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ESCOLA DE FORMAÇÃO SOCIALISTA (EFS)

Projeto Sarau Porta Vermelha1

A arte opera diretamente sobre o sujeito humano; o reflexo da


realidade objetiva, o reflexo dos homens sociais em suas
relações recíprocas, no seu intercâmbio social com a natureza, é
um elemento de mediação, ainda que indispensável; é
simplesmente um meio para provocar este crescimento do
sujeito. (LUKÁCS, 1970, p. 274)

Proposta

O Sarau é um projeto promovido pela Escola de Formação Socialista e realizado pelo


Círculo de Debate e Reflexão sobre Arte, Cultura e Estética Marxista como parte de
suas atividades práticas com vistas ao atingimento dos objetivos estabelecidos no
projeto do próprio Círculo, com destaque para o contato concreto com as artes com
vistas à percepção e à construção de caminhos possíveis para a formação e emancipação
humana.

O nome do Sarau não foi previamente definido porque este Projeto visa à construção
coletiva, de modo que a equipe que o integrará, a ser inicialmente formada em sua
primeira reunião, será estimulada a pensar e definir um nome, bem como a construir a
logomarca do evento. Ambos precisam estar não só articulados entre si, mas com os
objetivos do próprio Projeto e com o perfil e a proposta da EFS. A construção coletiva é
fundamental, por um lado, para a compreensão e a concretização de um sarau
desenvolvido pelo trabalho conjunto de uma militância atuante e, por outro lado, para a
processo de formação permanente da própria militância que, ao se debruçar nesse
exercício criativo, precisa igualmente refletir sobre os elementos-chave que norteiam o
Projeto e, por conseguinte, sobre seus saberes acerca da arte, da estética e da cultura no
viés marxista. Ademais, a construção coletiva reverbera no espírito de camaradagem, de
caminhar conjunto, de acolhimento e de reconhecimento, a favor da totalidade da

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Nome definido na segunda reunião, realizada em 2/8/2023.
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realidade concreta na atuação interna aos espaços da sede, como em quaisquer outros
espaços de atuação.

A definição de um título permanente e de um logotipo é importante para a construção


do Projeto porque se objetiva a realização do Sarau como uma atividade permanente do
Círculo/EFS, concebido provisoriamente para ocorrer ao menos duas vezes ao ano. A
periodicidade do evento deverá ser definida também coletivamente, em reunião de
balanço após a primeira edição, momento em que já será possível fazer um
levantamento das dificuldades para a realização tanto no que tange à organização - em
seus mais variados aspectos como número de militantes colaboradores, gastos
financeiros, uso dos espaços - , quanto acerca da quantidade de participantes artistas e
público em geral.

Como já dito, a construção coletiva é um princípio que norteia o Projeto. Dessa forma,
as proposições que se apresentam doravante se mostram como ponto de partida,
podendo ser adequadas, ampliadas, alteradas de acordo com os diálogos e
problematizações da equipe organizadora.

Contextualização

O Círculo de Debate e Reflexão sobre Arte, Cultura e Estética Marxista foi formado em
fevereiro de 2023, mas já era uma ideia que vinha sendo construída pela EFS desde
2019. Os camaradas na organização do Círculo já se reuniram várias vezes para dialogar
sobre as atividades tanto para a sua realização como para análise dos resultados obtidos.
Contudo, até a presente data, somente duas atividades ocorreram.

E apesar de terem ocorrido apenas dois encontros, percebeu-se a necessidade de uma


atividade de caráter prático, capaz de colocar os participantes em contato direto com a
arte, a cultura e a estética marxista. Assim, o Sarau se apresentou como uma alternativa
bastante adequada por ser um evento em que a arte e a cultura são manifestas em uma
via de mão dupla, em que aqueles que assistem são também os que realizam, dando
protagonismo a todos que desejarem entrar em contato com a arte em condição ativa.
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Perfil e concepção

A arte é capaz de provocar experiências concomitantemente afetivas e intelectuais nos


sujeitos e é igualmente capaz de agir de maneira formativa sobre eles, exercendo
importante papel para a sua emancipação quando não se limita ao imediatismo, ao
idealismo e à subjetividade das questões meramente individuais. Quando se vincula à
realidade humanizada e aos sujeitos em sua prática, é capaz de apreender a totalidade
social em uma integração entre objetividade e subjetividade, revelando relações
humanas essenciais para a compreensão da realidade material. É por isso mesmo que
ela é uma forma de práxis ao articular um sujeito que age conscientemente no seu
exercício de compreensão da realidade a uma prática criativa com potencial para
transformar o mundo à sua volta.

Esse é o tipo de arte que atravessa os debates do Círculo e também devem ser os tipos
de manifestações artísticas do Sarau. Trata-se de uma arte capaz de contribuir para uma
nova visão de mundo por estar vinculada ao mundo concreto, especificamente à
realidade material da classe trabalhadora, à cultura popular. Isso deve ocorrer, porém,
sem que seja uma arte panfletária, um mero meio de propaganda, elaborada
artificialmente para “educar”. A arte construída assim não é capaz de provocar as
emoções legítimas que conseguem modificar o comportamento humano em sua
totalidade, mantendo-se na catarse momentânea e superficial da arte burguesa. É por
meio da estética, da criatividade popular honesta e genuína pautada nas suas questões
concretas e coletivas que a arte, como algo do mundo dos homens, consegue atingir o
seu papel na formação dos sujeitos porque, conforme Lukács (1970), se direciona sobre
a vida real dos homens no intuito de lhes possibilitar conhecimento a seu propósito.

E assim, como parte do mundo material no qual o sujeito está inserido, a arte
permite-lhe, ainda, um movimento que o direciona à percepção de que suas questões
não são individuais, mais humanas e, portanto, propicia-lhe o reconhecimento de
coletividade, de classe, promovendo ruptura da alienação em direção à emancipação
humana.

Como a proposta do Círculo é emancipadora, deve haver um esforço para que as


apresentações de qualquer natureza estejam em contraposição ao bloco histórico
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capitalista de cenário mundial e nacional contemporâneo a nós, cujo vínculo orgânico


base-superestrutura sedimenta sociabilidades baseadas no privatismo, no individualismo
extremo, na ordem social meritocrática, na flexibilização/fragmentação das relações
sociais e políticas públicas, na redução de tudo à “lógica de reprodução do valor”, na
conversão ideológica de proletários em empresários e do identitarismo que encobre a
ideia de pertencimento de classe. As atividades devem primar pelo tratamento da cultura
e das artes como meio de transformação social para a construção de um novo ser
humano. Ao mesmo tempo que é preciso dar abertura para a criatividade, a
subjetividade, a sensibilidade diretamente ligadas ao campo das emoções inerente a
qualquer forma de arte. É por isso também que a concepção do Sarau vê como positiva
a aglutinação de manifestações artísticas autorais e inéditas e de qualquer forma de
releitura e apropriação das várias artes que, em sua forma e conteúdo, não reproduzam a
lógica da alienação.

Nesse aspecto, destaca-se também que, internamente, o contato com artistas


progressistas, antifascistas, comunistas é essencial para a ampliação do repertório e da
difusão estético-cultural da militância e dos coletivos na contraposição cotidiana aos
modelos burgueses e na busca de novas possibilidades que não estejam sob a influência
hegemônica estadunidense e europeia.

Por fim, o Sarau também se coloca como um lugar de luta e defesa dos direitos da classe
trabalhadora aos bens culturais e a momento de lazer em ruptura com a lógica do nosso
capitalismo neoliberal e periférico, de modo que a união com o todo e circulação de
experiência e ideias artísticas e estéticas atravessada pela criatividade e cultura popular
façam da arte um meio para esclarecer e incitar a ação.

Objetivos

Objetivo geral:
Criar um novo espaço de apresentação e de apreciação artística e cultural na Região
Metropolitana de Goiânia. Mas também, ao mesmo tempo, proporcionar um espaço que
contemple arte e cultura que tenha referência na ‘classe que tudo produza’, na
contraposição à reificação e na resistência à subordinação da arte e cultura à “lógica do
valor”.
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Objetivos específicos:
- Mobilizar artistas e apreciadores de arte e de cultura de Goiânia e de cidades vizinhas
para o I Sarau de Arte e Cultura;
- Realizar o primeiro evento de apresentação e apreciação artístico-cultural do Círculo
de Debate e Reflexão sobre Arte, Cultura e Estética Marxista;
- Proporcionar a consolidação de um projeto artístico-cultural, sob a forma de Sarau,
que se realize periodicamente e, se possível, até de forma itinerante.

Atividades de apresentação

O Sarau estará aberto a todos os tipos de manifestação artística em qualquer linguagem


que vise à articulação com o poder popular. As palavras, por exemplo, podem ser
escritas, faladas, cantadas ou declamadas, havendo espaço para painéis, murais, varal de
poesia, declamação, leitura, slam, cordel, rap, teatro. As outras artes igualmente são
bem-vindas, sejam fotografias, lambes, charges, tiras, artes plásticas, danças, desenhos,
música, capoeira, artesanato, seja qualquer outra forma de manifestação artística.

Almeja-se no momento do Sarau também a realização de uma feira, em que os artesãos


e artistas possam vender o seu trabalho, além de barraca de livros e um brechó.

Propõe-se que o Sarau faça ao menos dois sorteios: um livro (que poderia ser doado por
algum de nossos militantes autores ) e uma camiseta da EFS.

Para organizar as apresentações, primeiramente é importante pensar no espaço de palco


aberto a todas e todos, com espaço para improvisação. Contudo, a fim de organizar o
evento e ocupá-lo de forma garantida, é necessário criar um formulário no Google
Forms em que as pessoas que já estão organizadas possam inscrever sua apresentação.
As apresentações que demandarão o palco deverão ser organizadas no tempo do evento,
considerando o tempo médio de cada apresentação, e as que demandarão exposição
precisarão ser organizadas nos espaços pensados pela comissão organizadora.

Artistas
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Objetiva-se a participação dos movimentos culturais populares, com espaço para a luta
antirracista, luta dos povos originários, entre muitas outras lutas em meio a classe
trabalhadora. Deve-se convidar, com bastante antecipação, escritores, cantores, músicos
e outros artistas populares, locais, regionais, performances de circo, artistas ciganos,
representantes de coletivos culturais de negros, indígenas, mulheres, LGBT,
estimulando-os a se inscreverem para apresentação. Contudo, o convite independe de
apresentação confirmada, uma vez que o palco é aberto e o elemento-surpresa é uma
característica do Sarau, de maneira que qualquer pessoa pode se sentir estimulada a
apresentar repentinamente, ocupando protagonismo artístico durante o evento e
colaborando na proposição de construção coletiva.

Público-alvo

Toda a militância, juventude secundarista e universitária, amigos do Partido, artistas em


geral, pessoas ligadas às artes, representantes de movimentos artísticos, intelectuais,
população em geral interessada em apresentar e apreciar trabalhos de arte e de cultura,
em suas diversas linguagens.

Para as crianças, deverá ser pensado um espaço de promoção de arte e cultura que
dialogue com a proposta do Sarau.

Infraestrutura e recursos

Pelo menos o primeiro sarau ocorrerá na área interna da sede.


Para a realização do evento será necessário:
● venda de comes e bebes;
● espaço que funcione como um palco (que não precisa ser elevado), com
microfone e caixa de som, e espaço com mesas e cadeiras para o público;
● espaço para a feira e outro para as exposições;
● decoração;
● limpeza.

Divulgação
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● É ponto de partida a criação de uma marca/arte própria para o Sarau, assim


como um nome.
● A divulgação ocorrerá por meio de cartazes, panfletos e redes sociais. Pelas
redes sociais, as divulgações precisam ocorrer semanalmente, no mínimo, até o
dia da apresentação.

ORGANIZAÇÃO

- A organização do I Sarau Porta Vermelha estará a cargo da Coordenação Geral e


dos Grupos de Trabalho: Comissão de Decoração/Curadoria; Comissão de
Comunicação; Comissão de Limpeza; Comissão de Alimentos e de Bebidas; Comissão
de Caixa; Comissão de PCBaby; Comissão de Segurança e Comissão de Relações
Públicas.

Local, dia e horário do I Sarau:


Local: Sede da EFS/Praça Inspetor Ferreira – Rua 79, Qd. 144, Lt. 18, nº 539, Centro,
Goiânia-GO
Dia: 2 (sábado) de setembro de 2023
Horário: a partir das 17h

Referências

LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista: sobre a particulariade como


categoria da estética. Tradução: Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder, Civilização
Brasileira, 1970.

Círculo de Debate e Reflexão sobre Arte, Cultura e Estética Marxista

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