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Eles trazem a vida real para a sala de aula, envolvem mais as crianças nas atividades e,
com alguns conteúdos, são a melhor forma de trabalhar. Porém, ainda geram muitas
dúvidas
Os projetos estão mais populares do que nunca. Redes de todo o país incentivam o
trabalho com essa modalidade e algumas escolas preveem no currículo os que serão
realizados durante o ano. Boa notícia. Afinal, em muitos casos, eles ajudam a ensinar
mais e melhor. Porém falta informação sobre o tema. Só neste ano, NOVA ESCOLA
recebeu 166 e-mails com dúvidas. Compiladas em 14 questões, elas são respondidas
nesta reportagem para ajudar você a dominar essa ferramenta.
10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas versões do
trabalho.
11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade aos
processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.
Não. Um projeto focado em apenas uma área tem grande valor, já que permite um
mergulho mais profundo no conteúdo trabalhado. Embora, às vezes, pareça que
objetivos de disciplinas diferentes estejam coordenados numa mesma proposta, muitas
vezes só os relacionados a uma delas estão sendo desenvolvidos. Num cenário ainda
pior - e também comum -, não são trabalhados de forma correta os conteúdos de
nenhuma das áreas.
Um bom projeto é aquele que indica intenções claras de ensino e permite novas
aprendizagens relacionadas a todas as disciplinas envolvidas. "Não é raro a turma
apenas utilizar conhecimentos que já possui", explica Maria Alice Junqueira, professora
de Pedagogia do Instituto de Educação Superior Vera Cruz, em São Paulo, e assessora
de redes públicas e escolas particulares. Veja o exemplo de um projeto de Ciências que
tem como objetivo ensinar procedimentos de pesquisa. Se os alunos tiverem de produzir
um relatório e já forem experientes na escrita desse gênero, não é possível dizer que ele
envolve a disciplina de Língua Portuguesa - afinal, eles só estão colocando em jogo o
que sabem. Isso vai efetivamente ocorrer se a tarefa for produzir um artigo científico e
esse tipo de texto for novo para todos.
A ideia de que projetos didáticos precisam ser interdisciplinares pode estar relacionada a
uma confusão entre essa estratégia, os projetos institucionais e os temas geradores. Os
projetos institucionais são ações que envolvem toda a escola em torno de um mesmo
objetivo - por exemplo, produzir um jornal ou uma campanha. Nesse caso, cada
professor precisa pensar em atividades relacionadas a ele para desenvolver com sua
turma. Não há necessariamente um produto final ou um propósito social para o trabalho.
Já quando é definido um tema gerador, como meio ambiente, cabe ao professor escolher
quais serão os conteúdos a enfocar e os objetivos a alcançar. O problema, nesse caso, é
organizar as atividades em cima de um tema considerado envolvente pelos alunos, em
vez de fazer um planejamento baseado nas reais necessidades de aprendizagem deles.
Para um profissional que tem pouca experiência com esse tipo de trabalho, é
melhor utilizar um bom modelo, com todas as etapas definidas e os objetivos
previamente pensados e aprovados. Não há demérito nisso. Nas melhores escolas, é
comum replicar boas práticas. "Um projeto nunca vai ser uma receita fechada, que o
professor simplesmente lê e desenvolve em classe com a turma. É preciso adaptar as
atividades levando em consideração as características dos alunos e a realidade local",
ressalta Clélia Cortez, coordenadora pedagógica do Colégio Vera Cruz, em São Paulo.
Um trabalho sobre animais, por exemplo, fica muito mais interessante se focar as
espécies encontradas na região.
Pré-escola
Conteúdos
Natureza e sociedade, linguagem oral e comunicação e exploração e linguagem plástica
Língua portuguesa
Conteúdos
Sistema alfabético de escrita, comunicação oral, comportamentos escritores e leitores
Matemática
Conteúdos
Leitura, escrita, comparação e ordenação de escrita numérica
Traz os números nos contextos cotidianos, o que nos anos iniciais dá mais
sentido às atividades, apesar de não ser imprescindível
Ciências
Conteúdos
Procedimentos e atitudes científicas
História
Conteúdos
Procedimentos de pesquisa e História oral e local
Geografia
Conteúdos
Geografia física e Geografia cultural
Educação Física
Conteúdos
Práticas da cultura corporal e conhecimentos sobre o corpo
Língua estrangeira
Conteúdos
Comportamentos leitores e escritores
Arte
Conteúdos
Produção e reflexão sobre Arte
Pedir que os alunos sempre façam releituras e não icentivar que criem
Organizar o produto final sem a participação dos estudantes
Não incluir o trabalho de todos no produto final
Consultoria: Beatriz Gouveia, Daniel Vieira Helene, Fabio D'Angelo, Luciana Hubner,
Priscila Monteiro, Regina Scarpa, Rosa Iavelberg, Sandra Durazzo e Sueli Furlan,
selecionadores do Prêmio Victor Civita - Educador nota 10
O primeiro passo é ter clareza sobre o que você quer ensinar, o que espera que os
alunos aprendam e o que eles já sabem. Assim é possível garantir dois importantes
critérios didáticos: a continuidade e a variedade de conteúdos ao longo dos anos.
Primeiro, ela ofereceu às crianças diversos livros para ampliar o repertório. Depois,
propôs uma análise das características do gênero estudado, sistematizando os
conhecimentos adquiridos. Na sequência, realizou uma produção coletiva para que a
turma se familiarizasse com esse tipo de texto. Por fim, os alunos redigiram as próprias
versões, que foram revisadas com o apoio de Eudes.
Um bom critério para definir de que forma os estudantes vão realizar a tarefa é sua
complexidade. A leitura de um texto, por exemplo, deve ser feita em grupo quando a
garotada tem pouca experiência com o tema ou o gênero. A pesquisadora Delia Lerner,
em um artigo publicado na revista argentina Letra y Vida, afirma que a discussão entre
os alunos numa situação como essa é fundamental porque obriga cada um deles a
justificar sua interpretação e, assim, tomar consciência das próprias contradições, além
de conhecer a interpretação dos colegas. Depois dessa etapa, realizar sozinho uma
atividade baseada nas informações do texto fica bem mais fácil.
No caso dos projetos, são três os eixos de aprendizagem que podem ser
considerados na avaliação:
o conteúdo;
o aprofundamento no tema;
a aproximação com a prática social relacionada ao produto final.
As respostas dadas pelos alunos ao longo do processo dão pistas sobre o que já foi
compreendido e no que ainda é preciso avançar, assim como os momentos de
sistematização dos conteúdos - quando a turma define com suas palavras os conceitos
estudados. Para Delia Lerner, o processo permite diminuir a incerteza do professor e do
aluno porque nele se passam a limpo os conteúdos ensinados e aprendidos. Outra boa
estratégia é, no fim de cada atividade, fazer uma análise das produções, que funcionam
como um retrato da aprendizagem até aquele ponto. O conjunto delas pode revelar os
avanços e os problemas enfrentados por cada um. Da mesma maneira, o produto final,
em suas sucessivas versões, também mostra o percurso pelo qual o aluno passou.
O evento só cumprirá esses dois papéis se estiver prevista a exposição dos objetivos de
cada atividade realizada, dos registros das várias versões do produto final e das fotos
que ilustram o processo. Fazer uma festa bonita não deve ser a maior preocupação da
escola- como é bastante comum -, mas o mínimo de organização precisa ser garantido.
Sem despender muito tempo nessa tarefa, professores e gestores precisam tomar uma
série de providências, como conseguir microfones para as apresentações orais, organizar
as cadeiras para os convidados e distribuir pelo espaço reservado para o evento suportes
para expor os trabalhos. "Não é correto transformar a culminância na grande estrela de
um projeto. O mais atrativo é o caminho pelo qual todos passaram e as realizações das
crianças", explica Maria Alice Junqueira. Alerta: a participação dos alunos na
culminância deve ter caráter pedagógico, incluindo a definição de critérios para a
exposição do material, e não na produção de enfeites, o que não se relacionam a
nenhum objetivo.