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ÍNDICE
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL
REGIME JURÍDICO
▪ O registrador pode impetrar mandado de segurança questionando a ordem do Juiz Diretor do Foro, que determinou
uma retificação no registro que o oficial entende indevida.
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
▪ Imóvel que está em nome da sociedade empresária pode ser considerado bem de família se o sócio nele residir;
neste caso, contudo, será possível penhorar bens pessoais do sócio já que se trata de uma via de mão dupla: deve-
se proteger a moradia do sócio mas também o credor.
PESSOA JURÍDICA
▪ O sócio de pessoa jurídica não possui legitimidade ativa para pleitear indenização, em nome próprio, por danos ao
patrimônio da empresa.
ARBITRAGEM
▪ Existindo cláusula compromissória arbitral, a pretensão de produção antecipada de provas (sem demonstração de
urgência), deve ser promovida diretamente perante o Tribunal arbitral.
USUCAPIÃO
▪ Não é possível aproveitar o tempo anterior de posse de terceiros para complementação do quinquênio necessário à
declaração de prescrição aquisitiva no caso de usucapião especial urbana.
ALIMENTOS
▪ Em uma execução de alimentos a mãe da criança pode fazer transação com o pai devedor, dispensando que ele
pague uma parte dos valores atrasados.
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
▪ A emissão, por terceiro, de boleto fraudado, configura fato exclusivo de terceiro somente quando evidenciado o
nexo causal entre as atividades desempenhadas pela instituição financeira e o dano vivenciado pelo consumidor.
▪ A empresa de intermediação imobiliária responde pela venda fraudulenta realizada por uma das corretoras que
prestava serviço na sociedade.
PLANO DE SAÚDE
▪ Os planos de saúde são obrigados a fornecer tratamento para combate ao câncer.
▪ O plano de saúde não está obrigado a custear bomba de insulina porque se trata de medicamento de uso domiciliar.
▪ Não é possível a resilição unilateral de contrato de plano de saúde durante o curso de tratamento médico.
DIREITO EMPRESARIAL
AVAL
▪ O aval não se equipara à fiança no que diz respeito à possibilidade de usufruir do benefício de ordem, uma vez que
o avalista é um responsável autônomo e solidário.
DUPLICATA
▪ O posto de gasolina utilizava máquinas de cartão de crédito de uma instituição credenciadora; um terceiro deu um
golpe no posto utilizando uma máquina adulterada; o posto emitiu uma duplicata contra a instituição cobrando o
prejuízo; o STJ decidiu que isso não é possível.
CHEQUE
▪ Ocorrida a prescrição cambial, o cheque perde os atributos cambiários.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
▪ No caso de ato ilícito continuado, a prescrição não afeta as ocorrências posteriores ao marco temporal prescricional
para a tutela reparatória e inibitória, abrangendo apenas o período anterior.
CONTRATOS EMPRESARIAIS
▪ Não é razoável exigir prestação de contas detalhadas sobre investimentos do extinto Fundo 157 quando ausente a
especificação do valor investido e do período em questão.
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
▪ A data-base da apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade por tempo indeterminado corresponde ao
momento em que o sócio retirante deixa de contribuir para a atividade.
FALÊNCIA
▪ A decisão do Juiz do Trabalho desconstituindo a personalidade jurídica da empresa não significa, por si só, usurpação
da competência do juízo falimentar.
▪ A certidão expedida em feito executivo, na forma do art. 94, § 4º, da Lei 11.101/2005 enseja a presunção legal da
insolvência do devedor e não cabe exigir do credor a prova dessa circunstância fático-jurídica.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
▪ A Assembleia Geral de Credores pode estabelecer um novo limite para atualização dos créditos, desde que conste
de forma expressa no plano de soerguimento.
▪ O que acontece com a execução de título executivo extrajudicial ajuizada pelo credor contra a empresa em
recuperação e os coobrigados na hipótese em que o titular do crédito concorda com a cláusula de supressão das
garantias inserta no plano de recuperação?
LITISCONSÓRCIO
▪ O juiz, ao reconhecer a ilegitimidade ad causam de um dos litisconsortes passivos e excluí-lo da lide, deverá fixar os
honorários com base no art. 338, parágrafo único, do CPC.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE
▪ Não é cabível a denunciação da lide em demanda que busca a declaração de inexigibilidade de débito, pois não
haverá uma condenação que justifique a introdução de uma nova lide dentro daquele processo principal.
Informativo 12-STJ (Edição Extraordinária) (25/07/2023) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2
Informativo
comentado
COISA JULGADA
▪ Se a parte não pediu tudo o que poderia, seja por opção ou por equívoco, sua pretensão ainda subsiste, restando-
lhe a possibilidade de ajuizar nova ação para requerer a complementação da indenização, a não ser que ocorresse
alguma hipótese de preclusão.
RECURSOS
▪ O recorrente deve comprovar o recolhimento do preparo e do porte de remessa e retorno de acordo com os volumes
existentes nos autos no momento da interposição do recurso.
IMPENHORABILIDADE
▪ A ausência de comprovação, pela parte executada, de que o imóvel penhorado é explorado pela família afasta a
incidência da proteção da impenhorabilidade.
▪ Os certificados em poder das instituições de ensino, recomprados pelo FIES e que excederem os débitos
previdenciários e tributários destas, estão sujeitos à penhora.
▪ O veículo adaptado para pessoa com mobilidade reduzida pode ter sua impenhorabilidade reconhecida.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
▪ Ao julgar o Tema 955, o STJ modulou os efeitos da decisão reconhecendo a possibilidade de, nas ações ajuizadas
até 8/8/2018, ser possível a inclusão dos reflexos das verbas reconhecidas na Justiça do Trabalho.
DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL
REGIME JURÍDICO
O registrador pode impetrar mandado de segurança questionando a ordem do Juiz Diretor do
Foro, que determinou uma retificação no registro que o oficial entende indevida
ODS 8 E 16
O Tribunal de Justiça denegou o pedido, sob o argumento de que o Oficial do Registro de Imóveis não
dispunha de legitimidade, porque não tinha direito subjetivo líquido e certo oponível à decisão judicial, a
que tem a obrigação de cumprir.
Ainda inconformado, João interpôs recurso ordinário dirigido ao STJ sustentando que possui direito líquido
e certo, pois tem o dever de velar pela legalidade dos atos pertinentes à sua área territorial de atuação e
o direito de defender as suas prerrogativas e a inteireza das respectivas atribuições.
Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e de registro sejam prestados
com rapidez, qualidade satisfatória e de modo eficiente, podendo sugerir à autoridade
competente a elaboração de planos de adequada e melhor prestação desses serviços, observados,
também, critérios populacionais e sócio-econômicos, publicados regularmente pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Diante desse cenário, podemos concluir que o registrador, na qualidade de agente público, pode, pelo
menos em tese, socorrer-se de mandado de segurança contra o ato administrativo que o obrigue a aplicar
regramento contra a sua convicção jurídica. Isso porque o registrador tem o dever de zelar pela legalidade
dos atos pertinentes à sua área de atuação, bem como por suas prerrogativas funcionais.
Ressalte-se que o registrador possui nítido interesse processual na propositura do mandado de segurança
considerando que, se cumprir a ordem, poderá sofrer consequências jurídicas decorrentes do
atendimento de um comando, em tese, ilegal. Por outro lado, caso simplesmente se recuse a obedecer,
poderá estar sujeito a processo administrativo disciplinar.
Em suma:
O registrador poderá se socorrer de mandado de segurança contra ato administrativo que o obrigue a
aplicar regramento contra a sua convicção jurídica, vez que deve zelar pela legalidade dos atos
pertinentes à sua área de atuação, bem como por suas prerrogativas funcionais.
STJ. 4ª Turma. AgInt no RMS 40.368-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/2/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
Imóvel que está em nome da sociedade empresária pode ser considerado bem de família se o
sócio nele residir; neste caso, contudo, será possível penhorar bens pessoais do sócio já que se
trata de uma via de mão dupla: deve-se proteger a moradia do sócio mas também o credor
ODS 8 E 16
Qual das duas teses prevaleceu no STJ? O imóvel que está em nome da pessoa jurídica, mas onde reside
o sócio também pode gozar da proteção de impenhorabilidade como bem de família?
Segundo a jurisprudência do STJ, a resposta é SIM.
No entanto, antes de mencionarmos os julgados do STJ que acolhem o argumento do devedor, é
importante fazermos algumas considerações.
Se fossemos analisar a pergunta acima pela ótica da autonomia patrimonial, a resposta seria “não”
O art. 1º, caput, da Lei nº 8.009/90 (Lei do Bem de Família) prevê que:
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza,
contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo
nas hipóteses previstas nesta lei.
Se analisarmos a redação literal do art. 1º da Lei nº 8.009/90 perceberemos que a proteção legal é
conferida a imóvel de propriedade da pessoa física devedora, não havendo menção alguma à possibilidade
de reconhecimento da impenhorabilidade a imóveis pertencentes a pessoa jurídica, notadamente em
razão da inaplicabilidade dos conceitos de residência e moradia, bem como em virtude dos princípios da
autonomia da vontade e da autonomia patrimonial da sociedade empresarial.
Os bens pertencentes à pessoa jurídica da qual o devedor é sócio não integram o patrimônio deste, dada
a completa autonomia patrimonial da pessoa jurídica em face de seus membros.
A autonomia patrimonial configura via de mão dupla. Isso porque tem por objetivo:
• proteger o patrimônio dos sócios para que, em princípio, não respondam por dívidas relacionadas à
atividade empresarial; e
• proteger o patrimônio da própria pessoa jurídica (e seus eventuais credores), no tocante a dívidas dos
sócios.
Dessa forma, a extensão da impenhorabilidade conferida pela lei a título de bem de família a imóveis
pertencentes ao patrimônio de pessoa jurídica implicaria, em regra, desrespeito à autonomia patrimonial
da empresa.
Se fossemos analisar a pergunta acima pela ótica da boa-fé objetiva, a resposta seria “não”
Impedir a penhora do imóvel da pessoa jurídica pelo simples fato de o sócio residir no local ofende, de
alguma forma, a vedação do venire contra factum proprium. Isso porque se o imóvel foi voluntariamente
transferido ao patrimônio da pessoa jurídica para integralização da quota do sócio no capital da sociedade
haverá um comportamento contraditório do sócio devedor alegar que esse imóvel é o seu bem de família.
O STJ, contudo, optou por responder “sim” à pergunta com base no direito fundamental à moradia,
corolário da dignidade da pessoa humana, razão pela qual é preciso que seja dada uma interpretação
ampliativa à proteção legal
Embora a Lei nº 8.009/90 confira proteção apenas ao imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade
familiar, sem mencionar a extensão do benefício a imóvel que não seja de propriedade do ocupante mas
de pessoa jurídica, há diversos julgados do STJ que reconheceram a impenhorabilidade de imóvel de
propriedade da empresa, caso comprovado que nele residam os sócios.
No início, o STJ conferia essa proteção apenas para imóveis de pequenas empresas familiares, cujas quotas
eram inteiramente pertencentes aos devedores e seus familiares, em razão da confusão patrimonial, na
prática, inerente a esse tipo de sociedade.
Atualmente, contudo, a aplicação desse entendimento ocorre de forma bem ampla.
A jurisprudência desta egrégia Corte orienta-se no sentido de considerar que é impenhorável a residência
do casal, ainda que de propriedade de sociedade comercial.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486/SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016.
O motivo que levou à criação da doutrina da desconsideração da personalidade, desde sua origem no
direito anglo-americano (disregard of the legal entity), foi afastar temporariamente a autonomia
patrimonial da pessoa jurídica para satisfazer interesse do credor em razão de prática abusiva do sócio.
Quando o STJ reconhece que o imóvel que pertence à pessoa jurídica pode ser considerado bem de família
pelo simples fato de o sócio nele morar, o que o Tribunal está fazendo é o inverso da desconsideração da
personalidade jurídica. Isso porque neste caso se está afastando a personalidade jurídica da sociedade
empresarial para se conferir proteção ao devedor que utiliza imóvel de propriedade da empresa como
moradia.
Trata-se da denominada “desconsideração da personalidade jurídica positiva”, expressão cunhada pela
doutrina para justificar proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 a imóvel pertencente à pessoa jurídica, no
qual residam os sócios.
Sustenta-se que “a teoria da desconsideração da personalidade sempre foi utilizada sob o aspecto
negativo (punitivo/repressivo) (...)”, propondo Fábio Ricardo Rodrigues Brasilino seja utilizada também
"sob o ponto de vista positivo, ou seja, para resguardo a dignidade da pessoa e outros valores
constitucionais" ("A desconsideração da personalidade jurídica positiva". Revista de Direito Empresarial:
ReDE, v. 2, n. 6, p. 91-105, nov./dez. 2014).
• essa solução preserva o princípio da integridade do capital social da empresa, atendendo à necessidade
de proteção da residência familiar, escopo da Lei nº 8.009/90, sem descurar, na medida do possível dos
direitos dos credores da sociedade.
PESSOA JURÍDICA
O sócio de pessoa jurídica não possui legitimidade ativa para pleitear indenização, em nome
próprio, por danos ao patrimônio da empresa
ODS 16
Situação hipotética: a sociedade empresária Alfa celebrou contrato para adquirir a sociedade
empresária Beta. Posteriormente, esse contrato foi rescindido. Ocorre que a Alfa havia dado
um sinal de R$ 300 mil, que não foi devolvido. Diante disso, João, sócio majoritário da Alfa,
ajuizou ação contra a Beta pedindo o ressarcimento dos prejuízos. João é parte ilegítima.
O sócio de pessoa jurídica não possui legitimidade ativa para pleitear indenização, em nome
próprio, por danos ao patrimônio da empresa, uma vez que eventual procedência no pedido
beneficiaria diretamente a sociedade e contribuiria para a restauração do capital social
prejudicado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.985.206-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 11/4/2023 (Info 12
– Edição Extraordinária).
Em suma:
O sócio de pessoa jurídica não possui legitimidade ativa para pleitear indenização, em nome próprio,
por danos ao patrimônio da empresa, uma vez que eventual procedência no pedido beneficiaria
diretamente a sociedade e contribuiria para a restauração do capital social prejudicado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.985.206-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 11/4/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
Caso hipotético: a empresa Alfa celebrou contrato de locação com promessa de compra e
venda de um imóvel com a empresa Beta. A prometida venda ocorreria após 5 anos de aluguel.
Cinco anos depois, a Alfa realizou notificação extrajudicial endereçada à Beta informando que,
se a promitente compradora desejasse adquirir o imóvel, deveria realizar o pagamento do
valor de R$ 2 milhões, valor atualizado do bem. A Beta não concordou com os cálculos da Alfa,
diante disso, utilizou-se da consignação em pagamento extrajudicial, procedendo ao depósito
do valor de R$ 1,5 milhão em favor da promitente vendedora. A Alfa foi notificada do depósito
consignado extrajudicialmente e, por escrito, recusou-se expressamente a receber o depósito.
Argumentou que o valor depositado não incluiu a correção monetária do período.
Além disso, a Alfa ajuizou ação de rescisão contratual contra a Beta afirmando que a ré não
efetuou o pagamento no prazo e, que, portanto, não precisaria mais vender o imóvel para ela.
O pedido deve ser julgado procedente.
Se a empresa Beta considerava que a recusa da Alfa foi injusta, ela deveria ter ajuizado a ação
de consignação em pagamento no prazo de 1 mês. Como não fez isso, a legislação considera
que o depósito efetuado ficou sem efeito, não tendo mais o condão de extinguir a obrigação.
Aplica-se o art. 539, §§ 3º e 4º, do CPC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.831.057-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 20/6/2023 (Info 12
– Edição Extraordinária).
Pagamento em consignação
Se alguém está devendo uma quantia em dinheiro ou tem a obrigação de entregar uma coisa para o
credor, a forma “normal” de fazer isso é por meio do pagamento.
No entanto, algumas vezes, o devedor, mesmo querendo, não consegue pagar. Isso acontece, por
exemplo, quando o devedor não pode ou não quer receber. Também ocorre quando o devedor não tem
certeza para quem deve pagar.
Em tais situações, o ordenamento jurídico prevê que o devedor deverá fazer o pagamento em consignação.
Esse tema é tratado tanto no Código Civil (arts. 334 a 345) como no CPC (arts. 539 a 549).
Hipóteses
Segundo o art. 335 do CC, o pagamento em consignação ocorre nas seguintes situações:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto
ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Obs: existem outras hipóteses de pagamento em consignação previstas em outras leis, como, por
exemplo, no art. 164 do CTN.
Espécies
A consignação em pagamento pode ser:
a) EXTRAJUDICIAL:
É aquela que é feita diretamente pelo devedor, sem propor uma ação judicial para isso.
Só cabe consignação extrajudicial em caso de dívida de dinheiro.
Está prevista nos §§ 1º a 4º do art. 539 do CPC.
Como funciona:
- O devedor, ou o terceiro que quer pagar a dívida, vai até um banco situado no lugar do pagamento e
deposita a quantia devida.
- Em seguida, o banco notifica o credor, por via postal, de que foi feito este depósito e concede um prazo
de 10 dias para ele se manifestar.
- Se o credor não se pronunciar no prazo, deve-se considerar que o devedor ficou liberado da obrigação.
- A quantia fica no banco à disposição do credor, que poderá sacá-la.
- Por outro lado, o credor poderá, por escrito, recusar-se a receber o depósito, hipótese na qual o devedor
deverá propor, em 1 mês, ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do depósito e da recusa.
- Não proposta a referida ação no prazo de 1 mês, torna-se sem efeito o depósito.
“O prazo de um mês para o ingresso da ação de consignação em pagamento serve tão somente
para que o devedor não sofra os efeitos da mora, de maneira que, transcorrido esse prazo, a
propositura da demanda continua possível, desde que o devedor realize a consignação do valor
principal acrescido dos juros e devidas correções, que contarão da data de vencimento da
obrigação583. Segundo o art. 539, § 3.º, do Novo CPC, após o decurso do prazo legal, o depósito
extrajudicial perderá os seus efeitos, o que dá a entender que o autor “devedor” deverá realizar
um novo depósito.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.
Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1.496).
b) JUDICIAL
Realizado por meio da propositura de ação de consignação em pagamento.
O julgado comentado refere-se à consignação extrajudicial.
A legislação possibilita ao devedor liberar-se da obrigação assumida por intermédio do depósito da coisa
devida, vale dizer, embora este não constitua pagamento, é tomado pela legislação como pagamento para
o seu efeito primacial de extinção das obrigações.
Para que o depósito realizado tenha por consequência a extinção da obrigação, o Código Civil exige que
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido
o pagamento (art. 336). Objetivamente, portanto, a consignação produzirá o mesmo efeito liberatório do
pagamento stricto sensu desde que o depósito se dê na forma, tempo e modo devidos e de maneira
integral.
Se o devedor não é obrigado a receber a prestação qualitativa ou quantitativamente diversa da
contratada, também não poderá ser compelido a receber o depósito de prestação distinta.
O STJ, no julgamento do REsp 1.108.058/DF, submetido à sistemática dos recursos repetitivos, - Tema 967
- reconheceu que:
Em ação consignatória, a insuficiência do depósito realizado pelo devedor conduz ao julgamento de
improcedência do pedido, pois o pagamento parcial da dívida não extingue o vínculo obrigacional.
STJ. 2ª Seção. REsp 1108058-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF da 5ª Região),
Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/10/2018 (Recurso Repetitivo – Tema 967) (Info 636).
Apesar de o precedente acima se referir às ações de consignação em pagamento, seu espectro alcança
também as consignações extrajudiciais, considerando que o efeito material de extinção das obrigações
não decorre da ação judicialmente proposta, mas do fato do depósito, que pode, ao talante do devedor,
e se a prestação o comportar, ser realizado também em instituição financeira, a teor do disposto nos arts.
334 do Código Civil e 540, § 1º, do Código de Processo Civil.
Vale ressaltar que a correção monetária não constitui acréscimo ao valor da obrigação, senão uma forma
de manutenção do poder de compra da moeda, eventualmente corroído pelo fenômeno inflacionário. Por
conseguinte, o depósito efetuado pela empresa sem contemplar a correção monetária do período revela-
se parcial e não tem o efeito liberatório legalmente determinado.
Em suma:
Realizada a consignação extrajudicial e manifestada a discordância do credor, o devedor deve ajuizar a
ação no prazo de 30 dias, sob pena de reputar-se sem efeito o depósito efetuado, desvinculando-se da
extinção da obrigação e impondo-se a rescisão do contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.831.057-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 20/6/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
ARBITRAGEM
Existindo cláusula compromissória arbitral, a pretensão de produção antecipada de provas
(sem demonstração de urgência), deve ser promovida diretamente perante o Tribunal arbitral
ODS 16
O Tribunal de Justiça afastou a incidência da cláusula compromissória, por entender que a competência
seria do Poder Judiciário para processar e julgar ação de produção de prova mesmo que sem o requisito
da urgência.
Informativo 12-STJ (Edição Extraordinária) (25/07/2023) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13
Informativo
comentado
A RENOVA interpôs recurso especial, alegando ser o Poder Judiciário absolutamente incompetente para
apreciar um pedido de produção antecipada de prova, fundado os incisos II e III do art. 381 do CPC/2015,
sem o requisito de urgência/cautelaridade, nos termos exigidos no art. 22-A da Lei nº 9.307/96.
Em suma:
A partir da vigência do CPC de 2015, existindo cláusula compromissória arbitral estabelecida entre as
partes, a pretensão de produção antecipada de provas, desvinculada da urgência, deve ser promovida
diretamente perante o Tribunal arbitral, não subsistindo a competência (provisória e precária) do Poder
Judiciário.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.023.615-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/3/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
USUCAPIÃO
Não é possível aproveitar o tempo anterior de posse de terceiros para complementação do
quinquênio necessário à declaração de prescrição aquisitiva no caso de usucapião especial urbana
Importante!!!
ODS 1, 11 E 16
Usucapião
Usucapião é...
- um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel)
Algumas observações:
• Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;
• Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
• É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do
imóvel é menor que 250m2, não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão somente a
parte privativa);
• O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
A usucapião especial urbana foi introduzida no ordenamento jurídico pátrio pela Constituição da República
de 1988, e tem por escopo “permitir o acesso dos mais humildes a melhores condições de moradia, bem
como para fazer valer o respeito à dignidade da pessoa humana, erigido a um dos fundamentos da
República (art. 1º, inciso III, da Constituição Federal)” (trecho do voto do Min. Dias Toffoli no julgamento
do RE 422.349).
Em tese (sem ainda enfrentarmos o caso concreto), é possível a soma das posses para fins de usucapião?
SIM. Isso está previsto no art. 1.243 do Código Civil:
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes,
acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas,
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
A soma das posses inter vivos é chamada de acessio possessionis, algo como “compra da posse”.
A soma das posses causa mortis, isto é, decorrente de herança, é denominada sucessio possessionis.
No caso concreto, essa soma das posses é possível? É possível o aproveitamento do tempo anterior de
posse de terceiros para complementação do quinquênio (5 anos) no caso de usucapião especial urbana?
NÃO.
Se formos analisar apenas o Código Civil, vamos perceber que não existe nenhuma proibição de que seja
feita a soma das posses para a usucapião especial urbana. O art. 1.243 do CC não restringe a possibilidade
de acréscimo/soma de posses a alguma modalidade específica de usucapião. Assim, o art. 1.243 apresenta
previsão de caráter genérico.
Vale ressaltar, contudo, que o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), que também rege a usucapião pro-
moradia, autoriza apenas a sucessio possessionis (soma das posses causa mortis), não mencionando a
possibilidade de accessio possessionis. Veja o que diz o art. 9º, § 3º:]
Seção V
Da usucapião especial de imóvel urbano
Art. 9º Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
(...)
§ 3º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu
antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.
Diante desse cenário de antinomia aparente, o STJ concluiu que não é possível a acessio possessionis na
usucapião especial urbana, especialmente porque essa modalidade de usucapião tem como uma de suas
características a pessoalidade da posse. Nesse sentido, confira a lição da doutrina:
“A pessoalidade da posse é fundamental. Tanto na usucapião urbana como na rural, ninguém
poderá adquirir propriedade pela habitação no local por outra pessoa (detentor ou possuidor
direto), sob pena de ferir o desiderato constitucional. É por isso que a usucapião urbana também
é conhecida como usucapião pro moradia. Essa exigência de habitação efetiva na coisa
desqualifica a possibilidade de êxito para aqueles que apenas eventualmente ocupam o imóvel,
como naquelas hipóteses de utilização de bens nas épocas de férias e feriados.
(...)
A outro giro, parece-nos incompatível com a finalidade social prevista na Constituição que o
possuidor pretenda beneficiar-se da acessio possessionis para completar os cinco anos de posse.
Não poderá o candidato a usucapião somar o seu prazo ao de quem lhe cedeu a posse, já que os
cinco anos pedem posse pessoal.
Ao inverso, a sucessio possessionis é permitida, pois o que se defere é a proteção à entidade
familiar, e não a um de seus membros isoladamente. Assim, se ao tempo do óbito o sucessor já
residia no local - mesmo que não tenha coabitado desde o início da posse -, não haverá quebra do
período possessório de cinco anos.
(...)
Importa asseverar a inadmissibilidade de uma interpretação literal do dispositivo [artigo 1.243 do
CC), pois a mesma acarretaria ofensa à teleologia de Constituição Federal. Isto é, admitir a acessão
de posses no prazo exíguo de cinco anos, inevitavelmente, sacrifica a exigência de se beneficiar as
entidades familiares, culminando por incentivar práticas puramente comerciais de aquisição e
venda de posses para fins de usucapião.”
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: direitos reais. v. 5, 18 ed.
rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2022, p. 485).
Essa foi também a conclusão exposta no Enunciado n. 317 aprovado na IV Jornada de Direito Civil,
realizada pelo Conselho da Justiça Federal, cujo teor ora se transcreve: “A accessio possessionis de que
trata o art. 1.243, primeira parte, do Código Civil não encontra aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239
e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade da usucapião constitucional urbano e rural,
arts. 183 e 191, respectivamente”.
Distancia-se do escopo constitucional entender-se pela compatibilidade entre o instituto da accessio
possessionis com a usucapião especial urbana, porquanto inarredável o caráter pessoal e humanitário
inerente a essa. Trata-se de modalidade de aquisição da propriedade imóvel singular, com especificidades
próprias, a exemplo do prazo relativamente diminuto, comparativamente aos demais modos, bem assim
a exigência da finalidade precípua de moradia e de o requerente não ser titular de nenhum outro imóvel
urbano ou rural.
Em suma:
Não é possível aproveitar o tempo anterior de posse de terceiros para complementação do quinquênio
necessário à declaração de prescrição aquisitiva no caso de usucapião especial urbana.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.799.625-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 6/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
ALIMENTOS
Em uma execução de alimentos a mãe da criança pode fazer transação com o pai devedor,
dispensando que ele pague uma parte dos valores atrasados
Importante!!!
ODS 16
ECA
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de dezesseis e menores
de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou
processual.
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre
que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de
representação ou assistência legal ainda que eventual.
CC
Art. 1.692. Sempre que no exercício do poder familiar colidir o interesse dos pais com o do filho,
a requerimento deste ou do Ministério Público o juiz lhe dará curador especial.
Em suma:
O fato de os genitores transacionarem sobre parcelas pretéritas dos alimentos devidos à criança ou
adolescente não configura, por si, conflito de interesse entre os representantes legais e o incapaz,
devendo sempre ser analisadas as peculiaridades do caso concreto para avaliar a real necessidade de
nomeação de curador especial.
STJ. 4ª Turma. Processo em segredo de justiça, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 20/6/2023
(Info 12 – Edição Extraordinária).
DIREITO DO CONSUMIDOR
No caso concreto, João comprou um automóvel de Pedro. Vale ressaltar que ainda faltava
Pedro pagar uma parte do financiamento ao banco. João deu uma entrada para Pedro e
assumiu o valor do financiamento que ainda estava pendente de pagamento.
O adquirente realizou a quitação via boleto bancário, recebido pelo vendedor através de e-
mail supostamente enviado pelo banco.
Entretanto, ficou comprovado que o boleto não foi emitido pela instituição financeira, mas sim
por terceiro estelionatário, e o e-mail usado para o envio do boleto também não é de
titularidade do banco.
No caso concreto, a operação foi efetuada, em sua integralidade, fora da rede bancária.
Portanto, não houve falha na prestação dos serviços e a fraude não guarda conexidade com a
atividade desempenhada pelo recorrente, caracterizando-se como fato exclusivo de terceiro.
Logo, o banco não possui responsabilidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.046.026-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
Mesmo assim, para que o banco responda é necessário que se demonstre a existência de um liame de
causalidade entre as atividades desempenhadas pela instituição financeira e o dano vivenciado pelo
consumidor. Esse liame (nexo de causalidade) pode ser interrompido caso evidenciada a ocorrência de:
• fato exclusivo da vítima ou de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC); ou
No caso concreto, o STJ entendeu que houve fato exclusivo de terceiro e que ele não ocorreu na órbita
de atuação do fornecedor
Na hipótese, houve a compra de um automóvel por meio de financiamento obtido junto ao banco.
O adquirente realizou a quitação via boleto bancário, recebido por e-mail supostamente enviado pelo
banco. Entretanto, ficou comprovado que o boleto não foi emitido pela instituição financeira, mas sim por
terceiro estelionatário, e o e-mail usado para o envio do boleto também não é de titularidade do banco.
No caso concreto, a operação foi efetuada, em sua integralidade, fora da rede bancária. Portanto, não
houve falha na prestação dos serviços e a fraude não guarda conexidade com a atividade desempenhada
pelo recorrente, caracterizando-se como fato exclusivo de terceiro.
Em suma:
A emissão, por terceiro, de boleto fraudado, configura fato exclusivo de terceiro apto a excluir a
responsabilidade civil da instituição financeira.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.046.026-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
Em seguida, João descobriu que os documentos eram falsos e que ele havia sido enganado por Regina,
que sumiu com o dinheiro recebido.
João ingressou com ação de indenização por danos morais e materiais contra a Imobiliária Alfa.
A ré contestou alegando que não participou dos fatos e sustentou que Regina não tinha vínculo
empregatício com a imobiliária. Afirmou que os atos praticados por Regina não tiveram relação com a sua
atuação profissional, haja vista que decorreu da relação de amizade que ela construiu com o autor.
Em suma:
A administradora responde objetivamente pela falha na prestação dos serviços de intermediação
imobiliária consubstanciada na venda fraudulenta de imóveis realizada por corretora a ela vinculada.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.893.395-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
PLANO DE SAÚDE
Os planos de saúde são obrigados a fornecer tratamento para combate ao câncer
ODS 16
Assim, a ANS prepara uma lista (um rol) de tratamentos que deverão ser obrigatoriamente fornecidos
pelos planos de saúde.
Vale ressaltar, contudo, que, para o plano de saúde ser compelido a custear, é necessário que esteja
comprovada a eficácia do tratamento ou procedimento, nos termos do § 13, também inserido:
§ 13. Em caso de tratamento ou procedimento prescrito por médico ou odontólogo assistente que
não estejam previstos no rol referido no § 12 deste artigo, a cobertura deverá ser autorizada pela
operadora de planos de assistência à saúde, desde que:
I - exista comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em evidências científicas
e plano terapêutico; ou
II - existam recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema
Único de Saúde (Conitec), ou exista recomendação de, no mínimo, 1 (um) órgão de avaliação de
tecnologias em saúde que tenha renome internacional, desde que sejam aprovadas também para
seus nacionais.
Ainda não se sabe o que o STJ irá decidir depois dessa alteração legislativa.
Voltando ao caso concreto: por que o STJ negou provimento ao recurso do plano de saúde?
O plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão cobertura, mas não o tipo de terapêutica
indicada por profissional habilitado na busca da cura.
Além disso, a natureza taxativa ou exemplificativa do rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)
é desimportante à análise do dever de cobertura de exames e medicamentos para o tratamento de câncer,
em relação aos quais há apenas uma diretriz na resolução normativa.
A propósito, no mesmo sentido “é possível que o plano de saúde estabeleça as doenças que terão
cobertura, mas não o tipo de tratamento utilizado, sendo abusiva a negativa de cobertura do
procedimento, tratamento, medicamento ou material considerado essencial para sua realização de
acordo com o proposto pelo médico. No caso, trata-se de fornecimento de medicamento para tratamento
de câncer, hipótese em que a jurisprudência é assente no sentido de que o fornecimento é obrigatório.”
(STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.941.905/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/11/2021).
Em suma:
A natureza taxativa ou exemplificativa do rol da ANS é desimportante à análise do dever de cobertura
de medicamentos para o tratamento de câncer, em relação aos quais há apenas uma diretriz na
resolução normativa.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 2.057.814-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 29/5/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
PLANO DE SAÚDE
O plano de saúde não está obrigado a custear bomba de insulina
porque se trata de medicamento de uso domiciliar
ODS 16
Os planos de saúde não estão obrigados a cobrir bomba infusora de insulina (e insumos),
equipamento utilizado em ambiente domiciliar, para o controle da glicemia de paciente
diagnosticado com diabetes mellitus do Tipo 1.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl nos EREsp 1.987.778-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
em 3/4/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
O plano de saúde é obrigado a fornecer medicamentos para tratamento domiciliar (remédios de uso
domiciliar)?
REGRA: em regra, os planos de saúde não são obrigados a fornecer medicamentos para tratamento
domiciliar.
Assim, os medicamentos receitados por médicos para uso doméstico e adquiridos comumente em
farmácias não estão, em regra, cobertos pelos planos de saúde. Isso porque, em regra, os planos de saúde
(que integram o Sistema da Saúde Suplementar) somente são obrigados a custear os fármacos usados
durante a internação hospitalar. As exceções ficam por conta dos antineoplásicos orais para uso domiciliar
(e correlacionados), os medicamentos utilizados no home care e os remédios relacionados a
procedimentos listados no Rol da ANS.
Exceção 1: antineoplásicos
Antineoplásicos são medicamentos que destroem neoplasmas ou células malignas. Têm a função,
portanto, de evitar ou inibir o crescimento e a disseminação de tumores. Servem, portanto, para
tratamento de câncer. Existem alguns medicamentos antineoplásicos que são de uso oral e, portanto,
podem ser ministrados em casa, fora do ambiente hospitalar. A lei prevê que esses medicamentos, se
prescritos pelo médico como indicados para o tratamento do paciente, devem ser obrigatoriamente
fornecidos pelo plano de saúde.
Exceção 3: outros fármacos que sejam incluídos pela ANS como sendo de fornecimento obrigatório
A norma do art. 10, VI, da Lei nº 9.656/98 é voltada à operadora de plano de saúde, a qual, na contratação,
pode adotar tal limitação. Esse dispositivo, contudo, não proíbe que a ANS (“órgão regulador setorial”)
inclua determinados medicamentos como sendo de custeio obrigatório no rol de cobertura mínima
assistencial, ainda que sejam de uso domiciliar.
Em suma:
Os planos de saúde não estão obrigados a cobrir bomba infusora de insulina (e insumos), equipamento
utilizado em ambiente domiciliar, para o controle da glicemia de paciente diagnosticado com
diabetes mellitus do Tipo 1.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl nos EREsp 1.987.778-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
3/4/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
PLANO DE SAÚDE
Não é possível a resilição unilateral de contrato de plano de saúde
durante o curso de tratamento médico
ODS 3 E 16
Logo, o parágrafo único do art. 13 da Lei nº 9.656/98 proíbe a rescisão unilateral imotivada do plano
privado de assistência à saúde individual ou familiar por iniciativa da operadora.
Obs: em se tratando de contratos coletivos de plano de saúde com menos de 30 usuários, o STJ entende
que eles se assemelham aos planos individuais ou familiares e, por isso, incide o CDC, obrigando a
operadora a apresentar uma justificativa idônea para validar a rescisão unilateral, tendo em vista o escasso
poder de barganha da estipulante, a vulnerabilidade do grupo de usuários e o necessário respeito aos
princípios da boa-fé e da conservação dos contratos (STJ. 2ª Seção. EREsp 1.692.594/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 12/2/2020).
Exceção: não é possível a resilição unilateral quando realizada durante o tratamento médico que
assegure a sobrevivência ou a preservação da incolumidade física e/ou psíquica do beneficiário
Segundo entendimento dominante no STJ:
A resilição unilateral do plano de saúde revela-se abusiva quando realizada durante o tratamento médico
que possibilite a sobrevivência ou a manutenção da incolumidade física do beneficiário ou dependente,
ainda que superado o prazo a que se refere o art. 30, § 1º, da Lei nº 9.656/98.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.836.823/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/2/2022.
Em regra, a resilição unilateral é válida por se tratar de contrato de trato sucessivo ou execução
continuada, mas é abusiva quando realizada durante o tratamento médico que assegure a sobrevivência
ou a preservação da incolumidade física e/ou psíquica do beneficiário.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AgInt no AREsp 1.995.955-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2023
(Info 12 – Edição Extraordinária).
DIREITO EMPRESARIAL
AVAL
O aval não se equipara à fiança no que diz respeito à possibilidade de usufruir do benefício de
ordem, uma vez que o avalista é um responsável autônomo e solidário
ODS 16
contrato. A empresa tornou-se inadimplente. Diante disso, o Banco ingressou com ação de
execução contra João. O executado apresentou embargos à execução alegando que deveria ser
observado o benefício de ordem, considerando que não se obrigou solidariamente com a
empresa nem renunciou à garantia do benefício de ordem. Assim, João pediu que somente
fosse responsabilizado se não fosse possível obter o valor do patrimônio da empresa.
Os argumentos de João devem ser acolhidos? Não. Isso porque João figurou como avalista (e
não como fiador). No aval, não existe benefício de ordem.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 2.027.935-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 17/4/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
AVAL FIANÇA
Aval é o ato cambial de garantia por meio do qual um Fiança é um tipo de contrato por meio
indivíduo (chamado de “avalista”), mesmo sem ser o do qual um indivíduo (chamado de
devedor principal, se compromete a pagar o valor do “fiador”) assume o compromisso junto
título de crédito. ao credor de que irá satisfazer a
“O aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) obrigação assumida pelo devedor, caso
se compromete a pagar título de crédito, nas mesmas este não a cumpra (art. 818 do Código
condições que um devedor desse título (avalizado).” Civil).
(COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol.
1. 16ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 539).
É uma garantia cambial. É uma garantia civil.
Significa que é regida pelo regime jurídico cambial.
É considerada uma obrigação autônoma. É uma obrigação acessória.
Assim, ainda que a obrigação garantida seja nula, em
regra, continua válida a obrigação do avalista. Exceção:
se a nulidade da obrigação garantida decorrer de vício de
forma, não permanecerá a obrigação do avalista.
Não admite o benefício de ordem. Admite o benefício de ordem.
Assim, o avalista pode ser acionado juntamente com o Assim, em regra, a responsabilidade do
avalizado porque existe responsabilidade solidária. fiador é subsidiária. Todavia, é possível
(e muito comum) que haja a previsão
Benefício de ordem
A jurisprudência do STJ possui entendimento consolidado no sentido de que o aval não se equipara à
fiança para o fim de admitir o benefício de ordem, uma vez que o avalista constitui um responsável
autônomo, de sorte que é garantia dotada de autonomia substancial, na qual a sua existência, validade e
eficácia não estão ligadas à obrigação avalizada.
No caso concreto, João figurou como avalista no título executivo. Conforme já explicado, o aval é ato
cambiário por meio do qual uma pessoa (avalista) garante o pagamento de um título em favor do devedor
principal ou de um coobrigado. Assim sendo, é uma garantia pessoal e autônoma, oferecida como reforço
a obrigação de alguém que já figura no título, de modo que não se aplica o benefício de ordem.
Em suma:
O aval não se equipara à fiança no que diz respeito à possibilidade de usufruir do benefício de ordem,
uma vez que o avalista é um responsável autônomo e solidário.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 2.027.935-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 17/4/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
DUPLICATA
O posto de gasolina utilizava máquinas de cartão de crédito de uma instituição credenciadora;
um terceiro deu um golpe no posto utilizando uma máquina adulterada; o posto emitiu uma
duplicata contra a instituição cobrando o prejuízo; o STJ decidiu que isso não é possível
ODS 16
Ocorre que o Posto foi vítima de uma fraude cometida por um terceiro que trocou a máquina de cartão
utilizada pelos frentistas por uma outra máquina que o fraudador vinculou a uma conta não pertencente
ao Posto. Assim, os clientes passavam o cartão, mas o dinheiro ia para uma conta vinculada ao fraudador.
O Posto, depois que descobriu a fraude, emitiu uma duplicata em desfavor da Stone cobrando o valor do
prejuízo sofrido. A Stone resolveu pagar a duplicata e depois discutir em juízo.
As transações fraudulentas ocorreram de 11 a 14 de março, totalizando a quantia de R$ 57.037,00, mas
como a Stone agiu logo que soube do golpe, o fraudador recebeu “apenas” o R$ 21 mil, sendo o restante
bloqueado.
A Stone acredita que não tem responsabilidade pelo prejuízo, pois tomou todas as medidas cabíveis de
segurança quando soube do golpe. Diante disso, ingressou com ação declaratória de nulidade do título
(duplicata) e restituição de valor contra o posto de combustíveis.
Alega que quitou equivocadamente o título e requer a nulidade da duplicada emitida sem justo motivo
com a restituição do valor pago.
A requerida contestou e aduziu, em síntese, a regularidade da duplicada emitida.
Em pedido reconvencional, requereu a indenização dos prejuízos sofridos, em caso de declaração da
nulidade da duplicada. Afirmou que a autora falhou ao prestar os serviços contratados, causando-lhe
prejuízo.
O Juízo a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na ação principal e extinguiu sem resolução
do mérito a reconvenção por falta de interesse de agir.
De acordo com o Juiz de origem, é responsabilidade da autora enquanto operadora fiscalizar a operação
do sistema e coibir possíveis fraudes.
A Stone interpôs apelação sustentando que a forma como o cliente utiliza a sua máquina é de sua exclusiva
responsabilidade. Alega que apenas quitou o título pois foi induzida a erro e para evitar que fosse inscrita
nos órgãos de proteção de crédito, o que geraria enormes prejuízos a clientes e fornecedores.
O TJSP e negou provimento a apelação da autora, mantendo a sentença.
A Stone interpôs recurso especial alegando que o posto de gasolina emitiu duplicata fora das hipóteses
legais.
Com menos razão ainda o posto de gasolina poderia ter se utilizado da emissão de duplicata para cobrar
da instituição credenciadora um suposto crédito resultante de responsabilidade civil.
Em suma:
A emissão de duplicata não constitui via adequada para a cobrança, da instituição credenciadora, de
crédito titularizado por comerciante que aceita instrumentos de pagamento (cartões) na comercialização
de produtos e serviços e que, em virtude de fraude praticada por terceiro, deixa de recebê-lo.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.036.764-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
CHEQUE
Ocorrida a prescrição cambial, o cheque perde os atributos cambiários
ODS 16
“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete efetuar pessoalmente
o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse terceiro deverá ser um banco,
no qual o criador do cheque deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o
pagamento das ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre
no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon.
Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).
Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele que tem o
direito de receber o valor escrito no cheque.
Título executivo
O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015). Assim, se não for pago, o portador do
cheque poderá ajuizar ação de execução contra o emitente e eventuais codevedores (endossantes,
avalistas). Essa ação de execução é conhecida como “ação cambial”.
Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para pagamento ao
sacado, desde que não esteja prescrito.
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança?
SIM. Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque. Diz-se que o
cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim, o beneficiário poderá cobrar o valor desse
cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art. 61 da Lei do Cheque
(Lei nº 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da
ação executiva.
2) Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de 5 anos, nos termos
do art. 206, § 5º, I, CC.
3) Ação monitória.
Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado do emitente por
meio de ação monitória?
SIM. O beneficiário do cheque poderá ajuizar uma ação monitória para cobrar do emitente o valor
consignado na cártula. Existe até uma súmula que menciona isso: Súmula 299-STJ: É admissível a ação
monitória fundada em cheque prescrito.
Os princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego comercial e à
circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito (aparentemente válido) pudesse ficar
sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por conta de uma quitação que não consta na cártula,
isso geraria um enorme risco ao portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.
Contestação
Maria contestou a demanda alegando que os cheques foram emitidos para pagamento de um serviço que
não foi realizado.
Assim, como a parte contratada não cumpriu sua obrigação, ela afirmou que tem o direito de sustar os
cheques e não pagar a quantia que está ali prevista.
O que Maria alegou foi aquilo que, em direito cambiário, é chamado de “exceção pessoal”.
Assim, se Mário já havia passado a nota promissória para Juliana, uma terceira pessoa, e ela estava de
boa-fé, Juliana poderá executar o título cobrando o valor de Pedro. Este, coitado, ficará com o celular
quebrado e terá que pagar o valor do título para Juliana. Obviamente que, depois, Pedro poderá tentar
cobrar de Mário aquilo que foi pago. No entanto, repito, não poderá invocar contra Juliana sua exceção
pessoal porque o título circulou e agora encontra-se com alguém considerado terceiro de boa-fé.
Em suma:
É possível a oposição de exceção pessoal ao portador de cheque prescrito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.968-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/10/2019 (Info 658).
Se o cheque estiver prescrito e, por conseguinte, extintas suas características cambiárias, a pretensão se
fundará no fato jurídico que precedeu e motivou a sua emissão, impedindo que uma parte enriqueça de
forma indevida à custa da outra.
Ocorrida a prescrição cambial, o cheque perde os atributos cambiários, sendo possível, na ação monitória,
a discussão do negócio jurídico subjacente e a oposição de exceções pessoais a portadores precedentes
ou ao próprio emitente do título.
Com a oposição de embargos monitórios, o rito torna-se comum, admitindo a discussão de todas as
matérias pertinentes à dívida, como valores, encargos, inexigibilidade ou até mesmo a própria
legitimidade da obrigação, sendo imperioso que o juiz cumpra o saneamento do processo.
CÉDULAS DE CRÉDITO
Na execução de CPR, mesmo em formato cartular, em regra,
não é necessário que o credor apresente o título original
Mudança de entendimento
Títulos de crédito
O título de crédito é um documento por meio do qual se prova que existe uma obrigação entre o(s)
credor(es) e o(s) devedor(es), nos termos do que ali está escrito.
O conceito tradicional de título de crédito foi dado há décadas por um jurista italiano chamado Cesare
Vivante: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele
contido ou mencionado”.
Essa definição foi adotada pelo CC-2002:
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
Os títulos de crédito são muito importantes para a economia porque eles facilitam a obtenção e a
circulação do crédito, além de conferirem maior segurança para os credores. Ex: se a pessoa quer comprar
uma mercadoria, mas não tem dinheiro no momento, ela poderá assinar uma nota promissória e entregá-
la ao vendedor, comprometendo-se a pagar a quantia em 30 dias. Houve a concessão de um crédito de
forma simplificada e o credor terá em mãos uma garantia de pagamento. Com isso, mais negócios podem
ser realizados.
Títulos rurais
Existem alguns títulos de crédito que são gerais e mais conhecidos, como é o caso da letra de câmbio,
duplicata, cheque etc.
No entanto, a experiência mostrou que seria interessante que fossem criados alguns títulos de crédito
com características específicas, para facilitar as negociações envolvendo determinados setores da
economia.
Em suma, verificou-se a necessidade de criar títulos de crédito específicos para algumas transações
empresariais.
No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro títulos de crédito específicos, chamados
de “títulos rurais”. São eles:
a) Cédula de crédito rural;
b) Cédulas de produto rural;
c) Nota promissória rural;
d) Duplicata rural.
A exigência do devedor para que o credor apresente o título original, despida de qualquer outro
argumento, deverá ser aceita pelo juiz?
NÃO. O entendimento atual do STJ é no sentido de que:
Na execução de Cédula de Produto Rural em formato cartular, a exigência de apresentação do título
original somente deve ocorrer diante de alegação concreta e motivada pelo devedor da falta de
exigibilidade, liquidez e certeza do título.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.013.526-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Moura Ribeiro,
julgado em 28/2/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
Antigamente, a jurisprudência exigia que o credor apresentasse o título porque não havia como
reproduzir-se igual e porque sua posse pelo credor, originário ou circulado, era a única prova documental
possível da existência da obrigação.
Nos tempos atuais, contudo, os documentos são arquivados em meio eletrônico e a reprodução tem o
mesmo valor do título, fazendo a mesma prova que o original (art. 425, VI, do CPC/2015):
Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:
(...)
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular, quando juntadas
aos autos pelos órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pela
Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por
advogados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração.
Embora o credor possa endossar o título para terceiros, ele tem a obrigação legal de manter a posse do
original até o prazo limite para a propositura da ação rescisória. Além disso, o § 2º do art. 425 permite que
o juiz determine o depósito da cópia digital do título executivo extrajudicial no cartório ou secretaria:
Art. 425 (...)
§ 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou de documento relevante à
instrução do processo, o juiz poderá determinar seu depósito em cartório ou secretaria.
Com base nessas disposições legais, conclui-se que a exigência de apresentar o título original deve ocorrer
somente quando o devedor alegar de forma concreta e fundamentada a falta de exigibilidade, liquidez e
certeza do título. A falta de contestação em relação à circulação da Cédula de Produto Rural, ou a
possibilidade de execução duplicada, são consideradas formalidades desnecessárias que prejudicam a
celeridade da prestação jurisdicional.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
No caso de ato ilícito continuado, a prescrição não afeta as ocorrências posteriores ao marco
temporal prescricional para a tutela reparatória e inibitória, abrangendo apenas o período anterior
ODS 16
Ao longo de todo o período de comercialização, os respectivos produtos sempre tiveram identidade visual
própria, amplamente conhecida:
Apesar de todos esses fatos, a UNILEVER tomou conhecimento de que a empresa NEILAR IND. E COM. DE
ALIMENTOS LTDA lançou no mercado um produto semelhante que vem sendo comercializado sob o nome
“MAISCERTA” em embalagem com idêntica identidade visual:
A UNILEVER entendeu que o produto lançado pela NEILAR objetivava “pegar carona” no sucesso da marca
tradicional e assim angariar clientela.
Diante desse cenário, UNIVELER ingressou com ação cominatória cumulada com indenização por perdas
e danos em face da empresa NEILAR.
Ao final, formulou, entre outros, os seguintes pedidos:
(1) que a requerida fosse compelida a se abster de fabricar, comercializar, divulgar ou utilizar a qualquer
título os produtos MAISCERTA na forma atual ou sob qualquer padrão visual que se assemelhe ou
confunda com a embalagem da MAIZENA, sob pena de multa diária de R$50.000,00;
(2) a requerida fosse condenada a compor as perdas e danos patrimoniais, inclusive os lucros cessantes,
sofridos pelas Autoras em decorrência da prática de atos de concorrência desleal, a serem apurados em
liquidação de sentença, nos moldes do disposto nos artigos 208 a 210 da LPI;
(3) a requerida fosse condenada a ressarcir as Autoras pelos danos morais oriundos da prática do ato
ilícito, em valor não inferior a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
A ação foi proposta em 07/11/2019 perante a 1ª Vara Empresarial da Comarca de São Paulo/SP.
Citada, a requerida apresentou contestação.
Entre outros fundamentos, alegou a prescrição da pretensão.
De acordo com a peça defensiva, os prazos prescricionais para a arguição da pretensão de abstenção de
uso da marca e reparação por danos causados pelo suposto uso indevido seriam de 10 anos e 5 anos,
respectivamente, conforme previsão no art. 205 do CC e art. 225 da Lei nº 9.279/96.
A questão chegou até o STJ. Para o Tribunal, a pretensão está realmente prescrita?
NÃO.
No caso, verifica-se a existência de relação de trato continuado, em que há um ilícito relativo ao conjunto-
imagem (trade dress), com embalagens semelhantes para dois produtos que exploram a mesma atividade
econômica, o mesmo nicho de mercado consumidor.
Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos que caracterizam um
produto, um serviço ou um estabelecimento comercial fazendo com que o mercado consumidor os
identifique. É o conjunto de caraterísticas visuais que forma a aparência geral de um produto ou serviço.
O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente diversas características da marca
concorrente (normalmente a líder do mercado) com o objetivo de confundir o público e angariar vendas
com base na fama da marca copiada.
A proteção jurídica que se dá ao trade dress existe para se combater a utilização indevida de elementos e
caracteres que, relacionados à marca, personalizam e distinguem produtos e serviços ofertados no
mercado, a exemplo de embalagens, cores, designs, desenhos, decorações, dentre outros - os quais, por
vezes, não integram o registro dessa marca, mas possuem alto poder de influência na liberdade volitiva
dos consumidores.
A finalidade precípua de tal amparo legal é coibir confusão e má associação por parte do público
consumidor, garantindo, por outro lado, o exercício da livre concorrência.
Trata-se de um ato lesivo continuado tanto para a tutela reparatória requerida na ação como também
para a tutela inibitória quanto ao uso de embalagem semelhante àquela já registrada anteriormente.
Esse ilícito se renova mês a mês. Se tivesse cessado a prática, contar-se-ia a prescrição e, findo o prazo
prescricional a partir do momento em que interrompida a prática, ter-se-ia a incidência da prescrição a
fulminar a própria pretensão inibitória, pois relativa a um período já ultrapassado no tempo, mas, no caso,
periodicamente, continua a ocorrer o ilícito.
Verifica-se que a prescrição afeta apenas o período antecedente ao marco temporal prescricional, mas
não as ocorrências registradas em período mais recente e, portanto, não alcançado pelo lapso
prescricional.
A prescrição não tem o condão de tornar lícita uma atuação que a lei repudia. Nessas condições, deve ser
afastada a prescrição quanto ao pleito inibitório.
Em suma:
No caso de ato ilícito continuado, a prescrição não afeta as ocorrências posteriores ao marco temporal
prescricional para a tutela reparatória e inibitória, abrangendo apenas o período anterior.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.107.167-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão Min.
Raul Araújo, julgado em 7/3/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia registrada (art. 124, XIX), é a data da
violação do direito à propriedade industrial e se renova enquanto houver o indevido uso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1320842-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2013 (Info 524).
CONTRATOS EMPRESARIAIS
Não é razoável exigir prestação de contas detalhadas sobre investimentos do extinto Fundo 157
quando ausente a especificação do valor investido e do período em questão
ODS 16
1) demonstre em quais ações e debêntures foram aplicados os valores, quais foram os rendimentos dos
títulos e demais valorizações;
2) pague eventuais valores que sejam devidos ao autor decorrentes dos investimentos realizados.
O Fundo 157, criado pelo Decreto-Lei n. 157/1967, permitia que os contribuintes direcionassem parte do
imposto devido na declaração do Imposto de Renda para aquisição de quotas de fundos administrados
por instituições financeiras. Esse benefício fiscal vigorou de 1967 a 1983, com o objetivo de promover o
mercado de capitais brasileiro.
A Resolução nº 49/1967, do Conselho Monetário Nacional, regulamentou a administração desses
recursos, determinando que fossem administrados por meio de fundos de investimento. O aporte de
recursos no Fundo 157 era feito por meio da aquisição de certificados de compra de ações, e a instituição
financeira responsável podia adquirir ações ou debêntures emitidas por empresas que atendiam aos
requisitos legais. Após várias mudanças, o benefício fiscal foi revogado em 1983, e os fundos foram
transformados em fundos mútuos de investimento ou incorporados a fundos mútuos de ações, conforme
determinações do Conselho Monetário Nacional (CVM). A regulamentação atual dos fundos de
investimento é estabelecida pela Instrução CVM n. 555/2014.
No caso, a parte autora requereu que o banco fosse compelido a prestar as contas do investimento por
ele feito no Fundo 157, na forma do art. 551 do CPC, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas
e os investimentos. Todavia, trata-se de inicial padronizada, na qual não há indicação do valor aplicado e
o ano (ou anos) em que feita a aplicação. No genérico pedido, deixa claro que também não sabe - ele
próprio - se já sacou total ou parcialmente o valor investido.
Como se trata de um investimento relacionado à própria declaração de imposto de renda, não é razoável
exigir que a atual instituição financeira administradora do Fundo de Ações forneça informações acerca do
valor investido em uma data imprecisa (entre 1967 e 1983) para fins de abatimento do imposto de renda
devido. Além disso, o autor não apresenta motivo para ter dúvidas sobre o número de cotas e valores
correlacionados ao seu CPF, conforme extrato da CVM.
Portanto, não há necessidade concreta de intervenção do Poder Judiciário para obter prestação de contas
sobre investimentos não especificados pelo autor em uma data não informada. Embora as contas
prestadas pela instituição financeira não reproduzam mensalmente a evolução do fundo e não tenham
sido prestadas de forma mercantil, elas apresentam o valor nominal e o número de cotas do autor, de
forma cronologicamente viável.
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
A data-base da apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade por tempo indeterminado
corresponde ao momento em que o sócio retirante deixa de contribuir para a atividade
ODS 16
Apuração de haveres
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento
denominado de apuração de haveres e que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599, III, do CPC 2015.
Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota,
considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em
contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em
balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor
da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação,
salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Para que o sócio exerça seu direito de retirada é indispensável a propositura de ação judicial?
Depende:
• Se a sociedade empresária for por prazo determinado: SIM. Isso porque o Código Civil exige que ele
prove uma justa causa (art. 1.029).
• Se a sociedade empresária for por prazo indeterminado: NÃO. O sócio precisará apenas notificar
extrajudicialmente os demais sócios com antecedência mínima de 60 dias (art. 1.029). Caso ele não
concorde com os valores que a sociedade quer lhe pagar a título de apuração de haveres, poderá propor
ação para discutir apenas isso.
Ficou, contudo, uma dúvida: o valor que Henrique irá receber relativo às suas cotas sociais deverá ser
calculado com base na data da efetiva saída (30/11/2009) ou tendo como referência o dia em que
transitou em julgado a sentença (02/02/2012)?
A data da efetiva saída. Conforme decidiu o STJ:
A data-base da apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade por tempo indeterminado
corresponde ao momento em que o sócio retirante deixa de contribuir para a atividade.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.372.139-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 28/2/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
Então, segundo o caput do art. 1.031 do CC, a liquidação da quota será feita com base na situação
patrimonial da sociedade na “data da resolução”.
A controvérsia é a respeito da interpretação da expressão "data da resolução" na apuração dos valores de
um sócio retirante em uma dissolução parcial de uma sociedade por tempo indeterminado. A dúvida é se
essa data é a efetiva saída do sócio ou o trânsito em julgado da sentença de exclusão.
Na dissolução parcial, o desafio é calcular o valor a ser pago ao sócio retirante. Em sociedades por prazo
indeterminado, a data da saída efetiva do sócio é considerada o ponto de corte para a apuração dos
valores. Após a saída, eventuais prejuízos são suportados exclusivamente pelos sócios que optam por
continuar na empresa.
A data que serve como referência para o cálculo corresponde ao momento em que o sócio retirante deixa
de contribuir para a atividade e de assumir os riscos do negócio. Corresponde também ao momento em
que, por consequência, o sócio retirante deixa de receber os benefícios da atividade quando não tem mais
responsabilidade pelos ônus dessa mesma atividade.
Destaque-se que, diferentemente de uma sociedade de capital, que privilegia o aspecto patrimonial da
relação societária em detrimento das relações pessoais entre os sócios, na sociedade de pessoas
predomina o caráter intuitu personae. As características pessoais e indissociáveis do sujeito que ocupa a
posição de sócio importam mais do que a sua contribuição patrimonial às finalidades da sociedade
propriamente dita. Nesse tipo de sociedade, o sócio, pessoa dotada de atributos singulares e
personalíssimos, é, em regra, insubstituível.
A jurisprudência do STJ já estabelecia, antes do CPC/2015, que a data-base para a apuração dos valores é
quando o sócio manifesta a intenção de se retirar da sociedade limitada por tempo indeterminado,
considerando-se o decurso do prazo de 60 dias após a notificação da retirada aos demais sócios (art. 1.029
do CC/2002).
Na dissolução parcial de uma sociedade por prazo indeterminado, a sentença apenas declara a dissolução,
não a desconstitui. Portanto, os efeitos retroagem à data real do desligamento do sócio da sociedade.
Os valores devidos ao ex-sócio, espólio ou sucessores serão integrados até a data estabelecida para a
resolução da sociedade, incluindo os lucros, juros sobre o capital próprio e, se aplicável ao caso, inclui-se
a remuneração pela participação na administração social. Após essa data, incidem apenas correção
monetária e juros contratuais ou legais.
Por fim, os juros legais começam a contar a partir da citação, quando a sociedade e os demais sócios são
considerados em mora. O prazo de tolerância estabelecido no § 2º do art. 1031 do Código Civil, de 90 dias
após a liquidação dos valores, permite à sociedade levantar os recursos necessários para pagar a parte do
sócio retirante, desde que a apuração e o pagamento ocorram sem litígio judicial.
DOD PLUS – JULGADO CORRELATO QUE TEVE RESULTADO DIFERENTE POR CONTA DAS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO
Momento em que se considera dissolvida a sociedade empresária para fins de apuração de haveres
Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce o direito
de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para
apuração de haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/02.
STJ. 3ª Turma. REsp 1602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/12/2016 (Info 595).
FALÊNCIA
A decisão do Juiz do Trabalho desconstituindo a personalidade jurídica da empresa
não significa, por si só, usurpação da competência do juízo falimentar
ODS 16
A mera decisão de desconstituição da personalidade jurídica pela Justiça trabalhista, por si só,
não enseja o reconhecimento de usurpação da competência do juízo falimentar, porque não
atinge direta e concretamente os bens da massa falida. Ao contrário, é medida secundária que
se limita a estender a responsabilidade trabalhista aos sócios e/ou outras empresas do grupo.
A Lei de Falências não retira de outros juízos a possibilidade de instauração de incidentes de
desconsideração da personalidade jurídica ou de reconhecimento da existência de grupo
econômico.
Após as alterações promovidas pela Lei nº 14.112/2020, em especial quanto ao princípio da
cooperação, inexiste conflito de competência quando da constrição de bens pela Justiça
especializada, cabendo ao juízo da recuperação exercer o controle sobre o ato constritivo do
outro juízo que diga respeito a bens da massa e, para tanto, valer-se, se necessário, da
cooperação judicial prevista no art. 69 do CPC.
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 190.942-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 30/5/2023 (Info
12 – Edição Extraordinária).
Em 2019, a falência foi estendida para as empresas TOTAL S/A (“TOTAL”) e RIO GRANDE S/A (“RIO
GRANDE”), sendo concedida a continuação provisória.
A empresa TOTAL cedeu, à título gratuito, o imóvel industrial a empresa RIO GRANDE.
No início de 2020, no interregno da continuidade provisória das atividades, a empresa RIO GRANDE
contratou cerca de 300 funcionários e, meses depois, demitiu todos os 300 funcionários, sem o pagamento
das verbas trabalhistas.
A empresa GOLDEN IMEX S/A, arrendou a planta industrial originalmente ocupada pela empresa RIO
GRANDE S/A, juntamente com todos os equipamentos necessários à produção, recontratando parte dos
funcionários que prestavam serviços no antigo empreendimento.
O contrato de arrendamento foi homologado pelo JUÍZO DA FALÊNCIA.
Em maio de 2020 a massa de trabalhadores demitidos pela RIO GRANDE, na busca de seus direitos, passou
a ajuizar, individualmente, reclamatórias trabalhistas.
O Juízo Trabalhista reconheceu a sucessão entre as empresas e incluiu a GOLDEN IMEX LTDA como
responsável solidária pelo débito trabalhista, nos termos do art. 448-A da CLT.
Na decisão trabalhista não houve penhora ou constrição de bens das empresas em falência.
A GOLDEN IMEX LTDA ingressou com conflito de competência alegando que o JUÍZO TRABALHISTA invadiu
a competência exclusiva e absoluta do JUÍZO DA FALÊNCIA por responsabilizá-la pelo pagamento das
verbas trabalhista, uma vez que eventual sucessão deveria ser decidida pelo juízo falimentar.
Defendeu que o arrendamento da planta frigorífica foi autorizado e homologado pelo Juízo da falência e,
em consequência, é competência exclusiva desse Juízo decidir pela ocorrência da sucessão empresarial.
Súmula 581-STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e
execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial,
real ou fidejussória.
No mesmo sentido:
Não caracteriza conflito de competência a determinação feita pelo Juízo do Trabalho de instauração de
incidente de desconsideração da personalidade jurídica da empresa em recuperação judicial ou falida,
direcionando os atos de execução provisória para os sócios da suscitante. Isso porque, em princípio, salvo
decisão do Juízo universal em sentido contrário, os bens dos sócios ou de outras sociedades do mesmo
grupo econômico da devedora não estão sujeitos à recuperação judicial ou à falência.
STJ. 2ª Seção. AgInt nos EDcl no CC 172.193/MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 30/3/2021.
Aliás, vale lembrar ainda que em nenhum momento a Lei de Falências retira de outros juízos a
possibilidade de instauração de incidentes de desconsideração da personalidade jurídica ou de
reconhecimento da existência de grupo econômico.
Não bastasse isso, registre-se que o STJ tem decidido que, após as alterações promovidas pela Lei nº
14.112/2020, em especial quanto ao princípio da cooperação, não se configura mais conflito de
competência quando a decisão já determinou a constrição judicial sobre o patrimônio da empresa em
recuperação (CC 181.190/AC, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em
30/11/2021, DJe 7/12/2021), cabendo ao juízo da recuperação exercer o controle sobre o ato constritivo
e, para tanto, valer-se, se necessário, da cooperação judicial prevista no art. 69 do CPC. Referido
precedente, embora trate de execução fiscal, é plenamente adequado ao aqui exposto, especialmente por
trazer, de forma didática, a mudança na jurisprudência introduzida pela nova lei.
FALÊNCIA
A certidão expedida em feito executivo, na forma do art. 94, § 4º, da Lei 11.101/2005 enseja a
presunção legal da insolvência do devedor e não cabe exigir do credor a prova dessa
circunstância fático-jurídica
ODS 16
I — o próprio devedor;
(Obs.: é a chamada autofalência.)
IV — qualquer credor.
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)
II — Execução frustrada
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra
estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está
em falência. Adotou-se, neste inciso, o chamado critério da enumeração legal.
De posse dessa certidão, a credora, com fundamento no art. 94, II c/c art. 97, IV, da Lei nº 11.101/2005,
formulou pedido de falência da empresa Beta.
O pedido de falência foi distribuído para a 1ª Vara de Falências.
Citada, a empresa Beta contestou o pedido.
Alegou, entre outros fundamentos, que não seria possível a formulação de pedido de falência na
pendência de ação executiva, pois, no seu entender, não se admitiria a coexistência de execução singular
e execução coletiva com base no mesmo título e contra o mesmo devedor. Em outras palavras, o credor
deveria optar por uma ou por outra. Se optar pela falência, deve comprovar que desistiu da execução
mediante apresentação de sentença prolatada pelo juízo competente.
Em outra frente, afirmou que o princípio da preservação da empresa não permite que o pedido de falência
seja utilizado como mero instrumento de coação para a cobrança de dívidas. Como fundamento dessa
alegação, sustentou que o credor não se desincumbiu de demonstrar a existência de outros credores, nem
do alegado estado de insolvência da empresa.
Segundo a jurisprudência do STJ, a certidão expedida na forma prevista no referido dispositivo legal (art.
94, II e § 4º) enseja a presunção legal da insolvência do devedor, sendo descabido exigir do credor a prova
dessa circunstância fático-jurídica.
Portando, a conclusão da sentença diverge do entendimento consolidado do STJ.
Em suma:
A certidão expedida em feito executivo, na forma do art. 94, II, § 4º, da Lei nº 11.101/2005 enseja a presunção
legal da insolvência do devedor e não cabe exigir do credor a prova dessa circunstância fático-jurídica.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.681.533-GO, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 24/4/2023
(Info 12 – Edição Extraordinária).
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A Assembleia Geral de Credores pode estabelecer um novo limite para atualização dos créditos,
desde que conste de forma expressa no plano de soerguimento
ODS 16
Recuperação judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá
conter:
(...)
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação
judicial, sua origem e classificação;
Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data do pedido de
recuperação judicial. Isso significa dizer que todos os créditos serão necessariamente atualizados até a
data do pedido de recuperação judicial. A partir de então, poderá o plano deliberar modificação das
condições originalmente contratadas, impedindo a fluência de juros e correção monetária após o
requerimento de recuperação judicial.
Um dos credores dessa empresa é João, que detinha crédito trabalhista definitivamente constituído em
10/04/2018 (após o deferimento do pedido de RJ), no valor de R$8.140,19.
De posse da certidão expedida pela Justiça do Trabalho, João requereu a habilitação de seu crédito na
recuperação judicial.
O pedido foi submetido a perícia contábil, que apurou que o montante a ser habilitado seria R$11.976,53,
que correspondia ao valor indicado na certidão emitida pelo juízo trabalhista (Cláusula 8.1, do plano)
devidamente corrigido.
Vale ressaltar que o perito levou em consideração o dia 10/04/2018 como sendo a data final de correção
monetária.
A UNIALCO discordou dessa perícia. No seu entender, as cláusulas do plano deveriam ser interpretadas na
forma do art. 9º, II, da Lei 11.101/2005, ou seja, o crédito a ser habilitado seria aquele atualizado até a
data do pedido de recuperação judicial, que era 13/11/2015.
Vamos entender com calma.
Primeira pergunta: a previsão do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005 consiste em norma de caráter cogente,
a impedir a adoção de outra forma de atualização do crédito, ou é possível que o plano de soerguimento
estabeleça um novo critério de atualização?
A Assembleia Geral de Credores pode estabelecer um novo limite para atualização dos créditos, desde
que conste de forma expressa no plano de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.936.385-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/3/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
Contudo, é perfeitamente possível que o plano de soerguimento estabeleça, em relação à atualização dos
créditos, norma diversa daquela prevista no art. 9º, II, da referida lei, sobretudo pelo caráter contratual
da recuperação judicial, tanto que o respectivo plano implica novação da dívida, podendo o devedor e o
credor renegociar o crédito livremente.
O referido dispositivo legal estabelece um parâmetro mínimo para atualização dos créditos que serão
habilitados no plano, isto é, a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial.
A Assembleia Geral de Credores, portanto, tem liberdade para estabelecer um novo limite de atualização
dos créditos desde que seja para beneficiar os credores, não podendo fixar uma data anterior ao pedido
de recuperação judicial. Nesse ponto, o art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005 é norma cogente, pois estabelece
uma proteção mínima aos credores no tocante à atualização dos valores devidos.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
O que acontece com a execução de título executivo extrajudicial ajuizada pelo credor contra a
empresa em recuperação e os coobrigados na hipótese em que o titular do crédito concorda
com a cláusula de supressão das garantias inserta no plano de recuperação?
ODS 16
A cláusula que prevê a supressão das garantias somente é eficaz em relação ao credor titular
da garantia que com ela concordar expressamente, o que ocorreu no caso em análise.
No que respeita à sociedade em recuperação judicial, com a aprovação do plano e a
consequente novação dos créditos, a execução contra ela ajuizada deve ser extinta.
No que tange aos coobrigados, a execução deverá ficar suspensa.
No caso de descumprimento do plano dentro do prazo de fiscalização judicial, o credor poderá
requerer a convolação da recuperação judicial em falência. Os credores terão seus direitos e
garantias reconstituídos nas condições originalmente contratadas, de modo que a execução
contra os coobrigados, antes suspensa, poderá prosseguir.
No caso de o descumprimento do plano se dar após o prazo de fiscalização judicial, a novação
torna-se definitiva, cabendo ao credor requerer a execução específica do plano (título
executivo judicial) ou pedir a falência do devedor, situação em que a execução contra o
coobrigado deve ser extinta.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.899.107-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2023 (Info
12 – Edição Extraordinária).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.349/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014 (recurso repetitivo
– Tema 885.
Recurso especial
Os executados (SULTEPA, RONALDO e RICARDO) interpuseram recurso especial alegando que a pretensão
seria a de extinguir a execução, na forma do art. 59, da Lei nº 11.101/2005, e não suspender a execução,
como determinado no acórdão.
Pediram, portanto, a extinção da execução.
Situação 1
Situação 2
No caso de descumprimento do plano dentro do prazo de fiscalização judicial, o credor poderá requerer a
convolação da recuperação judicial em falência, nos termos dos arts. 61, § 1º, e 73, IV, da LREF e os
credores terão seus direitos e garantias reconstituídos nas condições originalmente contratadas (art. 61,
§ 2º, da LREF). Em outras palavras, a novação será revertida:
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá determinar a manutenção
do devedor em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as obrigações previstas no
plano que vencerem até, no máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial,
independentemente do eventual período de carência.
§ 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer
obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do
art. 73 desta Lei.
§ 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos
validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.
Assim, o credor vai se habilitar na falência pelo valor original do crédito e nada obsta que prossiga na
execução contra os coobrigados, com base no título executivo que teve suas garantias restabelecidas,
ainda que originalmente tenha aderido à cláusula de supressão. Ficam ressalvadas, porém, as hipóteses
em que o bem dado em garantia foi alienado ou substituído.
No caso de descumprimento do plano dentro do prazo de fiscalização judicial, o credor vai se habilitar
na falência pelo valor original do crédito e nada obsta que prossiga na execução contra os coobrigados,
com base no título executivo que teve suas garantias restabelecidas, ainda que originalmente tenha
aderido à cláusula de supressão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.899.107-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
Situação 3
Já no caso de o descumprimento do plano se dar após o prazo de fiscalização judicial, a novação torna-se
definitiva, nos termos do art. 62 da Lei nº 11.101/2005, cabendo ao credor requerer a execução específica
do plano (título executivo judicial) ou a falência com base no art. 94, III, “g”, da Lei nº 11.101/2005.
Art. 62. Após o período previsto no art. 61 desta Lei, no caso de descumprimento de qualquer
obrigação prevista no plano de recuperação judicial, qualquer credor poderá requerer a execução
específica ou a falência com base no art. 94 desta Lei.
Nessa situação, a princípio, não será mais possível a execução dos coobrigados diante da consolidação da
novação.
Conclusão
Nesse contexto, a execução deve ser extinta somente em relação à recuperanda e permanecer suspensa
em relação aos coobrigados até o final do período de fiscalização judicial.
COMPETÊNCIA
Compete à 1ª ou a 2ª Turma do STJ julgar recurso especial discutindo
a indenização do art. 59, I, da Lei 8.630/93 (atualmente revogada)
Compete às Turmas integrantes da Primeira Seção do STJ julgar recursos que tenham por
objeto a indenização do art. 59, I, da Lei nº 8.630/93, decorrente do cancelamento da inscrição
profissional dos trabalhadores portuários avulsos, desvinculados do sistema pela Lei de
Modernização dos Portos.
STJ. Corte Especial. CC 179.005-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/2/2023 (Info 12
– Edição Extraordinária).
Mencionado dispositivo legal previa, ainda, que essa indenização seria paga com recursos do Fundo de
Indenização do Trabalhador Portuário – FIFT.
Durante a vigência dessa lei, João laborou como trabalhador avulso, porém o OGMO não reconheceu
formalmente vínculo.
Em razão disso, esse trabalhador ingressou com reclamação trabalhista, que foi julgada procedente, sendo
o vínculo judicialmente reconhecido.
Acontece que, apesar do reconhecimento desse vínculo, o trabalhador não recebeu a indenização prevista
no art. 59, I, da Lei nº 8.630/93.
Em razão disso, João ingressou com uma ação de indenização contra o Banco do Brasil (gestor do fundo)
visando o recebimento da indenização.
Essa ação foi proposta na Justiça estadual.
O pedido foi julgado procedente, condenando o Banco do Brasil no pagamento da indenização.
O Banco do Brasil não concordou e interpôs apelação, mas o TJ manteve a sentença.
Inconformado, o Banco do Brasil interpôs recurso especial.
Entre outros fundamentos, alegou que seria mero gestor do fundo (FITP) e que tinha por função, além da
gestão, efetuar os pagamentos de acordo com as disponibilidades do fundo.
Como o fundo não dispõe mais de recursos, o Banco do Brasil estaria impossibilitado de realizar o
pagamento, não se podendo exigir que o pagamento seja feito com recursos próprios do banco.
Por esse motivo, a sentença estaria em contrariedade com o que dispõe a parte final do art. 59, I, da Lei
8.630/93.
Qual órgão do STJ será competente para julgar esse recurso especial?
Uma das Turmas integrantes da 1ª Seção, ou seja, a 1ª ou a 2ª Turma.
Compete às Turmas integrantes da Primeira Seção do STJ julgar recursos que tenham por objeto a
indenização do art. 59, I, da Lei n. 8.630/1993, decorrente do cancelamento da inscrição profissional dos
trabalhadores portuários avulsos, desvinculados do sistema pela Lei de Modernização dos Portos.
STJ. Corte Especial. CC 179.005-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/2/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
A Lei nº 8.630/93, revogada pela Lei nº 12.815/2013, dispunha sobre o regime jurídico da exploração dos
portos organizados e das instalações portuárias, tendo criado o Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) e
criou o Fundo de Indenização do Trabalhador Portuário Avulso (FITP), de natureza contábil, para prover
recursos para indenização pelo cancelamento do registro do trabalhador portuário avulso", atribuído a
sua gestão ao Banco do Brasil S.A.
A indenização prevista no art. 59, I, da Lei nº 8.630/93 tem origem no cancelamento da inscrição
profissional dos trabalhadores portuários avulsos no Órgão Gestor de Mão de Obra, no contexto da
mudança de regime jurídico decorrente da Lei de Modernização dos Portos.
Não há dúvida de que o pagamento da indenização pleiteada pelo autor e gerida pelo Banco do Brasil S.A.,
na qualidade de gestor do Fundo de Indenização do Trabalhador Portuário - FITP, depende da
comprovação do cancelamento da inscrição profissional do trabalhador portuário avulso.
Nesse contexto, considerando que a relação jurídica litigiosa vincula-se à inscrição/cancelamento de
registro profissional, nos termos do art. 9º, § 1º, IV, do RISTJ, resta configurada a competência das Turmas
de Direito Público, integrantes da Primeira Seção do STJ, para julgamento do recurso em que se discute a
indenização prevista no art. 59, I, da Lei nº 8.630/93, independentemente de que entes públicos integrem
ou não o polo passivo da demanda.
O § 3º do art. 256 do CPC prevê o seguinte: “§ 3º O réu será considerado em local ignorado ou
incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante requisição pelo
juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de
concessionárias de serviços públicos.”
O referido dispositivo legal deve ser interpretado no sentido de que o Juízo tem o dever de
buscar todos os meios possíveis de localização do réu, para se proceder à respectiva citação
pessoal, devendo requisitar informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos
ou de concessionárias de serviços públicos, antes de determinar a citação por edital.
No entanto, a requisição de informações às concessionárias de serviços públicos consiste em
uma alternativa dada ao Juízo, e não uma imposição legal, não se podendo olvidar que a
análise, para verificar se houve ou não o esgotamento de todas as possibilidades de localização
do réu, a fim de viabilizar a citação por edital, deve ser casuística, observando-se as
particularidades do caso concreto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.971.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/6/2023 (Info 12
– Edição Extraordinária).
O juiz, contudo, leu o § 3º do art. 256 do CPC e ficou com uma dúvida. Vamos primeiro verificar o que diz
esse dispositivo:
Art. 256 (...)
§ 3º O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua
localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos
cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos.
O magistrado pensou: antes de determinar a citação por edital, é obrigatório que eu expeça ofício às
concessionárias de serviços públicos para tentar localizar o réu? Se eu determinar a citação por edital
antes de adotar essa providência, haverá nulidade?
A resposta é não.
O § 3º do art. 256 do CPC deve ser interpretado no sentido de que o juízo tem o dever de buscar todos os
meios possíveis de localização do réu, para se proceder à respectiva citação pessoal, devendo requisitar
informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços
públicos, antes de determinar a citação por edital.
No entanto, a requisição de informações às concessionárias de serviços públicos consiste em uma
alternativa dada ao Juízo, e não uma imposição legal. Assim, a providência do § 3º do art. 256 do CPC não
é sempre obrigatória, devendo-se analisar, com base nas peculiaridades do caso concreto, se houve ou
não o esgotamento de todas as possibilidades de localização do réu, a fim de viabilizar a citação por edital.
No caso concreto, antes de deferir a citação por edital da parte executada, o Juízo de origem diligenciou
perante 7 endereços distintos. Houve a consulta do endereço do réu nos sistemas informatizados à
disposição do Juízo que acessam cadastros de órgãos públicos. Mesmo assim, ele não foi localizado.
Logo, embora não tenha havido requisição de informações às concessionárias de serviços públicos, houve
a pesquisa de endereços nos cadastros de órgãos públicos, por meio dos sistemas informatizados à
disposição do Juízo (Bacen Jud, Renajud, Infojud e Siel), como determina o § 3º do art. 256 do CPC/2015,
não havendo que se falar, portanto, em nulidade da citação por edital.
Em suma:
A prévia expedição de ofício às concessionárias de serviços públicos, para fins de localização do réu,
antes de se autorizar a citação por edital, é facultativa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.971.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
LITISCONSÓRCIO
O juiz, ao reconhecer a ilegitimidade ad causam de um dos litisconsortes passivos e excluí-lo da
lide, deverá fixar os honorários com base no art. 338, parágrafo único, do CPC
O autor (João) terá que pagar honorários advocatícios de sucumbência ao litisconsorte excluído (Tiago)?
SIM.
Diante disso, o juiz, na mesma decisão, condenou o autor ao pagamento das custas por ela despendidas,
além de honorários advocatícios fixados em 3% sobre o valor da execução, com fundamento no art. 338,
parágrafo único, do CPC:
Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo
invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para
substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários
ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa
ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º.
Assim, o juiz condenou João a pagar honorários advocatícios de R$ 30 mil (3% de R$ 1 milhão).
Recurso de Tiago
Tiago recorreu pedindo o aumento do percentual sob o argumento de que o art. 85, § 2º do CPC impõe
10% como o mínimo que pode ser fixado:
Art. 85 (...)
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o
valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
O STJ entendeu que, neste caso, a verba de honorários deve ser fixada consoante o contido no art. 338 do
CPC, situação semelhante à de substituição do réu prevista no artigo.
Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo
invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para
substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários
ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa
ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º .
Deve ser levada em consideração a complexidade da demanda, o tempo de duração da lide até a exclusão
da litisconsorte e o trabalho que foi desempenhado pelo patrono até este momento.
Sendo assim, no caso, entendeu-se adequada a fixação dos honorários para 3% sobre o valor atualizado
da causa, tendo em vista a extinção da ação sem resolução do mérito.
Em suma:
O juiz, ao reconhecer a ilegitimidade ad causam de um dos litisconsortes passivos e excluí-lo da lide,
pode fixar os honorários advocatícios entre 3 e 5% do valor atualizado da causa, nos termos do art. 338,
parágrafo único, do CPC.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.902.149-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
3/4/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Não é cabível a denunciação da lide em demanda que busca a declaração de inexigibilidade de
débito, pois não haverá uma condenação que justifique a introdução de uma nova lide dentro
daquele processo principal
ODS 16
Caso adaptado: Gustavo assinou contrato de consórcio com a Consortio S.A., que incluía um
seguro de vida da XXX Seguros. Gustavo faleceu durante a vigência do contrato. Até essa data,
ele havia pagado todas as parcelas do consórcio. Após sua morte, os pagamentos cessaram. A
Consortio ingressou com execução para cobrar as parcelas vencidas após a morte. O espólio
de Gustavo ajuizou ação declaratória de inexigibilidade de débito argumentando que, devido
ao seguro de vida incluído no contrato, as parcelas restantes deveriam ser quitadas pela
seguradora. Diante da situação, a Consortio pediu a denunciação da lide da XXX Seguros. O STJ
afirmou que isso não era permitido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.709-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/4/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
Em suma:
Não é cabível a denunciação da lide em demanda que busca a declaração de inexigibilidade de débito,
pois não haverá uma condenação que justifique a introdução de uma nova lide dentro daquele processo
principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.709-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/4/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
COISA JULGADA
Se a parte não pediu tudo o que poderia, seja por opção ou por equívoco, sua pretensão ainda
subsiste, restando-lhe a possibilidade de ajuizar nova ação para requerer a complementação da
indenização, a não ser que ocorresse alguma hipótese de preclusão
ODS 16
O autor ingressou com ação cautelar de antecipação de provas (processo X) para apurar os prejuízos
sofridos. Nessa ação cautelar foi feita uma perícia inicial que constatou que seria necessários reparos no
imóvel que custariam R$ 180 mil.
Com base nessa informação, João ajuizou ação de indenização por danos materiais contra a empresa
cobrando R$ 200 mil (processo Y).
Neste processo Y, foi feita uma perícia mais completa na qual se descobriu que havia também vícios
estruturais na construção, de forma que o prejuízo total não era apenas de R$ 200 mil, mas sim de R$ 500
mil (ou seja, 300 mil a mais do que estava sendo cobrado na ação de indenização).
O juiz julgou o pedido procedente para condenar a ré a pagar R$ 200 mil ao autor. O magistrado disse que
não poderia condenar a pagar R$ 500 mil porque estava limitado ao pedido formulado na petição inicial.
O autor deixou a sentença transitar em julgado.
Em seguida, João ajuizou outra ação indenizatória requerendo a indenização complementar no valor de
R$ 300 mil (processo Z).
O juiz julgou o pedido procedente condenando a empresa a pagar os R$ 300 mil.
A condenada recorreu alegando que a sentença violou a coisa julgada.
A controvérsia chegou até o STJ.
Em suma:
O pedido complementar de indenização por danos materiais formulado em ação diversa da referente à
indenização já obtida, com trânsito em julgado, sendo as partes e a causa de pedir as mesmas, não está
acobertado pela coisa julgada caso inclua danos não contemplados na primeira ação, ainda que
decorrentes dos mesmos fatos.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.046.349-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18/4/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
RECURSOS
O recorrente deve comprovar o recolhimento do preparo e do porte de remessa e retorno de
acordo com os volumes existentes nos autos no momento da interposição do recurso
O que é o preparo?
Consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso.
No preparo incluem-se:
• taxa judiciária (custas);
• despesas postais com o envio dos autos (chamado de “porte de remessa e de retorno” dos autos).
“Preparar” o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina judiciária dê
andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária conveniada
com o Tribunal.
Momento do preparo
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no momento da
interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da interposição do
recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o comprovante do pagamento.
Segundo a regra do art. 511 do Código de Processo Civil de 1973, o recorrente, ao interpor o recurso, deve
comprovar o pagamento do preparo recursal, incluído o porte de remessa e retorno, sob pena de
reconhecimento da deserção.
Nota-se, portanto, que a norma processual estabelece o momento correto para se comprovar o
recolhimento do preparo e das despesas de porte de remessa e retorno, qual seja, no ato da interposição
do recurso.
Por essa razão, determinar que o recorrente recolha novas custas de porte de remessa e retorno a cada
volume formado após a interposição de seu recurso parece se distanciar da legislação de regência.
Com efeito, após a interposição do recurso, não há como o recorrente prever a abertura de novos volumes
dos autos do processo e saber quanto eventualmente terá que desembolsar futuramente, o que fugiria,
inclusive, da razoabilidade.
Dessa forma, a melhor interpretação a ser dada à norma do art. 511 do CPC/1973 é a de que o recorrente
deve comprovar o recolhimento do preparo e do porte de remessa e retorno de acordo com os volumes
existentes nos autos no momento da interposição do recurso, sendo indiferente a abertura de novos
volumes após a data de protocolização do recurso.
Assim, a eventual abertura de um segundo ou mais volumes após a interposição do recurso não enseja a
complementação dos valores correspondentes ao preparo e ao porte de remessa e retorno.
IMPENHORABILIDADE
A ausência de comprovação, pela parte executada, de que o imóvel penhorado
é explorado pela família afasta a incidência da proteção da impenhorabilidade
Importante!!!
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a pequena
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família.
Assim, para que o imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) que seja trabalhado pela família.
Quem tem o encargo de provar esses requisitos? Quem tem o encargo de provar os requisitos
da impenhorabilidade da pequena propriedade rural? O devedor.
O art. 833, VIII, do CPC/2015 é expresso ao condicionar o reconhecimento da
impenhorabilidade da pequena propriedade rural à sua exploração familiar. Isentar o
devedor de comprovar a efetiva satisfação desse requisito legal e transferir a prova negativa
ao credor importaria em desconsiderar o propósito que orientou a criação dessa norma, o
qual consiste em assegurar os meios para a manutenção da subsistência do executado e de sua
família.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.913.234-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/2/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
“A norma visa proteger famílias de pequenos agricultores, sabidamente menos favorecidas, que vivem
basicamente do que produzem em suas propriedades rurais. Por outro lado, verifica-se também existir o
"interesse social em manter a família presa à propriedade rural. Quanto mais famílias, maior o
desenvolvimento agropecuário do país" (BONAVIDES, Paulo. Comentários à constituição federal de 1988.
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 151).
Requisitos
Para que o imóvel rural seja impenhorável, é necessário que cumpra dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.
Voltando ao exemplo:
O juiz deferiu o pedido de João e desconstituiu a penhora sobre o imóvel.
O exequente recorreu argumentando que o devedor apenas alegou, mas não provou, que o imóvel
preenche os dois requisitos acima listados e que garantiriam a sua impenhorabilidade.
A tese defendida pelo exequente foi aceita pelo STJ? O que o executado tem que provar para ter direito
à impenhorabilidade de que trata o art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC? Quem tem o encargo
de provar os requisitos da impenhorabilidade da pequena propriedade rural?
SIM. O devedor.
É ônus da parte executada comprovar que a propriedade se enquadra no conceito legal de pequena
propriedade rural e que o imóvel penhorado é explorado pela família
O art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC preveem que é impenhorável a pequena propriedade
rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família.
Assim, para que o imóvel rural seja impenhorável, são necessários dois requisitos:
1) que seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) que seja trabalhado pela família.
Até o momento, não há uma lei definindo o que seja pequena propriedade rural para fins de
impenhorabilidade. Diante da lacuna legislativa, a jurisprudência tem tomado emprestado o conceito
estabelecido na Lei nº 8.629/93, a qual regulamenta as normas constitucionais relativas à reforma agrária.
Informativo 12-STJ (Edição Extraordinária) (25/07/2023) – Márcio André Lopes Cavalcante | 67
Informativo
comentado
Em seu art. 4º, II, alínea “a”, atualizado pela Lei nº 13.465/2017, consta que se enquadra como pequena
propriedade rural o imóvel rural “de área até quatro módulos fiscais, respeitada a fração mínima de
parcelamento”.
Quem tem o encargo de provar esses requisitos? Quem tem o encargo de provar os requisitos da
impenhorabilidade da pequena propriedade rural?
O devedor.
O art. 833, VIII, do CPC/2015 é expresso ao condicionar o reconhecimento da impenhorabilidade da
pequena propriedade rural à sua exploração familiar. Isentar o devedor de comprovar a efetiva satisfação
desse requisito legal e transferir a prova negativa ao credor importaria em desconsiderar o propósito que
orientou a criação dessa norma, o qual consiste em assegurar os meios para a manutenção da subsistência
do executado e de sua família.
A ausência de comprovação, pela parte executada, de que o imóvel penhorado é explorado pela família
afasta a incidência da proteção da impenhorabilidade.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.913.234-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/2/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
IMPENHORABILIDADE
Os certificados em poder das instituições de ensino, recomprados pelo FIES e que excederem os
débitos previdenciários e tributários destas, estão sujeitos à penhora
Os recursos públicos recebidos por instituição de ensino superior privada são impenhoráveis,
pois são verbas de aplicação compulsória em educação.
Contudo, deve-se fazer uma distinção entre os valores impenhoráveis e aqueles penhoráveis.
Os certificados emitidos pelo Tesouro Nacional (CFT-E), de fato, não são penhoráveis, haja
vista a vinculação legal da sua aplicação.
De outro lado, ao receber os valores decorrentes da recompra de CFT-E, as instituições de
ensino incorporam essa verba definitivamente ao seu patrimônio, podendo aplicá-la da forma
que melhor atenda aos seus interesses, não havendo nenhuma ingerência do poder público.
Assim, havendo disponibilidade plena sobre tais valores, é possível a constrição de tais verbas
para pagamento de obrigações decorrentes das relações privadas da instituição de ensino.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.784-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 6/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
FIES
FIES é a sigla para Fundo de Financiamento Estudantil, programa desenvolvido no âmbito do Plano
Nacional de Educação (PNE), instituído pelo Ministério da Educação.
Sua finalidade primordial é a concessão de financiamento a estudantes de cursos superiores não gratuitos
da educação profissional, técnica e tecnológica, e em programas de mestrado e doutorado com avaliação
positiva, conforme determinado pelo art. 1º, caput e § 1º, da Lei nº 10.260/2001.
Trata-se de programa de fundamental importância porque busca concretizar o direito fundamental de
acesso à educação para todos, previsto no art. 205 da CF/88, principalmente por se tratar de uma política
pública que prioriza a promoção de acesso de famílias de baixa renda à educação superior.
CFT-E
O CFT-E está disciplinado no art. 7º da Lei nº 10.260/2001:
Art. 7º Fica a União autorizada a emitir títulos da dívida pública em favor do FIES.
§ 1º Os títulos a que se referem o caput serão representados por certificados de emissão do
Tesouro Nacional, com características definidas em ato do Poder Executivo.
§ 2º Os certificados a que se refere o parágrafo anterior serão emitidos sob a forma de colocação
direta, ao par, mediante solicitação expressa do FIES à Secretaria do Tesouro Nacional.
§ 3º Os recursos em moeda corrente entregues pelo FIES em contrapartida à colocação direta dos
certificados serão utilizados exclusivamente para abatimento da dívida pública de
responsabilidade do Tesouro Nacional.
Na medida em que há a prestação do serviço educacional, os títulos CFT-E são repassados às Instituições
de Ensino Superior (IES).
A instituição pode utilizar esses títulos para pagar contribuições sociais previdenciárias. Se a instituição
não tiver débitos de contribuições previdenciárias, pode utilizá-los para quitar os demais tributos federais,
conforme determinam o art. 10, caput e o § 3º, da Lei nº 10.260/2001:
Art. 10. Os certificados de que trata o art. 7º serão utilizados para pagamento das contribuições
sociais previstas nas alíneas a e c do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991, bem como das contribuições previstas no art. 3º da Lei nº 11.457, de 16 de março de 2007.
(...)
§ 3º Não havendo débitos de caráter previdenciário, os certificados poderão ser utilizados para o
pagamento de quaisquer tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, e
respectivos débitos, constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa, ajuizados ou a ajuizar,
exigíveis ou com exigibilidade suspensa, bem como de multas, de juros e de demais encargos legais
incidentes.
E se a IES não tiver mais débitos tributários para pagar com os títulos?
Caso a mantenedora não possua débitos relativos a esses tributos ou, ainda, caso, após a quitação dos
tributos, reste algum excedente de títulos em sua posse, ela poderá oferecê-los no processo de recompra
realizado pelo agente operador.
Nesse caso, o FNDE resgata esses títulos junto às mantenedoras e entrega o valor financeiro equivalente
ao resgate atualizado pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). Veja a redação do art. 13 da Lei nº
10.260/2001:
Art. 13. O Fies recomprará, no mínimo a cada trimestre, ao par, os certificados aludidos no art. 9º,
mediante utilização dos recursos referidos no art. 2º, ressalvado o disposto no art. 16, em poder
das instituições de ensino que atendam ao disposto no art. 12.
Conforme vimos acima, o STJ possui o entendimento de que os recursos públicos recebidos por instituição
de ensino superior privada são impenhoráveis, pois são verbas de aplicação compulsória em educação.
Contudo, deve-se fazer uma distinção entre os valores impenhoráveis e aqueles penhoráveis.
Os certificados emitidos pelo Tesouro Nacional (CFT-E), de fato, não são penhoráveis, considerando que
sua aplicação possui uma vinculação legal.
Por outro lado, ao receber os valores decorrentes da recompra de CFT-E, as instituições de ensino
incorporam essa verba definitivamente ao seu patrimônio, podendo aplicá-la da forma que melhor atenda
aos seus interesses, não havendo nenhuma ingerência do poder público.
Assim, havendo disponibilidade plena sobre tais valores, é possível a constrição de tais verbas para
pagamento de obrigações decorrentes das relações privadas da instituição de ensino.
Ademais, o art. 10, § 1º, da Lei nº 10.260/2001, ao vedar a negociação pelas IES com outras pessoas
jurídicas de direito público dos certificados de dívida pública emitidos em favor do FIES, nada dispõe sobre
os valores oriundos da recompra dos títulos e que serão incorporados definitivamente ao patrimônio da
instituição de ensino.
Nota-se, ainda, que se fosse outro o raciocínio adotado, seria necessário que a IES prestasse contas aos
órgãos de controle do poder público sobre as quantias recebidas da recompra dos CFT-E, por se tratar de
verba pública de aplicação obrigatória, demonstrando que tais valores foram efetivamente aplicados em
educação, o que não ocorre.
Por conseguinte, vedar a constrição dos valores oriundos da recompra frustraria as expectativas dos
credores da instituição de ensino, haja vista que atualmente boa parte de sua renda é proveniente dos
repasses do FIES e do processo de recompra dos CFT-E.
Dessa forma, não se vislumbra nenhum óbice legal à penhora dos valores oriundos da recompra dos CFT-
E, pelo contrário, mostra-se, inclusive, salutar aos ordenamentos jurídico e econômico que essas verbas
possam ser objeto de constrição em caso de inadimplemento das obrigações decorrentes das relações
privadas das IES, dando maior credibilidade ao sistema jurídico e garantindo aos credores que haverá
opções para se buscar o crédito na eventual configuração da mora da instituição de ensino.
O entendimento acima foi reiterado pelo STJ:
Os certificados em poder das instituições de ensino, recomprados pelo FIES e que excederem os débitos
previdenciários e tributários destas, estão sujeitos à penhora.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.784-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 6/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
IMPENHORABILIDADE
O veículo adaptado para pessoa com mobilidade reduzida
pode ter sua impenhorabilidade reconhecida
ODS 3, 10 E 16
O veículo adaptado para pessoa com mobilidade reduzida pode ter sua impenhorabilidade
reconhecida, desde que efetivamente demonstrada sua essencialidade no caso concreto.
Caso hipotético: o Banco ingressou com execução de título extrajudicial contra Regina.
O juízo de primeiro grau determinou a penhora de um veículo HYUNDAI/CRETA, ano 2018,
que estava em nome de Regina. A executada recorreu pedindo a reforma da decisão sob o
fundamento de que esse veículo seria impenhorável, considerando que a devedora possui
artrodese no retropé direito, o que gera limitações em suas atividades laborais diárias e que
esse veículo é adaptado para sua condição física. Regina explicou ainda que, inclusive, detém
Carteira Nacional de Habilitação Especial.
O STJ concordou com argumentos da autora.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.945.680-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/6/2023 (Info 12 –
Edição Extraordinária).
O Tribunal de Justiça negou provimento ao agravo sob o argumento de que “o simples fato de o automóvel
ser utilizado por pessoa com mobilidade reduzida não induz a automática conclusão de sua
impenhorabilidade, pois não há previsão legal para tanto.”
Ainda inconformada, Regina interpôs recurso especial insistindo na tese de que ela é pessoa com
deficiência física, que o veículo é adaptado às suas necessidades especiais e que, por isso, é impenhorável.
Todavia, a situação apresentada possui peculiaridades que devem ser consideradas para a análise da
essencialidade do veículo. O automóvel em questão é adaptado e utilizado por pessoa com mobilidade
reduzida.
Em tais casos, embora não seja o único meio viável para sua locomoção, não há como considerar que o
veículo em questão seja, para seu proprietário, uma mera conveniência, pois são notórias as dificuldades
enfrentadas pelas pessoas com mobilidade reduzida quando necessitam utilizar de transportes públicos
nos seus deslocamentos diários.
Assim, a própria necessidade de adaptação do veículo depõe a favor da essencialidade do bem e
demonstra, no caso concreto, a necessidade de reconhecimento de sua impenhorabilidade.
Aplica-se, na situação, o art. 8º do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015):
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à
maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à
previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao
desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e
tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre
outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar
pessoal, social e econômico.
Em suma:
O veículo adaptado para pessoa com mobilidade reduzida pode ter sua impenhorabilidade reconhecida,
desde que efetivamente demonstrada sua essencialidade no caso concreto.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.945.680-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/6/2023 (Info 12 – Edição
Extraordinária).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Ao julgar o Tema 955, o STJ modulou os efeitos da decisão reconhecendo a possibilidade de, nas
ações ajuizadas até 8/8/2018, ser possível a inclusão dos reflexos das verbas reconhecidas na
Justiça do Trabalho
ODS 8 E 16
Nas demandas ajuizadas na Justiça comum até 8/8/2018 (Tema repetitivo 955/STJ), admite-
se a inclusão no benefício de previdência complementar dos reflexos das verbas reconhecidas
na Justiça Trabalhista, condicionada à previsão regulamentar, e desde que observados os
aportes necessários.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.931.439-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
3/4/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
Este julgado envolve um assunto um pouco complexo, que demanda uma explicação mais demorada.
Inicialmente, irei relembrar o Tema 955 do STJ, em seguida o Tema 1021 e, por fim, o EREsp 1.557.698/RS.
Analise se o concurso para o qual você está estudando cobra esse assunto e, em caso, negativo, fique
apenas com a leitura da conclusão acima exposta.
Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano,
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento.
Complementação de aposentadoria
É a quantia paga pela entidade de previdência privada como aposentadoria à pessoa que contratou a
previdência complementar. É como se chama a aposentadoria paga pela previdência privada.
O Tema 955 refere-se aos planos de previdência privada fechada.
Personagens
Fundação Banrisul: entidade fechada de previdência privada.
Banco Banrisul: patrocinador.
João: participante.
Voltando ao caso
O regulamento do plano de previdência previa que o valor da “complementação de aposentadoria”
deveria ser calculado a partir da média aritmética simples dos salários de participação do associado. Em
outras palavras, o valor da aposentadoria deveria ser calculado com base no salário que o indivíduo
recebia e que também servia como parâmetro para as contribuições pagas pelo empregado.
Assim, suponhamos que o empregado recebia R$ 5 mil de salário. Todos os meses era descontado 10%
para a previdência fechada. A sua aposentadoria deveria ser calculada com base no salário recebido.
Aposentadoria de João
Após muitos anos trabalhando no Banco, João completou o tempo necessário e pediu o pagamento da
complementação de aposentadoria.
A Fundação Banrisul calculou o benefício com base nos salários recebidos por João e passou a pagar a
complementação de aposentadoria.
Reclamação trabalhista
O que você ainda não sabe é que João, logo após se aposentar, ingressou com uma reclamação trabalhista
contra o Banco alegando que trabalhava todos os dias fazendo horas extras e que, apesar disso, a empresa
não lhe pagava o respectivo valor.
A Justiça do Trabalho julgou a ação procedente e reconheceu o direito do autor à percepção de diferenças
salariais por causa do não pagamento de trabalho extraordinário realizado de forma habitual.
A sentença transitou em julgado e João recebeu as respectivas verbas trabalhistas.
NÃO.
Se o benefício de complementação de aposentadoria já tiver sido concedido, não será possível a inclusão
dos reflexos das verbas remuneratórias (horas extras) reconhecidas pela Justiça do Trabalho nos cálculos
da renda mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria.
recomposição prévia e integral das reservas matemáticas com o aporte de valor a ser apurado por estudo
técnico atuarial em cada caso.
d) Nas reclamações trabalhistas em que o ex-empregador tiver sido condenado a recompor a reserva
matemática, e sendo inviável a revisão da renda mensal inicial da aposentadoria complementar, os valores
correspondentes a tal recomposição devem ser entregues ao participante ou assistido a título de
reparação, evitando-se, igualmente, o enriquecimento sem causa da entidade fechada de previdência
complementar.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.312.736-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 08/08/2018 (Recurso
Repetitivo – Tema 955) (Info 630).
É possível? O entendimento do Tema 955 (no qual se falou em horas extras) vale para quaisquer outras
verbas remuneratórias reconhecidas pela Justiça do Trabalho após a concessão do benefício?
SIM. Por essa razão, o STJ decidiu utilizar os mesmos argumentos invocados no Tema 955 e firmar uma
tese mais ampla no Tema 1021.
A afirmação da tese mais ampla, para que o enunciado estabelecido no Tema 955/STJ seja aplicável ao
pedido de incorporação de quaisquer verbas remuneratórias no benefício já concedido, mostra-se
adequada e coerente, pois a verba em si (horas extras habituais) não foi motivo determinante para o
entendimento fixado no julgamento do REsp 1.312.736/RS.
O que efetivamente se decidiu foi pela impossibilidade da incorporação pretendida, não obstante haver
previsão no plano de que verbas de natureza remuneratória (naquele caso específico, as horas
extraordinárias habituais) deveriam compor a base de cálculo das contribuições do patrocinador e do
participante e servir de parâmetro para o cálculo da renda mensal inicial do benefício, dada a natureza do
regime de capitalização - que exige a prévia formação de reserva capaz de garantir o pagamento do
benefício - e a inviabilidade da recomposição dessa reserva. Desse modo, seja qual for a espécie de verba
remuneratória reivindicada perante a Justiça do Trabalho, é possível concluir, como se afirmou no
repetitivo anterior, pela impossibilidade de sua incorporação no benefício de previdência complementar,
caso não haja o prévio aporte, nos termos exigidos pelo respectivo regulamento, porque invariavelmente
haverá prejuízo para o equilíbrio atuarial do plano.
A tese mais abrangente se mostra, portanto, não apenas adequada, mas necessária para assegurar a
isonomia e conferir segurança jurídica em sua aplicação pelos diversos Tribunais do País.
Teses fixadas no Tema 1021 (com destaque para o item III, abaixo):
I) A concessão do benefício de previdência complementar tem como pressuposto a prévia formação de
reserva matemática, de forma a evitar o desequilíbrio atuarial dos planos. Em tais condições, quando já
concedido o benefício de complementação de aposentadoria por entidade fechada de previdência
privada, é inviável a inclusão dos reflexos de quaisquer verbas remuneratórias reconhecidas pela Justiça
do Trabalho nos cálculos da renda mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria.
II) Os eventuais prejuízos causados ao participante ou ao assistido que não puderam contribuir ao fundo
na época apropriada ante o ato ilícito do empregador poderão ser reparados por meio de ação judicial a
ser proposta contra a empresa ex-empregadora na Justiça do Trabalho.
III) Modulação dos efeitos da decisão (art. 927, § 3º, do CPC/2015): nas demandas ajuizadas na Justiça
comum até 8/8/2018 (data do julgamento do REsp n. 1.312.736/RS - Tema repetitivo n. 955/STJ) - se ainda
for útil ao participante ou assistido, conforme as peculiaridades da causa -, admite-se a inclusão dos
reflexos de verbas remuneratórias, reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda mensal
inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria, condicionada à previsão regulamentar de
que as parcelas de natureza remuneratória devem compor a base de cálculo das contribuições a serem
recolhidas e servir de parâmetro para o cômputo da renda mensal inicial do benefício, e à recomposição
prévia e integral das reservas matemáticas com o aporte, a ser vertido pelo participante, de valor a ser
apurado por estudo técnico atuarial em cada caso.
IV) Nas reclamações trabalhistas em que o ex-empregador tiver sido condenado a recompor a reserva
matemática, e sendo inviável a revisão da renda mensal inicial da aposentadoria complementar, os valores
correspondentes a tal recomposição devem ser entregues ao participante ou assistido a título de
reparação, evitando-se, igualmente, o enriquecimento sem causa da entidade fechada de previdência
complementar.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.740.397-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 28/10/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1021) (Info 684).
O STJ ao julgar o Tema 955 e, em seguida, o Tema 1021, modulou os efeitos do entendimento e
estabeleceu que, nas demandas ajuizadas na Justiça comum até 8/8/2018 (data do julgamento do
repetitivo Tema 955) - se ainda for útil ao participante ou assistido -, admite-se a inclusão dos reflexos de
verbas remuneratórias, reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda mensal inicial dos
benefícios de complementação de aposentadoria.
Condiciona-se, apenas, à previsão regulamentar de que as parcelas de natureza remuneratória devam
compor a base de cálculo das contribuições a serem recolhidas e servir de parâmetro para o cômputo da
renda mensal inicial do benefício, e à recomposição prévia e integral das reservas matemáticas com o
aporte, a ser vertido pelo participante, de valor a ser apurado por estudo técnico atuarial em cada caso
(Resp 1.312.736/RS, Segunda Seção, julgado em 8/8/2018, DJe 16/8/2018 e REsp 1.778.938/SP, Segunda
Seção, julgado em 14/10/2020, DJe 11/12/2020).
Nos termos dos mencionados julgados, facultou-se ao autor verter as parcelas de custeio de
responsabilidade do patrocinador, se pagas a menor, para recompor a reserva e poder receber o benefício
integral, pois não poderia demandá-lo na causa em virtude de sua ilegitimidade passiva ad causam.
Desse modo, deverá ser verificado em liquidação de sentença, a ser apurado por estudo técnico atuarial,
o montante de custeio que o trabalhador deveria contribuir se o empregador tivesse pagado corretamente
as verbas salariais à época, devendo eventual diferença ser compensada com os valores a que faz jus o
participante em virtude da integração da referida verba remuneratória no cálculo do benefício
suplementar.
Portanto, a cota-parte do participante pode ser compensada com valores a serem recebidos com a revisão
do benefício complementar.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) O registrador poderá se socorrer de mandado de segurança contra ato administrativo que o obrigue a
aplicar regramento contra a sua convicção jurídica, uma vez que deve zelar pela legalidade dos atos
pertinentes à sua área de atuação, bem como por suas prerrogativas funcionais. ( )
2) Havendo desconsideração da personalidade jurídica, em proveito de sócio morador de imóvel de
titularidade da sociedade empresária devedora, poderão ser executados bens pessoais dos sócios até o
limite do valor de mercado do bem subtraído da execução, independentemente do preenchimento de
requisitos como má-fé e desvio de finalidade previstos no caput do art. 50 do Código Civil. ( )
3) O sócio de pessoa jurídica possui legitimidade ativa para pleitear indenização, em nome próprio, por
danos ao patrimônio da empresa, uma vez que eventual procedência no pedido beneficiaria também o
sócio. ( )
4) Realizada a consignação extrajudicial e manifestada a discordância do credor, o devedor deve ajuizar a
ação no prazo de 30 dias, sob pena de reputar-se sem efeito o depósito efetuado, desvinculando-se da
extinção da obrigação e impondo-se a rescisão do contrato. ( )
5) A partir da vigência do CPC de 2015, existindo cláusula compromissória arbitral estabelecida entre as
partes, a pretensão de produção antecipada de provas, desvinculada da urgência, deve ser promovida
diretamente perante o Tribunal arbitral, não subsistindo a competência (provisória e precária) do Poder
Judiciário. ( )
6) É possível aproveitar o tempo anterior de posse de terceiros para complementação do quinquênio
necessário à declaração de prescrição aquisitiva no caso de usucapião especial urbana. ( )
7) O fato de os genitores transacionarem sobre parcelas pretéritas dos alimentos devidos à criança ou
adolescente não configura, por si, conflito de interesse entre os representantes legais e o incapaz,
devendo sempre ser analisadas as peculiaridades do caso concreto para avaliar a real necessidade de
nomeação de curador especial. ( )
8) A emissão, por terceiro, de boleto fraudado, não configura fato exclusivo de terceiro apto a excluir a
responsabilidade civil da instituição financeira. ( )
9) A administradora responde objetivamente pela falha na prestação dos serviços de intermediação
imobiliária consubstanciada na venda fraudulenta de imóveis realizada por corretora a ela vinculada. (
)
10) A natureza taxativa ou exemplificativa do rol da ANS é desimportante à análise do dever de cobertura de
medicamentos para o tratamento de câncer, em relação aos quais há apenas uma diretriz na resolução
normativa. ( )
11) Os planos de saúde estão obrigados a cobrir bomba infusora de insulina (e insumos) para o controle da
glicemia de paciente diagnosticado com diabetes mellitus do Tipo 1. ( )
12) Em regra, a resilição unilateral é válida por se tratar de contrato de trato sucessivo ou execução
continuada, mas é abusiva quando realizada durante o tratamento médico que assegure a sobrevivência
ou a preservação da incolumidade física e/ou psíquica do beneficiário. ( )
13) O aval se equipara à fiança no que diz respeito à possibilidade de usufruir do benefício de ordem. ( )
14) A emissão de duplicata não constitui via adequada para a cobrança, da instituição credenciadora, de
crédito titularizado por comerciante que aceita instrumentos de pagamento (cartões) na comercialização
de produtos e serviços e que, em virtude de fraude praticada por terceiro, deixa de recebê-lo. ( )
15) Após a prescrição cambial, o cheque perde os atributos cambiários, permitindo na ação monitória a
discussão do negócio jurídico subjacente e a oposição de exceções pessoais a portadores precedentes
ou ao próprio emitente, com o ônus da prova da ilicitude do negócio jurídico incumbido ao devedor. ( )
16) No caso de ato ilícito continuado, a prescrição não afeta as ocorrências posteriores ao marco temporal
prescricional para a tutela reparatória e inibitória, abrangendo apenas o período anterior. ( )
17) A data-base da apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade por tempo indeterminado
corresponde ao momento em que o sócio retirante deixa de contribuir para a atividade. ( )
18) A mera decisão de desconstituição da personalidade jurídica pela Justiça trabalhista, por si só, não enseja
o reconhecimento de usurpação da competência do juízo falimentar, porque não atinge direta e
concretamente os bens da massa falida. ( )
19) A certidão expedida em feito executivo, na forma do art. 94, II, § 4º, da Lei nº 11.101/2005 enseja a
presunção legal da insolvência do devedor e não cabe exigir do credor a prova dessa circunstância fático-
jurídica. ( )
20) A Assembleia Geral de Credores não pode estabelecer um novo limite para atualização dos créditos,
considerando que isso já é expressamente definido pela lei. ( )
21) No caso de descumprimento do plano dentro do prazo de fiscalização judicial, o credor vai se habilitar
na falência pelo valor original do crédito e nada obsta que prossiga na execução contra os coobrigados,
com base no título executivo que teve suas garantias restabelecidas, ainda que originalmente tenha
aderido à cláusula de supressão. ( )
22) A prévia expedição de ofício às concessionárias de serviços públicos, para fins de localização do réu, antes
de se autorizar a citação por edital, é facultativa. ( )
23) O juiz, ao reconhecer a ilegitimidade ad causam de um dos litisconsortes passivos e excluí-lo da lide, pode
fixar os honorários advocatícios entre 3 e 5% do valor atualizado da causa, nos termos do art. 338,
parágrafo único, do CPC. ( )
24) Não é cabível a denunciação da lide em demanda que busca a declaração de inexigibilidade de débito,
pois não haverá uma condenação que justifique a introdução de uma nova lide dentro daquele processo
principal. ( )
25) O pedido complementar de indenização por danos materiais formulado em ação diversa da referente à
indenização já obtida, com trânsito em julgado, sendo as partes e a causa de pedir as mesmas, não está
acobertado pela coisa julgada caso inclua danos não contemplados na primeira ação, ainda que
decorrentes dos mesmos fatos. ( )
26) A ausência de comprovação, pela parte executada, de que o imóvel penhorado é explorado pela família
não afasta a incidência da proteção da impenhorabilidade. ( )
27) O veículo adaptado para pessoa com mobilidade reduzida pode ter sua impenhorabilidade reconhecida,
desde que efetivamente demonstrada sua essencialidade no caso concreto. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. C 5. C 6. E 7. C 8. E 9. C 10. C
11. E 12. C 13. E 14. C 15. C 16. C 17. C 18. C 19. C 20. E
21. C 22. C 23. C 24. C 25. C 26. E 27. C