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CFO QC 2020

HPG

1. A evolução do saber científico da geografia

a. Contexto da origem da disciplina.

b. As principais escolas da geografia tradicional.

c. A corrente quantitativa.
Movimentos de Renovação
d. O pensamento crítico.

e. A tendência humanística, os paradigmas modernos na geografia.

f. A geografia nos parâmetros curriculares nacionais.

____________________________________________________
MORAES, A. C. R. Geografia – pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1981.

Contexto da origem da disciplina

Múltiplas definições a respeito da conceituação da Geografia

• Estudo da superfície – Descrição da Terra


o Especulação e empiria
• Estudo da paisagem – Concepção de ciência síntese
o Percepção da paisagem – Morfológica (descritiva); fisiológica (funcionamento).
• Estudo da individualidade dos lugares
o Raízes na antiguidade clássica – Descrição exaustiva de elementos, ou pela visão
ecológica
o Estudo da diferenciação das áreas – Visão comparativa para o universo da análise
geográfica; individualização de áreas. Perspectiva generalizadora e explicativa.
• Estudo do espaço – Espaço passível de uma abordagem específica (Concepção minoritária e
pouco desenvolvida).
o Espaço como um ser específico, com características e dinâmicas próprias.
• Estudo das relações entre sociedade e natureza.
o Objeto como influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade.
Limite da ação humana na adaptação ao meio.
o Objeto como ação do homem na transformação do meio. Apropriação e
transformação dos recursos da natureza.
o Objeto como a relação entre si, como os dados humanos e naturais com o mesmo
peso.
Padronização do pensamento geográfico: Inicio do Séc. XIX. Antes, designava-se
geografia relatos de viagens, relatórios, catálogos... Com o desenvolvimento do comércio
colonial, os Estados europeus vão incentivar o inventário dos recursos naturais, gerando
observações sistemáticas, e observações científicas. O aprimoramento das técnicas
cartográficas foi outro pressuposto para o início da Geografia unitária. As condições materiais
para a sistematização da Geografia, foram forjadas no processo de avanço e domínio das
relações capitalistas. Emergência do novo modo de produção.

A Efetivação da Geografia como um corpo de conhecimentos sistematizado ocorria no


período de decadência ideológica do pensamento burguês, em que a prática dessa classe, visava
a manutenção da ordem social existente. A singularidade desse processo que gerou a geografia
foi o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. Foi nesse país que se formaram as primeiras
correntes de pensamento geográfico. Onde foram criados os primeiros institutos, e as primeiras
cátedras dedicadas à geografia.

As principais escolas da geografia tradicional.

• Escola Alemã
A Geografia surge na Alemanha, onde a questão do espaço era a primordial. Humboldt e
Ritter foram os autores das primeiras obras sistematizadas do pensamento geográfico. A
obra desses dois compõe a base da geografia tradicional. Criam uma linha de continuidade
no pensamento geográfico.
o Humboldt: Visão da Geografia como a parte terrestre da ciência do Cosmos. Cabe
ao estudo geográfico reconhecer a unidade na variedade dos fenômenos. Método:
Empirismo raciocinado (intuição a partir da observação). Principais obras: Cosmos,
e Quadros da Natureza. Não foram normativos!
o Ritter: Obra explicitamente metodológica. Define o conceito de Sistema natural.
Ciência como forma de relação entre o homem e seu criador. Proposta
antropocêntrica, regional, valoriza a relação homem-natureza. Método: Análise
empírica (caminhar de observação em observação).6
o Ratzel: Posterior a Humboldt e Ritter, também foi um importante autor da escola
geográfica alemã. Sua obra foi um poderoso instrumento de legitimação dos
desígnios expansionistas do Estado Alemão, também chamada de “manual do
imperialismo”. Esse autor foi importante no processo de sistematização da
Geografia. Principal obra: Antropogeografia. Conceito: Espaço vital. Importância de
sua obra: Homem no centro das análises.
• Escola Francesa
Grande escola da Geografia, que se opõe às colocações de Ratzel, seu principal formulador
foi Paul Vidal de la Blache. A geografia francesa se desenvolveu com o apoio do Estado
francês, no contexto da metade do século XIX, quando ocorreu o levante da comuna de
Paris, a queda de Bonaparte, consequência da Guerra franco-prussiana.
A disciplina da geografia foi colocada em todas as séries do ensino básico, na época da
Terceira República, também foram criadas cátedras e institutos de geografia. La Blache foi
o fundador da escola francesa de geografia. Conceito: Gênero de vida. Legitimação da ação
colonialista francesa. Método menos generalizador do que o de Ratzel, ambas com
fundamentos positivistas.

A corrente quantitativa (Geografia teorética) x O pensamento crítico

O movimento de renovação da Geografia no séc. XX veio como uma resposta aos


questionamentos sobre a geografia Tradicional, sobretudo com relação ao pragmatismo e a
luta pela transformação social desta. As duas vertentes desse movimento expressam a
grandeza do campo de estudo geográfico, sua práxis e teorização.

A corrente quantitativa, é um dos desdobramentos da chamada Geografia


Pragmática. Engendrada a partir do questionamento da insuficiência da análise tradicional.
Os autores dessa vertente propõem uma Geografia Aplicada, com intuito de ser uma
renovação metodológica, buscando novas técnicas e linguagem, muito relacionadas à
estatística, matemática e informatização dos dados. Do positivismo ao Neopositivismo, da
observação direta ao empirismo mais abstrato. Sofisticação do discurso geográfico,
raciocínio dedutivo. A geografia quantitativa é uma das vias da Geografia Pragmática, que
configurou-se como a “espinha dorsal da renovação pragmática”.

• Críticas: Empobrecimento da concretude do pensamento geográfico


• Grande generalização nas análises
• Perspectiva genérica e explicativa do pensamento geográfico
• Geografia pragmática como uma arma de dominação para os detentores do Estado,
neutralizar conflitos, e facilitar a ação do Estado, instrumento de dominação
burguesa, aparato do Estado capitalista...
• Induz o empobrecimento à reflexão geográfica.]

A outra vertente do movimento de renovação geográfica é a denominada de Geografia


crítica. Esta advém de uma postura crítica radical, que a leva ao rompimento com a
geografia tradicional. Postura de vanguarda, de autores que se posicionaram por uma
transformação da realidade social, usando o pensamento geográfico como uma arma
para esse processo de transformação. Assumem seu posicionamento político, propondo
uma geografia militante, usando o conhecimento geográfico como um instrumento de
libertação do homem. Tem suas raízes na ala progressista da Geografia Regional
Francesa.

Principais autores:

• Lacoste - Visão integrada do espaço x visão restrita, diferença expressa pelas


diferenças sociais.
• Santos – Geografia como uma prática social em relação à superfície terrestre.
Espaço social. Organização do espaço determinada pela tecnologia, cultura e
organização social. Organização social imposta pelo ritmo de acumulação.
• Lipietz – Essência da organização do espaço no modo de produção capitalista.
• Harvey – Neopositivismo na reflexão geográfica.

A tendência humanística, os paradigmas modernos na geografia.

Geografia humanística: Valorização da experiência do indivíduo ou grupo visando


compreender o comportamento e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos lugares.
O estudo dos espaços vividos, se tornou uma proposta da geografia humanista, tentando
substituir a noção de espaço alienado. Compreensão do espaço vivido como um espaço de
vida, construído e representado pelos atores sociais que circulam nesse espaço. Seu ponto
de partida é a singularidade e individualidade dos espaços estudados. Seu objetivo principal
é interpretar as realidades vividas espacialmente.

A geografia humanista trata das representações de ordem simbólica que estruturam


uma altitude e uma concepção dadas em relação a um espaço de referência. Assentada na
subjetividade, intuição, sentimentos, experiência, simbolismo, privilegiando o singular no e
não o particular.

Principais críticas:

• Transposição da fronteira da geografia.


• Excesso de psicologismo, descaracterizando a geografia.
• Dificuldade de estabelecer métodos e técnicas de pesquisa.
2. Conceitos e Temas em Geografia

CASTRO, I. E, de. Geografia: conceitos e temas. Brasil: Editora Bertrand.1997

Revisão conceitual

• Espaço (P.15)

O espaço não se constitui conceito chave na geografia tradicional, mas está nas obras
de Ratzel (base indispensável para a vida do homem, encerrando as condições de trabalho,
naturais ou socialmente produzidas) e Hartshorne (espaço absoluto, conjunto de pontos
com existência em si, é independente. Espaço como um receptáculo, apenas contém as
coisas). Espaço e tempo associados a todas as dimensões da vida.

o Espaço na visão quantitativa: O espaço é considerado sob duas formas, através


da noção de planície isotrópica (superfície uniforme, cuja variável principal é a
distância. Esquemas centro - periferia), e de sua representação matricial.
o Espaço na visão crítica: Espaço como conceito chave. Identificação das
categorias de análise do espaço. É o lócus da reprodução das relações sociais
de produção (Lefébvre).
o Espaço e a visão humanista: Espaço vivido. Sentimentos espaciais, um campo
de representações simbólicas.

• Região (P.49)

Conceito com implicações fundadoras na discussão política, da dinâmica do Estado, da


organização da cultura e do estatuto da diversidade espacial. Termo empregado com
referencia à localização e extensão. Sentido como unidade administrativa.

Conceito de região natural, sob a ideia de que o ambiente tem certo domínio sobre a
orientação do desenvolvimento da sociedade. Região como unidade básica do saber
geográfico, como resultado do trabalho humano em um determinado ambiente.

A região é uma realidade concreta, física, que existe como um quadro de referência para
os que vivem nela.
Para Hartshorne “O método regional (procurar na distribuição dos fenômenos a
caracterização de unidades regionais) é a particularidade que diferencia a geografia.”
Preocupação primordial com a distribuição e localização espacial (Elemento-chave na
definição epistemológica da Geografia). Regionalização como uma tarefa de dividir o espaço
segundo diferentes critérios que são devidamente explicitados e que variam segundo as
intenções de cada trabalho.

• A análise regional: Conjunto de novas regras, cuja região é uma classe de área,
fruto de uma classificação geral que divide o espaço segundo critérios ou
variáveis arbitrários que possuem justificativa no julgamento de sua relevância
para certa explicação.
• Região para Hartshone: Produto mental, uma forma de ver o espaço que coloca
em evidência os fundamentos da organização diferenciada do espaço.
• A análise regional: A região é uma classe de área, fruto de uma classificação geral
que divide o espaço segundo critérios ou variáveis arbitrários que possuem
justificativa no julgamento de sua relevância para certa explicação.
• Região na visão pragmática:
• Região na visão crítica: A diferenciação do espaço se deve à divisão territorial do
trabalho e ao processo de acumulação capitalista. A divisão das regiões deve se
ater à divisão sócio-espacial do trabalho. Região como um processo de
classificação do espaço. Região como totalidade sócio-espacial.
• Região na visão humanista: Vista como um quadro de referência fundamental na
sociedade. Consciência regional, sentimento de pertencimento, mentalidades
regionais, são alguns dos elementos usados para valorizar a dimensão regional
como espaço vivido. A região define um código social comum que tem uma base
territorial. Para compreender a região é preciso viver a região.
• Região Concentrada (SANTOS)
• Região Natural
“A região natural é uma área geográfica, mais ou menos precisa, que a
observação permite criar com a superposição de mapas figurando
influências fisiográficas diferentes: relevo, hidrografia, clima, vegetação;
forma-se, assim, uma imagem composta, uma síntese esboçada que vai
servir de cenário à ação do homem.”
(Carvalho, 1944, p. 16).

• Escalas (P. 117)


Como um recurso cartográfico, escala é uma fração entre as medidas do real e a
representação gráfica.

O problema da escala na Geografia.

Para Lacoste: As diferenças de tamanho da superfície implicam diferenças quantitativas


e qualitativas dos fenômenos. A ESCALA É UMA MEDIDA DE SUPERFÍCIE. A escala é a medida
que confere visibilidade ao fenômeno.

GRATALOUP (1979) – Escala geográfica tradicional (Conteúdo empírico) x Escala


conceitual.

MERLEAU-PONTY (1964) Concepções sobre escala:

a. Não há escala mais ou menos válida, a realidade está contida em todas.


b. A escala da percepção é sempre ao nível do fenômeno percebido e
concebido.
c. A escala não fragmenta o real, apenas permite sua apreensão.

Escala como o artifício analítico que dá visibilidade ao real; é uma projeção do real.

LE MOIGNE (1991) – A escala é uma forma de dividir o espaço, definindo uma realidade
percebida/concebida, é uma forma de dar-lhe uma figuração, uma representação, um ponto
de vista que modifica a percepção mesma da natureza deste espaço, e, finalmente, um
conjunto de representações coerentes e lógicas que substituem o espaço observado.

Pontos fundadores da escala: Referente, percepção, concepção e representação.

• Território (P. 77)

Espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. É essencialmente um


instrumento de exercício de poder. O território na geografia política é um espaço concreto
em si, apropriado, ocupado por um grupo social. Sua ocupação é vista como algo gerador
de raízes e identidade. O território está presente em toda a espacialidade social, enquanto
o homem estiver presente. O território é definido a partir do espaço e do poder. TODO
ESPAÇO DEFINIDO E DELIMITADO POR E A PARTIR DE RELAÇÕES DE PODER É UM
TERRITÓRIO.

O uso e controle do território devem ser elevados a um plano de grande relevância,


quando da formulação de estratégias de desenvolvimento sócio-espacial.
Território em Ratzel: Vinculado à apropriação de uma porção do espaço por determinado
grupo (P. 18).

• Redes (P. 141)

Inovações nos transportes e comunicações, redesenharam o mapa mundi do século


XIX, modificaram os espaços nacionais. No Brasil, o poder social da burguesia cafeeira
paulista influenciou o redesenho das vias de transporte, decidindo sobre a configuração
espacial da rede ferroviária, e sobre a circulação. Avanços na engenharia de sistemas
elétricos, técnicas de telecomunicações. DISTÂNCIAS SE CONTRAEM E SE ANULAM,
DEVIDO A INSTANTANEIDADE DAS TRANSMISSÕES.

Conceito

• Séc XIX – Saint-Simon; Conceito-chave. Estado organizado por cientistas e


industriais. Posteriormente, o termo passou a evocar a relação entre as
comunicações e o crédito.

A rede aparece como um instrumento que viabiliza as estratégias de circular e comunicar.


Os fluxos pressupõem a existência das redes. A conexidade é uma propriedade das redes. E
os nós são os lugares de conexões, lugares de poder e referência.

Séc. XX, rede como um instrumento importante para entender a dinâmica territorial
brasileira.

• Redes urbanas

• Gestão do território (P. 207)


• O planejamento regional
• A questão regional

Geografia econômica: Ramo particular da Geografia afeito às dimensões territoriais da


atividade econômica. Nascida como Geografia comercial na Inglaterra. Foi o ramo da
geografia mais preocupado com os problemas do desenvolvimento regional.

A questão regional é necessariamente uma questão do Estado.


Utilização do território nacional como instrumento de afirmação do Estado. Os polos de
desenvolvimento, para organizar o território (década de 60). Regionalização como um
instrumento de ordenação do território.

Implantação de polos de crescimento, no Brasil, a partir da crise de 1973. A criação de locais


privilegiados, capazes de interligar os circuitos nacionais e internacionais de fluxos
financeiros e de mercadorias.

O conceito de território pressupõe a existência de relações de poder. As relações centro e


periferia: Processo dinâmico de aprofundamento vertical e expansão horizontal das forças
de produção e das relações de produção capitalistas.

Hierarquização das cidades, devida a lógica da divisão territorial e da concorrência no


interior do conjunto dos setores produtivos dominantes. Expressão da integração territorial
do mercado nacional.

Distribuição espacial das empresas, interferindo diretamente em seu efeito regional de


concorrência.

ZPE = Zonas de Processamento de Exportações

• Geopolítica, logística e desenvolvimento sustentável (P. 271)

Transformações na dinâmica mundial, dos fluxos de trabalho, informação e tecnologia


afetando a geopolítica. Novas territorialidades, a partir do controle de territórios.

Pressupostos básicos da herança ideológica da geopolítica:

• Excepicionalismo nacional centrada no Estado-Nação como única unidade


política da ordem mundial.
• O determinismo geográfico

A Geopolítica utiliza o espaço para planejar a política do Estado (LACOSTE).

O Espaço como instrumento para assegurar as condições de reprodução das relações de


dominação, espaço estatal instrumentalizado. Elementos essenciais para a relação Estado-
espaço:

- Estado como relação social

- A nova tecnologia espacial do poder estatal

• Regime de acumulação
• Modos de regulação econômica
• Circuitos de produção
• Origens do pensamento geográfico no Brasil: Meio tropical, espaços vazios e a ideia
de ordem

Última década do séc. XIX e as três primeiras do séc. XX, como uma época de redefinição
da identidade nacional. Com o pensamento geográfico presente nos debates sobre a
natureza físico-climática do território, a adaptação do indivíduo ao meio, as características
raciais, e as possíveis consequências desses aspectos sobre a formação social do povo
brasileiro. ‘

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