farsesco, e a hisrória é apresentada como uma "piada" de caixeiro via-
capítulos na Italia Letternria, nos números de 9 de junho a 13 de outu- jante ou de farmacêutico do interior. O farmacêutico é Panzini e seus
bro de 1929, e foi republicada (revista e corrigida? Seria interessante fregueses são outros tantos Panzini que se regalam com sua própria tola
um exame mínucioso, se isso valesse a pena) pelo editor Mondadori, estupidez.
num volume da coleção "Scie", com enorme atraso [53]. Na Jtalia Todavia, a Vita di Cavour tem alguma utilidade: é uma espantosa
Letteraria de 30 de junho, com o título "Chiarimento" , foi publicada coletânea de lugares-comuns sobre o Risorgimento e um documento
uma carta enviada por Panzini, com data de 27 de junho de 1929, ao de primeira ordem do jesuitismo literário de Panzini. Exemplo: "Um
diretor de II Resto dei Carlino. Panzini, com estilo seco e intimamente escritor inglês chamou a história da unidade da Itália a mais romanes-
alarmado, lamenta um comentário picante, publicado pelo jornal ca história dos tempos modernos." (Panzini, além de criar lugares-co-
holon liL~S qt 1:1ndo dJ 1)11bl il·;i,-:io d11 sL·g1111do ..:~1pít 11 lo dL" sv11 t'SLTi t<\ qul' n111ns par:1 os t1:1nas dL· que tr;Ita, L·111pl'11h;1-sc 1111Iiro pac1 rL·colhcr todos
era considcr;1do un1 '",1graJ~·1Ycl Jivcrtimt'nto" e "'coisa trivia!". Panzini os lugares-comuns que, sobre o 111cs1110 terna, fora1n postos cm circu-
responde cm estilo tclcgr;íficÔ: '"Ncnh11111a intcnç:lo de escrever bio- la~ão por outros escritores, sobretudo estrangeiros, sem perceber que
grafid ao modo romanesco francês. Minha intenç:io era escrever en1 em muitos casos, como neste, está implícito um juízo "'difamatório"
estilo agradável e dramático, mas tudo documentado (correspondên- sobre o povo italiano: Panzini deve ter feito um fichário especial de
cia Nigra - Cavour)." (Como se a única documentação sobre a vida lugares-comuns para condimentar oportunamente seus próprios escri-
de Cavour fosse essa correspondência!) Além disso, Panzini busca se tos.) "O rei Vítor nascera com a espada e sem medo: terríveis bigodes,
defender, bastante mal, do fato de ter mencionado uma forma de dita- um grande cavanhaque. Agradavam-lhe as belas mulheres e a música
dura própria de Cavour, "humana", que poderia parecer elipticamente· dos canhões. Um grande rei."
un1 j11ízo crítico sobre outras fonnas de ditadura: pode-se imaginar o Este lugar-comum, esta oleografia de Vítor Emanuel, típica de
pavor de Panzini ao pisar sobre estas brasas incandescentes [54]. O botequim, deve ser relacionada com outra, sobre a "tradição" militar
episódio tem um certo significado) já que mostra como muitos começa~ do Piemonte e de sua aristocracia. Na realidade, faltou ao Piemonte,
ram a perceber que esses escritos pseudonacionais e patrióticos de precisamente, uma "tradição" militar no sentido não burocrático da
Panzini são fastidiosos, insinceros e deixam o jogo à mostra. A imbeci- palavra, ou seja, faltou uma "continuidade" do pessoal militar de pri-
lidade e a inépcia de Panzini em face da história são incomensuráveis: meiro escalão; e isso se manifestou precisamente nas guerras do Risor-
sua escrita é um puro e infantil jogo de palavras, encoberto por uma gimento, nas quais não se revelou nenhuma personalidade (salvo no
espécie de ironia tola, que deveria fazer crer na existência de uma pro- campo garibaldino), mas, ao contrário, afloraram muitas deficiências
fundidade que ninguém sabe qual é, como aquela que certos campone- internas gravíssimas. No Piemonte, existia uma tradição militar "po-
ses expressam em seu ingênuo modo de falar. Historiador à Bertoldo! pular"; de sua população, era sempre possível extrair um bom exérci-
Na verdade, é uma forma de stenterellismo que assume o ar de ~1a- to; surgiam de tanto em tanto quadros militares de primeira ordem,

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como Emanuele Filiberto, Cario Emanuele, etc., mas faltou precisa- "As mulheres? Bem, as mulheres. Sobre esse assunto, ele (Cavour)
mente uma tradição, uma continuidade na aristocracia, na alta oficia- concordava bastante com seu rei, embora também ni.sso houvesse al-
lidade. A situação foi agravada pela Restauração: a prova disso ocorreu guma diferença. O Rei Vítor não era difícil de contentar, como o po-
em 1848, quando não se sabia o que fazer para encontrar um chefe deria atestar a bela Rosina, que foi depois Condessa de Mirafiori"; e
para o Exército. Depois de se ter inutilmente solicitado um general à continua neste mesmo tom até lembrar que os p;:-opósitos galantes(!)
França, terminou-se por admitir um bobalhão qualquer vindo da do rei, fazendo a corte às Tuglierí (sic), eram tão audaciosos "que to-
Polônia. As qualidades guerreiras de Vítor Emanuel II consistiam so- das as damas ficaram amavelmente (!) aterrorizadas. Aquele forte e
mente numa certa jcoragcm pessoal, que é de supor que fosse muito magnífico rei n1ontanhês!". (Panzini se refere aos episódios contados
rar~ na Itáli~,. já q~F tanto se insistiu em destacá-la. O mesmo se diga por Paléologue, mas que diferença de estilo! Paléologue, apesar do tema
do cavalhe1r1smo ; deve-se supor que, na Itália, a maioria esmagado- escabroso, conserva o tom do cavalheiro cortesão: Panzini não sabe
ra era formada por velhacos, já que ser cavalheiro tornou-se motivo de evitar a linguagem de cafetão vulgar, de mercador de prostitutas [58].)
distinção. Sobre Vítor Emanuel II, deve-se recordar o episódio recor- "Cavour era bem mais refinado. Mas ambos eram cavalheiros e, ousa-
dado por F. Martini em seu livro póstumo de memórias (Ed. Treves). ria dizer, românticos(!)." "Massimo D'Azeglio [... ]como cavalheiro
Martini conta que, 'klepois da tomada de Roma, Vítor Emanuel disse delicado que era... "
que lhe desagradav,1 o fato de niío ter nada da pi1' (para pilhar): e isso, A rcfcrDncia de r,1nzini 1 da qual se f,1Ja 11;1 p. 37 e que <1tr:ii11 os
para quem contava o episódio {creio que Q. Sella), parecia demonstrar raios ... ameaçadores de II Resto dei Carlino, está contida na segunda
que não teria havido na história 11n1 rei 1nais conquistador do que Vítor parte da Vitrr di Cavour, na edição d;1 Italú1 l.e!IP-raria {nú1nero de 16
En1a11utl. L)o episúdiu, talvez se pnJcssc Jar un1a explicação mais ter- de j1111IH l}i <· V<ilc :1 pt'11;1 cit:'1~L1 p1 >r(p1c rei ;Í ~i,l(i c111Lx:l.1tL1 <li! 1111 illifi-
ra-a-terra, ligada à concepção do Estado patrimonial e aos diferentes cada na edição Mondadori: "[Cavour] não precisava assumir atitudes
v.alores da lista civil [56]. Além do mais, cabe lembrar a correspondên- específicas. Mas, em certos momentos, devia aparecer como maravi-
cia de Massimo D'Azeglio publicada por Bollea no Bollettino Storico lhoso e terrível. O aspecto da grandeza humana é capaz de induzir nos
Suba/pino, bem como o conflito entre Vítor Emanuel e Quintino Sella outros obediência e terror; e esta é uma ditadura mais forte do que
sobre questões econômicas [57]. aquela que consiste em assumir várias pastas no ministério [59]."
O que espanta muito, de resto, é que se insista tanto sobre os epi- Parece incrível que uma tal frase tenha podido escapar ao pávido
sódios "galantes" da vida de Vítor Emanuel, como se eles fossem capa- Panzini e é natural que II Resto dei Carlino o tenha repreendido. Pela
zes de tornar a figura do rei mais popular: fala-se de altos funcionários resposta de Panzini, pode-se explicar o infortúnio: "Quanto a '.=crtas
e de oficiais que se dirigiam às casas de camponeses para convencê-los estocadas contra a ditadura, talvez tenha sido um erro confiar nos co-
a mandar suas filhas para que se dcit.-isscm com o rei por dinheiro. Se nhecimentos históricos do leitor. Cavo1.1r, em 1859, reivindicou (?!)
pensarmos bem, é espantoso que tais coisas sejam contadas, acreditan- poderes diL1toriais assun1indo vúrios niinist{':rios, entre os quais o da
do-se que fortalecem a admiração popular. Guerra, com grande(!?) escândalo da então quase virgem constitu-
"[ ... ]O Piemonte[ ... ] tem uma tradição guerreira, tem uma nobre- cionalidade. Não foi essa forma material de ditadura que induziu à
za guerreira." Seria possível observar que Napoleão III, dada a "tradi- obediência, mas a ditadura d:1 grandeza humana de Cavour." Parece
ção" guerreira de sua família, ocupou-se de ciência militar e escreveu evidente que o objetivo de Panzini era bajulador, mas sua inocência
livros que, ao que parece, não eram muito ruins para sua época. política {e, portanto, histórica) deu-lhe uma rasteira e transformou a

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bajulação servil nun1 trejeito equívoco. Ni?io se pode falar de ditadura to? Não conheço punhais(!), 111~1s ouvi dizer que esse r.:ra um punhal
no caso de Cavour, n1cT1os ,linda em 1859; de rcsro 1 ess,1 foi uma debi· dos carbon{lfios, confiado a qucn1 ingressava na tenebrosa seita", etc.
lidddc no desenvolvi 111c11Io (Ll gncrra e na posiçilo dos piemonteses no (Panzini deve ter sido sernpre obcccrtdo por punhais: len1brar a "lívida
seio d<l ali.1nça C0\11 N~1polc:10. s;-\!_) conhccid~1s <lS opin10cs de Cavour lâmina" da f.,11ttlerna di Diogene [61 J. '[dvcz tc:nha sido envolvido por
sobre a ditadura e sobre <I funç~lo Jo Parlan1cnto 1 opiniõ1.__·s subre as quais acaso em algun1 tu1nulto na 1Zo111;1nh<1 e tenha entã.o se deparado com
Panzini 1ncdrosamentc se cala 1 embora certamente nüo fosse perigoso um par de olhos :imeaçador: daí as "lívidas lâminas" que trespassam o
falar delas. O curioso é que, mais adiante, o próprio Panzini mostra coração, etc.)
como Cavour tinha sido posto à margem do desenvolvi1nento da guer· "E quem quer ver como a seitJ dos carbonários assume o aspecto
ra e, embora fo~se nlinistro da Guerra, não recebia nem sequer os bo· de Belzebu deve ler o romance L'Evreo diVero11a, de Antonio Bresciani;
letins do Exército. Par~1 un1 ditador, nJ.da mal. Cavour não conseguiu terá então ocasião de se divertir (!) rnuito, mesmo porque, a despeito
nem tnesmo fazer valer suas prerrogativas constitucionais como chefe do que dizem os modernos (mas De Sanctis era contemporâneo de
do Governo (as quais, de resto, não eram contempladas no Estatuto) e Bresciani), aquele padre jesuíta foi um poderoso narrador [62]." (Essa
disso resultou seu conflito com o rei depois do armistício de Villafranca. passagem poderia servir como epígrafe ao ensaio sobre "Os filhotes
Nc1 vcrJaJL:, n:lo foi a política de C.1vour a ser continuad;1 pela guerra do Padre Bresciani": ela se encontíil na terceira parte da Vila di Cavour,
de 1859, mas uma mi>tura das veleidades políticas de Hipolcão e das edição da /trilia Lettemria, n. de 23 de junho de 1929.)
tv11dt~'1ll:i;h ,d1.-,ol111i~1;1:-.1li1,:111u11tvs;1s, personificadas pcl!J rei t· por 11111 ~ruJa l'ssa \ 1il11 di (~'11uuur l· u111,1 1,0111b:1ria l·o111 a li1s1(Jri.1. Se as vi-
grupo de generais. Repetiu-se a situação de 1848-1849.·E, se não hou- das romanceadas são a forma atual da literatura histórica amena do
ve desastre militar, isso se deveu à presença do Exército francês: rnas o tipo Alexandre Dumas, A. Panzini é o Ponson du Terrail do quadro.
resulraJo J,-l situação política foi igualmente grave, já que Napoleão Panzini quer mostrar, Je modo t;10 ostentatório, que "sabe muito" so-
teve na aliança uma hegemonia ilimítada, enquanto coube ao Piemonte bre o espírito e a natureza dos hon1ens, que é um sujeito extraordinaria-
uma posiç:10 bastante subordinada [60]. mente esperto, um realista tão desencantado da tenebrosa perversidade
"[ ... ]A guerra do Oriente, uma coisa excessivamente complicada, do gênero humano e especialmente dos políticos, que, depois de tê-lo
que se omite aqui para manter a clareza da exposição." (Afirmação lido, vem o desejo de refugiar-se em Condorcet e em Bernardin de Saint-
imp<lgávcl para um historiador: afirma-se que Cavour foi um gênio Pierre, os quais, pelo menos, não foram tão trivialmente filisteus [63].
político, etc., m8.s a <~firmação jamais se torna dcmonstrJ.ção e repre· Nenhuma conexão histórica é reconstruída à luz de uma personalida-
se11t<1t;ão concreta. O significado da participação picmontesa na Guer· de: a história se torna uma seqüência de hisrorinhas pouco divertidas
ra da Criméia e da capacidade política de Cavour, ao tê-la desejado, é já que insalivadas por Panzini, sem conexão nem com individualidades
"omitido" por "clarczi".) O perfil de Napoleão III é abusivamente tri- heróicas nem com outras forças sociais. Panzini revela verdadeiramen-
vial: não se busca explicar por que Napoleão colaborou com Cavour te uma nova forma de jesuitismo, muito mais acentuada do que se pen-
(as citações de apoio deveriam ser abundantes: será preciso rever o li· sava lendo a Vda publicada em partes. Ao lugar-comum da "nobreza
vro ou os números dà Italia Letteraria). guerreira e não de salão", podem·se contrapor os juízos que Panzini,
''No museu ilapolcônico em Rcín1a, há um precioso punhal com de tanto em tanto, formula sobre generais específicos, como La Mar-
uma lâmina que pode u·cspclssar o coração" (ao que parece, não se tra- mora e Dei la Rocca, freqüentemente com expressões de escárnio. trivial-
ta de um punhal qualquer'). "Pode esse punhal servir como documen- mente espirituoso: "Della Rocca é um guerreiro. Em Custoza, 1866,

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não brilhará por e~cessivo valor, mas é um obstinado guerreiro e, por quer outra consideraçiío). Mas Panzini quer abordar muita coisa ao
isso, será duro corri. os boletins. n (Trata-se, precisamente, de u1na frase mesmo te1npo e não consegue dizer nada de sensato: ele tampouco sabe
de "demagogo". Ddla Rocca não queria mais mandar os boletins do o que é uma revolução e quem são os revolucionií.rios. Todos foram
Estado-Maior para Cavour, que havia registrado sua má redação lite- grandes, revolucionários, etc., assim como no escuro todos os gatos
rária, com a qual colaborava o rei.) Outras alusões deste tipo em rela- são pardos.
ção a La Marmora e a Cialdini (embora Cialdini não fosse piemontês); Na Italia Lettemria de 2 de junho de 1929, publica-se uma entre-
jamais é referido o rome de um general piemontês que tenha de algum vista de Panzini com Antonio Bruers, "Come e perché Alfredo Panzini
modo brilhado; outra menção a Pcrsano [64]. ha scritto un;1 Vit(l di Cauo11r". Nela se diz que o prórrio Bruers indu-
Não se compreende precisamente o que Panzinj quis escrever co1n ziu Panzini a escrever o livro, "de modo que o público pudesse ter fi-
esta Vita di Cavour, já que não se trata certamente de urna vida de nalmente um 'Cavour' italiano, depois de ter tido um Cavour alemão,
Cavour nem de uma biografia do homem Cavour, nem de um perfil do um inglês e um francês". Na entrevista, Panzini diz que sua Vita "não é
político Cavour. Na verdade, do livro de Panzini, Cavour, homem e uma monografia no sentido histórico-científico da palavra; é um perfil
político, sai bastante estropiado e reduzido às proporções de Gianduia: destinado não aos eruditos, aos 'especialistas', mas ao grande público"
sua figura não tem nenhum relevo concreto porque, para dar um rele- (ou seja, quinquilharias para negros). Panzini está convencido de que,
vo, não bastam certamente as jaculatórias que Panzini continuamente cm seu livro, há partes originais e, ~specificamente, o fato de ter dado
repete: herói, soberbo, gênio, etc. [65] Es;es juízos, não sendo justifi- importância ao atentado de Orsini para explicar a atitude de Napoleão
cados (e, por isso, trata-se de jaculatórias), poderiam até mesmo pare- III; segundo Panzini, Napoleão III, quando jovem, teria feito parte do
CC'r ironias se nJo se compreendesse que <l n1cdid;1 US;Ida ror Pnnzini n1ovi 111e111 n , !os ,·;1rhn11:'1íios1 "cnm o qi 1,1! se co111pn )111ete11, ('1npcn h:111-
para julgar o hcroís1no, a grandeza, o gênio, etc., é pura e simplesmen- do sua honra(!), o futuro soberano da França" [66]. Orsini, mandatá-
te sua medida pessoal, ou seja, a genialidade, a grandeza, o heroísmo rio do movimento dos carbonários (que já não existia há muito tempo),
do Sr. Alfredo Panzini. Do mesmo modo e pela mesma razão, Panzini reria recordado a Napoleão III seu compromisso e, portanto, etc. (Pre-
se excede em ver a ação do dedo de deus, do destino, da providência, cisamente um romance à Ponson du Terrail; Orsini 1 se é que um dia fez
nos eventos do Risorgimento; trata-se da concepção vulgar da "boa parte dos carbonários, já devia ter esquecido o movimento há muito
estrela" condimentada com palavras de tragédia grega e de padre jesuíta, tempo na época do atentado; a repressão que promoveu em 1848, nas
mas nem por isso menos trivial. Na realidade, a estúpida insistência no Marcas, voltava-se precisamente contra os velhos carbonários; e, além
"elemento extra-humano", bem como a imbecilidade histórica, signi- disso, depois de ter abandonado o movimento dos carbonários e, tal
ficam diminuir a função do esforço italiano, que desempenhou, apesar corno outros revolucionários, aderido à '"Jovem Itália" e ao mazzinismo,
de tudo, uma parte não insignificante nos eventos. O que poderia sig- Orsini também rompeu com Mazzini.) As razões da atitude pessoal de
nificar que a revolução italiana foi um evento milagroso? Que, entre o Napoleão em face de Orsini (que, de qualquer modo, foi guilhotina-
fator nacional e o internacional do evento, foi o internacional que teve do) talvez se expliquem de modo banal, ou seja, pelo medo do cúmpli-
o peso maior e criou dificuldades que pareciam insuperáveis. Foi isso ce que escapou e que podia cometer novo atentado; também a grande
mesmo que ocorreu? Então, seria preciso dizê-lo; e, neste caso, talvez seriedade de Orsini, que não era um exaltado qualquer, deve ter se
a grandeza de Cavpur se destacasse ainda mais e seu "heroísmo" se imposto e demonstrado que o ódio dos íevolucionários italianos por
apresentasse mais 41aramente como digno de exaltação (à parte qual- Napoleão n;10 era uma ninharia: seria preciso fazer esquecer a queda

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da República Romana e buscdr destruir a opinião difusa de que Na- homem de Guicciardi11i do qual fala De Sanais), etc. [69] Minhas fon-
poleão fosse o maior inimigo da unidade da Itália. De resto, Panzini tes são a experiência da vida política transcorrida em Bolonha, que é a
esquece (por "clareza") que houvera a Guerra da Criméia e a orienta- cidade politicamente mais suscetível e sutil da Itália (meu pai era polí-
ção geral pró-italiana de Napoleão (o qual, porém, sendo conserva- tico, deputado liberal conservador) (o iuízo de Bacchelli sobre a Bolo-
dor, não devia agradar aos revolucionários); tanto assim que o atentado nha política é essencúzbnente justo, nuzs 1uio para o povo e sim para as
pareceu desfazer a trama já montada. Toda a hipótese de Panzini ba- classes possuidoras e intelectuais, coligadas contra o canipo irrequieto
seia-se no fato de ter visto o punhal que trespassava o coração e na e violento de um modo elementar; em Bolonha, vivem num estado per-
hipótese de que esse punhal fosse um instrumento dos carbonários: um nianente de pânico social, coni n1edo de unia jacquerie, e o tenior agu-
romance à Ponson e nada mais. ça o ouvido político), as recordações de alguns dos últimos sobreviventes
da época da Internacional anarquista (conheci um que foi camarada e
§ 33. Riccardo Bacchelli. II diavolo ai Pontel1111go (Ed. Ceschina, cúmplice de Bakunin nos eventos de Bolonha de 1874), e, no que toca
Miliío). Este romance Jc Bacchelli foi traduzido para o inglês por Orlo aos livros, sobretudo o capítulo do Prof. Ettore Zoccoli, e1n seu livro
Williams, e a Fiem Lelteraria de 27 de janeiro de 1929 reproduz a in- sobre a anarquia, e os cadernos de Bakunin editados pelo historiador
trodução de Williams i\ sua tradução [67]. Williams nota que II diavolo austríaco do movimento anarquista, Nettlau, em sua raríssima biogra-
ai Pontelullf.[O "é urn dos poucos rornances VCTt..LidL:iros, 111) .c.l:11rido qtH: fia p11blic1d.1 cn1 poucos c.:xcn1pL1rcs. () fr;1ncl·s (1'ra, pun;,,,, s11íi;o) J;1n1cs
dan1us n.1 lngL1tcrra ~tu tcr1110 'ro111:1ncc'"; 111as 11:10 dcst.11:;1 u L1to (e1n- (;uilL-111111c trata també111 de Bak1111in e C;1ficro cm sua obra sobre a
bora fale do outro livro J1.: B;1cchclli, /_.o sa il tonnu) Jc qtic B;1cchelli é lntcrnacion;il 1 que nüo conheço, n1;1s d;i qu;1l creio afastar-1nc cn1 vários
uni dos poucos c~critcrcs it~1lianos l]UC poJcrn ser cha111,1Jus de "1no- pontos importantes [70]. Esta obra fez parte(!) Jc uma posterior polê-
ralistas" no sentido ingJês e francês (n.~cordc1r que B;1cch1._,l)i foi colabo- mica sobre a Baronatta, de Lucarno, da qual nJo me ocupei (1nas esta
rador da Voce e assumiu até mesmo a direção da revista Juranre algum polênzica ilunzinou o caráter de B1tk11nin e, portanto, suas relaçõés com
ten1po 1 na JusC:ncia de Prezzolini); ao contrúrio, chan1,1-o Je nliso1u1eur, C11/i.ero!) [71]. ·Irata-se de coisas mesquinhas e de questões de dinhei-
de poett1 erudito: r1tiso11J1e11 r 110 scn ri Jo Ji.: que, n1u i ru fri._'qücn rc1ncnte, ro (puxa uid(1!). Creio que I--Ierzcn, cm suas n1emórias 1 . escreveu as
interrompe a ação do Jrarna com comentários sobre as n1otivações das palavras mais justas e mais humanas acerca da personalidade incons-
ações humanas em geral. (Lo sa il tonno é o livro típico de Bacchelli tante, inquieta e confusa de Bakunin. Marx, como não era raro, foi
"moralista" e não parece muito bc1n realizado.) Nun1a c1rta cl \\lillian1s, apenas cáustico e injurioso. Em su1na, creio que lhe posso dizer que o
citada na introdução, Bacchclli dá as seguintes inforn1ações sobre o livro se funda numa base conceitua] substancialmente histórica. Como
Diavolo: "Em linhas gerais(!), o material é estritanzente (!) histórico, e com que sentimento artístico fui capaz de desenvolver este material
tanto na primeira como na segunda parte. São históricos(!) os prota- europeu(!) e representativo, eis um tema que não me cabe julgar." (II
gonistas, como Bakunin, Cafiero, Costa [68]. Na compreensão da época, diavolo ai Pontelungo deve ser posto ao lado de Pietro e Paolo, de
das idéias e dos fatos, busquei ser historiador em sentido estrito: Sobrero, por causa das ambigüidades, no ensaio sobre os "filhotes do
revolucionarismo cosmopolita, primórdios da vida política do Reino Pêidre Bresciani": de resto, em Bacchelli, há muito brescianismo, não
d,1 It:1lia, qualidade do socialismo italiano em seus inícios, psicologia só político-social, mas também litcrúrio: a Ronda foi urna manifesta-
política do povo italiano e seu irânico bom senso, seu maquiavelismo ção de jesuitismo artístico.)
instintivo e realista (seria ntelhor dizer g1úcciardínisnto, no sentido do

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!~ ]'

§ 34. Jahier, Raimondi e Proudhon. Artigo de Giuseppe Raimondi, homens evolui e se aperfeiçoa cada vez mais, em nome do trabalho e
"Rione Bolognina", na Fiera Letteraria de 17 de junho de 1928. Tem de seus interesses. Em mim, a admiração por Proudhon é sobretudo
como epígrafe o seguinte mote de P-roudhon: ''A. pobreza é boa e deve- sentimental, instintiva, como um afeto e um respeito, q:ue herdei, que
mos considerá-la como o princípio de nossa alegria [72]." O artigo é me foram transmitidas ao nascer. Em J ahier, é toda intelectual, deriva-
uma espécie de manifesto "ideológico-autobiográfico" e termina com da do estudo e, por isso (!), profundíssima."
as seguintes frases: "Como todo operário, sempre senti com clareza a Este Sr. Giuseppe Raimondi era um discreto poseur com sua "admi-
divisão das classes sociais. Infelizmente (sic), permanecerei entre os que ração herdada"; encontrara um dos infinitos modos de distinguir-se
trabalham. Do outro lado, há aqueles que posso respeitar, pelos quais no seio da juventude literária moderna; mas, há algum tempoi já não
posso até experimentar sincera gratidão (!); mas algo me impede de se ouve mais falar dele. (Bolonhês: colabora com L. Longanesi no Ita-
chorar (!) com eles e não consigo abraçá-los espontaneamente (!). Ou liano, depois é desafiado de modo violento e depreciativo por Lon-
me submetem (!) ou os desprezo." (Um belo modo de apresentar uma ganesi, rondista.)
forma superior de dignidade operária!) "Foi sempre nos subúrbios onde
se fizeram as revoluções; e em nenhum lugar o povo é tão jovem, tão § 35. Escritores "tecnicamente" católicos. É notável a escassez de
liberto de qualquer tradição, tão disposto a seguir um imprevisto mo- escritores católicos na Itália, escassez que tem alguma razão de ser no
vimento de paixão Coletiva como no subúrbio, que já não é cidade e fato de que a religião está separada da vida militante em todas as suas
ainda não é campo. [... ]A partir daqui terminará por nascer uma nova manifestações. Entendemos por "escritores" aqueles que possuem uma
civilização, bem co:110 u1n<1 histôria que terá aquele sentido de revolta certa digniJadc intelectual e que produzcn1 obr~L'> de arte (dr<lma, poe-
e de rcabilit;1ção secular próprio Jos povos que tão-somente a mon1l sia, romance). Já se n1cncionou Gallarati Scotti por u1n traço c1r;1ctc-
da época moderna fez reconhecer como dignos. Disso se falará como rístico das Storie dell'Amor Sacro e dell'Amor Profano, que têm uma
hoje se fala do Risorgimento italiano e da Independência americana. O sua dignidade artística mas têm cheiro de modernismo [73]. Paolo Arcari
operário tem gostos simples: instrui-se com as edições semanais das (mais conhecido como escritor de ensaios literários e políticos e que,
Scoperte delle scienze e da Storia delle Crociate: sua mentalidade será de resto, foi diretor da revista liberal J;Azione Liberale de Milão, mas
sempre aquela um pouco atéia e garibaldina dos círculos suburbanos e que escreveu alguns romances). Luciano Gennari (que escreve em fran-
das Universidades Populares. (... ] Deix~m-no em paz com seus defei- cês). Não é possível uma comparação entre a atividade artística dos
tos, poupem-no de suas ironias. O povo não sabe gracejar. Sua modés- católicos franceses (e sua estatura literária) e a dos italianos. Crispolti
tia é verdadeira, assil11 como sua fé no futuro." (Muito oleográfico, mas escreveu um romance de propaganda, II duello. Na realidade, o cato-
bastante à moda doí pior Proudhon, também no tom axiomático e pe- licismo italíano é estéril no campo literário, bem como nos demais
remptóri o.) campos da cultura (cf. Missiroli, Date 11 Cesore ... ). Maria di Borio (re-
Na Italia Letteraria de 21 de junho de 1929, o mesmo Raimondi cordar o episódio típico de Di Bor.io durante a confe~ência da indiana
fala de sua deferente amizade por Piero Jahier e das conversas entre Arcandamaia sobre o valor das religiões, etc.). O grupo florentino do
ambos: "[... ] fala-me de Proudhon, de sua grandeza e de sua modéstia, Frontespizio, dirigido por Papini, desenvolve uma atividade literário-
da influência que süas idéias exerceram no mundo moderno, da im- católica extremista, o que é mais uma prova do indiferentismo do es-
portância que essas '·idéias assumiram num mundo regido pelo traba- trato intelectual em face da concepção religiosa [74].
lho socialmente organizado, num mundo onde a consciência dos

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li
§ 36. Critérios de método. Seria absurdo pretender que, a cada ano, não passa de uma manifestação, mais ou menos bem organizada, com 1!
ou mesmo de dez em dez anos, a literatura de um país produza obras maiores ou menores elementos de fraude, deste serviço de "indicação" 1
como Os noivos ou Os sepulcros, etc. [75]. Precisamente por isto 1 a coletiva da crítica literária militante.
atividade crítica normal não pode deixar de ter um caráter preponde· Deve-se notar que, em certos períodos históricos, a atividade prá-
1
i\
rantcmcnre "cult11ral" e ser uma crít!ca de "tendências'', a não ser que tica pode absorver as maiores inteligências criativas de uma nação: em M

se torne um contínuo massacre.


E, neste caso, como escolher a obra a massacrar, o escritor a de-
certo sentido, nesses períodos, todas as melhores forças humanas são
concentradas no trabalho estrutural e ainda não se pode falar em su-
l
monstrar como alheio à arte? Este parece ser um problema negli· perestruturas. Segundo o que escreve C1mbon no prefácio à edição fran-
genciável, mas, ao contrário, se refletirmos do ponto de vista da cesa da autobiografia de Henry Ford, essa foi a base da construção na
organização moderna da vida cultural, é um problema fundamental. América de uma teoria sociológica, cujo objetivo era justificar a ausên-
Uma atividade crítica gue fosse permanentemente negativa, feita de cia, nos Estados Unidos, de um florescimento cultural humanista e ar-
demolições] de demonstrações de que se trata de "não-poesia" em vez tístico [76]. De qu2lguer modo, essa teoria, para ter pelo menos a
de "poesia", tornar-se-ia aborrecida e revoltante: a "escolha" parece- aparência de uma justificação, deve ser capaz de mostrar uma ampla
ria u111;1 PLTscguiç:10 ao i11JivíJuo ou poJcria ser co11siJcrada "casual" ativiJadc criJtÍva no can1po prútico, ;linda qi1c pcnnalll\'ª sc·n1 respos-
e, port:tnto, irrcll:Vantc. l\trL·cc certo que ;t atividade crítica Jcva ter ta :1 seguinte qncst:io: se esta ativiJ;1dc "poéticu-cri;1tiva" existe e é vital,
sempre um :tspccto positivo, no .Sl'nriJo Jc que dcv;1 ressaltar, na obra cstinn1L1ndo toJ.1s as forçtis vit;iis, ;is t·ncrgias, as vontades, os cntusias-
exan1inaJa, u111 valor pusitivo, o qual, se pode n;í.o ser artístico, pode rnos do ho111cn1, por que n;10 cstin1uL1 tan1bé1n ;1 energia litcr:'iria e não
ser cultur:il; e, neste c;1so, n:10 contará tanto o livro singular, salvo ca- cria uma épica? Se isto não ocorrei 11;1scc a lcgítin1a JúviJa de que se
sos excepcionais, mas sim os conjuntos de obras classific:.dos segundo trata de energias "burocráticas", de forças não expansíveis universal-
a tendência cultural. Sobre a escolha: o critério mais simples, além da mente, mas repressivas e brutais. Pode-se supor que os construtores
intuição do crítico e do exame sistemático de toda a literatura traba- das Pirâmides, escravos tratados a chibata, concebessem líricamente o
lho colossal e quase impossível de ser feito individualmente, pa:ece ser seu trabalho? O gue se deve sublinhar é gue as forças gue dirigem esta
o do "êxito editorial", entendido em dois sentidos: "êxito junto aos grandiosa ai:ividade prática não são repressivas apenas em face do tra-
leitores" e "êxito junto aos editores", o quaC em certos países, nos quals balho instrumental, o que é compreensível, mas são repressivas uni-
a vida intelectual é controlada por órgãos governamentais1 tem tarn- versalmente, o que precisamente é típico e faz com que uma certa
bém um cerro signific;1do, já que indica a orientação que o Estado gos- energia literária, como na América, manifeste-se nos refratários à or-
taria de imprimir à culn1r:1 nacional. Partindo dos critérios da estética ganização da atividade prática, que pretendia se fazer passar por "épi-
crociana, apresi:ntam-sc os n1esmos problemas: já que "fragmentos" ca" em si mesma. A situação é pior, contudo, onde à nulidade artística
de poesia podem ser encontrados por toda parte, tanto no Amare não corresponde sequer uma atividade prático-estrutural de certa gran-
illustrato como na obra científica estritamente especializada, o crítico diosidade e onde se justifica a nulidade artística através de uma atividade
deveria conhecer: "tudo" para ser capaz de separar o joio do trigo. Na prática que se "'realizará" e, por sua vez, produzirá uma atividade artís-
realidade, todo crítico sente que pertence a uma organização de cultu· tica.
ra que opera como conjunto; o que escapa a um é "descoberto" e indi- Na realidade, toda força inovadora é repressiva em face de seus
c1do r1 or Ollfro 1 etc. r[u11hCn1 ;I nuiJtip]ie;1\':Í.O Jos ''prê111ios ]itl'rt1rios" adversários; mas, na medida em que desencadeia, potencia e exalta

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CADERNOS DO CÁRCERE CADERNO 23

forças latentes, é expansiva, e essa expansividade é, em grande medi- § 38. Maria Puccini [79]. Cola o Rittmto dell'Italiano, Ed. Vec-
da, aquilo que a distingue. As restaurações, independentemente do chioni, Aqui la, 1927. Cola é um camponês toscano, que presta serviço
nome com que se apresentem, e particularmente as restaurações que militar na retaguarda durante a guerra, através do qual Puccini gosta-
ocorrem na época atual, são universalmente repressivas: o "Padre ria de representar o "velho italiano", etc.:"[ ... ] O caráter de Cola, [... ]
Bresciani", a literatura bresciana se torna predominante. A psicologia sem reações mas sem entusiasmos, capaz de fazer o próprio dever e
que precedeu uma tal manifestação intelectual é uma psicologia criada também de realizar algum ato valoroso, mas por obediência e por ne-
pelo pânico, por um medo cósmico diante de forças demoníacas que cessidade e com um terno respeito pela própria pele, convencido sim e
não são compreendidas e que, por isso, só podem ser controladas atra- não da necessidade da guerra, mas sem nem suspeitar da existência de
vés de uma construÇão universal repressiva. A recordação deste pânico valores heróicos [... ]o tipo de uma consciência que, se não completa-
(de sua fase aguda) perdura por muito tempo e dirige a vontade e os mente surda, é certamente passiva diante das exigências ideais, situada
sentimentos; a liberdade e a espontaneidade criadoras desaparecem e entre a hipocrisia e a preguiça, resistente a ver para além das 'ordens
resta o cansaço, o espírito de vingança, a estúpida cegueira disfarçada do Governo' e das modestas funções da vida individual: contente, em
pela melifluidade jesuítica. Tudo se torna prático (no sentido deterio- suma, com a existência da planície e sem ambições pelos altos cumes."
rado), tudo é propaganda, po!êmica, negação implícita, em forma mes- (Da resenha publicada na Nuova Antologia de 16 de março de 1928,
quinha, estreita, freqüentemente ignóbil e revoltante, corno no Ebreo p. 270.)
di Verona [77]. .
Questão da juventude literária Jc 11ma geração. Por certo, ao jul- § 39. Luigi Capuana. Trecho de um artigo de Luígi Tonelli, "II
gar um escritor, do qual se examina o primeiro livro, será preciso levar carattere e !'opera di Luigi Capuana" (NuovaA11tologia, 1° de maio de
em conta a "idade"1 já que o juízo sempre será também um juízo de 1928): "Re Bracalone (romance fantástico: o século XX é criado, pelo
cultura: o fruto vcr~e de um jovem poderá ser apreciado como uma poder da magia, cm poucos dias, no tempo do 'era uma vez'; mas, depois
promessa e obter um encorajamento. Mas os frutos secos não são pro- de ter tido dele uma amarga experiência, o rei o destrói, preferindo
messas, mesmo que pareçam ter o gosto dos frutos verdes. voltar aos tempos primitivos) nos interessa também sob o. aspecto ideo-
lógico, já que, num período de enfatuação (!) internacionalista socia-
§ 3 7. Papini. Deye-se notar como os escritores da Civiltà Cattolica listóide, o autor teve a coragem (!) de marcar com fogo (!) 'os tolos
têm por ele grande predileção, como o mimam e o defondem contra sentimentalismos da paz universal, do desarmamento, e os não menos
toda acusação de ser' pouco ortodoxo [78]. Frases de Papini contidas tolos sentimentalismos da igualdade econômica e da comunidade de
no livro S. Agostino e que revelam a tendência ao barroquismo (os je- bens', assim como de expressar a urgência de 'pôr fim às agitações que
suítas foram grandes representantes do barroquismo): "quando alguém já criaram um Estado dentro do Estado, um governo irresponsável', e
se debatia para sair dos porões do orgulho e respirar o ar divino do afirmar a necessidade de uma consciência nacional: 'Faz-nos falta a
absoluto", "elevar-se do estrume às estrelas", etc. Papini converteu-se dignidade nacional; é preciso criar o nobre orgulho dela, intensificá-lo
não ao cristianismo, mas precisamente ao jesuitismo (pode-se afirmar, até o excesso. É o único caso em que o excesso não prejudica.'" Tonelli
de resto, que o jesuitismo, com seu culto ao papa e com a organização é um idiota, mas tampouco Capuana faz ironia ao usar sua fraseologia
de um império espiritual absoluto, é a fase mais recente do cristianis- de jornaleco provinciano defensor de Crispi. De resto, caberia ver o
mo católico). que significava na época sua ideologia do "era urna vez", que, na Itália

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de então, exaltava um paternalismo anacrônico e de modo algum na-


l CAr..JERNO 23

de, existem na Itália muitas línguas "populares" e, nas conversas ínti-


cional [80]. mas, nas quais se expressam os sentimentos e afetos mais comuns e
De Capuana cabe recordar, a respeito da questão da língua na lite- difundidos, fala-se costumeiramente nos dialetos regionais: em grande
ratura italiana, o teat:o dialetal e as opiniões sobre a língua no teatro. parte, a língua literária é ainda uma língua cosmopolita, uma espécie
Algumas comédias de Capuana (como Giacinta, Ma/ia, II cavalier de "esperanto", isto é, algo limitado à expressão de sentimentos e de
Pedagna) foram escritas originariamente em italiano e depois vertidas noções parciais, etc.
em dialeto: só tiveram sucesso em dialeto. Tonelli que não compreen-
1
Quando se afirma que a língua literária tem uma grande riqueza
de nada, escreve que Capuana foi induzido à forma dialetal no teatro de meios expressivos, afirma-se algo equívoco e ambíguo; confunde-
"não apenas pela convicção de que 'é preciso passar pelos teatros dia- se a riqueza expressiva "possível" regísrrada no dicionário, ou contida
letais, se se quer verdadeiramente chegar ao teatro nacional italiano' inerte nos "autores", com a riqueza individual, que pode ser individual-
(... ],mas, também e sobretudo, pelo caráter particular de suas criações mente utilizada. Mas esta última é a única riqueza real e concreta; e é
dramáticas: essas são primorosamente (!) dialetais, encontrando no com base nela que se pode medir o grau de unidade lingüística nacio-
dialeto sua mais natural e depurada expressão". Mas o que significa nal, que é dado pela fala viva do povo, pelo grau de nacionalização do
"criações primorosan1ente dialetais"? O fato é explicado pelo próprio patrimônio lingüístico. É evidente a importância deste elemento no
fato, ou seja, não é explicado. (Deve-se ainda recordar que Capuana diálogo teatral; o diálogo deve suscitar, a partir do palco, imagens vi-
escrevia em dialeto sua correspondência com uma sua "teúda e man- vas, com toda a sua concretude histórica de expressão; em vez disso,
teúda", mulher do povo, isto é, compreendia que o italiano não lhe muito freqüentemente, sugerem-se imagens livrescas, sentimentos
permitiria ser entendido com exatidão e "simpaticamente" pelos ele- mutilados pela incompreensão da língua e de seus matizes. As palavras
mentos do povo~ cuja cultura não era nacional, mas regio:1al ou nacio·
1
da fala familiar reproduzem-se no 0uvinte como recordação de pala-
nal-siciliana; como seria possível, em tais condições, passar do teatro vras lidas nos livros e nos jornais ou procuradas no dicionário, tal como
dialetal ao nacional é urna afirmação enigm1itica e demonstra apenas ocorreria com alguém que ouvisse falar francês no teatro e que só ti-
escassa compreensão dos problemas culturais nacionais [8 lJ.) vesse aprendido francês nos livros sem mestre; a palavra é ossificada,
Deve-se ver por gue, no teatro de Pirandello, certas comédias são sem articulação de matizes, sem a compreensão de seu significado exa-
escritas em dialeto e outras em italiano: em Pirandello, o exame é ain- to, que é dado por todo o período, etc. Tem-se a impressão de que se é
da m<'l.is interessante, já que Pirandello, em outro momento 1 adquiriu um tolo, ou de que os outros o são. Deve-se observar como, no italia-
uma fisionomia cultural cosmopolita, isto é, tornou-se italiano e nacio- no falado, o homem do povo comete inúmeros erros de pronúncia:
nal na medida em que se dcsprovincianizou completamente e se eu- profúgo, roséo, etc., o que significa que tais palavras foram lidas mas
ropeizou. A língua ainda não adquiriu uma "historicidade" de massa, não ouvidas, não ouvidas repetidamente, isto é, colocadas em diferen-
ainda não se tornou um fato nacional. Liolà de Pirandello, em italiano tes perspectivas (diferentes períodos), cada uma das quais tenha feito
literário, vale muito pouco, embora O F(/lecido Matias Pascal, de onde brilhar um lado daquele poliedro que toda palavra é. (Erros de sintaxe
foi extraída, ainda possa ser lido com prazer. No texto italiano, o au- são ainda mais significativos.)
tor não consegue colocar-se em uníssono com o público, não tem a
perspectiva da historicidade da língua quando os personagens querem § 40. Bellonci e Crémieux. A Fiera Letteraria de 15 de janeiro de
ser concretamente italianos diante de um público italiano. Na realicia- 1928 resume um artigo, bastante tolo e despropositado, publicado por

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G. Bellonci no Giornale d'Italia. Crémieux em seu Panorama escreve toscanos. Após a decadência de Florença, o italiano torna-se cada vez
. ' '
que inexiste na Itália uma língua moderna, o que é justo num sentido mais a língua de uma casta fechada, sem contato vivo com uma fala
muito preciso: 1) que não existe uma concentração da classe culta histórica. Não será esta, talvez, a questão posta por Manzoni, ou seja,
unitária, cujos componentes escrevam e falem "sempre" uma língua a de retornar a uma hegemonia florentina através de meios estatais,
"viva" unitária, isto é, difundida igualmente em todos os estratos sociais refutada por Ascoli, o qual, mais historicista, não acredita em hege-
e grupos regionais do país; 2) que, portanto, entre a classe culta e o monias culturais por decreto, isto é) não baseadas numa função nacio-
povo existe uma nítida separação: a língua do povo ainda é o dialeto, nal mais profunda e necessária [82]?
com o subsídio de um jargão italianizante que, em grande parte, é o A pergunta de Bellonci - "será que Crémieux nega que exista (que
dialeto mecanicamente traduzido. Existe, ademais, uma forte influên- tenha existido, foi provavelmente o que quis dizer) uma língua grega
cia dos vários dialetos na língua escrita, pois também a chamada classe j por terem existido suas variantes dóricas, iônicas, eólicas?~' - é ape-
culta fala em certos momentos a língua nacional, mas emprega os dia-
letos na fala familiaí, ou seja, naquela mais viva e aderente à realidade
l nas cômica; mostra que ele não compreendeu Crémieux e não com-
preende nada destas questões, mas raciocina usando categorias livrescas,
imediata; por ouro iiado, contudo, a reação aos dialetos faz com que, como língua, dialeto, "variantes", etc.
ao mesmo tempo, a língua nacional se conserve um pouco fossilizada e
estagnada e, quando quer ser familiar, rompa-se em vários reflexos § 41. A feira do livro. Já que o povo não vai ao livro (a um certo
dialetais. Além do tom do discurso (o andamento e o ritmo da frase) tipo de livro 1 o dos litcratos profissionais), cnt:10 o livro irá <10 povo. t\
que caracteriza as regiões, são também influenciados o léxico, a iniciativa foi lançada pela Fiera Lelterrrria e por U1nberto Fracchia, seu
morfologia e, em particular, a sintaxe. Manzoni banhou no Arno seu diretor na época, cm 1927, em }...'1iliio..A.. iniciatiV<l não era má em si e
léxico pessoal lombardizante, menos a morfologia e quase nada a sin- produziu alguns pequenos resultados: mas a qucst:10 não foi enfrenta-
taxe, que é mais ligada ao estilo, à fonna pessoal artística e à essência da no scntiJo de guc o livro, para ir :10 p0\'C\ deve se ton1Jr nacion;1!-
nacional da língua. Também na França verifica-se algo similar no con- popular intímc1mcnte, e não só L'm,ltcrialn1cntc'\ com as banquinhas,
traste entre Paris e a Provença, mas em medida muito menor, quase os vendedores ambulantes, etc. Na realidade 1 uma organização para
negligenciável; num cotejo entre A. Daudet e Zola, descobriu-se que levar o livro ao povo existia e existe, e é representada pelos "pontre-
Daudet quase não conhece mais o passado remoto etimológico, que é moleses", mas o livro assim divulgado é o da mais baixa literatura po-
substituído pelo imperfeito, o que só casualmente ocorre em Zola. pular, do Segretario degli mnanti ao Gflerino, etc. [83] Esta organização
Contra a afirmação de Crémieux, Bellonci escreve: ''Até o século poderia ser "imitada", ampliada, controlada e abastecida de livros
XVI, as formas lingüísticas vêm de cima; a partir do século XVII, vêm menos tolos e com maior variedade de escolhei.
de baixo." Descomunal despropósito, por superficialidade e ausência
de crítica e de capacidade de distinguir. Dado que, precisamente até o § 42. L11ca BeltraHti (J.'o/i(ilo). P;1ra pesquisar os escritos brescianos
século XVI, Florença exerce uma hegemonia cultural ligada à sua de Beltrami (l popolari di Casala Olona), deve-se ver aB.íbliografia degli
hegemonia comercial e financeira (o Papa Bonifácio VIII dizia que os scritti di Luca Beltrami, de março de 1881 a março de l930, organiza-
florentinos eram o quinto elemento do mundo), há um desenvolvimento da por Fortunato Pintor, bibliotecário honorário do Senado, compre-
lingüístico unitário a partir de baixo, que vai do povo às pessoas cul- fácio de Guida Mazzoni. Por uma referência publicada r.o .\1arzocco
tas, desenvolvimento reforçado pelos grandes escritores florentinos e de 11 de maio de 1930, vê-se que os escritos de Beltrami sobre acida-

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de fi...:ciona\ dc-"Cc1satc O lona" foram naJa menos do que trinta e cin- homem do povo para se tornar '\irtista" (isto é, para se rorn~ir "artista
co. Beltramí anotou esr.1 sua Biúliogra/Úl. Sobre "Cas;.tte Olona", es- profissio nal", não ser mais "homem do povo", mas elevar-se ao nível
creve o lvidrZO(CO: "[ ... ] r\ bibliogra fia dos trinta e cinco escritos sobre dos intelectu ais de profissão ): tcmct essencial mente "antlpop ular" e
a hipotétic a cidade de 'Casare OÍona' lhe sugere a idéia de recompo r exaltação da casta como modelo de vida "superior ", o que de mais velho
nu1nc1 unid,1do:: suas <lL·....:Lira:;ôes) proposta s e polêmica s Jc índole polí- e rançoso se pode encontra r na tr<1Jiçiio it,1liana [86].
tico-social, as q:-1ais, sem sintonià com um regime democrá tico parla-
mentdr, dcYem.ser considera das, sob um certo aspecto, como uma § 45. A "descoberta" de !laia Suevo. !talo Svevo foi revelado ao
anrecipaç:10 de que outros - não Belrra1ni ~ poderia1n se vangloria r público dos litcratos italianos por James Joyce, que o conhecer a pessoal-
por tcren1 sido profético s precurso res{!?)." Beltrami CL-l um conserva~ mente em Trieste (mas deve-se r(:cordar que !talo Svevo escrevera al-
dor 1noderad o e não l' cerro que sua "antecipa ção" tenha sido aceita gumas vezes na Critica Sacia/e cm torno de 1900) [87].
com entusiasm o. Seu:..; c_..;critos, de resto, são de uma vulgarida de inte- Recorda ndo Svevo, a Fiera Lrtteraria afirma que, dntes dessa reve-
lcctlLll dcsconcert<-1nte. lação, houvera a "descobe rta italic1na": "Nestes dias, p~1rtc da impren-
sa italiana repetiu o erro da 'descobe rta francesa' (ou seja, devida a
S 43. C'iouanni C',,nd. Subrc <l ;ttiviJ,1Je de Cena nas escolas dos Crémieux , ao qual, contudo, foi Joyce qncm falou de Svcvo, razão pela
C<J.111pu11cscs da regi;ui rural de R0n1a 1 devem-se ver as public;1.:;ões de qual a Fiera Letteraria se cquivoc,1); n1es1no os maiores jornais, por:
i\l l's~_tnJro ~ L1rcucci ~ :)-t ]. (C~L:Il<l pretendi ;1 precis,1n1cnte "ir ao povo"j tanto, parecem ignorar o que foi Jiro e repetido no devido tempo. E
é intlTC:ssantc ver de que 11H_1do buscou realizar praric.-in1cnte sc:u pro- assim ncccssúri o escrever mais un1a vez que os italiilno~ cnltos foram
pósiru, J•í que isso n1u:-;tc1 o que ll!Tl inrclccrual icdi.1110, Je resto cheio os primeiro s a ser informad os sobre a obra Jl' Svcvoi e qne, graças a
de bu,ts intcn:;õc s1 pudi.t cntcnJlT por ",u11or ao po\'o".) Eugenio l'vlontale, que escreveu ~uhrL'. ele nas rcvisL1s L.·"11Jlle e Quin-
dici1ude, o escritor tricstino teve 1L1 Itália seu pri1nciro e legítimo reco-
§ 44. Gino Saviotti. Sobre o caráter antipopu lar1 ou 1 pelo menos, nhecimen to. Com isso, não se quer retirar dos estrangei ros nada do
a-popuL1r-nacional 1.L1 !ircraturn it.t!iana, cscrevcrarn e continua in a que lhes cabe; só n;10 nos pdrccc j11sto que u1na so1nbr:1 qualquer ofus-
escrever muitos literdtos. Mas, nesses escritos, o tema não é formula- que a sincerida de e, digamos mesmo, o orgulho( !!) de nossa homena-
do em seus termos reais e as conclusõ es concretas são freqüente mente gem ao amigo morto." (Fiera Letteraria de 23 de setembro de 1928 -
espantosas. De Gino SJ.viotti, que escreve prazerosa1nente contra a li- Svevo morrera em 13 de setemb ro-, num editorial que introduz ia
teratura dos literatos, ..? citàJo, nd ltl1lia Litteraria de 24 de agosto de um artigo de Montale, "Ultimo addio", e um de Giovanni Comisso ,
193 O, o seguinte trecho extraído de um artigo publicado nor1nzbrosiano "Colloqu io".) Mas essa prosa untuosa é jesuítica está cm contradiç ão
de 15 de agosto: "Bom Parini, compree nde-se por que levantast e a com o que afirma Carla Linati, na Nu.ova,4 ntologia de 1° de fevereiro
poesia. iralian" em rua época. Deste a ela a seriedade que lhe faltava , de 1928 ("!talo Svevo, romanzie re"): "Há dois anos, quando partici-
transtund iste em suas <iridas veias teu bom sangue popular. Devemos pava de uma noitada num clube intelectu al milanês, lembro-m e de que,
te agr:idccer ar~ hoje, 131 anos depois de tua morte. Seria preciso um em certo 1noment o1 entrou na sala um jovem escritor que mal acabara
outro homc1n como tu, hoje, em nossa chdmada poesia [85]." Em 1934 1 de chegar de Paris, o qual, depois de nos ter falado demorad amente de
foi cuncedid o a Saviotti um prêmio literário (u1na parte do Prêmio um jantar do Pen Club oferecido a Pirandell o por lircratos parisienses,
Viarcggio) por um romance no qual é represen tado o esforço de um aduziu que, no final desse jantar, o célebre romancis ta irlandês James

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Joyce, conversando com ele sobre a literatura italiana moderna, disse- frutos maduros. De modo que- como magistralmente escrevia nes-
ra-lhe: - Mas vocês, italianos, têm um grande prosador e talvez nem tes dias o diretor da Tribuna (Roberto Forges Davanzati) e repetiram
o saibam. - Quem? - Italo Svevo, triestino." Linati diz que ninguém posteriormente, e mesmo 'intensificaram', outros jornais- 'vivemos
conhecia aquele nome, como não o conhecia o jovem literato que ha- no maior absurdo artístico, entre todos os estilos e todas as tentati-
via falado com Joy'~e. Montale conseguiu finalmente "descobrir" um vas, sern ter nulis capacidade de ser urna época'." Quantas palavras
exemplar de Seu;fi(lade e escreveu sobre ele cm Esa1ne. E foi assim inúteis entre Calza e Forges Davanzati [90]! Será que só hoje há uma
como, ~'orgulhosamente", os literatos italianos "descobriram'' Svevo. crise histórica? E, ao contrário, não será verdade que é precisamente
Trata-se de um puro acaso? Não parece. Segundo a Fiera Letteraria, nos períodos de crise histórica que as paixões, os interesses e os sen-
devem ser recordados pelo menos outros dois "casos'', o de Os indife- timentos se aguçam e manifesta-se na literatura o "romantismo"? Os
rentes, de Moravia, e o de Malagigi, de Nino Savarese, do qual só se argumentos dos dois escritores claudicam e se voltam contra os argu-
falou depois que foi indicado para um prêmio literário [88]. Na verda- mentadores: será que Forges Davanzati não percebe que não ter a
de, essa gente pouco se importa com a literatura e a poesia, com a cul- capacidade de ser uma época não pode se limitar à arte, mas envolve
tura e a arte: exerce a profissão de sacristão literário e nada mais. toda a vida? A ausência de uma ordem artística (no sentido em que a
expressão pode ser entendida) liga-se à ausência de uma ordem mo-
f46. É preciso recordar, com elogios, no campo da literatura para ral e intelectual, isto é, à ausência de um desenvolvimento histórico
os jovens, II Giomalino delia Domenica, dirigido por Vamba, com to- orgânico. A sociedade gira sobre si mesma, como um cão que quer
das as suas iniciativas e organizações. Sobre a colaboração do Padre morder o próprio rabo, mas esta aparência de movimento não é de-
Pistelli (exemplo raro de um grande filólogo que trabalha de modo senvolvimento.
genial para os jovens), cf. o artigo de Lea Nissim, "Omero Redi ele
'Pistole'", na Nuova Antologia de 1° de fevereiro de 1928 [89]. § 48. A11tonio Fradeletto. Ex-maçam radical, depois convertido ao
catolicismo. Era um publicista retórico sentimental, orador das gran-
§ 47. Critérios. Ser uma época. Na NuovaAntologia de 16 de ou- des ocasiõesj representava um tipo da velha cultura italiana que, parece,
tubro de 1928, Arturo Calza escreve: "É preciso reconhecer que, de tende a desaparecer naquela forma primitiva, já que o tipo se uni-
1914 até hoje, a literatura perdeu não somente o público que lhe for- versalizou e se diluiu. Escritores de temas artísticos, literários e "patri-
necia a seiva(!), mA-s também o que lhe fornecia os temas. Quero dizer óticos". Era nisto, precisamente, que consistia o tipo: que o patriotismo
que, nesta nossa sociedade européia, que atravessa agora um daque- não era um sentimento difuso e enraizado, o estado de espírito de um
les momentos mais agudos e mais turvos de crise moral e espiritual estrato nãcional, um dado efetivo, mas uma "especialidade oratória"
que preparam (!) ~ts grandes renova~ões, o filósofo - e, portanto, de uma série de "personagens" (ver Cian, por exemplo), uma qualifi-
necessariamente, também o poeta, o romancista e o dramaturgo - cação profissional, por assim dizer [91]. (Não confundir com os naciona-
vêem em torno de si mais uma sociedade 'em devir' do que uma so- listas, embora Corradini tenha pertencido a este tipo, diferenciando-se
ciedade estabilizada e consolidada numa esquema definitivo(!) devida nisto de Coppola e mesmo de Federzoni. Tampouco D'Annunzio ja-
moral e intelectual; mais vagas e sempre mutáveis aparências de cos- mais se inseriu perfeitamente nesta categoria. O fato notável é que seria
tumes e de vida do que vida e costumes solidamente estabelecidos e muito difícil explicar a um estrangeiro, p.1rticularmente a um francês,
organizados; mais sementes e germes do que flores desabrochadas e em que consistiã este tipo, que é ligado ao desenvolvimento específico

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da cultura e da form1çáo nacional italiana. Nenhuma comparação também sua mãe os chamava assim 1 e volta a se ver menino e medita
possível, por exemplo, com Barrês e com Péguy [92].) sobre a brevidade inelutável da vida, sobre a rapidez da morte que nos
espera. 'Senhor arcipreste, lhe peço: pouca terra sobre o caixão.' Em
§ 49. Escritores "te,:nic,oueníe" úre.\cÍt1JLOS. Sobre tais escritores, suma, Panzini chora porque tem pena de si n1csmo. Chora por si e por
deve-se ver Nlonscnhor Giovanni Cas;ui, Scrillori cartolici italiani sua morte, não pelos outros. Passa ao lado da alma do camponês sem
viventi. Diziouario bio-úibliogra(ico ed indice analitico delle opere, cor.i vê-la. Vê as aparências exteriores, mal ouve o que acabou de sair de
preLlcio de F. Mcd;1, \TIIJ-112 p., in-8°, nas vúri.1s cJiçücs [93 ]. sua boca e pergunta se, para o ca1nponês, a propriedade n~10 será por
Deve-se sublinh,·1r que, há alguns anos, os cs..::ritorcs ccltólicos em act1so sinônimo de 'roubar'."
sentido estrito buscarn se organiz;1r, forn1;1r um~-1 corpoL1\':to solidária
autônoma 1 que se controla e se exalta atr<-ivés Je tod,1 Llm8. série de § 51. "Popularidade" de Tolstoi e de Manzoni. No Marzocco de 11
publicações e de inicíc1tivas: Rt1z:10 desta atitude milit.1nte e fre- de novembro de 1928, foi publicado um artigo de Adolfo Faggi, "Fede
qüentcmcnte agressiv,1, que est.l lig;-1da d nov8 sit11aç~10 que, legal e e dran1ma", no qual se contêm alguns elementos para estabelecer uma
oficialmente, o catoli~·ismo vem conquistc1ndo no p<IÍS. con1paraçJo entre a conccpção do n1undo de Tolstoi e a de Manzoni,
cn1bur:1 F;1t,g1 :1fi rnH.: arbi trari a11 tt:ll I e q 11c "Os Jtoi uus corrcspondc1n
§ 50. Panzi11i. Em ourra nota, i~í se rcglstrou qt1L' r. P;1L1:11.i, cm su:i pcrfcitan1cnte a seu (de làlstoi) co11ccito Jc arte religiosa", exposto
resenha do livro de P,1nzini I gíorfá dei ...;o/e e de! gr(uro, ob:->crva co1no no estudo crítico sobre ShakcspC<trc: "A arte cm geral, e particularmente
a atitude de P;_1nzini em face do can1ponês é mais a <lo senhor de escra- a arte dran1;Ítica, sempre foi religiosa, isto é, sen1prc teve por finalida-
vos Jo que a do desinteressado e cún<lido agricultor; mas cs~;a observa- de esclarecer aos ho1ncns suas relat;õcs con1 Deus, segundo a concepção
ção pode ser estendida a outros, e não só a Panzini, que é apenas o tipo que, de tais relações, tinham, em cada época, os homens 1nais eminen-
ou a máscara Je uma época [94]. Mas Palazzi faz outras observações tes e, por isso, destinados a guiar os outros[ ... ] Houve, mais tarde, um
que são estreitamente !igadas a P<lnzini {e ligadas a certas obsessões de desvio na arte, que a sujeitou ao passatempo e ao divertimento, desvio
Panzini, às suas pávidas obsessões, como aquela, por exemplo, da "lí- que teve lugar também na arte cristã." Faggi nota que, em Guerra e
....
vida lâmi1d'). Palazzi escreve (Jtalia che scrive de junho de 1929): paz, os dois personagens que têm maior importância religiosa são P[atão
"Qu.mdo (Panzini) elogia, da boca para fora, a frugal refeição consumida Karataev e Pedro Bezukhov: o primeiro é homem do povo, e seu pen-
nos minifúndios, perceberemos, se examinarmos bem, que sua boca samento ingénuo e instintivo exerce grande influência sobre a concep-
faz caretas de desgosto e, em seu íntimo, pensa como é possível viver ção da vida de P. Bezukhov.
de cebolas e da. esquálid<1 sopa negra, quando Deus pôs na terra as tr11· Característico em Tolstoi é precisamente que a sabedoria ingénua
fase, no fundo do mar, as ostras. [... ] 'Certa feita - ele confessará-, e instintiva do povo, enunciada mesmo através de uma palavra casual,
cheguei mesmo a chorar.' Mas esse choro não brota de seus olhos, como ilumine e determine uma crise no homem culto. É este, precisamente,
dos de Leão Tolstoi, pelas misérias que estão em face dele, pela beleza o traço mais marcante da religião de Tolstoi, que entende o evangelho
que se pode entrever em certas atitudes humildes, pela viva simpatia "democraticamente", isto é, segundo seu espírito originário e original.
em face dos humildes e dos aflitos, que de resto não são poucos entre Manzoni, ao contrário, sofreu a Contra-Reforma: seu cristianismo oscila
os rudes cultivadores rurais. Não, de modo algum! Ele chora porque, entre um aristocratismo jansenista e um paternalismo populista jesuítico.
ao voltar a escutar certos esquecidos nomes de utensílios, recorda que A observaçf10 de Faggi - segundo a qual, em Os noivos, "são os espí-

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ritos superiores, como o Padre Cristóvão e o Cardeal Borromeo, que vrinho contém também um artigo de Ernest Crosby sobre "a atitu-
agem sobre os inferiores e sabem sempre encontrar para eles a palavra de de Shakespeare diante das classes trabalhadoras" e uma breve
que os ilumina e guia" - não tem conexão substancial com a formula- carta de Bernard Shaw sobre a filosofia de Shakespeare [95]. Tolstoi
ção do que é a arte religiosa em Tolstoi, que se refere à concepção ge- pretende demolir Shakespeare partindo do ponto de vista da própria
ral e aos modos específicos de exteriorização: as concepçõcs do mnndo ideologia cristi1; sua crítica não é artística, mas moral e religiosa. O
só podem ser elaboradas por espíritos eminentes, mas a "realidade" é artigo de Crosby, que lhe serve de ponto de partida, mostra, em
expressa pelos humildes, pelos pobres de espírito. oposição à opinião de muitos ingleses ilustres, que não existe em
De resto, cabe observar que, em Os noivos, não há homem do povo toda a obra de Shakespeare quase nenhuma palavra de simpatia para
que não seja objeto de galhofa e de ironia: de Dom Abbondio a Frei com o povo e as massas trabalhadoras. Shakespeare) de acordo com
Galdino, ao alfaiate, a Gervásio, a Inês, a Perpétua, a Renzo, à própria as tendências de sua época, toma claramente partido em favor das
Lúcia, tbdos são representados corno gente mesquinha, estreita, sem classes elevadas da sociedade; seu drama é essencialmente aristocrá-
vida interior. Vida interior, somente os senhores a possuem: Frei Cris- tico. Quase todas as vezes em que introduz na cena burgueses ou
tóvão, Borromeo, o Inominado, o próprio Dom Rodrigo. Perpétua, pessoas do povo, apresenta-os de modo depreciativÔ ou repugnante,
segundo Dom J\bbondio, dissera mais ou menos o que Borromeo disse fazendo deles objeto ou tema de riso (cf. o que já foi dito de Manzoni,
depois, mas se tratava de questões práticas e, de resto, deve-se obser- cuja tendência é análoga, embora as manifestações dessa tendência
var como o tema torna-se objeto de comicidade. O mesmo ocorre corn sejam atenuadas).
o fato de que o parecer de Renzo sobre o valor do voto de castidade de A carta de Shaw é dirigida contra Shakespeare "pensador", não
Lúcia coincide aparcntcn1cntc co1n o parecer do Padre Cristóvão. A contra Shakespeare "artista". Segundo Shaw, deve-se dar o prin1ciro
importância que tem a frase de Lúcia para perturbar a consciência do posto na literatura àgueles autores que superaram a ITioral de seu tem-
Inominado e para determinar sua crise moral não tem o caráter po e entreviram as novas exigências do futuro: Shak,;speare não foi
iluminador e fulgurante que tem em Tolstoi a contribuição do povo, "moralmente" superior a seu tempo, etc.
fonte de vida moral e religiosa, mas é algo mecânico e de caráter Nestas notas, é preciso evitar qualquer tendenciosidade moralista
'~silogístico". Na realidade, também em Manzoni podem ser encontra- à maneira de Tolstoi, bem como qualquer tendenciosidade de "juízo
dos notáveis traços de brescianismo. (Deve-se notar que, antes de Parini, retrospectivo" à Shaw. Trata-se de uma pesquisa de história da cultura,
foram os jesuítas que "valorizaram" o povo "paternalisticamente": cf. não de crítica artística em sentido estrito: pretende-se demonstrar que
La giovinezza dei Parini, Verri e Beccaria, de C.A Viano, Milão, 1933, são os autores examinados que introduzem um conteúdo moral ex-
onde se menciona o Padre Pozzi, jesuíta, "que muito antes de Parini trínseco, 011 seja, que fazem propaganda e não arte, e que a conccpção
pós-se a defender e exaltar-diante da aprovação do melhor patriciado do mundo implícita em suas obras é estreita e mesquinha, não nacio-
milanês- 'o plebeu' ou o proletário, como agora se diria" (cf. Civiltà nal-popular, mas sim de casta fechada. A investigação sobre a beleza
Cattolica de 4 de agosto de 1934, p. 272). de uma obra é subordinada à investigação da razão pela qual ela é "lida",
Num segundo artigo, publicado no Marzocco de 9 de setembro é "popular", é "procurada", ou, ao contrário, da razão pela qual não
de 1928 ("Tolstoi e Shakespeare"), Faggi examina o opúsculo de atinge o povo e não o interessa, pondo em evidência a ausência de
Tolstoi sobre Shakespeare, ao qual se referira no artigo anterior: Leão unidade na vida cultural nacional.
N. Tolstoi, Shakespeare, eine kritische Studie, Hanôver, 1906. O li-

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CADERNOS DO CÁRCE-RE CADERNO 23

§ 52. Bruno Cicog11ani e a humanidade fundamenta! autêntica. A Livraria Valois publicou, em 1930, Henri Poulaille, Nouvel âge
Sobre Bruno Cicognani, escreve Alfredo Gargiulo na ft,i/ia Letteraria littéraire, em cujo prospecto editorial são relacionados os nomes de
de 24 de agosto de 1930 (cap. XIX de "1900-1930"): "O homem e o C.L. Philippe, Charles Péguy, G. Sord, L. e M. Bonneff, Marcel Martinet,
artista identificãn1-se cn1 Cicognani: apesar disso, sente-se a necessi- Charles Víldrac, etc. (não fica claro se se trata de uma antologia ou de
dade de declarar imediatamente, quase que em lugar separado(!), a uma coletânea de artigos críticos de Poulaille). Devem-se examinar as
sin1pati<1 que o homem inspira. O humaníssimo Cicognani! Algumas tentativas de Enrice Rocca, no Lduoro Fascista, para obter uma cola-
quedds1 de resto leves, no humanitarismo de tipo românríco ou eslavo: boração literária de operários. Critica destas tentativas.
que i1nporta? Todos estarão dispostos a lhe perdoar, em homenagem
àquela humanidade fundamental autêntica(!) [96]." Pela continuação, § 54. GiulioBechi. Morto em 28 de agosto de 1917 na frente de com-
não se compreende bem o que Gargiulo quer dizer: será que é algo bate (cf. jornais e revistas da época: escreveu sobre ele Guido Biagi,. no
criticamente ''monstruoso" a identificação entre o artista e o homem? Marzocco; cf. osProfili e carattr?ri, de Ermenegildo Pistelli). Mario Puccioni
Ou a atividade artística não é a humanidade do artista? E que signifi- ("Militarismo e italianiatà negli scritti di Giulio Bechi", no Marzocco de
cam os adjetivos "autêntica" e "fundamental"? São sinónimos do adje- 13 de julho de 1930) escreve: "A mentalidade dos parlamentares sardos
tivo "'vcrdaJciro", que está atualmente desacreditado por cc1usa de sua viu em Caccia grossa somente um in1picdoso <Itaque contra usos e pessoas
vacuiJ,1dc. (Scr;í nccL·ssúrio, para esta rubrica, reler toJ;1 a exposi~üo e conseguiu causar-lhe a 1naçada- con10 Giulio dizia, con1 uma expres-
de Gargiulo.) são napolitana- de passar dois meses preso na fortaleza de Belvedere";
I--fnmanidade ''autêntica, fundamental" só pode significar concre- o que não é perfeitamente exato (<10 que parece, Bechi foi desafiado para
tan1ente, no can1po artístico, uma única coisa: "historicidade", isto é, um duelo por ter "falado mal das mulheres sardas" e, portanto, foi puni-
caráter "nacional-popular" do escritor, ainda que no amplo sentido de do pela autoridade militar por ter criado as condições para ser desafiado).
"socialidade", mesmo em sentido aristocrático, contanto que o grupo Bechi foi à Sardenha com o 67° Regimento de Infantaria. A questão do
social que se expressa seja historicamente vivo e que o "vínculo" social comportamento de Bechi na repressão ao chamado órigantaggio de Nuoro,
não seja de caráter "pr:ltico-político" imediato, ou seja, declamatório- com medidas de estado de sítio, ilegais, tratando a população como se fosse
moralista, mas sim histórico ou ético-político. constituída por negros, prendendo em massa velhos e crianças, evidencia-
se a partir do tom geral do livro e de seu próprio título; e é mais complexa
§ 53. Diretiva.se desuios. Tentativas francesas de literatura popu- do que parece a Puccioni, que busca destacar como Bechi protestava
lar. foi publicada un1;1 :1ntologia de" escritores opcnírios a1ncricanos contra o ab<-l.ndono em que fora deixada a Sardenha e como exaltava
(PuJnzes d'uuuriers 1111u~ric11;,ts, tr:H.iuzidos por N. Gut~rrnan e P. as virtudes nativas dos sardas. O livro 1nostra, ao contr;írio, que; Bechi
Morhange, Ed. "Les 1-levu...:s", 1930, 9 francos, Paris) 1 que teve muito aproveitou-se da ocasião para fazer medíocre literatura sobre eventos gra-
sucesso junto à crítica francesa, como se pode ver pelos extratos publi- ves e tristes para a história nacional [97].
cados no prospecto editorial.
Em 1925, nas "Editions Aujourd'hui", foi publicada umaAnthologie § 55. Oskar Maria Graf. Foi .traduzido em francês um romance de
des écrivains ouvriers, organizada por Gaston Depresle, com prefácio Oskar Maria Graf: Naus sommes prisonniers... (Ed. Gallimard, 1930),
de Barbusse (escritos, entre outros, de Marguerite Andoux, Pierre que parece ser interessante e significativo como tentativa literária de
Hamp, etc.). um operário (padeiro?) alemão [98].

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§ 56. Lina Pietravalle. Da resenha escrita por Giulio Marzot sobre des da literatura [102]. Na Itália, inexistiria a crítica do público (isto é,
o romance de Pietravalle Le catene (Mondadori, 1930, 320 p., 12 li- inexistiria ou seria bastante escasso um público médio esclarecido, como
ras): ''A quem lhe pergunta com que sentimento participa da vida Jos na França);"[ ... ] falta a persuasão, ou, se se prefere, a ilusão de que
camponeses, Felícia responde: 'Amo os camponeses como amo a terra, eles (os escritores) realizem uma obra de importância nacional) ou
mas não mistµrarei a terra com meu pão.' Há, portanto, a consciência mesmo, no caso dos melhores, histórica; pois, como o senhor (Fracchia)
de um afastamento: admite-se que também (!) o camponês possa ter diz, 'todo ano e todo dia que passam têm, igualmente, ·sua literatura,
sua (!) dignidade humana, mas ele é obrigado a manter-se nos limites sempre foi e sempre será assim, sendo absurdo esperar ou prognosti-
de sua condição social." car ou invocar para amanhã o que existe hoje. Todo século, todp. por-
Marzot escreveu um ensaio sobre Giovanni Verga e, por vezes, é ção de século sempre celebraram suas próprias obras; foram até mesmo
um crítico inteligente [99]. levados a exagerar a importância, a grandeza, o valor e a duração de-
Caberia estudar o seguinte ponto: se o naturalismo francês, com las'. Correto, mas não para a Itália, etc." (Ojetti parte da carta aberta
suas pretensões de objetividade científica e experimental, já não con- de Umberto Fracchia a S. Exa., Gioacchino Volpe, publicada na Italia
teria, em geral, a posição ideológica que teve depois um grande de- Letteraria de 22 de junho de 1930, e que se refere ao discurso pronun-
senvolvimento no naturalismo ou realismo provincial italiano e, ciado por Volpe na sessão da Academia em que se distribuíram prémios.
particularmente, em Verga: o povo do Gampo é visto com '"distan- Entre outras coisas, Volpe disse o seguinte: "Não se vêem despontar
ciamento", con10 "natureza" sentimentalmente estranha ao escritor) grandes obras pictóricas, grandes obras históricas, grandes romances.
como espetúculo, etc. É a posição de lo ele belve, de Hagenbeck [100]. Mas quem observa <~tentamente vê na presente litcrat11r;1 forças laten-
Na Itália, a prctcnsüo "naturalista" J,1 objctiviJaJe experimental dos tes, ânsias de elevação, algumas boas e promissoras realizações" [ lü3].)
escritores franceses, que tinha uma origem polêmica contra os escri- 2) A outra observação de Ojetti é esta: ''A escassa popularidade de
tores aristocráticos, inseriu-se numa p9sição ideológica preexistente, nossa literatura passada, ou seja, de nossos clássicos. É verdade: na
tal como aparece; em Os noivos, onde existe o mesmo "distancia- crítica inglesa e francesa, lêem-se freqüentemente comparações entre
mento" em face dos elementos populares, distanciamento mal dis- os autores vivos e os clássicos, etc., etc." Esta observação é fundamen-
farçado por um be~évolo sorriso irânico e caricatural. Nisto Manzoni tal para um juízo histórico sobre a atual cultura italiana: o passado não
se distil)gue de Grossi que, em Marco Visconti, não ironiza as pessoas vive no presente, não é elemento essencial do presente, isto é, não existe
do povo; e até mesmo do D'Azeglio dasMemorie, pelo menos no qne continuidade e unidade na história da cultura nacional. A afirmação
se refere às no!Js sobre a população dos castelos romanos [101]. de uma continuidade e unidade é· só uma afirmação.retórica ou tem
valor de mera propaganda sugestiva; é um ato prático, que visa a criar
§ 57. A cultura nacional italiana. Na "Lettera a Umberto Fracchia artíficialmente o que não existe, não é uma realidade em ato. (Uma
sulla critica" (Ng<1so, <lgosto de 1930), Ugo Ojetti faz duas observa- certa continuidade e unidade pareceu existir do Risorginiento até
ções dignas de nota: 1) Recorda que Thibaudet divide a crítica em três Carducci e Pascoli, para os quais era possível reportar-se até a literatu-
classes: a dos críticos profissionais, a dos próprios autores e a des ra latina; elas foram quebradas com D'Annunzio e sucessores.) O pas-
honnêtes gens, isto é, do público "esclarecido" que, no final das con- sado, compreendida a literatura, não é elemento de vida, mas somente
tas, é a verdadeira bolsa de valores literários, já que existe na França de cultura livresca e escolar; o que, de resto, significa que o sentimen-
um público vasto e atento no acompanhamento de todas as vicissitu- to nacional é recente, ou. talvez seja mais justo dizer que está ainda

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CAÔERNOS DO CÁRCERE CADERNO 23

apenas em processo de formação, comprovando que a literatura, na xa-se da crítica, que se põe somente do ponto de vista das grandes obras-
Itália, jamais foi um fato nacional 1 mas sim de caráter "cosmopolita". primas, que se rarefaz na perfeição das teorias estéticas, etc. Mas, se os
Da carta aberta de Umberto Fracchia a S. Exa., G. Volpe, podem- livros fossem examinados de um ponto de vista de história da cultura,
se extrair algumas passagens típicas: "Apenas um pouco mais de cora- a queixa seria a mesma ou pior1 já que o conteúdo ideológico e cultural
gem, de entrega (!), de fé (!) bastariam para transformar o elogio a da atual literatura é quase zero e, na maioria dos casos, é contraditório
contr<tgosto que o senhor fez da atual literatura num elogio aberto e e moderadamente jesuítico.
explícito; para afirmar que a atual literatura italiana tem forças não só Tampouco é verdade (como escreveu Ojetti na carta a Fracchia)
latentes, mas aparentes, visíveis(!), que esperam(!) apenas ser vistas(!) que não exista na Itália uma "crítica do público"; existe, mas a seu
e reconhecidas por todos os que as ignoram 1 etc., etc." Volpe 1 um pou- modo, já que o público lê muito e, portanto, escolhe entre o que existe
co "a sério", parafraseara os versos jocosos de Giusti: ''Heróis, heróis1 à disposição. Por que este público ainda prefere Alexandre Dumas e
que fazeis vós? -Parimos o que vem após" [104]. Fracchia lamenta-se Carolina Invernizio e atira-se com avidez sobre os romances policiais?
miseravelmente de que não renham sido reconhecidos e valorizados us De resto, esta crítica do público italiano tem uma certa organização,
partos como tais. que é representada pelos editores, pelos diretores de jornais e periódi-
Fracchia ameaçou v:lrias vezes os editores que public,1m um nú- cos populares; manifesta-se na escolha dos folhetins, manifesta-se na
mero excessivo de traduções com medidas legislativo-corporativas que tradução de livros estrangeiros e n:10 só dos atuais, mas de velhos,
protejam os escritores italianos (deve-se recordar a portaria do subse- velhíssimosi manifesta-se nos repcrtórios das companhias teatrais, etc.
cret<írio <lo IntLrior, o l)cputaJo Bi;tnchi, posterionnentc "interpreta- Ncn1 se trata de exotisn10 cctn por cento, jó que na 1núsica este n1cs1no
da" e de fato revogada, e que se vinculava a uma campanha jornalística público deseja Verdi, Puccini, Mascagni, os guais, evidentemente, não
de Fracchia) [105]. O raciocínio de Fracchia, já citado: todo século, têm correspondentes na literatura. E não só isso: no exterior, Verdi,
toda fra~3.o de século n3.o só têm sua literatura, mas ta1nbém a cele- Puccini e lvlascagni são freqüentemcnte preferidos, a seus próprios
bram; tanto que as histórias literárias tiveram de pôr em seu devido músicos nacionais e contemporâneos, pelos públicos estrangeiros. Este
lugar muitas obras celcbradíssimas e que hoje se reconhece que não fato é a prova mais cabal de gue existe na Itália separação entre públi-
valem nada. De modo geral, o fato é justo, mas dele se deve deduzir co e escritores e o público busca "sua" literatura no exterior, pois a
que o atual período literário n3.o sabe interpretar sua época, está sepa- sente como mais "sua" do que a cham;1da literatura nacional. Este fato
rado da vida nacional efetiva, de modo que nem seguer por "razões põe um problema essencial de vida nacional. Se é verdade que todo
práticas" são exaltadas obras que m;iis tarde, talvez, poderiam ser re- século ou fra~-8.o de século tem sua literatura, nem sempre é verdade
conhecidas como artisticunentc nulas, já que sua "praticidaJe" terá sido que esta literatura seja produzida na própria comunidade nacional. Todo
superada. Mas será verdade que não existem livros muito lidos? Exis- povo tem sua literatura, mas ela pode vir-lhe de um outro povo, isto é,
tem, mas são estrangeiros; e ainda haveria outros mais se fossem tra- o povo em questão pode ser subordinado à hegemonia intelectual e
duzidos, como os livros de Remarque, etc. Realmente, a época atual moral de outros povos. É este, com freqüência, o mais gritante para-
não dispõe de uma literatura aderente a suas necessidades mais pro- doxo de muitas tendências monopolistas de caráter nacionalista e
fundds e elementares, já que a literatura existente, salvo raras exce- repressivo: o de gue, enquanto se constroem grandiosos planos de he-
ções, não se liga _à vida popular-nacionaC mas a grupos restritos que gemonia, não se percebe quc se l rJbjc:to de hegemonias estrangeiras;
nciu P"""m de presunçosas nulidades da vida nacional. Fracchia quei- do mesmo modo como, enquanto se fazem planos imperialistas, na

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CADERN O 23
CADERN OS DO CÁRCER E

realidade se é objeto de outros imperialismos, etc. De resto, não se sabe dizer que, se é escassa (e, na maioria dos casos, retórica) a literatu ra
se o centro político dirigente não entenda muito bem a situação de fato sobre os italianos no exterior, é escassa também a literatur a sobre os
e não busque superá-la: mas é certo que os literatos, neste caso, não países estrangeiros. Para que fosse possível, como escreve Oj~tti, re-
ajudam o centro dirigente político em tais esforços e seus cérebros vazios present ar 0 contraste entre italianos imigrados e as popul~çoes dos
empenham-se na celebraçr10 nacionalista para não sentirem o peso da países de imigração, seria necessário conhecer tanto estes pa1ses quan-
hegemonia da qual se depende e pela qual se é oprimido. to ... os italianos.

§ 58. O sentirne nto ·•ativo'' naciona l dos escritores. Trecho da § 59. Le 0 nirla Repaci. Uma sua c~1rta à direção da Italia J,Ptlr.rriria
"Lettera a Piero Parini sugli scrittori sedentari", de Ugo Ojetti (Pêgaso (7 de julho Je 1934) - para protestar, muito comicamentc, contra a
de setembro de 1930): "Como é possível que nós, italianos, que leva- demolição de seu romancePotenza dei fratelli Rupe por Roberto Fracass1
mos a todo o planeta nosso trabalho, e não somente o trabalho manual, _conté m, referidas a si :mesmo, as seguintes palavras: "[ ... ] um ho-
e que temos densas colônias de Melbou rne ao Rio, de São Francisco a mem, um verdade iro homem, daqueles que ganham ª. vida no dia-a-
Marselha, de Lima a Túnis, sejamoS os únicos a não ter romances nos dia com esforço e, algumas vezes, com desespero." {fl:}
'
quais nossos costu~es e nossa consciência sejam revelados, em con-
traste com a consci~ncia e os costumes dos estrange iros entre os quais
nos coube viver, lutar, sofrer e, por vezes, até mesmo vencer? Italia-
nos, no topo ou na base, opcrúrios ou banqueiros, mineiros ou médicos,
g:11·\'.0llS ou l'ngenheiros, pedn.:iros 011 cun1crci11ntcs, süo encontr
ados
em todos os cantos do mundo. A nossa literatíssima literatur a os igno-
ra, ou melhor, sempre os ignorou . Se não existe romance ou drama
sem um progressivo· contraste de almas, que contrast e é mais profun-
do e concret o do que este entre duas raças, uma das quais é mais anti-
ga, ou seja, a mais rica de usos e ritos imemoriais, expatria da e obrigada
a viver sem outro socorro além daquele da própria energia e resis-
tência?"
Muitas observações ou acréscimos a fazer. Na Itália, sempre exis-
tiu uma grande quantid ade de publicações sobre a emigração como
fenóme no económico-social. Não lhe corresp onde uma literatur a ar-
tística: mas todo emigrante traz consigo um drama, já antes de partir
da Itália. Que os literatos não se ocupem do emigrado no exterior de-
veria surpreender menos do que o fato de que não se ocupem dele antes
que emigre, das condições que o obrigam a emigar, etc.; ou seja, que
não se ocupem das lágrimas e do sangue que já na Itália, ainda antes
que no exterior, significou a emigração em massa. De resto, é preciso

129
128
1.
4. Caderno 27 (1935):
Observacões
, sobre o "Folclore"
...

§ 1. Giovanni Crocioni (no volume Prob/emi fondarnentali dei Folclo-


re, Bolonha, Zanichelli, 1928) critica como confusa e imprecisa a divi-
são do material folclórico proposta por Pitré em 1897, na Premissa à
Bibliografia delle tradizioni popolari, e propõe sua própria divisão em
quatro seções: arte, literatura, ciência, moral do povo. Mas também
esta divisão é criticada como imprecisa, maldefinida e demasiadamen-
te lata. Raffaele Ciampini, na Fiem Lettemria de 30 de dezembro de
1928, pcrgunt;1: ''Ela é científica? Como, por cxcn1plo, incluir nela as
s11persti~-,-ics? F que quer Jizcr 11111.1 111or;tl dt) pl)\'U? Corno cstud.i-la
cicntifica111c11tc? E por que, cntl10, não faL1r tan1b~1n de uma religião
do povo [l]"' Pode-se dizer que, até agora, o folclore foi preponde-
rantemente estudado como elemento "pitoresco" (na realidade, até agora
foi apenas coletado material de erudição, e a ciência do folclore con-
sistiu, sobretudo, nos estudos sobre o método para a coleta, seleção e
classificação deste material, isto é, no estudo das cautelas práticas e
dos princípios empíricos r:ecessários para desenvolver de modo profí-
cuo um aspecto particular da erudição; com isso, decerto, não sedes-
conhece a importância e o significado histórico de ã\guns grandes
estudiosos do folclore). Seria preciso estudar o folclor~, ao contrário,
como "concepção do mundo e da vida", em grande medida implícita,
de determinados estratos (determinados no tempo e no espaço) da
sociedade, cm contraposição (também esta, na maioria dos casos, im-
plícita, mcc:1nica objetiva) às concepções do mundo "oficiais" (ou, em
1

sentido mais amplo, das partes cultas das sociedades historicamente


determinadc1s) que se sucederam no desenvolvimento histórico. (Daí a
estreita relação entre folclore e "senso comum", que é o folclore filo-

133
li
CADERNOS DO CARCERE CAD E R N O 27

sófico.) Conccpção do munJo n;10 só não elabor;-1d,1 e a::,~istemática­ (deve-se ver se uma tal elaboraçiío e sistematiz::ição n;10 é necessária
já que o povo {isto é, o conjunto d;1s cL1sscs sub;1lri:rn.1:.; e insrrumcn- par<l manter o folclore dissemin;-1do e rnúlriplo: as condições da Igreja
r,1is de toda fornLI de SlJl-it·d,1dc qnc cxisti11 ;Ité .1gor,t) 11,-1\) pude, por ;111tL·s e dL'\)liis lLl H.cfun11;1 e Ju (~(_111L·íli() dL' ·1·rc1Jl{), l1cn1 L'( iJllll o Jivc:r-
definição, ter conccpçõcs clabor;1J;1s, sistcrndticas t: politiL·:n11cnte or- so desenvolvimento histórico-cultural dos países reforn1ados e dos or-
ganizadas e centraliz~1J;1s c1n seu (;linda que contr:1ditt'irin) dc~cnvolvi­ todoxos ;1pós a Rcform;1 e Trento s:io L'icrncntos rnuito significativos).
menro - , con10 ta1nbén1 n1últipla. E 1nt'iltipla ni""to ,tpc11.1s no scnrido É vcrJddc, as-;irn, que existe uma ''1nor<il do povo", enrcnJiJa como
de algo diversificado e justaposto, mas também no sentido de algo um conjunto determinado (no tempo e no espaço) de máximas para a
estratificado, do mais gros::;ciro ao menos grosseiro, se é que não se conduta prática e de costumes que deL1s derivam ou que as produzi-
deve até mesmo falar de um aglornerado indigesto de fragmentos de ram; moral que é estreitamente ligrtda, tal como a superstiç;10, às reais
todas as concePções do .11unJo e da vida que se s11ceder:1m na história, crenças religiosas: existem imperativos que são muito mais fortes, per-
da maioric_ das quais 1 aliás, somente no folclore é que poden1 ser en- sistentes e efetivos do que os da "'moral" oficial. Também nesta esfera
contrados os documentos mutilaJos e cont8Jninados que sobreviverarn. devem-se distinguir diversos esrr~1tos: os fossilizados, que refletem con-
Ta1nbé:m 0 pens~1n1cnto e a ciência moderna forncccn1 continua, dições de vid~1 passada e que são, portanto, conserv8dores e reacioná-
mente novos elementos ,10 ''fol._']orc moJcrno'·, n:l n1cdid.t c1n que rios; e os que süo uma série de inovações, freqücntemcnte criadoras e
ccrt:1s noçflcs ci,::ntífil·;is e LTrL1s opiniões, suhrr:1íd:1s de sc11L'(1ntcxtn e prngrcssisr.1s, dctcn11inadas cspli11t;11.1c;111H.:ntc por fc1r111;1s e con<lí~~õcs
n1~1is ou incnus JcsfiF.ur.1d,1:-. 1 c;1cn1 continu,1n1cntc no Ju111ínio popu- de vid<l c1n processo de descnvolvin1cnto, e que estão c1n contradição
lar e sii.o "inseridas" 110 iTiOs.lico J,1 tr<1diç:io <c1 S(operl..i d(-ll'i\n1erit:a, con1 a moral Jos estratos dirigenrcs, ou são apenas diferentes dela.
de e. Pascarclla, mosrr;1 co1no <-IS noçõt:s sobre Crisróvi10 Colombo) Cian1píni considera muito jusra a necessidade dcfcndiJa por Cro-
divu]g,1d,1s pelos manu,Jis cscolan_:s e pcL1s "UnivcrsiJaJLs populares", ciani de que o folclore seja ensin<tdo nas escolas onde s3.o preparados
bem como todd uma série de hipóteses cienrífic<-1.s pode1n ser :1ssimi!a- os futuros professores, mas depois nega que se possa formular a ques-
das de modo bizarro) [2]. O folclore só pode ser comprccnJiJu como táo da utilidade do folclore (há indubitavelmente confusão entre "ciên-
um reflexo das condiçôcs de vida cultural do povo, aínJa que certas cia do folclore", "conhecimento do folclore" e "folclore", isto é,
concepções próprias do foklore ou perdurem mesmo depois que as "existência do folclore"; ao que parece, Ciampini pretende se referir
condições foram (ou p;1rc~·:irn ter sido) n1odific,-\das 011, cnt:io, dêcm aqui prccisan1cnte à "existência do folclore", de modo que o professor
lugar a con1bina~'Õc~ biz:irr.i::.. não deveria co1nbater a conccpi;ii.o ptolomaica, que é própria do fol-
Decerto, existe urna "religi:ío Jo povo", partic11larn1ente nos paí- clore). Para CiJmpini, o folclore(?) é fim em si mesmo ou tem a única
ses caról!cos e ortodeixus, n111iro diYcrsa d:1 rcligi:ío <lus inrcll:Ct11ais (dos utilidade de oferecer a um povo os elementos para um 1n:üs profundo
que- s.lo religiosos) e n1i;ito divcrs,1, cn1 cspcL'ial J;iq11ll1e1rg.1nic:imcntt
1 conhccirncnto Jc si 1nes1no {fo!c]<.lrc Jcvcria significar aqui "conheci-
sisten1atizada pela hicrarqui.-1 ecle:si,istic<1 - c1nbur<1 se pcis.~a sustentar mento e ciência do folclore"). Estudar as superstições para erradicá-
que todJs as rcligiõcsi 8.té 111csmo as n1ais clabor.1d.1s e rctinr1das, s~o L-1s seria, para Ciampini, como se o folclore matasse a si mesmo,
"folclore" com rclaç;10 ac pcnsan1cnto n1oderno, com adi t"ercnça ca- enquanto a ciência é apenas conhecimento desinteressado, fim em si
pital de que as religiões, e a católica em primeiro lug;1r, s;10 precisa- mesma! Mo1s, então, por que ensinar o folclore nas escolas que prepa-
mente "elaboradas e sist(n1c1 tiiadas" pelos intelectuais (ver acim<l), pela ram os professores? Para aumentar a cultura desinteressada dos mes-
hierarquia eclesiástica e 1 portanto, ,1prescntam problc111as cspccífic0s tres? Para mostrar-lhes o que não devem destruir?

134 13 5
CADERNOS DO CÁRCERE
CADERNO 27

Como se vê, as 1déias de Ciampini são muito confusas, ou melhor, 1) A expressão católica, contra a qual os atuais polemistas não têm
intimamente incoerentes, já que, em outro local, o próprio Ciampini a coragem de tomar uma posição nítida, embora o conceito de "direi-
reconhecerá que o Estado não é agnóstico, mas tem uma concepção pró- to natural" seja essencial e integrante da doutrina social e política ca-
pria da vida e tem o dever de difundi-la, educando as massas nacionais. tólica. Seria interessante recordar a estreita relação que existe entre a
Mas esta atividade formativa do Estado, que se expressa não só na ativi- religião católica, tal como esta foi sempre entendida pelas grandes
dade política geral, mas particularmente na escola, não se desenvolve massas, e os "princípios imortais" de 1789. Os próprios católicos da
sobre o nada e a partir do nada: na realidade, ela está em concorrência hierarquia admitem esta relação quando afirmam que a Revolução
e em contradição com outras concepções explícitas e implícitas e, entre Francesa foi uma "heresia" ou que a partir dela se iniciou uma heresia,
estas, não é das menores e menos tenazes o folclore, o qual, portanto, isto é, reconhecem que ocorreu então uma cisão na própria mentalida-
deve ser "superado". Portanto, conhecer o folclore significa, para o pro- de e concepção fundamentais do mundo e da vida; de resto, só assim
··' fessor; conhecer quais são as outras concepções do mundo e da vida que se pode explicar a história religiosa da Revolução Francesa, já que de
atuam de fato na formação intelectual e moral das gerações mais jovens, outro modo seria inexplicável a adesão em massa de uma população
a fim de extirpá-las e substituí-las por concepções consideradas superio- que ainda era, decerto, profundamente religiosa e católica às novas
res. Desde a escola primária até as ... cátedras de agricultura, na realida- idéias e à política revolucionária dos jacobinos contra o clero. Por isso 1
de, o folclore já fora sistematicamente derrotado: o ensino do folclore pode-se dizer que, conceituai mente, não são os princípios da Revolu-
aos professores deveria reforçar ainJa 1n;1is ~stc tL1balho sistc111útico. É. ção Francesa que superam a religião, já que pertencem à sua mcs1na
certo que, para alcançar este objetivo, seria preciso modificar o espírito esfera mental, mas sim os princípios que são superiores historica1nen-
das pesquisas folclóricas, bem como aprofundá-las e ampliá-las. O fol- te (enquanto expressam exigências novas e superiores) aos da Revolu-
clore não deve ser concebido como uma bizarria, mas como algo muito ção Francesa, isto é, os que se fundam na realidade efetiva da força e
sério e que Jcvc ser levado a sério. So111entc assin1 o ensino será mais da luta.
eficiente e determinará realmente o nascimento de uma nova cultura entre 2) A expressão de diversos grupos intelectuais, de diversas tendên-
as grandes massas populares, isto é, desaparecerá a separação entre cul- cias político-jurídicas, sobre a qual se p;:-ocessou até agora a polêmica
tura moderna e cultura popular ou folclore. Uma atividade deste gêne- científica sobre o "direito natural". Quanto a isso, a questão foi resol-
ro, feita em profundidade, corresponderia no plano intelectual ao que vida fundamentalmente por Croce, com o reconhecimento de que se
foi a Reforma nos países protestantes. tratou de correntes políticas e publicísticas que tinham seu significado
e sua importância na medida em que expressavam exigências reais na
§ 2. "Direito natural" e folclore. Ainda hoje é exercida uma certa forma dogmática e sistemática da chamada ciência do direito (cf. a
crítica, no mais das vezes de caráter jornalístico e superficial, não mui- análise de Croce) [4]. Contra esta tendência é que se desenvolve a
to brilhante, contra o chamado direito natural (cf. algumas elucubrações polêmica "aparente" dos atuais praticar.tcs da ciência do direitoi os
de Maurizio Maraviglia e os sarcasmos e as zombarias mais ou menos quais, na realidade, ao não distinguirem entre o conteúdo real do "di-
convencionais e en";elhecidas dos jornais e das revistas) [3]. Qual é o reito natural" (reivindicações concretas de caráter político-económi-
significado real dcsics exercícios? co-social), a forma da teorização e as justificativas mentais_ que deste
Para compreender isto, parece-me ser preciso distinguir algumas conteúdo real são dadas pelo direito natural 1 cheg~1m a ser mais acríticos
das expressões que tradicionalmente assumiu o "direito natural": e anti-históricos do que os teóricos do direito natural, isto é, são asnos

136 137
1
'
CADERNOS DO CÁRCERE

com antolhos do mais tosco conservadorism o (que se refere também


às coisas passadas e "'historicament e" superadas e varridas).
3) Na realidade, a polémica visa a frear o influxo que poderiam ter
(e que tiveram realmente), particularmente sobre os jovens intelectuais,
as correntes popuL1rcs Jo ''direito ncnural", i·sto é, o conjunto de opi-
niões e de cren~as sobre os "próprios" direitos que circulam ininterrup-
tamente entre as massas populares, que se renovam continuamente sob
o impulso das reais condições de vida e da espontânea comparação entre
o modo de ser das diversas camadas. A religião tem muita influência
sobre estas correntes, à religiã.o em todos os sentidos, desde aquela tal
5. Caderno 29 (1935):
como é sentida e praticada até aquela tal como é organizada e sistema- Notas para urna introdução ao
tizada pela hierarquia, que não pode renunciar ao conceito de direito
estudo da gramática
popular. l\1as influe1n sobre tais correntcs 1 através de c;tminhos inte-
lcctudis incontroláveis e capilàrc:s, rambé1n uma série di.:: conceitos di-
fundidos pcL1s correntes L1.11..·.1s do L!ireilo tLltllLil, <.: ;1"111d:1 SL" tor11an1
"direito ni.ltun-i.l", <HLn·t-s d.1s m.iis yariaJ,1s e bizc1rL1s cont<1n1inações,
também certos progrc1n1as e proposições afirmados pelo ''historicismo".
Portanto, existe uma n1assc1 Je opiniões "jurídicas" populares, que as-
sumem a forma do "direito natural" e constituem o "fol-::lore" jurídi~
co. Que est<:l corrente tenha ur;ia importância não insignificante é algo
demonstrado pela organização das "Cortes de Apelação" e de toda: uma
série de magistraturas arbitrais ou de conciliaç8.o, em todos os campos
das relações individuais e de grupo, que deveriam julgar levando em
conta precisamente o "direito" tal como o povo o entende, controlado
pelo direiro positivo e oficial. Nem se deve pensar que a importância
desta questão tenha desaparecido com a abolição dos júris populares,
já que nenhum magistrado pode, em nenhuma medida, prescindir da
opinião: é provável, aliás, que a questão se ~eapresente sob outra for-
ma e em proporção bem mais ampla do que no passado, o que não
deixará de gerar perigos e novas séries de problemas a resolver.

l 3"
§ 1. Ensaio de Croce: "Questa tavola rotonda e quadrata" [1]. O en-
saio é equivocado até mesmo do ponto de vista crociano (da filosofia
crociana). O próprio emprego que Croce faz da proposição mostra que
ela é "expressiva" e, portanto, justificada: pode-se dizer o mesmo de
qualquer proposição, ainda que não "tecnicamente" gramatical, que
pode ser expressiva e justificada na medida em que tem uma função,
embora negativa (para mostrar o "erro" de gramática, pode-se empre-
gar um despropósito gramatical). Portanto, o problema deve ser for-
mulado de outra maneira, ou seja, nos termos de "disciplina em relação
à historicidade da língua", quando for o caso dos "erros gramaticais"
(que são ausência de "disciplina mental", neolalismo, particularismo
provincial, jargão, etc.), ou em outros termos (no mencionado caso do
ensaio de Croce, o erro é estabelecido pelo fato de que uma tal propo-
sição pode aparecer na representação de um "louco", de um anormal,
etc., e adquirir valor expressivo absoluto; como representar alguém
que não seja "lógico" a não ser fazendo-o dizer ~·coisas ilógicas", etc.?).
Na realidade, tudo o que não é ''gramaticaln1ente exato" pode tam-
bém ser justificado do ponto de vista estético, lógico, etc., contanto
que seja visto não na lógica particular, etc., da expressão imediatamente
mecânica, mas como elemento de uma representação mais ampla e
abrangente.
A questão que Croce pretende formular - "o que é a gramática?"
- não pode ser solucionada em seu ensaio. A gramática é "história"
ou "documento histórico": é a "fotografia" de uma determinada fase
de uma língua nacional (coletiva), historicamente formada e em contí-
nuo desenvolvimento, ou os traços fundamentais de uma fotografia. A

1 41
CÁRCERE CADERNO 29
CADERNO S DO

questão prática pode ser a seguinte: para que serve tal fotografi a? Para imitar o modo de falar da cidade; as classes subaltern as buscam falar
fazer à história de uni aspcL'to d,l civilizaç;lo ou p;1r;1 moJifica r um as- como as classes dominan tes e os intelectu ais, etc.)
pecto da civilização? Poder-se-ia esboçar um quadro J<:t "gramúti ca normativc1" que opera
A pretensã o de Croce levari<l a negar, entre outn1s coisas, qualquer espontan eamente em toda sociedad e determin ada, na medida em que
valor a um quadro q11c rcpresent:-1s.sc 1 por exemplo, 11ma ... sereia; isto esta tende a unificar-s e seja como território , seja como cultura, isto é,
é, seria preciso concluir que tod:l proposi~·ão deve correspo nder ao na medida cm que existe nesta socicdildc un1a ca111,J.:ia dirigente cuja
verdadeir o ou ao vero:;:;fnzil, e!c. função é reconhec ida e seguida.
(A proposiç ão pode ser não lógica em si, contradit ória, mas ao O número das "gramáti cas espontân eas ou imanente s" é incalculá-
mesmo tempo "coerent e" num quadro mais amplo.) {B} vel e, teoricam ente, pode-se dizer que cada pessoa tem sua própria gra-
mática. Todavia, ao lado desta "desagregação" de fato, devem-se sublinhar
§ 2. Quantas formas de gramática podem existir? Várias, certa- os movimen tos unificadores, de maior ou menor amplitud e, seja como
mente. 1-Iá aquela "imanen te" à própria língua, que faz uma pessoa área territoria l, seja como "volume lingüístic o". As "gramáti cas nor-
falar "de acordo com '' gramátic a" sem sabê-lo, tal como o persona- mativas" escritas tendem a abarcar todo um território nacional e todo o
gem de Moliere falava em prosa sem sabê-lo. Nem creio ser inútil
rccord:1r isto, j<'í que P:inzini (Cuido alia gra11unalic 11 itirliflna, 18º i "volume lingilístico", a fim de criar um conformi smo lingüístic o nacio-
nal unit1írio, o qual, Jc resto, pôc 1111n1plano1nais clcvaJo o "individu a-
milhciro ) n~10 parece distin);!uir entre esta "gra1nJ.tica" e a gramátic a
"normati va", escrita, sobre a qual pretende falar e que] he parece ser
! lismo" expressivo, já que cria um esqueleto mais robusto e homogên eo
para o organisn10 lingüístic o nacional, do qual cada indivíduo é o refle-
a única gran1ática existente possível. O prefácio à primeira edição está
xo e o intérprete . (Sistema 1i1ylor e autodidat ismo.)
repleto de leviandad es, que, de resto, têm seu significa do num escri-
Gramátic as histórica s e não só normativ as. - Mas é evidente que
tor (e consider ado especiali sta) de coisas gramatic ais, tal como a afir-
um escritor de gramátic a normativ a não pode ignorar a história da lín-
mação de que "podemo s escrever e falar mesmo sem gramátic a" [2].
Na realidade , além da "gramáti ca imanente " a toda língua existe
1 gua da qual pretende propor uma "fase exemplar " como a "'única" digna
1 de se tornar, "orgânic a" e "totalitar iamente" , a língua "comum " de uma
também, de fato, ou seja, ainda que não escrita, uma (ou m~is) gra-
1 nação, em luta e em concorrê ncia com outras "fases" e tipos ou esque-
mática "normati va", constituí da pelo controle recíproco , pelo ensina-
1 mas que já existem (ligados a desenvol vimentos tradicion ais ou a ten-
mento recíproco , pela "censura " recíproca , que se manifest am nas
tativas inorgânic as e incoeren tes das forças que, como se viu, operam
pergunta s: "O que você entendeu ou quer dizer?", "Expliqu e-se me-
lhor", etc., com a caricatur a e a ironia, etc. Todo este conjunto de continua mente sobre as "gramáti cas" espontfln eas e imanente s à lin-
ações e reações conflui no sentido de determin ar um conform ismo guagem). A gramátic a histórica não pode deixar de ser "compar ativa":
~ramatical, isto é, de estabelec er "normas " e juízos de correção e de expressão que, analisada a fundo, indica a íntima consciên cia de que o
incorreçã o, etc. Mas esta manifest ação "espontf1 nea" de um confor- 1 fato lingüístico, como qualquer outro fato histórico , não pode ter fron-
mismo gramatic al é necessar iamente desconex a, descontí nua, limita· teiras nacionais estreitam ente definidas , mas que a história é sempre
da a estratos sociais loc;Üs ou a centros locais, etc. (Um camponê s "história mundial" e que as histórias particula res vivem somente no
que vai para a cidade termina, graças à pressão do ambiente urbano quadro da história mundial. A gramátic a normativ a tem outras finali-
por conforma r-se ao modo de falar da cidade; no campo, busca-s; dades, ainda que não se possa imaginar a língua nacional fora do qua-

142 1 43
CADERN O 29
CADERN OS DO CÁRCER E

de resto, nem sequer se põe o problem a de saber se existe (e qual seja)


dro das demais línguas , que influem , através de caminh os variado
s um centro de irradiação espont ânea a partir do alto, isto é, de forma
e de difícil verific ação, sobre ela (quem pode contro lar a contrib ui-
relativamente orgânica, contínu a, eficiente; e de saber se tal irradiaç
ção de inovaç ões lingüís ticas devidas aos emigra dos repatri ados, aos ão
viajant es, aos leitore s de jornais e línguas estrang eiras, aos traduto pode ou não ser regulad a e intensificada. {B}
-
res, etc.?).
§ 3. Focos de irradiação de inovações lingüíslicas na tradição e
A gramát ica normat iva escrita, portant o, pressup õe sempre uma de
"escolha", uma orienta ção cultural, ou seja, é sempre um ato de polí-
um con(orniisnio nacional lingüístico nas grandes rnassas n.a.cionais. 1)
a escola; 2) os jornais; 3) os escritores de arte e os populares; 4) o tea-
tica cultural-nacional. Será possível discutir sobre o melhor modo
de tro e o cinema falado; 5) o rádio; 6) as reuniões públicas de todo
apresen tar a "escolh a" e a "orient ação" a fim de que sejam aceitas o
de tipo, incluídas as religiosas; 7) os relatos de "conversas" entre os vári~s
bom grado, isto é, discutir sobre os meios mais adequa dos para atingir
o objetivo; não pode haver dúvida de que há um objetivo a alcança estrato s da população, mais cultos e ou menos cultos - (uma questao
r, à qual talvez não se dê toda a import ância devida é constit uída por
que requer meios idôneo s e adequados, ou seja, de que se trata de um
aquela parcela de "palavras" versificadas que é aprend ida de memó-
ato político.
ria, sob a forma de cançonetas, fragmentos de ópera, etc. Deve-se no-
Questões: saber qual é a naturez a deste ato político e se ele susci-
tar como o povo não se empen ha em decora r bem estas palavras, que
tará oposições de "princí pio", uma colabor~ção de fato, oposição nos
detalhes, etc. Se se parte do pressup osto de centralizar o que já existe são freqiicntcn1cntc extravagantes, antiqu;H.Ías, barrocas, mas as redu-
za a ladainhas cuja única utilidad e é recorda r o motivo musical); 8)
em estado difuso, disseminado, mas inorgânico e incoere nte, parece os
dialetos locais, entend idos cm diversos sentidos (Jos dialetos mais
eviden te que nr10 é r~cional uma oposiçiío de princípio; cabe, ao con- lo-
calizados até os que abrang em conjun tos regionais mais ou menos
trário, uma colabo dção de fato e um,1 cuidadosa acolhid a de tudo
o amplos: por cxcn1plo, o napolit ano para a Itúlia meridional, o pàler-
que possa servir para criar uma língua comum nacional, cuja inexistência
determin~ atritos sobretu do nas massas popula res, entre
mitano e o catanês para a Sícilia, etc.).
as quais são Dado que 0 processo de formação, de difusfo e de desenvolvimento
mais tenazes do que se crê os particularismos locais e os fenômenos
de de uma língua nacion,11 unitári a o~orre através de todo um comple
psicologia restrita e provinciana; trata-se, em suma, de uma intensif xo
i~ de processos rnoleculares, é útil ter consciência de todo o processo em
cação da luta contra~ analfabetismo, etc. A oposiçã o de "fato" já exis-
seu conjun to a fim de ter condições de intervi r ativamente no me~mo
te na resistência das massas a se desvencilharem de hábitos e psicologias
com um máxim o de resultados. Esta intervenção não deve ser conside
particularistas. Resistência estúpida, determ inada pelos defensores faná- -
rada como "decisiva" nem se deve imaginar qne todos os objetiv
ticos das línguas internacionais. É claro que, nesta ordem de problemas, os
propos tos scrdo atingidos em seus detalhes, isto é, que s:rá obtid~ ~1:1ª
não pode ser discuti da a qucsrã o da lura nacion al de uma cultura
deternzinada língua unitária: o que será obtido é uma lzngua u1utana
hegemônica contra outras nacionalidades ou resíduos de nacionalidades. ,
caso ela seja uma necessidade, e~ interve nção organiz ada acelerará
Panzini nem de l\mge se põe tal problema; e, por isso, suas publi- os
tempos do processo já existente. E impossível prever e estabelecer qual
cações gramaticais sã6 incertas, contrad itórias, oscilantes. Não se põe,
será esta língua; de qualqu er modo, se a interve nção for "racion al",
por exemplo, o problem a de qual seja hoje, a partir de baixo, o centro
ela será organic amente ligada à tradição, o que não é de pouca impor-
de irradiação das inovações lingüísticas, um problem a que, porém, tem
uma não desprezível import ância prática. Florença, Roma, Milão. Mas, tância na econom ia da cultura.

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144
CADERNOS DO CARCE;.RE CADERNO 29

l\1anzonianos e "classicistas". 1\nham um tipo de língua que que· § 5. Graniâtica histórica e granuíticd norn1atiua. Dado que a gramá-
riam fazer predomin<Jr. Não é justo dizer que estas discussões foram tica normativa é um ato político e que só a partir deste ponto de vista
inúteis e que núo deixaram marcas na cultura moderna, ainda que não pode-se justificar "cientifica1ncntc" s1L1 existência, bc1n como o enorme
muito grandes. Na realidade: neste último século, a cultura unitária se trabalho de paciência que seu aprendizado requer (como é grande o tra-
ampliou e, portanto, tãmbém uma língua unitária comum. !vias toda a balho necessário para fazer com que, de centenas de milhares de recru-
formação histórica da ndç;10 italiana se dava em ritmo demasiadamen- tas da mais variada origem e preparai;ão mental, resulte um exército
te lento. Sempre que aflora, de um modo ou de outro, a questão da homogêneo e capaz de movimentar-se e atuar disciplinada e simulta-
líng11;1, isto significa que. uma série de outros problemas c:stá se impon- neamente, como serão nun1erosas as "lições práticas e teóricas,, de
do: a formdção e a ampliação da classe dirigente, a necessidade de es- regulamentos, etc.), dado isto, deve ser posta sua relação com a gramá-
tc1bclcccr rcL1çõcs m;-lis íntin1as e seguras entre os grupos dirigentes e a tica histórica. Não ter definido esta relação explica muitas incongruên-
massa popular-nacional, isto é, de reorganizar a hegemonia cultural. cias das gramáticas normativas, até a de Trabalza-Allodolí. Trata-se de
Verificam-se hoje diversos fenômenos que indicam um renascimento duas coisas distintas e em parte diversas, como a história e a política,
destas questões: publicações de Panzini, Trabalza-Allodoli, Monell1, mas que não podem ser pensadas independentemente: como a política e
co!un:is nos jornais, intervenção das direções sindic;tis, etc. [3] {B} a história. 1\dcn1<lis, j;í que o cstuJu J,1~ línguas i.:01110 fcnôn1cno cultural
n;t.;;ceu de nc:cc.'\sidades políticas (111;\is ou 111cnos cunsi.:icntcs e cons-
~ 4. lJi1'ersos tipo,\ d(' gr11111úti1i1 norn111fiz1t1. P.1r:1 :is cs1..·olas. Para as cicntc1ncn1L.' vxprcssas), as ncc1.~s:-.i,L1d1.'S da gr;11n;itil'<l nonn;1tiva influí-
chan1ad,1s pessoas cultas. Na realidade, cl diferença se dc:vc ao diverso ran1 sobre <l gran1ática históriC<l e :-.ubrc suas '\.:unccp~-(Jcs lc~islativas"
grau de desenvolvimento intelectual do leitor ou do estudioso e, por- (ou, pelo nlcnos, este elcn1cnto tradicio1L1l reforçou, no século passado,
tanto, à diferente técnica que é preciso empregar para e-nsinar ou in- a aplicaç,10 do método naturalista-positivista ao estudo da história das
tensificar o conhecimento orgânico da língua nacional: aos jovens, en1 línguas, concebido como '"ciência. da linguagem"). Da gramática de
face dos quais não se pode prescindir didaticamente de unia certa rigi- Trabalza, bem como da demolidora resenha de Schiaffini (NuovaAnto-
dez autoritária peremrtória ("tem qtJe se dizer desse jeito") 1 e aos "ou- 1 logia, 16 de setembro de 1934), depreende-se que também os chama-
tros", que, ao contrário, é preciso "persuadir" pKra- L1zê-los aceitar i dos "idealistas" não compreenderam a renovação trazida à ciência da
livremente uma detern1inKda solução como a melhor (dcn1onstrada linguagem pelas doutrinas de Bartoli. A rendGncia do "idealismo" en-
como a melhor graças à obtenção do objetivo proposto e co1np~1rtilha­ 'I controu sua mais completa expressão em Bertoni: trata-se de um retor-
do, quando é comparrilhJdo). Não se deve esquecer, ademais, que no no a velhas concepções retóricas, sobre palavrds "belas" e "feias" em si
estudo tradicional da gr.-uná.tica normativri. foram inseridos outros cle- e para si, concepções maquiadc1s com Um<l nova língu;1gcn1 pseudo-
menros do programa di dJ.rico de ensino geral, como o de certos ele- cicntífica [4]. Na realidade, busca.· se encontrar uma justific,1tiva extrínseca
mentos da lógica forn1al: pode-se discutir se est:1 inscn,'i'to é ou não para a grarn:ítica normativa, depois de se ter "revelado'', d1.~ n1odo igual-
oporru11c1, se o cstudu cL1 lógica forn1al é ou não justi fie;1Jo (parece n1cnte extrínseco, sua "inutililLllk·" teórica e 1ncsn10 prútica.
justificado e parece também justificado que seja acumpanh,1do pelo da O ensaio de Trabalza sobre a Storia de1la grrunrnatica poderá for-
gram8.tica, mais que pelo da aritn1ética, ctc. 1 pela scn1clh;1nça de natu- necer indicações úteis sobre as interferências entre gr<1n1ática histórica
reza e porque, junto con1 a gramática, a lógica forn1<tl é relativamente (ou melhor, história da língua) e granütica normütíva, sobre a história
vivificJ.da e facilitada), mas não se deve prescindír da questão. {B} do problema, etc. [5] {B}

146 147
i
CADERNOS DO CÁRCERE
CADERNO Z9

§ 6. Grrnnática e técnica. Pode-se pôr, para a gramática, a mesma


A gramática normativa, que só por abstrc1çr10 pode ser considerada
questão que para a "técnica" em geral? A gramática é apenas a técnica
separadamente da linguagem viva, visa a fazer com que se aprenda todo
da língua? Será gue se justifica a tese dos idealistas, particularmente o organismo de uma determinada língua, bem como a criar uma atitu-
dos gentilianos, de que a gramática é inútil e deve ser excluída do en-
de espiritual que torne as pessoas capazes de se orientarem sempre no
sino escolar? Se as pessoas falam {se se expressam através das palavras) ambiente lingüístico (ver a nota sobre o estudo do latim nas escolas
de um modo historicamente determinado por nações ou por áreas lin- clássicas) [6]. Mesmo que a gramática seja excluída da escola e deixe
güísticas, pode-se prescindir do ensino deste "modo historicamente de ser "escrita", nem por isso será excluída da «vida" real, como já foi
determinado"? Admitindo-se que a gramática normativa tradicional seja dito em outra nota: exclui-se apenas a intervenção organizada unita-
insuficiente, será esta uma boa razão para não se ensinar nenhuma riamente no aprendizado ua língua e, na realidade, exclui-se do apren-
"gramática", isto é, para não se preocupar de nenhum modo em acele- dizado da língua culta a massa popular nacional, já que a camada
rar o aprendizado dfquele determin·ado modo de falar de uma certa dirigente mais elevada, que tradicionalmente fala a "língua nacional",
área lingüística, mas deixar que a "língua se aprenda na linguagem viva" transmite-a de geração em geração, através de um processo lento, que
ou outra expressão qualquer empregada por Gentil e e pelos gentilianos? começa com os primeiros balbucias da crianç,1 sob a guia dos pais e
Trata-se, no fundo, de uma forma de "liberalismo" das mais excêntri- continua na conversação (com os "é assim que se diz", "é assim que se
cas e absurdas. Diferenças entre Croce e Gentil e. Gentil e habitualmente deve dizer", etc.) durante toda a vida: na rc:iliLL1dc, a gramárica se es-
se baseia Clll C:rucc, l'X;tgt.:rando ao ahs11rJo.algun1as de suas posições tuda "sempre", etc. {com a imitação <los modelos admirados, etc.) [7].
teóricas. Croce afirma que a gramática não faz parte de nenhuma das Na posição de Gentile, há muito mais política do que se crê e muito
ativid:1des cspiritu;1is tcóric:1s por ele cL1horadas mas termina pnr en-
1 rea1.:i on ar i sn 10 i 11 L'( lll Sl ·i cn te, çotno, d t • rcsl ( l <>hscrv 011-sc 011tr:1.s vczcs
1
contrar na ··prúlica" urna justificativa para 1nuitas atividades negadas e em outràs ocasiões; há todo o reacionarismo da velha concepção li-
no âmbito teórico: Gentile exclui tan1bém da prática, num primeiro beral, há um «deixar fazer, deixar passar" que não é justificado, como
momento, aquilo que nega no plano teórico, a não ser quando encon- era em Rousse,1u (e Gentile é mais rousseauniano do que ele mesmo
tra depois uma justificação teórica para as manifestações práticas mais crê), pela oposição à paralisia da escola jesuítica, mas que se tornou
superadas e tecnicamente injustificadas. uma ideologia abstrata, <'a-histórica". {B}
Deve-se aprender "sistematicamente" a técnica? Já ocorreu que, à
técnica de Ford, tenha sido contraposta a do artesão de aldeia. Apren- § 7. A c/Janu1da ccquestão da língua". Parece claro que o De Vulgari
de-se a <<técnica industrial" de várias maneiras: o artesão, durante o Eloquio, de Dante, deva ser considerado essencialmente como um ato
próprio trabalho na fábrica, observando como os outros trabalham (e, de política cultural-nacional (no sentido que nacional tinha naquela
portanto, com maior perda de tempo e de esforço e apenas parcial- época e cm Dante), do mesmo modo como sempre foi um aspecto da
mente); nas c.:scoL1s profissionais (onde se aprende sistematicamente luta política o que se chamou de «questão da língua", que é interessan-
toda a profissão, e1nbora algumas noções aprendidas sejam ut~lizadas te estudar a p~1rtir deste ponto de vista [8]. Ela foi uma reação dos in-
poucas vezes na vida ou mesmo nunca); <!través da combinação de vá- telectuais ao esfacelamento da unidade política que existiu na Itália sob
rias maneiras, através do sistema Taylor-Ford, que cria um novo tipo o nome de "equilíbrio dos Estados italianos'\ ao esfacelamento e à
de qualificação e de profissão restrito a determinadas fábricas e, tam- i!1 desintegração das classes econômicas e políticas que se vinham forman-
bém, a máquinas ou momentos do processo produtivo. do após o século XI com as Comun;1s, e represent<l a tentativa (que em

J
1 48 1 49
CADERNOS DO CÁRC-EFfE

grande parte pode-se dizer exitosa) de conservar, e mesmo de refor-


çar, uma camada intelectual unitária, cuja existência devia ter um sig-
nificado não insignificante nos séculos XVJII e XIX (no Ri::;orgimento).
O opúsculo de Dante tem também um significado não desprezível para
a época em que foi escrito: não só de fato, mas elevando o fato à reo-
ria, os intelectuais italianos do período mais exuberante d,ts Comunas
"rompem" com o latim e justificam a língua vulgar, exalt<-lndo-a con-
tra o "mandarinismo" latinizante, ao mesmo tempo em que o vulgar
alcança assim grandes manifestações_artísticas. Que a tenLttiva de Dante
tenha tido enorme irnportância inovadora é algo que se vê mais Lardc,
6. Dos cadernos miscelâneos
quando o latim voli:<i a ser a língua das pessoas cultas (e aqui pode sç
inserir a questão do duplo <-lspecto do Humanismo e do F.enascimento,
que foram essencialn1cnte reacionários do ponto de viSLl n.lcional-
popuL1r, n1as progrcssisLts cnqu:into cxprcssi10 Ju dcs·211volvimcnto
cultur.il dus grupPs i11tclccluais 1Lilianos l' c11ro11v11s). { H}

§ 8. De Bartoli, '"Quistioni linguistichc e díritti nazioii:1ll", discur-


so pronunciado na abertura do ano acaJC:1nico turinl·s llc J 934, publi-
cado em 1935 (ver nota na Cultur<1 de abril de 1935). Parece, pela nota,
que o discurso é niuito discutível em algumas partes gerais: por exem-
plo, a afirniaçào de que ''a Itália dialetal é una e indivisível".
Informações sobre o atL1s lingüístico public~1do cn1 dois números
de um Bollettino. {B}

§ 9. O título do estudo poderia ser: "Língua nacional e gramá-


tica". {B}

1 50
CADERNO 1 (1929-1930)

§ 9. Soffici. Um caipira sem ingenuidade nem espontaneidade.

§ 81. Nino Daniele, D'Awumzio politico, São Paulo, 1928. Um li-


vro que deve ser lido.

§ 99. Um famoso fanfarrão desmiolado é Antonio Bruers, uma das


muitas rolhas de cortiça que sobem à superfície lamacenta das águas
agitadas !.l]. No Lovuru (ascisl!l Je 2.) Je ;1gt):-.to Jc 1929, ele J;í cu1no
provável a afirmação na Itália de uma filosofia "que, embora sem re-
nunciar a nenhum dos valores concretos do idealismo, seja cap;1z de
compreender, em sua plenitude filosófica e social, a exigência religio-
sa. Esta filosofia é o espir.itualisrno, doutrina sintética(!), que náo ex-
clui a imanência, mas confere o primado lógico à transcendência, que
reconhece praticamente(!) o dualismo e, portanto, confere ao deter-
minismo, à natureza, um valor que se concilia com as exigências do
experimentalismo". Esta doutrina corresponderia ao "gênio predo-
minante da estirpe itálica", da qual Bruers, apesar do nome exótico,
seria natuciln1cntc o coroamento histórico, espiritual, imanente, trans-
cendente, ideal 1 determinado, prático e experimer.tal, bem como re-
ligioso.

§ 100. Goffredo Bellonci, Pagine e idee, Ed. Sapientia, Roma. Ao


que parece, trata-se de uma história da literatura italiana originalmen-
te subvertida pelo lugar-comum. Este Bellonci não passa de uma cari-

153
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
e AD ERN o5 D o e Á R e E--R E

so de lançar-se em alto-mar: não tem a impudência de Malaparte. É


c~t.ura do jornalismo literárío; um Bouvard das idéias e d<-1 política, uma
v1t1ma de 11ario !v1issirolii que, por sua vez 1 já era uma víti1na de Oriani interessante notar como a Italia Letteraria não formula juízos própríos
e de Sarei [2]. e espera sempre que os figurões falem primeiro. Foi o que ocorreu com
Os indiferentes de Moravia, mas foi mais grave ainda o caso de I Malagigi
.§ 101. Piedigrot1<1. Num .migo no Lavara (8 de scrcmbro de 1929), de Nino Savarese, um livro realmente saboroso, só resenhado quando
Adnano Tilgher escreve que a poesia dialetal napolitana e, portanto, entrou na lista tríplice para o prémio dos "Trinta", tendo sido ignora·
~m grande parte} o sucesso Jas canções de Piedigrotta passa1n por uma do por ocasião de sua publicação nas páginas da Nuova Antologia. As
intensa crise. Teriam scc;-tdo suas duas grandes fontes: realismo e sen- contradições deste grupo de escrevinhadores são realmente divertidas,
timcntalisn10. ''A mud;111~~1 dos sentimentos e do gosto foi tão rápida e mas não vale a pena registrá-las. Lembram os Bandar Log do Livro da
de~ordenada, tão vertiginosa e súbita, e ainda está tão longe de se cris- selva: "nós faremos, nós criaremos", etc., etc. [4]
talizar em algo estável e duraJouro, que os poetas dialetais que se aven-
turan1 c1n tais areias n1ovcdiças para tent<lr levá-las à dureza e à clareza
da fonntl est;10 condcn,1Jos a soçobrar sem reméJio."
1\ cris<.: J~ Pic~igrottd é r<.:aln1cnte: um ~inal dos tcn1pos. 1\ teorização
CADERNO 2 (1929-1933)
do SD]'tT-r~·h1011al1s~ll(J JJL!\(>tl o supvr-rvgionalis111ti (11:1 vvrd;idc, prc-
tc11d1,1-sc tix,1r u1n tig11rino ll'lldl'Il\.:ioso do supcr-rcgion.disn 1o cmbo- § 14. A1ny /\.. Bernardy, For1ne 1' colori di vila regionnle italiana.
l~rado e b,~sbaquc). F, Jc resto, a época 111odcrna n;ío é expansiva e Pie111onte, vol. 1, Zanichclli 1 Bolonh;1 1 20 lir;1s. (Co1npilar bibliografias
s1~11 _rcprcss1va. Não 1n,1is se ri co111 o cora~·:10: o sorriso é apenas sar-
de todas as coleções que se àcup;1n1 da vida regional e que tcnha1n um
c~snco e se taz_em me_cânicas piadas provincianas. A fonte c!e Piedigrotta
certo valor. Bibliografia ligada à qucsté10 do folclore.)
nao secou; foi esvaz1:1da porque se tornou "oficial" e os cantores po-
pulares
, se_ tornaran1 tuncionórios (ver o caso de Libero Bovio) (e c.f o
§ 47. Ada Negri. Artigo de Michele Scherillo na N11ova Antologia
apologo lrancês.sobre o funcionário corno) [3].
de 16 de setembro de 1927. Sobre Ada Negri, seria preciso fazer um
estudo histórico-crítico. Pode ser chamada, num período de sua vida,
§ 102. "'La Fiera Letterari,l", que depois se transfornzou ern ''L'Italia
de "poetisa proletária" ou simplesmente "popular"? No campo da
Letteri1rid", sempre fol, mas está se tornandÜ cada vez mais, u 1n saco
cultura, creio que ela representa a ala esquerda do romantismo de 1848;
de b.iLuas. Tem dois dircrorcs, n1as é con10 se n:io tivesse nenhum e
um se~rct.írio examín:1sse ,1 correspondêncía que chega, tirando na sorre o povo se torna cada vez mais proletariado, mas é visto ainda como
os ~:i.~ngo~ a ~ublicar. O curíoso é que os dois diretores, lvfalaparte e povo, não através dos germes de reconstrução original que contém em
~n~1olett1, nao escrevem em seu próprio periódico e preferem outras si (mas, ao contrário, através da queda que representa passar de "povo''
v1tnn,1s. Os esteios da red,1~J.o devem ser Titta Rosa e Enrico Falqui· e a "proletariado"?). (Em Stella 11wtt11tina, Treves, 1921, AdaNegri nar-
~os dois, o 1nais côn1ico é o segundo, que redige 0 '"'observatório 'd~ rou os episódios de sua vid,1 de menina e adolescente [5].)
1r:iprcnsa", saltitando à esyucrda e à direita, sem bússola e sem idéias.
Titta R.osa pontifica n1ais, dando-se ares de grande pontífice desencan- § 53. Giovanni Cena. A figura de Cena deve ser cstud,1d<1 de dois
tado rni.:srno quando CSL'rcvc dispaL-1tcs. Angioletti parece muito temera- pontos de vista: como escritor e poeta ""popular" (cf. 1\Ja Negri) e como

1 ss
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MlSCELÂNEOS

homem de ação empenhado na criação de instituições para a educaç.'io possível encontrar neste volume indicações para identificar a impor-
dos camponeses (e>colas da zona rural de Roma e da zona pantanosa tância na Sicília das "competições poéticas" ou "torneios", realizados
do Pontino, fundadas com Angelo e Anna Celli). Cena nasceu em em público como representações teatrais populares. Qual é seu cará-
Montanaro Canavese, em 12 de janeiro de 1870, e morreu em Roma, ter? Segundo uma resenha publicada no Marzocco de 1929, parece
em 7 de dezembro de 1917. Em 1900-1901, foi correspondente da puramente religioso.
Nuova Antologia em Paris e em Londres. Em 1902, tornou-se editor
da revista, função que exerceu até a morte. Discípulo de Arturo Graf. § 112. Literatura popular. Victor Hugo. Sobre Victor Hugo, recor-
(Em Gandidati alflmmortalità, de Giulio De Frenzi, é publicada uma dar suas relações estreitas com Luís Filipe e, portanto, sua atitude
carta autobiográfica de Cena [6].) Recordar o artigo de Cena, "Che monarquista constitucional em 1848. É interessante observar que, en-
fare?", publicado pela Voce em 1912 (ao que me parece). quanto escrevia Os miseráveis, escrevia também as notas de Choses vues
(publicadas postumamente); e os dois escritos nem sempre estão de
§ 67. Nicola Zingarelli, "Le idee politiche di Petrarca", Nuova acordo. Examinar tais questões, já que Hugo é considerado habitual-
Antologia, 16 de junho de 1928. mente como um homem coerente, etc. (Na Revue des Deux Mondes de
1928 ou 1929, mais provavelmente de 1929, deve haver um artigo sobre
§ 103. Adriano Tilgher, "Perché !'artista scrive o dipinge, o scolpisce este assunto.)
ecc.?", na Italia che scrive de fevereiro de 1929.
Artigo típico da incongruência lógica e da ligeireza moral de Tilghcr,
o qual, depois de ter "arrasado" de modo banal a teoria de Croee sobre
o assunto, reapresenta-a tal e qual, no final do artigo, como sendo sua, CADERNO 3 (1930)
de forma fantasiosa e imaginária. Tilgher afirma que, segundo Croce, "a
exteriorização física [... ]do fantasma artístico tem finalidade essencial-
§ 7. O povo (ora bolas!), o público (ora bolas'). Os políticos improvi-
mente mnemônica" etc. Deve-se examinar este tema: o que significa para
sados perguntam, com a auto-suficiência de quem sabe muito: "O povo!
Croce, neste caso, "memória"? Tem um valor puramente pessoal, indi-
Mas o que é este povo? Quem o conhece' Quem um dia o definiu?"
vidual, ou também de grupo? O escritor preocupa-se apenas consigo, ou
Contudo, não fazem nada além de maquinar truques e truques para
é levado historicamente a pensar também nos outros? etc.
conquistar as maiorias eleitorais. (De 1924 a 1929, quantos foram na
Itália os comunicados para anunciar retoqncs na lei eleitoral? Quantos
§ 108. Lilm11tm1 l'op11/ar. Edo11rdo Peri110. Sobre a atividade edi-
projetos de novas leis eleitorais foran1 aprescnt.1dos e retirados? O elc:--i-
torial de Pcrino, cjuc marcou épocc1 c1n Roma (Perino publicou litera-
co seria interessante cm si mesmo [7].) O n1cs1110 dizem os litcratos
tura anticlerical cm fascícnlos ilustrados, começando co1n a Beatrice
puros: "Um vício trazido pelas idéias românticas foi o de convocctr o
Cenci de Guerrazzi), cf. o Men1oriale de G. De Rossi, que deve ter sido
público para ser juiz. Quem é o público? Qucn1 é ele? Este grande cé-
publicado em 1927 ou 1928.
rebro onisciente, este gosto refinado, esta probidade absoluta, esta
§ 110. Cultu~(l popular. J poeti dei popolo siciliano, de Filippo pérola- onde está?" (G. Ungaretti, Resto dei Carlino, 23 de outubro
Fichera, Isola dei liri, Soe. Tip. A. Macione e Pisani, 1929. Creio ser de 1929). Mas, enquanto isso, pedem que sejam instauradas medidas

15 6 157
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

protecionistas contra as traduções de línguas estrangeiras; e, quando Isto serve para mostrar como a situação política e intelectual do
vendem mil exemplares de um livro, fazem repicar os sinos em suas país era tão atrasada que se punham os mesmos problemas que na Fran-
aldeias. (Contudo, o "'povo" deu título a muitos jornais importantes, ça de 1848 e que os representantes destes problemas eram elementos
pertencentes precisamerite aos que hoje perguntam "o que é este po- sociais muito semelhantes aos franceses daquela época: bohi!me -
vo?", justamente nos jornais que têm o povo no título [8].) pequenos intelectuais provenientes da província, etc. (cf. sempre A
sagrada família, capítulo "Revelação dos mistérios da economia políti-
§ 36. Fatos de cu/tum. O episódio Salgari (que foi contraposto a ca"). O Príncipe Rodolfo é novamente apontado como regulador da
Jules Verne na intervenção do ministro Fedele, o que motivou ridícu- sociedade, mas é um Príncipe Rodolfo vindo do povo e, portanto, ain-
las campanhas dp Raduno, órgão do Sindicato de Autores e Escritores, da mais romântico (de resto, não se sabe se, em remotíssimos tempos,
etc.) deve-se pôr ao laJo da rcprescntaç:io da farsa Un 'avuenlura galante não teria havido uma casa real c1n ~:cu pedigrc~e) [12].
ai bagni di Cernobbio, ocorrida em 13 de outubro de 1928 no Alfonsine,
em celebração do primeiro centenário da morte de Vincenzo Monti § 74. Giulio Bertoni e a lingiiística. Seria preciso escrever uma crí-
[9]. Está farsa, publicada cm 1858 como complemento editorial de um tica demolidora de Bertoni como lingiiista, por causei cL1s atitudes que
trabalho teatral de (~inv;1n11i J)c (~astro, é dt: 11n1 certo Vl11cc11zo Monti, ass11111í11 ultín1an1cntc L'on1 seu L'SlTitn nu !\'l11J111jd{'t/u di lingrústic11 e
prufL'SSllr l'lll c:o1no ll•l']lll'Ll L'fhll';l (11111;1 si1nplL'S lcitllLl revela é.l i111- llll opúsculo p11blic~1Ju por Pctrini (cf. trecho publtL';1do pela Nuova
possibilidadc de atribuí-Li a Monti), n1as foi "Jcscobcrt;1'\ atribuída a It11/i11 de agosto de 1930) [13]. Parece-me possível demonstrar que
iv1onti e representada no .'\lfonsinc\ di<1ntc <las autoridades 1 nu1na fes- Bcrtoni ncrn conseguiu fornecer 11111:1 teoria geral das inovaçôcs trazidas
tividade oficial, no centenário montiano. (Ver nos jornais da época, se por Bartoli para a lingüístiCa, ncn1 conseguiu compreender em que
for o caso, quem foi o autor da admirável descoberta e quais os perso- consistem estas inovações e qual é sua importância prática e teórica.
nagens oficiais que aceitaram gato por lebre.) De resto, no artigo publicado no Leonardo, há alguns anos, sobre
os estudos lingüísticos na Itália, ele em nada distingue Bartoli da mé-
§ 53. Passado e presente. Influência do romantismo francês de fo· dia geral, mas, graças a um jogo de claro-escuro, coloca-o mesmo em
lheti111. Muitas vezes me referi a ess;1 "fonte de cultura" para explicar segundo plano; ao contrário, em recente artigo publicado noMarzocco
certas manifestações intelectuais subalternas (recordar o home 1n dos sobre aMiscellanea Ascoli, Casella sublinha a originalidade de Bartoli
mictórios ingleses e das tampas de privada automáticas) [10]. A tese po- [14]. No artigo de Bertoni publicado no Leonardo, deve-se ressaltar
deria ser desenvolvida m:iis plenamente e com referências mais am- como Campus aparece até mesmo como superior a Bartoli, quando seus
plas. As "propostas" econômiro-soclais de Eugêne Sue vincula1n-se a estudos sobre as velares ário-européias não passam de pequenos ensaios
certas tendências do saint-simonismo, às quais se ligam tan1bém as teo- nos quais se aplica pura e simplesmente o método geral de Bartoli, além
rias do Estado orgânico e o positivismo filosófico. O saint-simonismo de serem devedores das sugestões do próprio Bartoli; foi Bartoli quem,
teve uma certa difusão popular também na Itália, diretamente (exis- desinteressadamente , valorizou Campus e sempre procurou colocá-lo
tem public:1~õcs sobre isso que devcr.10 ser consu\t;1d:1s) e indiretamente em primeiro plano [15]. Bertoni, não talvez sc1n malícia acadêmica,
(através dos romances populares que recolhiam opiniões mais ou me- num artigo con10 o de Leo1ulrdo, onde deve ser contad,1 praticamente
nos ligadas ao romantismo, através de Louis Blanc, etc. - os romances cada palavra dedicada a cada estudioso, para dar uma justa perspecti-
de Eugêne Sue, por exemplo) [11]. va, arrumou as coisas de tal modo que Bartoli foi posto num cantinho

158 159
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEO::.

obscuro. Foi um er:ro de Bartoli ter colaborado com Bertoni na reda- § 82. Cultura histórica italiana e francesa. A cultura histórica e a
ção do Manualetto; e digo erro e responsabilidade científica. Bartoli é cultura geral francesa puderam se desenvolver e se tornar "popular-
apreciado por seus trabalhos concretos: deixando que Bertoni escre- nacionais" por causa da própria complexidade e variedade da história
vesse a parte teórica, induziu a erro os estudantes e conduziu-os por política francesa nos últimos 150 anos. A tendê"cia dinástica se dissol-
um falso caminho: neste caso, a modéstia e o desinteresse tornam-se veu em função da sucessão de três dinastias radicalmente antagónicas
uma culpa. entre si (legitimista, liberal-conservadora, militar-plebiscitária) e da
De resto, se não compreendeu Bartoli, Bertoni tampouco com- sucessão de governos republicanos ta1nbém fortemente diferenciados
preendeu a estética de Croce, no sentido de que não soube derivar da (o jacobino, o radical socialista e o atual). É impossível uma "hagio-
estética crociana regras de investigação e de construção da ciência da grafia" nacional unilinear: qualquer tentativa deste tipo reveia-"e ime-
língua; não fez mais do que parafrasear, exaltar e líricizar impressões: diatamente como sectária, forçada, utópica, antinacional, já que é
trata-se essencialmente de um positivista, que se enternece diante do obrigada a suprimir (ou a subestimar) páginas incanceláveis da história
idealismo porque este está mais em moda e permite fazer retórica. nacional (cf. a atual tendência Maurras e a mísera história da França
Surpreende que Croce tenha elogiado o Manualetto, sem ver e obser- de Bainville) [16]. Por esta razão, o protagonista da história francesa
var as incongruências de Bertoni; parece-me que Croce, mais do que tornou-se o elemento permanente dessas variações políticas, ou seja, o
tudo, quis registrar com benevolência o fato de que, neste ramo de povo-nação; portanto, um tipo de nacionalismo político e cultural gue
estudos, onde o positivismo triunfa, há quem busque iniciar um novo foge aos limites dos partidos propriamente nacionalistas e que impregna
caminho no sentido idealista. Parece-me que entre o método de Bartoli toda a cultura; portanto, uma dependência e uma ligação estreita en-
e o crocianismo não h:í nenhuma relação de dependência imediata: a tre povo-nação e intelectuais.
relação é com o historicismo em geral, não com uma forma particular Nada semelhante ocorre na Itália, onde é preciso usar uma lanter-
de historicismo. A jnovação de Bartoli é precisamente esta: ele trans- na para procurar no passado o sentimento nacional, fazendo distinções,
,. ~ formou a lingüístiba, que era vulgarmente concebida como ciência interpretando, calando, etc., onde para que se exalte Ferrucci é preci-
natural, numa ciência histórica, cujas raízes devem ser buscadas "no so explicar Maramaldo, para que se exalte Florença é preciso justificar
espaço e no tempo" e não no aparelho vocal fisiologicamente enten- Clemente VII e o papado, para que se exalte Milão e a Liga é preciso
dido. explicar Como e as cidades favoráveis a Barba-Roxa, para que se exal-
Seria preciso demolir Bertoni não apenas neste campo: sua figura te Veneza é preciso explicar Júlio II, etc. [17] O preconceito de que a
de estudioso sempre me repugnou intelectualmente. Há nela algo de Itália sempre foi uma nação complica toda a história e requer acroba-
falso, de insincero, no sentido literal da palavra; para não falar da pro- cias intelectuais anti-históricas. Por isso, na história do século XIX não
lixidade e da falta de "perspectiva" nos valores históricos e literários. podia existir unidade nacional, já que faltava o elemento permanente,
Na "lingüística", crociano é Vossler. Mas que relação existe entre o povo-nação. Por um lado, a tendência dir.ástica devia predominar,
Bartoli e Vossler e entre Vossler e aquilo que comumente se chama de dada a contribuição que lhe era dada pelo aparelho estatal, enquanto
"lingüística"? Sobre isso, recordar o artigo de Croce "Questa tavola as tendências políticas mais fortcn1cntc oposicionistas não podiarn ter
rotonda e quadrara" (nosProblemi di Estetica), de cuja crítica deve-se um mínimo comum de objetividade: a história era propaganda políti-
partir para estabele~er os conceitos exatos nesta questão. ca, visava a criar a unidade nacional, ou· seja, a nação, a partir de fora,
contra a tradição; era um querer ser, não um dever ser porque já exis-

1 60 1 61
CADERNOS 00 CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

tem :1s condi~ões de i"ctto. Pur caus;1 precisa1nente dessa sua posição, os da revista II Ri nnovllnzento ), peL1s quais tal vez se possa dizer que a crise
intelectuais deviam d1,;tingtor-se do povo, situar-se fora dele, criar ou de Graf se liga à crise geral da época, maniíestada em certos grupos
refori;ar entre si o espírito dL: casl<l e, no fundo <le si mesmos, descon- intelectuais, descontentes com a '\:iência", mas descontentes também
ji.,1r Jo povo, senti-lo cu1no .1lgo êStL111ho, como algo a tcint:r, já que co1n a religião oficial.
na rL·.diJadi:: se traLcl\".i dL· uina CPisd JcsconhcciJc1 1 de unia n1isteriosa
hidrc1 dv i11un1•,'.r<Ív1·i..;; c".il1L\·d:,_ § 146. l\.i/1li!!g. 1\ obra Jc Kip\i11g 11odvri:1 sl'rvir p,1ra criticar uma
P:trccl'u-n1c que j;'; <.:X!'>lL1111 art1:1linL'ntc algl1n1,1s cunJições para dctcrn1i11aJ,1. sociedade que prctL'IH_k· ser ~dgo sc1n ter L'LtburaJo em si
supcL1r csrc csrado cL: L',•is:1s, 111:1_-; L'las n;""1u fora111 dcvid.11nvntc cxplo- a moral cívica correspondente) rn:l.'-' que, ao contr:írio, ,1prcsenta um
L1J,1~ e .t rct1:1rica vulluu :t rritinLtr (<1 ;1titudc dübi:1 na intLTprctação de mo<lo de ser contr~1Jitório con1 .1:- f1na!id.1Jcs que vcrb;1l111cntc se pro-
Cdp1...-'ri.::rro oferece un1 cxcn1plo deste <ltuc1l estado Je coisc1s, assim comu põe. De resto, a moral de Kipling i: impcri<1lista son1c11tc na medida
<l poJ,Smica sobre o J~;sorgin1ento e, mais recentemente, sobre a Con- em que se liga estreitamente a un1:1 rc<ilidade histórica bem determina-
cordc1tci_) [18]. Mas n;10 se dei.te neg,tr que muitos passos :1 frente foram da: mas é possível extrair dela irr1agcns de poderoso carJter imediato
dados) en1 todos os scntid•_1s; ncg:tr isso seria cair nurn<l retórica opos- para todo grnro social que lut;1 pele, poder político. A ''cJpacidade de
LL 1\li~'1s, sohrctuJu ;unv~' J;t gtllTr.t, nu11t1is 1novin11.·nh1s intclt:ctuais quci1nar as prt1pri.1s c1nranlL1~ ~l'ill .1hrir <I hul·,1" ll'tll urn valor 11:10 só
cstav.1111 dirígiJos no sentido de r<:jtivcncsccr a ctiltura1 Jc cxpurgú-la para os i111pcri<tlistas inglcsL·s1 ctL'.
de seu car:irer retórico e de aproxir11:i-Ja do povo, ou SL'ja, Jc nacionalizá-
la. (f\Tação-povo e na~ão-retórica poderiam ser considi.:raJas as duas § 155. A nova arquitetura. P<lrticular carúter objetivo da arquitetu-
tcndl,ncias.) ra. Realmente, a "obra de <~rte" é o ''projeto" (o conjunto dos dese-
(Sobre este últi1no tema) cf. Volpe, L:Italia in canunino, onde há nhos, dos planos e dos cálculos, con1 os quais outras pessoas além do
111uit:1s 11H:'X:1tí,Jõcs de L.ito e Jc proporções e onJc se observa o nasci- arquiteto "artista-projetista" podL:n1 rL·alizar o edifício, etc.): um ar-
1ncnto de un1~1 nova retórica; o livro de Croce, La Storia d'Italia, onde quiteto pode ser julgado um grande artista por seus planos, ainda que
hú dt'ÍL·itos Jt:· outro tipo, 1n;1s não n1enos perigosos, já que a história é nada tenha edificado matcrialn1cnte. O projeto está para o edifício
csvazi:1Ja na abstração dos conceitos; e os livros de Prezzollni sobre a material como o "manuscrito" está para o livro impresso: o edifício é
cu!ttird italiana [19].) a exteriorização social da arte, sua "difusão", a possibilidade dada ao
público de participar da beleza (quando esta ocorre), assim como o li-
§ 85. Arluro Cm( Se for preciso escrever sobre Giovanni Cena e vro impresso.
seu progran1a social, caberá recordar Grafe sua crise espiritual, que o Não se sustenta a objeção de ~filgher a Croce sobre a "memüria"
reconduziu) religião, ou, pelo menos, ao teísmo. (Cf. O. M. Barbano, como causa da exteriorização artística: o arquiteto não tem necessida-
"Per un.1 fede. Da lettere ineJite di Arturo Graf'', na Nu ova Antologia de do edifício para "recordar", mas sim do projeto. Isso vale mesmo
de 16 Jc julho de 1928. Barbano era aluno e amigo de Grafe publica que só se considere a "memória" crociana como aproxin1ação relativa
tn~L-hos d.1s c:1rtas que- Graf lhe enviou sobre a crise que atravessou e ao problerna da raz5o peL1 qual o pilltor pinta, o escritor escreve, etc.,
sobre seu pl'.'qucno volun1e Per una /'ede, que teve pequeno in1pac"to fora sem se contentar en1 construir fa11t,1srnas <1pc1L1s para seu próprio uso
do círculo mais próxiino.) Nessas cartas, são interessantes algumas e consumo; e levando-se em conr.1 que toJo projeto ,:irquitetônico tem
referê:ncias às relações entre Grafe o Modernismo (conhecido através nm caráter de "dproximação" rn,úor do que o m21nuscríto, a pintura,

162 1 63
CADERNO S DO CÁRCERE DOS CADERNO S MISCELÀ NCOS

etc. Também o escritor introduz inovações em cada edição do livro (ou tem a memória repleta de leituras apressadas e fragmentárias, de teo-
corrige as provas, modificando, etc.; cf. Manzoni). Na 2rquitetura, a rias mal entendid as e mal digeridas, de fantasias mal e debilmen te
questão é mais complexa, já que o edifício nunca é inteiram ente com- formadas; de resto, ele não domina com segurança o instrume nto da
pleto em si, mas deve sofrer adaptações também em relação ao "pano- língua.'' É interessante uma citação, talvez do livro Quartett o, onde
rama" no qual está inserido, etc. (e é impossível fazer segundas edições Oriani escreve: "Vencido a cada batalha e insultado como todos os
dele tão facilmente como no caso de um livro, etc.). Contudo , o ponto vencidos, jamais desci ou descerei à tolice da réplica, à baixeza do la-
mais importan te n ser hoje observado é o seguinte: que numa civiliza- mento: os vencidos estão errados." Este traço me parece fundamental
ção em rápido desenvolvimento, na qual o "panoram a" urbano deve no caráter de Oriani) ciue er~1 um inconstante, scniprc descontente com
ser muito "elástico", não pode nc1scer uma grande arte arquitetônica, i todos porque ninguém reconhecia seu génio e que, no fundo, renunciava
já que é mais difícil conceber edifícios feitos para a "eternida de". Na a lutar para se impor ou seja, tinha Je si mesmo uma bem estranha
1 1
América, calcula-se que um arranha-céu deva durar não mais do que 1
avaliação. É uni pseudotitã; e, apesar de possuir alguns inegáveis ta-
25 anos, pois se supõe que, em 25 anos, toda a cidade "possa" mudar 1, lentos, predomin a nele o "gênio incompre endido" de província que
de aspecto, etc. A rPeu ver, uma grande <:1-rte arquitetônica só pode nascer sonha com a glória, com o poder, com o triunfo precisamente como a
1
depois de uma fale transitór ia de caráter '"prático", ou seja, de uma I:
mocinha sonha com o príncipe encantado.
!
fase na qual se busca apenas alcançar a máxima satisfação das necessi-
dades elementares do povo com o máximo de proveito. E isso enten-
dido en:i sentido amplo, ou seja, não só no que se refere a cada edifício,
a cada habitação ou a um específico local de reunião para as grandes
CADERNO 5 (1930-19 32)
massas, mas no que se refere a um complex o arquitetô nico com ruas,
praças, jardins, parques, etc. § 26. Os filhotes de füdre Bresciani. Alfredo Panzini. A tradução de Os
trabalhos e os dias de Hesíodo, publicada por Panzini em 1928 (pri-
meiro na Nuova Alltologia e, depois, num pequeno volume da Editora
Treves), é examina da no Marzocco de 3 de fevereiro de 1929 por
CADERNO 4 (1930-19 32) Angiolo Orvieto ("Da Esiodo a Panzini"). A tradução é tecnicam ente
rnuito imperfeita. Para cada palavra do texto, Panzini cn1prcga duas
§ 68. II libra di don Chisciotte de E. Scarfoglio [20]. É um episódio da ou três de sua própria lavra; trata-se mais de uma tradução -comentá -
luta para rejuvenescer a cultura italiana e desprovincianizá-la. Em si, o rio do que de uma tradução , à qual falta "o colorido particularíssimo
livro é medíocre. Vale pela época e porque talvez seja a primeira tenta- do original, a não ser uma certa solenidad e majestosa que, em vários
tiva do gênero. locais, ele conseguiu conservar". Orvieto cita alguns graves erros de
Se vier a escrever sobre Oriani, terei de levar em conta o trecho Panzini: em vez de "enfermi dades que trazem a velhice ao homem",
que lhe dedica Scarfoglio (p. 227 da edição Mondad ori, 1925). Para Panzini traduz 'ºenfermidades que a velhice traz aos homens". Hesiodo
Scarfoglio (que escreve em torno de 1884), Oriani é um fraco, um fra- fala do "carvalho que tem bolotas no alto e abelhas no meio (no tron
cassado, que se consola demolind o tudo e todos: "O senhor de Banzole co)"; e Panzini traduz, comicamente, "os carvalhos das montanh as (t)

164 16s
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CARCERE

amadurecem as bolotas, enquanto os das planícies(') acolhem abelhas rica que vê nos monumentos um motivo de exaltação das glórias na-
' A "nação" não é o povo, ou o passado que continua
cionais. '
no " povo" ,
em seu tronco'\ distinguindo c'LSsirn duas Lln1Ílias de l:.1rv:1lhos, etc. (um
aluno do segundo gr;n1 scric1 rcpro\'aJu por u1n r.tl ,1bs11rJu). Par,1 mas, ao contrário, o conjunto das coisas materiais que recordam o
I-IcsíoJo, as 111usas s:10 "Ju,1JoL1s de t-;!,'iria C(JJl1 11s 1'ul·1n.1s"; p,tra pass;H.io: estranha dcforn1aç:i.o, que podia ser cxplicad;-1 no início do
Panzlni, "gloriosas 11~1 :1rtc Ju cantu''. Orvicro Jj ul!lros i.;:-,:'-·111plos, dos século XIX, quando se tratava de Jcspcrtar energias L1tcntcs e de en·
quais se deduz que, alén1 cio conhL·ci1ncnto supcrfi cic1l dl: grl',SO, os erros tusiasmar a juventude, mas que n~10 passa de '"deformação", já que se
de P,1nzini decorrem rarnbérn do preconceito político (1.:aso típico de tornou puro motivo decorativo, exterior, retórico. (A inspiração dos
brescianismo), como no caso en1 que mud<-l o texto pr1ra L1zcr com que sepulcros não é, em Foscolo, similar à da chamada poesia sepulcral:
Hesíodo participe da campanha demográfica [21]. é uma inspiração "política", como ele mesmo escreve na carta a
Deve-se ver se as revist<.1.S de filologia cLíssicc1 se ocup;ira1n da tra- Guillon [22].)
dução de Panzini; de qualqt:er mo<lo, o artigo de Orvicto parcce-1ne
suficiente para meu objetivo (é preciso re\'ê-lo porque, neste momen- § 33. M. Iskowicz, La littérature à la lumiere du matérialisme
to, falta-me uma parte dele). historique, 1929, 30 francos (anunciado no boletim de 1° de fevereiro
de 1929, "Nouveautés", Listes 111ens11elles de la Maison du Livre Fran- ~ ..
§ 27. Os fdl.ro!.es de Padre Bre5(iani. Enrico Corr;1Jini. Foi repu- çriise).
bl1ciJa em 1928, na Colc{lll Tcatul Barbera, a C1r/01t,1 Curd<1y de E.
Corr:-1dini, que- em 1907 ou ] 908, quando foi escrita - obteve tuna § 38. C11rúter 11110 'uzci01uzl-pop11/11r d11 literatura it11limza. Artigo
rcccp)·:-10 desastrosa e fui rct i r.1Ja dl'. cc11;1. Corr;1di 11 i i n 1pri ini 11 o Jra- Ji: Orazio PcJra1.1.i na ltalúc. Ll'fler11rú1 de 4 de agosto de 1929: "Lc
ma com um prefácio (também republicado na Ed. Barbem), no qual tradizioni antiletterarie della burocrazia italiana." Pedrazzi deixa de
acus,1va pelo desastre um artigo do Avanti!, segundo o qual Corradini fazer algumas distinções necessií.rias. Não é verdade que a burocracia
qucri<l JiL1111ar a Rcvolui;:i.o fr,111ccsa. O prefácio de Corr:1dini deve italiana seja tão "antiliterária" co1no afirn1a Pcdrazzi, mas é verdade
ser interessante também do ponto de vista teórico, para a redação des- que a burocracia (e se quer dizer a alta burocracia) não escreve sobre
ta rubrica sobre o brescianismo, já que Corradini parece distinguir entre sua própria atividade. As duas coisas são diferentes: creio, aliás, que
"pequena política" e ''grande política" nas '"teses" contidas nas obras exista uma mania literária própria da burocracia, mas diz respeito ao
de arte. Naturalmentl, para Corradini, já que sua obra é de '"grande "escrever bonito", "à arte", etc. Talvez se possa demonstrar que a grande
políricCI", não lhe poderia ser dirigida a acusação de "politicagem" no massa do rebatalho literário se deva a burocratas. Ao contrário, é ver-
tern:no artístico. Mas a questão é outra: trata-se JL' VL'r Sl' 1 nas obras dade qne n~10 existe na Itúlia (co1no nc1 Franç;-1 e em outros lugares)
de arte, há intromissão de elementos extra-artísticos, st~jarn estes de uma literatura de valor produzida por funcionários públicos (militares
alta ou de baixa qualidade, isto é, Sf.'. se trata de ''arre" oLJ de oratória e civis) e que trate da atividade desenvolvida, no exterior, pelo pessoal
visando a finc1\idades rr.íticas. E toda <1 obra de Corradini é deste tipo: diplomútico e, na frente de batalha, pelos oficiais, etc. O qt1c existe, na
não <1rte, mas sim mú política, isto é, sin1ples retórica ideológica. maioria dos casos, é "apologia". '"Na França, na Inglaterra, generais e
almirantes escrevem para seu povo; entre nós, escreve-se apenas para
§ 32. Ugo Fosco/o e ll retórica literária itali1vu1. Os 3epulcros de- os superiores." Ou seja: a burocracia não tem um caráter nacional, mas
vem ser considerados como a maior "fonte" da tradição (:ultural retó- de casta.

1 66 167
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

§ 40. Pirandello. Sobre a concepção do mundo implícita nos dra- não do conteúdo moral concreto. Estreitamente ligado a este é o ele-
mas de Pirandello, deve-se ler o prefácio de Benjamin Crémieux à tra- mento "técnico" num determinado sentido particular, isto é, "técni-
dução francesa de Enrico N (Éditions de la "N. R. F."). co" como modo de fazer compreender, da maneira mais imediata e
dramática, o conteúdo n:i.oral, a contradição moral do romance, do
§ 54. Os filhotes de Padre Bresciani. Literatura popular-nacional. poema, do drama: temos assim os "golpes" de cena no drama, a "intri·
Será necessário fixAr com precisão b que se deve entender por '~inte­ ga" preponderante no romance, etc. Nem todos este~ elementos são
ressante" na arte em geral e, particularmente, na literatura narrativa e necessariamente "artísticos", mas tampouco são necessariamente não
no teatro. O elemento "interessante" muda de acordo com os indi- artísticos. Do ponto de vista da arte, são em certo sentido "indiferen·
víduos, os grupos sociais ou a mc1ssa cm geral: é, portanto, um elemen- tes", isto é, extra-artísticos: são dados de história da cultura e devem
to da cultura, não ~a arte, etc. Mas, por causa disso, trata-se de um ser avaliados deste ponto de vista.
fato completamente estranho e separado da arte? A própria arte inte- Que isto ocorra, que seja assim, é algo provado precisamente pela
ressa, ou scj:1, é interessante cn1 si 111cs1na, na medida cm que satisfaz chamada litcr;1tura comercial, que é tl!11a sc~·:i.o Ja litcr;1tnra pop11L1r·
uma exigêncía da vida. E mais: além deste caráter mais íntimo da arte, nacional: o caráter "comercial" é dado pelo fato de que o elemento "in-
ou seja, o de ser interessante em si mesma, que outros elementos de teressante" não é "ingênuo", "espontâneo", intimamente fundido na
"interesse" pode apresentar 1111111 obr;1 de arte, co1no, por cxc111plo, 11111 concep~~:i.o (int11iç:lo) artística, mas tr.1zido de fnr:1, de n1ndn n1L·c:111ico,
romance, um poema ou u1n <lran1a? lCoricamente, um número infini- dosado industrialmente como elemento seguro de '•êxito" imediato.
to. Mas os clc1ncntos q11e "intcrcss.:1111'' niío silo infinitos: sií.o ;1pcn<t.'>1 Contudo, i:-;to significa, de qualquer modo, que t;1n1bém :1 litcrc1tt1r;1 co·
precisa1nentc, os que se considera que contribuem de modo n1ais dire· rncrcial 11;10 deve ser negligenciada na história da cultura: ao contr:1rio,
to para o "êxito" imediato ou mediato (em primeiro grau) do roman· ela tem um enorme valor precisamente deste ponto de vista, já que o
ce, do poema, do drama. Um gramático pode se interessar por um drama sucesso de um livro de literatura comercial indica (e freqüentemente é o
de Pirandello por querer saber quantos elementos lexicais, morfológicos único indicador existente) qual é a "filosofia da época", ou seja, qual é a
e sintáticos de marca siciliana Pirandello introduz ou pode introduzir massa de sentimentos (e de coneepções do mundo) que predomina na
na língua italiana literária: trata-se de um elemento "interessante", n1as multidão "silenciosa". Esta literatura é um "narcótico" popular, é um
que não contribuirá muito para a difusão do drama em questão. A "ópio". (Deste ponto de vista, seria possível fazer uma análise de O Conde
"metrificação bárbara'' de Carducci era um elemento "inte!"essantc'' de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, que talvez seja o mais "opiáceo~'
para um círculo mais amplo, para a corporação dos literatos profissio- dos romances populares: qual é o homem do povo que não crê ter sofri-
nais e para aqueles que pretendiam vir a sê-lo: por isso, já representou do uma injustiça por parte dos poderosos e não fantasia a cºpunição" que
um notável elemento de "êxito" imediato, contribuiu para difundir lhes irá infligir? Edmond Dantes oferece-lhe o modelo, "embriaga-o"
alguns milhares de versos escritos numa metrificação bárbara [23]. Estes de exaltação, substitui a crença numa justiça transcendente na qual já
elementos «interessantes" variam de acordo com a época, os climas não mais acredita "sistematicamente".)
culturais e as idiossincrasias pessoais.
O elemento mais estável de ~'interesse" é certamente o interesse § 63. Os filhotes de Padre B.resciani. Escritore$ "tecnicamente"
"moral" positivo ou negativo, isto é, por adesão ou por contraposição: brescianos. Sobre tais escritores, cf. Giovanni Casati, Scrittori cattolici
"estável" em certo sentido, ou seja, no sentido da "categoria moral", italiani viventi. Dizionario biobibliografico ed indice analitico dei/e

168 169
li

e AD E R N os Do e AR e t°R E DOS CADERNOS MISCELÂN EOS,

opere, com prefácio di Filippo Meda, Milão, Romolo Ghirlanda Edi- hoje) observa-se um certo despertar da consciênci a religiosa nos escri-
tor, Via Unione 7, in-8°, VIIl-112 p., 15 liras. De tal dicionário , de- tores contempo râneos, um insólito interesse pelos problemas religio-
vem-se ver também as sucessivas edições e compará-l as entre si, a fim sos, uma orientação mais do que frequente para a Igreja Católica,
de verificar os acréscimos ou omissôes deliberado s. orientação para a qual certament e contribuír am, em não pequena
Don1 Giovanni Casati é o especialista católico em biobibliog rafia. medida, os convertido s inclllídos no dicionário de Casati."
Dirige a Rivista di Letture, que aconselha e desaconse lha os livros a Dos 591 escritores católicos it1lianos vivos, 374 ("s~1lvo erro", es-
serem lidos e comprado s pelos indivíduos e pelas bibliotecas católicas; creve a c;viltà Cattolica) são hon1ens da Igreja, sacerdotes e religio-
está preparand o uma lista de Scrittori d'Italia dai/e origini fino ai viventi sos, entre os quais 3 cardeais, 9 bispos, três ou quatro abades (sem contar
em ordem alfabética (segundo o artigo de Civiltà Cattolica de 2 de Pio XI); 217 são leigos, entre os quais 49 mulheres: somente uma
março de 1929, do qual recolho essas informaçõ es, foram publicados mulher é freira.
até agora os de letras A-B); escreveu um volume de Saggi di libri letterari A Civiltà Cattolica registra alguns erros. Existe um Katholischer
co11da11nati da/l'buiice. Literaturkale1uier (Ed. Herder, Freiburg i. B., 1926), que registra5.3 13
No dicionário dos Scrittori cattolici italiani viventi, são registrados escritores católicos alemães. Para a França, o Almanach Catholique
591. Alguns não responder am ao convite; Casati, no caso de escritores Fmnçais (publicado por Bloud ct Gay, Paris, a partir Jc 1920), publica
q1H.: publica111 livros c111 vditoras 11:\p cat('1\icas, interpreto u este silên- 111n pcqucnt) di çion(trio das "pri !1 l'Í pais pcrsonal idades católicas". Para
cio '"i.:01110 túcito pedido pac1 não fa1.crem parte do dicionário ". Seria a Ing!.:1.rerra, 'l'he Catholic Who's v;.r/.10, 1928 (Londres, Burns Oates and
preciso ver por que for;:n1 convidados: por que "batizados " ou por que W:1shbournc).
em seus livros se manitcstav a um caráter estrita e confcssada mente A Civilttl Cattolica faz votos de que, ampliados os quadros (com a
"católico" ? Diz a Civiltú C1lttolica que, no Dizionario , faltam, por inclusão de jornalistas e publicistas) e vencido o retraiment o dos "mo-
exemplo, Gaetano De Sanctis, Pietro Fedeli e "não poucos outros pro- destos", o elenco italiano duplique, o que ainda seria muito pouco. O
fessores universitá rios e escritores de valor". De Sanctis é certament e curioso é que a Civiltà Cattolica fale de "retirar alguns da própria
um escritor deliberadan1ente "católico", confessadamente católico. Mas modéstia" e se refira ao "orientalis ta Prof. P. S. Rivetta", o qual, se é
Pietro Fedele? Talvez se renha tornado católico nos últimos anos; mas modesto como "orientalis ta" e como "Prof. P. S. Rivetta'', não é certa-
certament e não o era, pelo menos rl.té 1924. Revela-se assim que o cri- mente modesto como "Toddi'', piadista do Travaso delle Idee e redator
tério para estabelece r a "catolicida de" não foi muito rigoroso e que do periódico Via Vittorio Veneto, cujo público são as garçonnes, os
houve a intenção de confundir "católicos " escritores e escritores "ca- fregüentad ores dos cafés de luxo e todos os esnobes.
tólicos" [24].
No Dizionario, não estão incluídos os jornalistas e publicistas que § 66. Os filhotes de Padre Bresciani, Ugo Oietti e os jesuítas. A
não publicaram nenhum livro: assim, não aparece o Conde Della Tor- "Lettera ai Rev. Padre Enrico Rosa", de U. Ojetti, foi publicada no
re, diretor do Osservatore Ronzanoi nem Calligari (Mikros), diretor da Pegaso de março de 1929 e republicad a na Ciui/tà Cattolica de 6 de
LTnità Cattolica (recenten1entc falecido). Alguns recusam o convite "por abril do mesmo ano, com um longo comentári o do p~óprio Padre Rosa
modéstia". [25]. A carta de Ojetti é refinadam ente jesuítica. Começa assim: "Re-
Quen1 são os "convertid os" incluídos no Dizion.flrio? (1,ipos: Papini, verendo Padre: é tão grande, depois de 11 de fevereiro, o tropel dos
Giuliort:, Mignosi, etc.) Diz ;-1 Civiltà Cattolica: "Desde a guerra até convertido s a um catolicism o de conveniên cia e de mod<:l que V. Rev.ma

1 70 171
CADERNOS DO CÂRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEO S

permitirá a um romano, de família (como outrora se dizia) papista, chefes, dando à formação moral do caráter um prêmio e uma sanção
batizado em S. Maria in Via e educado para a religião precisamente no divinos imediatos". Não é esta, em resun10, a biografia, ou melhor, a
Santo Inácio de Roma e por seus jesuítas} entreter-se por meia hora autobiogrãfi a de Ojetti? Mas, atenç:10: "E a poesia? E a arte? E o juízo
com V. Rev.m", ou seja, descansar da grande festança, dialogando com crítico? E o juízo moral? Todos vocês voltarão a obedecer aos jesuí-
um homem como o senhor, íntegro e judicioso, que era ontem o que é tas?", pergunta um diabinho como Ojctti, na pessoa de "um poeta fran-
hoje e o qne será c11nanhá." Mais adiante, recordando seus primeiros cês, que é realn1cntc um poeta". Nrlo foi por acaso que Ojctti frcqücntou
professores jesuítas: "E eram tempos difíceis, nos quais dizer 'jesuíta' a escola dos jesuítas; ele encontrou para tais perguntas uma resposta
era como dizer poder fraudulento ou obscura perversidade, enquanto refinadamen te jesuítica, salvo num aspecto: o de tê-Ia divulgado e tor-
lá dentro, no último andar do Colégio Romano, sob o teto (sob o qual nado pública. Ojetti deveria ainda melhorar sua "formação moral do
ficava a escola de religião, jesuíta, na qual Ojetti foi educado), tudo era caráter", com sanção e prêmio divinos: est13 são coisas que se fazem e
ordem, confiança, jovial benevolência e, mesmo em política, tolerân- não se dizem. Com efeito, eis a solução de Ojetti: "[ ... ] a Igreja, man-
cia; e jamais uma. palava contra a Itália, jamais, como infelizmente tendo seus dogmas, sabe ter indulgênia com o momento histórico e
ocorria nas escola~ públicas, a baixa subserviência à supremacia real demonstrou isso muito bem no Renascimento (mas, depois do Re-
ou imaginária dessa ou daquela cultura estrangeira sobre nossa cultu- nascimento, houve a Contra-Refo rma, cujos campeões e representan-
ra." E mais: recorda ter sido "um antigo assinante da Civiltà Cattolica" tes são precisamente os jesuítas); e Pio XI, humanista, sabe de quanto
e "um fiel leitor dos artigos lá public;1dos por V. Rev.mª"; e, por isso, ar precisa a poesia para respirar. E já há n1uito tc111po, sem esperar a
"eu, escritor} dirijo-me ao senhor, escritor, e declaro-lhe meu caso de ConciliaçAo, também na Itália a cultura laica e a religiosa colaboram
consciência". H:í de tudo: a família papista, o b,1tismo na igreja jesuíta, cordialment e na ciência e úa históri;l. r... ] Conci\i;l)'i'Í.O não é confusão.
a educação jesuíta, .tais escolas vistas Jc 1nodo culturalmen te idílico, os O Papado condenará, como é seu direito; o Governo da-Itália permiti-
jesuítas como os únicos (ou quase) ~epresentantes da cultura nacional, rá, como é seu dever. E V. Rev. ma, se achar que é oportuno, explicará na
a leitura da Civiltà Cattolica, o Padre Rosa como antigo guia espiritual Civiltà Cattolica os motivos da condenação e defenderá as razões da
de Ojetti, o apelo de Ojetti hoje a seu guia para um caso de consciên- fé; e nós do lado de cá, sem ira, defenderemo s as razões da arte, se
cia Ojetti, portanto, não é um católico de hoje, um católico do 11 de delas realmente estivermos convencidos, porque pode ocorrer, como
fevereiro, por conveniência ou por moda; ele é um jesuíta tradicional, freqüentcmc ntc ocorreu de Dante a Manzoni, de Rafael a Canova, que
sua vida é um exemplo a ser apresentado nas pregações, etc. Ojetti ja- também a nós fé e beleza pareçam duas faces do mesmo rosto, dois
mais foi nzade in París, jamais foi um diletante do ceticismo e do raios da mesma luz. E, em alguns casos, teremos o prazer de discutir
agnosticismo, jamais foi voltairiano, ja1nais considerou o catolicismo, educadamen te. Baudelaire, por exemplo, é ou não um poeta católico?
no máximo, como um puro conteúdo sentimental das artes figurati- [... ]O fato é que o conflito prático e histórico está hoje resolvido. Mas
vas. Por isso, o 11 de fevereiro o encontrou preparado para acolher a o outro conflito - entre absoluto e relativo, entre espírito e corpo,
Conciliação com "jfvial benevolência"; ele nem sequer pensa (Deus o eterno contraste que está na consciência de cada um de nós (diz Ojetti),
livre!) que se possa tratar de um instrtnnentum regni, já que ele mesmo razão pela qual B. Croce e G. Gentile, não católicos, foram contra o
sentiu "a força que tem na alma dos adolescentes o fervor religioso, e Modernismo (?), satisfeitos(?) de vê-lo derrotado porque[?] teria sido
como, uma vez desperto, ele transmita seu calor a todos os outros sen- a má(?) Conciliação, o perverso equívoco transformad o em doutrina
timentos, desde o amor pela pátria e pela família até a dedicação aos sagrada-, que é íntin10 e eterno (e, se é eterno, como pode ser conci-

172 173
i DOS CADERNOS MJSCELÂNEOS
CADERNOS DO CÁRCE"RE

li ado?), não está resolvido, náo pode sê-lo; e a ajuda que cadn um pode 1 ralista", e não apenas no sentido normal, mas também no pejorativo.
dar, e cotidianamcnte o faz, para resolvê-lo já nos era antes dada a nós, Mas não pode ser popular na Itália e, em geral, nos países latinos e na
católicos, pela religião (mas como se: pode ser católico com o '"eterno Alemanha: é muito ligado à mentalidade anglo-saxónica.
contraste"? Quando 111i1iro, podc-sv ser jcsuít~i!). I\·qucncz nossa, se
ainda 11~10 fo1nos capazL~, co111 t:1l ajuda, Jc resolv0-lu Jc u111<1 vez por § 94. (,'aráter negali-vo pup1tÍ11r-n11cion1t! da literaturi1 i11dia.1u1. Ao
todas(!?); mas V. Rev.'nª sabe que é precisamente a partir do contínuo tratar desta questão, mas sobretudo ao fazer a história da atitude de
ressurgimento, renovação e reativação deste eterno conflito que sur- toda uma série de literatos e de críticos, que sentiam a falsidade da tra-
gem e resplandescem poesia e arte [26]:" dição e a sonoridade falsa de sua íntima retórica, de sua não-aderência
Certamente, um espantoso documento de jesuitismo e de baixeza à realidade histórica, não se deve esquecer Enrico Thovez e seu livro II
moral. Ojetti pode criar uma nova seita superjesuíta: um modernis1no pastore, il gregge, la zampogna. A reação de Thovez não foi justa, mas
estetizante jesuítico! o que importa neste caso é que renha reagido, isto é, que tenha pelo
A resposta do Padre Rosa é menos interess~:.nte porque jesui- menos sentido que algo não ia bem [27].
ticamente mais anódina: Rosa evita cuidadosamente examinar de modo Sua distinção enrre poesia de forma e poesia de conteúdo era teo-
mais sutil o catolicismo de Ojctti e o dos neoconvcrtidos. E o L1z com ricamente falsa: a chamada poesia de forma é caracterizada pela indi-
dc11i.1.'>iad.1 r:1pid('/,: t'· [H 1!ll 1111t· ( )j(·tti i:!x. (:i;L se di1~;1111 ~·.11\'iJ11."t is t' ;1d11- fcrl"ll\"<l do ronlL'!Ído, isto t.\ pel:1i11diflTl"ll\\I111or:i!, 111;1s isl(l l' L1111ht-111
lcn1 os jesuít~1s; aliús, t.liVL'Z nJ.o se Vl'nha a exigir 111ais n;1d,1 dt:lcs. R.osa uin "conteúdo", o '"vazio históriL'U e 1noral Ju escritor". 'l'huvcz liga-
diz muito bcn1: "Mas, e(1nvcniênci;1 ou n1oda- V<llllOs dizl·-]o cá en- va-se cm grande 1ncJiJa a De S:1nctis por seu :1spccto de '"inovador da
tre 1H'1s, l-u11fidt:11ci;tl111v11l\' e de p.1ss;tgc111 - , talvez scj;1111 u111 111;1! cultura" itali,lna; e deve ser l.·nn~i,!vr;id( >, j1111L1111t.'llll' l·o111 ;1 1/u(c, 11111;1
menor e, portanto, uni certo bc1n ern relação àquela conveniência ou das forças que trabalharam, ainda que decerto caoticamenre, por uma
moda anteriores, ou seja, a de futil anticlericalismo e de vulg·ar materia- reforma intelectual e moral no período anterior à guerra.
lismo, ciuc fazia con1 que nu1itos [... ]se n1antivesscn1 dist<tntes da pro- Sobre Thovez, é preciso ver tan1bém as polêmicas que provo-
fissão da fé que, não obstante, conservavam ainda no fundo da alma cou com sua atitude. No artigo "Enrico Thovez e il problema della
'naturalmente cristã'." formazione artistica", de Alfonso Ricolfi, na Nuova Antologia de
16 de agosto de 1929, há algumas indicações úteis, mas muito pou-
§ 84. Uteratura pop11lc1r. Wclls. Cf. o artigo de Laurci Torretta, cas. Seria necessário encontrar o artigo de Prezzolini, "Thovez il
'Tultima fase di Wells", na Nuov11 Antologia de 16 de julho de 1929. precursore".
Interessante e cheio de indicJ.ções úteis para esta rubrica. Wells deverá
ser considerado como escritor que inventou um novo tipo de romance § 96. Caráter negativo nacional-popular da literatura italiana. Em
de aventuras, diyerso do de Verne. Em Verne, encontramo-nos geral- 1892, o editor Hoepli promoveu uma enquete sobre a literatura italia-
mente no âmbito do verossímil, com uma antecipação no tempo. Em na que foi recolhida em volume, I ;nigliori libri italiani consigliati da
Wells, o ponto de partid,1 geral é inverossím.il, enquanto os detalhes cento illustri contemporanei, que deve ser interessante consultar para
são cientificamente exatos ou, pelo menos, verossímeis; Wells é mais esta rubrica, a fim de estabelecer quais foram as obras mais bem avalia-
imaginoso e engenhoso, Verne é mais popular. Mas Wclls é também das, por quem e por quais razões.
escritor popular cn1 todo o restante de sua produç:10: é escritor "n10-

174 175
CADER NOS DO CÁRCE RE DOS CADER NOS MISCE LÂNEO S

§ 101. Os filhotes de Padre Bresciani. Filippo Crispo/ti. Um de 16 de setemb ro de 1929, na p. 267, afirma-se que o livro
dos Nazio ni e
docum entos mais bresci anos de Crispo lti é o artigo "La minor anze etniche (Zanichelli, 2 vols.) foi escr.ito "por um jovem
madre di cava-
Leopa rdi", na Nuova Antologia de 16 de setem bro de 1929. lheiro roman o que, não queren do ver confun didos seus estudo
Não sur- s jurídi-
preend e que erudit os puros, como Ferret ti, apaixo nados cos e históri cos com suas funçõe s diplom áticas, adotou
até mesmo o nome um
pelas minúc ias biográ ficas dos grande s homen s, tenham tentad pouco arcaico de Luca dei Sabelli".
o "rea-
bilitar " a mãe de Leopa rdi: mas a baba jesuítica que Crispo lti
derrama
sobre o escrito de Ferret ti causa nojo [28]. Todo o tom é repugn § 103. Litera tura popular. Teatro. "O drama lacrim oso e a comé-
ante,
sob o aspect o intelec tual e moral. Sob o aspect o intelec dia sentim entnl haviam povoa do o palco de loucos e de dclinq
tual, porque
Crispo lti interp reta a psicologia de Leopa rdi através de suas ticntes
próprias de todo tipo; e a Revolu ção France sa, com exceçã o de pouco
"grand es dores" juveni s (é certam ente dele mesmo , Crispo s traba-
lti, o ma- lhos de ocasiã o, nada havia inspira.do aos autore s dramá ticos
nuscri to inédito de memó rias ao qual se refere duas vezes) por que re-
ter sido presen tasse uma nova orient ação artístic a e que afastasse o
pobre, mau dança rino e conve rsador aborre cido: uma públic o dos
compa ração mister iosos subter râneos , das perigo sas florestas, dos manic
repugn ante. Sob o aspecto moral, porqu e a tentati va de justific ômios ... "
ar a mãe (Alberto Manzi, "II Conte Giraud, il Gover no italico e la censur
de Leopa rdi é mesqu inha, capciosa, jesuítica no sentid o técnic a'', na
o da Nuova Antologia de 1° de outubr o de 1?29.)
palavr a [29]. É verdad e que todas as mães.aristocráticas do
início do lvianzi cita um trecho de u1n opúscu lo do advog ado MarL:1 GL-1co
século XIX eram como Adelaide Antici? Uma profus a quanti mo
dade de Bo.ieldieu, de 1804: "Em nossos dias, o pa!C'.:i se transfo rmou:
docum entos em contrá rio poderi a ser aprese ntada. E també e não é
m o exem- raro ver os ;1ss;1ssinos en1 suas toc,-is e os loucos no m<1nic
plo de D'Azc glio não serve, já que a dureza na cducaçf10 ômio. Niio
físicâ para será o caso de deixar aos tribun ais a tarefa de punir aquele
produ zir soldad os é algo muito diverso da secura moral e sentim s monst ros
ental: que dcsonr;1n1 o no111c de hon1c111? E ;tos n1éJicos n de tcnt;1r
quand o o menin o D'Azcglio quebra o braço e o pai o induz a curar os
ocultar o infelizes cujos delitos chocam penosa mente a human idade,
proble ma durant e toda uma noite para não alarma r a mãe, ainda que
quem dei- sejam apenas simulados? Que podero sa atraçã o e que soluçã
xa de ver o afetuo sd substr ato familiar contid o no episód io, o pode o
que deve espect ador encon trar no quadro de males que, na ordem
ter estimu lado a criahça, vincul ando ·a ainda mais intima mente moral e físi-
aos pais? ca, deixam desola da a espéci e human a, males dos quais,
(Este episód io de D'Azeglio é citado em outro artigo do mesmo de um mo-
núme- mento para outro e pelo mais leve abalo de nossos nervos
ro da Nuova Antolo gia, "Pelle grinag gio a Recan ati", de Alessa esgot·a.dos,
ndro podem os nós mesmo s nos tornar vítima s merec edoras de
Varaldo.) A defesa da mãe de Leopardi não é um simples fato compa ixão?
de curio-
sidade erudita , mas :um eleme nto ideoló gico, ao lado da Que necess idade temos de ir ao teatro para assistir Bandid
reabili tação os (peça tí-
dos Bourb ons, etc. pica: Rober t cl.ie( des brigands, de LamartcliCre, que termin
ou como
funcio nário públic o, e cujo enorm e sucesso, c1n 1791, foi
determ ina-
§ 102. Literatura italiana. Contribuição dos burocratas. Já escrevi do pela fr;_tsc 'guerr a nos castelo s, paz n;.1:-; choup,1nas', pc~a
inspir<1da
uma nota sobre este assunt o, observ ando como escrev em pouco nos Bandoleiros de Schiller), Loucas e Doentes de amor (peças
, sobre típicas:
os temas de sua especialidade e de sl]a particu lar atividade, Nina la pazza per an1-ore, II cavaliere de la Barre, J[ delirio,
os funcio- etc.)", etc.,
nários italian os de todas as catego rias (se escrev em, fazem etc. [31] Bo·Jeldieu critica "o género , que, na realida de, ·parece
-no somen te -me peri-
para os superiores, não para o povo-nação) [30]. Na Nuova goso e dcp 1ocívcl ".
Antologia

176 177
1

CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

O artigo de Manzi contém algumas indicações sobre a atitude da MoliCrc e do naturalismo francês 111ollcr110. 'f;unbén1 sobre a Venexiana,
censura napoleônica contra este tipo de tcatro 1 sobretudo quando os Adolfo Orvieto (Marzocco, 30 de setembro de 1928) escreveu que ela
casos anorn1ais reprcscntJdos atingiam o princípio monúrquico. parecicl "o produto de uma f'111t:1si:i dr~1n1;'nica de nossos tempos" e
mencionou Bccque 133].
§ 104. O século XVI. O modo de julgar a literatura do século XVI É int..::ressantc observar este duplo filúo no século X\1I: u1n verda-
segundo certos pc1drc"'1cs cstcrcotip<1dos deu lug;1r1 n~1 It:'1lia, a curiosos deir;1mentc nc1cional-popular (nu:-:: di,1lctos rn;1s L1rr1bén1 cn1 L-1ti1n), li-
1

juízos e a li1nitaçõcs dc cniviJ:1dc crítica que são signi fic;ttivos para jul- gado à novc!ísrica anterior) cxprcss:1u da burguc.-;ic1; e uin outro, áulico,
gc1r o caLÍtr.:r ;1bstrato da rL:<1lidadc nacional-popular de nossos intelec- cortesão, <1-nacional) mas que é pusto nas nuvens pelo::> rct(1ricos.
tuais. A1-ua!mcnte, algo cstú lentamente se modificando, n1as o velho
reage. Em 1928, Emílio LovJrini publicou uma comédia cm cinco atos, § 113. Sobre Henrik Ibsen. Cf. Guido Manacorda, "li pcnsiero re-
La vencxiana, co1n111edi.-r di ignoto cinqlfecentes(o (Zanichclli, 1928> ligioso di Enrico Ibscn", Nliova 1\nto!ugiil Jc 1° de novcn1bro de 1929.
nº 1 da "Nov;J. sclcçJo de curiosicl1des literárias inéditas ou raras"), Este artigo de Manacorda, que pt:rtcncc ao grupo do:". "católicos inte-
que foi reconhecida con10 urna belíssima obra de cirte (cf. Bcnedctto gristas" e polc1nistas c1n favor d,i lt;rcj<l Jc R.on1:1, é intcn.:~~sante para
CroCL' 1 nct í..;riri(:a de 1:130). lrinco S:-inesi (autor do volurr1c La Corn- comprccndLT Ibsen indiretamente, par::t entender plcnan1cnte o valor
n1r-:di11 na colcçdo do-; ''(;êncros literários" da Editora V.illardi), num
de seus pontos de vista ideológil·11-:;, etc.
;1rti~~11111tlt1il.1llt1 ''l-:1 Vc1H·xi.uLt'', nn Ntr11/!lf J\11/f!Í<!,l'.iil de lu de Ulllll-

bro de 1~2Y 1 ;1ssin1 ll •rJ1ll1L1 v que ~l;1ra ele é o problcn1<1 crítico posto
§ 122. Nacional-popular. EsLTl..'\'i algumas notas para observar como
pela. .:on1édi,1: t'.· Jc:-;c.-1nlic..::i,Jo autor d8 \1enexir1na ~ un1 rctardarário 1
eis expressões "nação" e "naci_ona\" t·~n1 c1n ic1!i.1no un1 significado mui-
um rc-r::rógr;1Jo 1 ·un1 ~u 1 1:>crv,1dor, j:í que representa ,1 cornédia nascid~1
to mais limitado do que, em outrus línguas 1 têm as pa.LnTas correspon-
da novclística medieval, cl comédia realista 1 vi·~'az (mcsn1c se escrita em
dentes registradas nos dicionários./\. observc-1çüo rnais interessante pode
latim) 1 que ton1a ~cu." tcn1:1s Ja rc;:1]idadc da comum viJ,-1 burguesa ou
citadina, cujos personc1gcns s'.10 reproduzidos a partir desta n1esma rca-
ser feita cm relação ao chinês, en1bor<1 tc1mbC'.1n na China os intelectuais
lidadc1 cujas ai;ões si"iu si1npics, cL-1ras1 lineilres 1 e cujo n-iaior interesse estejam separados do povo: para traduzir a expressào chincsaSenMin-
re:;ldc prcci:;n:nente crn .sti:i sobricd.1de e lucidez. ,-\o contLírio, segun- tchiu-í, que indica os três princípios da polírica nacion;-tl-~•opular de
do Sc1nl!si, s:10 revol11cinntírios os escritores do tc;1tro erudito e classi- Sun Yat-Scn, os jesuír:1s invcntar:1n1 :1 fórmula "tríplice dcn1isn10" (in-
.:iz;HHt, que traziam de ºº"'º pc1rJ o palco os antiqiií".simos tipos e ventada pelo jesuíta italiano D'Elia na traduç;10 fr<lnccsa do livro de
motivos caros d PLuno l! -rcr·~n,.:io. Para Sc1nesi, os cscri[orcs da nova Sun Yat-Sen, Le tripie denásnze tÍi! Sun \X1en); cf. Ciuilt/r C(If/olica de 4
1.:i1"...;,_· hisróri,_~a silo r:.-1,·>1n ''.1-ios, t'IHJlLlnto rcvoli1cio11;\1·íos s:10 os es- e 18 de n1aio de 1929, na q11;1] .1 f(1rn1ul:1 chincs<1 S1 111 l'v(in-tchiu-i é
crit<)_rcs cur1c~úos: é ,_.._,}~.in!r.!·.,v l321. analis~1d,1 cn1 sua con1posiç:10 µ1 .t1n,1l11..·;i) chi11cs:1 e l:un1;\1r;1J;1 cu1n

E i11tcrcsstl!1tc o que ocurreu corn a \'enexiona, ;l pouca distânci~i várias traduções possíveis [34].
do que ocorrera corn <l.'; con1édias de Ruzzante, rraduziJas do dialeto
p.1._i1L:t1l·i dl) st·-:ulo X\'! p.u-.! o fr,111i:l's :1r,_'<iiz~u1tc p\-··r 1\!frL·J l\,1orticr. § 151. Lingiiística. lmport:inL-i:t do escrito de EnriL'O Sicardi, La
R11/':.111ll' ll•r.1 rl'\'l·Lh\,, f~11r \l.1tJrÍ·:1· S,111J (i"illh) dL· 1..;L',1r,L',l·S.111l[), qnc lingutI it,i/ú1na in Danle, eJit;1Jo cnl Roni:1 pcL1 EJitor:t "Optima", com
LI 111.\'-·\,11111.111 nL1i\1r ii:111 Sl' ,_h1 q11,' ;\n,1.-;tl) (n.1 ,_·,\nh·~!iJI e do quv prc:fácio de Francesco Orcstanv. Li sobre ele a resenha escrita por G.
S. (;.1rg)!\ll ("l,;1 ling11a lll:I tcuq•i ,_[; 11.111lc l' l'intLTf~rL·t-11,íonc dclla

178 17 9
CADERNOS DO CÁRCERE OOS CADERNOS MISCELÃNEO S

poesia"), noMarzocco de 14 de abril de 1929. Sicardi insiste na neces- § 156. Folclore. Uma divisão e· distinção dos cantos populares for-
sidade de estudar as "línguas" dos vários escritores quando se quer mulada por Ermolao Rubieri: 1°) cantos compostos pelo povo e para
interpretar exatamente seu mundo poético. Não sei se tudo o que Sicardi o povo; 2º) cantos compostos para o povo, mas não pelo povo; 3°)
escreve é exato e, em particular, se é possível estudar "historicame nte" cantos não escritos nem pelo povo nem para o povo, mas por este
as línguas «p8.rticulares'' de cada escritor, já que não dispomos de um adotados jú que adequados à sua maneira de sentir e de pensar [3 8].
documento essencial: um amplo testemunho da língua falada na época Parece-me que todos os cantos populares podem e devem ser re-
de cada escritor. Mas a exigência metodológic a de Sicardi é justa e duzidos a esta terceira categoria, pois o que distingue o canto popular,
necessária (recordar no livro de Vossler, Idealismo e positivismo no
no quadro de uma nação e de sua cultura, nüo é o fato artístico nem a
estudo da língua, a análise estética da fábula de La Fontaine sobre o
origem histórica, mas seu modo de conceber o mundo e a vida, em
corvo e a raposa e a errônea interpretaçã o de son bec, ·devida à igno-
contraste com a sociedade oficial: nisso e só nisso deve ser buscada a
rância do valor histórico de son) [35].
"coletividad e" do canto popular e do próprio povo. Disto decorrem
outros critérios de investigação do folclore: que o próprio povo não é
§ 153. Literatura popular. Romances e poesias populares de Ferdi-
uma coletividade homogênea de cultura, mas apresenta numerosas
nando Russo (em dialeto napolitano) [36].
estratificações culturais, combinadas de modo variado, as quais, em sua
1 pureza, nen1 sc1nprc podcn1 ser i<lcntificaJ~1s çn1 Jctenni11;1Jas coleti-
§ .154. Os filhotes de Padre Bresci1111i. Cardarelli e a Ronda. Nota
·"' vidades populares históricas; é certo, porém, q11e o grau maior ou menor
de Luigi Russo sobre Cardarelli na Nuova Italia de outubro de 1930.
de "isoL11ncntn" hist(\rico de t:lis c1·1]ctivid;1dcs fornece ;1 pos~ihilill.1dc
R11sso cncn11tr:1 prccisa1nent c cn1 (~;1n.L1relli o tipo (11H1Jcrno-fc'issil)
representado , em Nápoles, pelo Abade Vito Fornari, em comparação de uma certa identificação.
com De Sanctís. Dicionário da Crusca. Contra-Refo rma, Academia,
reação, etc. .
Sobre a Ronda e sobre as referências à vida prática em 1919-1921,
cf. Lorenzo Montano, II Perdigiorno, Edizione dell'Italiano, Bolonha, CADERNO 6 (1930-1932)
1928 (são recolhidas no volume as notas de atualidade de Montano
publicadas na Ronda) [3 7]. § 20. Questões de /i11giiística. Gi11/io Bertoni. É surpreenden te a rese·
nha benévola que Natalino Sapegno publicou, no Pegaso de setembro
§ 155. Os filhotes de PadreBre.._\·ciruri. AFiera Letteraria, no número de de 1930, sobre Li11gu,1ggio e poesid (Ed. "Bibliotheca", Ricti, 1930, 5
9 de setembro de 1928, publicou t1m manifesto, "Para uma união literária liras) [39]. Sapcgno não percebe que a teoria de Bertoni -de que "a
européia", assin;1Jo por quatro scman:lrios litcr:l.rios: Les Nouvelles nova lingüística é un1a sutil análise que diferencia as vozes poéticas
f_,illéraires, de Paris; Ltl 17i<'rfl Lr'llf~ri1ri11 1 de Mi!Jo; Die Literarisr:he Welt, daq11c.:L1s instn1n1c11t;1is" - n:10 é de n1odo ;1!µ11111 11n1a novidade, j:í. que
de Berlim; e La Griceto Lilerarirr, de Madri. Neste manifesto, era anuncia- se trata do retorno c1 uma vc!híssin1a conccp~Jo retórica e pedante,
da uma certa colaboração européia entre os literatos que participam des- segundo a qual as palavras se dividem em ''feias" e "belas", em poéti-
tes quatro semanários e os de outros países europeus, através de simpósios cas e não poéticas ou antipoéticas, etc., do mesmo modo como·as lín-
anuais, etc. Depois, não se falou mais no assunto. guas h<:rviarn sido divididas em belas e feias, civilizadas ou bárbaras,

18o 181
CADERNOS DO CÁRCE-RE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

poéticas e prosaicas, etc. Bcrtoni nada acrescenta à lingiiística, a não que o ''sol'' contenha implícita c111 si a in1;1gcm da "solid:10" no imen-
ser velhos preconceitos; e é espantoso que estas tolices tenham sido so céu e assim por diante; "coino é belo que na Púglia a libélula, com
aceitc-i.s de bom grado por Croce e pelos ;tlunos de Crocc. O que são as suas asas em forma de cruz, seja chan1ada de a 1norte", ctc. 1 etc. Re-
palavras separaçias e abstraídas <l<-l obra literária? N;-10 rnais elemento cordar, nu1n escrito de Carla l)ossi, a historinha do professor que
estético, mas clerncnto de história da cultura; e é como tdl que o lin- explica a form;1ção das p<1lavras: ·"No início 1 cai 11111 fruto fazendo
güista as estuda. E que significa a justificação feita por Bcrtoni do "exa· p1-11n! E eis o 'pomo"', etc. "E se Tivesse caído uma pêra?", pergunta
me naturalista das línguas, como fato físico e como fato social"? Como o jovem Dossi [ 40].
fato físico? Que significa isto? Que também o homem, além de ele-
mento da história política, deve ser estudado como fato biológico? Que § 26. Os filhotes de Padre Bre,âani. Pirandello. Pirandello não per-
tan1bém deve ser fcit,1 a ;1nálise química de uma pintura, etc.? Que se- tence de modo algum a essa c1tegoria de escritores. Comento-o aqui
ria útil exan1inar o esforço n1ccitnico que custou a ~1ichclangclo escul- somente para agrupar as notas Jc cultura literária. Será preciso escre-
pir o Moisés? ver sobre Pirandello um ensaio específico, utilizando todas as notas que
É espantoso que os crocianos não tenham percebido tudo isso, .:J escrevi durante a guerra, quando Pirandello era con1batido pela críti-
que serve para indic1r qua 1tas confusões Bcrtoni L'ontribuiu para di-
1
ca, que era incapaz até mesn10 Je resumir seus dra1n<ls (recordar as
funJir neste c:unpo. S.1pL·h1hi <..:hl')-1.,I n1cs11E) ;1 cs(rl'VLT que ,·-.;r.1 pesqui- rcscnh;1s sobre I11nesfo nos jorr1:lis rurincnscs após a prin1cira repre-
sa Jc Bcrtnni (sobre .1 bclL·1.,1 J,1~ p,1L1vr,1s .1bsrr.1c1s indivídu:lis: corno sentação e ns ofertas de alianç:1qtll'111e for;un feitas por Nino Bcrrini)
se o vocjbulo mais "._lv:-:g;l'.'.Lldo L' n1cc<111izaJo'' n:io r1.'c1dquirissc, 11~1 ~ provoL:;1va o furor Jc unia pJrtc Jo público. RccorJ;1r que Liolà foi
obra de <lrrc concrc:L1i roJo u seu vi~-o e s1L1 ingL'11ui ... lad...: prin1itiva) "\.· retirada Jc cartaz por Pira1idcllo) jj na segunda aprcscntaçáo, por cau-
difícil e delicttda, nl<lS n1.·n1 por isso menos nece ..;c;,íri:1: .ltr,iv(s dela, a sa das den1onstrações hostis dos jovens católicos turinenses. Cf. o arti-
glorologia 1 melhor do que ciência Ja. lingu:1gcm, volraJ:1 p,1ra <l desco- go da Civilt<i Cattolica de 5 de abril de 1930, "Lazzaro ossia un mito
bert:.1 de leis mais ou menos esr.í.vcis e scgur:1s, irú se cnc<tminhar no di Luigi Pirandello" [41].
sentido de se tornar história da língucl., atenta aos fatos particulares e a A importância de Pirandello me parece ser de caráter intelectual e
seu significado espiritual". E mais: '"O núcleo deste r:1ciocínio {de moral, ou seja, mais cultural do que artística: ele tentou introduzir na
Bcrtoni) é, como todos po<lcm ver) um conceito .scmprí__' vivo e fecun- cultura popular a "dialética" da filosofia moderna, em oposição ao
do J,1 cstétic.i crocia11;1. t>L1s '1 crigi11aliJ~1dc de E'-Tro11i con~istc en1 tê- n10Jo aristotélico-católico de conceber a "objetivid,1dc do real". Fez
lo dcsen\olvido e enríquccido através de um caminho c'-1ncreto, apenas isso como é possível fazê-lo no teatro e como o próprio Pirandello pode
indicado por Croce, ou t;1Jvcz iniciado, n1;is jamdis trilhaJo até o fi1n t- fazê-lo: esta concepção dialética da objetividade apresenta-se ao pú-
de rriodo deliberado", etc. Se Bertoni "revive o pensamento crociano'\ blico como aceitável na medida em que se expressa através de perso-
até mesmo enriquecendo-o, e se Croce se reconhece crn Bcrtoni, en- nagens excepcionais e 1 portanto, sob vestes românticas, de luta paradoxal
tào é preciso dizer que o próprio Crocc deve ser revisto e corrigido; contra o senso comum e o bom senso. Mas poderia ser de outro modo?
mas n1c p;1rccc que Crocç foi apenas muito ind1ilgcntc corn Bcrtoni, Son1entc ;-issim é que os dran1;1s Jc PiranJcllo p'odcn1 deixar menos
por nJo ter <lprofunJado a questJo e por n1otivos '"did;íticos". evidente seu caráter de "diálogos filosóficos" (embora este os marque
L\s pesquisas de Bcrtoni são en1 parte, e sob um certo aspccto, um fortemente) 1 já que os protagonistas devem com muita freqüência ''ex~
retorno a velhos sisten1as etimológicos: sol qrúa solus est, como é belo plicar e justificar" o novo modo de conceber o real; de resto, o pró-

182 1 83
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

prio Pirandello nem sempre escapa do solipsismo puro e simples, já Caberia rever [42).) É este um outro sintoma da separação entre os
que nele a "dialética" é mais sofística do que dialética. intelectuais italianos e a realidade popular-nacional.
Sobre os intelectuais, cf. esta observação de Prezzolini (Mi pare ... ,
§ 27. Os filhotes de Padre Bresciani. Supercosmopolitismo e super- p. 16), escrita em 1920: "Entre nós, o intelectual tem a pretensão de
regionalismo. Cf., na Italia Lettemria de 16 de novembro de 1930, a ser um parasita. Considera-se como o passarinho feito para a gaiola de
carta aberta de Massimo Bontempelli a G. B. Angioletti, com um co- ouro, que deve ser mantido com ração especial e grãos de milho. O
mentário deste últirfio ("II Novecentismo e vivo o e morto?"). A carta desdém que ainda existe por tudo o que se assemelha ao trabalho, as
foi escrita por Bontfmpclli logo depois de sua nomeação para a Aca- homenagens que continuam a ser prestadas à concepção romântica de
demia e salta de cada palavra a satisfação do autor em poder dizer que uma inspiração que se espera provir do céu, tal como a pitonisa espe-
aniquilou seus inimigos, Malaparte e o bando da revista [;Italiano. Essa rava seus transes, são na verdade fétidos sintomas de putrefação inte-
polêmica do super-regionalismo contra o supercosmopolitismo, segun- rior. É preciso que os intelectuais compreendarn que já passou a época
do Bontempelli, era movida por sentimentos obscuros e ignóbeis, o que destas interessantes mascaradas. Daqui a alguns anos, não será permi-
se pode aceitar, se sé'·.leva cm conta o arrivismo demonstrado por Mala- tido adoecer de literatura ou permanecer inútil." Os intelectuais con-
parte em todo o per(odo do pós-guerra: era a luta de um grupelho de cebem a literatura como uma específica "profissão", que deveria
litcratos "ortodoxos" qnc se sentiam ;1ti11gidos pela "concorrência des- '~render" n1csr110 quando não se í1roduz icncdL1tamcntc nad . 1 e que
leal" dos literatos já escritores do Mondo, como Bontempelli, Alvaro, deveria dar direito a uma aposentadoria. Mas quem estabelece que
etc., e pretendiam dar um conteúdo de tendência ideológico-artístico- Fulano é verdadeiramente um "literato" e ciue a sociedade pode mantê-
cultural à s11;1 rc.:sistl:ncia, etc. Mcsq11i11hc.:z Jc un1:i parte e Jc outra. O lo enquanto espera sua "obra-pritna"? O literato rcivinJica o Jirc.:ito
comentário de Angioletti é ainda mais mesquinho do que a carta de de estar em "ócio" (otium et non negotium), de viajar, de fantasiar,
Bontempelli. sem preocupações de caráter econômico. Este modo de pensar liga-se
ao mecenato das cortes, de resto mal interpretado, já que os grandes
§ 29. Os filhotes de Padre Bresciani. Deve-se notar como, na Itália, literatos do Renascimento, além de escrever, trabalhavam de algum
o conceito de cultura é estreitamente livresco: os jornais literários se modo (mesmo Ariosto, literato por excelência, tinha incumbências
ocupam de livros e de quem escreve livros. Eles jamais publicam arti- administrativas e políticas): uma falsa e equivocada imagem do lite-
gos de impressões sobre a vida coletiva, sobre os modos de pensar, sobre rato do Renascimento. Hoje, o literato é professor e jornalista ou
os "sinais dos tempos", sobre as modificações que ocorrem nos costu- simples literato {no sentido de que tende a tornar-se tal, se é funcio-
mes, etc. Diferença entre a literatura italiana e as demais literaturas. nário, etc.).
Na Itália, inexistem os memorialistas e são raros os biógrafos e os Pode-se dizer que a "literatura" é uma função social, mas que os
autobiógrafos. Inexiste o interesse pelo homem vivo, pela vida vivida. literatos, tomados individualmente, não são necessários à função, em-
(Será que as Cose viste de Ugo Ojetti são mesmo a grande obra-prima bora isso pareça paradoxal. Mas é verdade no 'sentido de que, enquan-
da qual se começou a falar a partir do momento em que Ojetti tornou- to as demais profissões são coletivas e a função social se decompõe nos
se diretor do Corriere della Sera, ou seja, do órgão literário que melhor indivíduos, isto não ocorre na literatura. A questão é de "aprendiza-
paga aos escritores e lhes dá maior fama? Também nas Cose viste fala- gem": mas pode-se falar de "aprendizagem" artístico-literária? A fun-
se sobretudo de escritores, pelo menos nas colunas que li há alguns anos. ção intelectual não pode ser separada do trabalho produtivo geral nem

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CADERNOS DO CARCE'RE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

mesmo para os artistas, a nlo ser quando eles den1onstram que são de sobre Marco Ramperti, recordava nesta época ter conhecido pessoal-
fato produtivos "artistic;1111cnte". Ncrn !sto prcjuJicará a "arte", mas, mente R;impcrti durante un1a sua aventura jornalística e de tê-lo visto
ao contr;'irio, só lhe trar:1 hc::1efícios: prcjudicarú somente a bohetne trabalhar de perto: ora, Ra1nperti era justan1ente o crítico teatral do
artísric1, o que esrJ. 1n1iito !unge JL· ser uni n1al. Ambrosia!lo. Cajumi é agora funcion:írio da Editora llemporad de Flo-
renÇ<:l e escreve apenas resenhas e artigos de literatura na Stantpa (creio)
§ 42. 1'endências (L-l cultura itd!iana. Giovanni Ce1u1. Sobre Cena, e na Jtalia Letteraria [43].
é muito interessante o Artigo de 1\rrigo Cajumi, "Lo strano caso di Do artigo sobre Cena, extraio alguns trechos: "Nascido em 1870,
Giovanni Cena" (!ta/ia Lcueraria, 24 de novembro de 1929). morto em 1917, Giovanni Cena nos aparece como uma figura repre-
De Cajumi, será úril pesquisar as coletâneas de artigos; Cajumi é sentativa do movimento intelectual que a melhor parte de nossa bur-
muito capaz na tarcL1 de cnco~1trar certas conexões no n1undo da cul- guesia realizou a reboque das novas idéias que vinham da França e da
tura italiancl. Sobre Caíumi, c<J.be len1brar a questão de Arrigo e Enrico: Rússia 1 com uma contribuição pessoalmente mais amarga e enérgica,
Enrico, secretário de red:1ç:í.o da Jt,tfia Nostra, o sen1<Inárío dos inte- causada pelas origens proletárias (ou camponesas<) e pelos anos de
lectu21i s neutral istas de 191.+-1915 1 e diretor do An1brosirt no no perío- miséria. Autodidata que se libertou por milagre do embrutecimento
do crn qu>: 0An1brosidno era controlaJo por Gua!ino; parece-me que1 do trabalho paterno e da pequena ,i]Jcia nativa, Cena inseriu-se in-
no joni;1l 1 conjo diretor-rcspons:ívcl, e!c se :1ssin:1v;1 ''(~;Jv;ileiro ou conscicnten1cn te Jlâ corrcn te que 11;1 França - prossegui nJo u1na tradi-
Co1lll'llJ.1dnr Enrico (~;1j111ni"; /\rrigo, escritor lll' <lítÍg()s litcr;lrios e ç:í.o (!)derivada(!) de ProuJhon e q11e, p<tulatinamcntc (!), através de
cult11r:1is n,1 Síil111pa, corrcsponJl'ntc Ja Stantpa cn1 Genebra durante Vallês e dos particip;1ntcs da Con11111a, chegou aos Quatre Él'1lngiles de
as sessões da Sociedade das Nações1 apologista da política e da orató- Zola, à questão Dreyfus, às Universidades Populares de Daniel Halévy,
ria de Briand. Por que esta rr;udança de Arrigo em Enrico e de Enrico e que continua hoje em Guéhenno (!) (bem mais, ao contrário, em Pierre
em Arrigo? Cajumi estava no terceiro ano da Universidade de Turim Dominique e em outros) - foi definida como 'ida ao povo' (Cajumi
quando eu esta~a no primeiro: era um jovem brilhante como estudan- transporta para o passado uma palavra de ordem moderna, dos popu-
te e como conversador. Lembrar o episódio de Berra, ocorrido em 1918 listas; no passado, depois da Revolução Francesa e até Zola, jamais
ou 1919, ou seja1 tão logo começou a aparecer na Stampa a assinatura houve cisão entre povo e escritores na França: a reação simbolista ca-
de Arrigo Cajumi. Berra me contou que encontrou Enrico Cajumi e vou um fosso entre povo e escritores1 entre escritores e vida, e Anatole
falou com ele sobre estes artigos: Cajumi mostrou-se ofendido por al- France é o tipo mais completo de escritor livresco e de casta) [44]. Cena
guém poder acreditar que ele fosse o autor dos artigos de Enrico-Arrigo. vinha do povo, do que deriva a originalidade(!) de sua posição; mas o
Caju mi, em 1912-1913, transferiu-se da Universidade de Turim para a ambiente da luta era sempre o mesmo, aquele onde se afirmou o socia-
de Roma e tornou-se amigo, além de aluno, de Cesare De Lollis, espe- lismo de um Prampolini. Era a segunda geração pequeno-burguesa
cializando-se em literatura francesa. Que se trate da mesma pessoa é depois da unidade italiana (a crónica histórica da primeira foi magis-
algo demonstrado pelo atual culto de Arrigo por parte de De Lollis e tralmente escrita por Augusto Monti, em Sansoussf), estranha à políti-
pelo fato de que ele é do grupo que continuou La Cultura. E mais: ca das classes conservadoras dominantes, mais ligada em literatura a
Caju1ni, con1 o nome de Enrico, continuou a assinar artigos no Arn- De Amicis ou a Stecchetti do que a Carducci, distante de D'Anunzio
brosiano, mesmo quando já se afastara da publicação, creio que por [45]. Essa segunda geração preferirá formar-se com base em Tolstoi,
causa de uma rebelião na redação. Num artigo publicado na Stampa considerado mais como pensador do que como artista; descobrirá

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEO S

i
Wagner; acreditar~ vagamente nos simbolistas, na poesia social (sim- na!, ou nacional-socialisnio, que buscou abrir caminho de tantos mo-
bolistas e poesia social?), na paz perpétua; insultará os governantes dos na Itália e que encontrou no pós-guerra um terreno propício?
porque pouco idealistas; e não despertará de seus sonhos nem mesmo
sob os tiros de canhão de 1914" (muito maneirista e rebuscado tudo § 44. Sobre a literatura italiana. Cf. o ensaio de G. A. Borgesc "II
isto!). "Crescido em meio a enormes dificuldades, sabia ser anfíbio, senso deli a leteratura italiana", naNuova Antologia de 1° de janeiro
nem burguês nem popular: 'Como consegui ter uma instrução acadê- de 1930 [46]. "Um epíteto, um mote não pode resumir o espírito de
mica e obter diplomas é algo que freqüentemente, quando reflito so- uma época ou de um povo, mas serve algumas vezes como referência
bre isso, me faz perder a calma. E quando, ao refletir, sinto que posso ou apoio mnemônico. Para a literatura francesa, costuma-se dizer:
me perdoar, então tenho verdadeiramente o sentimento de ser um vi- graça; ou: clareza, lógica. Poder-se-ia dizer: cavalheiresca lealdade
torioso. Tenho o sentimento profundo de que só o desafogo da litera- da análise. Diríamos, para a literatura inglesa: lirismo da intimidade;
tura e a fé em seu poder de liberação e de elevação me salvaram de para a alemã: audácia da liberdade; para a russa: coragem da verda-
tornar-me um Ravachol. "' de. As palavras de que podemos nos servir para a literatura italiana
No primeiro esboço dosAmmoni tori, Cena imaginou que o sui- são precisamente aquelas de que nos servimos para essas recordações
cida se jogasse sob um automóvel real, mas, na edição definitiva, visuais: majestade, magnificência, grandez:1." Em suma, Borgese con-
não conservou o episódio: "(... ]Estudioso de questões sociais, es- sidera que o caráter da literatura italiana é "teológico-a bsoluto-
tranho a Croce, Missiroli, Jaurês, Oriani~ às verdadeiras exigência..; metafísico-anti-romântico", etc.; e, talvez, sua linguagem de hierofante
do proletariado nortista, que ele, como camponês, ·não podia sen- pudesse precisamente ser traduzida no juízo, em palavras pobres, de
tir. Turinensc, era hostil ao jornal que representava a burguesia liberal, que a literatura italiana é separada do dcscnvolvin1cnto real do_povo
ou melhor, social-democrata. Não existe nele traço de sindicalismo; de italiano, é de casta, não sente (não reflete) o drama da históría, ou
Sorel, nem menciona o nome. O modernismo não o preocupava. " seja, não é popular-nacional.
Esse trecho mostra quanto é superficial a cultura política de Cajumi. Fala do livro de Bonghi: "O autor e seus amigos cedo perceberam,
Cena aparece ora como popular, ora proletário, ora camponês. A mas demasiadamente tarde para corrigir um título que se tornou em
Stampa é social-democrnta, ou melhor; existe uma burguesia social- pouco tempo excessivarr1ente famoso, que seria melhor que o peque-
democrata em Turim. Nisto, Cajumi imita certos políticos sicilianos no livro tivesse como título: por que a prosa italiana não é popular na
que fundavam partidos democrático s sociais ou até mesmo traba- Itália [47]. Precisamente isto é relativamente débil na literatura italia-
lhistas; e cai assim na armadilha criada por certos jornalistas ridícu- na: a prosa, ou, melhor ainda do que a prosa entendida como gênero
los, que cozinharam a palavra social-democracia em todos os molhos. literário e ritmo verbal, diríamos o sentido do prosaico: o interesse, a
Cajumi esquece que em Turim, antes da guerra, a Stanzpa estava à curiosidade observadora, o amor paciente pela vida histórica e contin-
direita da Gazzetta dei Popolo, jornal democrático moderado. De gente tal como se processa diante de nossos olhos, pelo mundo em seu
resto, é muito engraçada a mistura Croce-Missi roli-Jaures-O riani devir, pela realização dramática e progressiva do divino."
para os estudos sociais. É interessante, pouco antes, uma passagem sobre De Sanctis e a
No escrito Che[fare?, Cena queria fundir os nacionalistas com os ridícula reprovação: "Via a literatura italiana viver há mais de seis sé-
filossocialistas com? ele. Mas será que, no fundo, todo este socialismo culos e pedia-lhe que nascesse." Na realidade, De Sanctis queria que a
pequeno-burguês à DeAmicis não era um embrião de socialismo nacio- "literatura" se renovasse porque os italianos se haviam renovado, por-

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CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂN EOS
CADERNOS DO

que desaparecera a separação entre literatura e vidai etc. É interessan- "Ombre di romanzi manzoníani", Manzoni se torn<l paradigma para
te observar quç De Sanctis é progressista ainda hoje, quando compara- autojulgar o romance efetivamente escrito por Crispolti, II duello, e
do com os muitos Borgeses da crítica atual. um outro romance, Pio X, que terminou não sendo escrito. A arrogân-
':'\sua limitada popularida de [da literatura italiana], o singular e cia de Crispolti é até mesmo ridícula: Os noivos tratam da "brutal proi-
quase aristocráico e distanciado tipo de êxito que lhe coube por muito bição de um casamento", Il duello de Crispolti trata do duelo; ambos
tempo, não se explica apenas (!) por sua inferioridade: explica-se de se referem ao dissídio existente na sociedade entre a adesão ao Evan-
modo mais completo (!) por suas excelências (! - excelências mistu- gelho, que condena a violência, e o uso brutal da violência. Há uma
radas com inferioridade!), pelo ar rarefeito em que se desenvolveu. Não- diferença entre Manzoni e Crispolti: Manzoni provinha do jansenismo,
popularida de é como dizer não-divulgação; conseqüência que decorre Crispolti é um jesuíta laico. Manzoni era um liberal e um democrata
da premissa adi profanum vulgus et arceo. De modo algum popular e do catolicismo (embora de tipo aristocrático) e era favorável à queda
profana, essa literatura nasceu sagrada, com um poema que seu pró- do poder temporal; Crispolti era um tremendo reacionário e como tal
prio autor chamou de sagrado (sagrado porque fala de Deus, mas que permaneceu: se se afastou dos papistas intransigentes e aceitou ser se-
tema é m<lis popular do que Deus? E, na Divina cornédia, não se fala só nador foi somente porque queria que os católicos se tornassem o par-
de Deus, mas também dos diabos e de seus 'novos pífaros'), etc., etc." tido ultradireit ista da nação.
"O destino político que, ao retirar da Itália liberdade e poder material, A trama do romance não escrito Pio X é interessante somente por-
dela fez o que biblicamente, leviticamente, poder-se-ia chamar de um que menciona algumas dificuldades objetivas que se apresentam na
povo de sacerdotes." convivência em Roma de duas potências como a mon<lrquia e o papa,
O ensaio conclui - menos mal - que o caráter da literatura italiana já reconhecid o como soberano pela Lei das Garantias [49]. Toda saída
pode mudar, ou melhor, deve mudar, etc., mas isso destoa do conjunto do papa do Vaticano para atravessar Roma exige: 1) grandes despesas
do próprio ensaio. estatais para o aparato honorífico devido ao papa; 2) é uma ameaça de
guerra civil, já que é preciso obrigar os partidos progressistas a não
§ 48. Retrato do camponês italiano. Cf., em Fiabe e leggende fazerem demonstrações e, implicitamente, põe a questão de saber se
popolari de Pitré (p. 207), uma novelinha popular siciliana, à qual (se- tais partidos podem chegar um dia ao poder com seus programas, ou
gundo D. Bulferetti, na Ficra Letteraria de 29 de janeiro de 1928) seja, interfere negativamente sobre a soberania do Estado.
corresponde uma xilogravura de velhas estampas venezianas, nas quais
se vê Deus endereçar do céu as seguintes ordens: ao Papa, ''você reza"; § 57. A chamada poesia social italiana. Rapisardi. Cf. o artigo, muito
ao imperador, "você protege"; ao camponês, ''e você labuta". interessante, de Nunzio Vaccalluzzo, "La poesia di Maria Rapisardi",
O espírito das novelinhas populares fornece a conccpção que, de na Nuova Antologia de 16 de ievereiro de 1930. Rapisardi foi apre-
si mesmo e de sua posição no mundo, o camponês se resignou a absor~ sentado como materialista e até mesmo materialista histórico. Isso é
ver da religião. verdade? Ou não seri<l mais carreto dizer que ele foi um "místico" do
naturalismo ou do panteísmo? Mas ligado ao povo, sobretudo ao povo
§ 56. Os filhotes de Padre Bresciani. Filippo Crispolri. Já observei siciliano, às misérias do camponês siciliano, etc. [50]
em outro parágrafo como Crispolti não hesita em pôr-se a si mesmo O artigo de Vaccaluzzo pode servir para iniciar um estudo sobre
como paradigma para julgar a dor de Leopardi [48]. Em seu artigo Rapidardi também pelas indicações que fornece. Obter uma lista das

190 , 9,
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CAD E R N OS M 1 S C'E L À N E OS

obras de Rapisardi, etc. É especialmente importante a coletânea Gius- outros negros ironizam o retratado porque o pintor reproduziu-lhe "só
~:zia~ que ele, diz :'ª~caluzzo, havia cantado como poeta proletário(!), m~ia face"). Do ponto de vista cultural e histórico, porém, existe uma

mais com v~em.e~cta de palavras que de sentimento": mas precisa- grande diferença entre a expressão lingüística da palavra escrita e fala-
mente esta GiustlZta, pelo que me lembro, é poesia de democrata-cam- da e as expressões lingüísticas das outras artes. A linguagem "literária"
ponês. é estreitamente ligada à vida das multidões nacionais e desenvolve-se
lentamente e apenas de modo molecular; embora seja possível afirmar
§ 62. Os filhot.es de Padre Bresciani. De Sanctis, em algum lugar, que todo grupo social tem uma sua "língua" própria, deve-se notar
escreveu que - antes de redigir um ensaio ou de dar uma lição, por (salvo raras exceções) que entre a língua popular e a das classes cultas
exemplo, sobre um canto de Dante - ele lia várias vezes 0 canto em há uma contínua aderência e um contínuo interc<lmbio. Isto não ocor-
voz alta, decorava-o, etc., etc. Isto é lembrado para sustentar a obser- re nas linguagens das demais artes; sobre estas, rode-se notar que se
vação de que o clc1nento artístico de unia obra, excetuadas raras oca- vcrifican1 at1i;1l111cntc duas ordens de fcntJJncnos: 1} nelas cst;lo scn1-
siões (e veremos quais), não pode ser apreciado na pri!Tleira leitura, pre vivos, pelo nicnos em n1cdid,1 n1uito m;tior que na língua litcrúria,
nem sequer pelos grandes especialistas como De Sanctis. A primeira os elementos expressivos do passado, pode-se mesmo dizer de todo o
leitura dá apenas a possibilidade de ingressar no mundo cultural e sen- passado; 2) nelas se form:.t rapidamente uma língua cosmopolita, que
timental do escritor, e nem mesmo isso é sempre verdadeiro, particu- absorve os elementos técnico-expressivos de todas €LS nações que,
larmente no caso dos escritores niio contemporâneos, cujo mundo altcrnad.11ncntc, produzem grande:-; pintores, cscultorc'.', músicos, etc.
cultural e sl'nti111cntal é diverso do ;lf11;1!: tllna poesia Je un 1 canib,il \'\!';1µncr fnr11ccc11 :1111i'lsic1 l'lc111c1HPs linsC1ístÍl'tl!' v111prcipnr\·:1n111;1Ír1r
S<.}hre 11 alcgri:1de11111 L11111 i h;1nq11ctt· de L·:1rnc hn 111 ,1n; 1 pcidt.: st.:r concc- dn que ttid.1 ;1 litvr.1rt1r;1 ;1\c111:-1 en1 t\ld,1 a st1.1 \ii,-.;1,iri;1, C1l'. lstl1 nl·nrrc
b1Ja como ht.:la e po<lc exigir, para ser artisticamente vivcnciada, sem porque o pfJvo p;1rticip;1 csc;1ssamcntc na prod11iy;10 <lc:ssas lingu;1gcns,
preconceitos "extra-estéticos", u1n certo distanciamento psicológico em que são pr{;pri,ts Jt.: u111a elite intcnL1cio1Ld, etc., :10 mcsn10 tcn1po cin
relação à cultura moderna. 1'-1as a obra de arte contém também outros que pode n1uito rnpidamcntc (e con10 colctivid.1de, n:10 con10 indi-
elementos "historicistas" além do mundo cultural e sentimental deter- víduos) chegar a compreendê-las. Tudo isto para indicar como real-
minado: é o caso da linguagem, entendida não apenas como expressão mente o "gosto" puramente estético ernhorJ rossa ser chamado de
1

puramente verbal, tal como pode ser fotografada numa certa época e primário como forma e atividade do espírito, não é tal praticamente,
lugar pela gramátid, mas como um conjunto de imagens e de modos isto é, em sentido cronológico.
de expressão que não fazem parte da gramática. Tais elementos apare- Foi dito por alguém (por Prezzolini, por exemplo, no livrinho Mi
~em ~e rnoJo m;tis claro nas outras artes. A língua japonesa revela-se pare ... ) que o teatro 11:10 po<lc ser considerado un1;1 arte, n1as uni diver-
imed1ata~ente diversa da língua italiana, o que não é 0 caso da lingua- timento de caráter mecanicista. Isto porque os espectadores não podem
gem da pmtura, da música e das artes figurativas em geral. Contudo, fruir esteticamente o drama representado, mas interessam-se apenas
existem também estas diferenças de linguagem, e elas se tornam tanto pela intriga, etc. (ou algo parecido). A observação é falsa no sentido de
mais evidentes quanto mais descermos das manifestações artísticas dos que, na representação teatral, o elemento artístico não é dado apenas
artistas para as manifestações artísticas do folclore, no qual a lingua- pelo drama em sentido literário. O criador não é apenas o escritor: o
gem dessas artes é reduzida ao elemento mais autóctone e primordial autor intervém na representação teatral através das palavras e das ru-
(recordar o episódio do desenhista que traça o perfil de um negro e os bricas, que limitam o arbítrio do ator e do diretor; mas, na representa-

192 193
,...

CADERNOS DO CÁRCtR-E DOS CADERNOS MISCELÀNEOS

ção, o elemento literário torna-se realmente o pretexto para novas cria- gera poesia; a partenogênese não existe; exige-se a intervenção do ele-
ções artísticas1 que, de complementares e crítico-interpretativas, estão mento masculino, do que é real, passional, prático, moral. Os mais al-
se torn~1ndo cada vez mais importantes: a interpretação do autor em tos críticos de poesia aconselhan1, neste caso, a não recorrer a receitas
questão e o complexo cênico criado pelo diretor. É verdade, porém, literárias, mas, como eles dizem, a 'refazer o homem'. Refeito o ho-
que só a leitura repetida pode propiciar a fruição do dramfi tal como o mem, rejuvenescido o espírito, gcn1da uma nova vida afetiV•\ dela sur-
autor o produziu. A conclusão é a seguinte: uma obra de arte é tão girá, se surgir, uma nova poesia" (B. Crocc, Cultura e vila nzorale, p.
mais "artisticamente popular" quanto mais seu conteúdo moral, cultu- 241-242, capítulo "Troppa filosofia", de 1922).
ral e sentimental for aJerente à moralidade, à cultura, aos sentimentos Esta observação pode ser apropriada pelo materialismo histórico.
nacionais, e não entendidos como algo estático, mas como uma ativi- A literatura não gera literatura, etc., isto é, as ideologias não criam
dade em contínuo desenvolvimento. A imediata tomada. de cantata ideologias, as superestruturas não ger:-tm superestruturas a não ser como
entre leitor e escritor ocorre quando a unidade de conteúdo e forma herança de inércia e passivid;i...lc: cL1s s;10 geradas não por "par-
no leitor tem como prc1nissa a unida.de do mundo poético e sentimen- tenogênesc", mas pela intervenção do elemento "masculino" - a his-
tal; se ni10 for ;1ssirn, o !citar deve começar por traduzir a ''língua" do tória - a atividade rcvolucion;íria que cri<-1 o "novo ho1ncm'7, isto é,
cu11tct'1do c111 sua prt)pria língua. PuJc-sc Jizt.:r que se Jú 111na situação nov;1s n.:la~·1->cs sociais.
sir11iL1r :l de :1lg11l"rn qtit· ;tprcndc11ingl[·s1111111 c11rso intt·11:..;ivo Bcrlitz e lJisto L11nbén1 se dl·duz o st·~;11i11tv: qt1l' o v,·]hu "]H1111,·111", e1n f11n-
depois lê Sh,tkcspcarc: o esforço dispcndido na con1prccnsão literal, çi10 Ja 1nud;1nça, torna-se tan1bt:·111 L'll' "novo", jú q11c· vntr;1 crn novas
obrid:1 con1 o contínuu ;J11xíl10 Jc uni 1ncdíocrc Ji . .:ion(trio, reduz a !ei- rcL11;õcs, tendo sido s11bvcrrida0 ;is rcLi,-f1l's príntitivas. !)issu resulta o
l11r:1 .1 1i,1da 11i,1is do q11t· 11111 lllLTO l'XcrcíL·io cscul:tr pcd.tnlt'. L1to de q11t·, antes que o "novo ]H lllll'lll'' LTÍ.idu Jh isi l 1\'.llllt'fJlt: tenha
gerado poesia, é possível assistir ao "canto de cisne" do velho homem
§ 64. Os /i'fhotes de P,1dre Bresciani. "A arte educa con10 arte mas renovado negativamente. E, corn frcqiiêncic1, este cJnto de cisne é de
'
11:10 cu1110 ';1rtc ed11L·ativ~1\ purqul' neste caso é n;1Ja e o nada núo po<lc aJinirúvc! esplendor; nele o novo se une ao velho, <lS paixfll'S se agu-
educar. Decerto, ao que parece, todos desejamos uma arte que se asse- çam de modo incomparável, etc. (N:io será a Divina co11tédia algo como
melhe à do Risorgin1ento e não, por exemplo, à do período dannun- o canto de cisne medieval, m<ls que antecipa os novos tc:mpos e a nova
zi;tno. iY1as, na verdade, se se observa bcn1, n:10 há neste desejo a história?)
manifestação da preferência de um<-l. arte em relação a outra, mas de
um~l realidade moral cm reL1ção a outra. Do mesmo modo, quem de- § 67. Cultura italian~1. Valentino Piccoli. De Piccoli, será útil re-
sej.-1 que um espelho rcflitcl n:to urna pessoa feia, mas un1a bonita, não cordar a nota "Un libro per gli immcmori" (nos Liúri dd giorno de
desej.i u:n espelho diverso daquele que tem diante de si, mas sim uma outubro de 1928), na qual resenlw o livro de Mario Gi,1mpaoli, 1919
pessoa diversa" (Croce, Cultura e vi ta mora/e, p. 169-170, cap. "Fede (Roma-Milão, Libreria dei Littorio, in-16°, 335 p., com 40 ilustrações
ç pro~c1n1n1i", de 1911). fora do texto, 15 liras). Piccoli crnpccg:-i p;1ra Gian1p<1oli os mesmos
'-(~ll<liH.ILJ tirn~t obr.1 de poesia ou um ciclo de obr;1s poéticas se for- adjcti vos q uc t:niprcga para l);u1 t ,., par.1 Lcup;irdi e p<lr.t '-]ll•d quer gran-
n1n11i l- in1possÍ\'c] pruss•·guir tal ciclo atr<1vés do csn1Jo, da imitaçüo e de escritor que e!e passa o ten1f10 :1 cobrir com seu estilo pegajoso.
J;1:::; v,1ri~1çôc~ c1n torn1J .l1.JllL'i~1s obr,1s; por este cc11ni11ho ubrérn-se ape- Aparece corn frcqüência o ;1Jjctivo '';u1stcro", etc., '"p.'1gin:1s de antolo-
ndc-; a chamada escola po1'.'tic1, o serL'lt!!l pecus dos epígonos. Poesia não gia", etc. [51]

19 4 19 5
CADERNOS DO CÁRCERE
DOS CADERNOS M!SCELÂN EOS

§· 68. Alfredo Oriani. Flori ano dei Secolo, "Contribu to alia biogra-
problemas , bem como declarar outros inexistente s (ou arbitrários ); mas
fia di Oriani. Con lettere inedite", noPi!gaso de outubro de 1930.
os lingüistas, que são essencialmente historiador es, encontram -se diante
Aparece Oriani na chamada "tragédia" de sua vida intelectual de
de outro problema: é possível a história das línguas fora da história da
"gênio" incompree ndido pelo público nacional, de apóstolo sem se-
arte e, mais ainda, é possível a história da arte?
guidores, etc. Mas é verdade que Oriani foi "incompre endido", outra-
Mas os lingüistas estudam as línguas precisame nte enquanto não
tava-se de uma esfinge sem enigmas, de uma montanha que só paria
são arte, mas "material" da arte, enquanto produto social, enquanto
pequenos ratos? E como é que Oriani se tornou agora "popular", "mes-
expressão cultural de um determina do povo, etc. Estas questões não
tre de vida", etc.? Muito se publica sobre ele, mas a ediçflo nacional de
foram resolvid,1s, ou o foram através de um retorno à velha retórica
suas obras é comprada e lida? É de duvidar. Oriani e Sorcl (na França).
embelezad a (cf. Bertoni).
Mas Sorel foi muitíssimo mais atual do que Oriani. Por que Oríani não
conseguiu formar uma escola, um grupo de discípulos, por que não Para Coppola (também para Pagliaro?), a identificaç ão entre arte e
organizou uma revista? Queria ser "reconhec ido" sem fazer nenhurn língua levou ao reconhecim ento de que é insolúvel (ou arbitrário? ) o
esforço (além das lamentaçõ es junto aos amigos mais íntimos). Falta- problema da origem da linguagem , que significari a perguntar por que
va-lhe vontade, aptidões práticas, mas queria influir sobre a vida polí- o homem é homem (linguagem = fantasia, pensament o). Parece-me
tica e moral da nação. O que o tornava antipático a muitos devia ser que não é muito preciso. O problema não pode ser resolvido por falta
precisame nte este juízo instintivo de que s~ tratava de um vaidoso que de document os e, portanto, é arbitrário: além de um certo límite his-
qneria ser pago antes de ter terminado a obra, que queria ser reconhe- tórico, pode-se fazer história hipotética1 conject11ral ou sociológica, mas
cido como "gênio"p "líder", "mestre'', graças a um direito divino que não históri;1 "hist{Jric<1". Est~1 iJcntificaç~io pcrn1itiria tambén1 deter-
ele afirmava pcrcn1'ptoriamcnte. Decerto, Oriani deve ser aproximad o minar aquilo que na língua é erro, isto é, n~10-líng11a. "Erro é a criação
de Crispi co111n psicologia e Je todo 11111 estrato de intclcctu~lis italia- artificial, r;1çiori;1lista, dclibcrad•1, qHc não ~e ;1fir11L1 porque não revela
nos que, em alguns representa ntes mais baixos, cai no ridículo e na farsa nada, que é típica do indivíduo fora de sua socied~1de." Parece-me en-
intelectual . tão que se deveria dizer que língua = história e não-língua = arbítrio.
As línguas artificais são como os jargões: não é verdade que sejam não-
§ 71. Lingüfstic~. Antonio Pagliaro, Sonunario di lhrguistica arioeu- línguas de modo absoluto, já que são de algum modo úteis: têm um
ropea. Primeiro número: Cenni storici e quistioni teoriche, Libreria di conteúdo histórico-social muito limitado. Mas isto ocorre também entre
Scienze e Lettere dei dott. G. Bardi, Roma, 1930 (nas "Pubblicazioni dialeto e língua nacional-li terária. E, ndo obstante, também o dialeto é
delíaScuoL1 di Filologia Classica dcll'Unive rsità di Roma, Serie seconda, língua-arte . Mas entre o dialeto e a lTngua nacional-l iterária algo mu-
Sussidi e nurleriali, II, 1"). Sobre o livro de Pagliaro, cf. a resenha de dou: precisame nte o ambi~~nte cultural, político-m oràl, sentimenta l. A
Goffredo Coppola, no Pegaso de novembro de 1930 [52]. história das línguas é história das inovações lingüísticas,. mas estas ino-
O livro é indispensá vel para conferir os progressos feitos pela lin- vações não são individuai s (como ocorre na arte): sãc de toda uma
1

güística nos últimos tempos. Parece-me que muita coisa mudou (a jul- comunidad e social que inovou sua cultura, que "progrediu " historica-
gar pela resenha), mas que ainda não foi encontrad a a base na qual mente. Naturalme nte, também elas se tornam individuais , mas não do
apoiar os estudos lingüísticos. A identificaç ão entre arte e língua, feita indivíduo- artista, e sim do indivíduo elemento históricü-c ultural com-
por Croce, permitiu um certo progresso e permitiu resolver alguns pleto, determina do.

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::::ADEKNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

T<1mbém na língua náo h<í partcnogêncsc, isto é, \íng11:-1 q11c prodl!Za § 80. Os filhotes do Padre Brescímú. Repaci. Observar seu caráter
outra língua, mas há inov:1çi'10 pnr interferências de culruL-lS <liversas 1 de gramatiqueiro pcdante 1 que parece ter se desenvolvido mais ainda
etc. 1 o que ocorre sob form<tS 1nui to diferentes: ocorre coir1 n1assas íntei- nestes últimos tempos, como s_c revela em suas últirnas novelas, como,
ras de elementos lingliísricus e ocorre n1o!cc11larn11,_-ntL· (ci l:1tirn inovou o por excn1plo, Guerra di /(znciulli. As palavrinhas enc<-1dcadas em sé-
céltico das Gálias em 'cn1assa" e, <lü contrúrio, infll1L111.::iuu u germânico rie, o uso Jc gracejos toscanos para relatos de ambiente c<ilabrês pro-
"molecularmentc", isto é, cn1prcstando-lhc palavr:1s ou for111as singula· vocam o rnais ridículo efeito. E mais: como se torna mecânica a
res, etc.). A interferê:nci,1 e a influência "molecuL1r" poJcm ocorrer no tentativa, feita de fora, de construir novelas "psicanalíticas", quando 1
próprio seio de uma n:1çào1 t:ntre diversos estratos, etc.; uma nova clas- ao contrário, a motivação provém de um impulso superficial de folclo-
se que se torna dirigente inoYa em "massa"; o jarg:10 das profissões, etc., rismo pitoresco!
isto é, das sociedades particulares, inova molccularmcntc. O julgamento
artístico nestas inovações tem o car:i.ter de "gosto cultur:,d", não de gos- § 115. Os fllf10tes de Padre Bresciani. Angelo G.1tti. Seu romance
to artístico; isto é, pela mesma razão por que agradan1 as morenas ou as Ilia e Alberto, publicado em 1931 (conferir): romance autobiográfico.
louras e mudam os "ide<tis" estéticos, ligados a dcterminc1dc1s culturas. Gatti converteu-se ao catolicismo jesuítico. ]Oda a chave, o núcleo
central do romance consiste no seguinte: Ilia, mulher sadia, recebe na
§ 73. Os filhotes rle Pildre Bresciani. Cf. o artigo "Dell'interessc", boca goreis de saliva de um tuberculoso, através de urn espirro ou de
de C<trlo linari, no~ Libri drd gioruo de fevereiro Jc 1929. Linati SL' uma crise de tosse (ou sei lá como - nào li o romance, mas apenas
pergunu1 em que consiste o quirl que faz com que os li\'ro,-;; interessem rcscnh:1s) 011 de O\\tro 1nodo qt1:i!qucr; rorn:l-SC' tuhcrcu\0s;1 e morre.
l' llT!lllll:l pt ir i):H.> c1h:, l!l\r;ir u11i.1 rvspt>Sl.\. E L· çcrl< 1 q11>: 11111;1 rl'sposl.1
Parecc-n1e estranho e pueril que Gatti tenha insistiJo neste deta-
precisa nào pode ser encontrada, pelo menos no ~;cntíJo e111 que Linati
lhe mecf1nico e exterior, que, contudo, deve ser in1port<u1te no roman-
a entende; ele gostari:1 Lll· c11contr:1r o 1j11id p:lLl -.;cr c:1p,11. 1 uu par;1 L1-
ce1 j:l que un1 resenhista nele si..: JLtcve. Recorda as costu111ciras tolices
zer coin que os outros o fossem, dl:' escrever livros interessantes. Linati
que as comadres dizem para explicar as infecções. Será que Ilia estava
diz que o problemai nestes tíltin10S tempos) tornou-se "c;-1ndcnte"1 o
sempre de boca aberta diante das pessoas que tossiam e espirravam em
que é verdade, como é nc1n1rc1l que seja. J-Iouve um certo despertar de
seu rosto nos bondes ou nos lugares onde há sempre muita gente? E
sentimentos na·.-:ion<1lisr.1s: (:explicável que se ponh,1 o problema de
como pôde estabelecer que foi precisamente essa a causa do contágio?
por que os livros it:ilianos não silo lidosi por que são considerados
Ou se trata de um doente que infectava de propósito as pessoas sadias?
"enrediantcs"1 e, ao conrr;írio1 s:io considc-r;-:.Jos ªintercss,u1tcs" os es-
trangeiros, etc. O dcspvrLir nacion,1list<1 faz scnrir que" litcc1rura ita- É verdadeiramente assombroso que Gatti se tenha servido destaficelle
lian.1 n:10 é "nacional'' 1 no sentido JL'. que 11.10 é popuLtr, c que sdfrernu:; em seu romance [54].
como povo a hegemonia cstrangcir,:i. Disso resultam progrJ.mas, polê-
micasi tentativas, mas que 11;10 d:"io ein nada. Seria ncccss<iria uma crí- § 124. Croce e a crítica literária. A estética de Croce está se tor-
tica i1npiedosa d,1 tradi)':10 e un1;1 rcnovaç:10 cult11ral-n1or;-ll da qual nando norn1ativa, está se tornando uma "retórica"? Seria preciso ler
dcvl'.ri.:t nascer uma nov;1 litcrarur.1. f....1as isto, prL·ci:-d1nv11ti:, não podi: suaAesthetica in nuce (que é o verbete sobre estética da última edição
ocorrer por causa d,1 contr;1diç8c\ etc.: o despertar nacion:1lista assu- da Enciclopédia Britânica) [55]. Uma de suas afirmações é que tarefa
miu o significado de cx,tlt:1\o,:10 do pass:1do. M;1rincrri tornou-se acadé- precípua da estética moderna deve ser ••a restauração e dc.:fi.::sa do classi-
mico e luta contra <-l. tradí.y:io da m.-1carronada [53 ]. cismo contra o romantismo 1 do momento sintético, tanto formal quanto

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CADERNO S DO CÁRCERE DOS CADERNO~- MISCELÃ NEOS

teórico, no qual reside o específico da arte, contra o momento afetivo, que, no povo, o fantasiar depende do "complex o de inferiorid ade" (so-
que a arte tem por missão resolver em si mesma". Este trecho mostra cial), que determin a longas fantasias sobre a idéia de vingança, de pu-
para além de suàS preocupa ções estéticas, quais são as preocupa ções' nição dos culpados pelos males sofridos, etc. Em o Conde de Monte
"morais" de Croce, isto é suas preocupa ções "culturai s" e, portanto,
1 Cristo, existem todos os elemento s para gerar tais fantasias e, portan-
"política s". Poder-se-ia pergunta r se a estética, como ciência, pode ter to, para propiciar um narcótico que atenue a sensação de dor, etc.
outra tarefa além daquela de elaborar uma teoria da arte e da beleza,
da expressão. Estética significa aqui "crítica em ato", "concret a"; mas § 147. Popularidade da literatura italiana. Nuova Antologia, 1° de
a crítica em ato não deveria apenas criticar, isto é, fazer a história da outubro de 193 O: Ercole Reggio, "Perché la letteratu ra italiana non e
arte concreta mente, das "express ões artísticas individua is"? popolare in Europa". "O pouco êxito obtido entre nós até mesmo por
livros italianos famosos, em comparaç ão com o de tantos livros estran-
§ 133. Para 11m11 nova literatura (arte) através de uma nova cultu- geiros, deveria nos convence r de que as razões da escassa populari da-
ra. Cf., no volume éie B. Croce, Nuovi saggi sulla letteratura italiana de de nossa literatura na Europa são provavel mente as mesmas que a
dei seicento (1931), o capítulo no qual fala das academia s jesuítas de fazem pouco popular em nosso próprio país; ~que, por isso, no final
pocsi~ e as aproxi1na das "escolas de poesia" criadas na Rússia (Croce das contas, não será o caso de pedir aos outros o que não consegui rnos
talvez tenha se inspirado no conhecid o Fülõp-M iller) [56]. Mas por obter em nossa própria casa. Mesmo na afirm,1ção de italianizantes, de
que não as :1proxin1;;1 dos atcliês Jc pintura e de escultura dos séculos simpatizc1ntes estrangeiros, nossa literatura carece, e1n princípio , de
XV e XVI? Eram também eles "academ ias jesuítas"? E por que não se qualidad es modestas e necessárias, daquilo que se orienta para o ho-
poderia fazer con1 a poesia o que se f.1zia com a pintura e a escultura? nzenz nlédio, prrrtl o honie111 dos eco11ondstt1s (?!);e é em rt1z.:ío de su:1s
Croce não leva em conta o elemento social que ''quer ter" uma poesia prerrogat ivas, daquilo que constitui sua originalid ade, como o mérito,
própria, elemento "sem escola", isto é, que não se aproprio u da "técni- que ela não alcança e jamais poderá alcançar a popularid ade das ou-
ca" e da própria linguagem: na realidade1 trata-se de uma "escola" para tras grandes literatura s européia s." Reggio refere-se ao fato de que, ao
adultos, que educa o gosto e cria o sentimen to "crítico" em sentido contrário , as artes figurativas italianas (esquece a música) são popula-
amplo. Um pintor que "copia" um quadro de Rafael faz "academio res na Europa e põe a seguinte questão: ou existe um abismo entre a
jesuíta"? Do melhor modo, ele "mergulh a" na arte de Rafael, busca literatura e as outras artes italian-as (e seria impossível explicar este
recriá-la, etc. E por que não se poderiam fazer exercícios de versificação abismo) ou, entãoi o fato deve ser explicad o por meio de razões secun-
entre operários ? Isto não servirá para educar o ouvido à musicalidade dárias, extrã-artí sticãs, ou seja, enquantó as artes figurativas (e a músi-
do verso, etc.? ca) falam uma linguagem européia e universal, a literatura tem seus
limites nas fronteira s da língua n<lcional. N;-io me p<lrece que a objeção
§ 134. Literatura popular. Romance de folhetim. Cf. o que escrevi se sustente: 1) porque houve um período histórico (o Renascim ento)
sobre O Conde de Monte Cristo como modelo exemplar de romance no qual, alén1 das artes figurativàs e mesmo junto com elas, também a
de folhetim [57]. O romance de folhetim substitui (e ao mesmo tempo literatura italiana foi popular: ou seja, toda" cultura italiana foi popu-
favorece) a fantasia do homem do povo; é um verdadei ro sonhar com lar; 2) porque na Itália, além da literatura , tan1pouco são popuL1rcs as
os olhos abertos. Pode-se ver o que Freud e os psicanalistas afirmam artes figurativas (ao contrário , são populare s \'erdi, Puccini, l\.1ascagni,
sobre o sonhar com os olhos abertos [58]. Neste caso, pode-se dizer etc.); 3) porque a popularid ade das artes figurativas italianas na Euro-

200 20,
CADERNOS DO CÁRCERE OOS CADERNOS MISCELÂNEOS

pa é reL1tiva: limita-se aos intelectuais e, em algu1nas outras zonas da Deve-se ver se até mesmo um fenómeno deste gêncro não seja muito
população européia, é popuL1r porque ligada a recordações clâssicas e significativo e historicamente importante e se não represente uma fase
rom:i.nricas, não como arte; 4) a música italiana, ao contr;írio, é popu- necessária de transição e um episódio da ''educação popular" indireta.
lar tanto na Europa con10 ll<l Itália. O artigo de H.cggio se n1antém na Seria interess<1nte uma lista das "tendências populistas" e uma análise
bitola da costumeira retórica habitual, embora contenha, aqui e ali, de cada uma delas: seria possível "descobrir" uma das tais "astúcias da
observações inteligentes. natureza" de Vico, ou seja, um in1pulso social, que visa a um determi-
nado fim, e termina por realizar o seu contrftrio.
§ 153. Caráter popul11r ni1cio11rzl da literatura itali11Juz. Goldoni. Por
que Goldoni é popuL1r <IinJa hoje? Goldoni é quase "único" na tradi- § 172. Literatura popular. Cf. Antonio Baldini, "Stonature di
ção literária italiana. Suas atitudes ideológicas: democrata <lntes de ter cinquant'anni fa: la Farfalla petrolicra", Nuova Antologia, 16 de ju-
lido Rousseau e:antes da Rcvolu~:10 Francesa. Conteúdo popular de nho de 1931. La Farfalla, fundada por Angelo Sommaruga em Cagliari
suas L'01néJi;ts: ling11:1gcn1 popular no que se refere ,J. expressJ.0 1 crítica e, dois anos depois, transferida para Milão (por ~olta de 1880)_ O
mord,1z da aristocr,1ci:1 corrompida e apodrcCida. periódico terminou por se torn<lr a revist<l de um grupo de "artistas...
Conflito Go!Joni-C~.1rlo C]ozzi. Gozzi re,1cion.írio. St1as Fi1tbe são proletários". Nela escreveram Paolo Valera e Filippo Turati. Valera
cscrii-.1s p:1r<1 dc1n011str.1r q11v o povo corre atrfts das n1;1is tolas extra- dirigia enrüo La l'lebe (Qual? Ver) e escrevia seus romances: Mi/ano
vagâncias; apesar disso) rên1 sucesso. Na verdade, rambé1n as Fiabe têm sconosciuta e GU scamiciati, uma seqüência de Mi/ano sconosciuta.
u1n L\)lltcúJo popul.ií, s:-10 u111 aspL·cto J;1 cultura popuLir ou folclore, Nela escreviam Ccsario Testa, que dirigi~1 o Anticristo, e Ulisse
do qua.l o mara.vilhoso e o inverossímil (a.presentados como tais nun1 Barbieri. A mesma editora da Farfalla publicava uma "Biblioteca na-
mundo de fábula) são panes inregrc11ltes [59]. (Êxito dté hoje das Mil e . ruralista" e uma "Biblioteca socialista". Almanacco degli atei per il
zona noites 1 etc.) 1881. Zola, Valles, os Gouncourt, romances sobre o submundo, pri-
sões, prostíbulos, hospitais, ruas (f_,zunpenproletariat), anticlericalismo,
§ 168. Literatura fJOf)lt!11r. Cf. Alberto Consiglio, "Populis1no e nuove ateísmo 1 naturalismo (Stecchetti como "poeta cívico''). G. Aurelio
tendenzc della letter~1rura fr;1nccse", Nu ova Jintologú1, 1° de abril de 1931. Costanzo, G/i eroi de/la sof/ita (quando garotos, e.m casa, tendo visto
Consiglio parte da pesquisa das Nouvelles Littéraires sobre o "romance o livro, pensávamos que se tratJsse de lutas entre os ratos). Carducci
operário e camponês" (nos meses de julho-agosto de 1930). Deve-se reler do Inno a Satana, etc. Estilo barroco como o de Turati (recordar seus
o artigo quando o tema for tr.lt;1do de modo orgânico. 1\ tese de Consiglio versos retomados por Schiavi na antologia Fiorita di canti sociali):
(n1ais ou n1cnos explíciL1 L· conscicntL') ~a seguinte: Jiantc Jo 1..Tescimeu- "Buda, Sócrdtes, Cristo disscra111 a vcrdaJc: /Por Sat;tn<Ís, um infiel é
to do poder político e social do proletariado e de sua ideologia, alguns quem lhes jura./ Os mortos vivem e é inútil estrangulá-los [60]." (Este
setores do intelectualismo fran~ês rec1gc1n por meio destes movi1nentos "episódio" de vida "artística" tnilanesa poderá ser estudado e recons-
de "ida ao povo". A aproximação ao povo, portanto, significaria uma re- truído como curiosidade e também com um certo interesse crítico e
tomada do pcnsamento burguês que não quer perder sua htgcmo;iia so- educativo.) Sobre a Farfalla do período cagliaritano, escreveu Raffa
bre as classes populares e que, para melhor exercer esta hegemonia, assimila Garzia, "Per la storia del nastro giorn;ilismo letterario", na Classa
uma parte Ja ideologia proletária. Seria um retorno a formas "democráti- l'ereime, fevereiro de 1929.
cas" n1<lis substanciais do que o "democratismo" formal corrente.

202 203
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

§ 201. Os filhotes de Padre Bresciani. Bruno Cicognani. O romance pendentemente de sua consciência: na realidade, sua consciência não
Vil/a Beatrice. Storia di u1uz donna, publicado no Pegaso de 1931. é representada, não é um motor que explique o drama. Beatrice é um
Cicognani pertence fº grupo de escritores católicos florentinos: Papini, ººfragmento anatôm1co", não uma mulher.
Enrico Pea, Domeni,Co Giuliotti. Cicognani não evita as contradições, já que 1 por vezes, Beatrice
Será que Vil/11 Beatrice pode ser chamado de o romance da filoso- parece sofrer com o fato de ter que ser fria, como se este sofrimento
fia neo-escolástica de Padre Gemelli, o. romance do "materialismo" não fosse também uma "paixão" que poderia precipitar a doença car-
católico, um romance da "psicologia experimental", tão cara aos neo- díaca; portanto, ao que parece, somente a união sexual e a concep-
escolásticos e aos jlsuítas (61]? Comparação entre romances psica- ção com o parto são perigosas "por natureza"; mas então a natureza
nalíticos e o romance de Cicognani. É difícil dizer em que consiste a deveria ter providenciado uma outra "salvaguarda" para o ovário de
contribuição da doutrina e da religiosidade do catolicismo para a cons- Beatrice: deveria tê-la construído "estéril", ou melhor, "fisiologica-
trução do romance (dos personagens do drama): na conclusão, a in- mente" incapaz de união sexual. Ugo Ojetti exaltou toda esta embru-
tervenção do padre é algo que vem de fora, o despertar religioso de lhada como sendo a obtenção, por parte de Cicognani, da "classicidade
Beatrice é apenas afirmado, e as modificações na protagonista po- artística".
deriam também ser justificadas somente a partir de razões fisiológicas. O modo de pensar de Cicognani poderia ser incoerente e, apesar
Toda a personalidade de Beatrice, se se pode falar de personalidade, disso, ele poderia ter escrito um belo romance: mas este não foi de
é minuciosarncntc descrita corno u1n fcnôn1eno de história natural modo algum o caso.
não é representada artisticamente: Cicognani "escreve bem", no sen-
'
tido vulgar <la expressão, co1no "escreveria bem" um tratado sobre o § 207. Literatura popular. II Guerín Meschino. No Corriere dei/a
jogo de xadrez. Beatrice é "descrita" como a frieza sentimental per- Sera de 7 de janeiro de 1932 publica-se um artigo, assinado por Radius,
sonificada e tipicizada. Por que ela é "incapaz" de amar e de relacio- com o seguinte título: "I classici dei popolo. Guerino detto il Mes-
nar-se afetivamente com quem quer que seja (até mesmo com a mãe chino." A parte inicial do título, "Os clássicos do povo", é vaga e in-
e o pai), de um modo exasperado e estereotipado? Ela é fisiologica- certa: Guerino, com toda uma série de livros similares (Os reis da
mente imperfeita nos órgãos genitais, sofre fisiologicamente na rela- França, Berto/do, histórias de bandidos, histórias de cavaleiros, etc.),
ção sexual e não poderia dar à luz? Mas esta imperfeição íntima (e representa uma determinada literatura popular, a mais elementar e
por que a natureza não a con~truiu externamente feia, indesejável, primitiva, difundida entre os estratos mais atrasados e "isolados" do
etc.? Contradições da natureza!) deve-se ao fato de que ela sofre do povo: sobretudo no Sul, nas montanhas, etc. Os leitores de Guerino
coração. Cicognani crê que, desde o estágio de óvulo fecundado, o não lêem Dumas ou Os miseráveis, e muito menos Sherlock Holmes.
novo ser que herda uma doença orgânica prepara-se para a defesa A tais estratos corresponde um determinado folclore e um determi-
contra o futuro ataque do mal: é por isso que o óvulo-Beatrice, nas- nado "senso comum".
cida com um coração fraco, constrói um órgão sexual imperfeito que Radius limitou-se a folhear o livro e não tem muita familiaridade
a fará repugnar o amor e qualquer emotividade, etc., etc. Toda esta com a filologia. Dá aMeschino um significado extravagante: "o apeli-
teoria é de Cicognani, é o quadro geral do romance: Beatrice, natu- do foi atribuído ao herói por causa de sua grande mesquinhez ge-
ralmente, não tem consciência desta determinação de sua existência nealógica". Erro colossal, que altera toda a psicologia popular do livro
psíquica; não age porque crê ser assim, mas age porque é assim inde- e muda a rclaç:10 psicológico-sentimental dos leitores populares com o
1

i 204 205
CADERNOS DO CÁRCE.RE DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

mesmo. Imediatamente fica claro que Guerino é de estirpe régia, mas poderia se tornar um método: isto é, seria possível "traduzi-lo" em lin-
seu infortúnio o faz tornar-se "servo,,, ou seja, "mesquinho", como se guagem moderna, expurgá-lo das formas retóricas e barrocas como
dizia na Idade Média e como se encontra em Dante (na \lita Nu.ova, linguagem narrativa, despojá-lo de algumas idiossincrasias técnicas e
lembro-me perfeita1ncntc). 'líata-sc, portanto, de uni filho de rei, re- estilísticas, tornando-o "atual". Tíat;1r-sc-ia Jc realizar, de modo cons-
duzido à escravidão, que reconquista, com seus próprios meios e sua ciente, aquele processo de adapta~ii.o à época e aos novos sentimentos
vontade, sua condição natural: há no "povo" mais primitivo esta reve- e novos estilos que a literatura popular realizava tradicionalm.=nte quan-
rência tradicional ao nascimento, que se torna "afetuosa" quando o do era transmitida por via oral e não era fixada e fossilizada pela escri·
infortúnio atinge o herói e se torna entusiasmo quando o herói recon- ta e pela imprensa. Se isto pode ser feito de uma língua para outra,
quista, contra o infortúnio, sua posição social. com as obras-primas do mundo clássico, que cada época traduziu e
O Guerino como poema popular "italiano": deve-se notar, deste imitou segundo as novas culturas) por que não se poderia e deveria
ponto de vista, quão tosco e insípido é o livro, ou seja, como não so- fazer o mesmo para trabalhos como Spartaco e outros, que têm um
freu nenhuma elaboração e aperfeiçoamento, dado o isolamento cul- valor mais "cultural-popular" do que "artístico"? (Um tema a desen-
tural do povo, deixado a si mesmo. Essa razão talvez explique a ausência volver.) Este processo de adaptação se verifica ainda na música popu-
de intrigas amorosas, a completa ausência de erotismo no Gueríno. lar, para os temas musicais popularmente difundidos: quantas canções
O Guerino como "enciclopédia popular'': cabe observar q11:i.o bai- de an1or n1o se tornara1n polítiL«ls, passando por Juas ou três elabora-
xa deve ser a cultura dos estratOs que lêem o Guerino e como é escasso ções? Isto ocorre em todos os países e seria possível citar casos bastan-
o interesse que têm, por exemplo, pela "geografia", para que se con- te curiosos (por exemplo, o hino tirolês de Andreas Hofer, que deu a
tentem e levem a sério o Guerino. Poder-se-ia analisar o Guerino como forma musical àMolodaia Gvardia) [62].
"enciclopédia" de onde extrair indicações sobre a rudeza mental e so-
Para os romances, haveria o impedimento dos direitos aurorais que,
bre a indiferença cultural do amplo estrato popular que ainda se en-
ao que me parece, duram hoje até oitenta anos depois da primeira
canta com ele.
publicação (seria impossível, porém, fazer a atualização de certas obras,
como, por exemplo, Os miseráveis, O judeu errante, O Conde de Monte
§ 208. Literatura popular. "Spartaco" de R. Giovagnoli. No Corriere
Cristo, etc., que estão demasiadamente fixadas na forma original).
della Sera de 8 de janeiro de 1932 foi publicada a carta enviada por
Garibaldi a Raffaele Giovagnoli em 25 de junho de 1874, de Caprera,
logo após a leitura do romance Spartaco. A carta é muito interessante
para esta rubrica sobre a "literatura popular", já que também Garibaldi
escreveu "romances populares" e encontram-se na carta os principais CADERNO 7 (1930-1931)

temas de sua "poética" neste gênero. De resto, Spartaco de Giovagnoli


é um dos pouquíssimos romances populares italianos que teve difusão § 15. A questão do capitalismo antigo e Barbagallo. A história de
também no exterior, num período em que o "romance" popular entre Barbagallo sobre o capitalismo antigo é uma história hipotética,
nós era "anticlerical" e "nacional", isto é, tinha características e limi· conjectural, possível, um esboço histórico, um esquema sociológico,
tes estritamente locais. Pelo que me lembro, parece-me que Spartaco não uma história certa e determinada. Os historiadores como Barbagallo
se prestaria sobretudo a uma tentativa que, dentro de certos limites, incidem, parece-me, num erro filológico-crítico muito curioso: o de

206 207
DOS CADERNOS MISCELÃN EOS
CADERNOS DO CÂRCERE

interessan te em si mesmo, para compreen der a atitude do cristianis-


que a história antiga deva ser feita com base nos document os da épo-
mo jesuítico em face dos "humildes ". Mas, na reali~ade, ~are~e-~e
ca, a partir dos quais'se formulam hipóteses, etc., sem levar em conta
que Crispolti tem razão contra Zottoli, ainda que Cr1spolt1 rac1oc1ne
que todo o desenvolv imento histórico subseqüen te é um "documen to"
"jesuíticam ente". Crispolti diz deManzon i: "O povo tem todo~ co-
da história anterior, etc. Os emigrados ingleses na América do Norte
ração de Manzoni a seu favor, mas ele jamais ~e dobra ?ara adula-~o;
levaram consigo a experiênci a técnico-ec onômica da Inglaterra. Como
ao contrário, vê o povo com o mesmo olho severo com o qual ve a
seria possível que se perdesse a experiênci a do capitalism o antigo se
n1.aior parte dos que não são povo." Mas não se trat.a de~ q~ere~ que
esse tivesse verdadeira mente existido na medida em que Barbagallo dei-
11anzoni "adule o povo"; trata-se de sua atitude ps1colog1ca diante
xa supor ou quer que se suponha?
dos personage ns "populare s": esta atitude é nitidamen te de casta,
ainda que em sua forma relígiosa católica. As pesso~s do povo, para
§ 31. Sobre a crítica literária. O modelo de crítica de De Sanctis.
Manzoni, não têm "vida interior", não têm personalid ade moral pro-
Ao tratar deste tema, recordar o ensaio de De Sanctis "Scienza e vi ta"
funda; são "animais" , e Manzoni é "benévolo " em face delas, com.ª
(que, de resto, é um modo de pôr a questão da unidade de teoria e
benevolên cia própria de uma sociedade católica de proteção aos ani-
prática) e as discussões que provocou: p. ex., o artigo de L. Russo no
mais. Em certo sentido, Manzoni recorda o epigrama sobre ~aul
Leo1U1rdo de 1928 (ou 1929). De Russo, deve-se ver o estudo Francesco
Bourget: para Bourget, é preciso que uma mulher tenha 100 mil tran-
De Sanctis e l'Universit à di Napoli, Ed. "La Nuova Italia".
cas de renda para ter uma psicologia [64]. Deste ponto de vista,
Manzoni (e Bourgct) são rigorosam ente católicos; não há nada neles
§ 49. LitPml11m popular. R01//<111rrs de folhetim. Nas No11velle.<
do espíritn "pdp!!Lir" de 'lt)lshii, isto l\ do espírito l'V;1ngl·liL·n do
Lillémires Jo mês Jc julho Jc 1931 e scguiutcs, cf. a resenha Jos mo-
cristianism o primitivo. A atitude de Manzoni diante de suas pessoas
dernos escritores franceses de romances de folhetim, "Les illustres
do povo é a atitude da Igreja Católica diante do povo:, de_ condescen -
inconnus" , de G. Charensol . Até agora apareceram breves esboços so-
dente benevolência, não de identificaç ão humana. O propno Cnspolt1,
bre M. Leblanc (autor deArsene Lupin), de Allain {autor de Fantomas)
na frase citada, confessa inconscien temente esta "parcialid ade" (ou
e de outros quatro ou cinco (o autor de Zigomar, etc.).
"parti darismo") de Manzoni: Manzoni vê com "olho sever_o" t_odo o
i)OVO enqii;uito vê com olho severo "a maior r~1rtc dos que nao sao
§ 50. Literalurr1 popular. Sobre o carútcr não popular-na cional da po-
'vo":'encontra "n1agnani midade'\ "pensamen tos el eva d " "
literatura italiana. Atitude em face do povo em Os noivos. O caráter os , gran des
sentimentos" somente em alguns dã classe alta, mas em ninguém do povo,
"aristocrá tico" do catolicism o manz.oniano revela-se na "compaixã o"
que é em sua totalidade baixament e ànimalesco. . ..
irônica diante das figpras de homens do povo (o que não se manifesta
É correto, como diz Crispolti, que não tem grande s1gn1f1cado o
em Tolstoi), como F±i Galdino (em contraste com Frei Cristóvão), o
fato de que os "humildes " desempen hem um papel de primeira orde_:n
alfaiate, Renzo, Inês, !Perpétua, a própria Lúcia, etc. (Sobre este assun-
no romance n1t1nzoniano. Manzon1· poe - o " povo " e m seu
· romance nao.
to, escrevi urna outra nota [63].) Ver se há observaçõ es interessant es
só através dos personage ns principais (Renzo, Lúcia, Perpétua, Frei
no livro de A. A. Zottoli, Umili e potenti nella poetica di A. Manzoni,
Galdino, etc.), mas no que se refere à massa (tumultos de Milão, po-
Ed. "La Cultura", Roma-Mil ão, 1931.
pulares do campo, 0 alfaiate, etc.): mas é precisame nte sua ~t1tude em
Sobre o livro de 1;'.ottoli, cf. Fílippo Críspoltí, "Nuove indagini sul
face do povo que não é "popular-n acional" e, sim, ar1stocrat1ca.
Manzoní" , no ?egaso de agosto de 1931. Este artigo de Crispolti é

209
208
CAOEMNOS CD CÁRCERE DOS CADERNOS !\11SCELÃNEOS

1\0 estudar o livro de Zottoli 1 d,~ve-sc rccord;ir este ~lrtigo de Cris- l'amíco dei "Macchiaoli'", no I'()gt1so de n1arço de 1931. Bacci ora re-
poltí. Pode-se mostrar qi1e o "catolicismo'', mesmo c1n ho111cns superi- produz integralmente, ora resun1c parcialn1cntc (p. 298-299) algumas
ores e n.10 "jesuíticas'\ como ~1anzoni (~'L1nzoni tinh.t ccrta1ncnte uma páginas inéditas dos Ricordi delli1 11úa prinut età, onde M<1rtelli conta
vci~1 j;:inscnist;1 e antijL'.>:uíric1), n:lo conrríhui11 1~:1r:1 criar 11:-1 Itúlia 0 que freqDcntemenre (entre 1849 e 1859) rcuniarn-se ern sua casa os
''povo-naç:-10'', ncn1 111L·:-.1no no ro111.111ti . .;1no: ;10 l'UIHLÍriu, foi um cle- ainigos Ju pai, toJos patriuL1o.; 1.,_· cstudiusus co1no o pr\'iprio pai: Atto
n1cnto antinacion:1l-po pul:ir e son1cnte áu!ico. Crispu!ti n1ct1ciona ape- V;.1nucci, Giuseppe Arcangcli, profL._-::;sor de grego e Jc latirn, Vincenzo
nas o fato de que fv1.inzoni, durante um certo tempo, acolheu a Monteri, químico, pioneiro da ilurninação a gás de Florença, Piero
concepç:lo de Thierry (r~1r,1 a França) da luta de raç.1s no seio do povo Thouar, Antonio Mordini, Giuseppe Mazzoni, triúnviro co1n Guerrazzi
(longobardos e romanos, tal como, na França, francos e gauleses) como e Montanelli, Salvagnoli, Giusri, etc. Discutiam sobre arte e política e,
luta entre hun1ildes e poderosos. (Sobre isso, é ainda n1ais estranha a de vez em quando, liam os livros que circulavam clandestinamen te.
dfi rn1,1ção de Croce, na Storia de/la :::toriogra/i"a hi Italia JZe/ seco/o XIX, Vieusseux introduzira o Judeu errante: foi lido na casa de Martelli,
de que somente na Itália, e Il<io na França, tenha ocorrido essa invesri- diante dos amigos que vinham de Florença e de fora. Conta Diego
gaçiio da luta de raças na Id"de Média como origem da divisão da so- Martelli: "Havia os que arrancavam os cabelos, os que batiam com os
ciedc1de em estamentos privilegiüdos e terceiro estado, quando, na pés no chão, os que erguiam os punhos para o céu ... "
:
verd"de, é precisamente n oposto, etc. [65]) (Zottoli tenra responder a '··
(:ri.'-j'(•!ti, 111 1 /),~!;1/,\•J lll· Sc1c111hr(_1 dl· 1931.) § 75. Lit1Tt1llirr1 f!of'u/111: N11111 .1rti~t1 ~h· 1\11l\ll\i( i H.ddini (C~orritTt'
della Sera, 6 de dezembro de 1931) sobre Paolina Leopardi ("Tutta-di-
§ 52. Li!eriltllrit pof1u/i1r. - ,)'l'çrlo Cllló/ica. O jesuí/ 1t Ugo Mioni. tutti") e suas rel.1çõcs com Prospero Vi,1ni, rccorJ;1-sc - a partir de
Li nestes dias (agosto de 1931) um romance de Ugo Mioni, La ridda um conjunto de cartas pu!Ílirndo por C. Antona-Travcrsi (Civiltà mo-
dei l!li/io11i, publicaJo pela Opera di S. Paolo di 1\lba. Além do caráter derna, ano III, nº 5, Florença, Vallccchi)-qu e Viani costu1nava enviar
cstric1n1cntc jesuítico (e anti-semita) deste pífio ron1ancc, chocou-me a Paolina Leopardi os romances de EugCne Sue (Os nústérios de Paris e
a negligência estilística e mesmo gramatical da escrita de Mioni. A também O judeu errante), que Paolina achava "deliciosos". Recordar
impressão é péssima, há inúmeros erros de revisão, o que já é grave em o caráter de P. Viani, erudito, correspondente da Academia da Crusca,
livrinhos JcJic1dos a jovens do povo que, com frc:qüência, nclcs apren- e o ambiente cm que vivia Paolin:1, ao \a<lo Jo ultra-reacionár io Mo-
dem a língua literária; mas, se o estilo e a gramática de _!\i[ioni podem naldo, que dirigia a revista Voce de/la Ragione (da qual Paolina era re-
ter sofrido por causa da má impressão, é indiscutível que o escritor é datara-chefe) e era contra as ferrovias, etc. [66]
péssiino objetivc1mentL, desconhece a gramática e comete reais despro-
pósirus .. Nisso Mioni se afastd da tradição de coinpostura e, até mes- § 105. Os filhotes de Padre Brescimú. Arde11go So/Jici. Filiação do
mo, de talsa elegância e "beleza" dos escritores jesuítas, como o Padre Lemmonio Boreo ao ]ean-Cristophe de Romain Rolland [67]. Por que
Brcsciani. i\O que. parece, Ugo Mioni (atualmente Monsenhor U. M.) oLenunonio Boreo foi interron1pido? O gesto quixotesco doLernn-ionio
11~10 é m;lis jesuíta da Con1pc1nhia dt)esus. Boreo é exterior e fictício. Na realidade, falta-lhe substância épico-líri-
ca: é um rosário de pequenos fatos, não um organismo.
§ 58. Rommu;e popular. Difusão do Judeu errante na ltitlia no perío- Poderia existir na Itália um livro como o ]ean-Cristophe? ]ean-Cris-
do do Risorginzeuto. Ver o artigo de Baccio M. Bacci, "Diego Martelli, tophe, se examinarmos bem, conclui todo um período da literatura

21 o 2,,
CADERN OS DO CÁRCER E
DOS CADERN OS MISCELÀ NEOS

popular francesa (de Os miseráv eis a fean-Cr istophe) ; seu conteúd o determi na o mundo cultural de uma geração e de uma época e, por-
supera o do período antérior : da democr acia ao sindical ismo. ]ean- tanto, seu estilo. Também em Manzon i e em Verga não são os "pers~·
Cristoph e é a tentativ a de um romanc e "sindica lista", mas fracassada: nagens popular es" o element o determi nante, mas _sim a ~titu~e ..d.os dois
Rolland não era de modo algum um antidem ocrata, embora fosse for- escritor es em face de tais persona gens, e esta atitude e ant1tet1ca nos
temente marcado pelas influênc ias morais e intelect uais do clima sin- dois. Em l\1anzoni, há um paternal ismo católico , uma ironia subente n-
dicalista. dida indício de ausência de profund o amor instintiv o por aqueles per-
Do ponto de vista naciona l-popula r, qual era a atitude de Soffici? ' .
sonagen s; trata-se de uma atitude ditada por um sentime nto exterior
Uma exterior idade quixote sca sem element os reconstr utivos, uma crí- de dever abstrato ditado pela moral católic<c1 1 que é corrigid o e vivi fica-
tica superfic ial e esteticista. do precisam ente pela ironia difusa. En1 Verga, há uma atitude d~ fria
impassibilidade científica e fotográfica, ditada pelos cânones do vensm_º:
aplicado mais racionaJmen'.:e do que por Zola. 1\ atitude de Manzon1 e
a mais difun<lidn na \itcratur ü que represen ta "pcrsonage~s popular es",
CADERNO 8 (1931-1 932) e basta recorda r Renato Fucini; aquela atitude ainda é d~~ caráter supe-
rior, mas se move sobre um fio de navalhcl e, nos escritor es menores ,
§ 9. Ausência de Uf!z caráter 1z.acional-popular 1ui literatura italia1ui. De deaener a de fato na atitude "brescia na", estúpida e jesuitica mente sar-
b

um artigo de Paolo Mil ano, na [ta/ia Letterar ia de 27 de dezemb ro de cástica [68].


1931: "O valor que se atribui ao conteúd o de uma obra de arte jamais
§ 12. Lil«rdl1trn 11n/111/,1r. /li/1/iogr,ifl.1. RC.gin.ilcl W l lartLmd, W1iilicr
é excessivo - escreveu Goethe. Un1 tal aforism o poJe vir;) tncntc de
Scott et [e roman "fréuetí que'', Ed. Honoré Clrnmpi on. Romanc e "fre-
quem reflete sobre o esforço, há tantas gerações(?) iniciado (sic) e que
nétíco" 011 romanc e "de terror": as origens deveriam ser buscada s em
está ainda hoje se re<flizando, de criar 1111111 tradição do modern o ro-
Horace Walpole e em seu Castelo de Otrmzto. Do Castelo de Otranto
mance italiano. Que ~ociedade ou, melhor, que camada retratar ? Será
teriam derivad o os romance s de Ann Radcliff e (1798-1 831) e de Clara
que as tentativ as mais recentes não consiste m no desejo de abandon ar
Reeve, de Lewis (O frade), etc. O Castelo de Otmnto determi nou uma
os persona gens popular es que domina vam a cena na obra de Manzon i
corrente de imagina ção que estava no ar, da qual ele foi a manifes ta-
e de Verga? E será que os êxitos apenas parciais não podem ser atribuí-
ção inicial. Le 1\1oiue par M. G. Le1uis, raconté par_ Antonin Art~ud,
dos às dificuld ades e às incertez as na fixação de um ambient e (entre
Ed. Denoel et Steele. Cf. Alice Killen, Le roman terrz(íant, Champ1 on,
alta burgues ia ociosa :e gente miúda e boheme margina l)?"
1924.
O trecho é surpree ndente pelo modo mecânic o e exterior de pôr
as questõe s. De fato, será possível que "geraçõ es" de escritor es tentem § 46. Noções e11ciclopédiws. A concepção melodra mática da vida.
fixar a frio o ambient e a descrev er sem, precisam ente com isso, mani- N;io é verdade que somente cm alguns estratos inais baixos da_ 1.n~e­
festarem seu caráter "a-histó rico" e sua pobreza moral e sentime ntal? lcctualid<tdc scj;t po~·sível encontr ar u1n senti111cnto livresco e art1:1c1~1l
De resto, não basta entende r por "conteú do" a escolha de um determi - da vida. Existe igualme nte nas cL1sses popular es a degenerescen~1a
nado ambient e: o que é essencial para o conteúd o é a atitude do escri- "livrcsc<t" J;1 vida, que não é son1cntc dada pelos livros, mas tamb~m
tor e de uma geração em face deste ambie~te. Soment e a atitude é que por outros instrum entos de difusão Ja cultura e das idéias. A música

212 21 3
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

verdiana ou, mais preci::;amente, o libreto e o enredo dos dramas tica. Mas será que também Caccia grossa não é essencialmente. um li-
musicados por Verdi são responsáveis por roda uma série de atitudes vro de politiqueiro e dos piores que se possam imaginar?
"artificiosas" de vida popular, de modos de pensar, de u1n "estilo".
"Artificioso" talvez não seja a palavra adequada, já que, nos elementos § 82. Os filhotes do Padre Bresciani. Ghita, "a criada ilustre" (no-
populares, est~1 arrificiosidaJc assume formas ingên11as l' comoventes. vela de Cervantes) [70].
O barroco, o melodran1<ítico aparecem a 1nuitas pessoas do povo como
um modo de sentir e de agir extraordinariamente fascinante\ como um § 98. Os filhotes de Padre Bresciani. G. Papini. Em março de 1932,
modo de evadir-se daquilo que elas consideram baixo 1 n1esquinho, Papi ni escreveu um artigo na Nuova Antologia (contra Croce) e um no
desprezível em sua vida e em sua educação, a fim de ingressarem numa Corriere de/la Sera sobre o Édipo de André Gide [71]. Só li até agora o
esfera mais seleta, de ,ti tos sentimentos e nobres paixões. Os romances último: é remendado, prolixo, pomposo e vazio. Em março, devem ser
de folhetim e de alcova (toda a literatura edulcorada, mdíflua, choro- nomeados os novos acadêmicos que preencherão as cadeiras da Aca-
na) criam heróis e hcroí11;1s; 1nas o rncloJrama é mais d;lninho, já que demia da Itália: os dois artigos, evidentemente, são as "credenciais" de
as pa!J.vras musicadas são mais lembradas e forn1am corno que matri- Giovanni Papini.
zes que fixam o fluir do pensamento. Observar o modo de çscrever de
muiL1s pessoas do povo: tcin corno base um cc;rto nú111cro de frases § 100. Passado e prese11te. O arrolo do fHÍroco e outros super-regio-
feitas. 1wlismos. Cesare De Lollis (Reisebilder, p. 8 e ss.) escreve algumas notas
De resto, o s.ircasmo é excessivainente corrosivo. Dc,-e-sc lembrar interessantes sobre as relações entre a "minoria" que fez a Itália e o
que se trata não de u1n esnobismo diletante, m~1s de algo profunda- povo: "[ ... ] há não muitos dias ocorreu-me ler num diário que há mui-
mente sentido e vivido. to a Itália tem se preocupado excessivamente com as escolas primárias
e populares em geral (entre os principais responsáveis por isso era
§ 59. Literatura popular. Sobre as questões teóricas, cf. Croce, mencionado Credaro), quando o verdadeiro interesse da nação seria
Conversazioni critiche, segunda série, p. 237 e ss., "I ron1anzi italiani cuidar da educação das classes superiores [72]. Ora, com isso se retorna,
dei Settecento", no gual o pretexto é dado pelo livro de Gi'1mbattista ou se gostaria de retornar, ao conceito da educação como privilégio de
Marchesi 1 Studi e ricerche intorno ai nostri ron11t1i.;z,ieri e ron1unzi dei classe; conceito inteiramente ancien réginze, incluída a Contra-Refor-
Settecento, que tem como apêndice uma bibliogc:1fia do:::; ro1nances ma, que também buscou evitar que a cultura se aproximasse da vida e,
editados na Itália naquele século (Bérgamo, Istituto it;:1liano d'arti portanto, do povo. Contudo, par<l que a nação seja 1nodelada numa
grnfichc, 1903) [60IJ. verdadeira unidade, é preciso que os que a compõem se reencontrem,
todos, num certo grau de educação. As classes inferiores devem perce-
§ 75. Os filhotes de Padre Bresciani. Giulio Bechi. Cf. o pequeno ber nas superiores os traços da perfeição alcançada; estas devem reco-
artigo de Croce ("I semi11alori di G. Bcchi"), reproduzido nas Con- nhecer naquelas a perfectibilidade[ ... ]. Ora, que se tenha feito muito
versa;:,ioni critiche, segunda série, p. 348 e ss. Croce forrnula um juízo neste sentido é algo que poderão dizer somente os observadores su-
favorável sobre este romance e, em geral, sobre a obra litcr.~ria de Bechi, perficiais ou os pedantes que enchem a própria boca e a cabeça dos
sobretudo Caccia grossa, embora distinga entre a parte "programática outros de grandes palavras como 'estirpe' e 'linhagem', palavras que
e apoloi;;ética" do livro e <1 p:1rte 1nais propriamente artística e dramá- tendemJ ao conferir títulos de nobreza hereditária, a abolir o sentido

214 215
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

do esforço e do dever pessoal; do mesmo modo, a admiração agora situados com eguanimidade, como, por exemplo, a morte de Ugo Bassi
em moda pelo costume e pelos costumes locais, inteiramente românti- e o doloroso fim de Anita Garibaldi." Mas será que Bresciani poderia
ca, tende a imobilizar e a cristalizar, em vez de induzir ao ·caminho do fazer de outro modo? E, para julgar Luzio, é digno de nota, precisa-
progresso." (É aguda a aproximação implícita entre o super-regiona- mente, que ele valorize como positivo em Bresciani justamente seu
lismo e a cultura como privilégio de classe.) jesuitismo e sua demagogia de baixa extração [73 ).
Um fato semelhante é o do nome das ruas (cf. Carrada Ricci, "I
nomi deli estrade", Nuova Antologia de 1° de março de 1932): Ricci, § 105. Os filhotes de Padre Bresciani. füpini como aprendiz de je-
em junho de 1923, no senado, guando se discutia um decreto relativo suíta. O artigo de Papini na Nuova J\ntofogia de 1° de março de 1932
às mudanças de nomes das ruas e das praças municipais, propôs que se ("II Croce e la croce") parece-me demonstrar que, também como je-
fizesse uma revisão dos nomes velhos e novos para ver se não seria suíta, Papini não passará jamais de um modesto aprendiz [74). Ele é
conveniente, em diversos casos, voltar ao antigo. (0 que ocorreu em um burro velho que quer continuar sendo um burrico, apesar do peso
muitos casos; e o fato. de que por vezes isso tenha sido oportuno em dos anos e dos achaques, e que dá coices e saltita de modo torpe.
nada altera o significado da orientação.) Parece-me que a característica deste artigo é a insinceridade. Ver como
O mesmo vale par8 as "famílias" mcncguina (de Milão), turinense, Papini o inicia, com suas habituais piadas estereotipadas e mecânicas
bolonhesa, etc., que prosperam neste mcsmq período. Todas tentati- contra Croce, e como, perto do final, bancando o cordeiro pascal,
vas de imobilizar e cristalizar, etc. anuncia hipocritamente que na coletânea de suas obras, os escritos
1

sobre Croce serão expurgados de todas ;1s "brincadeiras" e só ap;1re-


§ 104. Os /il/.>oles de füdre Rrescit111i. A. Luzia. Artigo de A. Luzio ccrá a discussão "teórica''. O artigo foi escrito Jc uma só vez, con10
no Corriere delia Sera de 25 de março de 1932 ("La morte di Ugo Bassi se pode ver; e, no curso da redação, Papini mudou de atitude, mas
e di Anita Garibaldi"), no qual se tenta uma reabilitação do Padre não se preocupou em afinar os latidos das primeiras páginas com os
Bresciani. As obras do Padre Bresciani, "no final das contas, não po- balidos das últimas: o literato satisfeito consigo mesmo e com ases-
dem, quanto ao conteúdo, ser liqüidadas com condenações sranárias". tocadas que crê desferir é sempre superior ao pseudocatólico , mas
Luzio junta o ensaio de De Sanctis com um epigrama de Manzoni (o também ao jesuíta, e - pobre homem! - não quis sacrificar o que já
qual, perguntado se conhecia o Ebreo di Verona, teria respondido, se- havia escrito. Mas todo .J escrito se mostra confuso 1 mecanicamente
gundo o diário de Margherita di Collegno: "Li os dois primeiros perío- construído, de modo desconexo, sobretudo na segunda parte, na qual
dos: parecem duas sentinelas que nos dizem para não seguir1nos em a hipocrisia transparece de modo repugnante. Parece-me, porém, que
frente") e depois chama de 'sumárias' as condenações. Não haverá algo Papini é obcecado por Croce: Croce tem nele a função da consciên-
de jesuítico neste é1Stucioso jogninho? cia, das "mãos ensangüentada s" de Lady Macbeth. Ele reage a esta
E mais: "Cerlcnnente não é simpútico o tom com que ele, porta- obsessão ora se fazendo de arrogante, buscando a burla e a ironia,
voz da reação que se seguiu aos movimentos de 1848-1849, represen- ora lamentando-se miseravelmente: o espetáculo é sempre digno de
tava e julgava os defensores das aspirações nacionais: porém, em tnais piedade. O próprio título do artigo é sintom8tico: que Papini se sirva
de um de seus contos, sobretudo em 'Don Giovanni ossia il Benefattore da "cruz" para fazer trocadilhos testemunha sobre a qualidade literá-
occulto' (números 26-27 da Civiltà Callolica), não faltam traços de ria de seu catolicismo.
piedade humana e cristã em face das vítimas; episódios parciais são

216 217
CADERNOS DO CÁRCE..RE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

§ 115. Os filhotes do Padre Bresciani. Segundo Luigi Tonel li (I.:Italia existe numeração), recorda-se que Baudelaire participou ativamente
che scrive, março de 1932, "Pietro Mignosi"), estaria contido, novo· dos acontecimentos de fevereiro e junho de 1848. ''Fenômeno estra·
lume Epica e snntità de Mignosi (Palermo, Priulla, 1925), um "belíssimo nho de contágio revolucionário, neste cérebro tão meticulosamente
'Canto' um pouco à Ri111h;111d, em lo1.1vor dos 'pobres anin1ais"'; e cita: lúcido", escreve H.égnicr. Con1 Ch<H11pflc11ry, Baudelaire fundou nm
"'Vi.:nncs c ratos, n1osc;!s, piulhos e poetas, que toJas as annas da terra jornal republicano e1n que CSLTcvcu artigos violentos. Depois, dirigiu
não conseguem exterminar" [75]. um jornal local em Châteauroux. "Deve-se dizer que esta dupla cam-
panha tipográfica (sic) e o papel que ele desempenhou no movimento
§ 122. Literatura popular. Uma das atitudes mais características do popular bastaram para curar o que ele, mais tarde, chan1aria de sua
público popuL1r cn1 face Jc sua literatura é a seguinte: não importa o 'loucura' e que, em Mon coeur 11ús ú nu, busca explicar a si mesmo, ao
nome e a personalidade do autor, mas a pessoa do protagonista. Os escrever: 'Minha embriaguê' de 1848. Qual a natureza desta em-
heróis da literatura popular, quando entram na esfera d,1 vida intelec- briaguês? Gosto de vingança, pr:1zrr natural da dcn1olição. Embriaguês
tual popular, <lcstacan1-sc de sua origem "literária" e adquirem a vali- literária. l.cn1branças de leituras.' Crise bizarra, que tr;1nsforma este
dade do personagem histórico. Toda a sua vida interessa, do nascimento aristocrata de idéias e de gosto, que Baudelaire fundamentalmente era,
à morte, o que explica o êxito das "continuações", ainda que artificio- num energúmeno, que seu camarada La Valvasseur descreve em suas
sas: isto é 1 pode ocorrer qnc o primeiro criador do tipo 1 em seu traba- notas e cujas mãos 'cheirav~1m a pôlvora', proclan1ando ';1 apoteose da
lho, faça o herói morrer e o ""continuador" o faça reviver, para grande bancarrot;-1 sociaF; crise bizarra 1 da qual ele extrai uni horror sincero à
satisfação do público, que novamente se apaixona e renova a imagem, democracia, mas que, talvez 1 ta1nbém fosse uma primeira advertência
prolong:indo-a com o nuvo nl<ltcnal que lhe foi oferecido. Não se deve fisiológica", etc. [76] (É um primeiro sintoma da neurastenia de
entender "personagem histórico" cm sentido literal, embora também Baudelaire.) (Mas por que não o contrário? Isto é, por que, em sentido
isto ocorra, ou seja, que leitores populares já não mais saibam distin- inverso, a doença de Baudelaire não teria determinado seu afastamen-
guir entre mundo efetivo da história passada e mundo da fantasia, e to do movimento popular?, etc.)
discuta1n sobre os personagens romanescos como discutiriam sobre os Em todo caso, ver se estes escritos políticos de Baudelaire foram
que viveram, mas através Jc uma transferência, para compreender que estudados e reunidos.
o mundo da fan.tasia adquire na vida intelectual popular uma específi-
ca concreticidade de fábula. Ocorrem assim, por exemplo, contamina- § 135. Literatura popular. Cf. E. Brenna, La letteratura educativa
ções entre i:"omances diversos, já que os personagens se assemelham: o popolare italiana nel seco/o XIX (Milão, Filp, 1931, 246 p., 6 liras). Da
narrador popular une em um só herói as aventuras de vários heróis e resenha da Prof• E. Formiggini-Santamaria (Italia che scrive, março de
está conve;icido de que é preciso fazer assim para ser "inteligente". 1932), extraem-se as seguintes informações: o livro de Brenna ganhou
um prémio de incentivo no concurso Ravizza, que parece ter como tema
§ 127. História das classes subalternas. La Bohême. Charles Bau- precisamente a "literatura educativa popular". l)rcnna forneceu um
delaire. Cf. C. Baudelaire, Les Fleurs du Mal et autres poémes, texto quadro da evolução do romance, da novela, de escritos de divulgação
integral precedido por um estudo inédito dt: Henri de Régnier ("La moral e social, do drama, dos escritos vernáculos mais difundidos no
Renaissance du Livre", Paris, s.d.). No estudo de Henri de Régnier (p. século XIX, com referências ao século XVIII e em relação com a orien-
14-15, a contar da págin<l de começo, porque no texto do prefácio não tação literária em seu desenvolvimento global [77].

21 B 219
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

Brenna deu ao termo "popular" um sentido muito amplo, '~ou seja, vros que se difundiram e até hoje se difundem entre o povo (por exem-
nele incluindo também a burguesia, aquela que não faz da cultura a plo, os ilógicos, complicados e tenebrosos romances de lnvernizio), no
finalidade de sua vida, mas que pode aproximar-se da arte"·, assim , estudo daqueles dramalhões que arrancam lágrimas e aplausos do pú-
considerou como "literatura educativa do povo toda a literatura de estilo blico dominical dos teatros de segunda classe (e que são sempre inspi-
não áulico e não rcb~1scado, nela incluindo, por exemplo, Os noivos, rados no amor à justiça e na coragem), poder-se-ia encontrar melhor o
os romances de D'Azr,glio e outros do mesmo tipo, os versos de Giusti aspecto mais destacado da alma popular, o segredo daquilo que pode
e os que tomam como tema as experiências superficiais e a serena na- educá-la quando for levada a um terreno de ação menos unilateral e
tureza, como os versos de Pascoli e de Ada Negri". Formiggini-Santa- mais sereno."
maria faz algumas considerações interessantes: "Esta interpretação do Formiggini observa, ademais, que Brenna não se ocupou do estu-
tema se justifica quando se pensa como foi escassa, na primeira meta- do do folclore; e lembra que é preciso ocupar-se, pelo menos, das fá-
de do século passado,'a difusão do alfabeto entre os artesãos e os cam- bulas e das novelas do tipo daquelas dos irmãos Grimm.
poneses (mas a literatura popular não se difunde apenas por meio da Formiggini insiste na palavra "educativa", mas não indica o con-
leitura individual, mas também através de leituras coletivas; outras ativi- teúdo que deveria ter tal conceito; contudo, toda a questão está aqui.
dades, como os Maggi na Toscana e os cantadores ambulantes na Itália A "tendenciosidade" da literatura intencionalmente popular (educativa)
meridional, são próprias de ambientes atrasados, onde o anafalbetismo é tão insípida e falsa, corresponde tão pouco aos interesses mentais do
é difuso; também as competições poéticas na Sardenha e na Sicília), e povo, que a impopularidade é o castigo merecido.
c~1:1º tambén1 foi csc1ssa a in1prcssiío de livros adcqu,1dos (o que sig-
n1f1ca 'adcC]ll•ldos'? f; a litcrat11r;1 n:ío faz nascer nov<IS necessidades?) § 136. C:t1r11(/r!rísticas dtZ lileralura italiaJitl. C:f. o artigo de Picro
à pobre mentalidade dos trabalhadores manuais [78]. A autora prova- Rébora, "Lihri italiani ed editori inglcsi", na !!alia che scrive de março
velmente pensou que, se tivesse cvocaJo apenas estes, seu estudo teria de 1932. Por que a literatura italiana contcn1pur;1nca quase não tc1n
ficado muito restrito. Contudo, parece-me que a intenção explícita no difusão na Inglaterra: "Escassa capacid~de de narração objetiva e de
tema em questão tenha sido a de destacari juntamente com a escassez observação, egocentrismo mórbido, antiquada obsessão erótica; e, ao
de escritos de índole popular no século XIX, a necessidade de escrever mesmo tempo, caos lingüístico e estilístico, pelo que muitos de nossos
para o povo livros adequados e de fazer com que se pesquisem- atra- livros ainda são escritos com obscuro impressionismo lírico, que entedia
vés da análise do passado- os critérios nos quais deve se inspirar uma o leitor italiano e aturde um estrangeiro. Centenas de vocábulos usa-
literatura popular. Não digo que não se devesse dar atenção às publi- dos pelos escritores contemporâneos não se encontram nos dicionários
cações que, na intenção dos escritores, deveriam servir para educar 0 e ninguém sabe o que significam exatamente." "Sobretudo, talvez, re-
povo, mas sem ter êxito; dessa atenção, porém, deveria ter ficado mais presentação do amor e da mulher mais ou menos incompreensível para
explícito o motivo pClo qual a boa intenção não passou de intenção. os anglo-saxões, verismo provinciano sernidialctal, ausência de unida-
Ao contrário, houve outras obras (e1n particular na segunda metade de lingüística e estilística." "Fazem falta livros de tipo europeu, não de
do século XIX) que se propuseram antes de mais nada o sucesso, e só desgastado verismo provinciano." "1\ experiência me ensina que o lei-
secundariamente a educação, e que tiveram muito êxito entre as clas- tor estrangeiro (e, provavelmente, também o italiano) enc_ontra com
ses populares. É verdade que, se as examinasse, Brenna teria de se afastar freqüência em nossos livros algo de caótico, de chocante, quase de re-
com muita freqüência do campo da arte; mas, na análise daqueles li- pugnante, inserido aqui e ali, ninguém sabe co1no, em meio a páginas

220 221
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS DO CÁRCERE

admiráveis, que revelam, ao contrário, um talento sólido e profundo." fundas da vida popular-nacional, de que esta última também permane-
ce desagregada e sem expressão. Todo movimento intelectual se torna
"Há romances, livros em prosa, comédias muito bem realizados, mas
ou volta a se tornar nacional se se verificou uma ''ida ao povo", se ocor-
que são irremediavelmente destruídos por duas ou três páginas, por
reu uma fase "Reforma" e não apenas uma fase "Renascimento"; e se
uma cena, até por uma frase de desconcertante vulgaridade, desmazelo,
as fases "Reforma-Renascimento" se sucedem organicamente e não
mau gosto, que arruína tudo." "[ ... ] Resta o fato de que um professor
coincidem com fases históricas distintas (como na Itália, onde entre o
italiano no exterior não consegue, mesmo que com a maior boa vonta-
movimento comunal - reforma - e o do Renascimento ocorreu um
de, reunir uma dúzia de bons livros italianos contemporâneos, que não
hiato histórico do ponto de vista da participação popular na vida pú-
contenham alguma página de mau gosto, dcsqu;-1lificantc, desastrosa
blica). Mesmo que se devesse começar escrevendo "romances de fo-
para nossa elementar dignid:1de, penosamente trivi.1!, que é melhor não
lhetim" e versos de melodran1a, não há "Renasci1nento" e não há
pôr diante dos olhos de leitores estrangeiros inteligentes. /\\g11ns têm o
literatura nàcional se1n u1n plTíodo Jc iJa ao povo.
nau costume de chan1ar tais pudores e recri1ninaçõcs corno inL1mante
1omc de •p11ritanismo' quando, ao contrário, trata-se apenas e unica-
1
§ 160. Os filhotes de Padre Bresciani. Papini. O catolicismo con-
nente de 'bom gosto'." diciona 0 estilo de Papini. N;10 mais dirá "sete", mas "quantos são os
O editor, segundo lZébora, deveria intervir 1nais no fato literário, e pecados capitais": "Não que L1ltassem traduções itali~1nas da.obra-p...rí-
não ser apenas um comerciante-industrial; deveria funcionar con10 ma goethiana: Manacorda as levou em consideração, integrais ou n~o,
primeira instânc~a '"crítica'» sobretudo no que se refere à "socialidade" tantas quantos são os pecados capitais" ("II Faust svelato", no Cornere
do tL1b;1J ho, etc;
de/la Sera Je 26 de abril Je 1932).

§ 13 7. Literatura po/ml11r. Cf. Ernesto Brunetto, "Romanzi e roman- § 165. A. Oriani. É preciso estudá-lo como o representante mais
zieri d'appendice", no Lavara Fascista de 19 de fevereiro de 1932. honesto e apaixonado da grandeza nacional-popular italiana entre os
intelectuais italianos da velha geração. Sua posição, porém, não é crí-
§ 145. Caráter não popular-nacional da literatura italiana. Apro- tico-reconstrutiva: e disto decorrem todos os motivos de seu infortú~
vação da nação ou dos "espíritos eleitos". O que deve interessar mais a nio e de seus fracassos. Na realidade, a quem se dirigia Oriani? Não às
um artista, a aprovação de sua obra pela "nação" ou pelos "espíritos classes dominantes, das quais esperava, contudo, reconhecimentos e
eleitos''? Mas pode existir separação entre "espíritos eleitos" e "na- honras, apesar de suas diatribes corrosivas. Não aos republicanos, aos
ção"? O fato de que a questão tenha sido posta e continue a sê-lo nes- quais, todavia, se aparenta sua forma mental recrimina~ória. A Lotta
tes termos revela, por si só, uma situação historicamente determinada politica parece o manifesto em favor de um grande movimento demo-
de separação entre intelectuais e nação. De resto, quem são os "espíri- crático nacional popular; mas Oriani está tão embebido de filosofia
tos" considerados "eleitos"? Cada escritor ou artista tem seus "espíritos idealista, tal como esta se forjou na época da Restauração, que não sabe
eleitos", isto é, tem-se na realidade uma desagregação dos intelectuais falar ao povo como líder e como igual ao mesmo tempo, para fazer
em igrejinhas e seitas de "espíritos eleitos", desagregação que depende com que o povo participe da crítica de si mesmo e de suas debilidades,
precisamente da não-aderência à nação-povo, do fato de que o ••con- mas sem perder a fé na própria força e no próprio futuro. A debilidade
teúdo" sentimental da arte, o r:iundo cultural é alheio às correntes pro- de Oriani reside neste caráter meramente intelectual de suas críticas,

222 223
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

que criam uma nova forma de doutrinarismo e de abstração. Mas há nos e estrangeiros, não se fazem de rogados para reconhecê-lo; e, de
nele um movimento de pensamento bastante sadio que deveria ser resto, jamais pedi louvores a ninguém. Poderia dizer-lhe que uma vida
aprofundado. A fortuna de Oriani nestes últimos tempos é mais um duríssima como a minha, fervorosamente italiana e fascista, sempre,
embalsamamento funerário cio que uma exaltação de nova vida de seu diante de estrangeiros e de conterrâneos, mereceria pelo menos não
pensamento. ter suas dificuldades acrescidas por parte de jornais italianos e fascis-
tas. Deveria dizer-lhe que, se há algo enigmático no ano X (vivo de
artigos na absoluta incerteza do amanhã, já com 40 anos!), é somente
esta obstinada maldade dirigida contra mi'11 por parte de pessoas de ...
CADERNO 9 (1932)
espírito. Com afeto, Giuseppe Ungaretti." A carta é uma obra-prima
de hipocrisia literária e de presunçosa estupidez [79].
§ 2. Os filhotes de Padre Bresciani. Uma esfinge sem enigmas. No
§ 15. Folclore. Raffaele Corso chama o conjnnto dos fatos folclóri-
Ambrosiano de 8 de março de 1932, Marco Ramperti escreveu um
cos de uma "pré-história contemporânea", o que é apenas um jogo de
artigo, "La Corte di Salomone", no qual, entre outras coisas, escrevia:
palavras par~ definir um fenômeno complexo, que não se deixa defi-
"Hoje, amanheci diante de um 'logogrifo' de quatro linhas, em torno
nir sumariamente. Pode-se recordar, sobre isso, a relação entre as cha-
do qual havia vcLtdo nas últimas sete horas de solidi\o, sem natural- madas "artes incnorcs" e ;JS chan1aJ;1s "artes rnaiorcs", isto é, ~ntrc a
mente compreender nada. Densa obscuridade! Mistério sem fim! Ao atividade Jos cri;1dorcs de arte e a dos artesãos (das coisas de luxo ou,
despertar, contudo, percebi que, na atonia febril, confundira a Corte pelo menos, não imediatamente utilitárias). As artes menores foram
di Salomone com a /ta/ia Letteraria, o 'logogrifo' enigmático com uma sempre ligadas às artes maiores e dependeram delas. Do mesmo modo,
estrofe do poeta Ungaretti ... " A estas finas estocadas de Ramperti o folclore sen1pre esteve ligado à cultura <la classe do1ninante, da qual,
Ungaretti respondeu com uma carta publicada na Italia Letteraria de a seu modo, recolheu motivos que terminaram por nele se inserir em
10 de abril e que me parece um "sinal dos tempos". Pode-se deduzir da combinação com as tradições precedentes. De resto, nada mais con-
mesma _quais são as "reivindicações" que Ungaretti apresenta a "seu traditório e fragmentário do que o folclore.
país" para ser recompensado por seus méritos nacionais e mundiais. De qualquer modo, trata-se de uma "pré-história" muito relativa e
(Ungaretti não passa de um tolo de medíocre inteligência.) "Caro muito discutível, e nada seria mais disparatado do que querer descobrir
Angioletti: De volta de uma cansativa viagem para ganhar o minguado numa mesma área folclórica as diversas estratificações. Mas até mesmo
pão de meus filhos, encontrei os números do Ambrosiano e da Stampa a comparação entre áreas diversas, ainda que seja a única orientação
nos quais um certo Sr. Ramperti acreditou ofender-me. Poderia res- metodológica racional, não pode permitir conclusões taxativas, e sim
ponder-lhe que min~a poesia era compreendida pelos camponeses, apenas conjecturas prováveis, já que é difícil fazer a história das influên~
meus irmãos, na tríncreira; compreendeu-a meu Duce, que quis honrá- cias que cada área acolheu e, com freqüência, a comparação é feita entre
la com um prefácio; lerá sempre compreendida pelos simples e pelos entidades heterogêneas. O folclore, pelo menos em parte, é inuito mais
doutos de boa-fé. Poderia dizer-lhe que, há quinze anos, tudo o que de móvel e flutuante do que a língua e os dialetos, o que, de resto, pode ser
novo se faz na Itália e no estrangeiro traz na poesia a marca de meus dito também da relação entre cultura da classe culta e língua literária: a
sonhos e de meu tormento expressivo; que os críticos honestos, italia- língua se modifica, em sua parte sensível, muito menos do que o conteú-

224 225
DO CÁRCE.RE DOS CADERNOS MISCELÂN EOS
CADERNOS

do cultural; e somente na semântica é possível registrar naturalme nte com fortes elementos da sensibilidade popular de todos os países, dos quais,
uma adesã.o entre forma sensível e conteúdo intelectual . de resto, havia partido a corrente romflntica. (Deve-se relacionar este fato
com a popularida de de Shakespeare e também dos trúgicos gregos, cujos
§ 3 7. Liten:tura popul1tr. P. Ginisty, Eugene Sue (Grandes vies personagen s, movidos por paixões elementa res- ciúme, amor paterno,
aventureuses), P<;lris, BL·rger-Levraulti 1932, in-16ºi 228 p., 10 francos. vingança, etc. - , são essencialmc-nte popuL-1res em todos os países.) Por
isso, pode-se dizer que a relaç;lo entre o melodra1n<l ita\i,,1110 e a literatura
§ 66. Literatura pupu/11r. R.cfcri-n1c, e1n ouira nota, ao fato de que, na popular anglo-fran cesa não é cririca1ncntc <lcsL1vor;ívcl ao melodrama , já
Itália, a música sub::.tiruiu em cerra rnedida, na cultura popular, aquela que a relação é histórico-p opular e não artístico-crítica. Verdi, como artis-
expressdo artística que, em outros países, é dada pelo romance popular, e ta, não pode ser comparado , por assim dizer, com Eugéne Sue, embora
de que os génios musicais obtiveram uma popularída de que, ao contrário) caiba dizer que o êxito popular de Verdi só pode ser comparado ao de
faltou aos !itcr:-1tos [80]. Deve-se invc:srigar: 1) se o ílorescin1cnto da ópe- Sue, ainda que, para os estetizantes (wagnerianos) aristocrata s da música,
ra na música coincide, t:m rodas a.<; suas fases de desenvolvi mento (isto é, Verdi ocupe, na história da n1ús1c<1, o mesn10 lug;1r que Sue ocupa na his-
não como expressão inJiYidu~11 de artistas gcniais mrlS como fato, mani-
1
tória da literatura. A literatur d popular em ~ntido pcjor<rcivo (como a de
fL''.'>Lh,·.J() lii:-.r\'iri co-c\ il ! u r,il), l'\ 11n o f!1 ircsci n1c11to da L·pica pu11 uLir rcprc- Sue e cpígonos) l: u111a JL·gc1HTescê111.:ia político-cu1n1..Tci,i\ <la literatura
sentc1Jd pelo romance. Parece-me que sim: o romance e o mclodran1a têm nacional-p opular, cujo modelo são precisarnen te os trúgicos gregos e
origem no século XV1rI e íloresce1n na primeira metc1de do século XIX, Shakespeare.
isto é, coincidem con1 a n1;1nifestdção e a expans;lo das for~-c1s Jemocráti- Este ponto de vista sobre o melodram a pode ser também um crité-
cas populdr-na cionais em toda a Et1ropa; 2) se coincidem a expansão eu- rio para compreen der a popularida de de Metastasio , que foi popular
ropéiu do romance popular anglo-francês e a do mclodran1a italiano. sobretudo como escritor de librctos [81].
Por que a "democrac ia" Jrtística italiana teve uma expressão musical
e não "literária"? O faro de que a linguagem não tenha sido nacional, mas § 82. Passado e presente. Luigi Orsini, Casa paterna. Ricordi
cosmopolita, como é o caso d~ músic~ pode ser ligado à deficiência de d'in(anzia e di adolescenza, Trcves, 1931. Luigi Orsini é sobrinho de
caráter popular-na cional nos intelectuais italianos? No momento mesmo Feiice. Recorda as descrições sobre a adolescênc ia de Feiice, narradas
em que se verifica, em todos os países, uma intensa nacionaliz:·lÇão dos pelo irmão, pai de Luigi. Parece gue o livro é interessan te por traçar o
intelectuais nativos- e este fenómeno se verifica também na Itália, em- quadro da vida das aldeias da Romanha de algumas décadas atrás [82].
bora em n1enor medida {também o século XVIII italiano, particularm ente
em sua s~gunda metade, é mais "nacional" do que cosmopolita) - , os § 134. Literatura italimui. I'imndel/o. Observei em outro local que,
intelcL"'tuais italianos continuam sua função européia através da música. num juízo crítico-his tórico sobre Pirandello , o elemento "história da
Talvez se possa observar que a trama dos libretos não é nunca "nacional" , cultura" deve ser superior ao elemento "história da arte", ou seja, que
mas européia, em dois sentidos: ou porque o "enredo" do drama se de- na atividade literária pirandellia na predomina o valor cultural sobre o
senvolve em todos os países da Europa e mais raramente na Itália, partindo valor estético [83]. No qu;1Jro geral da literatura contempor ânea, a
de lendas populares ou de roma~ces populares; ou porque os sentimento s eficácia de Pirandello foi maior como "inovador " do clima intelectual
e as paixões do drama refletem ;J peculiar sensibilidade européia setecentista do que como criador de obras artísticas: ele contribuiu muito mais do
e romântica, isto é, uma se11sibilídade européia, que coincide, não obstante, que os futuristas para "desprovin cianizar" o "ho1nem italiano", para

226 227
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

suscitar uma atitude "crítica" moderna em oposição à atitude "melo~ sos, apenas quando "representado~' teatralmente - e representado
dramática" tradicional e oitocentista. teatralmente tendo Pirandello como encenador e diretor. (Tudo isso
A questão, porém, é ainda mais complexa do que o sugerido por deve ser entendido com muitas cautelas.)
estas indicações. E se põe assim: os valores poéticos do teatro p1ran-
delliano (e o teatro é o terreno mais próprio de Pirandello, a expressão
mais completa de sua personalidade poético-cultural) não só devem
ser isolados de sua atividade preponderantemente cultural, intelectual-
CADERNO 14 (1932-1935)
moral, mas devem sofrer uma ulterior limitação: a personalidade ar-
tística de Pirandello é múltipla e complexa. Quando Pirandello escreve
§ 1. Literatura popular (cf. o parágrafo seguinte). É certo que o estudo
um drama, expressa "literariamente", ou seja, com a palavra, apenas
da função não é suficiente, ainda que seja necessário, para criar a bele-
um aspecto parcial de sua personalidade artística. Ele "deve" comple-
za; de resto, sobre a própria "função" manifestam-se discordâncias, isto
mentar a "redação literária" com sua obra de encenador e de diretor.
é, também a idéia e o fato de funç:10 são individuais, ou dão lugar a
O drama de Pirandcllo adquire toda a sua expressividade somente na
interpretações individuais. Nem está dito que a "decoração" não seja
medida em que a "representação" for dirigida por Pirandello encenador,
"funcional", e entende-se "decoração" em sentido amplo, como tudo
isto é, na medid:1 em que Pirandcllo suscitar nos atores uma determi-
o que não é cstrita1ncnte "funcional", co1no a nt.1tcn1útica. Mas :J
nada expressão teatral e na medida cm que Pirandello diretor criar uma
"racionalid;Jdc" leva à "simplificação", o que já é muito. (Luta contra
determinada relação estética entre o complexo humano que represen-
o barroquismo estético, que se caracteriza precisamente pela prepon-
tará e o aparato tnatcrial do palco (luz, cores, montagem em sentido
derância do elemento exteriormente decorativo sobre o "funcional",
amplo, etc.) .. Ou seja, o teatro pirandelliano é estreitamente ligado à
personalidade física Jo escritor e não apenas aos valores artístico-lite- ainda que cm sentido an1plo, ou seja, ele funç:10 na qual esteja compreen-
rários "escritos". Morto Pirandello (isto é, se Pirandello, além de es- dida a "função estética".) Já é muito que se tenha chegado a admitir
critor, deixar de operar como encenador e diretor), que restará de seu que "a arquitetura é a interpretação do que é prático" [84]. Talvez isso
1 possa ser dito de todas as artes, ou seja, que elas são uma "determina-
teatro? Um "roteiro" ge.nérico que, em certo sentido, pode se aproxi-
mar dos cenários do tedtro pré-goldoniano: "pretextos" teatrais, não da interpretação do que é prático", contanto que da expressão "práti-
"poesia" eterna. Dir-se-á que o mesmo ocorre com todas as obras de co" se retire qualquer significado "pejorativo, judaic:o" (ou vulgarmente
teatro e, em certo sentido, isso é verdade. Mas apenas em certo senti- burguês: deve-se notar que "burguês", em muitas línguas, tem o signi-
do. É verdade que uma tragédia de Shakespeare pode ter diversas in- ficado apenas de "vulgar, medíocre, interessado", ou seja, assumiu o
terpretações teatrais conforme os encenadores e diretores, ou seja, é significado que outrora pertencia à expressão "judaico": mas estes pro-
verdade que toda tragédia de Shakespeare pode se tornar "pretexto" blemas de linguagem têm importância, já que linguagem= pensamen-
para espetáculos teatrais de variada originalidade: mas resta o fato de to, modo de falar indica não apenas modo de pensar e de sentir, mas
que a tragédia "impressa" em livro e lida individualmente tem uma vida também de expressar-se, isto é, de se fazer compreender e sentir) [85].
artística independente, que pode se abstrair da representação teatral: Certamente) nas outras artes, as questões de ~'racionalismo" não se
é poesia e arte mesmo fora do teatro e do espetáculo. Isto não ocorre apresentam do mesmo modo que na arquitetura; contudo, o "mode-
com Pirandello: seu teatro vive esteticamente, na maior parte dos ca- lo" da arquitetura é útil, já que a priori se deve admitir que o belo é

228 229
,.,
DOS CADERN OS MISCEL ÂNEOS
CADERN OS DO CÁRCER E

toda
seja sas, que L1lte a '"fantasia" científic<l (ou seja, que não se saiba ver
sempre o belo e apresen ta os mesmo s problem as, qualqu er que os pontos de par-
sua express ão formal rarticul.4.r. Poder-se-ia dizer que se tL-lta de "téc- a fecund idade do princíp io adotad o, etc.); 2) avaliar
nica", mas técnica é apen,1s express:10 e o problem a volL1 a seu círculo tida (ou de vista), as premissas, que podem ser negada s liminar mente,
3) in-
inicial com palavra s diferen tes. ou limitad as, ou demon stradas não mais válidas historic amente ;
por incapac i-
vestiga r se as premis sas são homog éneas entre si, ou se,
o
§ 2. Literatura popular. Questõ es de nomes. É evident e que, cm dade ou insufic iência do autor (ou por ignorân cia do estado históric
premis sas ou princíp ios con-
arquite tura, '~racíorh1.lisn10" significa simples mente "rr1odcrno"i é
tam- da questão ), ocorreu contan1inação entre
bém evident e que "racion,i.l" é apenas um modo de exprt:ssar o belo traditó rios, ou heterog êneos, ou histori cament e não aproxim áveis.
(ou
segund o o gosto de uma dctcr,minada época. Con1pr ccnde-s e que
isto Assin1, a avaliaç ão crítica pode ter diversa s finalida des cultura is
objetiv o demon strar que
tenha ocorrid o na arqt1itcrura antes que nas dem~lis artcs 1
d8.do que a também polêmi co-polí ticas): pode ter como
qual
arquite tura é "colctiv~1", n:to só curno "utilizJ ç:10" 1 111;1s corno "juízo" . fulano , individu,1ltnentc, é inL:c1p:1z e nulo; que o grupo cultura l ao
Poder-s e-ia dizer que o "c1cionalisrr10" sempre existiu, isto r~, que
sem- FLÜano pertenc e é cientifican1L·nte irrelev ante; que Fulano , embora
quer
pre se buscou atingir um .::erro fim segund o um certo gosto e segund o "creia" ou pretend a pertenc er a um grupo cultura li engana -se ou
res-
os conhcc in1cnto s técnico s J,1 resistência e da ad,1pc1bilid,1Jc Jo
"'n1a- engana r, que Fulano se serve das premiss as teórica s de um grupo
peir.ívcl para extr;lir deduçõ es tenden ciosas ou particu laristas , etc.
tcri;1J".
Saber quanto e CQTTIO possa o "racion alismo n J;1 :irqui tctu ra di fun-
dir-se nas demais artes é uma questão difícil e que será resc;\vida
pela § 7. Passado e presente. Quand o se fala de ""tipos naciona is", é pre-
n-
"crítica dos faros" (o que nJo quer dizer que seja inútil a crítica inte- ciso estabel ecer e definir bem o que se pretend e dizer. Prelim inarme
s
lectual e estética que prepara a crítica dos fatos). O certo é que a arqui- te, é preciso disting uir entre naciona l e "folcló rico". A que critério
pode
tetura parece ser, por si mcs1na e por suas conexõ es imedia tas com 0 recorre r para chegar a essa distinçã o? Um (e talvez o mais exato)
os
resto da vida, a mais reformá vel e "discut ível" das artes, lJm quadro
, ser o seguint e: o folclóri co aproxim a-se do "provin ciano" e!T!- todos
de
um livro ou uma estatue ta podem ser conserv ados num local "pessoa
l" sentido s, isto é, seja no senti do de "partic ularista ", seja no sentido
caracte -
para o desfrut e pessoali não é o caso de uma constru ção arquite tônica. anacrôn ico, seja no sentido de próprio de uma classe privada de
to
Deve-se ta1nbém recorda r indiret amente (naquil o que for válido
neste rísticas univers ais (pelo menos europé ias). Há na cultura um elemen
é folclóri ca, por
caso) a observa ção de Tilgher de que a obra de arquite tura não pode folclór ico ao qual não se costum a dar import ância:
con-
ser compa rada às demais obras de arte pelo "custo" , pelo volume
, etc. exemp lo, a linguag em melodr amátic a, assim como é folclór ico o
esnobe s inspira das nos romanc es de
[86] Destru ir uma obra constru tiva, isto é, fazer e refazer, experim en- junto de sentim entos e de "poses "
tando e reexpe riment ando, não se adapta muito à argui tetunL folhetim .
-
Por exempl o: Carolin a Inverni zio criou para Floren ça um ambien
es de folheti m fran-
§ 5. Critérios metodológicos. Quand o se examin a criticam ente uma te romane sco copiad o mecani cament e dos romanc
de
"disser tação", pode estar em questão : 1) avaliar se o autor dd mesma ceses que têm Paris como ambien te; criou determ inadas tendên cias
sobre as origens
soube deduzi r com rigor e coerênc ia todas as conseqül~ncias das
pre- folclore . O que foi dito da relação Dumas -Nietzs che
fol-
missas que asumiu como ponto de partida (ou de vista): pode ocorrer popula res do ""super-homem" dá lugar, precisan1cnte, a temas de
exte-
que falte rigor, que falte coerênc ia, que existam omissc"'"lcs tenden
cio- clore [87]. Se Gariba \di revivesse hoje, com suas extrava gâncias

230 231
DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂN EOS
CADERNOS

riores, etc., seria mais folclórico do que nacional; por isso, hoje, a fi- tro Alfieri de Turim por jovens católicos, instigados pelo Momen.to e
gura de Garibaldi faz muitos sorrirem com ironia, mas erradamen te, já por.seu mediocríssimo cronista teatral, Saverio Fino [88]. O pretexto
que, em sua época, Garibaldi não era na Itália nem anacrônico nem usado contra Liolà foi uma pretensa obscuridad e da comédia; mas, na
provinciano porque toda a Itália era anacrônica e provinciana. Portan- verdade, todo o teatro de Pirandello é combatido pelos católicos por
to, pode-se dizer que 11m tipo é "nacional" quando é contempo râneo causa da conccpção pirandc\lia na do mundo, a qual, qualquer que seja
de u1n dctcrmin<1do nível rnunJial (ou europeu) de cultura e, é eviden- ela e sua coerência filosófica, é induhitavcln1cntc anticatólica, ao con-
te, alcançou este nível. Neste sentido, Cavour era nacional na política trário da concepção "humanitá ria" e positivista do verismo burguês e
liberal; De Sanctis, na crítica literária (e também Carducci, mas menos pequeno-b urguês do teatro tradicional. Na realidade, náo parece que
do que De Sanctis); Mazzini, na política democrática. Tinham acentua- se possa atribuir a Pirandello uma concepção coerente dO mundoj não
dos traços folclóricos Garibaldi, Vítor Emanuel II, os Bourbons de parece que se possa extrair de seu teatro uma filosofia e, portanto, não
Nápoles, a massa dos revolucio nários populares , etc. Na relação se pode dizer que o teatro pirandellia no seja "filosofia". É certo, po-
Nietzsche/super-homem, D' Annunzio tem acentuado s traços folclóri- rém, que existem em Pirandello pontos de vista que podem ser vincu-
cos, bem como Gualino no terreno econômico -prático (e, mais ainda, lados gencrica111cnte a uma concepção do 111un<lo que, grosso modo,
Luca Cortese, que é a carjcatura de D'Annunz io e Gualino), e também pode ser identificada com a concepção subjetivista. Mas.o problema é
Scarfoglio, embon1 mcncls do que D'Annunzio. Mas D' Annnnzio me- o seguinte: 1) Estes pontos de vista são apresentados de maneira "filo-
nos que outros, gra~·as a sua c11ltur;1 superior e não lig,1Ja de 111odo
1 sófica", 011 os pcrsonJgc ns vivc1n tais pontos Jc vista co1110 111odo Jc
imediato à mentalida de do romance de folhetim. São muitos os indivi- pensar individua\? Ou seja, a "filosofia" implícita é explicitam ente
dualistas-anarq11istJs p()pt1\;1rCS t}llC parcCC!ll prcciS:l!llClltC, ter S;tlta-
1
apenas "'cult11ra" e ""cticicL1dc" individuai s, ísto L\ existe, pelo 111e11os
do das páginas de romances de folhetim. em certa medida, um processo de transfiguração artística no teatro
Esse provincianismo Íolclórico tem outras características na Itália·, pirandelliano? E mais: trata-se de um reflexo sempre igual, de caráter
liga-se a ele o que aparece aos estrangeiros como um histrionismo ita- lógico, ou, ao contrário, as posições são sempre diversas, isto é, de
liano, uma teatralidad e italiana, algo de filodramático, aquela ênfase caráter fantástico?; 2) Tais pontos de vista são necessariamente de ori-
no dizer as coisas mais banais, aquela forma de chauvinismo cultural gem livresca, erudita, tomados de sistemas filosóficos individuais, ou,
que Pascarella retrata na Scoperta dell'America, a admiração pela lin- ao contrário, existem na própria vida, na cultura da época e, até mes-
guagem própria dos librctos de ópera, etc. mo, na cultura popular de nível inferior, no folclore?
Este segundo ponto me parece fundamental e pode ser resolvido
§ 15. O teatro de Pirandello. Pirandello talvez tenha razão quando mediante um exame comparati vo dos diversos dramas, os concebidos
é o primeiro a protestar contra o "pirandellis~o", isto é, quando afir- em dialeto e nos quais se representa uma vida local, "dialetal", e os
ma que o chamado pirandellis mo é uma construção abstrata de pre- concebidos em língua literária e onde se representa uma vida supra-
tensos críticos, não autorizada por seu teatro concreto, uma fórmula dialetal, de intelectuais burgueses de tipo nacional e mesmo cosmopo-
cômoda, que esconde freqüentem ente interesses culturais e ideológi- lita. Ora, parece que, no teatro dialetal, o pirandellis mo é justificado
cos tendencio~os, que não querem confessar-se explicitamente. É cer- por modos de pensar "historicam ente" populares e popularescos, dia-
to que Pirandello foi sempre combatido pelos católicos: lembrar o fato letais; ou seja, não se trata de "intelectuais" travestidos de pess9as do
de que Liolà foi retirada do cartaz após as gritarias encenadas no Tea- povo, de pessoas do povo que pen.sam como intelectuais, mas de reais

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DOS CADERNO S MISCELÂ NEOS
CADERNO S DO CÁRCE-RE

(historirnmente, regionalmente) pessoas do povo sicilianas, que pen- do que um poeta? Ou onde será que ele é realment e poeta, onde sua
sam e agem assim precisamente porque são populare s e sicilianos. O atitude crítica tornou-s e conteúdo -forma de arte e não apenas "polê-
fato de não serem católicos, tomistas, aristotélicos não significa que mica intelectu al", logicismo, ainda que não de filósofo, mas de "mo-
não sejam populare s e sicilianos; o fato de que não possam conhecer a ralista" em sentido superior ? Parece-m e que Pirandel lo é artista
filosofia subjetivista do idc;1\ismo moderno não quer dizer que não precisam ente quando é "dialetal " e penso que Liolà seja sua obra-
possam existir, na tradição popular, filões de caráter "dialétic o" e prima; n1as, certamente, também no teatro "literário " podem ser iden-
imanentista. Se isto fosse demonstrado, todo o castelo do pirandellismo tificados muitos "fragmen tos" de grande beleza.
-isto é, do intelectualismo abstrato do teatro pirande lliano- ruiria, Literatur a sobre Pirandello. No campo católico: Silvio D' Amico,
como provavel mente acontecerá. II teatro italiano (Treves, 1932) e algumas notas da Civiltà Cattolica.
Mas não me parece que o problema cultural do teatro pirandelliano O capítulo de D'Amico sobre Pirandell o foi publicad o na Italia Let-
já esteja esgotado nestes termos. Temos em Pirandel lo um escritor tcraria de 30 de outubro de 1932 e provocou uma viva polêmica entre
"siciliano '\ que consegue conceber a vida local ein termos "dialetai s", o próprio D'Amico e Italo Siciliano, na !ta/ia Letteraria de 4 de de-
folclóricos (ainda que seu folclorismo não seja aquele influenciado pelo zembro de 1932. ltalo Siciliano é autor de um ensaio, II teatro di L.
catolicismo, mas aquele que se manteve "pagão", anticatólico sob a Pirandello, que parece ser muito interessante, já que trata precisamen-
casca católica supersticiosa), e que, ao mesmo tempo, é um escritor te da "ideolog ia" pirandelliana. Para Siciliano, não existe o Pirandell o
''italidno " e um escritor "europeu ". E temos ainda mais em Pírandello: "filósofo ", isto é, a chamada "filosofia pirandell iana" é '~uma melan-
a consciência crítica de scr ao mesmo tempo, "siciliano", "italiano " e
1
cólica, variada e contradit ória colcha de retalhos de lugares-comuns e
"europeu ", e nisso reside tanto a debilidade artística de Pirandel lo de sofismas decrépito s"; "a famosa lógica pirandell iana é um vazio e
ciuanto seu grande sip-nificado ''cultural '' (como observei cn1 outras defeituos o exercício dialético"; e "uma e outra (a lógica e a filosofia)
notas) L89J. Esta "concradição", que é íntima ern Pirandel!o, ganhou constitue tn o peso 1norto, a :u1i.::or<1 que puxa para Ü<tixo- e por vezes
expressão explícita em alguns de seus trabalhos narrativos (numa lon- de modo fatal - uma obra de arte de inegável poder". Para Siciliano,
ga novela, parece-me que li turno, é figurado o encontro entre uma "a penosa cavilação de P. não se transformou em lirismo ou poesia, mas
mulher siciliana e.um marinheiro esc11ndinavo, entre duas "províncias" se manteve em estado bruto; e, não sendo profunda mente vivida, mas
tão longínquas historicamente) [90]. Mas o que importa é o seguinte: plaquée, inassimilada, por vezes incompatível, prejudicou, estorvou e
o sentido crítico-histórico de Pirandello, se o levou no campo cultural sufocou a verdadei ra poesia pirandelliana". Siciliano, ao que parece,
a superar e dissolver o velho teatro tradicional, convcncionc1l, de men- reagiu à crítica de Adriano Tilgher, que fizera de Pirandello o "poeta
talidade católica ou positivista, apodreci do no mofo da vida regional do problem a central", ou seja, considerara co1no "original idade artís-
ou de ambientes burgueses medíocres e abjetamente banais, terá con- tica" de Pirandel lo o que era um simples elemento cultural, que devia
seguido gerar criações artísticas bem-sucedidas? Embora o intelectua- manter-s e subordin ado e ser examina do no terreno cultural. Para
lismo de Pirandello não seja aquele identificado pela crítica vulgar (de Siciliano, a poesia de Pirandello não coincide com este conteúdo abstra-
origem católica tendenciosa ou tilgherian amente diletante), pode-se to, de modo que esta ideologia é completa mente parasitária: assim
dizer que Pirandell o está livre de qualquer intelectualismo? Não será parece, pelo menos, e, se é assim, não parece correto [91]. Deve-se
ele mais um crítico do teatro do que um poeta, mais um crítico da cul- admitir que este elemento cultural não é o único de Pirandell o e, de
tura do que um poeta, mais um crítico do costume nacional-regional resto, trata-se de uma questão de verificação filológica; e deve-se tam-

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

bém admitir que este elemento cultural nem sempre foi artisticamente aceitando as argumentações críticas de Tilgher, tenha terminado por
transfigurado. Mas, de qualquer modo, resta a estudar: 1) se ele se adequar-se a elas; e, por isso, será preciso distinguir entre o Pirandello
tornou arte em algum momento; 2) se, como elemento cultural, teve anterior e aquele posterior à hermenêutica tilgheriana.
uma função e um significado na modificação do gosto do público,
desprovincianizando-o e modernizando-o, e se modificou as tendências § 17. Literatura popular. Se é verdade que, num certo sentido, a
psicológicas, os interesses morais dos demais escritores de teatro con- biografia romanceada prossegue o romance histórico popular do tipo
fluindo com o melhor futurismo no trabalho de destruição do ;ardio Alexandre Dumas pai, pode-se então afirmar que, deste ponto de vis-
• • 1
01tocent1smo pequeno-h:µrguês e filisteu. ta, neste setor específico, a Itália está "preenchendo uma lacuna". Deve-
A posição idcológic~ de D'Amico cm face do "pirandellismo" ex- se ver o que a Editora "Corbaccio'~ e algumas outras têm publicado, e 1

pres~a-se nas seguintes palavras: "Com licença dos filósofos que, como sobretudo, os livros de Mazzucchelli. Deve-se notar, porém, que a bio-
Heracltto, pensam o contrário, é certíssimo que, em sentido absoluto, grafia romanceada, se tem um público popular, não é popular em sen-
nossa personalidade é sempre idêntica e una, desde o nascimento até 0 tido completo, como é o caso do romance de folhetim: ela se dirige a
além; se cada um de nós-.!fosse 'vários', como diz o pai nos Seis perso- um público que tem ou acredita ter pretensões de cultura superior, ou
nagens, cada um destes 'vários' não poderia nem desfrutar dos benefí- seja1 à pequena burguesia rural e urbana, que acredita ter se tornado
ci~s nem pagar as dívidas dos 'outros' que leva.em si; ao contrário, a "classe dirigente" e árbitro do Estado. O tipo moderno do romance
unidade da consciênci;1 nos diz q11c caJa un1 de nós é sempre 'aquele' popular é o romance policial: e, neste terreno, cst:1n1os na estaca zero_
e que Paulo deve redimir as culpas de Saulo, já que, mesmo tendo se Também estamos na estaca zero no caso do romance de aventuras cm
tornado um 'outro', trata-se scinpre da n1csma pessoa." sentido amplo, seja do tipo Stevcnson, Conrad, London, seja do tipo
Este modo de colocar a questão é bastante tolo e ridículo; e, de francês moderno (Mac-Orlan, Malraux, etc.) [92]. {C}
resto, seria o caso de ver se na arte de Pirandello não predomina 0
humorismo, ou seja, se o autor não se diverte fazendo nascer certas § 19. Literatura popular. O gosto melodramático. Como combater
dú:idas "filosóficas" em cérebros não filosóficos e mesquinhos, com 0 o gosto melodramático do italiano comum quando se aproxima da li-
objetivo de "ridicularizar" o subjetivismo e o solipsismo filosófico. As teratura e, particularmente, da poesia? Ele crê que a poesia seja caracte-
tradições e a educação filosófica de Pirandello são sobretudo de ori- rizada por certos traços exteriores, entre os quais predomina a rima e
gem "positivista" e cartesiana à francesa; ele estudou na Alemanha, mas o estrépito dos acentos prosódicos, mas sobretudo pela solenidade
na Alemanha da erudição filológica pedante, de origem não certamen- bombástica, retórica, e pelo sentimentalismo melodramático, isto é, pela
te hegeliana, mas precisamente positivista. Na Itália, foi professor de expressão teatral, ligada a um vocabulário barroco. Uma das causas
estilística e escreveu sobre a estilística e o humorismo, não certamente deste gosto deve ser buscada no fato de que ele se formou não na lei-
segundo as tendências idealistas nco-hcgcli,111as} mas, ao contrúrio, em tura e na meditação íntima e individual da poesia e da arte, mas nas
sentido positivista. Por isso, cabe precisamente confirmar e deixar ela~ manifestações coletivas, oratórias e teatrais. E, por "oratórias", não se
roque a "ideologia" pirandelliana não tem origens livrescas e filosófi- deve entender apenas os comícios populares de famigerada memória,
cas, mas está vinculada a experiências socioculturais vividas, com uma mas toda uma série de manifestações de tipo urbano e rural. Na pro-
mínima contribuição de caráter livresco. Não se pode excluir que as víncia, por exemplo, dá-se muita atenção à oratória fúnebre e à das
idéias de Tilgher tenham reagido sobre Pirandello, isto é, que Pirandello, pretorias e tribunais (e também das juntas de conciliação): todas estas

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CADERNOS DO CÁRCfRE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

manifestações têm um público de "torcedores" de caráter popular, e que se chama "histrionismo"; mas existem também outras formas, q~e
um público constituído (no caso dos tribunais) pelos que esperam sua não são degradadas, ou que são menos degradadas, algumas das quais
vez, testemunhas, etc. Em certas sedes de tribunais distritais, a corte são normais e mesmo meritórias. Na realidade, cada um de nós tende,
está sempre cheia destes indivíduos, que decoram as frases torneadas e ainda que a seu modo, a criar um caráter, a dominar certos im~ulsos~e
as palavras solenes, que as ruminam e recordam. O mesn10 ocorre nos instintos, a adquirir certas formas "sociais", que vão do esnob1smo as
funerais de figurões, aos quais comparece uma grande n1ultidão, mui- conveniências, ao comportamento correto, etc. Ora, o que significa:
tas vezes apenas para 0uvir os discursos. "o que realmente somos", mas do que nos esforçamos po~ parecer
As conferências nas cidades têm a mesma função, assim como os "diferentes"? O "que realmente somos" seria o conjunto dos impulsos
tribunais etc. Os teatros populares, com os chan1a<los cspct:ículos de
1
e instintos animalescos; e aquilo com que buscamos nos parecer é o
arena (e hoje, talyez, o cinema falado, mas também os letreiros do "modelo" social e cultural de uma certa época histórica, ou seja, o que
velho cinema mudo, r.:digidos todÜs em estilo melodramático), são pretendemos chegar a ser. Parece-me que o " que rea1mente somos,,,e
da máxima importância para criar este gosto e a linguagem a ele ade- dado pela luta por nos tornarmos aquilo que queremos chegar a ser.
quada. Como notei em outro local, Pirandello é criticamente um "aldeão"
Combate-se este gosto de dois modos principais: através de sua siciliano, que adquiriu certas características nacionais e certas caracte·
impiedosa crítica, mas também através da difusão de livros de poesia rísticas européias, mas que sente em si mesmo estes três elementos de
escritos ou traduzidos em língua não "áulica" e nos quais os sentimen· civilização como justaposços e contraditórios [95]. Desta experiência
tos expressos não sejam nem retóricos nem melodramáticos. veio-lhe a atitude de observar as contradições nas personalidades dos
Cf. a Antologia compilada por Schiavi; poesias de Gori. Tradução outros e, ademais, até inesmo a de ver o drama da vida como o drama
possível de M. Martinct e de outros escritores, n1ais numerosos hoje destas contradições.
do que no passado: traduções sóbrias, como as que Togliatti fez de De resto, um elemento não só do teatro dialetal siciliano (I:aria
Whitman e Martinet [93]. dei Continente), mas de todo teatro dialetal italiano e também do ro-
mance popular é a descrição, a sátira e a caricatura do provinciano que
§ 21. O teatro de Pirandello. Deve-se ver, na "ideologia" piran- quer aparecer "transfigurado" num personagem "nacional" ou euro·
delliana, o quanto exista, por assim dizer, da mesma origem daquilo peu-cosmopolita [96]. Tal elemento é somente um reflexo do fato de
que parece formar o núcleo dos escritos "teatrais" de Nicolau Evreinov que ainda não existe uma unidade nacional-cultural no povo italiano,
[94]. Para Evreinov, a teatralidade não é apenas uma determinada for- de que o "provincianismo" e o particularismo ainda estão enraizados
ma de atividade artística, aquela que se expressa tecnicamente no tea- no costume e nos modos de pensar e agir; e não só disso, mas também
tro propriamente dito. Para Evreinov, a "teatralidade" está na própria do fato de que não existe um "mecanismo'' para elevar coletivamente
vida, é uma atitude própria do homem, na medida em que o homem a vida do nível provinciano ao nacional europeu, e, portanto, as ''incur·
tende a crer e a se fazer crer diferente daquilo que é. É preciso conferir sões" os raids individuais neste sentido assumem formas caricaturais,
com atenção estas teorias de Evreinov, pois me parece que ele capta '
mesquinhas, "teatrais", ridículas, etc., etc.
um traço psicológico exato, que deveria ser examinado e aprofundado.
Ou seja, existem várias formas de "teatralidade" neste sentido: uma é § 28. Literatura popular. Luigi Volpicelli, na ltalia Letteraria de 1°
aquela comumente conhecida e que se manifesta na forma caricatural de janeiro de 1933 (no artigo "Arte e Religione"), observa: "Este (o

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DOS CADERN OS MlSCELÂ NEOS
CADERN OS DO CÁRCER E

1
povo)~ p~de-se observar 1entre parênteses, sempre amou a arte mais pelo corpora tivo); e, finalmente, há os que são universais, isto é, "nacion al-
que nao e arte do que pelo que é essencial à arte; e, talvez precisamen- popular es". A estética de Croce provoco u muitas degenerescências
te por isto, des_confia tanto dos artistas de hoje, os quais, desejando na artísticas; e, de resto, não é verdade que isto tenha ocorrid o sempre
art_e ~ ~ura e simples arte, termina m por se tornar enigmáticos, inin- contra as intençõ es e o espírito da própria estética crociana; ocorreu
teltg1ve1s, profetas de poucos iniciados." isso no caso de muitas degenerescências, decerto, mas não no caso de
Observação sem sentido nem base; é certo que o povo quer uma todas, e, particul armente , não no desta degenerescência fundamental:
arte "históri ca" (se não se quer empreg ar a palavra "social"), isto é, a do "individualismo'' artístico expressivo anti-histórico (ou anti-social,
quer uma arte expressa em termos culturai s "compre ensíveis " ou seja ou antinacional-popular).
universais, "objetiv os", "históri cos" ou "sociais", o que é a m~sma cai~
sa. Não quer "neolali smos" artísticos, sobretu do se 0 "neoláli co" for § 31. Os filhotes do Abade Bresciani. A muitos pseudop oetas mo-
também um imbecil. dernos se poderia aplicar o verso de Lasca contra Ruscelli: "ladrõe s de
Parece-me que o problem a deve ser sempre formula do a partir da Febo e das Musas". E, mais do que de poesia, deve-se, de fato, falar de
segmnte pergunt a: "Por q. ue os poetas escrevem? Por que os pintores patifaria para obter prêmios literário s e subvenções da Academia [97].
.
pmtam. ' etc. "(R ecor_dar o artigo de Adriano T1lgher naitalia che scrive.)
Cr~ce_ respond e mais ou menos o seguinte: p~ra se recorda § 35. Os filhotes de Padre Bresciani. Multiplicam-se os escritos so-
rem das
propna s obras, já que, segundo a estética crociana, a obra de arte é bre a separaçáo entre arte e vida. Artigo de Papini, na NuovaA nto/o-
"perf~ita",_ já e apenas, no cérebro do artista. O que se poderia gia de 1º de janeiro de 1933; artigo de Luigi Chiarini na Educazi one
admitir
aprox1mat1v:1n1cntc e c1n certo sentido. r-..1:is só ;1prnxini:itiv:1inentt: e Pi1sr:isfrl de dt·zl'111hro de 19.112. 1\t.1q11es L'ontra P.1pini na Itali11
Lr?t-
em certo sentido. Na real idade, volta-se à questão da "nature za do teraria, etc. Polêmicas aborrecidas l'. bastante incunclu<lcntcs. Papini é
homem " e à questão do_ "que é o indivíduo?". Se o indivídu o não pode católico e anticrociano; as contradições de seu escrito superficial re-
ser pensado for: da sociedade (e, portanto , se nenhum indivídu o pode sultam desta dupla qualidade. De qualque r modo, esta renovação das
ser pensado a nao ser como historic amente determi nado) é evidente po1êmicàs (alguns artigos de Critica Fascista, os de Gherard o Casini e
que todo indivídu o e também o artista, e toda sua atividade, não po- um de Bruno Spampa nato contra os intelectuais, são os mais significa-
dem ser pensado s fora da sociedade, de uma determi nada sociedade. tivos e os que mais se aproximam do núcleo dei qnestão) é sintomá tica
O artista, portanto , não escreve ou pinta, etc., isto é, não "registr a,' e mostra como se sente o mal-estar decorre nte do contrast e entre as
externarn~nte su.as fantasias apenas para "sua recordaç ão pessoal"
palavras e os fatos, entre as afirmações peremp tórias e a realidade que
, para
poder reviver o instante da criação, mas só é artista na medida em que as contradiz.
"registra" externamente, em que objetiva, historiciza suas fantasias. Mas Ao que parece, contudo , tornou- se hoje mais possível reconhe cer
todo indivíduo-artista o é de modo mais ou menos amplo e abrangente a realidade da situação: há indubita velment e maior boa vontade para
mais ou menos 'ºhistórico" ou "social". Existem os "neoláli cos" e 0~ compreender, maior ausência de preconceitos, o que decorre do difuso
"adepto s de jargão", isto é, os que s;10 os únicos a poder reviver are- espírito antiburguês, ainda que genérico e de origens espúrias. Pelo
1 menos, há o desejo de criar un1a efetiva unidade nacional-popular, ainda
cordaçã o do instante cri4dor (e trata-se freqüen temente de uma ilu-
são, da recor~açã~ de urr; sonho ou de uma veleidade); há outros que
1
que com n1cios extrínsecos, pcd<1gógicos, cscol:1sticos, por meio do
pertenc em a 1gre;mhas mais ou menos amplas (que têm um jargão "voluntarismo". Pelo menos, sente-se que não existe es..ta unidade e que

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DOS CADERNO S MISCELÂ NEOS
CADERNO S DÓ CÁRCE.RE

tal inexistên cia é uma debilidad e nacional e estatal. Isto diferenc iara· for estudada como um fenômen o de provincia nismo francês, será muito
dicalmen te a época atual daquela dos Ojetti, dos Panzini & Cia. Por- mal co1npreendida. Mas é preciso distingui r: na admiraçã o pelas coisas
tanto, deve ser levado em conta no tratamen to desta rubrica. De resto, da França, está mesclado um sentimen to nacionJl antifranc ês: vive-se
de reflexo e ao mesmo temno se odeia. Pelo menos entre os intelectuais.
as debilidad es são evídcntes : a primeira consiste na convicçã o de que ' . '
ocorreu uma radical mudança popular-n acional; se ocorreu, isso quer No povo, os ~entimentos "franceses" 11~10 são deste tipo, mas aparecem
dizer que já não se trata mais de fazer nada radical 1 mas apenas de como "'senso comum", como coisas próprias do próprio povo; e o povo
"organiz ar", educar, etc.; quando muito, fala-se de "revoluç ão perma- é francófilo ou francófob o 1 conforme seja ou não instigado pelas forças
nente", mas com significa do restrito, na costumei ra acepção de que dominant es. Era cômodo fazer crer que a Revoluçã o de 1789, porque
toda a vida é dialética, é militânci a e, portanto , é revolução . As outras ocorrera na França, era como se tivesse ocorrido na Itália, mas só na
debilidad es são de compree nsão mais difícil; com efeito, podem reve- medida em que era cômodo servir-se das idéias francesas para guiar as
lar-se apenas depois de uma análise exata da composiç ão social italia- massas; e era cômodo servir-se do antijacobínismo ultra-reac ionário para
na, da qual fica evidente que a grande massa dos intelectu ais pertence investir contra a França, qu<ln<lo isto era útil.
àquela burguesi a rural cuja posição econômi ca só pode ser mantida se
as massas campone sas forem espremid as até a medula. Quando fosse § 39. Literatura popu/,ir. Mm1zo11i e os "humildes". A atitude "de-
necessári o passar das palavras aos f:ltos concretos , isto significt1ria uma mocrática~' de Manzoni diante dos "humilde s" (cm Os noivos) enquanto

dL·strui:i·;iu r.1dic:d d.1 h,1sc ccu11ô1nica Jcstc.s grupu.s intck:i.:tu ,lis. é Jc urigc1n '\:ríst:1" e L'll\]ILlltlu ~h-v~· :-.lT lit.a,L1 ,tn.'> 111tlTL'SSL'S his[o-
riográfic os que Manzoni recolhera de T"hierry e Je suas teorias sobre o
§ 3 7. Literatura pop11lar. !tálio e Frmu,:a. Pode-se talvez afirmar que conflito entre as raças (conquis tadora e conquista da) convertid o em
toda :1 vida intelectual it:1li:1na até 1900 (e, mais prccisan1cntc, até a for- conflito de classes. Est,as t1:ori:1s de l'hiL'rry dcvi.:111 ser examina das en~
n1:l~·i10 J:1 L·nrrL·ntc c11lti1ral idl'alista Crocc-(;c ntill'), na n1l'Jida cm que quanto são ligadas ao ron1;ulti.-;n1u e a seu interesse liístórico pela Ida-
tem tendência s democráticas, isto é, na medida em que pretende (mes- de Média e pelas origens das nações moderna s, isto é, apontada s nas
mo se nefT' sen1pre o consegue) entrar em contato com as massas popu- relações entre raças germânic as invasoras e raças neolatina s invadidas ,
lares) é simplesm ente um reflexo francês, da onda democrát ica francesa etc. (Sobre este tema do "democr atismo" ou "populis mo" de Manzoni ,
que teve origem·n a Rcvol11ção de 1789: a artificiali dade desta vida resi- cf. outras notas [98].) Ainda sobre este ponto d,is relações entre a ati-
de no fato de qtre, na lt,ília, ela não teve as premissas históricas que, ao tude de Manzoni e as teorias- <le 'fhierry, deve-se consultar o livro de
contr,í.rio, existiram na França. N.1da ocorreu-n a Itália de similar à Re- Zottoli, Vniili e potenti 11ella µoetica di A. Manzo1ú.
volução de 1789 e às !tna.s que a ela se seguiram ; mas "se falava" na Em Manzoni , estas teorias de Thierry se cumpl1cam ou, pelo me-
Itália como se tais pre1nissas houvessem existido. Compree nde-se, con- nos, ganham novos aspecto~ na discussiio sobre o "romanc e históri-
tudo, que um ral modo de falar só podia ser da boca para fora. Deste co", na medida em que este represent a pessoas das "cla.sses subaltern as"
ponto de vista, entende-s e o signíficado "naciona l", ainda que pouco que não têm "história ", isto é, cuja história não deixa marcas nos do-
profundo , das correntes conserva doras e reacionJ.rias em con 1paração cumento s histórico s do passado. (Este ponto deve ser ligado à rubrica
com as democráticas; estas últimas eram grandes "fogos de palha", de "Históri a das classes subaltern as", na qual se pode fazer referênci a às
grande extensão superficial, enqu,1nto aquelas eram de pequena exten- doutrina s de Thierry, que) de resto, tiveram gr~1.nde importân cia para
sdo, mas muito enraizada s e intensas. Se a cultura italiana até 1900 não as origens da historiog rafia da filosofia da práxis [99].)

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!i
CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

§ 41. Balzac. (Cf. outras notas: referências à admiração por Balzac um ocioso[!!], um sábio, um homem de Estado, um comerciante, um
dos fundadores da filosofia da práxis; carta inédita de Engels, onde maruj,o, um poeta, um pobre[!!], um padre, são tão consideráveis quan-
esta admiração é justificada criticamente [100].) Cf. o artigo de Paul to as que distinguem o lobo, o leão, o ~sno, o corvo, o tubarão, o lobo-
Bourget, "Les idées politiques et sociales de Balzac'', nas Nouvelles marinho, a ovelha, etc." [101) ·
Littéraires de 8 de agosto de 1931. Bourget começa observando como O fato de que Balzac tenha escrito tais coisas e de que talvez as
hoje se atribui cada vez mais importância às idéias de Balzac: "A escola levasse a sério, imaginando construir todo um sistema social com base
tradicionalista (isto é, reacionária), que queremos fazer crescer a cada em tais metáforas, não surpreende e em nada diminui a grandeza de
dia, inscreve o nome de Balzac ao lado do de Bonald, de Le Play, do Balzac artista. O surpreendente é que, em nossos dias, Bourget e (como
próprio Taine." Mas não era assim no passado. Sainte-Beuve,_no arti- ele diz) a "escola tradicionalista" se baseiem nestas pobr~s f~~tasi_as
go dosLundis consagrados a Balzac após sua morte, nem sequer se refere "científicas" para construir sistemas político-sociais sem a 1ust1f1caçao
a suas idéias políticas e sociais. Taine, que admirava o romancista, ne- da atividade artística. ·
gou-lhe qualquer importância doutrinária. O próprio crítico católico Partindo de tais premissas, Balzac põe o problema de "aperfeiçoar
Caro, por volta do início do Segundo Império, considerava fúteis as ao máximo estas espécies sociais" e de harmonizá-las entre si; mas, dado
idéias de Balzac. Flaubert escreve que não vale a pena discutir as idéias que as "espécies" são criadas pelo ambiente, será preci~o "conserv,a~"
políticas e sociais de Balzac: "Ele era católico, legitimista, poprietário, e organizar 0 ambiente dado, a fim de manter e aperfeiçoar a espe~e
um grande homem de bem, mas de segunda ordem." Zola escreve: dada. Parece que Flaubert não se equivocava quando escreveu que nao
"Nada mais estranho do que este defensor do poder absoluto, cujo vale n pena discutir as idéias sociais de Balzac. E o artigo ?e Bourgct
talento é csscncial111cntc dl'tllocr;ítico l' qt1l' l'.SLTl'VCll a obra 111ai.s rl'VO- revela apenas q11:tnto se fossilizou a escola tr;idit:io1.Ltlista :r;11~ccs;i.
lucionária. "·Etc. Mas, se toda a construção de Balzac não tem 1mportanc1a como
Compreende-se o artigo de Bourget. Trata-se de encontrar em "programa prático", isto é, do ponto de vista adotado por Bourget pa~a
Balzac a origem do romance positivista, mas reacionário, a ciência a examiná-la, nela existem elementos que têm interesse para reconstruir
serviço da reação (tipo Maurras), que, de resto, é o destino mais exato 0
mundo poético de Balzac, sua concepção do mundo enquanto. se re~­
do positivismo estabelecido por Comte. lizou artisticamente, seu "realismo" que, mesmo tendo origens ideolo-
Balzac e a ciência. Cfl o "Prefácio geral" à Comédia humana, no gicas reacionárias, restauradoras, monárquicas, etc., nem por i~so é
qual Balzac afirma que o if]aturalista terá a eterna honra de haver de- menos realismo em ato. E compreende-se a admiração que nutriram
monstrado que "o animal é um princípio que toma sua forma exterior por Balzac os fundadores da filosofia da práxis: que o homem seja todo
ou, para falar com mais rigor, as diferenças de sua forma, nos meios 0
conjunto das condições sociais nas quais se <lesenvol:eu e vive, qu.e
onde se desenvolve. As espécies zoológicas resultam dessas diferenças. para "mud<l.r" 0 hon 1e111 seja preciso tnodificar este conju~t~L de :~nd1-
[... ]Compenetrado deste sistema[... ], compreendi que a sociedade se çóes, é algo claramente intuído por Balzac. Que ele sei~ .poht1ca e
assemelhava à natureza. Não transforma a sociedade o homem, segnn- socialmente" 1101 reacionário só se revela na parte extra-art1st1ca de seus
do os meios cm que se Jcsenvolve sua ação cin outros tantos indivíduos
1
escritos (divag~ições, prefácios, etc.). Í~ tarÍlbém verdade que este "con-
diferentes, à semelhança das variedades em zoologia? [... ]Existiram junto de condições" ou "ambiente" foi compreendido de modo. "n~tu-
pois, e existirão sempre, espécies sociais, como há espécies zoológicas. ra1.IS t a" ; e·om ct"i.to
e , B'1lz·1c
' precede uma dctcrminaJa corrente hterana
[... ]As diferenças entre um soldado, um operário, um administrador, francesa, etc.

244 24S
DOS CADERNOS MISCELÂN EOS
CADERNOS DO CÁRCERE

§ 45. Literatura popuillr. M<111zo11i. Adolfo Faggi, no !VLirzocco de parecer de Perpétua a Dom Abbondio, parecer que coincide com a
1° de ncvembro de 1931, escreve ;-1lgumas observc1çües sobre a senten- opini~o do Cardeal Borro1neo . No caso, porém 1 não se trata de uma

ça "Vox populi vox Dei" em Os noiuos. 1\ senten~::i é ciL-tda ductS vezes questão moral ou religiosa, mas de um conselho de prudência prática,
(segundo Faggi) no romance: umcl vez no último carítulo, onde é dita àitado pelo mais banal senso comum. O fato de que o Caràeal Borromeo
por Dom Abbondio a respeito do n1arquês sucessor JL' 1)0111 H.oJrigo: esteja de acordo com PerpC·rua nfao tc1n a in1port:1ncia que parece lhe
'"E depois não queren1 que se digc1 que é uni granJc ho111l'.n1! l)igo-o e atribuir Faggi. Ao que tudo indica, estú ligado ú época e ao fato de que
quero dizê-lo. E, aind<-l que cu me calasse, de n<lda serviria, já que to- a autoridade eclesiástica tinha poder político e influência; é muito na-
dos falam, e vo;t· populi, uo:c Dei." Faggi observa que este solene pro- tural que Perpétua pense que Dom Abbondio deva recorrer ao arcebis-
vérbio é t:mpregad o por Dom Abbondio um pouco enfc1ricam ente, po de Milão (serve apenas para mostrar como Dom Abbondio tinha
quando ele se encontra naquela feliz disposição de '1nimo por causa da peràido a cabeça naquele momento e como Perpétua tinha mais "es-
morte de Dom l~odrigo, etc.; ndo tem uma particuL1r irnport.1nc ia ou pírito de corpo" do que el_e), assim como é natural que Federico
significado . N.-l Outra vez, a senren~:a aparece no L'clpítulo XXXI, onde Borromeo fale daquele modo. A voz de Deus nada tem a ver com este
se faL1 da peste: "!\'1uito~ n1L·dicos ;linda, f:ü·cndo eco ,'t vuz do povo caso. Tan1pouco tem maior in1portânc ia o outro caso: Renzo não crê
(era, taJJtbétn neste caso, uoz de f)eus?) 1 ironizavam os ,tugúrios sinis- na validade do voto de castidade feito por Lúcia e nisto está de acordo
tros, as advC'rttncL1s ;1J11c;11.;:1dnr:1.-. de poucos, crc." () pr\ 1yl:rbio é ;1qui con1 o Padre Cristóvfio_ ~ll-at:1-se, t;1111bé1n nqni, de "'casuística " e não
citado l'lll it.1lí,1no e l'!llíl'. p.1rêntcsL·s, Lü111L'lltl)l1,!\':Hi1rl~lJll(,:,1. E111,)'pos; dl' 111oraL Faggi escreve que '"NLu1zo11i l]Uis LiZLT 111n ron1a11cc Jc hu-
pron1essi (capítulo III do ton10 I\; Ed. Lcsca), rvL1nzoni CSLTCYC longa- mildes", mas isto tem um significado mais complexo do que Faggí parece
mente sobre ;1s idéi as considLTad:J.s µera! n1cntc con10 vcrLi:llk·i r:1s numa supor. Entre Manzoni e os "'humildes ", há distanciam ento sentimen-
ou noutra época pelos homens e conclui que, se hoje: poc!crn ser consi- tal; os humildes são para hi1anzoni um "problcn11:1 de historiogra fia",
dcr,1J;1s ri<lícnL1.s as iJ{i.1s Liivul~:1d:1s entre o povo 1i.1 Cpo~·;1 da peste uni problema teórico que ele acredita poder resolver com o "romance
de :tv1iLlo, não poden1os s,1br.:r se id(i<ls de hoje n:10 sc-r:10 an1anhã con- histórico", com o ''verossín1il" do rom:::nce histórico. Por isso, os "humil-
sideradas ridículas [102]. Este longo r:1ciocínio contido na primeir<l des" são freqüentem ente apresentad os como "caricatura s" populares,
redação do romance é rc.:->un1idoi no texto definitivo, n<l breve pergun- coin benevolên cia irónica, mas irónica. E Manzoni é demasiada mente
ta: "Era, também neste caso, voz de Deus?" católico para pensar que a voz do povo seja a voz àe Deus: entre o
Faggi distingue entre cc:rtos casos nos qu~üsi para 1', L1nzoni, a voz povo e Deus, está a Igrej~ e Deus não se encarna no povo, mas na Igreja.
do povo não é a voz de Deus e aqueles nos qtL1i5 poJc .ser tctl. Não A crença de que Deus se encarna no povo pode ser a de Tolstoi, não a
seria voz de Deus "quando se trata de idéias, ou ine\ hor, de cognições de Manzoni.
espe-..:íficas, que só podem ser dercrmin;1 das pelei ciênciJ e por seus Esta atitude de Manzoni é certamente sentida pelo povo e, por isso,
contínuos progressos ; mas siin quando se trata daqueles princípios e Os noivos jamais foi uma obra popular: o povo sentia Manzoni senti-
sentimento s gerais, comuns por nJturezJ a todos os hon1ensi que os mentalme nte afastaào de si e seu livro como um livro àe àevoção, não
antigos compreen diam na bem conhecida express:10 Jc con.<>cie1ttid como uma epopéia popular.
generis hunzani". Mas Faggi não formula de modo muito exato a ques-
tão, qne não pode ser resolvida sem uma referência à religião de § 46. Os filhotes de Padre Bresciani. Falando de Gioacchin o Belli
l\1anzoni, a seu catolicisn1 0. Assin1 1 por cxen1p\0 1 rvpruduz o fan1oso na primeira edição de Ottocento (Ed. Vallardi), Guido Mazzoni faz uma

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEO S

descoberta impagável e que pode servir para caracterizar os escritores reduza o mundo a um convento. O problema é este: qual é o "verdadei-
desta rubrica, sobretudo Ugo Ojetti. Para Mazzoni, a debilidade de ro conformismo ", isto é, qual é a conduta "racional" mais útil, mais li-
caráter de Belli "transformav a-se numa ajuda de primeira ordem a suas vre, na medida em que obedece à "necessidade "? Ou seja: qual é a
faculdades artísticas, já que o fazia mais maleável às impressões" [103]. "necessidade "? Cada um é levado a fazer de si o arquétipo da "moda",
da "socialidade ", e a apresentar-s e como "exemplar". Portanto, a
§ 61. Crítica literária. Sinceridade (ou espontaneidade) e disciplina. socialidade, o conformismo é resultado de uma luta cultural (e não ape-
A sinceridade (ou espontaneida de) é sempre um mérito e um valor? É nas cultural), é um dado "objetivo" ou universal, do mesmo modo como
um mérito e um valor se disciplinada. Sinceridade (ou espontaneida de) não pode deixar de ser objetiva e universal a "necessidade " sobre a qual
significa máximo de individualismo, mas também no sentido de idios- se eleva o edifício da liberdade. Liberdade e arbítrio, etc.
sincrasia (originalidade, neste caso, é igual a idiotismo). O indivíduo é Na literatura {arte), contra a sinceridade e a espontaneid ade en-
original historicamen te quando dá o máximo de relevo e de vida à contra-se o mecanismo ou cálculo, que pode ser um falso conformis-
"socialidade ", sem a qual ele seria um "idiota" (no sentido etimológico, mo, uma falsa socialidade, isto é, uma acomodação às idéias feitas e
mas que não se afasta do sentido vulgar e comum). Existe um significa- costumeiras. Recordar o exemplo clássico de Nino Berrini, que "ficha"
do romântico da originalidade , da personalidad e, da sinceridade, signi- o passado e busca a originalidad e fazendo o que não aparece nas fi-
ficado que é historicame nte justificado na medida em que nasce em chas. Princípios de Berrini para o teatro: 1) extensão do trabalho: fi-
oposição a um certo conformism o essencialmen te "jesuítico": ou seja, xar a extensão média com base nos trabalhos que fizeram sucesso; 2)
um conformismo artificittl, fictício, criado Sllperficialmente para os in- estudo dos finais: que finais fizêram sucesso e arrancaram aplausos?;
teresses de um pequeno grupo ou facção, não de uma vanguarda. J-!á 3) estudo das combinações : por exemplo, no drama sexual burguês,
um conformism o "racional", isto é, corresponde nte à necessidade, ao marido, mulher, amante; ver que combinaçõe s são mais exploradas e,
mínimo esforço para obter um resultado útil; e a disciplina deste con- por exclusão, "inventar" novas combinações , mecanicame nte encon-
formismo deve ser exaltada e promovida, deve ser transformad a em tradas. Assim, Berrini descobrira que um drama não deve ter mais de
"espontaneid ade" ou °'sinc,eridadc". De resto, conformismo significa nada 50 mil palavras, isto é, não deve durar mais do que um certo tempo.
1
mais do que "socialidade ', mas cabe usar a palavra "conformism o" pre- Cada ato ou cena principal deve culminar de determinado modo e este
cisamente para chocar os imbecis. Isto não retira a possibilidade de que modo é experimenta lmente estudado, segundo uma média daqueles
se form; uma personalidad e e se seja original, mas torna a coisa mais sentimentos e estímulos que tradicionalm ente fizeram sucesso, etc. Com
difícil. E demasiadam ente fácil ser original fazendo o contrário do que tais critérios, certamente não ocorrerão catástrofes comerciais. Mas é
todos fazem; é uma coisa mecânica. É demasiadam ente fácil falar dife- este o "conformism o" ou "socialidade " a que aludimos? Certamente,
rentemente dos outros, ser neolálico: o difícil é diferenciar-se dos ou- não. É uma acomodação ao já existente.
tros sem para tanto fazer acrobacias. Ocorre que precisamente hoje se A disciplina é também um estudo do passado, na medida em que
busque uma originalidad e e personalidad e a baixo preço. As prisões e os o passado é elemento do presente e do futuro, mas não elemento
hospícios estão cheios de homens originais e de personalidad e forte. "ocioso" e, sim, necessário, enquanto é linguagem, isto é, elemento
Acentuar a· disciplina, a socialidade, mas pretender sinceridade, espon- de "uniformida de necessária", não de unfformidad e "ociosa" 1 pre-
taneidade, originalidade , personalidad e: eis o que é verdadeiram ente guiçosa.
difícil e árduo. Nem se pode dizer que o conformismo seja muito fácil e

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÃNEOS

§ 65. Literatura pnpllldr. O que corresp·onde, em literatura, ao o racionalismo ao "decorativismo" e este seja chamado de "arte indus-
"raciondlismo" arquitctt.iniL~o? Ccrtcimente a literatura ''segundo um tria\''. É curioso, mas correto. Com efeito, deveria sempre ser chama-
plano", isto é, a literar11r.i "funciontd", segundo uma oricntc1ção social da de "industria\" qualquer manifestação artística dirigida para satisfazer
preestabelecida. É estr~1nho que o r<-1ciona!ismo seja aclamaJo e justifi- o gosto de compradores individuais ricos, para "embelezar" a vida deles,
cado na arquitetura 1nas 11;10 nas demais artes. Nisto deve residir um
1
como se costuma dizer. Quando a arte, particularmente em suas for-
equívoco. Serú que só a arquitetura tem finalidades práticas? Decerto, mas coletivas, dirige-se para a críação de um gosto de massa, para a
na aparência parece ser assin1 1 jâ que a arquitetura constrói as casas de elevação deste gosto, não é "industrial", mas desinteressada, ou seja,
moradia; mas não se tr-c1ta disto: trata-se de "necessidade". Dir-se-á que arte. Parece-me que o conceito de racionalismo em arquitetura, isto é,
as casas são mais neccss:1rias Jo que ;1s dcn1ais artes; com isso, quer-se de "funcionalismo", é muito fecundo de conscqiiências no plano dos
dizer apenas que as casas são necessárias para todos, enquanto as de- princípios de política cultural; não é casual que ele tenha nascido pre-
mais artes só o são pJ.ra os intelectuais, para os homens de cultura. cisamente nesta época de "socializações" (em sentido amplo) e de in-
Caberia concluir que precis.1mente os "práticos" se propõem tornar tervenções de forças centrais para organizar as grandes massas contra
todas as artes necessári,-1s a todos os homens, a torn.ir todos "artistas". os resíduos de individualismos e de estéticas do individualismo na po-
E mais . .:\ coeri;ão soci,d! Quanto se Jcblatera conrra esta coerçii.o, sem lítica cultural.
pcns;1r que s1: trata dL· 11J11a p;liavra! /\ coLT\·ão, a oricnt:1\-:1u, o plano
são si1nplesn1cnte um terreno de selcçüo dos artisr:1s, naJa n1ais; e que § 72. Literatura popular. Conteúdo e forma. A aproximação destes
são selecionados para finalidades práticas, isto é, num campo onde a dois termos pode assumir, na crítica de arte, muitos significados. Mes-
vontade e a coerção sr10 perfeitamente justificáveis. Caberia examinar mo que se admita que conteúdo e forma são a mesma coisa, etc., etc.,
se a coerção não terá sempre existiJo! Se é exercida inconscienremen isto não significa ainda que não se possa fazer a distinção entre conteú-
te pelo ambiente e pelos indivíduos, e não por um ooder central ou do e forma. Pode-se dizer que quem insiste no "conteúdo" luta, na
por uma força centralizadora, deixa por isso de ser coerção? Trata-se realidade, por uma determinada cultura, por uma determinada con-
sempre, no fundo, de "racionalismo" contra o arbítrio individual. En- cepção do mundo, contra outras culturas e outras concepções do mun-
tão, a questão não diz respeito à coerção, mas ao fato de se tratar de do; pode-se também dizer que historicamente, até agora, os chamados
racionalismo autêntico, de real funcionalidade, ou de um ato de arbí- ''conteudistas" foram "mais democráticos" do que, por exemplo, seus
trio: eis tudo. A coerção só é tal para quem não a aceita, não para quem adversários parnasianos, isto é, pretendiam uma literatura que não fosse
a aceita: se a coerção se desenvolve segundo o desenvolvimento das para os "intelectuais", etc. Pode-se falar de uma prioridade do conteú-
forças sociais não é coerção, mas "revelação" de verdade cultural obti- do sobre a forma? Pode-se falar no seguinte sentido: de que a obra de
da com um método acelerado. Pode-se dizer da coerção o que os reli- arte é um processo e as modificações de conteúdo são também modi-
giosos dizem da determinação divina: para "os que a querem", ela não ficações de forma; mas é "mais fácil" falar de conteúdo do que de for-
é determinação, mas vontade livre. Na realidade, a coerção em ques- ma, já que o conteúdo pode ser "resumido" logicamente. Quando se
tão é combatida porque se trata de uma luta contra os intelectuais e diz que o conteúdo precede a forma, quer-se simplesmente dizer que,
contra certos intelectuais, os tradicionais e tradicionalistas, os quais, na elaboração, as sucessivas tentativas são apresentadas com o nome
quando muito, admitem que as novidades abrem caminho pouco a de conteúdo - e nada mais. O primeiro conteúdo que não satisfazia
pouco, gradualinente. É curioso que, em arquitetura, contraponha-se era também forma e, na realidade, quando se atinge a "forma" satis-

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

fatória, também o conteúdo se modificou. É verdade que, freqüente- doença do povo italiano, e o jornal, em função de suas necessidades,
mente, os que falam de forma, etc., contra o conteúdo são com- teve o grande mérito de "racionalizar" a prosa. Mas a empobreceu e
pletamente vazios, amontoam palavras que nem sempre se sustentam debilitou, o que também é um dano. Mas no povo, infelizmente, ao
sequer segundo a gramática (por exempló: Ungaretti); por técnica, lado dos "futuristas antiacadêmicos", existem ainda os "barroquistas"
forma, etc., entendem jargões vazios próprios de igrejinhas de cabeças convertidos. De resto, aqui se põe uma questão histórica, para expli-
ocas. car o passado, e não uma luta puramente atual, para combater males
Também esta questão deve ser posta entre as questões da história atuais, embora também estes não tenham desaparecido inteiramente e
nacional italiana, registradas em outra nota, e assume várias formas: ainda se encontrem sobretudo em algumas manifestações (discursos
1) há uma diferença de estilo entre os escritos dedicados ao público e solenes, notadamente fúnebres, patrióticos, ír.scrições idem, etc.).
os outros, como, por exemp o, entre as cartas e as obras literárias [104]. (Pode-se dizer que se trata de "gosto", e seria errado. O gosto é "indi-
É freqüente que pareça estarmos tratando de dois escritores diversos, vidual" ou de pequenos grupos; aqui se trata de grandes massas e, por-
tão grande é a diferença. Nas cartas (salvo exceções, como a de tanto, só pode se tratar de cultura, fenômeno histórico, existência de
D'Annunzio, que representa até mesmo diante do espelho, para si duas culturas: individual é o gosto "sóbrio", não o outro; o melodra-
mesmo), nas memórias e, e~ geral, em todos os escritos dedicados a ma é o gosto nacional, isto é, a cultura nacional.) Nem cabe dizer que
um público pequeno ou a si 'mesmo, predomina a sobriedade, a simpli- não é preciso ocupar-se desta questão: ao contrário, a formação de uma
cidade, o caráter imediato, enquanto nos demais escritos predomina a prosa víva e expressiva e, ao mesmo tempo, sóbria e comedida deve
retórica, o estilo oratório, a hipocrisia estilística. Esta "doença" é tão ser uma das finalidades culturais a serem propostas. Também neste caso
difundida que atingiu t~1n1bém o povo, para o qual, de fato, "escrever" forma e expressão se identificam; e insistir sobre a "forma" é apenas
significa "subir à tribuna", festejar, "fingir" um estilo retumbante, etc., um meio prático de trabalhar sobre o conteúdo, para obter uma defla-
de qualquer modo expressar-se diferentemente da maneira habitual; ção da retórica tradicional que deforma toda forma de cultura, até
e, dado que o povo não é literato e de literatura conhece apenas o libreto mesmo - e como! -- a "anti-retórica".
da ópera oitocentista, ocorre que os homens do povo "melodra- A questão sobre a existência ou não de um romantismo ítaliano
matizam". Eis então que "conteúdo" e "fonna", além de um significa- pode ter diversas respostas, a depender do que se entenda por "roman-
do "estético", possuem também um significado ''histórico". Forma tismo". E, por certo, foram muitas as definições dadas para o termo
"histórica" significa uma determinada linguagem, assim como '~con­ "romantismo". Mas a nós importa uma destas definições e não, preci-
teúdo" indica um determinado modo de pensar não apenas histórico, samente, o aspecto "literário" do problema. Romantismo assumiu, entre
mas "sóbrio", expressivo sem gesticulações excessivas, passional sem outros significados, o de uma específica relação ou ligação ent~e os
que as paixões sejam exacerbadas ao modo de Otelo ou do melodra- intelectuais e o povo, a nação; isto é, trata-se de um particular reflexo
ma; em suma, sem a máscara teatral. Creio que este fenômeno, como da "democracia" (em sentido amplo) nas letras (em sentido amplo, pelo
fenômeno de massa (j<Í que casos individuais ocorrem cm toda parte), qual até mesmo o catolicismo pode ter sido "democrático", ao passo
verifica-se apenas em nosso país. Mas é preciso estar atento, já que nosso que o "liberalismo" pode não tê-lo sido). É neste sentido que nos inte-
país é aquele no qual o arcádico convencional sucedeu o barroco con- ressa o problema no que se refere à Itália; e ele se liga aos problemas
vencional: mas sempre teatro e convenção. Deve-se dizer que, nestes que elencamos em série: o da existência ou não de um teatro itaiiano]
anos, as coisas melhoraram muito: D'Annunzio foi o último acesso de a questão da língua, a razã() por que a literatura não foi popular, etc. E

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

preciso 1 portanto, na imensa literatura sobre o romantismo, isolar este § 78. Passado e prese11te. Muitos dos temas recolhidos nesta rubri-
aspecto e por ele se interessar, teórica e praticamente, isto é, como fato ca "Passado e presente", na medida em que não tenham um alcance
histórico e como tendência geral que pode dar lugar a um movimento "histórico" concreto, isto é, que não sejam referidos a fatos particula-
atual, a um problema atual qÚe deve ser resolvido. Neste sentido, o res, podem ser agrupados em conjunto, segundo o modelo dos Ricordi
romantismo precede, acompanha, sanciona e desenvolve todo o movi- politici e civili de Guicciardini. O importante é dar-lhes a mesma
mento europeu que ganhou nome a partir da Revolução fr,1nccsai ele essencialidade e universalidade e clareza pedagógicas, o que, na verda-
é seu aspecto sentimental-literário (mais sentimental do que literário, de, não é pouca coisa; ao contrário, é tudo, tanto estilística quanto
já que o aspecto literário foi apenas uma parte da expressão da corren- teoricamente, ou seja, como pesquisa da verdade.
te sentimental que invadiu toda a vida e uma parte muito importante
da vida, e desta vida somente uma pequeníssima parte pôde encontrar
expressão na literatura). Portanto, a pesquisa é de história da cultura e
não de história literária, ou melhor, é de história literária enquanto parte
CADERNO 15 (1933)
e aspecto de uma mais ampla história da cultura. Pois bem: neste sen-
tido preciso, o romantismo não existiu na Itália e, no melhor dos ca-
§ 14. Características 11<io pop11lar-1111cio11nis da literatura italiana. Cf.
sos, s11;1s rn;111ifcst:t\'Õl'S fora1n n1ínirnas, csc1ssíssin1:1s e, dv q11;ilq11er
uni Jiscurso ~obre o tc1na "l;\i italiani c il ro111;1nzu", prünunciado por
n1odo 1 de aspccto pura1ncnte literário. (Sobre este ponto, é necessário
Angelo Gatti e reproduzido parcialmente pela Italia Letteraria de 9 de
recordar as teorias de Thierry e seu reflexo em Manzoni: teorias de
abril de 1933. Uma observação interessante parece ser a que se refere
Thierry que são, precisamente, um dos traços mais importantes deste
aspecto do romantismo do qual se pretende tratar.) Deve-se observar às relações entre moralistas e romancistas na França e na Itália. Na
como na Itália também estas discussões assumiram um aspecto inte- França, o tipo de moralista é bem diferente do italiano, que é mais
lectual e abstrato: os pelasgos de Gioberti, as populações "pré-roma- "político": o italiano estuda como "dominar", como ser mais forte, mais
nas", etc., nada que estivesse realmente vinculado ao povo atualmente hábil, mais astuciosoi o francês estuda como '~dirigir" e, portanto, como
existente, o qual, ao contrário, interessava a Thierry e à historiografia "compreender" para influenciar e obter um "consenso espontâneo e
política afim [105]. Afirmou-se que a palavra "democracia" não deve ativo". Os Ricordi politici e civili de Guicciardini são deste tipo. As-
se~ tomada neste sentido, apenas no significado, digamos, "laico" ou sim, na Itália, grande abundância de livros como o Galateo, no qual se
"laicista", mas também no significado "católico", até mesmo reacioná- dá atenção ao comportamento exterior das classes altas. Nenhum li-
rio, se assím se quiser; o que importa é o fato de que se busque uma vro como os dos grandes moralistas franceses (ou de ordem inferior,
ligação com o povo, com a nação, que se considere necessária não uma como em Gasparo Gozzi), com suas análises refinadas e capilares. Esta
unidade servil, devida a uma obediência passiva, mas uma unidade ati- diferença no "romance", que na Itália é mais exterior, tosco, sem con-
va, viva, qualquer: que seja o conteú~o desta vida. Esta unidade viva, teúdo humano nacional-popular ou universal [106].
independentemente de qualquer conteúdo, não ocorreu na Itália ou,
pelo menos, não ocorreu em medida suficiente para convertê-la num § 20. Características não nacional-populares da literatura italiana.
fato histórico; e, por isso, compreende-se o significado da pergunta: Polêmica travada na ltalia Letteraria, no Tevere, no Lavara Fascista,
"exislill un1 ro1n;1ntisn10 it:1li:ino?" na Critica Fascista, entre "conteudistas" e ''formalistas". Por algumas

25S
CADERN OS DOS CADERN OS MISCEL ÀNEOS
DO CÁRCER E

referências, parecia que Ghçrar do Casini (direto r do Lavoro Fascista sa de seu caráter cosmopolita, não coincidc1rr. com o conteú do naclona
e l1
redator -chefe da Critica Ftscista) tivesse formul ado o proble ma mas sim com um conteú do tomado de empréstimo a outros complexos
de nacionais ou mesmo com um conteú do abstrat amente cosmopolita.
modo exato, pelo menos cri ricamente; mas seu artigo na Critica de

de maio é decepcionante. Ele não consegue definir as relações entre Assim, pode-se dizer que Leopardi é o poeta do desespero trazido
a
"polític a" e "literat ura" nem no terreno da ciência e da arte política certos espíritos pelo sensualismo setecentista} ao qual não correspondia
,
nem tampou co no da crítica literária. Ele não sabe indicar pratica men- na Itália o desenvolvimento de forças e de lutas materiais e política
s
te como pode ser formulad~ e conduz ida uma luta, ou ajudad o um característico dos países nos quais o sensualismo era uma forma cultu·
movim ento, pelo triunfo de uma nova cultura ou civilização, nem ral orgânica. Quand o, no país atrasado, as forças cívicas corresp onden·
se
põe o proble ma de como pode ocorre r que uma nova civilização, afir- tes à forma cultural se afirmam e expandem, é certo que n8.o só elas
mada como já existen te, possa não ter uma express ão literári a e artís- não podem criar uma nova literatu ra original, mas é natural , ao con-
tica própria , possa não se expand ir na literatu ra, enquan to sempre trário, que exista um "formalismo", isto é, na realidade, um ceticism
o
ocorreu o contrár io na história, ou seja, que toda nova civilização, difuso e genérico em face de todo "conte údo" passional sério e pro-
na
medida em que era tal, ainda que reprim ida, comba tida, obstaculizada fundo. Portan to 1 o "forma lismo" será a literatu ra orgânica daquele
s
de todos os modos, expressou-se precisamente antes na literatu ra complexos nacionais que, como Lao-Tsé1 já nascem velhos de oitenta
do
que na vida estatal, ou melhor, sua expressão literári a foi o modo anos, sem frcscor e espor.taneidade de sentimento, sem "roman tismos"
de
criar as condições intelectuais e morais par~ a express ão legislativa ml:ls també1n sem "classicismos", ou con1 11n1 rorn;u1ti.s1no m:1ncirista1
e
estatal. Já que nenhum a obra de arte pode deixar de ter um conteú do, no qual a rustici dade inicial das paixõe s é a dos ."verões de ~d_o
isto é, de ser ligada a um mundo poético, e este, por sua vez, a um Mãrtin ho'\ de um velho artificial1ncnte cncrgiz:1do, nr10 de uma vin·
mundo intelectual e moral, é evidente que os "conteu distas" são sim- [idade e masculinidade impetuosas, ãssim como o classicLr;mo será tam·
plesmente os portado res de uma nova cultura, de um novo conteú do, bém maneir ista, ou seja, prccisan1cntc "'form<1!ismo'', mera forma,
ao passo que os "formalistas" são os portado res de um velho ou diver- tal como uma libré de mordo mo [107]. Teremo s "super- cegion alis-
so conteú do, de uma velha ou diversa cultura (indepe ndente mente mo" e "super cosmo politis mo", e o "super " t:erá mai~ signific ado
de do
qualqu er questão de valor sobre estes conteú dos ou "cultur as", embo- que parece.
.
ra, na realidade, seja precisamente o valor das cultura s em conflit o Deve-se notar, de resto, como falta a essa discussão qualqu er sene-
ea dade de preparn ção: as teorias de Croce podem ser acolhid as
superio ridade de uma sobre a outra o que decide o conflito). O pro- ou
blema, portan to, é de "histor icidade " da artei de "histor icidade e per- rechaçadas, mas seria preciso conhecê-las com exatidã o e citá-las com
petuida de" no próprio tempo, é de investigação sobre o fato de se escrúpulo. Ao contrár io, pode-se notar com?, durant e a discussão, elas
o são citadas de ouvido, "jornalisticamente". E evidente que o momen
dado bruto, económico-político, de força, sofreu (e possa sofrer) a to
ul-
terior elaboração que se expressa na arte, ou se, ao contrár io, trata-se "artístico" como categoria, em Croce, ainda que seja apresentado como
de pura econom icidade não elaborável artistic amente de um modo momen to da pura forma, não é o pressuposto de nenhum formalismo
original, na medida em que a elaboração preced ente já contém o novo nem a negação de qualqu er conteudismo, ou seja, da viva irrupçã o
de
conteúdo, que só é novo cronologicamente. Com efeito, dado que todo um novo motivo cultural. Tampouco conta, na realidade, a concre
ta
comple xo nacional é uma co111binação freqüen tement e heterog ênea atitude de Croce, como político, em face desta ou daquel a corrent e
de de
elementos, pode ocorrer qu~ os intelectuais de tal complexo, por cau- paixõe s e sentim entos; como esteta, Croce reivind ica o caráter
de

25 6 257
e AD E R N os Do e Á A}'.: E R E - DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

líricidade da arte, embora como político reivindique e lute pelo triun- intervalo é um sonho cheio de fantasmas e de medo." Swan escreveu a
fo de um determinado programa e não de outro. Aliás, graças à sua Manzoní: "'Um bárbaro que não era privado de gênio' é uma frase
teoria da círcularidade das categorias espirituais, parece ser inegável concebida para atrair sobre o senhor o anátema de todoS os admirado-
que Croce pressupõe no artista uma forte "moralidade" 1 ainda que não res do nosso bardo [108]." Embora Swan conhecesse os escritos de
considere a obra de <lrte como fato moral, mas como fato estético, isto Voltaire contra Shakespeare, não captou a ironia manzoniana, que se
é, clinda qne considere que o que está em jogo é um determinado mo- dirigia precisamente contra Voltaire (que havia definido Shakespeare
mento e 11;10 outro do círculo. Assim, por exemplo, inclui no momen- como un sauvage avec des étincelles de génie). Swan publicou, como
to económico tanto o brígantaggío como a especulação na bolsa, mas prefácio de sua tradução, a carta em que Manzoni lhe explica o signi-
não parece que, como homem, trabalhe mais para o desenvolvimento ficado de sua expressão irónica. Mas Franzi recorda que, nas outras
do brigmztaggio do que para a especulação na bolsa (e pode-se dizer traduções inglesas, a expressão manzoniana ou é silenciada ou tornada
que, em função de sua importância política, sua atitude não deixa de anódina ("escreve um escritor estrangeiro", etc.). O mesmo ocorre nas
ter repercussão sobre a especulação na bolsa). Este fato mesmo, o da traduções em outras línguas, o que demonstra como esta ironia, que
pouca seried,1de da discussão e o do reduzido escrúpulo dos polemistas tem necessidade de ser explicada para ser compreendida e saboreada,
cm ;1ssi1nilar os tcnnos do problcn1a e em buscar a cxarid:í.o, não é é no fundo u1na ironia c1n ''jargi10" de igrejinha literária. Parece-1ne
CLTt:uncnte 11111;1 pr(}v;1 dv que o prohll·rn:1 scJ;1 vir.d l' til· l'XL'cpcion;d que o f;tto { n111i10 ni;iis gvnLT;dizndo do q11L· p:1n.·l'C, dificult;u1do nií.o
in1t~urt,l11L·ia: é ni;lis un1;1 polê111ica Je pequenos e 111cdíocrcs jornalis- sun1cnte traduzir do itali;1no, inas t<1n1bén1 1 cun1 frcqilência, compreen-
tas Jo LjllC as '\.!ores do parto" Jc uma nova civilizaç~10 literária. der um italiano durante uma conversação. A "finura" que parece ne-
cessária em tais conversações não resulta da inteligência normal, mas
§ 24. Literatunt itt1lúlna. Deve-se levdr em conta a grande Storia do fato de que é preciso conhecer pequenos casos e atitudes intelectuais
de/111 letteratum italiana de Giuseppe Zonta, em quatro grossos volu- de "jargão", próprias de literatos e, até mesmo, de. certos grupos de
mes, com notas bibliográficas de Gustavo Balsamo-Crivei li, publicada literatos. (No artigo de Franzi, deve-se notar uma metáfora "femini-
peL1 Utet de Turim, por causa da atenção especial dada pelo autor à na" surpreendente: "Com o sentimento de um homem que, maltrata-
influência social no desenvolvimento da atividade literdria. A obra, do e esbofeteado por sua mulher por causa de uma suspeita ciumenta,
publicada em fascículos de 1928 a 1932, não deu lugar a grandes dis- alegra-se diante deste furor e bendiz as pancadas que lhe testemunham
cussões, :1 julgar pcL1s publicações disponíveis (li apenas uma mençüo o amor da esposa, assim Manzoni acolhe esta carta." Um homem que
apressad~-t na !ta/ia Letteraría). De resto, Zonta 11;10 é um recém-che- se alegra por apanhar da mulher é certamente uma forma original de
gado no campo da filologia (cf. seu L'anima dell'Ottocento, de 1924). feminismo contemporâneo.)

§ 37. Literatura italiana. NoMarzocco de 18 de setembro de 1932 § 38. Critérios de crítica literária. O conceito de que a arte é arte,
Tullia Franzi escreve sobre a questão surgida entre Manzoni e o tradu-
' e não propaganda política "deliberada" e projetada, é em si mesmc
tor inglês de Os noiuos, o pastor anglic:ino Charles S\\';-tn, a propósito um obstáculo à formação de dererrninadas correntes culturais que se·
da expressã.o contida no fin1 do sétimo capítulo) empregada para indi- jam o reflexo de seu tempo e que contribuam para reforçar determina·
car Shakespeare: "l~ntre a primeira concepção de um feito terrível e das correntes políticas? Não parece; parece, ao contrário, que estt
sua execução (como dis::;c um bárbaro que não era privado de gênio), o conceito põe o problema em termos mais radicais e de uma crítica maii

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS M!SCELÁN EOS

eficiente ~ conclusiva. Admitido o princípio de que, na obra de arte, lamentam de que os homens de maior envergadu ra não estejam de
deva se buscar somente o caráter artístico, não se exclui de modo al- acordo com eles. O próprio modo de formular a questão pode ser um
gum a investigação de qual seja a massa de sentimento s, de qual seja a indício da solidez de um tal mundo moral o cultural: e, de fato, o cha-
atitude diante da vida que circula na própria obra de arte. De resto, mado "formalism o" é apenas a defesa de pequenos artistas, que afir-
que isto seja admitido pelas modernas correntes estéticas pode ser vis- mam de modo oportunist a certos princípios, mas se sentem incapazes
to em De Sanctis e no próprio Croce. O que se exclui é que uma obra de expressá-los artisticamente, isto é, em sua própria atividade, e van-
seja bela por seu conteúdo moral e político, mas não por sua forma, na gloriam-se assim da pura forma que é seu próprio conteúdo, etc., etc.
qual o conteúdo abstrato se fundiu e identificou. Investiga-se ainda se O princípio formal da distinção das categorias espirituais e de sua uni-
uma obra de arte não terá fracassado pelo fato de o autor se ter deixa- dade de circulação, mesmo em sua abstração, permite captar a realida-
do desviar por preocupaç ões práticas exteriores , isto é, postiças e de efetiva e criticar a arbitraried ade e a pseudovid a de quem não quer
insinceras. Este parece ser o ponto crucial da polêmica: Fulano "quern jogar limpo ou é siinplesmentc um medíocre que o acaso colocou num
expressar artificialmente um determina do conteúdo e não cria obra de posto de comando.
arte. O fracasso artístico da obra de arte em questão (pois Fulano de-
monstrou ser artista em outras obras que realmente sentiu e viveu) § 42. Caráter não naciona/-pop11lar da literatura italiana. Para esta
demonstra que aquele conteúdo é, em Fulano, matéria surda e rebel- rubrica, de\·e-se estudar o volume de B. Croce, Poesia popolare e poe-
de, que o entusi<lSmo de Fulano é fictício e pro)ctado a partir de fora, sia d'arle: Studi sul/11 poesia italian11 dai Ire iil ci11{111ecento, L<ltcrza,
que Fulano não é realmente, naquele caso concreto, um artista, mas Bári, 1933. O conceito de "popular" no livro de Croce não é o destas
um servo que quer ~Igradar aos patrões. Existem, portanto, du;1s séries notas: r;1r<1 Crucc, tr.1t;1-sc de um.i ,1tir11dc psicn[,'1gic<\ pelo q11e :1 rcl:1-
de fatos: um de car;ltcr estético, ou de ;1rtc pura, outro de política cul- çilo entre rncsi;l rop11\ar e rocsia élrtísticu é con10 aquela entre o bom
tural (ou seja, Jc polític:1 p11r;1 c si111plcsnH..:11tc). O fato Jc que se che- ~cnso e o pcns~u11enr1 i crítico, entrl'. ~t perccpç;to 1L1tural e <l pcrccpç;10
gue a negar o caráter artístico de uma obra pode servir, ao crítico político erudita, entre a cândida inocência e a perspicaz e acurada bondade.
como tal, para demonstra r que Fulano enquanto artista não pertence Contudo, da leitura de alguns ensaios desse livro publicados na Criti-
àquele determina do mundo político, e, já que sua personalid ade é pre· ca, parece possível deduzir que - enquanto do século XIV ao XVI a
dominante mente artística, que, em sua vida mais íntima e mais pessoal, poesia popular, também neste sentido, tem uma importânc ia notável,
aquele determina do mu!1do não opera, não existe: Fulano, portanto, é por ser ainda ligada a uma certa vivacidade de resistência das forças
um comediant e da polít!ca, quer se fazer passar pelo que não é, etc. O sociais surgidas com o moviment o de renovação verificado depois do
crítico político, portantÓ, denuncia Fulano não como artista, mas como século XI e que culminou nas Comunas -depois do século XVI estas
"oportuni sta político". Que um político faça uma pressão para que a forças se embrutece ram éompletam cnte e a poesia popular decaiu até
arte de seu tempo expresse um determina do mundo cultural é uma as formas atuais, em que o interesse popular é satisfe~to pelo Guerin
atividade política, não de crítica artística:- se o mundo cultural pelo qual Meschino e por u1na literatura do gênero. Ou seja: depois do século
se luta é um fato vivo e necessário) sua expansividade será irresistível, XVI, torna-se radical aquela separação entre intelectuais e povo que
ele encontrar á seus artistas. Mas se, apesar da pressão, esta irre- está na base destas notas e que tanto significado teve para a moderna
sistibilidade não se vê e não opera, isso significa que se tratava de um história polltica e cultural da Itália.
mundo fictício e postiço, elucubraçã o retórica de medíocres que se

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CADERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MlSCELÂNEOS

§ 54. Ugo Bernasconi. Escritor de máximas morais, novelista, críti- é reacionária: o político considera todo o movimento em seu devir. O
co de arte e, creio, também pintor. Colaborador do \ 1iandante de Moni- artista, ao contrário, deve ter imagens "fixadas" e filtradas em sua for-
celli e, portanto, de uma certa tendência [109]. ma definitiva. O político imagina o homem como ele é e, ao mesmo
Pode1n-se recolher algu1nas de suas melhores 1n(1xin1c1s: ''Viver é tempo, como deveria ser, para atingir um determinado objetivo; seu
sempre adaptar-s·e. Nlas adaptarMse ,:; <tlgo para salvar outra cois<L Nes· trabalho consiste precisamente em fazer com que os homens se mo-
ta alternatíva, forma-~e e evidencia-se todo o caLítcr de um homem." vam, saiam de seu estado presente para se tornarem capazes coletiva-
"A verdadeira Babel n:10 é tanto onde se faL1m líng1i.1s diftrentcs, mente de alcançar o objetivo proposto, isto é, de se "conformarem"
mas onde todos acham que falam a mesma língua e c<1da qual dá às ao objetivo. O artista representa necessariamente ''o que é" em certo
mesmas palavras um significado diferente." momento (de pessoal, de não conformista, etc.), de modo realista. Por
"É tão grande o valor do pens,1mento teórico p<1ra umt1 ação pro- isso, do ponto de vista político, o político jamais estará contente com
fícua que, por vezes, pode dar bo1n fruto tambén1 amai~ csrúpida das o artista e não poderá es·rar: sempre o julgará em atraso com relação
teorias, que é a seguinre: não teorias, mas fatos." (Pi!g11:>0 de junho de ao tempo, sempre anacrônico, sempre superado pelo movimento real.
1933.) Se a história é um contínuo processo de libertação e de autoconsciência,
é evidente que cada estágio, co1no história, ncsrc caso como cultura,
§ 58. Crítir'11 liter1íri11. No nínneru <lc n1arço dl' 1933 da Educazione será in1cdiatamcnte supcr;1do e não 111ais intcrcss;M":Í.. Parece-me que
Fascistil, cf. o :1rtigo polL,1niL·o de 1\rgo contra Paul Nit.111 ("ldcc' di o!trc isso deve ser levado cm co11t.1 ao av;1\iar o juízo de Nizan sobre os di-
confine") sobre a conccp~-Jo de uni;t nov;1 litcratuL1, qt1c surj.1 de lllll<l versos grupos.
integral renovai;ào intelectual en1or:1l [llüj. Niz<ln, ao que p.1rcce, situa ~1as, de um ponto de vista objetivo, assim como Voltaire é ainda
bem o problema quando começa definindo o que é um<i renovação hoje "atual" para determinados estratos da população, também podem
integral das premissas culturais e limita o campo da própric1 investiga· ser atuais, e efetivamente o si{o, estes grupos literários e as combina-
ção. /\única objc~·;1u fu11J;1Ja Jc 1\rgo é a seguinte: a i1npussibiliJadc ções que eles representam: ""objetivo" quer dizer, neste caso, que o
de saltar um estágio nacional, autóctone, da nova lirer<Hllt<l, e os peri- desemolvimento da renovação intelectual e moral não é simultâneo
gos "cus1nopolitas" d,1 conccpção Jc Nizan. Deste ponto J..: vist~1 1 muitas em todos os estratos sociais; n1uito pelo contrúrio: cabe repetir que,
críticas de Nizan a grupos de intelectuais franceses devem ser revistas: ainda hoje, muitos são ptolomaicos e não copernicanos. (Existem mui-
Nouvelle Revur; Fr11n~·1lise, o "populismo'\ etc., até o grupo do Monde, tos "conformismos", muitas lutas por novos conformismos, bem como
não porque as críticas não atinjam o alvo (politicamente), mas precisa- diversas combinações entre o que é, com diferentes matizes, e aquilo
menre po1 yue é impossível que d nova literatura deixe de se manifes- por cujo advento se trabalha, e são muitos os que trabalham neste sen-
tar "'nacionalinente" ein con1bin<t~ões e composi~ões divers,1s, mais ou tido.) Colocar-se do ponto de vista de uma "única" linha de movimen-
menos híoridas [111]. É toda a corrente que deve ser examinada e es- to progressista, de modo que toda nova aquisição seja acumulada e se
tudada, objetivamente. De resto, sobre a relação entre litcr<1rura e polí- torne a premissa de novas aquisições, é um grave erro: não apenas as
tica, deve-se ti.=r presente o seguinte critério: o literato deve ter linhas são múltiplas, mas também ocorrem retrocessos na linha "mais"
perspectivas neC:essariamente menos precisas e definidas do que o po· progressista. De resto, Nizan não sabe formular a questão da chamada
lírico, deve ser menos "'sectário", se assim ~·e pode dizer1 mas de um "literatura popular", isto é, do êxito obtido, entre as massas nacionai~
modo "contraditório". Pardo polírico, toda imt1gem "fixada'' a priori pela literatura de folhetim (de aventura, policial, de terror, etc.), êxito

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CADERNOS DO CÁRCERE
DOS CADERNOS MISCELÂNEOS

que é ajudado pelo cinema e pelo jornal. E, não obstante, é estaques-


CADERNO 17 (1933-1935)
tão que representa a maior parte do problema de uma nova literatura
enquanto expressão de uma renovação intelectual e moral: porque
somente a partir dos leitores da literatura de folhetim é que será possí- § 13. Os filhotes do Padre Bresciani. G. Papini. Na Italia Letteraria
vel selecionar o público suficiente e necessário para criar a base cultu- de 20 de agosto de 1933, Luigi Volpicelli escreve o seguinte sobre Papini
ral da nova literatura. Parece-me que o problema é este: como criar (incidentalmente, num ensaio sobre "Problemi deli a letteratura d'oggi",
um corpo de literatos que esteja artisticamente para a literatura de fo- publicado cm várias partes): "Não basta, aos 50 anos- queira Papini
lhetim como Dostoievski estava para Sue e Soulié, ou como, no ro- perdoar-me a franqueza-, não basta dizer: o escritor deve ser mestre.
mance policial, Chesterton está para Conan Doyle e para Wallace, etc. É preciso, pelo menos, poder dizer: eis aqui, ignorantes, a verdadeira
Para isto, é preciso abandonar muitos preconceitos, mas sobretudo cabe arte, a arte mestra. Mas limitar-se a propor, aos 50 anos de idade, ou
pensar que não apenas é impossível ter o monopólio, como também se mesmo depois1 que o escritor seja mestre, quando mestre jamais se foi,
deve enfrentar uma formidável organização de interesses editoriais. O não vale sequer como mea culpa. E, com efeito, já vimos isso muitas
preconceito mais comum é o de que a nova literatura deva se identifi- vezes! Papini exerceu todos os ofícios, para depois emporcalhar todos
car com uma escola artística de origem intelectual, como foi o caso do eles: foi filósofo, para concluir que a filosofia é uma espécie de gan-
futurismo. A premissa da nova literatura não pode deixar de ser histó- grena do cérebro; foi católico, para cobrir de cinzas o universo com
rico-política, popular: deve ter como objetivo elaborar o que já existe, 11m voc1huLírio apropriado; foi literato, para finaltncntc estabelecer
não importa se de modo polêmico ou de outro modo; o que importa é que não sabemos o que fazer com a literatura. Isto não exclui que Papini
que aprofunde suas raízbs no húmus da cultura popular tal como ela é, tenha conquistado nm íugarzinho na história da literatura, no capítulo
com seus gostos, suas tcl1dênci<IS, etc., com seu mundo n1oral e intelec- 'os polcmistas'. Mas ~1 polémica vale o mcsn10 que a oratória: é preci-
tual, ainda que atrasado e convencional. samente ~1 forn1a pura e vazia, é mero a1nor pelas palavras e pelas técni-
cas, pelo gestoJ um formalismo espiritual e congénito; em suma, a coisa
§ 75. Temas de cultura. O dicionário de Rezasco. É mencionado por mais di5tante possível do escritor como mestre."
Feiice Bernabei, em "Mqnorie inedite di un archeologo" (primeira par- Papini sempre foi um "polemista" no sentido indicado por Vol-
te publicada em Nuova ,Antologia de 16 de julho de 1933). Rezasco picelli, e o é ainda hoje, pois não se sabe se, na expressão "polemista
(Giulio) foi várias vezes Secretário-Geral da Instrução Pública (ou seja, católico", interessa mais a Papini o substá.ntivo ou o adjetivo. Com seu
subsecretário). Bernabei fala dele, de passagem, como redator de um "Vo- "catolicismo", Papini gostaria de demonstrar que não é um puro
cã.bolario della Burocrazia", e escreve: "Não sei se alguma parte desse "polemista", isto é, um "'formalista'\ um equilibrista da palavra e da
'Vocabolario' de Rczasco foi publicada." (A redação da N11ova Antolo- técnica, mas nem isto conseguiu! Volpicelli erra en1 não ser mais preci-
gia não considerou oportuno fãZcr uma nota.) Ao que parece, Rezasco so: o polemista é polemista de uma concepção do mundo, ainda que
não se ocupava de seus deveres burocráticos e empregava o horário de seja o mundo de Polichinelo, mas Papini é o pole1nista "puro", o boxea-
trabalho para redigir o vocabulário. dor profissional de qualquer crença: Volpicelli deveria chegar explici-
tamente à afirmação de que o catolicismo é em Papini uma roupa de
palhaço, não a "pele" formada pelo seu sangue "renovado", etc.

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DO CÁRCE-RE DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
CADERNOS

§ 16. Os filhotes de füdre Bresciani. G. Papini. Deve-se examinar a quinhas, quase como que para romper a triste monotonia à qual se viam
conferência "Carducci, à]ma sdegnosa", pronunciada por Papini em condenadas.
Forlí, na inauguração da "Semana romanhola de poesia", e publicada Observação genérica: pode ser feita para todos os romances e não
na Nuova Antologia de 1° de setembro de 1933. A falsidade, a insin- apenas os de folhetim: deve-se analisar que particular ilusão o roman-
ceridade histriônica desta conferência é algo de arrepiar os cabelos. ce de folhetim dá ao povo e como esta ilusão se modifica nos vários
Seria interessante, e não só ern Papini, fazer uma pesquisa sobre a períodos histórico-políti cos: há o esnobismo, mas há um fundo de as-
aversão contra Roma que esteve em moda na Itália até 1919, no movi- pirações democráticas que se refletem no romance de folhetim clássi-
mento vociano e futurista: Discurso de Papini, "Contra Roma e B. co. Romance ''tenebroso" como o de Radcliffe, romance de intriga, de
Croce"; do binômio então odioso para o Papini de 1913, permaneceu aventura, policial, de suspense) sobre a marginalidade) etc. O esnobe
odioso Benedetto Croce [112]. Em relação a Croce, comparar a atitu- se vê no romance de folhetim que descreve a vida dos nobres ou das
de abertamente trivial deste discurso sobre Carducci e a atitude hipo- classes altas em geral, mas isto agrada às mulheres e sobretudo às mo-
critamente jesuítica e carola do ensaio ''II Croce e la Croce". ças, cada uma das quais, de resto, acredita que a beleza pode fazê-la
ingressar na classe superior.
§ 17. Temas de cu/tum. Título exato do Dizio1wrio dei linguaggio ita- Existem para Mouftlet os ''clássicos" do romance de folhetim; mas
storico ed annniliistrativo di Giulio Rezasco (florcnç,1 Le l\.-1onnier,
li1ll10 1
isto é entendido num certo sentido: parece que o ron1ance de folhetim
1881, 1.287 p.). clássico é o ' democrático" com diversos matizes, de V. Hugo a Sue e a
1

Dumas. O artigo de Mouff!ct deve ser lido, mas é preciso ter em men-
§ 24. Os /ílhotes de füdre Bresciani. G. Papini. Em Papini, falta a te que ele examina o rdmance de folhetim como "género literário'',
retidúo: diletanrismo moral. No prin1eiro período de sua carreira lite- em função do estilo, etc. 1 comO expressão de uma "estética popular",
rária) esta deficiência não impressionava, já· que Papini baseava sua o que é falso. O povo é ''conteudista"; mas, se o conteúdo popular for
autoridade em si n1csn10 1 erc1 o "partido de si mesmo.". Divertia, não expresso por grandes artistas) são estes os preferidos. Recordar o que
podl,1 ser levado a sério, a n:í.o ser por uns poucos filisteus (recordar a escrevi sobre o amor do povo por Shakespeare, pelos clássicos gregos
discussfo com Annibale Pastore} [113]. Papini inseriu-se hoje num e, modernamente , pelos grandes romancistas russos (Tolstoi, Dos-
amplo movimento do gual retira autoridade: sua atividade por isso toievski). O mesmo ocorre, na música, com Verdi.
tornou-se ac;u1alhad.1 no mais desprezível sentido, no sentido do
' ' No artigo "Le mercantilisme !ittéraire" deJ. H. Rosny aíné, publi-
pistoleiro, do sicário mercenário. Se um menino quebra os vidros por cado nasNouvelles Littéraires de 4 de outubro de 1930, afirma-se que
diverrimento ou por traYessura, ainda que sem graça, é uma coisa; mas V. Hugo escreveu Os rniseráveis inspirado pelos Mistérios de Paris de
se quebra os vidros por conta dos vendedores de vidro é uma outra Eugêne Sue e pelo sucesso que este último obteve, tão grande que,
coisa. quarenta anos depois, o editor Lacroix ainda se espantava com o fato.
Escreve Rosny: "Os folhetins, tanto na intcnçr10 do diretor do jornal
§ 29. Literatura jJOf)frltir. 1\rtigo de J\ndré Moufflct no lvfercure de quanto na intençf10 do folhetinista, foram produtos inspirados pelo
France de 1° de fevereiro de 1931 sobre o romance de folhetim. O gosto do público e não pelo gosto dos autores." Esta definição é tam-
romance de folhetim, segnndo Monfflet, nasceu d,; nccessid'1de de ilu- bém unilateral. E, com efeito, Rosny só escreve uma série de observa-
sâo, cxpcrirncntada (Ltlv'-'L ainda hoje) por infinitas cxist&nci;1s mes- ções sobre a literatura ''comercial" em geral (e, port<u1toi t•:lmbém sobre

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CPDERNOS DO CÁRCERE DOS CADERNOS MJSCELÂNEOS

a pornográfica) e sobre o lado comercial da literatura. Que o "comér- ve: ''A aura atônita não poderia se formar se o poeta fosse menos
cio" e um determinado "gosto" do público se encontrem não é casual; lacônico." A "aura atônita" relembra a famosa definição de que "a fi-
tanto isto é verdade que os folhetins escritos por volta de 1848 tinham nalidade do poeta é a maravilha". Contudo, cabe notar que o barro-
uma determinada orientação político-social, que, ainda hoje, faz com quismo clássico, infelizmente, era popular e continua a sê-lo até hoje
que sejam procurados e lidos por um público que vive os mesmos sen- (sabe-se como o homem do povo gosta das acrobacias de imagens na
timentos de 1848. poesia), ao passo que o barroquismo atual é popular entre os intelectuais
puros.
§ 34. Literatura popular. II prigioniero che canta, de Johan Bojer Ungaretti escreveu que seus companheiros de trincheira oriundos
(traduzido por L. Gray e G. Dauli, Ed. Bietti, Milão, 1930) [114]. Dois "do povo ,, gostavam d e suas poesias,
. e po de ser verdade: gosto de cará-
aspectos culturais a obkervar: 1) a conccpção "pirandclliana" do pro- ter particular, ligado ao sentimento.de que a poesia "difícil" (incompre-
tagonista, que recria cÜntinuamente sua "personalidade" física e mo- ensível) deve ser bela e o autor deve ser um grande homem, precisamente
ral, que é sempre diferente e, não obstante, sempre igual. Pode interessar porque destacado do povo e incompreensível: isto ocorre também em
para estabelecer o êxito do pirandellismo na Europa; neste caso, deve- relação ao futurismo e é um aspecto do culto popular aos intelectuais
se ver quando Bojcr escreveu seu livro; 2) aspecto mais estritamente (que, na verdade, são admirados e desprezados ao mesmo tempo).
popular, contido na última parte do romance. Para expressar-se em
termos "religiosos", o autor defende, em forma pirandelliana, a velha
concepção religiosa e reformista do "mal": o mal está no interior do
homem (em sentido absoluto); existe cn1 cada homem, por assim di-
zer, um Caim e um Abel, que lutam entre si: é preciso, se se quer elimi-
nar o mal do mundo, que cada um vença o Caim que tem em si e faça
com que triunfe o Abel: o problema do "mal", portanto, não é políti-
co, ou econômico-social, mas "moral" ou "moralista". De nada vale
modificar o mundo exterior, o conjunto das relações: o que importa é
o proble1na individual-moral. Em cada um há o "judeu" e o "cristão",
o egoísta e o altruísta: cada um deve lutar em si mesmo, etc., matar o
judaísmO que traz em si mesmo. É interessante que o pirandellismo
tenha servido a Bojer para cozinhar este velho prato, que uma teoria
que passa por anti-religiosa tenha servido para reapresentar a velha
formulação cristã do problema do mal, etc.

§ 44. Literatura popular. Que uma parte da poesia atual seja "puro
barroquismo" se manifesta através da confissão espontânea de alguns
de seus críticos ortodoxos. Por exemplo: Aldo Capasso, num ensaio
sobre Ungaretti (trecho citado no Leonardo de março de 1934), escre-

2 68 269
Notas ao texto
1. DO CADERNO 4

1. O projeto de escrever um texto sobre o "canto décimo" do Inferno


(o interesse de Gramsci por Dante, de resto, remonta à sua época uni-
versitária) já aparece no elenco dos 16 "temas principais" com que se
abre o "Primeiro caderno", datado de 8 de fevereiro de 1929, onde se
pode ler: "6) Cavalcante Cavalcanti: sua posição na estrutura e na arte
da Divina comédia" (cf. vol. 1 da presente edição, p. 78). Numa carta
a Tatian<l, de 26 de agosto de 1929, Gramsci volta a falar desse proje-
to: "'·Snhrc l'Stc c;111to de l1:1ntc, fi1 11n1a pcq11c1L1 dcsçobc·rr.1 que creio
interessante e que corrigiria uma tese formulada de modo excessiva-
mente absoluto por B. Croce sobre a Divina comédia. [... ]Escreverei
depois minha 'nota da.ntesca' e talvez mande-a para você como brinde,
escrita numa belíssima caligrafia,' (A. Gramsci, Lettere dai carcere, ed.
por A. A. Santucci, Palermo, Sellerio, 1996, p. 280). A "tese" mencio-
nada, como se verá em seguida, refere-se à distinção ~adi cal que Croce
estabelece, em sua análise da Co1nédia, entre partes "estruturais" e
partes "poéticas", distinção que Gramsci propõe relativizar. Numa outra
carta a Tatiana, de 7 de setembro de 1931, ele volta ao tema, comuni-
cando à cunhada que lhe enviará em breve um resumo do ensaio que
pretende escrever sobre Dante para que ela o remeta (através de Piero
Sraffa) a Umberto Cosmo, seu antigo professor na Universidade de
Turim, para que este, "especialista em Dante, diga-rr1e se fiz uma falsa
descoberta ou se vale a pena redigir uma nova contribuição ao assun-
to, uma pequena migalha a acrescentar às milhões e milhões dessas notas
que já foram escritas" (ibid., p. 459-460). Tendo recebido através de

273
C.::.DERNOS CO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

Sc1ff,1 o resurno ,-tnu11ci;1Jo por C~r<1msci, o Prof. Cosmo envia <1 nosso embora ininuciosa e bizanrin~1, j~11nais tenha notado que Cavalcante é
a.utor uma C<lrta de 1ncL·iHiv,._; (SL!llf're por n1cio Jc SrafL1 e, <leste, de o verdadeiro punido entre o~ l·picuristas das tun1bds incandescentes,
1:Jti:1n.1) 1 c1ij.t parte 1··: i1h_-i1«1l GL-1i11sci rL·f1rud11z IlC! § SG dL"stL· cadcr- aquele q11c é punido cun1 un\ct p111ii\:-10 itnL·Lliata c-p,,·ssri.tl [... ].A !ci de
nu. {Sl_,brc ll. c:us11J•;, '-·1., L.. ul1L-111, ll. l;) ,1 c:-.rc lllL.:-.llllJ ~ Sb.)
1
t;ilii"'1u ;1plicad;1 ;J c::tv;i!C;ll)lL· l· l .irill,lLl L· :! Sl'gtiilllc: 11ur rcrc1n qucri<lo
P<1L1 q11c o lc:itur r'~)"'-,i ;!'-·un1ri.111!J,1r int·lhor o JL-sv11\·ulvl1ncnto da ver o f11turo 1 eles {tcorican1cnt1.:) s:10 privados Ju cunhecin1ento das
~:i.ndli"c gc1111sci<1na de l>.ua~:, p;irL'L·c-nos útil rL·,:ordar hr1..:vc111cntc \.) coisas terrcncis por u1n tcn1pu ._Jctcn11in;1Jo, ou scj.1, eles vivem num
C01ltL·(1Jo do "canto ·,_i,_--c._-illll_,''. c:c11Lit1zidn por SCll g11iJ \'irgílio, l)antc· cone Jc- sombra de cujo centro vl:c111 o passado, até urn certo limite, e
ini.;rv:-.s.1 no SL·xto círL"11]u ~i,1 ínfL-rno 1 011Jc esl:iu u~ cunJ1.:n.1Jos por vêc111 o futuro, tan1bén1 a p:1rtir de un1 CL·rto liniitc. Qt1:1nJo Dante se
heresi.1, en1 particuL1r o~~ epicuri~LL.;. D;1nte revela interesse cm dialo- aproxima dos dois, a posição Ji.: C:av:ilcantc- e de Farin,1ta é a seguinte:
gar CC)m seu conterr;\nco F:-trin:lt;1 1 u1n líder gibcli110, que) ouvindo o eles vêem Guida vivo no pa::>~~;1do, mas o vêe1n n1urto no futuro. Mas,
poeta falar cm florenti110 1 dirige-se a elei sendo logo informado de que naquele momento, Guida est:1 vivo ou morto? Cornpreende-se a dife-
Dante, um guelfo "branco" (1nodcrc1do), é seu adversário político. (So~ rença entre Cavalcante e Farin<-Ha. Farinata, ouvindo falar florentino,
bre gibelinos e guelfos 1 cf. vol. 2 1 p. 302.) Durante este dijJogoi ergue- volta a ser um honiem de parn<lo, o herói gibelino; c·rlvdlcante, ao con-
sc dl' sua tu111ba incandcsccnrc outro florc11tino 1 Cava]c;1ntL\ cujo filho trário, só pensa cm GuiJo e, L'scutanJo Lilar florenlino, ergue-se para
Guido, marido da filha de Farinata 1 é um talentoso poeta ateu, amigo saber se Guida está vivo ou morto naquele momento (eles podem ser
íntin10 cie Dante. Surpreso por 11:10 ver Guido ao lado de Dc1nte 1 o pai informados pelos recém-chegados). O drama direto de Cavalcante é
pergunta: "Nleu filho onde está? Por que não está contigo?" E Dante rapidíssimo, mas de enorme intensidc1de. Ele imediatamente pergunta
respundc: "'N~o venho por n1inh~1 própria vontade. Sou conduzido por por Guida e espera que_ ele cstcjn con1 J)ante; m,1s, qu;111do o poeta,
aquele que lá me esper<J [V'irgílioJ, a quem talvez vosso Guido desde· que não está informado ex:-1ta1nente sobre a pena 1 diz 'desdenhou',
nhoti." Di:1ntc desta rcspos;-,1, CJv,1lcante retruca: "Por q11e disseste usando o verbo no passJJ0 1 (~:tv;ilc<1ntci Jcpois Jc uni lancinante grito,
'dcsJcnhou'? Ele não vive mais? Já não lhe chega aos olhos a doce luz?" 'caiu de costas e não 1nais apareceu'. 3) Na primeira parte do episódio,
't1rd,111do a resposta de Dante, Cav<-ilcante "'caiu de costas e não mais o 'desdém de Guido' torna-se o centro de todos os fobricantes de hipóte-
aparl'ceu". Farinata, enquanto isso, "não muda o semblante, n~o abai- ses e de contribuições, enquanto, na segunda parte, a preVisão de
xa a cabeça, não dobra a coluna". E informa a Dante não apenas sobre Fatinata sobre o exílio de Dante absorveu a atenção. Parece-me que a
o futuro exílio político do poeta, mas também sobre a condição dos importância da segunda parte consiste particularmente no fato de que
conJe1i<:i.dos: eles vêem o passado e o futuro, mas não vêem o presente. ela ilumina o drama de Cavalcante, fornecendo todos os elementos
Isso L'Xplíc<l o desespero de Cavalcante. essenciais para que o leitor o reviva. Seria por isso uma poesia do ine-
"L1n1bém nos parece necessário, para um melhor entendimento da fável, do inexpressado? Não creio. Dante não renuncia a uma repre-
"noL1 d<:intese;J" de Gramsci, recordar alguns trechos do "resumo" que sentação direta do drama, já que este é precisamente seu modo de
ele envia ao Prof. Cosmo através de Tatiana (e de Sraffa), numa carta representá-lo. [... ] 4) Parece-me que esta interpretação atinge de modo
de 20 de setembro de 1931: "Buscarei resumir agora para você o céle- vital toda a tese de Croce sobre a estrutura e a poesia na Divina comédia.
bre esquema. Cavalcante e Farinata. 1) [... ]Sustento que, no décimo Sem a estrutura não haveria a poesia e, portanto, também a estrutura
canto, são representados dois dramas, o de Farinata e o de Cavalcante, tem um valor de poesia[ ... ] O Prof. Cosmo poderia me dizer se se tra-
e não apenas o de Farinata; 2) É estr,1nho que a hermenêutíca dantesca, ta de uma nova descoberta da pólvord, ou se, e1n 111eu esquema, existe

274 27S
CADE RNOS DO CÁRC ERE
NOTA S AO TEXTO

algum tema que possa ser desenvolvido numa peque


na nota, para passar obra de arte resulta da colaboração do escritor e dos
o temp o" (ibid., p. 466-469). atore s unificados
esteti came nte pelo direto r do espetáculo, a rubric
a tem no processo
criativo uma impo rtânc ia essencial, na medida em que
2. Para estas referências de Gramsci, cabe recordar um limita o arbítr io
outro trecho do ator e do diretor. Toda a estrutura da Divin
da mencionada carta a Tatiana de 20 de setembro de a conzédia tem esta
1931: "Possuo os altíssima funç,10 [... ]" (Lettere, cit., p. 469).
ensaios de De Sanctis e o Dant e de Croce. Li no Leona
rdo de 1928 uma Traduzimos por "rubrica" a expressão didasmlw, usada
parte do estudo de Luigi Russ o[... ] que se refere (na por Grnmsci,
parte que li) à tese que - embora registrada no Dicio nário Aurélio (Dida
de Croce. Possuo o núme ro da Critica com a resposta scália: "Na Grécia
de Croce. Mas há antiga, conju nto orden ado de preceitos e instruções
muito não vejo este filaterial, ou seja, desde antes relativos à interp re-
de minha concepção tação teatral, de ordin ário elaborados pelo autor dram
do núcleo principal deste esquema" (Lettere, cit., p. ático e dados aos
469). As referências atores que lhes representa~am as obras") - não é
bibliográficas são as seguintes: B. Croce, La poesia
di Dante, Bári, Laterza, utilizada na lingua-
1922; L. Russo, "Critica dantesca", Leónardo, 20 de gem teatral brasileira. Como é fácil perceber, Gram
dezembro de 1927; sci aprox ima aqui a
relação entre rubricas e falas numa peça de teatro
resposta de Croce a Russo, Critica, 20 de março de , por um lado, e, por
1928. Gramsci pos- outro, a relação entre o que Croce chama de "estru
sui todos estes texto s no cárcere, mas tem dificuldade tura" e de "poesia"
para consultá-los em sua análise da obra de Dante.
porqu e, como diz na carta, eles estavam no fundo de
um baú guard ado John Tanner é o prota gonis ta da obra Man a11d super
no almoxarifado da prisão. Além deles, Gramsci menc man (1906),
iona aqui Vincenzo do dram aturg o irlandês Geor ge Berna rd Shaw (1856
More llo, Dant e, Farinata, Cava/cante, Milão, Mond -1950 ), Prêm io
adori , 1927 ; F. Nobe l em 1925. A peça foi tradu zida para o italia no
Rornani, "Il c~1nto X dcll'In(e:rno", Giornt1le drrnte com o título Don
.sco, ano Ili, cad. 1, Giova nni, q11c L· o rcfcriJo por Gré1111sci tanto cin
Prato - Florença, 1906; l~ De Sanctis, Srtggi critici sua cirta quanto no
, Milão, 'frcvcs, 3
vols., 1924. texto dos cadernos.
Sobre Luigi Russo, cf. vol. 3, p. 359.
Sobre Vincenzo More llo, cf. vol. 2, p. 314. Gram 4. Semp re na carta a Tatiana de 20 de setem bro de
sci discute sua 1931 , Gramsci
observa: "Lem bro-m e de que, em 1912 , assist indo
interp retaç ão do Canto X nos§ § 83 e 87, neste mesm ao curso de histó-
o caderno. ria da arte do Prof. Toesca, conheci a repro dução do
Fedele Romani (1855 -1910 ), dialetólogo, poeta e quad ro de Medé ia
narra dor, tam- existente em Pompéia, no qual Medéia assiste à morte
bém escreve ensaios críticos sobre autores como Dante dos filhos que tive-
, Petrarca, Man- ra comJasão; assiste com os olhos vendados e creio
zoni, Hom ero e Virgílio. recordar que Toesc a
dizia que este era um modo de expressão dos antig
Sobre Francesco pe Sanctis (do qual Gramsci volta os e que Lessing,
a falar, inter no Laocoo11te (cito de memó ria a partir daquelas
alia, no cader no 23, ~ 1, neste volume), cf. també aulas), não consi-
m vol. 5, p. 426. derava isso um artifício de impo tente s, mas, ao
contrário, o melh or
modo de dar a impressão da infini ta dor de um
3. Sobre essa questão, cabe recor dar mais um trech genitor, que, se re-
o da carta de presentada materialmente, teria se cristalizado
20 de setem bro de 1931: "Que impo rtânc ia artíst num esgar" (Lettere,
ica têm as rebric as
nas obras para o teatro? [... ] Obra de teatro sem rubric cit., 467-4 68).
as é mais lírica Goth old Ephra im Lessing (1729 -1781 ), impo rtante
do que representação de pessoas vivas num choqu
1
dram aturg o e
e dramático; a ru- filóso fo do Iluminismo alemão, discute em seu Laoc
brica, em parte, incor'porou os velho s monó logos oonte as relações
, etc. Se, no teatro, a
entre a poesia e a pintura.

276
277
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

5. Lendária rainha frígia, Níobe zomba de Leto, ~ue tem apenas de Giuseppe Citanna, "[ Pronzes_çi Sposi sono un'opera di poesia?",
dois filhos, Apolo e Di,ma. Estes ving<1m o ultraje sofrido pela mãe e public,1do na edição cit<lda da Nuova /ta/ia.
matam os quatorze filhos de Níobe, a quem Zeus transforn1;1 numa Sobre o significado específico do conceito de (neo)malthusianismo,
estátua chorosa. cf. vol. 1, p. 478, e vai. 3, p. 360.

6. Ou seja, no sexto círculo do inferno, onde tem lugar o episódio. 10. Timantes, pintor grego do século IV a.C., é o autor de "O sa-
crifício de Ifigênia". Figura da mitologia, Ifigênia teria sido sacrificada
7. Isidoro Dei Lungo, Dino Compag11i e la sua Cronaca, Florença, pelo pai, Agamenon, para aplacar a ira dos deuses, gue faziam soprar
Le Monnier, 3 vais., 1879-1887. Em carta a Tatiana de 22 de fevereiro ventos contrários à frota grega em Áulida. O tema de Ifigênia. é trata-
de 1932, Gramsci escreve: "Lembro-me agora de gue pensei pela pri- do, entre outros, por Eurípedes, Racine e Goethe.
meira vez nessa interpretação [do Canto X] lendo o substancioso tra-
balho de Isidoro Dei Lungo sobre a Cronaca fiorellli11a de Dino 11. Publicado em 1829 e várias vezes reeditado, o romance La
Compngni, onde Dei Lungo fixou pela primeira vez a d:1t.1 Ja n1ortc de monarn di Monza, de Giovanni Rosini (1776-1855), é uma continua-
Guiclo Cavalcanti" (Lel/1<re, cit., p. 537). ç~10 da história de Gertrudes, personagem de Os 1toivos de Manzoni.

lsiduro L)l·l Luni;u ( 184 l-1Y27L Jc1Jêinico e histori;1dor Jc Lite- Subrc csll: ron1a11cc e o tc111.11..L1.s "conti1H1;1~·ücs", cf., neste volun1c,
p. 45-48.
ratura, é um dos fundadores, em 1888, com Gios11C Carduci::i, Pasquale
VilLll"i e u11tn)s, Ja Su1·i1'líl l)í111t1·sr'11 /tali11n11, ;i]l·in dl' 111L·111bn) Ja res-
12. Gramsci comenta as posições políticas de Dante no vol. 5, p.
peitada Accademia dei/a Cmsca, instituição florentina fundada no sé-
250-252.
culo XVI para o estudo e a difusão da língua italiana.
Gramsci refere-se, c111 particular, a um livro de Dcl Lungo sobre Dino
13. Augusto Guzzo (1894-1987), filósofo que relaciona o neo-
Compagni (1255-1324), político e escritor florentino, cuja Cronica dei/e
espiritualismo cristão com o idealismo, é autor ·de uma imponente bi~
cose occorrenti nei tenipi sttoi descreve a rivalidade entre guelfos e
bliografia, em que se destaca, entre outros títulos, uma Storia dei/a
gibelinos, bem como entre as facções guelfas (os brancos c os negros) na
/iloso/ia e dei/a civiltà per saggi, em 10 volumes, publicada na década
Florença de Dante. Sobre outros trab;t!hos de 1. Dei Lungo, cf. § 81, neste de 1970.
mcsn10 c;1Jcrno.

14. Cf. Paraíso, respectivamente, Canto XIV: verso 103, e Canto


8. Sobre Ugolino dei la Gherardesca, tirano gibclino de Pisa, preso XXIII, verso 55.
numa torre com os filhos até morrerem de fome, cf. o Ca.nto XXXIIIi
sobre Mirra, personagem mitológica culpada de amor ir.ccsruoso com 15. Karl Vossler (1872-1949), lingüista, é auror, em particular, de
o pai, rei de Chipre, cf. o Canto XXX do Inferno. estudos de estilística literária. Sua vasta obra, influenciada pelo idea-
lismo crociano, inclui estudos sobre Dante (1907), Lcopardi (1923) e
9. Gramsci menciona, rcspectivamente, o livro de B. Croce, A.les- Lope de Vega (1932).
sandro Manzoni: Saggi e diswssio11i (Bári, 1930, p. 24-25), e o ensaio

278 279
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

16. Sempre citado em conexão com os estudos sobre Dante (cf. os humanida de de preso, isso é suficiente para me fazer destilar algu-
§§ 86 e 87 deste caderno e o vai. 2, p. 310), Michele Barbi funda e mas páginas de apontame ntos que, a priori, não me pareçam ser algo
dirige, a partir de 1920, a revista Studi Danteschi. Membro das Acade- supérfluo" (Lettere, cit., p. 549-550).
mias da Crusca e dosLincei, M. Barbi desenvolve um trabalho filológico Umberto Cosmo (1868-1944), professor de literatura na Universi-
com base num aparato histórico-e rudito de matriz positivista. dade de Turim, é um conhecido e respeitado estudioso de Dante. Em
1917, como editor de La Stampa, passa também a escrever sobre políti-
17. Gramsci refere-se a um artigo de sua autoria, "II cieco Tiresia",
ca. Opositor do fascismo, é afastado da'cátedra em 1926 e preso por
publicado na coluna Sotto la Mole, na edição piemontes a do Avanti!
pouco tempo em 1929. Gramsci, seu aluno dos tempos de universidade,
de 18 de abril de 1918. No artigo, depois de relatar o fato resumido
estabelece com ele uma intensa interlocução, que oscila entre momen-
neste parágrafo, Gramsci observa: "[No Canto X do Inferno], Farinata
tos de aguda polêmica político-ideológica e outros de reaproximação
e Cavalcante são punidos por terem querido ver demais no além, esca-
pessoal. Sobre suas relações com U. Cosmo, cf. a carta de Gramsci a
pando da disciplina católica: são punidos com o não-conhe cimento do
Tatiana de 23 de fevereiro de 1931, inLettere, cit., p. 398-400.
presente. O drama desta punição, contudo, escapou à crítica. Farinata
é admirado por sua plástica altivez, por sua capacidade de agigantar-se
19. Rastignac é o pseudônimo de Vincenzo Morello, cuja interpre-
em meio ao infernal horror. Cavalcante é esquecido; contudo, ele é
tação do Canto X é criticada no § 83, supra.
mortalmen te atingido por uma palavra, 'desdenho u', que lhe faz crer
que seu filho está n1orto. Ele não conhece o presente; vê o futuro e, no
20. E<.hv;1rd Gordon Cr;1ig (1S72-196 tí), :1tnr, cenógr:1fo, dirL'tor e
futuro, o filho esLÍ 111nrto. l\1;1s, e no presente? l)llvida tort11rantc , trc-
teórico Jc teatro inglês, é u111 <los 1n;1iorcs representa ntes d;is tc11Jên-
mcnJ;1 puni~·;\o ncst;uJúvid ;1, clcv;1díssi1110 drama q11c se cons11m:1 cm
cias simbolista s e antinatura listas J,1 pri111cir:1 n1ctadc <lo século XX.
poucas palavras. 1'.1as\drama di/fcil, complexo, que, para ser compreen~
Sua concepção da arte dramática enfatiza particularmente, o movimen-
<lido, exige reflexão e raciocínio; que gela de horror por sua rapidez e 1

to dos atores e a função da luz na evocação de uma "atmosfera ", para


intensidad e, mas depois de um exame crítico. Cavalcante não vê, mas
não é cego, não tem uma evidência corporal plástica de sua desventura. além dos recursos tradic.ionais da representação.
Dante, neste caso, é um poeta culto. A tradição popular quer a plasti-
cidade, tem uma poesia mais ingênua e imediata" (A. Gramsci, La città 21. Gramsci conclui esta nota na segunda linh<I d~ uma p:í.gina do
futura 1917-1918, Turim, Einaudi, 1982, p. 834). caderno 4. O restante da página é deixado em branco, para indicar a
conclusão do bloco de notas intitulado "O Canto Décimo do Inferno".
18. Gramsci comenta esta resposta de U. Cosmo numa carta a
Tatiana, de 21 de março de 1932. Entre outras coisas, ele diz: "Li as
observações do Prof. Cosmo a respeito do Canto do Inferno de Dante.
Agradeço- lhe as sugestões e as indicações bibliográficas. Não creio, 2. CADERNO 21
porém, que valha a pena adquirir os números de revista que ele indi-
ca [... ]. Fico satisfeito em saber que a interpreta ção do Canto que 1. Na primeira desta série de perguntas, Gramsci se refere, como em
esbocei é relativame nte nova e digna de ser tratada; para minha outros locais, ao conhecido livro de Ruggero Bonghi, Perché la lette-

280 281
CADERNOS DO CÁRCE-RE NOTAS AO TEXTO

ratura italiana non sia popolare (Milão, 1859). Ruggero Bonghi, em monde de Montépin (1823-1898) e por Ponson du Terrail (1829-1871),
1869, faz parte da comissüo governamental dirigida por Alessando criador do famoso personagem Rocambole.
Manzoni com o objetivo de estabelecer o uso correto d;:i ]íngua italia-
na. Sobre R. Bonghi, cf., também, vol. 4, p. 341-342. 6. Leo Ferrero (1903-1933 ), filho do historiador Guglielmo Ferrem,
l\1tncion~1do na segunda questão, Ferdinando Marti ni escreve, em escreve poesias1 dramas, noveL1s e textos de crítica literária. Antifascista,
1888, "La fisima dei teatro nazionalc" (1888), incluído em seu livro Ai deixa a Itália cm 1928 e, depois de passar pela França e pela Inglater-
teatro, Florença, 1895. Sobre F. Martini, cf. vol. 5, p. 421. ra, estabelece-se nos Estados Unidos, onde falece num desastre auto-
Sobre Manzoni e a questão da língua italiana, Gramsci já escrevera mobilístico.
em 1918, no artigo "La língua unica e !'esperanto" publicado em II
grido dei popa/o: "Manzoni põe a questão: como se pode criar a lín- 7. Alexandre Dumas (1802-1870), além dos livros mencionados por
gua italiana, agora que a Itália foi feita? E responde: é necessário que Gramsci, é autor de mais de trezentos títulos, muitas vezes escritos com
todos os italianoS falem toscano, é i1ecessário que o Estado italiano a ajuda de colaboradores. A imensa produção de A. Dumas torna-o o
recrute os professores primários na Toscana: o toscano substituirá os escritor mais popular da época romimtica. Joseph Balsamo (personagem-
numerosos dialetos faL1dcs pelas várias regiões e, feita 8. Itália, tam- título reconstruído a partir Jc uma figura histórica real, Giuseppe

hl·1n se Llfú :1 líng11a "1t:ili:l1LI. J\1anzoni ohtl'V(' o <lf1\ 1io dn (~O\'lTllO r... B;1]sa1n(l 1 di10 C;tµ,li()SIT<t, solirv ti q11;i] l·L Vlll. 2, p. -101) ptT(CllCl' ao
(A. c;r.1msci, La ciu,í /11111r<1 1917-1918, cit., p. 668-674). Sobre o ciclo <lu111asiano "Maria 1\ntoni cta": aqui, o n1ago e aventureiro italiano
mesmo temai cf., neste volume, p. 111-113. aparece envolvido no proces:o de declínio e destruição da monarquia
fnu1ccs<1 e ternlin<l preso n~1 B;istilha. (Posteriormente, cairia como heré-
2. Sobre as revistas Lacerba e La Voce, cf. vol 2, p. 294 e 299-3 00. tico nas garras da Inquisição italiana.) A narrativa também transforma
Sobre o movimento Sturm 1111d Dmng, cf., ibid., p. 292-293. Sobre o em personagens Jean-Jacques Rousseau e, de passagem, Jean-Paul Marat.
''super-regionalismo", cf., ibid., p. 304.
8. Sobre Giovanni Ansaldo, cf., inter alia, vol. 2, p. 188, e vol. 5,
3. Sobre E. Corrc•dini e G. Pascoli, cf. vol. 5, p. 364. p. 376.

4. Gramsci 1 provavelmente, pretendia retomar como texto C o 9. Sobre Gabriele D'Annunzio, várias vezes ci~ado nos Cadernos,
breve§ 49 do caderno 7, contido neste volume, p. 208, mas tal pará- cf. vol. 2, p. 3 08.
grafo permaneceu como texto B. Luigi Pirandello (1867-1936), dramaturgo e romancista italiano,
Prêmio Nobel de Literatura em 1934, desperta muito cedo o interesse
5. Francesco Mastriani (1819-1891) escreve mais de cem roman- de Gramsci: além de fazê-lo tema de algumas "crónicas teatrais" escri-
ces, muitos dos quais retratam a vida miserável dos pobres de Nápo- tas entre 1916-1920, Gramsci dedica-lhe várias notas dos Cadernos,
les. Imita abertamente o romancista francês Eugéne Sue. incluídas neste volume. Uma seleção das "crônicas teatrais" gramscianas,
Carolina lnvernizio (1858-1916) publica vários romances sentimen- muitas dedicadas a Pirandello, pode ser encontrada em A. Gramsci,
tais de extraordinário sucesso, influenciados diretamente pela ficção Literatura e vida nacional, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968,
popular francesa da époc<:1, reprcsent<Id<l sobretudo por Xavier Ay- p. 191-265.

282 283
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

10. Annibal Caro (1507-1566) é conhecido, sobretudo, por sua exilando-se depois na Córsega; eleito para o Parlamento do Piemonte
tradução em versos livres da Eneida de Virgílio. Ippolito Pindemonte em 1860, faz oposição a Cavour. Sobre sua participação nos aconteci-
(1753-1828), poeta pré-romântico, é conhecido por suas Poesias cam- mentos de 1848-1849, cf., por exemplo, vol. 5, p. 55-56.
pestres.
16. No Resto de/ Carlino de 4 de dezembro de 1916, G. Papini es-
11. Em 22 de junho de 1932, naltalia letteraria, Umberto Fracchia creve sobre C. Invernizio um artigo, depois recolhido em Testimonianze.
escreve uma carta aberta ao historiador Gioacchino Volpe, por oca- Saggi noncritici, Milão, 1918. Há também, no original gramsciano, uma
sião de um discurso pronunciado por este último, como secretário da referência ao trabalho de Enzo Palmieri, bzterpretazioni dei mio tempo,
··' Academia da Itália. Esta "carta" produz uma longa polêmica, na qual I: Giovanni Papini, Bibliografia (1902-1927), Florença, 1927. Sobre
se insere a intervenção mencionada de Ugo Ojetti. Gramsci também Giovanni Papini, cf. vol. 2, p. 294-295.
trata extensamente desta questão, neste volume, p. 124-128.
Sobre Gioacchinp Volpe, cf. vol. 2, p. 307. 17. Reali di Francia e Guerino detto il Meschino são obras de gran-
Umberto Fracchia (1889-1930), jornalista, romancista e crítico li- de difusão popular, escritas por Andrea da Barberino (1370-1432),
terário, funda La Fiera Letteraria (depois J;Jtalia Letteraria) em 1925, cantor de baladas e narrador que busca no folclore sua fonte de inspi-
editando-a até 1927. ração. Em Reali di Francia, abordam-se de modo fantástico as ações
Sobre Ugo Ojetti, a quem Gramsci retorna em várias notas conti- dos reis franceses até Carlos Magno. Sobre o Guerino, narrativa que
das neste volume, cf. vol. 2, p. 310. seria sucessivamente refeita e recontada em várias línguas, cf., neste
volume, p. 205-206.
12. Sobre Michclc Bianchi, cf. vol. 5, p. 425. Nova referência aMichele Os niaggi, difundidos especialmente nas zonas montanhosas da
Bianchi, neste mesmo contexto, encontn-1-se neste volume, p. 126. Emília e da Toscana, são representações. teatrais populares realizadas
ao ar livre, baseadas em motivos medievais, por ocasião das festas de
13. Camille Flammarion (1842-1925), astrônomo, publica várias primavera, em maio. Pia dei Tolomei é protagonista do Canto V do
obras de divulgação científica, que desfrutam de certa popularida- Purgatório de Dante; assassinada, ela não revela ao poeta nem o moti-
de também na Itália. Em 1887, funda a Sociedade Astronômica da vo nem o responsável por sua morte.
França.
18. O Padre Guglielmo Massaja (1809-1886), missionário e explo-
14. Pierre-Jean de Béranger (1780-1857), poeta e chansonier fran- rador, viaja várias vezes para a África, sobretudo a Etiópia, tendo es-
cês, publica sátiras político-patrióticas de grande popularidade, como crito sobre estas experiências um trabalho em 12 volumes, intitulado I
"Parlez-nous de lui" (sobre a epopéia napoleônica) e "Le Dieu des miei trentaci1UJUe anni di missione nell'Alta Etiopia.
bonnes gens" (sobre as condições de vida do povo comum). Sobre Ugo Mioni (1870-1935), sacerdote católico e prolífico es-
critor de romances populares, cf., neste volume, p. 51e210.
15. Francesco Domenico Guerrazzi (1804-1873) escreve roman- O Padre Angelo Secchi (1818-1878), importante astrônomo, redi-
ces melodramáticos de temas revolucionários e patrióticos. Republica- ge obras sobre o Sol e descobre os canais de Marte, além de estabele-
no, participa ativamente da revoluçfo de 1848-1849 na Toscana, cer uma pioneira classificação das estrelas.

284 285
CADERNOS DÇl CÁRCE".RE NOTAS AO TEXTO

19. Sobre Eugêne Sue, várias vezes mencionado por Gramsci, cf. Eucardio Momigliano busca na história inglesa a inspiração para
vol. 4, p. 342. Cromwell (1929), Elisabett11 d'lnghilterm (1931) e Amw Boleiw (1933).
Os franceses Émile-Jules Richebourg (1833-1898) e Pierre De-
courcelle (1856-1926) têm um relativo êxito corno escritores de ro- 23. Tornmaso Aniello (1620?-1647), nome original de Masaniello,
mances de folhetim. Decourcelle escreve também peças de teatro. é u1n napolitano que lidera ulnd revolta das classes populares contra os
Monsieur Lecocg, Rocambole, Sherlock Holrnes e Arsene Lupin governantes espanhóis. MasJ.nicllo é assassinado e a rebelião termina
são personagens de romances policiais, escritos, respectivamente, por esmagada, depois do breve êxito inicial. Em 1828, Esprit Aubet e
Émile Gaboriau (1832-1873), Ponson du Terrail (1829-1871), Conan Eugene Scribe escrevem a ópera Lll Muette de Portici, baseada na ful-
Doyle (1859-1930) e Maurice Leblanc (1864-1941). minante carreira revai ucionária de Masaniello.
Ann Ward Radcliffe (1764-1823), autora de romances famosos Michele di Lando (1343-1401), de origem plebéia, chega ao posto
como Os mistérios de Udolfo e Os italianos, é a principal expoente do de "gonfaloneiro" da Justiça, em Florença, durante a revolta de 1378,
chamado ''romance gótico" inglês. dita dos ciompi ou cardadores de lã, o setor popular mais radicalizado.
Jules Verne (1828-1905), romancista francês, é um dos precurso- Sobre este movimento, cf. vol. 5, p. 396.
res do gênero ficção científica, em romances como Vinte niil léguas Sobre Cola di Rienzo, cf. \'O!. 5, p. 416.
s11ln1111riJ111s ( l 870) <.: i\ 11,11!.i 110 l!lll//1!0 «'Ili 80 di,1s ( 187.l ).
l-.kuos couhccido, Louis-Henri Bousseuard ( 184 7-1910) escreve 24. D:1rio Niccodemi (1874-1934) e Giovacchi110 Forza110 (1884-
vários romances "de aventura", como Os Crusoes d1l G!li(//!11 e De Pa- 1970) são dramaturgos italianos de relativo êxito popular no ínicio do
ris ao Brasil, por temi (1885). século XX. Gran1sci comenta obras de D. Niccodcn1i (II ti tono, Acida/ia}
La maestrina, além das citadas no próprio parágrafo) e de G. Forzano
20. George Sand, pseudônimo de Aurore Dupin, Baronesa de (Madona Oretta) em suas "crônicas teatrais", entre 1916-1920. Paolo
Dudevant (1804-1876), romancista e jornalista francesa, protesta contra Giacometti (1816-1882), dramaturgo lígure, é um dos representantes
as convenções sociais não só em romances como Consuelo e Ela e ele, clássicos do verismo italiano 1 cujo marco é, exatamente, a peça La morte
mas também através de seu comportamento pessoal: foi amante do civile, encenada em 1861.
escritor Alfred de Musset e do compositor Frédéric Chopin.
25. Henrik Ibsen (1828-1906), dramaturgo norueguês, é conside-
21. Sobre o .conceito de brigantaggio (e brigante), cf. vol. 5, p. 385. rado o criador do teatro realista moderno. Entre su<is inúmeras peças,
destaca-se precisamente Casa de bonecas, mencionada por Gramsci,
22. Mario Mazzucchelli (nascido em 1896) escreve várias biogra- que figura o rompimento da personagem com um casamento conven-
fias, muitas das quais sobre personagens históricos franceses, como cional.
Saint-Just, Robespierre e Napoleão III.
Cesare Giardini, tradutor, entre muitos outros, de Srendhal e Saint- 26. Edoardo Boutet (1856-1915), crítico teatral e professor, dirige
Exupéry, inspira-se na história francesa para escrever livros como I o Teatro Argentina, de Roma, entre 1905 e 1908.
processi di Luigi 16 e di MariaA11to11ietta (1932) e Vareil!les: la fuga di Sobre Tomaso Monicelli, cf. vol. 5, p. 407.
Luigi 16 (1935).

28 6 287
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

27. Adolfo Orvieto (1871-1952) é um dos fundadores, em 1896, 31. H. G. Wells (1866-1946), romancista e historiador inglês, tor-
em Florença, da revista II Marzocco e também seu editor-chefe de 1901 na-se conhecido por sua defesa do socialismo e do feminismo e por
até 1932, quando a revista é fechada pelo fascismo. suas obras de "ficção científica", a mais conhecida das quais é A guerra
O melodrama Les deux orphelines, escrito em 1874 por Eugene dos mundos.
Cormon (1810-1903v e Adolphe Dennery (1811-1899), desfruta de Edgard Allan Poe (1809-1849), ficcionista e poeta norte-america-
grande popularidade !por muitos anos. no, escreve vários contos de horror, como A queda da casa de Usher, e
O autor da peça húngara a que Gramsci se refere chama-se, na é considerado um dos principais precursores da ficção policial, sobre-
verdade, Gyula Pekár (1867-1937). Danton, escrita originalmente em tudo com sua obra Assassinatos da Rua Morgue.
húngaro, aparece em 1921.
32. G. K. Chesterton (1874-1936), romancista inglês, escreve vá-
28. O Príncipe Valeria Pignatelli (1886-1965), personagem de vida rias obras de ficção cujo protagonista é o Padre Brown, famoso pelo
aventurosa, com passagem na luta contra os bolcheviques, ao lado dos uso de métodos indutivos na investigação.
russos "brancos", é um fascista de primeira hora. Nos anos 30, publica
algumas narrativas de "capa e espada", como L:ultimo dei moschettieri, 33. Sobre o episódio de Fachada, que opõe, na África, o expansio-
Sua maestà Don Chischiotte e Ventesimo dragoni. nismo colonial inglês e o francês, cf. vol. 3, p. 386.

29. A Baronesa Emmuska Orczy (1865-1947) nasce na Hungria, 34. Emilio De Marchi (1851-1901), jornalista de posições conserva-
mas passa a maior parte da vida na Inglaterra. Fica famosa com a pu- doras, escreve não só livros infantis, onde apresenta a religião e ;l fa-
blicação, em 1905, de Pimpinela escarlate, onde narra as aventuras de mília como valores supremos, mas também alguns romances "adultos"
um aristocrata inglês que promove a fuga de aristocratas franceses para (Arabella, Giaco1no !'idealista), nos quais, ao contrário, figura amores
a Inglaterra durante a Revolução de 1789. fracassados, sem buscar consolo na religião . .
Guy.Newell Boothby (1867-1905), australiano estabelecido na In- Gramsci menciona o ensaio de A. Pompeati, "Emílio De Marchí
glaterra, escreve inúmeros contos e romances, muitos dos quais am· romanziere d'appendice", Cultura, outubro-dezembro de 1932.
bientados em lugares exóticos, como os Mares do Sul e as Índias Arturo Pompeati (1880-1961), críticc; literário conhecido por seus
Orientais.
ensaios sobre Dante e Ariosto, destaca-se também como autor de uma
história da literatura italiana em vários volumes.
30. Emile-Jules Richebourg (1833-1898) é autor de folhetins po-
pularíssimos em seu tempo, publicados na Revue Française e no Petit 35. Rodolfo e Rodin são personagens de romances de Eugene Sue,
Journal. respectivamente Os mistérios de Paris (1842-1843) e O judeu erran-
Charles-Paul de Kock (1793-1871) é autor de inúmeros dramas, te (1844-1845). Rodin é um agente jesuíta, cuja missão é impedir que
óperas-cômicas, vaudevilles e folhetins. Seus romances "picantesn, que a herança de um protestante, vítima de perseguição, vá para os herdei-
giram sobre a vida parisiense do tempo, trazem-lhe imensa notorieda- ros legítimos. Sobre a extraordinária recepção de O judeu errante nos
de por toda a Europa. Entre eles, destacam-se Georgette (1820), La círculos patriotas de Florença, depois da derrota de 1848, cf., neste
Femme, le mari et l'amant (1829) e Moeurs parisiennes (183 7). volume, p. 211. ·

288 289
CADERNOS NOTAS AO TEXTO
00 CÁRCERE

36. Joseph-Bernardin Fualdes (1761-1817) é um velho promotor 2. Sobre as categorias e a influência politico-cultural de Croce, cf.
público, cujo assassinato, em Rodez 1 no departamento de Aveyron, caderno 10, no vol. 1, p. 277-430.
ocasiona um processo de ampla repercussão na França e em toda a
Europa. FualdCs, promotor na época revolucion{1ri<l e sob Napolerlo, 3. O padre jesuíta Antonio Brcsciani (1798-1862), ensaísta e escri-
era visto, numa época de Restauração e de "terror branco", como um tor, ataca em suas obras todas as forrnas de' liberalis1no 1 de democracia
"jacobino" ou "bonapartísta" 1 enquanto os réus tinham a simpatia dos e, em geral, de cultura moderna. Em numerosos ensaios e livros didáti-
cos e moralistas, defende enfaticamente a autoridade da Igreja e a orto-
setores ultra-reacionários.
doxia religiosa como as únicas barreiras contra o que ele considerava
37. Javert é o ofici<ll de polícia em Os miseráveis (1862), de Victor uma ameaçadora cultura laica corrompida. Escreve vúrios romances his-
tóricos, onde expressa pontos de vista extremamente reacionários. É um
Hugo.
dos criadores, em 1850, da revista Civiltà Cattolica, então ultracon-
servador<l, na qual publicava seus romances cm capítulos.
38. N,1 citctção do tcxro de F. Burzio, os trechos entre colchetes
Com as expressões "bresci:Jn_o", "brescianisrno" e "os filhotes do
silo de Gramsci. :sobre Filippo Burzio, cf. vol. 3, p. 384.
Padre Bresciani", título de muiros parágrafos contidos neste volume,
Gramsci caracteriza escritores e grupos intclcctti,1\s 1T1;1rcados pelo
3 9. Cf. vol. 4, p. Vi-18 e 41.
rcacion,1ris1no político L: rcligiuc-:u. (J ""hrL'S1.:i;111is111r )", 1-:d:llo 111;1nifcs-
tação cultural degradada, pode ser reL-icion;1do ao conceito gramsciano
40. Sobre'' origem popu!ar do ;uper-homem, ci. vol. 4, p. 55-59
de "lorianismo", este últi~no de n1;.1rc,1 cícntificista e positivista. Sobre
e 60.
o "lorianisn10~', cf., em particuL1r, vol. 2 1 p. 255-288.
Sobre o papel renovador de Giuseppe Prezzolini e da revista La
41. Cf., neste volume, p. 168-169 e 200-201.
Voce, no início do século XX, cf. vol. 2, p. 294.
42. Sobre este c1rtigo de André Moufflet, cf. 1 neste volume 1 p.
4. CitJ.da expressamente por Gran1sci neste parágr:1fo, a revista
267-268.
semanal La Fiem Lettemrúz, fundada em 1925 por Umbcrto Fracchia,
torna-st: L'!Lalia Letterariil cn1 ,tbri! de- 1929 1 passando a ter como edi-
tor Giovanni Barrista Angiolctti e como co-editor, entre 1928 e 1931,
Curzio J\.1~1lapartc. A revista íntcrro1npc sua publicaJ:·üo cm 1936 e só
3. CADERNO 23
reaparece no segundo pós-guerra) sempre com G.lt 1\ngioletti.
Sobre G.B. Angioletti, d. vol. 2, p. 298.
1. Sobre os conceitos de "direita histórica" (de fili<1t;8.o cctvouriana) e Enrico Falqui (1901-197 4), jornalista e crítico literúrio, é autor de
"esquerda histórica" (que ascende ao poder em 1876, com Agostino inúmeros ensaios sobre <l moderna literatura italiana.
Depretis), cf., inter ali11, vai. 3, p. 396. Trata-se de designações recor- Elia Vittorini ( 1907-1966) escreve v(lrios ro1nanccs que, além do
rentes cm todo o caderno 19) no vol. 5. valo~ sociológico, dramatizan1 <I vida das ca1nad~1s deserdadas da Si-
cília1 inclusive por ocasi~10 da ScgundJ Guerra e da IZcsistência. En-

290 291
CADERNOS DO CÁRCERE

NOTAS AO TEXTO

tre suas obras, destacam-se Uomini e no (1945) e Le donne di Messi-


na (1949). PieroJahier (1884-1966), romancista e tradutor, é mais conhecido por
O poeta GiuscppcUngar etti (1888-1970) estuda na França e é atraí- dois livros autobiográficos, Ragazzo e Con me egli alpini, ambos publica-
do pelo simbolismo e por outros movimentos de vanguarda. Na Itália, dos em 1919. Embora se considere socialista, P. Jahier, em sua obra, idea-
liga-se aos futuristas e publica poemas obscuros, que lhe valem, na liza o mundo camponês e revela pouca simpatia pela classe operária.
época, o rótulo de "hermético". Entre 1937 e 1943, leciona literatura
italiana na Universidade de São Paulo. 11. Leo Longanesi (1905-1957), jornalista, pintor, editor e escri-
tor, participa do movimento "super-regional ista'', com Mino Maccari.
5. Antoine Rivarol (1753-1801), escritor e jornalista famoso por Adepto intransigente do fascismo - e até conhecido pela frase "M us-
seus epigramas, publica, em 1784, um Discours sur l'universalité de la solini tem sempre razão"-, participa, nos anos 20, dos debates mais
langue fra11ç11ise. Em suas obras, Rivarol defende a monarquia e o vivos sobre a relação entre a arte e o regime, e, paradoxalment e, de-
tradicionalismo . fende uma certa autonomia para as questões artísticas. Dirige, entre
1926 e 1942, a rcvistaJ;Italiano.
6. Benedctto Crocc, '°Le teorie storicJ1e dei prof. Loria", in Mate-
rialismo storico ed economia marxistica (1900), 4' ed., Bári, 1921. 12. Salvatore Di Giacomo (1860-1934), prolífico escritor napo-
litano, publica pocsi<1S, dramas e ro1nanccs cn1 di,1lcto, sendo um dos
7. Oronzo E. !vlarginati, o "cidaddo que protesta", é um persona- mais importantes representantes do verismo.
gem criad? pelo humorista Luigi Lucatelli (1877-1915), para a revista
Il Travaso delle Idee. 13. Antonio Beltramelli (1879-1930), romancista influenciado por
G. D' Annunzio, passa do nacionahsmo para a defesa fervorosa do fas-
8. Giovanni Verga (1840-1922), romancista siciliano, é o principal cismo. Em seus romances, apresenta republicanos e socialistas como
expoente do verismo, movimento literário inspirado no naturalismo vilões. Em 1923, publica uma biografia de Mussolini (J;uomo nuovo.
francês. Verga escreve romances e novelas que figuram a vida popular Benito Mussolini), de grande sucesso, e se torna um dos principais ex-
siciliana, entre os quais I malavoglia. Sobre a posição unitária de Ver- poentes da cultura fascista oficial.
ga, cf. vol. 5, p. 239-240. Sobre Luca Beltrami, cf. vol. 2, p. 299. Além de arquiteto do Vati-
cano, L. Beltrami, sob o pseudônimo de ''Polifilo", escreve narrativas
9. Sobre Giuscppc Ccsarc J\bba, cf. vol. 5, p. 370. satíricas arnbientadas numa cidade imaginária) "Casate Olona". É de-
putado, entre 1890 e 1896, e senador, a partir de 1905.
10. Giovanni Papini, "! fatti di giugno", Lacerba, 15 de junho de Sobre os escandalosos eventos que, em 1908, envolvem o Padre
1914. Este artigo de G. Papini também é mencionado novo!. 5, p. 208- Riva e a Irmã Fumagalli, cf. vol. 5, p. 411. O romance onde Giuseppe
209. Sobre a "Semana Vermelha" de junho de 1914, de inspiração Molteni tenta justificar o escândalo chama-se, precisamente, Gli atei,
anarquista, cf. vol. 3, p. 3 73. publicado em 1910.
Sobre Alfredo Oriani, cf. vol. 5, p. 360, e, neste volume, inter alia,
p. 164, 196 e 223. 14. Em Mio figlio ferroviere, de 1922, Ugo Ojetti realiza uma críti-
ca conservadora da inquietude moral e do idealismo político (especial-
292
293
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

mente socialista), característicos do primeiro pós-guerra. O episódio Goffrcdo Bellonci (1882-1964), jornalista e crítico, escreve sobre
entre Ugo Ojetti e o Padre l.Zosa t<unbérn reaparece, neste volume, 11~1 política, arte e literatura para vúrios jornais e periódicos. Gramsci tam-
p. 171-174. bém polemiza com G. Bellonci sobre a questão da língua italiana neste
Sobre o Padre Enrico Rosa, cf. vol. 4, p. 360. volume, p. 111-113.

15. Gramsci refere-se, de passdgem, ao discurso de ~v1u5:solini de 19. Sobre o episódio entre Dante e a prostituta de Ravena, cf. La
13 de maio de 1929, no qual assegura aos deputados que o Concordau Legge11da di Dante. Motti, Facezie e Tradizioni dei secoli XIV-XV, com
assinada com o Vaticano n;to concederia nenhum poder rernporal à introdução de Giovanni Papíni, Ed. Carabba, 1911. Gramsci refere-se
Igreja. Sobre a Concordata, cf. vol. 4, p. 330. a este livro porque, nele, a relaçr10 sexual transfigura-se metaforica-
mente numa cavalgada, de modo aproximado ao que ocorre em II
16. Em La lanterna di Diogenei rom,u1ce dei\. P~1nzini publicado Palazzone.
em 1918, surge o epísódio d,~ "lívidJ lân1ina", UITJd tTc1gi·.::Ô:nic<l digre~;­
são cm torno de UITicl L1ca IJS:ld<l r•if<-1 cort;lr llll1 ~h.iniru 20. Publicado em 1924, este obscuro romance de 1'.1:lrio Sobrero,
Em uma nova cdi~:10 dt seu J)i. ::)u1u.1rio Motler110. S.1/;p/e1uenlo 11i nascido cn1 1883, traz umrt curiosid<tde: um Jos personagens, Raimondo
di-;:;io11tiri it,i!iuni, A.lfrL·do l\1nzini 1..'l'llSllr<1 lt'Vi;111,1nll·11rl· .1 C. rl!Ll' o uso H.occhi, cJitor do jornal L'J:t,/ N{{outl, é 11n1a caric,1tura de GL1n1sci
de tcrn1os obscuros, o que L1z o filc'isofo idccilist:1 rct ruc,cr, 1...\)J1:,idcr~1n­ duranrc o período de J;Ordi11e Nllovo.
do Panzini como destiruído de intL·ligência. Cf. <1 rc;;cnh.1 de B. Croc·..:
sobre o Dizionario lvfoderno, na Critica de 20 de: novcr:1bro Je 192.5. 21. Com efeito, Paolo Albatrclli é o pseudônimo com o qual Fran-
Sobre Alfredo Panzini, cf. vol. 5, p. 3 80. cesco Pcrri assina o romance 1 Couquisttitori, publicado numa primeira
versão, em 1924, por La VoceRep11bblicmuz. Francesco Perri (1885-1975)
17. No vol. 4 de suas Opere, publicado em 1890, Giosnê Carciucci tem o mérito de escrever o primeiro romance sobre a "grande emigra-
afirma sobre o escritor siciliano Maria Rapisardi: "[ ... ] conclui o Kyrie ção", que se dá entre 1880 e 1924, quando o fascismo a proíbe. Gli
do altar-mor com flatulências no coro." Outra alusão às divergentes ernigranti narra a frustrada saga americana dos irmãos Gtsu e Geno Blêfari,
posições político-culturais de Mario Rapisardi e de Giosue Carducci bem como da família Blefari, que permanece em Pandore, uma pequena
se encontra no vol. 2, p. 60-61. vila da Calábria. Na intenção do autor, o romance deveria ser um balanço
histórico do "sonho americano" dos emigrantes de sua região.
18. Margherita Sarfatti (1883-1961) é a editora do jornal fascis-
ta II popa/o d'Italia e, mais tarde, da revista Gerarchi11, fundada com 22. Sobre Joachim Murat, governante do Reino de Nápoles no
a ajuda de Mussolini. Amante do líder fascista, escreve uma biografia período napoleônico, cf. vol. 5, p. 373.
de grande sucesso, publicada em 1925 em inglês (The Li/e o(Musso-
li11i) e, em 1926, numa versão italiana (Dux). Embora defensora do 23. Leonida Repaci (1898-1985), romancista e dramaturgo cala-
fascismo desde suas origens, Sarfatti exila-se em 1938 por causa das brês, estuda direito em Turim e depois da guerra, ingressa sucessiva-
1

leis raciais anti-semitas. Sua obra ficcional resume-se ao romance Il mente no PSI e no PC!. Colabora com Gramsci em I.;Orcline Nuovo e,
Palazzone. mais tarde, escreve artigos literários para L'Unità. Em 1926, é preso

294 295
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

por atividades antifascistas; libertado, afasta-se do PCI. Em meados dos La Conquista dello Stato, com um título sugestivo: "Eroismo e cavalleria
anos 30, publica urrla série de romances sobre "os irmãos Rupe", que fascista!"
lhe dão considerável fama.
Em alguns pontos dos Cadernos Gramsci menciona Francesco
1
27. A organizaçã o de Gugliclmo Lucidi a que Gramsci se refere é a
Antonio RCp.1ci, irn1:i.o de Lconida ora negativa, ora positivan1cntc:
1
Associazio11e dei Conlrolia Popolare, funJaJa cn1 Milão c1n 1916. Em
cf., respectivamente, vol. 3, p. 188,.e vol. 4, p. 314. A aproximaç ão 1919, Lucidi é nomeado membro correspon dente da Union o( De-
entre os irmãos RCpaci e os irmãos Cairoli é uma ironia: estes últimos, mocratic Contrai, de Londres. Essas duas entidades ass.ociam-se depois
Enrice e Giovanni, são heróis garibaldin os mortos durante as lutas do ao grupo francês Clarté e a um Comi tê Central genebrino , "para ares-
Risorgimento. tauração das relações internacionais". La rassegna internazionale, men-
cionada em seguida, é o órgão central deste moviment o.
24. Ardengo Soffici (1879-196 4), escritor e pintor, participa do Henri Barbusse (1873-193 5), além de principal animador da re-
moviment o de renovação protagoniz ado pelas revistas do início do vista Clarte, publica Le (eu, em 1916, um romance sobre os horro-
século XX, entre as quais La Voce, de G. Prezzolini, e Lacerba, de G. res da vida dos soldados franceses nas trincheira s, agraciado com o
Papini. Como crítico, A. Soffici defende inicialmen te as vanguardas, Prêmio Goncourt. Barbusse torna-se pacifista e, em seguida, comu-
do cubismo ao futurismo, contra a tradição do século XIX, mas, tal nista.
como Papini, torna-se gradualme nte adepto de um ruralismo nostálgi-
co e nacionalista. A favor da intervençã o na Primeira Guerra, A. Soffici 28. Curzio Suckert, Italia Barbara, Turim, 1925, e J;Arcita/ia110.
adere ao fascisn10 e cstú entre os f11nLL1dorcs de II Papo/o d'Jtalia, o Cantale di Malrl/Jtzrte, Ron1<1, 1928.
jornal de Mussolini.
Giovanni Títta J\osa (1891-197 2), escritor e crítico, participa da 29. Sobre Antonio Graziadei, cf. vol. 1, p. 487. Também no vol. 1,
revista vanguardi sta lacerba. Mais tarde, torna-se editor ou colabora- p. 442-444, Gramsci critica a atitude de A. Graziadei em face da Itália
dor de inúmeras revi:Stas e jornais, como a Fiera Letteraria. e dos italianos.
Sobre Curzio Malapartc , cf., ínler 11/ia, vai. 2, p. 304. Não há outros testemunh os da conversa entre Gramsci e Prczzolini
em 1924. Mas, numa carta de Prezzolini a Gobetti, em dezembro de
25. Este juízo de Gramsci tem como provável ponto de partida a 1923, pode-se ler a propósito da agressão sofrida pelo escritor e polí-
resenha do Padre Enrico Rosa, na Civiltrl Cattolica de 20 de julho de tico antifascista Giovanni Amendola (1886-192 6): "O episódio é algo
1929, sobre o livro de G. Papini, Glí operai della vigna, uma coletâ- que faz desejar que nossos filhos nasçam ingleses" (Gobetti e "La Voce'',
nea de ensaios sobre santos e artistas publicada em 1928. Segundo o org. por G. Prezzolini, Florença, 1971).
Padre Rosa, "Papini possibilita que leitores pios se familiarize m com Sobre Piem Gobetti, cf. vol. 2, p. 294.
matérias seculares e leitores seculares se familiarize m com a vida dos
santos". 30. Gramsci refere-se provavelm ente à observaçã o que La Fiera
Letteraria de 19 de fevereiro de 1928 atribui a U. Ojetti: "Não me tornei
26. Esta revista, dirigida por Curzio Mal aparte, aparece em 1924. parte da história literária pelo que eu mesmo escrevi~ mas certament e
O jornal comunista I.:Unità noticia brevcn1ente o primeiro número de pelo que Giosue Carducci disse sobre mim."

29 6 297
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

31. Sobre Achille Loria, cf. vo\. 2, p. 317. 36. Na décima novela da sexta jornada, no Decamerão, Frade
Cipolla promete mostrar a alguns pobres camponeses da Toscana uma
32. Giosue Carducci, antes de se tornar o poeta nacional e de se pena do anjo Gabriel - na verdade, uma pena de papagaio, ave ain-
reconciliar com a Casd de S.1Yàia aparece, por vczes co1no republica-
1 1
da inteiramente desconhecida na região. Frade Cipolla, também víti-
no jacobino e anticlerical. Em 1863 por exemplo, escrev~ um '"Inno a
1
ma de uma trapaça, no lugar d<:l pena encontra carv;10, mas declara
Satana'', em que Satanás simboliza o progressso, <l razão e <l ciência, e astutamente que esses pedaços de carvão foram os que assaram São
se evidencia a influência, entre outros, de lieine e de Proudhon. Lourenço. Menos sorte tem rICodorico Raposo, personagem de A
Sobre Filippo Crispolti, cf. vol. 4, p. 363. Relíquia, que, desgraçadamente, na volta de uma hipócrita peregri-
nação à Terra Santa, troca o embrulho da suposta coroa de espinhos
33. Todos os parênteses inseridos no trecho são de Gramsci. de Cristo pelo da camisola de uma prostituta, o que lhe arruína as
Sobre Domenico Giuliotti, cf. vol. 2, p. 268. pretensóes de herdeiro de uma tia riquíssima e patologicamente beata.
Guido Manacorda (1879-1965), germanista e tradutor de Wagner Em suas reflexões posteriores, H.aposo identifica como grande erro a
e Goethe, também escreve ensaios políticos e soci<lis marcados por um falta de auddcia para declarar ter pertencido a Maria Madalena a com-
catolicismo extremamente intolerante. Ao lado de outros intelectuais prometedora camisola.
católicos, como Papini e Giuliotti, associa-se à revista florentina
Frontespizio, fundada em 1929 e dedicada à literatura e às artes. 3 7. Os "bollandistas" são um grupo de jesuítas belgas, que editam
osActa Smzctorum, nma ampla coleção de biografias de santos. O gru-
34. Como São Francisco de Assis (1182-1226), autor do "Cântico po, organizado no século XVII por Jean Bolland (1596-1665), propõe-
ao sol" e cuja lenda revive nos Fioretti e nos afrescos de Giotto, e se escrever as biografias dos santos segundo os princípios da crítica
Thomas de Kempis (1379-1471), autor do clássico Imitação de Cristo, histórica.
lacopo Passavanti (1302-1357) escreve uma famosa obra de devoção,
O espelho da uerdadeira penitência. 3 8. Há algumas imprecisões no comentário de Gramsci sobre as
O catolicismo de Alessandro Manzoni (1785-1873) tem algumas memórias do jornalista e escritor inglês Henry Wickham Steed (1871-
particularídades: antes mesmo da conversão, em 1810, o romancista 1956). Em Through Thirty Years: 1892-1922. A Personal Narratiue
entra em contato, e1n Paris, co1n o pensamento jansenista e suas exi- - publicado em 1924 e lido por Gramsci, na edição francesa, no
gências de rigor moral. Lê, ainda, filósofos e moralistas do século XVII, cárcere de Milão e no de Túri -, H. W. Steed não se refere especifi-
como Bossuet e Pascal. Este "vi és" jansenista, na visão de Gramsci, torna camente ao milagre de São Genaro nem descreve um diálogo entre
difícil a assimilação de Manzoni pelos jesuítas da Civiltà Cattolica. um jovem protestante e um cardeal. Na verdade, H. W. Steed narra
ter ouvido pessoalmente, em Roma, a conversa entre um prelado da
35. Tommaso Gallarati Scotti (1878-1966), romancista e ensaísta, Cúria e um nobre italiano católico, conversa na qual, efetivamente, o
liga-se, no início do século XX, ao inovimento modernista católico e dignitário religioso sublinha a distancia necessária entre a ingenuida-
mantém estreitos cont8tos com muitos expoentes da culrura religiosa de da religiosidade popular e a atitude propriamente política da oli-
de seu tempo. Edita o jornal II Riwzouamento, condenado pela Igreja garquia vaticana. O episódio ta1nbé1n é contado por Gramsci no vol.
em 1908. Mais tarde, opõe-se ao fascismo. 1, p. 102-103.

298 299
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

G. Sarei, em carta enviada a Croce em dezembro de 1906 e pu- 43. Trata-se de uma referência a Silvio Pellico (1789-1854), cuja
blicada apenas em 1928, pergunta-lhe sobre a existência, na Itália, de obra mais conhecida, Le mie prigioni, de 1832, n<:lrra a experiência
fenómenos semelhantes üo de São Gcnaro que teriam sido delibe- carcerária em tom romântico, acentuando a redescoberta da fé e de-
radamente postos no esquecimento e que, talvez, estivessem ligados a monstrando uma visão resignada do mundo.
alguma crença de ordem geral. Em nota à carta de Sorel, Croce escre-
ve: ''Os outros sangues milagrosos, que estavam nos monastérios de 44. Sobre Adolfo Omodeo, cf. vol. 2, p. 315. Sobre os Mo111ellti
Nápoles, agora se encontrãm no sangue remanescente de São Gregório dei/a vita di guerra, cf. vol. 5, p. 3 62.
Ameno. Foi o que me confirmou o Padre Sperindeo, a quem pergun-
tei, durante uma visita que me fez, por que ele não mencionou este 45. O texto de Benito Mussolini, II mio diario di guerra (1915-1917),
fato em seu estudo. E ele respondeu: 'Deixemos isto de lado, senão as aparece originalmente em quinze artigos, não consecutivos, no Popolo
coisas ficam confusas"' ("Lettere di Georges Sorel a B. Croce'', Criti- d'Italia, entre 30 de dezembro de 1915 e 13 de fevereiro de 1917. A
ca, 20 de março de 1928). primeira edição em livro data de 1923. Sobre o massacre de Roccagorga,
cf. vol. 5, p. 431. Por "eventos de junho de 1914'', deve-se entender a
39. Adelchi Bar"tono (1875-1947), filósofo que, entre outros te- "semana vermelha", várias vezes mencionada nos Cadernos.
mas, escreve sobre estética e pedagogia, foi _também deputado socialis-
ta. Gramsci criticd·O duramente no artigo "Classicismo, romanticismo, 46. Erich-Marie Remarqne (1898-1972), escritor alemão, escreve
Baratono ... ", publicado cm L'Ordi11e N11ovo de 17 de janeiro de 1922: um fan1oso ron1ancc pacifist~1 sobre ;1 Gut-rr.1 dç l 914, N11d11 de no1'0
"'A vcrborr;1gi;1 fl'\I( il 11ci< i11;'1ria d< > 1), 'JH 1101do 1\dl'lclii Baratono sú é co111- llíl Fn·nf1' ()1·i1l1·11!1il. () .succ.sso intcn1acitnLil d() !ivro dl'spLTtandu a
1
parávcl à vcrborragi:1 filosófica do Pr-of. Adclchi Baratono" (A Gramsci, hostilidade dos nazistc1s, levaria o autor para a csqucrd;1 e, dcpvis, para
Socialismo e fascismo. J;Online Nuovo 1921-1922, Turim, Einaudi, o exílio.
1966, p. 445).
47. Giani Stuparich (1891-1961), nascido cm Trieste, estuda em
40. O milanês Giovanni Berchet (1783-1851), poeta e crítico, é Praga e em Florença. Em 1915, no mesmo ano em que p•1blica seu
um dos expoentes do movimento romântico. Sua oposição à domina- primeiro livro, um estudo sobre o povo tcheco, alista-se como volun-
ção austríaca leva-o a passar vários anos no exílio. Volta à Itália em tário na Primeira Guerra. A partir de 1930, publica vários romances.
1845 e, três anos depois, faz parte do Governo provisório de Milão. Sobre o grupo voeiano, com explícita referência a G. Stuparich, cf. vol.
Restabelecida a dominação austríaca, muda-se para Turim, onde se elege 2, p. 113.
deputado e alía-se aos moderados.
48. 1~111 port 11g11ês, pcr<lc-sc o jogo Jc significa~i10 existente noita-
41. Sobre Edouard Herriot, cf. vol. 3, p. 380-381. liano, em que rupe quer dizer "rocha", "rochedo", "penedo".

42. Sobre Franz Weiss (em geral, relacionado a Giovanni Ansaldo), 49. Arnaldo Frateili, nascido em 1888, é um jornalista e escritor
cf. vol. 4, p.115 e 117. de destaque sob o fascismo. Em 1924, por exemplo, aparece à frente
de uma ambiciosa revista, Lo Spettatore italiano, ao lado de Giuseppe

300 3 o1
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

Bottai, um expoente do regime particularmente preocupado com ques- 53. A primeira edição em livro aparece em 1931: Alfredo P.anzini, ,.
tões culturais. Com o romance Clara fra i lupi, A Frateili ganharia, em II conte di Cavour, Milão, na coleção "Le Scie" da Ed. Mondadori,
1939, o conhecido Prémio Viareggio. dedicada a "correspondências, memórias, biografias e curiosidades".
Roberto Forges Davanzati, mencionado de passagem, é o editor
de La Tribuna, jornal originalmente liberal-giolittiano, cuja fusão com 54. Em certas expressões usadas por Panzini sobre a "ditadura" de
J;Jdea Naziona/e, órgão da antiga Associação Nacionalista Italiana, ele Cavour, o articulista do Resto dei Carlino sugere, maliciosamente, a
próprio promove em 1925. Sobre Forges Davanzati, cf. vol. 1, p. 407. possibilidade de uma polêmica indireta contra Mussolini.

50. Gramsci possui, no cárcere, o Panorruna de !11 litténlt ure it1rlienne 55. Bertoldo é um personagem do poeta popular bolonhês Giulio
conte1nporai11-e (Paris, 1928) Je B. Cré1nicux, usadoi por exemplo, no Cesare Croce (1550-1609), livremente reconstituído a partir de uma
§ 40 deste caderno, p. 111-113. Benjamin Crémieux ( 1888-1944), críti- velha fábula medieval: representa o plebeu astuto, gue consegue enga-
co francês, interessa-se em particular pela literatura it<llian<:l. Traduz para nar os poderosos.
o francês as peças de Pirandello. Durante a Segunda Guerra, adere à Re- Sobre Stcnterello, person;1gem recorrente nos Cadernos, cf. vol. 1,
sistência francesa, é preso e morre no campo de concentração de p. 473.
HtlL'ilL'll\V:!l d.
56. O diálogo entre Quintino Sclla e Vítor Emanuel, contado por
51. Massimo Bontcmpclli (1878-"1960), romancista e dramaturgo,
Fcrdinando Martini em Ço11/essio11i e ricordi (1859-1892), aparece
adere a um "realismo mágico" que lhe permite incorporar ele1nentos
também no vol. 5, p. 259. Sobre Quintino Sella, cf. vol. 5, p. 363-364.
do futurismo e do surrealismo. Em 1926, junto com C. Mal aparte, funda
a revista 900, com o objetivo de abrir a cultura italiana aos movimen-
57. Gramsci refere-se a cinqücnta e seis cartas de Massimo
tos europeus contemporf1ncos. A revista, que dura até 1929 e participa
D' Azeglio, que fazem parte de urna coleção de documentos mais am-
da celebração do fascismo, insere-se na corrente "supercosmopolita".
pla sobre o Risorginzento, relativos à aliança entre a França e a Itália,
O "n1~111ifcsto" a que Gra1nsci se refere aparece nos prin1ciros quatro
à guerra de 1859 contra a Áustria e à expedição garibaldina dos Mil,
números de 1926.
Sobre a contraposição entre "supercosmopolitismo" e "super-re- episódios amplamente tratados no vol. 5. A conturbada publicação
gionalismo", cf. vol. 2, p. 304. destes documentos- "o caso Bollea" - aparece comentada no vol.
3, p. 228 e 400, e no vol. 5, p. 195-196. Gramsci, no entanto, come-
52. Na verdade, a .::arta de G. Prczzolini aparece, pela primeira vez, te uma imprecisão: em 1912, no Bollettino Storico-Bibliografico
na revista de Piero Gobetti, Rivoluzione J....,iberale, em 28 de setembro Suba/pino, o Prof. Luigi Cesare Bollea não publice as cartas de Massi-
de 1922. P. Gobetti coment:-1-a criticamente não só nesta edição como mo D'Azeglio, mas apen~:i.s con1enr:1 os obst;í.culos leg:tis enfrentados.
também na de 25 de outubro de 1922. Gramsci encontra-se cm Mos- Sobre ~L1ssi1no D ~\zcglio . cf \·L1l. 5, p. 386-38 7 .
1

cou neste período e não conhece as réplicas de P. Gobctti, não men- Sobre o conflito entre Quintino Sella e \rítor Emc1nucl cf. vol. 5
1 1

cionadas por G. Prezzolini em Mi pare... p. 175-176.

302 303
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

58. Maurice Paléologue (1859-1944) , diplomata e historiador fran- volução Francesa. Entre outras obras, escreve o Esboço de um quadro
cês, é o autor de Un grand réaliste: Cavour (Paris, 1926), do qual histórico dos progressos do espírito humano. Condorcet suicida-se no
,•'
Gramsci possui na prisão um exemplar da 4ª edição. Embaixador na cárcere.
Rússia pré-revoluci onária, M. Paléologue também deixa um testemu- Jacques-Hen ri Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814) , amigo de
nho importante sobre a queda do absolutismo russo. Rousseau, publica em 1788 Paul et Virginie, narrativa pastoral de um amor
inocente, que termina em tragédia por causa dos "vícios da civiliza~~J.o''.
59. A suposição de Gramsci se confirma. No livro[/ conte di Cavour,
cit., p. 48, o polêmico trecho ganha nova redação: ''.Já se disse que o 64. AI fonso ferrcro de La Marmora (1804-1878) participa ativa-
realismo cavouriano era uma ditadura disfarçada: mas nem a ditadura mente da can1panha militar de 1848 contra a Áustria. Primeiro-mi nis-
nem o justo meio teriam sido suficientes para torná-lo dominador, sem tro entre 1859-1860 e 1864-1866, chefia o Exército italiano em 1866,
aquele algo inapreenSível que é o génio.'' gravemente derrotado pelos austríacos em Custoza. A Áustria, no en-
tanto, termina vencida pela Prússia e, pelos termos do tratado de paz,
60. A estratégia de Cavour - a unificação italiana sob o domínio deve ceder Veneza ao Reino da Itália.
da Casa piemontesa de Savóia - leva-o a buscar o apoio de Napoleão Enrico Morozzo della Rocca (1807-1897) , ajudante-de- ordens do
III, contra a Áustria. Já na Guerra da Criméia, cm 1854-1855, o Reino l:tei Vítor E1nanucl, participa das ncgo~iaçõcs diplomúticas com N:i-
do Piemonte-Sa rdenha alia-se à França, à Inglaterra e à Turquia, parti- polcão III e chega a chefe do Estado-Maio r e ministro da Guerra. Par-
cipando da vitória sobre a Rússia. Garantido o apoio de Napoleão III, ticipa também do conflito de 1866.
a qucn1 ta1nhé111 se üntrl'g;11n ;tS rcgiõl's de Savóia e Nice, inicia-se cm Sobre Fnrico c:i:ddini, 1.:L vol. s, p. 404.
1859 nova guerra contra a Áustria. Napoleão III, temeroso de desdo- Cario Pcllion di Pcrsano (1806-1883) , ;1lmir;mtc e, por algum tem-
bramentos revolucioná rios incontroláve is, assina uma paz em separa- po, ministro da Marinha, comdndü a frota italiana no bloqueio da Ilha
do com o imperador austríaco Francisco José em Villafranca, em julho de Vis, no Mar Adriático, em 1866. A força naval austríaca, inferior
de 1859. Como decorrência, Veneza continua austríaca e o processo em número e qualidade de navios, derrota os italianos. Persano, julga-
de unificação ainda ficaria como questão aberta. do em corte 1narcial, perde sua patente.

61. Cf., supra, n. 16, p. 294. 65. Gianduia é uma máscara do teatro popular do Piemonte: tra-
ta-se de um cavalheiro de tricórnio e rabicho, dado aos prazeres do
62. O comentário gramsciano, entre parênteses, sublinha o fato de vinho e da vida no campo.
que, já no século XIX, Francesco De Sanctis - e não apenas os "mo-
dernos" do tc1npo de Panzini e do próprio Gramsci - critica aspera- 66. Num primeiro mo1nento o atentado de Fel ice Orsini e alguns
1

mente o reacionarism o de estilo e conteúdo do escritor jesuíta Antonio outros patriot;1s italianos. contra N~1poleão III parece ameaçar a alian-
Bresciani. ça franco-picm ontcsa contra a Ánstri:i. No cnt;1nto 1 logo cm scguidc1,
cm julho de 1858, Cavour e Napolc~10 III encontram-~e secretament e
63. Antoine-Nic olas de Condorcet ( 1743-1794 ), filósofo iluminista no balneário de Plombiêres e consolidam a aliança. - .
e político, foi preso como girondino durante o período jacobino da Re- Sobre Feiice Orsini, cf. vol. 5, p. 372.

1
304 305

l
CADERNOS DO CÁRCER_E NOTAS AO TEXTO

67. Riccardo Bacchelli (1891-1985) escreve inúmeras poesias, 71. Sobre a "Baronata", en1 Lucarno, cf. voL 2i p. 321.
peças, rom~1nccs e ensaios. (~olabora err1 várias revist:1s in1portc1ntes
da época, a partir d:-11/oce prezzoliniana, e está. entre os fundt1dores 72. O mote de Proudhon us~1do por G. Raimondi cstú em francês,
daR011(/11 C!TI 19J9, r1 ub]ic:1~ão ro~1<lllcl que defende cl rcto111ada do
1
no origi 11;1). Giuscppc IZai1nondi ( l õ91}- l 9X5), escritor :1utodidata com
estilo cLíssico contra <IS vanguardas litcr(1rias. Sua obr,1 principal
1
inclina~õcs de esquerda, l'SCrc·vc (:ln Li1 ko!lda, da LJLial é também se-
seria escrita c1n 193S-1940: II nu1lino dei Po .1111plo painel da his- 1
cretário Je rcdaçi10. Alén1 Jc· seu interesse pela Íiter::1tura francesa
tórici it:ilia11a 1 desde o período n<1poleônico até n Prin1cira c;uerra, n10Jerna, cscrt:vc obras i:on1 J°lJítc co1nponc11tc ;1utohiográfico, entre
no q11:.1i se insere a viJa J1_.. Y.í.rias gerações de unia L-uníliêt cornun1 de eis guais Gulileo ouvero de//'ari, i ( 1926) e l)ouit:1ÚL;o (_; ford111ú. A. vventure
moleiros. di un 1101110 casali11go (1928). Em 1954, ganharia o Prêmio Viareggio,
com Notizie d1dl'Enrilia.
68. O russo Mikhail B,1kunin (1814-1876) e os italianos Cario
Cafiero (1846-1892) e Andrca Cosra (1851-1910) siio conhecidos di- 73. Cf., neste volume, p. 85.
rigentes anarquistas. Cario C:aficro conhece M;trx e Engels, na época
da Primeira Internacional, e publica uma versão resumida de O C([pi- 74. p,,olo Arcari (1879-1955), autor de V<Írios livros sobre litera-
to/1 <lntcs de se tornar coL1horaclor de R:1k11nin. J\ndrca Costa, ;t partir r11n1 it;i\i;111a e de alguns ro111;1nccs incnorl's (II 1·i('lo Sl'll::Jr l)io 1 1922
1

de 1.SSO, deixa o anarquismo e, en1 1881, funda o sen1anário 1\uanti! 1 1lltroL1e, lY26, entre outros), ta1nbén1 participa do cornitê central do
pouco ;'lntes de se tornar o primeiro representante soci<1list<i no Parla- Partido Nacionalista. A revist<t n1ila11es-.1 que dirige, fund,1da em 1914,
n1cn to italiano. Ern 18 7 4, Bakuni ni Cafi cro e Costa participam de uni chamd-sc, na verdade, J;Azione,
frustrado levante anarquista cm Bolonha, tema do ro1nancc de lliccardo Luciano Gennari (1892-1979), dran1aturgo, crítico e ensaí&La, es-
Bacchelli. creve em francês, em 1926, um de seus romances, L'lt1!Íie qui vient,
prc111iad0 pela Ac;1dcn1i:1 Fra1lL'\.'S,l.
69. Ne~te parágr<lfo, os trechos sublinhados e entre parênteses são Em Date a Cesare (La politica religiosa di Mussolini w11 documenti
comentúrios de Gramsci. Sobre o "homem de Guicci<lrdini", de De ineditz), de 1929, Maria Missiroli refere-se, em particular, à pobreza
S;111ctís, cf vol._ 1, p. 478. dos estudos religiosos na Itáli;1, n1as seu juílo abrange outros campos
dê! cu! tura c~1tól ica. Sobre i'vlari o j\,J i ssi rol i, cf. vol. 1, p. 4 81-482.
70. Cf.i respecriv,tn1c-nre, Ettorc- Zoccoli, I.:anorchia: G/i ogitatorii Mari~1 Di Borio, pseudônin10 <la Condessa Maria Gauthier Panzoia,
!e idee, i /~1ttii Turin1 1907i J\..·L-ix NettL-lu, Mikhlli! Br1k11nin, eine
1 "enrediante romancista" e "prcg:1dora carola de virtnde" (A. Gramsci,
Ri( .gr. 1;d.1i1-, r .: ,, idrcs, : sYh- l :.)00; l' J,unes c;u] 1h:11 HllC', L'/ 11/ l'/'/ltl I ionizle: Cronac-/.1eforinesi 1913-1917, ·n1ri111, Ei11;111di, JY80, P-- 408), cscrc:vc
lJoc1nHcllls et so11ve1Ji,-s (1860-1878), Paris, 1905-1910. 1\ propósito narrativr1s inteira1ncnte csqt1cl:id . 1s, con10 l"'i/l!Úi:11 7 /\/(1ure donne e
de Jan1cs (;uilh~1umc, c;rJn1.-;ci corrige, entre p<1rêntcses, ,1 indicaçJ.o Giouentif, prilnaverrz del/11 uilrr, ,1!<·111 de nrn cnsclio t"r:111côfilo sobre a
de nacion<llidadC: de f;no, Guilhaurne pertence <\área francófona do Primeira Guerra Mundial, La /(,rfe e/{[ uittori11 ( 1916 ). ()episódio aqui
Jura, n;-1 Suíça. aludido (e sobre o qual 11:10 foi possível obter n1aion.·s informações)
deve estar ligado à experiência rurincnse dl.'. Gran1sc1.

306 J o7
CADERNOS DO CÁRCERE
NOTAS AO TEXTO

A revista Frontespizio (que tem como colaboradores, entre outros, claramente oposto ao de Gabrielle"D'Annunzio. Publica também livros
Giovanni Papini e Ardengo Soffici), é publicada entre 1929 e 1940. de viagem sobre a América do Sul.

75. A primeira edição do romance histórico Os noivos, de Ales- 80. Luigi Capuana (1839-1915) escreve contos, novelas e peças em
sandro Manzoni, é de 1827, mas a edição definitiva data de 1840. O dialeto siciliano. Conheced or das correntes literárias de seu tempo,
poema Os sepulcros, de Ugo Foscolo, aparece em 1807. Sobre U. sobretudo do naturalism o francês, é um dos principais teóricos do
Foscolo, cf. vai. 2, p. 300. moviment o verista, exercendo forte influência em Giovanni Verga e
outros escritores da mesma geração.
76. Victor Cambon, no "Prefácio" a H. Ford, Ma vie et mon ouvre Luigi Tonelli (1890-193 9), crítico literário e professor na Univer-
(Paris, 1926), afirma: "A atividade mais valorizada em cada época sem- sidade Católica de Milão, escreve livros sobre a história do drama ita-
pre atraiu as inteligências mais altas desta mesma época. No tempo dos liano, sobre Manzoni e sobre Torquato Tasso.
Medieis, era a pintura e a escultura, e os cérebros mais capazes se en- Sobre Francesco Crispi, cf. vai. 5, p. 365.
tregaram a elas. Leonardo da Vinci e Michelang elo dominavam todos
os conhecime ntos de seu tempo, até mesmo os técnicos, mas eles eram 81. O semanário literário lido por Grarnsci publica uma carta de
acima de tudo pintores e escultores. Os gr_andes navegadores do reino L. Capllirna à amante, escrita em dialeto: cf. Gino Raya, "Una lettera
de Isabel, os pioneiros ousados como Franrais Lassalle seriam ho3·e os d'amore inedita di Luigi Capuana a Bepa", i;[talia Letteraria, 28 de
. :r ' '
homens dos caminhos de ferro." Gramsci também menciona esta idéia julho de 1929.
Jc V. Cambon nu vol. 2, p. 189-191.
82. Sobre o terna da língua italiana e as respectivas posições de
77. J;Ebreo di Vero1Ul, o mais difundido romance do Padre Bresciani Manzoni e de Ascoli, cf., em especial, o artigo pré-carcerário "La lingua
aparece em 1851. O antiliberalismo radical do Padre Bresciani tem o' unica e !'esperanto ", cit. Como revela o item 12 do programa de tra-
aval do catolicismo de seu tempo: Pio IX, leitor assíduo dos romances balho no início do caderno 1 (cf. vai. 1, p. 79), trata-se de um tema ao
de Bresciani, lê os originais de J;Ebreo di Verona e até sugere algumas qual Grarnsci dedica especial atenção, embora não o tenha desenvolvi-
correções. do diretamen te nos Cadernos.
Graziadio !saia Ascoli (1829-190 7), professor na Universidade de
78. Gramsci parte, aqui, da resenha não assinada, "Intorno alla vi ta Milão, dedicou-se ao estudo das línguas orientais e, particularmente, à
e agli scritti di S. Agostino", Civiltà Cattolica, 19 de julho de 1930. lingüística comparati va e à dialetologia. Deve-se a ele um pioneiro
Entre os livros examinado s nesta resenha, está o de Giovanni Papini, modelo de cL1ssificação dos dialetos italianos. Como senador, Ascoli
Sant'Agost ino, 2ª c1., florcnça, 1930. A este propósito, cf., também, dedica especial interesse à educação pública.
vol. 4, p. 214. '
83. A cidade de Pontrernoli, na Lunigiana (Toscana), torna-seco -
79. Maria Pnccini (1887-195 7), romancist a influenci1ido pelo nhecida pela atividade de seus vendedores ambulantes. Já no século
verismo de fins do século XIX, escreve numerosos livros figurando a XVIII, "pontremo lêsn é sinônimo de mercador dos mais diversos pro-
vida e os sentimento s das pessoas de nascimento humilde, num estilo dutos, particuL-1rmente, porém, de almanaques populares, livros devo

308 309
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

cionais e im~1gens sacras, muitas vezes expostos crn ""banc:1s" nas ruc1s, mio Nobel - publica um artigo sobre Svevo na revista Esame, men-
imediatamente acessíveis 8 gente con1um. cionado por Gramsci neste mesmo parúgrafo. Svevo, na verdade, só
publica na Critica socit1!e (revista socialista dirig1d;::i por Fi!ippo Turati) 1
84. Giovanni Ccncl ( 1870-1917), poeta e romdncisL-1 1 c1_iud~1 a criar um conto, "La Tribú", em 1897.
setenta escolas rurais 1 con1 o objctiYo de pôr fi111 cto .itr.lso l·ulrural da
popula~ão do campo. Su;i sin1patía pelas cL1sscs sub.tltcrn;t-,; é L'Vidcnte 8 8. Alberto Moravia (1907-1990), um dos maiores escritores italia-
no romdnce Gli anl11101útorii publicado em 1904. nos do século XX, estréia em 1929 com o ro1nance Os i1kli/erentes, no
Ale~sandro ~larcucci escreve llITl folheto, "G. c.
:11a l· le ~cuolc per i qual rctr<-1t~1 urna cL1sse média cujrt inércia moral favorece <1 ascensão do
cont;1dini" (1919) 1 e um ensaio, "La scuoL-1 in gloria de Giovanni Cenna" fascisn10. Na cultura italiana dos anos 30, o sucesso deste romance seria
(1921), publicado na revista I Dirilli deli" Srnolil. um argun1ento favorável à posi~ão dos "contcudistas", contra os defen-
sores "formalistas" da prosa de drte, liderados por Alfredo Gargiulo (so-
85. Sobre Giuseppe Parini, cf. vol. 2, p. 302. Parini, um religioso bre o qual, cf., infra, n. 96).
de origcn1 popular, sin1p,1tizc1 con1 o Ilunlinis1110 {_' Cl H. t:\'o\u)-·:10 rran,,:e- Nino Savarese (1882-1945), romancista e dramaturgo siciliano,
S<l, chcg,111Jo J ser co11siJL·c1lio j.i..:ubino PL'los ccnn.._·111pu1<111L·os. puhlic,1 l A'1.d1Tgigi por partes, cnrrc- agosto e sctc1nbro de 1928, na
N11ut'd i\ntu!ugid. 1\ priinl·ir;i l·di\".-111 c111 li\TU C· de l'-J29, e sli e111 .._k·-
86. Ern 1934, Gino s,1riotti é UJTI Jos YCI1L'L·Jurcs L'Ill \ 1i.1rcggio, zcn1bro desse ano, depois Je SLT indicado pdra o prê1nio literário 'Ii'in-
com o ron1;1nce·M-e;:,.:o AL1rtn. Gr.1n1scii prov;1vcl111c1nc 1 lê· .1 noríci,1 no ta, é que a ltaha Letten1ria (desde .-1hril de 1929, o noYo nome da antiga
Curriert; d1'lli1 .).tir11 Jc 1.) lk- ,1i;ostu ,.Jc 19 3-1. Gí nu S;1\ 1' i\ l' (JS '7 3 -1Yt)())
1
Fieri1 lA·lfer11rii1) lhe JcJicari.t 11111,1 resenha.
escritor de formação croci;u1a, cornbate a pciesia e o ro;i:1cu1ce moder-
no, o que não impede stLl p,1rtícipa:;:ão, entre 1932 e 1933, ao lado do 89. Luigi Bertelli, ou Vamba (1858-1920), funda em 1906 II
v;111gt1.1rJísta Ezra Puund 110 sup\vn1cnto litcLírio Jo jorn:d II lv1are,
1
Giorno!iJto deli a Dontenica, de extraordinário sucesso entre os jovens;
publicado na Lígúria. Ern 1'339, p<1rte pcira PortugJl, 011J.._, se enraíza, a publicação continua até 1924, depois da morte de Bertelli, que é,
dedicando-se particuL1nnente ao teatro. também, autor de várias obras para a juventude. Assíduo colaborador
deste suplemento é o padre e filólogo Ermenegildo Pistelli (1862-1927),
87. James Joyce (1SS2-1941L o fan1oso CSLTiror irl.lrhlês) residíu que escrc\'e uma coluna regular de nome "Pisto]c", <Hribuindo-a a
cm 1907 crn "lfit.:st'--\ onJc c11sin;1 int-;10s; é quando L'onh.._·l·L· ltcdu Sv<.:vo, On1cro H. L'di, u1n fictício g;truto florentino através do qu;d se criticam
que precisa de auL1.s particu1.-1rcs: d.tí nasce a rtmi;,,1,Jc c1ltrL' os dois e :::i os lin1itcs Jo sistem;1 educacional.
admiraç~to de Joyce, que L~L1ria co1n entusiasmo de Svl·Yo J si..>us ami-
gos parisienses, entre os quais Bcnja1nin CrémiL·us. N,1 épo..:-.1, Svevo 90. Sobre Arturo Calza, cf., em particular, vol. 2, p. 141.
( 1861-1928) já havia publi cc1do dois l 1nos por con Li própri cl, U111il uidd
(1892) e Senilidade (1898), sem chamar a atenção d" crít1ccl. Em 1923, 91. Antonio Fradeletto (1858-1930), orador e depurado do Parti-
em ediçüo também custe;tdJ pelo c111tor, c1parece i\ consl·i1~n;:ir1 de Zeno, do Radical, participa do minist~rio logo após a Primeira Guerra. Em
igu<-l.lmente ignorada pela crítica. O reconhecin1cnto con1cç<i :l apare- 20 de dezembro de 1915, após a entrada da Itália na guerra, Fradeletto
cer quando, em 1925) Eugcnio ~fontalc- pocci, críti;..-o v futuro Prê- pronuncia cm Turim um discurso repleto de sentimentos patrióticos.

31 o 3 11
CADERN OS DO CÁRCER E

O jovem Gramsci dedica-lhe dois artigos, nos quais busca mostrar que
96. Bruno Cicognani (1879-1971), ficcionista e memorialista, adota
seus mitos nacionalistas o levam a deforma r a história da Itália (A.
em seus primeiros escritos o estilo de D' Annunzio, mas em seguida adere
Gramscí, Cronache torinesi 1913-19 17, cít., p. 40-42 e 43-46).
à tradição do realismo, inspirando-se em persondgens comuns do am-
Sobre Vittorio Cian, cf. vol. 3, p. 3 82. Professor de literatu ra na
biente de Florença.
Universidade de Turim (inclusive no período em que Gramsci a fre-
Alfredo Gargiulo (1876-1 949) publica seus primeir os artigos na
qüenta), Cian é um nacionalista fanático, que se empenh a por impedir
revista La Critica, dirigida por Croce, embora nunca tenha aceito a
que professores não alinhad os com suas idéias tivessem acesso à Uni-
tese crocíana da arte como intuição pura. Escreve importantes ensaios
versidade. Gramsci denuncia sua posição reacionária e intolerante em
sobre D'Annu nzio e Ungaretti. O artigo mencion ado por Gramsci faz
muitos de seus artigos juvenis.
parte de uma série publicada na Italia Letteraria sob o mesmo título
geral, "1900-1 930", a partir de janeiro de 19.30.
92. Sobre Francesco Coppola, cf. vol. 1, p. 485. Sobre Luigi Feder-
zoni, cf. vol. 4, p. 349.
97. Giulio Bechi (1870-1 917), militar de carreira, particip a da
Mauric e Barres (1862-1 923), escritor e dirigent e intelectual do
guerra da Eritréia, da violenta supressão do brigantaggio na Sardenh a
nacionalismo francês, busca conciliar, em sua obra ficcional, o subje-
(em 1897-19 00) e das ações mil ir.ares na Líbia. Caccia grossa. Scene e
tivismo romântico e a exigência de disciplin~ e tradição. Colabora com
figure dei banditis mo sarda (figuradamente, caccia grossa significa "caça
Charles Maurra s no estabelecimento das bases doutriná rias do Partido
aos homens"), livro publica do em várias edições a partir de 1900, pre-
Nacionalista.
tende ser um "libelo político" contra o sistema social que produz o
Charles Pég11y (1873-1914), drey(l/s11rd militante e adepto de um
brigantaggio. Sobre G. Bechi, cf., também, vol. 5, p. 150.
socialismo bastante peculiar, retorna à fé católica e deixa uma obra de
poeta, polemista e ensaísta, a que não falta, em alguns casos, uma ins-
98. Oskar Maria Graf (1894-1 967), romanc ista e poeta de origem
piração profétic a e épica, como noMyste re de la charité de Jeanne d'Arc
popular , insere-se na tradição do realismo de tendênc ia socialista. Par-
(1910).
ticipa da curta República Socialista da Baviera, no primeir o pós-guer-
ra. Exila-se em 1933. Sem abandon ar o protesto social, as histórias de
93. Sobre Monsen hor Giovanni Casati e seu dicionár io, cf., neste
Graf também figuram o impacto da modern idade sobre a vida popular
volume, p. 169-171.
bávara.
94. Cf., neste volume, p. 80.
99. Lina Pietravalle (1887-1 956), entre os anos 20 e 30, escreve
uma série de novelas e um único romance, Le catene, com os quais o
95. Ernest Crosby (1856-1 907), juiz de um Tribunal Internac ional
Molise centro-meridional, uma das regiões n1ais rurais da península,
no Egito sob domínio britânico, renuncia ao posto em 1894, sob o
entra na literatura italiana, sob uma perspectiva próxima do verismo
impacto da leitura de Tolstoi. Depois de ir ao encontr o do grande es-
de Giovanni Verga.
critor na Rússia, torna-se adepto da reforma social não-vio lenta nos
De Giulio Marzot, Gramsci tem em mente o livro ];arte di Verga.
Estados Unidos e destacado militant e antiimperialista até a morte.
Note ed analisi, Vicenza, 1930.

312
313
NOTAS AO TEXTO
CADERNOS DO CÁRCERE

100. O alemão Karl Hagcnbeck (1844-1913 ), comerciante e ames- 4. CADERNO 27


trador de animais intcrnacionaltnente famoso, também promove "es-
pct;'1c1ilos etnográficos" itincL1ntcs 1 apn.:scntanJo ~io público c11ropcu, 1. Giovanni Crocioni (1870-1954\ cstuJioso Jc folclore, tra<liçôcs
como "atrayõcs". de grande sucesso, indivíduos de etnias 11;10 brancas. populares e dialetos, especialmente da região d<is ~1arcas, tem uma
K. 1-fogcnbeck está ;\inda lig'1do à fundaç:w dos modernos zoológicos extensa bibliografia c1n que se dcstÚC<lln f,e regioni e la cultura regio1uile,
ao <lr 1ivrc. O título cx;1to de seu livro é Le núe IJU-'Jl!Orie di donu1tore e de 1914, e TTadizioni popolori 11ell11 letteratura iti-diiuu1, publicado
nlercnnte, Roma, 1910. postumamente. Suas posições s:í.o reconstruídas por Gramsci a partir
da mencionada resenha de R;iffacle Cian1pini.
101. Tomrnaso Grossi (1790-1853), pertencente ao círculo mais
O siciliano Giuseppe Pitré ( 1841-1916) também dedica a vida ao
próxímo de Alessandro l\1anzoni, é autor do poema histórico-sentimen-
estudo do folclore. Sua Bibliogrr1/i,1 delle tradizio11i popolari d'Italia
tal "!Lombardi alia prima crociarn" (1826), musirndo por Giuseppe
surge pela primeira vez cm 1894: trata-se de uma enciclopédica cole-
Verdi, e do romance histórico Marco Visconti (1834).
ção em 25 volumes, com canções popuh1res, lendas, nc1rrativas, pro-
Gramsci possui 1 no c/irccre, a edição de 1914 de I niiei rícordi, de
vérbios e festas sicili;tnas.
J\1assin10 l)'1\1:cglio: snhrc e~ra rcfcrênci,t gran1scian,1, dl·vc-sc ver em
p:irtil'tii:tr os c:1pítul()s XXI\' e XXV do livro, ctn que M. D'1\zcglio
relembr~l sua estadia c1n !\1a.rino.
2. Sobre Ccsare Pascarclla, cf. vol. 2, p. 309.

102. Sobre a polê1nica entre lJgo Ojctti e Un1bcrto Fracchia cf., 1


3. Sobre M;Jurizio Ma~aviglia e <-t discussão sobre o direito natural,
neste volume, p. 42. cf. vol. 3, p. 330.
Albert Thibaudet (1874-1936), crítico literário, é autor de estudos
sobre o estilo e a ideologia de Charles Maurras e Maurice Barres, as- 4. Provável referência ao capítulo "Rousseau. Il diritto naturale,',
sim con10 de uma história da literatura francesa modern<L publicado inicialmente no livro de Croce Ele111enti di politica, de 1925,
e republicado em Eliw e politirn, de 1931.
103. O discurso de Gioacchino Volpe, "II primo anno dell'Accademia
d'Iralía", tan1bém é ffiencion<Jdo no vol. 2 1 p. 153.

104. Sobre Giuscppc Giusri, cf. vol. 2, p. 300.


5. CADERNO 29

105. No artigo "Trop de zele", naltalia Letteraria de 25 de agosto


de 1929, informa-se sobre uma nova diretriz dada por Mi eh ele Bianchi, 1. B. Croce, "Questa tavola rotonda ê quadrara", ensaio originalmente
subsecretário do Interior, que se propunha "anular, até oJtde for lícito, publicado em 1905 e recolhido em Problerni di estetica e contributi
certos obstáculos excessivos interpostos a alguns editores e livreiros alia storif/ del!f/ estetica italia11f/, Bári, Laterza, 1923, p. 169-173. Em
pelas autoridades de Scguran,a Pública, contra a venda das obras de carta a Tatiana de 12 de dezembro de 1927, Gramsci declara sua in-
autores russos, como Gorki, Gogol, Dostoievski, Tolstoi, Turgueniev, tenção de escrever "uma dissertação sobre o tema, com o título ~Esta
e atl· Jc Jack London 1 eon10 'fat:úo de /'erro". mesa redonda é quadrada"' (A. Gramsci, Lellere, cit., p. 140). O tema

314 315
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

reaparece no programa de trabalho que abre o caderno 1 (cf. vai. 1, p. Academia da Itália encarrega-o de uma de suas iniciativas mais impor-
79) e neste volume, p. 159-160. tantes, a confecção de um dicionário da língua italiana:

2. Em sua Guida alfa Grammatica italimuz com unProntuario dei/e 5. Ciro Trabalza, Storia della grammatica italiana, Milão, 1908.
incertezze (Florença, 1934), A. Panzini afirma: "Percebemos o quente Este livro é citado não só no prefácio à gramática Trabalza-Allodoli,
e o frio sem termômetro; mas é bom ter um termômetro em casa. Do mas também nas resenhas mencionadas sobre esta gramática.
mesmo modo, podemos escrever e falar mesmo sem gramática; mas é
bom ter uma." 6. Cf. vol. 2, p. 42-52.

3. Ciro Trabalza e Ettore Allodoli, Lagrammatica degl'italiani, 4ª 7. Sobre a impossibilidade de excluir a gramática da vida real, cf.,
ed., Florença, 1935. neste volume, p. 142-144.
Paolo Monelli (1891-1984), conhecido jornalista e escritor, pu-
blica em 1933 um livro sobre barbarismos lingüísticos, história e 8. Enquanto escreve o Inferno, nos primeiros anos do século XIV
etimologia das palavras, com o intuito de ensinar o leitor e também e já exilado de Florença, Dante redige em latim uma defesa do verná-
"distraí-lo". culo, o De vulgari eloquentia: trata-se do primeiro texto em que se
examinam, segundo os princípios do tempo, os vários dialetos italia-
4. Cf. Alfredo Schiaffini, "La grammatica degl'italiani?", Nuova nos e a questão de uma língua unitária.
Antologia, 16 de setembro de 1934, p. 288-294. Curiosamente, Gramsci
também guarda um artigo elogioso sobre a gramática de Trabalza-
Allodoli, publicado no Corriere de/la Sera em 15 de junho de 1934 e
assinado por Giovanni Papini. 6. DOS CADERNOS MISCELÂNEOS
Matteo Giulio Bartoli (1873-1946), professor de Lingüística na
Universidade de Turim desde 1907, tem Gramsci como aluno. Interes- L Sobre Antonio Bruers, cf. vol. 5, p. 413.
sa-se pelos processos de mudança lingüística e pelas relações da língua
com a geografia, a história e a cultura. Opositor do positivismo dos 2. Sobre a conexão entre Alfredo Oriani e Mario Missiroli, na ques-
chamados "neogramáticos", Bartoli se considera um "neolingüista". Em tão específica das "interpretações do Risorgimento", cf. vol. 5, p. 28-42.
1925, coin efeito, publica uma Introduzione alia neolinguistica. M.
Bartoli contribui, especificamente, para os estudos sobre a distribui- 3. Piedigrotta é um distrito de Nápoles: "canções de Piedigrotta"
ção geográfica das línguas. são canções populares em dialeto napolitano. Libero Bovio (1883-
Giulio Bertoni (1878-1942), também professor de Lingüístiea na 1942), poeta dialetal napolitano, escreve muitas destas canções popu-
Universidade de Turim, de 1921 a 1928, transfere-se em seguida para lares. Não foi possível apurar o que Gramsci pretende indicar com o
Roma. Em seus estudos de língua e de literatura, revela uma posição "apólogo do funcionário corno".
eclética: embora mantendo certas premissas positivistas, também se vale Sobre Adriano Tilgher, cf. vol. 4, p. 338.
de eoneepções do idealismo de Croce e, principalmente, de Gentile. A

316 317
CADERNOS SlO CÁRCE-RE NOTAS AO TEXTO

4. Com Bandar Log, Gramsci refere-se ao povo dos n1acacos retra- 8. II Popa/o d'Italia é, por certo, um dos alvos da crítica de Grarnsci.
tado no romance O li1'ro ,/,, sclv<1, de Rndyard Kipling (1865-1936), Fundado por Mussolini cm 1914 para defender a intervenção italiana
escritor inglês nascido 1101 Índia, agraciado com o Prê1nio Nobel de Li- na guerra, este jornal torna-se depois o principal órgão <lo Partido Fas-
teratura c1n 1907. Gra111sci ta1nbé1n n1cncion<t n1uiras VCZL'S Kipling cin cista e p;1ssa a ter, con1 a chegada Jo L1scisrno :10 poder, u1n estatuto
sua obra pré-carcerária e en1 sua correspondênci<1 com os filhos. semi-oficial, até seu fechamento cm 1943.

5. Ada Negri (1870-1945), em suas primeiras poesias, trata de te- 9. Sobre a questão Salgari, cf. vol. 2, p. 77. Sobre o poeta Vincenzo
mas até então quase totalmente ignorados pelos princip.1is poetas ita- Monti, cf. vol. 4, p. 341.
lianos: conflitos sociais, efeitos <la industrializaçilo 1 Jificuld<Ides e
sofrimentos da classe operária; etc. A. Negri abandonaria este socialis- 10. Como "o homem dos rnicrórios ingleses e das tampas de privada
mo humanitário e sentimental, abraçando depois o dccadcntisn10 lite- automáticas", Gramsci se refere a Mario Gioda (1883-1924), um anar-
quista postcrioren1ente convertido ao fascismo, com quen1 ele polemiza
rário. Stel!a n-iattutina é o "romance de formação" de A. Negri, Jo qual
Gramsci toma conhecimento através da resenha mencionada de M. diretamente em vários artigos anteriores à prisão. No artigo aqui recor-
dado, "Carattcri italiani: Giodn o dei H..01nanticisn10'\ puhlicado en1 28
Schcrillú.
<lc fevereiro de 1924, Gramsci s11bliuha a influência do lulhctim sobre
certos aspectos da mentalidade fascista: "É este o lado romântico do mo-
6. Arturo Graf (1848-1913), professor de literatura italiana na
vimento fascista, <le fascistas como Mario Gioda [... ), etc., etc.; urna fan-
UniYcrsidadc de Turin1, exerce considerável influência na cultura pie-
tasia desequilibrada, um frenesi de heróicos furores, urna inquietação
montesa de seu tempo. Durante muitos anos, Graf edita o Giornale
psicológica cujo único conteúdo ideal são os sentimentos difundidos nos
Storico de/la Letteratura Italiana.
romances de folhetim do romantismo francês de 1848. [... )A conjuntu-
Candidati all'Imortalità, de 1904, é um livro de perfis biográficos
ra histórica permitiu que este romantismo se tornasse 'classe dirjgente',
escrito por Giulio de Frenzi (pseudônimo de Luigi Federzoni).
que toda a Itália se tornasse um romance de folhetim" (A Grarnsci, La
costruzione dei Partito comunista 1923-1926, Turim, Einaudi, 1974, p.
7. De acordo com a lei eleitoral aprovada em 1923, o partido que
369). Sobre M. Gioda, cf. também vol 2., p. 311-312.
conseguisse o maior número de votos nas eleições nacionais 1 desde que
acima de 25º/o, receberia dois terços das cadeiras na Câmara de Depu-
11. Louis Blanc ( 1811-1882), socialista francês, propõe a garantia
tados. Nas eleições de abril de 1924, sob esta lei, os fascistas conse-
estatal do emprego através do estabelecimento de fábricas controladas
guem 374 dos 534 mandatos em disputa. Em maio de 1928, há urna pelos próprios operários. A proposta de L. Blanc é influenciada pelo
nova modificação: urna lista única de candidatos, aprovados pelo Gran- socialismo utópico de Saint-Simon (1760-1825).
de Conselho Fascista a partir de indicações das confederações de tra-
balhadores e empresários, passaria a ser submetida ao eleitorado. Este 12. A referência é ao capítulo do livro de Marx e Engels no qual
último, por seu turno, é drasticamente reduzido num total de quase se comentam, de modo caricdtural, as concepções de justiça do perM
três milhões de eleitores. sonagern de Eugéne Sue (Marx e Engels, A sagrada ;;1mília, Lisboa,
Presença-~1artins Fontes, s.d., p. 300-304).

3 18 319
CADERNO S DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

13. O primeiro livro mencion ado chama-se, na verdade, Breviario 18. Sobre Caporett o, cf. vol. 3, p. 374.
di neolinguistica (Módena , 1925): nele, Giulio Bertoni assina a primeira
parte, ''Principi gcncrali" , e Mattco Bartoli assina a segunda, "Criteri 19. Cf., respectiv amente, Gioacchi no Volpe, L'Italia iJz cannnino :
tccnici". Logo cm scg11iJ,1 Gran1sci refere-se ao livro de G. Bertoni,
1 L'ulthno cinq11rlJ1lennio, !\.1ili1o, 1927, livro no q11<1l a história italiancl
Linguagg io e poesia (Rieti, 1930), publicado numa coleção dirigida por aparece co1no unia rnarcha tri unLt! a partir J<-l unidade; Benedctt o
Domenic o Petrini. Gramsci, antes da prisão, possui uma cópia do pri- Croce, Storia d'Italia dai 1871 ai 1915, Bári, 1928; e Giusepp e
meiro volume; do sepundo, tem apenas informaç ão indireta. Prezzoliní, La cultura itnüana, Florença, 1923, e ~1ilão, 1930. Gn-11nsci
' alude às cautelosas alterações introduzi das por G. Prczzolini, entre essas
14. Cf., respccriv amente, Giulio Bertoni, "Nuovi orientam enti duas edições, no mi. 5, p. 376.
linguistici", II Leonardo, fevereiro de 1926; e Mario Casella, 'Teredit à
deli' Ascoli e l' odierna glottolog ia italiana", II Marzocco, julho de 1930. 20. No manuscri to, logo após II libro di don Chisciotte, Gramsci
escreve "(Alfredo Oriani)", provavel mente como um outro título pos-
15. Giovanni Campus (1875-1919), lingüista sardo, escreve sua sível para o parágrafo .
primeira obra significat iva sobre um importan te dialeto da Sardenha Edoardo Scarfogli o (1860-1917) inicia sua carreira como crítico
(Fonetica dei dialetto logudurese, Turim, 19.01), obra que recebe uma literário. Participa do grupo conhecid o como "os bizantino s", grandes
resenha elogiosa de M. Bartoli. Como foneticist a, G. Campus produz admirado res de Carducci , que combaten1 as convençõ es romântic as
estudos sobre as consoant es velares latinas e ário-euro péias. dominan tes. Escreve sobre autores veristas, como Gio·;;.1nci Verga e
Luigi C.1puana. II libra di do11 CNs«ioíle (1884) reúne seus melhores
16. Sobre Charles Maurras e J;Action Française, cf. vol. 2, p. 316. trabalhos críticos. Muito cedo, Scarfogli o muda para o jornalism o po-
Sobre Jacques Bainville, cf. vol. 3, p. 382. Freqüent emente citado nos lítico, fundando em Nápoles, em 1892, o influente jornal conserva -
Cadernos, J. Bainville reúne alguns de seus trabalhos no volume Heur dor, II Mattíno, repetidas vezes citado no vol. 5.
et nzalheur des Fra1lçais, de 1924. Gramsci mencion a explicita mente,
em outros pontos, a Crítica de Bainville aos "princípi os nacionali stas" 21. Esta "campan ha demográ fica" refere-se ao fato de que, já nos
dos dois Napolcõc s, que teriam possibilit ado a unidade alemã e italia- anos 20, o Governo fascista toma vúrias mcdid<1s para estancar o êxodo
na e diminuíd o a importân cia relativa da França. A este respeito, cf. rural, recup~rando terras, promove ndo a produtiv idade e, sobíetu-
vol. 5, p. 18, 78 e 127. do, lançando -se numa intensa propagan da de idealizaç ão da vida no
campo.
17. SobreFra ncesco Ferrucci e Fabrizio Mararnal do, cf. vol. 5, p. 420.
A cidade-Estado de Como coloca-se ao lado do Imperado r Frederico 22. Numa carta ao crítico francês Sylvestre Guillon, Ugo Fosco lo
1, o Barba-Ro xa, em sua luta contra as cidades (Milão, Veneza, Mântua, declara que em Os sepulcro s, ao evocar poeticam ente os túmulos
Pádua) que, em 1167, criam a primeira Liga Lombard a precisam ente dos grandes do passado, pretende , de fatoJ "inspirar a emulaçã o
para defender sua autonom ia contra a autorida de imperial . Sobre política nos italianos " de seu tempo, promove ndo "a ressurrei ção
Frederic o I, cf. vol. 2, p. 299. não dos corpos, mas das virtudes" . (U. Foscolo, Opere, Florença .
Sobre Júlio II e Veneza, cf. vol. 5, p. 412. vol. 6, p. 518).

3 20 3 21
CADE~NOS DO CÁRCER E NOTA'.· AO TEX10

23. Reagind o contr<-l o sentin1c ntalismo dos rom;1nric:os e sua mé· 28. Giovann i Ferretti (1885-1 952), historia dor literúrio , além de
trica1 conside rada filei!, Giosue Cc1rducci propõe um retorno Js forn1as estudos sobre D;_1ntc, escreve unia \-'ita di Gir1co1no Leopdrd i e prepara
e aos n1otivos clássicos en1 três coleçôcs de poen1as: Odi !Jr1rl.Jr1re (1877), uma i:..:di~:io de suas obras con1plctas.
N11oue adi Ú<Irhare (18~2) e Ji:rze adi b,irb11re (1889). Segundo Carducci,
haveria um forte element o de inovaçã o em sua tenrativ<t de rrazer as 29. O poeta e filósofo Giacom o Leopard i (1798-1 837) nasce na
medidas clássicas ao it<t!iclno modern o, element o que soaria co1no "bár- pequena cidade de Recanat i, nas Marcas, de pais aristocr atas empo-
baro" aos ouvidos tradicio nais. brecido s e católico s ultracon scrvado res. A mãe, Adelaid e Antici, mar-
ca-o com sua indifere nça e insensib ilidade. Leopard i sofre, ainda, por
24. Caetano De Sancris ( 1880-19 44), professo r de I-Iistória Antiga causa de uma deforma ção de nascenç a e da saúde precária ; Sobre
em Ti1rim e cm Roma, de-sólida formaçã o clássica e antiposi tivista) perde Paolína Lcop11rdi, irrn;i_ de Gic1con10, cf., neste vo!un1c, p. 211.
seu posto ;it.::ddên1ico en1 1931, ao recus;.1r-se a prestar o juramen to de
fidclid;1dc ;10 regime fascista. 30. Cf., neste volu1nc, p. 1(Í7.
Sobre Pietro 1-\:Jch:i cf. vol. 2, p. 296.
31. O dramatu rgo francêsJc111 Henri Lamartc liérc (1761-1 830)
J.S. /\ "f.t·trcr; l :d rcvvrcndr1 P:1drc R()s:I, S.J.", lll" llµ,11 Ojvrti, t l'fll t,r·, 111d {' .-.111·l·s-.(
1 11( 11 1 11 l.11 l·1 1111 .1 1l\ \·· 1 /~1d1, ,,-1 (),.( 'fs d( · f ,, 1g 111( Is, i nspi r<1·
~'ubli.._",1J.11i111.:1.i1111L'J1[L' L"lll SllJ fL'\'1St.l !'t~gi1so, l' rcp11bli...:.1d.l L' COll1l'\1·
da cn1 ()s b11111!0!1'iros, J1.) ,ilL·nL-iu FriL·dri1.-·h Schiller (1759-1 805). Em
r.1J.1 f1L·lu P.i~lrc H.u'.'.t ILI c:iuillil Cattolú ·a,
num clrrigo intituL1 Ju conseqü ência Jo sucesso, publi\,:,1 u1n;-1 cont1nua~:to: Le 1nbu11al redou-
"Intorn o ali.1 Concilia zionc". A Concor data entre a Igreja e o EstcJ.do
taúle, 011: L11 suite de Robert cl 1e/rlc úrig1uuls.
itali.ino (ou, mais ãprorric1d;1mente, os Pactos Lareranc11ses), assinada
en111 de fevereir o de 1929, é o contexr o que explica e::sta corresp on·
32. A t'enexiann, parcialr ncnte escrita em dialeto, é conside rada
ciência pública entre U. Ojetti e o Padre Rosa. uma das maiores obras do te<Jtro italiano do século XVI, tendo sido
provave lmente escrita por Girohm o Zanetti entre 1535 e 1537. O
26. Neste parágraf o, todos os pontos de interrog ação, de excla-
editor da peça, Emilio Lovarini (1866-1 955), filólogo e historia dor da
m:1ç:ío e demais observa ções entre p!lrêntes es são de GL-unsci, com ex·
literatur a, realiza vári<1s pesquis: is sobre c1 lircratur a Jialctal paduana e
ceç8.o J;-1 frase: "(e, se é eterno, como pode ser concili,1 do?)", que
sobre o drama renascentist<l venezia no.
aparece algumas linha~ acima e pertenc e ao original de lJ. Ojetti.
!reneo Sanesi (1868-1 964), crítico literário , historia dor e profes-
sor na Univers idade de Pavia, e.screve uma história d,1 comédia italiana
27. Enrico Thovez (1869-1 925), poeta, crítico litrnírio e pintor, é
e edita as obras poéticas e teatrais de Aless11ndro M<tnzoni.
diretor do Museu de Arte Modern a de Turim. Como crítico literário ,
combate durame nte a literatic e e a insincer idade da tr.i.clição poética
33. Ruzzant e (ou Ruzante ), pseudón imo de i\ngclo Rcolco (1496?-
it;1li:1n;1, to111;1ndo D'1\nnu nzio e Carducc i como princip:l is :ti vos e Leo-
1542), escreve uma d(Izia Jc coinédi;1s 1 1111111;1111isn1rc1 Jc dialeto rústi·
pardi como modelo positivo .
co (em sua maior parte paduano ) e itdliano padrão; por ocasião das
montag ens, ele freqüen temenre represe nta o papel do campon ês

322 323
CADERNOS DO C.Íl.RCERE
NOTAS AO TEXTO

Ruzzante, o que expi;ca seu pseudônimo . Embora representada s para


37. O poeta Vincenzo Cardarelli (1887-1959) é um dos fundado-
seu círculo de amigos aristocratas, as peças criticam o artificialism o da
res da revista literária La Ronda, em 1919, que defende a sobriedade
linguagem culta e os hábitos da sociedade refinada.
da tradição clássica e combate duramente autores que considera "sen-
Ludovico Ariosto (1474-1533) , escritor do Renascimen to italiano,
timentais", como D'Annunzio , Ungaretti e os futuristas. Cardarelli e a
é conhecido sobretudo por seu Orlando Furioso; também escreve pe-
Ronda também combatem os pontos de vista de De Sanctis e de seus
ças, algumas d<1s qnai'.s em versos.
seguidores, con10 os membros do grupo de La '\lace, de G. Prezzolini.
Bibbiena, pseudônimo de Bernardo Dovizi (1470-1520) , é um di- Vito Fornari ( 1821-1900), padre e escritor, adepto do purismo clás-
plomata ligado aos Medieis, que o Pàpa Leão X nomeia cardeal em sico, defende posições rigidamente conservador as; em seu livro Della
1513. Escreve uma famosa peça, La cruulria, representada pela primeira vita di Gesii Cristo, expõe o significado transistórico e universal da
vez em Urbino, em 1531. presença àe Cristo no mundo.
O francês Henri Becque (183 7-1899), autor de Les corbeaux e de Sobre o Dicionário da Crusca e a Academia, cf. vol. 2, respectiva-
La parisienne, é considerado um dos ni;iis importantes dran1aturgos mcnte, p. 297 e 300.
naturalistas. Lorenzo Montano, pseudônimo de Danilo Lebrecht (1893-1958) ,
poeta, prosador e especialista na cultura dos séculos XVII e XVIII,
34. Sobre Sun Yat-Sen (Sun Wen), cf. voL 2, p. 120-121. colabora freqüenteme nte em La Ronda.

35. Em seu livro Positivis1no e ideniis1110 nella scienza de! li1lg11aggio 38. Ermolao Rubieri (1818-1879) , depois de participar ativamen-
(Bári, 1908, p. 224-237), analis,mdo esteticamente a f,íbula de La Fonrnine te nos eventos da época do Risorginient o, ~1Ltsta-sc dc1 política e p:-1.ssa
O corvo e r1 rapnsil, Vosslcr CSLTCVc: "'li''f11iil en so1i bec Hn /;·0111t1ge [ti- a dedicar-se :1 tr;1ha\hos de pcsq11isa; -,ilC·n1 de dr;1111<1~ históricos, escre-
nha em seu bico um queijo] - outros diriam: un morceau de fromage ve uma Storia de/la poesia papo/are italiana.
[um pedaço de queijo]. Mas aqui importa apenas a qualidade. A raposa
o deseja precisamente porque é queijo. E mais: outros, em vez de son 39. Natalino Sapegno (1901-1990) , importante crítico e historia-
bec, diriamdans le bec [no bico]. Mas, atribuindo abec o pronome pos- dor da literatura, torna-se marxista e comunista durante a Resistência
sessivo (o que não é de modo algum freqüente em francês), o autor cria antifascista. Fiel à linhagem historicista de Francesco De Sanctis e con-
a impressão de uma posse tranqüila e plena, de modo que a perda do servando elementos do período crociano, Sapegno - entre muitas
queijo aparecerá depois como ainda mais dolorosa." Gramsci sugere que outras obras - escreve um comentário sobre a Divina conzédia nos
Vosslcr erra ao considerar que, no franL-êS do século XVIII, o uso do anos 50. Etn 1961, pnblica Íf Ritratlo di Manzo11i, livro no qual utiliza
pronome possessivo n:io fosse "de modo algum freqüente''. várias sugestões gr~unscianas sobre o romance n1anzonia:no.

36. Ferdin;mJo Russo (1866-1927) , jornalista, dramaturgo e ficcio- 40. Cario Dossi (1849-1910) , jornalista, escritor e diplomata, rea-
nista napolitano, é ai~da lembrado pelas poesias escritas no dialeto de liza uma curiosa mistura dos recursos da língua literária e do dialeto
sua cidade. lombarda, tal como nas narrativas autobiográfi cas J;Altrieri, cuja pri-
·
meira redação data de 1868, e La vita di Alberto Pisani.

324
325
,-.-

CADERNOS DO CÁRCE-RE NOTAS AO TEXTO

41. Nas crônicas teatrais escritas para o Avanti!, Gramsci se refere ué- a morte, dirige a revista La Cultura. Gramsci também se refere a
várias vezes não só a Pirandello, mas também a Nino Berrini (1880- Reisebilder [Cenas de viagem], livro em que C. De Lollis escreve suas
1960)1 um autor dram<ítico muito popular em seu tempo (cf., p. ex., memórias sobre a região de 1\bruzos: cf., neste volume, p. 215.
Literatura e vida nacional, cit., p. 194-195). Sobre as ''ofcTt.1s de alian-
ça" de Berrini, n1n bíógr<tfo de Gra1nsci coment:1: "Suas [de Gramsi..::i] 44. Jules Valles (1832-1885), jornalista e escritor, participa da
críticas teatrais eram ansiosamente aguardadas por cornediógrafos e Comuna de Paris, depois da qual pâssa nove anos exilado em Londres.
diretores. E quando, certa vez, Nino Berrini passou uma scrn,1na a cercá- Sua obra, amplamente autobiográfica, narra as vicissitudes de Jacques
lo co1n a intenção de 0btcr, cm troca de bajulaç;10, um con1cnt<Írio fa- Vingrras na trilogia L:enfant, Le bachelier, L'insurgé.
vorável, recebeu igualmente uma crítica violenta e demolidora. A Émile Zola (1840-1904) realiza, nos Quatre Évangiles, seu tercei-
jlatterie de escritores e autores o aborrecia" (Giuscppe Fiori, A vid11 de ro grande ciclo romanesco, depois dos Rougon-Macquart e das Trois
Antonio Gramsci, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 147). Vil/es. Fazem parte deste terceiro ciclo Fécondité (1899), Travai! (1901),
No mencion~do artigo da Civiltil Ctr!tolica 1 Pirandc.:·llo é definido
La Vérité (1903, inspirado no caso Dreyfus) e La justice (inacabado).
como "mestre da imoralidade e da incredulidade, pernicioso à juven-
Sobre Daniel 1-Lilévy, cf. vol. 3, p. 403.
tude jj Jcscnc:1n1i11h;1d,t 11cL1 :1v.il.11H..-h~1 1 111;ltcn.1li~t.1 1..1\1 ilk\dist;1, Ja
Jc.111 G11éhcnno (1890·197.S), jornalista e escritor d1..· origc111 pro-
arte e da filosofia moJern<l".
lctúria, chega como escritor cons~1grado à Academia Francesa, em 1962.
Em C1/i/;dll parle (1929), combate vivamente as desigualdades cultu-
42~ Ugo Ojctti escreve a coluna dcnomin;1da "Cose vis1e'', no Corriere
rais. Adepto da Frente Popu.L1r nos anos 30, participa da Resistência
de/la Sera, entre 1921e1943. Esrc1 coluna fornece o niatcria\ para vúrias
duranre a Segunda Guerrà.
coletâneas de mesmo título, a primeira das quais cm 1923.
Pierre Dominique ( 18 8 9-1973) apresenta as marcas do enga-
jamento radical-socialista em ro1nances como Colfre sur Paris e Les
43. Gramsci confunde intcir;1mcnte F,nrico C,1jumi, seu contem-
porâneo de universidade, com Arrigo Caju mi (18 99-1955), intelectual
MerceJtilires, além de escrever biografias e estudos históricos, como
os dedicados a Mirabeau 1 à Comuna de Paris e à batalh:1 do Marne,
piemontês ligado à herança iluminista e ãutor Jc muitos artigos na:-;
na Primeira Guerra.
revistas da época. Esta mesma confusão acontece no vol. 1, p. 400.
Sobre R. Gualino, cí. vol. 5, p. 398.
Aristide Briand (1862-1930), estadista francês Jc origem socialis- 45. Sobre Camillo Prampolini, cf. vo\. 1, p. 488.
ta, participa amplamente da vida política de seu país a p~1rtir de 1906, No artigo de Arrigo Cajun1i sobre Cena, as partes entre parênteses
como deputado, ministro e primeiro-ministro in(1merc1s vezes. i\pós a são comentários de Gramsci, com exceção da referência a Augusto
Primeir;i Guerra, Briand é um defensor da Liga d,1s Nações e da coope- Monti (1881-1966), que, em 1929, publicaoromance/samossfe, mais
rai;Jo in!crn:1cion<ll, pusi)'iío que lhe vale o Nobi.J Ll.1 P,t/. de l 926. tarde, si..· torn;1 n1ilitante do Partido Con1unista.
Camillo Berra é um amigo e colega de universidade Je Gramsci.
Quando vive cm Turim, entre 1913 e 1922, Gr:-1n1sci nior;1 como pen- 46. Giuseppe Antonio Borgcsc (1882-1952), escritor, crítico e pro-
sionista na cas~ da mi-íc de Camillo. fessor de estética e de literatur:1 alemã, emigra pãra os Estados Unidos
CesarP De Lollis (1863-1928), filólogo e crítii..'O dl.'. forrn,1ção car- em 1931, por causa de suas convicções antifascistas. Os trechos entre
ducciana, é um dos precursores da 1nodcrna críti~·a cstilísti,..:i-l. De 1907 parênteses, na citação de Borgcsc, são de Gramsci.

326 327
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

47. Cf., neste volume, p. 34. mística do super-homem. Politicamente, Marinetti apóia entusias-
madamente a intervenção italiana na Primeira Guerra com um livro de
48. Cf., neste volume, p. 176. poesias, Guerra sola igiene de! mundo, e depois adere ao fascismo,
considerado como extensão política do futurismo.
49. Sobre a Lei das Garantias, cf. vol. 4, p. 359.
54. Angelo Gatti (1875-1948), poeta, romancista e historiador
50. Mario Rapisardi (1844-1912), poeta e professor universitário, militar, é escolhido pelo General Luigi Cadorna para recolher docu-
nasce e morre em Catânia, na Sicília. Admirador de Goethe, Byron e mentos e escrever uma história da participação italiana na Primeira
Hugo, escreve poemas retóricos, muitos de cunho anticlerical (como Guerra. Por interferência de Mussolini, não chega a escrever essa his-
Lucifero), onde busca dar expressão às correntes positivistas, atéias e tória, mas seu Diario di Caporetto, publicado em 1964, é um docu-
socialistas da época. mento importante e polêmico para reconstituir o período.

51. Mario Giampaolí, de origem anarcossindicalista, rcÍlne novo- 55. Com toda a probabilidade, a informação sobre o verhcte de
lume nicncio11a<lo os artigos publica<los na revista milanesa 1919 , que, Croce na J.!,nciclopédia Britlinica chega a Gran1sci através <lc uma rese-
fundada em 1924, se autodenomina "resenha mensal da velha guarda nha de Natalino Sapegno, no Pegaso de dezembro de 1930.
fascista". Trata-se de texto in1portantc para conhecer os momentos
iniciais do fascismo. 56. Gramsci refere-se ao capítulo "A mecanização da poesia", con-
tido no livro de Rcné Fülõp-Millcr, li volto dd bolscevislllo, Milão,
52. Antonio Pagliaro (1898-1973 ), lingüista e crítico literário, pu- 1930, com prefácio de Curzio Malaparte. Depois de rr.uito empenho
blica obras sobre as línguas ário-européias e sobre a literatura persa; contra a censura carcerária, Gramsci termina por obter autoriz;1ção para
vale-se de seus conhecimentos de semântica para analisar textos literá- receber este livro "suspeito" de Fülõp-Miller.
rios, entre os quais a Divina conzédia.
57. Cf., neste volume, p. 169.
53. Cario Linati 1(1878-1949), romancista e crítico literário, inte-
ressa-se sobretudo Pelas modernas literaturas britânica, irlandesa e 58. Sobre a concepção que Gramsci tinha da "literatura psicanalí-
norte-americana. Além de traduzir autores como Henry James, D. H. tica", inspirada em Freud, cf. vol. 1, p. 229.
Lawrence e James Joyce, é o primeiro tradutor italiano de Ezra Pound.
A Critica Fascista de dezembro de 1930 registra a furiosa polêmi- 59. Carlo Goldoni (1707-1793), prolífico comediógrafo it,ilia-
ca entre Massimo Bontempclli e Filippo T'ommaso Marinetti a respeito no (escreve 149 pcç;1s), se propõe restituir dignidade literária ao tea-
J:1 n1;1c;1rro11:1d;1, q11t,-!C;r;1111sci t:n11hl·111 ;111ot:1, de pass;1gcn1, no vol. 1, tro, opondo <l reprcscnta~·i"io dos cost11111t:s ús i1nprovisayõcs e ús
p. 244. bufonarias da co11unedia dell'arte. Seus personagens- não mais más-
Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), poeta e romancista, é o caras-vivem situações realistas, cxtr;1ídas do cotidiãno. Mud~1-se para
fundador do futurismo, cujo manifesto aparece em 1909, no Figaro fran- Paris em 1762, trabalhando como dramaturgo e tutor das filhas de
cês. Os temas da nova escola são a velocidade, a máquina, a cidade, a Luís XV.

328 329
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

Cario Gozzi (1720-1806) orienta-se, conservadoramente, contra a motivos de infelicidade: o ódio à pequena cidade de Recanati, as difi-
reforma proposta por Goldoni, em defesa do dramr1 popular veneziano. culdades materiais, a relação difícil com o pai, o Conde Monaldo. So-
Em suas Fiabe, de enorme sucesso, inspira-se livremente em narrativas litária, de temperamento romCintico 1 atribui-se a Paolina Leopardi uma
fantásticas da mais variada origem. Embora empregue o dialt:'to veneziano pequena biografia de Mozart,' em que busca sublinhar a similitude en-
e as n1áscaras tradicionais, tan1bé1n tcrrnina por se af,1star <la 1._:on11nedia tre a vid,1 do innão, recém·morto, e a do grande co1npositor.
dell'arte, ao produzir peças completas e ndo meros ,:sboços cênicos.
67. Em 1912, Ardengo Soffici publica um romance- Lemmonio
60. Estes versos juvenis de Filippo Turati, líder socialista reformis- Boreo- a partir de fragmentos <Hltobiogrúficos, numa tentativa de dar
ta, aparecem pela prin1eira vez na revista Farflzlla, em :1bril de 1881. forma à crise dos intelectuais. O resultado, contudo, apenas prefigura
Como Gramsci menciona, Alessc1ndro Schiavi publica estes e outros o grosseiro vitalismo do primeiro fascismo "esquaJrista".
poemas na antologia l~rtúor. Fiorila de canti socirI!ii MiJ;10J 1924. So- Romain Rolland (1866-19.\4), rrnn;mcista e ensaísta francês, au-
bre Filippo Turnti, cf_ vol. 2, p. 313-314. tor de]e<111-Christophe, ganha o Prêmio Nobel de Litcratma em 1916.
Firn1e p;tcifisra durante a Prinll·ir:1 Gt1trr:1, qt1anclo se exila na Suíça,
61. Sobre o P,1Jrc Edo;1rdo l\gu~tino c;cinclli 1 cf. vol. 2, p. 309. aproxinLi-sc depois da csq11crd,t, llllTcccndo n1uitus L·logios Jo jovcn1
Gran1sci, que dele recolhe uni dv seus n1ais rccorrcnti.:s n1orcs: "pessi-
62. Em sua luta contra ir.mceses e bávaros, Andreas Hofer (1767- mismo da inteligência, otimismo d,1 vontade". Esse mote aparece numa
1810) defende o Tirol como parte da Áustria, não da Baviera, a quem resenha de Rolland a um livro de Raymond Lefebvre, publicada em
Napoleão havia cedido o território. Hofer morre fuzilado por ordem L:Humanité de 19 de marÇo de 1920, resenha mencionada pela pri-
expressa de Napoleão. t\ melodia do hino tirolês composto em sua meira vez por A. A. Santucci, em sua edição das Lettere, cit., p. 299.
homenage1n transforma-se, na ex-União Soviética, no hino da Liga Nela, diz Rolland: "O que mais me agrada em Lefebvre é esta íntima
Comunista da Juventude. fusão, que para mim faz o verdadeiro homem, entre pessimismo da
inteligência, que penetra toda ilusão, e otimismo da vontade." Gramsci
63. Cf., neste volume, p. 119-121. cita pela primeira vez a frase de Rolland num artigo publicado em
L:Ordine Nuovo de 3-10 de abril de 1920. (Sobre isso, cf. vol. 2, p.
64. Sobre Paul Bourget, cf. vol. 3, p. 400. 321-322, onde ainda se afirma, com base na edição Gerratana, que a
origem da frase de Rolland nfo era conhecida.)
65. No n1<lnuscriro, Gr::1msci canceL-1, co111 leves riscos, o trecho Em 1934, Romain Rolland publica um folheto, J\.J1to1úo Gra11zsci.
entre pc1rênreses, proYaYcln1cnte porque a referência, feita de memó- Ceux qui nlettrent dans les prisons de Mussolini (Paris, Édition du
ria e depois cotejcl.da con1 o texto de Croce, não reproduz com fideli- Secours Rouge International), onde denuncia os maus-tratos sofridos
dade o que este último <Ifirn1~1 sobre :\1anzoni, Thicrry e Guizot. Sobre por Gramsci no cárcere e exige su<1 libert~1~~10. Este opúsculo foi tradu-
Augustin Thierry, cf. vol 5, p. 424. zido e publicado no Brasil: R. Rolland, Os que morrein nas prisões de
Mussolini (Antonio Grmnsci), São Paulo, Udar, 1935, 15 p. Na "Nota
66. Paolina Leopardi sobrevive ao irmão célebre, Giacomo, com Explicativa" que abre o folheto, assinada por "O editor", com data de
quen1 mantém relações de ;1finidade espiritual e compcirtilha alguns janeiro de 1935, dois anos antes da 1nortc de Gran1sci, pode-se ler:

331
CADERNOS DO CÁRCERE
NOTAS AO TEXTO

"Romain Rolland traça no presente trabalho o perfil de Antonio 71. Gramsci volta a mencionar o artigo de G. Papini sobre Croce
~ramsci, o maior dos revolucionários italianos pela causa do proleta- neste volume, p. 217.
nado. Este seu trabalho foi escrito em setembro do ano passado, tra-
duzido para o português por Colbert Malheiros e publicado, agora, pela 72. Sobre o "arroto do pároco", expressão de Mino Maccari, líder
primeira vez no Brasil." Trata-se de ui:na das primeiras referências a super-regionalista, cf. vai. 4, p. 260. Sobre Luigi Credaro, cf. vai. 4,
Gramsci feitas em nosso País.
p. 332.

68. Renato Fucini (1843-1921), poeta e narrador, costuma atribuir 73. Sobre Alessandro Luzia, cf. vai. 3, p. 400. Gramsci polemiza
seus textos a um hipotético pedreiro, Neri Tanfucio, observador rea- com Luzi o em vários de seus parágrafos sobre o Risorgimento, recolhi-
lista das'cenas e dos indivíduos do campo toscano e um tanto pessimis- dos novol. 5. Nas citações deste parágrafo, os itálicos são de Gramsci.
ta acerca das promessas da nova vida nacional unit~íria. Entre seus livros, Ugo Bassi (1801-1849), garibalclino e frei barnabita, é fuzilado pelas
de grande sucesso, destacam-se os Cento sonetti in vernacolo pisano tropas austríacas em Bolonha, depois do fracasso da República Roma-
(1872) e os contos de Le veglie di Neri (1882).
na. Anita Garibaldi, que, grávida do quinto filho, luta em Roma ao lado
do marido, morre aos vinte e oito anos durante a fuga, sob duríssima
69. A partir do livro citado de Giambattista Marchcsi, Croce de- perseguiç?ío de tropas austríacas.
senvolve considerações gerais, que atLlem a atenção de Gramsci, so-
bre a importância dfi literatura "menor": além da necessidade de rever 74. Trata-se de um jogo de palavras: o sobrenome do filósofo, em
injustiças in1plícitasjc1n todo juízo s11n1;írío sobre o passado, diz Croce, italiano, tc_1n1bé1n significa ~'cruz".
"aquela produção tcisca e incoerente é também um documento da his-
tória, mostrando-nos tendências, preferências, condições de espírito 75. Pietro Mignosi (1895-1937), filósofo, romancista e poeta
das gerações
. passadas, e informando-nos sobre fatos e costumes·, e ser- siciliano, aproxima-se do liberal revolucionário Piero Gobetti no iní-
ve para iluminar a história da civilização ou, antes, oferece deste modo cio da carreira (cf., p. ex., vai. 2, p. 61), mas se torna em seguida um
indicações que servei:n para explicar os antecedentes das grandes obras neotomista intransigente. Mignosi funda e edita as revistas La Tradizione
literárias" (B. Croce, Conversazioni critiche, segunda série, Bári, Laterza, e Nuovo Romanticismo, que refletem seu catolicismo ortodoxo mili-
1918, p. 238).
tante.

70~ Na verdade, "La ilustre fregona" - a ilustre criada ou aju- 76. Em francês no original.
dante de cozinha - é uma das Novelas exemplares, de Miguel de Henri de Régnier (1864-1936), poeta e romancista francês, goza
Cervantes, na qual se destaca a personagem de Costanza, a criada ilus- de grande prestígio intelectual na passagem dos séculos XIX e XX. Sua
tre de origem misteriosa e rara beleza perdida, como u1na jóia, numa
1 poesia tem, inicialmente, a marca do simbolismo, mas adquire corno
hospedaria de 'folcdo. Por um lapso, Gramsci cita erradamente o nome tempo aspectos clássicos. Sua ficção evoca temas históricos da França
da protagonista; mas, de qualquer modo, não foi possível estabelecer e da Itália.
o nexo entre o conto cervantino e o tema do brescianismo. Sobre Baudelaire e 1848, cf. o breve comentário de Gramsci no
vai. 4, p. 18.

332
333
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

77. Tanto Ernestina Brenna quanto, em especial, Emília Formiggini- se sabe, porém, se a expressão entre aspas é uma citação (não encon·
Santamaria ocupam um posto de relevo na história cultural italiana da trada) ou uma fórmula pessoal.
primeira parte do século XX, corno mulheres pioneiras que - além
do tradicional memoric1lismo "feminino" - particip,1m do debate pú- 85. Sobre a expressão "judaica", cf. vol. 1, p. 472, evol. 3, p. 362.
blico na condição de especialistas em pedagogia e hisroriadoras da
qucst~10 educacional, inclusive no período do Risorgin1ento. 86. Em "Perché }'artista scrive, o dipinge, o scolpisce, ecc.?", cit.,
Adriano Tilgher afirma: "[ ... ] Se passarmos finalmente à arquitetura
78. As duas últimas observações entre parênteses são de Gramsci. - esta pedra-de-toque de todas as estéticas, segundo a frase muito feliz
de Giuseppe Rensi -, a teoria de Croce nos parece definitivamente
79. l\1arco Rampcrti, crítico de teatro e de cincma evoca ironi-
1
entrar em colapso: quem acreditará que a construção de edifícios im·
camente uma cernhecida revista de enigmas, La Corte di Salontone, a ponentes e custosos só tenha com.o objetivo remediar as deficiências
propósito da p·oesia "hermética" de G. Ungaretti. A resposta de de nossa memória?"
Ungaretti faz referência ao '"'ano X": trata-se:, precisamente, dos dez
anos de regime fascista, a contar da Marcha sobre Ron1a, cm outu- 87. Cf. vol 4, p. 55-59.
bro de 1922.
88. Cf., neste volume, p. 183-184.
80. Cf., neste volume, p. 201-202 e 213-214.
89. Cf., em particular, ~este volume, p. 183-184 e 227-229.
81. Pietro Metastasio (1698-1782), poeta arc\dico e libretista, tor-
na-se o poeta oficial na Corte de Viena em 1730, celebrizando-se como
90. Na realidade, trata-se da novela "Lontano", publicada, com "II
autor de dezenas de melodramas, oratórios e cantatas. Seus melodra-
turno,', num mesmo volume, de 1915, encontrado entre os livros de
mas, extremamente popular..:s, existem não só como obrds dramáticas
Gramsci no cárcere.
em si, mas foram musicados por inúmeros compositores, inclusive
~1ozarr. Destacam-se, entre eles, Galatetz, Adri11no e 1\tti!io Regalo,
considerado sua obra-prima. 91. Gramsci faz aqui um trocadilho com o título de Pirandello,
Assim é (se lhe parece).

82. Luigi Orsini (1873-1954), jornalista e escritor bolonhês, cola-


bora com o regime fascista, como o demonstra, entre outros, seu livro 92. Robert Louis Stevenson (1850-1894), famoso autor de "O
!tala gente, de 1925. estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde", ou "O médico e o mons-
tro", escreve também livros de aventuras, como A ilha do tesouro
(1882).
83. Cf., neste volume, p. 183-184.
Joseph Conrad (1854-1924), novelista inglês nascido na Polónia,
84. Gramsci, aqui e em outros parágrafos deste caderno, parte dos vale-se da experiência como m;1rinheiro em muitas de suas obras, como
debates sobre arquitetura que eram freqüentes no período ( 1933 ). Não Lorde fim (1900), Titfiio (1902) e O comç11o das treuas (1902).

335
CADERNOS DO CÁRCERE NOTAS AO TEXTO

Jack London (1876-1916), escritor norte-americano de grande 96. Gramsci se ocupa de J;aria dei continente, de Nino Martoglio,
popularidade e de orientação socialista, publicou vários romances, entre em crítica publicada no Avanti!, em abril de 1916. Nino Martoglio
os quais O chamado da floresta (1903) e O lobo do mar (1904). (1870-1921), autor dialetal de grande sucesso, é contemporâneo e
Mac-Orlan (1882-1970) recolhe de suas muitas viagens o material parceiro de Pirandello, a quem, inclusive, teria sugerido a composição
para compor romances humorísticos, fantásticos e aventurosos, como de Liolà, em 1916. Em J;aria dei Continente (1910), satiriza um pe-
Le Ni!gre Léonard et son maítre (1920). Mac-Orlan é mais lembrado queno-burguês siciliano que afeta desprezo e superioridade em rela-
como compositor de canções populares, muito divulgadas nos anos50 ção aos costumes da própria ilha.
do século XX.
André Malraux (1901-1976), romancista e ensaísta francês, escre- 97. Anton Francesco Grazzini (1503-1584), chamado "Lasca",
ve romances sobre a revolução chinesa (A condição humana, 1933) e a poeta, dramaturgo e narrador à moda de Boccaccio, participa viva-
guerra civil espanhola (A esperança, 1937). Depois da Segunda Guer- mente das polêmicas literárias e lingüísticas do tempo. Em versos bur-
ra, afasta-se da esqÚcrda e adere às propostas nacionalistas de Charles lescos, combate o petrarquismo e o humanismo e defende o toscano
De Gaulle, de quem é por 111uitos anos ministro da Cultura. puro como língua literária. Contra o erudito Girolamo Ruscclli ( 1504-
1569), cujas obras cobrem um amplo espectro, desde a cartografia
93. Sobre a antologia de Aida Schiavi, cf., supra, p. 330. Sobre a até a história e a poesia antig<1 e niodcrna, Lasca escreve os seguintes
produção poética de Pietro Gori, cf. vol. 2, p. 234. versos: "Nâo te bastava, árido pedante,! L1drão de Febo e das sublimes
Pietro Gori (1865-1911), advogado de profissão e líder anarquista Mnsas, /Ter posto 1neio Dante sob S•lque; / 1\ arte fértil deste mesmo
histórico, t;1111hé111 pro111ovc o ;111arcnssindica!isn10 no Par;iguai, na })ante/ '111 ressecaste, e Jc t;1\ sorte ;1h11sas, ! Q1H: virou l<111ça se111 pndcr
Argentina e nos Estados Unidos. É autor de volumes de versos de grande de ataque."
difusão, tais como Alia conquista dell'Avvenire e Prigione e Battaglie.
O dirigente comunista Pai miro Togliatti (1893-1964) publica tra- 98. Cf., por exemplo, neste volume, p.119-121, 124, 208-210 e
duções de poesias do norte-americano Walt Whitman e do francês 212-213.
Marcel Martinet em vários números de J;Ordine Nuovo, entre 1919
e 1920. 99. Com efeito, alguns parágrafos gramscianos são recolhidos sob
o título geral de Às margem da história (História dos grupos sociais su-
94. Nikolai Evreinov (1879-1953), dramaturgo e diretor de tea- balternos), no caderno 25, vol. 5, p. 129-145.
tro, tenta, no início do século XX, incorporar a commedia dell'arte à Sobre A. Thierry e as origens da filosofia da práxis, é provável que
tradição russa, argumentando em favor da farsa como meio de "tea- Gramsci tenha em mente algumas indicações de Engels, como, por
tralização da vida". Depois de 1917, Evreinov emigra para Paris. A exemplo, no ensaio Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica ale-
Italia Letteraria de julho de 1932, que comenta um de seus livros (II mã: "Desde a implantação da grande indústria[... ], já não era segredo
teatro della guerra eterna, Florença, 1932), é a provável fonte deste para ninguém, na Inglaterra, que a luta política girava em torno das
parágrafo. pretensões de domínio de duas classes: a aristocracia latifundiária e a
burguesia. Na França, o mesmo fato tornou-se evidente com a volta
95. Cf., neste volume, p. 232-23 7. dos Bourbons; os historiadores do período da Restauração, de Thierry

336 337
CADERNO S DO CÁRCE-R-E NOTAS AO TEXTO

a Guizot, 1'-1ignet e Thiers, o proclama ram co1·1stantementc corno o fato 106. Sobre Francesc o Guicciar dini, cf. vol. 3, p. 383. Sobre o sig-
que dj <l ch;1ve para cornprcc ndcr-sc a história d,1 França, desde
a Ida- nifirndo hisrórico -cultural Jc // G!l/,lleo ovvero de' costumi, de
de Iv1édi:t" (Í\.1:1rx-Engcls, Obros escolhidrLo.;, Rio de j<-lneiro, Vitória, Giovanni deli a Casa, cf. vol. 2, p. 137. Sobre Gasp;1ro Gozzi, cf. vol. 2,
vol. 3, 1963, p. 200). "L1rnbém !•viarx afirma, incisivan 1ente, ter sido p. 310-311 .
Thicrry "o fJf~re da "hit:cl de cL1sses' 11<-1 historiografi;-1 fr;111c-:.:sa." (Ct1rteggio
Marx-Engels, Roma, vol. 2, 1950, p. 315). 107. O "Verão de Süo Martinh o", usado mct~1foricamente por
Gramsci, ocorre na metade de novcrnbr o e ;1ssin;1la, n,1 cultura popu-
100. Gr;1n1sci se rl·f(:i·c <I d1)is p;ir,ígrafus Jc tipo/\ ( c.1Jcrno 8, §§ 209 L1r, o últi1no n1on1cnto Jo outono <lÍn . J1 f:1vor.'ivcl ;, :1gric11ltura e à
e 230), postcriorn 1cntc ;1gn1p~1dos 110 caderno 16, § 1 vo!. 4, p. 15-18. 1
própri:1 subrcvivê nci:t física, ;IJJlr,'S Ju i11VLT!lü an1ca1.;;tJor.
l\Ltrx e Engels, r:1n v:írius 1non1cntos, clugiain o rc;i!i~111u Jl'. il,1J-c,1c.
Gramsci mencion a <h]t1Í 1 prov<lVc lmcnte, a carta de Engels ;1 i\-fargc1ret 108. Em inglês no original.
1-Iarknes s, de abrií de 1888. Sobre esta cJrta, cf. vol. 4, p. 325.
109. ligo Bcrnasco ni (1874-19 60), argentin o de n:iscimen to, é
1O1. Ti.>lL1s as ci Li \·1->~:s dL·stc p;ir·.'1t;r<1fu, rl'.t i r-.1d·,1s J o ,ir ti t;u Jc Pau 1 tarnbl:n1 1 Jc L1to 1 un1 pintor rcprc'-"·-·11iativo du ru111.unis1110 t~1r<lio na
Bourgct, estão em francês no original. Lombard ia. Colabor ador da \.'u(e prcf.zoli niana, escreve, entre ou-
tros livros, Prece/ti e pensieri gJc)utuúli (1910) e Uonúni e altri
102. Sobre a peste de Miliío e ;lS crendices popuLuc s cm Os 11oi- 1111i111ali (1915).
uos1 cf. vol. 1, p. 200.
110. Paul Nizan ( 1905-1940)) escritor fr·.-1ncês, a1nigo de Jean-Pau l
103. Guida Mazzoni Storia letteraria d'Italia. LOttocen to, Milão,
1 S<Jrtre, rompe com o P<Irtido Cornu:-1i'.-ta em 1939 por ccu1s:1 do tratado
1
1913) p. G50. Sobre c;nido Mazzoni, historiad or de forn1a:;:lo car- entre I-Iitlcr e Stalin. lürn;1-sc sí111bol() do L'SLTitor ao 1ncs1no tc111po com-
Jucci,t11<1, cf. vol. 3, p. 382. prometid o e dissidenre. Seus principais livros sfoAde11,~múie (1932) e
[in mais de dois 1nil sonetos escritos em dialeto romanes co, La Conspiratiou (1938). Sobre!' Nirnn, cf., também, vol. 1, p. 408.
Gioacchi no Belli (1791-18 63) retrata a Roma plebéia da primeira
meradc do século XIX, submetid a ao poder temporal do Papa. Nos 111. As posições de Paul Nizc-111 chcg:lm <-l Grai11sci indiretam ente,
últimos anos de vida G. Belli renega sua obra como repositór io de
1 através do artigo mencion ado de i\rgo 1 colabora dor não identific ado
"idéias reprováv eis" e digna de ser queimada . Uma edi>ão completa da Educazio1re (ascista.
dos So11etti romaneschi de G. Belli só aparece em 1952. O Monde é uma revista de literatura. militante , fundada por llenri
Barbusse em 1928.
104. Cf., neste volume, p. 34-35, a lista de questões proposta s a
respe-ito da história da literatura italiana. 112. (-;r...imsci erra ligeiran1c-nre o rítulo do artigo Jc G. Papini, que
se charna, na verd.idf, "'Il disL-·:1r'>o Ji Ron1,1", public,1d o na revista
105. Sobre os "pclasgo s" de Vincenzo Gioberri, cf. vol. 5, p. 361- Lacerba de mar~o de ! 913.
362. Sobre Vincenzo Gioberti, cf. vol. 2, p. 306-307.

338 33 9
CADER NOS DO CÁRCE RE

113. Annibale Pastore (1868-1956), professor na Unive


rsidade de
Turim, é um dos pioneiros, na Itália, da filosofia das ciênci
as. Quando
estudante, Gramsci~ freqüenta um de seus cursos, sobre
a "interpreta-
ção filosófica do mmrismo". Em artigos publicados noAva
nti!, no início
dos anos 50, Pastore dá um simpático testem unho sobre
suas relações
com Gramsci, chamando-o de "um aluno excepcional".
Não foi possí-
vel esclarecer o conte údo de sua discussão com Papin
i, mencionada por
Gramsci.

114. Johan Bojcr (1872-1959), drama turgo e romancista II. Apêr.dices


norue-
guês, é muito popular na primeira metade do século XX,
por causa de
romances como Os e1nigrantes (sob~e a emigração de
seus conterrâneos
para os Estados Unidos, no fim do século XIX) e O últim
o dos Vikings.
A primeira edição norueguesa de O prisioneiro que canta,
livro mencio-
nado neste parágrafo, é de 1913.

j
:J

l
1

1
1

1
i

340
1. Uma antologia dos textos A''

"Esra pequena antologia, contendo 30 textos A, tem co1no obíerivo exemplificar


para o leitor o tipo de mudança qne Gra1nsci introduzia nos 1nesn1os quando os
convertia cm rexros C.
Em nossa tradução dos rexros t\, tomamos o cuidado de evitar que a escolha
de rern1os siuôni1nos (mas diferentes) en1 nossas traduções da primeira e da se-
gunda rcdaç;""10 induzisse o leitor ,1 crer que ;1 mudança foi fe1tL por Gramsci. As-
sin11 todas as diferenças registradas aqui entre o texto A e o rcxto C foram
introduzid,1s pelo próprio autor dos Cadernos.
No final de cada texto A contido neste apêndice, o leitor encontrará a remis-
são par A o local (caderno, par.:igr.ifo, volume e p:1gin,1) onde o respectivo texto e
se encontra na presente edição. As not•lS ;10 texro, aqni posr.1s no rodapé, fazem
parte do aparato crítico de nossa edição.

3 43
CADERNO 1 (1929-1930)

§ 10. Sobre Maquiavel. Costuma-se considerar l\.1aquiavel, de modo excessi-


vo, como o "político em geral", como o "cientista da política", válido para
todos os tempos: eis aquii já, um erro de política. Maquiavel ligado a seu tem-
po: 1) lutas internas na república florentina; 2) lutas entre os Estados italia-
nos por um equilíbrio recíproco; 3) lutas dos Estados italianos por um
equilíbrio europeu.
Influi em Maquiavel o exemplo da França e da Espanhai que alcançaram
uma forte unidade cstat<tl. Ele faz urna "compar;içilo elíptica", como diria
Croce, e deduz as regras para um Estado forte cn1 geral e italiano cm particu-
lar. Maquiavel é um hon1cm intciran1cntc de sua époc;1 e sua arte política re-
presenta a filosofia do tempo, que tende à monarquia nacional absoluta, a
forma que pode permitir um desenvolvimento e unia organização burguesa.
Em Maquiavel, descobre-se i:.r nuce a separação dos poderes e o parlamenta-
rismo; sua "ferocidade" é contra os resíduos do feudalismo,. não contra as
classes progressistas; o príncipe deve pôr fim à anarquia feud;:i.l, e é isto o que
faz Valentino na Rornanha, apoiando-se nas classes produtoras, camponeses
e comerciantes. Dado o caráter militar do chefe do Estado, c0mo se requer
num período de luta para a formação e a consolidaçilo d0 poder, a indicação
de classe contida na 11rte da guerra deve ser entendida para a estrutura geral
estatal: se os burgueses das cidades pretendem pôr fim à desordem interna e
à anarquia externa, devem apoiar-se nos camponeses como massa, constituindo
uma força armada segura e fiel. Pode-se dizer que esta concepçáo essencial-
mente política é de tal forma dominante em Maquiavel que o leva a cometer
erros de caráter militar: ele pensa especialmente na infantaria 1 cujas massas
podem ser recrutadas com uma ação política, ei por isso, desconhece o valor

345
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

da artilharia. Em síntese, deve ser considerado como um político que deve se ver qual é o resultado efetivo desta laboriosidade: ela não é produtiva e não
,..
ocupar de arte militar, uni.a vez qne isso é necessário para sua construção se destina a satisfazer as exigências de classes produtivas. Nápoles é uma ci·
política, mas o faz de tnodo unilateral, porque não está ali o centro de seu dade onde os proprietários fundiúrios do Sul gastam a renda da terra: em torno
pensan1ento. de dezenas de milhares destas fan1ílias de proprietários, de maior ou menor
importância econômica, com sua corte de servos e de lacaios diretos, é que se
q: cademo 13, § 13, 3, 29-33. constitui unia boa parte da cidade, com suas indústrias artesanais, suas profis-
sões ambulantes, a incrível pulverização da oferta imediata de mercadorias
§ 61. An1erica11is1110. O americanismo pode ser uma fase intermediária ou serviços aos desocupados que circulam pelas ruas. Uma outra parte impor-
da atual crise histórica? A concentração plutocrática pode determinar uma tante é constituída pelo comércio por atacado e pela circulação de mercado-
nova fase do industrialismo europeu, com base no modelo da indústria ame· rias. A indústria "produtiva" é uma parte relativamente pequena. Esta estrutura
ricana? A tentativa provavelmente será feita (racionalização, sistema Bédaux, de Nápoles (seria muito útil ter dados precisos} explica grande parte da histó-
taylorismo, etc.). Mas será bem-sucedida? A Europa reage, contrapondo à ria da cidade.
América "virgem" suas tradições de cultura. Esta reação é interessante, não A situação de Nápoles se repete em Palermo e em toda uma série decida·
porque uma suposta tradição de cultura possa impedir uma revolução ria or· des médias e até pequenas, não só do Sul e das ilhas, mas também da Itália
ganização indllstrial, mas porque ela é a reação da "situação" curopéia à "si- Central (Toscana, Úmbria, Ron1:1) e até mcsn10 Setentrional (Bolonha, em
tu,1~;1u" .1111crii.:.1n.1. N,1
rc,1!id,1dl', o an1cric.ulis1110, c111S\1.1 funn,1 t1J;1is cun1plcta, p,1rtc, Panna, Ferrara, etc.). (Quando uni cavalo ~aga, ccn1 púss;1ros aln1oçam.)
exige uma condíção prelin1inar: "a racionalizaçáo da população'', isto é, que Média e pequena propriedade fundiári<l nas mãos não de camponeses
11;10 cxist;tnl classcs. n111ncrus,1s sc11111r11;rfunç;-10 no n111ndo (.L1 pruJ11ção, isto produtivos, 111as de burgueses. d~1 cidadczinha ou da aldeia, que a concedem
éi classes absolutan1ente parasitárias. A "tradição" européia, ao contrário, em meaçáo primitiva (ou seja, aluguei pago i11 natura) ou em enfit~use. Esta
caracteriza-se precisan1ente ~1c\a existência de tais cbsscs, criadas por estes massa enorme de pequena e média burguesia de "pensionistas" e "rentistas"
elementos sociais: o clero e os intelectuais, a propriedade fundiária) o comér- criou, na literatura econômica italiana, a figura monstruosa do chamado "pro-
cio. Estes elementos, quanto mais velha for a história de um pc1ís, tanto mais dutor de poupança", isto é, de uma classe numerosa de "usurários" que não
depositaram durante os séculos sedimentações de gente ociosa, que vive da apenas extrai do trabalho primitivo de um determinado número de campo·
"pensão" deixada pelos "avós". Uma estatística destes elen1entos sociais é neses o próprio sustento, mas airida consegue poupar.
dificílima, porque muito difícil é encontrar a "rubrica" que os possa incluir. A As aposentadorias públicas: homens relativamente jovens e fisicamente
existência de determinadas formas de vida fornece algc.ns indícios. O núme· capazes que, depois de 25 anos de emprego público (algumas vezes aos 45
ro relevante de grandes e n1édios aglon1erados urbanos sen1 in<lústria é um anos e com ótima saúde), não fazem niaís nada, mas vegetam com as 500-
destes indícios, talvez o n1ais importante. O chamado "n1istério de Nápoles". 600·700 liras de aposentadoria. Numa família aparece um padre que se torna
Recordar as observações feitas por Goethe sobre Nápoles e as "consoladoras" cónego: o trabalho manual se torna "vergonhoso". No máximo, o comércio.
conclusões de Giustino Fortunato (opúsculo publicado recentemente pela A composição já se tornou "malsã" por causa da emigração e da escassa ocu·
"Biblioteca editrice", de Rieti, na coleção "Quaderni critici", de Domenico pação das mulheres no trabalho produtivo. A relação entre população "po-
Petrini; resenha de Einandi, na Refonna Sociale, sobre o texto de Fortunato tencialmente" ativa e população passiva é uma das mais desfavoráveis (ver
quando saiu pela prin1eira vez, talvez em 1912). Goethe tinha razão em recu· estudo de Mortara nas Prospettive Econo111iche de 1922 e talvez pesquisas
sara lenda do lazzarouisnro orgânico dos napolitanos e em observar que, ao sucessivas): tal relação é ainda mais desfavorável se se leva em conta: 1) as
contrário, eles são muito ativos e laboriosos. A questão, porém, consiste em doenças endêmícas (malária, etc.) 1 que diminuem a força produtiva; 2) a desnu~

346 347
CADE RNOS DO CÁRC ERE
APÉN DICES

trição crônica de muitos estratos inferiores do campe


sinato (como se depreende Tentativas da YMC Ana Europa: episódio Agne lli-te
das pesquisas de Mario Camis na Riforn1a Sacia/e ntativ as deAgnelli
de 1926 - prime iro ou em direção ao I.:Ordine Nuovo , que defendia uma forma
segundo núm ero-, cujas médias nacionais dever própr ia de "ameri-
iam ser desagregadas por canismo". Na América, existe a elaboração forçad a
médias de classej mas a média nacional mal alcança de um no~o tipo huma-
o padrã o fixado pela ci- no: mas a fase é só inicial e, por isso, (aparentemente)
ência e, portan to, é óbvia a conclusão de uma desnu idílica. E ainda a fase
trição crônica de certos da adapt ação psicofísica à nova estrutura industriali ainda
estratos. Quan do foi discutida no Senado a propo sta não se verificou
orçam entári a para o ano (salvo talvez de modo esporádico) nenhu m florescimen
1929-1930, o Depu tado Mussolini reconheceu que, to "su~erestrutural"~
em algumas regiões, a logo ainda não foi posta a questão fundamental da.
popul ação vive duran te períod os inteiros apenas de hegemonia~ a luta se da
... semPrego endêmico de algumas regiões agrárias, que
hortaliças: ver)i 3) o de- com armas tomad as do arsenal europeu, e ainda abasta
rdado ; logo parecem e
não aparece nos censos;
4} esta massa de popul ação absolutamente parasi tária são "reacionárias".
(enorme), que requer a A luta que houve na América (descrita por Philip)
seu serviço o empre go de outra massa enorm e de popul é ainda pelos direitos
ação; e a semiparasi- profissionais, contra a "liberdade industrial", isto
tária, isto é, que multiplica de modo anorm al (dado
um certo tipo de socieda- éi urna lut~ ~orno aqu~la
que houve na Europ a no século XVIII, embo ra em outras
de) determ inada s atividades, como o comércio. cond1çoes. A ause~­
cia da fase européia assinalada como tipo pela Revol
Esta situação não se apresenta apenas na Itália; em ução Francesa, na Ame-
escala considerável,
apresenta-se em toda a Europa, mais na Europa Merid rica, deixo u os operá rios ainda em estado bruto.
ional, cada vez menos Na Itália, tivemos um início de fanfar ra fordista
em direção ao Norte . (Na Índia e na China deve ser (exaltação da grande
ainda mais anorm al do cidad e_ a grand e Milão, etc. - o capitalismo ainda
que na Itália, e isto explica a estagnação da história.) está em seus iníci.os,
A América sem "tradi ção", mas també m sem esta etc., com a programação de planos urbanísticos grand
camad a de chumbo: iosos: ver Ri(on na Sociale
esta, uma das razões_ da formidável acumulação de capita - artigos de Schiavi).
is, malgr ado os salá-
rios relativamente ~elhores do que os europeus. A Conversão ao ruralismo e à desvalorização iluminista
inexistência destas sedi- das cidades: exal-
mentações viscosas ~ias fases históricas p.1ssad<1s pcrn1i tação do artcsa 11 ,1to e do patriarcalismo, n1c11Çõcs aos
tiu uma base sadia para "direitos profissionais"
a indústria e1 em especial, para o comércio, possib e à luta contra a "liber dade industrial" (ver menção
ilitando cada vez mais a feita criticamente por U.
reduç ão dos transp ortes e do comércio a uma real Ricci em carta aos Nuov i Studi) ; em todo caso,
atividade subordinada à não ''men talida de" ame-
produ ção, com a absor ção desta atividade por parte ricanista.
da própr ia indústria (ver
Ford e as economias que fez em termos de transp ortes o livro Jc De I',,1an está ligado a esta quest~io. É unia reaçáo às duas maio-
e comércio, absorven-
do-os). Esta "racion<:ilização" preliminar das condições res forças históricas do mundo.
gerais da produ ção 1 já
existente ou fa.cilitada pela história, permitiu racion
alizar a produ ção, com· Cf cadem o 22, § 2, 4, 242-2 49.
binan do a força (destruição do sindicalismo} com a
persuasão (salários e ou-
tros benefícios)i para colocar toda a vida do país
com base na indústria. A § 150.A coiicepção do Estado segundo a produtiuidade
hegemonia nasce da fábrica e não tem necessidade ({tmção) das clas-
de muitos intermediários ses sociais. O livro de Raffaele Ciasca Le origini dei progra
políticos e ideológicos. As "massas" de Romier são n11na nazionale pode
a expressão deste novo fornec er amplo material para desenvolver este tema.
tipo de sociedade, na qual a "estru tura" domina mais Para as classes prod~ti­
imediatamente as supe- vas (burguesia capitalista e prolet ariado moderno),
restru turas e estas são ''racionalizadas'' (simplificada o Estado só é conceb1vel
s e reduzidas em número}. como forma concr eta de um determ inado mund o
Rotary Clube Maçonaria (o Rotary é uma maçonaria cconômico, de um deter-
sem os pequenos-burgue- minado sistema de produção. Conquista do poder
ses). Rotary-América-Maçonaria-Europa. YMCA-Amér e afirmação de um novo
ica-Jesuítas-Europa. mund o produ tivo são indissociáveis: a propa ganda
por uma tJmbé m é pro-

348
3 49
CADERNOS DO CÁRCE-RE APÊNDICES

paganda pela outra! na realidade, somente nesta coincidênci·a é que reside a naisi até mesn10 Maquiavel, no Príncipe, reflete mais a França 1 a Espanha,
origem unitária da classe don1inante, a qual é econômica e políricd ao mesmo etc., com seu empenho pela unificação nacional, do qne a Itália. Eis por que
tempo. Ao contrário) quan<lo o in1pu!so para o progresso niio é estreitamente chan1aria de verdadeiros "jacobinos" os representantes desta corrente: eles
ligado a um dcscnvolvin1cnto econô111ico local) mas é reflexo do desenvolvi· verdadeiramente querem aplicar ú ltúlia Llnl esquema intelectual racional, ela-
mento internacion~l qi1c envia par<l a periferia suas correntes idt:ológicas borado con1 base na experiência alheia e não na expcriênci<l nacional. A questão
nasci<las com base no <lcsenvolvimcnto produtivo dos países 1nais evoluídos, é muito con1plexa e plena de aparentes contradiçôcsi e, por isso,.é preciso
então a classe portadora das novas idéias é a classe dos intelectu<1is e a con~ ainda examiná-la profundamente numa base histórica. De qualquer modo 1
cepção do Estado muda de aspecto. O Estado é concebido como uma coisa no Risorgin1e11to, os intelecruais meridionais revelam·se claramente como estes
em si 1 como um absoluto racional. Pode·se dizer isto: sendo o Estado a mal· estudiosos do Estado "puro" 1 do Estado em si. E, sempre que os intelectuais
dura concreta de um mundo produtivo e sendo os intclectudis o elemento parecem "dirigir", a concepção d? Estado em si reaparece com todo o cortejo
social que melhor se identifica com o pessoal de governo) é próprio da fun· "reacionário" que comumente a acompanha.
ção dos intelectuais pôr o Estado como um absoluto: desse modoi é concebi·
da como absoluta sua função histórica) é racionalizad2, sua existência. Este Cf cademo 10, II,§ 61, 1, 425-430.
motivo é fundamental para o idealismo filosófico e es1á ligado à formação
dos Estados modernos na Europa como "reação - superação nacional" da § 151. Relaç,.iío histórica entre o n1odrrno Estado fra11(Ps na,~cido dii Revolu-
Rc-voluç:ío Franccs;1edP11;1polL·onis1no (rcvtl!uç:"'10 p.tssiv;1) 1 • PuJc·sc- ~bscr· çúo l' os ou/ ros Estiulos n1odernos e111"U/l/'US. A quesJ;í.o é de sH1110 inll'rt:ssc) contanto
var: alguns critérios de avaliJ.ção históríca e cultural dcven1 ser invertidos. l 0} que não seja resolvida segundo esquernas <-lbstr<ttos sociológicos. I-listoricamen-
As correntes italianas gue são "etiquetadas" de racionalisn10 fr;1ncês e de te) ela deriva destes elementos: 1º} Explosão rcvolucionúria na Fr;1nça; 2º) Opo-
"ilun1inismo" são) ao contrário, precisan1ente as mais aderentes à realidade sição européia à R.evolução Fr~ncesa e à sua expansão pelos "canais" de classe;
empírica, na medida em que concebem o Estado como forma concreta de um 3°) Guerras revolucionárias da França) com a República e com Napoleão, e cons-
desenvolvimento econômico italiano. A conteúdo igual convém uma forma tituição de uma hegemonia franceS<l con1 tendência a uni Estado universal; 4°)
política igual. 2º} Ao contrário, são precisamente "jacobinas" as correntes que Insurreições nacionais contra a hegemonia francesa e nascimento dos Estados
aparecem como mais autóctones, na medida em que aparentam desenvolver modernos europeus mediante ondas sucessivas, mas não mediante explosões re-
uma corrente tradicional italiana. Esta corrente é "italiana", pbrque, tendo
volucionárias como a francesa original. As "ondas sucessivas" se dão por uma
sido a "cultura", por muitos séculos, a única manifestação italiJ.na nacional, o
combinação de lutas sociais de classe e de guerras nacionais, com predominância
que é desenvolvimento desta manifestação tradicional mais antiga parece mais
destas últin1as. Deste ponto de vista, a "Restauração" é o período mais interes-
autônomo. Mas é uma ilusão histórica. Onde estava a base marerial desta
sante: ela é a forma política nrt qudl a lura de classes encontra quadros elásticos
cultura italiana? Não estava na Itália. Esta "cultura" italiana é a continuação
que permitem à burguesia chegar ao poder sem rupruras clan1orosas, sem o apa-
do "cosmopolitismo" medieval ligado à Igreja e ao Império) concebidos como
relho terrorista francês. As velhas classes são rebaixadas da condição de "dirigen-
universais. i\ L::ália tem uma concentração intelectual "internacional", acolhe
tes" à de "governativas") mas não elinünadas nem sequer fisicilmente suprimidas;
e elabora teoricamente os reflexos da mais consistente e autóctone vida do
de classes se tornam "castas", com dctcnninadas característiC<lS psicológicas1 não
mundo não italiãllo. Os intelectuais italianos são "cosmopolitas", não nacio-
mais com funções econômicas predon1i;1antes. Pode-se repetir este "modelo" de
1 formaçáo dos Estados modernos? Isto deve ser excluído, pelo n1cnos quanto à
A expressão entre parênteses foi acrescentada à J".1argem, em data posterior. O
termo "revolução passiva" aparece, pela primeira vez, no Caderno 4, § 57) vol. 5) amplirude e quanto aos grandes Estados. Mas a questão é de suma importância,
p. 209·210. já que o modelo França-Europa criou uma mentalidade.

350 351
APÊNDICES
CADERNOS DO CÁRCERE

Outra questão ligada à mencionada acima é a do papel que os intelectuais 3) nascimento de novos partidos da classe dominante, para manter o contro-
acreditaram ter nesta fermentação política incubada pela Restauração. A fi. le das classes subalternas; 4) formações próprias das classes subalternas, de
losofia clássica alemã é a filosofia desta época e é a que dá vida aos movi- caráter restrito e parcial; 5) formações políticas que afirmam a autonomia das
mentos l!berais nacionais de 1848 a 1870. Sobre isso) ver a conversão que classes subalternas, mas no velho quadro; 6) forIT'ações políticas que afirmam
Marx faz da fónn11la francesa liberté, (rater11ilé, égalité aos conceitos filo· a autonomia integral, etc. A lista destas fases pode ser ainda mais definida
sóficos alemães (Sagrada fanrília). Esta conversão me parece teoricamente com fases intermediárias ou com co~binações de vá.<ias fases. O historiador
importantíssima: deve ser posta ao lado do que escrevi sobre a Concepção observa a linha de desenvolvimento para a autonomia integral, a partir das
do Estado segundo a produtividade (função) das classes sociais (cf. § 150, fases mais primitivas. Por isto, também a história de um partido destas classes
supra). O que é "política" para a classe produtiva torna-se "racionalidade" é muito complexa, uma vez que deve incluir todas as repercussões de sua ati·
para a classe intelectual. vidade em toda a área das classes subalternas em se11 conjunto: entre estas,
O que é curioso;. é que alguns marxistas considerem a "racionalidade" uma já exercerá uma certa hegemonia, e é preciso estabelecer isto, estudando
' i!
superior à "política a abstração ideológica superior à concretude econôrni· também o desenvolvimento de todos os outros partidos, por incluírem ele-
ca. Com base nestas felações históricas, deve-se explicar o idealismo filosófi- mentos desta classe hegemônica ou das outras classes subalternas que sofrem
co moderno. tal hegemonia. Seria possível construir um cânone de investigação histórica,
estudando a história da burguesia deste modo (estas observações se ligam às
Cf. caderno 1 O, II,§ 61, 1, 425-430. notas sobre o Risorgilne11to): a burguesia tomou o poder lutando contra de·
terminadas forças sociais e ajudada por outras forças detcnninadas; para se
unificar no Estado, devia eliminar as primeiras e ter o consenso ativo ou pas-
sivo das outras. Portanto, o estudo de seu descnvolvin1cnto a partir da condi-
CADERNO 3 (1930) ção de classe subalterna deve investigar as fases através das quais conquistou
autonomia em relação aos inimigos futuros a abater e conquistou a adesão
§ 90. História das classes subalternas (cf., neste caderno, §§ 14 e 18)1. A daquelas forças que a ajudaram ativa ou passivarri.ente1 desde que, sem esta
unificação histórica das classes dirigentes reside no Estado e sua história é adesão, não teria podido unificar-se no Estado. O grau de consciência a que
essencialmente, a história dos Estados e dos grupos de Estados. Esta unidad~ havia chegado a burguesia nas várias fases se mede exatamente com estes dois
deve ser concreta e, portanto, o resultado das relações entre Estado e "socie- parâmetros 1 e náo apenas com o de sua separ:ição da classe que a dominava;
dade civil". Quanto às classes subalternas, a unificação não acontece: sua bis· habitualmente, na verdade, recorre-se só a este critério e se tem uma história
tória está entrelaçada à da "sociedade civil", é uma fração desagregada desta. unilateral ou 1 às vezes, não se compreende nada, como no caso da história
Deve-se estudar: 1) a formação objetiva, através do desenvolvimento e das italiana a partir das Comunas: a burguesia italiana não soube unificar o povo,
transformações acontecidas no mundo econômico, a difusão quantitativa das e eis uma causa de suas derrotas e das interrupções de seu d0senvclvirncnto:
classes subalternas e sua origem a partir de outras classes anterioresj 2) sua também no Risorgilnento, este "egoísmo" estreito impediu uma revolução
adesão, passiva ou ativa, às formações políticas dominantes, isto é, a tentati· rápida e vigorosa, como a francesa.
va de influir sobre os programas destas formações com reivindicações própriasi Eis nm;t dds qncstõcs mais importantes e uma das causas de dificuldades
para fazer a históri<l das classes subalternas.

2 Cf. cademo 25, § 5, 139-141.


Retomados, respectivamente, nos§§ 2 e 4 do Caderno 25 vol. 5, p. 135-136 e
136-139. ,

353
352
CADERNOS DO CÁRCE·RE 1\FEri. DICES
1

§ 159. F.isorgúnento. A história como "biografia" nacional. Esta forma çilo de todas as obras, n1es1no as n1:-lis secund3rias, em orden1 cronológica,
de história começa com o nascimento do sentimento nacional. Pressupõe·se divididas segundo os vários períodos: de form<ição intelectual, de maturi-
que aquilo que se desej.1 sempre exi•;tiu e não pôde se afirn1.1r cm r~1zão da dade, de posse e <1plicaç;ío scrcn;i dn novo 1nodc1 de pe11sar. /\pesquisa do
intervenç:10 de forças alheias ou do aJormccin1cnto Jas virtuJL'S íntimas. É Leil!11vhu 1 do ritn10 <lo pensan1cntu 1 rn.iis in1port;111re do que as afirnia-
história oleográfica: a Itália é verdadeiramente pensada como algo abstrato 1 çóes particulares e isoladas.
con10 a bela mulher dos quadros, etc., cujos "filhos" s;10 os italianos) etc. Faz· Esta invcstigaç::ío original deve ser o f1111d;1111c11to du tr:1b,dho. Alén1 dis-
se sua biografia 1 contrapon<lo·a aos filhos degenerados ou perdidos, etc., etc. so, entre as obras do próprio autor, é preciso distinguir as que ele concluiu e
Compreende·se que esta história nasceu por razões práticas, de propaganda. publicou e as inéditas, porque náo concluídtts. O conteúdo destas deve ser
Mas por que continuar nesra tradição? Hoje, ela é duplamente anti·histórica: tomado com muito discernimento e cautela: ele ndo deve ser considerado como
porque está em contradiçdo com a realidade e porque impede avaliar adequa· definitivo) pelo menos naquela dad;1 forma; ele deve ser consiJerado como
damente o esforço do Risorgi1ne11to, diminuindo a figura e a originalidade de material ainda em elaboração, ainda provisório.
seus protagonistas. No caso de Marx, pode·se dividir a obra literária nestas categorias: 1) obras
q c,1d··r110 19, § 50, 5, 119-120. publicadas sob a responsabilidade dirct.1 do ;l\Jtor: entre cst<1s, devem ser con-
sideradas1 cn1 geral, nJo só as n1;Her1.1ln1cntl' in1prc~s;1s, nus t.1111hén 1 os cscriw
tos desti:1;1Jus <1 operar i111cdi.1tan1L·111 (·, .1i11Ll.1 q11c JÚ() 11111)n':.s•. is, e( )JlJO as cartas,
as circulares, os manifestos, etc. (CXL'n1plo típico: ,i Crít ioi do ]Jrogrd!!líl de Gotha

CADERNO 4 (1930-1932)
e a correspondência); 2) as ob~as 11:10 public1d,1s sob a rcspons;1bilidade direta
do autori mas por outros, depois Jc s~1<1 niorte: nan1n1!n1ente, destas últimas
seria interessante ter o texto· base, isto é, aind;1 não rccbboc1do pclu organizador,
§ 1. Se se quer esruJdr urna concepç;10 do· mundo guc n:10 foi nunca
ou pelo menos uma descrição minuciosa do texto original feita com critérios
exposta sistematíca1ncntc pelo auror-pensador, é preciso fazer um traba·
filológicos.
lho minucíoso e conduzido com escrúpulos máximos de exatidão e de ho-
nestidade científica. É preciso seguir, antes de mais nada, o processo de Ambas as categorias devem ser divididas segundo períodos crítico-cro-
desen\'olvimento intclcctudl do pens;:idor) para reconstruí·lo segundo os nológicos, de modo que se possâm estabelecer co1nparações válidas e não
elementos que se torn,-1ran1 está\'eis e permanentes, ou seja, que foram puramente mecânicas e arbirtrári<Js.
re.1ln1entc assumidos pelo '1.lltor con10 pcnsamenro próprio, diferente e Também o trabalho de claboraç:10 realizado pelo autor sobre o material
superior ao "n1aterial'' :Hitt'riormente estudado e pelo qual ele pode ter das obras publicadas a seguir por ele n1csn10 deveria ser cstudc1do e analisa-
tido >in1p;lti;.1 1 cm certos n1omentos, dté o ponto de <1ccicí·lo provisoria· do: pelo menos daria, este estudo, indícios para avaliar criticamente a
mente e dele se servir p<lr<l. scn trabalho crítico 011 de reconstruç:10 histó- credibilidade dos textos das obras inédit:1s editad;1s por outros. Quanto mais
rica ou científica. Esta advertência é cssenciril, cxata1nente, quando se trata o material preparatório das obras L"JiraJas se afastar do texto definitivo redi·
de um pensador assistcn1,1tico 1 quando se trata de un1a personalidade na gido pelo próprio autor, tanto menos secí confiável a redaç8o de um material
qual a ativid.1Je teórica ativld;idc pr.ítica est:10 inJissuluvelmentc
e c1 do mesmo tipo por outro escritor. C1Jn1 efeito, unia obra 1~;10 pode ser nunca
cntrclaçadc-is, de um intelecto) portanto, cm contínua criaç;10 e em perpé· identificada com o material bruto recolhido para sua fciturLl: a escolha, adis-
tuo 1nov1mcnto. Portanto: 1'') biogr11/f.a) n1uito 1ninucios,1, con12") exposi· posição dos elementos, o peso m.iíor ou menor d.-1do a este ou àquele ele-

354 355
CADERNOS DO CÂRCERE
APÊNDICE S

mento recolhido no período preparatóri o são exatamente o que constitui a § 7. As superestruturas e a ciência. Colocar a ciência como base da vida,
1
obra efetiva. fazer da ciência uma concepção do mundo significa recair no conceito de que o
Também o estudo da correspond ência deve ser feito com certas cautelas: materialismo histórico tem necessidade de um outro sustentáculo fora de si
urna afirmação incisi~a feita numa carta talvez não fosse repetida num livro.
rnesmo. Mas 1 na realidade, também a ciência é uma supercstrutura1 uma ideo-
A vivacidade cstilístilja das cartas, cn1bora muitas vezes artisticame nte mais
logia. Mas no estudo d;1s s11pcrcstr11tnras a ciência ocnpa um lugar à p<lrte, pelo
eficaz do que o estilo mais medido e ponderado de um livro, algumas vezes
1 fato de sua reaçito sobre a estrutura ter um caráter de maior extensão e conti-
leva a deficiências de demonstraç ão; nas cartas, como nos discursos e nos
nuidade de desenvolvimento, sobretudo a p~trtir do século XVIII, a partir do
diálogos, vcrifican1-sc frcqiicntcn1ente erros lógicos; a niaior rapidez do pen·
1
moinento en1 qne se deu à ciência um lugai:- à parte na opinião geral. Que a
samento se dá em detrimento de sua solidez.
No estudo de um pensamento original e pessoal, só secundariam ente se
l1 ciência seja uma superestrut ura é demonstrad o pelo fato de que ela teve perío-
! dos inteiros de eclipse 1 esmagada por uma ideologia dominante, sobretudo a
coloca a contribuiçã o' de outras pessoas para sua documenta ção. No caso de
religião: a ciência e a técnica dos árabes eram tidas pelos cristãos como bruxa-
Marx: Engels. Naturalmen te, não se deve subestimar a contribução de Engels
1 ria. A ciênci;-l jan1ais se apresenta con10 nua noçilo objetiva; ela aparece sempre
mas tan1ponco se deve identificar Engels e Milrx, não se deve pensar que tudo
revestida por uma ideologia e) concretamente, a ciência é a união do fato obje-
aquilo que Engels atribui a Marx seja autênt,ico em sentido absoluto. É certo
tivo com unia hipótcse 011 11n1 sistema de hipóteses, que snperam o mero fato
que Engels dcn provas de nm desinteresse e de uma ausência de vaidade pes- 1

objetivo. Neste can1po, pnrém, tornou-se rclativ;1111ente Lícil separar a noçií.o


soal ímpar: não se trata n1inin1an1entc de pôr em dúvida sua absoluta lealda-
objetiva do sistcn1<l de hiplitescs, através <le t1n1 processo Je ;1bstraç;\o que está
de pessoal. Mas o fato é que Engels não é Marx e que, se se quiser conhecer
inserido na própria metodologia científica, apropriar-se de lima e recusar o outro.
Marx, será preciso buscá-lo, especiahnen te, em suas obras autênticas, pu-
De t;1J rnodl\ un1;1 cb.~se p(1llc apn1pri;1r-se lL1 cil'!K:i;1dl'11111;1 outr:1 classe, sen1
blicadas sÜb s11;1 dirct;1 personaliJ;1Je.
aceitar sua ideologi<t (a ideologia do progresso foi criada pelo progresso cientí-
Decorrem daí várias advertências de n1étodo e algun1as indicações para pes-
fico}, e não são v:1lidas as observações dê Sarei (e de Missiroli:) a este respeito.
quisas correlatas. Que valor tem o livro de Rodolfo Mondolfo, II n1aterialisn10
storico di Federico Engels? Sarei (numa carta a B. Croce) formula a dúvida de que Cf cadenzo 11, § 38, 1, 175-176.
se possa estudar uma questão desta natureza, dada a escassa capacidade de pensa-
mento original de Engels. Deixando de lado a questão de mérito posta por Soreli § 10. Marx e Maquiavel. Este terna pode dar origém a um duplo traba-
parece-me que, pelo fato mesmo de se supor uma escassa capacidade teórica em lho: um estudo sobre as relações reais entre os dois, como teóricos da política
Engels (pelo menos, uma posição subalterna em relação a Marx), é indispensável mi!itante 1 da ação, e um livro que extraísse das doutrinas marxistas um siste 4

investigar as difcrcnç;1s entre o Marx autêntico) por assim dizer, e Engels, para ma ordenado de política efetiva, como o do Príncipe. O tema scric1 o partido
sermos capazes de ver o que não é marxista nas exposições que Engels faz do político, em suas relações com a classe e o Estado: não o partido como cate-
pensamento de seu amigo: na realidade, no mundo da cultura esta distinção ja- goria sociológica, mas o partido que pretende fundar o Estado. Na realidade,
mais foi feita, e as exposições de Engels (especialmente, 0Anti-Dü/Jri11g) são con
4 se observarmo s bem, a função tradicional do instituto d·a Coroa é1 nos Esta-
sideradas corno fonte autêntica e, muitas vezes, como a única fonte autêntica. O dos ditatoriais, absorvida pelos partidos: são eles que, mesmo representan do
livro de Mondolfo n1e parece, por isso, mnito útil como indicc1ção de um cami- uma classe e 111na só classe, mantêm um equilíbrio com as outras classesi náo
nho a seguir, à parte seu valor intrínseco, que agora não recordo. adversárias mas aliadas, fazendo com que o desenvolvimento da classe repre-
Cf. caderno 16, § 2, 4, 18-22. sentada ocorra com o consenso e com a ajuda das classes aliadas. Mas o pro 4

t; 1gonista deste "novo príncipe" não deve ser o p;1rti<lo cm ;1bstrato, nn1a classe

356
357
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

em abstrato, mas um detcrn1inado partido histórico) que opcr:-1 nun1 ambien- "panteísta" no sentido metafísico tradicional, mas é um "marxista" ou um
te histórico preciso, co1n um;1 determinada tradição, nun1a ;·iliança de forças "materialista histórico''. Em tal expressáo 1 "materialismo histórico", deu-se
soci,1is característica e hcn1 dctcrn1i1Ltz-Ía. Tratar-se-ia, cn1 síiltt:SL\ n::io de or- maior peso ao primeiro rnemhro, qnando deveria ter sido dado ao segundo:
ganÍZ<lr un1 rcpcr~ório oq.(111ico de n1,íxin1as polític1s, n1,1s dl· cs...:rcvcr 11111 li- ?\-1arx é esscncialn1ente un1 "historicisc1", etc.
vro "dran1;ítico" .1111111 certo sc11tido 1 11n1 dr<Hll•l histórico cn1 ,itL1, no qu,11 as
Cf cademo 11, § 27, 1, 153-155.
n1áxin1as políticas scjan1 ;1prC'iL'!lt;tlL1s con10 ncccssid,1dc JctL'tniin,1Ja e não
como princípios de cién_cia.
§ 12. Estrutura e superestrutura. Deve-se estabelecer bem o significado
Cf: c,u/erno 13, § 21, 3, 59. do conceito de estrutura e superestrutura 1 assim como o de "instrumento téc-
nico", etc., ou se cai em confusões desastrosas e risíveis. Vê-se a complexida-
§ 11. Problen1as fi1 ud.111nc1!trús do nuzrxisn10. Faz-se (hc1bltna!mçr.te} uma de da questão a partir disso: as bibliotecas são estrutura on superestrutura? E
confus:lo entre a cult11c1 filo"Lífic,1 pc~soal de lv1arx, isro é1 entre ,1s corren- os laboratórios experimentais dos cientistas? E os instrumentos musicais de
tes filosóficas e os gr.1 ndc:i. filc'isofos que i\Ltrx estudou, e ,1s origens ou as uma orquestra?, etc. Confunde-se estrutura com ~'estrutura material" em ge-
partes consritnrivas du n1;trcri.ilisn10 histórico, e C<Ú·-~c no L'rro .Je reduzir a ral e "instrumento técnico" com qnalguer instrumento material, etc., até o
filosofia que estaria na base Jo rnatcrialisn10 histórico a este- ou ~qucle sis- ponto de defender que uma detcnninada arte se desenvolveu porque se de-
tcn1a. Ccrt.nncntc, é inrcrcs~.i.itC (e ncccss:írio) pcsqui~.1r l' .1profund;1r os scnvolvcran1 os instr11n1cntos específicos pelos quais as L'xprcssões artísticas
elcrnentos da cultura filosúfica <lc :VL1rx, n1as tendo c111 cont:t que parte es- se tornan1 de domínio público, podern ser reproduzidas. Não se pode negar
sencial do rnaterialisn10 histórico ni1o é o spinozisn10, o hcg~licinismo ou o unia certa relaçáo 1 mas não direta e irnediata. Na realidade, certas formas de
materi.dismo francês, 111as, prccisan1ente, o que n;10 cst<l\":t c-,11itido a não instrun1ento técnico têm uma ·dupla fenomenologia: são estrutura e são supe-
ser cm gern1e em todas estas correntes e que Marx desenvolveu) ou cujos restrutura: a própria indústria tipográfica, que assumiu neste ponto particu-
lar do "instrumento técnico" uma i1nportância extrema, participa desta dupla
elementos de desenvolvimçnto abandonou; d parte essc-nci,il do n1arxisn10
natureza. Ela é objeto de propriedade, portanto de divisão de classes e de luta,
consiste na superação das velhas filosofias e tambérn no llH)do de conceber
mas é também elemento inseparável de um fato ideológico ou de vários fatos
a filosofia, e isto é que deve ~er dcrrionstrado e dc~envoh·ido sís..ten1arica-
ideológicos: a ciência, a literatura, a religião, a política, etc. Existem superes-
mente. No plano teórico, o n1arxisrno não se confunde e não si,; reduz a
truturas que têm uma "estrutura material": mas seu caráter permanece
nenhuma outra filosofia: ele não é original apenas enqtirlnto supera as filo-
superestrutural: seu desenvolvimento não é "imanente" em sua "estrutura
sofias precedentes, mas é original sobretudo enquanro abre um ccJminho in-
material" particular, mas na "estrutura material" da sociedade. Uma classe se
teira men[e novo 1 isto é, renova de cima a baixo o modc de conceber a
forma com base em sua função no mundo produtivo: o desenvolvimento e a
filosofia. No p 1<1nO da invesrigação histórica, devcr:10 ser c~rt1LL1Jos os ele-
luta pelo poder e pela conservação do poder criam as superestruturas, que
n1enros que n1otivaram a eLJ.boraç:10 filosófica de lv1arx, os elementos que
determinam a formação de uma "especial estrutura material" para sua difu-
incorporou, homogeneizando-os, etc.: então se Jever.í reconhecer qne, déstes
são, etc. O pensamento científico é uma superestrutura que cria "os instru-
elementos '"originários" 1 o hegelianismo é relativan1ente o n1ais i1nportan-
mentos científicos"; a música é uma superestrutura que cria os instrumentos
te, especialn1cnte por sua tent<'1tiva de superar as conccpçõcs rc1dicionais de
musicais. Logicamente, e também cronologicamente, tem-se: estrutura social-
"ide,disn10" e de "matcria\isn10". Quando se diz que IvL-1rx en1prcga a ex-
superestrutura-estrutura material da superestrutura.
pressão "imanência" em sentido met<-1.fórico, não se diz nada: na realidade,
P.-1arx dá ao termo "in1<:1nência" um significado próprio, isto é, cle não é um Cf caderno 11, § 29, 1, 157-159.

358 359
CADER NOS DO CÁRCE RE
APÊND ICES

§ 14. O conceito de "ortodoxia". Do que acima se disse, o concei


to de ções mais eviden tement e errada s (como aquela sobre o instrum
"ortod oxia" deve se~ renova do e relacio nado a suas autênti ento técni-
cas origens. A co e a música ), mas a concep çáo geral do "instru mento técnico
ortodo xia não deve ser buscad a neste ou naquel e discípu lo ", que está
de Marx, nesta errada em seu conjun to. Em seu ensaio sobre Leria, Croce
ou naquel a tendên cia ligada a corren tes estranh as ao marxis observ a que foi
mo, mas no justam ente o bravo Leria quem substit uíu arbitrd riamcn
concei to de que o n1arxismo basta <l sí n1csrno contém em te a expres são
1 si todos os ele- marxis ta "forças materia is d·e produç ão" pela expres são "instru
mentos fundam entais não só para constr uir uma concep ção mento téc·
total do mun- nico" (nas p. 39·40 deMate rialisn 10 storico ed eco1101nia ntarxis
do, uma filosof ia total, m;,ls para fazCr viva uma total organi tica, exis-
zaç~o prática te uma comr<lr<'çf10 entre o trecho Jo prcf.í.cio il Críficii
da socied ade, isto é, para tornar- se un1a civiliza ção integra da ecouon ria
l, total. Este política, no qual se desenv olvem os princíp ios do materi alismo
concei to de ortodo xia, assim renova do, serve para precisa histórl co,
r melho r o atri- e um trecho do livro de Leria, La terra e il siste111a sociale
buto de "revol ucioná ria" atribuí do a uma concep ção do , prefáci o -
mundo , a uma Verona , Drucke r, 1892 - , no qual a substit uição foi feita
teoria. O cristian ismo foi revolu cionári o com relação ao de modo risí-
pagani smo por- vel). Este métod o !ariano depois encont rou seu coroam
que foi um elemen to de cisão comple ta entre os defens ores ento no artigo
do velho e do "I.?influenza sociale dell'ae roplan o", que me partce começ
novo mundo . lTma teoria é revolu cionári a precisa mente na ar justam ente
medida em que com a repetiç ão destas palavra s gerais sobre a in1portânci8.
é elemen to de separa ção con1plcta cm dois campo s, na fundan1ental
medida em que é do instrum ento técnico .
vértice inacessível aos adverscírios. Consid erar que o materic
llismo histó- Crocc observ a que Marx pôs cn1 dcst1q uc 1 n111itas vc1.cs
1 a in1porr;n1-
rico não é unia estrutu ra de pensam ento con1pl etamen te
autôno ma signi- cia históri ca das invenç ões técnica s e invoco u urna históri a
fica, na realida de, n;~o ter ron1pído con1plctan1ente os laços da técnica (Das
com o velho K11 p;tal, I, p. 143 n., p. 335-6 n., sem dizer q11.tl L'lliçií.o, n1as
n11111do. N.1 re.diJ, iJc, o n1.1tcri.ilis1nn 1i·1stórico 111"10 tc1n deve ser ;1 de
ncccss iJ.idc Jc Kautsky), 1nas ja1nais sonhou fazer do "instru 1ncnto técnico
susten táculos hctcro gêncos : ele mesmo é tão robust o que " a causa úni-
o velho mundo ca e suprem a do desenv olvime nto econôm ico. O trecho da
a ele recorre para alimen tar seu arsena l com alguma s armas Crítica da eco-
mais eficazes. noniia política contém as expres sões "grau de desenv olvime nto
Isto signific a que, ao mesmo tempo que o materi alismo históri das forças
co não so- materi ais de produç ão", '•modo de produç ão da vida materi
fre hegem onias, ele própri o começ a a exerce r uma hegem onia al", "condi -
sobre o velho ções econôr nicas da produç ão" e similar es, expres sões que
afirma m certa-
mundo intelec tual. Isto, natura lmente , ocorre sob formas mente ser o desenv olvime nto econôr nico determ inado
recípro cas, mas por condiç ões
é justam ente o que se deve evitar. O velho mundo , prestan do materia is, mas não as reduze m, todas, à mera "metam orfose
homen agem do instrum ento
ao materi alismo históri co, tenta reduzi- lo a um corpo de técnico ". Croce acresce nta, de resto, que Marx jamais se
critério s subor- propôs uma in-
dinado s, de segund a ordem , a ser incorp orado em sua teoria dagaçã o a respeit o da causa últin1a da vida económ ica. "Sua
geral, idea- filosof ia não
lista ou materi alista: quem reduz o n1<ltt-.rialismo históri era assim tão baratcl. Ele não teria 'flcrtad o' cm vão com
co <l uni papel a dialétic a de
semelh ante, no própri o campo desta teoria, capitul a implic Hegel, pata logo depois sair buscan do causas últhna s."
l
itamen te ante (Toda uma série
os advers ários. de temas para estudar .)
Cf. caderno 11, § 27, J, 152-153. Cf. caderno 11, § 29, 1, 157-159.

§ 19. O "iustru nzeuto técn;co " "º


E11saio Popular. Já fiz alguma s ano·
tações sobre este tem~ anterio rmente 3• Mas é preciso ver não
só as afirma-
3 Cf., em especia l,§ 12 deste. Caderno 4.

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3 61
CADERNOS DO CÁRCE-RE APÊNDICES

§ 34. A propósito do non1e "n111terialisn10 histórico". ?\o i\·farzocco de 2 quando, como fnz Gentile - no volun1c Morlernisn10 -, se diz1 no rastro de
de outubro de 19271 no capítulo XI de Bo1111parte a R.011111 de Diego J\ngc\i 1 Schopenhauer, que a religião é a filosofia da niultid:io, enquanto a filosofia é
dedicado à Princesa Carlota N<1polc;to (filha do Rei José e rnu\h..:r de ~apo!eáo a religião dos eleitos - isto é, dos ~r<111<lcs intelectuais), n1as se poderá falar
Luís 1 o irm~10 de Napolc:lo III, n1orto 11,1 insurreição J,1 Run1anh;,1 de 183 l)i é disso quando a sociedade for unit;íria.
reproduzida uma carta de Pictro Giord<tni à Princesa Carlot:l, 11<1 qual Gior<lnni Praticamente, dizia, tambén1 o n1aterialísn10 histórico tende a se tornar
escreve suas recordações pessoais sobre Napoleão I. Napoleão visitou em uma ideologia no sentido negativo, isto é, uma verdade absoluta e eterna. Isto
Bolonhai em 1805, o "Instituto" (Academia de Bolonha) e conversou longa· acontece especialmente quando 1 como no Ensaio populari ele é confundido
mente com os cientistas (entre os quais Volta). Entre outras coisas, disse: "(... ] com o materialismo vulgar) com a n1etafísica d<-l "n1atéria", que não pode deixar
Eu creio que, na ciência) quando, se encontra alguma coisa verdJdeiramente de ser eterna e absoluta.
nova, é necessário adequar·lhe um vocábulo inteiramente novo 1 a fim de que
Cf caderno 11, § 62, 1, 206-207.
a idéia se mantenha precisa e distinta. Se os senhores derem novo significado
a un1 velho vocábulo, aind<l que professem que a antiga idéia ligada àquela
§ 43. A ·~objetividade do real" e o pro{ Lukacz (cf. nota anterior, "A
p~-1L1vra nad,1 ten1 em comHn1 com a nova idéia que lhe <.tribt1ír.tn1, <. mentali·
ciência'\§ 41 )4. J)cvc·sc cst11<l.1r :i posiç<"io do Prof. Lukúc1. cn1 f;-1cc do ma-
(L1Jc: ht1111,u1a j<1mílis puJc: Jcixar de Sllpor que não cxistan1 sc111cll1,1nças e
tcri<ilisrno histórico. Lukácz (conhL\'O suas teorias nulito vagatncnte), acre-
conexões entre a antig,1 e a nova idéi.t; isto n.:i.o só confunde a ciência, como
dito, afirrna que só se pode falar de <lialéticri para a história dos homens e
produz disputas inúteis." Segundo Angcli, a carta de GiorJ.1ni, scn1 data 1 pode
não para a natureza. Pode estar errado e pode ter razão. Se sua afirmação
ser C(Jnsidcrada como sendo da primavera de 1831 (daí ser possível supor
pressupõe um dualismo entre o hon1cm e a natureza 1 está errado, já que
que (;iorddni recordasse o confl.:údo da conversação com Napolcdoi mas não
cai numa concepção da natureza própria da religião e também própria do
a fonna exata). Ver se Giordani expõei em seus livros sobre a língua, concei·
idealismo, que realmente não consegue unificar e relacionar o homem e a
tos pessoais sobre este assunto.
natureza mais do que verbalmente. Mas, se a história também for h.istória
Cf caderno 11, § 27, 1, 135-136. da natureza, através da história da ciência, como a dialética pode ser sepa-
rada da natureza? Penso que Lukácz, insatisfeito com as teorias do Ensaio
§ 40. Filosofia e ideologia. Como filosofia, o materialismo histórico afir- popular, tenha caído no erro oposto: toda conversão e identificação do
ma teoricamente que toda "verdade" tida como eterna e absoluta tem origens materialismo histórico com o materialismo vulgar só pode determinar o
práticas e representou ou representa um valor provisório. Mas o difícil é tor- erro oposto, a conversão do materialismo histórico no idealismo ou até
nar compreensível "praticamente" esta interpretação no que toca ao próprio mesmo na religião.
materialismo histórico. Esta interpretação é insinuada por Engels, ao falar de
Caderno 11, § 34, 1, 167.
passrigem do reino da necessidade para o reino da liberdade. O idealismo
absoluto ou, pelo :nenosi alguns de seus aspectos seriam uma utopia filosófi·
§ 45. Estrutura e superestruturas. Que o materialismo histónco conceba
ca durante o reino da necessidadei mas poderiam se tornar "verdade" depois
a si mesmo como urna fase transitória do pensamento filosófico é algo que se
da passagem de um reino para o outro. Não se pode falar de "Espírito" quan-
do a sociedade se comrõe de grupos, sem necessariamente concluir que se
4
trata do "espírito" de um grupo particular (coisa implicitamente reconhecida Trara-se de um texto A, retomado como texto C, sem título, no Caderno 11, §
37,vol.1, p.172.

362 3 63
APÊNDICES
CADERNOS DO CÁRCERE

pode afirmar, a não ser genericamente, um mundo sem contradições, sem com
deveria deduzir da afirmação de Engels 1 segundo a qual o desenvolvimento
isso criar imediatamente urna utopia. Isto não significa que a utopia não te-
histórico se caracterizará, em determinado ponto, pela passagem do reino da
necessidade ao reino da liberdade. Toda a filosofia que existiu até hoje nasceu nha um valor filosófico, já que ela tem um valor político e toda política é
e é a expressão das contradições íntimas da sociedade: mas cada sistema filo- implicitamente uma filosofia. A religião é a utopia mais "mastodôntica", isto
sófico, tomado em si mesmo, não é a expressão consciente destas contradi- é, a metafísica mais "mastodôntica" que já apareceu na história, ela é a tenta-
ções, já que esta expressão só pode ser dada pelo conjunto dos sistemas tiva mais grandiosa de conciliar em forma mitológica as contradições históri-
filosóficos. Todo filósofo está e não pode deixar de estar convencido de que cas: ela afirma, é verdade, que o homem tem a mesma "natureza", que existe
expressa a unidade do espírito humano, isto é, a unidade da história e da na- o homem em geral, criado à semelhança de Deus e, por isso, irmão dos ou-
tureza: se não fosse assim, os homens não atuariam, não criariam uma nova tros homens, igual aos outros homens, livre entre os outros homens, e que
história, isto é, as filosofias não poderiam transformar-se em "ideologias", ele pode se conceber desta forma espelhando-se em Deus, "autoconsciência"
não poderiam ass11n1ir na prática a granítica e fanática solidez das "crenças da humanidade; mas afirn1a tan1bé1n que nada di:>to rr.:rtcncc a este mundo, e
populares" que têm o valor das "forças materiais". Hegel representa, na his- sim a um outro (utopia). Mas, enquanto isto, as idéias de igualdade, de liber-
tória do pensamento filosófico, um papel especial; e isto porque, em seu sis- dade, de fraternidade fermentam entre os homens, que não são iguais ou ir-
tema, de um modo ou de outro1 ainda que na forma de "romance filosófico" mãos de outros homens nem se vêem livres entre eles. E ocorre na história
consegue-se comrreender o que é a realidade, isto é, tem-se, num só sistema' que toda sublevação geral das multidões 1 de um modo ou de outro, sob for-
e num só filósofo, aquele conhecimento das c~ntradições que, antes dele, era mas e com ideologias determinadas, apresenta estas reivindicações. Neste
dado pelo conjunto dos sistemas, pelo conjunto dos filósofos, em polêmica ponto surge um elemento trazido por Ilitch: no programa de abril de 1917,
entre si, cm contr;1dlçiio entre si. En1 certo sentido, portanto, o nlatcrialisn10 no parágrafo em que se fala da escola única e, precis;uncntc, n<t nota explicativa
histórico é uma rcforn1a e um desenvolvimento do hegelianismo, é urna filo- (refiro-me à edição de Genebra de 1918}, afirma-se que o químico e pedagogo
sofia liberada de qualquer elemento_ ideológico unilateral e fanático, é a Lavoisier, guilhotinado sob o Terror, havia sustentado o conceito de escola
consciência plena das contradições, na qual o próprio filósofo, entendido indivi- única, e isto em relação com os sentimentos populares da época, que viam no
dualmente ou como grupo social global, náo só compreende as contradições, movimento democrático de 1789 uma realidade em desenvolvimento e não
mas coloca a si mesnl.0 como elemento da contradição, e eleva este elemento uma ideologia 1 extraindo daí as conseqüências igualitárias concretas. Em
a princípio político e de ação. O "homem em geral" é negado e todos os con· Lavoisier, tratava-se de elemento utópico (elemento que aparece, mais ou
ceitas estaticamente "unitários" são ridicularizados e destruídos enquanto menos, em todas as correntes culturais que pressupõem a unicidade de natu-
expressão do conceito de homem em geral ou de "natureza humana" imanente reza do homem: cf. B. Croce, num capítulo de Cultura evita 1norale, no qual
em cada homem. Ma~ também o materialismo histórico é expressão das con- cita uma proposição em latim de uma dissertação alemã, que 3.firma ser a fi-
tradições históricas__;_ aliás, é a expressão perfeita, completa, de tais contra- !osofia a mais democrática das ciências 1 porque seu objeto é a faculdade de
dições: é uma expressão da necessidade e, portanto, não da liberdade, que raciocinar, comum a todos os homens - ou algo similar); llitch, todavia) o
não existe e não pode existir. Mas, se se demonstra que as contradições desa- toma como elemento demonstrativo, teórico, de um princípio político.
parecerão, demonstra-se implicitamente qt1e também desaparecerá o materia-
Cf caderno 11, § 62, 1, 203-206.
lismo histórico e que do reino da necessidade se passará ao reino da liberdade
isto é, a um período no qual o "pensamento", as idéias não nascerão mais no'
§ 47. A obietividade do real e Engels. Num certo pontO (acredito que no
terreno das contradições. O filósofo atual pode afirmar isto, sem poder ir mais
Anti-Dührif1g}, Engels afirma, aproximadamente, que a objetividade do mun-
além: de fato, ele não pode se evadir do terreno atual das contradições, não

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3 64
CADERNOS DO CÁRCERE APENDICES

do físico é demoristrada pelas sucessivas investigações dos cientistas (cf. o texto Outras questões: dada a autonomia da política, qual a relação dialética
exato). Em minha opinião, esta afirmação de Engels deveria ser analisada e entre ela e as outras manifestações históricas? Problema da dialética em Croce
precisada. Entende-se por ciência a atividade teórica ou a atividade prático- e sua posição de uma "dialética dos distintos": não seria uma contradição em
experimental dos cientistas? Penso que deve ser entendida neste segundo sen- termos, uma ig11orautia ele11c/Ji? Só pode se dar dialética dos opostos 1 nega-
tido e que Engels queira afirmar o caso típico em que se estabelece o processo ção da negação, não relação de "implicação".
unitário do real 1 isto é, através da atividade prática, que é a mediação dialética A arte, a moral, a filosofia "servem" à política, isto é, estão "implicadas"
entre o homem e a natureza, isto é, a célula "histórica" elementar. Engels se na política 1 podem se reduzir a uni momento da política, e não inversamente:
pode-se afirn1ar1 segundo estes esqucn1as, a prioridade do fato político-eco-
,..
refere ;) revolução que trou.xc ao mundo científico cn1 geral, e tan1bém à ati-
vidade prática, a afirmação do método experimental, que separa verdadeira- nômico, isto é1 a "estrutura" como ponto de referência e de "causação"
mente dois mundos da história e inicia a dissolução da teologia e da metafísica dialética 1 não mecânica, das superestruturas.
e o nascimento do pensamento moderno, cuja última e aperfeiçoada expres- O ponto da filosofia crociana sobre o qual se deve insistir me parece1 exa-
são filosófica é o materialismo histórico. A "experiência" científica é a pri- tamente, sua chamada dialética dos distintos; existe uma exigência real nesta
meira célula do novo processo de trabalho, da nova forma de união ativa entre posição, mas existe também uma contradição em termos: deve-se estudar estes
o hon1cn1ea11;1turcza: o cicntista-cxperin1cntador é uni "opcníriu''i 111n pro- elementos par;1 desenvolvê-los critican1cntc. Ver as objeções não verbalistas da
dutor industrial e agrícola, não é puro pensamento: ele tan1bérn é - aliás 1 é escola de Gcntilc aos "distintos" de Crocc; tornar a I·Icgcl: senl "con1pletamente"
o primeiro - exemplo de hon1em que o processo histórico tirou da posição exata a reforma do hegclianisn10 rc<1lizada por Croce-Genti!e? Não terão eles
de caminhar de ponta-cabeça, para fazer caminhar sobre os pés. tornado 1-Icgel mais "abstrato"? N:10 terão abandonado sua parte mais realista,
mais historicista? E, ao contrár!o, não terá sido desta parte que nasceu essencial-
Caderno 11, § 34, 1, 166. mente o marxismo? Isto é, a superação do hegelianismo feita por Marx não
será o desenvolvimento histórico n1ais fecundo desta filosofia, enquanto a re-
§ 5 6. Maquiavel e a "autononiia" do fato político. Questão do maquia- forma de Croce-Gentile só seria, exatan1ente, uma "reforn1a" e não uma supe-
velismo e do antimaquiavelismo (todo verdadeiro "maquiavelismo" começa ração? E não terá sido justan1ente o marxismo que levou Croce e Gentile a se
sua atividade política com uma refutação em regra das doutrinas de Maquiavel: desviarem, uma vez que ambos começaram pelo estudo de Marx? (Por razões
ex., os jesuítas e F[ederico II, da Prúss·ia). Importância da questão do ma- implicitamente políticas?) Vico-B. Spaventa como elo de ligação, respectiva-
quiavelismo no desenvolvimento da ciência da política: na Itá]i;\) pelo me- mente, para Croce e Gentile com o hegelianismo: mas isto não seria fazer a
nos, a ciência política se Jcscnvolveu em torno deste ten1a. Fazer um<t filosofia de 1-Iegel retroceder a uma fase anterior? 1-Iegel poderia se~ pensado
bibliografia crítica sobre este tema. Que significado tem a demonstração feita sem a Revolução Francesa e as guerras de Napoleão, isto é, sem as experiências
por Crocc, de modo caba\ 1 sobre a autonomia do mo1ncnto po!írico-econô- vitais e imediatas de um período histórico intensíssin10, no qual todas as con-
mico? Pode-se dizer que Croce chegou a este resultado sem a contribuição cepções passadas foram criticadas pela realidade em curso de uma maneira
cultural do marxismo e do materialismo histórico? Recordar que, num certo peremptória? Vico e Spaventa ç)odiain dar algun1a coisa sin1ilar? (Mesmo
ponto (ver), Croce se diz surpreso com o fato de que ninguém jan1ais pensou Spaventa, que participou de fatos históricos de in1portância regional e provin-
em dizer que Marx efetuou, para uma classe moderna t detern1inada) ames- cial, em contraste com os de 1789 e 1815 1 que sacudiram todo o mundo civi-
ma obra realizada por Maquiavel. Desta posição incidental de Croce seria lizado de então e obrigaram a pensar "rnundialn1ente"? Que colocaram em
possível deduzir a limitada justeza de sua redução do matericilismo histórico movimento a "totalidade" social, todo o gênero humano imaginável, todo o
a un1 lllL'ro c~1nn11 cn1píricn dl' n1ctodologia histórica? "espírito"? Eis por que Napoleão pôde aparecer a Hegel como o "espírito do

ltil' 367
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

mundo" a cavalo!) Qual "movimento" histórico testemunha a filosofia de Vico? sucesso estratégico definitivo ou, pelo menos, na direção necessária do suces-
Embora sua genialidade consista precisamente em ter concebido um vasto mundo so definitivo. Naturalmente , na ciência histórica, a eficácia do elemento cco-
a partir de um pequeno recanto morto da "história", ajudado pela concepção nômico imediato era bem mais complexa do que a da artilharia de campo na
unitária e cosmopolita do catolicismo ... Nisto, a diferença essencial entre Vico guerra de manobra, já que ele era concebido como tendo um duplo efeito: 1)
.... abrir a brecha na defesa inimiga, depois de ter desbaratado o próprio inin1igo
e Hegêl, entre deus e Napoleão - espírito do mundo, entre a pura especulação
abstrata e a "filosofia ·da história'', que deverá levar à identificação de filosofia e de levá-lo a perder a fé em si, em suas forças e en1 seu futuro; 2) org;;:tnizar
e história, de fazer e pensar, do "proletariado alemão como único herdeiro da de modo fulminante as próprias tropas, criar os quadros ou, pelo menos,
filosofia clássica alemã". colocar com rapidez os quadros existentes (criados até então pelo processo
histórico geral) em seu lugar de enquadramen to das tropas dispersas; criar de
Cf. caderno 10, II,§ 41.X, 1, 383-386. modo fulminante a concentração da ideologia e dos fins a alcançar. Era uma
forma de férreo determinismo economicista, com a agravante de que os efei-
tos eram concebidos por ele como rapidíssimos no tempo e no espaço; por
isso, tratava-se de um verdadeiro misticismo histórico 1 da expectativa de uma
CADERNO 7 (1930-1932) espécie de fulgur,1ção n1ilagrosa.
' A obervação do General Krasnov (cm seu ron1ance) de que1 durante a
§ 10. Estrutura e superestrutura (ver notas csc~itas na "Primeira série") 5• Pa- guerra, a E!lfentr (isto é, a Inglaterra, que não ciucri.-1 ,1 vitória d;1 Rússia im-
rece-me que se poderic1 lcn1brar a este propósito a con1paraçáo con1 a técnica perial, para q11c ll<ÍO se resolvesse dcfinitiYamCnte a favor do czarisn10 a C]llCS-
militar, tal con10 se transforn1011 na lÍitinM guerra, co1n a p:1ssag-c111 dot guerra ti'io oricnt,d) in1p(·1s ,H1 Fst;1do~i\ L1ior n1s.~n ,1 gul'rr;t dL' trinchcir.1 (,1bs11rd.1 crn
fttn\:olo lb c111lrrnc cxtc11s:-10 d.1 frente) qnc ia dt) B.iltici, ;\O M;1r Ncgrn, cun1
n1anobrada à guerra <lc posiçúoh. R.ccor<lar o opúsculo de Rosa, traduzido por
grandes zonas p<tnt·anos,1s e cobertas de bosque), q11<1ndo a única possíYel era
Alessandri em 1919-1920 e cuja teoria se baseava nas experiências históricas
a guerra de manobra, tem só uma aparência de verdade. Na realidade, o Exér-
de 1905 (de resto, ao que parece, não estudadas com exatidão, porque nele
cito russo tentou a guerra de manobra e de penetração, especialmente no se-
se negligenciam os elementos voluntários e organizativos , muito mais difun-
tor austríaco (mas tan1bé1n na Prússia 1 nos lagos da l\1azúria) e obteve sucessos
didos do que podia crer Rosa, a qual, por um preconceito "economicista ", os
parciais brilhantíssimo s, mas efêmeros. Com efeito, a guerra de posição não
negligenciava inconscientem ente); este opúsculo me parece o mais significa-
é constituída apenas pelas trincheíras propriamtnte ditas, mas por todo o sis-
tivo da teoria da guerra manobrada aplicada à ciência histórica e à arte polí-
tema organizativo e industrial do território que está por trás do Exército ali-
tica. O elemento econômico imediato é considerado como a artilharia de
nhado e é dado, sobretudo, pelo tiro nípido dos c.1nhócs, das metralhador;1s)
campo na guerra, cujo papel era abrir uma brecha na defesa inimiga, brecha
dos fuzis e de sua concentração (além de sua abnnd<incia, que permite substi-
suficiente para que as· próprias tropas por ela irrompessem e obtivessem um tuir rapidJmente o n1atcrial perdido dcrois de unia rcnetração). Na frente
oriental, vê-se logo a diferença que a tática russa de penetração obtinha em
5Como
se pode ver no "Índice geral dos Cadernos'', infra, o Caderno 4 apresenta seus resultados no setor alemão e no ,1nstríaco: tan1bém no setor austríaco,
uma seção intitulada ''.Apontamentos de filosofia. Materialismo e idealismo. Pri- depois da passagem do comando aos alcn1ües, est,1 t:ítiCil redundou em desas-
meira série". Neste caso, a referência de Gramsci se faz, particularment e, aos§§ tre.Verificou- se a mesm<I co1._-;a na guerra poloncs<l de 1920, na qual a invasão
12, 38 e 45 deste Caderno 4.
6Trata-se da primeira referência, nos C~dernos> a estes conceitos~chave da teoria irresistível foi detida cn1 Varsóvia por \X!cygand e peL1 linha.defendi da pelos
gramsciana. oficiais franceses.

3 68 3 69
CADERNOS DO CÁRCERE APENDICE S

Com isto 1 não se quer dizer que a tática de assalto e de penetração e a § 20. O "Ensaio popular". Não é tratado o ponto fundament al: corno,
guerr;i n1anobrada devem ser agora considerada s pelo estudo da arte militar a partir das estruturas, nasce o movimento histórico? E, no entanto, este é
como extintclS: seria um grande erro. :r-..-tas elasi nas guerras entre os Estados o ponto crucial de toda a questão do materi<1lismo histórico, é o problema
mais av<lnçados civil e industrialm ente, devem ser considerad.:1s como reduzi· da unidade entre a sociedade e a "n~1turcza". As duas proposiçõ es:- 1) a
das mclis a funçóes táticus do que estratégicas, tal como era a guerra de assé· ~'socieddde" não se coloca questões para cuja solução ainda não se realiza~
dio no período anterior da história militar. rarn as condições (premissas) necessárias e suficicntesi 2) nenhuma forma
A. n1esma tn1nsforma ção deve ocorrer na arte e na ciência da política, pelo de sociedade desaparece antes de ter esgotado todas as suas possibilidad es
menos no que se refere aos Estados mais avançados, onde a "sociedade civil" de desenvolvi mento - deveriam ter sido analisadas em toda a sua impor·
tornou·se uma estrutura muito complexa e resistente às "irrupções" catastró·
tância e conseqüênc ia. Apenas nesse terreno é possível eliminar qualquer
ficas do elemento econômico irnediato (crises, depressões, etc.); as superes·
mecanicisn10 e qualquer traço de s11perstiç1o "mih1grosa". T<1n1bérn neste
truturas da socied~1de civil sáo con10 o sistema das trincheiras na guerra
terreno deve ser colocado o problcn1a da forn1:1ção dos grupos sociais e dos
moderna. Assim como ocorria qne un1 furibundo ataque de .iri-i!hrtria contra
partidos políticos ei cm últin1a inst.lnc);1, o da fun'\.ÍO J,1.s grandes pcrsona·
dS trincheiras aJvers,íri,l<:, que parecia ter destruído tudl), 11;1 1-'r..:rJ,1Jc havia
!idades da h i~tória.
destruído só a supe:i:fície dd defesa, e, no momento do 8.Vançu, os assaltantes
dcfront<lVarn-se con1 un1,1 linh<l defensiva ainda eficaz_, ;1lgo sirr:iL1r ocorre na cr cademo 11, § 22, l, 140.
política durante as grande'.; crises econôn1icas: nem eis trop;is ;\Ltcctntcs, por
efeito ,_Lt crise, se organizan1 de modo fulminante no tcn1po e 110 r.:sp;iço nem,
§ 26. Sobre o "Eusaio popular:". Registro Jos intelectuais cuja. filosofia é
1nuito menos, adquirem o espírito <lgressivo; do outro Lido, os atacados
con1batida con1 alguma <lmplirude, e not.ts sobre sua signific;1ç~10 e importân·
tan1pouco se dcsmorali1,;1n1 ncn1 ab,1nJonan1 suas d<:fesas, n1cs1no entre as
eia científica. Referências brevíssin1r1s aos grandes intelectuais. Coloca·se a
ruínds, nem rcrdern a confiança nd própria força e no próprio futuro. Não
questão: não seria necessário, ao contrário) referir·se apenc1s aos grandes in-
que as coisas permaneça m tais co1110 eram; mas elas n:10 se desenrolam de
telectuais adversários 1 e quem sdbe :1 só um deles, dcix<Indo de lado os secun-
modo fuimínante e em marcha batida progressiva, tal con10 esperariam que
dários? Tem·se a impressão, precisan1entci de que se procura combater apenas
ocorresse os estrategist1s do cadornismo político. O últin10 fato deste gênero
foram os <lcontecirncntos de 1917. Eles assin<llc1ram un1a rcvin1volta decisiva contra os mãis débeis e, até n1esmo 1 contra as posiçóe:; mais débeis (ou mais
na história d,1 arte e da ciência da política. inadequad<:1rnente expressas pelos n1~1is Jébeis), a fim de obter un1a fácil vitó·
'frata-se, portdnto 1 de estudar, con1 profundida de, quais sdo os elemen- ria (admitindo ·se que haja vitórict real). Ilusão de que existe scn1elhança (a
tos da socied<ide civil que correspond ein aos sistemas de defesa na guerra de não ser formãl) entre uma frente idc·:ilógica e uma frente político-militar. Na
posiç:10. l)igo "com profunJida de'' intencional mente) já que L:i)s elementos luta política e militari pode ser conveniente a tática de peno.:tu1r nos pontos
foram es:udados: mas o foram ou a partir de um ponto de vista superficial e de menor resistência para ganhar condições de inYestir sobre o ponto mais
b,111,il, a<;sin1 como ':erros hísroriadorcs do vestuário esn1d:1 n1 as extra\' dgâncias importante com e máximo de forças, cc1locadc1s à disposiç,lo prcci:;amente por
da n1odc1 feminina ou de outra coisa qualquer; ou a p<lrtÍr Jc um ponto de causa da elin1inação dos "auxiliares" n1:1is dôbr.:is, etc. A vitória política e mi·
vista ''racionalist a"i isto é, con1 a persuasão de que certos fcnôn1cnos são litar, dentro de certos lin1ites, é pcrn1ancntci podtndo o fin1 .::stratégico, den-
destruídos táo logo se dá f":-Jra eles llI11<l justificaçáo ou uma explicação "rea· tro de certos íimites, ser alcançado de modo decisÍ\'O. N<:l frente ideológica,
lisrct", como snperstiçõc s, en1 síntese. ao contrário, a derrota dos <-lllXiliarcs e dos scguidurcs n1L·norcs tcn1 impor-
c.t: cader110 13, J 2i, 3, 71-74. tância infinitan1ente n1enor: nela, é prL'cÍso ]ut<1r contra os n1ais cn1inentes e

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CADERNOS DO CÁRCERE
APÊNDICES

não contra os menores. Se não for assim, confunde-se o jornal com o livro, a
polêmiCa cotidiana com o trabalho científico. Os menores devem ser a bando· inexoravelmente independentes e desconexos entre si. Por que, então, não
nadas à polêmica de tipo jornalístico. Mas uma nova ciência alcança a prova colocar a questão em seus justos term?s históricos e teóricos e contentar-se
de sua eficiência e vitalidade quando demonstra saber enfrentar os grandes em publicar um livro no qual a série dos problemas essenciais da doutrina
campeões da tendência oposta, quando explica com os próprios instrumen- seja exposta monograficamente? Seria mais sério e mais "científico". Contu-
tos as questões vitais colocadas por eles ou quando demonstra peremptoria- do, acredita-se que ciência queira absolutamente dizer "sistema" e 1 por isso 1
mcntc que estes prqblemas são falsos problemas. c0nstroc1n-sc sistcn1;1s Jc qualquer niancira, que Jc ::i.stcma tC111 son1cntc a
É verdade que J;ma determinada época e uma determinada civilização são exterioridade mecânica.
1 É digno de nota que, no Ensaio, incxista um tratan1ento adeqnJdo da
mais bem rcpresenta das pela média dos intelectuais e1 conseqüentemente, pelos
intelectuais medíocres; mas a ideologia difusa, de massa, deve ser diferencia- dialética: a dialética é pressuposta, não exposta, o que é absurdo num manual
da das obras científicas, das grandes sínteses filosóficas, que são, ademais, suas que deve conter em si os elementos essenciais da doutrina tratada e cujas re-
verdadeiras culminações, as quais devem ser nitidamente superadas, negati- ferências bibliográficas devem ter o fim de ampliar e aprofundar a matéria,
não de substituir o próprio manual. A questão da ausência de um tratamento
vamente, dcmonstra~do-lhes a falta de fundamento) e positivamente, contra-
da "dialética" pode ter duas origens:
pondo-lhes sínteses filosóficas equivalentes em significado e importância. A
1) A primeira é constituída pelo fato de que o materialismo histórico não
parte negativa e a positiva só podem ser divididas por motivos didáticos. Lendo
é concebido como uma filosofia 1 cuja doutrina do conhecimento é a dialética,
o Ensaio, temos a impressão de alguém que se aborrece e não pode dormir
rni-l.s como unia "sociologia", cuja filosofia é o niaterialismo filosófico ou
por causa da clarid;Jde da lna e se distrai matando os vaga-lumes, convencido
rnet::1físico ou n1cc;i.nico {vulgar, como dizia lvt1rx). Colocad<t assin1 <l q11cs-
de que a ch1ridadc diminuirei. ou dcsap;trcccr.-í.
... tiio, nJ.o 111;1is se cnn1prcende 01 in1port;Íncia e o sig11ific:1Jo da Jial0tica, que é
q; caderno 11, § 22, 1, 140-142. degradada a. urna subespécie de lógica formal, a un1a escolástica elementar. A
função e o significado da dialética só podem ser concebidos em toda a sua
§ 29. Sobre o "Ensaio Popular". É possível escrever um livro elementar1 fundamentalidade 1 quando o materialismo histórico é concebido como un1a
um manual, um ensaio popular, quando uma doutrina ainda está em estado filosofia integral original) que inicia uma nova fase na história e no desenvo!M
de discussão, de polêmíca, de elaboração? O manual popular só pode ser vimento mundial do pensamento, na medida em que supera (e, superando,
concebido como a exposição formalmente dogmática, estilisticamente mode- integra em si seus elementos vitais) tanto o idealismo quanto o materialismo
rada, cientificamente serena, de um determinado argumento: ele é uma in- tradicionais, expressões das velhas sociedades que se suceder.1m na história
trodução ao csu1do científico, não êl própria exposição das pesquisas científicas mundial. Se o materialismo histórico só pode ser pcns<ldo subordinad;:ln1cnte
originais) dedicado aos jovens ou a um público que, do ponto de vista da dis- a uma [ontraJ filosofia, a do materialismo filosófico, é impossível conceber a
ciplina científica, se encontra nas condições preliminares da idade juvenil e dialética marxista 1 na qual, precisamente, aquela superação se efetua e se exM
que, por isso, tem imediatamente necessidade de "certezas", de opiniões que pressa.
se a.presentem como verídicas e indiscutíveis naquele momento. Se uma de- 2) A segund,1 origcrn me parece de ord~n1 psicológica. Sente-se que a
terminada doutrina ainda não atingiu esta fase "clássica" de seu desenvolvi- dialética é algo muito árduo e difícil, na medida em que pensar dialeticamente
mento, qualquer tentativa de rnanualizá-la fracassa, sua sistematização lógica vai de encontro ao vulgar senso comum, que tem a lógica formal como ex-
é apenas aparente: tratar-se-á, ao contrário, como precisamente no Ensaio, pressão e é dogmático e ávido de certezas peremptórias. Para ter um modelo
de uma mecânica justaposição de elementos díspares ou que permanecem prático1 pense-se no que ocorreria se, nas escolas primárias e secundárias, as
ciências naturais e cosmográ~_icas fossem ensinadas com base no relativismo

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373
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

de Einstein e fazendo acompanhar a noçáo tradicional Je "lei Ja natureza" concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e
pela de "lei estatística ou dos grandes números". Os rapazes e: os adolescentes organizar sua vontade coletiva. O caráter utópico do Príncipe é dado pelo
não con1preenderiam nada de nada e o choque entre o ensinD e~coL1r e a ló- fato de que o «príncipe" não existia realmente, historican1ente 1 não se apre-
gica das relações fan1ili,1res e popubrcs seria de tal ordcn1 que a escola setor- sentava ao povo italiano com caiacterísticas históricas imediatas, mas era tam~
naria objeto comum de escárnio e de ceticismo caricnural. Esrc n1otivo) ao bén1 uma abstração doutrinária, o símbolo do líder em geral, do coudottiero
que me parece, é u1n freio psicológico para o autor du Ensaio: ele rcc1lmente ideal. Pode-se estudar por que Sorel, partindo da concepçáo do "mito", não
capitula Jiantc do senso con1u1n e Ju pcnsa1nc11to v1dt-;:1r, j,í q11l· n;Ío se ccilo- atingiu a conccpçáo do partido político, através da concepçr10 do sindicato
cou o problema nos termos teóricos exatos, pelo qul.' c~r;1 ~-1L1tican1entc dt> cconômico; mas, para Sarei, o mito não se personificava no sindicato, como
sarmado e in1potente. O .1n1bicnte n:io educado e rústico Jo111inciu o l.'ducador, expressdo de uma vontade coletiva, mas na ação prática do sindicato e da
o senso con111ni vulgar se i1n11(·1~ ii ciênci,i e 11:10 vicv-vcr\.1: ~1· ~1 :1111hil'ntc é o vo11r.1dc cu letiva já organizada e atti.inlc, aç:10 pr;ítica cu).t n1;Íxi1na realização
educador) ele deve por sua vez ser educado 1 escreveu i'vL1rx, n1'1S o Ensaio deveria ser a greve geral, isto é, urna "ativid,1de passiva", por assim dizer, ain-
popular não con1preende esta <li<llétic,~ revolucionária. da não transformada em fase "ativa ou construtiva". Mas pode um mito ser
"não-construtivo'\ pode-se imagínar, na ordem de intuições de Sorel, que seja
q caderno 11, § 22, 1, H2-J4-I.
produtivo aquilo que deixa a "vont:tdc coletiva" en1 sua fase primitiva de
fonnaç;-10, distinguindo-se (cindindo-sL')> p;1ra dcstn1ir?
O 111odcrno Príncipe) o n1ito-Príncipc n:í.o pode ser uma pessoa real) um
indivíduo concreto; só pode ser un1 organisn10, 11111 clen1cnto social no qual
CADERNO 8 (1931-1932) j<í tenha tido início a concreJiz.;1\:10 dc 11n1a vontade coletiva reconhecida e
afirmada parcialmente na ação. Este organismo já está dado pelo desenvolvi-
§ 21. O Sob este título podcr:io ser recolhidos todos os
l!I:,.rfer110 Prínt"ifN:.
n1cnto histórico e é o partido político, a forn1a 1noderna na qual se sintctizan1
motivos de ciência política que podem concorrer para a formaç:to de um tra- as vontades coletivas parciais que tendem a se tornar universais e totais. Só
balho de c'.ên:::i:1 polític;1 que seja concebido e org<lnizcido segundo o modelo uma ação político-histórica imediata, caracterizada pela necessidade de um
do Prí11cipe de iYlaquiavcl. O caráter fundan1ental do Prí11ci[ie é, exatamente, procedin1ento rápido e fulminante, pode se encarnar num indivíduo concre-
to: a rapidez só pode ser dada por un1 grande perigo iminente, grande perigo
o de não ser um tratado sistemático, mcis um livro "viyo", no qual <l ideologia
que cria precisamente, de modo fulniinante, o fogo das pãixões e do fanatis-
se tornei "n1ito") "isto é, "imc1ge1n" fanrA. stica e artístic<1 entrt a utopia e o tra-
mo1 e anula o senso crítico e a ironia que podem destruir o caráter "caris-
tado escolásrico 1 no qu.il o elc1nento doutrinclrio·:. racion,il personifica-se en1
m;ltico" do i:o1ulottiero (excrnplo de Boulcingcr). Mas esta ação imediata, por
un1 cu11dottii~ro, que rcprc~cnt,1 pl.ístie,1 e ";111tropo1norficarnc1ltl',, o símbolo
isto mesn10> não pode ser ampla e de canítcr orgânico: será quase sempre do
da "vontade coletiva''.() proct::sso de forn1açJ.o da "vo1lf<Lde coktiva" é apre-
tipo restaun1çáo e reorganização) e ni10 do tipo peculiar;) fundação de novos
sent,Hlo não através de um:t investigaç;10 pedante de princípios e dl.' critérios
Estados e novas estruturas nacionais e sociais (como era o ciso no Príncipe de
de n1étodo de açáo, n1,1s como "atributos e deveres" de un1,1 person,didJde
I~1aquiavcl, onde o aspecto resta11raç:ío, se hãvia) era de fundo retórico, isto
concreta) que põe en1 n1ovin1c11to a fantasia ,1rtística e suscit.1 a paixilo.
é> ligadl..l ,10 conceito da Ir<íli;1 dt·s..:-cndcnre Ji: H.orna ç que de\' ia restaurar a
O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado con10 UlTI<l exen1plificação
ordem ron1ana); de ripo "dcfensÍyo" e ndo criativo, no qu . 11 .se supõe que uma
histórica do "nlito" sorc)i,1110, isto é, da ideologid pu!írica que se dpresenta
"vonradr coletiva'' jc1 existente fL'11h.1 se enfraquecido e dispersado, e seja
não como fria utopia 1:en1 corno raciocínio doutrin<'irio, n1as con10 "fantasia"
necessário reconcentrá~la e fortc1lecê-L1; e não que se devd cri<ir unia vontade

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375
CADER NOS DO CÁRCE RE APÊND ICES

coletiv a ex 11ovo, OÍientada para metas certam ente concre reform a da milícia, isso é o que os jacobin os fizeram na Revolu
tas, mas de uma ção Francesa,
concre tude ainda não verificada pela experiência passada. O nisso consiste o jacobin ismo precoc e de 1'..1aquiavel o germe
caráter «abstra- 1 fecund o de sua
to" (espont;-1neísta) de Sorcl revela-se em sua aversão (que concep çáo da revolução nacional. Toda a história depois de
assume a forma 1815 é o esforço
passion al de uma repugn ância ética) pelos iacobinos, que foram das classes tradicio nais para não deixar formar urna vontad
uma "encar- e nacional, mas
nação" "categó rica" do Príncipe de Maquiavel. O moder no sim manter o poder "econó mico-c orpora tivo" num sis~erna
Príncip e deve ter interna cional de
uma parte dedicad a· ao ;acobi11is1no (no sentido comple to equilíbrio subord inado, etc.
da noção já esta-
belecida em outras notas), como exemp lo de como se forma Uma parte importante do modern o Príncipe é a questão de uma
uma vontade reforma
coletiva concre ta e atuante . E é preciso que se defina a "vonta intelectual e moral, isto é1 a questão religiosa ou de uma concep
de coletiva" e a ção do mundo.
vontade política em geral no sentido modern o, a vontad e como Também neste campo encontramos ausência de "jacobinismo"
consciência e medo do "jaco-
operos a da necessidade histórica, como protago nista de um binismo" expressos em formas filosóficas (último exemplo: Benede
drama histórico tto Croce). O
real e imedia to. O primei ro capítul o (parte), precisamente, modern o Príncipe deve ser o anunci ador de uma reforma intelect
deveria ser dedi- ual e moral,
cado à ''vonta de coletiva", aprese ntando a questão do seguint que é o terreno para um novo desenvolvimento da vontad e
e modo: exis- coletiva nacional
tem as condições fundamentais para que se possa suscitar uma popular, no terreno de uma forma completa e total de civilização
vontad e coletiva moderna.
nacion al-popu lar? Em seguida, uma análise histórica (econô Realmente, o modern o Príncipe deveria limitar-se a estes dois
mica) da estrutu- pontos fun-
ra social ·do país em questão e uma representa'!ão "dramá tica" damentais: formaç ão de uma vontad e coletiva nacional popular
das tentativas , cuja expres-
feitas atravé$ dos séculos p;-1r;1 criar esta vontad e e as razôcs são <-ltiva e <ltll<ll1tc é) exatamente, o modern o Príncipe, e rcforn1
dos sncessivns a intelectual e
fracassos. Por qne não se teve a n1onarq11ia absolu ta na Itália moral. Os pontos concretos do prograrha de açiío dc\'cn1 ser·
na época de incorpo rados no
Maquiavel? É ncccss<-írio voltar ao I1npério Ron1ano (questã primeiro ponto, isto é, devem resultar "dran1atica111cnte" d,1 argun1c
o dos intelectuais nt;1ç:101 não
e da língua), para compr eender as Comun as medievais e a função ser uma fria exposição de raciocínios. (Pode haver reform a
da Igreja. A cultural, ou seja,
razão dos sucessivos fracassos na tentativ a de criar uma vontad elevação culturdl dos elementos mais baixos da sociedade, sem
e coletiva na- uma anterio r
cional popula r deve ser aponta da na existência de certas classes reform a econômica e uma modificação no padrão económico
e no caráter de vida? Por isso,
particu lar de outras, depend ente da situação interna cional a reform a intelectual e moral está sempre ligada a um progra
da Itália (sede da ma de reform a
Igreja universal). Esta posição determ ina interna mente uma situaçã econômica; mais precisamente, o progra ma de reform a econôm
o que pode ica é o modo
ser chama da "econô mico-c orpora tiva" i isto é, no plano político concre to através do qual se apresenta toda reform a intelectual
e moral. O mo-
1 uma forma
particu lar de feudalismo anárqu ico: nunca se formou uma força derno Príncipe, desenvolvendo-se1 subverte todo o sistema de
relações intelec-
;acobina efi- tuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa de fato
ciente, precisa mente a força que cria a vontad e coletiva nacion que toda ação
al popular1 é útil ou prejudicial, virtuosa ou criminosa, na medida em que
fundam ento de todos os Estados modern os. Existem finalme tem como ponto
nte as condições de referência concre to o modern o Príncipe e aumenta seu poder
para esta vontad e, ou seja, qual é a relação atual entre estas ou o combate.
condiç ões e as Ele toma o lugar1 nas consciências, da divindade e do impera
forças opostas? Tradicionalmente, as forças oposta s são a aristoc tivo categórico,
racia rural e, ele é a base de um laicismo moder no e de urna completa laicizaç
de modo mais geral, a proprie dade agrária em seu conjun ão de toda <-l.
to, isto é, aquela vida e de todas as relações de costume).
específica "burgu esia rural" que é a heranç a de parasit ismo
legada aos tem-
pos modern os pela d~ssolução da burguesia comun al (as cem Cf. cadem o 13, § 1, 3, 13-19.
cida.des, as cida-
des d~ silêncio). Qua:lquer formaç ão de vontad e coletiva nacion
al popular é
impossível, sem que as '
grande s massas dos campo neses cultivadores entrem § 78. Maquiavel. Compr eende- se que o progra ma e a tendên cia
a ligar a
si111ultanea111e11te na vida política. Isso é o que Maquiavel queria cidade ao campo só possam ~er tido em Maquiavel uma expres
através da são militar,

376 377
CADERNOS DO CÁRCERE APENDICES

sabendo-se que o jacobinismo francês seria inexplicável sem a escola fisio- das na It~lia do exterior, não se lcv:i. en1 conta que isto reflete uma condição
crática, com sua demonstração da importâ.ncia econômica e social do cultivador de fragi\id;,1de dei história passada italiana, isto é, o fato de ter a estrutura es-
direto. ,-\s te0rias cconfnnicis de M;1rp1íavel foram esn1d,1das por Gino Arias tatal pcrn1anccido na fase corn1111,il e n.ío ter p;1ssado à fase territori;-1' moder-
(nos Annali di Econo11Ii11 da Universidade Bocconi): eL1s não podiam sair dos na (nacion<d). De resto, instituições representativas existiran1l especialmente
quadros do merc_antilismo. Mas RonsscãU também teria sido possível sem os
no Sul e n:1 Sicília, nias con1 carâtcr bcn1 niais restrito do que 11;1 França por
1
fisiocratas? 1 etc. Não n1e parece justo afirmar que os fisiocrat;1s tenham re-
causa do escr1sso desenvolvi1nento do 'ICrcciro Estado ncst<ls regiões (os Par-
presentado meros interesses agrícolas: eles representavam a burguesia já de-
lamentos sicilianos, instrumento Jus br1rõcs contra a nion<-1rquia, essencial-
senvolvida e, mais ainda, já organizadora de uma sociedade futura bem mais
mente). Recordar o estudo de Antonio Panella sobre os '~t\nti1nachíavellici",
complexa do que a da época: certamente, não representavam o sistema
publicado no Marzocco de 1927 (011 tambén1 1926: onze artigos): observar
corporativo e mercantilista, etc. I-Iistoricamente, os fisiocratas representam)
como nele se julga Bodin em con1pdr<1ção con1 Maquiavel. (Pode-se ver que,
exatamente, a rur.tura do corporativismo e a ampliação ao campo da ativida-
e1n Maquiavel 1 as instituições representativas são mencionadas iu nuce.)
de econôrnica capitalista: a "linguagem" deles está ligada à época e expressa
o contr<tste in1cdiato entre cidade e can1po. Cj: caderno 13, § 13, 3, 31-32.
Cl caderno 13, § 13, 3, 32-33.
§ 207. Questões de ter111illologia. O conceito de estrutura e supercstrutn·

§ 114. /l.1i11/LÚ11vcl. )1'.i11 Budin (1530-1596) foi dcput<1Jo aos Estados ra, segundu o qu.d se Jiz que a "a11atu111i,1" da socicda<le é constin1ída por sua
Gerais de Biais em 1576 e !evon o Terceiro Estado a recusar os subsídios so- "economia", não estará ligddo às discussões surgidas a respeito da classifica-
licic1dos par;1 a gnerr<l civil. ()bras: Ml't/;odus ad /;z<"ile111 /Jisturir1ru11T cog11i- çüo das espécies anin1;lis, ch1ssi ficH,J10 q11c se tornou "científica'' prccisan1cn-
tio11en1 (1566), onde inJica a influência do clima, a idéia do yrogrcsso, etc.; te no mon1ento em se tomou por base a anatomia e não características
La République, onde expressa as opiniões do Terceiro Estado sobre a monar- secundárias e acidentais? A origen1 d8. metáfora usada para indicar um con-
quia absoluta e suas reh1çõcs com o povo; Heptalonzeres (inédito até a época ceito recentemente descoberto ajuda a compreender melhor o próprio con-
moderna), em que con1pard todas as religiões e as justifica como expressões ceitoi que é relacionado ao mundo cultural e historicamente determinado em
diversas da religião natural 1 a única racional 1 sendo tod<ls igualmente dignas que surgiu. Certamente, as ciências sociais sempre buscaram encontrar um
de respeito e de tolerância. Durante as guerras civis na Françrt, Bodin é o fundamento objetivo e cientificamente capaz de lhes fornecer a mesma segu-
expoente do terceiro parrido, dito dos "políticos" i que se coloca do ponto de rança e energia das ciências experimentais e naturais: deste modo não é difí-
1
vista do interesse nacion;1L Bodin é cat~1logado entre os "antin1J.quiavélicos", cil pensar por que tenham recorrido a estas p;:1ra criar uma linguagem.
mas evidenten1ente est.-\ é uma característica extrínseca e si1pcrficirtl de seu Recordar o outro motivo, ligado ao desenvolvimento das ciências jurídi-
significado histórico. BoLlin funda <l ci2ncia política ll•l rrança lllltll terreno cas: "não se pode julgar uma época histórica pelo que ela pensa de si mesma",
muito mais avançado Jo que aq9ele oferecido pela JtjJia a ~Li.quiavel. Para
assim como um juiz não pode julgar o réu pelo que este diz para explicar seu
Bodin, não se trata de fundar o Est<1do territorial e unit:-írio (nacional), ma5
ato criminoso ou considerado con10 tal.
de equilibrar as forças sociais cm luta dentro Jcssc Estado j<l forre e enraiza-
do; ndo o momento da força interessa ,1 Bodin, mas o do consenso. Deve-se Cl caderno 11, § 50, 1, 191.
observar que, na Itália que Maquiavel observava) não existiam instituições
representativas notáveis, como a dos Estados Gerais na França. Quando, § 234. '14.parêucias" e superestruturas. É verdade que existiu a tendência para
111ci~lcrn;1111t'tltt'. \.1hscrv,1-Sl' lplc .is institni~õcs p~1rl,11ncntircs ftir.1111 in1porta- jnlgar as superestruturas corno simples e débeis "aparências". Parece-me possível

3 79
CADE RNOS DO CÁRC ERE
APÊN DICES

dizer que uma tal tendência se reduz essencialmente


a uma atitude psicológica, forma l mas na realid ade repres enta um mome nto
na qual o conte údo teórico é mínimo e predo mina 1 do movim ento de evol.u-
a imediata paixão polêmica ção. A sereni dade deve ter corho funda mento a
contra um cx;-1gero e uma dcform;:1ção cn1 sentido invers sobrie dade moral, o~ SCJa,
o. Seria possível compa- uma consc iência dos limites propo stos e não impos
rar tal atitude i"1 que se verificou em face dti "mnlh cr ''e tos. Contr a ·a embri aguez
do amor cm determinadas ron1J.ntica. Home m coletivo f! consciência (vontade)
épocas. Aparece uma graciosa jovem, branca e rósea, indivi dual: con10 o "en-
etc., etc. O homem "práti- tusiasmo coletivo" pode se torna r norm a de ação
co" valoriza sua estn1tura ''esquelética", a ampli tude individual? A record ação
de sua "bacia", procu ra co- do entusi asmo exper iment ado e que subsiste (mas
nhecer sua mãe ou sua avó, a fim de observar que prováv na ordem intelectual) faz
el processo de deformação com que pareça inade quado nosso agir concr eto e
hereditária a jovem sofrerá com o passar dos anos, molec ular1 do que deriva m
a fim de ver que "esposa" ele contra diçõe s e escrúpulos e repres sões de instin tos
terá em 10, 20 ou 30 anos. O rapazola "satânico", e de impulsos que, na or-
com uma atitude pessimista dem intelectual, são julgad os corno inferi ores e anti-so
ou ultra-realista, observa a jovem com olhos "inexoráveis ciais. Estes me pare-
"; ela també m é um saco cem os limites de um proble ma psican alítico , o qual,
de esterco, a imagem morta e enterrada, em putrefação, porém , deVe ser posto e
das órbitas rna!cheirosas resolv ido pelo própr io sujeito. Autocrítica. Não creio
e vazias fervilharão os vermes, o róseo será lividez no funda mento cientí-
cadavérica, a leveza será de- fico da psicanálise, ou, pelo menos, creio ser neces
composição, a clcgâ ncia de movin1cntos) o equilíbrio sário restrin gir ffiuito sua
de ossos e tendõ es será um esfera real. Os sucessos da psicanálise me parecen1
peque no saco de ossos inertes, etc. Esta é uma atitud devidos à autori dade pres-
e psicológica que está ligada tigiosa de person alidad es eminentes sobre pücientcs
aos anos juvenis, às primeiras reflexões. Mas ela é supera rnor;~]mcnte ab,1~i~os, aos
da pela vida 1 e uma "deter- quais se impõe uma tranqü ilidad e moral media nte
minad a" mulher não mais fará pensar desse mod0i exp:1cações sub1et1vas do
etc. médico, que são acolhi das pelo pacien te como verda
deiras e lhe fazem s~~u­
Cf caderno 11, § 50, 1, 192-1 93. ro de si. A psicanálise deu urna forma atual ao diabo)
cham ando- o de in-
consc iente" ou subconsciente.

C/ carta a Ta11ia, 15 de fevereiro de 1932.

CADERNO 9 (1932 ) § 19. Maquiavel. Política e arte tnilitar. O escrit


or militar italian o (gene-
ral) De Cristo foris, em seu livro Che cosa sia la guerra
) diz que, por "destr ui-
[§]Pontos da carta p11r11 juha7 . Ordem intelectual e ção do exérci to inimigo" (objetivo estratégico), não
ordem moral em conflito: se enten de "a morte dos
concil iação delas numa i'ordcn1 jurídi ca'' que µode soldad os mas a dissolução de seus laços como massa
apare cer corno puramente ' orgân ica". A fórmu la
me parece feliz també m para a termin ologia política. Na polític 1 •
a, o aço org~-
nico é dado pela econo mia, isto é, pelas relações de
7Este texto, sem notaçã o de§, aparec e na p. 2 do propr iedad e e de organ i-
Cadern o 9. Gerrat ana resolveu zação jurídica, que naque las relações de propr iedad
não considerá-lo como parágr afo autôno mo {e, por e se baseia m (partid os,
isso, não o numer ou nem o
incluiu no Cadern o 9), mas apenas o transcreveu sindic atos 1 etc.).
em "Descrizioni dei Quaderni",
QC, p. 2399-2 400, juntam ente com listas de livros
prepar adas por Gramsci, rascu-
nhos de cartas para o "Chefe do Gover no", erc. Contu
do, por sua indiscutível im- Cf. caderno 13, § 35, 3, 88-89.
portân cia teórica, parece -nos que o presente texto
deva ser consid erado como um
parágrafo dos Cadernos. Gramsci não o utilizou em
nenhu ma carta aJulia, mas volta
a falar dos temas nele aborda dos em carta a Tatian
a Schuc htde 15 de fevereiro de
1932 (cf. Lettere dal carcere, Palermo, Sellerio, p. 533-53
6). Assim, o fato de que o
texto tenha sido retoma do, ainda que numa carta
e só indiret amente , autoriza-nos
a considerá-lo como um texto A e, por conseguinte,
a incluí-lo nesta "Antologia".

380
3 81
2. Índice Geral dos Cadernos do
cárcere''.

*Esre "Índice gecal" registra todos os parágrafos contidos nos Cadernos do cár-
cere, inclusive os textos A, em sua grande maioria excluídos de nossa edição.
Ele reproduz, caderno a caderno e parágrafo a parágrafo, a orden1 material ado-
rada na edição crítica de Valentino Gerratanã. Os títulos dos cadernos e das partes
dos cadernos foram atribuídos pelo próprio Gramsci. Quando estes títulos apa-
recem entre colchetes, porém, isso significa que reproduzimos as sugestões que,
na ausência de uma explícita indicação de Gramsci, foram propostos na edição
Gerratana.
Todos os textos A aparecem neste índice com seus títulos originais e são sempre
remetidos para o respectivo texto {ou textos) Conde foram retomados e/ou amplia-
dos, salvo nos casos em que estão contidos em nossa edição. Essa remissão se faz
mediante uma indicação entre colchetes (por exemplo, [20, 3] ou [28, 1e2]), onde
o primeiro número refere-se ao caderno e o segninte (ou seguintes) ao parágrafo. Para
localizar o volume e a página onde se encontra o re~pectivo rexto Cem nossa edição,
o leitor tem apenas de consultar o presente índice. Por sua vez, os textos B e C, todos
contiJos na presente eJiç1o, assim cotno os textos A induíJ.os en1 apêndice a este
volume 6, são referidos mediante uma numeração (por exemplo, 3, 214) que indica,
respectivamente, o volume e a página nos quais aparecem em nossa edição.
Como complemento deste "Índice geral", fornecemos também ao leitor a de-
talhada proposta de datação dos vários parágrafos dos Cadernos que, depois da
publicação da edição crítica da obra de Gramsci, organizada por V. Gerratana, foi
apresenta.da e justificada pelo filólogo Gianni Francioni (em L'offici11a gram~·ciana.
lpotesi sul/a struttura dei "Quaderní de! carcere", Nápoles, Bibliopolis, 1984, p.
140-146). Além de bem mais detalhada, a datação de Francioni, em alguns casos,
diverge daquela proposta por Gerratana.

383
1. ÍNDICE DOS CADERNOS SEGUNDO A EDIÇÃO GERRATANA

CADERNO 1 (1929-1930): PRIMEIRO CADERNO

Notas e apontan1cntos. Ternas principais 1, 78


1. Sobre a pobreza) o catolicismo e o papado [20, 3]
2. Face a face com o inimigo [16, 23]
3. Relações entre Estado e Igreja [16, 11]
4. Direito natural e catolicismo [27, 2]
5. Relações entre Estado e Igreja [16, 11]
6. "Para elogiar um livro ... " [23, 4]
7. Margherita Sarfdti e as "justas" [23, 9]
8. Velha e nova geração [23, 10]
9. Soffici 6, 153
10. Sobre Maquiavel 6, 345
11. Sobre a originalidade na ciência. Einaudi [10, 18]
12. Giovanni I\1pini [23, 11]
13. AlfrcJo Panzini [23, 12]
14. Fortunato Rizzi ou do italiano mesquinho 2, 57
15. Sobre as 11nivcrsiJ;1dcs italianas 2,59
16. lgnóbíl pij~11na 2,217
17. RiccarJo Bals;1mo-Crivelli 2, 217
18. O erro de Ma11rras [13, 37]
19. Notícias sobre as relações entre judeus e cristãos no
Risorgin1euto [16, 22; 19, 25]

385
CAD~RNOS DO CÁRCE-RE APtNDICES

20. Salvator Gotta [23, 9] 54. A b,nalha da Jutlândia [13, 38]


21. !.\'o 1° volun1e dAs Co!!fi'.,sões e f'ro/issões de /"é [16, 22] 55. Tipos de revista [24, 4]
22. ~u 2(\ vcilun1c d.1..; lri.1/f ..; ..-r)1•s ,, /'nJ/is.'<!1'S d1' /;' 116, 221 56. Ap,'1!()µ,o Jo tronco c doo.; r:111H1~ -;c·l'os 4, 93
23. Nu 3" volun1e cL1s Cul!/lssaes e Jiru//s_~()es de j/ [16, 221 57. Rcaç:10 do Norte aos prcco11Cl'Ílus anti111eridiun,lÍs 5, 150
24. Os filhotes do p,1drt: Brcsciani [23, 9] 58. Emip;1«1çúo e n1ovin1cntos i11tcll'ctnais 5, 150
25. i\1·hillL· l nria 128,1c21 59. lljo (.Jjctti 123, 1.IJ
26. () ossinho de (~nvicr [28, 31 60. Pôpini) Cristo) Júlio C~s,1r [23, 16]
27. Seqüelas do baixo rornantismo [25, 8] 61. Americanismo 6, 346
28. Direito 11,1tural [26, 5] 62. Qucst;lo sexual [22, 3]
29. O sarcas1no corno expressão de transiç:i.o nos historicistd.S [26, 5] 63. Lorianismo e Graziadei [28, 11]
30. Orano e Loria [28, 4] 64. Lorianismo e G. Ferrero [28, 12]
31. Cartas de Sorel a Croce [28, 5] 65. Tipos de revista [24, 4]
'7
.J~. Loria e Lnmbroso [28, 6] 66. Colônias italianas 4, 174
33. Freud 1, 229 67. Sobre o casamento religioso con1 validade civil 4, 175
34. Pn1gn1atismo an1cricano 1, 229 68. A qllcstilo sexual e a l~rc:)a C;1tólic;1. FlL'lllL'lltOs doutrin;írios 4, 175
.~5. ·ripli~ ,lc n:vi~t;1 [24, 3 J 6SI. () prên1io Nubcl 123, 17]
36. Lorianisn10 [28, 7] 70. "Impressões do cárcere", de J;1cques RiviCre 4,93
37. 'fur:iti e o lorianisn10 [28, 9] 71. O P<1drc Gioacchino \ 1cnt11r,1 5, 151
38. 'l'ipos de revistd [24, 3; 20, 1] 72. Os filhotes de P;1Jrc Grcsci,-Llli. Arte c1tólica [23, 18]
39. Répaci (Os filhores do padre Bresciani} [23, 13] 73. A literrttura italiana moderna de Crémieux [23, 40]
40. . :-\"fórmula" de Léon Bium 3, 119 74. Supercosmopolitismo e super-rl'giona!ismo [22, 4]
41. Lorianismo. - Luzzatti [28, 10] 75. Intelectuais sicilianos 2, 61
42. Os filhotes de padre Bresci<lni. Curzio ~'1dlaparte - 76. A crise do "Ocidente" 3, 120
Kurr Erich Suckert [23, 14] 77. Clero e intelectuais 4, 177
43. -ripos de re«'ista [20) 1; 24, 3i 19 1 26} 78. Bergson, o matcrialisn10 positivista, o pragrnatisn10 1, 229
44. Direç:10 políric;i de classc anti.::s c depois de chegar ao poder [19, 24] 79. Italo Chitt<lro, La c11p11citá di co1111n1do .. [13, 39]
45. Intelectudis siciliJnos 2,60 80. O público e a literarurà it8li<111a 121, 4]
46. Os !vioderados e ·Js intelectuais [19, 27] 81. i\'ino l)anielc 1 D'A11111111zio f!(J[itico .. 6, 153
47. l-legcl e o associ,-icionisn10 3, 119 82. Os filhotes de Padre Brcsci,uli [23, 21]
48. O jacobinismo ao reYés de Charles Maurras [13, 37] 83. Pictro Pieri, ll regno di N1tJHifi d11! !11glio 1799 11! 111iir;:,o
49. O "centralismo org<lnico" e as doutrinas de i\rL1urras [13, 38] 1806 [19, 32]
50. llm docume'nto da Annna sobre :1 questüo :t\orre-Su! 5, 149 84. Giov.-lnni !\.·tiioli, II /011(Íil1'"1re tÍt!IÍi! Societ,J 1\\1::)011dle [19, 33]
51. Clero como intclu.:tnais 4, 173 85. GiusL"ppe Solirro D11e 1
;;u11ig1Tdti g11::,;:,l:'lfi,Ti de!f' . . 111striiJ [19, 34]
52. Origem social do clero 4, 174 86. Giov.i.nni Crocioni, Proble111i /uud11n1e1Jf,ili dei FuUJure [27, l]
53. :t\.1.1urn1sianisn10 e sinJicrdisn10 [13, 37] 87. Ge}!tile e /11 /ifo:io/!a de/la J11Jiif1Cll Í!ali.11111 113, 40]

386 387
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

88. Gioberti [19, 35] 121. Novara 1849 (19, 29]


89. Folclore [27, 1] 122. Temas e estímulos [16, 1]
90. La Voce e Prezzolini 2, 61 123. Investigar a origem histórica exata de alguns princípios da
91. Super-regionalisn1.o [22, 4] pedagogia moderna 2, 62
92. Sobre o americanismo [22, 5] 124. Os futuristas 2, 63
93. Os filhotes de p<-1.drc Brcsciani [23, 19] 125. 1919 5, 152
94. Proudhon 1 Jahier e Raimond [23, 34] 126. 1922 5, 152
95. Adriano Tilghcr, I-fo1110 (aber [25, 3] 127. A qnrstão dos jovens 2, 63
96. Adclchi Baratono [23, 20] 128. llcligii10 con10 princípio e clero como classe-ordem feudal 4, 178
97. Salvadori, Valli e p !arianismo [28, 13] 129. O mais difundido lugar-comum sobre o Risorgitne11to (19, 28]
98. Lello Cangen1i 1 ]J\prob!e1na de/la durata del !avaro ... 4, 285 130. Itália real e Itália legal [19, 31]
99. Um fam9so fanfarrão desmiolado 6, 153 131. Bainville e o sufrágio universal na França [13,31]
100. Goffredo Belonci, Pagi11e e idee 6, 153 132. O idealismo atual e o nexo ideologia-filo:;ofia [10.11, 59.IV]
101. Piedigrotta 6, 154 133. Arte militar e arte política 3, 122
102. "La Fiera lctteraria" que depois se transformou em "rltalia
134. Luta política e guerra militar 3, 124
letterari<-l" 6, 154 135. Amcricanisn10 [22, 6]
103. Confcdcr;1ç:10 c;cr:il Fascista <la I11diístri;1 ft,dian<I, Lo sviluf)po
136. Novcccntisn10 de Bontcmpclli [23, 29]
dell'indu si ria italiana 5, 151
137. Novcrcnti.;;t1s e surcr-rcgi1~11.il'1st.1s [2.l, JilJ
104. Jean B.1r()is 4, 94
138. Risorgiutc11lo 5, 152
105. A filosofia an1cricana 4, 285
139. Ação Católic<-l [20, 2]
106. A concepção religiosa de Maurras [13, 37]
107. Filippo Meda, Statisti cattolici 140. A Constituição espanhola de 1812 no Risorghne11to [19, 30]
4, 177
108. Sobre o füsorgi1nento 141, Americanismo [22, 7]
[19, 36]
109. Informantes e agentes provocadores da Áustria [19, 37] 142. Giuseppe Prezzolini e os intelectuais [23,31]
110. Contradições dos. moderados antes de 1948 [19, 38] 143. Qualidade e quantidade [22, 8]
111. De Augusto Sandonà [19, 36] 144. Auguste Boullieri I!ile de Sardaigne 5, 152
112. Padre Facchinei 4, 94 145. O talento 4,95
113. Revolução no direito penal e no processo penal 146. Na resenha escrita por A. De Pietri Tonelli [22, 9]
e n1atcri.ilis1nn histórico [16, 20] 147. "Em mil circunstáncias de n1inha vid;L .. " 4, 95
114. Risorghncnío. Direção política e n1i!it;1r [19, 28] 148. Lorianisn10 [28, 14]
115. Sobre a ;l11H';H;a cnntín11;1 que n gn\'t'f1lt1 de Viena ... [19, 30] 149. Norte e Sul s, 153
116. Intclect11ais itali:n1os 2, 218 150. A conccpção do Estado segundo a produtiYidadc (funç~o)
117. Direção polític<l C' militar no füsorginu'/lfo [19,28] das classes sociais 6,349
118. O problc1na dos volunt<írios no R.isorgit11ento [19, 28] 151. Relação histórica entre o Estado n1oderno francês nascido
119. A demagogia [19, 28] da Revolução e os outros Estados modernos europeus 6,351
120. "Acreditem em mim 1 não tenham medo ... " 3, 122 152. Marx e Hegel (10.II, 60]

388 389
e AD E A N os Do e AR e E R·-E APÉNDICES

153. Conversação e cultura [16, 21] 20. Para as relações entre o Centro alemão e o Vaticano 3, 137
154. Clero e intelectuais 2, 64 21. "l:Etiopia d'oggi" (artigo da Rivista d'Italia ... ) 3, 138 ,.
155. Marx e Hegel [10.Il, 60] 22. Stcf.1110 Jacini 1 Uu co11servalore rurale della 11uova Italia 5, 173
156. Passado e presente 4,95 23. Eurasiatismo 3, 142
157. Croce e os intelectuais [10.Il, 59] 24. Políric-1 mundial e política curopéia 3, 143
158. "Animalidade e industrialisn10" [22, 10] 25. O nacionalismo italiano 5, 174
26. Os jornais alemães 2,224
CADERNO 2 (1929-1933): MISCELÂNEA 1 27. O Correspo11da11t de 25 de julho de 1927 3, 142
28. Artigo de Frank Simonds, "Vccchi torbidi nei nuovi Balcani" 3, 143
1. Vittorío Giglio, Milizie ed eserciti d'Italia 5, 154 29. Quintino Sella 5, 175
2. Italo Raulich, Storia dei Risorgimento politico d'Italia 5, 155 30. Itália e Iêmen na nova política árabe 3, 143
3. George Macaulay Trcvclyan, D111riele Manin E' la riuoliczio11e ve11ezi- 31. Nicolau 1\-1aquiavel [18, 1]
a11a dei 48 5, 155 32. Augur 3, 146
4. Do relatório lido pelo Engº Giacinto Morta 5, 155 33. Documentos diplom;íticos 3, 146
). 1\111:iu[1i < •. 1111h,t1(i, l\i/u1111,111.fi,t:i1>.\o/ 111·! (,',111,x.1:11• 1111,//f,, \•\. "l'cl ll!l,l f'Plitil.I .IJlll1lll.l\'Í.1 \.1/1\lll.il!' C !Llli1t1\.i!t.'',
di H..i//;s.'ÍO J,,111dnHs,.,1i11i 5, 156 di: c;uiLlO Borghi:s.1ni 5, 176
6. Artigo "Prob!cnli fin;1n1.iari'' 1 as-;i_n,Hlo por Vcr•tX (ritu11i) 5, 157 35. Fr.-111cc.sco On:stano, "l..;1 Cliíi:s.1 C:.1ttolica ndlo St<llu
7. Artigos de Luzzatti 11<1 Nuova Antologia 5, 171 it,1\i<tno e nel mondo" 4, 179
8. Um juízo de ~1anzoni sobre Victor I-Iugo 4, 95 36. ~1aguiavel [18, 2]
9. Os filósofos e a Revolução Francesa 4, 96 37. A llnião Internacional de Socorro 3, 148
10. lTm gondoleiro veneziano 4, 96 38. Gioviano Pantana 3, 148
11. Manzoni e Rosmini sobre Nap0Je;10 III 4, 96 39. A Geopolítica 3, 148
12. A marinha mercante italiana 3, 125 40. "II problema scandinavo e b<-lltico" 1 artigo de A.M. 3, 149
13. Eugenio di Cariai Uu carteggio iHedito dei P L. 41. Nicolau MJquiavel [18, 3]
Taparelli D'Azeglio 5, 172 42. Quintino Sella 5, 177
14. Amy A. Bernardy1 Í"'-onne e colori di uiia regio11nle 43. O in1posto sobre a moagcn1 de trigo 5, 177
italiana. Pien101lte 6, 155 44. Sobre Quintino Sella 5, 178
15. Os albaneses da ItHia 4, 96 45 .•'\n1érica e Europa 4, 286
16. Francesco Tomn1asinii "Politica mondialc e politica 46. Insritniçócs internacionais 3, 151
europea" 3, 129 47. Ada Ncgri 6, 155
17. Guida Bustice, "Gioacchino Murat nelle memorie incdite 48. Constituição do Império inglês 3, 151
del generale Rossctti" 5, 1í2 49. Alessandro Mariani 2,64
18. "Una política di pacc europca"i de Argus 3, 136 50. Roberto Cantalnpo, "La Nuova Eritrea" 3, 154
19. Artigo de Rogcr L1bonne no Correspo11da!fl 3, 137 51. Giovanni Pascoli 5, 178

390 391
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

52. ANuovaAntologia de 1° de dezembro de 1927 5, 180 84. G. E. di Palma Castiglione, "~organizzazione internazionale
53. Giovanni Cena, 6, 155 dei lavoro ... " 4, 287
54. "Olii, petrolii e ·henzine", de Manfredi Gravina 3, 155 85. Daniele Varé, "Pagine di un diario in Estremo Oriente" 2, 65
55. A enfiteuse 5, 183 86. Giuseppe Tucci, "La religiosità nell'India" 4,97
56. Massimo D'Azcglio 5, 184 87. Oscar di Giamberardino, "Linee generali della politica
57. Tendências contra as cidades 4, 287 marittima dell'lmpero britannico" 3, 172
58. Sobre a moda 4, 96 88. Ettore Fabietti! "Il primo venticinquennio delle Biblioteche
59. 1ittoni 5, 184 popolari milanesi" 2, 66
60. Sobre Emanuele. Filiberto 3, 156 89. "I primordi del movimento unitario a Trieste", de Camillo
61. Contra-Reforma 3, 157 de Franceschi 5, 194
62. Joseph De Maistre 4, 179 90. A nova evolução do Islá 2, 67
63. Itália o Egito 3, 158 91. Giuseppe Gallavresi, "lppolito Taine storico deila
64. R. Garofalo, ''Criminalità e amnistia in Italia" 5, 185 Rivoluzione Francese" 3, 172
65. Claudio Faina, "Foreste, combustibili e carburante nazionale" 5, 185 92. "I problemi dell'automobilisrno ai Congresso rnondiale
66. li. questão agrária 5, 186 di Roma", de Ugo Ancona 4, 97
67. Nicola Zingarclli, "Le idcc politichc dei Petrarca" 6, 156 93. Sobre o americanismo 4,287
68. E. De Cillis, "Gli aspetti ele soluzioni dei problema della 94. Sobre as finanças do Estado 5, 195
colonizzazionc agraria in Tripolitania» 5, 189 95. Questões interessantes da história e da polltic,1 it;1Jiana 5, 195
69. 11. Ncbo11 c;,1y1 "Ma:t.1.i11i e Antoni() <;;11lc11ga ,1postoli 96. AlfrcJo Oriani 5, 196
dell'Indipendenza italiana in lnghilterra» 5, 189 97. Augur, "Il nuovo aspetto dei rapporti tra la Gran Bretagna
70. A Revolução Francesa e o Risorgi1nento 5, 190 e gli Stati Uniti d'America" 3, 173
71. Sobre os orçamentos do Estado 5, 191 98. Nino Cortese, L:esercito napoletano ele guerre napoleoniche 5, 196
72. A propósito dos orçamentos 5, 193 99. Giuseppe Brindisi, Giuseppe Salvioli 2, 275
73. AAction Française e o Vaticano 4, 181 100. Pietro Silva, "Bilanci consuntivi: La Storiografia" 5, 196
74. Bibliografia variada 3, 159 101. Albano Sorbelli, Opuscoli, sta111pe alia 111acchia e fogli
75. R. Michels, "Les Partis politiques et la contrainte sociale" 3, 160 volanti ri/1-etteuti il pensiero politico italiano (1830-35) 5, 196
76. Os oficiais da reserva 3, 170 102. Giuseppe Ferrari, Corso su gli scrittori po!itici italiani 5, 197
77. A política militar 3, 171 103. Adriano Tilgher, "Perché l'artista scrive o dipinge,
78. Atlântico~Pacífico 3, 172 o scolpisce 1 ecc.?" 6, 156
79. Os can1poncscs italianos 5, 193 104. Resenha do livro <lc Bononli sobre Bissolati 5, 197
80. Sobre a emigr<tçáo italiana 5, 193 105. "Mente et Malleo" 4, 287
81. Os voluntários rio Risorginreuto 5, 194 106. Risorgintento italiano. Os jacobinos italianos 5, 197
82. Giolitti 5, 194 107. A "estrela da sorte da Itália" 5, 197
83. Francesco Tomn1asini, "Li Confcrcnza panamericana 108. Literatura popular. Edoardo Perino 6, 156
dell' Ava na" ' 3, 172 109. Os intelectuais franceses e sua atual funçã:J cosmopolita 2, 69

392 3 93

1
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

110. Cultura popular. J poeti dei popolo siciliano 6, 156 139. Maria Gianturco) "La terza sessione marittima della
111. Risorgi111e!lto. O povo e o Risorgitnento 5, 198 Confcrenza Internazionale del L1voro" 4, 291
112. Literatura popular. Victor I-Iugo 6, 157 140. Giuscppe Frisclla Vellai Ti.-:tJ1i e prol1lenii sul/a cosí detla
113. Risorgúne11to. O povo e o Risorgilneuto 5, 198 questio//e 1neridionale 5,203
114. I·Iistória política e hisróri,1 militar 3, 174 141. Passa<lo e presente 5, 203
115. Sobre o Risorgilne11to e o Mezzogiorno 5, 199 142. Gasparc Arnbrosini, "L-1 situazione dclla Palestina e gli
116. A função cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 69 interessi dell'Italia" 3, 180
117. A funçJ.o cos1no~io\ita Jos intçlcctuais it;ilianos 2, 69 143. Mari,1 P,1so\ini Ponti, "lntorno all'artc industriale" 4, 291
118. Sobre o Anschluss 3, 174 144. Passado e presente 5,203
119. A tentativa de reforma religiosa franciscana 4, 182 145. Luigi Villari, "L'agricoltura in Inghilterra" 3, 180
120. Sobre a Arnérica 3, 175 146. 1\-i.ssado e presente. E1nign1ç:"io 2, 70
121. Cadorna 3, 175 147. Risor;si!nento italiano 5,203
122. Giuseppe Paratore, "L1 economia, la finanza) il C:enaro 148. Ri-:;;orgi111e11to italiano 5,204
d'ltalia alia fine dei 1928" 5, 199 149. Política e comando militar 3, 180
! 23. "La riflln11.1 fu11di.irÍ;1 L·cL-~>slu\·,1cc;1", dP Padre \.'cri.111u 150. "ll·1n:1s dc cuhur;1 .1, 181
Ovecka 4, 182
124. Giorgio h-1ortara) "Natalità e urbanesin10 in Italia" 5,200 CADERNO 3 (1930): [MISCELÂNEA)
125. Ludovico Luciolii "L1 politica doganale degli Stati L1niti
d'A.n1erica" 3, 178 1. Os inrclccn1r1is franceses 2, 70
126. 1\ndrca Torre, "II principe di Bülo\V e la politica rnondi<1le 2. Julien Benda 2, 71
germ<1nica" 3, 180 3. Intelectuais alemães 2, 74
127. Alfonso de Pietri-Tonelli, "Wall Street" 4,288 4. Emmrtnuel Berl 2, 75
128. AçS.o C::atólica. Sindicalismo católico 4, 183 5. América 4, 291
129. Indústrias italianas 5,202 6. O que pensam os jovens? 3, 182
130. l-Iistórias r:egionais. A Ligúría e Gênova 5, 203 7. O povo. o público 6, 157
131. Ação Católica. O conflito em Lille 4, 183 8. Os filhotes de Padre Bresciani [23, 33]
132. AAcíion Frauçaise e o Vaticano 4, 184 9. A Acadcn1ia dos Dez 2, 77
133. Lenda albanesa das ":;.:ruras" e dS "za11as" sardas 4, 98 10. Proudhon e os literatos italianos (Rain1ondi, Jt1hicr) [23, 34]
134. Católicos, neom3lthusianistno, cugenia 4, 184 11. Americanismo [22, 15]
135. Pancrisrianismo e propaganda do protest<tntismo na 12. D<tvid Lizzaretti [25, 1]
An1érica de: Sul 4, 185 13. Os filhotes de Padre Bresci<Jni. Alfredo Panzini [23, 32]
136. Ação Católlca 4, 288 14. História da classe dominante e história das classes
137. Cidade e C<-l.n1po 4,288 subalternas [25, 2]
13 8. J\n1érica 4, 290 15. Ettorc Ciccotti [11, 9]

394 395
CADERNOS DO CÁRCERE
APÊNDICES

16. DesenvolvimeJto político da classe popular na


49. Temas de cultura. Material ideológico 2, 78
Comuna medieval [25, 4] 50. Concordata 4, 187
17. 1917 5, 204 51. Passado e presente 1, 230
18. História das classes subalternas [25, 4] 52. O pelourinho da virtude 4,99
19. O problen1a dos jovens 4,98 53. Passado e presente. Influência do romantisn10 francês de
20. Documentos do ten1po 4, 98 folhetim 6, 158
21. A diplomacia italiana antes de 1914 · 3, 182 54. Emilio Bodrero 2, 276
22. Lorianisrno 2, 275 55. Passado e presente. Otto Kahn 3, 198
23. Loria 2,276 5 6. A concepçáo do centralismo orgânico e a casta sacerdotal 3, 199
24. Motivos do Ri.sorghnento. O separatismo siciliano [19, 40] 57. Os filhotes de Padre Bresciani. Papini [23,37]
25. A fllnção dos católicos na Itália (Ação Católica) 4, 185 58. Ttpos de revista. Tipo Voce----Leo11ardo [24, 7]
26. América e Europa 4, 294 59. Passado e presente. A influência ietelectual da França 2, 79
27. O príncipe Karl Rohan 2, 78 60. Passado e presente. Os mortos de fome e a criminalidade
28. Tipos de revista [24, 5] profissional 4,99
29. O Cat-ílogo dos catálogos do livro italia~10 [26, l] 61. Luta de gcraçóes 3,200
30. Outra publicação bibliográfica [26, 1] 62. Passado e presente 5, 206
31. Tipos de revista [24, 6; 11, 70] 63. Os filhotes de Padre Bresciani [21, 5]
32. Tornar a vida in1possívcl 4, 98 64. Os filhotes de Padre Bresciani [23, 38]
33. Algumas causas de erro 3, 183 65. Massimo Lclj, li Risorgi1ne11to dello spirito italiano [19,41]
34. Passado e presente 3, 184 66. Lorianismo e barroquismo. Paolo Orano 2,277
35. Giuseppe Rensi [11, 101 67. Gerry111a11deri11g 3,200
36. Fatos de cultura 6, 158 68. Americanismo [22, 16]
37. Os filhotes de Padre Bresciani [23, 35] 69. Utopias e romances filosóficos [25, 7]
38. Os filhotes de Padre Bresciani. A Panzini [23, 32] 70. Frade Veremos 5,207
39. Passado e presente 5, 204 71. Utopias e romances filosóficos [25, 7]
40. Reforma e Renascimento 5, 205
1 72. Rubricas científicas [24, 8]
41. Os filhotes de Fadre Bresciani [23, 36] 73. Os filhotes de Padre Bresciani. Luigi Capuana · [23, 39]
42. Passado e presente 3, 185 7 4. Guida Bertoni e a lingüística 6, 159
43. Passado e presente 3, 188 75. Utopias e romances filosóficos [25, 7]
44. Passado e presente 3, 188 76. A questão da língua e as classes intelectuais italianas 2, 80
45. Passado e presente 3, 189 77. O clero, a propriedade eclesiástica e as formas afins de
46. Passado e prese?te 3, 189 4, 187
propriedade fundiária ou mobiliária
47. A ciência da política e os positivistas 3, 193 78. Os filhotes de Padre Bresciani. Os romances populares de
48. Passado e presehte. Espontaneidade e direção consciente 3, 194 folhetim [21, 6]

396
397
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

79. A questão da língua 2, 84 109. Os filhotes de Padre Brcsciani. ltalo Svevo e


80. O particular cl.r1111vi11isn10 italiano ... 2, 84 os literatos italianos [23, 45; 23, 46]
81. Federico Confalonieri [19, 42] 110. Aparelhamento nacional 5,208
82. Cultura histórica italiana e francesa 6, 161 111. Lorianismo 2,281
83. Passado e presente. Scuola di gion1alisn10 de Ermanno 112. Corrado Barbagallo [11, 11]
Amicucci [24, 9] 113. Utopias [25, 7]
84. A morte de Vítor Emanuel II [19, 43] 114. Passado e presente 4, 100
85. Artur o Graf 6, 162 115. Função internacional das classes cult-1s it<1lianas 2, 90
86. Lorianismo. Alfredo Trombetti 2, 277 116. Função internacional das classes cultas italianas 2, 90
87. Para a formação das classes intelectuais italianas na Altd 117. A emigração italiana e a função cosmopolita das classes cultas
Idade Média 2, 85 italianas 2, 92
88. A investigação da formação histórica dos intelectuais italia.nos 2, 89 118. I-Iistória nacional e história da culrura (européia ou mundial) 2, 93
119. Passado e presente. Agitação e propaganda 3, 201
89. Lorianismü 2,280
120. Antonio Fradeletto [23, 48]
90. J-Iistóna d,1s classes subalternas 6, 352
121. Os filhotes de Padre Brcsci;1ni [23, 47]
91. Os filhotes de P,1drc BrL'~ciani. /\ fcir;1 do livro [23, 411
122. /\ diplo111aci.-t italiana. Cosr.11Hino Nigr.1 e o ]f;1taJo de
92. FcdcricL1 ConLilunicri 119, 441
\\'11cl1.1li 3,202
93. Giov~1nni Cena [23, 431
123. O italiano mesquinho 2,94
94. Os filhores. de Padrt' Bresciani. Polifilo [23, 42]
124. Emigração 5,208
95. Os filhotes.de Padre Bresciani [21, 7]
125. Luigi Castelazzo, o processo de l\1ântua e os outros
96. Os filhores de Padre Bresciani. Romances populares [21, 8]
processos sob a Áustria [19, 53]
97. A Concordata 4, 188
126. A formação das classes cultas italianas e sua função
98. Espártaco [25, 6] cosmopolita 2,94
99. A lei do número ... [25, 6] 127. O Risorgínzento [19, 47]
100. Os filhotes de Padre Bresciani. Literatura popular [21, 9] 128. M<tquiavel e Emanuele Filiberto 3,203
101. Os filhotes de Pàdre Bresciani. Cd.ráter antipopuL.:ir ou 129. Diplomacia ita!iana 3,203
a-popular-nacional da literatura italiana [23, 44] 130. Cultura italiana 2,94
102. Passado e presente. Escola de jornalismo [24, 9] 131. Diplomacia italiana 3,204
103. O Ri:;orgitnento e as cl..isses revolucionárias [19, 45] 132. Lorianismo. Paolo Orano 2,281
104. Literatura popul.1r. Antologia dos escritores operários 133. Cario Flumiani, I gruppi sociali. Fo11da1nenti di scie11za
a111ericanos [23, 531 politica 3,204
105. Lorianismo. Os amendoins americanos e o petróleo 2,281 134. Piero Pieri, II Regno di Napoli dai luglio 1799 ai
106. O prof. H. de Vries de Heekelingen 2, 90 1narzo 1806 [19, 48]
107. As classes sociais no Risorgi111e11to [19, 46] 135. História e anti-história 1, 230
108. A equação pess·)al [26, 21 136. Os filhotes de P<idre Bresciani [23, 49]

398 399
APÊNDICES
CADERNOS DO CÁRCERE

137. A formação da classe intelectual italiana CADERNO 4 (1930-1932): [APONTAMENTOS DE FILOSOFIA 1 -


2, 94
13 8. Os filhotes de Padre Bresciani. Alfredo Panzini [23, 50] MISCELÂNEA - O CANTO DÉCIMO DO INFERNO]
139. Passado e presente 4, 100
140. Catolicismo e laicismo. Religião e ciência, etc. 4, 188 Apo11ta111e11tos de filosofia. Materialisn10 e idealís1110. Pri1neira série
141. A função internacional dos intelectuais italianos 2,95
142. Os limites da atividade do Estado 3,204 1. Se se quer estudar uma concepçáo do mundo ... 6,354
143. 1914 5, 208 2. O livro de De Man [11, 66]
144. Renascimento 2,96 3. Dois aspectos do marxismo [16, 9]
145. Culrura italiana e francesa e academias 2, 96 4. Maquiavelismo e marxismo .), 207
146. Kipling 6, 163 5. Materialismo histórico e critérios ou cânones
147. Intelectuais italianos. Carducci 2, 97 práticos de interpretação da história e da política [16, 3; 23, 3]
148. Caráter popular-nacional negativo da literatura italiana [23, 51] 6. Roberto Ardig(\ Scritti varí ... [16, 8]
149. Literatura popular. Verne e literatura de aventuras
7. As superestruturas e a ciência 6, 357
maravilhosas [21, 10] 8. Maquiavel e 1-1arx [13, 20]
150. Literatura popular. Emilio De Marchi [21, 11] 9. Um repertório do marxismo [16, 3]
151. Caráter popular-nacional negativo da literàtura italiana [23, 51] 10. Marx e J\1aq11iavcl 6,357
152. "Spectator = ~1ario Missíroli'' 1, 231 11. Problemas fnndamcntais do marxismo 6, 358
153. Literatura popular. Notas sobre o romance policial [21, 12]
12. Estrutura e supcrcstr11tt1ra 6,359
154. Aspecto nacional~popular ncg;;ttivo da literatura italiana [23, 52]
13. Notas e observações críticas sobre o
155. A nova arquitctutja 6,163
Ensaio popular [11, 26]
156. Lorianismo. Trorribetti e a monogênese da linguagem 2,281
14. O conceito de "ortodoxia" 6,360
157. Separação entre dirigentes e dirigidos 3, 205
15. Crocc e 1\1arx [10.ll, 41.Xl e 41.Xll]
158. O nó histórico 1848-1849 [19, 49]
16. A teleologia no Ensaio popular [11, 35]
159. Risorghneuto 6, 354
17. A imanência e o Ensaio popular [11, 28]
160. Estrutura econônl.ica italiana 5,209
18. A técnica do pensar [11, 44]
161. Leão Xlll 4, 188
162. O nó histórico !848-1849 19. O "instrumento técnico" no E11saiO popular 6,361
[19, 51]
163. 20. Croce e Marx [!O.II, 41.XII]
A "história" do Risorghne11to de Alessandro Luzia [19, 53]
164. Notas sobre o movimento religioso. A redação da Civiltà 21. A técnica do pensar [11. 44]
Cattolica 22. Croce e Marx. O valor das ideologias [10.11, 41.XII]
4, 189
165. !talo Toscani 23. O Ensaio popular e as leis sociológicas [11, 26]
2,97
166. Passado e presente 24. A Restauração e o historicismo [16, 9]
4, 100
25. Notas sobre o Ensaio popular [li, 30]
26. O Ensaio popular e a "causa última" [li, 31]
27. Teleologia [11, 35]

401
400
CADERNOS DO CÁRCERE APE.\IDICES

28. Anronino Lóvecch!o, Filosofia delta prassi e (iloso/i1J 59. (1---Iistüria das classes subaltcrn,ts) [11, 7]
dello spirito [11, 8] 60. 1E-n1,ts de cultura [Tipos dL' rc\'l~ta] [16, 6]
29. ?vL1quiavel [13, 22] 61. Filosofia-ideologia, ciênci,1-doutrina 1, 231
30. O livro de De !vL-111 [11, 66] 62. Arte militar e política 3,207
31. l)e Georges Sorel [ 11, 66] 63. Epistolário Sorel-Croce [11, 66]
32. O Ensaio popul11r [11, 32] 64. "História e anti-história" 1,433
33. Pnssagern do: saber :~o t:onrpreender e ao sentir e vice-versa [11, 67] 65. Pass,ido e presente 4, 101
34. 1\ propósito do nome "m,nerialismo histórico" 6) 362 66. O elemento niilitar em política. [13, 23]
35. Sobre a origem do conceito de "ideologia" [ 11 ~ 63] 67. Grandeza rcLitiva d,1._ pPtC·1Ki.1s [13, 19]
36. Critérios de ju!gJn1ento ''literário" [23, 5] 68. ll lil)ro di Don Chisciotte l\c E. Sctrfoglio 6, 164
37. IJc;-1lisn10-positivismo ("ObjetiYiddde" do conhecin1ento) [11, 64] 69. Sobre os partidos [13, 23]
38. Relações entre estrunira e superestrururas [13, 17e18; 10.11) 12] 70. Sarei, os jacobinos) -a viollnci:i. [11, 66]
39. Sobre o Ensaio popul.ir [11, 33] 71. A ciência [11, 39]
40. Fil11sofia e idcole>;.~i;t 6)162 72. O nnvc1 intclcctu:il [12, 3]
41. /\ cil:nclà 111, 3 7] 73. Lorianisn10 [28, 15]
42. Giovc1nni Vailati e ;1 ltng11.1ge1n cicntífic1 [ 11, 48] 74. e;. B. 1\ngiolctti 2, 97
43. 1\ "objct1YlJadc do n.:.d" L" o prul LuL1cz 6,362 75. P;t~\ado e prl'scntc 1, 232
44. Sorti [111.11, 41.XII] 76. Virtorio :t\-1.1cchioro e ;-1 i\nH rK.1 4,294
45. Estrutura e supcrestn1n1r<>s 6, 363 77. 'fiplls de revista 2,226
46. Filosofia - política - econon1ia [11, 65]
47. A objetividade do re'11 e Engels 6, 365 O Canto Décilno do Inferno
48. O livro de Henri De :t\-1an [11, 66]
78. A questão de "estrutura e pocsi:1" 11~1 DiuiJJa co1111~dia ... 6, 17
[A1iscelâ11ea] 79. Crítica do "não expresso"? 6, 19
80. Plínio recorda que ]Jn1antcs J~ Sicião .. . 6,20
49. Os intelecruais [12, 1] 81. /\data da morte de Guido C:ivalcanti .. . 6,20
50. l\ cscoLt unit<lria [12, 1 j 82. O desdém de Guida 6,21
51. Braço e cérebro [12, 3] 83. Vinccnzo :N1orcllo, D11nte, !~1ri111zt11, Cava/caule ... 6,22
52. Americanisn10 e fordismo [22, 11, 12 e 13] 84. As "renúncias descritivas" na J)iuillil co111édia 6,26
53. Concorddtas e tn1tados internacionais [16, 11] 85. Em 1918, numa coluna de Solto Ia n1ole ... 6,27
54. 1918 [16, 11] 86. De uma carta do Prof. U. Cosn10 ... 6,28
55. O princípio educativo na escola elementar e média [12, 2] 87. Já que não se deve levar n1uito a sério a gn1víssim<:J tarefa ... 6,29
56. Maquiavel e a "autonomia" do fato político 6,366 88. Shaw e Gordon Crnig 6, 30
57. Vincenzo Cuoco e a revolução passiva 5,209
58. (Literatura popular) [21, 15]

402 403
CADERNOS DO CÁRCERE
APÊNDICES

[Miscelânea]
22. Ação Católica na Alemanha 4, 197
23. Breves notas sobre cultura chinesa 2, 103
89. Temas de culrnra [16, 4] 24. Passado e presente. O respeito ao patrimôn:o artístico
90. Católicos integristas, jesuítas, modernistas 4, 190 nacional 2, 110
91. Caráter cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 98 25. Maquiavel e Manzoni 3,208
92. Temas de cultura [16, 5] 26. Os filhotes de Padre Bresciani. Alfredo Panzini 6, 165
93. Intelectuais. Breves notas sobre cultura inglesa 2,99 27. Os filhotes de Padre Bresciani 6, 166
94. Concordata [16, 14] 28. Ideologia, psicologismo, positivismo 1, 233
95. História das classes subalternas 5, 210 29. Oriente-Ocidente 4, 101
30. Função internacional dos intelectuais italianos 2, 111
CADERNO 5 (1930-1932): [MISCELÂNEA] 31. Sobre a tradição nacional italiana 2, 111
'
32. Ugo Foscolo e a retórica literária italiana 6, 166
1. Católicos integristas, jesuítas, modernistas [20, 4] 33. M. Iskov.tics, La littérature à la lutnibe du 1natérialis111e ·
2. Rotary Club 4,295 historique 6, 167
3. Owen, Saint-Simon e as escolas maternais, de Ferrante Aporti 4, 191 34. Passado e presente 2, 113
4. Saint-símonismo, maçonaria, Rotary Club 4,298 35. Risorgilneuto 5,211
5. Ação social catóHca 4, 192 36. Passado e presente 2, 113
6. Passado e presente 2, 102 37. A funçáo cosmopolita dos intelectuais itali;1nos 2, 113
7. Sobre o "pensamento social" dos católicos ... 38. Caráter não nacioncli-popular da literatura italiana 6, 167
4, 193
8. A América e o Mediterrâneo 39. Ceticismo 1, 233
4,298
9. Lucien Romier e a Ação Católica francesa 40. Pirandello 6, 168
4, 194
10. A Ação Católica na Bélgica 41. A orientação profissional 2, 113
4, 194
11. Católicos integristas, jesuítas, modernistas 42. A tradição de Roma 2 ,114
[20, 4]
12. O Risorghnento. Solaro della Margarita 43. O episódio da prisão dos irmãos L1 Gala em 1863 5, 211
5, 210
13. Ação Católica 44. T. 1ittoni, "Ricordi personali di politica interna" 5,212
4, 195
14. Católicos integristas, jesuítas, modernistas 45. Enrico Catellani, "La libertà del mar e" 3,209
[20, 4]
46. Claudio Faina, "Il carburante nazionale" 5,214
15. Lucien Romier e a Ação Católica francesa 4, 195
47. Ação Católica 4, 197
16. Católicos integristas, jesuítas, modernistas [20, 4]
48. Domenico Spadoni 1 "Le Società segrete nclla Rivoluzione
17. Movimento pancristão 4, 195
milanese dell'aprih 1814" 5, 214
18. O pensamento social dos católicos 4, 196
49. Bernardo Sanviscnti 1 "La questione delle Antille" 3,209
19. Ação Católica italiana 4, 197
50. Breves notas sobre a culn1ra japonesa 2, 117
20. Maquiavel e Emanuele Filiberto 3, 208 51. Breves notas sobre cult~ra chinesa 2, 120
21. Para a história do movimento operário italiano 5, 211 52. Domenico Meneghini, "Industrie chimiche italiane" 5, 214

404
405
CADERNOS DO CÁRCE-RE APÊNDICES

53. Reforma e Renascimento. Nicolau de Cl!s<l 5, 215 85. O desenvolvimento do espírito burguês na Itália 2, 127
54. Os filhotes de Padre Brcsciani. 6, 168 86. Inglaterra 3,210
55. A Ron1anha e sua funç.'i~' nc1 histúri<1 it,1li01n;1 5! 216 87. Direção político-militar da guerra de 1914-1918 3,212
56. .Ação Católica 41 19::l 88. Sobre o R.isorgi1nento itali,1no. lv1ichclc 1\n1;1ri e o
57. A Ação Católica nos Estados lJnidos 4, 193 sicili:1nis1no 5, 221
58. A Ação Católica 4) 199 89. Gabriele Gabrielli, "India ribelle" 4, 102
59. A 1\çdo Católica na Alc111,1nha 4, 199 90. Breves notas sobre culn1r.1 isL\rnica 2, 128
60. "Ll schiavitú dei L1Yoro indigcno" (dl· i\. I3n1cL"LlllTi) .. 4, 29':! 91. Rcnascin1cnto e rcforn1a 2, 130
4, 29:J 92. L)iplon1acia Ít;1\idna 3,214
61. Rotary Club
93. Costun1es italianos no século XVIII 2, 132
62. Redação da Civiltil C1!llolica 4, 20U
94. Caráter negativo popular-nacional da literatura italiana 6, 175
63. Os filhotes de P:1drc Brcsci.ani. 6, 169
95. O homem do século XV e do século XVI 5,223
64. Igreja e Estado na Icí]i;1 :intcs J,1 ConL"ili,HT)n 4, 200
96. C,tr.her ncg;1tivo 11;1cionod-pupnhr d;1 litcratur:1 ita!i;111a 6, 175
65. RisorgÚJJi!Jtto. O nó histlirico 1048-1849 5, 21 'I
97. Os intc.:lcctu,1is 2, 132
66. Os filhotes de Padre Bresciani. ligo üjetti e os jec.uít,1'- 6, 171
98. I·listória do pós-gnerr<:l 3, 214
67. Ação Católica 41 201
99. Arn1;1111ento da Alen1anh<1 no 111on1cnto do arn1isrício 3,215
68. l\1ons. Fc1ncesco L.;;111zoni, LI' diocesi d'lt1ili11 d.dle
100. Função cosn1opo!ita dos intelectuais it,ili:1nos 2, 132
on.giui 11l principio tÍl'Í s1Yulo VII 2, 122
101. Os filhotes de Padre Bresciani. Filippo Crispolti 6, 176
69. Nações enciclopédicas [26, 61
102. Literatura italiana. Contribniçáo dos burocratas 6, 176
70. Estado é Igreja 4, 201 103. Literatura popular. Teatro 6, 177
71. Natureza das Concordatas 4, 203 104. O século XVI 6, 178
72. Passado e presente 4, 204 105. Americanismo 4,301
73. Direção político-militar da guerra 3, 209 106. Luigi Villari, "II governo laburista britannico" 3,215
74. Funçiío cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 122 107. Itália e Palestina 3,215
75. M<1ggiorino Ferraris e a vida italiana entre 1882 e 1926 2, 124 108. Sicília. O Panteão siciliano de San Domcnico 5,224
76. Sobre a crise de 1898 5,220 109. Sicília 5,224
77. A passagem de Garibaldi ã CaLíbria em 1860 5,220 110. França e Itália 4, 103
78. Monasticismo e regime feudal 2, 124 111. A Academia da Itália 2, 133
79. A. G. Bianchi, "I clubs rossi durante !'assedio di Parigi" 3,210 112. Cario Schanzer, "Sovranità e giustizia nei rapporti
80. Sarei e os jacobinos 3, 210 fra gli Stati" 3,215
81. Passado e presente. Distribuição territorial da populaçJo 113. Sobre Hcnrik Ibsen 6, 179
italiana 5,220 114. Enciclopédia de conceitos políticos, filosóficos 1 etc.
82. Função cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 125 Postulado [26, 7]
83. Função cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 126 115. Nicolau Maquiavel 3,216
84. Literatura popular 6, 174 116. G. B., "La Banca dei regolamenti internazionali" 3,216

406 407
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

117. Argus, ''II disarrno navale, i sottornarini e gli aeroplani" 3,216 150. Função cosmopolita dos intelectuais italianos. Risorgin1e11to 5,239
118. Stresernann 3, 216 151. Lingüística 6, 179
119. Enciclopédia de conceitos políticos, filosóficos, etc. Classe 152. Utopias 1 romances filosóficos) etc. 5,239
média [26, 8] 153. Literatura popular 6, 180
120. Nacionalismo cültural católico 4,204 154. Os filhotes de Padre Bresciani. Cardarelli e a Ronda 6, 180
121. França 3, 216 155. Os filhotes de Padre Bresciani. 6, 180
122. Nacional-popular 6, 179 156. Folclore 6, 181
123. Renascimento 5,225 5,239
157. Sicília
124. Passado e presente. Alguns intelech1ais 2, 133 158. Lorianismo. A altimetria, os bons costurnés e a inteligência [28, 18]
125. Tipos de revista; Resenhas críticas bibliográficas 2,226 5, 240
159. Risorginzeuto. Os prin1eiros jacobinos italianos
126. Passado e presente. Os intelectuais: a decadência de 5,240
160. Renascimento
Mario Missiroli 2, 134 [26, 10]
161. Noções enciclopédicas. Ascaro
127. Maquiavel 3, 216
128. Lorianismo. Domenico Giuliotti [28, 16)
129. Passado e presente. Os católicos e o Estado 4,205 CADERNO 6 (1930-1932): [MISCELÂNEA]
130. Noções enciclopédicas [26, 9]
131. Tipos de revista. Uma rubrica gramatical-lingüística 2, 227 1. Risorgin1ento. Acontecimentos de 1853 e moderados milanCses [19, 55]
132. Passado e presente 4,205 2. Os filhotes de Padre Bresciani. Ginlio Bechi [23, 54J
133. Ação Católica. Os "Retiros operários" 4, 205 3. Noções enciclopédicas. O nariz de Cleóp;1tra [26, 3]
134. Movimentos religiosos 4,206 4. Literatura popular [23, 55]
135. Risorgi11reuto italiano. Lamennais 5,237 5. Literatura popular. Romances de folhetim [21, 12]
136. Noções enciclopédicas [26, 11] 6. Risorgime11to. A Itália no século XVIII [19, 56]
137. Católicos integristas, jesuítas, modernistas [20, 4] 7. Função cosmopolita dos intelecruais italianos. A burguesia
138. O culto dos Imperadores 4, 207 medieval e sua permanência na fase econômico-corporativa 5, 241
139. Noções enciclopédicas [26, 11] 8. Risorgi1nento italiano. P.. República Partenopéia [19, 57]
140. Americanismo [28, 17] 9. Os filhotes de Padre Bresciani. Lina Pietravalle [23, 56]
141. Católicos integristas, jesuítas 1 modernistas [20, 4] 1 O. Passado e presente 1, 433
142. Romances filosóficos, utopias 1 etc. 5,238 11. Noções enciclopédicas 1,234
143. Função internacional dos intelectuais italianos 2, 136 12. Estado e sociedade regulada 3,223
144. Noções enciclopédicas 3,223 13. As comunas medievais como fase económico-corporativa
145. Passado e presente. Cristianismo primitivo e não primitivo 4, 208 do desenvolvimento moderno 5, 241
146. Direção político-militar da guerra de 1914 3, 223 14. Função internacional dos intelectuais italianos. ~1onsenhor
147. Função cosmopolita dos intelectuais italianos 5,238 Della Casa 2, 137
148. Passado e presente. Pesquisas sobre os jovens 4, 103 15. Noções enciclopédicas 4, 104
149. Passado e presente. A escola 2, 136 16. Os filhotes de Padre Bresciani. A cultura nacional italiana [23, 57]

408 409
APÊNDICES
CADERN'OS DO CÁRCERE

[21, 13] 48. Retrato do camponês itali<lno 6, 190


17. Literatura popular. O romance policial
49. Americanisn10. Ainda Babbitt 4,303
18. Os filhotes de Padre Bresciani. O sentimento nacional dos
50. Maquiavel 3,228
escritores [23, 58]
51. O cerco de Florença em 1529-1530 5,244
19. Noções enciclopédicas. Sobre a verdade, ou seja) sobre
52. Maquiavel 3,228
dizer a verdade em política 3, 224
53. Noções enciclopédicas 3,228
20. Questões de lingüística. Giulio Bertoni 6, 181
54. Sobre o Império inglês 3,229
21. A funçáo cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 137
55. P<'lssado e presente. Arturo G1lza 2, 141
22. Os ingleses e a religião 2, 138
56. Os filhotes de Padre Bresciani 6, 190
23. Passado e presente. Os católicos depois da Concordata 4, 209
57. A chamada poesia social italiana 6, 191
24. Noções enciclopédicas. A sociedade civil 3,225 :. ..
58. I·Iisrória do jornalismo it,1li<1no 2,228
25. Passado e presente 2, 139
59. Itália meridional 2, 142
26. Os filhotes de Padre Bresciani. Pirandello 6, 183 3,229
60. As questões navais
27. Os filhotes de PaJrc llrcsciani. Supcrcosn1opolitis1110 e Frederico II 5,244
61.
super-regionalismo 6, 184 Os filhotes de Padre Rresci;1ni 6, 192
62.
28. Litcratt1ra pop11J.1r [21, 13] 63. Direito ron1ano ou direito bizantino? 2, 142
29. Os filhotes de Padre Bresciani 6, 184 64. Os filhotes de Padre Bresciani 6, 194
30. Noções enciclopédicas 4, 105 65. Jornalismo 2,229
31. Passado e presente 2, 139 66. Maquiavel 3,230
32. Breves notas sobre cultura indiana 2, 139 67. Cultura italiana. Valentino Piccoli 6, 195
33. Os intelectuais 2, 140 68. Alfredo Oriani 6, 196
34. Georges H.enard 5, 243 69. C;1poretto 3, 230
35. Cultura italiana 2, 140 70. Risorgin1e11to 5,245
36. Lorianismo. Trombetti e o etrusco 2,284 71. Lingüística j, 196
37. Passado e presente 2, 141 72. FJsorgin1ento 5,246
38. Os filhotes de PaJi:-e Bresciani [23, 57] 73. Os filhotes de Padre Brcsci,uli 6, 198
39. ~oções enciclopf<licas 3,226 74. Caporetto 3,230
40. Passado e presente. O Governo inglês 3,226 75. Passado e presente 3,233
41. R.cligiáo 4, 209 76. A função européic1 Jo czarisnio no 8éculo XIX 3, 234
42. Tendências da cultura italiana. Giovanni Cena 6, 186 77. Indivíduos e nações 2, 142
43. A Comuna como fase corporativa do Estado 5, 243 78. O Risorgilneuto italiano 5,246
44. Sobre a literatura italiana 6, 189 79. Tiros de revista 2, 230
45. Passado e presente 2, 141 80. Os filhotes de Padre Bresci,1ni 6, 199
46. A função do czarismo na Europa 3, 227 81. l-fegemonia (sociedade civil) e Jivisüo dos poJcres 3, 235
47. Passado e presente 5, 244 82. Passado e presente 3,236

410 411
CADERNOS DO CÁRCERE APENDICES

83. Intelectuais italianos 2, 143 116. O Renascimento 5,259


84. Passado e presente. Continuidade e tradição 3,240 117. Passado e presente 3,251
85. A comuna medieval corno fase econômico·corporativ a 118. O Renascimento 5, 261
do Estado mod.erno. Dante e Maquiavel 5,250 ,1 119. Risorgirnento 5,262
86. Fase econômico-corporativ a do Estado 3,241 120. Tipos de revista. O ser evolutivo final 2,236
!I
87. Armas e religião 3, 243 121. Jornalismo 2,237
88. Estado gendarrne-guarda-not urno, etc. 3, 244 :1 122. Tipos de revista. Resenhas 2, 238
90. Política e diplomacia 5,252 123. Passado e presente 4, 3.03
89. Psicologia e política 3, 245 124. Croce e a crítica literáÍia 6, 199
91. Funcionários e funções 3,246 11
125. Tipos de revista. História e "progresso" 2, 238
11:
92. Passado e presente 5,255 126. Tipos de revista 3,251
93. Noções enciclopédicas 3,246 127. Questões industriais 4,305
94. Cultura italiana 2, 143 128. Centralismo orgânico, etc. 3,252
95. Cultura italiana. Regionalismo 2, 144 129. Passado e presente. A política de D'Annunzio 2, 144
96. Tipos de revista. Economia. Resenha de estudos econômicos 130. Noções enciclopédicas. Conjuntura l, 439
italianos 2,232 131. Passado e presente. Características 3,253
97. Passado e presente. Grande an1biçJo e pequenas ambições 3, 246 132. História das classes subalternas 5,262
98. Os costumes e as leis 3,248 133. Para uma nova literatura {arte) atr0:1vés de uma nova cultura. 6,200
99. Conceito de g:r;111<lc potência 3,250 134. Literatura popular. R.omancc de folhetim 6,200
100. Passado e presente 5, 255 135. PassaJo e presente. O forJisn10 4, 305
101. Cultura italiana 2, 144 136. Organização das sociedades nacionais 3, 253
102. Passado e presente 5,256 137. Conceito de Estado 3,254
103. Risorgi1ne11to 5,257 138. Passado e presente. Passagem da guerra m'anobrada (e do ataque
104. Jornalismo 2,233 frontal) à guerra de posição também no campo político 3) 255
105. Tipos de revista. Tradição e suas sedimentações psicológicas 2,234 139. Conflito entre Estado e Igreja como categoria histónca eterna 3, 256
106. Jornalismo. Editor de assuntos locais 2,235 140. Passado e presente 4, 21 O
107. Passado e presente 1, 437 141. Sobre o sentimento nacional 3, 256
108. Literatura popular (21, 14] 142. Passado e presente. A Córsega 5, 262
109. Passado e prcserte. O indivíduo e o Estado 3,250 143. Guido Calogero, "11 neohegelismo nel pensiero italiano
110. Maqui:1vel e G1\icciardini 3, 251 contcmpor0:1neo" 1,440
111. Literatura popu1ar. Romances <le folhetim (21, 14] 144. G. Pascoli e Davide lazzaretti 5, 263
112. Passado e presente. A utopia crociana 1, 438 145. História dos intelectuais italianos. Giovanni B. Botero 2, 145
113. Risorgifnento. Campo e cidade 5,257 146. História dos intelectuais italianos. Os judeus 2, 145
114. Risorgi!ueJlto 5,257 147. Popularidade da literatura italiana 6, 201
115. Os filhotes de Pifdre Bresciani. Angclo Gatti 6, 199 148. O gênio na história 3,257

412 413
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

149. 1-Iistória dos intelectuais italianos 2, 145 183. Ação C1tólica 4,214
150. Passado e presente 5, 264 184. Noções enciclopédicas 5,271
151. Ação Católica 4, 211 185. Noções enciclopédicas. Conselho de Estado 3,257
152. História dos intelectuais italianos 2, 146 186. Ação Católica. Na Espanha 4,215
153. Caráter popular nacional da literatura italiana. Goldoni 6, 202 187. Ação Católica. Estados Unidos 4,215
154. Os saint-simonianos 4, 105 188. Ação Católica 4,217
155. Passado e presente. Política e arte militar 3, 257 189. Lorianisn10 2,285
156. Sobre o capitalismo antigo 4, 105 190. Cultura sul-an1ericana 2, 148
157. Romances filosóficos, utopias, etc. 5,264 191. América e maçonaria 4, 107
158. História das classes subalternas 5, 265 192. 1-Iistória dos intelectuais italianos 2, 148
159. F.isorgiJne11to 5, 266 193. Ação Católica. Espanha 4, 218
194. Passado e presente. A Reforma Gentile e a religião nas escolas 2, 148
160. Sobre a moral 1, 234
195. Católicos integristas) jesuítas 1 modernistas. O caso Ttirmcl 4, 218
161. Risorginrentâ. Ganbaldi 5,267
196. Política do Vaticano. Malta 4, 220
162. Passado e presente. C:aractcrísticas italianas 5, 267
197. Os intelectuais 2, 149
163. Passado e presente. As encíclicas papais 4, 2l1
198. Passado e presente. "Forçar os textos" 4, 108
164. Católicos integristas, jcsuítas 1 n1odcrnistas 4, 211
199. RL.::orgin1e11to. A Constituiçtlo c.sp;1nhola de 1812 5, 272
165. Noções cnciclop0Jic1s. Ciência e científico 4, 306
200. Intelectuais italianos 2, 149
166. Passado e presente. Apoliticismo 5,269
201. Os filhotes de Padre Bresciani, Bruno Cicognani 6,204
167. Noções enciclopédicas. Bog e bogati 4, 106
202. A Concordata 4,220
168. Literatura popular 6,202
203. Passado e presente. O Estado e os funcionários 3, 258
169. Jornalismo 2,239
204. Passado e presente 4, 108
170. Passado e presente. Governos e níveis culturais nacion<lis 2, 146
205. Noções enciclopédicas. Ação direta 3,258
171. F.isorgi111e11to 5, 270
206. Questões escolares 2, 150
172. Literatura popular 6,203
207. Literatura popular. Il Gueri11 l\1eschi110 6,205
173. Ação Católica 4, 212
208. Literatura italiana. Spartaco de R. Giovagnoli 6,206
17 4. Igreja Católica 4, 212
209. Intelectuais. Intelectuais tradicionais 2, 151
175. Ação Católica 4, 212
21 O. Intelectuais 2, 151
176. Passado e presente 5, 271
211. Intelectuais. As Academias 2, 151
177. História dos intelectuais italianos 2, 147
178. Noções enciclopédicas. Teopanismo 4, 213
179. Passado e presente. A escola profissionalizante 2, 147
180. Noções enciclopédicas. "Científico". O que é "científico"? 1, 234
181. Igreja Católica. Santos e beatos 4, 213
182. Católicos integristas, jesuítas e modernistas. Giovanni Papini 4, 214

414 4 15
APÊNDICES
CADERNOS DO CÁRCERE

30. Sobre Graziadei 1, 442


CADERNO 7 (1930-1931): [APONTAMENTOS DE FILOSOFIA li E 31. Sobre a crítica literária 6,208
MISCELÂNEA] 32. Henri de Man 1, 240
33. Colocação do problema 1, 242
Apontan1entos de filosofia. J..1aterialis1110 e idealis1no. Segunda série 34. Queda tendencial da taxa de lucro [10.11, 41.Vll]
35. Materialismo e materialismo histórico 1, 243
1. Benedetto Croce e o materialismo histórico [10.Il, 41.I] 36. Ensaio popular. A metáfora e a linguagem (11, 24]
2. Tradutibilidade das linguagens científicas e filosóficas [11, 46] 37. Goethe 1,246
3. "Esperanto filosófico" e científico [11, 45] 38. Exame do conceito de narureza humana 1,246
4. Ciência moral e materialismo histórico 1, 235 39. Croce (10.II, 41.V]
5. O Ensaio popular, a ciência e os instrumentos da ciência [11, 21] 40. Nacionalizações e estatizações 3, 263
6. O Ensaio popular e a sociologia (11, 25] 41. Economia 1,444
7. A metáfora da parteira e a de Michclangelo 4, 108 42. Comparação elíptica? [10.II, 38 e 41.VIJ
8. Benedetto Croce e o materialismo histórico (1 O.II, 41.II] 43. Reforma e Renascimento 1,247
9. B. Croce a história ético-política (10.II, 41.lll] 44. Reforma e Renascimento 1, 248
10. Estrutura e supcrestrutura 6, 368 45. Quando se pode dizer que uma filosofia tcn1 irnport<1ncia
11. Um juízo sobre o "idealismo atual" de Gentile 1,440 histórica? 1, 249
12. O homcn1-indivíduo e o homcm-n1assa 3, 2.í'J 46. Sobre o EHstlio popular. A teleologia [11,23]
13. Einaudi e o n1atcrialis1110 histórico (10.11, 39] 47. Sobre o Ensaio popular [ll,17c20]
14. Testemunhos 1, 236 48. Georges Sorel 1,250
15. A questão do c<i;pitalismo antigo e Barbagallo 6, 207
16. Guerra de posi4ão e guerra manobrada ou frontal 3, 261 [Miscelâ11ea]
17. Croce [10.II, 41.IV]
18. l)nidade nos elementos constitutivos do marxismo 1, 236 49. Literatura popular. Romances de folhetim 6,208
19. Ideologias 1, 237 50. Literatura popular 6,208
20. O Ensaio popular 6,371 51. História das classes subalternas 5, 273
21. Validade das ideologias 1, 238 52 .Literatura popular. - Seção católica. O jesuíta Ugo Mioni 6, 210

22. Teoria dos custOs comparados (e decrescentes) 1, 440 53. Pas&ado e presente. Dívidas da Alemanha e pagamentos à
23. O Eldorado de Craziadei 1, 441 América 3, 263
24. Estrutura e superestrutura 1, 238 54. Passado e presente. A questão da terra 5, 273
25. Objetividade do real (11,20] 55. Passado e presente 5, 273
26. Sobre o E11s11io popular 6, 371 56. O Deputado De Vccchi 5, 274
27. Grazíadei e o Eldorado 1, 442 57. Passado e presente 5,274
28. Sociedade civil e sociedade política 3, 262 58. Romance popular 6,210
29. Sobre o Eusaio.'popular 6, 372
417
41 6
CADERNOS DO CÁRCERE APENOICE5

59. O saínt-simoÍlismo na Itália 4, 109 91. Passado e presente. Tendências nr1 organização externa dos
60. História dos intclecn1<ÚS italianos 2, 152 fatores humdnos produtivos no ;1pós-gncrra 4, 307
61. Questões de cultunL 1\s bibliotecas 2, 152 92. Risorgi111e11lo. 1\ Itália f>.1eriJional 5, 276
62. ,\questão dos intelectuais 2, 152 93. NomencL1tura política. Privilégios e prcrrog:-u:ivas 3, 267
63. f-Iistória dos intc]ecn1c1is italianos 2, 153 94. Trabalhisino inglês. O Arcebispo de C',1ntcrb11ry, Primaz da
64. Robert Michels 3, 263 Igreja Anglicand 1 e o trabalhisn10 4,223
65. Feminismo 5,274 95. Nomen..::lan1ra política. Reich, (;cc. 3,268
66. 1--listória dos intelectuais italianos 2, 153 96. Nomcn...:l.nura polític1. Artcsan.lltJ, pcgucn,1, rnédi,1, gr<1ndc:
67. História dos intelectuais italianos 2, 153 indústria 4, 307
68. História dos intelectuais italianos. I-Iun1anismo e 97. N omencl.itura política. I--Ii erocch·i;1 ··tcocraci.-l 3,268
Rcnascin1ento 2, 155 98. Aç;10 C;1tólica 4,223
69. Ação Católica 4, 220 99. Nomenclatura política. Facçáo 3,269
70. 1-Iistória dds classes "llb;11tern.1s. Intelectuais italianos 5, 275 100. Passado e presente 5,277
101. j(Jrno1lis11H1. CtJrrcspt1nde11tvs ~J,, c~:ltTit1r 2, 240
71. lntekctuais. Sobre a cult11r;1 d;1 Índia 2, 157
102. Passado e prcscnt<..'. i'\iridcz do 1;L111,L1td e n1.1nd~1to
72. Passado e presente. A burguesia rural 5, 275
73. Ação Catúlíca in1perativo 3, 269
4, 221
74. Passado e presente. Os industriais e as missões católicas
103. Noções enciclopédicas. Opiniál) públic:i 3, 270
4, 221
104. l-Iistóri;1 dos intelectuais. L1_1t;-1 cnrrc F~tado e Igreja 2, 159
75. Litcratnr:l püplllar 6, 211
105. Os filhotes de Padre Brcsciani. L\rdcngo Soffici 6,211
76. ~oçõcs enciclopédicJ.s. Bibliografia 4, 109
106. Noções enciclopédicas. Bibliogr:1fi;1 4, 110
77. Os intelectuais. Os partidos políticos [13, 23]
107. Católicos integristas, jesuítas, n1L1dcrni~t;1s 4, 224
78. Ação Cató.lica 4, 221
108. Risorgilne1I!O. Iniciativas populares 5, 277
79. Passado e presente 1, 444
80. Passa.ia e presente 3, 264
81. 'fipos de revista. CoL-1horaçáo estrangeira CADERNO 8 (1931-1932): [MISCELÂNEA E APONTAMENTOS
2, 239
82. Os filhotes de l\1Jrc Brcsciani. Enrico Corradini 5, 276 DE FILOSOFIA 111]

83. Noções cnciclopédic-ts. 1\ opin!Jo pública 3, 265


84. Noçóes enL:iclop0dic:1s. I\1ística 3, 266 Notas esparsas e apontamentos para u:n;:t história dos
85. Noçôt:s cnêiclopl·dic.1s. l)u11tri11;1ris1110 e Joutrin~írio 3, 267 intclcct11ais it.1li.1nos 1, 79
86. ~oçóes enciclopéuic1s. Bibliografias 4, 109
87. >.'oçóes enciclopédicas. Agnosticismo 1, 250 {A1iscelâ11ea]
88. Católicos integrist.1s, jesllítas, modernistas. Roberto
Bellarn1ino 4, 222 1. Risorgin1e11to [19, 3]
89. Passado e presente.[\ religião na escola 2, 158 2. O Estado e a concepçáo do direito 3,271
90. Passado e presente. Estado e p8-rtidos 3, 267 3. Formaç;10 e difusão da nova burgucsi<l na Itália 2, 159

418 419
CADERNOS DO CÁRCERE
APÊNDICES

4. Função cosmopolita dos intelectuais italianos. Na Hungria 2, 160


36. Risorgirne11to. O transformismo 5,L86
5. RisorgiJneuto. O Partido de Ação 5,278
3 7.. O moderno Príncipe [13, 2]
6. Jacobinismo 5,279
3 8. Passado e presente. O medo do kerenskismo 3,272
7. Jornalismo [24, 2]
39. O "historicismo" de Croce [10.Il, 41. XIV]
8. Ação Católica. Publicações periódicas católicas 4,225
9. Ausência de um caráter nacional-popular na literatura 40. Renascimento. As estátuas vivas de Cuneo 5,287
41. Intelectuais 2, 164
italiana 6,212
iO. Risorgi111e11to. O realismo de Cavour 5,279 42. França-Itália 5,288
11. Risorgimeuto. 1848-1849 5,280 43. Maquiavel [13, 3]
12. Literatura popular. Bibliografia 6,213 44. Maximário maquiaveliano [13, 4]
13. Passado e presente. Manzoni dialético 4, 110 45. Noções enciclopédicas. Comandar e obedecer 3, 273
14. Temas de cultura 4,226 46. Noções enciclopédicas. A concepção melodramática da vida 6, 213
15. Testemunhos católicos 4,227 47. Os negros da América 4, 308
16. Passado e presente. A filosofia de Gentile 1, 445 48. }.1aquiavel. O moderno Príncipe [13, 5]
17 Passado e presfnte 4, 111 49. Passado e presente 5, 288
18 Passado e prcsbntc. Os advogados n<t Itália 2, 161 50. Noções enciclopédicas. Epígonos e diá<locos 4, 111
19. Senso comum [11, 56] 51. Ri.sorginzento 5,289
20. Risorghne11to. Os moderados tosc;1nos 5,280 52. Maqniavel. () moderno Príncire [13,6e7]
21. O n1oderno Príncipe 6, 374 53. P,1ssado e presente [11, 5]
22. História dos intelectuais. Tópicos para pesquisa 2, 162 54. Passado e presente. A Sardenha 5,289
23. Fe~erico Confalonieri 5,282 55. Noções enciclopédicas. Selfgoven11neut e burocracia 3,273
24. História dos intelectuais 2, 16.l 56. Maquiavel. O moderno Príncipe [13, 8]
25. Risorginzento [10.II, 41.X!V] 57. Tipos de revista 2,241
26. Passado e presente. A política ae Luigi Cadorna 5, 283 58. Maquiavel [13, 9]
27. Conservação e inovação [10.II, 41.X!V] 59. Literatura popular 6,214
28. Nomenclatura política. Teóricos, doutrinários) 60. Tipos de revista. As resenhas 2,242
partidários de abstrações, etc. 3, 272 61. Maquiavel [13, 10]
29. Bom senso e senso comum 1,250 62. Maquiavel [13, 11]
30. História dos intelectuais italianos. Gioberti 2, 163 63. Ação Católica 4, 227
31. Risorgin1e11to. O Carbonarismo e a Maçonaria 5,284
64. Passado e presente. O Pacto de Londres 3,274
32. Risorgitnento. Origens [19, 3]
65. Noções enciclopédicas. Bibliografia 4, 112
33. Nexo histórico 1848-1849. O federalismo de
66. História das classes subalternas. Bibliografia 5,290
Ferrari-Cattaneo 5,284
67. A escola 2, 164
34. Passado e presente. Bibliografia 4, 111
68. Reforma e Renascimento 5,290
35. Risorgitnento. Giuseppe Ferrari 5,285
69. Maquiavel [13, 12]
420
421
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

70. História das classes subc1lternas. Bibliografia 5, 291 102. Passado e presente 2, 166
71. Passado e presente. Questões e polêmicas pessO<lÍs 4, 112 103. Sobre a China 3,278
72. Passado e presente. O erro dos antiprotecionistas de 104. Os filhotes de Padre Bresciani. A. Luzio 6,216
esquerda 5, 291 105. Os filhotes de Padre Bresciani. Pa pini como aprendiz de
73. Noções cnciclopéJicas. Doutrinúrios, etc. 3, 275 jesuíta 6,217
74. Lorianismo. E. Ferri 2,285 106. Passado e presente. A língua italiana em Malta 2, 166
75. Os filhotes de Padre Bresciani. Giulio Bechi 6,214 107. Noções enciclopédicas. Reich 3,278
76. Lorianismo 2, 286 108. A burocr ,1cia 4, 310
77. Lorianismo. G. A. Borgese 2, 286 109. Os intelectuais. Latim eclesiástii..:o e vulgar na Idade Média 2, 167
78. Maquiavel 6, 377 110. J ornalisn10. Panorama da imprensa 2, 243
79. Maquiavel. Grande potência [13, 15] 111. Religião 4,228
80. As colônias 3, 275 112. A história corno história da liberddde e o liberalismo [10.1, 10)
81. Noções enciclopédicas. O espírito de corpo 3, 276 113. História dos intelectuais. O f-lutndnismo 2, 167
82. Os filhotes de Padre Brcsciani 6, 215 114. ~1aquiavcl. Jean Bodin ... 6, 378
e
83. Passado Presente. Acontecimentos de 1917 5, 292 115. Os filhotes de Padre Bresciani 6,218
84. Maquiavel.° Ser e dever ser [13, 16] 116. PassaJo e presente. Phlipot 4, 113
85. Pdssado e presente. Questões agrárias 5, 295 117. Americanismo. A criminalidade 4, 311
86. Maquiavel [13, 14] 118. Risorgi1nento italiano 5,298
87. Breves notas sobre cultura japonesa 2, 164 119. Passado e presente. Acontecimentos de junho de 1914 5,298
88. Noções enciclopédicas. Posições de comando - alavancas 120. Passado e presente. 1915 5,299
de comando 3, 277 121. Bibliografias. A FJvista Militare Italiana 5,301
89. Breves notas sobre cultura americana 2, 165 122. Literatun1 popular 6, 218
90. Noções enciclopédicas. A n1áquina 4, 309 123. Passado e presente. Balanço da guerra 3,278
91. Confalonieri 5, 295 124. Fase econômico~corporativa na história itâliana. A Batalha
92. Passado e presente. N;1cion,iliz,1~ócs 3, 277 de Lep<1nto 5,301
93. RisorgiJne11to italictno . .i\.:xo 18-l-8-1849 5, 296 125. Noções l!tlciclopéJicas e ten1;1s Jc culnira 4, 113
94. Noções enciclopédicas. l-!01110 ho11iiHi lupus 3, 277 126. Noções enciclopédicas e temas de cultura. A Idade !\.1édia 5,302
95. Cató!i..:os integrais - jc.">11Ít.1s - inulk·rnist,1s 4, 227 127. 1 Iistória Jas ch1sses subalternas. Í"iI !iuÍJ(~l/lf'. Ch;1ri<:s
96. Passado e presente. Giolitti 5) 296 Baudl!laire 6,218
97. Passado e presente 4, 227 128. Ciência econômica [11, 52)
98. Os filhotes de Padre Brescíani. G. Papini 6) 215 129. Ação Católica 4, 228
99. Passado e presente 2) 165 130. Noções enciclopédicas e ternas de cultura. Estatolatria 3,279
100. Passado e presente. O drr.oto do pároco e outros 131. Noções enciclopédicas e temas de ..:ultura 3,280
super-regionalismos 6, 215 132. Mdquiavel. A paixão 3,281
101. Passado e presente. Parlamento italiano 5, 297 133. Lorianismo. Giuseppe De Lorenzo 2,286

422 423
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

134. Passado e presente. Um juízo sobre Paolo Boselli 5, 303 Aponta1nentos de fi/osofía. Materialisn10 e idealis1no. Terceira série
135. Literatura popular 6,219
136. Características da literatura italiana 6, 221 166. Graziadei 2,287
137. Literatura popular 6, 222 167. O livro de De Man [11, 66]
138. Noções enciclopédicas e temas de cultura 4, 114 168. Antonio Labriola e o hegelianismo 1, 250
139. Risorgin1e11fo.,_Garíbaldi e a frase "metro cúbico de estrume" 5, 303 169. Unidade da teoria e da prática [11, 12]
140. Passado e pre$ente. Malta 5,304 170. Ideologias científicas [11,36]
141. Maquiavel 3, 281 171. Sobre o Ensaio popular. A questão de nomenclatura
142. Noções enciclopédicas e ternas-de cultura. A iniciativa e de conteúdo [11, 16]
individual 3,282 172. Bibliografias [11, 3]
143. Jornalismo. Os títulos 2,244 173. Sobre o Ensaio popular [11, 13]
144. Noções enciclopédicas. Bibliografia 4, 114 174. Sobre o Ensaio popular [11, 14]
145. Caráter não popular-nacional da literatura italiana 6,222 175. Gentile [11, 13]
146. Noções enciclopédicas. Universidade 2, 168 176. A "nova" ciência [11, 36]
147. Jornalismo. A página policial 2,244
177. A realidade "objetiva" [11, 17]
148. Noções enciclopédicas 4, 115 178. Gentile [11, 6]
149. Tem;1s de c1ilt11ra 4, 115 179. Est1do él'ico 011 dt·cult11ra J, 284
150. N<)çücs cncit.:lt1pl:dic1s. Dl'111i11rg<) 4, 115 Passado e presente. As grandes i<ll'.iils 3,285
180.
151. Temas de cultura. Contra a natureza, natural, etc. [16, 12]
181. O hegelianismo na França [11, 4]
152. Passado e presente 3,283 182. Estrutura e superestruturas 1, 250
153. Temas de cultura. Contra a natureza, natural1 etc. [16, 121
183. Dialética [11,41]
154. Passado e presente 4, 115 184. Lógica formal [11, 40]
155. Passado e presente. Apólogos. Observações sobre a religião 4,229
185. Fase econôrnico-corporativ a do Estado 3,286
156. Temas de cultura. Contra a natureza, natural) etc. [16, 12]
186. Sobre o Ensaio popular [11, 14]
157. Temas de cultura 4, 116 187. Os intelectuais 2, 168
158. Temas de cultura. A tendência a diminuir o adversário [16, 17]
188. Os intelectuais. Organização da vida cultural 2, 169
159. Temas de cultura. Natural, contra a natureza, etc. [16, 12]
189. Lógica formal e metodologia [11, 42]
160. Os filhotes de Padre Bresciani. Papini 6, 223 3,286
190. Conceito de Estado
161. Questão dos intelectuais. Sicília e S~rdenha 2, 168
191. Hegemonia e democracia 3,287
162. Maquiavel 3, 283
192. Originalidade e ordem intelectual [11, 55]
163. Maquiavel. Relações de força, etc. [16, 17]
193. Relações entre cidade e campo 3,287
164. Noções enciclopédicas. Bibliografia 4, 116
194. Lógica formal [11, 43]
165. A. Oriani 6, 223
195. A proposição de que "a sociedade não se põe problemas
para cuja soluçá? ... " 3,287

424 425
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

196. Ensaio popular [11, 15] 229. Ensaio popular [11, 15]
197. Ensaio pofntlar [11, 15] 230. A religião, a loteria e o ópio do povo [16, 1]
198. Filosofia da- práxis [10.ll, 31] 231. Introdução ao estudo da filosofia [10.Il, 31]
199. llniJadc <l.1 tcorÍ;l e J;1 pr;Ític1 [11, 54] 232. E11saio /'of!ul11r. Jnízo sobre as filostifi.ts passaJas [11, 18]
200. Antonio Labriohi. [11, 1] 233. Pontos para um ensaio sobre Croce [10.1, 5]
201. Ensaio popular. Sobre a arte [11, 19] 234. "Aparências" e superestruturas 6, 379
202. Ensaio popular [11, 15] 235. Introdução ao estudo da filosofia [11, 51]
203. História e anti·história [1 O.II, 28] 236. Pontos para um ensaio sobre Croce [10.1, 9]
204. Uma introdução .10 estudo da filosofia [11, 12] 237. Introdução ao estudo da filosofia [11, 52]
205. Determinismo mecânico e atividade·vontade [11, 12]
238. Introdução ao estudo da filosofia. Filosofia especulativa [11, 53]
206. A história do materi<ilismo de L1nge [11, 16]
239. Ensaio popular. Teleologia [11, 35]
207. Questões de tenninologic1 6, 379
240. Pontos para um ensaio sobre Croce. História ético·política
208. Tradutibilidade (recíproca) d<1s c11lruras nacionais [11, 49]
011 hist<'iri;1 espcculativ;1? [10.l, 13]
209. A rcligíüo, a lotvri,1 e o úpio du povo 116, 1]
21 O. I Iistória e ;1nti~hi\lt'iri;1 241. Os Fe11st;1's Jc Pascal. .. [16, 1 J
11(1.Jl, 28[
211. O tcrn10 "111,1tcri.ilis111u" ... 111, 16] 242. l" l)rigc11s P'ipul,1rcs Ju s11pcr-ht)111cn1 [16, 13]
212. Os estudos de históri;1 cconô1nic1 1,446 243. 2° Risor,_r;;,nento italiano [14, 16]
213. l ln1a intToduç;io ,\\J estudo <la filosofia [ l I, 12[ 244. 3° Maqui,1vcl. Contra o "vol11nt,1risn10" ou i;~iribalJis111u [ 14, 18]
214. Ensaio popular. "l'emas de estética e de crítica litercí.ria 1, 251 245. 4° Literatura popular [14, 17]
215. Ensaio popular. A realidad.e do mundo exterior [11, 17]
216. Breves notas de econorrlia. lTgo Spirito & Cia. 1,446 CADERNO 9 (1932): [MISCELÂNEA E NOTAS SOBRE O RISORGIMENTO
217. Realidade do mundo exterior [li, 17] ITALIANO]
218. Alessandro Levi [11, 2]
219. Ensaio popular. Resíduos de metafísica [11, 18]
! [Miscelli11e11]
220. Uma introdução ao esn1do da filosofia [11, 12]
221. Gentile ... [11. 6]
Pontos da carta para Julia 6, 380
222. Introdução ao estudo da filosofia. Sobre o conceito
de regularidade e de lei nos fatos históricos 1. Nações enciclopédicas. O pegueno galo vermelho 5,304
[11, 52]
223. Croce e Loria fl 0.1, 13] 2. Os filhotes de Padre Bresciani. Uma esfinge sem enigmas 6,224
224. Teologia - metafísica - especulação [10.1, 8] 3. Noções enciclopédicas. Angherie [16, 28]
225. Pontos para um ensaio sobre B. Croce [10.I, Sumário, 1 1 2, 4. História das classes subalternas. De Amicis 5, 305
3, 4, 5 e 6] 5. Risorgilne11to italiano. Sublevação de Palermo em 1866 [19, 23]
226. Uma Minerva de carne e osso [10.1, 13] 6. Temas de cultura. O movimento e a finalidade [16, 26]
22 7. Pontos para um ensaio sobre Croce [10.1, 7 e 13] 7. Temas de cultura. O mal menor [16, 25]
228. A religião, a loteria e o ópio do povo [16, 1] 8. Passado e presente. Ações e obrigações [22, 14]

426 427
APENDICES
CADERNOS DO CÁRCERE

43. Os filhotes de Padre Bresciani. Livros sobre guerra [23, 25]


9. Passado e presente. As prisões do Estado pontifício 5, 305
44. Temas de culura. Discussões, perder-se em minúcias
10. Os filhotes de Padre Bresciani. C. Mala parte [23, 22]
excessivas, etc. [16, 29]
11. Os filhotes de Padre Bresciani. Giovanni Ansaldo [23, 23]
45. Passado e presente [16, 25]
12. Lorianismo. Enrico Ferri 2,287
46. Ricciotti Garibaldi 5,307
13. Temas de culturai. Max Nordau [16, 27]
47. Noções enciclopédicas. Tempo [16, 30]
14. Passado e presente. Franz Weiss e seus provérbios 4, 117 [23, 26]
48. Os filhotes de Padre Bresciani. Leonida Répaci
15. Folclore 6,225
49. Apólogos [16, 24]
16. Grande potência. Política exterior [13, 32]
50. Os filhotes de Padre Bresciani [23, 27]
17. Passado e presente. Bibliografia 5, 305
51. Passado e presente 4, 119
18. Passado e presente. Santi Sparacio 4, 117
52. Passado e presente 3,294
19. Maquiavel. Política e arte militar 6, 381 4, 120
53. Passado e presente
20. Os filhotes de P!1dre Bresciani [23, 24]
54. Noções enciclopédicas. Bibliografia 4, 121
21. Maquiavel. História da burocracia [13, 36]
.55.Renascimento e Reforma 5,307
22. Passado e presente [13, 23]
56. Passado e presente 2, 170
23. Temas de cultura 3, 289 4, 121
57. A cultura como expressão da sociedade
24. Passado e presente 4, 119
58. A ''nova" ciência. Borgese e Michel Ardan [11, 68]
25. Temas de cultura. O maquiavclisn10 de Stcntcrcllo 3,290
59. Noções enciclopédicas. Empiris1no 1,255
26. Passado e presente. Economicisn10, sindicalismo,
60. Passado e presente .. Do sonhar de olhos abertos e do
desvalorização de qualquer movimento cultural, etc. 3,291 3,295
fantasiar
27. Temas de cultura. O maquiavelismo de Stentcrello 3,291 4, 311
61. Passado e presente. Inglaterra e Alemanha
28. Lorianismo. O Sr. Netuno 2,287 [13,31]
62. Maquiavel
29. Ação Católica. França 4,229
63. Passado e presente. Contra o bizantinismo 1, 255
30. Católicos integristas, jesuítas, modernistas 4,229
64. Maquiavel {história das classes subalternas). Importância e
31. Ação Católica. Luta em torno da filosofia neo-escolástica 4, 230 [13, 33]
significado dos partidos
32. Economia nacional 3, 291 3, 295
65. Passado e presente
33. Passado e presente. Elite e décima parte submersa 3, 292 6,226
66. Literatura popular
34. Jornalismo. Tipos de revista 2,245
67. Passado e presente 4,312
35. Passado e presente 5, 306
68. Maquiavel. Centralismo orgânico e centralismo
36. Passado e presente. Sobre o apoliticismo do povo italiano 5,306
democrático [13, 36]
37. Literatura popular 6,226 [13, 30]
69. Maquiavel
38. Função cosmopolita dos intelectuais italianos. Sobre Algarotti 2, 170 [13, 34]
70. Maquiavel
39. Ternas de cultufa. Elementos de vida política francesa 3, 293
71. Passado e presente 4, 313
40. Maquiavel. Re~ições de força, etc. [13, 23]
[22, 13]
72. Temas de cultura. An1ericanismo e fordismo
41. Noções enciclopédicas. "Paritário" [16, 18]
73. Passado e presente 4,314
42. Os filhotes de Padre Bresciani [23, 8]

429
428
1
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

74. Americanismo e fordismo. Tcn1as de cultura [22, 13] 103. Momentos de vida intensamente coletiva e unitária na
75. Bibliografias 5,308 vida do povo italiano [19, 19]
76. Passado e presente 2, 171 104. Todo o trabalho de interpretação do passado ... [19, 5]
77. Loria 2)288 105. A qucst'io ir.diana [19, 6]
78. Bibliografias 4, 121 106. I~Iistória fetichista [19, 5]
1
79. Os filhotes de Padre Bresciani. Literatura de guerrâ [23, 28] 107. Adolfo Omodeo [19, 5]
108. Origens do R.isorgilnento [19, 3] il
80. Passado e presente 4, 121
[19, 4]
"
11
81. História das classes subalternas. David Lazzarerti [25, 1] 109. Bibliografia
[19, 7] ' .i
82. Passado e presente 6, 227 110. Rodolfo t\1orandi 1 Storia della grande iudustria in Italia
83. Bibliografias 3, 296 111. Missiroli e a história italiana moderna [19, 5] i
!i
1

84. Caráter cosmopolita dos intelectuais italianos 2, 171 112. A indústria italiana [19, 7] '

85. Passado e presente 4, 121 113. Publicações de livros e relatos produzidos pelos
86. Literarura de funcion;\rios 3, 296 antiliberais [19, 13]
87. lntclectuaís. Breves notas sobre cultura inglesa 2, 173 114. Merin1ée e 1848 [19, 16]
88. (Maq11iavt:I). C~randcs potênci;i.s [U, 12[ 11.\. /\ rcvoh1ç;-10 de '1831 [ 19, 15]
116. c:arlos Félix l 19, 14]
117. Martino Bcltrani Scalia, Giornali di Palenno nel 1848-1849 [19, 17]
Notas sobre o Risorgirncnto italir1110
118. A posiçi'io geopolítica tt.1 lt;í\ia. A possihilid;1dc Jus blocos [19, 12]

89. Dois trabalhos [19, 1, 2, 4 e 51


89. As seitas no Risorgintento [19' 8] {Miscelânea]
91. Interpretações do Risorgúnento [19, 5]
92. Correntes populares no Risorghnento (história das classes 119. Questões escolares 2, 174
subalternas). Carla Bini [19, 9] 120. Literatura popular [21, 2]
93. Risorgitneuto e questão oriental [19, 20] 121. Temas de cultura. Os grandes gênios nacionais 4, 122
94. Bibliografia [19, 10] 122. Caráter cosmopolita da literatura italiana. A poesia
95. Temas de cultura. A tendência a diminuir o adversário [16, 17] provençal na Itália 2, 177
96. Características populares do Risorgünento. Voluntários e 123. Risorgilnento [19, 21]
intervenção popular [19, 11] 124. Crítica literária [23, 6]
97. Marx-Engels e a Itália [16, 16] 125. Passado e presente 5,308
98. Mazzini e Garibaldi 5)308 126. Risorgilnento [19, 23]
99. L'età dei Risorgitnt:nto de Omodeo e as origens da Itália 127. R.isorgilnento [19, 5]
moderrna [19, 2] 128. Catolicismo [16, 19]
100. Bibliografia [19, 4] 129. Risorgimento. O nó histórico 1848-1849 [19, 22]
101. Origens do R.isorghne11to [19, 3] 130. Passado e presente 1, 256
102. 1849 em Florença [19, 18] 131. Passado e presente 4, 122

430 431
CADERNOS DO CÁRCERE APe_NOICES

132. Temas de cultura [13, 26; 23, 7] [Parte II] A filosofia de Benedetto Croce
133. Maquiavel. O cesarismo [13, 27]
134. Literatura italiana. Pirandello 6,227 Alguns critérios metodológico s gerais para a crítica da filosofia
135. Literatura nacional-popular. Os "humildes" [21, 3] de Croce 1, 309
136. Maquiavel. O ,cesarismo [13, 27] 1. Como é possível propor para a filosofia de Croce ... 1, 310
137. Temas de cultllra. Sobre o desenvolvime nto da técnica 2. Identidade de liist{>ri;i e de filosofi;1
1, "11
•'' -militar [13, 28] 3. Crocc e Bernstein 1, .1 1.1
138. Passado e presente 2, 178 4. Crocc e I ll'gcl 1, .11.1
139. Os intelectuais 2, 178 5. Ciência <la política
140. Sobre a civilização inglesa 1, 314
2, 179 6. Introdução ao estudo da filosofia
141. Passado e presente. Características do povo italiano 1, 314
2, 179 7. Identificação de indivíduo e Estado
142. Maquiavel. Voluntarismo e "massa social" 1, 315
[13, 29] 8. Liberdade e "automatismo " (ou racionalidade ) 1,316
9. Introdução ao estudo da filosofia. Imanência especulativa e
CADERNO 10 (1932-1935): A FILOSOFIA DE BENEDETTO CROCE imanência histoncista ou realista 1,317
10. Introdução ao estudo da filosofia 1,318
[Parte IJ Po11tos de referência para unr ensaio sobre B. Croce 11. Pontos <le referência para un1 ensaio sobre B. Croce
1, 319
12. Introdução ao estudo da filosofia
1,320
[Sumário] 13. Introdução ao estudo da filosofia
1, 279 1,320
1. Atin1dc de Crocc durante a guerra n1undial 14. Pontos de referência para um ensaio sob'rc B. Croce
1, 283 1, 321
2. Crocc corno líJer intelectual J;1s tendências rcvisionistas do 15. Breves nntas sobre ecnnorni;1
1, 323
final do século XIX 16. Pontos de referência para um ensaio sobre B. Croce
1, 285 1, 324
3. Elaboração da teoria da história ético-política 17. Introdução ao estudo da filosofia. Princípios e preliminares
1, 286 1, 325
4. Elementos da relativa popularidade do pensamento de Croce 18. Pontos de referência para um ensaio sobre B. Croce 1,326
1, 287
5. Croce e a religião 19. Bizantinismo francês 1, 327
1
1, 288
6. Croce a tradição historiográfic a italiana 20. Pontos para o estudo da economia 1,327
1,291
7. Definição do cÜnceito de história ético-política 21. Introdução ao estudo da filosofia 1, 329
1, 293
8. Transcendênc ia - teologia - especulação 22. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1,329
1, 296
9. Paradigmas de história ético-política 23. Pontos de meditação para o estudo da economia 1, 331
1, 298
10. A liberdade como identidade de história [e de espírito] ... 24. Introdução ao estudo da filosofia 1,333
1,300
11. Pode-se dizer, t?davía, que na concepção de Croce ... 25. Pontos de meditação para o estudo da economia 1,333
1, 303
12. De tudo o que foi anteriorment e dito ... 26. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1,334
1, 305
13. Notas 27. Pontos de meditação para o estudo da econon1ia 1, 335
1,306
28. Introdução ao estudo da filosofia 1,335
29. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1, 337
30. Pontos de medit.J.ção par.a o estudo da economia 1,338

43 2 433
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

31. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1, 339 CADERNO 11 (1932-1933): [INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA FILOSOFIA]
32. Pontos de medítaçáo para o estudo da economia 1, 346
33. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1, 348 [1\dvertência] 1, 85
34. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1, 349
35. I nrrodução ao esn1do da fitosofia 1, 350
Apontan1e11tos e re/"erências de caráter histórico-crítico
36. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1,350
37. Pontos de meditação para o estudo da economia 1, 353
1. Antonio Li.briola 1, 85
38. Pontos de referência.para un1 ensaio sobre Croce 1, 356
2. 1\lessandro Levi 1, 87
39. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1, 358
3. J\lessandro Chiappelli 1, 88
40. Introdução ao estudo da filosofia 1, 360
4. Lucien l-Ierr 1, 88
41. Pontos de referência para um ensaio sobre Croce 1,361
5. Antonio L1briola 1, 89
42. Apêndice. O conhecimento filosófico como ato prático,
6. Giovanni Gentile 1, 89
de vontade 1, 396
7. A. Rosmini 1, 90
43. Introdução ao estudo da filosofia 1, 397
8. Antonino Lovecchio, Filosofla dell11 prassi e fllosofla
44. Introdução ao estudo da filosofia 1, 398
de/lo spirit o 1, 90
45. Puntos 11;ir.t uni cnsaiu sobre Cruce !, 400
9. Ettore Cicl·oni 1, 90
46. lntroduçdo ao estudo da filosofia 1, 401
10. Giuseppe Rensi 1, 92
47. Pontos para um ensaio sobre B. Croce. Croce e J. Benda 1, 401
11. Corrado Barbagallo 1, 92
48. Introduç:lo ao esn1do da filosofia 1, 402
49. Pontos para um ensaio sobre Croce 1, 407
50. Introduçáo ao estudo da filosofia 1, 408 Aponta1nentos para un1a introdução e uni encan1inlNznu~nto ao estudo da
51. Pontos para um ensaio sobre Croce 1,409 filosofia e da história da cultura
52. Introdução io estudo da filosofia· 1, 410
53. Pontos Jc n1eJit;iç,-10 sobre a ccono1ni;1 1, 411
54. Introdução ao estudo da filosofia 1, 411
55. Pontos de mtdita.ç;í.o sobre a economia. As idéias de Agnelli 1, 415 12. É preciso destruir o preconceito, n1uíto difundido, de que a
56. Pontos para um ensaio sobre B. Croce. Paixão e política 1,417 filosofia é algo muito difícil... 1, 93
57. Pontos de meditação sobre a economia 1, 418
58. Pontos pâra um ensaio sobre B. Croce. Paixão e política 1, 419 II. Observações e notas críticas sobre 11·1111i le1Jtatiua de "Ensaio
59. ?\Toras para um ensaio sobre B. Croce 1, 420 popular de sociolo3ia"
60. l\ proposição de que é preciso recolocar "o honv~m sobre os
seus pés" 1, 425 13. LTm trabalho como o Eusaio popular. .. 1, 114
61. Pontos para um ensaio crítico sobre as duas Histórias de J 4. Sobre a n1etafísica
1, 120
Croce: da ltáliJ. e da Europa 1, 425 15. O conceito de "ciência" 1, 121
16. Questões <lt: nomenclatura e de conteúdo 1, 125

434 435
CADERNOS DO CÁRCERE
APÊNDICES

17. A chamada "realidade do mundo exterior" 1, 129


44. A técnica do pensar 1, 179
18. Juízo sobre as filosofias passadas 1, 135
45. Esperanto filosófico e científico 1, 183
19. Sohre a arte 1, 136
20. Objctivid. idc e realidade do mundo exterior 1, 136
V. Tradutibilidade das linguagens cie11tífic_"zs e ftlosó/lcas
21. A ciência e os instrumentos científicos 1, 138
22. Questões gerais 1, 140
46. Em 1921, tratando de problemas de organização, Vilitch ... 1, 185
23. A teleologia 1, 144
47. Deve-se resolver o seguinte problema ... 1, 185
24. A linguagem e as metáforas 1, 144
48. Giovanni Vailati e tradutibilidade das linguagens científicas 1, 185
25. Redução da filosofia da práxis a uma sociologia 1, 146
49. A observação contida na Sagrada Fa111ília ... 1, 188
26. Questões gerais 1, 149
27. Conceito de ortodoxia 1, 152
VI. Apo11ta1nentos 1niscelâneos
28. A imanência e a filosofia da práxis 1, 156
29. O "instrumento técnico" 1, 157
50. História da terminologia e das metáforas 1, 191
30. A "matéria" 1, 160
51. Série de conceitos e de posições filosóficas a examinar 1, 194
31. A causa última 1, 163
52. Regularidade e necessidade 1, 194
32. Quantidade e qualidade 1, 163
53. Filosofia especulativa 1, 198
33. Questões gerai~ 1, 165
54. Unidade da teoria e da prática 1, 199
34. A objetividade ido mundo exterior 1, 166 55. Originalidade e ordem intelectual l, 199
35. A teleologia 1, 167 5 6. Bom senso e senso comum 1,200
57. A realidade do mundo exterior 1, 200
III. A Ciência e as ideologias científicas 58. Ética 1,200
59. Que é a filosofia? 1, 202
36. A afirmação de . Eddington 1, 168 60. A realidade do mundo exterior 1, 203
3 7. Compilar as principais definições que foram dadas da ciência 1, 172 61. Filósofos-literatos e filósofos-cientistas 1, 203
38. Colocar a ciência como base da vida 1, 175 62. Historicidade da filosofia da práxis 1, 203
39. Deve-se notar que, ao lado do mais superficial fanatismo 63. Conceito de "ideologia" 1, 207
pela ciência ... 1, 176 64. "Objetivid;-1de" do conhecimento l, 208
65. Filosofia- Política - Economia 1, 209
N. Os instrun1e11tos lógicos do peusan1e11to 66. Sorel, Proudhon, De Man 1,210
67. Passagem do saber ao compreender1 ao sentir, e vice-versa 1,221
40. Cf. Maria Govij Fondazione de/la n1etodologia 1, 176 68. A "nova" Ciência. G. A. Borgese e },1ichel Ardan 1,222
41. A dialética como parte da lógica formal e da retórica 1, 178 69. Sorel, Proudhon, De Man 1, 223
42. Valor meramente instrumental da lógica e da metodologia 70. Antonio Labriola 1, 223
formais 1, 178
43. Bibliografia 1, 179

43 6
437
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

CADERNO 12 (1932): APONTAMENTOS E NOTAS DISPERSAS PARA UM 20. Charles Benoist escreve ... 3,55
GRUPO DE ENSAIOS SOBRE A HISTÓRIA DOS INTELECTUAIS
21. Continua do "Novo Príncipe" 3,59
22. Bibliografia 3,59
1. Os intelccruaís são um grupo autônomo e independente, ou ... 2, 15 23. Observações sobre alguns aspectos da estrutura dos partidos
2. Observações sobre a escola: para i:l investigação do princípio
políticos nos períodos de crise orgC1nica 3.60
2, 42 24. Sobre a comparação entre os conceitos de guerra manobrada
educativo
2,52 e de guerra de posição ... 3, 71
3. Quando se distingue entre intelectuais e não-intelectudis ...
25. "D11pliciJ;1Jc" e ''lngenuiJ;1<le" Jc ?vL1qniavcl 3, 74
26. l-Iegen1onia político-cultural 3, 75
CADERNO 13 (1932-1934): BREVES NOTAS SOBRE A POLÍTICA DE
2 7. O cesarismo 3, 76
MAQUIAVEL 28. Sobre o desenvolvimento da técnica militar 3, 80
29. \'oluntari~1no e massas sociais 3, 80
1. O caráter fundan1cntal do Príncipe... 3, 13 30. O número e a qualidade nos regimes representativos 3, 81
2. As notas escritas a propósito do esrudo das sin1cJções ... 3, 19 31. O teorema das proporções definidas 3, 83
3. Alén1 do rnodclo cxcn1plar d-ts gr:1ndcs n1onarqni.1s .1bsol11rí~r:1s 3, 21 32. Sobre o C()llCCÍto de gr:1ndc po~(~·tH.·i.1 3, 85
4. Partindo J,, afirn1,1ç:to de Fosco!o 1 nos Sepolcri ... 3, 21 33. Sobre o conceito de partido político 3, 87
5. Grande política (J\ta política) -- peqnena política ... 3, 21 34. Sobre a origem das guerras 3, 88
6. A questão da classe política ... 3) 2::. 35. 1\rte política e arte militar 3, 88
7. Questão do "hon1em coletivo" ou do "conforrnisn10 soci;d" 3)23 36. Sobre a b11rocracia 3, 89
8. A concepção crociana da política-paixG.o exclui os partidos." 3, 25 37. Notas sobre J. vida nacional fn1ncesa 3, 92
9. Schopenhauer a~~roxima a liç8o de ciência polírica ... 38. Maurras e o "centralismo orgânico" 3, 108
10. A questão inicial a ser posta e resolvida num trabalho sobre 39. Italo Chittaro, La capacità di co1nando ... 3, 108
Maquiavel. .. 3, 26 40. G. Ge11tilc e a filosofia da políric.t 3, 109
11. Uma concepçáo do direito ... 3,23
12. Bacon chamou de ''Reis Magos" ... 3,29 CADERNO 14 (1932-1935): [MISCELÂNEA]
13. Ao lado dos méritos da moderna "maquiavelística" dcriv:ld<1
dt• Croce ... 3,29 !. Literatuza popular 6,229
14. Outro ponto a ser fixado e desenvolvido... 3, 33 2. Literatura popular 6, 230
15. Na noção de grande potência... 3) 34 3. J\1aquiavcl. Centro 3,297
16. O "exccss·ivo" (e, portanto, s11perficial e mecânico) rc:tli;.;1110 4. Literatura popular [16, 13]
político... 3, 34 5. Critérios metodológicos 6, 230
17. Análise das situc1ções: relações de força 3, 36 6. Passado e presente. Fradices 4, 123
18. Alguns aspectos teóricos e práticos do ''cconon1icismo" 3, 46 7. Passado e presente 6,231
19. Eleinentos par<'!. calcular a hierarquia de poder entre os E~r;tdos ... 3 1 55 8. Risorgi111e1Ito 5, 309

438 439
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

9. Maquiavel. Quem é o legislador? 3,297 40. Passado e presente


5,312
1O. Passado e presente 5, 310 41. Balzac
6, 244
11. Temas de cultura. As grandes potências mundiais 3,299 42. Cultura italiana
2, 186
12. Temas da cultura 5, 311 43. Noções enciclopédicas. "Riscossa"
4, 125
13. Maquiavel. Quem é legislador? 3,301 44. Concordatas
(16, 14]
14. Caráter não nacional-pop ular da literatura italiana (21, 1] 45. Literatura popular. Manzoni
6, 246
15. O teatro de Pirandello 6,232 46. Os filhotes de Padre Bresciani
6,247
16. Ri.sorgúnento italiano 5,312 47. Características da cultura italiana
5, 313
17. Literatura popp.lar 6,237 48. Passado e presente. Centralismo orgânico e centralismo
18. Maquiavel. V0iuntarismo e garibaldismo 3,302 democrático. Disciplina
3,308
19. Literatura popular. O gosto melodramátic o 6, 237 49. Maquiavel. O Estado
3,309
20. Católicos integristas, jesuítas, modernistas 4, 231 50. Passado e presente
3,310
21. O teatro de Pirandello 6, 238 51. Maquiavel. Moral e política
3,311
22. Temas de cultura. Personalidades do mundo cconôrnico 52. Católicos integristas, jesuítas, modernistas
4,232
nacional 2, 181 53. Maquiavel. A força dos partidos agrários
3, 313
23. Maquiavel. CeSarismo e equilíbrio "catastrófico" das forças 54. Passado e presente
3, 313
político-sociais 3, 303 55. Ação Católica
4,233
24. Elcn1L'tltos de cultura italiana. A ideologia "ron1ana" 2, 182 56. Cultura itciliana
2, 187
25. Passado e presente. A lógica de Dorn ferrante 4, 123 57. Passado e presente
4, 314
26. Notas sobre cultura italiana. Sobre o protestantism o na 58. Passado e presente
4, 125
Itália, etc. 2, 182 59. Justificação das autobiografias
4, 126
27. Literatura popular. Origens populares do "super-homem " [16, 13] 60. Jornalismo. Almanaques
2,246
28. Literatura pop11lar 6,239 61. Crític~ literária. Sinceridade (ou espontaneidad e) e disciplina 6,248
29. Temas de cultura. O ossinho de Cuvier 4, 124 62. Jornalismo. Os leitores
2,246
30. Literatura popular. Origens populares do super-homem (16, 13] 63. Temas de cultura. Como estudar a história? 4, 127
31. Os filhotes do Abade Bresciani 6,241 64. Justificação da autobiografia
4, 128
32. Maquiavel. Teoria e prática 3,304 65. Literatura popular
6,250
33. Maquiavel 3, 305 66. J ornalisn10
(24, 1]
34. Maquiavel. Partidos políticos e funções de polícia 3,307 67. Temas de cultura
1, 257
35. Os filhotes de Padre Bresciani 6,241 68. Maquiavel
3, 314
36. Critérios metodológico s 4, 125 69. Temas de cultura. O autodidata
4, 128
37. Literatura popular. Itália e França 6,242 70. Maquiavel. Quando se pode dizer que um partido está
38 .. Notas sobre cultura italiana 2, 185 formado e não pode ser destruído por meios n~rrnais 3,315
39. Literatura popular. Manzoni e os "humildes" 6,243 71. Jornalismo. Movimentos e centros intelectuais 2,247

440 441
CADERNOS DO CÁRCE-RE APÊNDICES

72. Literatura popular. Conteúdo e forma 6,251 21. Passado e presente 4, 135
73. Jornalismo. Tipos de revista 2,249 22. Introdução ao estudo da filosofia 1,260
74. Passado e presente. A autocrítica e a hipocrisia da autocrítica 3,319 23. Nações enciclopédicas 4, 135
75. Passado e presente 3,320 24. Literatura italiana 6,258
76. Passado e presente 3,321 25. Maquiavel 5,322
77. Passado e presente 3,322 26. Breves notas de economia política 1,448
78. Passado e presente 6, 255 2 7. Passado e presente 3,334
79. Passado e presente 4, 131 28. História d;-is classes subalternas 1,260
80. Jornalismo. Tipos de revista 2,250 29. Introdução ao estudo da filosofia 1,261
30. Americanismo 4, 321
CADERNO 15 (1933): [MISCELÂNEA] 31. lntroduç<lo ao estudo da filosofid 1, 262
32. I-Iistória do Risorgin1e11to 5,323
1. Passado e presenrc-. E~tudns sobre a estrutura econôn1ica 33. Introduç,lo .10 estudo da filosofi:1 1, 262
nacional 5, 315 34. Passado e presente. Estrela Negra 2, 188
2. i\1.ll! ll i:1 vcl 3, 322 35. P,1ssadn l' presente. l Iistóri:i dos 45 1..':1v:ileirPs hú11g:1n)s 3,334
3. P;issado e presente 3, 324 36. P<:1ssado e presente 1, 449
4. Maquiavel._ Elementos de política 3,324 3 7. Literatur<-l italiana 6,258
5. Passado e presente. A crise 4, 316 38. Critérios de crítica literária 6,259
6. Maquia.vel. Concepções do mundo e atitudes práticas 39. Passado e presente. Sindicato e corporação 3,336
totalitárias e parciais 3, 328 40. 1\ção Católica 4,234
7. Maqi.:ia\:e\. Eleições 3, 329 41. RisoJgilnento italiano 5,324
8. 1'.1aquiavel. Direito natural 3, 330 42. Caráter não nacional~popular da liter<-ltura italiana 6,261
9. Notas autobiográficas 4, 131 43. Breves notas sobre economia 1, 451
10. Maquiavel. ·sociologia e ciência política 3, 330 44. Ri.soJgÍ!nento italiano 5,325
11. t>.-1aquiavel 5, 316 45. Breves notas sobre economia 1, 453
12. Passado e presente 4, 134 46. Ordem intelectual e moral 2, 189
13. Problemas de cultura. FeEichismo 3,332 47. Maquiavel 3,339
14. Características não popular-nacionais da literatura italiana 6, 255 48. Maquiavel 3,340
15. Maquiavel 5,319 49. Passado e presente 4, 136
16. Noções enciclopédicas. Aporia 1, 259 50. Maquiavel 3,342
17. !'víaquiavel 5, 321 51. Passado e presente 4, 136
18. Passado e presente 3,334 52. Ri-soJghnento italiano 5,326
19. Passado e presente 4, 134 53. História literária ou da cultura 2, 189
20. Características nJ.o n~1cior1al-populares da literatura italiana 6, 235 54. ligo Bernasconi 6,262

442 443
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

55. Passado e presente 3, 343 10. A religião, a loteria e o ópio da n1iséria 4, 41


5 6. Risorgi111ento italiano 5, 328 11. Relações entre Estado e Igreja 4,41
57. Passado e prcse:n::e 3,344 12. Natural, contra a nah1rcz~ 1 artificial, etc. 4,50
58. Crítica litcrúria 6,262 13. Origem popular do "super-homem" 4, 55
59. Risorgin1ento italiano 5,328 14. Relações entre Estado e Igreja 4, 59
60. Risorgiu1e11to italiano. Cavour 5,330 15. Origem popular do super-homem 4, 60
61. Introdução ao estudo da filosofia 1, 263 16. Os fundadores da filosofia da práxis e a Itália 4,60
62. Passado e presen.te. Primeiro epílogo 5,331 17. A tendência a diminuir o adversário 4, 61
63. Ri.sorgi1ne11to italiano 5,332 18. "Paridade e paritário" 4, 63
64. Tradutibilidade das diversas culturas nacionais 5,333 19. O médico católico e o doente (moribundo) acatólico 4, 63
65. Introdução ao estudo da filosofia 1, 265 20. As inovações no direito processual e a filosofia da práxis 4, 64
66. Passado e presente 4, 140 21. Oratória, conversação, cultura 4, 65
67. Questão agrária 5,334 22. Sentimento religioso e intelectuais do século XIX
68. Temas de culn1ra [16, 151 (até a guerra n1undia!) 4, 70
69. Passado e presente 4, 140
23. C;1valciros (ou príncipes) cnc111tados, Vl':-.p;1s e h,1r.it.1s
70. Rcnascin1ento S,334
cstercorJ.rias 4, 72
71. Passado e presente 5,335
24. Apólogo 4, 73
72. Mag11i;1vcl 3,345
2S. O n1al 111ennr 1Jll o 111t·nos n1i1n 4, 7.l
73. Risorgi11u'11lo itali<1no 5,335
26. O movimento e o objetivo final 4, 74
74. Freud e o homem coletivo 1, 265
27. Max Nordau 4, 75
75. Temas de cultura 6,264
28. Angherie 4, 76
76. Risorgilnento italiano 5,336
29. Discussões prolixas, perder-se em minúcias excessivas, etc. 4, 77
30. Tempo 4, 78
CADERNO 16 (1933-1934): TEMAS DE CULTURA. 1°

CADERNO 17 (1933-1935): MISCELÂNEA


1. A religião, a loteria e o ópio da misériti 4, 15
2. Questões de método 4, 18
!. Humanismo e Renascimento 5,336
3. Um repertório dr1 filosofia d;1 pr;íxis 4,22
2. Passado e presente 4, 140
4. Os jor11;1is das grandes capitais 4,23
S. A influência da cultura árabe na civilização ocidental 4,24 3. Humanismo e Renascimento 5,337
6. O capit-1lismo antigo e unia disputa entre modernos 4,25 4. Passado e presente 5, 339
7. A função mundial de Londres 4,26 5. Temas de cultura. Risorgbnento e Re_novamento em Giob.erti 5,340
8. Roberto Ardigà e a filosofia da práxis 4,27 6. Introdução ao estudo da filosofia 1, 266
9. Alguns problem~s para o estudo do desenvolvimento da 7. Maquiavel. A função dos intelectuais 3,345
filosofia da práxis 4,31 8. Humanismo e Renascimento 5,340

444 445
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

9. Temas de cultura. Gioberti e o jacobinismo 5,342 43. Problemas de cultura. O racismo) Gobineau e as origens
10. Temas de cultura 3,346 históricas da filosofia da práxis 1, 272
11. Risorgilneuto italiano 5,344 44. Literatura popular 6,268
12. Temas de cultura 1,266 45. Passado e presente 5,350
13. Os filhotes .de Padre Bresciani. G. Papini 6, 265 46. Passado e presente. A neutralidade da Suíça em 1934 3,352
14. Temas de cultura. Discussões sobre a guerra futura 3, 346 47. Passado e presente 5,351
15. Humanismo e Renascimento 5, 344 48. Distinções 3, 352
16. Os filhotes de Padre Bresciani. G. Papini 6, 266 49. Princípios de método 3,353
17. Temas de cultura 6,266 50. Maquiavel 3,353
18. Introdução ao estudo da filosofia. Senso comum 1, 267 51. Maquiavel 3,354
19. Temas de cülrura 2, 191 52. Temas de cultura. Lógica formal e n:ictalidade científica 1, 273
20. Georges Sofel 1,269
3, 347
53. Problc:m;1s Je cultura. Disraeli 3,355 i
21. Ternas de cultura. César e o cesarismo 1
22. Introdução ao estudo da filosofi;1. Pragrnatismo e política 1, 270 CADERNO 18 (1934): NICOLAU MAQUIAVEL. li
23. Ensaio popular de sociologia 1,271
1
24. Os filhotes de Padre Bresciani. G. Papíni 6,266 1. A Ri vista d'ltalia de 15 de junho de 1927 3, 113 l
25. Temas de culrura. Obras de consulta 4, 141 2. Pasquale Villari, Niccolà Mac/Jiauelli e i suoi tenzpi 3, 114
26. A Ação C1tólica 4, 236 3. Artigo de Luigi Cavina na Nuova Antologia 3, 114
27. Maquiavel 3,348
28. Risorgifne11to italiano 5,345 CADERNO 19 (1934-1935): [RISORGIMENTO ITALIANO]
29. Literatura popular 6,266
30. Jornalismo 2, 251
1. Uma dupla séríe de investigações ... 5, 13
31. Passado e presente 1, 271 2. L'età dei F.isorgin-1euto, de Adolfo Omodeo ... 5, 14
32. Função cosmopolita da literatura italiana 2, 191
3. As origens do Risorgi111euto 5, 18
33. l-Iumanismo. Renascimento 5, 349 4. Bibliografia 5,27
34. Literatura popular 6,263 5, Interpretações do Risorgirnento 5,28
35. Passado e presente 4, 141 6. A questão italiana i
5,42 '.í
36. Passado e presente 3, 349
3,349
7. Sobre a estrurura econômica nacional 5,44 l
~
37. Maquiavel 8. As seitas no Risorgilnenío 5,49
38. Literatura popular [L3, 1e2] 9. Correntes populares no Risorgin1enio. Cario Bini
i'j
5,50 !

39. Maquiavel. O poder indireto 3,331 1O. Os escritos do Padre Cario Maria Curei :rj,\.
5,50
40. Freud.ianismo 1, 272 11. Características populares do RisorgiJneuto. Voluntários e ,[

41. Maquiavel 3, 351 intervenção popular 5,51 11


42. Passado e presente 3,352 12. A posição geopolítica da Itália. A possibilidade de bloqllcios 5,52

446 447
CADERNOS DO CÁRCERE APENDICES

13. Publicação e exame dos livros e dos relatos dos antiliberais e 42. Federico Confalonieri 5, 114
antifranceses no período da Revolução Francesa e de 43. A morte de Vítor Emanuel II 5, 116
Napoleão, e reacionários no período do Risorgi1nento 5,52 44. Federico Confalonieri 5, 116
14. Carlos Félix 5,53 45. A República Partenopéia e as classes reYolucionárias no
15. A Revolução de 1831 5, 53 Risorgi111e!flo 5, 116
16. Prosper Mériméc e o 1848 italiano 5,54 46. O povo no fusorgi111e11lo 5, 117
17. Martino Beltrani Scaglia 5, 54 47. A Itália e a alcachofra 5, 118
18. 1849 em Florcuça 5,55 48. Piero Picri, Il regno di Napoli diz! luglio 1799 11! 1n1r::,o 1806 5, 118
19. Momentos de vida intensamente coletiva e unitária no 49. O nó histórico 1848-1849 5, 119
desenvolvimento nacional do povo italiano 5,56 50. Critérios intro<lutivos 5, 119
20. Risorgi1nento e questão oriental 5,59 51. O nó histórico 1848-1849 5, 120
21. O "ensino mútuo" 5, 61 52. Os voluntários 5, 121
22. Correntes populares 5,61 53. Luzia e a historiografia tendenciosa e facciosa dos moderados 5, 121
23. E. De Amicis e G.C. Abba 5, 61 54. Confalonieri 5, 126
24. O problema da direção política na forn1ação e no 55. Os acontecin1cntos de fevereiro de 1853 en1 i\1ilão e os
dcscnvolvin1cnto da nação e do Estado moderno na Itália 5, 62 modcraJos 5, 126
25. Anti-semitismo no Risorgitne11to 5, 86 56. A Itália no século XVIII 5, 127
26. A relação cidade-campo no Risorgilne11to e na estrutura 57. A Repúhlic1 P<1rtenopéia 5, 128
nacional ita!i;111a s, 87 58. llma opinião Jc StcnJhal 5, 128
2 7. Os moderados e os intelectuais 5,98
28. Direção político-militar do movimento nacional italiano 5, 100 CADERNO 20 (1934-1935): AÇÃO CATÓLICA - CATÓLICOS INTEGRISTAS
29. O nexo 1848-1849. Novara 5, 105 JESUÍTAS - MODERNISTAS
30. A propósito da ameaça contínua que o Governo austríaco
fazia aos nobres do Lombardo-Vêneto 5, 107
1. A Ação Católica 4, 147
31. Itália real e Itália legal 5, 108
2. A Ação Católica e os terciários franciscanos 4, 152
32. Piero Pieri, l Reg110 ài Napoli dai luglio 1799 ai marzo 1806 5, 109
3. Sobre a pobreza, o catolicismo e a hierarquia eclesiástica 4, 153
33. Giovanni Maioli,· li fondatore della Società Nazionale 5, 110
4. Católicos integristas, jesuítas> modernistas 4, 153
34. Giuseppe Solitro; Due fan1igerati gazzettieri dell'Austria 5, 110
35. Giobcrti e o catolicisn10 liberal 5, 110
CADERNO 21 (1934-1935): PROBLEMAS DA CULTURA NACIONAL
36. Augusto Sandonà 5, 111
37. Inform<lntcs e agentes provocadores da Áustria 5, 111 ITALIANA. 1° LITERATURA POPULAR

38. O nexo 1848-1849 s, 112


39. A Constituição espanhola de 1812 5, 113 1. Conexão de problemas 6, 33
40. A Sicília 5, 113 2. No Marzocco de 13 de setembro de 1931, Aldo Sorani ... 6, 36
41. Interpretações do Risorgi111euto 5, 114 3. Os "humildes" 6,38

448 449
CADERNOS DO CÁRCER_E APÊNDICES

4. O público e a literatura italiana 6, 38 CL\DERNO 23 (1934): CRÍTICL\ LITERÁRIA


5. Conceito de "nacional-popular" 6, 39
6. Diversos tipos de romance popular 6,45 1. Retorno a De Sanctis 6,63
7. Romance e teatro popular 6,48 2. llma nota juvenil de Luigi Pirandcllo 6,64
8. Dados estatísticos 6, 49 3. Arte e lura por urna nova civilizaç:io 6,64
9. Ugo Mioni 6,51 4. LTma máxima de Rivarol 6, 68
10. Verne e o roman.:.:e geográfico-científico 6,51 5. Alguns critérios de julgamento "litcr<irio" 6,68
11. Emilio De Marchi 6, 53 6. 1\rte e cultura 6, 70
12. Sobre o romance policial 6,53 7. NeoL1lisn10 6, 70
13. Romances polici,1i'> 6, 54 8. Jnvcsrígaçiío das tendências e dos inrcrcsscs n1orais e
14. Derivações cu]r1__;rr1is do romance de folhetim 6, 58 intelectuais predominantes entn.' o~ litcrdtos 6, 72
15. Bibliografia 6,59 9. Os filhotes de Padre Bresciani 6, 76
1O. Duas gcr.1çõcs 6, 80
C.L\DERNO 22 (1934): AMERICANISMO E FORDISMO 11. G. P<tpíni 6, 80
12. A. Panzini 6, 80
1. Série de problem,1s que devem ser ex<-lminados nesra rubrica 13. LeonicL1 Répaci 6, 80
geral 4, 241 14. Curzio Malaparte 6, 80
2. Jl1cionalização da composição demográfica enropéia 4, 242 15. Ugo Ojetti 6, 82
3. Alguns aspectos da qucst:10 sexual 4, 249 16. G. Papini 6, 82
4. Algumas afirmações sobre a questão do "super-regionalisn10 17. Filippo Crispolti 6, 82
e supercosmopolirismo" 4, 252
18. "Arte Católica" 6, 83
5. Eugenio Giovannetti escreveu ... 4, 253 19. Tommaso Gallarati Scotti 6, 85
6. Autarquia financeira da indústria 4, 254 20. 1\dclchi Baratono 6, 85
7. i\,1ino Maccari e o americanisn10 4, 260 21. Maddalena Santoro 6, 86
8. Quantidade e qualidade 4, 260 22. Curzio Malaparte 6, 86
23, Giovanni Ansaldo 6, 87
9- Lê-se na resenha que A. De Pietri Tonelli publicou ... 4, 261
1 O. "Anin1alidade" e industrialismo 4, 262 24. Giuseppe Prezzo!ini 6, 88
11. Racionalização da produção e do trabalho 4, 265
25. Literatura de guerra 6, 88
12. Taylorismo e mecanização do trabalhador 4, 271 26. Leonida Répaci 6, 90
13. Os altos salários 4, 272 2 7. Arnaldo Fratcili 6, 91
14. Ações, obrigações, títulos de Estado 4, 276 28. Literatura de guerra 6, 92
15. Civilizaçáo americana e européid 4, 279 29. Novecentismo de Bontcmpclli 6,92
16. \Taricdades 4, 281 30. Novecentistas e super-regionalistas 6, 92
31. Prezzolini 6, 92
32. Alfredo Panzini 6,94

450 451
CADERNOS DO CÁRCERE AP~NDICES

33. Riccardo Bacchelli 6, 102 3. Tipos de revista 2,200


34. Jahier, Raimondi e Proudhon 6, 104 4. Uma revista típica foi o Osservatore de Gozzi ... 2,208
35. Escritores "tecnicamente" católicos 6, 105 5. Anuários e almanaques 2,209
36. Critérios de método 6. Para uma exposição geral dos tipos principais de revista ... 2,210
6, 106
37. Papini 7. Ensaios originais e traduções 2, 210
6, 108
8. Rubricas científicas 2,210
3 8. Mario Puccini 6, 109
39. Luigi Capuana
9. Escolas de jornalismo 2, 211
6, 109
40. Bellonci e Crémieux 6, 111
41. A feira do livro CADERNO 25 (1934): ÀS MARGENS DA HISTÓRIA (HISTÓRIA
6, 113
42. Luca Beltrami (Polifilo) DOS GRUPOS SOCIAIS SUBALTERNOS).
6, 113
43. Giovanni Cena 6, 114
44. Gino Saviotti 1. Davide Lazzaretti 5, 131
6, 114
45. A "descoberta" de !talo Svevo 2. Critérios metodológicos 5, 135
6, 115
46. É preciso recordar, com elogios, no campo da literatura 3. Adriano Tilg!-ier) Hon10 fabe:r 5, 136
4. Algumc1s notas gerais sobre o desenvolvi~cnto histórico
para os jovens ... 6, 116
dos grupos sociais subalternos na Idade Média e em Roma 5, 136
47. Critérios. Ser uma época 6, 116
5. Critérios de método 5, 139
48. Antonio Fradcletto 6, 117
49. Escritores tccnican1cntc brcsci;u10.s
6. Os c.scr.1vos ern R(1111;1 s, 141
6, 118
7. Fontes indirct;-is. 1\s "utopias" e os chamados "romances
50. Panzini 6, 118
filosóficos" 5, 142
51. "Popularidade" de Tolstoi e de Manzoni 6, 119 8. Cientificismo e seqüelas do baixo romantismo 5, 145
52. Bruno Cicognani e a humanidade fundamental autêntica 6, 122
53. Diretivas e desvios 6, 122
CADERNO 26 (1935): TEMAS DE CULTURA. 2º
54. Giulio Bechi 6, 123
55. Osmar Maria Graf 6, 123
1. Indicações bibliográficas 4, 81
56. Lina Pietravalle 6, 124 2. A 'iequãçilo pessoal" 4, 81
57. A cultura nacional italiana 6, 124 3. O nariz de Cleópatra 4, 81
58. O sentimento "ativo" nacional dos escritores 6, 128 4. Sobre raciocinar segundo n1édias cst;1tísticas 4, 82
59. Leonida H.épaci 6, 129 5. "Contradiçôcs" do historicisn10 e suas expressões literárias
(ironi::i., sarcasmo) 4, 82
CADERNO 24 (1934): JORNALISMO 6. O Estado "veilleur de nuit" 4, 85
7. Postulado 4, 86
1. O tipo de jornalismo considerado nestas notas ... 2, 197 8. Classe média 4, 87
2. Eis como, nos A11na/i dell'Italia cattolica ... 2, 198 9. Oficial 4, 88

452 453
CADERNOS DO CÁRCE·RE APÉNDICES

10. A;,,·cari, cnoniri, 111oretli, etc. 4, 88 CADERNO 29 (1935): NOTAS PARA UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
11. "Ri11ascin1e11to", "Ri.sorgi1ne11to", "Riscossa", etc. .:1, 89
GRAMÀTICA

CADERNO 27 (1935): OBSERVAÇÕES SOBRE O "FOLCLORE" 1. Ens;Úo de Croce: "Questa tavoL1 rotonda ê qu<-J.drat<J." ... 6, 141
2. Qu<1nt;1s forn1as Je gran1,í.tica podcrn existir? 6, 142
1. Giovanni Crocioni ... 6) 133 3. Focos Je irradiação de inovações lingüísticas na tradição e de
2. "Direito natural'' e folclore 6, 136 un1 confl:lrn1isn10 nacional lingiiístico nas grandes mc1ss;1s.
nac1on,11s 6, 145
4. l)iversns tipos de gramática norrnativa 6, 146
CADERNO 28 (1935): LORIANISMO
5. C~ran1;íric1 histórie;1 e gr<in1;írii.:.1 Jl(lflll.ttiva 6, 147
2, 257
6. c;ran1;ltic1 e técnica 6, 148
Sobre alguns aspectos deteriorados e bizarros ...
7. A ch<1.r11ada "questão da língua" 6, 149
1. Registro dos principais ··documentos" ... 2,257
8. De Bartoli, "Quistioni linguistiche e diritti nazionali" 6, 150
2. Juntamente com Loria) dcvcn1-se exan1inar Enrico fcrri L'
9. O título do estudo ... 6, 150
Lumbroso ... 21 262
3. O ossinho de Cuvi1.:'r 2, 262.
4. Paolo Orano 21 263
5. Nas cartas de G. Sorel a B. Croce ... 2, 263
6. Alberto Lumbroso 2, 263
7. Lorianismo na ciência geográfica 2, 264
8. llecordar o volun1c sobre a Cultura it11lia1Ia ... 2,264
9. Ti.irati 2, 265
10. Credaro-Luzzatti 2, 265
11. Graziadei e o Eldorado 2, 265
12. Guglielmo Ferrero 2, 267
13. Luigi Valli 2, 267
14. Loria e a altimetria 2,268
15. Corso Bovio 2, 268
16. Dornenico Giuliotti 2,268
17. G.A. Fanelli 2, 268
18. A altimetria, os bons costumes e a inteligência 2, 271

454 •4 5 5
li. DATAÇÃO DOS PARÁGRAFOS SEGUNDO A PROPOSTA DE
G. FRANCIONI

CADERNO 1

Projeto: 8 de fevereiro de 1929


§§ 1-7: junho de 1929
8-11: entre junho e julho
12: julho
13-27: entre julho e outubro
28-29: outubro
30-32: entre outubro e dezembro
33: dezembro de 1929
34-43: entre dezembro de 1929 e fevereiro de 1930
44-144: entre fevereiro e março
145-147: março
148: entre n1arço e maio
149-158: maio de 1930 (depois do dia 20)

CADERNO 2

§§ 1-18: maio de 1930 (<lntes do dia 20)


19-32~ entre maio e antes do dia 15 de junho
33-54: junho (antes do dia 15)
55-72: entre agosto e setembro
73-75: 1929(?)-1930 (talvez antes de maio)

457
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

76-105: entre agosto e setembro (antes de 2 de outubro) 86-88: 1932 (provavelmente entre a metade do ano e agosto)
106-125: entre outubro e novembro 89-95: entre agosto e setembro de 1932
126-129: entre nove~bro e dezen1bro
130-136: dezembro de 1930
CADERNO 5
137-141: entre dezcrnbro de 1930 e março de 1931
142-149: outubro de 1931
§§ 1-14: outubro de 1930
150: 1933 (depois de janeiro)
15-96: entre outubro e novcn1bro
97: novembro
CADERNO 3
98-135: entre novembro e dezen1bro
136-145: dezembro
§§ 1-13: entre 20 e 30 de maio de 1930 146-159: dezembro de 1930 {ou entre agosto de 1931 e início de
14-27: junho (antes do dia 15) 1932?)
28-56: entre junho e julho 160-161: início de 1932
57-60: julho
61-62: entre julho e agosto
CADERNO 6
63-104: ;1gosto
105-142: entr.e agosto e setembro (<lntes de 2 de onn1bro)
143-162: entre scten1bro e outubrü §§ 1-11: entre novembro e dezen1bro de 1930
163-166: outubro de !93U 12-40: dezembro de 1930
41-74: entre dezembro de 1930 e 13 de março de 1931
75-76: março
CADERNO 4
77-136: entre março e agosto
137-142: agosto
§§ 1-8: maio de 1930
143-157: outubro
9-27: entre m.iio e agosto
158-163: entre outubro e novembro
28-30: entre agosto e setembro
164-172' novembro
31: setembro
173: enrre novembro e dezen1bro
32-37: entre setcn1bro e outubro
174-202: dezembro de 1931
3 8-42: outubro
203-205: entre dezembro de 1931 e janeiro de 1932
43-48: entre outubro e novembro de 1930
206-211: janeiro de 1932
48-77: novembro de 1930
78: maio de 1930
79: entre maio e junho CADERNO 7
80: julho
81-83: entre julho de 1930 e 13 de março de 1931 §§ 1-11: novembro de 1930
8.+-85: entre 1931 e 1932 12·17: entre novembro e dezembro de 1930

459
CADERNOS DO CÂRCERE APÊNDICES

18-22: entre novembro-dezembro de 1930 e fevereiro de 1931 CADERNO 9


23-32: fevereiro
33-48: entre fevereiro e novcn1bro de 1931 §§ 1-2: abril de 1932
49-54: agosto de 1931 3-15: entre abril e maio
55-59: entre agosto e outubro 16-31: maio
60-68: outnbro ' 32-34: entre maio e junho
69: entre out1bro e dezembro 35-56: junho
70-108: dezembro de 1931 57: julho
58-68: entre julho e agosto
CADERNO 8 69-71: agosto
72-75: entre agosto e setembro
Proposta: entre novembro e dezembro de 1931 76-88: setembro de 1932
Agrupamentos 89-96: maio de 1932
de nzatéria: entre novembro e dezembro de 1931 97-104: entre maio e junho
§§ 1-18: janeiro de 1932 105: junho
19-30: entre janeiro e fevereiro 106: entre junho e julho
31-70: fevereiro 107: julho
71-76: entre fevereiro e n1;1rço 108: ;1gosto
77-118: março 109-117: entre agosto e setembro
119: entre n1arço e abril 118: seten1bro
120-165: abril de 1932 119-127: entre setembro e novembro
166-176: novembro de 1931 128-142: novembro de 1932
177: entre novembro e dezembro
178-193: dezembro de 1931 CADERNO 10
194-199: fevereiro de 1932
200-212: entre fevereiro e março Parte I
213-220: março Sutnário e
221: entre março e abril §§ 1-12: entre meados de abril e meados de maio de 1932
222-236: abril (acréscimos marginais ao Sumário em meados de 1935)
237-240: maio de 1932 13: segunda metade de maio de 1932
241-245: entre novembro de 1931 e maio de 1932
Parte II
1-5: abril (primeira metade?) de 1932
6-14: segunda metade de maio

460 461
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

15-28: junho CADERNO 15


29-40: entre junho e agosto
41.I: agosto §§ 1-8: fevereiro de 1933
41.11-47: entre agosto e dczcn1bro
9: entre fevereiro e março
48: dezembro de 1932
10: n1arço
49: entre dl'1.c1nhro Lic 1932 e fevereiro de l 9.13
lL entre 111:1rço e abril
50-55: fevereiro
12-14: abril
56-69: entre fevereiro e maio de 1933
15-19: entre abril e maio
20-49: n1a10
CADERNO 11 50-53: entre maio e junho
54-57: junho
§§ 1-11: 1932 58-65: entre junho e julho
12: entre junho e julho de 1932 66-71: julho
13-31: entre julho e agosto 72-73: entre julho e agosto
32: agosto
74-76: agosto de 1933
33-70: entre ag,1sto e final de l 932 (011 iníi.:iu Je l '.133)

CADERNO 16
CADERNO 12

§§ 1-30: entre fevereiro e final(?) de 1934


§§ 1-3: entre maio e junho(?) de 1932

CADERNO 17
CADERNO 13

§§ 1-3: agosto de 1933


§§ 1-40: entre maio de 1932 e os primeiros meses de 1934
4-9: entre agosto e setembro
10-25: setembro
CADERNO 14 26-37: entre setembro de 1933 e janeiro de 1934
38-41: janeiro
§§ 1-3: março de 1935 42-43: fevereiro
4-6: dezembro de 1932 44: março
7-14: entre dezen1bro de 1932 e janeiro de 1933 45-46: julho
15-35: jarieiro
47: agosto de 1934
36-43: entre janeiro e fevereiro
48-53: junho de 1935
44-73: fevereiro de 1933
74-80: março de 1935

462
4 63
c 1ADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

CADERNO 26
CADERNO 18

§§ 1-11: entre fevereiro e meados(?) <lc 1935


§§ 1-30: prin1ciros n1eses de 1934

CADERNO 27
CADERNO 19

§§ 1-2: primeira metade(?) de 1935


§§ 1-58: entre fevereiro de 1934 e fevereiro de 1935

CADERNO 28
CADERNO 20

§§ 1-18: primeira metade(?) de 1935


§§ 1-4: entre fevereiro de 1934 e início (?) de 1935

CADERNO 29
CADERNO 21

§§ 1-9: em torno de abril de 1935


§§ 1-15: entre fevereiro de 1934 e final(?) de 1934

CADERNO 22

§§ 1-16: entre fevereiro e março(?) de 1934

CADERNO 23

§§ 1-59: entre fevereiro e agosto de 1934

CADERNO 24

§§ 1-9: 1934 (iniciado provavelmente em fevereiro)

CADERNO 25

§§ 1-7: entre fevereiro e agosto(?) de 1934

464 465
3. Índice dos Principais Conceitos''

*Selecionarnos aqui alguns dos princip:iis conceitos e temas presentes nos Ca-
derno.> do eiírcere. Esta seleção perniÍ(ir,'t .to leitor localiz..í-lcis nos \':-írios vol11-
n1cs de no~s,1 edição. N,1s remissõe~ - pur 1:xnnplo, 3(218,J15) - , o primeiro
n(unero rcfrre-se ;lO vol11n1c, cnq1u1no º'
posros rnrre parC11tese'1 remetem às
re~pt:criv,1s
p,íginas.
N.t escolha das entradas par.1 L'~k ínJ1cc 1 v,t\cmo-nos n;\;) ,lJ)ê·nas da edição
Gerratana, j;Í citada, onde o extenso "l11-!1cc per Argon1enti" oc11pJ. n1ais de 100
p<íginas {Yol. 4, p. 3.161-3.270), m.ts t.i;11hém do modesto nLts eficiente "Subject
Indcx" pre.<:.cnte en1 /\.. Gramsci, Se/,,11iuns /ro1n t!JP. Prison Not<'./.Jooks, ed. de
Quintin Ho,ue e G. Nowell Stnith, Londres-:\"ova York, Lav.rr~ncc & Wishart·
Internarion;tl Publishcrs, 1971, p. '178·'!83.
N,t confecção deste índice, bctn corno cm V<Írias outras tarefas desta edição,
contamos com a valiosa co!aboraç;LO d,1 Prof' Andréa de Paula ·rtixcira.
A
americanismo (e fordismo}, 1 (382,
308, 370, 384, 389, 406); 3 (26,
437); 4 (198, 235-321) 70); 4 (87)
arquitetura, 1 (159); 5 (228); 6 (163-
ideológico, iutelectual e iutelectual-
164, 229, 230, 250-251)
moral, 1(103);4 (68); 5 (64,74);
arte, 1 (98, 136,384,396); 2 (21), 4
6 (42)
(267, 301-302), 5 (333); 6 (24, social e/ou nacional, 1 (99-100); 2
35, 39, 63, 71-72, 85-86, 106, (93); 3 (80-81, 303, 304, 343)
117, 119-121, 145, 168-169, bonapartismo (ver cesarismo)
182, 185-186,192-20 2,. 212- burocracia, 1 (216, 294); 2 (34,
213, 222-223, 225, 227-229,
135, 186, 223, 232, 247); 3 (22,
234-236, 239-241, 249, 251)
60-62, 78, 89-92,.97, 189, 200,
conteúdo e fonna, 1 (293-294), 6
202, 235, 273-274, 282-283,
(251-253, 255-258)
310); 4 (130, 310-311, 313-
e catolicismo, 6 (83-85, 105, 171- 314); 5 (175, 259, 268, 270,
174, 204-205) 314-315); 6 (167)
e luta por u1na nova cultura, 6 (64-
68, 70) e
e política, 6 (166, 259-261) carisma, carismático, 1 (148,152 1
atoísmo, 1 (265, 269); 4 (228-229) 371)
autobiografia, 2 (204); 4 (126-127, chefe caristnático, 3 (61)
127-128, 131-134) catarse, 1 (293, 302, 314-315)
autogoverno, 3 (89, 273-274, 279) catolicismo, 1 (115, 132, 207, 249,
308, 361-371, 445); 2 (26, 129,
B
157-158, 184-185, 248); 3 (91,
bloco, 1 (309, 326); 2 (69), 3 (105,
103-104, 185, 332); 4 (36, 253,
196, 206, 313, 329), 4 (87, 256- 291-292, 299, 301); 5 (21, 40,
257), 5 (76, 78, 81, 90-92, 96, 110, 111, 172, 325, 340-341);
110, 255, 292, 308, 329) histó- 6 (84, 105, 118, 208-209, 251)
rico, 1 (222,238,250,2 83,306, Aç,io Católica; 4 (143-236)

469
CADERNOS DO CÁRCERE APÊNDICES

econceitodehon1e111; 1 (412-413); 19, 24-25, 26, 30-31, 56-57, 73, corporativismo, 3 (313, 320); 5 (239, 250, 271); 4 (64-65, 175-176);
3 (289) 89, 108, 193-194,217,219,221 . 271-272) 5 (228)
e {iloso/ia dri práxis, 4 (3 8-3 9) 241-243, 255, 264, 278, JOG, e <1Jneric·<111isJJIO, 4 (25 4-260) direito 11atural 1 3 (330); 6 (136-
e o Estado, 3 (226); 4 (41-50) 330-331, 348); 4 (37); 5 (321) e /ascisn10, 1 (322-323, 450-451 ); 138)
P ol1itliuiil11dedo rolÍ, 1 (1.17) 1' jl losu/fc1d.1/1r,í.\i >, 3 (~,(,, ~ 6, 3 3 l ); 4 (2S4-2W, 2 78) cliud11r<1, 1 (436-4.17); 3 (11); 5 (139)
(ver 1a1J1Ú1ú11 ~eligi~iu) 4 (34); 5 (.l21) e si11dio1lo, 3 (336-339)
centralismo, 1 (222); 2 (186); 3 (89- esociologi.z, 3 (330) (uer t11111!Jén1 econômico-corpo-
92, 108, 199-200, 252-253,308- (ue-r ta111lJt;!l/ rolíticit) r<-1tivo) rconomicisn10 1 1 (266-267 1 269-270,
309, 333) cincn1cl, :t (67); 6 (4~ 1 72, 145, 238) cosrnopolitisn10, 1 (200-201, 429- 358-360, 436-437); 3 (46-55,
cesarismo, 3 (65, 76-79, 201-202, 264) 430); 2 (69, 80); 3 (251-252, 69-70, 104-106)
303-304, 347-348) cL-1sscs (on gn1pos) '>rJCi,1is, 1 (-+25- 345); 5 (174, 325) cconômico~corporarivo, 1 (105 1
ciência, 1(111-112,120-124, 172- 430); 2 (15-1"); 3 (123-124, e i11 t t>r11acio111d isnzo, 3 (191-192); 198-199, 385, 435-437); 2 (25);
175, 203, 234-235, 363-365, 201-202); 4 (2d); S (79-SC•) 5 (41-42) 3 (17-1 s, 40-41, 286, 299); 4
273-274, 418-419); 2 (169, 185- (~-:- -8\·\)
(·l.rsses 11u;,fi.1s, 4 (321)
186); 4 (68-69, 101-J02, 106); do11ii11ru1/1'Sr'/nu1lirige11!e\ 1 (242- D cd11c.1,·;~10 (e pcd:1hogia), 1 (85-87,
5 (177) 243, VS-37>J, 4441; 2 (921; _! clv111.1g<>gia, 5 (l04-lll5, 246-248) 89, 144, 321); 2 (42-52, 62-63,
l'<'.0/l!}J!JiOJ, 1 (2J J -232, 323-32-f, (5h-57, (J(l-h !, ~~'), 2-· 1); 5 (2ti- ,Jl'l\l\)Cr;H.'.i;1, 3 (89-92); 5 (124-126); 63-64); 3 (13-24, 2411); 4 (128-
327-328, 333-334, 335, 346- 27, 63-64, lü4-IU5, 139-141, 6 (253-254) 130, 295)
348, 353-356, 418) 268-269, 310-311, 313-314, eco11se11so, 1 (436-437); 2 (49-50) e hegemonia, 1 (339-400)
e discussão científica, 1 (333) 328-330) e filosofia, 1 (350, 386, 246, 350); e idealisn10, 2 (43)
e folclore, 6 (133-136) operária, 1 (144); 4 (177) 3 (239) e intelectuais, 2 (52-53)
e ideologia, 1(175-176,353); 6 ·1 (104-107,388,417-
su!Jalten1t1s, e hege1no11ia, 3 (287) e religi.lo, 1 (99); 3 (225-226); 4
(357) 418); 3 (64, 194-198); 5 (120- e vouta.decoletiva, 2 (232); 5 (230) (201-203)
e i11stno11e11tos cie11ti/icos, 1 (13 8- 145, 13 9-141, 2 73, 3 l 0-311 ), 6 Jetcnninis1no 1 1 (121-122) (ver ta111bétn escola)
140) (243) e filosofia da práxis, 1 (103-108, escola, 2 (15, 18-19, 32, 42-52, 62,
e i11stn1111e11tos lógicos1 1 (176-184) coerção, 2 (18-20); 4 (242, 262-265 1 112-114) 113-114, 136, 141, 143-144,
eobjetividadedore.1!, 1 {133-134, 265-266, 272-276), 6 (250-251) J;,iJética, 1 (49, 142-144, 167, 178, 147-148, 150-151, 158-159,
173-175) conforn1ismo, 1 (9-J., 1~n -1 S2, 265- 179-183, 292-293, 317-318, 169-170, 174-177, 198, 226);
e trad:.aibilidade das lill;;uagens, 1 266); 2 (39); 3 (23-24, 240, 259- 384-386, 388, 393-395, 450- 4 (44-46, 68-69, 191-192); 5
(155-190) 261, 289-290); 6 (143, 248-249, 451); 2 (206); 4 (60-61); 5 (318, (98-99, 118-119, 185-186); 6
natural, 1 (131, 168-172, 347- 263) 331) (135-136)
348) consenso, 1 (384, 436-437); 3 (81- direção intelectual e moral (ver hege- escola unitária, 1 (205-206); 2
ciência política, 1(143,149, 165,210, 83, 93, 95, 119, 264-265, 302); monia} (36-40)
296, 310, 314, 376-377, 383- 4 (272-275) direito, 1 (191-193, 390); 2 (85-89, (ver tan1bé111 educação)
384,389,417);2(17, 168); 3(13, passivo eatiuo, 3 (333) 142); 3 (23-24, 28, 240, 248- espontaneidade, 1 (148); 3 (185-

.•.
;
470 471
CADERNO S DO CÁRCERE

..
APÊNDIC ES

187, 194-198); 5 (64); 6 (248- estatolatria, 3 (279-280)


202, 205, 209-210, 246, 270- (24, 71-74, 80, 122-125, 156,
249) (ver ta1nbém sociedade civil)
271, 304, 312, 336, 384) ; 3 255-256, 257, 261-262); 5 (316-
Estado, 1(89,112 , 164-165, 198-199, ética (e moral), 1 (200-201 , 202,
(35, 109) 319, 348)
291, 293-295, 315-316, 385, 225, 234, 342, 377, 389); 2 (75,
ereligião, 1(96,99-1 00,102, 114-
425-430); 2 (168-169, 187-188, 108); 3 (240, 311); 4 (52-55,
115, 205, 207, 267-268, 289, H
192, 231-232); 3 (23-25, 40-43, 131-134, 251-252, 265-270); 5
335-336, 339); 2 (158-159); 4 hegemonia, 1 (103-104, 115, 137,
60, 197-198, 200, 204-205, 216- (312); 6 (63-64, 135, 163) (177, 204, 227, 228, 230, 234); 146, 198, 210, 239, 263, 301,
223, 223-224, 236-241, 244- e Jnaterialisrno histórico (ou filoso-
5 (172, 307-308) 306, 316, 368, 371, 375, 384,
245, 255, 261-262, 270-271, fia da práxis), 1 (165, 235-236, e senso co1nun1 1 1 (96, 100, 101J 399, 426, 429, 436-437); 2 (21,
284-285, 286, 286-287, 309- 383) 103, 114-119, 131, 182, 267- 69, 95, 98, 105, 127, 134-135,
310, 324, 330-331, 332-333, e política, 1 (103-105 , 371); 2 268, ; 2 (209) 158, 159, 162, 239); 3 (22, 24,
334, 339-340); 4 (85-86, 321); 5 (230-231 ); 3 (25, 253, 311- filosofia da práxis, 1(passi111);2 (261- 31, 33, 41, 47-48, 53, 55, 91, 93,
(81, 138-139, 139-141,225-226, 313); 4 (188) 262); 3 (26-27, 38, 46-55, 218, 95,97, 106, 121, 185, 199,225,
264); 6 (74-75, 136) ético-político, 1(293,30 6-308, 314, 307, 314); 4 (22-23, 31-41, 64- 235-236, 243-244, 255, 257,
conto ditadura e hege111011ia, 1 316, 323, 384); 3 (47-48, 55); 65, 127, 139); 5 (323); 6 (64- 265, 269, 284, 286, 315, 320,
(316); 3 (257) 4 (134, 321); 5 (20); 6 (122) 66, 243) 334); 4 (97, 157, 159, 248, 251,
e direito, 3 (28, 25f, 271) e111 Croce, 1(279-28 3,286, 289, co1no "historicis1110 absoluto", 1 291, 294); 5 (13, 20, 63, 73, 78,
e economia, 1(327-328,379-380); 293-296, 298, 305, 337-338, (155) 81,84,85 -86,99, 139, 140, 153,
3 (233-234, 250-251, 313-314); 385,436) ; 3 (243) e ciência da política 1 3 (56-58, 218, 251, 261, 286, 292, 330,
4 (85-86, 245-246, 258-259, 330-331) 343); 6 (39, 42, 112-113, 127-
276-279, 317-318); 5 (315-316) F (ver ta111bén1 materialismo histó- 128, 146, 198, 202)
e grande potência, 3 (34, 45-46, fascismo, 1 (299-300, 322-323); 2 rico) crisedehege111011ia, 3 (601 95, 184,
55, 250, 85-86, 281-282, 299- (90, 94-95, 166, 288); 3 (68, folclore, 1(93,114 ,217,222 );2(42, 260, 262-263)
301) 336-339); 5 (264) 128, 153, 166, 209); 3 (194- e democracia, 2 (188); 3 (287)
e Igreja, 1(303);2 (149-150, 159); fatalismo (ver determinismo) 195); 6 (27, 45, 73, 131-138, e filosofia da práxis, 1 (152, 306_
3 (103, 235-236, 256); 4 (41-50, filosofia, 1 (passim); 2 (17, 21, 50-51, 155, 181, 192, 202, 205, 221, 315, 387-388), 4 (38)
200-201, 201-203); 5 (23, 251, 108-109, 185, 265' 276); 3 (26- 225-226, 231-232, 233) e história ético-política1 1 (280,
323-324) 27, 221, 228, 237-239); 4 (31-
283, 293-295, 306)
e partido, 3 (59, 201-202, 267, 41, 53, 254, 285, 295); 5 (79, G e Leni11, 1 (242, 246, 320)
354-355) 98, 215); 6 (63-64, 153, 169, gramática, 1(181,23 5); 2 (46-51, 82, na fábrica, 4 (247-248)
e sociedade civil, 1(236-23 7,263, 183, 233-234) 278); 4 (68); 6 (139-150, 192, nas relações internacionais, 3 (20,
323-324, 435-43 7); 3 (222- e ideologia, 1 (98-99, 151, 231- 210, 252) 29, 75-76, 115, 129, 131, 136,
223, 235-236, 243-244, 253- 232, 292,302 ,312,339 ,389, (ver também lingüística) 149, 178-180, 181, 211, 229);
255, 271, 371); 5 (108-109 , 423-424, 435) guerra de movimento ou manobrada 4 (26, 299); 5 (16-17, 59, 241,
139) e política, 1 (97, 101-102, 189, e guerra de posição, 1 (300); 3 247, 340-341); 6 (52-53, 98)

472
473
CADERNOS DO CÁRCE-RE APÊNDICES

história 1 conceito de, 1 (91-92, 94- 206, 265, 297-298, 303-304, 273, 284, 300, 302, 333, 339, 293, 306, 311, 325-326, 331,
95, 106, 134, 161-163, 180, 315, 356); 4 (23, 37, 41) 375, 393-396, 403, 421, 438); 361-363, 370-372, 376, 400,
188-189, 196, 197, 204, 209, homem) conceito de, 1 (103, 109i 2 (16, 28, 78-79, 158, 226, 401-402, 427-430, 434-435,
211-212, 230, 243-246, 256l 114, 117, 134, 137, 139, 166- 228); 3 (13-14, 24-25, 27, 40- 436-437, 449-450); 2 (13-192,
281, 283,291, 296,300,305- 167, 174-175, 176, 184, 195, 42, 63, 99, 142, 163, 184-185, 205, 206, 257, 261-262, 268-
306, 307-309, 311-312, 318, 202, 203, 204-206, 209, 236- 199, 235, 288, 327, 351 ); 4 (67, 270); 3 (42, 64, 81, 83, 89-92,
326, 341, 365, 383,400, 427, 237, 241, 250, 261-262, 274, 75, 123, 139, 178, 248, 263- 97, 189, 190, 193, 219, 224,
434-435); 2 (48, 63, 142, 152- 281, 310, 314, 334, 338, 346- 264, 268, 278, 285); 5 (30, 72, 235, 252, 260, 275, 315, 323,
153, 265); 3 (109, 194, 251- 347, 350, 354, 357, 365, 370, 80, 99, 140, 197, 206-207, 237, 345); 4 (38-39, 44, 53-54, 57-58,
252, 295-296, 332-333, 349, 396, 410-411, 443); 2 (42-43, 246, 285, 335); 6 (40, 46, 51, 68,70, 72,77,82-83,86,88,97,
355; 4 (54-55, 65, 127-128, 53, 62, 72, 203, 209); 3 (82, 53, 59, 78, 109, 149, 235) 104, 125, 126, 128, 140, 173,
320); 5 (34-37, 119-120, 1,35- 218, 279, 281, 301-302, 311, e filosofia, 1 (204, 232, 292, 302, 228, 278, 293, 301-302, 321); 5
136, 139-141, 217, 222-223, 331); 4 (38, 51, 82, 120, 122, 312, 339, 423-424, 435) (28, 33, 37, 41-42, 76, 84-85, 89-
313); 6 (143, 161-162, 197, 131-134, 148-149, 252, 254, e /Uoso/fa da práxis, 1 (131, 149, 93, 98-99, 119, 143-144, 145,
207, 263) 261-262, 266, 271-272); 5 (41, 191, 208, 217, 246, 320, 369, 150, 154, 174, 205, 226, 228,
e "a11ti-l.ristória", 1 (230-23 l, 336, 223-224, 336-337); 6 (35, 182, 377, 386-39 !); 3 (49-50, 52, 235, 237, 239, 241, 247-249,
383, 394, 436); 3 (73); 4 (23); 195, 197, 240, 245, 263, 268) 53); 4 (32-41); 6 (195, 202) 255, 313, 339, 341, 346); 6 (33-
e filosofia da práxis, 1 (120, 143- hon1en1 coletivo e «confor1nisn10 e religião, 1 (173, 175, 339); 2 34, 73, 115, 149-150,242,250,
144, 146-147, 151, 155, 156, social", 1 (94, 148, 164, 265- (16); 3 (58); 4 (210); 5 (343); 256-257)
165-166, 167, 219, 238-240, 266, 399); 3 (23, 259-261, 289- 6(121) e filosofia da práxis, 1(101,103-
286, 311-312, 341-343, 368, 290) imanência, imanentismo, 1(99,126- 104, 193); 2 (153); 3 (52); 4
370, 422); 3 (49-50, 52-53, 56); "o que é o hon1ern", 1 (243-247, 127, 144-146, 156-157, 194, (32, 34-35, 37-39)
4 (23, 32); 6 (195) 405-407, 411-415) 196, 297, 313-314, 317-318, e n1assas, e povo-nação, e "sitn-
e política, 1 (221-222, 312); 3 humanismo, 1 (155, 198, 225, 265, 336, 341, 374, 445); 5 (338); 6 ples'', 1 (99-105, 107, 110,
(26, 35, 38, 184, 246, 353); 6 269, 297, 320); 2 (36, 39, 83, (153) 112, 116, 131, 221-222, 302);
(147) 155-157, 167); 3 (21, 57, 192, individualismo, 1 (107, 161-163, 2 (27, 31, 40, 80, 82, 153); 3
e sociologia, 1 (149-150); 3 (73); 218, 286); 4 (67, 267); 5 (143, 261-262); 2 (155-156, 243); 3 (92, 303); 5 (144, 308); 6 (38,
4 (23) 231-237, 240, 262, 333, 336- (182, 259, 289-290, 320, 326- 39-45, 89, 134, 161-162, 178,
historicismo, 1(86-87,135 1 180, 194, 339, 340-342, 344-345, 349- 328); 4 (73, 241, 259); 5 (143- 179, 185, 222, 226, 253, 261,
197, 202, 281, 282, 310-311, 350); 6 (34, 44, 66, 150) 144, 267-268, 337); 6 (74, 143, 269)
314, 392-396, 443, 447, 450); 2 341, 248, 251) e partido, 1 (105); 2 (24-25); 3
(50, 136); 3 (121, 182); 4 (23, 1 intelectuais, 1 (104, 110-112, 114- (87, 166, 167, 351)
82-85, 253); 5 (65, 80); 6 (78, ideologia, 1 (96, 98-99, 111, 134, 116, 119, 125-126, 141, 201, "orgânicos" e/ou "tradicionais", 1
138, 160) 141, 151, 162, 173, 175, 199, 207, 214, 221-222, 233, 247- (435-436); 2 (15-20, 22-25, 28-
e filosofia da práxis, 1(155,184, 200, 207-208, 237-238, 250, 248, 264, 280, 283-285, 290, 31, 112, 151); 4 (41-42, 63-64)

474 475
CADERNOS 00 CÁRCERE

todos os homens são intelectuais, 2 linguagem, 1(95,125, 144-146, 172, M "vaidade das nações", 1 (427); 3
(18, 52-53) 178, 182-183, 199-200, 203, matéria, 1(160-163 ,164, 168-172, (316-319)
internacionalismo, 3 (192, 314-315); 380); 2 (62, 202, 227-228, 239- 175, 206, 208, 209, 237, 261, nacional-popular (ou popular-nacio-
4 (317-318); 5 (286-287) 240); 3 (198); 4 (27, 77-78, 85, 344); 4 (32, 101-102, 253) nal), 5 (342-344); 6 (39-45, 122,
89-90, 148); 6 (143, 147, 148- materialismo, 1(126-128 ,129, 134, 178-179)
J 149) 206-207, 224, 233-234, 269, caráter não nacional-popular da li-
jacobinismo, 1 (80, 213-215, 244, e filosofia, 1 (93, 98, 131, 156- 319, 350, 401) teratura italiana, 5 (313-314); 6
285, 299, 327, 394, 429-430); 157, 183-184, 191-193, 398- e materialism o histórico, 1 (128- (34-35, 73-76, 114-115, 125-
3 (16-18, 24, 32,,77, 93, 98, 399) 129, 138, 143, 153-155, 243, 126, 167, 175, 202, 208-210,
119, 122, 210, 243-244, 275, na obra de arte, 6 (19, 70-72, 181- 367-368, 387); 3 (184-185); 4 212-213, 222-223, 253-254,
297, 349); 5 (15,53, 66, 68-71, 183, 192-194, 196-198, 200, (32-33, 38) 255-258)
76, 79-86, 84-86, 88, 98, 118, 207, 226, 237-238, 252) e senso co1num, 1 (127); 4 {32, natureza, 1(140,160 -161, 166, 255)
144, 197, 210, 246, 253-254, tradutibilid ade recíproca das lin- 38) relação ho1nem-natureza, 1 (174-
257, 279, 285, 310, 321, 327, guagens científicas, 1 (185-190, significado do termo para os católi- 175, 411-415)
... 330, 336, 342-344, 346, 349); 209-210, 269, 280, 293, 303- cos, 1 (127, 267-268) natureza humana, 1 (243-246, 246-
6 (137, 161) 304, 315, 317-318, 328-329, materialismo histórico, 1 (88, 128- 247, 320-321, 323, 348, 405-
jornalismo, 2 (197-251); 4 (66-67); 338, 341, 377, 425, 440-441); 129, 155, 235-236, 239, 248- 407); 3 (56}; 4 (50-55)
5 (38); 6 (39-42, 49-51, 25.1) 3 (.1.1, 222-223); 5 (80) 249, 2%, 311-.112, 424, 440,
linglifstica, 1(399);2 (106, 227-228, 446); 2 (153, 230, 288); 3 (23, o
L 277-280, 284-285); 6 (111, 112- 182, 185); 5 (194); 6 (167, 194- objetividade, 1(129-134 ,173-175);
liberalismo, 3 (38); 5 (15-16) 113, 145-146, 148-149, 159- 195, 357, 358-359, 360, 361- 4 (52-53)
conseroado r e fascismo, 1 (298- 160, 179-180, 181-183, 193, 364, 366, 371, 373) opinião pública, 3 (28, 95, 265, 270-
300) 196-198) (ver também filosofia da práxis) 271); 5 (38)
e burocracia, 3 (235-236) (ver também gramática) mecanicism o (ver determinismo)
e catolicismo, 1 (362-363); 4 (147); literatura, 6 (passim) mercado, "mercado determinad o", p
5 (20-21, 65) e política, 6 (256, 262-264) 1(194-195 ,259, 318, 328, 339, parlamenta rismo, 1 (391); 2 (219-
liberdade, 1 (85-87, 89, 113, 300- crítérios de julgamento , 6 (68- 346, 446-7); 3 (284) 220); 3 (93-96, 30, 66, 98-99,
303, 307); 4 (52-53) 70) moral (ver ética) 257-258, 309-310); 5 (296-297)
e arbítrio, 1 (316-317); 6 (248- (onna e conteúdo, 6 (251-254, música, 6 (35, 71-72, 127, 201-202, e individualis1no, 3 (319-320)
249) 255-258) 213-214, 226-227, 237-238, e jacobinismo, 3 (93)
e conceito do hontem, 1 (405-407) lógica, 1 (120-121, 176-184, 234- 252-253) parla1nentarismo "negro", 3 (319-
e responsabilidade, 1(234);3 (308- 235, 273-274, 347); 2 (47, 50- N 320, 321-322)
309) 52, 206); 4 (69) nação, 2 (142-144, 191-192); 4 (114); parlamento, 2 (144); 3 (32, 313, 339-
liberismo (ou livre-ca111bisn10), 3 (46- lorianismo, 2 (253-288) 5 (56-58, 325); 6 (41-42, 179) 340); 4 (150-151); 5 (297-298)
49), 5 (292) "nação pmletária", 5 (42, 150) e Estado, 3 (309-310)

476 477
APÊNDICES
CADERNOS DO CÁRCE-RE

e religião, 3 (280-281, 300-301) R e folclore, 2 (117); 6 (45, 134)


partido político, 1 (105, 294-295,
306, 378); 2 (144, 218, 237); 3 governados egoven11111tes, dirigen- rádio, 3 (270); 4 (67); 6 (145) e ideologia, 1 (96, 98-99, 173,
(15, 20, 25, 60-70, 77-78, 81, tes e dirigidos> 3 (324-328) Reforma, 1 (99, 232-233, 247-249, 339-340); 3 (42)
84-85, 92-93, 97, 119, 187, grande e pequena -política, 3 (21- 261, 293, 304, 362-364); 2 e política, 2 (138); 3 (106-107,
253-254, 267, 268, 269, 297, 22, 345) (115, 119, 130-131, 140, 156- 148, 243-244, 280-281, 300-
307-308, 313, 315-319, 322- identidade de política e econonlia, 157, 164, 182-185); 3 (121, 301, 354-355); 4 (41-50, 227)
324, 326-328, 341-342, 349- 1 (165-166, 209-210); 3 (281) 289); 4 (35-39, 90, 159, 215); na relação entre i11tele,ctuais e sitn-
351); 4 (139, 151-152); 5 identidade de política e filosofia, 1 5 (20, 29-31, 38-40, 143-144, ples, 1 (98-103, 115); 2 (31-
(37-38, 75-76, 310-311, 332) (96-97, 205, 209-210, 246, 205, 215-216, 225-237, 290- 32); 4 (38-39); 6 (84-85, 134)
co1no 111oden10Prí11cipe, 3 (16, 59, 311-312, 365) 291, 307-308); 6 (34, 75, 135- (ver tan-1bé111 catolicismo)

222) identidade de política e história, 1 136, 223) Renascimento, 1(99,197-198, 233,


conceito de partido, 1 (420-421), (165-166, 311-312); 3 (26-27, (ver tan-1bé1n Renascimento) 247-249, 261, 270, 304, 362-
3 (87-88, 160-170, 343) 183-184) reforma intclecn1al e moral, 1 (126, 364, 371, 373, 376); 2 (58, 96,
e classes, 3 (201-202, 316, 328- (ver tan1bé111 ciência política) 232-233, 320, 362-363); 2 (164, 100, 111, 130-131, 152, 155,
329, 334) positivismo, 1 (87-88, 121, 133, 150, 182-185); 3 (18-19, 56); 4 (36- 164, 190); 3 (21, 192, 208, 243,
e ilfli'ft'(ÍlflliS, 2 (2J-2.5) 176-178, 184, 217, 224, 229, 37, 215, 232); 5 (205); 6 (34, 286, 345); 4 (35-39, 89-90,
e vontade coletiva, 1 (147-148); 233, 290, 319, 401); 4 (27-31, 175, 262-264) 160, 188, 321); 5 (19, 205,
3 (287-289) 31-33, 177, 298); 5 (74, 212- e refonna eco11ô1nica, 3 (18-19) 215-216, 223-224, 225-237,
pessimismo, 1 (256-257); 6 (81-82) 213); 6 (158) e n1aterialisn10 histórico, 1 (232- 240, 248, 259-260, 261, 287,
da inteligência e otinúsn10 da von- Igreja positivista, 2 (31); 4 (178, 233, 362); 4 (37); 5 (38-39) 290-291, 307-308, 333, 334,
tade, 2 (297); 3 (243, 295) 292) relações de força, 1 (195); 3 (36-46, 336-339, 340-342, 344-345,
política, 1 (101-102, 208-209, 270- pragmatismo, 1 (229, 270-271); 4 241-242, 272-273, 296, 314- 349-350); 6 (34, 75, 150, 173,
271); 3 (passim) (285) 315, 321-322); 5 (15-16, 20, 185, 201, 223)
con10 atividade autô11on-1a, 3 (5 6) e concepção da liuguage111, 1 (182 1 299-300, 321-322); 6 (33) (ver tan1bé1n Reforma)
con10 ciência autônorna, 3 (26) 144-146, 185-188, 398-399) religião, 1 (86-87, 153, 205, 207, Restauração, 1 (214, 272-273, 280,
diferença entre luta político-núli- psicanálise, 1 (208, 219-220, 229, 224, 270, 288-291, 321, 325- 291, 394, 426-427); 3 (120, 223);
tar e luta ideoJógica, 1 ( 141) 265-266, 272, 334-335); 2 (75); 326, 337, 361-367, 369, 372- 4 (38, 40-41, 90, 208, 215, 217-
e arte, 1 (384); 6 (259-261) 4 (242, 249-250); 6 (204) 374, 377); 2 (64, 151, 158-159, 218, 223-224); 5 (190-191, 206,
e ciê11cia, 1 (365); 3 (331) 185-186); 4 (15-18, 41, 70-72, 224); 6 (223)
e diplomacia, 1 (378-379); 3 (34- Q 94, 147-169, 173-236); 5 (308, Revolução Francesa, 1 (110, 211,
35, 241-243); 5 (252-255, 279- questão meridional, 1 (78); 5 (73-75, 323-324, 340-341); 6 (57, 105, 213, 272, 281, 298-300, 301,
280) 199, 203, 254-255, 298-299, 138) 308, 385-386, 425, 426-430,
e literatura, 6 (256, 262-264) 314, 326) conceito de religião, 4 (209-210) 436); 2 (84, 92); 3 (18, 38-39,
e moral, 2 (230-231); 3 (253, questão sexual, 4 (175-176, 242, e filosofía e senso co1nu1n, 1 (9.3- 43, 44, 90, 107, 119-120, 172-
311-313) 249-252, 261-262, 262-270) 94, 96, 114-115, 119, 128) 173); 4 (26, 84, 96, 159, 178-

478 479
CADERNOS DO CÂRCERE AP~ND!CES

179, 223); 5 (15-16, 18-19, 22, (31-59, 63, 75, 105, 168-169, sociedade civil, 2 (42, 44, 127, 137, 391, 422); 2 (20, 29, 31); 3 (26-
I'
24, 25-27, 39-40, Sl-53, 67-68, 200-201, 202, 204, 206-207, 229-230); 3 (23-24, 47-48, 73- 27, 28, 73, 185, 286); 4 (251,
79-82, 97-98, 116-117, 135, 213-214, 218, 226, 231, 237, 74, 175,201-202,225-226,235- 301); 5 (237); 6 (107, 195)
144, 190-191, 205, 218, 226, 244. 246-247, 266-268) 236, 240, 243, 265, 271, 340); e "bloco histórico", 1(250,370)
232, 246-248, 254, 265, 272, 4 (188, 227, 233) e ciência1 1 (175)
277, 288, 289, 301, 303, 316, s e Estado (orl sociedade política), t e estrutura, 1 (105, 190, 237,
321, 336, 348-349, 350); 6 (34, senso comum, 1 (96-104, 114-119, (237, 263, 293, 306, 316, 321, 238, 250-251, 314, 369-370,
49, 50, 52-53, 137, 166, 177, 127, 128, 130, 132-133, 143- 324, 371, 375, 379 436-437)· 389, 391); 3 (20, 36, 40, 41,
187, 202, 242-243, 254) 144, 173-174, 179-180, 182, 2 (20-21, 229-230);' 3 (24, 47: 49); 4 (248)
erefornr(1 filosófica alernã, 1 (188- 267, 270, 288, 343, 350, 360, 222-223, 244-245, 253, 254- T
190); 4 (36-38) 398); 2 (201, 206); 3 (56, 100, 255, 262, 262-263, 271, 279-
teatro, 2 (188, 258); 4 (59 ' 67 , 270)·,
e revolução pern1a11ente, 3 (93- 193, 194, 196-197, 272, 312, 280, 282-283); 4 (45, 85-86,
5 (313); 6 (30, 34, 43, 48-49,
94); 5 (86) 326, 330, 333); 4 (32, 38, 51. 87, 259); 5 (108-109, 126, 139-
56, 110-111, 145, 168, 177-
revolução passiva (e/ou revolução- 75); 5 (246); 6 (205) 140); 6 (352, 370)
179, 183, 193, 228-229, 232-
restauração), 1 (281, 291-293, e bom senso, 1 (93, 96, 98, 200, 250, e guerra de posição, 3 (73, 262)
237, 238-239, 253)
298-300, 309 392-395, 395- 402-403, 208-209); 3 (272); 6 e hege111onia, 1 (210, 306, 316)i
teoria e prática, 1 (100 1 103-106,
396, 429, 451); 4 (61); 5 (63, (183) 3 (24, 48, 222, 243-244, 253,
149, 166, 189, 199, 260, 263,
209-210, 289, 321-322, 322- e filosofia, 1 (96, 100-104, 114- 260)
304, 340, 42.\); 3 (02, 285, 3114·
e f)(JrLirlo /101/li!:o, 2 {24; 3 {J4 l-
323, 328-330, 331-332); 6 116, 133, 280, 365); 2 (209); 305); 4 (125, 265); 6 (208\
6 (133-134)
342)
(350) transformismo, 1 (309, 321, 331); 2
(vertanrbéni Estado)
co1no critério de interpretação his- e folclore, 2 (209) (95, 200); 3 (201); 5 (63, 93,
sociedade política (ver Estado e soci-
tórica, 5 (331-332) sindicatos e sindicalismo, 1(92,183, 175, 278, 286-287, 317)
edade civil)
e a1nericauis1110, 4 (242)* e 215, 270, 375, 443); 2 (25, 95,
127, 144); 3 (14-15, 24, 38, 46- sociedade regulada, 1(243);2 (230);
cesarismo, 3 (76-77) u
49, 73, 77-78, 81, 84, 89, 94, 3 (223-224, 238, 244-245)
e fascismo, 1 (299-300) utopia, 1 (145, 205-207, 235 , 242 ,
e guerra de posição, 1 (300); 5 104-106, 119, 166-168, 195, sociologia, 1(91,149-152, 184, 294);
2 (17-18, 121, 262); 3 (168, 260); 245-246, 438, 447); 2 (17, 65,
(316-319) 259, 262, 270-271, 291, 332,
4 (124, 287); 5 (145) 162, 271); 3 (13-14, 100, 218,
etransfomzismo, 1 (309); 5 (286- 336-339, 340); 4 (89, 149-151,
e ciência política, 3 (330-331) 224, 238-239, 241-243 , 245 ,
287) 153, 183-184, 247-248, 257-
e filosofia da práxis, 1(120,143- 249, 261, 288); 4 (40-41, 84-
revolução permanente, 1 (306); 3 258, 274, 292, 294, 314, 316);
144, 146-149); 4 (23) 85, 139, 249, 264, 307); 5 (142-
(24, 39-40, 53, 77, 93, 315); 5 5 (90, 139, 150-151, 268, 326,
superestrntura, 1 (125, 131, 133- 145, 238, 239, 252, 264-265);
(81, 84); 6 (242) 330); 6 (212, 348, 375, 381)
134, 138, 159, 163, 192-193, 6 (57, 161)
romance, 1 (433); 2 (76, 102, 189, ea11arcossi11dicalis1no, 3 (164, 195);
4 (178, 292) 194, 208, 209, 210, 281, 295,
244-245); 4 (55-56, 58, 260); 5
314-315, 360, 368-370, 387-
(33, 142, 238, 23), 264-265); 6 e partido político, 3 (187)

481
480
e AD E R N os Do e AR e E-R E
,..

V 292, 295, 296, 298, 302, 304, Índice Onomástico


vontade, 1 (98, 103, 105-107, 188, 316, 335, 342-343); 4 (62, 132,
192, 197, 201, 202, 235, 237, 259, 265); 5 (33, 82, 279, 323);
256-257, 272, 316, 337, 339- 6 (107, 250, 381)
341, 378, 394, 396-397, 399, coletiva, 1 (122, 197, 260, 337,
406, 408, 412); 2 (247, 267); 3 419); 2 (88, 232); 3 (13-19,
(35, 40, 45-46, 47-48, 64, 69, 260, 264-265, 285, 287-289,
82, 86, 87, 152, 173, 187, 199, 298, 308, 335); 5 (230); 6
205, 241-243, 265, 271, 276, (374-377)

r\bba, Ginscppc Ccsarc, 74) 292 1\tki11son, N., 59


Agnclli, Giov;,1nni 1 349 Aubct) Esprit, 287
1\lbatrelli, Paolo, 295
r\len1, Paolo, 203 Bacchdli) Riccardo, 102, J 03, 306
Alcssandri, Ccsare, 368 Bacci, B;1ccio ~vL1ria 1 2] O, 211
1\llain, Marcel, 208 BainvilJe, Jacques, 161, 320
Allodoli, Ettore, 146, 147, 316, 317 Bakunin, Mikhail Alexandrovitch,
,'\!varo) Corrc1do) 184 102, 103, 306
Amendola, Giovanní, 297 Bc1ldini, Antonio, dito Cagliostro,
i\ndoux, i\'farguerite, 122 203, 211
Angeli, Diego, 362 Balsamo, Giuseppe 1 283
i\ngioletti, Giovanni Battista, 67, 68) Balsamo-Crivelli 1 Gustavo, 258
80, 154, 184, 224, 291 Balzac 1 Honoré de, 37 1 54, 57, 59,
Ansaldo, Giovanni) 40, 77, 87, 283, 244, 245, 338
300 Baratono, Adelchi, 85, 86, 300
Antici, A.delaide, 176, 323 Barbagallo, 207, 208
Antona-Trcn·cssi, Camillo, 211 Barbdno, O. 7\1.) 162
Arcangeli, Giuseppe 1 211 I3arbcrino, r\ndrea da, 285
t\rcari, Paolo, 105, 307 Bdrbi, Jv1ichele, 27 1 29) 280
Arias, Gino, 378 B:irbicri, l'lissc, 203
l\rias 1 Paolo E11rico 1 20 B:1rb11ssc, I lcnri, 81, 89, 122, 297,
i\riosto, Ludovico, 178, 185, 289, 339
324 lt1rrês, J..·1a11rlce, 118, 312, 314
1\rtaud, t\nto11in, 213 Bartoli, 1\1attco Giulio, 147, 159, 160,
A.sco\i, l---;r,1zi-1<lio Isa ia, 113, 159, 309 316, 320

482 483
CADERNOS DO CÁRCERE ÍNDICE ONOMÁSTICO

Bassi, Ugo, 216, 217, 333 Bonghi, Ruggero, 34, 43, 189, 281, Buttigieg, Joseph A., 9 Cervantes Sa;:ivedra 1 Miguel de, 332
Baudelaire, Charles, 173, 218, 219, 282 Byron, George Gordon, 328 César, Caio Júlio, 82
333 Bonneff, L., 123 Champfleury, pseudônimo de Jules
Bechi, Giulio, 123, 214, 313 Bonneff, M., 123 Cadorna, Luigi, 329 Husson, 219
Becque, Henri, 179, 324 Bonifácio VIII (Benedetto Caetani), Cafiero, Cario, 102, 103, 306 Charensol, G., 36, 37, 208
Belli, Gioacchino, 247, 248, 338 papa (1294-1303), 112 Cairoli 1 Enrico, 79, 296 Chesterton, Gilbert K~ith, 52, 54, 55,
Belllonci, Goffredo, 77, 78, 111-113, Bontempelli, Massimo, 92, 184, 302, Cairoli, Giovanni, 79, 296 78,264, 289
153, 295 328 Cajumi, Arrigo1 186) 326, 327 Chiarini, Luigi, 241
Beltramelli, Antonio> 76, 79, 293 Boothby, Guido, 50, 288 Caíumi, Enrico, 186, 187, 188, 326 Chopin, Frédéric> 286
Beltrami, Luca, 113, 114, 293 Calligari, Ernesto, 170 Cialdini, Enrice, 100, 305
Borgese, Giuseppe Antonio, 189, 190,
Benedetto, Luigi Foscolo, 59 327 Calza, Arturo, 116, 117, 311 Ciampini, Raffaele, 133, 135, 136, 315
Béranger, Pierre-Jean de, 43, 284 Cambon, Victor, 107, 308 Cian, Vittorio, 312
Bossuet, Jacgues-Bénigne, 298
Berchet1 Giovanni, 86, 300 Camis, Maria, 348 Ciasca, Raffaele, 349
Bottai, Giuseppe 301-302
Bernabei, Feiice, 264 Campus> Giovanni, 159, 320 Cicognani, Bruno, 204i 205, 313
Botti, Mario, 29
Bernardin de Saint-Pierre, Jacgues- Canova, Antonio, 173 Cipolla, Cario, 85
Boulanger, Georges-Ernest, 375
Henri, 99 Capasso, Aida, 268 Citanna, Giuseppe 1 20, 2 79
Bourget, Paul, 209, 244, 245, 330,
Berna r<ly1 Arny, 15S C<ipu;-1na, Lnigi, 1091 110, 309, 321 Clemente VII (Giulio de' Mediei),
338
Bcrnasconi, llgo, 262, 339 Cardarelli, Vinccnzo, 180, 325 papa (1523-1534), 161
Bo11sscn;1rd1 Lo11is-T-lenri, 46 1 286
Berra, Ca111illn, 1~(-Í, 326 Cardocci, c;i\lSlll', 66, 77, 82, 8J, Collcgno 1 lvtarghcrita Jí, 216
Boutct, E<loarJo, 48-49, 287
Berrini, Nino, 183, 249, 326 125, 168, 187, 203, 232, 266, Cola di Ricnzo, 47, 287
Bou·.rarJ, Charles, 154 294,297, 298, 321, 322, 278
Bertoni, Giulio, 147, 159, 160, 181, Colombo, Cristováo, 59, 92, 134
Bovio, Libero, 154, 317 Carlos Magnoi rei dos francos, impe-
182, 197, 316, 320 Comisso, Giovanni, 115
Brenna, Ernestina, 219-221, 334 rador (800-813 ), 285
Biagi, Guido, 123 Compagni, Dino, 17, 278
Bianchi, Michele, 42, 126, 284, 314 Bresciani, Antonio, 7, 66, 67, 74, 76, Caro, Annibal, 42, 244, 284 Comte, Auguste, 244
Bibbiena (pseudônimo de Bernardo 77, 84-87, 99, 103, 108, 165, Casati, Giovanni, 118 1 169-171, Conan Doyle, Arthur, 52, 55, 264,
Dovizi), 178, 324 166, 168, 169, 171, 176, 180, 312 286
1

Blanc, Charles Louis, 158, 319 183, 184, 190, 192, 194, 198, Casella, Mario, 159, 320 · Condorcet,Antoine-Nicolas de, 99, 304
Blêfari, Rocco, 79 199, 204, 210, 211, 214-218, Casini, Gherardo, 241, 25 6 Conrad, Joseph, 50, 237, 335
Boccaccio, Giovanni, 337 223, 224, 241, 247, 265, 266, Cavour, Camilo Benso, conde de, Consiglio, Alberto, 202
Bodin, Jean, 378, 379 291,304,308 94,95,97-101,232,2 85,303- Coppola, Francesco, 312
Bo"ielldieu, Maria Giacomo, 177 Briand, Aristide, 186, 326 305 Coppola, Goffredo, 117, 196, 197
Bojer, Johan, 268, 340 Bruers 1 Antonio, 101, 153, 317 Celli, Ana, 15 6 Cormon, Eugêne1 288
Bolland, Jean, 299 Brunetto, Ernesto, 222 Celli, Angelo, 156 Corradini, Enrico, 36, 117, 166, 282
Bollea, Luigi Cesare, 96, 303 Bulferetti, Domenico, 190 Cena> Giovanni, 114, 155, 156, 162} Corso, Raffaele, 225
Bonald, Louis-Gabriel-Ambroise, 244 Burzio, Filippo, 56-58, 290 186, 187, 188, 310, 327 Cortese, Luca, 232

484 485
CADERNOS DO CÁRCERE fNDICE ONOMÁSTICO

Cosn1oi Umberto, 28, 29 1 273-275, Dauli, Gian, pseudônimo de Nalato Dostoievski, Fiodor Mikhailovitch, Ford, Henry, 107, 148, 308, 348
280, 281 G. Ugo, 268 38, 58, 59,264,267,314 Forgcs Davanzati, Roberto, 117, 302
Costa, Andrea, 102, 306 'D'Azeglio, l\.1assimo, 96, 97, 124, Dumas, Alexandre, 39, 46i 47, 54 1 Formiggini-Santamaria, Emília, 219-
Costanzoi Giuseppe Aurelio, 203 176, 220, 303, 314 57,58, 99, 127, 169,205,231, 221, 334
Craig, Gordon, 30, 281 De 1\n1icis, Edmondo, 187 1 188 237, 267, 283 Fornari, Vito, 180, 325
Credaro, Luigi, 215, 333 De Castro, Giovanni, 158 Fortunato 1 Giustino, 346
Crémieux, Benjamin, 92, 111-113, De Cristoforis, Cario, 3 81 Eça de Queiroz, José Maria, 85 Forzano, Gioacchino, 48, 287
115, 168, 302, 310 Deconrcelle, Pierre, 46 1 286 Einaudi, Luigi, 346 Foscolo, Ugo1 23) 24, 308, 321
Crispi, Francescoi 109, 196, 309 De Frenzii Giulio 1 ver Fcderzoni, Einstein, AJbert, 374 Fn1cassi, Roberto, 129
Crispoltii Pilippo, 82, 83, 105, 176, Luigi Elliot, George, 59 Fracchia, lTmbcrto, 42, 79 1 113, 124,
190, l'll, 208, 209, 210, 298 De Gaulle, Ch:1rles, 336 Emanuclc, Cario, 96 125, 126, 127, 284, 291, 314
Croce, Benedetto, 17, 20, 28, 65, 66 1 De Kock, Paul, 51 Emanuel e Filiberto, duque de Savóia Fradeletto, Antonio, 117, 311
69, 77, 85, 137, 141, 142, 148, Dei Lungo, Isidoro, 17, 18 1 20 1 278 (1553-1580), 96 France, Anatole, 187
156, 160, 162, 163, 173, 178, DclL1 (:asa, c;iov,1nni, 339 Engl'ls) Fricdrich, 244, 306, 319, 337, Fr.incisco José I) in1pcrador da Áus-
182, 188, 194-1%, 199, 200, Dclla Rocc;1, Enricu I\·1urc•zzo, 99) 338, 356, 362-366 tria ( !848-1916), -104
210, 214, 215, 217, 241, 242, !OU, 305 f:squilu, 49 Fr.1ncisco Jc 1\ssis, 84, 2'.18
257, 258, 260, 261, 266, 273, De Lol!is, Ccs.1rc, 186, 215, 326, 327 Eurípe<les, 279 Franzi, 'Ilillia, 258 1 259
275, 276-278, 291, 292, 294, Della Torre, Luigi) -170 Evreinov1 Nicolai i\Ticolaievitch, 23 8, Frateili, Arnaldo, 91, 301, 302
300, 313, 315, 316, 321, 329, De !....1ani 1--:Ienrii 349 336 Frederico 1, dito Barba-Roxa, impe-
330, 332, 333, 335, 345, 356, De Marchi, Emílio, 53, 289 rador (1152-1190), 320
361, 365, 366,367, 377 Dennery, Adolphe, 288 foggi, Adolfo, 52, 119, 120, 246, 247
Frederico II, dito O Grande, rei da
Crocioni, Giovanni, 133, 135, 315 Deprcsle) Gaston, 122 Fcilqui, Enrice, 67, 154, 291
Prússia (1740-1786), 366
Crosby1 Ernest, 121, 312 Depreris, Agostino, 290 Fedele, Pietro, 158, 170, 322
Freud, Sigmund, 200, 329
De Rossii Giuseppe, 156 Federzoni, Luigi, 117, 312, 318
Fualdes, Joseph-Bernardin, 53, 290
D'Amico 1 Silvio, 235, 236 De Sanctis, Francesco, 17, 23, 24 1 26) Fenu 1 Edoardo, 83, 84
Fucini) Renàto, 213i 290
Daniele, Nino, 153 63-66, 74, 75, 86, 99, 103, 180, Ferrero, Guglielmo, 283
Fülõp-Miller, René, 200, 329
D'Annunzio, Gabriele, 41, 117, 125 1 189, 190, 192, 208, 216, 232, Ferrero, Leo, 38, 39 1 283
Fumagalli, Maria Giuseppina, 293
187, 232, 252, 283, 293, 309, 260, 276,304, 306, 325 Ferretti, Giovanni, 176, 323
Gaboriau 1 Émile, 54, 286
313, 322, 325 De Sancris, Gactano, 170) 175i 322 Ferrucci, Francesco, 320
Gallarati Scotti, Tommaso, 85, 105,
Dante Alighieri ..7, 17-19, 21-27, 29, Di Borio) M,uia, 105, 307 f-ichera 1 Fi!ippo, 156
298
71, 78, 85, 149, 150, 173, 179, Di Giacon10, SalvaroreJ 75 1 293 Fino, Saverio, 233
Gargano, Giuseppe, 2 J, 179
192, 195, 206, 273, 275, 277- Di Li.nC:o, 1·1ichele1 47 Fiori, Giuseppe, 326
Gargiulo, Alfredo, 67, 122, 311, 313
281, 285, 289, 295, 317, 323 Dickens, Charles, 59 Flammarion, Camille, 43, 284
Garibaldi, Anita, 216, 217, 333
Danton, Georges-Jacques, 49 Dominique, Pierre, J 87, 327 Flaubert, Gustave, 244, 245
Garibaldi, Giuseppe, 75, 206, 231,
Daudet, Alphonse, 112 Dossi) Carlo, 183, 325 Fontenay1 Pdo!o, 39
232

486 487
CADERNOS DO CÂRCERE
ÍNDICE ONOMÁSTICO

Garzia, Raffaele, 85, 203 Grimrn, irmãos, 221 Ibsen, Henrik 1 48, 179, 287 Lcblanc, Maurice, 208 1 286
Gatti, Angelo, 199, 255, 329 Grossi, Tomrnaso, 124, 314 Ilitch, ver Lenin, Vladimir Ulianov Lefebvre, Raymond, 331
Gemelli, Agostino, 204, 330 Gu:-t!ino, Riccardo, 186, 232, 326 Invernizio, Carolina, 37, 44, 127, Lenin, Vladimir Ulianov, 365
Gennari, Luciano, 83, 105, 307 Guéhcnno, Jean, 187, 327 231, 282, 285 Leopardi, Giacomo, 176, 190, 195,
Gentíle1 Giovanni) 63 1 148, 1491 173 1 Guerrazzi, Francesco Domenico, 44, Iskowicz1 i\1arc, 167 257, 279, 322,323, 330
242,316, 367 51, 66, 86, 156,211, 284
Leopardi, Paolina, 211, 323, 330,
Gerratana, Valentino, 8-1 O Guicciardini, Francesco, 103, 255,
Jagot, Henry, 54 331
Gherardesca, Ugolino della, 19, 278 339
Jahier, Piero, 74, 104, 105, 293 Lcssing, Gothold Ephrnim, 20, 277
Giacometti, Pao lo, 48, 287 Guillaume, James, 103, 306
James, Henry, 328 Leonardo Da Vinci, 308
Giampaoli, Mario, 195 1 328 Guillon, Sylvestre, 167, 321
J aures, Jean, 18 8 Lewis, ~1. G., 213
Giardini, Cesare 1 47, 286 Guizot, François-Pierre, 330, 338
Joana D'Arc, 47, 52 Linati, Cario, 115, 198, 328
Gide, André, 215 Guterman, N., 122
Joyce, James, 115, 116, 310, 328 London, Jack1 50, 2~7, 314, 336
Gioberti, Vincenzo 1 254, 338 G~zzo 1 Augusto, 26, 2 79
Júlio II (Giuliano del\a Rovere), papa Longanesi, Leo 1 74, 105, 293
Gioda, Maria, 319
Hagcnbeck, Karl, 124, 314 (1503-1513), 161, 320 Loria, Achille, 69, 82, 298, 361
Giordani, Pietro, 362
Giotto di Bondone, 298 Halévy, Daniel, 187, 327 Lovarini, Emilio, 178, 323
Hamp, Pierre, 122 Kautsky, Karl, 361 Lucatelli, Luigi, 292
Giovagnoli, Raffaelo, 206
Giuliotti, Domenico, 83, 170, 204298 Harkness, Margaret, 338 Killen, Alice, 213 Lucidi, Guglielmo, 81, 297
Giusti, Giuseppe 1 126~ 211, 220, Hartland, Réginald, 59, 213 Kipling, Rudyard, 163, 318 Luís Filipe de Orleãs, tei dos france-
314 Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, Kock, Charles-Paul de, 288 ses (1830-1848), 157
Gobetti, Piero, 93, 94, 297, 302, 333 361, 363, 364, 367, 368 Krasnov, Piotr Nicolaievitch, 369 Luís XV de Bourbon, rei da França
Goethe, Johann Wolfgang von, 71, Heine, Heinrich, 298 (1715-1774), 329
212, 279, 298, 328, 346 Henrique IV de Bourbon1 rei da Fran- La Fontaine, Jean de, 180, 324 Luzia, Alessandro, 216, 217, 333
Gogol, Nicolai Vassilievitch, 314 ça (1594-1610), 75 La Marrnora Alfonso Ferrero, 99,
1

Goldoni, Carlo, 202, 329, 330 Heráclito, 236 100, 305 Maccari, Mino, 293, 333
Gori, Pietro, 238, 336 Hcrriot, Edouard, 86, 87, 300 Lamarteliêre, Jcan-l--Jcnri, 177, 323 Mac-Orlan, 237, 336
Gorki, Maxirn, 314 I·lcrzcn, Alexandcr Ivanovitch, 103 Lando, Ortensio, di, 287 i\i1alaparte, Curzio, pseudónimo de
Gott<1 1 Salvator, 77, 83 llcsíodo, 165, 166 Lao-T<>é, 257 KurtSuckcct, 80, 81, 86, 87, 90,
Gouncourt, Edmond, 203 Hitler, Adolf, 339 lasca, pseudónimo de Grazzini, Anton 92, 154, 155, 184, 291, 296,
Gozzi, Carl o, 202, 33 O Hoepli, Ulrico, 175 Francesco, 241, 337 297, 302, 329
Gozzi, Gasparo, 255 1 339 Hofer, Andreas, 207, 330 Llssalle, Ferdinand, 308 Malheiros, Colbert, 332
Graf, Atturo, 156, 162, 163, 318 Hoffmann, Karl, 54 Lavoisier, Antoine-Laurent, 365 Malraux, André, 237, 336
Graf, Oscar Maria, 123, 313 Homero, 276 Lawrence, D. H., 328 Manacorda, Guido, 83, 179, 223,
Gray, L., 268 Hugo; Victor, 46, 54, 59, 75, 157, Leão X (Giovanni de' Mediei), papa 298
Graziadei, Antonio, 81, 297 267, 290, 328 (1513-1521), 324 Manzi 1 ~\lberto, 177, 178

488 489
CADERNOS DO CÁRCERE ÍNDICE ONOMÁSTICO

Manzoni, Alessandro, 19, 20, 34, Mazzucchelli, Maria, 47, 237, 286 Morhange, P., 122 188, 196, 223, 224, 292, 31~
43, 85, 112, 113, 119-121, 164, Meda, filippo, 118, 170 Mortier, i\lfrcJo, 178 321
173, 191, 208-210, 212, 213, Metastasio, Pietro, 227, 334 Moufflet, 1\ndré1 59, 266, 267, 290 Orsini, Feiice, 101, 227, 305
216, 243, 246, 247, 254, 258, Metternich Winneburg, Klernens, prín- !\.1ozart, \Volfgang Amadeus, 33], Orsini, Luigi, 227, 334
259, 276, 279, 282, 298, 308, cipe de, 75 334 Orvicto, Adolfo, 49, 179, 288
309, 314, 323, 330 Michelangelo Buonarotti, 71, 182, Murat,Joachim, rei de Nápoles (1808- Orvieto, Angiolo, 165, 166
Maquiavel, Nicolau, 94-95, 178, 308 1815), 79, 295
345, 351, 357, 366, 374-379, Mignet, François-Auguste 1 338 Musset, Alfred de, 286 Pagliaro, Antonio, 196, 197, 328
381 Mignosi, Pietro, 170 1 218, 333 l\.1ussolini, Benito, 89, 293 1 294, 296) Palazzi, Fern<1ndo 1 80, 118
Maramaldo, Fabrizio, 161, 320 Milano, Paolo, 212 301, 303, 319, 329, 331, 348 Paléologue, Georges-Maurice, 97, 304
Marat, Jean-Paul, 283 Mioni, Ugo, 45, 51, 84, 210, 285 Palmieri, Enzo, 285
Maraviglia, Mau.rizio, 136, 315 ?\.1irafiori, Rosa, Condessa de, 97 l'Japoleáo I, imperador dos france· Panella, Antonio, 379
?\1archesi, Giambattísta, 214, 332 Missiroli, Mario, 105, 154, 188, 307, ses (1804-1815), 362 Panzini, Alfredo, 77, 79, 80, 94, 95,
Marcucci, t~lessandro, 114, 31 O 317, 357 ~\1poli::ii.o III> i1nperador dos fr;in- 97-102, 118, 119, 142-144, 146,
Marinctti, Filippo "lümmJ.so, 3 6, 198, MoliCrc, pseuJônimo de Jcan-Baptiste ceses (1852-1870), 47, 54, 75, 165, 166, 242, 294, 303, 304,
32H, 329 (~,iquelin, 142, 179 80, 96, 98, 101, l 02, 286, 2lJ()~ 316
~L1rrclli, l)il'go, 21 O, 211 tv1oltcni, GinscppL\ 76, 293 304, 305, .no, 351, 362, 3h7, Papini, Giovanni, 36, 44, 74, 76, 78,
Martincr, Man.:ei, 123, 238, 336 Monligliano, EucarJio, 47, 287 368 80, 82, 83, 105, 108, 170, 204,
Martini, Ferdinanrlo, 34, 43, 96 1 282, Monaldo, Conde, 211, 331 Negri, Ad<1, 155, 220, 318 215, 217, 223, 241, 265, 266,
303 Mondolfo, Rodolfo, .156 Nerbini, Giuseppe, 51
285, 292, 295, 296, 298, 308,
Martoglío, Nino, 33 7 Monelli, Paolo, 146, 316 Nettlau, Max, 103,306 316, 333, 339, 340
Marx, Karl, 103, 306, 319, 338, 352, Monicelli, Tomaso, 49, 287 Niccodemi, Dario, 48, 287 Parini, Giuseppe, 310
355-361, 366, 373, 374 Montale, Eugenio, 115, 116, 310 Nietzsche, Friedrich, 231, 232 Parini, Piero, 114i 120, 128
Marzot, Giulio, 75, 124, 313 Montanelli, Giuseppe, 211 Nigra, Costantino, 94 Paris, Robert, 9
Mascagni, Pi erro, 12 7, 201 Montano, Lorcnzo, pseudônimo de Nissim, Lea, 116 Pascal, Blaise, 298
Massaja, Guglielmo, 45, 285 Danilo Lebrecht, 180, 325 Nizan, Paul, 262, 263, 339 Pascarella, Cesare, 134, 232, 315
Massaniello, pseudônimo de Tom- Montépin, Xavier Ayrnonde, 37, 44, Pascoli, Giovanni) 36, 125, 220, 282
maso Aniello, 47, 287 46, 282-283 Ojetti, Ugo, 42, 77, 79, 82, 124 1 125, Passavantii Iacopo, 84, 298
Mastriani, Francesco, 37, 44, 282 Monteri, Vincenzo 1 211 127-129, 171-174, 184, 205, Pastore, Annibale, 266, 340
Ma.urras, Charles, 161, 244, 312i Monti, Augusto) 187, 327 242, 248, 284, 293, 294, 297, Pazner, Vladimir1 58, 59
314, 320 Monti, Vincenzo, 158, 319 314, 322, 326 Pea, Enrico, 204
Mazzini, Giuseppe, 101, 232 Moravia, Alberto, 116, 155, 311 Omodeo, Adolfo, 88, 89, 301 Pedrazzi, Orazio 1 167
Mazzoni, Giuseppe, 211 Mordini, Antonio, 211 Orczy, Emmuska, 50, 288 Peguy, Charles, 118, 123, 312
Mazzoni, Guido, 113, 247, 248, Morello, Vincenzo, 17, 23-26, 29, Orestano, Francesco, 179 Pekar, Gyula, 49, 288
338 30, 276, 281 Oriani, Alfredo, 74, 154, 164, 165, Pellico, Sílvio, 88, 301

490 491
CADERNO S DO CÁRCERE
ÍNDICE ONOMÁS TICO

Perino, Edoardo, 51, 156 94, 102, 162, 175, 185, 193,291,
Rimbaud, Jean-Arthur, 218 Sand, Maurice, pseudónimo de J\1au-
Perri, Francesco, 78, 79 1 295 296, 297, 302, 321,325
Riva, Giovanni, 293 rice Dudevanti 178
Persano1 Carlo Pcl\ion 1 conde dc1 100, Proudhon , Pierre-Joseph, 74, 104,
Rivarol, Antoine, 292 Sanesi, Ircneo, 178, 323
305 105, 187, 298, 307
Rivetta 1 Pier Si!vio (Toddi), 171 Santoro, Maddalena, 86
Petrarca, Francesco 1 276 Puccini, 1..1ario, 109, 123, 127, 201,
Riviere, Jacqnes, 59 Santucci, Antonio A., 273, 33 l
Pctrini 1 Domcnico 1 159 1 320 1 346 308
Robespierre, Maximi!icn, 49i 286 Sapegno, Natalino1 181, 182, 3251
Philippe, Charles Louis 1 123 Rocca, Enrico, 123 329
Piccoli, Valentino 1 195 Racine, Jean, 279
Rolland, Romain, 211, 212, 33 l, Sarfatti, Margherita1 77, 294
Pietravalle, Lina 1 124, 313 Rodcliffe, Ann, 46, 54, 213, 267, 332
286 Sartre, Jean-Pail!, 339
Pignatelli, Valerio, 50, "288 Romani, Fedc!e, 17 1 276
Radius, En1ilio, 205 Savarcsc, Nino, 116, 155, 31 l
Pindemonte, lppolito, 42, 284 Rosa, Enrico, 77, 171, 172, 174, 294'
Rafael Sanzio, 71, 173, 200 Saviotti1 Gino, 114, 31 o
Pintor, Fortunato, 113 296, 322
Raimondi, Giuseppe, 104, 105, 307 Scarfoglio, Edoardo, 164, 232, 321
Pio IX (Giovann i Ferretti), papa Rosini, Giovanni, 24, 279
Ramat, Rafaello, 67 Scherillo, Michele, 155, 318
(1846-18 78), 308 Rosny, J. H., 267
Ramperti, Marco, 187, 224, 334 Schiaffini, Alfredo, 147, 316
Pio XI (Ambrogio Ratti), papa (1922- Rousseau, Jean-Jacques, 149, 2 021
Rapisardi, Mario, 77, 191, 192, 294, Schiavi, Alessandro 203 23 8 33 O
1939), 173 283, 305, 315, 378 ' ! ' '
336, 349
Pirandcllo, Luigi, 41, 64i 110 1 115 1 328
Rubieri, Ermolao, 181, 325 Schiller, Johann Christoph Fricdrich,
168, 183, 184, 227-229, 232- R;1stignac, ver Morello, Vinccnzo
Ruiz, Vincenzo Arangio, 29 54, 177, 323
239, 283, 302,326 ,335, 337 Raya, Gino, 309
Ruscelli, Girolamo, 241, 337 Schucht, Julia, 380
Pisani, Vittore, 15 6 Rebora, Piero, 221, 222
Russo, Ferdinando, 180, 324 Schucht1Tatiana, 273, 274, 276-278,
Pistelli, Ermeneg ildo, 116, 123, Redi, Omcro, 311
Russo, Luigi 1 17, 26 27 , 29 , 74 75 '
) 280, 281, 315, 380
Rccvc, Clara, 213
)

311 180, 208, 276 Scott, \X:1lter, 213


Pitré, Giuseppe, 190, 315 Reggio, Ercole, 201, 202
Ruzzante, pseudôni mo de .\ngelo Scribe, EugCnc, 287
Plauto, 178 Régnier, Henri-François de, 218, 219,
Beolco, 178, 323, 324 Secchi, Angelo, 45, 2.85
Poe, Edgar Allan, 52, 54, 289 333
Secoloi Floriano del,.196
Polifilo, ver Beltrami, Luca Remarque, Erich Maria, 89, 126301
Saint-Beuve, Charles Augustin de, Sella, Quintino 1 96, 303
Pompeati, Arturo, 53, 289 Rensi, Giuseppe, 335 244 Servais, Étienne, 59
Ponson du Terrail, Pierre-Alexis, 37, RCpaci, FrancescoAntonio, 90, 91 1296
Saint-Exupéry, Antoine de, 286 Shakespeare, William 49 119 ) 120 J
44, 46, 48, 54, 99, 101, 102, Repaci, Leonida1 79, 80, 90 1 91, 99,
Saint-Just, Louis-Antoine, 49, 286 ' '

129,295 ,296 121, 194, 227, 228, 258, 259,


283, 286 Saint-Simon, Claude-Henri1 319 267
Poulaille, Henry, 123 Rezasco, Giulío, 264 1266 Salani 1 Adriano, 51
Ricci, Corrado, 216 Shaw, George Bernard, 17, 30, 121,
Pound, Ezra, 310, 328 Salgari, En1ilio, 1.58 277
Prampolini, Camillo, 187, 327 Ricci, Umberto, 349
Salvagnoli, Vincenzo, 211 Shelley, Percy Bysshe, 71
Praz, Mario, 59 Richebourg, Émile, 46, 51, 286, 288
Sand, George 1 pseudônimo de Aurore Sicardi1 Enrico, 21, 179 1 180
Prezzolini, Giuseppe, 80-82, 88, 92- Ricolfi, Alfonso, 175
Dupin, 47, 178, 286 Siciliani, Luigi, 85

492
493
CADERNOS DO CÁRCE-RE ÍNDICE ONOMÁSTICO

Siciliano, !talo, 235 Thiers, Marie-Joseph, 338 Viani, Prospero, 211 Wallace, Edgar, 264
Sobrero, Mario, 78, 103, 295 Thouar, Pietro, 211 Vico, Giambattista, 367, 368 Walpole, Horace, 213
Soffici, Arden;;o, 80, 90, 153, 211, Thovez, Enrico, 175, 322 Vieusseux, Giovan Pietro, 211 Weiss, Franz, 87, 300
212, 296, 308, 331 Tilgher, Adriano, 154, 156, 163, Villari, Pasquale, 278 Wells, Herbert George, 52, 174, 289
Sófocles, 49 230, 235, 236, 237, 240, 317, Virgílio, 276, 284 Weygand, Maxime, 369
Sommaruga, Angelo, 203 335 Vítor Emanuel II de Savóia, rei da Whitman, Walt, 238, 336
Sorani, Aldo, 30, 36, 37, 55, 58 Timantes. 279 Itália (1849-1861), 95-97, 232, Williams, Orlo, 102
Sorel, Georges, 85, 123, 154, 188, Titta Rosa 1 Giovanni, 80 1 154, 296 303, 305
196,300;356,357,375,376 Toesca 1 Pietro, 277 Vittorini, Elio, 67, 291 lát-Sen, Sun (Sun Wen), 179, 324
Spampanato1 Bruno, 241 Togliatti, Palmira, 9, 238, 336 Volpe, Gioacchino, 125, 126, 162,
Spaventa, Bertrando, 367 Tolstoi, Leão Nicolaievitch, 118, 119, 284,314,321 Zanetti, Girolamo, 323
Sperindeo, G., 300 120, 121, 187, 208, 209, 247, Volpicelli, Luigi, 239, 265 Zingarelli, Nicola, 156
Sraffa, Piero, 273, 274 267,312, 314 Volta, Alessandro, 362 Zoccoli, Ettore, 103, 306
Stalin 1 Josip Vis~arionivitch, 339 Tomás de Kempis, 84, 298 Voltaire, pseudónimo de François- Zola, Émile, 75, 112, 187, 203, 213,
Stecchetti, Lorenzo, pseudônimo de Tonelli, Luigi, 109, 110, 218, 309 Marie Arouet, 259, 263 244 327
Olindo Guerrini, 187, 203 Torretta, l.aura 1 174 Vossler, Karl, 26, 27, 160, 180, 279, Zonta, Giuseppe, 258
Steed, Henry Wickham, 85, 299 Trabalza, Ciro, 146, 147, 316, 317 324 Zottoli, Angelandrea, 208, 209, 210,
Stendhal, pseudônimo de Henry Tuckerman, Henry Theodor, 88 Wagner, Richard, 188, 193, 298 243
Beyle, 286 Turati, Filippo, 203, 311, 330
Stevenson, Robert Louis, 50, 237, Turgueniev1 Ivã Sergueievitch, 314
335
Stuparich, Giani, 90, 301 Ungaretti, Çiuseppe, 68, 224, 225,
Sue, Eugene, 37, 46, 54, 58, 59, 158, 252, 268, 269, 292, 313, 325,
211, 226, 227, 265, 267, 282, 334
286,289,319
Svevo, !talo, 115, 116, 310, 311 Vaccalluzzo, Nunzio, 191, 192
Swan, Charles, 258, 259 Valles, Jules, 187, 203, 327
Varaldo, Alessandro, 176
Taine, Hippolyte-Adolphe, 244 Vega, Lope de, 279
Tasso, Torquato, 309 Verdi, Giuseppe, 71, 127, 201, 214,
Terêncio Afro, Públio, 178 227,267,314
Testa, Cesario, 203 Verga, Giovanni, 71, 124, 212, 213,
Thibaudet, Albert, 124, 314 292, 309, 313, 321
Thierry, Augustin, 210, 243, 254, Verne, Jules, 46, 51, 52, 158, 174,
330, 337, 338 286

494 495

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