Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ELEMENTOS DE QUÍMICA
DOS POLÍMEROS
(Professor Associado)
JUNHO DE 2002
Versão 1.0.2
1−2 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
Quando questionado sobre o que lhe parecia ter sido a maior contribuição da Química para a
Ciência e para a sociedade em geral, Lord Todd, presidente da Royal Society of London (Todd,
1980) respondeu:
Em 1920, o químico alemão Hermann Staudinger iniciou um árduo combate com a ciência
“oficial” para fazer aceitar a existência de longas cadeias moleculares, unidas por ligações
covalentes. Nessa época, supunha−se que moléculas com algumas centenas de átomos estavam
associadas por ligações do tipo de Van der Waals em agregados complexos. Para ajuizar das
dificuldades desta sua luta, podem citar−se alguns comentários de participantes na discussão a
seguir a uma conferência na Sociedade Química de Zurique em 1925 (ver Olby, 1970): “Caro
colega, deixe em paz e sossego essa ideia das grandes moléculas, não existem moléculas orgânicas
com massa molecular maior do que 5000. Purifique os seus produtos, como por exemplo a
borracha, e há−de ver que eles hão−de cristalizar e mostrará que são substâncias de baixa massa
molecular.”; “Uma molécula não pode ser maior do que uma unidade elementar cristalográfica,
portanto é um absurdo supor que há macromoléculas.”
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−3
Esta discussão hoje dá vontade de rir, mas os químicos e os físicos dessa época não eram
menos competentes do que agora, tendo em conta os limitados meios de que dispunham.
Inclusivamente, a meio do século XIX, alguns investigadores chegaram aos conceitos modernos de
polimerização e de algumas relações estrutura / propriedades físicas. Tal foi o caso do português
Agostinho Vicente Lourenço (discípulo de Wittig em Paris e mais tarde professor em Lisboa), que
descobriu o poli(oxietileno) e separou os seus primeiros oligómeros (Lourenço, 1859; 1860; 1863).
Staudinger precisou de muita coragem para se elevar contra este estado de coisas (Staudinger,
1920), mas acabou por ser ouvido por quem iria iniciar a aventura dos polímeros artificiais: W. H.
Carothers, investigador na empresa americana Du Pont de Nemours. Com ele, seria inaugurada a
era do desenvolvimento científico dos novos materiais poliméricos.
Nessa época, a indústria dos polímeros sintéticos não ia muito além do fabrico das resinas
fenol / formaldeido, a “baquelite”, descoberta e patenteada por Baekeland por volta de 1900, e
utilizadas ainda hoje em larga escala como termolaminados. Todo o desenvolvimento desses
produtos tinha sido feito empiricamente. Nada se sabia sobre o fabrico de fibras e borrachas
sintéticas, e os termoplásticos estavam ainda na infância, sendo apenas conhecidos os ésteres da
celulose, nenhuma utilização prática dos poliestirenos ou ésteres acrílicos tinha ainda visto a luz do
dia, assim como o polietileno e polipropileno, nunca até então sintetizados.
Emil Fischer (prémio Nobel da Química em 1902) consegue no final do século XIX
estabelecer as bases da Química dos aminoácidos e açúcares e prepara os primeiros peptídeos. No
entanto, não é capaz de se libertar dos preconceitos da ciência do seu tempo, e considera as
proteínas como “associações coloidais”. No domínio da Bioquímica, a teoria coloidal ainda iria
resistir várias décadas, apesar da descoberta da cristalização das enzimas (urease, por Sumner
(1926); pepsina, por Northrop (1930) ). Não é estranho a isso a tendência de muitas
macromoléculas biológicas para se associarem reversivelmente em complexos unidos por ligações
de hidrogénio, o que complica apreciavelmente a interpretação do comportamento físico−químico
das suas soluções.
1−4 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
1.2 POLICONDENSAÇÕES
1.2.1 Grupos terminais das macromoléculas
Carothers (1929, 1931) removeria uma lacuna nas teorias de Staudinger, que era a não
consideração da presença dos grupos terminais nas cadeias poliméricas.
Nessa época, não era conhecido o mecanismo de formação deste tipo de compostos.
Staudinger supôs que os motivos terminais seriam radicais, tornados não reactivos pelo grande
tamanho molecular. Mais tarde, iria supor que as macromoléculas poderiam ser macrociclos.
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−5
Juntamente com estas moléculas lineares de cadeia aberta, forma−se uma pequena quantidade
de ciclos, cujas concentrações diminuem rapidamente quando n aumenta :
[NHCO(CH 2 ) 4 CONH(CH 2 )6 ]n
ciclopoliamidas
É possível isolar os primeiros oligómeros, e verifica−se que há uma variação regular das suas
propriedades físicas com o tamanho molecular até se observar o comportamento característico da
mistura de poliamidas poli(hexametileno adipamida) ou Nylon 6 ,6 (nomes correntes oficialmente
aceites, para além do nome sistemático poli(iminoadipoiliminohexametileno) (ver Figs. 1 e 2).
1−6 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
Fig. 1−1 − Pontos de fusão dos primeiros oligómeros do Nylon 6, 6 (Zahn et al., 1957 e 1963) em
comparação com o do polímero de massa molecular infinita.
400
T fusão
300 T ebulição
T ebulição e T fusão (°C)
200
100
−100
−200
1 10 100 1000
n
Com a descoberta das poliamidas e poliésteres, ficou claro que os grupos terminais das
macromoléculas tinham o mesmo comportamento químico do que nos compostos análogos de baixa
massa molecular e eram vestígios característicos do processo de polimerização.
O fim dos anos 20 viu assim o triunfo das ideias de Staudinger, que viria a receber em 1953
o prémio Nobel da Química − aos 72 anos. Muito antes disso, já tinham sido laureados com essa
distinção alguns dos químicos que contra ele tinham entrado em polémica sobre a existência das
macromoléculas ...
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−7
1.2.2 Principais policondensações
Sem pretender ser exaustivo, as reacções de policondensação conduzindo aos polímeros mais
importantes do ponto de vista das aplicações podem agrupar−se em:
As duas últimas reacções podem também servir para preparar policarbonatos, usando um
carbonato pré−existente (por exemplo, carbonato de difenilo) e fosgénio (COCl2), respectivamente.
2) Formação de poliamidas
B: base, muitas vezes uma amina terciária, por exemplo N(C2H5)3 ou outra.
3) Formação de poliuretanos
É acompanhada por muitas reacções secundárias, como a reacção com vestígios de água:
A amina formada reage formando um grupo ureia (ver mais abaixo) e o dióxido de carbono
pode dar origem a bolhas que ficam presas no polímero. Esta reacção é explorada no fabrico de
espumas, bem conhecidas nas indústria do mobiliário, automóvel e outras, e também para
embalagens e isolamentos térmicos.
4) Formação de poliureias
O halogéneo Hal costuma ser F, Cl, Br. A reacção pode necessitar temperaturas elevadas e
substituintes activantes para as reacções com compostos aromáticos (as únicas que levam à
formação de polímeros úteis na prática, por terem elevada resistência térmica e resistência química
assim como aos solventes orgânicos). Em lugar do catião sódio, usam−se outros metais alcalinos ou
alcalino−terrosos quando se necessita de obter características de solubilidade mais convenientes
para os compostos intermediários, permitindo que a reacção seja suficientemente rápida.
Estes polímeros têm uma produção escassa mas são extremamente importantes do ponto de vista
técnico pelas sua propriedades muito particulares:
CH 3
Exemplo de X: O C O
CH 3
Os epóxidos também reagem com fenois, álcoois em presença de catalisador e com ácidos, de
uma forma análoga à acima descrita, com formação de éteres e ésteres.
1.5 x CH2 =O + x Z
[ −(CH 2) 0.5 Z
(CH2 )0.5−
] x
[ ]
−(CH 2) 0.5 (CH 2 )0.5 −
1.5 x CH2 =O + x NH 2CNH 2 NCN
H (CH2 ) 0.5 −
x
−(CH 2) 0.5
NH 2 N
−3x H 2 O
[
N −(CH 2) 0.5 (CH 2 )0.5−
]
N
3x CH 2 =O + x N NH2
N N
N
NH2 −(CH2 )0.5 N (CH2 ) 0.5−
x
N
−(CH2 )0.5
Também nestes casos, parte das “pontes” metileno são grupos −CH2OCH2−.
Iniciação I → R0
Propagação M + Rn → Rn + 1
Transferência A + Rn → Pn + A
.
Iniciação I + M → R1
Propagação M + Rn → Rn + 1
Como a mistura em reacção é sempre susceptível de adicionar monómero, uma vez que as
cadeias permanecem activadas, estas poliadições são chamadas poliadições vivas.
Esta regularidade de estrutura permite obter uma cristalinidade apreciável do polímero, que
doutro modo não existiria. Daí resulta uma maior coesão entre as várias cadeias e melhores
propriedades mecânicas. O polipropileno e os polietilenos de alta densidade e linear de baixa
densidade (um copolímero com α−olefinas como o 1−buteno ou o 1−hexeno) são importantes
exemplos de polímeros produzidos industrialmente por estes processos.
1.4 POLIMERIZAÇÕES NÃO LINEARES. TERMOPLÁSTICOS E
TERMOENDURECÍVEIS.
A maior parte dos exemplos de polimerizações até aqui referidos conduzem à formação de
macromoléculas lineares. Por acção de um solvente ou impondo uma temperatura suficientemente
elevada (desde que o polímero não se decomponha quimicamente ), é sempre possível obter
líquidos ou soluções verdadeiras dessas macromoléculas.
No estado líquido, é fácil fazer adoptar ao material macromolecular a forma que se pretende
(por exemplo, enchendo um molde ou forçando−o através de uma fieira), e que será a do material
sólido após arrefecimento ou eliminação cuidadosa do solvente (este último processo só é
conveniente para o fabrico de certas fibras ou filmes).
Polímeros com cadeias múltiplas em forma de pente (preparados “enxertando” cadeias laterais
numa cadeia linear) ou em forma de estrela (obtidos por poliadição com um iniciador
muitifuncional) são também termoplásticos (ver figs. 3 e 4).
1−12 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
X[CHCH=CHCH2CH=CHCH2]2xY
Z−[CHCH2]n−
Fig. 1−3 − Copolímero em forma de pente : poliestireno de grau de polimerização n enxertado, 1
em cada 2 motivos, em poli(1, 3−butadieno) de grau de polimerização 2x.
CH 2 [OCH 2 CH] x OH
CH 3
CH 3 C CH 2 [OCH 2 CH] y OH
CH 3
CH 2 [OCH 2 CH] z OH
CH 3
COOCH2 CH=CH2
+I →
COOCH2 CH=CH2
Fig. 1−5 − Exemplo de polímero não linear formado por poliadição: o poli(ftalato de dialilo).
elástico. Da massa gelificada, é possível extrair com solventes apropriados uma certa proporção
(decrescente com o avanço da reacção) constituída por uma mistura de macromoléculas altamente
ramificadas (fracção chamada “sol”). A restante fracção (o gel) permanece insolúvel, podendo
apenas inchar mais ou menos por absorção de solvente, e é infusível. Flory (1941) mostrou que o
gel é uma só macromolécula tridimensional, que ocupa todo o volume do recipiente, e por isso não
pode dissolver−se nem fluir como líquido sem romper a sua estrutura molecular.
Diversos polímeros importantes são produzidos por modificação dos polímeros existentes.
A celulose, cuja estrutura pormenorizada será descrita no capítulo 7, é o polímero mais abundante
na Terra, sendo produzido pelas plantas superiores em quantidade mais de 1000 vezes a de todos os
polímeros sintéticos. É utilizada tal qual nas indústrias têxteis e do papel (consoante o tamanho das
fibras, principalmente), mas numerosos polímeros podem ser obtidos por reacção com todos ou
alguns dos 3 hidroxilos (um primário e 2 secundários) de cada um dos seus motivos, e alguns tm
interesse económico.
É o caso do primeiro polímero parcialmente sintético, a nitrocelulose, obtida por nitração parcial
da celulose, ao qual se devem acrescentar diversos ésteres, éteres, etc. produzidos a partir da
celulose, como o acetato de celulose (usado na indústria têxtil), a carboximetilcelulose
(espessante) e muitos outros.
Esse tipo de transformações, que preserva o número de motivos do polímero de partida, e também é
efectuada em polímeros sintéticos, como por exemplo o fabrico do álcool polivinílico por hidrólise
alcalina do poli(acetato de vinilo):
1−14 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
O crescimento molecular dá−se pela reacção dos grupos terminais silanol, que formam, numa
reacção praticamente irreversível, um grupo de ligação siloxano entre os dois átomos de silício,
com libertação de um subproduto, neste caso a água:
Simbolicamente:
2A → V + W
As concentrações de ciclos são tendencialmente muito pequenas para x elevado, como será
discutido nos capítulos 3 e 4. No caso particular da química dos siloxanos, há uma certa abundância
desses ciclos mesmo na ausência de solvente, nomeadamente para x entre 4 e 8, conforme o
impedimento estérico provocado pelos substituintes R e R’. Estes compostos são fáceis de isolar e
purificar por destilação e muitas vezes são usados para preparar os mesmos polímeros por
poliadição, visto que são compostos estáveis na ausência de ácidos ou bases fortes, enquanto que os
monómeros de cadeia aberta polimerizam muito rapidamente, sobretudo para grupos R, R´ alquilos
de cadeia curta.
No entanto, pode acontecer que os monómeros sejam moléculas de massa molecular elevada
(superior a 1000): nesse caso, costumam chamar−se macromonómeros (por exemplo:
poli(oxipropileno)−α,ω−diol). Mesmo as moléculas com grau de polimerização pequeno poderiam
então ser macromoléculas.
− XA + BX’− ↔ − XVX’− + W
NH2[(CH2)10CONH]x−1(CH2)10COOH
Os motivos invariantes são neste caso X = −(CH2)4− e X´= −(CH2)6−, os grupos terminais
são A = −NH2 e B = −COOH e há apenas um grupo de ligação V = −CONH−. Há agora vários
tipos de moléculas de cadeia aberta:
H2N(CH2)6[NHCO(CH2)4CONH(CH2)6]nNH2
HOOC(CH2)4[CONH(CH2)6NHCO(CH2)4]nCOOH
H2N(CH2)6[NHCO(CH2)4CONH(CH2)6]nNHCO(CH2)4COOH
ciclopoliamidas
O grau de polimerização neste caso é o número total de motivos X e X’, que vale 2n para as
espécies ABn e Dn e 2n−1 para as espécies AAn e BBn.
No caso dos polímeros formados por poliadição, estes conceitos mantêm−se, mas com
algumas pequenas alterações. Considere−se um iniciador monofuncional I = X’A’, em que X’ é um
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−17
motivo invariante e A’ um grupo activo, em presença de um monómero também monofuncional M
= BX, numa poliadição sem terminação.
H2 C C H2
Serve como exemplo a polimerização do óxido de etileno iniciada pelo
O
etóxido de sódio NaOC2H5, em que o motivo invariante do iniciador X´ é o −C2H5, o seu grupo
activo A’ é −ONa, o motivo invariante X do monómero é −CH2CH2− (cíclico) e o grupo activo B
é o −O− no ciclo triangular.
Iniciação I + M → R1
Propagação Rx + M → Rx + 1
Polímero activo de grau polim. x Monómero Polímero activo com grau polim. x +1
X’(VX)x−1XA BX X’(VX)xVXA
Na iniciação, um grupo activo do iniciador, A’, reage com um grupo activo do monómero, B,
formando um grupo de ligação V com o motivo característico do polímero X que por sua vez passa
a dispor do grupo activo A responsável pela crescimento molecular.
Neste exemplo, o grupo V é um grupo éter −O−, o grupo X é um grupo etileno −CH2CH2−,
o grupo A é também um grupo −ONa, mas deta vez ligado a −CH2CH2−.
2 − XA → − XA’’ + A’’’X−
Rx + Ry → P’’x + P’’’y
1−18 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
São as moléculas de polímero X’V(XV)x−1XA’’ ou X’V(XV)x−1XA’’’, que não contêm
grupos activos, que se costumam designar por Px nas poliadições. Poderão chamar−se P’’x e P’’’x
no caso de ser preciso distingui−las.
No caso da terminação por combinação forma−se uma ligação entre os motivos terminais
resultando também uma molécula inactiva P’’’x com dois motivos terminais do iniciador
X’V(XV)yXV’(XV)x−y−1X’:
2 − XA → − XV’X−
Rx + Ry → P’’’x+y
1.6.2 Distribuição de graus de polimerização
Devido à natureza aleatória do crescimento das cadeias, forma−se uma mistura de uma
infinidade de moléculas com vários graus de polimerização x. Não existe portanto um grau de
polimerização único, mas sim uma distribuição de graus de polimerização (DGP).
Como é usual em Estatística, x pode ser tomada como uma variável aleatória assumindo
valores inteiros de 1 a infinito, caracterizada por uma determinada função de densidade de
distribuição. É conveniente introduzir a distribuição em número de moléculas, caracterizada pela
densidade de distribuição Pn(x), que é a probabilidade de uma molécula polimérica ter grau de
polimerização x.
Por sua vez, um dos objectivos essenciais da Engenharia das Reacções de Polimerização é
conseguir prever a DGP experimental e procurar atingir na medida do possível uma DGP pré−
determinada, de modo a alcançar−se como resultado final um material com as propriedades
desejadas.
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−19
É possível em determinadas situações simples calcular Pn(x) por meio do Cálculo de
Probabilidades, o que torna particularmente útil esta definição. Contudo, é geralmente necessário
resolver equações de balanço material em ordem às concentrações das moléculas poliméricas.
Sendo Px a concentração molar ou molal da molécula Px com grau de polimerização x, a relação
entre esta grandeza e a função de probabilidade de distribuição em número é :
Px (1.2)
Pn x = ∞
∑ Px
x=1
Em vez das concentrações molares de moléculas poliméricas, pode ser mais conveniente
utilizar concentrações mássicas cP , que são obtidas multiplicando a concentração molar pela
x
massa molecular:
cPx = MPx Px (1.3)
A massa molecular da molécula Px, MPx , depende dos números de motivos e grupos
terminais e da respectiva massa molecular. Para as moléculas resultantes da policondensação de um
monómero AXB:
MPx = xMX + (x−1) MV + MA + MB = x (MX + MV ) + MW = x MR + MW (1.4)
Por exemplo, no caso concreto do Nylon 11, a massa molecular do motivo X = −(CH2)10− é
MX = 140, do grupo amida V = −CONH− é MV = 43, dos grupos terminais amina e carboxilo é 16 e
45, donde MR = 183 e:
Pode−se imaginar que se está a tirar um esparguete de um pacote com os dedos. A quantidade
de esparguete que se segura entre os dedos é constante. O comprimento do esparguete tirado é uma
variável aleatória, cuja distribuição é a distribuição dos comprimentos em massa.
x Px (1.5)
Pw x = ∞
∑ x Px
x=1
P
Há sempre uma relação entre λ0 e as concentrações de grupos terminais, como será
mostrado mais adiante. No caso do Nylon 11, é claro que tanto as concentrações de grupos amina,
P
A, como a de grupos carboxilo, B, são iguais a λ0 , uma vez que cada molécula tem exactamente
um grupo A e um grupo B:
P
A = B = λ0
Quase toda a massa do polímero está nos motivos X e nos grupos V. Uma vez que cada
molécula Px tem x motivos, a concentração molar total X desses motivos é dada pelo momento de
P
ordem um, λ1 , da distribuição das concentrações molares :
∞
X=∑ x P x =λ1 (1.7)
P
x=1
Pn
λ1P λ1
A razão = é o número médio de motivos por molécula e chama−se por isso grau de
λ 0P Pn
λ0
exemplo, uma amostra de Nylon 11 puro, portanto com c = 1 g / g. Para x n = 100 (o que é
equivalente a dizer que p = 0,99), A = X / 100, donde se tira a partir de (1.9) que:
Como qualquer grandeza sujeita a uma repartição estatística, convém introduzir valores
Estes e vários outros graus de polimerização médios são razões dos momentos λkP da
distribuição de concentrações molares relativamente ao grau de polimerização:
∞
λkP =∑ x k P x (1.14)
x=1
O cálculo dos momentos e da DGP é geralmente mais fácil usando uma técnica bem
conhecida em Estatística, que passa pela exploração das propriedades da função geradora de
momentos ou transformada discreta da distribuição:
∞
G s =∑ s P x (1.15)
x
x=1
Esta transformada é uma variante da transformada z usada em Controlo, que é obtida fazendo
z = s−1, e da função geradora de momentos exponencial (que resulta fazendo eθ = s). A definição
(1.15) traz algumas simplicações algébricas para o tipo de problemas aqui estudados. Em caso de
ambiguidade, a função que se está a transformar será indicada como índice superior, neste caso
seria então GP(s).
Os momentos λkP de uma distribuição discreta Px qualquer podem ser obtidos calculando as
derivadas em ordem a log s de G(s) sobre s =1:
∂k G P (1.17)
λ kP= k
∂ log s |s=1
Pn
Aplicando esta técnica à DGP de Schulz−Flory, os primeiros 4 momentos λk da
Pn 1 (1.18b)
λ1 =
1B p
Pn 1A p (1.18c)
λ2 = 2
1B p
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−23
Pn 1A 4 pA p2 (1.18d)
λ3 = 3
1B p
Daqui resulta que os primeiros graus de polimerização médios são dados por:
Pn
λ1 (1.19a)
1
x n= Pn
=
λ0 1B p
Pn
λ2 (1.19b)
1A p
x w= P =
λ1 1B p n
λ3
Pn (1.19c)
1A 4 pA p 2
x z= Pn
=
λ2 1B p 2
Também é possível obter os momentos de ordem não inteira e efectuar a inversão numérica
da transformada G(s) (Costa e Villermaux, 1988).
Pn
Os λ k e a própria transformada G(s) são concentrações de pseudo−espécies, cujos números
de moles são combinações lineares dos números de moles dos Px. Por isso, essas pseudo−espécies
verificam equações de balanço material, nomeadamente a regra da alavanca.
Pn
mol/kg, donde λ 2 = 5*103 mol/kg. Pode−se afirmar que o polímero resultante da mistura tem
Pn
λ2 = 1/4 * 103 + 3/4 * 5*103 mol/kg, ou seja, para o polímero resultante da mistura, x w = 400.
Do mesmo modo, pode−se definir velocidades de produção por reacção química dos
momentos e das transformadas (ou funções geradoras de momentos). Estas propriedades são muito
utilizadas na análise dos processos de polimerização.
∞
∑ M P Px x λ MP
(1.20a)
M n= x=1 ∞ = 1
∑ Px
P
λ M0
x=1
1−24 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
∞
∑ M 2P P x x λM
P
(1.20b)
M w= x=1
∞ = 2
∑ M P Px
P
λ M1
x
x=1
∞
∑ M 3P P x x λM
P
(1.20c)
M z = x=1
∞ = 3
∑M
P
2
Px λ M2
Px
x=1
∞
∂k G (1.21)
λ M = ∑ M P P x=
P k
k x k
x=1
∂ log s M |s M =1
∞
G s M =∑ s M (1.22)
MP
x
Px
x=1
mássica do conjunto das moléculas Px, e portanto é a concentração mássica total do polímero c.
P P P
Considerando novamente o exemplo do Nylon 11, λ M =λ 0 = A e λ M =c , conclui−se a 0 1
partir da eq. (1.20a) que, tal como x n , M n fica conhecido sabendo as concentrações de grupos
terminais:
c (1.23)
M n=
A
Esta relação (1.23) é frequentemente usada na prática para medir a massa molecular média
em número, quando se dispõe de um método analítico apropriado para medir experimentalmente a
concentração de grupos terminais. Mais adiante, será apresentada uma generalização para alguns
casos em que há vários tipos de grupos terminais. Por razões de ordem técnica (dificuldades de
detecção dos grupos terminais e imprecisão das análises), só se consegue realmente explorá−la na
100, o valor de M n que daí resulta é 9099 (10 vezes menos), mas M w será 99001.
M n é, como este exemplo mostra, sensível à presença de substâncias de muito baixa massa
molecular e correlaciona−se mal com numerosas propriedades físicas das macromoléculas.
xw (1.24) Mw (1.25)
Q= Q M=
xn Mn
Também se usam adicionalmente índices de polidispersão baseados nas razões de médias "z"
Mz
com médias em massa, por exemplo .
Mw
Todos esses índices valem 1 para polímero monodisperso. Quanto mais afastados de 1, mais
dispersa será a DGP. Para as distribuições de Schulz−Flory já atrás abordadas, Q = 1 + p, o que
dará um valor próximo de 2, excepto para misturas de oligómeros.
Não é sempre possível generalizar a eq. (1.23) para calcular a massa molecular média em
número, atendendo à variedade de estruturas moleculares. No entanto, é útil considerar os seguintes
casos particulares:
Seja NA o número de variedades de grupos terminais existentes nas várias moléculas e xAij o
número de grupos terminais do tipo j numa molécula Pi. Em ambas as situações consideradas
(moléculas lineares ou em estrela), o número total de grupos terminais xAT em qualquer molécula
Pi é o mesmo:
NA (1.26)
x A =∑ x A
T i
i=1
Somando as concentrações dos grupos terminais, deve−se obter a concentração total das
moléculas Pi multiplicada por xAT :
NA
∞
NA
∞ (1.27)
∑ A j =∑ ∑ x A P i =x A
ij T
∑ Pi
j=1 i=1 j=1 i=1
XT x A (1.29)
x n= T
AT
c xA (1.30)
M n= T
AT
Estas expressões são muito úteis na síntese e na análise de polímeros formados por
poliadições sem terminação.
Imagine−se, por exemplo, que se pretende obter polioxipropileno com x n = 100 em forma
de estrela de três pontas, por reacção do óxido de propileno com glicerol, e se pretende calcular a
razão molar inicial entre esses reagentes que deverá ser utilizada.
terminais), com x n = 100 (não contando o motivo terminal proveniente do glicerol) se a razão
molar inicial for 100 entre o óxido de propileno e o glicerol.
A razão molar inicial óxido de propileno: glicerol poderia ser determinada para uma amostra
desconhecida por dosagem dos grupos −OH no polímero formado, o que daria AT .
É claro que é indispensável saber à partida qual a funcionalidade do iniciador que foi
utilizado, e ter em conta a possível existência de impurezas consumindo o iniciador.
II) Moléculas em árvore formadas por uma policondensação alternada X1A, X2A2, ...+ Y1B,
Y2B2, ... .
p (1.32)
p B=
r
Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral 1−27
Sempre que dois grupos pertencentes a moléculas diferentes reagem, uma molécula de
polímero maior é criada e duas moléculas mais pequenas desaparecem. O número total de moles de
polímero nP fica igual ao número de moles de monómeros inicial, descontando o número de moles
de grupos de um dos tipos (A ou B) que reagiram entre moléculas diferentes, que é também o
número de moles de grupos de ligação V criados, supondo que não há reacções intramoleculares
entre grupos (que dariam origem a ciclos):
∞ ∞
n P =∑ n X An Y B p ∑ f n X (1.33)
f f f
f =1 f =1
Por conseguinte:
∞
∑ n X AnY
f f
(1.34)
f =1
x n= ∞ ∞
∑ n X AnY B p ∑ f n X
f f f
f =1 f =1
∞ ∞
∑ MX
f
Af
n X AM Y
f f
Af
nY B p M W ∑ f n X
f f
(1.35)
M n= f =1
f =1
∞ ∞
∑ n X An Y B p ∑ f n X
f f f
f =1 f =1
Por exemplo, suponhamos que se fez reagir 1 mol de ácido adípico HOOC(CH2)4COOH
(simbolicamente X2A2), que tem massa molecular 146, com 0,9 mol de 1,6−hexanodiol (Y2B2), de
massa molecular 118, e 0,1 mol de glicerol (Y3B3), de massa molecular 92, até conversão 70 % dos
carboxilos. O número de moles de motivos é, portanto, 2 mol. O número de moles de moléculas
inicial é igualmente 2 mol, e o número de moles inicial de grupos terminais carboxilo inicial é 2.
número global, x n segundo a eq. (1.34), e uma massa molecular média em número dada pela eq.
146A0,9∗118A0,1∗92B2∗18 p
(1.35), M n= =394 , resultado que é independente do tipo de
2B2 p
reactor usado e da cinética da reacção.
É importante fazer notar que as eqs. (1.34)−(1.35) estão erradas para policondensações não lineares
quando a estequiometria inicial dos reagentes e a conversão dos grupos é tal que se forma uma rede
infinita de polímero. A hipótese de não haver reacções intramoleculares em moléculas finitas
também não é muito correcta para reagentes alifáticos. Seria o caso, aliás, dos compostos
considerados neste último exemplo.
1−28 Elementos de Química dos Polímeros − introdução geral
Costa, M. R. N.; Villermaux, J., 1988 Ind. Eng. Chem. Research, 27, 421.
Costa, M.R.P.F.N.; Dias, R.C.S., 1994 Chem. Eng. Sci., 49, 491.
Hlasiweth, H.; Habermann, J., 1871 J. Am. Chem. Pharmacol. 159, 304
Natta, G.; Pino P.; Corradini, P.; Danuso, F.; Mantica, E.; Mazzanti, G., 1955 J. Am. Chem. Soc.
77, 1708
Ziegler, K.; Holzkamp,E.; Breil,H.; Martin, H., 1955 Angew. Chem. 67, 426 e 514