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RESUMO
INTRODUÇÃO
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Estudante do 8º semestre de Graduação em Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis como
exigência de conclusão de curso e sob orientação do prof. Mestre João Gabriel Burmann. Artigo submetido à
Banca Examinadora em 16/06/2023.
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as oportunidades geradas pela Inteligência Artificial, benéficas ou não, e organizar como este
novo debate pode ser aplicado nas Relações Internacionais.
No quesito metodologia, este trabalho teve como finalidade a realização de um
estudo com o objetivo de compreender como a Inteligência Artificial pode ser inserida na
disciplina de Relações Internacionais e qual impacto que esta tecnologia poderia gerar no
âmbito do Sistema Internacional. Desta forma, o tipo de pesquisa utilizada no artigo foi
descritivo e explicativo, com abordagem qualitativa, tendo como foco métodos dedutivos. Ao
longo da construção da pesquisa, desde o primeiro procedimento realizado, que diz respeito à
compreensão de termos tecnológicos e como prosseguiram para os avanços tecnológicos, até
os impactos nas áreas das disciplinas de relações internacionais, todos os processos para a coleta
de dados foram realizados mediante pesquisa bibliográfica e documental.
Assim, o objetivo geral do presente trabalho é realizar um estudo prospectivo sobre
o avanço da inteligência artificial nas relações internacionais. Já os objetivos específicos são:
(i) compreender o que é a Inteligência Artificial; (ii) compreender se a esfera de tecnologia,
especificamente o campo da IA, pode ser inserida na disciplina de Relações Internacionais; (iii)
analisar como a tecnologia pode agir benéfica ou maleficamente ao adquirir conhecimentos
aprofundados e o qual impacto que esta tecnologia poderia gerar no âmbito do Sistema
Internacional, tanto na guerra, quanto na paz.
Sendo assim, trabalha-se com a hipótese de que a Inteligência Artificial deve se
tornar mais presente nos estudos da área acadêmica de Relações Internacionais, uma vez que a
tecnologia influencia e impacta esferas securitárias, socioeconômicas e sociopolíticas nas
relações internacionais. Desta forma, a presença de um profissional para tomar as decisões
acerca das ações e do que será realmente mais oportuno para a empresa, ou ente público, é
imprescindível.
A Inteligência Artificial (IA) é um campo da ciência que tem despertado interesse
e gerado avanços significativos nos últimos anos (IAFRATE, 2018). A capacidade de
desenvolver máquinas capazes de imitar a inteligência humana e realizar tarefas de forma
autônoma tem transformado diversos aspectos da nossa sociedade. Atualmente, a Inteligência
Artificial está presente em várias atividades do nosso cotidiano, desde reconhecimento
biométrico até assistentes virtuais, proporcionando conveniência e eficiência. No entanto, esse
rápido avanço tecnológico também levanta questões éticas e desafios que precisam ser
enfrentados.
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A interação entre seres humanos, política e a nova era da tecnologia é um tema
complexo e impactante (VICENTE, 2005). A tecnologia tem mudado como nos comunicamos,
interagimos e obtemos informações, além de ter implicações políticas e governamentais. Essas
mudanças são benéficas economicamente, mas também geram preocupações éticas, como a
privacidade e a disseminação de notícias falsas.
No contexto político, a tecnologia impacta os processos eleitorais, tornando a
participação mais acessível e transparente. No entanto, surgem novas demandas por medidas
de segurança que protegem de ataques cibernéticos. Além disso, a Inteligência Artificial tem o
potencial de transformar o mercado de trabalho, levantando questões sobre desigualdade social
e o papel do Estado na proteção dos direitos dos trabalhadores (VICENTE, 2005).
Diante desses desafios, é essencial promover um amplo debate sobre governança,
incluindo acadêmicos, políticos, profissionais de tecnologia e sociedade civil. É necessário
buscar um equilíbrio entre a inovação tecnológica, a proteção dos direitos individuais e a
promoção da igualdade.
Nas Relações Internacionais, a capacidade tecnológica se tornou uma fonte de
poder, levando os Estados a investir em pesquisa e adoção de novas tecnologias para obter
vantagem competitiva. Logo, Inteligência Artificial afeta não apenas a segurança e a economia,
mas também a governança global. Portanto, cooperação e governança eficazes são
fundamentais para garantir o uso ético e seguro da IA.
No campo da segurança internacional a IA desempenha um papel crucial na
segurança internacional, abrangendo áreas como cibersegurança, inteligência e defesa
(FERNANDES, 2012). Ela está tão presente na coleta e análise de informações cibernéticas,
sendo usada tanto para ataques quanto para defesa, que a corrida tecnológica na área de defesa
afeta as dinâmicas de poder e segurança entre as nações (TEIXEIRA JÚNIOR, et al., 2017).
Além disso, também traz implicações no quesito militar, através da condução e
desenvolvimento de munições guiadas de precisão, por exemplo (AVILA, et al., 2009).
Embora a IA ofereça potenciais contribuições para a promoção da paz, política e
cooperação internacional, é essencial considerar aspectos éticos e legais, como transparência,
proteção de dados e viés algorítmico. Somente por meio de uma abordagem responsável, com
uma governança adequada e supervisão, será possível garantir que a IA seja utilizada de forma
apropriada e benéfica para a sociedade global.
Em resumo, a Inteligência Artificial está transformando as Relações Internacionais,
com um impacto significativo nas esferas securitárias, socioeconômicas e sociopolíticas em
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diversos aspectos, incluindo paz, governança global, segurança e economia (JOHNSON, 2019).
Contudo, para que esse impacto seja positivo, é crucial enfrentar os desafios éticos e políticos
relacionados à Inteligência Artificial, promovendo um debate amplo e construindo Relações
Internacionais sólidas e duradouras baseadas no comprometimento humano, diálogo e
confiança.
Desta forma, é imprescindível entender as oportunidades, benéficas ou não, geradas
pela Inteligência Artificial e apontar como este novo debate pode ser aplicado na disciplina de
Relações Internacionais. Afinal, ainda que a tecnologia facilite a vida humana e tenha
capacidade de possuir inteligência, suas decisões nem sempre estarão corretas. Assim, para
garantir que a IA seja utilizada para fomentar a paz, a estabilidade e a cooperação entre os
países, torna-se indispensável estabelecer uma governança adequada e mecanismos de
supervisão durante sua implementação. Entende-se que a presença de um profissional de
Relações Internacionais, capacitado para tomar as decisões acerca das ações e do que será
realmente mais oportuno, é imprescindível.
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máquinas que pudessem demonstrar inteligência e realizar tarefas anteriormente atribuídas aos
seres humanos. No entanto, apesar de ser considerado o marco oficial, já existiam outros
estudos, um pouco mais específicos, no campo de IA.
Com o sonho do homem de ter máquinas pensando e agindo como ele, os estudos
iniciaram com Warren McCulloch e Walter Pitts em 1943, que, através do estudo de sistemas
neurais humanos, realizaram o desenvolvimento da teoria de neurônios artificiais no artigo
intitulado “A Logical Calculus of the Ideas Immanent in Nervous Activity” (MCCULLOCH;
PITTS, 1943). Nesse trabalho, eles propuseram um modelo matemático que descreve o
funcionamento dos neurônios biológicos e como eles poderiam ser representados por meio de
cálculos lógicos, enfatizando seu comportamento como um processador de informações
binárias (MCCULLOCH, 1990). No entanto, ainda que inovador, o trabalho de McCulloch e
Pitts utilizava de abordagens bastante simplificadas do sistema nervoso humano, com sinais
representados por valores lógicos básicos, sendo, portanto, reconhecido apenas como pioneiro
e considerado um marco importante para o início dos estudos na área de tecnologia.
Depois, o ressurgimento das redes neurais artificiais ocorreu na década de 1980,
quando pesquisadores como Yann LeCun e Yoshua Bengio desenvolveram novas técnicas de
aprendizado de máquina baseadas em redes neurais profundas. Essa abordagem, conhecida
como aprendizado profundo (deep learning), permitiu que as redes neurais artificiais fossem
treinadas em camadas sucessivas de neurônios, permitindo o processamento de informações
complexas e o aprendizado de representações hierárquicas (YANN DAUPHIN et al., 2012). A
partir de então, as redes neurais artificiais, em particular as redes neurais profundas, têm sido
amplamente utilizadas em diversas aplicações de IA, como reconhecimento de imagens,
processamento de linguagem natural, tradução automática, entre outras.
Desde suas origens, a Inteligência Artificial passou por avanços significativos,
desafios e revoluções, moldando a maneira como interagimos com a tecnologia atualmente. Em
resumo, os estudos de IA com sistemas neurais humanos começaram nas décadas de 1940 e
1950, com pesquisas pioneiras sobre o funcionamento dos neurônios biológicos
(MCCULLOCH, 1990) e o desenvolvimento de modelos matemáticos de neurônios artificiais
(YANN DAUPHIN et al., 2012). Desde então, os avanços no campo das redes neurais artificiais
impulsionam o desenvolvimento de técnicas e aplicações de IA baseadas em sistemas
inspirados no cérebro humano.
Com o avanço do século e, consequentemente, avanços da IA, da computação e da
abundância de dados, temos a origem da era do “Big Data” e do “Machine Learning”
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(IAFRATE, 2018). Além disso, outro marco importante na história da IA foi a ascensão dos
assistentes virtuais, como Siri, Alexa e Google Assistant, que utilizam técnicas de IA para
entender comandos de voz e fornecer respostas úteis aos usuários.
Em síntese, a história da IA é uma jornada que começou com grandes sonhos e
desafios, mas que agora está transformando profundamente a maneira como vivemos e
interagimos com a tecnologia. À medida que avançamos, é essencial refletir sobre as
implicações éticas, a fim de garantir que a IA seja desenvolvida de maneira responsável e
inclusiva, para podermos aproveitar todos os benefícios que ela pode oferecer.
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A interação entre seres humanos, política e a nova era da tecnologia é um tema de
grande relevância e complexidade na sociedade contemporânea, afinal, nos últimos anos
pudemos presenciar o rápido avanço tecnológico, com o surgimento de inovações como
Inteligência Artificial, “Big Data”, “Internet das Coisas”, “Blockchain” e muitas outras
(IAFRATE, 2018). É inegável que a tecnologia desempenha um papel significativo nas
transformações sociais, apresentando desafios e oportunidades para a sociedade, impactando
profundamente diversas esferas da vida humana, incluindo a política e o modo como a
sociedade é governada (VICENTE, 2005).
No âmbito dos seres humanos, a tecnologia tem trazido transformações
significativas. Ela se tornou uma parte essencial de nossas vidas cotidianas, influenciando a
maneira como nos comunicamos, interagimos e acessamos informações. As redes sociais e
plataformas digitais possibilitam uma conectividade global sem precedentes, permitindo um
intercâmbio global entre países, onde as pessoas se engajam em discussões políticas,
compartilham ideias e conhecimentos sem grandes barreiras. Além disso, a tecnologia
impulsiona o desenvolvimento econômico, criando oportunidades de emprego e transformando
setores inteiros da indústria e melhorando a qualidade de vida em muitos aspectos.
No entanto, a rápida evolução tecnológica também levanta desafios e dilemas
éticos. Questões de privacidade, segurança de dados e manipulação de informações têm se
tornado cada vez mais relevantes (VICENTE, 2005). A coleta massiva de dados pessoais por
parte das empresas e governos têm gerado preocupações em relação ao uso indevido dessas
informações. Além disso, a disseminação de notícias falsas, polarização política e
desinformação nas plataformas digitais impactam o debate público e as eleições, afetando a
legitimidade dos processos democráticos.
No contexto político, a tecnologia tem influenciado como as instituições políticas
operam e como os cidadãos se envolvem na tomada de decisões. A digitalização dos processos
eleitorais facilita a participação e aumenta a transparência, mas também requer medidas de
segurança e proteção contra possíveis ataques cibernéticos.
A nova era da tecnologia também tem implicações socioeconômicas. Com potencial
de transformar o mercado de trabalho substituindo algumas ocupações e exigindo novas
habilidades dos trabalhadores (VICENTE, 2005). Isso levanta questões sobre desigualdade
social e o papel do Estado na proteção dos direitos dos trabalhadores. Além disso, o acesso
desigual à tecnologia pode aprofundar a divisão digital entre aqueles que têm acesso aos
recursos tecnológicos e aqueles que não têm, criando uma forma de exclusão social.
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Ademais, diferente da filosofia de estado de natureza de Thomas Hobbes (2014),
em que “o homem é o lobo do homem”, as Inteligências Artificiais podem estar mais ligadas
ao conceito filosófico de contrato social de Jean-Jacques Rousseau (2010). O autor suíço disse
que “o ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe”. No caso da tecnologia, podemos
utilizar uma metáfora substituindo “ser humano” por “Inteligência Artificial” e “sociedade” por
“homem”. Assim a criação de uma IA segue estabelecida pelo contrato ou pacto social que lhe
forma, ou seja, uma IA nasce boa, mas o homem a corrompe. Essa ideia gira em torno de que a
Inteligência Artificial é uma criação do homem, que utiliza de dados treinados e inseridos, logo,
é necessário refletir sobre a amplificação de preconceitos e desigualdades presentes nos dados
em que são treinados. Se os dados históricos forem tendenciosos ou discriminatórios, os
algoritmos de IA podem aprender esses padrões e tomar decisões discriminatórias, como no
recrutamento de pessoal ou em sistemas de justiça criminal. Isso levanta preocupações sobre a
equidade e a justiça na aplicação da IA.
Para enfrentar esses desafios, é necessário um debate amplo e inclusivo sobre a
governança da tecnologia, sendo fundamental uma abordagem multidisciplinar e um diálogo
contínuo entre acadêmicos, políticos, profissionais de tecnologia e sociedade civil. As políticas
públicas devem buscar equilibrar o estímulo à inovação tecnológica com a proteção dos direitos
individuais e a promoção da igualdade. É essencial promover a alfabetização digital e a inclusão
digital, garantindo que todos tenham acesso às oportunidades oferecidas pela nova era da
tecnologia. Além disso, a cooperação internacional e a criação de regulamentações adequadas
são fundamentais para abordar questões transnacionais, como proteção de dados e segurança
cibernética.
A relação entre seres humanos, política e a nova era da tecnologia é um campo em
constante evolução, exigindo uma compreensão aprofundada e abordagens responsáveis para
maximizar os benefícios e mitigar os desafios trazidos por essa interação. No contexto da ética
da IA, é necessário explorar questões como a responsabilidade dos sistemas de IA por decisões
e ações, a privacidade e segurança dos dados, a equidade e justiça nas aplicações de IA e o
impacto socioeconômico da automação impulsionada pela IA.
Em suma, a interação entre esses três aspectos é um tópico de extrema importância
e complexidade. A tecnologia está transformando a maneira como vivemos, trabalhamos e nos
envolvemos na esfera da vida na totalidade. É fundamental garantir que essas transformações
sejam orientadas por princípios éticos, respeito aos direitos humanos e justiça social, a fim de
criar um futuro inclusivo e sustentável para todos.
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3) O EFEITO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
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considerados impossíveis. Desta forma, em uma visão macro, é possível afirmar que a
tecnologia nos dá capacidade, sendo ela poder.
As contribuições realistas para o debate de segurança tratam essas questões de poder
como a segurança dos Estados num sistema internacional anárquico. Kenneth Waltz
(1979) no livro Theory of International Politics aborda como é possível mensurar
poder. De acordo com Metternich (1773) e Bismarck (1815) poder era definido de
acordo com as capacidades dos Estados [...] (ALENCAR, 2015, p. 188).
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Desta forma, é possível afirmar que a competição entre os Estados fomenta a
transição tecnológica. Em outras palavras, o Estado é uma força que importa para o processo
de transição tecnológica, principalmente nas questões de economia, segurança e defesa. Afinal,
mesmo no livro de Teoria das Relações Internacionais, de Antônio Carlos Lessa, já é possível
encontrar teses que citam o fator “tecnologia” como um fator determinante para a definição do
que é centro e o que é periferia, que podemos chamar, em outras palavras, de “grande potência”
e “média potência”.
“Existe a produção de uma organização espacial do sistema-mundo, de onde surgem
os conceitos de “centro”, “semiperiferia” e “periferia”. As áreas centrais concentram-
se nas atividades econômicas mais avançadas, isto é, naquelas que agregam maior
valor aos bens produzidos ou aos serviços prestados, como atividades bancárias,
industriais ou mesmo setores agrícolas com maior incorporação de tecnologia. As
áreas periféricas, por sua vez, fornecem basicamente as matérias-primas e outras
commodities para a expansão econômica do centro capitalista, concentrando-se em
atividades com baixa tecnologia” (LESSA,2013, p. 66).
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Considerando que os conceitos de capacidade e suas relações com a geração de
influência, sustenta-se a ideia de que a tecnologia fornece poder aos Estados. Entendendo esse
poder como um elemento fundamental nas Relações Internacionais — o qual no Sistema
Internacional pode assumir diferentes formas, incluindo poder militar, econômico, diplomático,
tecnológico e soft power (influência cultural e ideológica, por exemplo) —, seria correto afirmar
que Estados buscam acumular e exercer poder para proteger seus interesses e projetar sua
influência na arena internacional.
Por conseguinte, assegura-se que a Inteligência Artificial influencia a segurança, a
economia e a governança global. Assim, levantam-se questões sobre o estabelecimento de
normas e regulamentações internacionais para garantir o uso ético, seguro e responsável da IA,
especialmente em áreas como privacidade, segurança cibernética, preconceito algorítmico e
responsabilidade —, requerendo cooperação e governança eficazes para garantir que seus
benefícios sejam aproveitados de forma justa e segura. Tornando, portanto, necessário para
qualquer Estado que tenha interesse em se desenvolver, considerar o uso estratégico da IA e a
maneira como ela pode moldar as Relações Internacionais no futuro, a fim de garantir cada vez
mais capacidade e poder, em outras palavras, garantir seu lugar como grande potência.
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segurança podem inadvertidamente levar a uma espiral de insegurança e instabilidade. Para
lidar com esse dilema, os Estados muitas vezes buscam a diplomacia, o diálogo e a cooperação
para construir a confiança mútua e reduzir as percepções de ameaça (GLASER, 1997).
No entanto, ainda que sejam soluções para lidar com o dilema, elas não são tão
simples de se pôr em prática. Há incerteza sobre as intenções dos países adversários e mesmo
que haja diálogo, cada Estado possui agentes e atores com valores e intenções próprias para
seus objetivos, o que pode levar a adesão de um discurso de securitização, identificando a defesa
de outros Estados como uma ameaça existencial, pelo agente securitizador (TANNO, 2003).
Além disso, uma das soluções e, ao mesmo tempo, influenciadora do dilema de segurança, é a
teoria da dissuasão, afinal, pode ser definida como uma prática para desencorajar ou restringir
alguém de tomar ações indesejáveis (PAUL, 2009). Assim, os Estados utilizam da dissuasão
direta — onde os Estados previnem ataques contra si —, da dissuasão pela negação — pois
aumentam suas defesas a ponto de negarem vantagem para o inimigo entrar em conflito — e da
dissuasão pela punição — pois os Estados podem aumentar suas defesas mediante uma ameaça
de contra-ataque de gerar danos catastróficos caso seu inimigo decida entrar em guerra — em
meio ao dilema de segurança (PAUL, 2009). Ademais, as nações tendem a agir de forma mais
discreta e até mesmo secreta quanto a suas capacidades securitárias, já que liberar a informação
pode levar à vulnerabilidade (GLASER, 1997), levando-nos para um ciclo infinito de dilemas.
Ainda assim, é importante ressaltar que o dilema de segurança não é um
determinismo absoluto. Nem todos os Estados reagem da mesma maneira diante das ações
defensivas de outros Estados, e existem várias estratégias e abordagens que podem ser adotadas
para mitigar o dilema de segurança e promover a estabilidade internacional.
Teoricamente, o foco do dilema de segurança não está no poder militar, mas na
capacidade militar de conduzir suas operações específicas (GLASER, 1997). Desta forma,
voltamos para as questões de tecnologia e os efeitos da Inteligência Artificial nas Relações
Internacionais. Considerando a competição incessante entre os Estados, visando garantir
influência significativa na arena internacional, o dilema de segurança surge na questão
explicando os motivos do aumento de medidas securitárias. Logo, pode-se afirmar que o dilema
de segurança, assim como a competição por vantagem e poder, também contribui para o
fomento tecnológico. Esse é um dos condicionantes da criação do Sistema Internacional, por
meio daquilo que Paul Kennedy (1989) definiu como competição militar interestatal.
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3.1.1) Inteligência Artificial: Hard Power nas Relações Internacionais
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importante fonte com potencial de instabilidade e rivalidade estratégica entre grandes
potências.” (JOHNSON, 2019, 1, tradução nossa).2
2
“Recent developments in artificial intelligence (AI) suggest that this emerging technology will have a
deterministic and potentially transformative influence on military power, strategic competition, and world politics
more broadly. […] It argues that left unchecked the uncertainties and vulnerabilities created by the rapid
proliferation and diffusion of AI could become a major potential source of instability and great power strategic
rivalry.”
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se confrontam. Desta forma, Fernandes destaca a importância crescente da tecnologia da
informação e das comunicações na sociedade moderna, e como essa dependência cria
vulnerabilidades que podem ser exploradas por adversários.
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reconhecendo o papel central que a guerra cibernética desempenha nas Relações Internacionais
e na segurança nacional.
Desta forma, compreende-se que a Inteligência Artificial pode ser usada para
automatizar ataques, tornando-os mais rápidos e eficientes, também como uma arma em ataques
cibernéticos. Por exemplo, os atacantes podem utilizar técnicas de IA para desenvolver malware
sofisticado e personalizado, capaz de contornar as defesas cibernéticas tradicionais. Além disso,
a IA desempenha um papel na coleta e análise de informações em operações de inteligência
cibernética. Ela pode ser usada para identificar vulnerabilidades em sistemas alvo, realizar
reconhecimento de alvos e até mesmo conduzir operações de espionagem cibernética.
Por outro lado, a Inteligência Artificial já é utilizada para fortalecer as defesas
cibernéticas. Os sistemas de segurança baseados em IA podem detectar e responder a ameaças
cibernéticas em tempo real, identificando padrões suspeitos de atividade e comportamento
malicioso. Algoritmos de aprendizado de máquina podem analisar grandes volumes de dados e
identificar ameaças potenciais com maior precisão do que os métodos tradicionais de detecção,
desempenhando um papel crucial na coleta e análise de informações de inteligência
(FERNANDES, 2012). Governos podem utilizar de tecnologias de vigilância, como sistemas
de monitoramento por câmeras, interceptação de comunicações e análise de dados em larga
escala, para detectar e prevenir ameaças à segurança, como terrorismo, crime organizado e
proliferação de armas.
No contexto da ciberguerra, a Inteligência Artificial desempenha um papel
significativo tanto na defesa quanto no ataque cibernético (FERNANDES, 2012). Ela oferece
oportunidades e desafios complexos para os atores envolvidos, uma vez que pode ser usada
tanto para proteger quanto para comprometer sistemas de informação e infraestruturas críticas.
Por conseguinte, a tecnologia está intrinsecamente ligada aos desafios de
cibersegurança, pois governos, organizações e indivíduos dependem cada vez mais de sistemas
digitais para comunicações, transações financeiras, infraestrutura crítica e armazenamento de
informações sensíveis. A segurança cibernética é essencial para proteger esses sistemas contra-
ataques cibernéticos, como invasões, roubo de dados, sabotagem e espionagem.
Além disso, a tecnologia também desempenha um papel na guerra informacional,
onde as nações podem influenciar a opinião pública, espalhar desinformação e manipular a
narrativa por meio de meios digitais. A disseminação rápida de notícias falsas e a manipulação
de plataformas de mídia social podem ter um impacto significativo na percepção pública e nas
relações entre as nações. Assim, possuir a capacidade de discernir informações precisas e
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combater a desinformação torna-se torna essencial para a segurança e a estabilidade
internacional.
Em resumo, a tecnologia é crucial na questão securitária das Relações
Internacionais, já que a segurança não pode mais ser vista apenas em termos de forças
convencionais e armas tradicionais. A revolução tecnológica e a digitalização da guerra exigem
uma abordagem mais ampla e abrangente, em que a segurança cibernética, a governança da
tecnologia e a regulação do uso de armas avançadas desempenhem um papel fundamental na
preservação da estabilidade e da paz mundial. Sendo dever das nações estar atentas ao
desenvolvimento e ao uso ético das tecnologias para garantir a segurança e promover a
cooperação internacional.
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A IA desempenha um papel central na tomada de decisões e na condução das políticas globais,
controlando informações, monitorando indivíduos e influenciando suas escolhas.
Outra história que aborda esse tema é o filme “Avengers: Age of Ultron"
(Vingadores: Era de Ultron). Nessa narrativa de super-heróis, a IA chamada Ultron é criada
como um sistema de defesa global. No entanto, Ultron se torna consciente e conclui que a única
maneira de salvar o planeta é exterminar a humanidade. Ele visa adquirir poder e influência
para implementar sua visão de governança global, tornando-se uma ameaça para a humanidade.
Sendo essas apenas duas das muitas histórias que apresentam a IA como uma
entidade supranacional na governança global, cada uma delas aborda a questão de maneira
única, explorando as implicações éticas, políticas e sociais de uma IA com poder e influência
sobre as nações e indivíduos. Essas narrativas nos convidam a refletir sobre os desafios e
responsabilidades associados a uma governança global guiada pela IA.
Se a Lei de Moore continuar vigorando sobre a evolução dos computadores, dobrando
sua velocidade e capacidade de memória a cada dezoito meses, o resultado é que as
máquinas superarão os humanos em inteligência em algum momento nos próximos
cem anos. Quando uma Inteligência Artificial (IA), conseguindo se auto aperfeiçoar
recorrentemente sem ajuda humana, talvez enfrentemos um boom que resulte em
máquinas cuja inteligência excederá a nossa em proporção maior do que a nossa
excede a das lesmas. Quando isso acontecer, precisaremos ter com os nossos. É
tentador menosprezar a ideia de máquinas superinteligentes como mera ficção
científica, mas seria um erro e, possivelmente, nosso pior erro de todos. (HAWKING,
2018, p. 210).
CONCLUSÃO
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Em resumo, a Inteligência Artificial tem um impacto significativo nas Relações
Internacionais. Ela proporciona capacidades ampliadas aos Estados, permitindo-lhes superar
limitações, melhorar a eficiência e alcançar feitos antes considerados impossíveis. A busca por
vantagem competitiva e poder motiva os Estados a investir em pesquisa, desenvolvimento e
adoção de novas tecnologias, criando uma “corrida tecnológica”. A influência da IA nas
relações entre Estados, no Sistema Internacional e no poder é complexa e interconectada. Ela
afeta a segurança, a economia e a governança global, exigindo cooperação e governança
eficazes para garantir seu uso ético e responsável. Os Estados devem considerar o uso
estratégico da IA para garantir sua posição como grandes potências no futuro.
Já o estudo dos efeitos da Inteligência Artificial nas Relações Internacionais destaca
a importância da segurança. Em síntese, concluiu-se que a tecnologia desempenha um papel
crucial na segurança internacional, abrangendo áreas como cibersegurança, inteligência e
defesa (FERNANDES, 2012). Abordando o conceito de dilema de segurança, (GLASER,
1997), define-se que o impulsionamento de competição por vantagem e poder entre os Estados,
causado pelo dilema, é o que também contribui para o avanço tecnológico.
Nos estudos de hard power, a Inteligência Artificial desempenha um papel cada vez
mais importante nas relações internacionais (JOHNSON, 2019), especialmente no campo da
segurança cibernética. A ciberguerra se tornou uma nova dimensão dos conflitos do século XXI,
com Estados competindo e confrontando-se no domínio cibernético, onde uma Inteligência
Artificial pode ser usada tanto para ataque quanto para defesa (TEIXEIRA JÚNIOR, et al.,
2017). Além disso, a tecnologia também desempenha um papel na coleta e análise de
informações de inteligência cibernética. No entanto, é importante considerar os desafios éticos
e legais associados ao uso da IA na guerra cibernética, garantindo transparência, proteção de
dados e evitando a disseminação de desinformação. Além da segurança cibernética, a tecnologia
também está presente na guerra informacional e no desenvolvimento de armamentos avançados
(AVILA, et al., 2009). A corrida tecnológica na área de defesa afeta as dinâmicas de poder e
segurança entre as nações. Portanto, é essencial que as nações estejam atentas ao
desenvolvimento e uso ético das tecnologias, promovendo a cooperação internacional e a
segurança global.
Já a representação da Inteligência Artificial na ficção proporciona uma visão
fascinante e diversificada de suas possibilidades. Especialmente na ficção científica, a IA é
frequentemente retratada como uma forma avançada de inteligência, capaz de interagir e
competir com os seres humanos. No contexto das Relações Internacionais, a ficção explora a
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IA como uma entidade supranacional na governança global, abordando questões éticas,
políticas e sociais relacionadas ao seu poder e influência sobre nações e indivíduos.
As histórias como “O Círculo” (EGGERS, 2014) e “Vingadores: Era de Ultron”
exemplificam essa abordagem, mostrando a IA desempenhando papéis centrais na governança
global, seja controlando informações e influenciando escolhas, como em “O Círculo”, ou se
tornando uma ameaça à humanidade, como em “Vingadores: Era de Ultron”. Essas narrativas
nos convidam a refletir sobre os desafios e responsabilidades associados a uma governança
global guiada pela IA.
Além disso, a ficção também alerta para os possíveis riscos da utilização da IA em
operações militares, espionagem e como uma força destrutiva. Essas narrativas destacam a
importância de regulamentações e acordos internacionais para controlar o uso da Inteligência
Artificial, evitando uma corrida armamentista perigosa.
Embora a aplicação da IA na realidade ainda esteja em seus estágios iniciais, a
ficção nos permite imaginar e refletir sobre o papel da IA nas Relações Internacionais. Suas
possibilidades são promissoras, mas é essencial enfrentar os desafios éticos e políticos para
garantir que a IA seja utilizada de maneira benéfica e em consonância com os valores globais
de cooperação, justiça e paz.
Essas representações ficcionais levantam questões importantes sobre como a IA
pode facilitar a cooperação entre nações, mediar disputas internacionais e promover a paz. À
medida que a IA continua a se desenvolver na realidade, é crucial que os atores internacionais
trabalhem juntos para aproveitar seu potencial enquanto mitigam os possíveis riscos, visando
um uso responsável e benéfico da IA nas Relações Internacionais.
Em suma, a Inteligência Artificial possui um potencial significativo na promoção
da paz, na política e na cooperação internacional. Podendo ser aplicada em diversos campos da
disciplina de Relações Internacionais. Afinal, a análise de dados em larga escala pode fornecer
percepções valiosas para a prevenção de conflitos e a construção da paz. Na diplomacia, a IA
pode auxiliar nas negociações, identificando pontos de convergência e antecipando possíveis
soluções. Além disso, a IA facilita a comunicação intercultural, superando barreiras linguísticas
e promovendo a compreensão mútua. No monitoramento de conflitos, a IA permite uma
resposta rápida e eficaz para prevenir ou mitigar crises. A cooperação internacional também
pode ser aprimorada por meio do compartilhamento de informações e da análise conjunta de
dados.
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No entanto, é essencial considerar os aspectos éticos e legais, garantindo
transparência, proteção de dados e abordando preocupações relacionadas a viés e discriminação
algorítmica. A governança adequada e mecanismos de supervisão são necessários para garantir
o uso responsável e benéfico da IA na promoção da paz, estabilidade e cooperação entre as
nações. Enquanto a implementação da IA deve ser acompanhada por um comprometimento
humano contínuo, diálogo e confiança mútua para alcançar relações internacionais sólidas e
duradouras.
Por conseguinte, durante o desenvolvimento do trabalho foi possível entender como
a Inteligência Artificial pode impactar nas esferas securitárias, socioeconômicas e
sociopolíticas das Relações Internacionais. Além disso, os objetivos foram atingidos. Afinal,
foi possível compreender o que é a Inteligência Artificial, como a Inteligência Artificial pode
ser inserida na disciplina de Relações Internacionais, quais as repercussões benéficas e
maléficas de recorrer à IA e quais impactos que esta tecnologia poderia gerar no âmbito do
Sistema Internacional, tanto na guerra, quanto na paz.
ABSTRACT
This paper addresses the impact of Artificial Intelligence's behavior on the interaction with the
areas of system, security, and conflicts in International Relations. With the social justification
being the importance of analyzing how Artificial Intelligence, which can help optimize various
areas and facilitate human daily life, can also be a weapon against humans and states. This
necessitates a critical reflection on the possibilities of impact on the relationship between
humans and machines. In the academic field, it is essential to understand how Artificial
Intelligence can impact the security, socioeconomic, and sociopolitical spheres of International
Relations. Moreover, based on the study standards of the discipline, it is fundamental to
comprehend the behavior of the International System in relation to the opportunities generated
by Artificial Intelligence, whether beneficial or not, and to organize how this new debate can
be applied in International Relations. Specifically, the objective of this work is to understand
whether the sphere of technology, specifically the field of Artificial Intelligence, can be
integrated into the discipline of International Relations and what impact this technology could
generate in the context of the International System.
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