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17/02/2023 19:35 Ainda que tímido, PLP 178/21 simplifica obrigações tributárias

OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS

Ainda que tímido, PLP 178/21 simplifica obrigações tributárias


Projeto aprovado na Câmara e que aguarda análise no Senado busca reduzir custos das empresas

ANA CAROLINA BONOME

Plenário do Senado. Crédito: Pedro França/Agência Senado

Nada é tão unânime quando se fala em reforma tributária no Brasil quanto a simplificação
do sistema e a diminuição dos custos de cumprimento das obrigações tributárias.

O relatório “Doing Business Subnacional Brasil 2021″, realizado pelo Banco Mundial e
divulgado em junho de 2021, demonstrou que o tempo gasto por empresas com
obrigações tributárias no Brasil varia de 1.483 a 1.501 horas por ano. O intervalo de tempo,
que considera o preparo, a declaração e o pagamento, é maior do que em qualquer outro
país do mundo. Tudo isso é resumido no “custo Brasil”, fator que desincentiva a
formalização, encarece produtos e serviços e resulta em perda de competitividade para as
empresas brasileiras.

Com o objetivo de facilitar o cumprimento dessas obrigações, foi aprovado na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei Complementar 178/2021 (PLP 178/2021) que cria o Estatuto
Nacional de Simplificação de Obrigações Tributárias Acessórias. Agora o projeto se
encontra no Senado para votação.

O PLP 178/2021 traz algumas inovações, como a instituição de um comitê para simplificar
o cumprimento das obrigações acessórias, a padronização de documentos fiscais via
instituição da Nota Fiscal Brasil Eletrônica (NFB-e) e a criação da Declaração Fiscal Digital
(DFD). A ideia é que a DFD unifique informações dos tributos federais, estaduais, distritais
e municipais, além da base de dados da Fazenda Pública da União e a dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.

Interessante ressaltar que PLP 178/2021 não abarca as obrigações tributárias acessórias
decorrentes dos impostos previstos nos incisos III e V do caput do artigo 153 da
Constituição Federal, quais sejam, o Imposto Sobre a Renda e o IOF.

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17/02/2023 19:35 Ainda que tímido, PLP 178/21 simplifica obrigações tributárias

O projeto também propõe que o novo sistema utilize dados de documentos fiscais para a
apuração de tributos, gerando declarações pré-preenchidas e as respectivas guias de
recolhimento, o que otimizaria a apuração e o pagamento, além de aumentar o controle
das autoridades fiscais, o que pode reduzir a sonegação, mas inibir planejamentos
tributários lícitos em temas que há divergência de entendimento entre contribuinte e fisco.

Há também a previsão da unificação de cadastros fiscais e seu compartilhamento em


conformidade com a competência legal, pela instituição do Registro Cadastral Unificado
(RCU) e a facilitação dos meios de pagamento de tributos e contribuições, por meio da
unificação dos documentos de arrecadação.

A unificação dos cadastros fiscais se daria pelo número de inscrição no Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica (CNPJ), ou o que vier a substituí-lo, como a identidade suficiente para
identificação da pessoa jurídica nos bancos de dados de serviços públicos, evitando assim
as burocracias estaduais e municipais de cadastros de contribuintes que, muitas vezes,
são entrave para pedidos de regime especial ou baixa do estabelecimento, por exemplo.

Para o autor do projeto, o então deputado Efraim Filho (União-PB), agora senador, a
cooperação fiscal seria melhor caminho para simplificação das obrigações tributárias
acessórias no Brasil e, neste sentido, possibilitaria a integração dos fiscos e contribuintes,
em uma aliança capaz de melhorar consideravelmente o ambiente de negócios do país,
com redução sensível do “custo Brasil”.

Se pensarmos por esse racional, na velocidade em que surgem as inovações tecnológicas,


proporcionar grandes possibilidades de compartilhamento e troca de informações fiscais
entre as administrações tributárias seria interessante para o Brasil, seja pela redução dos
custos de fiscalização, seja pela formação de um rico banco de dados nacional que
permitiria ao poder público traçar políticas públicas com maior precisão das reais e
prioritárias demandas, inclusive com uso de dados agregados por outros órgãos públicos.

Por outro lado, a concentração de informações e procedimentos significa uma maior


ingerência do fisco na vida empresarial. É um poder que pode ser pernicioso, se utilizado
com viés meramente de controle, imposição e arrecadação. Como sabemos, não são raros
os casos que as autoridades ultrapassam os limites definidos na Constituição e nas leis,
infringindo princípios de proteção do contribuinte.

O PL também ressente de algumas medidas que poderiam desburocratizar mais a rotina


dos contribuintes, ou seja, alterações não focadas no aumento dos controles, mas na
ampliação da confiança e na assunção de responsabilidades pelo próprio fisco. Um
exemplo seria utilizar a estrutura de dados de obrigações acessórias para reduzir as
hipóteses de responsabilização solidária hoje impostas aos contribuintes por
irregularidades de terceiros. Ou ainda, criar procedimentos entre os entes federativos para
unificação de entendimentos, evitando entraves que decorrem das divergências entre os
fiscos federal, estaduais e municipais. Ou mesmo automatizar algumas hipóteses de

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retenções – hoje confusas – sob a responsabilidade das autoridades tributárias e não de


quem realiza os pagamentos.

Enfim, ainda que tímido em algumas perspectivas, o projeto tem a intenção de simplificar
o ambiente de negócios no Brasil e reduzir os custos das empresas diante do excesso de
legislações tributárias e obrigações acessórias. A atenção da sociedade deve sempre estar
focada em como se proteger, visto que a concentração de poder e a ampliação do acesso
a dados, quando mal gerida, pode voltar-se contra os direitos e proteções dos
contribuintes.

ANA CAROLINA BONOME – Advogada tributarista no /asbz

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