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Educação domiciliar: soberania da tutela familiar em detrimento

do direito fundamental à educação


Por Bruno Costa – Assessoria da Liderança do PT no Senado Federal

1. Introdução

No dia 11 de abril de 2019, o governo Bolsonaro anunciou o envio de um Projeto de Lei ao


Congresso Nacional com o objetivo de regulamentar a chamada educação domiciliar
(homeschooling), de modo a propagandear o cumprimento das metas estabelecidas para os 100
primeiros dias de governo.

A elaboração do projeto estava sob a responsabilidade do Ministério da Mulher, da Família e


dos Direitos Humanos, comandado pela ministra Damares Alves, e não sob a responsabilidade
do Ministério da Educação, que deveria ter a prerrogativa de elaborar e implementar – garantida
a devida participação social, observadas as metas e estratégias do Plano Nacional de Educação
e respeitados os princípios e diretrizes inscritos na LDB e na Constituição Federal – as políticas
educacionais.

A Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), entidade que reivindica a


regulamentação da educação domiciliar e que estima que 35 mil famílias são adeptas da
educação domiciliar no Brasil, participou diretamente da elaboração do projeto, uma vez que o
seu diretor jurídico, Alexandre Magno, foi nomeado como Secretário Adjunto da Secretaria
Nacional de Proteção Global do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

De acordo com reportagem da Agência Pública e da openDemocracy 1, Alexandre Magno


ministra o curso online “O Direito da Família”, disponível na plataforma audiovisual da Brasil
Paralelo, no qual recomenda castigos físicos de crianças. A plataforma Brasil Paralelo foi
investigada na CPI da Covid por disseminar desinformação no contexto da pandemia.

O PL que foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2022, no entanto, não foi aquele
encaminhado pelo governo Bolsonaro em 2019 (PL 2401/2019), mas sim uma subemenda
substitutiva global ao PL 3179/2012, de autoria do deputado federal Lincoln Portela (PL/MG).
Passamos à análise da referida subemenda.

2. A subemenda substitutiva global ao PL 3179/2012

O texto contém 4 artigos. O art. 1º modifica significativamente a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional para dispor sobre a possibilidade de oferta domiciliar da educação básica.
Vejamos as modificações através de um quadro comparativo.

1
Fonte: https://apublica.org/2022/07/homeschooling-brasil-castigo-fisico-bater-aned-hslda/
Texto atual da LDB Texto aprovado na Câmara dos Deputados

Art. 1º A educação abrange os processos “Art. 1º ...........................................................


formativos que se desenvolvem na vida
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar,
familiar, na convivência humana, no
que se desenvolve predominantemente em
trabalho, nas instituições de ensino e
instituições próprias, admitida, na educação
pesquisa, nos movimentos sociais e
básica, a educação domiciliar.
organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais. § 2º A educação escolar e domiciliar deverão
vincular-se ao mundo do trabalho e à prática
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar,
social.” (NR)
que se desenvolve, predominantemente, por
meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao
mundo do trabalho e à prática social.

Art. 5º O acesso à educação básica “Art. 5º ...........................................................


obrigatória é direito público subjetivo,
§ 1º .................................................................
podendo qualquer cidadão, grupo de
cidadãos, associação comunitária, ........................................................................
organização sindical, entidade de classe ou III - zelar, junto aos pais ou responsáveis
outra legalmente constituída e, ainda, o legais, pela frequência à escola e, no caso do
Ministério Público, acionar o poder público disposto no § 3º do art. 23 desta Lei, pelo
para exigi-lo. adequado desenvolvimento da
§ 1º O poder público, na esfera de sua aprendizagem do estudante.
competência federativa, deverá: ...............................................................” (NR)
I - recensear anualmente as crianças e
adolescentes em idade escolar, bem como os
jovens e adultos que não concluíram a
educação básica;
II - fazer-lhes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela
frequência à escola.
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o
Poder Público assegurará em primeiro lugar o
acesso ao ensino obrigatório, nos termos
deste artigo, contemplando em seguida os
demais níveis e modalidades de ensino,
conforme as prioridades constitucionais e
legais.
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no
caput deste artigo tem legitimidade para
peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do
§ 2º do art. 208 da Constituição Federal,
sendo gratuita e de rito sumário a ação
judicial correspondente.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade
competente para garantir o oferecimento do
ensino obrigatório, poderá ela ser imputada
por crime de responsabilidade.
§ 5º Para garantir o cumprimento da
obrigatoriedade de ensino, o Poder Público
criará formas alternativas de acesso aos
diferentes níveis de ensino,
independentemente da escolarização
anterior.

Art. 23. A educação básica poderá organizar- “Art. 23. ..........................................................


se em séries anuais, períodos semestrais,
........................................................................
ciclos, alternância regular de períodos de
estudos, grupos não-seriados, com base na § 3º É admitida a educação básica domiciliar,
idade, na competência e em outros critérios, por livre escolha e sob a responsabilidade dos
ou por forma diversa de organização, sempre pais ou responsáveis legais pelos estudantes,
que o interesse do processo de ressalvado o disposto no art. 81-A desta Lei e
aprendizagem assim o recomendar. observadas as seguintes disposições:
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, I – formalização de opção pela educação
inclusive quando se tratar de transferências domiciliar, pelos pais ou responsáveis legais,
entre estabelecimentos situados no País e no perante a instituição de ensino referida no
exterior, tendo como base as normas inciso II deste parágrafo, ocasião em que
curriculares gerais. deverão ser apresentadas:
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se a) comprovação de escolaridade de nível
às peculiaridades locais, inclusive climáticas e superior ou em educação profissional
econômicas, a critério do respectivo sistema tecnológica, em curso reconhecido nos
de ensino, sem com isso reduzir o número de termos da legislação, por pelo menos um dos
horas letivas previsto nesta Lei. pais ou responsáveis legais pelo estudante ou
por preceptor;
b) certidões criminais da Justiça Federal e da
Justiça Estadual ou Distrital dos pais ou
responsáveis legais;
II – obrigatoriedade de matrícula anual do
estudante em instituição de ensino
credenciada pelo órgão competente do
sistema de ensino, nos termos desta Lei;
III – manutenção de cadastro, pela instituição
de ensino referida no inciso II deste
parágrafo, dos estudantes em educação
domiciliar nela matriculados, a ser
anualmente informado e atualizado perante
o órgão competente do sistema de ensino;
IV – cumprimento dos conteúdos curriculares
referentes ao ano escolar do estudante, de
acordo com a Base Nacional Comum
Curricular, admitida a inclusão de conteúdos
curriculares adicionais pertinentes;
V – realização de atividades pedagógicas que
promovam a formação integral do estudante
e contemplem seu desenvolvimento
intelectual, emocional, físico, social e
cultural;
VI - manutenção, pelos pais ou responsáveis
legais, de registro periódico das atividades
pedagógicas realizadas e envio de relatórios
trimestrais dessas atividades à instituição de
ensino em que o estudante estiver
matriculado;
VII – acompanhamento do desenvolvimento
do estudante por docente tutor da instituição
de ensino em que estiver matriculado,
inclusive mediante encontros semestrais com
os pais ou responsáveis legais, o educando e,
se for o caso, o preceptor ou preceptores;
VIII - realização de avaliações anuais de
aprendizagem e participação do estudante,
quando a instituição de ensino em que estiver
matriculado for selecionada para participar,
nos exames do sistema nacional de avaliação
da educação básica e, quando houver, nos
exames do sistema estadual ou sistema
municipal de avaliação da educação básica;
IX – avaliação semestral do progresso do
estudante com deficiência ou com transtorno
global de desenvolvimento por equipe
multiprofissional e interdisciplinar da rede ou
da instituição de ensino em que estiver
matriculado;
X - previsão de acompanhamento
educacional, pelo órgão competente do
sistema de ensino, e de fiscalização, pelo
Conselho Tutelar, nos termos da legislação
relativa aos direitos da criança e do
adolescente;
XI – garantia, pelos pais ou responsáveis
legais, da convivência familiar e comunitária
do estudante;
XII – garantia de isonomia de direitos e
vedação de qualquer espécie de
discriminação entre crianças e adolescentes
que recebam educação escolar e as que
recebam educação domiciliar, inclusive no
que se refere à participação em concursos,
competições, eventos pedagógicos,
esportivos e culturais, bem como, no caso dos
estudantes com direito à educação especial,
acesso igualitário a salas de atendimento
educacional especializado e a outros recursos
de educação especial;
XIII – promoção, pela instituição de ensino ou
pela rede de ensino, de encontros semestrais
das famílias optantes pela educação
domiciliar, para intercâmbio e avaliação de
experiências.
§ 4º O Conselho Nacional de Educação
editará diretrizes nacionais, e os sistemas de
ensino adotarão providências que assegurem
e viabilizem o exercício do direito de opção
dos pais ou responsáveis legais pela educação
domiciliar, bem como sua prática, nos termos
desta Lei.
§ 5º Os pais ou responsáveis legais perderão
o exercício do direito à opção pela educação
domiciliar caso:
I – incorram no disposto no art. 81-A desta
Lei;
II – a avaliação anual qualitativa, na educação
pré-escolar, prevista no inciso I do § 3º do art.
24 desta Lei, evidencie insuficiência de
progresso do educando em 2 (dois) anos
consecutivos;
III – o estudante do ensino fundamental e
médio seja reprovado, em 2 (dois) anos
consecutivos ou em 3 (três) anos não
consecutivos, na avaliação anual prevista nos
§§ 3º e 5º do art. 24 desta Lei, ou a ela
injustificadamente não compareça;
IV – a avaliação semestral referida no inciso
IX do § 3º deste artigo evidencie, por 2 (duas)
vezes consecutivas ou 3 (três) vezes não
consecutivas, insuficiência de progresso do
estudante com deficiência ou com transtorno
global do desenvolvimento, de acordo com
suas potencialidades.” (NR)

Art. 24. A educação básica, nos níveis “Art. 24. ..........................................................


fundamental e médio, será organizada de
........................................................................
acordo com as seguintes regras comuns:
VI - o controle de frequência fica a cargo da
I - a carga horária mínima anual será de
escola, conforme o disposto no seu
oitocentas horas para o ensino fundamental
regimento e nas normas do respectivo
e para o ensino médio, distribuídas por um
sistema de ensino, exigida frequência mínima
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho
de 75% (setenta e cinco por cento) do total de
escolar, excluído o tempo reservado aos
horas letivas para aprovação, ressalvado o
exames finais, quando houver;
disposto no § 3º do art. 23 desta Lei;
II - a classificação em qualquer série ou etapa, ........................................................................
exceto a primeira do ensino fundamental,
§ 3º Para fins de certificação da
pode ser feita:
aprendizagem, a avaliação do estudante em
a) por promoção, para alunos que cursaram, educação domiciliar, realizada pela
com aproveitamento, a série ou fase instituição de ensino em que estiver
anterior, na própria escola; matriculado, compreenderá:
b) por transferência, para candidatos I – na educação pré-escolar, avaliação anual
procedentes de outras escolas; qualitativa cumulativa dos relatórios
trimestrais previstos no inciso VI do § 3º do
c) independentemente de escolarização
art. 23 desta Lei;
anterior, mediante avaliação feita pela
escola, que defina o grau de II – no ensino fundamental e médio, além do
desenvolvimento e experiência do candidato disposto no inciso I deste parágrafo, a
e permita sua inscrição na série ou etapa avaliação anual, baseada nos conteúdos
adequada, conforme regulamentação do curriculares referidos no inciso IV do § 3º do
respectivo sistema de ensino; art. 23 desta Lei, admitida a possibilidade de
avanço nos cursos e nas séries, previsto na
III - nos estabelecimentos que adotam a
alínea c do inciso V do caput deste artigo.
progressão regular por série, o regimento
escolar pode admitir formas de progressão § 4º A avaliação referida no § 3º deste artigo,
parcial, desde que preservada a sequência do para o estudante com deficiência ou com
currículo, observadas as normas do transtorno global de desenvolvimento, será
respectivo sistema de ensino; adaptada à sua condição.
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, § 5º Na hipótese de o desempenho do
com alunos de séries distintas, com níveis estudante na avaliação anual de que trata o §
equivalentes de adiantamento na matéria, 3º deste artigo ser considerado insatisfatório,
para o ensino de línguas estrangeiras, artes, será oferecida uma nova avaliação, no
ou outros componentes curriculares; mesmo ano, em caráter de recuperação.”
(NR)
V - a verificação do rendimento escolar
observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do
desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e
dos resultados ao longo do período sobre os
de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos
para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas
séries mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos
com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de
recuperação, de preferência paralelos ao
período letivo, para os casos de baixo
rendimento escolar, a serem disciplinados
pelas instituições de ensino em seus
regimentos;
VI - o controle de frequência fica a cargo da
escola, conforme o disposto no seu
regimento e nas normas do respectivo
sistema de ensino, exigida a frequência
mínima de setenta e cinco por cento do total
de horas letivas para aprovação;
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir
históricos escolares, declarações de
conclusão de série e diplomas ou certificados
de conclusão de cursos, com as
especificações cabíveis.
§ 1º A carga horária mínima anual de que
trata o inciso I do caput deverá ser ampliada
de forma progressiva, no ensino médio, para
mil e quatrocentas horas, devendo os
sistemas de ensino oferecer, no prazo
máximo de cinco anos, pelo menos mil horas
anuais de carga horária, a partir de 2 de
março de 2017.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a
oferta de educação de jovens e adultos e de
ensino noturno regular, adequado às
condições do educando, conforme o inciso VI
do art. 4º.

Art. 31. A educação infantil será organizada “Art. 31. ..........................................................


de acordo com as seguintes regras comuns:
IV - controle de frequência pela instituição de
I - avaliação mediante acompanhamento e educação pré-escolar, exigida a frequência
registro do desenvolvimento das crianças, mínima de 60% (sessenta por cento) do total
sem o objetivo de promoção, mesmo para o de horas, ressalvado o disposto no § 3º do art.
acesso ao ensino fundamental; 23 desta Lei;
II - carga horária mínima anual de 800 ...............................................................” (NR)
(oitocentas) horas, distribuída por um
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
educacional;
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4
(quatro) horas diárias para o turno parcial e
de 7 (sete) horas para a jornada integral;
IV - controle de frequência pela instituição de
educação pré-escolar, exigida a frequência
mínima de 60% (sessenta por cento) do total
de horas;
V - expedição de documentação que permita
atestar os processos de desenvolvimento e
aprendizagem da criança.

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, “Art. 32. ..........................................................


com duração de 9 (nove) anos, gratuito na
escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos ........................................................................
de idade, terá por objetivo a formação básica
§ 4º O ensino fundamental será presencial, e
do cidadão, mediante:
o ensino a distância será utilizado como
I - o desenvolvimento da capacidade de complementação da aprendizagem ou em
aprender, tendo como meios básicos o pleno situações emergenciais, ressalvado o
domínio da leitura, da escrita e do cálculo; disposto no § 3º do art. 23 desta Lei.
II - a compreensão do ambiente natural e ...............................................................” (NR)
social, do sistema político, da tecnologia, das
artes e dos valores em que se fundamenta a
sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de
aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades e a formação de
atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família,
dos laços de solidariedade humana e de
tolerância recíproca em que se assenta a vida
social.
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino
desdobrar o ensino fundamental em ciclos.
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam
progressão regular por série podem adotar
no ensino fundamental o regime de
progressão continuada, sem prejuízo da
avaliação do processo de ensino-
aprendizagem, observadas as normas do
respectivo sistema de ensino.
§ 3º O ensino fundamental regular será
ministrado em língua portuguesa,
assegurada às comunidades indígenas a
utilização de suas línguas maternas e
processos próprios de aprendizagem.
§ 4º O ensino fundamental será presencial,
sendo o ensino a distância utilizado como
complementação da aprendizagem ou em
situações emergenciais.
§ 5º O currículo do ensino fundamental
incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que
trate dos direitos das crianças e dos
adolescentes, tendo como diretriz a Lei no
8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o
Estatuto da Criança e do Adolescente,
observada a produção e distribuição de
material didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais
será incluído como tema transversal nos
currículos do ensino fundamental.
Art. 81. É permitida a organização de cursos “Art. 81-A. É vedada a opção pela educação
ou instituições de ensino experimentais, domiciliar prevista no § 3º do art. 23 desta Lei
desde que obedecidas as disposições desta nas hipóteses em que o responsável legal
Lei. direto for condenado ou estiver cumprindo
pena pelos crimes previstos:
I - na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente);
II - na Lei nº 11.340 (Lei Maria da Penha), de
7 de agosto de 2006;
III - no Título VI da Parte Especial do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal);
IV - na Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006;
V - na Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei
dos Crimes Hediondos).”

Art. 89. As creches e pré-escolas existentes “Art. 89-A. Para o cumprimento do disposto
ou que venham a ser criadas deverão, no na alínea a do inciso I do § 3º do art. 23 desta
prazo de três anos, a contar da publicação Lei pelos pais ou responsáveis legais que
desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema formalizarem a opção pela educação
de ensino. domiciliar nos 2 (dois) primeiros anos de
vigência deste artigo, será admitido período
de transição, nos seguintes termos:
I – comprovação, ao longo do ano da
formalização da opção pela educação
domiciliar, de que pelo menos um dos pais ou
responsáveis legais esteja matriculado em
curso de nível superior ou em educação
profissional tecnológica, em curso
reconhecido nos termos da legislação;
II – comprovação anual de continuidade dos
estudos, com aproveitamento, por pelo
menos um dos pais ou responsáveis legais, no
curso de nível superior ou em educação
profissional tecnológica em que estiver
matriculado;
III – conclusão, por pelo menos um dos pais
ou responsáveis legais, do curso de nível
superior ou em educação profissional
tecnológica em que estiver matriculado, em
período de tempo que não exceda a 50%
(cinquenta por cento) do limite mínimo de
anos para sua integralização, fixado pelas
normas do Conselho Nacional de Educação.”
A mudança promovida no art. 1º já desvirtua sobremaneira a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e o próprio texto constitucional, uma vez que a LDB foi concebida para
disciplinar a educação escolar e que esta integra o direito à educação inscrito na Carta Política.

A mudança promovida no inciso III do § 1º do art. 5º se revela uma tentativa de anular, via
alteração de legislação ordinária, comandos constitucionais em pleno vigor. Por mais que a LDB
preveja a educação domiciliar como alternativa à educação escolar, como propõe a matéria, a
Constituição Federal não prevê essa alternativa e verbaliza categoricamente que: o dever do
Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação básica obrigatória e
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade; o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo; compete ao Poder Público recensear os educandos, fazer-lhes a chamada e zelar,
junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola; na organização de seus sistemas de
ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração,
de forma a assegurar a universalização, a qualidade e a equidade do ensino obrigatório; o Plano
Nacional de Educação e o Sistema Nacional de Educação devem promover a universalização do
atendimento escolar. Não é admissível, portanto, que dispositivos de uma norma
infraconstitucional anulem comandos expressos de modo absolutamente literal na Constituição
Federal.

Os dispositivos adicionados ao art. 23 da LDB buscam regulamentar o exercício da educação


domiciliar no âmbito da educação básica, por livre escolha e sob a responsabilidade dos pais ou
responsáveis legais pelos estudantes, em detrimento do direito das crianças e adolescentes. Em
outras palavras, a liberdade de escolha dos pais anula o direito fundamental à educação dos
filhos, consagrando um poder de tutela absoluto que atenta contra a dignidade da pessoa
humana, a justiça social e a cidadania.

Dispõe ainda que o Conselho Nacional de Educação editará diretrizes nacionais, e os sistemas
de ensino adotarão providências que assegurem e viabilizem o exercício do direito de opção dos
pais ou responsáveis legais pela educação domiciliar, bem como sua prática; e que os pais ou
responsáveis legais perderão o exercício do direito à opção pela educação domiciliar caso:
incorram no disposto no art. 81-A; a avaliação anual qualitativa, na educação pré-escolar,
evidencie insuficiência de progresso do educando em 2 anos consecutivos; o estudante do
ensino fundamental e médio seja reprovado, em 2 anos consecutivos ou em 3 anos não
consecutivos, na avaliação anual, ou a ela injustificadamente não compareça; a avaliação
semestral evidencie, por 2 vezes consecutivas ou 3 vezes não consecutivas, insuficiência de
progresso do estudante com deficiência ou com transtorno global do desenvolvimento, de
acordo com suas potencialidades.

Apesar de prever as hipóteses em que os pais ou responsáveis perderão o exercício do direito à


opção pela educação domiciliar, não há previsão de reparação para os estudantes que,
submetidos à educação domiciliar pelos seus pais ou responsáveis legais, vejam-se, em virtude
disso, lesados em seu direito à educação, em processo de distorção idade-série, privados do
convívio com outros estudantes no ambiente escolar, dentre outras possibilidades. Os
estudantes perdem não apenas o direito à educação escolar, consagrado na legislação pátria,
mas também o direito de escolha, uma vez que o projeto de lei desconsidera a opinião e o desejo
dos estudantes.

A proposição condiciona o exercício da educação domiciliar à matrícula em instituição de ensino,


pública ou privada, e cria obrigações para as instituições e/ou redes de ensino, o que demandará
investimentos em procedimentos administrativos, recursos pedagógicos, avaliações e
consequentemente em pessoal. Se a matrícula se der em instituição privada de ensino, deduz-
se que esses investimentos serão custeados pelos pais ou responsáveis optantes pela educação
domiciliar, nos termos de contrato assinado entre as partes; se a matrícula se der em instituição
pública de ensino, deduz-se que recursos públicos serão drenados do financiamento da
educação escolar pública para o financiamento da educação domiciliar.

O texto exige de pelos menos um dos pais ou responsáveis legais, ou ainda de uma terceira
pessoa intitulada “preceptor”, comprovação de escolaridade de nível superior ou em educação
profissional tecnológica, em curso reconhecido nos termos da legislação. A LDB verbaliza que a
formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação
infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade normal. Isso significa que, na educação domiciliar, diferentemente do que ocorre
na educação escolar, o estudante que esteja cursando o ensino fundamental ou o ensino médio
poderá ter como único professor um de seus pais ou ainda um “preceptor”, desde que tenha
cursado qualquer curso de ensino superior ou qualquer curso de educação profissional
tecnológica, em detrimento de qualquer formação pedagógica e do Plano Nacional de Educação,
que estabelece como meta assegurar que todos os professores e as professoras da educação
básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área
de conhecimento em que atuam.

Exige ainda o cumprimento dos conteúdos curriculares referentes ao ano escolar do estudante,
de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, admitida a inclusão de conteúdos curriculares
adicionais pertinentes, mas ainda que os pais ou responsáveis tenham excelente formação
acadêmica em determinada área, ou que contratem um “preceptor” com excelente formação
acadêmica em determinada área, não é razoável imaginar que alguém pode substituir
professores com formação específica para cada área do conhecimento sem prejuízo à formação
do estudante. Ainda que a família contrate um preceptor com formação específica para cada
área do conhecimento, a formação integral do estudante restará prejudicada, uma vez que o
espaço-tempo escolar não é o lócus apenas do ensino conteudista, mas sim da construção
coletiva do conhecimento de mundo, da socialização, do preparo para o exercício da cidadania.

A proposição prevê a manutenção, pelos pais ou responsáveis legais, de registro periódico das
atividades pedagógicas realizadas e envio de relatórios trimestrais dessas atividades à
instituição de ensino em que o estudante estiver matriculado, bem como o acompanhamento
do desenvolvimento do estudante por docente tutor da instituição de ensino em que estiver
matriculado, inclusive mediante encontros semestrais com os pais ou responsáveis legais, o
educando e, se for o caso, o preceptor ou preceptores. Ou seja, a matéria cria uma nova
categoria, denominada docente tutor, embora não estabeleça que tipo de formação deve ter o
docente tutor. No caso das instituições privadas de ensino, deduz-se que os custos derivados da
contratação de docente tutor serão transferidos para as famílias optantes pela educação
domiciliar; no caso das instituições públicas de ensino, deduz-se que o docente tutor será
contratado com recursos públicos, ou ainda que um docente já pertencente ao quadro de
pessoal da instituição acumulará a função de docente tutor, com ou sem remuneração adicional,
o que acarretará a precarização do trabalho docente.

Prevê também a realização de avaliações anuais de aprendizagem e a participação do estudante,


quando a instituição de ensino em que estiver matriculado for selecionada para participar, nos
exames do sistema nacional de avaliação da educação básica e, quando houver, nos exames do
sistema estadual ou sistema municipal de avaliação da educação básica. Isso significa que o
papel do Estado será reduzido ao monitoramento, avaliação e certificação da aprendizagem das
competências e habilidades inscritas na BNCC para cada etapa da educação básica, e que
recursos públicos que deveriam ser investidos com base nas metas e estratégias inscritas no
Plano Nacional de Educação (2014-2024) serão drenados para esse processo, em uma
conjuntura de insuficiência de recursos para o cumprimento das metas e estratégias do PNE.

Ademais, como a avaliação será anual, diferentemente do que ocorre na educação escolar, os
estudantes não terão oportunidade de, através de uma avaliação progressiva, mediada por
profissionais da educação escolar básica, identificarem lacunas na aprendizagem e, com o auxílio
desses profissionais, superarem progressivamente essas lacunas ao longo do ano, de modo que
os estudantes em educação domiciliar serão submetidos a um processo de ensino e
aprendizagem focado na avaliação anual, e a pressão familiar para que sejam aprovados, ano
após ano, pode provocar danos imensuráveis.

Adicionalmente, prevê a realização de avaliação semestral do progresso do estudante com


deficiência ou com transtorno global de desenvolvimento por equipe multiprofissional e
interdisciplinar da rede ou da instituição de ensino em que estiver matriculado, criando mais
uma função para as equipes multiprofissionais e interdisciplinares existentes, embora em
desacordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.

Dispõe sobre o acompanhamento educacional, pelo órgão competente do sistema de ensino, e


de fiscalização, pelo Conselho Tutelar, nos termos da legislação relativa aos direitos da criança
e do adolescente, sem detalhar quais as atribuições do órgão competente do sistema de ensino
e do Conselho Tutelar, e desconsiderando a realidade de muitas secretarias municipais de
educação e conselhos tutelares.

Estabelece a garantia, pelos pais ou responsáveis legais, da convivência familiar e comunitária


do estudante, sem detalhar de que modo essa convivência comunitária deve ser assegurada, e
desconsiderando que o espaço-tempo escolar promove um modalidade diferenciada de
socialização, que não é passível de ser substituída pela convivência familiar e comunitária, em
especial quando consideramos que o significado de comunidade para um morador de favela é
bastante diferente do significado de comunidade para um morador de condomínio de luxo,
ainda que o condomínio de luxo esteja situado ao lado de uma favela.

Prevê garantia de isonomia de direitos e vedação de qualquer espécie de discriminação entre


crianças e adolescentes que recebam educação escolar e as que recebam educação domiciliar,
inclusive no que se refere à participação em concursos, competições, eventos pedagógicos,
esportivos e culturais, bem como, no caso dos estudantes com direito à educação especial,
acesso igualitário a salas de atendimento educacional especializado e a outros recursos de
educação especial. Ocorre que o estudante em regime de educação domiciliar dificilmente será
integrado ou se sentirá integrado em competições e eventos pedagógicos, esportivos ou
culturais, uma vez que será privado do convívio cotidiano com os estudantes da educação
escolar. Ademais, as equipes multiprofissionais e interdisciplinares terão muito mais dificuldade
de auxiliar os estudantes com direito à educação especial de famílias optantes pelo regime de
educação domiciliar, e esses estudantes também terão muito mais dificuldade de se adaptar ao
atendimento educacional especializado ofertado nas instituições de ensino, uma vez que terão
sido privados do ambiente escolar em benefício do ambiente familiar.

A proposição cria mais uma atribuição, dentre tantas outras, para as instituições ou redes de
ensino: a promoção de encontros semestrais das famílias optantes pela educação domiciliar,
para intercâmbio e avaliação de experiências. Cabe destacar que a educação básica é ofertada
predominantemente pelas redes públicas de ensino dos Estados e Municípios, de modo que o
Congresso Nacional, ao aprovar a matéria ora analisada, estará criando novas obrigações para
os entes subnacionais, inclusive uma nova categoria profissional: a figura do professor tutor da
educação domiciliar. Cabe analisar se, ao fazê-lo, respeita ou não a relativa autonomia dos entes
subnacionais.

Os dispositivos que a proposição adiciona ao art. 24 da LDB definem que, para fins de
certificação da aprendizagem, a avaliação do estudante em educação domiciliar, realizada pela
instituição de ensino em que estiver matriculado, compreenderá, na educação pré-escolar,
avaliação anual qualitativa cumulativa dos relatórios trimestrais previstos; no ensino
fundamental e médio, avaliação anual qualitativa cumulativa dos relatórios trimestrais
previstos, bem como avaliação anual, admitida a possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
mediante verificação do aprendizado. Na hipótese de o desempenho do estudante na avaliação
anual ser considerado insatisfatório, terá de ser oferecida uma nova avaliação, no mesmo ano,
em caráter de recuperação, pela instituição ou rede de ensino.

As modificações que o texto pretende introduzir nos arts. 31 e 32 da LDB buscam ressalvar a
educação domiciliar das normativas ali expressas, inclusive no que diz respeito à carga horária.
Não há qualquer carga horária prevista para a educação domiciliar na proposição legislativa.

O art. 81-A, que o substitutivo aprovado na Câmara pretende adicionar à LDB, veda a opção pela
educação domiciliar nas hipóteses em que o responsável legal direto for condenado ou estiver
cumprindo pena pelos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente; na Lei Maria
da Penha; no Título VI da Parte Especial do Código Penal; na Lei de Drogas; e na Lei dos Crimes
Hediondos. Trata-se de uma tentativa de assegurar algum nível de segurança às crianças e
adolescentes em regime de educação domiciliar, embora insuficiente.

De acordo com dados da UNICEF e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2020
foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19
anos – uma média de quase 45 mil casos por ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil
das vítimas nesses quatro anos – ou seja, um terço do total.

“A grande maioria das vítimas de violência sexual é menina – quase 80%. Para elas, um número
muito alto de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13 anos a idade mais
frequente. Para os meninos, o crime se concentra na infância, especialmente entre 3 e 9 anos
de idade. A maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência
da vítima e, para os casos em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores
eram conhecidos.”2

A escola integra a rede de proteção social de crianças e adolescentes e muitas vezes é na escola
que os primeiros sinais de violência contra crianças e adolescentes são identificados e relatados
às autoridades competentes. Embora seja reduzido o número de famílias que praticam,
atualmente na ilegalidade, a educação domiciliar, a regulamentação da modalidade semeará o
mercado da educação domiciliar, incentivando cada vez mais famílias a aderirem à modalidade
e aumentando a vulnerabilidade de crianças e adolescentes privados da educação escolar.

Já o art. 89-A, que a proposição busca adicionar à LDB, prevê que os pais ou responsáveis legais
que formalizarem a opção pela educação domiciliar nos 2 primeiros anos de vigência deste novo

2
Fonte: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/nos-ultimos-cinco-anos-35-mil-
criancas-e-adolescentes-foram-mortos-de-forma-violenta-no-brasil
dispositivo, poderão se submeter a um período de transição para o cumprimento da formação
mínima necessária à opção pela educação domiciliar. Esse período de transição prevê: a
comprovação, ao longo do ano da formalização da opção pela educação domiciliar, de que pelo
menos um dos pais ou responsáveis legais esteja matriculado em curso de nível superior ou em
educação profissional tecnológica, em curso reconhecido nos termos da legislação;
comprovação anual de continuidade dos estudos, com aproveitamento, por pelo menos um dos
pais ou responsáveis legais, no curso de nível superior ou em educação profissional tecnológica
em que estiver matriculado; e a conclusão, por pelo menos um dos pais ou responsáveis legais,
do curso de nível superior ou em educação profissional tecnológica em que estiver matriculado,
em período de tempo que não exceda a 50% do limite mínimo de anos para sua integralização,
fixado pelas normas do Conselho Nacional de Educação.

Trata-se de uma flexibilização absurda, que desconsidera a formação exigida dos professores da
educação escolar, desconsidera o Plano Nacional de Educação no que diz respeito à formação
docente e desconsidera que os pais ou responsáveis em processo de formação terão ainda
menos tempo para acompanhar seus filhos em regime de educação domiciliar.

O art. 2º da subemenda substitutiva global ao PL 3179/2012, ora analisada, modifica o inciso V


do caput do art. 129 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), para dispor sobre a “obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
frequência e aproveitamento escolar, de acordo com o regime de estudos, se presencial ou
domiciliar”. O texto atual do dispositivo verbaliza a “obrigação de matricular o filho ou pupilo e
acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar”, em sintonia com o texto constitucional.
Mais uma vez, a proposição pretende anular comandos constitucionais modificando legislação
infraconstitucional.

O art. 3º da subemenda, por sua vez, verbaliza que o disposto no art. 246 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), não se aplica aos pais ou responsáveis legais
que optarem pela oferta da educação básica domiciliar, ou seja, anula a pena prevista no Código
Penal para crime de abandono intelectual, caracterizado naquele diploma como o ato de
“Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar”. Ocorre que
o crime previsto no Código Penal está sintonizado com o texto constitucional, e que eventuais
mudanças na LDB não anulam os comandos constitucionais que fundamentam o crime de
abandono intelectual.

O art. 4º declara que a Lei entrará em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação
oficial, prazo que não parece razoável, uma vez que a proposição dispõe que o Conselho
Nacional de Educação editará diretrizes nacionais, e os sistemas de ensino adotarão
providências que assegurem e viabilizem o exercício do direito de opção dos pais ou
responsáveis legais pela educação domiciliar, bem como sua prática, nos termos da Lei.

3. Um projeto inconstitucional

O art. 205 da Constituição Federal verbaliza que a educação, como direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.
O art. 206, por sua vez, reúne os princípios que devem nortear o processo de ensino e
aprendizagem, como a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; a
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; o
pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; a garantia de padrão de qualidade; dentre
outros. São princípios que devem nortear o ensino nas instituições públicas e privadas.

Ao anular o direito de crianças e adolescentes à educação escolar em benefício do direito dos


pais ou responsáveis legais de escolherem o tipo de instrução que será ministrada a seus filhos,
a educação domiciliar agride o princípio da igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola, bem como a liberdade de aprender e o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas.

O inciso I do art. 208 da CF estabelece que o dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, da
pré-escola ao ensino médio, enquanto os parágrafos 1º, 2º e 3º do art. 208 dispõem que: o
acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo; o não-oferecimento do
ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da
autoridade competente; compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
escola.

Isso significa que o texto constitucional vincula “direito à educação” e “frequência à escola”,
atribuindo ao Estado e à família, em consonância com o art. 205 da CF, responsabilidade
solidária para a efetivação desse direito; assim como vincula, conforme dispõe o art. 212, um
percentual mínimo das receitas resultantes de impostos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Ademais, o art. 214 da Constituição, que prevê a adoção, via legislação infraconstitucional, do
Plano Nacional de Educação, estabelece como objetivos fundamentais: a erradicação do
analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria da qualidade do ensino; a
formação para o trabalho; a promoção humanística, científica e tecnológica do País; e o
estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do
produto interno bruto.

Resta explícito, portanto, que as políticas educacionais devem conduzir à universalização do


atendimento escolar, compreendido como parte inalienável do direito fundamental à educação.
A educação domiciliar, ao promover a desescolarização, agride a letra do constituinte originário
e do constituinte derivado, de modo que o projeto ora analisado se revela inconstitucional.

4. A judicialização da matéria

O Plenário do Supremo Tribunal Federal negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE)


888815, derivado de mandado de segurança impetrado pelos pais de uma estudante, então com
11 anos, contra ato da secretária de Educação do Município de Canela (RS), que negou pedido
para que a criança fosse educada em casa e orientou-os a fazer matrícula na rede regular de
ensino.
O acórdão, da lavra do Ministro Alexandre de Moraes, fixou a seguinte tese: “Não existe direito
público subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino domiciliar, inexistente na legislação
brasileira”.

A resolução do STF sugere que a educação domiciliar é passível de regulamentação no plano


infraconstitucional, por meio de lei federal, ao mesmo tempo em que reconhece as crianças e
adolescentes em idade escolar como os titulares do direito fundamental à educação, e não seus
pais ou responsáveis legais.

Faz-se importante salientar que os dois votos declarados vencido e parcialmente vencido no
acórdão, proferidos pelo Ministro Roberto Barroso (Relator) e pelo Ministro Edson Fachin,
defenderam o provimento do recurso ou o parcial provimento do recurso, respectivamente.
Enquanto Barroso considerou a educação domiciliar constitucional e chegou a propor regras
para a regulamentação da matéria, homenageando o ativismo judicial, Fachin evocou o princípio
do pluralismo de concepções pedagógicas para considerar a educação domiciliar constitucional,
embora impondo prazo de um ano para que o legislador discipline o exercício do direito.

O acórdão não menciona, no entanto, teses divergentes da tese que embasa o acórdão do STF,
como as teses reivindicadas pelos ministros Luiz Fux e Ricardo Lewandowski, que negaram
provimento ao recurso, mas em razão da inconstitucionalidade da educação domiciliar, e não
em virtude da ausência de legislação regulamentar.

Em seu voto, o Ministro Luiz Fux, além de considerar que a inconstitucionalidade do ensino
domiciliar já vem traçada nas manifestações da PGR e da AGU, ressalta:

[...]

A inexistência de lei regulamentadora não revela qualquer anomia, ambiguidade normativa ou


óbice para a constitucionalidade. Ao contrário, é irrelevante para o presente caso, já que, diante
do texto constitucional vigente, qualquer norma eventualmente editada sobre homeschooling
seria igualmente inconstitucional. Além disso, por ser não-confessional, a educação escolar não
se contrapõe à liberdade de religião ou de crença, que se encontra suficientemente preservada
na complementação domiciliar do ensino.

A inconstitucionalidade do ensino domiciliar decorre de diversos dispositivos constitucionais que


valorizam a formação plural e complexa da criança, como será visto adiante. No presente tópico
analisa-se uma imposição mais premente e óbvia: a imposição, pelo constituinte, do dever de
matrícula e frequência à escola.

A obrigatoriedade de os pais matricularem os filhos em idade escolar em instituições de ensino


encontra amparo na literalidade do texto constitucional, desde 1934. Na Constituição vigente, a
obrigatoriedade está expressa no artigo 208, § 3º, segundo o qual “Compete ao Poder Público
recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
responsáveis, pela frequência à escola”.

A referência à escola dirime qualquer dúvida quanto à intenção do constituinte em associar o


dever de educação ao ambiente escolar. Na mesma linha, o artigo 206, inciso, I, da CRFB
estabelece que o acesso e permanência na escola, em igualdade de condições, constitui princípio
norteador do direito à educação.

Não fosse o bastante, também o artigo 208, I, expressamente estabelece, dentre as garantias do
Estado, a “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de
idade”. O mesmo dispositivo estabelece, em seu inciso IV, o dever do Estado de garantir “a
educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade”, sem, no
entanto, valer-se da expressão “obrigatória”. A comparação dos dispositivos deixa claro que,
diferentemente do ensino infantil, a educação básica é obrigatória para o Estado e para a
família. O único homeschooling admitido pelo constituinte é aquele que se substitui à creche –
hipótese diversa da presente.

[...]

Quando se trata do melhor interesse da criança e da construção de uma sociedade livre, justa e
plural, por mais razão ainda, a autonomia da vontade dos pais não pode se obstar à proposta
progressista da Constituição. Ao restringir o alcance da liberdade dos pais, deve-se considerar o
caráter relativo dessa liberdade, a vulnerabilidade do menor e a irreversibilidade dos danos
eventualmente causados pelo isolamento. É por tais razões que se deve afastar o argumento de
que haveria um paternalismo em impedir que o ensino domiciliar se substitua ao ensino escolar.

[...]

O ensino domiciliar, compreendido como aquele que se substitui ao escolar, visa a doutrinação
do aluno e/ou seu afastamento do convívio social travado no ambiente escolar. Em ambos os
casos, pretende incutir no menor a visão de mundo dos pais sem lhe oportunizar o contraponto
crítico que seria construído a partir de outras visões existentes. Nenhum livro ou discurso dos
pais vai ensinar à criança o respeito à diferença melhor do que o convívio social com o diferente.
O ensino domiciliar, assim, compromete a formação integral do indivíduo, sobretudo como
integrante de uma sociedade sabidamente plural.

[...]

Some-se, por fim, que há uma faceta anti-isonômica no ensino domiciliar. Por demandar altos
investimentos em contratação de tutores ou professores particulares, quando um dos pais,
geralmente a mãe, não se afasta do mercado de trabalho, o homeschooling se restringe à
parcela mais abastada da sociedade.

O encastelamento da elite brasileira, propositalmente apartada do contato com as


desigualdades sociais e econômicas, pode provocar um enrijecimento moral e,
consequentemente, radicalismos de toda a sorte. Essa consequência vai de encontro à intenção
do constituinte, que prestigiou a “igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola” (art. 206, I) e listou o combate às desigualdades dentre os objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil (art. 3º).

No contexto atual, em que crescem vertiginosamente discursos de ódio, gritando mais alto que
as campanhas oficiais de inclusão social de minorias, o contato de crianças e adolescentes com
a diversidade e a tolerância à diferença ganha ainda mais importância. O espaço público da
escola constitui esse ambiente por excelência.

Ex positis, voto pelo desprovimento do recurso extraordinário.

No mesmo sentido foi proferido o voto do Ministro Ricardo Lewandowski:

[...]
Não sensibiliza, data venia, o argumento de que o ensino domiciliar se justifica pelas deficiências
porventura existentes na educação regular. Isso porque o ensino público ou privado, autorizado
pelas autoridades educacionais, não se restringe apenas ao lado puramente técnico, ou seja, de
transmissão do saber, mas representa um importante fator de socialização e de integração do
indivíduo na coletividade, aplainando diferenças de renda, cor, gênero, origem, dentre outras.

Penso que o Supremo Tribunal Federal não pode alinhar-se a uma postura individualista,
ultraliberal, que reduz o Estado a um mero gendarme, como se cogitou no já longínquo passado,
sob a influência do pensamento dos fisiocratas franceses, que esgrimiam o mote laissez faire,
laissez passer, le monde va de lui même. Só que o mundo, como se sabe, jamais caminhou por si
mesmo. Até mesmo o planeta Terra, humilde corpo celeste perdido na vastidão do universo, se
move em razão das insondáveis forças gravitacionais.

Entendo que não há razão para retirar uma criança das escolas oficiais, públicas ou privadas, em
decorrência da insatisfação de alguns com a qualidade do ensino. A solução para essa pretensa
deficiência - que, aliás, não atinge as caríssimas escolas privadas frequentadas pela elite - seria
dotá-las de mais recursos estatais e capacitar melhor os professores, inclusive mediante uma
remuneração digna.

[...]

À luz do ideal republicano, a postura que a Constituição exige do cidadão é a de cobrança, de


luta pelo aprimoramento do ensino oficial, e não o de privar os filhos do necessário e salutar
convívio com seus semelhantes, onde serão expostos à diversidade. A alienação do indivíduo da
sociedade, sobretudo daquilo que ela tem de comum a todos os seus membros, como demonstra
a História, constitui uma ameaça ao progresso da coletividade e até mesmo à liberdade
individual.

Em outras palavras, numa democracia, a faculdade de indignar-se e de reivindicar integra o ideal


de autogoverno, servindo de verdadeira vacina para garantir a liberdade de todos. Ademais,
tenho para mim que, ainda que assim não fosse, o legislador tem reiteradamente assentado a
obrigatoriedade da educação básica.

[...]

Dessa forma, afigura-se, a meu ver, que o desígnio dos legítimos representantes do povo
brasileiro foi o de promover a integração de todos os cidadãos mediante a educação. Na situação
sob exame, não vejo razão nenhuma que justifique eventual ação contramajoritária desta Corte,
por não haver direitos ou valores de minorias injustamente ofendidos ou aviltados. Bem por isso,
considero que, em casos como este, emerge o dever de autocontenção do Supremo, em respeito
à vontade soberana do povo, manifestada na Constituinte de 1988.

[...]

Ante o exposto, por entender que o ensino domiciliar, ministrado pela família, não pode ser
considerado meio lícito de cumprimento do dever de prover a educação, previsto no art. 205 da
Constituição Federal, nego provimento ao recurso.

Há, portanto, entendimentos diversos no âmbito do Supremo Tribunal Federal, a revelar que o
julgamento de uma futura Ação Direta de Inconstitucionalidade em face de lei regulamentadora
terá desfecho incerto.
5. A tramitação da matéria no Senado Federal

O Projeto de Lei n° 1338, de 2022 (PL 3179/2012 na Câmara dos Deputados) foi encaminhado
ao Senado em maio de 2022, no último ano do governo Bolsonaro, que viria a ser derrotado nas
urnas. Foi despachado apenas para a Comissão de Educação e Cultura do Senado, em decisão
não terminativa, na qual o Senador Flávio Arns (PSB/PR) foi designado relator.

Na CE, a partir de iniciativa do então Senador Jean Paul Prates (PT/RN), aprovou-se um ciclo de
seis audiências públicas para instrução da matéria, como forma de aprofundar o debate sobre a
educação domiciliar e evitar uma célere deliberação da proposição. Durante o ano de 2022, três
das seis audiências públicas previstas foram realizadas.

Em 2023, eleito presidente da Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal, Flávio Arns
(PSB/PR) designou uma Senadora favorável à regulamentação da educação domiciliar como
relatora da proposição: a Senadora Professora Dorinha Seabra (UNIÃO/TO), que foi uma das
relatoras da matéria na Câmara dos Deputados, quando Deputada Federal.

Dorinha Seabra foi designada relatora da proposição em março de 2023, mas desde então não
promoveu uma única audiência pública na CE do Senado para debater a educação domiciliar.
Somente ao término de outubro de 2023 propôs uma única audiência pública para instrução da
matéria, com pouquíssimos convidados.

Por iniciativa da Senadora Teresa Leitão (PT/PE), no entanto, a Comissão de Educação e Cultura
do Senado aprovou um ciclo de três audiências públicas para instrução da matéria, de modo a
permitir a atualização do debate em um novo contexto político e evitar a célere deliberação da
proposição.

As audiências públicas para instrução da matéria já foram agendadas pela Comissão de Educação
e Cultura do Senado para os dias 01, 04 e 12 de dezembro de 2023, numa nítida tentativa de
acelerar o debate e a deliberação, em sintonia com a manifesta intenção da Relatora de colocar
o Projeto de Lei em votação ao apagar das luzes de 2023: quando as atenções da sociedade civil
organizada estão divididas entre o processo legislativo e as celebrações de fim de ano.

Caso seja objeto de modificações de mérito no Senado Federal, a matéria retornará à Câmara
dos Deputados, na qual as modificações serão acatadas ou rejeitadas. Caso seja aprovada sem
modificações no Senado, a proposição será remetida à sanção presidencial, podendo ser objeto
de veto total ou parcial do presidente Lula.

A sociedade civil pode e deve pressionar o Senado Federal para que a proposição seja debatida
também em outras comissões da Casa Legislativa, como a Comissão de Assuntos Sociais (CAS),
a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e a própria Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

6. Considerações finais

De acordo com a pesquisa nacional Educação, Valores e Direitos, coordenada pelo Cenpec e pela
Ação Educativa, e realizada pelo Datafolha e pelo Centro de Estudos de Opinião Pública
(CESOP/Unicamp), 78,5% da população discorda da ideia de que os pais devem ter o direito de
tirar seus filhos da escola e ensiná-los em casa; 9 em cada 10 pessoas concordam que as crianças
devem ter o direito de frequentar a escola mesmo que seus pais não queiram.

Em 2022, mais de 400 entidades assinaram o Manifesto Contra a Regulamentação da Educação


Domiciliar e em Defesa do Investimento nas Escolas Públicas 3. O manifesto está sendo atualizado
e será relançado por ocasião das audiências públicas no Senado Federal, com assinaturas de
mais de 1.000 entidades.

A pandemia de Covid-19, que provocou o fechamento das escolas em todo o país, representou
um laboratório forçado de educação domiciliar, e o resultado foi um déficit de aprendizagem
que o Brasil ainda não foi capaz de superar. 4

O Poder Legislativo deveria estar concentrado em elevar a qualidade da educação básica, que
abrange um universo de 47,4 milhões de estudantes em 178,3 mil escolas. Deveria estar
concentrado em ampliar o acesso à creche para crianças de 0 a 3 anos. Deveria estar
concentrado nas metas e estratégias do Plano Nacional de Educação, inclusive na ampliação do
investimento público em educação pública (Meta 20 do PNE). Ao invés disso, busca responder
aos anseios de um número extremamente limitado de famílias ultraconservadoras que negam
o direito de seus filhos à educação escolar, bem como aos anseios do mercado de produtos
educacionais que já se configura em torno do homeschooling.

Cabe-nos construir a resistência necessária, dentro e fora do Parlamento, para barrar os


retrocessos e retomar a agenda de avanços pactuada com a sociedade e sintetizada no Plano
Nacional de Educação (PNE).

_____________________________________________________________________________

3
Fonte: https://www.anped.org.br/news/manifesto-contra-regulamentacao-da-educacao-domiciliar-e-
em-defesa-do-investimento-nas-escolas
4
Fonte: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/09/19/deficit-na-alfabetizacao-dobrou-
com-a-pandemia
ANEXO 1

Abaixo, indicamos links importantes relativos à educação domiciliar:

UNICEF:

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/unicef-alerta-para-os-riscos-da-
educacao-domiciliar

CENPEC:

https://www.cenpec.org.br/noticias/nao-a-educacao-domiciliar

Defensores do homeschooling no Brasil recomendam castigos físicos de crianças:

https://apublica.org/2022/07/homeschooling-brasil-castigo-fisico-bater-aned-hslda/

Manifesto Contra a Regulamentação da Educação Domiciliar e em Defesa do Investimento nas


Escolas Públicas:

https://www.anped.org.br/news/manifesto-contra-regulamentacao-da-educacao-domiciliar-e-
em-defesa-do-investimento-nas-escolas

Oito em cada dez brasileiros demonstram rejeição a ensino domiciliar, diz Datafolha:

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/05/oito-em-cada-dez-brasileiros-
demonstram-rejeicao-a-ensino-domiciliar-diz-datafolha.shtml

Contra homeschooling, CNTE reforça que lugar de aprendizado é na escola:

https://www.cnte.org.br/index.php/menu/comunicacao/posts/noticias/76471-contra-
homeschooling-cnte-reforca-que-lugar-de-aprendizado-e-na-escola

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