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Economia Política I

Capítulo I: A Economia: Objeto e Quadros de Análise


1. Objeto
1.1. As dificuldades de uma definição
A palavra “economia” vem do grego oikos (casa) e nomos (ordem), signifi-
cando, etimologicamente, “administração do património da cidade ou do Estado”.
É difícil encontrar uma definição satisfatória de Economia Política, já que
as geralmente apresentadas são muito amplas ou muito restritas. P.e., Jacob Viner
defende que “a economia é o que os economistas fazem”. Ora, trata-se de uma
definição demasiado ampla, já que a economia é aquilo que os economistas fazem
apenas enquanto economistas, que se podem também dedicar a outras atividades.

1.2. A definição de Robbins


Apesar de também ser demasiado ampla, a definição de Robbins dá a co-
nhecer as questões essenciais da economia. Segundo o economista marginalista
(perspetiva adotada pelo curso – é a mais comum e distingue a economia positiva
(“o que é”) da economia normativa (“o que deve ser”)), não se tratando de uma
perspetiva valorativa), a economia é a ciência que estuda a problemática da afeta-
ção de recursos e de emprego alternativo em necessidades de desigual importância.
O problema da economia reside, então, na escassez dos bens, sendo que os
recursos escassos são aqueles que não existem nas quantidades necessárias para
satisfazerem todas as necessidades que com eles poderiam ser satisfeitas (ao con-
trário dos bens livres, que podemos utilizar na medida integral das nossas necessi-
dades e, portanto, não conduzem a problemas económicos). O facto de os bens
serem escassos leva à afetação alternativa de outros bens.

1.2.1. As necessidades
Deste modo, o problema económico tem início porque os indivíduos sentem
necessidades, i.e., insatisfações acompanhadas do desejo de possuir bens que jul-
gam capazes de as satisfazer. Uma vez que se trata de um estado psicológico, o
conceito de necessidade é subjetivo, variando de pessoa para pessoa, assim como
no espaço e no tempo. Os próprios bens e serviços podem criar novas necessidades,
p.e., através da publicidade.

1.2.2. Os bens
Um bem é um objeto ou serviço capaz de satisfazer necessidades.

 Bens materiais: têm existência corpórea, p.e. um alimento;


 Serviços/bens imateriais: utilidades que os indivíduos prestam a ou-
tros indivíduos, p.e. uma aula.

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Nota: por vezes, os serviços requerem a utilização de bens materiais, p.e.
uma viagem requer o meio de transporte.

 Bens diretos/de consumo: satisfazem imediatamente as necessidades


dos consumidores, p.e. um alimento;
 Bens indiretos/de produção: são instrumentos para a produção de ou-
tros bens (diretos ou indiretos), p.e. uma máquina utilizada na confeção de vestu-
ário.

Nota: por vezes, o mesmo bem pode ser direto ou indireto tendo em conta
a sua função, p.e. o leite é um bem direto se for usado para beber e indireto se a
sua finalidade for produzir iogurte.

 Matérias-primas: bens existentes na natureza que, não tendo sofrido


nenhuma transformação por ação humana, se destinam a transformações posterio-
res, p.e. a lã;
 Matérias subsidiárias: bens existentes na natureza e que não se des-
tinam a ser transformados, mas apenas a auxiliar na transformação de outros bens,
p.e. o petróleo enquanto combustível;
 Semi-produtos/produtos semiacabados/produtos intermediários:
bens transformados que ainda não se destinam ao consumo, i.e., que serão nova-
mente transformados, p.e. tecido para as confeções;
 Produtos acabados/bens finais: já esgotaram o processo de transfor-
mações, podendo ser diretos (p.e., vestuário) ou indiretos (p.e., máquinas).
 Sub-produtos: resultam da produção de outros bens, podendo ser no-
vamente utilizados, como a parafina, que resulta da produção de petróleo e é utili-
zada como medicamento.

 Bens consumíveis: com uma utilização deixam de existir como bens


da mesma espécie, p.e. um alimento. Neles não se pode separar a propriedade do
uso (não podemos alugar um alimento, comê-lo e depois devolvê-lo);
 Bens duradouros: não deixam de existir como bens da mesma espé-
cie após a sua utilização, p.e. o vestuário.

Nota: em épocas de recessão económica, a procura (e, portanto, a produção)


de bens duradouros diminui, já que a sua utilização se pode prolongar no tempo.
Tal não ocorre com os bens consumíveis, a não ser que se trate de bens supérfluos.
Já em épocas de expansão da economia, há um incremento na procura/produção
de bens duradouros e, mais uma vez, a procura/produção de bens consumíveis

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mantêm-se estáveis, uma vez que, por exemplo, as pessoas não passam a comer
mais por a sua situação económica ter melhorado.

 Bens duráveis: podem conservar-se durante muito tempo sem se de-


teriorarem, p.e. os alimentos enlatados;
 Bens perecíveis/deterioráveis: deterioram-se com o curso do tempo,
p.e. uma maçã.

 Bens complementares: bens que, por gosto ou por razões técnicas,


são utilizados conjuntamente no consumo (p.e. café e açúcar) ou na produção (p.e.
carvão e ferro na produção de ferro fundido).
 Complementaridade absoluta: a utilização do bem principal
fica comprometida sem o bem complementar (p.e. automóvel e pneus);
 Complementaridade relativa: o bem principal não desempenha
tão satisfatoriamente a sua função sem o bem complementar (p.e. café e açúcar);

 Bens substituíveis: são concorrentes entre si, já que são alternativos


na satisfação do consumo ou na produção.
 Bens fungíveis: o substituto dá exatamente a mesma satisfação
de consumo ou tem a mesma eficácia na produção;
 Bens sucedâneos: o substituto não dá exatamente a mesma sa-
tisfação de consumo ou não tem a mesma eficácia na produção.

 Bens de produção conjunta: resultam necessariamente do mesmo


processo produtivo, p.e. o petróleo refinado e a parafina;
 Bens de produção associada: resultam do mesmo processo produtivo
porque tal é economicamente vantajoso, p.e. a manteiga e o queijo.

1.2.3. A produção
Consiste num processo de criação de bens (e de serviços, segundo a perspe-
tiva marginalista) capazes de satisfazer necessidades e, como tal, de criar utilidades
para além daquelas que a natureza nos proporciona diretamente. A produção com-
preende várias modalidades:

 Indústria extrativa: o homem recolhe os recursos da natureza, tanto


para consumo como para servirem de matérias-primas;
 Agricultura: inclui a agricultura em sentido restrito, a silvicultura e a
pecuária, nas quais o homem procede a uma transformação de natureza orgânica
(p.e., a semente é transformada organicamente numa planta);

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 Indústria transformadora: há uma transformação mecânica (p.e. te-
celagem) ou química (p.e. na farmacêutica) de bens;
 Indústria transportadora: os bens são deslocados, o que lhes confere
a utilidade de ficarem disponíveis onde são necessários para consumo ou produ-
ção;
 Comércio: há uma deslocação dos bens no tempo, já que o comerci-
ante torna os bens disponíveis num momento diferente do da sua produção, procu-
rando promover a sua venda e assegurar a sua qualidade;
 Serviços: podem assumir diversas formas, p.e. serviços médicos ou
de ensino.

1.2.4. A utilidade
A utilidade constitui a aptidão real ou presumida dos bens para satisfação
de necessidades, sendo, então, subjetiva e não tendo um sentido valorativo (p.e., a
heroína é útil para os toxicodependentes). Economicamente, um bem só é útil se a
pessoa em causa apresentar uma insatisfação e desejar possuir um bem que consi-
dera que a satisfará.

1.2.4.1. Utilidade total e utilidade marginal


Segundo a teoria do valor do trabalho, preconizada por Marx, o valor do
bem está no trabalho necessário para o produzir. Isto porque o valor dos bens não
pode, à partida, residir na sua utilidade, devido ao paradoxo do valor: p.e., a água
é mais útil do que os diamantes, mas estes são mais caros. Este paradoxo foi resol-
vido pelos autores marginalistas através da utilidade marginal.
A utilidade marginal (U’) é a utilidade do bem que está na margem, ou seja,
do bem que satisfaz a necessidade que é menos premente ou que já foi satisfeita
por unidades anteriores, representando-se por n+1.
Já a utilidade total consiste na utilidade do conjunto de bens de que pode
dispor-se, momentânea ou sucessivamente, pelo que, em princípio, qualquer bem
adicional faz aumentar a utilidade total.

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À medida que aumenta a quantidade disponível, Q, a U’ vai diminuindo e a
U vai aumentando (aumenta de OABC para OADE). A partir do momento em que
a U’ é 0, i.e., em que acrescentar uma unidade não levar ao aumento do bem-estar
da pessoa em causa, a U deixa de subir – nesta altura, a curva passa a coincidir
com o eixo das abcissas, mantendo-se U = OAF. A partir de um certo ponto, a U’
pode até ser negativa, caso o acrescento de unidades, em vez de beneficiar, leve,
p.e., ao congestionamento do espaço – tal é representado pela curva a ponteado
desenhada abaixo do eixo das abcissas: a U negativa, Un, corresponde a FGH.

Utilidade Total Líquida = U (OAF) – Un (FGH)


A U líquida diminui à medida que a Un aumenta.

1.2.4.2. Lei da utilidade decrescente


Para qualquer pessoa, à medida que aumenta a quantidade consumida de
um bem, a U aumenta também, mas a utilidade de cada uma das doses sucessiva-
mente consumidas é inferior à das doses precedentes, i.e., a U’ vai diminuindo. Tal
ocorre porque a intensidade da necessidade vai diminuindo.

Pressupostos da lei:
 Satisfação da necessidade com cada dose, i.e., a lei não se verifica se
a dose, em vez de satisfazer a necessidade, a aguçar ainda mais;
 Persistência da mesma situação psicológica.

1.2.5. A escassez (ou raridade)


Os problemas económicos só surgem quando estão em causa bens escassos,
estando a noção de escassez associada à de utilidade marginal: só os bens escassos
(bens económicos) têm U’ positiva. A U’ dos bens livres é 0, já que estes podem
ser consumidos na medida integral das necessidades das pessoas. Isto porque, p.e.,
as pessoas não estão dispostas a dar dinheiro (que é um bem escasso) por um bem
livre. Aliás, numa economia de mercado, o preço tem a função de limitar a procura,
já que, se os bens escassos não tivessem preço, verificar-se-ia uma procura exce-
dentária relativamente à oferta. Deste modo, a procura tem de se ajustar à oferta, o
que pode ocorrer:

 Através da intervenção da autoridade (racionamento);


 Obtendo os bens as pessoas que chegarem primeiro;
 Obtendo os bens aqueles que estejam dispostos a pagar um preço
suficientemente alto para fazer com que a procura coincida com a oferta,

Ora, na lógica da lei da oferta e da procura, é a terceira hipótese que se põe


em prática.
Foi, então, através da escassez dos bens e da U’ que os autores marginalistas
resolveram o paradoxo do valor: alguns bens essenciais para as nossas vidas, como

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a água, têm um preço baixo comparativamente a bens dispensáveis, como os dia-
mantes, porque a água tem uma utilidade total superior (é preferível a supressão
total dos diamantes da nossa vida do que da água), mas uma U’ inferior (uma vez
que a água é um bem livre e os diamantes são bens escassos, os consumidores
prefeririam um acréscimo de diamantes a um acréscimo de água).
As alternativas dependem ainda da unidade de conta e reserva de valor, i.e.,
os consumidores escolhem os produtos avaliando a sua U’ em função da moeda,
sendo que cada bem é consumido até ao ponto em que todos tenham a mesma U’.
P.e., se o bem A custa o dobro do bem B, o consumidor só compra o primeiro
enquanto a sua U’ corresponder a mais do dobro da do segundo. Quando a U’ de
A for o dobro da U’ de B, atinge-se a igualdade das U’ ponderadas. Este equilíbrio
é, então, conseguido quando:

𝑈′𝐴 𝑃𝐴
= , sendo que P = preço
𝑈′𝐵 𝑃𝐵
𝑈′𝐴 𝑈′𝐵 𝑈′𝐶
= = … = U’m, sendo que U’m = utilidade marginal por unidade monetária de ren-
𝑃𝐴 𝑃𝐵 𝑃𝐶
dimento

1.2.6. As escolhas em alternativa


A economia prende-se com a problemática da afetação de recursos escassos
de emprego alternativo. Ora, como há escassez tanto de bens de consumo como de
bens de produção, o problema da afetação levanta-se também tanto ao nível do
consumo como da produção:

 No campo do consumo: as alternativas de consumo postas aos con-


sumidores podem ser representadas através de curvas de indiferença no consumo:

U’ 5 bens de A = U’ 2 bens de B, logo U’ 1 bem de A < U’ de 1 bem de B

Qualquer ponto da curva de indiferença corresponde a um grau de satisfação


igual para o consumidor: p.e., é-lhe indiferente consumir 5 unidades de A ou 2 de
B. A possibilidade de se atingirem pontos mais afastados da origem, que

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correspondem a maiores graus de satisfação, dependeria da existência de recursos
mais avultados e os pontos no interior da curva, como o C, correspondem a uma
satisfação inferior à possível com os recursos disponíveis.
A configuração da curva (convexa relativamente à origem) corresponde à
situação de uma taxa de substituição decrescente: a diminuição do consumo de um
bem corresponde ao aumento do consumo do outro bem (situação mais frequente).

 No campo da produção: podemos considerar inúmeros fatores que o


produtor pode utilizar alternativamente em maior ou menos medida para a produ-
ção: neste caso, um dos fatores é o capital – K – e o outro é o trabalho – L. Cada
nível de produção é representado por uma curva de igualdade de produção, desig-
nada isoquanta.

Qualquer ponto mais afastado da origem corresponde à utilização de mais


K, mais L ou mais K e L, ou ao aumento da eficiência da produção através de
progressos técnicos. Se nada disto acontecer, a isoquanta i corresponde ao máximo
aproveitamento dos recursos disponíveis. Já a produção num ponto mais próximo
da origem corresponde a uma utilização ineficiente dos recursos.
A configuração da curva (convexa relativamente à origem) deve-se à cir-
cunstância de haver uma taxa de substituição decrescente: a diminuição da utiliza-
ção de um fator corresponde ao aumento da utilização do outro.

A representação da utilização de fatores produtivos permite a demonstração


da curva de possibilidades de produção através da técnica da caixa de Edgeworth-
Bowley:

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Os fatores de produção K e L são fixos para o conjunto da economia, mas
têm mobilidade neste modelo, imediata e sem custos, entre as duas funções de
produção.
As isoquantas de produção de A são qA1, qA2 e qA3 e as de B são qB1,
qB2 e qB3, correspondendo as mais afastadas da origem às situações de maior
produção. O aumento da produção de A ocorre à custa da diminuição da produção
de B.
Os pontos de tangência das isoquantas são pontos de máxima eficiência,
sendo a linha que os liga (linha AXYZB) a linha de máxima eficiência na produção
de todos os bens. Qualquer outro ponto corresponde a uma utilização ineficiente
dos dois fatores de produção, p.e.:
 O ponto C corresponde a uma produção de B na isoquanta qB2
quando os recursos da economia permitiriam a sua produção na isoquanta qB3;
 Se se desejar a produção de B na quantidade y, os recursos da eco-
nomia permitem uma produção de A na isoquanta qA2, mas a interseção do ponto
C corresponde a uma produção de A na isoquanta qA1.

A curva AXYZB é, então, uma curva de possibilidades de produção, que


pode ser representada num diagrama cartesiano, sendo que cada eixo corresponde
a um bem – a curva AXYZB corresponde à curva HH:

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A configuração da curva (côncava relativamente à origem) ilustra uma taxa
marginal de transformação crescente, i.e., a afetação sucessiva de recursos à pro-
dução de B exige a renúncia sucessiva à produção de A e vice-versa. Tal ocorre
devido à maior aptidão para a produção de um dos bens ou à existência de rendi-
mentos decrescentes a partir de um certo ponto na produção dos bens.
Com os recursos disponíveis, é impossível produzir para além da curva
(p.e., é impossível alcançar o ponto B) e uma produção no interior da curva cor-
responde a uma utilização ineficiente ou incompleta dos fatores de produção.
Com o tempo, progressos técnicos (progressos de gestão ou o aumento da
dotação de fatores) podem levar a novas curvas de possibilidades de produção mais
afastadas da origem, como H’H’. Tal pressupõe um investimento e, portanto, a
renúncia presente do aumento do consumo, pelo que também se trata de um pro-
blema económico. O próprio tempo e o espaço são relevantes para a economia: o
tempo pode ser utilizado para consumir ou produzir e o local de produção deve
contribuir para a minimização dos custos.

Ora, na sequência dos gráficos apresentados, deduz-se que os pontos ótimos


de eficiência e bem-estar estão na tangência da curva de indiferença no consumo
com a curva de possibilidades de produção.
Note-se ainda que, na sua definição de economia, para além de falar em
escolhas em alternativa, Robbins salienta que estas são realizadas entre finalidades
de desigual importância, já que só assim se pode tomar uma opção consciente; caso
contrário, estaremos numa situação de indiferença.

Capítulo II: Os Sistemas Económicos


1. Noção
A atividade económica desenrola-se de modo diferente tendo em conta a
localização geográfica e o momento histórico. Estamos perante um sistema quando
há uma articulação estável entre os quadros económicos, políticos, jurídicos, entre
outros, ocorrendo a passagem para outro sistema quando passa a prevalecer um
outro equilíbrio entre os elementos dos quadros.

2. Do ahistoricismo dos clássicos à ideia do ‘fim da história’


No final do séc. XVIII e no séc. XIX, os autores clássicos pensaram que
estavam perante um sistema estabilizado, resultante de um equilíbrio natural do
qual não se sairia. Adam Smith advogada uma perspetiva otimista, considerando
que este equilíbrio levava a uma utilização ótima dos fatores de que se dispunha.
Já David Ricardo adotou uma perspetiva pessimista, tal como Thomas Malthus,
julgando que, devido à limitação dos recursos naturais e ao nascimento de cada
vez mais bebés, se caminhava para um equilíbrio de penúria.
Recentemente, Francis Fukayama defendeu também a hipótese de termos
chegado a uma situação de estabilidade numa linha otimista na sua obra “O Fim
da História e o Último Homem”.

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3. A ideia da sucessão regular dos sistemas
Vários economistas procuraram descrever ou prever a evolução natural dos
sistemas económicos, podendo ou não considerar a existência de um sistema final
e estável.

3.1. A escola histórica alemã


Na escola histórica alemã destacaram-se vários autores:

 Friedrich List: defendeu o critério da atividade dominante, segundo


o qual a economia se desenvolveria em quatro fases: pastorícia; agricultura; agri-
cultura e indústria; agricultura, indústria e comércio. Esta última era a fase da Na-
ção normal, para a qual tenderiam as economias de todos os povos.

 Bruno Hildebrandt: defendeu o critério dos instrumentos de troca,


sendo que a economia percorreria três etapas: economia natural (troca direta de
produtos); economia monetária (troca monetária, sendo a moeda um intermediário
geral nas trocas); economia creditícia (recurso às vendas a crédito e ao emprés-
timo).

 Karl Bücher: defendeu o critério do âmbito territorial, de acordo com


o qual a economia passaria por três fases: economia doméstica (primeiro na famí-
lia, depois na tribo e, por fim, no domínio senhorial e feudal); economia urbana
(centrada na atividade artesanal das cidades, que realizam trocas com as popula-
ções agrícolas vizinhas); economia nacional (devido às relações de troca entre as
cidades).

 Schmoler: acrescenta às anteriores a fase da economia mundial, ca-


racterizada pelas relações económicas estabelecidas entre diferentes países.

3.2. Karl Marx


Foi determinante na implantação do comunismo, regime político que hoje
se circunscreve a poucos países, mas que chegou a formar o enorme bloco comu-
nista, por oposição ao bloco capitalista.
Segundo Marx, ao longo do desenvolvimento das sociedades, iam surgindo
fatores de antítese, que, opondo-se à tese (situação existente), acabariam por levar
a uma situação de rotura e, consequentemente, a uma nova tese (um novo sistema).
Posteriormente, surgiriam novos fatores de antítese conducentes a uma nova tese,
e assim sucessivamente.
Deste modo, Marx defendia que a sociedade já tinha passado por quatro
sistemas (que se distinguiam pelo seu modo de produção): o comunismo primitivo,
o esclavagismo, o feudalismo e o capitalismo. De seguida, surgiria o proletariado
como fator de antítese, levando a uma nova tese, o socialismo.

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Para tal, era determinante a luta de classes entre trabalhadores e capitalistas,
sendo que os segundos, detentores de meios de produção, se apoderavam da mais-
-valia (diferença entre o valor da força de trabalho, pago aos trabalhadores, e o
valor proporcionado pela sua atividade). Assim, para Marx, a história da sociedade
é a história da luta de classes, tendo defendido tal posição nas suas obras “Capital”
e “Manifesto Comunista”.

3.3. Werner Sombart


Segundo este autor, os sistemas económicos distinguem-se através de três
elementos:
 O espírito: objetivo fundamental da produção;
 A forma: elementos sociais, jurídicos e institucionais compreendidos
pelo quadro em que se desenvolve a economia, incluindo as relações entre sujeitos
económicos;
 A substância: técnica utilizada.

Sombart defendia que a economia teria passado pelas seguintes fases:


 Sistema de economia fechada: corresponde à Idade Média e caracte-
riza-se por uma ambição reduzida, pela mera satisfação das necessidades básicas
do domínio feudal, por um quaro jurídico e institucional simples e por uma técnica
rudimentar.

 Sistema da economia artesana: corresponde ao início da Idade Mo-


derna e caracteriza-se pela divisão de tarefas, especialmente entre a agricultura e o
artesanato, o que leva à especialização e à deslocação dos artesãos para as cidades,
onde veem o seu nível de vida melhorar. Nesta fase, há uma maior complexidade
social e institucional e a técnica agrícola conhece progressos.

 Sistema da economia capitalista: surge com o capitalismo comercial,


i.e., quando há intermediários com poder para comprar a vários artesãos, que aca-
bam por juntar inúmeros produtores numa mesma unidade, a fábrica, levando ao
nascimento do capitalismo industrial. Mais tarde, surge o capitalismo financeiro,
com a imaterialização da riqueza num quadro de mundialização. Neste sistema, o
espírito é o maior ganho possível e a forma é de grande complexidade e sofistica-
ção, enquadrando as várias atividades económicas. Quanto à substância, os pro-
gressos técnicos são constantes.

O critério de Sombart pode ser aplicado à passagem para o sistema socia-


lista, sendo o móbil a satisfação de necessidades sociais. Quanto à forma, a forte
intervenção estatal não permitiria grande complexidade. Nos países em que se im-
plantou o socialismo, a substância permaneceu rudimentar, exceto na União Sovi-
ética, onde se verificaram importantes progressos tecnológicos, p.e. ao nível

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militar e espacial, mas que não foram acompanhados por progressos na produção
de bens de consumo corrente, fator que contribuiu para a queda do bloco comu-
nista.

3.4. Colin Clark


Considerou que as sociedades iam evoluindo de acordo com o predomínio
de mão de obra nos setores de atividade, i.e., com a deslocação da população ativa
do setor primário para o secundário e, depois, para o terciário. Assim, um país que
tivesse maior percentagem de população ativa no setor primário seria menos de-
senvolvido do que outro que a tivesse nos setores secundário e terciário.
Tal ocorreria porque o aumento o rendimento da população não correspon-
deria à subida da procura de bens primários, mas secundários ou terciários. Assim,
havendo progressos técnicos e de gestão que permitissem manter a produção com
menos trabalhadores, a mão de obra excedentária seria atraída para setores nos
quais a procura estivesse em crescimento.

3.5. Walter Rostow


Distingue cinco fases de evolução das sociedades:
 Sociedade tradicional: sociedade pré-científica com progressos tec-
nológicos rudimentares e essencialmente ligados à agricultura. Esta sociedade era,
p.e., a da Época Medieval.

 Fase das condições prévias para o arranque: inovações tecnológicas


associadas à agricultura e à indústria, com uma maior abertura ao mundo e, por-
tanto, mais dinamismo. Ao mesmo tempo, há uma abertura a novos valores sociais
e os Estados nacionais emergem, substituindo poderes regionais. Esta sociedade
verificou-se na Europa dos sécs. XVIII e XIX, com arranque na Inglaterra.

 Fase do arranque: trata-se do take-off, i.e., da Revolução Industrial


de cada país. Geralmente dura 20 anos e caracteriza-se pelo aumento da percenta-
gem de rendimento afetada ao investimento e por progressos técnicos assinaláveis.
A primeira ocorreu na Inglaterra, ficando marcada, p.e., pela invenção da máquina
a vapor.

 Fase do percurso para a maturidade: a percentagem de PIB destinada


ao investimento sobe, alargando-se o campo dos setores que dinamizam as econo-
mias.

 Idade de alto consumo de massa: predomina a produção de bens de


consumo duradouros e de serviços e destinam-se cada vez mais recursos a tarefas
de apoio social. Chegou à Europa Ocidental e ao Japão após a Segunda Guerra
Mundial, mas já vigorava nos EUA desde o início do séc. XX.

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Segundo Rostow, depois da idade de alto consumo de massa, ou seja, depois
de a generalidade das pessoas ter acesso aos bens que proporcionam um bem-estar
corrente, surge uma fase de novas necessidades, agora imateriais. Para além disso,
o economista defende que há algumas exceções na sucessão das fases da socie-
dade: p.e., pelas suas distintas condições, o Canadá atingiu o alto consumo de
massa sem antes passar pela fase de maturidade.

4. Os tipos de organização
Walter Eücken propõe a distinção dos sistemas com base no modo como a
sociedade resolve, independentemente da época histórica, os problemas económi-
cos, i.e., que resultam da grande procura face a recursos escassos, nomeadamente:
O que produzir? A favor de quem (i.e., como repartir)? Como produzir? Como?
Quando?
Ora, há duas soluções extremas: a solução de uma direção totalmente central
e a solução totalmente de mercado.

4.1. A direção central


Há uma autoridade que decide, p.e., através de planos, a resposta a todas
estas questões.
Alguns autores defendem que tal permite a máxima eficiência e total justiça,
mas essa ideia é discutível. P.e., se a autoridade central responder a tais questões
económicas através de juízos de valor por si formulados, poderemos questionar se
será aceitável que esta se sobreponha à vontade dos cidadãos. Por outro lado, se a
determinação dos bens a produzir tiver em conta os desejos das pessoas, estes te-
riam de ser apurados através de inquéritos, o que traria grandes dificuldades, desde
logo porque os desejos variam no tempo e de indivíduo para indivíduo. Do mesmo
modo, é difícil que uma autoridade central tome conhecimento, p.e., das capacida-
des de cada trabalhador.
A economia de direção central compreende ainda o problema da repartição
do rendimento. Idealmente, há a ideia de que cada um deve ser remunerado de
acordo com as suas necessidades; todavia, tal pode originar problemas de equidade
(surgindo a questão de saber se será justo que dois indivíduos com as mesmas
necessidades tenham o mesmo rendimento, independentemente do seu esforço la-
boral) e eficiência (não existindo um estímulo para que os trabalhadores produzam
mais e melhor).
Por outro lado, optando-se por uma repartição do rendimento de acordo com
o contributo de cada indivíduo, este seria difícil de avaliar no contexto de uma
economia de direção central.
Finalmente, este sistema económico torna ainda difícil a decisão de onde e
quanto produzir, sendo que muitas vezes tais decisões acabam por ser tomadas de
acordo com critérios políticos, não sendo economicamente eficientes. O problema
da localização das produções no tempo surge muitas vezes associado à opção entre
uma satisfação máxima das necessidades de consumo do presente ou um consumo

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menor atual associado a um maior investimento e, portanto, ao maior bem-estar no
futuro.

4.2. O mercado (e o papel das autoridades)


Também a economia de mercado enfrenta algumas dificuldades.
Associada ao problema de saber o que produzir surge, desde logo, a questão
de não haver uma garantia de que os produtores irão corresponder a todas as nossas
necessidades. No entanto, Adam Smith defende que, como se se tratasse de uma
“mão invisível”, o mecanismo dos preços permite que o mercado dê as indicações
necessárias e eficientes, levanto a que os produtores produzam de acordo com as
necessidades dos consumidores. Tal ocorre porque, quando a procura de um bem
aumenta, o seu preço também sobe, o que leva os produtores a serem atraídos para
o aumento da sua produção, aumentando a oferta.
Para além disso, a maior remuneração de determinados tipos de mão de obra
especializada leva a uma deslocação de trabalhadores para essa atividade. Do
mesmo modo, o rendimento é distribuído a favor de quem está ligado aos setores
mais atrativos e, portanto, com maior valor de produtividade marginal. Simultane-
amente, o próprio mercado leva a que as produções se localizem nas áreas mais
adequadas, p.e. próximo dos mercados consumidores, minimizando-se os custos e
proporcionando-se bem-estar aos cidadãos. Quanto à localização da produção no
tempo, pode também ser o mercado a determiná-la através das taxas de juro
(quando há menos necessidade de consumo, há mais depósitos nos bancos, aumen-
tando as expectativas de ganho dos consumidores).
Ainda assim, por vezes, é necessária uma intervenção pública para que o
mercado funcione devidamente. P.e., se se verificar um consumo excessivo de um
bem considerado socialmente indesejável poderá ocorrer uma intervenção de
modo a limitar esse consumo; por outro lado, as autoridades podem intervir, le-
vando a um menos consumo presente, com vista ao bem-estar das gerações futuras.
Concluindo, o Estado pode interceder na economia de mercado de modo a
promover uma melhor afetação dos recursos ou a redistribuí-los, já que o mercado
não tem em conta situações de desigualdade, assim como a promover, a longo
prazo, um maior crescimento ou equilíbrio.

4.3. Sistemas mistos? Os serviços de interesse económico geral e a regula-


ção
O problema de haver uma maior ou menor intervenção estatal acaba por se
levantar apenas em áreas onde pode haver também uma intervenção privada, de-
signadamente em relação a bens semipúblicos, que podem ter um preço, como ser-
viços de transportes, saúde ou ensino. Sabendo-se que uma maior intervenção pú-
blica pressupõe um aumento dos impostos, a questão reside em apurar se tais ser-
viços devem ser custeados em maior ou menos medida pelos seus utilizadores ou
pelo conjunto dos cidadãos, especialmente no que diz respeito aos “serviços de
interesse económico geral”, como a saúde, a justiça ou o ensino. Durante o

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Liberalismo, constatou-se a necessidade de haver um investimento em setores eco-
nómicos que exigem grandes investimentos e infraestruturas que não podem mul-
tiplicar-se, como o transporte ferroviário ou as telecomunicações.
Não podendo esperar-se que, sem qualquer apoio, a iniciativa privada inter-
viesse nestes domínios, houve duas vias de intervenção: na Europa os Estados in-
tervieram e nos EUA as autoridades deram garantias aos particulares para que estes
tomassem a iniciativa. Em alguns setores portugueses, como o dos telefones, se-
guiu-se o exemplo americano, mas com investimentos privados ingleses.
A evolução mais recente tem sido no sentido de se dar cada vez mais relevo
à iniciativa privada e, portanto, às privatizações, sendo que, passando determina-
dos setores para particulares, é necessária uma regulação por razões de racionali-
zação e garantia de satisfação do interesse público. Assim, p.e., existindo iniciativa
privada ao nível dos transportes, é necessário assegurar que estes se encontram
disponíveis mesmo nas áreas mais desfavorecidas dos países.

-------------------- ★ --------------------

O mercado rege-se de acordo com três leis:


 Lei da procura: descreve como varia a procura no mercado;
 Lei da oferta: descreve como varia a oferta no mercado;
 Lei da oferta e da procura/lei dos preços: descreve como variam os
preços no mercado.

Capítulo III: A Procura


1. A lei da procura. Enunciado e representação gráfica
De acordo com a lei da procura, a quantidade procurada depende do preço,
diminuindo à medida que este aumenta e aumentando à medida que este diminui,
caeteris paribus (i.e., se tudo o resto se mantiver constante). Assim, a procura (D
– demand) é a variável dependente e o preço (P) é a variável independente.
Este comportamento pode ser demonstrado num diagrama, representando o
eixo vertical o preço e o horizontal a quantidade:

P.e., quando o preço é 9€, com-


pram-se 30 unidades. Já se o bem
custar 3€, compram-se 80 unidades.

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2. Fundamentação da lei da procura
2.1. Efeitos de substituição e de rendimento. Casos excecionais
A lei da procura explica-se através dos seguintes efeitos:

 Efeito de substituição: quando o preço de um bem aumenta, os con-


sumidores passam a comprar outro que substitua o primeiro. Assim, o efeito subs-
tituição explica que a procura de um bem diminua quando o seu preço sobe, sendo
tanto mais forte quanto mais próximos forem os seus sucedâneos;

 Efeito de rendimento: o aumento do preço de um bem leva à dimi-


nuição da capacidade geral de compra dos consumidores (i.e., do rendimento real).
Assim, mantendo-se as preferências dos consumidores, estes passam a comprar
menos de todos os bens, nomeadamente daquele cujo preço subiu.

Nota: o rendimento nominal é o número de unidades monetárias que uma


pessoa tem. Já o rendimento real corresponde aos bens e serviços que uma pessoa
consegue comprar com o seu rendimento real.

Não obstante, a lei da procura enfrenta exceções, existindo casos nos quais
ao aumento do preço de um bem corresponde a subida da procura e, do mesmo
modo, a descida do preço de um bem é acompanhada da diminuição da sua pro-
cura. Tal pode ocorrer em três situações distintas:

 Bens de luxo: as pessoas procuram-nos, não para fazerem face às


suas necessidades básicas, mas para evidenciarem a sua riqueza (procura-ostenta-
ção). Ora, quando o preço de tais bens diminui, desce também a sua procura, já
que a vulgarização do bem faz com que este perca a sua função. Do mesmo modo,
se o seu preço subir, o bem torna-se ainda mais luxuoso, aumentando a sua procura.

 Paradoxo de Giffen: no séc. XIX, Giffen constatou que as famílias


operárias inglesas consumiam em maior medida bens alimentares básicos quando
aumentava o seu preço. Isto porque, com tal subida de preço, o sobrante do rendi-
mento das famílias não era suficiente para a compra de outro bem mais caro, pelo
que estas acabavam por alocar o rendimento excedente ao bem cujo preço tinha
aumentado.

 Bens sucedâneos: se houver bens sucedâneos e o consumidor não


tiver rendimentos altos, comprará em maior quantidade o bem mais barato, mesmo
não sendo o que mais aprecia. Ora, se o preço desse bem diminuir, a sua procura
pode também descer, já que os consumidores podem preferir comprá-lo menos
para adquirirem o bem principal em maiores quantidades.

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2.2. Teoria da utilidade cardinal
A lei da procura pode ainda ser explicada através da lei da utilidade decres-
cente, em virtude da qual a utilidade de um bem diminui à medida que aumenta a
quantidade que é consumida.
Exemplo (no qual a utilidade é medida em “úteis”, uma vez que, estando
em causa uma realidade subjetiva, é difícil a sua medição):

Kg de café Utilidade dos kg sucessivos


… …
5.º 24 úteis
6.º 22 úteis
7.º 20 úteis
8.º 18 úteis
9.º 15 úteis
… …

Para se saber quanto vale a pena comprar, há que comparar o preço com a
utilidade. P.e., assumindo que 1€ vale 2 úteis e que 1kg de café custa 6€ (12 úteis),
valerá a pena comprar até 10kg de café. Já se 1kg de café passar a custar 10€ (20
úteis), valerá a pena comprar 7 kg. Assim, confirma-se a lei da procura: quanto
maior o preço, menor a procura (e vice-versa).

2.3. Teoria da utilidade ordinal. A técnica das curvas de indiferença


Ainda assim, como não é possível, na prática, medir a utilidade desta forma,
recorre-se às curvas de indiferença: a curva será tanto mais afastada da origem
quanto maior for o bem-estar dos consumidores.

3. A elasticidade-preço da procura
3.1. O modo de medir a elasticidade
A elasticidade-preço da procura (ED ) corresponde à relação entre a variação
relativa da quantidade procurada e a variação relativa do preço:

variação relativa da quantidade procurada


ED =
variação relativa do preço

Exemplo:

Quantidade 100 90
Preço 1€ 1,25 €
Receita total 100 € 112, 5€

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Neste âmbito, a procura pode ser:
 Elástica/elástica > 1: a variação relativa da quantidade procurada é
superior à variação relativa do preço (ED > 1);
 Inelástica/elástica < 1: a variação relativa da quantidade procurada é
inferior à variação relativa do preço (0 > ED < 1);
 Absolutamente inelástica/rígida/com elasticidade unitária: a variação
relativa da quantidade procurada é exatamente igual à variação relativa do preço
(ED = 1).

3.2. Importância do cálculo das elasticidades


O cálculo das elasticidades é relevante para se avaliar os ganhos e perdas
obtidos com a alteração do preço de um bem.
No domínio empresarial, o empresário fixa o preço dos seus produtos tendo
em vista a máxima receita total, que resulta da multiplicação das quantidades ven-
didas pelo preço praticado. Ora, quando a procura é elástica (maior do que 1), varia
em maior proporção do que o preço, compensando baixá-lo, e já não subi-lo. Já se
for inelástica (entre 0 e 1), a procura varia em menor proporção do que o preço,
compensando aumentá-lo, uma vez que a subida da receita total compensará a di-
minuição da procura. Finalmente, será indiferente alterar o preço se a procura for
com elasticidade unitária.
Por outro lado, a elasticidade-preço da procura é importante para que as
autoridades monetárias e cambiais procedam, sempre que necessário, à desvalori-
zação da moeda, como forma de atenuar o desequilíbrio da balança comercial: se

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a procura nos restantes países for inelástica ou rígida, a desvalorização da moeda
pouco ou nada levará ao aumento da procura, tendo apenas como consequência o
mais difícil cálculo das taxas de câmbio.

3.3. As situações diferentes de elasticidade-preço da procura

 Gráfico A – curva da procura absolutamente inelástica: as quantida-


des procuradas de um bem são absolutamente insensíveis às variações do seu
preço, i.e., o comprador adquire o mesmo número de unidades independentemente
do preço. Tal ocorre, p.e., com bens de primeira necessidade, bens de luxo, bens
cujo preço represente uma parcela mínima do rendimento dos consumidores, ou
bens procurados em conjunto com outros.

 Gráfico B – curva da procura absolutamente/infinitamente elástica


ou de elasticidade perfeita: a elasticidade-preço da procura é igual a infinito, i.e.,
se não houver variação do preço praticado, o mercado absorverá todas as quanti-
dades aí colocadas. Tal ocorre nos mercados de concorrência perfeita e monopo-
lista.

 Gráfico C – curva da procura absolutamente inelástica: a quantidade


procurada varia sempre na mesma proporção do preço, pelo que a receita total é
constante ao longo da curva.

4. A elasticidade-cruzada. Bens sucedâneos e complementares


A elasticidade-cruzada da procura é a relação entre as variações do preço
de um bem e as consequentes variações das quantidades procuradas de outro bem:

variação % do € do bem A
variação % da D do bem B

Assim, esta permite avaliar em que medida os bens sucedâneos são próxi-
mos entre si ou os bens complementares são estreitamente relacionados:

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 Fig. 1 – bens sucedâneos: o aumento do preço do bem A leva ao
aumento da quantidade procurada de B, e vice-versa. Assim, a elasticidade-cru-
zada é positiva, representando-se mediante uma curva crescente ou de inclinação
positiva. Esta será tanto mais elevada quanto maior for o grau de sucedaneidade
entre os bens em causa.

 Fig. 2 – bens complementares: o aumento do preço do bem A leva à


diminuição da quantidade procurada de B, e vice-versa. Assim, aqui a elasticidade-
cruzada é negativa, representando-se mediante uma curva decrescente ou de incli-
nação negativa. O valor negativo da elasticidade-cruzada é tanto mais elevado
quanto mais estreita for a relação entre os bens complementares em causa.

5. Da procura individual à procura agregada


A lei da procura permite saber como é que o comprador individual reage à
variação do preço, mas também como é a reação do conjunto dos compradores.
Assim, neste segundo caso, p.e., não se fala em kg, mas em milhares ou milhões
de toneladas. Acresce que na procura agregada sabemos qual o valor da procura
associado a um determinado preço num certo momento, mas já não qual a procura
exata que se faria com um preço mais ou menos elevado: a curva da procura agre-
gada não nos diz como é que a quantidade procurada varia em função do preço,
mas sim como é que este se altera de acordo com a variação da procura do conjunto
dos cidadãos.

6. A elasticidade-rendimento da procura
A elasticidade-rendimento da procura é a relação entre a variação percentual
da procura de um bem e a variação percentual do rendimento dos seus comprado-
res:

variação % da D de 1 bem
variação % do rendimento dos seus consumidores

Geralmente (i.e., para os designados bens normais), a procura de um bem e


o rendimento dos seus compradores variam no mesmo sentido, sendo a elastici-
dade-rendimento da procura positiva. No entanto, no caso dos bens de qualidade
inferior, a regra é a da diminuição da procura como consequência do aumento do
rendimento dos seus consumidores (elasticidade-rendimento da procura negativa),
uma vez que estes passam a procurar modelos de melhor qualidade. Finalmente, a
elasticidade-rendimento da procura será igual a 0 sempre que a quantidade procu-
rada não variar independentemente da alteração do rendimento dos compradores.
Acresce que, em regra, os bens de primeira necessidade são objeto de uma
procura com elasticidade-rendimento positiva, mas menor do que 1 (a procura va-
ria em menor proporção do que o rendimento), já que, à medida que aumenta o
rendimento dos consumidores, diminui a parte das despesas em bens de primeira

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necessidade no conjunto da despesa total das famílias, enquanto unidades de con-
sumo: trata-se da designada Lei de Engel.
Já no caso dos bens de luxo, a elasticidade-rendimento tende a ser positiva
e superior a 1 (a procura varia em maior proporção do que o rendimento), pois o
aumento do rendimento das pessoas leva a que suba também a parte da sua despesa
destinada a bens de luxo.

7. A importância das elasticidades


 Elasticidade-preço da procura: permite aos empresários saberem
qual a dimensão da reação da procura à variação do preço;
 Elasticidade-cruzada da procura: permite saber se os bens são com-
plementares ou sucedâneos;
 Elasticidade-rendimento da procura: permite saber se a procura de
um bem será cíclica ou estática e, portanto, se acompanha ou não o ciclo da eco-
nomia.

8. A procura função de outros fatores


Para além do preço e do rendimento, a procura pode variar em função de
outros fatores, nomeadamente do gosto dos consumidores (p.e., passam a preferir
um plasma a uma televisão antiga) e do progresso tecnológico (p.e., no processo
produtivo, o empresário substitui o carvão pelo petróleo).

Capítulo IV: A Oferta


1. A lei da oferta. Enunciado e representação gráfica
De acordo com a lei da oferta, caeteris paribus (ou seja, se tudo o resto se
mantiver), a quantidade oferecida de um bem (variável dependente) é função do
seu preço (variável independente), aumentando quanto este sobe e diminuindo
quando este baixa. Assim, os dois variam no mesmo sentido, tendo a curva da
oferta uma inclinação crescente:

2. Fundamentação para a lei da oferta. Da lei do rendimento decrescente à


curva do custo marginal
Isto porque o vendedor pode ter dois comportamentos: disposição para ven-
der ou para estocar. Ora, segundo o efeito de substituição na lei da oferta, este

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substitui a sua disposição para estocar pela de vender sempre que o preço sobe,
com vista à obtenção da maior possibilidade de ganho.
Assim, a inclinação crescente da curva da oferta resulta da lei dos rendi-
mentos decrescentes, em virtude da qual, dados os elementos de produção e sendo
constante a técnica, o rendimento adicional proporcionado por um fator variável
(p.e., aumento do número de trabalhadores) vai sendo sucessivamente menor (ou
seja, tal rendimento é decrescente). Ora, sendo decrescente o rendimento marginal,
é crescente o custo marginal, i.e., o custo de cada unidade a mais, expresso na
curva da oferta (dado o maior custo de produção, o vendedor sobe o preço para
poder aumentar a oferta).
Não obstante, a lei da oferta tem como exceção o efeito rendimento, no qual
a receita proporcionada pela venda do produto tem, para o vendedor, um caráter
de necessidade, pelo que este baixa o preço para poder aumentar a oferta.

3. A elasticidade-preço da oferta
A elasticidade-preço da oferta é a relação entre a variação percentual da
quantidade oferecida de um bem e a variação relativa do seu preço, admitindo que
os restantes fatores suscetíveis de influenciarem a oferta se mantêm constantes.
Assim, traduz a capacidade do ofertante para, rapidamente, aumentar ou diminuir
a quantidade oferecida, tendo em conta a variação do preço. Como a curva da
oferta tem uma inclinação positiva, a elasticidade da oferta também nunca é nega-
tiva:

 Oferta elástica maior que um (ES > 1): a quantidade oferecida varia
em maior proporção que o preço, o que ocorre (p.e., no caso de bens de fácil im-
portação, a subida do preço leva à maior compra ao exterior);

 Oferta elástica menor que 1 ( 0> ES < 1): a quantidade oferecida varia
em menor proporção que o preço (o que ocorre com bens produzidos com maté-
rias-primas raras ou em cuja produção dificilmente se pode dispor de um fator em
maior medida);

 Oferta de elasticidade igual a 1 (ES = 1) – GRÁFICO E: a quantidade


oferecida é absolutamente proporcional ao preço, aumentando ou diminuindo, res-
petivamente, na proporção da subida ou descida deste;

 Oferta perfeitamente elástica – GRÁFICO D: os consumidores ab-


sorvem quaisquer quantidades de um bem que os vendedores coloquem no mer-
cado a determinado preço;

 Oferta perfeitamente inelástica (ES = 0) – GRÁFICO F: a oferta é


insensível à variação do preço, o que ocorre, p.e., com bens únicos ou irrepetíveis.

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3.1. Variáveis da elasticidade da oferta
A elasticidade da oferta e, portanto, a capacidade do vendedor para aumen-
tar ou diminuir a quantidade oferecida de um bem de acordo com a variação do
preço, depende:

 Da capacidade para constituir stocks ou a eles recorrer;


 Da capacidade de expansão da produção de um bem, o que decorre
da circunstância de a empresa estar ou não em pleno emprego de recursos, sendo
que se estiver a produção só é maior se se aumentar a produtividade. Assim, numa
situação de desemprego de recursos é mais fácil aumentar a oferta (i.e., a elastici-
dade da oferta é maior);
 Do período de tempo a considerar, sendo a oferta tanto mais elástica
quanto maior aquele for. Tal período de tempo pode ser:
 Infra-curto ou de mercado: demasiado curto para que a produ-
ção possa varias;
 Curto: é possível fazer variar a produção, mas não os recursos
existentes;
 Longo: tudo pode variar.

4. As funções de produção e as combinações produtivas mais vantajosas


Existem diferentes funções de produção, ou seja, formas de a organizar, po-
dendo a mesma quantidade de bens resultar de um processo produtivo mais capital-
-intensivo ou mais trabalho-intensivo. Desta forma, os produtores procuram orga-
nizar os fatores de produção de modo a obterem a maior eficácia possível, i.e., uma
diminuição do custo marginal e, portanto, um aumento do lucro. Ora, é a curva da
oferta que exprime a combinação mais favorável dos fatores primários de produção
para cada quantidade.

5. Outros custos de produção


A oferta não depende só do preço dos bens, mas também dos custos de pro-
dução:
 Custo marginal: é o custo de produção da última unidade, sendo o
mais relevante para que os produtores avaliem e determinem a distribuição dos
fatores de produção;

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 Custo variável: acompanha o nível de produção, pelo que é suscetível
de alteração num período curto de tempo. Aqui incluem-se os custos relacionados
com as matérias-primas e o pessoal não permanente;
 Custo fixo: é aquele que é independente do volume de produção,
tendo de ser sempre suportado (p.e., renda da fábrica ou escritório);
 Custo total: somatório do custo variável com o custo fixo.
 Custo total médio: quociente entre o custo total e o número de uni-
dades produzidas;
 Custo fixo médio: quociente entre o custo fixo e o número de unida-
des produzidas;
 Custo variável médio: quociente entre o custo variável e o número
de unidades produzidas.

Os custos variáveis podem ser rigorosamente proporcionais aos custos da


produção (p.e., 1 cadeira – 5 €; 2 cadeiras – 10 €) ou estar sujeitos à lei dos rendi-
mentos decrescentes.

6. As economias de escala e a curva do custo médio


A diminuição do custo médio de produção é conseguida através do aumento
das quantidades produzidas, por numerosas razões.
No âmbito do fabrico, pode haver equipamentos (p.e., fornos) que não se-
jam reprodutíveis em modelos de pequena dimensão com a correspondente dimi-
nuição do seu custo. Para além disso, a existência de várias fábricas de pequena
dimensão relativas ao mesmo bem, ao invés de uma maior, evita a multiplicação
de custos fixos (p.e., edifícios de escritórios).
Já no plano comercial, é rentável às grandes empresas ter numerosos entre-
postos, no país e no estrangeiro, o que já não se verifica quanto às pequenas em-
presas. Para além disso, as primeiras, em regra, compreendem vários produtos as-
sociados à mesma marca, o que permite a diluição dos custos de publicidade.
Finalmente, as grandes empresas têm maior facilidade em obter emprésti-
mos com condições mais favoráveis, bem como de aceder ao mercado financeiro
(nomeadamente pela sua maior notoriedade), emitindo ações e obrigações.
Não obstante, há um ponto a partir do qual a dimensão das empresas se
torna excessiva, uma vez que há um limite às possibilidades de uma gestão efici-
ente. Nessa altura, começa a elevar-se o custo médio de produção:

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7. A maximização do lucro e o andamento da oferta em função do preço
Procurando a maximização do lucro, os empresários avaliam as quantidades
a produzir com base no custo e na receita marginais (o custo a suportar e a receita
a obter por cada unidade a mais), valendo a pena aumentar a produção se a primeira
for superior ao segundo (p.e., no caso do gráfico, não vale a pena produzir a um
preço superior a 10). A situação de máximo luro é aquela em que a curva do custo
marginal interseta a curva da receita marginal.
Ainda assim, note-se que, em momentos em que a economia se encontra
desfavorável, poderá valer a pena produzir e vender a unidade que tenha um custo
marginal igual à receita marginal, obtendo-se o lucro normal.

8. Objetivos dos empresários sem ser a maximização do lucro a longo prazo


Por vezes, os empresários não são determinados pela maximização do lucro
a longo prazo, mas preferem renunciar a um maior lucro imediato de modo a con-
seguirem um ganho maior a médio e longo prazo. Para além disso, a subida de
preço não leva ao aumento da oferta se não houver stock que o permita ou se tal
não compensar (tal como mostra o gráfico acima).

Capítulo V: Mercados, formação dos preços e comportamentos dos empresários


1. A lei da procura e da oferta /lei dos preços
De acordo com a lei dos preços, o preço (variável dependente) é função da
procura e da oferta (variáveis independentes): caeteris paribus, quando a oferta
aumenta o preço diminui (variam no sentido inverso) e quanto a procura aumenta
o preço sobe (variam no mesmo sentido).

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Influência da procura sobre o preço: Influência da oferta sobre o preço:

Influência da procura e da oferta sobre o preço:

Nesta lei, o preço constitui uma forma de racionamento dos bens, já que
estes são entregues a quem é capaz de pagar o preço que o mercado pede. Outras
formas de racionamento são a ordem das procuras (fica com o bem quem chega
primeiro) ou através da autoridade (p.e., o Estado) que determina o critério de dis-
tribuição dos bens.

2. As várias formas de mercado


As várias formas de mercado podem distinguir-se com base no número de
entidades participantes dos lados da oferta e da procura, bem como no modo como
se comportam os empresários:

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3. A concorrência perfeita
3.1. Caracterização
Trata-se de um arquétipo, já que possui certas características que, pela sua
exigência, são difíceis de existir na realidade:
 Atomicidade do mercado: os participantes deste mercado (empresas
e consumidores) são muitos e muito pequenos, pelo que nenhum deles tem uma
influência muito sensível no mercado, já que a sua procura ou oferta representam
uma pequena parte da procura ou oferta globais (p.e., o aumento da procura não
leva à diminuição dos preços);

 Homogeneidade dos produtos: os bens são perfeitamente idênticos


entre si (são fungíveis), pelo que não há razão para que os consumidores tenham
preferências;

 Livre acesso à indústria: há uma facilidade do ponto de vista dos fa-


tores produtivos necessários para entrar no mercado e, simultaneamente, as em-
presas que já lá estão não conseguem impedir a entrada de novos ofertantes no
mercado (falta de ação preventiva das empresas);

 Publicidade perfeita: todos os participantes do mercado têm um co-


nhecimento perfeito de todos os bens, da sua qualidade e das demais condições do
mercado;

 Perfeita mobilidade dos agentes económicos: sem qualquer restrição,


os ofertantes podem corresponder de imediato, sem aumento de encargos, a qual-
quer procura registada no território em análise. Os consumidores beneficiam de
qualquer oferta, onde quer que se encontrem.
É através deste mercado, possivelmente verificável apenas nos mercados de
rua ou sites de compras, que percebemos a imperfeição dos restantes.

3.2. O comportamento ótimo em relação ao preço do mercado


Uma vez que há uma infinidade de ofertantes, nenhum consegue ter influ-
ência sobre o preço, pelo que este resulta da interseção da procura global com a

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oferta global. Assim, aqueles limitam-se a ajustar a sua oferta ao preço, aumen-
tando-a até que a curva do custo médio intersete a curva do preço, que neste caso
é a da receita marginal.
Destarte, só há lucro (que corresponde ao produto do número de bens pela
diferença entre o preço e o custo médio) e, portanto, os ofertantes só se mantêm no
mercado, enquanto o preço for igual ou superior ao custo médio. Havendo lucro,
acorrem mais ofertantes ao mercado, levando o aumento da oferta global à dimi-
nuição dos preços, logo do lucro. A oferta só deixa de aumentar quando deixar de
haver lucro, i.e., quando o preço for igual ao custo médio.

3.2.1. Concorrência perfeita em período infra-curto


A produção não pode aumentar nem diminuir, pelo que a oferta é feita com
os produtos já produzidos, tendo os ofertantes duas opções: vendê-los ou ficar com
eles em estoque/armazém à espera de melhor oportunidade.
Também não podem modificar-se as necessidades e os rendimentos dos
consumidores, devendo a sua procura ser feita com o rendimento que já possuem,
podendo gastá-lo ou ficar com ele entesourado.
Assim, estabelece-se um único preço de equilíbrio entre a oferta e a procura
feitas em cada momento, o preço de equilíbrio momentâneo ou preço corrente.
Vigora, então, a Lei da Indiferença, segundo a qual, no mesmo momento, não pode
haver mais do que um preço para a mesma mercadoria.
A unicidade do preço dá origem ao fenómeno das rendas: os compradores
economizam a diferença entre o preço que estavam dispostos a pagar e aquele que
efetivamente pagam (renda dos consumidores) e os vendedores ganham a dife-
rença entre o preço por que estavam dispostos a vender as mercadorias e aquele
por que realmente as vendem (renda dos vendedores).
Enquanto a renda dos consumidores é fugaz, a dos vendedores é duradoura,
já que estes determinam o preço mínimo a que lhes convém vender face ao custo
de produção. Enquanto as mercadorias forem transacionadas por mais do que o seu
custo, manter-se-á a renda dos vendedores.

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3.2.2. Concorrência perfeita em período curto
As empresas podem aumentar ou diminuir a produção subindo ou descendo
a quantidade de trabalhadores, de matérias primas e subsidiárias, de semi-produtos,
de energia, entre outros, mas não podem aumentá-la ou diminuí-la acrescendo ou
reduzindo o seu equipamento.
Sendo os preços independentes da ação das empresas e dos consumidores,
a procura e a oferta são infinitamente elásticas, pelo que todos os participantes no
mercado contam com uma procura que, ao preço de mercado, absorverá todas as
quantidades que a empresa consegue produzir.
Assim, para maximizarem os seus lucros, as empresas desenvolvem a pro-
dução até ao ponto em que o custo marginal iguale o preço de mercado, ou seja, a
receita média, que neste caso é igual à receita marginal. Destarte, a regra da maxi-
mização do lucro em período curto e em concorrência perfeita determina que o
custo marginal é igual à receita marginal, que é igual ao preço de mercado.
Quanto à oferta, as empresas oferecem, a cada preço, a quantidade de mer-
cadorias cujo custo marginal se parifique com o preço. Ora, como a subida do
preço permite a produção a custos marginais cada vez mais elevados, a oferta das
empresas aumenta à medida que o preço sobe.

3.2.3. Concorrência perfeita em período longo


Quanto o preço é superior ao custo total médio, as empresas realizam lucros
anormais.
As empresas atingem o seu ponto de equilíbrio quando a curva da receita
média (procura) for tangente à curva do custo total médio, num ponto de interseção
entre esta e a curva do custo marginal. Na sua posição de equilíbrio, as empresas
têm lucros normais, que constituem o mínimo indispensável para que continuem a
trabalhar, podendo fazer face aos salários, juros, rendas, entre outros. Estas empre-
sas (marginais) mantêm-se, então, no mercado, na expectativa de se tornarem in-
tramarginais, i.e., de auferirem lucros anormais por trabalharem a um custo total
médio inferior ao preço de mercado.
Em período longo e concorrência perfeita, acabam por se estabelecer preços
de equilíbrio entre a procura e aquela oferta cujo custo marginal se parifica com
tais preços e com o custo marginal mínimo da empresa marginal (que labora a
prelos mais elevados do que as restantes).
O processo de atração, decisão, montagem e entrada em laboração de novas
empresas é moroso, daí que o mecanismo de reajustamento pelo entrechoque dos
múltiplos planos das empresas até se atingir a posição de equilíbrio só seja possível
a longo prazo.
Os lucros anormais tornam a indústria atrativa, pelo que, uma vez que este
mercado se caracteriza pelo livre acesso às indústrias, a ele acorrem novos ofer-
tantes e as empresas que já lá se encontram aumentam a sua oferta. Ora, o aumento
da oferta global conduz, por força da lei dos preços, à diminuição dos preços, o
que vai ocorrendo até que os lucros anormais desapareçam e, portanto, deixem de

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surgir novos ofertantes no mercado. Deste modo, em período longo, as empresas
entram e saem da indústria até que se atinja a posição de equilíbrio total, na qual
todas as empresas parificam o seu custo marginal com a sua receita marginal (preço
de mercado). Assim, como todas as empresas realizam lucros normais e funcionam
no ponto mínimo da sua curva de custo total médio, desaparece a tendência para a
entrada ou saída de empresas na indústria.

4. O monopólio
4.1. Caracterização e explicação
Estamos perante uma situação de monopólio sempre que há apenas um
vendedor, pelo que este controla a sua oferta. Tal ocorre com produtos que não
têm sucedâneos próximos, i.e., que têm uma elasticidade cruzada com outros bens
muito fraca, e pode verificar-se por diversas razões:

 Monopólio legal: resulta da decisão de uma autoridade, que atribui a


exclusividade de produção de determinado produto a apenas uma empresa, ou atri-
bui a apenas um ofertante a patente de certo produto ou processo de produção.
 Monopólio natural: não existe mais do que um operador no mercado
por circunstâncias como o enorme custo de produção e a falta de sentido na dupli-
cação de infraestruturas.
 Monopólio de facto: resulta do próprio mercado, por uma empresa
inicialmente em concorrência ter afastado todas as restantes.

4.2. A curva da procura para o monopolista


Para a empresa monopolista, o preço é um elemento a determinar, já que,
dispondo da oferta global, estas podem, aumentando-a ou diminuindo-a, fazer
aquele subir ou descer.
Assim, partindo do princípio de que o objetivo da empresa é a maximiza-
ção do lucro, esta irá escolher o preço que lhe deixe maior excesso de receitas sobre
as despesas totais (preço ótimo de monopólio). Ora, o preço será ótimo quando for
máximo o lucro (quantidades vendidas X (preço – custo total médio)) e, como as
quantidades vendidas dependem da procura, o preço deve ser fixado em função da
procura e do custo. No entanto, o monopolista não pode agir ao mesmo tempo
sobre as quantidades vendidas e o preço: se fixa a quantidade que quer vender, é o
mercado que lhe diz a que preço as compra; se fixa o preço a que deseja transaci-
onar, é o mercado que lhe diz as quantidades que absorve. Trata-se do Princípio de
Cournot, por via do qual o preço ótimo de monopólio não coincide com o preço
máximo, i.e., com o mais alto dos preços a que ainda há procura.

4.3. A receita marginal e o comportamento ótimo em monopólio


Uma vez que, neste mercado, a procura não é infinitamente elástica, a re-
ceita marginal é necessariamente mais baixa do que o preço. Na linha do Princípio
de Cournot, o ofertante pode colocar mais produtos no mercado, tendo, para tal,

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de baixar o preço, sob pena de este não absorver essas unidades a mais. Este novo
preço tem de se aplicar a todas as unidades, já que nenhum dos compradores ante-
riores continuará a comprar um bem por um valor superior quando este se encontra
disponível por um preço mais barato. Assim, reduz-se a receita e a receita marginal
é inferior ao preço.
A necessidade de baixar mais ou menos o preço depende da elasticidade-
preço da procura, sendo menor se esta for maior e vice-versa. Assim, a receita
marginal varia no mesmo sentido da elasticidade da elasticidade da procura.
Desta forma, o produtor produz até que a curva do custo marginal intersete
a da receita marginal, valendo a pena produzir e vender até que aquele seja menor
ou igual a esta (A no gráfico abaixo). Diagramaticamente, a curva da receita mar-
ginal é representada abaixo da curva da procura (onde se estabelece o preço – B no
gráfico abaixo). O preço estabelece-se na vertical do ponto de interseção entre as
curvas do custo marginal e da receita marginal (C no gráfico abaixo).

4.4. Moderadores do preço


Estando sozinho no mercado, o monopolista alcança um elevado lucro
(custo médio consideravelmente abaixo do preço - D no gráfico acima), não lhe
interessando sair dessa situação, a menos que:
 Existam sucedâneos próximos do produto vendido pela empresa, o
que a leva a estabelecer um preço mais baixo para que os seus consumidores não
passem a comprar os primeiros (p.e., uma empresa de transporte rodoviário está
sujeita à concorrência do transporte ferroviário);
 O Estado ou as autoridades competentes intervenham (p.e., abrindo
fronteiras) para conter situações de abuso no estabelecimento dos preços;
 A empresa decida estabelecer preços mais baixos para que o mercado
não se torne tão atrativo, evitando-se o surgimento de novos produtores. Não obs-
tante, note-se que esta é uma hipótese pouco provável, uma vez que a formação de
uma nova empresa que concorra com a monopolista exige tempo, riscos e capitais
avultados.

4.5. A renda dos consumidores e a discriminação dos preços


A renda dos consumidores corresponde ao somatório de todas as diferenças
entre o preço que o consumidor admite pagar e aquele que paga.

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Assim, há renda dos consumidores sempre que o preço é único, já que há
pessoas que estariam dispostas a pagar mais do que aquele em caso de necessidade.
Desta forma, será mais vantajoso à empresa monopolista, em vez de fixar um preço
único, diferenciá-lo, de modo a absorver o rendimento dos consumidores. Ora, tal
implica que o vendedor preste serviços pessoais, estando em condições de definir
preços diferentes para pessoas diferentes; ou ainda que se fracione o mercado em
várias secções (no fundo, em vários mercados).
Não obstante, este fracionamento implica que não haja comunicação entre
os vários mercados, i.e., que os compradores e produtos ou serviços não possam
deslocar-se ou ser transferidos entre as várias secções. Para tal, pode realizar-se
uma repartição no tempo (vender-se primeiro o mais caro, absorvendo o rendi-
mento dos consumidores, e ir diminuindo o preço progressivamente) ou no espaço
(vendendo-se a mesma mercadoria a preços diferentes).
O fracionamento no espaço torna-se mais fácil no caso dos serviços diretos1
em que o monopolista conhece as disposições de cada um dos seus clientes (como
ocorre, p.e., com um alfaiate). Ainda assim, isso nem sempre é possível, restando-
lhe a distinção entre classes: através de uma ligeira melhoria na qualidade do ser-
viço, os consumidores procuram colocar-se na classe mais cara, permitindo à em-
presa absorver o seu rendimento sem perder os consumidores que apenas estão
dispostos a pagar o preço da classe mais barata.

5. A concorrência monopolística
5.1. Caracterização e explicação
Esta é uma forma intermediária de mercado, uma vez que conjuga caracte-
rísticas do monopólio e da concorrência perfeita. Assim, na concorrência mono-
polística há uma multiplicidade de empresas e mobilidade perfeita, mas não há
publicidade perfeita, pelo que os vendedores não conhecem as disposições dos
compradores.
Para além disso, aqui vigora o princípio da diferenciação mínima, procu-
rando as empresas que os seus produtos sejam similares aos demais existentes, mas
mantendo determinadas diferenças, i.e., mantendo nos compradores o espírito de
que nenhum bem é substituto perfeito do de outra empresa que se dedique à mesma
1
Serviços que só podem ser prestados às pessoas que deles se aproveitam de modo imediato, não podendo
sê-lo mediante intermediários.

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atividade (ou seja, de que nenhum produto tem bens fungíveis ou sucedâneos pró-
ximos).
Esta diferenciação pode respeitar ao próprio produto, radicando na sua na-
tureza, nomeadamente na sua apresentação, ingredientes, entre outros (diferencia-
ção material objetiva); ou na aposição nele de uma marca, com a proteção jurídica
que daí decorre (diferenciação jurídica). Por outro lado, o produto pode distinguir-
se pelas suas condições de venda, numa diferenciação de facto (tais condições são
independentes da vontade e ação do empresário – p.e., localização da empresa ou
reputação do vendedor) ou provocada (elas resultam da ação do empresário, p.e.
mediante publicidade ou programas de fidelização).
Note-se que a diferença de preço entre as várias empresas nunca poderá ser
substancial, sob pena de os consumidores deslocarem a sua procura para a que
praticar preços mais baixos. Ainda assim, estamos perante uma tentativa de fuga à
concorrência dos restantes ofertantes, já que, criando-se nos consumidores a ideia
de que o produto é único, as empresas podem aumentar o preço sem que estes
deixem de o comprar. Trata-se, então, de uma tentativa de fidelização da clientela,
o que leva ao aumento dos custos de venda, destinados a informar e persuadir o
consumidor para que este escolha determinados produtos.
Desta forma, os custos de venda são tanto mais elevados quanto mais pró-
ximos forem os sucedâneos do bem em causa e distinguem-se dos custos de pro-
dução, destinados à criação da mercadoria, ao seu transporte e à sua colocação à
disposição do comprador.
Finalmente, a diferenciação do preço não faria sentido nos mercados de
concorrência perfeita, nos quais os custos de venda se destinam à publicidade ins-
titucional, i.e., são despendidos por uma associação da indústria com vista ao au-
mento da procura total.

5.2. O preço de equilíbrio estável


Em mercados nos quais a clientela se apega a certo produto ou empresa
(p.e., venda de bens alimentares ou roupa), a curva da procura deixa de ser infini-
tamente elástica, assemelhando-se à que se verifica numa situação de monopólio.

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Para recuperar os lucros anormais, a empresa pode conseguir diferenciar o
seu produto ou lançar um novo. Caso não o consiga, a sua curva da receita média
passa a ser mais elástica a longo prazo do que a curto prazo (D’ está mais na hori-
zontal do que D). Em regra, os novos produtos que entram no mercado tendem a
ser semelhantes aos já produzidos anteriormente, já que as empresas procuram
produzir o tipo de bens mais lucrativo, e, quanto mais o forem (i.e., quanto mais
próximos estes forem dos seus sucedâneos), mais elástica será a sua procuta.
Acresce que, em concorrência monopolista, vigora um equilíbrio de desper-
dício, desaproveitando-se capacidade produtiva e de produzir mais barato, ou seja,
as empresas produzem menos do que poderiam e a um custo médio superior ao
possível (a curva da procura relativa a cada empresa é tangente à curva do custo
total médio num ponto em que esta ainda é decrescente).
Atendendo a todas estas características, a concorrência monopolista facil-
mente conduz ao prejuízo social. Tal ocorre se:

 A circunstância de as empresas laborarem longe da plena capacidade


levar a uma excessiva elevação dos custos de produção e de venda e, consequen-
temente, dos preços;
 Aos custos de produção acrescerem encargos de venda sem verda-
deira utilidade, destinados a afastar a concorrência, p.e. mediante uma diferencia-
ção de produtos artificial;
 A difícil entrada de novas empresas de mercado e consequente falta
de concorrência permitir às empresas manter preços excessivos comparativamente
com os seus custos.

6. Oligopólio
6.1. Caracterização e explicação
O mercado de oligopólio é aquele no qual os produtos dos vários ofertantes
se distinguem material e juridicamente, existindo um pequeno número de grandes
empresas (competition among few), que procuram dominar o setor, como ocorre,
p.e., nos campos das gasolineiras ou das telecomunicações. Em caso de oligopólio
parcial, coexistem pequenas empresas ao lado dessas maiores.

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Note-se que o oligopólio pode ser perfeito ou sem diferenciação dos pro-
dutos, ou ainda imperfeito ou com diferenciação dos produtos. O primeiro é aquele
no qual os produtos são tão homogéneos que a redução do seu preço por parte de
uma empresa leva imediatamente a igual descida pelas restantes, não existindo,
por isso, mais do que um preço no mercado. Já no segundo a diferenciação dos
produtos é a razão de escolha de certa empresa por parte de cada consumidor, pelo
que a diminuição do preço não leva no mesmo instante à deslocação da clientela
para outro ofertante, sendo mais fácil a tentativa de ganhar vantagem com esse
dado sem que os restantes intervenientes no mercado reajam.
A situação de oligopólio pode ocorrer ou porque quando a empresa atinge
o custo médio mínimo possível já é muito grande em relação ao mercado, ou por
existirem obstáculos naturais, legais ou de facto à formação de novas empresas.

6.1.1. Obstáculos naturais


Estamos perante um obstáculo natural ao surgimento de novas empresas
sempre que a matéria-prima necessária à produção do bem só existe em zonas às
quais só um pequeno numero de ofertantes tem acesso.

6.1.2. Obstáculos legais


Existe um obstáculo legal quando os processos de fabrico das empresas
existentes no mercado são patenteados, não podendo ser utilizados por novos ofer-
tantes que se pretendam surgir, ou tal aparecimento dependa da autorização de
poderes públicos.

6.1.3. Obstáculos de facto


 A indústria em causa requerer capitais consideráveis, de obtenção em
determinada época;
 A indústria em causa depender em grande escala de serviços de dis-
tribuição e venda, obrigando os novos ofertantes a suportar elevadas despesas ini-
ciais na criação de um sistema de vendas por grosso e a retalhos:
 As taxas de crescimento da procura serem estáveis ou estarem em
diminuição;
 Os fatores de produção não terem mobilidade perfeita;
 Os recursos produtivos serem indivisíveis, tendo as novas empresas
de suportar elevados custos fixos iniciais;
 As empresas já existentes apresentarem um variado conjunto de pro-
dutos e preços, enquanto o novo ofertante teria de começar com menos tipos de
bens;
 As empresas existentes reagirem fortemente ao surgimento de novos
ofertantes, procurando arruiná-los através da lei dos preços;
 As empresas do mercado realizarem uma forte ação preventiva:

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 Estabelecendo, a curto prazo, preços abaixo do nível máximo
de lucro, de modo a afastar eventuais concorrentes a longo prazo, seja por acordo
entre elas ou por imposição da que seja dominante;
 Aumentando o capital fixo mais do que o necessário para que
o seu equipamento nunca esteja a ser totalmente utilizado, de modo a possibilitar
uma rápida resposta ao aumento da procura;
 Tornando muito custosa ou impossível a obtenção de matérias
primas, equipamentos ou recursos financeiros por parte de novos ofertantes;
 Realizando dispendiosas campanhas de publicidade para que os
novos ofertantes não consigam competir com elas.

6.2. A indeterminação da procura e a formação do preço. A teoria dos jogos


estratégicos
Em situação de oligopólio, concorrem entre si um pequeno número de gran-
des empresas pertencentes à mesma indústria e que oferecem os mesmos produtos.
Tal leva à interdependência conjetural, devendo cada ofertante atender ao efeito
da sua ação no comportamento dos restantes, já que a sua própria atuação será
influenciada pelo que os seus concorrentes fazem.
Desta forma, vigora também uma indeterminação da procura, não podendo
cada empresa contar com uma determinada curva da procura em face do preço que
praticar, já que esta depende também do comportamento dos restantes ofertantes,
nomeadamente das suas políticas de vendas.
Isto porque, se uma empresa baixar os preços que pratica, as restantes de-
verão reagir de igual forma, acabando a primeira por não beneficiar de um aumento
da procura. Já se o aumentar, ficará sem clientela (em oligopólio perfeito) ou com
uma procura muito reduzida (oligopólio imperfeito).

São estas reações, que são tanto mais fortes e rápidas quanto mais próximos
forem os sucedâneos, que levam a uma curva quebrada da procura.
Ora, é esta a característica mais diferenciadora de um mercado de oligopó-
lio: estamos perante ele sempre que o número de empresas é tão reduzido que a
procura dos seus produtos se torna indeterminada, estando elas sujeitas às restantes
existentes no mercado: qualquer tentativa de fixação de um preço leva a perdas
para todos os ofertantes existentes.

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Desta forma, as empresas procuram evitar uma luta de preços, permane-
cendo eles inalterados durante largos períodos de tempo. Assim, é comum o para-
lelismo de comportamentos, ou seja, a tendência para todos os ofertantes subirem
e descerem os preços ao mesmo tempo:
 Oligopólio completamente coordenado: um sindicato centraliza as
vendas ou vigoram acordos de cartel entre as várias empresas;
 Oligopólio parcialmente coordenado: existe uma empresa líder n in-
dústria ou os vários oligopolistas cooperam voluntariamente entre si (acordo com
leadership), em nome da ética negocial e da tolerância recíproca.

Ainda assim, não deixa de haver concorrência entre as várias empresas, po-
dendo esta verificar-se através:
 Da publicidade;
 Das condições de venda (p.e., descontos ou garantias);
 Do controlo do acesso às matérias primas, das redes de distribuição
e do comércio de retalho;
 Da inovação técnica;
 Da ocupação de todo o espaço disponível no mercado, não deixando
mais espaço para as restantes empresas alargarem a sua produção e venda.

Capítulo VIII: O circuito económico e a contabilidade nacional


1. O circuito económico num modelo simplificado. O produto, o rendimento
e a despesa
A atividade global da economia corresponde ao somatório do que se passa
com todos os seus intervenientes: os que participam na produção, os que recebem
rendimentos e os que realizam despesas. Num modelo simplificado, consideram-
se as famílias e as empresas:

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Só aquilo que se distribui sob a forma de rendimento é despesa, só a despesa
permite o produto e só o produto permite o rendimento.

2. Modos de cálculo
Na realização do somatório das produções deve evitar-se duplas contagens,
sob pena de o cálculo do produto ficar dependente da maior ou menor integração
dos circuitos, levando à consideração de valores díspares da realidade.
Este problema pode ser resolvido contabilizando-se os valores acrescenta-
dos, método que não implica a realização de mais operações. Por outro lado, pode
considerar-se apenas o valor do bem final, devendo depois fazer-se os necessários
acertos para que o valor apurado não fique aquém ou para lá da produção efetiva-
mente realizada no país em causa durante um ano: deve deduzir-se os bens inter-
mediários utilizados na produção que tenham vindo do período anterior ou que
tenham sido importados; deve ainda acrescentar-se os bens intermediários que
ainda não tenham sido incorporados nos bens finais ou que tenham sido exporta-
dos.

3. A equivalência entre os agregados


3.1. O produto
 Produto interno bruto a preços de mercado (PIB): corresponde ao to-
tal dos valores criados pelas unidades produtivas durante um determinado período,
em regra um ano civil. Assim, está em causa o conjunto dos bens finais, deduzidos
do valor dos bens intermediários provindos do ano anterior ou importados e acres-
cidos do valor dos bens intermediários ainda existentes como tal no final do ano
(i.e., ainda não incorporados em bens finais);

 Produto interno bruto a preços de base ou ao custo dos fatores: para


obter o PIB ao custo dos fatores, há que deduzir ao PIB a preços de mercado os
impostos sobre a produção e a importação, já que este valor reverte para o Estado
e não para as empresas, não podendo por isso ser usado por elas para remunerar os
participantes na produção (os impostos são produto das empresas, mas já não ren-
dimento). Para além disso, devem ser acrescentados os subsídios à produção, que
constituem rendimento de que os ofertantes podem dispor, embora não resultem
das vendas.

O PIB a preços de mercado e o PIB a custo dos fatores são apresentados em


bruto quando os investimentos em bens capitais duradouros são tidos em conta na
íntegra, sem a dedução de quotas de amortização. Caso contrário, estaremos pe-
rante valores líquidos (PNL – Produto Nacional Líquido).
Os bens capitais duradouros destinam-se à utilização em bens finais de con-
sumo, pelo que a inclusão do seu valor na determinação do produto de um país
leva a duplas contagens: são contados no ano em que são produzidos, mas o seu
valor é também considerado nos anos seguintes, já que o empresário introduz no

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preço do bem produzido o investimento que gastou nos bens de produção dura-
douros.
Ora, a amortização de tais valores evita as referidas duplas contagens, mas
subavalia a produção do país nos anos em que haja um especial acréscimo na pro-
dução de bens capitais duradouros (i.e., que não se limite à substituição daqueles
que vão deixando de ser usados).
Assim, em cada período considerado deve contabilizar-se o valor dos bens
capitais duradouros produzidos, deduzindo-se nesse ano e nos seguintes as respe-
tivas quotas de amortização, p.e. dividindo-se o número de bens pela quantidade
de anos durante os quais se espera que tais bens sejam utilizados na produção.
Por outro lado, releva saber se o investimento em bens capitais duradouros
conduz à maior capacidade produtiva do setor em causa, valendo, por isso, mais
do que aqueles que deixaram de ser úteis porque se desgastaram, estragaram ou
tornaram tecnicamente obsoletos (morte económica de um bem). Desta forma, em
rigor, o acréscimo líquido de bens capitais duradouros ocorrido em cada ano deve-
ria apurar-se em relação ao desgaste efetivo do equipamento existente, ficando a
saber-se com certezas se a capacidade produtiva do país sofreu ou não um ganho
líquido. Não obstante, os serviços de estatística não têm possibilidade de apurar o
desgaste efetivo ocorrido em cada unidade produtiva do país, presumindo-se então
que a deterioração ocorrida é igual todos os anos e procedendo-se à divisão do
valor dos bens capitais duradouros pelo número de anos durante os quais se espera
que venham a ser utilizados.

3.2. Rendimento
 Rendimento nacional disponível: corresponde ao rendimento nacio-
nal deduzido das transferências correntes pagas ao resto do mundo e acrescido das
transferências correntes recebidas.

 Rendimento pessoal: é a parte do rendimento nacional que é entregue


às famílias, resultando da sua participação na produção. Isto porque parte do valor
obtido pelas unidades produtivas não é destinado àquelas, sendo transferido para
o Estado a título de impostos diretos ou retido para poupança. Para além disso, há
ainda que deduzir os rendimentos produzidos em propriedades e empresas do pró-
prio Estado.

 Rendimento pessoal disponível: algumas pessoas podem dispor de


dinheiro que não é rendimento seu (não resulta da sua participação na produção) e
há rendimento pessoal que não chega a poder ser usado. Assim, para se obter o
rendimento pessoal disponível, devem-se deduzir ao rendimento pessoal os impos-
tos diretos para o Estado (p.e., IRS), para as autarquias e para a Segurança Social,
adicionando-se os subsídios de assistência. Desta forma, o rendimento pessoal dis-
ponível corresponde Àquele de que as famílias dispõem livremente para consumir
ou aforrar.

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3.3. A ótica da despesa
Na análise dos agregados, deve distinguir-se as despesas de consumo das
despesas de investimento. Para além disso, no caso das últimas, deve apenas con-
siderar-se as que tenham sido realizadas com capitais produzidos no mesmo ano.

4. Os dados da contabilidade nacional como indicadores do êxito económico


e do bem-estar das populações
Os dados da contabilidade nacional são indicadores do maior ou menor
êxito do país a que se referem e do bem-estar da sua população. Isto porque per-
mitem a realização de comparações no espaço (entre regiões ou entre países) e no
tempo, além de possibilitarem a realização de juízos não comparativos acerca da
produção e do nível de vida num certo país e numa dada época.
No entanto, daqui não resulta uma análise perfeita, uma vez que enfrentará
diversos desafios:

 Para avaliação da evolução de um país no tempo, os valores reais só


poderão ser corretamente analisados se forem inflacionados ou deflacionados con-
soante a taxa de evolução dos valores monetários aí registados;
 A nível temporal, a política de cada país pode ser distinta: podem
investir avultadamente em bens de consumo no presente (garantindo o bem-estar
atual dos cidadãos), ou patrocinar bens capitais com vista à maior produção (e,
portanto bem-estar) futura;
 Os agregados da contabilidade exprimem-se em termos monetários,
excluindo, por isso, os bens materiais e os serviços que não têm mercado (p.e.,
serviços que a pessoa presta a si própria ou como dona de casa), pelo que não são
totalmente esclarecedores quanto ao bem-estar dos cidadãos;
 Esta análise não considera o valor do descanso, que é fundamental
como parâmetro de avaliação do bem-estar dos cidadãos;
 Os agregados permitem apenas medir quanto é produzido, e não o
grau de satisfação das pessoas relativamente ao seu trabalho;
 Os agregados dão-nos conta de valores globais e de médias, não nos
permitindo atender às desigualdades existentes e podendo conduzir a juízos erra-
dos;
 Os agregados não atendem ao tipo de bens produzidos, que é funda-
mental para a formulação de juízos acerca do bem-estar das populações (p.e., terá
maior qualidade de vida a população cujo país destine a maioria da sua produção
a bens de consumo, e não a material de guerra);
 A análise da contabilidade não atende à razão e objetivos de certos
investimentos, que podem apenas visar compensar deseconomias provocadas pela
má gestão do crescimento e progresso do país (p.e., a construção do viaduto para
solucionar o problema do trânsito, que não se traduz no bem-estar geral da popu-
lação, não interessando, nomeadamente, aos que não habitem no meio urbano, não
usufruindo, por isso, da obra).

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Não obstante todas estas limitações, os grandes agregados da contabilidade
nacional não deixam de se entender como fundamentais nos estudos macroeconó-
micos, desde que se tenham as necessárias cautelas de análise.

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