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FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA SOCIEDADE


Neste capítulo vamos estudar como a produção é a atividade econômica mais
importante de um país.

VISÃO GERAL SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO

Quando vamos a um supermercado e compramos gêneros alimentícios, bebidas,


calçados, material de limpeza, eletrodomésticos, etc., estamos comprando bens. Da mesma
forma, quando pagamos a passagem de ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando
um serviço.
Portanto, bens são todas as coisas palpáveis, concretas, e que são produzidas para
satisfazer as necessidades das pessoas. Já uma consulta médica, uma aula, a entrega de
um jornal, são exemplos de serviços. Bens e serviços existem para satisfazer as
necessidades dos indivíduos. E resultam de algum tipo de transformação dos recursos da
natureza pelos processos de produção.

PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS: A VIDA


ECONÔMICA DA SOCIEDADE.

Podemos dizer que o ser humano com o seu trabalho produz bens e serviços. Ao
viver em sociedade, as pessoas participam diretamente da produção, tendo como principais
atividades econômicas a produção, a distribuição (circulação) e o consumo de bens e
serviços. Assim, o conjunto de indivíduos que participa da vida econômica de uma nação é o
conjunto de indivíduos que participam da produção, da distribuição e do consumo de bens e
serviços.
*O conjunto de indivíduos que constitui a vida econômica de uma nação é o conjunto
de indivíduos que participam da produção (foto A), da distribuição (B) e do consumo de bens
e serviços (C).*

Quando os operários estão trabalhando, eles estão ajudando a produzir; quando,


com o salário que recebem, compram algo, estão participando da distribuição, pois estão
comprando bens e serviços. E quando consomem os bens e serviços que adquirem,
participam da atividade econômica de consumo de bens e serviços.
Considerando esses três elementos, é óbvio que para que haja distribuição e
consumo de algum bem ou serviço é necessário que tenha havido anteriormente a produção
desse bem ou serviço. Isso torna a produção a atividade econômica mais importante de um
país.
Tomemos, por exemplo, o processo produtivo que ocorre em uma indústria de
móveis: a árvore (matéria bruta) é derrubada; as toras de madeira (matéria-prima) vêm para
a indústria de móveis. Aí chegando, sofrem a ação transformadora das máquinas e
equipamentos e do trabalho dos operários, resultando desse processo um novo bem - uma
cama, uma mesa, uma cadeira -, que será colocado à venda.
Produção é a transformação da natureza da qual resultam bens que vão satisfazer
as necessidades dos indivíduos. Portanto, produzir é dar uma nova combinação aos
elementos da natureza.
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TRANSFORMANDO MATÉRIA-PRIMA EM BENS

Vejamos outro exemplo, que nos permitirá compreender de forma mais detalhada o
processo produtivo. Ao trabalhar, a costureira transforma o corte de tecido de linho - que é
obtido de matéria-prima vegetal - numa roupa: para isso ela utiliza linhas, botões, colchetes,
etc. E também tesouras, agulhas e máquina de costura. Além disso, para poder trabalhar,
ela gasta energia elétrica para a iluminação da casa e para o funcionamento da máquina de
costura elétrica.
Como vemos, um dos elementos que intervêm no processo de produção é o
trabalho.
Trabalho é a atividade realizada pela pessoa que, utilizando os instrumentos de
produção, transforma a matéria-prima num bem.

ENERGIA FÍSICA E MENTAL: A FORÇA DE TRABALHO

Continuando com o exemplo da costureira, ao trabalhar ela gasta energia física e


mental. Essa energia gasta durante o processo de trabalho é chamada força de trabalho.
Da mesma forma, os operários em sua jornada de trabalho, professores e alunos em
suas atividades escolares ou acadêmicas, médicos, cientistas, domésticos, artistas, todos
empregam sua força de trabalho na realização de suas tarefas.

PROCESSO DE PRODUÇÃO: UM RESUMO

Resumindo: o processo de produção é composto de três elementos princi-


pais associados:
● trabalho;
● matéria-prima;
● instrumentos de produção.
Vamos analisá-los melhor.

TRABALHO

Toda atividade desenvolvida pelo ser humano - seja ela física ou mental- é
considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços. É trabalho tanto a atividade do
operário de uma indústria como a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por
essa indústria.
Assim, tanto a atividade manual como a atividade intelectual são trabalho, desde que
tenham como resultado a obtenção de bens e serviços.

*Trabalho é toda atividade que resulta em bens e serviços. Na foto A você vê


operários em linha de montagem industrial na Zona Franca de Manaus; na foto B, arquitetos
e seus projetos.*
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MANUAL E INTELECTUAL: UMA COMBINAÇÃO

Deve-se considerar que toda atividade manual implica uma atividade mental.
Algumas profissões exigem do trabalhador uma atividade intelectual maior (no exemplo
anterior, o arquiteto) do que outras (o operário). Todo trabalho é sempre uma combinação
desses dois tipos de atividade - manual e intelectual. O trabalho de um operário é mais
manual que intelectual ou, em alguns casos, quase exclusivamente manual; ainda assim,
exige um mínimo de esforço mental. O trabalho do arquiteto é mais intelectual que manual -
a concepção de uma forma no espaço -; mas, ainda assim, a sua atividade tem um aspecto
manual, seja no manuseio de seus instrumentos de trabalho, seja na passagem da
concepção do projeto para o papel.
Então, não existe trabalho exclusivamente manual ou trabalho exclusivamente
intelectual, mas, sim, trabalho predominantemente manual ou trabalho predominantemente
intelectual.
O trabalho executado por um desenhista industrial exige uma aprendizagem anterior,
um certo nível de escolaridade. Já o trabalho de um jornaleiro, por exemplo, não exige
aprendizagem anterior: ele é capaz de executá-lo por imitação.

UMA CLASSIFICAÇÃO DO TRABALHO

Quanto à execução, o trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacidade exigido
das pessoas que o exercem. Assim, temos:
● O trabalho qualificado - não pode ser realizado sem um grau de aprendizagem; o
trabalho de um torneiro mecânico, por exemplo, enquadra-se nessa categoria;
● O trabalho não qualificado - pode ser realizado praticamente sem aprendizagem; por
exemplo, o trabalho de um servente de pedreiro.

O trabalho predominantemente intelectual é em geral qualificado.

É interessante notar que essa classificação não é meramente teórica, mas existe de
fato, já que diferentes salários são atribuídos, conforme o grau de capacitação exigido pelas
tarefas a cumprir. Analisando anúncios de emprego podemos avaliar as vantagens salariais
de um torneiro ou de um instrumentista - cujas funções exigem um aprendizado prévio - em
relação a um operário da construção civil não especializado, por exemplo.

MATÉRIA-PRIMA

Os elementos que, no processo de produção, são transformados para constituírem o


bem final são chamados de matéria-prima.
No exemplo da costureira, suas matérias-primas são o tecido, a linha, os botões e os
colchetes. Todos esses elementos passam a constituir a roupa, de uma maneira ou de outra.
Já para as indústrias desses objetos, a matéria-prima está na natureza: o linho vegetal, o
algodão, a seda, o plástico, o metal, etc.
Antes de se transformar em matérias-primas, os elementos encontravam-se na
natureza sob a forma de recursos naturais.
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RECURSOS NATURAIS

Os seres humanos, visando obter os bens e serviços de que necessitam, utilizam-se


de recursos como o solo (para a agricultura e a pecuária), as rochas (para a mineração) e os
rios e quedas-d'água (para a navegação e a produção de energia elétrica).
Percebemos, porém, que as rochas - enquanto fontes de minérios - são recursos
naturais para as sociedades industrializadas, mas não o são para as sociedades que não
praticam a mineração. Por outro lado, o que foi apenas elemento da natureza numa época
pode converter-se em recurso natural em outra.
Por exemplo: antes da descoberta da energia da queda d'água, estas eram
simplesmente um elemento da natureza; depois se tornaram fonte de energia primeiro nos
moinhos, depois nas hidrelétricas e, portanto, um recurso natural, já que é incorporável à
atividade econômica.
*As hidrelétricas são um exemplo de transformação de elemento da natureza - no
caso, a queda-d'água - em recurso natural para a produção de um bem, que é a energia
elétrica.*

Dessa forma, o conceito de recursos naturais é relativo, isto é, ele varia no tempo e
no espaço. O que é recurso natural num processo de produção capitalista, acessível e
incorporável à atividade econômica de uma nação, pode não sê-lo numa comunidade
primitiva.
Assim, recursos naturais são os elementos acessíveis da natureza e que podem ser
incorporados à atividade econômica do homem.

INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO

Todas as coisas que direta ou indiretamente nos permitem transformar a


matéria-prima num bem final são chamadas instrumentos de produção. Os instrumentos de
produção que nos permitem transformar diretamente a matéria-prima são as ferramentas de
trabalho, os equipamentos e as máquinas. No exemplo da costureira, esses instrumentos
são a tesoura, a agulha e a máquina de costura. Os instrumentos de produção que atuam de
forma indireta - mas não menos necessária - são o local de trabalho, as condições físicas
necessárias, como iluminação, ventilação, etc.
Assim, ‘‘instrumento de produção’’ é todo bem utilizado pelo ser humano na
produção de outros bens e serviços.
Os seres humanos recorrem aos instrumentos de produção na sua atividade
produtiva, pois dessa forma obtêm maior eficiência no seu trabalho.

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS: OS MEIOS DE PRODUÇÃO

Como vimos, sem matéria-prima e sem instrumentos de produção não se pode


produzir nada. Eles são os meios materiais para realizar qualquer tipo de trabalho. Por isso,
são considerados meios de produção.
Portanto, são meios de produção todos os objetos materiais que intervêm no
processo produtivo.
Retomemos o exemplo de uma indústria de móveis. Nela utilizam-se: trabalho (o
esforço físico e intelectual dos trabalhadores); matéria-prima; máquinas e equipamentos
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(instrumentos de produção). A matéria-prima e os instrumentos de produção constituem os


meios de produção.

TRABALHO E MEIO DE PRODUÇÃO: AS FORÇAS PRODUTIVAS

Toda empresa combina em seu processo produtivo o trabalho e os meios de


produção. Esses elementos encontram-se presentes tanto no trabalho realizado pela
costureira como no trabalho realizado em uma grande indústria moderna.
Sem o trabalho humano nada pode ser produzido; e sem os meios de produção os
seres humanos não podem trabalhar. Ao conjunto dos meios de produção mais o trabalho
humano damos o nome de forças produtivas. Assim:

Forças produtivas = meios de produção + seres humanos

As forças produtivas alteram-se ao longo da História. Assim, até meados do século


XVIII, a produção era feita com o uso de instrumentos simples, acionados por força humana,
por tração animal e pela energia proveniente da água ou do vento. Com a Revolução
Industrial (século XVIII), foram inventadas as máquinas e passou-se a usar o vapor e a
eletricidade como fontes de energia. Alteraram-se, portanto, os meios de produção e
também as técnicas de trabalho. Houve uma profunda mudança nas forças produtivas.
No processo moderno de produção, a ciência e a tecnologia tornaram-se forças
produtivas, deixando de ser mero suporte do capital para se converter em agentes de sua
acumulação. Consequentemente, mudou o modo de inserção dos cientistas e técnicos na
sociedade - tornaram-se agentes econômicos diretos. E a força capitalista encontra-se no
monopólio dos conhecimentos e da informação.

RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

Para produzir os bens e serviços de que necessitam, os indivíduos estabelecem


relações uns com os outros. No processo produtivo, as pessoas estão ligadas entre si e
dependem umas das outras. O trabalho é um ato social, no sentido de que é realizado na
sociedade.
As relações que se estabelecem entre os seres humanos na produção, na troca e na
distribuição dos bens e serviços são chamadas relações de produção. As relações de
produção existem em todos os processos de produção e, de uma maneira especial, entre os
proprietários dos meios de produção, de um lado, e os trabalhadores, de outro. São essas
relações de produção que caracterizam o capitalismo.
No Brasil colonial, por exemplo, o trabalho era praticamente todo realizado por
escravos. Os senhores eram donos dos meios de produção e também dos escravos. As
relações de produção predominantes eram, portanto, relações escravistas. Hoje,
praticamente todo o trabalho é realizado por trabalhadores assalariados. Os meios de
produção são propriedades de empresas particulares.
Portanto, pode-se afirmar que o elemento que determina a organização e o
funcionamento da sociedade e que caracteriza cada um dos diferentes tipos de sociedade
são as relações de produção. São essas relações que nos permitem distinguir um tipo de
sociedade de outro.
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MODOS DE PRODUÇÃO: A HISTÓRIA DA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE


HUMANA
O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e
serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico.
Assim, numa determinada época histórica, uma sociedade tem uma certa maneira de
se organizar para produzir e para distribuir sua produção. O modo de produção de uma
sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações existentes nessa
sociedade. Assim:

modo de produção = forças produtivas + relações de produção

Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações


de produção serem o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem produzido de vários modos aquilo de
que necessita. Por isso, pode-se afirmar que a História da humanidade é a história da
transformação da sociedade humana pelos diversos modos de produção.
Como vimos, cada sociedade tem uma forma histórica de produção que lhe é
própria; e sua história é a história do desenvolvimento do seu processo de produção.
Foi esse processo de desenvolvimento que ocasionou o aparecimento dos principais
modos de produção. São eles: primitivo, escravista, asiático, feudal, capitalista e socialista.
Cada modo de produção pode ter existido em lugares e épocas diferentes. Por
exemplo, o modo de produção primitivo existiu nos primeiros tempos da humanidade e
existe ainda hoje entre indígenas do Brasil e aborígines da Austrália.
Da mesma forma, o modo de produção escravista predominou na Grécia e no Império
Romano antes de Cristo, como também no Brasil, entre os séculos XVI e XIX.

PRINCIPAIS MODOS DE PRODUÇÃO

Já relacionamos os principais modos de produção; a seguir iremos estudá-los. Antes,


leia o texto abaixo, sobre o modo de produção considerado interativo.

INFORMACIONISMO: A SOCIEDADE INTERATIVA

Após a onda milenária da era rural, após a onda bem mais breve do maquinismo
industrial, mil novos sintomas anunciam o advento de uma terceira onda, de uma era
pós-industrial capaz de exaltar a dimensão criativa das atividades humanas, privilegiando
mais a cultura do que a estrutura.
A nova estrutura social está associada ao surgimento de um novo modo de
desenvolvimento pós-industrialismo - o informacionismo ou sociedade interativa - moldado
pela reestruturação do modo capitalista de produção do século XX. Houve substanciais
mudanças de tecnologias mecânicas para as tecnologias de informação.
A teoria clássica do pós-industrialismo (também chamada economia de serviços)
combina três afirmações e previsões que devem ser diferenciadas analiticamente:
● O a fonte de produtividade e crescimento reside na geração do
conhecimento, estendida a todas as esferas da atividade econômica
mediante o processamento da informação;
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● O a atividade econômica mudaria de produção de bens para prestação de


serviços. O fim do emprego rural seria seguido pelo declínio irreversível do
emprego industrial em benefício do emprego de serviços que, em última
análise, constituiria a maioria esmagadora das ofertas de emprego. Quanto
mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e sua produção
seriam concentradas em serviços;
● O a nova economia aumentaria a importância das profissões com grande
conteúdo de informações e conhecimentos em suas atividades. As profissões
administrativas, especializadas e técnicas cresceriam mais rápido que
qualquer outra e constituiriam o cerne da nova estrutura social.

A sociedade informacional ou sociedade interativa, diferentemente da rural e da


industrial que a antecederam, se caracteriza por delegar progressivamente o trabalho à
eletrônica e por um relacionamento cada vez mais desequilibrado entre tempo de trabalho e
tempo livre, pendendo a favor deste último.
A aventura de busca de trabalho terá maiores possibilidades de ser bem-sucedida
quanto mais o eventual trabalhador for capaz de oferecer serviços de tipo intelectual,
científico, artístico, adequados às necessidades cada vez mais mutáveis e personalizadas
dos consumidores. O futuro pertencerá àqueles que forem capazes de usar a hands muito
mais do que as hands, isto é, pertencerá a quem se ocupar de análise de sistemas, de
pesquisa, de psicologia, de marketing, de relações públicas, de tratamentos de saúde, de
educação, de viagens, de jornalismo e de formação.
Seja nos serviços, seja na indústria, a transição da produção padronizada para a
personalizada comporta uma demanda maior por skilled people, as pessoas que produzem
idéias são cada vez em maior número que as pessoas que produzem coisas. A informação e
o conhecimento oferecem muito mais oportunidades a quem os detém.

MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO

Inicialmente, os humanos viviam em tribos nômades e dependiam exclusivamente


dos recursos da região em que a tribo se encontrava, Sobreviviam graças à coleta e ao
extrativismo: caçavam animais para se alimentar e para usar as peles como roupas,
pescavam e colhiam frutos silvestres. Não dominavam a natureza. Passavam privações
quando acontecia alguma alteração climática brusca e a caça, a pesca e os frutos silvestres
rareavam.
Aos poucos a espécie humana começou a cultivar a terra, produzindo verduras,
legumes, frutas e cereais; passou a criar alguns tipos de animais. Quando isso aconteceu,
as pessoas deixaram de ser nômades e passaram a ser sedentárias, isto é, tiveram
condições de se fixar num lugar.
Durante toda a sua História, o ser humano sempre transformou a natureza para
produzir bens que satisfizessem suas necessidades básicas e também que lhe
proporcionassem uma vida mais confortável.
A comunidade primitiva foi a primeira forma de organização humana. Ela existiu em
diversas partes da Terra há dezenas de milhares de anos. Ainda hoje, na África, na
Austrália, na Nova Zelândia e na região da Amazônia, encontramos tribos com esse tipo de
organização: alimentam-se de frutos e raízes, da pesca e da caça, e não praticam a
agricultura nem o pastoreio.
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O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que


abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A
comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período
compreendido pelo escravismo, feudalismo e capitalismo mal ultrapassa cinco milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de
produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, isto é, de todos. Não existia
ainda a ideia de propriedade privada dos meios de produção, nem havia a oposição
proprietários x não-proprietários. As relações de produção eram relações de ajuda entre
todos; eram baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro
lugar.
Nas comunidades primitivas - onde tudo era de todos - não havia o Estado. Este só
passou a existir quando alguns homens começaram a dominar os outros. O Estado surgiu
como um instrumento de organização social e de dominação.

MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA

É um modo de produção que predominou na Antiguidade, mas que também existiu


no Brasil durante a Colônia e o Império. Na sociedade escravista os meios de produção
(terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedades do senhor. O escravo
era considerado um instrumento, um objeto, como um animal ou uma ferramenta.
Assim, no modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de
domínio e de sujeição: senhores x escravos. Um pequeno número de senhores explorava a
massa de escravos, que não tinha nenhum direito. Os senhores eram proprietários da força
de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de
produção) e do produto do trabalho.
Nesse modo de produção já existia o Estado, pois grupos de indivíduos dominavam
outros grupos. O Estado surgiu para garantir o interesse dos senhores.

MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO

O modo de produção asiático predominou no Egito antigo, na China, na Índia, entre


os astecas do México e os incas do Peru, e também na África do século passado. Tomando
como exemplo o Egito antigo, no tempo dos faraós, vamos notar que a parte produtiva da
sociedade era composta por escravos - que executavam trabalhos forçados - e por
camponeses - que eram obrigados a entregar ao Estado o que produziam. As terras
pertenciam ao Estado e, portanto, ao faraó, já que ele encarnava o Estado. Os grupos
privilegiados da sociedade eram os sacerdotes, os nobres, os funcionários e os guerreiros.
O excedente da produção possibilitava que o faraó destacasse um grande grupo de
homens para constituir o exército, outro grupo para construir as obras grandiosas
(pirâmides, templòs, canais de irrigação) e o grupo dos sacerdotes para preservar o saber
sagrado.
Essa organização social permitia que a parcela maior do excedente da produção
fosse consumida por esses segmentos improdutivos da sociedade, o que foi minando cada
vez mais o modo de produção asiático.
Vários foram os fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático:
● a propriedade da terra pelos nobres;
● o alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
● a rebelião dos escravos.
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No caso dos impérios inca e asteca, também contribuiu para o seu fim a conquista do
território pelos espanhóis.

MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL

O modo de produção feudal predominou na Europa ocidental durante toda a Idade


Média, permanecendo até o século XVI. No Japão, a sociedade feudal foi consolidada pelo
xogunato (século XVIII).
A sociedade feudal estruturava-se basicamente em senhores x servos. As relações
de produção no feudalismo (relações servis) baseavam-se na propriedade do senhor sobre
a terra e um grande poder sobre o servo. Os servos não eram como os escravos: eles
cultivavam um pedaço de terra cedido pelo senhor, sendo obrigados a pagar a ele impostos,
rendas, e ainda a trabalhar as terras que o senhor conservava para si. O servo tinha o
usufruto da terra, ou seja, uma parte do que a terra produzia era dele. Assim, trabalhava
uma parte do tempo para si e outra para o senhor.
Outra diferença importante entre o servo e o escravo é que o senhor de escravos
era dono do escravo, podendo vendê-lo, alugá-lo, etc. Com o senhor de servos isso não
ocorria: o servo, enquanto pessoa, não era propriedade de seu senhor. Os senhores feudais
tinham o poder econômico (eram os proprietários das terras) e o poder político (faziam as
leis do feudo e obrigavam os servos a cumpri-las).
Num determinado momento, as relações de produção feudais começaram a dificultar
o desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo tempo que a exploração dos servos no
campo aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o
crescimento da produtividade dos artesãos era freado pelos regulamentos existentes, e o
próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal.
As relações feudais de produção deixaram de responder às necessidades da época,
pois o processo de desenvolvimento exigia novas relações de produção. Dentro da própria
sociedade feudal já começavam a aparecer as relações capitalistas de produção.

MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

No final deste capítulo você encontra um texto complementar sobre a origem do


capitalismo, leitura obrigatória para aprofundar seu estudo. O modo de produção feudal
começou a desmoronar a partir do século XI.
Com a sua desagregação surgiu o capitalismo. A desagregação do feudalismo e as
origens do capitalismo tiveram como principais causas:
● o crescimento da população na Europa;
● o desenvolvimento das técnicas agrícolas de produção;
● o renascimento comercial e urbano.

O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de


produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalistas baseiam-se na
propriedade privada dos meios de produção pela burguesia - que substituiu a propriedade
feudal - e no trabalho assalariado - que substituiu o trabalho servil do feudalismo.
A burguesia possui as fábricas, os meios de transporte, as terras, os bancos, etc. O
trabalhador não é obrigado a ficar sempre na mesma terra ou na mesma fábrica; ele é livre
para se empregar na propriedade do capitalista que o aceitar para trabalhar. Os
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trabalhadores são obrigados a trabalhar para os proprietários dos meios de produção, que
são donos do capital.
Como vemos, no capitalismo há duas classes principais: a burguesia e os
trabalhadores assalariados.
O desenvolvimento da produção no capitalismo é movido pelo desejo de lucro. É
para aumentar os seus lucros que os capitalistas procuram aumentar a produção, por meio
dos aperfeiçoamentos técnicos, da exigência de maior produtividade dos operários, de uma
maior racionalização do processo de produção.

ETAPAS DO CAPITALISMO

O capitalismo compreende quatro etapas:


O pré-capitalismo (séculos XII a XV) - o modo de produção feudal ainda predomina,
mas já se desenvolvem, relações capitalistas;
O capitalismo comercial (séculos XV a XVIII) - a maior parte do lucro concentra-se
nas mãos dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o
trabalho assalariado torna-se o mais comum;
O capitalismo industrial (séculos XVIII a XX) - com a Revolução Industrial, o capital
passa a ser investido basicamente nas indústrias, que se tornam a atividade econômica
mais importante; o trabalho assalariado firma-se definitivamente;
O capitalismo financeiro (século XX) - os bancos e outras instituições financeiras
passam a controlar as demais atividades econômicas, por meio de financiamentos à
agricultura, à indústria, à pecuária e ao comércio.

MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA

A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto


é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existem empresas privadas. A
finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e
culturais da população: emprego, habitação, educação, saúde. Nela não há a separação
entre proprietários do capital (patrões) e proprietários da força de trabalho (empregados).
Isso não quer dizer que não continuem existindo diferenças sociais entre as pessoas, bem
como salários desiguais em função de o trabalho ser manual ou intelectual.
A economia na sociedade socialista é planificada, visando atender às necessidades
básicas da população e não ao lucro das empresas.
Para os teóricos do socialismo, o comunismo é a etapa posterior do socialismo. No
comunismo, segundo eles, acabariam as diferenças sociais entre as pessoas porque todos
teriam tudo em comum, e o Estado deixaria de existir.
No final da década de 1980 e começo da década de 1990, começaram a ocorrer
profundas mudanças políticas e econômicas nos países socialistas europeus. Em quase
todos caíram os governos do Partido Comunista e foram feitas reformas para tornar mais
democrático o sistema político, com eleição direta para os principais cargos. Também a
economia passou por profundas alterações, com a diminuição do controle do Estado e a
reativação dos mecanismos de mercado. A propriedade privada tem sido restabelecida em
alguns setores, sobretudo no comércio.
Apenas o desenvolvimento histórico permitirá definir que rumos as sociedades
socialistas tomarão. É possível afirmar, porém, que o sistema burocrático, controlado
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rigidamente pelo Estado, que se apoiava num regime político com escassa participação
popular, não subsistirá. Está sendo substituído por formas mais flexíveis de organização
política e econômica, com pluripartidarismo e menor participação do Estado na economia.
As mudanças mais significativas nesse sentido ocorreram na Alemanha Oriental, que
abandonou inteiramente o caminho do socialismo e se integrou à Alemanha Ocidental,
capitalista, formando com ela um só país.
O modo de produção socialista, atualmente, ainda existe, com algumas alterações de
caráter político e econômico, na China, Mongólia, Laos, Camboja, Guiné-Bissau, Angola,
Moçambique, Vietnã e Cuba.
Sem dúvida, o fato mais surpreendente e marcante do final do século XX foi a
desagregação do sistema socialista, principalmente nos países da Europa oriental: Polônia,
Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia, República Tcheca, Eslováquia, Iugoslávia, Eslovênia,
Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Rússia e as demais catorze repúblicas que
constituíam a antiga União Soviética. Essa desagregação expõe um erro de previsão na
interpretação do processo histórico mundial que julgava uma consequência histórica o
fortalecimento do Estado e a extensão do regime socialista para todas as regiões do globo.
O marxismo falhou em suas previsões. A capacidade de autotransformação, o
movimento de vertiginoso progresso tecnológico, o atendimento amplo das necessidades do
bem-estar da população que se registram nas formas assumidas pelo capitalismo no
Primeiro Mundo deram mostras, entretanto, de que o desenvolvimento social não pode
prescindir do sistema de economia de mercado(aspecto econômico) e das mais amplas
liberdades políticas da democracia (aspecto político).
O texto abaixo analisa a situação atual do modelo socialista, comparando-o com o
capitalismo.

O FIM DO SOCIALISMO?

O socialismo europeu passa por uma crise de identidade, gerada por problemas
econômicos crônicos agravados pela dívida externa. Na era Brejnev, a URSS chegou a
gastar 16% do PIB com a defesa militar. O Brasil gastava até 1989 pouco mais de 4% de
seu PIB com dívida externa e todos conhecem na pele as consequências. A questão de
fundo reside na inadequação daquele projeto socialista ao conceito de democracia. A
identificação entre Estado-governo-partido, herança stalinista, leva inevitavelmente à perda
dos elos capazes de articular a socialização da economia com democracia política e
pluralismo ideológico. A saída, porém, não se encontra na tão apregoada "liberdade" do
Ocidente capitalista - de fato, liberdade de uns poucos terem cada vez mais propriedades, à
custa de muitos impedidos de serem proprietários até meșmo de sua força de trabalho.
Por mais erros e equívocos que o socialismo real contenha, é preciso reconhecer
que ele é portador de valores éticos jamais encontrados nas anteriores sociedades de
economia de mercado. Todas as conquistas do capitalismo ficam sombreadas quando se
constata que o progresso de todas as nações capitalistas do Primeiro Mundo resulta da
exploração que elas exercem sobre os países emergentes. No entanto, o alto nível de
desenvolvimento social dos países socialistas é fruto do trabalho de seus cidadãos. Nenhum
deles explora povos estrangeiros. Nos países socialistas, crianças, idosos, trabalhadores
estrangeiros e pessoas portadoras de deficiências físicas merecem do Estado a atenção
adequada. Não são encontrados também sintomas coletivos de desagregação social, como
favelas, drogas, prostituição, exploração de menores ou crime organizado.
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Mas é preciso perguntar: em que medida os resultados obtidos pelo modelo de


desenvolvimento capitalista não serviriam de parâmetros ao modelo socialista? O Brasil,
vítima desse equívoco, defende a reserva de mercado na área da informática e abre mão de
suas reservas cambiais para os banqueiros estrangeiros. Uma nação deveria ousar viver de
seus próprios recursos, ainda que sem computadores e aviões, mas com dignidade e saúde.
Ainda que um ou outro país socialista ceda à ilusão capitalista, como hoje ocorre com os
países do leste europeu, é inútil supor que o restrito grupo das sete potências capitalistas
(EUA, Canadá, Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Japão) tenha qualquer intenção de
admitir novos sócios. Quem o tentar, terá o mesmo destino que o Brasil: país dependente e
periférico do sistema capitalista. No capitalismo, não se dá, se lucra.
Na busca de justiça e liberdade, a humanidade não tem outra alternativa fora do
socialismo. A complexidade do sistema econômico (modo de produção) de uma nação não
pode mais ser confiada a pessoas ou grupos privados. Na queixa de que os serviços
públicos não funcionam perde-se a dimensão de que, de fato, funcionam exclusivamente a
serviço de uma minoria que domina o Estado. Só uma sociedade que consiga combinar
socialização dos meios de produção, ativa participação política dos cidadãos e diversidade
ideológica sem ameaça aos interesses coletivos dará resposta à esperança de um futuro
melhor para a humanidade.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1. Relacione o nome de cinco empresas que produzem bens e cinco empresas que
produzem serviços.
2. O que você entende por produção?
3. Quais são as principais atividades econômicas humanas?
4. Explique do ponto de vista sociológico o conceito de:
a. trabalho; b. matéria-prima; c. recursos naturais.
5. Pesquise nas páginas de anúncios de empregos nos jornais o grau de escolaridade
exigido e os salários propostos. Escreva um pequeno texto explicando o que você concluiu
dessa pesquisa.
6. Tomando como exemplo uma fazenda de gado, identifique os meios de produção.
7. Qual a diferença que existe entre as forças produtivas num país cuja principal atividade
econômica seja a agricultura (o Paraguai, por exemplo) e num outro bastante industrializado
(o Brasil, por exemplo)?
8. O que você entende por modo de produção? Que palavra pode ser usada como sinônimo
de modo de produção?
9. Quais os modos de produção que existiram ao longo da História?
10. Situe a evolução econômica do Brasil, de acordo com o conceito de modo de produção.
11. Que diferenças existem entre o escravo e o servo?
12. Pesquise as consequências da expansão do modo de produção capitalista sobre os
povos indígenas brasileiros da atualidade.
13. A classe deve dividir-se em grupos de trabalho; cada grupo deverá escolher um modo de
produção e fazer uma pesquisa sobre ele. As conclusões podem ser apresentadas à classe.
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TEXTOS COMPLEMENTARES

OS ÍNDIOS DE RORAIMA

Os Yanomami são a tribo mais numerosa entre os indígenas brasileiros, e os de


cultura mais preservada. De acordo com a Funai, devem ser cerca de 9000 no Brasil e
outros tantos na Venezuela, pois vivem nas terras fronteiriças dos dois países.
A língua Yanomami comporta alguns subgrupos, que definem diferentes áreas de
seu território. As variações linguísticas e as distâncias dialetais autorizam os antropólogos a
supor que os Yanomami ocuparam a mesma área por cerca de 3 000 anos.
Tratava-se do maior congresso de tuxauas (caciques) de toda a história daqueles
índios. Havia ainda dois tuxauas Macuxis que lá estavam como observadores, mas também
para contar a longa experiência do seu doloroso contato com os brancos. No começo, as
amabilidades e os pequenos presentes, em seguida, a contaminação com as doenças
comuns entre os brancos e mortais para os índios. No final, a expulsão dos índios de suas
terras.
No Conselho dos tuxauas todos discursaram longamente. Falaram de seu infortúnio
na convivência com o branco e da necessidade de eliminar as querelas internas, para uma
união guerreira contra as invasões. Os discursos eram semelhantes. "Comem nosso
queixada, nosso mutum, nosso sapo e nossa cobra, envenenam as águas, derrubam a mata
e deixam o sarampo, a catapora e a coqueluche, que dizimam adultos e crianças."
Na manhã seguinte saíram alguns caçadores e voltaram umas três horas depois com
quinze queixadas, quase todos mortos com uma única, certeira e mortal flechada. Hábeis
açougueiros, em pouco tempo limparam e esquartejaram os animais. Uma parte começou a
ser assada, e o restante moqueado para ser comido no curso da semana. Carbonizada na
superfície, a carne conserva-se por mais de dez dias.
À tarde, seguimos a pé para a aldeia Watoriktheri, que quer dizer Serra dos Ventos.
Uns 8 quilômetros difíceis para nós e facílimos para toda a tribo, onde as mulheres andavam
alegres, carregando pesada carga de porco moqueada e bananas, além das crianças.
Chegamos à aldeia junto com a noite. Aí o espanto com a comovente beleza da
maloca. Uma enorme construção de madeira, bambu e palha. Redonda como uma bacia
emborcada e sem fundo. Mais de 50 metros de diâmetro. Toda a volta coberta em torno do
círculo central (com 25 metros de diâmetro), em cuja borda o telhado alcançava 10 metros
de altura, com as águas vertentes para o limite redondo da maloca.
As famílias distribuíram-se pelo círculo junto às paredes de palha. Armaram redes
rústicas e acenderam pequenas fogueiras que foram realimentadas a noite inteira.
Seguiram-se cantos e danças, que saudaram hospitaleiramente os visitantes.
Os Yanomami vivem da caça, da pesca, de frutas silvestres e de uma agricultura
rudimentar. Cultivam mandioca, banana, tabaco. Não fumam: enrolam as folhas na forma de
um cilindro de 5 centímetros de comprimento e I de diâmetro, e o encaixam entre o lábio e
os dentes do maxilar inferior.
Relatos anteriores já deram conta da importância da banana na dieta e na cultura
dos Yanomami. Nas malocas há sempre um grande e pesado tronco, escavado na forma de
uma canoa, onde nas ocasiões festivas são esmagados em águas centenas de cachos.A
beberagem é ingerida em cuias, num processo compulsivo. Chegam ao vômito e voltam a
comer o mingau amarelo.
Para nós que vivemos no mundo marcado pelos antagonismos, pela degradação da
natureza e pela violência dos conflitos sociais, é estimulante a reflexão sobre uma sociedade
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sem classes e que vive em harmonia com a natureza. No posto Demini e na maloca
-Watoriktheri -, observamos o comportamento de cerca de trinta crianças com menos de 6
anos. Não foi possível assistir a uma única briga, ou a um singular choro infantil, como esses
que ocorrem dez vezes ao dia nas famílias brasileiras. São brincalhões e alegres. O
folguedo preferido é o de atirar pedras com certeira pontaria.
A agricultura, a cerâmica, a cestaria e os diferentes utensílios são tão primitivos que
mostram os Yanomami num tempo muito distante daquele que os historiadores chamam de
"revolução agrícola do Neolítico Superior". Esta foi a grande inflexão da História, o abalo
sísmico que mudou o destino da raça humana, singelamente resultou de que o homem
começou a produzir mais do que precisava. Aí surgiram as questões da divisão do trabalho
e de quem se apropria do excedente. A comida guarda proporção com a fome. Mas o critério
de referência para a formação do excedente passou a ser o seu próprio crescimento,
mesmo à custa da fome. Esse foi o marco inicial daquilo que chamamos de "civilização", ou
meIhor, da história da servidão humana ...
(Adaptado de GOMES, Severo, Folha de S.Paulo.)

PENSE E EXPLIQUE

1. Qual é o modo de produção característico dos Yanomami mostrado pelo texto? Explique
sua resposta.
2. Quais as consequências da expansão do modo de produção capitalista sobre os povos
indígenas brasileiros mencionadas no texto?

A ORIGEM DA SOCIEDADE CAPITALISTA

É importante inicialmente nos fixarmos na Europa dos séculos IV a XIV (301-400 a


1301-1400 d.C.), pois foi esse período que deu origem à nossa sociedade atual.
Sabemos que no período citado, a Europa era um continente onde a organização econômica
principal girava em torno da terra e da propriedade da terra. O modo de vida era ligado ao
trabalho rural, principal fonte de organização social.
Por ser a terra fonte de riquezas é que os seus poucos proprietários se tornavam
poderosos: a camada dominante dos senhores feudais, que compreendia a nobreza e o alto
clero. Por outro lado, existia uma imensa maioria de pessoas forçadas a trabalhar nas terras
da nobreza feudal para sobreviver, pagando tributos pelo uso dessa terra: a camada dos
servos, que compreendia uma imensa população de trabalhadores pobres.
Nessa sociedade de base agrária, o modo de vida era completamente diferente do
que é hoje em dia: pouco comércio, cidades quase não existiam, eram pouco mais que
pequenas aldeias, o pensamento religioso moldava a vida da maioria das pessoas.
A partir do século XIV, esse mundo começará a se transformar rapidamente. É essa
transformação que nos interessa, pois, de mundo agrário, a Europa caminhou para o mundo
urbano-industrial. Essa mudança não ocorreu em pouco tempo, foram precisos no mínimo
três séculos para que ela se completasse. No entanto, como foi uma mudança social radical,
muitos a chamaram de revolução.
Essa revolução que levou a Europa do feudalismo ao capitalismo teve muitas
dimensões e momentos. Em primeiro lugar, foi uma revolução econômica, pois a
organização do trabalho se alterou profundamente: da sociedade estratificada em apenas
dois grandes estamentos, surgiu um novo grupo social muito importante, a camada dos
comerciantes e artesãos livres: pessoas que, a partir do século XIV, já não dependiam mais
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da terra, e sim de atividades puramente urbanas. Dos artesãos e comerciantes mais


poderosos, surgem aqueles que passam a investir grandes somas de riqueza em
manufaturas. Essas manufaturas, na verdade, eram as primeiras indústrias, ainda primitivas,
mas que já se caracterizavam pela divisão interna de funções, o trabalho parcelado em
inúmeras atividades a partir da introdução de novas e melhores máquinas e técnicas. Cada
operador de máquinas já não elabora o produto por inteiro, mas apenas uma peça que,
somada às peças de outros operadores isolados, dá origem ao produto final. É a divisão
social do trabalho. Assim, ao entrarmos nos séculos XVIII e XIX, teremos as fases da
Revolução Industrial, que foi a dimensão econômica da revolução que deu origem ao
capitalismo.
Esse modo de produção, que se originou do comércio e da manufatura, foi o
responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento das atividades,
dando origem à moderna indústria. A intensa urbanização do nosso século é fruto desse
processo e o aparecimento de classes sociais também o é.
Agora sob a sociedade capitalista, a fonte de riquezas não é mais a terra, mais sim a
propriedade de fábricas, máquinas, bancos, isto é, a propriedade dos meios de
produção.Assim, os poucos proprietários dos meios de produção se constituem na classe
empresarial (burguesia), enquanto uma imensa maioria de pessoas não proprietárias se
constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca sua capacidade
de trabalho por salário.
Em segundo lugar, foi uma revolução política, pois a antiga nobreza feudal perdeu o
domínio para a classe burguesa, economicamente mais forte. Enquanto no feudalismo
persistiu uma política que representava os interesses dos senhores feudais e do clero, serão
agora os empresários que passarão a organizar a política e, a partir daí, nasce o Estado
moderno, isto é, nascem as formas de governo eleitas pelo voto e regidas por uma
Constituição. Nasce o parlamento. Todas essas novas dimensões da política burguesa
devem dar a aparência de que o Estado, acima dos interesses de classe, vem organizar
democraticamente a sociedade. Nasce assim a democracia burguesa.
Em terceiro lugar, foi uma revolução ideológica e científica, pois a visão de mundo
sob o capitalismo se alterou: a idéia de progresso se propaga, como também a idéia de
enriquecimento. A vida, dinâmica e competitiva, faz nascer o sentimento de individualismo. A
ciência, como já aprendemos, se origina a partir de novos métodos de interpretação da
natureza. A partir da observação dos fatos, decomposição em partes (análise) e de sua
reordenação (síntese) se interpreta uma natureza regida por leis. Isso possibilita, com uma
série de novos inventos, grande domínio do ser humano sobre a natureza, nunca visto antes
na história da civilização.
(MEKSENAS, Paulo, Sociologia. p. 43-44.)

PENSE, CARACTERIZE E SINTETIZE

1. Caracterize a Europa pré-capitalista.


2. Sintetize os momentos da passagem da Europa feudal para a capitalista.

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