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FORMAÇÃO PROFISSIONAL Nº 30 REVISTA EUROPEIA

Novos actores na Cristina Milagre

João Passeiro
formação para grupos Victor Almeida
sociais desfavorecidos Técnicos superiores
/investigadores na célula do
projecto “Métodos de forma-
Introdução O conceito de exclusão social, enquanto
ção e desenvolvimento de
conceito com destaque teórico no campo
programas de ensino” do
De um modo geral, as ofertas oficiais de da sociologia, “substituiu o conceito de
INOFOR- Instituto para a
formação em Portugal, tanto a nível escolar pobreza no debate social, pretendendo
inovação na formação
como profissional, têm tido alguma dificul- acentuar aspectos mais complexos do que
dade em dar resposta às necessidades especí- o das condições económicas de vida”.
ficas das pessoas em situação de exclusão
social. As razões de algum insucesso forma- Para Bruto da Costa, a noção de exclusão
tivo com estes indivíduos estão muito para está correlacionada com a existência de
além do discurso comum da “falta de voca- um conjunto integrado de sistemas sociais
ção”, da “ausência de vontade de aprendiza- básicos, e domínios correlacionados, em
gem” ou do “demérito” do formando. relação aos quais existem diferentes níveis
de inacessibilidade. Neste entendimento, a
Neste sentido, e tendo em conta a específica noção de exclusão está, também, correla-
realidade portuguesa, de sub-escolarização e cionada, por oposição, com a noção de ci-
sub-qualificação face à União Europeia, co- dadania. Esta, ao contrário da ideia de ex-
clusão, é caracterizada por Bruto da Costa
locava-se aos organismos de investigação
como um acesso efectivo a um conjunto
nacional, e em particular ao INOFOR, como
de sistemas sociais básicos (Bruto da Cos-
entidade pública que visa promover a inova-
ta, 1998), que podem ser agrupados em
ção e a qualidade no domínio da formação
cinco grandes domínios: “o social, o eco-
profissional em Portugal, o particular desafio
nómico, o institucional, o territorial e o
de poder contrariar, através da identificação
das referências simbólicas” (Bruto da Cos-
e disseminação de “boas práticas” formati-
ta, 1998, p. 14).
vas, o discurso da impossibilidade de se in-
tervir sobre o problema da formação para
A falta de acesso a esses sistemas sociais de A necessidade de introduzir mais
públicos vulneráveis à exclusão social. base produz um conjunto de factores de risco eficácia em alguns dispositivos ou
categorias de formação destinados
de exclusão social: baixos níveis de rendi-
O estudo “Perfis Emergentes de Formação aos grupos sociais desfavorecidos
mentos, desemprego, baixos níveis de esco- levou alguns promotores a aplicar
para Grupos Sociais Desfavorecidos”, elabo- laridade, emprego precário, instabilidade novas formas de concepção e orga-
rado no âmbito da iniciativa comunitária familiar, (instabilidade principalmente dos nização da formação profissional em
“EMPREGO” /eixo INTEGRA e desenvolvi- casamentos), carências habitacionais (exí- Portugal. Conscientes dessa evolu-
mento pelo INOFOR, teve como objectivo a ção, estudámos alguns casos de «boas
gua, sem condições sanitárias, inacabada), práticas» particularmente eficazes,
pesquisa qualitativa de alguns casos de inova- fraca saúde física e psicológica, alcoolismo, pela boa adaptabilidade das suas
ção, no domínio das novas dimensões e figu- toxicodependência, pessoas a cargo, isola- intervenções às necessidades especí-
ras formativas adaptadas ao contexto da for- mento social e trajectórias de pobreza (ver ficas desses grupos.
mação para grupos sociais desfavorecidos. O estudo “Perfis Emergentes de
Hespanha et al., 2000). Os grupos ameaça-
Formação para Grupos Sociais Des-
dos de exclusão social, a que podemos cha- favorecidos”, desenvolvido pelo INO-
Um novo entendimento mar grupos sociais desfavorecidos (Capu-
cha, 1998), apesar de submetidos aos mesmos
FOR, tinha como objectivo mostrar
alguns exemplos de inovação e en-
da exclusão social factores de risco de exclusão social, não cons- contrar novas dimensões da forma-
ção, bem como os novos perfis de
tituem mesmo assim um grupo homogéneo, intervenientes adaptados a essa for-
O termo “desfavorecido” aplica-se a todos fazendo face a dificuldades específicas da mação destinada aos grupos sociais
os indivíduos em situação de exclusão. sua situação individual concreta. desfavorecidos.
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É possível identificar diversas situações profissionais, pessoais e sociais. A forma-


específicas de vulnerabilidade, caracteri- ção não pode portanto ser concebida no
zadas pela acumulação desigual de diver- sentido estrito do desenvolvimento do pla-
sos handicaps: exclusão do mercado de no curricular, mas numa perspectiva muito
trabalho ou apenas inserção parcial, rendi- mais alargada.
mentos baixos, problemas de habitação,
baixa escolarização, reduzidas qualifica- De facto, uma diversificação das estratégias
ções, fraca participação social e política, de formação passa por essa concepção alar-
etc. Referimo-nos assim a um “todo” para gada da formação. Esta deve ser vista como
cada uma das situações de pobreza e de um processo (Castro, 2000), que integra
exclusão social, que se caracterizam elas para além das intervenções normalmente
próprias por modos de vida mais ou menos designadas pelo termo componentes de
coerentes e mais ou menos consolidados. formação (geral, técnico-prática, sociocul-
(Luís Capucha, 1998). tural), tradicionalmente ligadas ao modelo
oficial da formação, novas acções de acom-
Considera-se então como grupos sociais panhamento do processo de formação, que
desfavorecidos “aqueles que, devido a são igualmente essenciais para garantir a
ocuparem os lugares mais baixos na hie- inserção social e profissional dos públicos
rarquia social, são particularmente vulne- desfavorecidos (Nunes, 2000) e que desig-
ráveis a situações de pobreza, tendem a ser namos por dimensões formativas.
alvo de processos de exclusão social, e
acumulam handicaps que tornam difícil o Entendemos por dimensões formativas as
acesso de uma parte significativa desses intervenções complementares ao desenvol-
indivíduos ao pleno exercício da cidada- vimento do plano curricular e que visam
nia” (Luís Capucha, 1998, p.8). Pelo facto motivar para a formação e para a inserção
de estarem sujeitos a múltiplas e comple- socioprofissional, elaborar projectos de vida
xas formas de discriminação, estes grupos e profissionais realistas e consonantes com
desenvolvem “mecanismos identitários as motivações, capacidades e aptidões dos
que se traduzem pela emergência de mo- formandos, adequar os conteúdos e méto-
dos de vida específicos” (Luís Capucha, dos de ensino-aprendizagem às caracterís-
198, p.8). ticas dos formandos, colaborar na resolu-
ção de problemas pessoais e sociais criando
Daí que, neste entendimento de exclusão condições favoráveis à aprendizagem e ao
social, não se trate de solucionar apenas desenvolvimento de um projecto pessoal e
um problema económico através da con- social, desenvolver quer com os forman-
cessão mecânica de uma prestação pecuni- dos quer com as entidades empregadoras
ária, mas de a tratar como uma questão estratégias que favoreçam a inserção so-
política e procurar devolver o poder aos cioprofissional (Adaptado do Guia de
excluídos, nomeadamente pela constitui- Apoio ao Utilizador-Acreditação das Enti-
ção de quadros formativos que facilitam o dades Formadoras, INOFOR, 1998).
acesso ao poder social, económico, territo-
rial, institucional e simbólico. Uma longa investigação documental e um
inquérito aos interlocutores privilegiados
permitiram identificar um conjunto de di-
Abordagens formativas mensões inovadoras e adaptadas à forma-
adaptadas aos grupos ção dos grupos visados.

sociais desfavorecidos Vamos analisar algumas dimensões for-


mativas que, do início ao fim de todo o
Os grupos sociais desfavorecidos encon- processo formativo, se revelaram comple-
tram-se numa condição precária no do- mentares à formação em sentido estrito
mínio do trabalho e da formação, pela (transmissão de conhecimentos), propor-
ausência de qualificações escolares e profi- cionando condições para a motivação e
ssionais, mas também de competências adesão dos formandos.
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Em primeiro lugar, são necessárias novas 1) O balanço de competências permite ao


estratégias de divulgação e recrutamento formando identificar os seus saberes e com-
dos públicos indo ao encontro das pessoas petências com vista à formulação de um
no momento em que lhes é proposta a ade- projecto de vida profissional que o sujeito
são às iniciativas formativas, por convites poderá prosseguir apoiando-se prioritaria-
formais, em detrimento de comunicados, mente em si próprio. A entidade promotora
considerando-se também pouco adequada do balanço poderá eventualmente assegurar
a existência de critérios de selecção muito o acompanhamento e o suporte através da
rígidos e exclusivos, de forma a dar res- mobilização de recursos considerados
posta às situações mais precárias. Seria de como necessários (educativos, formativos,
esperar uma maior uma taxa de adesão se financeiros, logísticos, administrativos,
houvesse previamente um diagnóstico das para a inserção directa no mercado de tra-
necessidades de formação e dos centros de balho, etc.). O objectivo último é o de per-
interesse dos grupos feita com a participa- mitir que o indivíduo se conheça melhor,
ção dos mesmos. descubra as suas potencialidades e compe-
tências pessoais e profissionais, e possa
Neste contexto também é importante fazer elaborar um projecto de vida.
um diagnóstico das necessidades do mercado
de trabalho, para reconciliar as motivações e 2) O balanço de competências pode ainda
os interesses dos potenciais formandos com ser o início do ponto de partida de um pro-
os do mercado, para determinar as áreas da cesso directamente apoiado pela entidade
formação a organizar e viabilizar taxas de que o desenvolve. Neste caso, servirá como
inserção profissional mais elevadas. instrumento de orientação, na medida em
que possibilita um diagnóstico de necessi-
A forma como se realiza o acolhimento dades de formação que fundamenta a orga-
também deve merecer atenção. O acolhi- nização da intervenção. Tendo em conta
mento, primeiro contacto com a entidade, que o balanço de competências se centra na
deve ser um espaço de informação educa- pessoa e na especificidade da sua história
tiva e profissional, procedendo a eventuais de vida, dele deverão resultar, tanto quanto
reencaminhamentos assistidos, na procura possível percursos individualizados de for-
da solução mais adequada para cada caso. mação, definindo para cada caso as áreas de
Deve também dar continuidade ao proces- formação e os modos de intervenção; ele
so de diagnóstico das necessidades e dos permite a organização da formação à medi-
centros de interesse, implicando os for- da das necessidades individuais, benefician-
mandos na construção inicial do programa do deste modo o sucesso dos formandos e a
de formação (sendo também importante eficácia da formação.
que o façam durante o seu desenvolvimen-
to), na definição conjunta dos objectivos a 3) Finalmente, a avaliação de competências
alcançar e dos papéis de cada um dos acto- pode constituir um importante instrumento
res envolvidos. de validação e de certificação de competên-
cias informais ou não formais, adquiridas
Quando trabalhamos com grupos sociais em contextos profissionais ou pessoais.
desfavorecidos, devemos considerar, em
especial, que todas as experiências desen- É também fundamental fazer um diagnós-
volvem a aquisição de competências. Os tico das necessidades básicas dos forman-
saberes e as competências adquiridos na dos, ajudando-os a identificar e a resolver
vida profissional, pessoal ou social (na fa- os problemas pessoais ou sociais que, ape-
mília, na escola, nos tempos livres, etc.) sar de exteriores à formação, podem difi-
podem ser reconhecidos, validados e, cultar ou impedir a aprendizagem e a
eventualmente, certificados através de um aquisição de competências. Este diagnós-
conjunto de processos que configuram o tico pode ser feito no início da formação
balanço de competências. Esta metodolo- de maneira mais estruturada, mas devem
gia tem fundamentalmente três objectivos, existir, ao longo de toda a formação, estra-
complementares ou não. tégias que promovam por parte da equipa
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técnica uma atenção à sinalização destes res de formação associados às dimensões


problemas. Estes vão sendo identificados da formação consideradas adequadas ao
ao longo do processo formativo, à medida público-alvo, pareceu-nos que a pesquisa
que se cria uma relação de confiança entre construída através de estudos de caso podia
os formandos e a equipa técnica. ajudar a responder melhor às inevitáveis
questões do «como» e «porquê» que decor-
De entre as novas dimensões formativas, rem desse projecto.
deve ser dado especial destaque ao acompa-
nhamento durante e após a formação. Este Para concretizar este objectivo, colocava-
acompanhamento individual e do grupo re- se o desafio de seleccionar cinco projectos
veste-se de especial importância quando, de formação a partir de um universo de
como por vezes sucede, a inserção no pró- contextos formativos muito diversifica-
prio espaço de formação é a primeira experi- dos. É fácil de compreender que, mesmo
ência de inserção numa organização (experi- no domínio do combate à exclusão social
ência muitas vezes distante das experiências quer ao nível dos públicos-alvo e seus
e perspectivas habituais dos desfavoreci- contextos de vida, quer ao nível das di-
dos). A equipa de formadores vai aperfeiço- mensões de intervenção formativa, as enti-
ando a compreensão das dinâmicas indivi- dades e os projectos de formação têm es-
duais e colectivas, aproximando, assim, pecificidades muito próprias. A nossa opção
mutuamente os objectivos e as expectativas obedeceu, assim, a um conjunto de crité-
dos indivíduos e da formação. rios de selecção construídos com a preocu-
pação de salvaguardar alguma diversidade
Esta intervenção deve ter um cariz psicosso- dos casos a estudar.
cial e utilizar estratégias de responsabiliza-
ção (empowerment), no sentido da promoção Entre os casos escolhidos deviam então
da implicação e progressiva autonomia dos constar:
formandos na resolução dos seus problemas
pessoais, sociais, de aprendizagem, de inte- q projectos dirigidos a diferentes tipos de
gração socioprofissional ou outros. Trata-se grupos sociais desfavorecidos;
de uma medida complementar ou alternativa
à componente de formação sócio-cultural. q projectos que abrangessem diferentes
dimensões implementadas antes, durante e
O acompanhamento deverá ter continuidade após a formação;
após a formação, partindo do princípio que
no final do processo de formação é desejá- q projectos em que interviessem novos
vel que os formandos sejam inseridos no actores durante o processo formativo;
mundo do trabalho. Para tal, é necessário
prever e implementar estratégias activas de q projectos desenvolvidos em contextos
inserção profissional, estratégias estrutura- geográficos diferenciados;
das e, na medida do possível, contactos com
entidades empregadoras e negociação de q projectos financiados pela União Euro-
colocação de formandos, bem como o esta- peia;
belecimento de parcerias activas, principal-
mente com instituições e empresas locais, A selecção dos projectos e dos interve-
que apoiem quer o desenvolvimento da ac- nientes da formação para estudos de caso
ção formativa, designadamente no apoio à foi feita com base na informação recolhida
resolução de necessidades básicas quer na durante as reuniões que tivemos com os
responsáveis do GICEA (gestores dos Ei-
inserção socioprofissional.
xos Youthstart, Now e Integra) do Progra-
ma Intervenção Operacional Integra e
Percurso metodológico Acreditação de Entidades Formadoras do
INOFOR, conhecedores da realidade da
Sendo o objecto de estudo deste projecto a oferta pontual de formação para grupos
caracterização de perfis emergentes de acto- sociais desfavorecidos.
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A selecção dos entrevistados para os estu- Pudemos, assim, desenhar os perfis profis-
dos de caso não decorreu da utilização de sionais desses actores a partir da metodo-
uma filosofia aleatória. Pelo contrário, tí- logia utilizada em Portugal pelo INOFOR
nhamos a preocupação de articular a visão para a elaboração de referenciais de infor-
de conjunto do projecto formativo, detida mação por sector de actividade1.
normalmente pelo coordenador, com a vi- Estas informações têm como objectivo ser-
são mais pormenorizada das intervenções vir especialmente os profissionais ligados
em domínios mais específicos do processo à formação para públicos desfavorecidos,
formativo. Construímos assim um guião para a eventualidade de virem a utilizar no
de entrevista para aplicar à figura do coor- seu trabalho algumas das dimensões for-
denador de cada um dos projectos seleccio- mativas e/ou os intervenientes a elas asso-
nados e um outro guião de entrevista para ciadas nestes projectos2.
aplicar a cada uma das diferentes figuras Apresentamos os novos actores de forma-
formativas em estudo. ção seleccionados a partir dos diversos
estudos de caso estudados, com as organi-
A construção dos tópicos de entrevista não zações onde trabalham, e as respectivas
foi independente dos referenciais teóricos funções.
utilizados pela equipa. De um modo geral,
pretendeu-se saber não só o que diferentes Animador de Balanço de Competências
actores da formação pensavam sobre um (ANOP- Associação Nacional das Ofici-
determinado processo formativo onde se nas de Projecto)
inseriam e intervinham, mas também o
que pensavam esses actores face a um de- O Animador do Balanço de Competências
terminado conjunto de linhas de questio- deve assumir a função de facilitador dos
namento sugeridas pelas particulares leitu- estados afectivos, proporcionando aos par-
ras, experiências e reflexões da equipa. ticipantes o contexto necessário para me-
Compreende-se, então, que as entrevistas lhorar a auto-estima e a confiança em si
não tenham seguido um modelo completa- próprios. Deve também criar um ambiente
mente aberto e tenham seguido antes, um de segurança que lhes permita tomar ini-
modelo semidirectivo, com o propósito de ciativas, e realizar um acompanhamento e 1
O INOFOR, através do projecto “
“levar os entrevistados a aprofundarem o apoio ao formando ao longo de toda a Ofi- Evolução das Qualificações e Dia-
seu pensamento ou a explorarem uma cina de Formação, mantendo uma presen- gnóstico das Necessidades de Forma-
questão nova de que não falam espontane- ça que estruture a relação com os restantes ção”, elabora, no contexto nacional,
amente.” (Albarello, et al. 1997, p.110). elementos da equipa formativa. referenciais de informação por sector
de actividade que possibilitam e apoiam
a apreensão da evolução das qualifi-
O processo do Balanço de Competências
Novos perfis dos actores ocorre no início da formação e desenvol-
cações, o diagnóstico das necessida-
des de formação e a reorientação da
da formação ve-se em três fases: formação profissional. Suleman F.,
Morais M. F., Fernandes M. M.
(1999), Estudos Sectoriais Prospecti-
O alargamento da concepção de formação 1) no acolhimento, começa-se por clarificar, vos: manual metodológico, Lisboa,
pressupõe a respectiva extensão da equipa com o candidato, a natureza do seu pedido, INOFOR.
de formadores, ampliando e diversifican- enquadrando-o no seu trajecto profissional.; 2
As fichas de perfil do Animador/a de
do as tipologias dos actores da formação em seguida, o candidato é informado sobre o
Balanço de Competências, Técnico/a
(Nunes, 2000). Torna-se assim necessário processo e os procedimentos do Balanço de de Acompanhamento da Formação em
identificar os novos perfis de formadores e Competências, bem como da Oficina do Contexto de Trabalho, Mediador/a,
outros actores da formação que trabalhem Projecto; por fim, formaliza-se um contracto Equipa de Desenvolvimento pessoal e
numa perspectiva de desenvolvimento pes- de intervenção onde são estabelecidos os social (Psicólogo/a, Técnico/a de Ser-
viço Social e Técnico/a de Serviço
soal, social e profissional para a integração objectivos a atingir no seguimento do pedido Social e Técnico/a de Desenvolvimen-
social e profissional dos públicos desfavo- feito, bem como a definição de papéis e res- to), e Técnico/a de Inserção no Merca-
recidos. ponsabilidades dos dois actores envolvidos do da Trabalho encontram-se disponí-
Usando a metodologia dos estudos de (sujeito e animador); veis, sob a forma descrita, no estudo
que serve de base a este artigo (“ Perfis
caso, identificámos e analisámos alguns Emergentes de Formação no Contexto
casos de inovação no domínio da forma- 2) na fase seguinte, realiza-se uma explora- da Formação para Grupos Sociais
ção para grupos sociais desfavorecidos. ção exaustiva do percurso formativo, pro- Desfavorecidos”, INOFOR, 2002).
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fissional e pessoal do candidato de modo a daquela dimensão. O acompanhamento


identificar aptidões, motivações, interesses teve como objectivos promover o desen-
e valores pessoais e profissionais. volvimento de competências pessoais e so-
ciais e organizar e avaliar a aprendizagem
3) da conclusão do processo resultam do- em contexto de trabalho e organizou-se
cumentos de síntese, elaborados pelo can- em dois tipos de acompanhamento.
didato com a colaboração do animador,
que procuram sistematizar os aspectos O Acompanhamento Psicossocial desen-
mais importantes da fase de exploração. volveu-se em sessões semanais em grupo,
Entre esses documentos, o Dossiê Pessoal onde se realizaram balanços da semana,
e Profissional organiza informações sobre em termos de “empregabilidade”, orienta-
a história pessoal e profissional do partici- ção e resolução de problemas pessoais em
pante, incluindo documentos que clarifi- co-ajuda, através de técnicas e instrumen-
cam os saberes e competências utilizados, tos de auto conhecimento e de conheci-
não discriminados num diploma, e, even- mento do meio ambiente (inventários de
tualmente, não identificados à partida pelo interesses, história de vida) e de gestão de
próprio; o Documento Síntese integra toda percursos formativos (agenda diária, ins-
a informação gerada durante o processo. trumentos de orientação e balanço de com-
petências).
O processo do Balanço de Competências
desenvolve-se em momentos individuais e As sessões abordaram projectos profissio-
colectivos. As sessões individuais permi- nais e os níveis de empregabilidade dos
tem o estabelecimento de uma relação de formandos, começando por reflectir sobre a
confiança entre o candidato e o Animador assiduidade, a pontualidade, as relações hie-
do Balanço de Competências e criam as rárquicas, seguindo-se as questões concre-
condições necessárias para o candidato to- tas sobre a experiência da própria formação.
mar consciência e aprofundar questões do Realizaram-se actividades de avaliação e
seu passado e da sua vida pessoal que lhe de reflexão sobre a evolução de cada for-
possibilitam um maior auto-conhecimento mando, partindo do relato das dificuldades
e domínio das suas capacidades. As sessões expressas, sobretudo através da “Agenda
colectivas, por outro lado, são fundamen- Semanal” que regista todos os aconteci-
tais para o intercâmbio de experiências, mentos da semana nos locais e fora dos lo-
ideias e sentimentos, bem como para a for- cais da formação, e de outras técnicas e
mação e consolidação de espírito de grupo. instrumentos propiciadores de ambientes
Podemos dizer que se trata de um processo de confiança e de partilha de experiências,
que se desenvolve (e permite um desenvol- nomeadamente dinâmicas de grupo e de
vimento individual) em espiral, em que os entreajuda, histórias de vida, “Dossiê Evo-
momentos individuais são de reflexão e lutivo”, etc. Houve também sessões temáti-
síntese individual, seguidos de momentos cas e visitas de estudo que permitiram a
colectivos de partilha, confronto e síntese formação sociocultural.
colectiva que, por sua vez, permitem nova
reflexão e síntese individuais. O Acompanhamento Psicossocial incluiu
um acompanhamento individual dos for-
Técnico de Acompanhamento da mandos, nomeadamente, a identificação e
Formação em Contexto de Trabalho apoio à resolução de problemas pessoais
(APSD-Associação Portuguesa de (saúde física, problemas psicológicos liga-
Solidariedade e Desenvolvimento) dos ao desemprego, perturbações compor-
tamentais, dificuldades de relacionamento,
Esta figura intervém em todo o processo isolamento) e sociais (insuficiência dos
formativo e em todas as componentes for- recursos financeiros, precariedade de alo-
mativas desenvolvidas. O essencial do seu jamento, iliteracia, regularização de docu-
trabalho centra-se, no entanto, na dimen- mentos administrativos, etc.). Muitos des-
são de acompanhamento e na formação so- tes problemas eram sinalizados nas sessões
ciocultural que se desenvolveu no âmbito de “Balanço da semana” em grupo, no âm-
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bito das reflexões em torno das experiên- formação e com os organismos locais
cias de formação e de vida. (cujo funcionamento conhece a fundo para
melhor ajudar os formandos).
O segundo tipo de acompanhamento, o
Acompanhamento Pedagógico, foi também Equipa de Desenvolvimento Pessoal e
objecto de sessões de trabalhado semanal Social (DPS) (CESIS-Centro de
com os formandos, onde se avaliaram as Estudos para a Investigação Social)
suas competências técnicas e relacionais,
evidenciadas no desempenho profissional A equipa de DPS está envolvida em todo o
no local de estágio. Os técnicos de acompa- processo formativo, intervindo um ou vá-
nhamento realizaram ainda um acompanha- rios dos seus elementos, em todas as di-
mento semanal das empresas, estabelecen- mensões da formação bem como na com-
do contactos com os seus responsáveis para ponente de formação sociocultural.
definir os objectivos pedagógicos, fazer o
levantamento do posto de trabalho, definir O essencial do seu trabalho situa-se na di-
o perfil de competências a adquirir, tentar a mensão de acompanhamento e na forma-
integração dos formandos, informar sobre ção sociocultural. Esta componente, de-
os incentivos à contratação, etc. signada pelos termos de Desenvolvimento
Pessoal e Social ou Programa de Competên-
Mediador (Associação Cultural cias Sociais e de Perspectivação do Futu-
“O Moinho da Juventude”) ro, foi dinamizada pelo psicólogo, pelas
técnicas do serviço social e por formado-
Neste projecto, o mediador assegura o res exteriores (convidados para o efeito). É
acompanhamento psicossocial dos jovens, oferecida durante as sessões temáticas
que passa pelo trabalho com estes, com as com um programa de formação com con-
suas famílias, com a equipa de formação e teúdos variados (tais como o contrato de
com outros actores locais, nos três níveis formação, os direitos e deveres dos for-
seguintes: mandos, saúde, puericultura, planeamento
familiar – esta formação destina-se a mães
o acompanhamento individual dos jovens adolescentes – , apresentação e preocupa-
nos momentos informais do curso de for- ção com a aparência, acesso ao Rendimen-
mação (almoços, intervalos, tempos livres), to Mínimo Garantido, acesso ao emprego,
nos quais têm lugar conversas que estabele- etc.). Esta abordagem temática foi com-
cem uma relação de confiança com os for- plementada por um acompanhamento dos
mandos. Quando necessário também ajuda formandos no decurso de todo o processo
a resolver problemas pessoais, familiares formativo, já que é essencialmente nas
ou escolares. O mediador pode ter de acom- sessões de grupo que os formandos e for-
panhar os jovens nas suas deslocações aos madores aprendem a conhecer-se, a terem
serviços administrativos locais, facilitar a confiança e a discutirem problemas parti-
comunicação e a resolução de assuntos, con- culares (em grupo ou em privado) que são
tactos com as famílias para pedir esclareci- depois objecto de um acompanhamento
mentos, ou para as convidar a cooperar na personalizado.
resolução dos problemas dos jovens.
O acompanhamento oferecido é essencial-
O mediador intervém também em activida- mente de natureza psicossocial e é organi-
des de grupo, tais como debates de temáticas zado de modo a promover o desenvolvi-
e actividades de expressão plástica, em sala mento de competências pessoais e sociais
de aula, através das quais fica a conhecer os necessárias à inserção socioprofissional.
formandos enquanto grupo e pode, se neces- Desenvolveu-se por um lado, através de
sário, gerir conflitos entre eles ou esclarecer um acompanhamento semanal em grupo,
dúvidas relativas ao curso de formação. em reuniões de “balanço da semana “ com
as formandas, para avaliar a situação das
Por último, o mediador assegura o contac- mesmas a diferentes níveis (aprendiza-
to com os outros membros da equipa de gem, relações interpessoais, níveis de sa-
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tisfação, adequação dos conteúdos, pro- O acompanhamento é


blemas pessoais, necessidades básicas,
etc.). Estas sessões têm lugar num espaço feito a três níveis
aberto onde se discutem questões que ates-
tam a adaptabilidade das formandas ao Em primeiro lugar o técnico efectua um
grupo, ao trabalho e à sociedade. Estas ses- acompanhamento dos formandos que se
sões constituem-se como um momento inicia com a recolha de informação sobre
essencial de emergência e sinalização de cada formando, junto da restante equipa
problemas de ordem social, suscitados pe- técnica, em especial dos educadores e mo-
las temáticas abordadas, sendo verbaliza- nitores técnicos. Esta recolha de informa-
dos alguns problemas pessoais, em cuja ção é efectuada durante todo o período de
resolução a equipa tenta colaborar, junta- formação. A informação recolhida serve
mente com os ou a(s) formanda(s) envol- de base para o trabalho de preparação do
vida(s). formando para o momento da apresenta-
ção na empresa. Essa preparação tem um
Desenvolveram-se, também, estratégias carácter informal e consiste essencialmen-
de acompanhamento individual das for- te numa sensibilização para a experiência
mandas, quer ao nível psicológico (asse- que vai viver. Trata-se de especificar as
gurado pelo psicólogo que trabalha com- normas de boa conduta, os valores essen-
petências pessoais e pode pontualmente ciais no contexto de trabalho, a forma de
aconselhar / orientar para uma psicotera- apresentação na empresa, a forma como
pia, fora do espaço formativo) quer ao ní- deve reagir às dificuldades iniciais de adap-
vel social (assegurado pelas técnicas de tação ao trabalho e às pessoas (baixa pro-
serviço social que, designadamente, forne- dução, reacções eventualmente pouco
cem informação sobre os direitos e sobre a elogiosas dos colegas etc.), e simular en-
melhor forma de os fazer respeitar), quer trevistas de estágio. O Técnico de Inserção
uma vez mais ao nível pessoal (assegura- acompanha o formando no primeiro dia de
dos pela técnica de desenvolvimento que estágio, quando este não revela suficiente
apoia em questões familiares, de habita- autonomia para ir sozinho.
ção, saúde e educação dos filhos, etc.).
Cada formanda pode recorrer informal- Em segundo lugar, este técnico realiza
mente a qualquer dos técnicos para apoio também um acompanhamento das empre-
específico, nomeadamente ao técnico com sas que consiste numa visita regular às
o qual sente maior empatia. De acordo empresas que se disponibilizam para rece-
com a natureza do problema, a equipa de- ber estagiários, tentando obter o maior
cidirá qual o técnico mais adequado para número possível de informações sobre o
intervir junto da formanda. seu modo de funcionamento, sistema de
produção, cultura organizacional, ambien-
Técnico de Inserção no Mercado de te de trabalho etc. Tenta estabelecer rela-
Trabalho (CRIS-Centro de Recursos ções de confiança com os empregadores,
para a Inserção Social) adaptando argumentos e linguagens a cada
situação. Partindo de uma lista de empre-
O principal objectivo do trabalho de um sas constituída através de conhecimentos
Técnico de Inserção no Mercado de Tra- informais e, frequentemente, através de
balho é colaborar com os formandos na outros empregadores e, após as visitas,
resolução dos seus problemas, com vista a selecciona apenas as que revelam um ge-
promover o seu desenvolvimento pessoal nuíno interesse no trabalho e inserção
e favorecer a aprendizagem e, neste âmbi- profissional destes jovens. Estabelece pro-
to preparar os formandos para os estágios, tocolos de estágio com as empresas, de
avaliando e acompanhando a sua integra- duração variável (geralmente três meses),
ção socioprofissional. Compete-lhe tam- período durante o qual se prevê um acom-
bém mobilizar e preparar as empresas para panhamento e avaliação por parte do
os estágios profissionais dos formandos do CRIS. O estágio não é remunerado; se a
CRIS. empresa obtiver lucro com a prestação do
Cedefop
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jovem, incentiva-se uma retribuição pecu- q realizar o acompanhamento num con-


niária; caso contrário, não é feita qualquer texto individual e num contexto de grupo
exigência nesse sentido. (acompanhamento misto);

Por último, o acompanhamento do estágio é q ser desenvolvido através de métodos


feito de modo informal e ocasional. O técni- activos, nomeadamente, metodologias de
co intervém apenas quando surgem proble- projecto;
mas, evitando sobrecarregar os empregado-
res das pequenas e médias empresas com q mobilizar os recursos disponíveis e uti-
instrumentos de avaliação, na convicção de lizá-los no trabalho de grupo, ou seja, fa-
que tal pode ser contraproducente. A avalia- zer intervir os técnicos de diversas áreas
ção no final do período de estágio consiste e/ou as entidades parceiras que podem
no preenchimento de uma ficha de avaliação ajudar a satisfazer as necessidades básicas
com indicadores de avaliação de desempe- identificadas e os empregadores ou as en-
nho. A mesma ficha é utilizada pelo CRIS tidades empregadoras ou que acolham es-
nos casos de integração directa no mercado tagiários, etc.
de trabalho. Com frequência, o empregador
propõe a contratação do jovem antes do final Apesar de envolvidos em dimensões mais
do estágio. O acompanhamento termina transversais, os intervenientes estudados
quando é assinado o contrato de trabalho. estão encarregados de dar desenvolvimen-
O processo pode, no entanto, ser reaberto em to prioritário a apenas algumas dimensões
qualquer altura, e o ex-formando solicitar ao formativas. Daqui resulta que a necessida-
CRIS uma nova colocação profissional. de de implementar e desenvolver novas
dimensões de formação está na base da
emergência das novas figuras formativas.
Conclusões Assim, nos contextos observados ao nível
da formação para grupos sociais desfavo-
As dimensões que se desenvolvem previa- recidos revelou-se fundamental o percurso
mente à formação propriamente dita (publi- novas necessidades formativas – novas
cidade e recrutamento, selecção, acolhimen- necessidades de organizar a formação –
to, orientação vocacional ou profissional e novas figuras formativas.
balanço de competências), e as que se de-
senvolvem durante e após a mesma (diag- Relativamente às figuras formativas selec-
nóstico de necessidades básicas, acompa- cionadas e analisadas, pensamos que, no
nhamento e avaliação dos formandos e das contexto desta categoria do sector de for-
intervenções formativas) aparecem como mação, elas são figuras de futuro, com
elementos fundamentais das práticas forma- tendência para se consolidarem como ne-
tivas dos projectos estudados que visam os cessidades reais do terreno.
grupos sociais desfavorecidos.
Ao observar e descrever cada um destes
Entre as várias dimensões, tem especial perfis, fomos, inevitavelmente para além de
importância o acompanhamento da forma- figuras centradas em competências especia-
ção. Esta dimensão revelou-se essencial lizadas e situámo-nos até ao nível de uma
no trabalho com os públicos desfavoreci- maior polivalência e flexibilidade quer das
dos e, apesar das diversas metodologias, figuras consideradas isoladamente quer das
todos os actores reconhecem a importân- equipas por elas constituídas. Do mesmo
cia dos principais objectivos, entre outros: modo, já não partimos apenas e, fundamen-
talmente, das formações escolares / profis-
q (re) activar recursos relacionais de com- sionais de base, como o mais importante
petências e de conhecimentos dos públicos capital de competências profissionais. Ob-
a quem se dirige; servámos também as sensibilidades adqui-
ridas com as experiências de vida, nas quais
q assentar numa relação de empatia, partin- se destacam a importância fundamental das
do de uma abordagem global da pessoa; competências sociais e relacionais.
Cedefop
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FORMAÇÃO PROFISSIONAL Nº 30 REVISTA EUROPEIA

Saberes-fazer sociais e no seu seguimento, à emergência de novos


intervenientes que respondam a essas ne-
relacionais: cessidades verdadeiras da realidade social,
especialmente em contextos de exclusão
q revelar gosto pelo trabalho e investi- social cujas dificuldades são difíceis de
mento psico-afectivo no desempenho das resolver e exigem respostas eficazes e ur-
funções exercidas; gentes.

q revelar competências comunicacionais; Neste contexto, deve ser dada uma grande
atenção às práticas e reflexões das entida-
q demonstrar capacidade de adaptação às des privadas, nomeadamente as organiza-
situações e às pessoas; ções não governamentais que, como vimos
e verificámos com este estudo, vão tendo a
q demonstrar criatividade e espírito de margem de manobra para criarem e imple-
iniciativa na resolução das situações; mentarem estratégias e metodologias à
medida das necessidades sentidas no terre-
q demonstrar capacidades reflexivas e de no. Deve assim ser dada uma grande prio-
autocrítica, sobre si como pessoa e sobre o ridade a este diálogo profundo e continua-
seu trabalho; do entre as intervenções do Estado e as
intervenções das associações emergentes
q demonstrar capacidade de compreender da sociedade civil, na resposta às necessi-
os outros; dades formativas dos vários grupos social-
mente excluídos. Este estudo pretendeu
q demonstrar capacidade de trabalhar em também atingir esse objectivo, resultado
equipa, de aceitar outras ideias e integrá- da reflexão conjunta entre todos os parcei-
las na procura de estratégias de solução ros, que visa aumentar as sinergias das
para os problemas que se colocam; missões e das atribuições de todas as enti-
dades: de um lado o INOFOR, como insti-
q demonstrar confiança e autonomia na tuto publico de investigação sobre a for-
execução das tarefas; mação profissional, e do outro os restantes
parceiros nacionais e transnacionais, com
q demonstrar sensibilidade e abertura aos ampla experiência de terreno e de reflexão
problemas sociais locais e nacionais; sobre as suas práticas.

q revelar curiosidade geral; Neste sentido, é claro para nós que, man-
tendo a sua autonomia no desenvolvimen-
q revelar capacidade de diálogo e de rela- to de novas metodologias, seria de todo o
cionamento com os responsáveis das em- interesse que as entidades privadas pudes-
presas; sem beneficiar de apoios de mais longo
prazo com vista a colmatar a fraca, ou mes-
q revelar características pessoais tais mo a falta de continuidade das suas acções
como: idealismo, valores de solidariedade, e a instabilidade dos seus corpos técnicos,
empenho, persuasão, paciência; e a consequente perda de know-how nos
domínios da técnica e da organização. Por
É sobretudo importante compreender os outro lado, os organismos públicos, como
grupos com que se trabalha e os problemas o INOFOR, devem manter um diálogo
a eles associados, sob o paradigma de permanente com os outros promotores
“responsabilização” (empowerment). para uma reflexão conjunta com os que
estão no terreno e podem trazer importan-
Para além destes novos perfis, que é con- tes contributos sobre as boas práticas que
veniente seguir e difundir, devemos igual- cabem, em seguida, difundir.
mente mantermo-nos atentos à emergência
de novas práticas e novas dimensões com- Para finalizar, acrescentemos que este diá-
plementares aos processos formativos e, logo comum reflexivo e prático começa já
Cedefop
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FORMAÇÃO PROFISSIONAL Nº 30 REVISTA EUROPEIA

a ser uma realidade. Com efeito, as inicia- xões feitas no trabalho das pequenas orga-
tivas oficiais mais recentes, que pretendem nizações privadas3. Um tal diálogo não
colmatar algumas das fragilidades referi- pode deixar de ser profícuo para bem dos
das, retomam certas experiências ou refle- grupos sociais desfavorecidos.

Bibliografia

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Guia de apoio ao utilizador: Acreditação de enti- gico. Lisboa: INOFOR, 1999.

3
A título de exemplo, e entre muitos
outros igualmente válidos, citemos os
Cursos de Educação e Formação de
Adultos, organizados pela ANEFA,
que contemplam um processo inicial
de reconhecimento e validação de
competências prévias, e que incluem
um mediador na sua equipa técnica.
Cedefop
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