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Chlamydia trachomatis

Esse bacilo gram-negativo é um parasita intracelular obrigatório e que infecta apenas


humanos; as bactérias dessa família, a Chlamydiaceae, são tão pequenas que até foram
consideradas como vírus. Porém, ao contrário dos vírus – e assim como demais
bactérias – elas têm ribossomos, sintetizam suas próprias proteínas, lipídeos e ácidos
nucleicos, têm membranas internas e externas, têm DNA e RNA e são afetadas por
antibióticos. Sua linhagem foi originalmente identificada pelo acúmulo de glicogênio
em inclusões citoplasmáticas e a sensibilidade ao antibiótico sulfadiazina. Além disso,
elas têm um ciclo de desenvolvimento diferente de outras bactérias e único entre os
procariotos, ao ter duas formas metabólicas: a inativa, infecciosa, denominada
corpúsculo elementar (CE, eosinofílicos) e as ativas, não infecciosas, os chamados
corpúsculos reticulados (CR, basofílicos). As proteínas OmcA e OmcB são importantes
para a estabilidade e impermeabilidade das EBs.

Os corpúsculos elementares nestas bactérias são bastante resistentes a fatores


ambientais. Eles não podem se replicar e não são metabolicamente ativos, mas são
capazes de se ligar aos receptores nas células humanas para sua captura. Quando são
capturados, os corpúsculos elementares são convertidos em corpúsculos reticulados, de
modo que podem se replicar. Os corpúsculos reticulados são frágeis osmoticamente, por
não possuem proteínas de ligação cruzada; porém, isso não é um problema, já que são
protegidos por estarem dentro da célula.
A replicação da Chlamydia trachomatis ocorre por um ciclo único de crescimento que
ocorre intracelularmente. Os corpúsculos elementares, que são viáveis fora da célula, se
aderem às microvilosidades de células epiteliais não ciliadas colunares, cuboides e de
transição, penetrando-as. Em 2002, ainda não havia sido identificadas estruturas de
adesina nessas bactérias com alta avidez ou seus receptores correspondentes, mas uma
teoria é de que há diversas ligações específicas mas fracas. Além disso, há evidência de
moléculas similares a heparan-sulfato na superfície de CEs de alguns serotípos de C.
trachomatis, sendo que o GAG similar a hepran-sulfato se liga ao receptor da célula
hospedeira e parece ser necessária para a entrada na célula. Os CEs também se ligam a
diversos GAGs sulfatados, presentes amplamente no corpo humano, podendo mediar a
adesão dos micróbios as células eucarióticas, havendo evidências de que o OmcB e o
MOMP servem de receptores para estes GAGs. A Hsp70, que não está exposta na
superfície celular, parece estabelecer uma interação mais íntima entre CEs e os ligantes
da célula hospedeira.
Quando são endocitadas, as bactérias continuam seu ciclo de replicação dentro dos
fagossomos. Os corpúsculos elementares com membrana externa intacta conseguem
inibir a fusão de lisossomos com fagossomos para a formação de fagolisossomos, de
modo a prevenir sua eliminação, funcionando como mecanismo de evasão.
Aparentemente, por ser similar a uma vesícula derivada do Golgi (mas anômala), a
inclusão (o fagossomo com CE ou CR, e que pode ser detectada histologicamente)
aparentemente não é percebida pela célula hospedeira como uma vesícula destinada a
fusão com lisossomo, pelo menos até mais tarde no ciclo de reprodução, o que constitui
uma diferença entre as clamídias da maioria dos parasitas intracelulares. No fagossomo,
os CEs são transportados até a região perinuclear. 6 a 8 horas depois, os corpúsculos
elementares se convertem em corpúsculos reticulados, que são maiores, tendo de 800 a
1000 nm (enquanto o CE tem de 300 a 400 nm). Os CRs têm a capacidade de se replicar
por fissão binária, e se converter novamente em corpúsculos elementares; essa
conversão ocorre 18 a 24 horas após a infecção, e, entre 48 e 72 horas, há rompimento
celular e liberação de bactérias para infecção de novas células e propagação da doença.
O rompimento ocorre porque, durante o ciclo, há aumento constante no tamanho das
inclusões, que contém CEs, CRs, formas intermediárias e grânulos similares a
glicogênios; além disso, em alguns serovares, eventualmente os fagossomos se fundem
com os lisossomos, e suas enzimas digerem o fagossomo e a membrana citoplasmática,
espalhando as bactérias no ambiente.
Além da lise celular, a replicação bacteriana também resulta no aumento da rigidez das
membranas celulares e dano ao DNA, por produção de radicais de oxigênio.

Essa foto pode ajudar nas animações 😊

Durante a transição de CEs para CRs, antes da síntese de MOMP, duas chaperonas são
sintetizadas, Hsp60 e Hsp70, duas proteínas de choque térmico que permanecem
confinadas nas inclusões durante o ciclo de desenvolvimento, sendo que a primeira
estimula a inflamação mononuclear intensa. Outras quatro proteínas são sintetizadas
mais tarde no ciclo de desenvolvimento: OmcB, OmcA e Hc1 e Hc2, duas proteínas
eucarióticas similares a histona H1, que são expressas no momento em que o DNA da
bactéria está sendo compactado.
Embora as Chlamydiae compartilham diversas características de bactérias de vida livre,
mas possuem um traço distinto. Esta bactéria utiliza o ATP da célula hospedeira para
satisfazer sua necessidade de energia, pois tem baixa capacidade de produção
energética; algumas cepas das bactérias podem também se utilizar de aminoácidos
específicos do hospedeiro. Por utilizar o ATP como fonte de energia (assim como GTP
e UTP), são consideradas “parasitas de energia”. É importante também notar o tropismo
que a C. trachomatis apresenta pelo epitélio conjuntivo e genital.
Murray, 7ª Ed
Cevenini R, Donati M, Sambri V. Chlamydia trachomatis - the agent. Best Pract
Res Clin Obstet Gynaecol. 2002 Dec;16(6):761-73. doi: 10.1053/beog.2002.0323.
PMID: 12473280.

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