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Guerra Latina
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Índice
1 Fontes Mapa da região em 338 a.C..
2 Contexto Data 340338 a.C.
3 Guerra Local Mar Mediterrâneo, Sicília, Sardenha
3.1 Relato antigo Desfecho Vitória romana. Dissolução da Liga Latina
3.2 Visão moderna
4 Campanhas Combatentes
5 Consequências políticas República Romana Liga Latina
6 Notas Principais líderes
7 Referências Públio Décio Mus
8 Bibliografia Tito Mânlio Imperioso Torquato
Caio Mênio
Fontes
A fonte mais completa sobre a Guerra Latina é o historiador romano Lívio (59 a.C.–17 d.C.), que narrou a
guerra no oitavo livro de sua "História de Roma" ("Ab Urbe Condita"). Duas outras importantes narrativas
também sobreviveram: um fragmento das "Antiguidades Romanas", de Dionísio de Halicarnasso (ca. 60 a.C.–
depois de 7 a.C.), um grego contemporâneo de Lívio, e um sumário feito pelo cronista bizantino João Zonaras
da "História Romana" de Dião Cássio (150–235)[2]. Historiadores modernos consideram os relatos antigos da
Guerra Latina como uma mistura de fatos e ficção. Todos os autores de que dispomos viveram séculos depois
dos eventos narrados e se basearam em obras de escritores anteriores. Diversos deles viveram a Guerra Social
entre Roma e seus aliados italianos e parecem ter interpretado a Guerra Latina nos termos dela, o que
introduziu elementos claramente anacrônicos no registro histórico[3].
Contexto
Os latinos não tinham um governo central e estavam divididos em diversas cidades autogovernados que
compartilhavam uma mesma língua, cultura e algumas instituições legais e religiosas[4]. No século V a.C., estas
cidadesestado formaram uma aliança militar de proteção mútua com os romanos chamada Foedus Cassianum,
cujo objetivo principal era resistir aos raides e invasões de dois povos vizinhos, os équos e os volscos[5]. Como
a maior cidade latina, Roma naturalmente tinha uma posição de relevo nesta aliança[6]. No início do século IV
a.C., com a ameaça das invasões debelada, sobreveio um temor cada vez maior do poderio romano. Diversas
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guerras entre Roma e as cidades latinas, geralmente aliadas aos seus antigos inimigos, os volscos, foram
registradas na primeira metade do século IV a.C.[7]. No fim, latinos e volscos não conseguiram evitar que
Roma estabelecesse seu controle sobre o Ager Pomptinus (o território dos Pântanos Pontinos e os Montes
Lepinos) e, em 381 a.C., de anexar a cidade latina de Túsculo[8]. A ameaça das invasões gaulesas parece ter
convencido pelo menos algumas cidades latinas a restaurar a aliança com Roma em 358 a.C.[9], mas entre elas
não estavam Tibur e Preneste, as duas maiores cidades latinas que só fizeram as pazes com Roma em 354 a.C.
depois de duras guerras[10]. Durante a década de 340 a.C., as relações romanolatinas pioraram novamente[11].
Lívio relata que, em 349 a.C., enfrentando novamente uma iminente invasão gaulesa, os latinos se recusaram a
entregar sua parte das tropas[12] e, em 343 a.C., chegaram a planejar um ataque a Roma, o que só foi evitado
pelas notícias das vitórias romanas contra samnitas, o que os levou a atacaram Paeligni no lugar[13].
Os samnitas eram uma federação tribal que vivia nos Apeninos centrais. Em 354 a.C., eles firmaram um tratado
de amizade com Roma[14][15], provavelmente fixando o rio Liris como fronteiras de suas respectivas esferas de
influência[16], mas, apesar deste tratado, a Primeira Guerra Samnita irrompeu entre Roma e os samnitas pelo
controle da Campânia. Segundo Lívio, esta guerra começou com um ataque samnita a uma tribo menor, os
sidicínios. Incapazes de resistir, eles apelaram aos campânios, liderados pela cidadeestado de Cápua, famosa
por sua riqueza, mas eles também foram derrotados e os samnitas invadiram a Campânia. Neste ponto, os
campânios decidiram se render incondicionalmente aos romanos, o que os obrigou a intervir para proteger seus
novos súditos contra os samnitas[17]. Historiadores modernos discutem se essa rendição de fato aconteceu ou se
foi inventada para absolver Roma da quebra do tratado, mas geralmente se concorda que Roma formou alguma
espécia de aliança com Cápua[18].
A Primeira Guerra Samnita terminou em 351 com uma negociação de paz e a renovação do tratado anterior.
Roma manteve sua aliança com os campânios, mas aceitou que os sidicínios passassem para a esfera de
influência samnita[19][20]. Segundo Lívio, assim que a paz com Roma foi fechada, os samnitas atacaram os
sidicínios com as mesmas forças que haviam utilizado contra Roma. Enfrentando uma inevitável derrota, os
sidicínios tentaram se render a Roma, mas a rendição foi rejeitada pelo Senado com o argumento de que ela
teria vindo tarde demais. Os sidicínios então se voltaram aos latinos, que já se preparavam para a guerra. Os
campânios se juntaram à guerra e, liderado pelos latinos, um grande exército invadiu Sâmnio. A maior parte
dos danos provocados aos samnitas foi resultado de raides e não de batalhas e, embora os latinos terem levado a
melhor em vários encontros com os samnitas, eles próprios recuaram do território inimigo. Os samnitas
enviaram embaixadores a Roma para reclamar e exigir que, se latinos e campânios realmente eram povos
súditos de Roma, Roma deveria utilizar sua autoridade sobre eles para evitar novos ataques ao territórios
samnitas. Os campânios haviam se rendido a Roma e estavam obrigados a obedecer, porém não havia nada no
tratado com os latinos que os impedisse de declarar guerra com quem quer que fosse[21]. O resultado desta
resposta foi uma completa revolta dos campânios contra Roma, o que encorajou os latinos a agirem. Com a
desculpa de estarem preparando uma guerra contra os samnitas, os latinos tramaram em segredo com os
campânios para lutar contra Roma. Porém, o plano vazou e, em Roma, os cônsules de 341 a.C. receberam
ordens de deixarem seus postos antes do final de seus mandatos para que novos cônsules pudessem assumir no
início dos preparativos de uma grande guerra que se avizinhava. Os cônsules eleitos para 340 a.C. foram Tito
Mânlio Imperioso, pela terceira vez, e Públio Décio Mus[22].
Historiadores modernos não dão muito crédito a esses eventos que supostamente ocorreram depois do final da
Primeira Guerra Samnita, defendendo que seriam em grande parte inventados. Há diversas similaridade com os
eventos que supostamente teriam dado início à Guerra Samnita, com os samnitas mais uma vez em guerra
contra os sidicínios e uma oferta de rendição feita a Roma, uma duplicação que quase certamente não é
histórica[23]. Desta vez a rendição foi recusada, o que revela a superioridade moral do Senado Romano na
época[24]. O suposto complô entre latinos e campânios também é provavelmente uma invenção, inspirada por
conversas secretas similares dos italianos antes da Guerra Social (9188 a.C.), na qual os planos também
vazaram[25].
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Relato antigo
Visão moderna
Historiadores modernos consideram o relato de Lívio sobre o início da Guerra Latina como uma ficção não
histórica, repleta de discursos inventados escritos, como era prática comum entre os historiadores antigos, como
forma de apresentar os argumentos de ambos os lados[31]. Há uma semelhança geral entre a retórica dos
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discursos de Lívio escritos para Lúcio Ânio e as reclamações e demandas feitas pelos aliados italianos de Roma
na Guerra Social[32]. Diversos dos escritores que se sabe que Lívio utilizou como fonte para os eventos da
história romana do século IV a.C. viveram na época da Guerra Social e seria natural para eles traçarem
paralelos entre a Guerra Latina e os eventos da época[33]. Como o Senado Romano rejeitou uma embaixada dos
revoltosos italianos em 90 a.C., o mesmo aconteceu com a embaixada latina em 340 a.C.[34]. Posteriormente,
em seu relato sobre a Segunda Guerra Púnica, Lívio menciona que algumas de suas fontes alegavam que os
capuanos, depois da Batalha de Canas, também haviam enviado uma embaixada para exigir uma divisão
equitativa do governo da República Romana. Ele próprio, porém, rejeitou o relato como uma duplicação das
demandas feitas pelos latinos no início da Guerra Latina. Historiadores modernos não acreditam que os latinos
tenham feito qualquer demanda por um cônsul e metade dos senadores em 340 a.C.. É possível, contudo, que
Cápua de fato tenha feito isso em 216 a.C., mas é mais provável que Lívio esteja correto ao considerar este
relato como uma duplicação[35]. Ao invés disto, estes historiadores propõem que, historicamente, estas
demandas políticas tenha sido feitas pelos italianos antes da Guerra Social[36]. Porém, não existe nenhum relato
antigo sobre estas demandas sobrevivente hoje[37]. No final do século I a.C., Roma já era a potência dominante
no Mediterrâneo e a cidadania romana era algo muito desejado. Porém, este tipo de sentimento é considerado
anacrônico quando projetado no século IV a.C.. Em 340 a.C., Roma era pouco mais do que uma potência local
no Lácio, mas cuja agressividade e a recente expansão para a Campânia era uma ameaça crescente à
independência das comunidades latinas menores, que se viam ameaçadas de serem completamente cercadas
pelo território romano[38]. Mais provável do que ter sido causada por uma recusa de Roma em partilhar o
governo com os demais latinos, a Guerra Latina é melhore descrita como a tentativa final dos latinos para
manterem sua independência. Nesta empreitada, receberam o apoio dos volscos, que estavam exatamente na
mesma situação dos latinos, e dos campânios, sidicínios e auruncos, três povos que estavam sob a ameaça de
serem esmagados entre as grandes potências da Itália Central, os romanos e os samnitas[39].
Campanhas
Os latinos invadiram Sâmnio e o exército romano marchou até o lago Fucine, evitando, desta forma, o Lácio.
Depois de invadirem a Campânia, latinos e campânios foram atacados perto do monte Vesúvio. Na Batalha do
Vesúvio, os romanos, liderados por Públio Décio Mus e Tito Mânlio Imperioso Torquato, foram vitoriosos.
Segundo as fontes romanas, Mânlio restaurou a disciplina no exército romano executando seu próprio filho por
uma desobediência não intencional. Já Décio Mus teria se sacrificado ritualmente aos deuses para garantir a
vitória romana. Os latinos sofreram pesadas perdas e apenas um quarto dos participantes conseguiu escapar[40].
Os sobreviventes se reagruparam em Minturno.
Sob comando de Númisio, os latinos conseguiram se reorganizar, principalmente depois da chegada de reforços
latinos e volscos, mas seu exército foi derrotado novamente na Batalha de Trifano[41].
No ano seguinte (339 a.C.), dos cônsules Tibério Emílio Mamercino e Quinto Publílio Filão, os latinos se
revoltaram novamente e foram mais uma vez derrotados numa batalha na planície fenectana. A cidade de Pedo
foi cercada e, logo em seguida, Emílio Mamercino retornou para Roma e o conflito se arrastou até a posse dos
cônsules do ano seguinte[41]
Os novos cônsules, Lúcio Fúrio Camilo e Caio Mênio Públio, retomaram o cerco de Pedo. Numa batalha
campal, os romanos derrotaram os habitantes da cidade, aos quais haviam se juntado os tiburinos e os
prenestinos. Depois de capturada Pedo, a derrota final veio em 338 a.C., numa batalha perto de Âncio[42], no
rio Astura, na qual Caio Mênio comandou as forças romanas que derrotaram o exército latino combinado de
Âncio, Lanúvio, Arícia e Velitras[43].
Por esta campanha, os dois cônsules celebraram um triunfo e tiveram a rara homenagem de ter estátuas
equestres de si próprios colocadas no Fórum Romano[43].
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Consequências políticas
Como resultado do final da guerra, o Senado Romano decidiu o destino de cada cidade latina de acordo com
seu comportamento durante a guerra[44], sempre considerando a necessidade de pacificar a região.
Lanúvio, Arícia, Nomento e Pedo receberam a cidadania romana e a liberdade religiosa, Túsculo conseguiu
manter seus direitos civis já obtidos na anexação, Velitras perdeu suas muralhas e seus senadores foram
expulsos, Âncio recebeu uma nova colônia romana e a cidadania romana, mas sua marinha foi confiscada,
Tibur e Preneste perderam seus territórios e todos os demais povos latinos perderam o direito de comerciarem
entre si, de casarem entre si e de realizarem assembleias comuns[44]. Na prática, foi extinta a Liga Latina.
Quanto aos demais povos, os senadores decidiram conceder a cidadania romana sem direito a voto (civitas sine
suffragio) aos equestres campânios por terem se recusado a ajudar os latinos e aos habitantes de Fonda e
Formia por terem permitido a passagem do exército romano. Além disso, Cumas e Suessula perderam seus
territórios, o mesmo destino de Cápua.
Notas
1. Os romanos costumeiramente datavam os eventos citando os cônsules do ano. A Guerra Latina irrompeu durante o
consulado de Tito Mânlio Imperioso Torquato e Públio Décio Mus. Quando convertidas para o calendário ocidental
utilizando a tradicional cronologia varroniana, estes anos tornamse 340 e 338 a.C.. Porém, os historiadores modernos
demostraram que a cronologia varroniana data a Guerra Latina quatro anos mais cedo por causa da inclusão de "anos
ditatoriais" nãohistóricos. Apesar desta conhecida deficiência, esta cronologia continua em uso por convenção
também na literatura acadêmica e é, portanto, a cronologia utilizada neste artigo[1].
Referências
22. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 3.15
1. Forsythe(2005), pp. 369370 23. Oakley (1998), p. 394; Forsythe (2005), p. 289
2. Oakley (1998), pp. 425426 24. Oakley (1998), p. 394
3. Oakley (1998), p. 410 25. Forsythe (2005), p. 289
4. Forsythe (2005), p. 184 26. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 3.89
5. Forsythe (2005), pp. 186188 27. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 3.10
6. Forsythe (2005), p. 187 28. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 4.112
7. Cornell (1995), pp. 322323 29. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 5.112
8. Cornell (1995), p. 322; Forsythe (2005), p. 258 30. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 6.17
9. Oakley (1998), p. 5; Forsythe (2005), p. 258 31. Oakley (1998), p. 409
10. Oakley (1998), pp. 56; Forsythe (2005), p. 258 32. Oakley (1998), p. 409
11. Oakley (1998), pp. 1315 33. Oakley (1998), p. 410; Forsythe (2005), p. 289
12. Lívio, Ab Urbe Condita VII 25.56 34. Oakley (1998), p. 409
13. Lívio, Ab Urbe Condita VII 38.1 35. Oakley (1998), pp. 410411
14. Diodoro Sículo, xvi.45.8 (http://penelope.uchicago.ed 36. Oakley (1998), p. 411; Salmon (1967), p 207
u/Thayer/E/Roman/Texts/Diodorus_Siculus/16C*.htm 37. Oakley p. 410
l) 38. Oakley (1998), p. 409; Forsythe (2005), p. 289
15. Lívio, Ab Urbe Condita VII 19.3–4. 39. Salmon (1967), p 207
16. Salmon (1967), pp. 187193 40. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 10.
17. Lívio, Ab Urbe Condita VII 29.332.1–2 41. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 11.
18. Salmon (1967), p. 197; Cornell (1995), p. 347; 42. Smith, p.896
Oakley (1998), pp. 286–9; Forsythe (2005), p. 287 43. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 13.
19. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 1.82.3 44. Lívio, Ab Urbe Condita VIII, 14.
20. Salmon (1967), p. 202; Forsythe (2005), p. 288
21. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 2.413
22. Lívio, Ab Urbe Condita VIII 3.15
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