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Dezembro 2014 | ano VII • nº 84

LICICON
Revista de Licitações e Contratos
Cadastro de reserva x direito à nomeação do candidato.
Apontamentos sobre repactuação.
Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT).
Atividades de Fiscalização e Supervisão dos contratos -
Considerações.
realizadas por Agentes administrativos distintos – princípio
Decreto Federal
da segregação 8.241/14. Aditivos contratuais. Limites.
de funções.
Art. 29 do Decreto Federal 8.241/14. No âmbito das
Contratos. Prazo deefetivadas
contratações vigência. Contratos por escopo
pelas fundações x
de apoio, os
contratos de execução continuada.
limites impostos, para fins de aditivos contratuais, pelo
art. 65 da LeiProrrogação
Credenciamento. 8.666/93 nãodese aplicam.
apenas Considerações
alguns contratos
importantes.
Elaboração das especificações técnicas e cotação de preços
Elaboração do orçamento estimado. Fontes de pesquisa.
para aquisição de equipamentos. Necessária identificação de
Ausência de formatação específica para verificação dos
padrões representativos de todos os modelos.
preços.
Inexigibilidade de licitação. Contratação de instituição
Globalização. Impacto ao conceito de Constituição
financeira para concessão de crédito.
Econômica.
Portaria 86/14 da Secretaria de Logística e Tecnologia da
Serviços contínuos. Prorrogação do contrato.
Informação (SLTI).
Necessidade ou não de previsão no edital e no contrato
respectivo.
Princípio da Legalidade e sua aplicação aos Concursos
Públicos.
Processo administrativo. Rescisão unilateral.
Qualificação
Softwareeconômico-financeira e o conceito
Robô. Art. 2º da IN 03/11 SLTI/MPOG, alterada
“compromissos assumidos”, da Instrução
pela IN 03/13 SLTI/MPOG: em caso de Normativa 06/13.
falha no sistema,

12
os lances
Serviços em desacordo
de terceirização comdea obra.
de mão normaRestrição
deverão ao
ser
desconsiderados pelo Pregoeiro, devendo a ocorrência
somatório de atestados de capacidade técnico-operacional:
ser comunicada
possibilidade imediatamente à Secretaria de Logística
e impossibilidade.
e Tecnologia da Informação. Análise, por parte do
Pregoeiro, após a fase de lances/disputa: ilegalidade.
LicicoN
Revista de Licitações e Contratos

Declaração Universal dos Direitos Humanos


Dia 10 de dezembro comemora-se o dia dos Direitos Humanos. Como se
sabe os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles
direitos inerentes ao ser humano.
O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode
desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional
ou condição de nascimento ou riqueza.
Os direitos humanos são garantidos legalmente pela Lei de Direitos
Humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem
nas liberdades fundamentais e na dignidade humana.1

1 Disponível em: <http://www.dudh.org.br/definicao/>.


LicicoN
Revista de Licitações e Contratos
Instituto Negócios Públicos do Brasil

A LICICON é editada mensalmente pela equipe jurídica


do Grupo Negócios Públicos. Dezembro de 2014
Presidente
Rudimar Barbosa dos Reis A alvorada do fim de ano se anuncia. Um ano se
Vice–Presidente vai para que outro se inicie. É tempo de equacionar
Ruimar Barboza dos Reis os louros da vitória e os petardos do insucesso. A
Diretor trajetória da Licicon, ao longo do ano que se despede,
Rubim Fortes foi de construção e reestruturação. Reestruturação
rubim@negociospublicos.com.br
das formas de integração do conhecimento por meio
Diagramação
da construção de pontes entre o saber e o leitor.
Caroline Votto
A convite do adágio popular, para fechar essa edição
Consultoria Jurídica
Rogério Corrêa com chaves de ouro, a seção Doutrina aborda a
OAB/PR 36.981 questão da Globalização e seu impacto sobre o
Diretor Técnico/Consultoria conceito de Constituição Econômica – influência nas
Elaine Cristina Bertoldo formas de organizações econômicas.
OAB/PR 44.585
A Jurisprudência Comentada analisa a questão da
Juliana Miky Uehara
OAB/PR 64.565
contratação de serviços hoteleiros de hospedagem
Larissa Panko por intermédio de agências de turismo.
OAB/PR 45.890 A seu turno o Edital Comentado aborda a (in)
Melissa de Cássia Pereira compatibilidade da modalidade escolhida (Pregão)
OAB/PR 48.147
com o objeto licitado. Já a seção Jurisprudência em
Colaboradores Foco envereda seus estudos para a seara da rescisão
Alessandro Dantas Coutinho
unilateral e o processo que lhe é consectário.
Luciano Elias Reis
Ronny Charles Lopes de Torres A seção Concurso Público examina as questões
Revisão
atinentes ao Cadastro de Reserva. E a Arena enfrenta
Consultoria NP a necessidade de disposição editalicia expressa
Restrições ao Uso de Materiais
enquanto conditio sine qua non para o aperfeiçoamento
Este produto pertence e é operado pelo Instituto Negócios Públicos. Nenhum material, da prorrogação de contratos de serviços contínuos.
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ISSN 1984371–2
Dez 2014 | nº 84 | ano VII
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A parceria entre o Instituto Negócios Públicos e a Gráfica Capital, para a impressão da LICICON – Revista de Licitações e
Contratos – foi realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação
e tratamento de efluentes. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é reciclado por empresa
especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe
uma preocupação Gráfica/Instituto Negócios Públicos com os resíduos gerados.

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Sumário
Pareceres Jurídicos ................................................................................08
1 Estabelecimento em edital do valor/percentual máximo a ser cotado a título de taxa administrativa. 09
2 Limitação de número de empresas por consórcio. 17
3 Contrato de fornecimento. Prorrogação da vigência contratual. 25
4 Pregão eletrônico. Utilização de software Robô. Regras impostas pela IN 03/11 SLTI/MPOG, alterada pela
IN 03/13 SLTI/MPOG. 31
5 Visita à sede do licitante. 37

Respostas Objetivas .................................................................................42


1 Solicitamos esclarecimentos quanto à obrigatoriedade de divulgação do valor estimado em edital de Pregão:
conforme entendimento do TCU, a divulgação do referido valor é facultativa; no entanto, se algum licitante
solicitar esclarecimento sobre tal valor, somos obrigados a informar? 43
2 Em uma Concorrência podemos considerar válidos documentos fiscais com endereços da empresa
diferentes? Por exemplo: Certidão do FGTS com um endereço e Certidão deTributos Municipais com outro,
ambas com o mesmo CNPJ? Todos os documentos da empresa não devem constar do mesmo endereço? 46
3 Gostaríamos de saber se existe alguma hipótese em que é dispensável a nomeação de fiscais, considerando
também os casos em que não há formalização de contrato. 49
4 Em um Pregão eletrônico, observamos que a fase de lances aleatórios foi muito curta apesar de termos
uma concorrência acirrada. Entendemos que poderíamos obter um valor menor, apesar de a primeira
colocada já estar abaixo do estimado. Tentamos negociar com a primeira colocada, ao que não obtivemos
êxito. Optamos, então, em abrir oportunidade para que todos os participantes oferecessem propostas
com valores menores que o menor valor alcançado na fase aleatória. Obtivemos duas propostas no prazo
limite estipulado. Uma da primeira colocada, que ofereceu o valor de R$ 171.000,00 e outra empresa
que ofertou o valor de R$ 101.000,00. Como terceiro passo, oferecemos à primeira colocada no Pregão
a oportunidade de cobrir a oferta de R$ 101.000,00, o que não ocorreu. Perguntamos: houve alguma
irregularidade neste procedimento? 51
5 Numa pesquisa de mercado para formação do preço de referência, realizada unicamente por meio de sites,
devem ser desconsiderados os preços promocionais. Mas como deve o Órgão proceder em relação aos
fretes cobrados, considerando principalmente o fato de os valores variarem demasiadamente? 53
6 Tenho o requerimento de um Sindicato estadual que representa as empresas de construção pesada no
Estado. Ele solicita a disponibilização dos dados (nome, endereço, telefone e CNPJ) das empresas que
estão executando obras para o DER. Gostaria de saber se existe amparo legal para o fornecimento
ou não desses dados particulares. 56
7 Esta Administração Pública está querendo realizar uma festa para os seus servidores e, para tanto, pretende
custear parte da festa (custear apenas o local do espaço físico, o DJ e a comida que ao total dá em
torno de R$ 60 mil). Muito embora tenhamos notícias de que existem julgados nos Tribunais de Contas
que não pode ante a ausência de interesse público, gostaríamos de saber se Vossas Senhorias possuem
conhecimento de entendimentos jurisprudencial e doutrinários ao contrário (e, em caso afirmativo,
solicitamos a gentileza de transcrevê-los). 58
8 Quando da abertura do processo administrativo para aplicação de multas previstas no contrato, adotamos
o seguinte procedimento: primeiro, é feito um comunicado para defesa prévia do fornecedor em relação
à irregularidade ocorrida, a memória de cálculo conforme previsão contratual, a citação das alíneas não
atendidas e a concessão do prazo de defesa previsto no art. 87, §2º, da Lei 8.666/93. Após a análise da
defesa prévia, caso a mesma seja indeferida, será dada continuidade ao processo com o envio da notificação
da penalidade com o direito ao recurso previsto no art. 109 da Lei 8.666/93 e neste momento, caso o
fornecedor possua créditos vincendos junto à Administração, é lançado o valor da multa no sistema de
pagamentos para a realização do bloqueio, que será efetivado quando da liberação do crédito ao fornecedor.
A nossa dúvida é: podemos fazer o lançamento do bloqueio de créditos vincendos simultaneamente com a
notificação, ou deve ser concluído toda a fase recursal? 61
9 Entidade pertencente ao Sistema S questiona: é possível fazer acréscimo contratual para aumentar a
quantidade do objeto a ser entregue quando o prazo contratual de entrega dos equipamentos já está
encerrado e os equipamentos constantes do contrato já foram entregues, estando em vigor, contudo, os
prazos de garantia e suporte técnico dos equipamentos e, por isso, também a vigência contratual? 63
10 É correto utilizarmos o limite de valor estabelecido na Lei 8.666/93 para formalizar os aditivos de valor nos
contratos decorrentes de contratação realizada com base no Decreto 8.241/14 ou será de conveniência da
Fundação estabelecer tais limites? 65

Edital Comentado ................................................................................67


(IN) Compatibilidade da Modalidade escolhida (Pregão) com o objeto licitado: classificação de bens e serviços
comuns. Edital de Pregão Presencial nº 14/2014. 68

Jurisprudência Comentada ....................................................................74


Contratação de serviços hoteleiros/de hospedagem por intermédio de agência de turismo. 75

Jurisprudência Selecionada ..................................................................111


1 TCU – Acórdão 2.674/14 - Plenário

Licitação. Parecer Jurídico. Utilização de minuta-padrão. Exceção. Quando houver identidade do objeto e não
restarem dúvidas acerca da possibilidade de adequação das cláusulas exigidas no contrato e às previamente
estabelecidas. 112

2 TCU – Acórdão 2.387/14 - Plenário

Pregão. Contratação de serviços terceirizados. Impossibilidade de somatório dos Atestados de Capacidade


Técnica. 118

3 TCU – Acórdão 2.318/14 - Câmara

Licitação. Exigência de habilitação. Certificação do INMETRO. Aquisição de bens ou contratação de serviços


de informática e automação. Ilegalidade. Restrição do caráter competitivo do certame. 132
Doutrina ...........................................................................................155
1 Considerações sobre a Certidão Negativa de débitos Trabalhistas (CNDT). 156
2 Globalização e seu impacto sobre o conceito de Constituição Econômica. 162

Jurisprudência em Foco ............................................................................168


A Rescisão Unilateral e o Processo Administrativo. 170

Concurso Público .........................................................................................175


Entendendo o cadastro de reserva e quando ser aprovado no mesmo gera direito à nomeação do candidato. 176

Orientação Técnica ................................................................................182


Contratação direta de Profissional do setor Artístico: apontamentos importantes 183

Arena ...................................................................................................194
A possibilidade de prorrogação do contrato de serviços contínuos deve estar prevista no edital e no contrato
respectivo? 195

Índice Remissivo .....................................................................................197


Pareceres
Jurídicos

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Pareceres Jurídicos

Assunto
Estabelecimento em edital do valor/percentual máximo a ser cotado a título de taxa
administrativa.

Legislação Aplicável
Constituição da República. Lei 8.666/93.

Ementa
Fornecimento de vales/tíquetes alimentação e refeição. Critério de julgamento a ser
adotado. Taxa de administração. Conceituação. Taxas zero ou negativas. Possibilidade.
Entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU) (referencial). Propostas
comerciais. Estabelecimento em edital do valor/percentual máximo a ser cotado a título
de taxa administrativa. Lei 8.666/93, art. 40, inc. X: possibilidade, a priori. Conflito em
potencial com o Princípio Constitucional da Livre Iniciativa. Deslinde final a ser adotado
pela Administração Consulente de forma devidamente motivada. Recomendação de
consulta ao Tribunal de Contas respectivo.

Nestes certames, cujo julgamento


I Consulta
habitualmente é através da menor
“É possível que a Administração es- taxa de administração ou maior per-
tabeleça nos editais para contrata- centual de desconto ofertado sobre
ção de empresa para fornecimento a planilha da Administração, as em-
presas apresentam suas propostas
de vales/tíquetes alimentação e
com valores atrativos para órgão
refeição, as taxas máximas a serem
público, comprovando sua exequi-
praticadas no mercado, ou seja, as
bilidade. Porém, temos observado
taxas que serão cobradas dos esta- que estes descontos/taxas de admi-
belecimentos que integrarão a rede nistração são repassados ao esta-
credenciada da empresa vencedora belecimento credenciado, que, em
do certame? Há algum entendimen- muitos casos, não consegue manter
to dos Tribunais de Contas sobre o o credenciamento por considerar as
assunto? taxas praticadas ‘abusivas’.

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Pareceres Jurídicos

Com o intuito de favorecer maior tro da melhor expectativa ao interes-


competitividade, sob orientação dos se público.
Tribunais de Contas, suprimimos exi- (...)
gências editalícias, favorecendo as
A taxa de administração, portanto,
empresas fornecedoras de vales/tí-
é um plus, incidente sobre o valor de
quetes alimentação de menor porte "venda" de determinado labor ou
a participarem do certame. Porém, produto, a fim de que o particular
essas empresas não favorecem o se sinta incentivado e compensado
comércio local de menor porte, uma pela contratação com a Adminis-
vez que cobram tarifas que afastam tração Pública. Se tomada material-
este comércio, ficando os empre- mente, significa a exata quantidade
gados da Administração reféns de de valores ou bens materiais que
grandes redes de restaurantes e excedem ao valor de custo do con-
mercados.” trato; alguns, contudo, tomam-na
em acepção formal, como "um per-
centual" que, do mesmo modo, fará
II Resposta acrescentar aquele plus (ou exceden-
O mote do questionamento apre- te sobre preço de custo).
sentado pelo Consulente alude à De um modo ou outro, sua sistemá-
possibilidade da Administração Li- tica de incidência é bastante simples.
citadora estabelecer em edital os Principalmente, nos procedimentos
preços máximos que serão pratica- licitatórios, em que os ofertantes jun-
dos pelos licitantes, em contratação tam planilhas de composição de pre-
voltada ao “fornecimento de vales/ ços: a licitante apresenta tudo aquilo
que compõe os seus custos, soman-
tíquetes alimentação e refeição”, no
do salários, vantagens decorrentes
que diz respeito às “taxas máximas de leis e normas trabalhistas; outras
a serem praticadas no mercado, ou espécies de remuneração; encargos
seja, as taxas que serão cobradas e emolumentos; tributos devidos
dos estabelecimentos que integra- pela execução do objeto contratual;
rão a rede credenciada da empresa materiais descartáveis, perecíveis ou
vencedora do certame”, no caso, as com necessidade de reposição; en-
chamadas taxas de administração. fim, todas as formas de suas despe-
Sobre esta parcela de custos, a fim sas. Sobre esse montante, que estará
de melhor contextualizar a matéria, sobre sua responsabilidade, aplica
um percentual que acha gratificante
vejamos as seguintes informações:
o bastante para que consiga executar
é o instituto jurídico que viabiliza as o objeto contratual dentro da melhor
terceirizações para prestação e con- expectativa, sob penas de lei. O valor
tinuidade plenos dos serviços públi- final será exatamente o quanto se
cos, para que se atenda ao princípio repassa à Empresa que, após custear
da eficiência. Sua natureza jurídica, suas despesas e cumprir suas obriga-
muito embora aplicada aos contratos ções, aufere seu justo lucro. 1
públicos, é originalmente privada e
deve seguir as normas particulares 1 GUERRA, Arthur Magno e Silva. Taxa de
de conveniência e oportunidade das administração no contrato administrativo
Empresas, para o oferecimento de - natureza jurídica e forma de incidência.
seus serviços, visando a atender den- Revista Jus Navigandi. 2011. Disponível em:

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Pareceres Jurídicos
Dito isso, embora a Administração 6. O mesmo ocorre com o forneci-
Consulente não se submeta ao con- mento de combustíveis ou de vales-
trole do Tribunal de Contas da União refeições, em que idêntico critério
(TCU), interessante mencionar, ainda de julgamento é empregado e o en-
tregador final do produto demanda-
que a título ilustrativo, alguns julga-
do não é o distribuidor de combus-
dos e referências de casos práticos, tíveis ou a empresa de vales, mas o
os quais, em seu contexto geral de posto de gasolina ou o restaurante
informações, poderão ser úteis à in- credenciados em que o abasteci-
teligência do conceito de taxa de ad- mento de cada veículo e consumo
ministração. Nesse sentido, veja-se: de cada refeição é feito.
3. É preciso destacar, inicialmente, 7. Esta similitude com outros tipos
que o objeto a ser contratado difere de certame afasta a segunda crítica
daquele que a administração usual- feita ao modelo, a de que não have-
mente demandava, a manutenção ria definição precisa do valor total do
veicular diretamente efetuada por contrato e dos preços a serem prati-
uma única oficina mecânica. No novo cados pelo fornecedor final do bem
modelo, o serviço demandado é de demandado. Tais peculiaridades, en-
administração e gestão da manu- tretanto, também ocorrem nos con-
tenção, o que significa que o con- tratos de fornecimento de passagens
tratado não será responsável direto aéreas e de combustíveis e as dificul-
pela execução dos serviços mecâni- dades delas decorrentes são sanadas
cos necessários. pela utilização de valores estimados,
prática que este Tribunal tem rotinei-
4. Por tal motivo, é adequado o uso
ramente admitido e que se repete no
do valor da taxa de administração
certame em foco.
como critério de julgamento. Não se
trata, aliás, de nenhuma inovação, já 8. Exatamente porque o mesmo
que tal sistemática têm sido rotinei- critério de julgamento tem sido
ramente empregada - sem qualquer corriqueiramente empregado em
crítica desta Corte sob este aspecto, outras licitações sem qualquer
friso - em licitações para contrata- censura desta Corte, também não
ção de serviços de gerenciamento procede o reparo de que a taxa de
em que o contratado não é o forne- administração corresponderia a
cedor direto do bem ou serviço final uma fração diminuta do valor global
demandado pela administração. do contrato, já que esse pequeno
peso relativo se repete em qualquer
5. É o caso, por exemplo, dos certa-
contratação de serviços realizada
mes para contratação de serviço de
na forma ora em exame e que não
fornecimento de passagens aéreas,
é possível, em princípio, vislumbrar
em que as agências de viagens, que
critério alternativo adequado para
não são as fornecedoras do serviço
remunerar os serviços do gestor
de transporte aéreo demandado
contratado2 (sem grifos no original).
pelo poder público, são selecionadas
com base no valor da taxa de admi- A oferta de taxa de administração
nistração que cobram. negativa ou de valor zero, em pre-

<http://jus.com.br/revista/texto/16528/ 2 TCU. Acórdão 2.731/09. Órgão Julgador:


taxa-de-administracao-no-contrato-admi- Plenário. Relator: Ministro Marcos Bem-
nistrativo>. Acesso em: 13/10/14. querer Costa. DOU 20/11/09.

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Pareceres Jurídicos

gão para prestação de serviços de Veja-se, pois, o teor da referenciada


fornecimento de vale-alimentação, Decisão 38/96 – Plenário, do TCU (a
não implica inexequibilidade da res- título referencial):
pectiva proposta, a qual só pode ser
aferida a partir da avaliação dos re- Relatório: (...)
quisitos objetivos especificados no Representação de licitante dando
edital da licitação. conta de irregularidades em pro-
(...) cedimento licitatório, relativa à ad-
missibilidade, pela Caixa Econômica
Rememorou o teor da Decisão nº Federal-CEF, de taxas de administra-
38/1996 – Plenário, por meio da qual ção negativas ou zero em certame
o Tribunal decidiu: “deixar assente para contratação de fornecimento
que, no que pertine às licitações des- de Vales-Refeição, frente a proibi-
tinadas ao fornecimento de vales- ção contida no §3º do art. 44 da Lei
-refeição/alimentação, a admissão nº 8.666/93. Improcedência. Deixar
de ofertas de taxas negativas ou de assente que a admissão de taxas
valor zero, por parte da Administra- negativas ou de valor zero, no con-
ção Pública, não implica em violação cernente às licitações destinadas ao
ao disposto no art. 44, §3º, da Lei fornecimento de vales-refeição, não
nº 8.666/93, por não estar caracte- implica em violação ao citado artigo
rizado, a priori, que essas propostas legal, por não estar caracterizado,
sejam inexequíveis, devendo ser ave- "a priori", que essas propostas se-
riguada a compatibilidade da taxa jam inexeqüíveis, devendo ser ave-
oferecida em cada caso concreto, a riguada a compatibilidade da taxa
partir de critérios objetivos previa- oferecida em cada caso concreto, a
mente fixados no edital”. (...) partir de critérios objetivos fixados
O Tribunal, então, ao acolher pro- no edital4 (sem grifos no original).
posta do relator, quanto ao aspecto Desse modo, percebe-se que se o
acima enfocado, decidiu determinar
particular oferece proposta com va-
ao SESCOOP-SP que, em futuras lici-
lor igual a zero ou próximo de zero,
tações: “salvo quando houver com-
provada e justificada inviabilidade, mas pode obter remuneração de
passe adotar o entendimento firma- outras maneiras, a regra geral do art.
do na Decisão nº 38/1996-Plenário, 44, §3º, da Lei 8.666/93, não lhe será
no sentido de que a apresentação imposta. Segundo esse dispositivo
de ofertas de taxas de administra- legal:
ção negativas ou de valor zero não
Art. 44 - No julgamento das propos-
torna as propostas inexequíveis,
tas, a Comissão levará em conside-
devendo ser averiguada a compati-
ração os critérios objetivos definidos
bilidade da taxa oferecida em cada
no edital ou convite, os quais não
caso concreto, a partir de critérios
devem contrariar as normas e prin-
objetivos previamente fixados no
cípios estabelecidos por esta Lei. (...)
edital3 (sem grifos no original).
§3º Não se admitirá proposta que
3 TCU. Acórdão 1.034/12. Órgão Julga- apresente preços global ou unitá-
dor: Plenário. TC 010.685/2011-1. Rela-
tor: Ministro Raimundo Carreiro. Sessão: 4 TCU. Decisão 38/96. Órgão Julgador: Ple-
02/05/12. In: TCU. Informativo de Licitações nário. Relator: Ministro Adhemar Paladini
e Contratos nº 104. Ghisi. DOU 04/03/96.

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Pareceres Jurídicos
rios simbólicos, irrisórios ou de valor cos ou faixas de variação em relação
zero, incompatíveis com os preços a preços de referência, ressalvado o
dos insumos e salários de mercado, disposto nos parágrafos 1º e 2º do
acrescidos dos respectivos encar- art. 48 (sem grifos no original).
gos, ainda que o ato convocatório
da licitação não tenha estabelecido Da exegese do supracitado coman-
limites mínimos, exceto quando se do normativo, tem-se que é permi-
referirem a materiais e instalações tida a fixação de preço máximo (ou
de propriedade do próprio licitante, desconto mínimo, conforme for o
para os quais ele renuncie a parcela caso) no edital, o que permite dizer
ou à totalidade da remuneração. que os licitantes que ofertarem pre-
Pois bem. Uma vez apresentado ços superiores terão suas propostas
este breve panorama no que tan- desclassificadas. O preço máximo
ge à contratação de empresa para é estabelecido com base no preço
fornecimento de vales/tíquetes ali- referencial ou valor estimado da
mentação e refeição, bem como, no contratação, obtido por meio de
que diz respeito à figura da taxa de pesquisa de mercado e junto a ou-
administração; voltemo-nos, especi- tras Administrações. No tocante ao
ficamente, ao deslinde do questio- preço mínimo, a seu turno, é vedada
namento ora apresentado, qual seja, sua fixação, salvo, por certo, em lici-
se em tratativas dessa natureza é tações para alienações, concessões
possível que a Administração Consu- ou permissões, em que a vantagem
lente estabeleça em seus editais, “as da oferta é avaliada em face do valor
taxas máximas a serem praticadas mínimo fixado.
no mercado, ou seja, as taxas que se-
rão cobradas dos estabelecimentos Observa-se, então, a abertura legis-
que integrarão a rede credenciada lativa para que as entidades licita-
da empresa vencedora do certame”. doras fixem em seus editais, o preço
Neste sentido, vejamos o que dispõe máximo a que se dispõem a pagar
o inc. X, do art. 40, da Lei 8.666/93: por uma determinada contratação.
Cumpre, então, avaliar a possibili-
Art. 40 - O edital conterá no preâm-
dade de avaliá-lo não com relação
bulo o número de ordem em série
anual, o nome da repartição de seu à contratação como um todo, mas
setor, a modalidade, o regime de com relação a cada uma das parce-
execução e o tipo da licitação, a men- las que integrem a composição de
ção de que será regida por esta Lei, seu preço final. Esclarece-se, então,
o local, dia e hora para recebimento desde logo, que da leitura do coman-
da documentação e proposta, bem do normativo supra, inexiste óbice
como para início da abertura dos en- legal, a priori, para tanto. Acerca
velopes, e indicará, obrigatoriamen-
disso, tratando especificamente de
te, o seguinte: (...)
contrato envolvendo a execução de
X - o critério de aceitabilidade dos obra, assim se pronunciou o Tribunal
preços unitário e global, conforme de Contas da União (TCU) (a título re-
o caso, permitida a fixação de pre-
ferencial), observe-se:
ços máximos e vedados a fixação de
preços mínimos, critérios estatísti- Relatório: (...)

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6.2. Colimando o edital publicado não há razão para admissão de pre-


com o disposto nos incisos do art. 44 ços em substancial desacordo com
da Lei nº 8.666/93, após transcrição estimativas que, em princípio, deve-
dos itens 8.1 a 8.10 do edital, pode- riam refletir os valores de mercado;
se observar que ele trouxe várias (iii) permitiu a ocorrência de sobre-
exigências no tocante à aceitação preço;
de preços unitários e globais, consi-
derados conforme a sua condição: (iv) não teve seu fundamento esta-
inexeqüíveis, simbólicos, irrisórios ou tístico, matemático ou econômico
de valor zero, ofertas de vantagens, demonstrado, o que impede que seja
omissão na cotação, discrepâncias considerada critério adequado de
entre preços unitários e totais dos aceitabilidade de preços;
itens e discrepâncias entre o conteú- (iv) está em desacordo com orienta-
do da Planilha de Preços e o de outra ção desta Corte (acórdão 354/2008
parte da Proposta e que fixou, ainda, - Plenário) no sentido de que seja evi-
um critério de preço máximo para tada a fixação de critérios de aceita-
um dos itens da Planilha. bilidade que permitam a proposição
6.3. A fixação de preço máximo tra- de preços excessivamente distancia-
ta-se de uma faculdade prevista na dos dos de mercado;6
Lei e que não se constitui, portanto, Voto: (...)
em irregularidade o fato de Furnas
ter optado por não fixar, no Edital A Administração não pode estabele-
cer preço máximo, como critério de
CO.APR.T.009.2005, preço máximo
aceitabilidade dos preços unitário
para todos os itens5 (sem grifos no
e global, superior ao valor orçado.
original).
Quando a Administração verifica ser
Observem-se, ainda, as seguintes possível contratar por determinado
manifestações do TCU (a título re- valor, não há razão para a Adminis-
ferencial), relativamente à temática tração admitir propostas com valo-
em apreço, nas quais se verifica tan- res mais elevadas.
to situações nas quais a fixação de O estabelecimento de preços máxi-
preço máximo foi objeto de críticas mos não é sucedâneo de orçamentos
por parte da Corte de Contas Fede- precisos. Os orçamentos, elaborados
ral, quanto outras em que tal prática pela Administração, devem retratar
os valores efetivamente praticados
queda-se enaltecida:
no mercado.
Voto: (...)
Se a Administração reconhece que
c) a previsão de preços máximos: os valores constantes do orçamento
não refletem os preços praticados
(i) na prática, terminou por criar uma
pelo mercado - caso, por exemplo, de
faixa de variação de preços, já que
defasagem dos valores utilizados em
todos os licitantes apresentaram co-
razão de alta inflação e do expressivo
tações acima do preço estimado;
aumento superveniente do preço de
(ii) está em desacordo com os princí- itens de custo ou da carga tributária
pios da eficiência e da legalidade, eis incidente diretamente sobre a exe-

5 TCU. Acórdão 762/07. Órgão Julgador: Ple- 6 TCU. Acórdão 378/11. Órgão Julgador: Ple-
nário. Relator: Ministro Raimundo Carreiro. nário. Relator: Ministro Aroldo Cedraz. DOU
DOU 04/05/07. 23/02/11.

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cução do objeto contratado - não é taxas abusivas, não nos parece que
caso de admitir propostas acima do tal intento esteja de fato refletindo
orçamento, mas de ajustá-lo, justifi- as finalidades pretendidas pelo legis-
cando o procedimento. (...) lador ao instituir este expediente.
A utilização de preços máximos se
Outrossim, para além desta inter-
justifica, porque o orçamento utili-
pretação finalística da norma, ou-
za a mediana ou a média dos custos
obtidos por meio de sistemas de re-
tro fator igualmente parece militar
ferência ou de pesquisa de mercado. contrariamente ao procedimento
Sabendo a Administração que há cuja adoção pretende a Entidade
agentes dispostos a ofertar o servi- Licitadora, a saber: apenas a parce-
ço/produto por preços mais baixos la da contratação referente à taxa
do que os orçados, pode optar por de administração seria variável. Isto,
fixar preços máximos abaixo desses partindo da premissa que a parcela
valores, para assegurar a apresenta- remanescente reflita os exatos gas-
ção de propostas mais baixas. tos de seus servidores com alimenta-
Somente é lícito contratar por valo- ção. Deste modo, a fixação de preço
res superiores aos orçados nos ca- máximo para tal custo do preço final
sos em que a Administração verifica estaria, ainda que indiretamente, fi-
tarde demais, para ajustar o orça- xando a própria margem de lucro do
mento, que os preços orçados não Contratado. Estar-se-ia, então, dian-
correspondem aos de mercado. Tal te de aparente afronta ao Princípio
circunstância, entretanto, deve ser
da Livre Iniciativa, consagrado pela
devidamente demonstrada pela Ad-
própria Constituição da República.
ministração nos autos do processo
licitatório.7 Assim, de posse de tais informações,
caberá à Administração Consulente,
Do que foi dito, abstrai-se, então, ponderar no caso concreto, se a fi-
que com a fixação de preços máxi- xação de preço máximo para a par-
mos ora pretende a Administração cela da contratação em destaque de
assegurar-se de que terá dotação fato se mostra necessária e mesmo
orçamentária suficiente para paga- oportuna. Recomendando-se, neste
mento do Contratado8, ora pretende sentido, antes da adoção de um po-
acautelar-se quanto à ocorrência de sicionamento terminativo por parte
jogo de planilhas. Tomando, então, da Administração Consulente, a for-
por cerne que na situação narrada mulação de consulta direta ao seu
pela Administração Consulente, respectivo Tribunal de Contas.
pretende-se mediante a fixação de
preço máximo evitar a cobrança de II Síntese conclusiva
7 TCU. Acórdão 6.456/11. Órgão Julgador: Face tudo quanto exposto, respon-
Primeira Câmara. Relator: Ministro Wal- dendo objetivamente ao questiona-
ton Alencar Rodrigues. DOU 16/08/11. mento formulado pelo Consulente,
qual seja, se em contratações des-
8 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei
tinadas ao fornecimento de vales/
de Licitações e Contratos Administrativos.
16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
tíquetes alimentação e refeição, é
2014. p. 731. possível que a Administração Consu-

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lente estabeleça em seus editais, “as preço máximo evitar a cobrança de


taxas máximas a serem praticadas taxas abusivas, não nos parece que
no mercado, ou seja, as taxas que se- tal intento esteja de fato refletindo
rão cobradas dos estabelecimentos as finalidades pretendidas pelo le-
que integrarão a rede credenciada gislador ao instituir este expedien-
da empresa vencedora do certa- te.
me” temos que, considerando-se o
disposto no inc. X, do art. 40, da Lei Outrossim, para além desta inter-
8.666/93, é permitida a fixação de pretação finalística da norma, ou-
preço máximo (ou desconto míni- tro fator igualmente parece militar
mo, conforme for o caso) no instru- contrariamente ao procedimento
mento convocatório, o que permite cuja adoção pretende a Entidade
dizer que os licitantes que ofertarem Licitadora, a saber: apenas a parce-
preços superiores terão suas propos- la da contratação referente à taxa
tas desclassificadas. de administração seria variável. Isto,
Observe-se, então, a existência de partindo da premissa que a parcela
abertura legislativa para que as en- remanescente reflita os exatos gas-
tidades licitadoras fixem em seus tos de seus servidores com alimenta-
editais, o preço máximo a que se ção. Deste modo, a fixação de preço
dispõem a pagar por uma determi- máximo para tal custo do preço final
nada contratação, sendo este, por- estaria, ainda que indiretamente, fi-
tanto, o seu objetivo. Não existindo xando a própria margem de lucro do
óbice legal, a priori, neste contexto, Contratado. Estar-se-ia, então, dian-
para que este mesmo procedimento te de aparente afronta ao Princípio
venha a ser adotado não com rela- da Livre Iniciativa, consagrado pela
ção à contratação como um todo, própria Constituição da República.
mas sim apenas com relação a uma Assim, de posse de tais informações,
das parcelas que integrem a compo-
caberá à Administração Consulente,
sição de seu preço final, a exemplo
ponderar no caso concreto, se a fi-
da taxa administrativa (quando esta
xação de preço máximo para a par-
não se evidenciar o único custo da
contratação). cela da contratação em destaque de
fato se mostra necessária e mesmo
Do que foi dito, abstrai-se, então, oportuna. Recomendando-se, neste
que com a fixação de preços máxi- sentido, antes da adoção de um po-
mos ora pretende a Administração
sicionamento terminativo por parte
assegurar-se de que terá dotação
da Administração Consulente, a for-
orçamentária suficiente para paga-
mulação de consulta direta ao seu
mento do Contratado9, ora pretende
acautelar-se quanto à ocorrência de respectivo Tribunal de Contas.
jogo de planilhas. Tomando, então, Salvo melhor juízo, considerados os
por cerne que na situação narrada elementos fáticos fornecidos pelo
pela Administração Consulente, Consulente, esse é o entendimento
pretende-se mediante a fixação de da Consultoria Negócios Públicos.

9 Id. Por Larissa Panko

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Assunto
Limitação de número de empresas por consórcio.

Legislação Aplicável
Lei 8.666/93.

Ementa
Licitação. Limitação de número de empresas por consórcio. Ausência de
entendimento pacificado acerca da matéria. Obrigatoriedade de verificação
do posicionamento da Corte de Contas Estadual a respeito da questão.
Considerações.

Art. 33 - Quando permitida na lici-


I Consulta tação a participação de empresas
em consórcio, observar-se-ão as
“Estamos fazendo uma Concor- seguintes normas:
rência Pública para contratação de
I - comprovação do compromisso
serviço de limpeza Pública. Diante público ou particular de constitui-
do tamanho do município, foi per- ção de consórcio, subscrito pelos
mitida a participação de empresas consorciados;
consorciadas limitando, porém, à
II - indicação da empresa respon-
02 (duas) empresas por consórcio. sável pelo consórcio que deverá
Tivemos um questionamento atender às condições de liderança,
quanto à limitação do número de obrigatoriamente fixadas no edi-
empresas a serem consorciadas. tal;
Esta limitação do Município se deu
III - apresentação dos documentos
em razão da fiscalização, uma vez exigidos nos arts. 28 a 31 desta
que se trata de serviços complexos Lei por parte de cada consorcia-
e as fiscalizações acontecem diaria- do, admitindo-se, para efeito de
mente. Aguardo o retorno quanto qualificação técnica, o somatório
à legalidade da limitação de em- dos quantitativos de cada con-
presas por consórcio.” sorciado, e, para efeito de qua-
lificação econômico-financeira,
o somatório dos valores de cada
II Resposta consorciado, na proporção de sua
respectiva participação, podendo
Para responder o questionamento a Administração estabelecer, para
formulado, importante citar o art. o consórcio, um acréscimo de até
33 da Lei 8.666/93, que diz respei- 30% (trinta por cento) dos valores
to à participação de empresas em exigidos para licitante individual,
consórcio na licitação: inexigível este acréscimo para os

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consórcios compostos, em sua to- tando de “consórcio de empresas


talidade, por micro e pequenas em- brasileiras e estrangeiras a lideran-
presas assim definidas em lei; ça caberá, obrigatoriamente, à em-
IV - impedimento de participação presa brasileira” (art. 33, §1º1 ).
de empresa consorciada, na mes-
Dando continuidade à análise, da
ma licitação, através de mais de um
consórcio ou isoladamente; leitura dos artigos colacionados,
percebe-se que quando há inte-
V - responsabilidade solidária dos
resse por parte de um grupo de
integrantes pelos atos praticados
empresas em se consorciar para
em consórcio, tanto na fase de li-
citação quanto na de execução do participar de licitações, com vis-
contrato. tas a viabilizarem o somatório de
suas diversas capacidades indivi-
§1º No consórcio de empresas bra-
sileiras e estrangeiras a liderança
duais (em especial, no que tange à
caberá, obrigatoriamente, à em- qualificação técnica e econômico-
presa brasileira, observado o dis-
posto no inciso II deste artigo. 1 Referido dispositivo foi objeto de crítica
árdua por parte de Marçal JUSTEN FILHO.
§2º O licitante vencedor fica obri- Sendo que, muito embora, juntamente com
gado a promover, antes da cele- Hely Lopes MEIRELLES (In: MEIRELLES, Hely
bração do contrato, a constituição Lopes. Licitação e Contrato Administrati-
e o registro do consórcio, nos ter- vo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p.
mos do compromisso referido no 94-95), constitua-se em corrente minoritá-
inciso I deste artigo (sem grifos no ria, suas considerações merecem menção,
original). observe-se:
“Há inconstitucionalidade no §1º, ao impor
No que tange especificamente à
que, no consórcio entre sociedades nacio-
participação de consórcio de em-
nais e estrangeiras, será obrigatório que a
presas em certames licitatórios, é liderança caiba à sociedade nacional. Per-
oportuno mencionar inicialmen- mitida a participação de empresas estran-
te que o consórcio se perfaz na geiras e a formação de consórcios, não se
união de empresas para realizar pode interferir na liberdade de concorrên-
empreendimento ou participar de cia e de exercício de profissões. Compete
negociações maiores do que a per- aos particulares decidir a quem incumbirá a
mitida em função da capacidade liderança. Ou seja, até se admite que o edi-
tal imponha a obrigatoriedade de liderança
individual dos participantes, sendo
para empresas nacionais. O que se rejeita
formado a partir de um contrato é a vedação a que, e, determinadas hipó-
entre as empresas consorciadas. teses, admita-se a liderança de empresas
Outrossim, geralmente, uma em- estrangeiras. Afinal, se a Administração é
presa-líder é eleita para “tomar autorizada a contratar com empresa estran-
frente” dos assuntos e representar geira, nas licitações internacionais, não há
o consórcio, sendo a sua eleição, fundamento para vedar-se de modo absolu-
inclusive, uma das exigências inser- to a liderança de empresas estrangeiras em
hipótese de contratação de consórcios”. In:
tas na Lei 8.666/93 (art. 33, inc. II),
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei
relativamente à sua participação
de Licitações e Contratos Administrativos.
em certames licitatórios, conforme 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
se viu acima. Sendo que, em se tra- 2014. p. 663.

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financeira) e, deste modo, atende- cada sociedade arca com parte do
rem aos requisitos de habilitação prejuízo e se desfazem quaisquer
estipulados pela Administração, vínculos jurídicos entre elas.4
não será propriamente o consórcio No que tange ao conteúdo desta
que se apresentará para a partici- formalização da constituição do
pação no certame licitatório, mas consórcio, muito embora o inc. V,
sim as potenciais empresas con- do art. 33, da Lei 8.666/93 impo-
sorciadas, uma vez que ainda não nha a solidariedade entre os seus
há consórcio constituído; apresen- integrantes, relativamente aos
tando, estas, a fim de formalizar atos praticados pelo consórcio,
sua condição de licitante, a título JUSTEN FILHO assim nos esclare-
de habilitação jurídica2, um Termo ce: “o consórcio não é dotado de
de Compromisso de constituição personalidade jurídica própria, es-
do consórcio de empresas. Ou,
pecífica e autônoma relativamente
nas palavras utilizadas por Marçal
às empresas consorciadas. A Lei
JUSTEN FILHO, uma “promessa de
exige, por isso, que a formalização
constituição do consórcio.”3 Sen-
da constituição do consórcio dis-
do que o referido autor, acerca
crimine os poderes e encargos de
desta dinâmica diferenciada re-
cada consorciado (ainda que im-
lativamente ao comparecimento
ponha a solidariedade entre todas
em processos licitatórios, assim
as empresas durante a licitação)”
comenta: 5
(sem grifos no original).
De regra, o consórcio não existirá
antes, nem fora, nem além da lici- Nesse diapasão, vejam-se ain-
tação. Será constituído para o fim da os pertinentes comentários
de participar da licitação e, eventu- de Carlos Pinto Coelho MOTTA:
almente, promover a execução do “Enfatize-se que, no somatório de
contrato. Geralmente, o consórcio atestados referidos no inciso III,
apenas se aperfeiçoará quando quando se tratar de qualificação
e se a proposta formulada for a
econômico-financeira, a parcela de
vencedora. De usual, as socieda-
des interessadas apenas efetivam
cada empresa consorciada deverá
promessa de contratação de con- ser proporcional à respectiva par-
sórcio. Afinal, o empreendimento ticipação na licitação. Eis porque é
objeto do consórcio será a contra- importante a indicação, no Termo
tação com a Administração Pública de Compromisso de constituição
– evento futuro e incerto. Assim, do consórcio, do percentual de
os interessados estabelecem pre- participação de cada consorciada”
viamente todas as condições ati- 6
(destaques do autor).
nentes ao consórcio, ingressam na
licitação e aguardam obter êxito.
4 Id.
Se for o caso de vitória, o consór-
cio será aperfeiçoado; na derrota, 5 Ibid., p. 662-663.

2 Ibid., p. 662. 6 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Li-


citações e Contratos. 12. ed. Belo Horizon-
3 Id. te: Del Rey, 2011. p. 456.

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Uma vez ultimada a licitação, apu- administrativas, nos termos do art.


rado o vencedor da disputa e, sen- 64 da Lei nº 8.666/93.”8
do este o mencionado potencial
Ultrapassadas essas considerações
consórcio, nos termos do §2º, do
iniciais, cumpre, neste momento,
art. 33, da Lei 8.666/93, anterior-
analisar a possibilidade ou não de
mente referenciado, o licitante limitar o número de empresas reu-
vencedor (no caso, as empresas nidas em consórcio. Importante
que firmaram o compromisso de ressaltar, primeiramente, que não
se consorciar), “fica obrigado a pro- foi possível localizar entendimento
mover, antes da celebração do con- doutrinário a esse respeito. E, em
trato, a constituição e o registro sede jurisprudencial, não há posi-
do consórcio, nos termos do com- cionamento pacificado acerca da
promisso referido no inciso I des- matéria.
te artigo” (sem grifos no original).
Sendo que, “não apresentado o No Acórdão 1.0404/04 – Plenário,
ato constitutivo do consórcio – que do Tribunal de Contas da União
deverá estar registrado em junta (TCU), citado a título meramen-
comercial (Lei nº 8.934/94, art. 32, te referencial, (uma vez que esta
I 7) – (...) ficarão todas as empresas Administração Consulente não se
que apresentaram o compromisso submete a esta Corte de Contas),
de constituí-lo sujeitas às sanções os Ministros manifestaram-se no
sentido de que não existe ilega-
7 “Art. 32 - O registro compreende: lidade na fixação de um número
I - a matrícula e seu cancelamento: dos lei- máximo de empresas participan-
loeiros, tradutores públicos e intérpretes tes em consórcio, uma vez que o
comerciais, trapicheiros e administradores art. 33 da Lei 8.666/93 não veda
de armazéns-gerais; tal fixação:
II - O arquivamento:
a) dos documentos relativos à constituição, III - ANÁLISE DA DILIGÊNCIA
alteração, dissolução e extinção de firmas 13. Com referência à limitação es-
mercantis individuais, sociedades mercantis tabelecida no Termo de Referência
e cooperativas; nº 01/2004 do número máximo
b) dos atos relativos a consórcio e grupo de de três empresas para constitui-
sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 ção de consórcio, o art. 33 da Lei
de dezembro de 1976; 8.666/93 abre amplo espaço à dis-
c) dos atos concernentes a empresas mer- cricionariedade administrativa na
cantis estrangeiras autorizadas a funcionar matéria.
no Brasil;
d) das declarações de microempresa; 13.1 O ato convocatório deve não
e) de atos ou documentos que, por deter- apenas autorizar a participação
minação legal, sejam atribuídos ao Registro das empresas em consórcio, mas
Público de Empresas Mercantis e Atividades também estabelecer as regras cor-
Afins ou daqueles que possam interessar ao respondentes. Portanto, concor-
empresário e às empresas mercantis; damos que não existe ilegalidade
III - a autenticação dos instrumentos de
escrituração das empresas mercantis regis- 8 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Licitações
tradas e dos agentes auxiliares do comércio, e Contratos Administrativos. 2. ed. Belo
na forma de lei própria.” Horizonte: Fórum, 2009. p. 253.

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no termo de referência com rela- 68.1 Justificativas/Providências
ção à fixação em três o número
- Inicialmente era intenção do Se-
máximo de empresas participan-
nado Federal não permitir a parti-
tes em consórcio, uma vez que o
cipação de consórcios, entretanto,
referido dispositivo legal não veda
face à grandeza do empreendimen-
tal fixação.
to, foi decidida a sua admissão,
Voto do Relator (...) limitado a duas empresas, objeti-
Com relação às demais questões vando uma maior competitividade
examinadas pela unidade técnica, no certame licitatório; A ausência
ponho-me de acordo. (....) de limitação poderá atrair eventu-
ais consórcios formados por em-
Diante do exposto neste Voto e nos presas que poderiam atender aos
despacho e instrução transcritos requisitos técnicos, pelo somatório
no relatório precedente, voto, em de seus atestados, mas sem experi-
consonância com o decidido no TC ência/capacidade de gestão para o
013.041/2000-0, no qual foi profe- porte do empreendimento.
rida a Decisão Plenária 532/2002,
por que o Tribunal aprove o acór- 68.2 Análise
dão que ora submeto à apreciação 68.2.1 A fixação de número máxi-
deste Plenário. (...) ACORDAM os mo de empresas participantes em
Ministros do Tribunal de Contas da consórcio foi mantida na nova mi-
União, reunidos em sessão do Ple- nuta de edital, consoante subitem
nário, ante as razões expostas pelo 2.3, alínea `a:
Relator, e com fundamento nos art.
43, inciso I, da Lei 8.443/92 e arts. 2.3 Será permitida a participação
237, inciso VI, e 250, inciso II, do Re- de empresas em consórcio, desde
gimento Interno, e no art. 69, inciso que sejam atendidos os seguintes
I, da Resolução 136/2000, em: requisitos:
9.1. conhecer da presente re- a. apresentação de instrumento
presentação e considerá-la público ou particular de compro-
improcedente;9 (sem grifos no ori- misso de constituição de consórcio,
ginal). limitado a até no máximo 02 (duas)
empresas na sua composição.
No entanto, no Acórdão 597/08 –
Plenário, do TCU, os Ministros po- 68.2.2 O Tribunal tem tratado a
sicionaram-se no sentido de que a estipulação de número máximo de
limitação de a um número máximo empresas participantes em con-
sórcio como cláusula restritiva ao
de empresas participantes no con-
caráter competitivo do certame
sórcio restringe o caráter competi- licitatório, caracterizando infrin-
tivo do certame, violando o art. 3º, gência ao art. 3º, § 1º, inciso I da
§1º, inc. I, da Lei 8.666/93: Lei nº 8.666/93, a exemplo do con-
Relatório do Ministro Relator (...) siderado no Acórdão nº 1259/2006
- Plenário (TC - 009.484/2006-
- Limitação do consórcio a duas em- 2; subitem 9.2.1.13) e Acórdão
presas - Item 2.1.3 - alínea `a¿ nº 101/2004 - Plenário (TC -
007.277/2003-3 - subitem 9.3.2).
9 TCU. Acórdão 1.404/04. Órgão Julgador:
Plenário. Relator: Ministro Walton Alencar 68.2.3 Entende-se portanto perti-
Rodrigues. DOU: 23/09/04. nente ser feita recomendação ao

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órgão licitante no sentido de que tração licitadora justificar, em cada


suprima do Capítulo II (Das Condi- licitação específica, a opção pela
ções de Participação) da minuta de eventual limitação a determinado
edital os dispositivos de limitação número máximo de participantes
de número máximo de empresas em consórcio:
participantes em consórcio, por
constituir-se em restrição ao ca- Relatório do Ministro Relator (...)
ráter competitivo do certame, es- 15. A participação de consórcios
tando em desacordo com o art. 3º, de empresas em licitações públicas
§1º, inciso I da Lei nº 8.666/93, ante decorre da discricionariedade ad-
o entendimento do TCU no Acór- ministrativa conferida pela Lei de
dão nº 1259/2006 - Plenário (TC - Licitações, em seu artigo 33, deter-
009.484/2006-2; subitem 9.2.1.13) minando que "quando permitida a
e Acórdão nº 101/2004 - Plenário participação de empresas em con-
(TC - 007.277/2003-3 - subitem sórcio", deverão ser observadas as
9.3.2); (...) disposições constantes da Lei.
Acórdão (...) 16. Considerando o disposto no
9.1.17. suprima do Capítulo II (Das art. 33 da Lei 8.666/93, o Tribunal,
Condições de Participação) da mi- acompanhado pela doutrina, en-
nuta de edital os dispositivos de tende que a decisão sobre a viabili-
limitação de número máximo de dade de participação de consórcios
empresas participantes em con- em certames licitatórios insere-se
sórcio, bem como do percentual na esfera do poder discricionário
de participação, por constitui- do gestor. Em diversas oportunida-
rem-se em restrições ao caráter des, esta Corte considerou legal a
disposição editalícia que impedia a
competitivo do certame, estando
participação de consórcio em licita-
em desacordo com o Art. 3º, §1º,
ção, como nos Acórdãos 312/2003
inciso I da Lei nº 8.666/93, ante
e 1.454/2003, ambos do Plenário.
o entendimento do TCU no Acór-
dão nº 1259/2006 - Plenário (TC - 17. Se a lei autoriza até mesmo a
009.484/2006-2; subitem 9.2.1.13) vedação à participação de con-
e Acórdão nº 101/2004 - Plenário sórcios, também pode a adminis-
(TC - 007.277/2003-3 - subitem tração permitir a sua participação
9.3.2)10 (sem grifos no original). condicionada a um número máxi-
mo de empresas em cada consór-
No Acórdão 718/11 - Plenário, do cio, aplicando-se ao caso o enten-
TCU, o entendimento adotado di- dimento manifesto no brocardo
ferencia-se dos dois acima citados, jurídico "quem pode o mais, pode
uma vez que não veda de forma o menos". Este argumento encon-
expressa, tampouco permite a li- tra respaldo, inclusive, no Acórdão
mitação de empresas no consór- 1.297/2003-P:
cio. Nesse Acórdão, o mais recen- "Assiste razão aos responsáveis,
te que foi possível localizar acerca pois mesmo a Lei das Licitações, no
dessa matéria, caberá à Adminis- caput do seu artigo 33, prevê que
a Administração pode, até mesmo,
10 TCU. Acórdão 597/08. Órgão Julgador: Ple- não permitir a participação de con-
nário. Relator: Ministro Guilherme Palmei- sórcios. Em interpretação jurídica,
ra. DOU: 14/04/08. quando vale o mais, vale o menos,

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ou seja, se é possível restringir o cia para a União e para o Estado de
número de empresas contrata- Minas Gerais, visto que faz parte do
das para fazer o mesmo serviço a pacote de investimentos em Infra-
apenas uma (na hipótese de não estrutura para a Copa de 2014.
se permitir consórcios), também é
21. A limitação do número de em-
de se supor que a Administração,
presas participantes do consórcio
ao avaliar, segundo os critérios da
já foi analisada em outras oportu-
oportunidade e conveniência, que
não deve ser permitido um número nidades pelo Tribunal, como, por
maior que 2 empresas no consór- exemplo, no Acórdão 1.332/2006-P:
cio licitante, tenha a liberdade de, "Considerando que a lei possibilita
justificadamente, estabelecer tal vedação à participação de consór-
restrição." cios, entendemos que não haveria
18. No caso concreto, justifica-se óbices à fixação de número de má-
a restrição no número de empre- ximo de empresas por consórcio,
sas que poderiam formar consór- desde que devidamente justifica-
cio para, em nome do interesse da. Assim, seria pertinente a argu-
público, evitar um alto número de mentação apresentada pelos res-
empresas consorciadas, o que tem ponsáveis de que a não limitação
levado a Infraero a ter dificuldade de quantidade de empresas por
na fiscalização de contratos do qual consórcio poderia diminuir a quan-
participem um grande número de tidade de concorrentes, vez que o
empresas em consórcio, compro- número de consórcios participan-
metendo o ritmo de execução das tes, potencialmente, seria reduzi-
obras e a qualidade da prestação do. Sobre a questão em debate,
dos serviços, tendo causado atra- o Tribunal reconheceu a possibili-
so no cronograma dos empreendi- dade de limitação do número de
mentos. empresas por consórcio nos Acór-
dãos nº 1.297/2003, 1.708/2003 e
19. Além disso, permitir a participa-
ção ilimitada de empresas em um 1.404/2004, todos do Plenário."
único consórcio pode produzir, ain- 22. Cabe ressaltar que, como regra
da, outro efeito indesejado. Caso geral, o Tribunal tem decidido que,
não haja nenhum controle quanto por ausência de previsão legal, é ir-
à quantidade máxima de consor- regular a condição que estabeleça
ciados, pode haver transgressão número mínimo ou máximo de em-
indireta da Lei, possibilitando, sob presas participantes no consórcio.
o pretexto de ampliar a competi- Esta Corte de Contas tem enten-
ção, que empresas absolutamente dido que, se a Lei deixa à discricio-
desprovidas de qualificação técnica nariedade administrativa a decisão
sagrem-se vencedoras do certame. de permitir a participação no certa-
20. A participação de consórcios, me de empresas em consórcio, ao
portanto, não pode, sob o pretex- permiti-la a Administração deverá
to de ampliar a competitividade, observar as disposições contidas
ser interpretada de forma tão ri- no art. 33, da Lei nº 8.666/93, não
gorosa, sob pena de se inviabilizar, podendo estabelecer condições
indiretamente, a correta execução não previstas expressamente na
do objeto contratual, que, no caso Lei, mormente quando restritivas
concreto, é de essencial importân- ao caráter competitivo da licitação.

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(Acórdão 1.369/2003-P e Acórdão Acórdão (...)


1.240/2008-P).
9.2.2.2. justifique, em cada lici-
23. Entretanto, embora este último tação específica, a opção pela
entendimento, como regra geral, eventual limitação a determina-
seja válido, no caso específico da do número máximo de partici-
obra analisada, é perfeitamente pantes em consórcio11 (sem gri-
aceitável a limitação do número de fos no original).
empresas consorciadas, em caráter
excepcional, impedindo a pulveri-
zação de responsabilidades, visto II Síntese conclusiva
que a obra em questão não é uma
Isto posto, no entendimento des-
obra qualquer, sendo seu objeto
de suma importância para o país, ta Consultoria, a limitação de
pois está vinculado à realização empresas no consórcio restringe
da Copa do Mundo de 2014. As- a competição, violando o art. 3º,
sim sendo, não há margem para §1º, inc. I, da Lei 8.666/93. Con-
erros, não se podendo possibilitar tudo, a restrição de empresas
atrasos na execução da obra por
poderia ser realizada em caráter
conta de problemas com as em-
presas contratadas. excepcional, desde que devida-
mente justificada.
24. Ante o exposto, considera-se
procedente o pleito da Infraero, Considerando a divergência, com
sendo aceitável, no caso concre- base nas decisões emanadas pelo
to, que a estatal, ao avaliar, se- TCU, acerca da possibilidade da
gundo os critérios da oportunida-
limitação ou não de empresas
de e conveniência, que não deve
ser permitido um número maior reunidas em consórcio, e diante
que três empresas no consórcio da ausência de posicionamen-
licitante, tenha a liberdade de, to doutrinário e jurisprudencial
justificadamente, estabelecer tal sobre o assunto, entende-se
restrição, em busca da realiza- obrigatório que a Administração
ção do interesse público, tendo
Consulente verifique junto ao Tri-
em vista que essa medida poderá
facilitar a gestão e fiscalização da bunal de Contas Estadual qual é
obra e reduzir o risco de atraso no o seu entendimento a respeito da
cronograma do empreendimento, matéria, para somente após isso
o que está de acordo com os prin- adotar uma decisão terminativa.
cípios da eficácia e da eficiência.
Salvo melhor juízo, considerados
Voto do Ministro Relator (...)
os elementos fáticos fornecidos
17. Com relação à limitação de pela Consulente, esse é o enten-
participantes em consórcios, dimento da Consultoria Negócios
considero que a Infraero deverá,
Públicos.
em cada caso concreto, justificar
a decisão por eventual limitação Por Melissa de Cássia Pereira
a um número máximo de partici-
pantes, situação que também re- 11 TCU. Acórdão 718/11. Órgão Julgador: Ple-
clama, a meu ver, a expedição de nário. Relator: Ministro Valmir Campelo.
determinação à empresa. DOU: 28/03/11.

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Assunto
Contrato de fornecimento. Prorrogação da vigência contratual.

Legislação Aplicável
Lei 8.666/93.

Ementa
Contrato de fornecimento. Prorrogação da vigência contratual. Fornecimento
versus serviços. Distinções elementares. Diferenciação entre as espécies de
prorrogação do art. 57. Considerações.

I Consulta II Resposta
“A Lei 8.666/93 determina em seu Antes, pois, de objetivamente
art. 57 uma vigência máxima de responder aos questionamentos
12 meses aos contratos de forne- propostos, importa entremostrar,
cimento. Entretanto em seu §1º o ainda que com certa brevidade, os
mesmo artigo traz a informação matizes jurídicos conformadores
que existe a possibilidade de pror- da análise solicitada. Isto porque,
rogação de certos prazos em deter- as luzes que sobre eles se lançarão
minadas situações. certamente alumiarão as dúvidas
1. Em se tratando de contrato de suscitadas Veja-se os.
fornecimento de bens, cujo quan-
Principie-se, então, por diferenciar
titativo seja aditivado com base
compras (fornecimento) de servi-
na previsão do §1º, do art. 65, há
ços. A distinção proposta fora es-
possibilidade de prorrogação da vi-
tabelecida a proposito das disposi-
gência para além dos 12 meses ori-
ções dos incs. II e III, do art. 6º, da
ginais a fim de comportar a entrega
Lei 8.666/93, verbis:
dos produtos (numa interpretação
do art. 57, §1º, inc. IV)? Art. 6º Para os fins desta Lei, con-
2. Num contrato de fornecimento sidera-se:
de bens no qual não houve qual- Omissis (...)
quer acréscimo ao quantitativo ori-
II - Serviço - toda atividade destina-
ginal, há possibilidade de se pror- da a obter determinada utilidade
rogar a vigência para além dos 12 de interesse para a Administração,
meses a fim possibilitar alteração tais como: demolição, conserto,
no cronograma de entregas dos instalação, montagem, operação,
produtos mediante solicitação do conservação, reparação, adapta-
setor demandante?” ção, manutenção, transporte, loca-

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ção de bens, publicidade, seguro ou Há obrigação de dar quando o de-


trabalhos técnico-profissionais; vedor se obriga a transferir a posso
ou domínio de um bem. Já a obri-
III - Compra - toda aquisição remu-
gação de fazer envolve uma ativi-
nerada de bens para fornecimento
dade de outra ordem, podendo se
de uma só vez ou parceladamente;
traduzir ou não em uma atividade
Em comentários ao dispositivo pessoal do devedor. (...)
Marçal JUSTEN FILHO esclarece Essa interpretação é relevante para
que: fins, por exemplo, do art. 57, inc. II,
que alude a prestação de serviço.
A compra é um instrumento por
Já se pretendeu que o fornecimen-
excelência de criação de obrigação
to de combustível seria enquadrável
de dar, enquanto obras e serviços
naquela regra, o que é juridicamen-
produzem obrigação de fazer. Essa
te incorreto. Fornecimento de com-
distinção é extremamente rele-
bustível é contrato que impõe à
vante para evitar confusões, mas
parte uma obrigação de dar. Trata-
também porque as regras jurídicas se de modalidade de compra e não
aplicáveis são diversas. de um serviço. Essa qualificação não
4.2) Distinção entre compra e ser- se altera nem mesmo em face de
viço obrigações de eventuais obrigações
de fazer acessórias. (...) Define-se a
Suponha-se a contratação do for- natureza da obrigação a partir da
necimento de alimentação pron- intenção fundamental das partes. É
ta para presidiários. Existiria um óbvio que a Administração, ao con-
serviço ou uma compra? A Lei su- tratar o fornecimento de combustí-
primiu uma inovação constante vel, não pretende obter uma presta-
do substitutivo do Senado, consis- ção de serviço, correspondente ao
tente na expressa abrangência do transporte de combustível de um
bem elaborado “sob encomenda” local para outro. Visa à aquisição do
no conceito de “compra”. A espe- domínio do combustível1 (sem grifos
cificação era relevante e prevenia no original).
disputas já verificadas no Plano do
Direito Tributário (onde se reputou
Extrai-se do exposto que, em li-
que a aquisição do bem fabricado nha de princípio, não é possível
sob encomenda configuraria uma prorrogar contratos de forneci-
prestação de serviço para fins de mento, eis que as obrigações neles
tributação). Podem existir serviços assumidas se exaurem, tão logo, se
que se retratem na transferência do entregue do objeto. Por esse moti-
domínio de bens corpóreos para a vo, neles não se vislumbra a neces-
Administração. Como o elenco do sidade de prorrogação para além da
inc. II é meramente exemplificativo, vigência originalmente avençada.
surgiria dúvida acerca da qualifica-
ção jurídica da hipótese. Ultrapassada essa consideração
inicial, cumpre, neste momento,
A única solução reside em conside-
rar que as compras se caracterizam 1 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei
quando existir obrigação de dar; de Licitações e Contratos Administrativos.
haverá serviço quando a obrigação 16. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais,
for de fazer. (...) 2014. p. 153.

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analisar a possibilidade ou não de Em comentários ao caput do dispositi-
prorrogação da vigência do contra- vo legal acima citado comenta JUSTEN
to de fornecimento (obrigação de FILHO:
dar). Destaca-se, inicialmente, que, O art. 57 reflete a disciplina consti-
em regra, a duração dos contratos tucional. O caput do dispositivo es-
administrativos regidos pela Lei tabelece a regra de que nenhuma
8.666/93 deve se restringir à vigên- contratação poderá ter prazo de
vigência que ultrapasse o crédito
cia dos respectivos créditos orça-
orçamentário a que se vincular. As
mentários. No entanto, constituem
exceções estão previstas nos incisos
exceção a essa regra as hipóteses do dispositivo.
arroladas nos incs. I a V, do art. 57,
Deve-se insistir em que as exceções
da citada Lei, segundo os quais:
consagradas nos incisos não se rela-
Art. 57. A duração dos contratos cionam propriamente à natureza ou
regidos por esta Lei ficará adstrita à importância do objeto da contra-
à vigência dos respectivos créditos tação. A disciplina adotada se rela-
orçamentários, exceto quanto aos ciona com questões orçamentárias,
relativos: pura e exclusivamente.2
I - aos projetos cujos produtos es- A primeira exceção à regra (inc. I)
tejam contemplados nas metas es- preceituada pelo caput do art. 57
tabelecidas no Plano Plurianual, os permite que “projetos cujos pro-
quais poderão ser prorrogados se dutos estejam contemplados nas
houver interesse da Administração metas estabelecidas no Plano Plu-
e desde que isso tenha sido previsto
rianual” sejam prorrogados, “desde
no ato convocatório;
que isso tenha sido previsto no ato
II - à prestação de serviços a serem convocatório”.
executados de forma contínua, que
poderão ter a sua duração prorroga- Trata-se de “empreendimentos re-
da por iguais e sucessivos períodos alizados pela Administração que
com vistas à obtenção de preços e demandam mais de um exercício
condições mais vantajosas para a para serem executados, como é o
administração, limitada a sessenta caso de grandes obras, tais como
meses; rodovias, barragens, usinas, portos,
III - (Vetado). etc.”3 A vista do que, se autorizou
sua prorrogação para além de um
IV - ao aluguel de equipamentos e à mandato governamental.
utilização de programas de informá-
tica, podendo a duração estender- A segunda exceção à regra (inc. II)
se pelo prazo de até 48 (quarenta e diz, pois, com a possibilidade de
oito) meses após o início da vigência elastecer, para além do respectivo
do contrato. exercício financeiro, os prazos dos
V - às hipóteses previstas nos incisos
IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos 2 Ibidem, p. 830.

contratos poderão ter vigência por 3 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Li-
até 120 (cento e vinte) meses, caso citações e Contratos. 11. ed. Belo Horizon-
haja interesse da administração. te: Del Rey, 2008. p. 663.

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contratos que tenham por objeto Por fim, a quarta e última exce-
serviços de natureza continuada. ção à regra (inc. IV) diz, pois, com
a possibilidade de se dilatar o pra-
Tratam-se de serviços que não po-
zo contratual em até 120 meses.
dem “ser interrompidos; fazem-se
Esse prazo diferenciado aplica-se
‘sucessivamente, sem solução de
às quatro hipóteses de dispensa de
continuidade, até seu exaurimen- licitação disciplinadas pelos incs. IX,
to ou conclusão do objeto’”.4 A XIX, XXVIII e XXXI, do art. 24, da Lei
exemplo ter-se-iam os serviços de 8.666/93.
vigilância, limpeza e conservação,
segurança, entre outros. Em resumo, são essas as hipóte-
ses que legalmente comportam a
A matéria é objeto de incessantes ampliação do prazo de vigência do
debates doutrinários e jurispru- contrato, com vistas a renovar à
dencial. Cá para nós, basta saber assunção das obrigações original-
que contratos que envolvam o mente pactuadas. Os demais casos
fornecimento contínuo (como os admitirão, apenas, a flexibilização
combustíveis, material de limpe- dos prazos previstos para a execu-
za, gêneros alimentícios, etc.), por ção o objeto. Ou seja, trata-se, em
sua natureza, não se subsumem verdade, de situações nas quais o
ao conceito de serviços contínuos particular não conseguirá executar
e, porquanto, não lhes pode ser o objeto no prazo avençado em vis-
conferido o tratamento jurídico tas de eventos que não possam ser
(possibilidade de prorrogação) do a ele imputados. Insista-se, não se
inc. II, do art. 57, da Lei 8.666/93.5 trata da renovação das obrigações
inicialmente assumidas, mas antes,
A terceira exceção à regra (inc. III) e tão somente, da dilação do prazo
permite que a Administração es- para o adimplemento da obrigação
tenda a execução de contratos que contratada.
envolvam o “aluguel de equipa-
mentos e à utilização de programas Essas hipóteses de alteração do
de informática”. prazo de execução correspondem
à plêiade de situações enumeradas
4 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Li-
pelos incisos do §1°, do art. 57, da
citações e Contratos. Apud, SZKLAROWSKI, Lei 8.666/93. Vejam-se as.
Leon Fredja. p. 663.
A primeira possibilidade de alterar
5 Nesse sentido vide o Acordão 1.136/02 do o prazo de execução diz, pois, com a
Tribunal de Contas da União (TCU): “ob- “alteração do projeto ou das espe-
serve atentamente o inciso II do art. 57 da cificações pela Administração” (inc.
Lei 8.666/93, ao firmar e prorrogar contra- I, do §1°, do art. 57, da Lei 8.666/93).
tos, de forma a somente enquadrar como Com efeito, a hipótese disciplina,
serviços contínuos contratos cujos objetos no plano da execução, as eventuais
correspondam a obrigações de fazer e a
implicações trazidas pelas altera-
necessidades permanentes”. In. TCU. Acór-
ções qualitativas do objeto. Nes-
dão 1.136/02. Órgão Julgador: Plenário.
Relator: Min. Iram Saraiva. Data da sessão:
se caso, o legislador entendeu ser
04/09/12. devido ao particular a devolução

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do prazo de execução, se as alte- tir ao particular prazo necessário
rações propostas pela Administra- para o cumprimento, a contento,
ção inviabilizarem o cumprimento das obrigações assumidas.
dos prazos. Nesse sentido, não é
A quarta possibilidade de dilação do
demais enfatizar que a “simples al- prazo de execução redunda do “au-
teração do projeto não é suficiente mento das quantidades inicialmen-
para provocar a prorrogação. Deve- te previstas no contrato, nos limites
rá, por exemplo, evidenciar-se que permitidos por esta Lei” (inc. IV, do
alteração do projeto (causa) invia- §1°, do art. 57, da Lei 8.666/93). Tal
bilizou o cumprimento dos prazos hipótese disciplina, no campo da
(consequência)”.6 execução, as implicações decor-
A segunda possibilidade de dilação rentes da alteração quantitativa
do prazo de execução nasce da “su- do objeto. A concessão desse pra-
perveniência de fato excepcional zo depende da comprovação, pelo
ou imprevisível, estranho à vontade particular, de que não dispõe de
das partes, que altere fundamen- condições para produzir/entregar
talmente as condições de execução em quantidade maior o objeto con-
do contrato” (inc. II, do §1°, do art. tratado. Uma vez evidenciado que
57, da Lei 8.666/93). Trata-se, da o particular, efetivamente, dispõe
ocorrência de fatos excepcionais de condições em cumprir com a
e imprevisíveis, posteriores à cele- obrigação no prazo, inicialmente,
bração do contrato, que obstacu- pactuado o contrato não poderá
lizam o cumprimento dos prazos. ser prorrogado.
Tal qual à hipótese anterior, a so- A quinta possibilidade de altera-
brevinda de eventos que escapam ção do prazo executório decorre
à vontade do particular restituem- do “impedimento de execução do
lhe o prazo de execução. contrato por fato ou ato de tercei-
A terceira possibilidade de modifi- ro reconhecido pela Administração
cação do prazo de execução decor- em documento contemporâneo à
re da “interrupção da execução do sua ocorrência” (inc. V, do §1°, do
contrato ou diminuição do ritmo de art. 57, da Lei 8.666/93). Trata-se,
trabalho por ordem e no interesse pois, de hipótese em que a execu-
da Administração” (inc. III, do §1°, ção contratual é afetada por ato/
do art. 57, da Lei 8.666/93). Nesse fato voluntario/involuntário de
caso, o “atraso no cumprimento terceiro absolutamente alheio à
dos prazos está implícito. Se a Ad- relação contratual. Nesse caso, o
ministração altera o ritmo ou de- Contratado deve comunicar à Ad-
terminação a cessação da execução ministração o evento impeditivo da
da prestação, presume-se pela im- execução para que ela (Administra-
possibilidade de cumprimento dos ção) o ateste e tome as devidas pro-
prazos”.7 Porquanto, deve-se garan- vidências a cerca da alteração dos
prazos.
6 JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p. 959.
Por fim, a sexta e última possibilida-
7 Ibidem, p. 960. de de dilação do prazo executório

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redunda da “omissão ou atraso de a inviabilização do cumprimento do


providências a cargo da Adminis- prazo pelo particular. Assim, a Ad-
tração, inclusive quanto aos paga- ministração somente deverá dilatar
mentos previstos de que resulte, o prazo de execução caso o parti-
diretamente, impedimento ou re- cular, efetivamente, não disponha
tardamento na execução do con- de condições de produzir/entregar
trato, sem prejuízo das sanções o objeto.
legais aplicáveis aos responsáveis”
(inc. VI, do §1°, do art. 57, da Lei “Num contrato de fornecimento
8.666/93). Nesse caso, a lei garante de bens no qual não houve qual-
ao particular que o início dos pra- quer acréscimo ao quantitativo
zos de execução contar-se-ão em original, há possibilidade de se
que tiver cessado a omissão admi- prorrogar a vigência para além dos
nistrativa. Tal qual se afirmou ante- 12 meses a fim possibilitar altera-
riormente, “a conduta da Adminis- ção no cronograma de entregas
tração deve ser a causa direta para dos produtos mediante solicitação
o atraso do particular. Sem essa do setor demandante?”
relação da causalidade, a prorroga- A resposta para a questão deman-
ção não poderá ser concedida”.8 da objetividade pelo que se afirma,
Transponham-se, então, essas con- desde logo, que não será admissível
siderações aos questionamentos a modificação do prazo de execu-
formulados pelo Consulente: ção sem que presentes qualquer
“Em se tratando de contrato de pressupostos arrolados pelo §1°, do
fornecimento de bens, cujo quan- art. 57, da Lei 8.666/93. Com efeito,
titativo seja aditivado com base a concessão de prorrogação exige
na previsão do §1º, do art. 65, há “rigorosa comprovação de que os
possibilidade de prorrogação da pressupostos legais estão presen-
vigência para além dos 12 meses tes no caso concreto”.9
originais a fim de comportar a en- Nesse particular, não é demais
trega dos produtos (numa inter- acrescentar que não é possível re-
pretação do art. 57, §1º, inc. IV)?” novar as obrigações originalmente
Como se afirmou há poucas linhas estabelecidas por meio de simples
atrás, a alteração do prazo de exe- prorrogação do prazo de execução.
cução de fornecimento depende da Essa possibilidade é restrita as hi-
comprovação, pelo particular, de póteses enumeradas pelos incs. I a
que não dispõe de condições para V, do art. 57, da Lei 8.666/93.
produzir/entregar em quantidade
Salvo melhor juízo, considerados os
maior o objeto contratado. Com
elementos fáticos fornecidos pelo
efeito, o aumento do objeto, per
Consulente, esse é o entendimento
se, não autoriza o elastecimento
da Consultoria Negócios Públicos.
da avença, mas antes a relação de
causalidade entre esse aumento e Por Juliana Miky Uehara

8 Idem. 9 Ibidem, p. 961.

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Assunto
Pregão eletrônico. Utilização de software Robô. Regras impostas pela IN 03/11
SLTI/MPOG, alterada pela IN 03/13 SLTI/MPOG.

Legislação Aplicável
Lei 8.666/93. Lei 10.520/02. Decreto Federal 5.450/05. IN 03/11 SLTI/
MPOG. IN 03/13 SLTI/MPOG.

Ementa
Pregão eletrônico. Utilização de software Robô. Art. 2º da IN 03/11 SLTI/MPOG,
alterada pela IN 03/13 SLTI/MPOG: em caso de falha no sistema, os lances em
desacordo com a norma deverão ser desconsiderados pelo Pregoeiro, devendo a
ocorrência ser comunicada imediatamente à Secretaria de Logística e Tecnologia
da Informação. Análise, por parte do Pregoeiro, após a fase de lances/disputa:
ilegalidade. Considerações.

ces que não cumprem o estabele-


I Consulta cido, sendo temeroso nesta fase o
“Na condução dos Pregões para descarte dos mesmos, pois os lan-
Sistema de Registro de Preços ces estão velados e não sabemos
(SRP) estão se tornando mais fre- ainda quem os ofertou.
quentes as reclamações e interpo- Como consequência, o Pregoei-
sição de recursos sobre a utilização ro somente poderá analisar com
de dispositivo automático de envio exatidão após o encerramento do
de lances (Robô). Em conformida- certame e a geração da Ata do Pre-
de com a IN 03/11, da SLTI/MPOG, gão. Isto posto, o Pregoeiro, identi-
alterada pela IN 03/13 SLTI/MPOG, ficando que o tempo entre os lan-
seu art. 3º prevê que os lances en- ces não foi cumprido, como poderá
viados em desacordo com o art. comprovar o uso de dispositivo de
2º serão descartados automatica- envio automático de lances? Pois,
mente pelo Sistema. Em contra- caso fique nítido haverá grande
partida, o parágrafo 1º, do art. 3º, prejuízo para o certame tendo em
prevê que em caso de falha do Sis- vista que já houve negociação via
tema, os lances em desacordo com chat, análise de documentação de
a norma deverão ser desconsidera- habilitação, diligências, etc.
dos pelo Pregoeiro. Ainda, a iniciativa do Pregoeiro em
Com referência à IN 03, o Pregoei- inabilitar alguma empresa, após
ro, durante a fase de lances, deverá o encerramento do certame, de-
acompanhar com precisão os lan- mandará mais tempo e aumento

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de custos para a Administração É interessante mencionar, neste


e para os licitantes, pois haverá o ínterim, que antes da edição da
retorno de fase e reinício da fase referida norma, pelo Ministério
de negociação com o próximo co- do Planejamento, o Tribunal de
locado e demais fases pertinen- Contas da União (TCU), calcando-
tes. Além de, salvo melhor juízo, -se em entendimento quanto à
ser uma situação que atribui ao inobservância do Princípio da Iso-
Pregoeiro uma responsabilidade nomia entre os participantes, emi-
desproporcional.” tiu o seguinte entendimento, no
qual estabeleceu um prazo para a
Secretaria de Logística e Tecnolo-
II Resposta gia da Informação, para que esta
adotasse as providências necessá-
Assim dispõe o art. 2º da Instrução
rias ao exato cumprimento do que
Normativa 03/11 (que estabele-
estabelece o art. 3º da Lei 8.666/93
ce procedimentos para a opera-
e o parágrafo único, do art. 5º, do
cionalização do Pregão, na forma Decreto Federal 5.450/05, acerca
eletrônica, para aquisição de bens da observância do Princípio da Iso-
e serviços comuns, no âmbito dos nomia. Vede excertos do Acórdão
órgãos e entidades integrantes do 2.601/11 – Plenário, (cujo resumo
Sistema de Serviços Gerais - SISG, foi objeto de publicação pela Revis-
bem como os órgãos e entidades ta LICICON – Dezembro/2011 - ses-
que firmaram Termo de Adesão são Jurisprudência, pág. 40):
para utilizar o Sistema Integrado de
ACORDAM os Ministros do Tribunal
Administração de Serviços Gerais – de Contas da União, reunidos em
SIASG), da Secretaria de Logística Sessão do Plenário, ante as razões
e Tecnologia da Informação do expostas pelo Relator em:
Ministério do Planejamento, Or- 9.1. assinar, com fundamento no in-
çamento e Gestão (IN 03/11 SLTI/ ciso IX do art. 71 da Constituição Fe-
MPOG): “na fase competitiva do deral, o prazo de 60 (sessenta) dias
pregão, em sua forma eletrônica, o para que a Secretaria de Logística e
intervalo entre os lances enviados Tecnologia da Informação do Minis-
pelo mesmo licitante não poderá tério do Planejamento, Orçamento
e Gestão adote as providências ne-
ser inferior a 20 segundos”. Acres-
cessárias ao exato cumprimento do
centando-se, ainda, que: “os lan- que estabelecem o art. 3º da Lei nº
ces enviados em desacordo com o 8.666/1993 e o parágrafo único do
artigo 2º desta norma serão des- art. 5º do Decreto nº 5.450/2005
cartados automaticamente pelo acerca da observância do princípio
sistema” (art. 3º da IN 03/11 SLTI/ constitucional da isonomia, me-
MPOG). A intenção dos referidos diante a busca de alternativas, além
da ação mencionada nos itens 5 e
dispositivos é impedir a utilização
6 da Nota Técnica 112/DLSG/SLTI/
em Pregões eletrônicos, de softwa- MP, para implementação rápida de
res de lançamento automático de mecanismos inibidores do uso de
lances (software cognominado de dispositivos de envio automático
“Robô”). de lances em pregões eletrônicos

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conduzidos via portal Comprasnet, ter externado seu entendimento a
estabelecendo, se for o caso, ins- respeito da constatação de afronta
truções complementares sobre a quanto à utilização de dispositivo
matéria, conforme preconiza o art.
de envio automático de lances em
31 do Decreto nº 5.450/2005;
Pregões eletrônicos, no que tange
9.2. determinar à SLTI/MP que: ao Princípio da Isonomia entre os
9.2.1. tão logo conclua o processo participantes da disputa. No que
de identificação da alternativa de- se refere ao entendimento do TCU,
finitiva para coibir a utilização de ainda, faz-se imperioso mencionar
ferramenta de envio automático que em recente decisão, ratifi-
de lances nos pregões eletrôni- cou seu entendimento quanto ao
cos operacionalizados no sistema
desprestígio e, sobretudo, mácu-
Comprasnet, mencionado nos itens
5 e 6 da Nota Técnica 112/DLSG/ la do Princípio Constitucional em
SLTI/MP, dê ciência das respectivas comento. De modo que, de forma
conclusões e propostas de imple- mais flexível, passou a entender
mentação a este Tribunal; que a Administração deve dispor
9.2.2. enquanto não for implemen- de meios para coibir os efeitos
tada a alternativa definitiva con- nocivos quanto à utilização do sof-
forme item anterior, encaminhe tware Robô. Na ocasião, a análise
mensalmente a este Tribunal docu- sobre a utilização de dispositivo de
mento informando as medidas que envio automático de lances ocor-
estão sendo tomadas com relação reu no âmbito do sistema opera-
ao cumprimento do subitem 9.1.13 cional denominado Licitações-e,
do Acórdão 1.647/2010-TCU-Plená-
implantado pelo Banco do Brasil.
rio;
Vede Acórdão 1.216/14 – Plenário:
9.3. dar ciência deste acórdão,
acompanhado do relatório e do 28. Longe de coibir o uso desses
voto que o fundamentam: à Se- recursos, busca-se, isto sim, evitar
cretaria de Logística e Tecnologia que os dispositivos de envio rápido
da Informação do Ministério do e automático de lances gerem de-
Planejamento, Orçamento e Ges- sequilíbrio no espaço virtual de dis-
tão e à 5ª Secretaria de Controle puta do pregão eletrônico a ponto
Externo (5ª Secex), unidade cuja de suprimirem a distribuição iguali-
clientela inclui o órgão auditado; tária de tempo necessário para que
9.4. determinar à Secretaria de cada licitante, seja detentor ou não
Fiscalização de Tecnologia da Infor- da referida ferramenta tecnológica,
mação (Sefti) que prossiga no mo- possa avaliar a oferta de seu con-
nitoramento do subitem 9.1.13 do corrente e, assim, apresentar con-
Acórdão nº 1.647/2010-TCU-Plená- traproposta. (...)
rio1 (sem grifos no original). 39. No cumprimento dessa deter-
Portanto, como se vê, a IN 03/11 minação, a instituição bancária
SLTI/MPOG foi editada após o TCU poderá, se assim o quiser, compar-
tilhar os estudos e a experiência
1 TCU. Acórdão 2.601/11. Órgão Julgador:
angariados pela SLTI/MPOG ao en-
Plenário. Relator: Ministro Valmir Campelo. frentar os mesmos problemas na
DOU 28/09/11. administração do ComprasNet.

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40. Por fim, deve ser determina- condução da fase de lances, no


do à Secretaria de Fiscalização da Sistema operacional Comprasnet,
Tecnologia da Informação (Sefti) o qual seja: de que o intervalo entre
monitoramento da presente deli- lances (ofertados por quaisquer li-
beração.
citantes) não poderá ser inferior a
Acórdão: (...) 3 (três) segundos.
9.3. fixar prazo de 90 (noventa) Ainda, a IN 03/11 SLTI/MPOG, com
dias, a contar da ciência, para a redação dada pela IN 03/13, pas-
que a Vice-Presidência de Gover-
sou a vigorar acrescida dos seguin-
no do Banco do Brasil S/A adote
providências para cumprimento
tes dispositivos:
do art. 3º da Lei 8.666/1993 e do Art. 1º A O instrumento convoca-
parágrafo único do art. 5º do De- tório poderá estabelecer intervalo
creto 5.450/2005, no tocante à mínimo de diferença de valores en-
observância do princípio consti- tre os lances, que incidirá tanto em
tucional da isonomia, mediante relação aos lances intermediários
busca de alternativas para rápida quanto em relação à proposta que
implementação de mecanismos cobrir a melhor oferta.
inibidores dos efeitos nocivos que
o uso de dispositivos de envio Art. 3º (...)
automático de lances pode criar §1º Em caso de falha no sistema, os
no ambiente concorrencial dos lances em desacordo com a norma
pregões eletrônicos realizados no deverão ser desconsiderados pelo
portal Licitações-e, conforme ve- pregoeiro, devendo a ocorrência
rificado no pregão eletrônico 94/ ser comunicada imediatamente à
DALC/SEDE/2013, promovido pela Secretaria de Logística e Tecnolo-
Empresa Brasileira de Infraestrutu- gia da Informação.
ra Aeroportuária (Infraero)2 (sem
grifos no original). §2º Na hipótese do parágrafo an-
terior, a ocorrência será registrada
Com efeito, a IN 03/11 SLTI/MPOG em campo próprio do sistema (sem
foi alterada pela IN 03/13 SLTI/ grifos no original).
MPOG, de modo que o seu art. 2º
Observe-se que, em conformidade
passou a vigorar com a seguinte
com a norma contida no art. 3º,
redação: “na fase competitiva do
caput, da IN 03/11 (cuja redação
pregão, em sua forma eletrônica, o
não fora alterada pela IN 03/13),
intervalo entre os lances enviados
“os lances enviados em desacordo
pelo mesmo licitante não poderá
com o artigo 2º desta norma se-
ser inferior a vinte (20) segundos
rão descartados automaticamente
e o intervalo entre lances não po-
pelo sistema”, de modo que, com
derá ser inferior a três (3) segun-
base nos acréscimos contidos na
dos”. Como se vê, o MPOG passou
IN 03/13 SLTI/MPOG, com base em
a estabelecer um critério a mais a
seu §1º, “em caso de falha no sis-
ser verificado pelo Pregoeiro na
tema, os lances em desacordo com
a norma deverão ser desconsidera-
2 TCU. Acórdão 1.216/14. Órgão Julgador:
Plenário. Relatora: Ministra Ana Arraes.
dos pelo pregoeiro...” (sem grifos
DOU 14/05/14. no original).

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Com base em tal premissa impos- pois os lances estão velados e não
ta pela IN 03/13 SLTI/MPOG, a sabemos ainda quem os ofertou”,
regra será a de que o próprio sis- em tese, data venia, não há o que
tema descarte automaticamente se “temer” nesta etapa, por parte
os lances ofertados em desacor- do Pregoeiro; mesmo porque, de
do com o art. 2º. Sendo que só acordo com o que dispõe o art. 24,
haverá ingerência por parte do §5º, do Decreto Federal 5.450/05,
Pregoeiro nesta análise (quanto à a vedação quanto à identificação
observância da regra contida no dos licitantes na sessão do Pregão
art. 2º), quando houver falhas no é norma que se impõe a todos os
referido sistema. Fato que levará participantes, inclusive aos Prego-
o Pregoeiro a fazer a análise quan- eiros condutores do certame. De
to aos critérios a serem observa- modo que não há como se aceitar
dos por parte dos licitantes, para, a afirmação de que “o Pregoei-
obrigatoriamente, desconsiderar ro somente poderá analisar com
os lances apresentados em desa- exatidão após o encerramento do
cordo com a norma. certame e a geração da Ata do Pre-
gão”, já que a observância estrita
Observe-se que os critérios inse-
aos critérios enunciados no art.
ridos no art. 2º da IN 03/11 SLTI/
2º da IN 03/11 (com redação dada
MPOG (com redação dada pela IN
pela IN 03/13) diz respeito à etapa
03/13) são meramente objetivos,
de lances e não pode ser avaliada
cabendo ao Pregoeiro, ao consta-
após o encerramento da disputa
tar falhas3 no sistema, proceder
ou no decorrer da fase de análise
obrigatoriamente ao descarte
dos documentos de habilitação.
(desclassificação sumária) dos
lances que macularem as regras A verificação quanto à observân-
impostas. Portanto, considerando cia dos critérios impostos pela IN
o relato do Consulente quanto ao 03/11 e IN 03/13 perfazem um juí-
acompanhamento “com precisão” zo de admissibilidade, por parte do
dos “lances que não cumprem o Pregoeiro, quanto à aceitação dos
estabelecido, sendo temeroso nes- lances ofertados pelo Pregoeiro,
ta fase o descarte dos mesmos, conduzindo, conforme dito alhu-
res, à desclassificação sumária do
3 Observe-se, por oportuno, que a Adminis- licitante que não observá-los.
tração não poderá ficar à mercê das limita-
ções e/ou falhas constatadas pelo sistema
Não se olvide a Entidade Consulen-
operacional para o processamento de suas te quanto ao seu dever de observar
licitações na forma eletrônica. E, a respeito de forma absoluta as regras impos-
do tema, cumpre ressaltar posicionamento tas pela Secretaria de Logística e
do Tribunal de Contas da União (TCU), emi- Tecnologia da Informação para que
tido no Acórdão 130/14 – Plenário, no qual se legitime o certame por ela ins-
ficou consignado que “ao concretizar o jul-
taurado e ultimado. De modo que
gamento pelo critério disponibilizado pelo
se faz imperioso advertir-se que o
Comprasnet, diferente daquele constante
no edital e reforçado pelo pregoeiro, o cer-
objetivo da IN 03/11 SLTI/MPOG
tame foi maculado”. não é exatamente proibir o uso do

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“software Robô”, diversamente do de seu concorrente e, assim, apre-


que pareceu entender o Consulen- sentar contraproposta”.5
te; mesmo porque, não há meios Por fim, cumpre salientar que a ino-
concretos que possibilitem a identi- bservância por parte do Pregoeiro
ficação do uso dos referidos dispo- às normas insertas na legislação/
sitivos por parte dos licitantes nos normatização a ele aplicável, redun-
Pregões eletrônicos. dará obrigatoriamente, por parte
da autoridade competente, na to-
O que se pretende (ou o que deve
mada de providências pertinentes
se pretender, em verdade, e com e demais liberações no que tange
base no entendimento exarado à responsabilização do agente pú-
pelo TCU), é coibir-se os efeitos blico quanto aos atos que não ob-
nocivos causados pela utilização servaram as regras emanadas pela
dos dispositivos que possibilitam Secretaria de Logística e Tecnologia
automaticamente a oferta de lan- da Informação do Ministério do
ces em um menor tempo possível, Planejamento, Orçamento e Ges-
trazendo desigualdade4 de possibi- tão. Isto, com base no que dispõe o
lidades entre os licitantes em seus art. 2º, §4º e art. 31, ambos do De-
atos referentes à oferta/digitação creto Federal 5.450/05.
de novos lances por ocasião da dis-
puta eletrônica. Vede, por oportu- II Síntese conclusiva
no, a menção dos excertos (alhures De todo o exposto, tem-se que,
mencionados) do Acórdão 1.216/14 com base no art. 2º da IN 03/11, al-
– Plenário: “Longe de coibir o uso terada pela IN 03/13, a regra será a
desses recursos, busca-se, isto sim, de que o próprio Sistema descarte
evitar que os dispositivos de envio automaticamente os lances ofer-
rápido e automático de lances ge- tados em desacordo com o art. 2º.
Sendo que só haverá ingerência
rem desequilíbrio no espaço virtual
por parte do Pregoeiro nesta aná-
de disputa do pregão eletrônico a
lise (quanto à observância da regra
ponto de suprimirem a distribui-
contida no art. 2º), quando houver
ção igualitária de tempo necessário falhas no referido Sistema. Fato que
para que cada licitante, seja deten- levará o Pregoeiro a fazer a análise
tor ou não da referida ferramenta quanto aos critérios a serem obser-
tecnológica, possa avaliar a oferta
5 A título meramente informativo, cumpre-
4 Com relação ao uso de softwares robôs em nos salientar que a legalidade quanto à
Pregões eletrônicos: “Em minha opinião utilização do uso do software Robô ainda
este mecanismo fere a isonomia da compe- não fora objeto de apreciação por parte
tição. Pois não é um ser humano competin- do Poder Judiciário. Outrossim, vede que
do com outro ser humano. A ideia do tempo no âmbito do Poder Legislativo tramita
aleatório também é para tentar impedir o Projeto de Lei (PL) 2.631/11, o qual foi
esses mecanismos” (Ministro Weder de Oli- apensado ao PL 1.592/11, para alterar a Lei
veira – Revista O Pregoeiro – Abril/2013, p. 10.520/02, que pretende tornar legalmente
34). proibida a sua utilização.

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vados por parte dos licitantes, para, etapa de lances e não poderá ser
obrigatoriamente, desconsiderar os avaliada após o encerramento da
lances apresentados em desacordo disputa ou no decorrer da fase de
com a norma. Neste sentido, caberá análise dos documentos de habili-
ao Pregoeiro, ao constatar falhas no
tação, sob pena de ilegalidade (em
Sistema, proceder obrigatoriamen-
sentido amplo) do procedimento li-
te ao descarte dos lances que ma-
cularem as regras impostas. citatório, e sua consequente anula-
ção; além da responsabilização a ser
Por fim, advirta-se que a observân- atribuída do Pregoeiro pelas falhas
cia estrita aos critérios enunciados
cometidas na condução da disputa.
no art. 2º da IN 03/11 (com redação
dada pela IN 03/13) diz respeito à Por Elaine Cristina Bertoldo

Assunto
Visita à sede do licitante.

Legislação Aplicável
Lei 8.666/93.

Ementa
Visita à sede do licitante. Inexistência de fundamento legal para tanto. Documentos
de habilitação. Rol taxativo. Inexistência de sede do licitante. Necessidade de
consulta a profissional do Direito Empresarial.

nos informou que o escritório da


I Consulta empresa está sendo construído no
“Recentemente realizamos Pregão fundo da casa e seu pai atende na
eletrônico para contratação de residência dele. Então observamos
empresa prestadora de serviços que: a empresa existe mesmo no
de limpeza. Temos como praxe, papel, o proprietário, juntamen-
além da análise da documentação, te com seu filho, realizam todo o
visitar o fornecedor. Ocorre que trabalho, não existindo uma sede
ao visitarmos a empresa arrema- que possamos futuramente nos
tante, no endereço informado por reportar, já que o endereço é uma
ela, constatamos a não existência residência com futura pretensão
da ‘empresa física’, já que lá re- de empresa no fundo. Então como
side o filho do proprietário e ele poderemos desclassificar essa em-

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presa? Amparados por qual dispo- propostas de preços e não a habi-


sitivo legal?” litação...”. 1
No mesmo sentido já se pronun-
II Resposta ciou o Tribunal de Contas da União
(TCU), citado apenas a título exem-
O art. 30 da Lei 8.666/93 apresenta plificativo, uma vez que a Adminis-
um rol de documentos que a Admi- tração Consulente não se submete
nistração pode exigir dos licitantes a esta Corte de Contas, veja-se:
como pré-requisito à participação
Voto do Ministro Relator: (...)
em certames licitatórios, para fins
de comprovação de sua qualifica- 7. Assim, têm fundamento legal e
ção técnica. Dentre tal rol consta, são razoáveis os critérios de exi-
de acordo com o disciplinado no gência de vistoria técnica e de fixa-
inc. III do destacado artigo, “atesta- ção e aplicação de multa utilizados
pela Fundação...2 (sem grifos no
do”, fornecido pela Administração,
original).
comprovando que o licitante “rece-
beu os documentos, e, quando exi- A qualificação técnica é um con-
gido, de que tomou conhecimento junto de requisitos profissionais
de todas as informações e das con- que o licitante deverá reunir para
dições locais para o cumprimento a concretização plena do objeto da
licitação. O proponente (...) deverá
das obrigações objeto da licitação”.
conhecer o local onde desenvolve-
Acerca de tal documento, opor- rá tais atividades, o que é salutar
tuna a citação dos seguintes co- para que elabore sua proposta
mentários de Carlos Pinto Coelho com consistência. Não vemos,
MOTTA: portanto, em que este quesito fira
o princípio constitucional da iso-
A doutrina é predominantemente nomia (...). Para participar do pro-
favorável à realização de vistorias cedimento, o licitante precisa rea-
ou visitas técnicas, mesmo porque lizar vistoria nas instalações onde
essas proporcionam ao licitante co- prestará os serviços3 (sem grifos no
nhecimento prévio das condições original).
locais que terá que enfrentar du-
rante o período de execução. Assim, depreende-se que quan-
do o local no qual será executado
Comenta acertadamente o Profes-
sor Pereira Júnior que, “sendo esta o objeto envolver peculiaridades
a hipótese, não se admitirá escusa que possam influenciar na reali-
para a inexecução, fundada em ale-
gadas dificuldades imprevistas no 1 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Li-
local em que se deva realizar a obra citações e contratos. 12. ed. Belo Horizon-
ou o serviço”. E cita pertinente De- te: Del Rey, 2011. p. 428-429.
cisão da Corte de Contas da União,
2 TCU. Acórdão 1.687/08. Órgão Julgador:
que deu origem à tese, e que afasta
Plenário. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
taxativamente a hipótese de ofen-
DOU 18/08/08.
sa ao “princípio constitucional da
isonomia”, asseverando que “não 3 TCU. Decisão 682/96. Órgão Julgador: Ple-
é pertinente a alegação de que a nário. Relator: Ministro José Antônio Barre-
vistoria deveria acompanhar as to de Macedo. DOU 04/11/96.

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zação do serviço a ser contratado das obrigações objeto da licitação”,
é, além de legalmente admissível, nos termos do que preceitua o inc. III,
recomendado que a Administra- do art. 30, da Lei 8.666/93. No entan-
ção exija dos licitantes a compro- to, não há que se falar na possibilida-
vação de que os mesmos tomaram de de que a Administração vá até a
conhecimento das informações e sede do licitante verificar se a mesma
efetivamente existe ou se o mesmo
condições necessárias à plena e
tem condições locais para o cumpri-
satisfatória consecução do futuro
mento das obrigações, uma vez que
contrato. tal fato não pode ser entendido como
Entretanto, nas licitações realizadas visita técnica. Estas informações de-
por meio de Pregão, a necessidade verão estar descritas de forma deta-
de exigir-se a apresentação do alu- lhada no edital de Pregão, bem como
dido documento deverá ser previa- constar na proposta do licitante. Se o
mente analisada, haja vista que tal licitante classificado provisoriamente
modalidade se destina à aquisição de em primeiro lugar não comprovar que
objetos comuns, cuja execução, em atende os requisitos previstos no edi-
princípio, não envolveria situações tal, o mesmo será inabilitado, ou caso
de grande complexidade ou dotadas apresente uma oferta que não for
de peculiaridades nas quais fosse im- aceitável, sua proposta será desclas-
prescindível a realização de visitas sificada, e o Pregoeiro examinará as
técnicas. Mas, havendo elementos ofertas subsequentes, nos termos do
que fundamentem tal exigência, a inc. XVI, do art. 4º, da Lei 10.520/02.
mesma poderá (e deverá) ser realiza-
da pela Administração. Nesse sentido, A respeito da proibição da realiza-
cita-se novamente o posicionamento ção dessa ‘visita técnica as avessas’,
do Tribunal de Contas da União (TCU), importante citar o entendimento do
conforme consta no Informativo de TCU:
Jurisprudência sobre Licitações e Con-
REPRESENTAÇÃO. EXIGÊNCIA PARA
tratos 76: “Visita técnica em licitação
HABILITAÇÃO ABUSIVA. ART. 48,
por pregão eletrônico para aquisição
§3º, DA LEI Nº 8.666, DE 1993. CO-
de móveis só deve ser exigida se exis-
NHECIMENTO. PROCEDÊNCIA. DE-
tentes elementos que a justifiquem,
TERMINAÇÃO. ARQUIVAMENTO.
sendo ilícita que tal medida tenha de
ser realizada por arquiteto empregado Voto: (...)
da licitante, dado não ter pertinência
4. Como visto, a questão tratada
com a finalidade desse procedimento,
nesta oportunidade restringe-se,
além de não se amoldar ao disposto
basicamente, à legitimidade da
no art. 30, III, da Lei de Licitações.”4
(sem grifos no original). cláusula 9.2.5 do edital ao exigir,
como condição de habilitação, a
Como já comentado acima, a visita realização de vistoria por servido-
técnica deve ser utilizada para com- ra do XXX a ser realizada nas de-
provar que o licitante “tomou conhe- pendências da licitante para ates-
cimento de todas as informações e das tar a capacidade técnica própria
condições locais para o cumprimento de execução, nos seguintes termos:

4 TCU. Acórdão 2.179/11. Órgão Julgador: Ple-


"9.2.5. Declaração de Realização
nário. Relator: Ministro Weder de Oliveira. de Vistoria e Atestação de Capaci-
DOU 17/08/11. dade Técnica Própria de Execução:

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a. Recebida dentro do prazo esta- entende-se suficiente, para efeito


belecido e comprovada a concor- de efetividade do Controle Exter-
dância de toda a documentação no, dar ciência ao jurisdicionado
exigida nos itens 9.2.1, 9.2.2, 9.2.3 das ocorrências apuradas nesta
e 9.2.4 deste Edital, a licitante de- representação, com o objetivo de
verá agendar e ter realizada nas prevenir a reincidência de irregu-
suas dependências, comprovada- laridade dessa mesma natureza."
mente próprias, uma vistoria a ser
atestada pela servidora do XXX, 7. Ocorre que as condições de
responsável pela fiscalização dos habilitação estão taxativamente
trabalhos a serem executados... previstas nos arts. 27 a 31 da Lei
nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
9.2.5.1. Esta vistoria deverá ser de tal modo que o instrumento
agendada e realizada dentro do convocatório extrapolou abusiva-
prazo de 48 horas a contar da soli- mente os critérios para habilita-
citação da Pregoeira pelo chat. Esta ção das licitantes”5 (sem grifos no
declaração é documento impres-
original).
cindível para a fase de habilitação,
e a sua falta será motivo suficiente Nos termos do §6º, do art. 30, da
para a inabilitação da empresa lici- Lei 8.666/93 (de aplicação subsi-
tante." diária ao Pregão), “as exigências
5. Resumidamente, a represen- mínimas relativas a instalações
tante sinaliza que seria indevida a de canteiros, máquinas, equipa-
cláusula editalícia, pois tal proce- mentos (...), serão atendidas me-
dimento restringiria a competitivi- diante a apresentação de relação
dade do certame, limitando a par-
explícita e da declaração formal
ticipação na disputa de empresas
situadas no Rio de Janeiro.
da sua disponibilidade, sob as pe-
nas cabíveis, vedada as exigências
6. A unidade técnica, ao instruir o de propriedade e de localização
feito, propôs, no mérito, conside-
prévia” (sem grifos no original).
rar a representação apenas par-
cialmente procedente, aduzindo, Neste sentido, em nossa ótica, ao
para tanto, o seguinte: "Conside- exigir-se, como condição de habili-
rando que o Pregão Eletrônico XXX tação, a realização de vistoria por
foi marcado por efetiva competi- parte da Administração Licitado-
tividade, que houve considerável ra, às dependências dos licitantes,
redução no preço estimado pela estar-se-ia, em verdade, ainda
administração e que não há indí- que indiretamente, exigindo-se
cios de má-fé ou de favorecimen-
propriedade prévia relativamente
to à licitante vencedora. Conside-
rado que a ilegalidade cometida às “instalações laboratoriais”, em
pela pregoeira no que se refere à descompasso com o que dispõe
inabilitação da representante não o destacado comando normativo.
acarreta de forma automática a Consequentemente, tal prescri-
anulação do certame. Conside- ção não se revela possível.
rando, ainda, que a anulação do
procedimento implicará prejuízo 5 TCU. Acórdão 7.528/13. Órgão Julgador: Se-
maior ao interesse público do que gunda Câmara. Relator: Ministro André de
a sua manutenção. Desse modo, Carvalho. DOU 03/12/13.

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II Síntese conclusiva aceitável. Assim, o licitante não
poderá ser inabilitado por esse
Isto posto, compreende-se que
motivo.
não há fundamento legal para
que Administração Consulente Frise-se que a legalidade ou não
realize visita na sede do licitante. da coexistência da sede da pessoa
O rol de documentos que a Admi- jurídica com o domicílio da pessoa
nistração licitadora poderá exigir física somente poderá ser consta-
dos licitantes é considerado taxa- tada por profissional especializa-
tivo, isto é, se restringem àqueles do na área de Direito Empresarial,
previstos nos arts. 27 a 31 da Lei seara alheia à atuação desta Con-
8.666/93 e a visita na sede do lici- sultoria. Por essa razão, a esse res-
tante não está entre eles. peito, recomenda-se consulta a
O fato da sede da pessoa jurídica profissional especializado na área.
coincidir com o domicílio da pes-
Salvo melhor juízo, considerados
soa física, no caso em tela, não
os elementos fáticos fornecidos
prejudica/impede que o licitante
pelo Consulente, esse é o enten-
execute o objeto licitado, desde
dimento da Consultoria Negócios
que o mesmo preencha todos os
Públicos.
requisitos de habilitação exigidos
e que apresente uma proposta Por Melissa de Cássia Pereira

Notas:
COMO CITAR
ESTA FONTE: No dia 30 de outubro de 2014 entrou em vigor a Lei 13.019 de julho de
CONSULTORIA 2014. O citado diploma normativo “estabelece o regime jurídico das
NEGÓCIOS parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferência de recursos fi-
PÚBLICOS.
Pareceres Jurídicos.
nanceiros, entre a Administração pública e as organizações da socieda-
LICICON – Revista de civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finali-
de Licitações e dades de interesse público; define diretrizes para a política de fomento
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo
Curitiba, PR, ano de colaboração e o fomento; altera as Leis 8.429 de 2 de julho de 1992,
VII, n.84, p.09-41, e 9.790, de 23 de março de 1999.
dezembro 2014.

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RESPOSTAS
OBJETIVAS

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Respostas Objetivas

realizada na modalidade Pregão,


01. Solicitamos esclarecimentos
na sua forma presencial ou ele-
quanto à obrigatoriedade de di-
trônica, conste no processo ad-
vulgação do valor estimado em
ministrativo correspondente. A
edital de Pregão: conforme en-
norma em destaque, portanto,
tendimento do TCU, a divulgação
não estabelece a obrigatorieda-
do referido valor é facultativa; no
de de que tal valor de referência
entanto, se algum licitante solici-
venha a constar, também, no
tar esclarecimento sobre tal va-
edital regente do certame. Neste
lor, somos obrigados a informar?
sentido, veja-se o entendimen-
Preliminarmente, insta consig- to apresentado pelo Tribunal de
nar que a verificação dos preços Contas da União (TCU), citado a
praticados no mercado, para de- título referencial (já que a Enti-
terminado bem ou serviço que
dade Consulente não se subme-
pretenda a Administração Pú-
te às decisões da referida Corte
blica contratar, é exigência que
pode ser extraída do inc. II, do de Contas, muito embora possa
§2º, do art. 40 e do inc. IV, do art. utilizá-las como supedâneo no
43, ambos da Lei 8.666/93, e art. agir administrativo), por meio
3º, inc. III, da Lei 10.520/02. Sen- dos Acórdãos 394/09 e 1.153/13,
do que, a intenção do legislador ambos do Plenário, respectiva-
ordinário, ao instituir tal obriga- mente:
ção às Entidades Licitadoras, foi a
1. Na licitação na modalidade
de promover o estabelecimento
pregão, o orçamento estimado
de um preço referencial, a fim de
em planilhas de quantitativos e
que aquelas pudessem verificar a
compatibilidade entre os valores preços unitários não constitui
orçados e aqueles efetivamen- um dos elementos obrigatórios
te apresentados pelos licitantes, do edital, devendo estar inseri-
por ocasião da apresentação de do obrigatoriamente no bojo do
suas respectivas propostas. processo administrativo relativo
ao certame. Ficará a critério do
Pois bem, no que tange especi-
ficamente à divulgação do valor gestor, no caso concreto, a ava-
de referência, em sede de Pre- liação da oportunidade e con-
gão, a partir da leitura do art. 3º, veniência de incluir esse orça-
inc. III, da Lei 10.520/02, tem-se mento no edital ou informar, no
a obrigatoriedade de que o preço ato convocatório, a sua dispo-
orçado em determinada licitação nibilidade aos interessados e os

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Respostas Objetivas

meios para obtê-lo1 (sem grifos cumentos integrantes da fase in-


no original). terna da licitação. Neste sentido,
7. (...) Apesar de o subitem ora aliás, tem-se que a disponibiliza-
questionado indicar a necessidade ção do orçamento estimado por
de o edital dispor da dita estimativa parte da Administração Licitado-
de custo, não verifico tal obrigato- ra, caso solicitada por eventuais
riedade na Lei nº 10.520/2002 e no interessados, pela via do acesso
Decreto 5.450/2005, que instituiu aos autos do processo, constitui-
e regulamentou essa modalidade se em dever inafastável, nos ter-
de licitação, bem como na Instru- mos do que dispõe o art. 63 da
ção Normativa do Ministério do Lei 8.666/93.
Planejamento. 8. Cotejando esses
dispositivos legais, observo que Não há qualquer obrigatorieda-
a legislação específica para essa de, todavia, de que tais informa-
modalidade de licitação possibili- ções sejam remetidas via e-mail
ta ao gestor a disposição do custo ou repassadas por telefone3, bas-
do objeto do certame nos autos tando que os autos do processo
do procedimento licitatório, não estejam disponíveis para vistas
havendo a obrigatoriedade de
aos interessados. Porém, dispon-
essa informação constar direta-
mente no edital. Melhor dizendo, do o edital em seu bojo de que
em que pese os normativos legais os pedidos de informações sobre
não dispensar o registro do custo o processo poderão ser obtidos
estimado do bem ou serviço a ser por e-mail, por exemplo, torna-se
adquirido no processo licitatório, obrigada a Administração a pres-
este poderá não estar diretamente tar as informações aos licitantes
descrito no edital, oportunidade na interessados, aos quais se inclui a
qual o instrumento convocatório divulgação do valor referente ao
terá de informar aos interessados o preço estimado pela Administra-
local do processo e os meios para
ção, quando este for solicitado.
obter esta informação2 (sem grifos
no original). Observe-se, por oportuno, que
é importante diferenciar os pe-
Veja-se que o que se está a afir-
didos de esclarecimentos feitos
mar é, tão somente, a dispensabi-
ao edital e os pedidos de infor-
lidade do orçamento estimado in-
mações sobre o processo licita-
tegrar os editais de Pregão. O que
tório. Os primeiros têm estreita
não significa, com o devido desta-
relação com a necessidade de se
que, que este está dispensado de
esclarecer determinado assunto
constar no respectivo processo
não constante (ou obscuro) no
da contratação como um dos do-
instrumento convocatório, que
seja relevante para a elaboração
1 TCU. Acórdão 394/09. Órgão Julgador: Ple-
nário. Relator: Ministro José Jorge. DOU
13/03/09. 3 Estes procedimentos poderão vir a ser
adotados, entretanto, com vistas a ampliar-
2 TCU. Acórdão 1.153/13. Órgão Julgador: -se a publicidade dos atos administrativos,
Plenário. Relator: Ministro Valmir Campelo. contudo, repise-se não há obrigação legal
DOU 15/05/13. quanto a este agir.

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Respostas Objetivas
das propostas e/ou participação observância do disposto no inc.
dos interessados; de modo que II, do §2º, do art. 40, da mesma
será obrigatória a divulgação de Lei, que assim preceitua: “§2º
tais esclarecimentos, por parte Constituem anexos do edital,
da Administração, a todos os li- dele fazendo parte integrante:
citantes interessados. Já as infor- II - orçamento estimado em pla-
mações sobre o processo licitató- nilhas de quantitativos e preços
rio (informações às quais alude o unitários”.
TCU), dizem respeito apenas ao
A esse respeito importante citar
interessado em obtê-la, de modo
Joel de Menezes NIEBUHR, que
que, muito embora seja obriga-
afirma: “O inciso II do §2º do art.
tória sua divulgação ao mesmo,
7º da Lei nº 8.666/93 prescreve
não o será em relação a outros
que as obras e os serviços somen-
licitantes. Isto pelo fato de que o
te devem ser licitados quando
pedido de informação referente
existir orçamento detalhado em
ao processo licitatório (como é o
planilhas que expressem a com-
caso de informação relacionada
posição de todos os seus custos
ao valor referencial da Adminis-
unitários. Demais disso, o inciso II
tação, bem como, concernente a
do §2º do art. 40 da mesma Lei
quaisquer outros elementos não
determina que o orçamento esti-
essenciais ao procedimento de
mado em planilhas de quantita-
licitação e/ou contratação em si,
tivos e preços unitários é anexo
a exemplo da justificativa para a
obrigatório e parte integrante
eleição de determinada moda-
do edital.”4 Consequentemente,
lidade de licitação, da justifica-
em tais licitações será obrigató-
tiva acerca do interesse público
ria a divulgação do orçamento
envolvido ou das necessidades
estimado, pela Administração Li-
administrativas envolvidas, in-
citadora, no bojo de seus editais,
formações essas que igualmen-
figurando este como um de seus
te devem constar nos autos do
anexos indispensáveis.
processo), e que não seja pedido
de esclarecimento do ato con- Por fim, faz-se importante co-
vocatório em si, não tem qual- lacionarmos entendimento de
quer influência, a priori, com a Marçal JUSTEN FILHO sobre a
elaboração das propostas e/ou desnecessidade de sigilo quanto
participação dos demais interes- ao preço estimado no Pregão:
sados. O TCU reputa que a Lei 10.520, di-
Em contraponto, para fins de versamente da Lei 8.666/93, omitiu
complementação de estudo, ob- a vedação à existência de elemen-
tos sigilosos para orientar a decisão
serve-se que em se tratando de
administrativa. Portanto, seria lícito
procedimentos licitatórios de-
à Administração deixar de divulgar
flagrados por uma das modali-
dades da Lei 8.666/93, sujeitas, 4 NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação Públi-
portanto, apenas às disposições ca e Contrato Administrativo. 2. ed. Belo
nela contidas, será inafastável a Horizonte: Fórum, 2012. p. 271.

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Respostas Objetivas

o valor do orçamento. O raciocínio acordado entre si para assegurar a


prova demais, inclusive porque au- vitória de um deles. Essa é uma hi-
torizaria que o pregão fosse julgado pótese anômala e que ingressa na
segundo fatores subjetivos ou sigi- seara da criminalidade5 (sem grifos
losos – algo absolutamente incom- no original).
patível com o regime constitucional
da atividade administrativa. Enfim, 5 JUSTEN FILHO, Marçal. Pregão (Comentá-
a orientação do TCU não merece rios à Legislação do Pregão comum e ele-
adesão porque a vedação ao sigilo trônico). 6. ed. São Paulo: Dialética, 2013.
tem origem na Constituição, e não p. 88-89.
propriamente na Lei 8.666. Não se
trata, portanto, de mera aplicação
de regras da Lei 8.666 no âmbito
do pregão, mas de assegurar a
existência, de elementos objetivos 02. Em uma Concorrência po-
para a formulação das propostas demos considerar válidos docu-
e para a decisão administrativa. mentos fiscais com endereços da
Por outro lado, há versões de que empresa diferentes? Por exem-
o TCU adotou essa orientação sob plo: Certidão do FGTS com um
o pressuposto de que a divulgação endereço e Certidão de Tributos
do orçamento seria um incentivo Municipais com outro, ambas
à elevação dos preços. Segundo com o mesmo CNPJ? Todos os do-
essa concepção, os particulares, cumentos da empresa não devem
cientes do valor estimado pela constar do mesmo endereço?
Administração, deixariam de pra-
ticar os preços mais reduzidos. No Relativamente à apresentação
entanto, a argumentação infringe dos documentos de habilitação,
a lógica, a mecânica do pregão e pelos licitantes, quando de sua
o funcionamento do mercado. (...) participação em certames licita-
Admita-se, para argumentar, que tórios, deve-se observar o dispos-
os licitantes fossem influenciados
to pelo art. 29 da Lei 8.666/93.
pelo valor do orçamento elabora-
do pela Administração. Imagine-se Perceba-se, assim, que dentre os
que todos os licitantes resolvessem documentos de habilitação afe-
elevar os preços para manter os va- tos à regularidade fiscal e traba-
lores próximos do orçamento ado-
lhista a serem apresentados, está
tado pela Administração. (...) Ora,
a existência do orçamento não
exatamente a prova de regulari-
se constituiria em fator a afetar dade perante a Fazenda Munici-
essa disputa na etapa de lances. pal, referenciada pelo Consulen-
Sagrar-se-ia vencedor o licitante te, a qual deve ser pertinente ao
que formulasse o menor lance. domicílio ou sede do licitante.
Não há como admitir que, instau- O mesmo se diga, por exemplo,
rada a fase de lances, o valor do no que tange à apresentação da
orçamento elaborado pela Admi-
Certidão Negativa de Falência ou
nistração se constituiria em um fa-
tor restritivo da disputa. (...) O dito Concordata expedida pelo distri-
valor do orçamento apenas poderia buidor da sede da pessoa jurídi-
produzir algum efeito restritivo da ca, ou de execução patrimonial,
disputa se os licitantes estivessem expedida no domicílio da pessoa

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física, nos moldes do inc. II, do cada um de seus estabelecimen-
art. 31, da Lei 8.666/93. tos localizados no Brasil ou no
exterior, antes do início de suas
Dito isso, reportou-se na presen- atividades. (...)
te Consulta, que em Concorrência
§2º No âmbito do CNPJ, estabe-
realizada pela Administração
lecimento é o local, privado ou
Consulente, o endereço da sede
público, edificado ou não, móvel
de determinado licitante cons- ou imóvel, próprio ou de tercei-
tante na Certidão de regularida- ro, onde a entidade exerce, em
de perante o FGTS, era diverso caráter temporário ou perma-
daquele disposto na Certidão nente, suas atividades, inclusive
afeta à regularidade municipal; as unidades auxiliares constan-
muito embora o CNPJ contido tes do Anexo VII desta Instrução
em ambos os documentos seja Normativa, bem como onde se
o mesmo. À vista disso, questio- encontram armazenadas merca-
nou-se se é possível a aceitação dorias.
de tal documentação nestes ter- §3º Considera-se estabelecimen-
mos, bem como, se todos os do- to, para fins do disposto no §2º, a
cumentos a serem apresentados plataforma de produção e arma-
por determinada empresa devem zenamento de petróleo e gás na-
conter o mesmo endereço. tural, ainda que esteja em cons-
trução.
Pois bem. Há que se considerar,
§4º No caso previsto no §3º, o en-
inicialmente, que dentro do rol
dereço a ser informado no CNPJ
que conforma as chamadas con- deve ser o do estabelecimento
dições de habilitação, podemos da pessoa jurídica proprietária ou
listar tanto o CNPJ (art. 29, inc. I), arrendatária da plataforma, em
quanto o registro comercial, ato terra firme, cuja localização seja a
constitutivo, estatuto ou contra- mais próxima (sem grifos no ori-
to social em vigor, a depender da ginal).
natureza jurídica do licitante (art.
Infere-se, portanto, que para fins
28, incs. II, III e IV); sendo que em
de inscrição no CNPJ, as pessoas
ambos os documentos, constará
jurídicas devem necessariamente
o endereço da sede do licitante.
indicar um estabelecimento em
Neste sentido, no que tange par-
específico, sendo este conside-
ticularmente ao CNPJ, veja-se o
rado “o local, privado ou público,
que dispõe a Instrução Normativa
edificado ou não, móvel ou imó-
1.470/14 (SRF)1:
vel, próprio ou de terceiro, onde
Art. 3º - Todas as pessoas jurídi- a entidade exerce, em caráter
cas domiciliadas no Brasil, inclusi- temporário ou permanente, suas
ve as equiparadas pela legislação atividades”; ou, em outras pala-
do Imposto sobre a Renda, estão
vras, o endereço de sua sede. Por
obrigadas a inscrever no CNPJ
consequência, considerando-se
que nas certidões referenciadas
1 Disponível em: <http://www.receita.
fazenda.gov.br/Legislacao/ins/2014/
pelo Consulente consta o mesmo
in14702014.htm>. Acesso em: 26/08/14. número de CNPJ, a princípio, em

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Respostas Objetivas

ambas igualmente deveria cons- dispõe o §3º, do art. 43, da Lei


tar o mesmo endereço da sede 8.666/93, a saber: “é facultada à
da empresa. Comissão ou autoridade superior,
em qualquer fase da licitação, a
Ocorre que, não se pode olvidar
promoção de diligência destinada
quanto à eventual ocorrência da
a esclarecer ou a complementar a
mudança do endereço da sede
instrução do processo, vedada a
da empresa, recentemente; de
inclusão posterior de documento
modo que o novo endereço ape-
ou informação que deveria cons-
nas constaria naqueles documen-
tar originariamente da proposta”.
tos que tivessem sido expedidos
posteriormente a tal modifica- Por fim, a título argumentativo,
ção. Não significa dizer, entretan- no sentido de corroborar o posi-
to, que não seja dever do licitante cionamento ora apresentado, re-
comunicar os órgãos emissores comenda-se a leitura do Acórdão
quanto a tal alteração. Mas, por 352/10 – Plenário, do Tribunal de
outro lado, pode ser que mesmo Contas da União (TCU) (a título
face à sua solicitação, ainda não referencial), por meio do qual a
tenha havido tempo hábil para a Corte de Contas Federal manifes-
modificação/baixa de tal dado/ tou-se no sentido de que configu-
informação junto aos bancos de raria rigor excessivo a não aceita-
dados pertencentes a tais entida- ção de documentos habilitatórios
des, bem como, para a emissão apresentados por determinado
de novas certidões já contendo o licitante, tão somente em razão
novo endereço. do fato de que as informações
neles contidas não terem ainda
Sendo esta a situação, e se devi-
sido devidamente atualizadas pe-
damente comprovada nos autos
los órgãos emissores, observe-se:
do processo, considerando-se os
Princípios da Proporcionalidade e Voto: (...)
da Razoabilidade, a não aceitação 5. O pleito do interessado ampara-
à prática de rigorismos inúteis se em suposto descumprimento
por parte da Administração Lici- das exigências do edital por parte
tadora e, ainda, a primazia da rea- da empresa Bom Sinal, que teria
lidade sobre a forma, no entendi- apresentado Certidão de Registro
e Quitação de Pessoa Jurídica in-
mento desta Consultoria Jurídica,
válida, emitida pelo Crea/CE com
poderão ser aceitas ambas as
informações desatualizadas, no
certidões, desde que obviamen- que concerne ao capital e ao objeto
te apresentadas dentro de seus social, além de não ter comprovado
respectivos prazos de validade, a experiência em Veículos Leves so-
ainda que o endereço constante bre Trilhos - VLTs "EM OPERAÇÃO".
nelas seja diverso. Destacamos, (...)
neste contexto, que a apuração 8. Quanto ao mérito desta Repre-
de tais circunstâncias no caso em sentação, cotejando-se o teor da
tela deverá ser procedida pela via certidão emitida pelo Crea/CE em
da diligência, nos moldes do que favor da empresa Bom Sinal In-

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dústria e Comércio Ltda. (fl. 33), art. 67, caput, da Lei 8.666/93, se-
expedida em 05/03/2009, com as gundo o qual “a execução do con-
informações que constam na 18ª trato deverá ser acompanhada e
Alteração e Consolidação de Con- fiscalizada por um representante
trato Social da aludida empresa,
da Administração especialmente
datada de 30/07/2009 (fls. 64/69),
verifica-se que há divergências nos designado, permitida a contrata-
dados referentes ao capital social e ção de terceiros para assisti-lo e
ao objeto. subsidiá-lo de informações perti-
nentes a essa atribuição.” Sendo
9. No que tange ao capital social,
oportuno mencionar, neste con-
houve alteração de R$ 4.644.000,00
para R$ 9.000.000,00, e no tocante texto, ainda que para além da te-
ao objeto, foi acrescentada a fabri- mática proposta na presente con-
cação de veículos ferroviários ou sulta, considerando o dispositivo
sobre pneus para transporte de legal mencionado, que parcela
passageiros ou cargas, bem como a da doutrina faz menção não só à
sua manutenção, assistência técni- figura do fiscal do contrato, mas
ca e operação. também à do seu gestor. Diferen-
10. Entretanto, embora tais mo- ciação esta, aliás, com a qual co-
dificações - que, aliás, evidenciam aduna esta Consultoria Jurídica.
incremento positivo na situação Neste sentido, nas palavras de
da empresa - não tenham sido ob- Gabriela Verona PÉRCIO, de um
jeto de nova certidão, seria rigor lado, ao gestor do contrato se de-
excessivo desconsiderar o efetivo
lega o “acompanhamento formal
registro da Bom Sinal Indústria e
Comércio Ltda. no Crea/CE, enti-
nos aspectos administrativos,
dade profissional competente, nos procedimentais e contábeis”1. E,
termos exigidos no subitem 6.4.1 de outro, existe a figura do fiscal
do edital (fl. 209) e no art. 30, inciso do contrato, preferencialmente
I, da Lei n. 8.666/1993.2 “detentor de conhecimentos téc-
nicos na área do objeto, o acom-
2 TCU. Acórdão 352/10. Órgão Julgador: Ple- panhamento e fiscalização da
nário. Relator: Ministro Marcos Bemquerer execução in loco”2 (destaques da
Costa. Sessão 03/03/10. autora).
De modo sintético, portanto, no
que tange às competências atri-
buídas ao fiscal e ao gestor de
03. Gostaríamos de saber se contrato, teríamos, dentre ou-
existe alguma hipótese em que tras, as seguintes funções, res-
é dispensável a nomeação de pectivamente: a) Fiscal: acompa-
fiscais, considerando também os nhamento in loco da execução,
casos em que não há formaliza- verificação de cumprimento de
ção de contrato.
1 PÉRCIO, Gabriela Verona. Contratos Ad-
A necessária fiscalização e geren- ministrativos. Curitiba: Negócios Públicos,
ciamento dos contratos adminis- 2008. p. 81.

trativos encontra-se insculpida no 2 Id.

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material e formal do contrato, seja qual for a denominação uti-


apontamento de faltas cometi- lizada” (sem grifos no original).
das pelo contratado, determina-
Entendimento este, aliás, que nos
ção de correção e readequação,
parece convergir com o posicio-
instrução do processo referente
namento aparente do Tribunal de
a modificações contratuais, reali-
Contas da União (TCU), conforme
zação de medições e solicitações
se pode observar por meio dos
de pagamentos, etc.; b) Gestor:
seguintes excertos do Acórdão
atividade gerencial e administra-
690/05 – Plenário: “Acórdão: (...)
tiva do contrato, procedimentos
mantenha representante, per-
referentes a depósito, execução e
tencente a seus quadros próprios
desconto de garantia, solicitação
de pessoal, especialmente de-
de pareceres técnicos e/ou jurídi-
signado para acompanhar e fis-
cos quando necessários, análise
calizar a execução dos contratos
dos relatórios contendo as solici-
tações do fiscal, liberação de pa- que celebrar, permitida a contra-
gamentos, etc.3 tação de agentes terceirizados
apenas para assisti-lo e subsidiá-
Dito isso, voltemo-nos, precipua- lo de informações pertinentes a
mente, ao deslinde da indagação essa atribuição, a teor do art. 67
formulada pela Consulente, qual da Lei 8.666/93”4 (sem grifos no
seja, “se existe alguma hipótese original). Bem como, do Acórdão
em que é dispensável a nomea- 381/09 – Plenário, o Tribunal de
ção de fiscais, considerando tam- Contas da União (TCU): “como é
bém os casos em que não há for- cediço, no âmbito dos contratos
malização de contrato”. Veja-se, administrativos, a Administração
então, que o destacado art. 67, tem o dever de acompanhar a
caput, da Lei 8.666/93, não faz perfeita execução do contrato,
nenhuma ressalva no que tange não podendo assumir a posição
à regra nele contida, ou seja, em passiva de aguardar que o contra-
havendo execução de contrato, tado cumpra todas as suas obri-
esta “deverá ser acompanhada e gações contratuais”5 (sem grifos
fiscalizada por um representante no original).
da Administração” (sem grifos no
original). Sendo oportuno relem- Pois bem. Diante da recorrente
brar, que nos termos do art. 2º, menção ao acompanhamento
parágrafo único, da mesma lei, da execução contratual (tanto no
“considera-se contrato todo e texto da Lei 8.666/93, quanto nos
qualquer ajuste entre órgãos ou julgados do TCU), em nosso en-
entidades da Administração Pú-
blica e particulares, em que haja 4 TCU. Acórdão 690/05. Órgão Julgador: Ple-
um acordo de vontades para a nário. Relator: Ministro Walton Alencar Ro-
drigues. DOU 10/06/05.
formação de vínculo e a estipu-
lação de obrigações recíprocas, 5 TCU. Acórdão 381/09. Órgão Julgador: Ple-
nário. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
3 Ibid., p. 113. DOU 13/03/09.

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tender, será inafastável a desig- ços intelectuais7 (destaques da au-
nação de fiscal do contrato, em tora) (sem grifos no original).
verdade, naquelas contratações Por consequência, em nosso en-
cujo cumprimento de suas res- tender, para cada contrato cele-
pectivas obrigações se protraia brado pela Administração, cuja
no tempo. Isto, ainda, indepen- execução se protraia no tempo,
dentemente do instrumento que e cuja natureza específica admi-
efetivamente tiver sido utilizado ta a fiscalização, será imperiosa
para a formalização da avença: a designação do correspondente
termo de contrato, nota de em- fiscal. Isto, conforme se pontuou,
penho, ordem de serviço, etc. independentemente do instru-
Deste modo, o que evidenciará mento contratual que tiver efe-
a necessidade ou não da desig- tivamente formalizado a avença.
nação do fiscal de contrato, será,
em verdade, não a existência 7 PÉRCIO, Gabriela Verona. Contratos Admi-
de contrato propriamente dita, nistrativos sob a ótica da gestão e da fisca-
mas antes as especificidades da lização. Curitiba: Negócios Públicos, 2010.
prestação a ser executada. Nes- p. 113.
se diapasão, a fim de melhor con-
textualizar a presente linha de ra-
ciocínio, adotamos como razões
de decidir, o escólio doutrinário
de PÉRCIO6, que assim leciona: 04. Em um Pregão eletrônico,
Mais do que prerrogativa, a fiscali- observamos que a fase de lances
zação da execução contratual é um aleatórios foi muito curta ape-
dever da Administração, intransfe- sar de termos uma concorrência
rível e irrenunciável, competindo- acirrada. Entendemos que po-
-lhe zelar para que o fim público
deríamos obter um valor menor,
seja alcançado. (...)
apesar de a primeira colocada já
A regra se aplica apenas a contra- estar abaixo do estimado. Ten-
tos que comportem e demandem
tamos negociar com a primeira
tal intervenção, a exemplo de
obras de engenharia e serviços de colocada, ao que não obtivemos
natureza continuada. Não é aplicá- êxito. Optamos, então, em abrir
vel a casos em que a constatação do oportunidade para que todos
cumprimento da prestação pode os participantes oferecessem
ser auferida de forma plena através
propostas com valores menores
do recebimento do objeto, como o
simples fornecimento de bens, ou que o menor valor alcançado na
nas hipóteses em que a natureza da fase aleatória. Obtivemos duas
execução não admite a fiscalização propostas no prazo limite esti-
invasiva, ex vi a prestação de servi- pulado. Uma da primeira colo-
cada, que ofereceu o valor de R$
6 Neste mesmo sentido, vede: JUSTEN FILHO,
171.000,00 e outra empresa que
Marçal. Comentários à Lei de Licitações
e Contratos Administrativos. 15. ed. São
ofertou o valor de R$ 101.000,00.
Paulo: Dialética, 2012. p. 934. Como terceiro passo, oferecemos

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à primeira colocada no Pregão a pelo mercado. A significativa di-


oportunidade de cobrir a ofer- ferença de valores verificada en-
ta de R$ 101.000,00, o que não tre as ofertas mencionadas de R$
ocorreu. Perguntamos: houve al- 171.000,00 (“vencedora”) e R$
guma irregularidade neste proce- 101.000,00, também aparenta
dimento? indício da necessidade de con-
firmação do preço estimado da
O valor/preço estimado em uma licitação.
licitação constitui-se em um
Transpondo, então, tais conside-
quantum apurado pela Adminis-
rações ao caso em tela, levando-
tração Licitadora, após a verifi-
se em conta que o preço final da
cação dos preços praticados no
disputa, dado pelo 1º colocado,
mercado (daí a falar-se em orça-
encontrava-se de acordo com o
mento estimado), relativamente
valor estimado (inclusive, aliás,
ao objeto a ser contratado. Não
abaixo dele), não haveria, a priori,
se traduz, portanto, em um valor
qualquer óbice para que a Admi-
estanque, mas sim em um refe-
nistração Licitadora contratasse
rencial para a atuação do admi- com o arrematante da licitação.
nistrador público, na qualidade Isto porque, a princípio, já resta-
de instrumento balizador para riam asseguradas, em tese, tanto
a análise das propostas a serem a vantajosidade das propostas,
ofertadas. O valor arbitrado com- quanto a economicidade espera-
porta, por consequência, varia- da com a realização de certames
ções não substanciais, tanto para licitatórios.
mais quanto para menos.1
Outrossim, igualmente relatou-se
Assim, a primeira orientação que certo prejuízo ocasionado pela
se faz ao caso em tela, é a de que duração muito curta do tempo
a Administração verifique e con- decorrido com a disputa final
firme se os valores levantados a (tempo randômico). Sobre este
título de “preço estimado”, re- aspecto, temos a consignar que
almente estão de acordo com já é da própria natureza do tem-
os preços ofertados atualmente po aleatório, esta imprevisibili-
dade com relação a sua duração,
1 Diferentemente se passa com relação ao sendo que esta poderá ser de 0
chamado preço máximo, o qual se cons- (zero) a 30 (trinta) minutos. Por
titui em um quantum estabelecido pela
consequência, não se verifica
Administração, com base tanto no preço
qualquer ilegalidade com relação
estimado já anteriormente apurado, quan-
to nas verbas disponíveis para determinada
ao fato do tempo randômico ter
contratação, consubstanciar-se-á no valor durado, aparentemente, apenas
máximo que a Administração Licitadora se alguns minutos.
dispõe a pagar por determinado bem/ser-
Sendo assim, houve equívoco do
viço. Por consequência, enseja imediata
Pregoeiro com relação à atitude
e necessariamente, a desclassificação das
propostas apresentadas com preços supe-
tomada, de “reiniciar” a fase final
riores ao estabelecido. de disputa (reabrindo-se a opor-

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tunidade dos licitantes ofertarem cumulativamente, se os gastos a
novos lances), os quais poderiam serem despendidos com a reali-
cobrir o primeiro lance melhor zação de um novo processo licita-
classificado. Este procedimento, tório não superarão os benefícios
por falta de embasamento legal, obtidos com a licitação já reali-
deverá ser anulado, retornando- zada e a contratação do preço
se o andamento dos atos ao vencedor, o qual se encontra em
momento de negociação com o conformidade com o preço esti-
vencedor da oficial fase final de mado. Conforme for, a revogação
disputa, ocorrida durante o tem- da licitação em curso somada à
po randômico. Mantendo o mes- posterior realização de novo cer-
mo sua oferta, e estando esta tame poderá resultar, diferente-
enquadrada aos termos do edital mente do que se espera, em prá-
(compatível com o valor estima- tica antieconômica por parte da
do), configurará sua habilitação Administração.
para então, conforme for, decla-
rá-lo vencedor do certame.
Apenas a título de comentário,
diante do exposto e em nosso
05. Numa pesquisa de mercado
entender, apesar do obrigatório
para formação do preço de refe-
conhecimento de todos, de que
rência, realizada unicamente por
o tempo randômico em um Pre-
gão eletrônico poderá ser de 0 a meio de sites, devem ser des-
30 minutos (cujo reflexo seria a considerados os preços promo-
oferta mais breve possível pelo cionais. Mas como deve o Órgão
licitante de sua melhor proposta proceder em relação aos fretes
de preço, logo que iniciado tal cobrados, considerando princi-
tempo pelo Sistema eletrônico), palmente o fato de os valores va-
seria apenas cogitável a revoga- riarem demasiadamente?
ção da licitação em liame (como
Primeiramente, insta consignar
um todo, e não apenas de sua
que a verificação dos preços pra-
fase externa), na hipótese de ha-
ticados no mercado, para deter-
ver certeza inequívoca de que
minado bem ou serviço que pre-
a Administração obteria lances
tenda a Administração Pública
ainda mais reduzidos (o que po-
contratar, é exigência que pode
deria ser atestado, por exemplo,
ser extraída do inc. II, do §2º, do
por meio de declarações a serem
art. 40 e do inc. IV, do art. 43, am-
firmadas pelos licitantes e junta-
bos da Lei 8.666/93, e art. 3º, inc.
das nos autos do processo). Não
III, da Lei 10.520/02.
nos parece ser o caso, uma vez
que apenas dois licitantes (dentre A intenção do legislador ordiná-
eles o próprio primeiro coloca- rio, ao instituir tal obrigação às
do) teriam reduzido seus preços Entidades Licitadoras, foi a de
finais. Neste contexto, ainda, a promover o estabelecimento de
Administração deverá sopesar, um preço referencial, a fim de

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que aquelas pudessem verificar a nos, três orçamentos de fornece-


compatibilidade entre os valores dores distintos, os quais devem ser
orçados e aqueles efetivamen- anexados ao procedimento licitató-
te apresentados pelos licitantes, rio (sem grifos no original).1
por ocasião da apresentação Com relação ao número mínimo
de suas respectivas propostas. de orçamentos, no entendimen-
Verifica-se, assim, que em todo to do TCU figura como aceitável
e qualquer certame licitatório o mínimo de três. Porém, reco-
realizado pelo Poder Público, in- menda-se, para maior efetivida-
dependentemente de seu objeto
de e eficiência administrativa,
constituir-se em fornecimento de
que a referida pesquisa seja a
bens ou prestação de serviços;
mais ampla possível, tanto quan-
deverá ser juntado ao processo
to permita a amplitude e as pe-
administrativo correspondente, o
culiaridades do mercado no qual
orçamento estimado da contrata-
ção pretendida. esteja inserido o objeto licitado.
Sendo que a impossibilidade ab-
Para além da abordagem aqui soluta de obter esse número
proposta e a título de comple- mínimo de orçamentos deve es-
mentação do estudo, consigna-se tar devidamente justificada nos
que, no que concerne ao núme- autos do processo licitatório (ou
ro mínimo de orçamentos que de contratação, na hipótese de
devem ser realizados pela Admi-
ausência de licitação), demons-
nistração, a legislação revela-se
trando que a Administração não
silente. Acerca disso, já se pro-
poupou esforços para tanto – não
nunciou o Tribunal de Contas da
se limitando a solicitar de apenas
União (TCU), por meio do Acór-
três particulares, mas, sim, a um
dão 980/05 – Plenário, no sentido
de que deverão ser juntados ao número considerável deles. Nes-
processo licitatório, obrigatoria- se caso, é imprescindível que a
mente, no mínimo três orçamen- Administração se utilize de ou-
tos, veja-se: tras fontes de pesquisa possí-
veis, como veremos a seguir.
O Tribunal Pleno, diante das razões
expostas pelo Relator, DECIDE: (...) Com base na redação do já men-
8.2. determinar às Indústrias ... que: cionado inc. IV, do art. 43, da Lei
8.666/93 (dispositivo aplicável
(...)
subsidiariamente à modalidade
8.2.4. proceda, nas licitações, dis- Pregão), os mecanismos a serem
pensas ou inexigibilidades, à con- utilizados pela Administração Li-
sulta de preços correntes no mer- citadora para obtenção do valor
cado, ou fixados por órgão oficial
estimado seriam:
competente ou, ainda, constantes
do sistema de registro de preços, a) Pesquisa de mercado;
em cumprimento ao disposto no
art. 43, inciso IV, da Lei nº 8.666/93, 1 Idem à Decisão TCU 955/02 – Plenário, de
consubstanciando-a em, pelo me- relatoria do Ministro Benjamin Zymler.

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b) Verificação dos preços fixados que poderiam ser considerados
por órgão oficial competente, aceitáveis.
quando for o caso; Ademais, como já comentado
c) Verificação dos preços registra- pela própria Consulente, numa
dos em Atas de Sistema de Regis- pesquisa de mercado para forma-
tro de Preços, quando existentes. ção do preço de referência, de-
vem ser desconsiderados os pre-
Sobre a questão, comentava o
ços promocionais. No entanto,
saudoso administrativista Carlos
caso o objeto demande a utiliza-
Pinto Coelho MOTTA: “Ambos os
ção de frete, o valor do mesmo
registros – o do preço do merca-
deverá ser considerado para fins
do e o do preço praticado pela de obtenção do preço estimado.
Administração – constituirão uma
base comparativa suficiente para A grande variação de preços
evitar contratações com sobre- de fretes, dependendo da lo-
preço que impliquem lesão aos calidade da qual o objeto será
cofres públicos. Essa diretriz é vá- transportado, não exclui esse
lida tanto para compras quanto componente como item a ser
para obras e serviços”.2 considerado para fins de verifi-
cação do preço estimado. Assim
É possível acrescentar, também, como ocorre variação dos pre-
como sistemática plenamente ços do objeto a ser contratado,
aceitável no tocante à pesquisa haverá variação dos valores dos
de preços, a verificação quanto fretes, a depender do local. Des-
aos preços praticados por outros se modo, será necessário con-
órgãos e entidades administrati- siderar todos os componentes
vas em contratos similares. do custo do objeto, tais como:
Inexiste, portanto, formatação tributos, taxas aduaneiras, se-
legal específica para que o Poder guros, assistências técnicas, en-
Público proceda à verificação tre outros itens essenciais, aos
dos preços correntes de merca- quais deve ser incluir o trans-
do, para posterior confecção de porte, para fins de obtenção do
seu orçamento estimado; con- valor estimado da contratação.
sequentemente, inexiste óbice A esse respeito vede Acórdão
legal para que seu processamen- 1.147-16/10 – Plenário, do TCU:
to se opere também por meio “9.5.2.2. explicite, quando for o
caso, todos os custos e despesas
de pesquisa de preços efetuada
envolvidas no preço final esti-
pela internet, ou Banco de pre-
mado, tais como impostos, taxas
ços privado, bem como, requisito
aduaneiras, fretes, seguros, trei-
específico para incluir tais proce-
namentos, assistência técnica, e
dimentos na relação dos preços
outras, no intuito de aferir com
precisão os valores praticados no
2 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas Li-
citações e Contratos. 11. ed. Belo Horizon-
mercado e de forma a selecionar
te: Del Rey, 2008. p. 56. a proposta mais vantajosa para a

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Administração, conforme art. 3º to à informação sobre os assuntos


da Lei 8.666/93” .3 públicos, quer pelo cidadão, pelo só
fato de sê-lo, quer por alguém que
3 TCU. Acórdão 1.147-16/10. Órgão Julgador: seja pessoalmente interessado. É o
Plenário. Relator: Ministro Augusto Sher- que se lê no art. 5º, XXXIII (direito
man Cavalcanti. DOU: 01/06/10. à informação) e XXXIV, “b”, este
último para o caso específico de
certidão (a ser expedida no prazo
máximo de 15 dias, conforme a Lei
9.051, de 18.5.95) para defesa de
06. Tenho o requerimento de um direitos e esclarecimento de situa-
ções de direito pessoal. (...)
Sindicato estadual que represen-
ta as empresas de construção pe- Na esfera administrativa o sigilo só
sada no Estado. Ele solicita a dis- se admite, a teor do art. 5º, XXXIII,
precitado, quando “imprescindí-
ponibilização dos dados (nome,
vel à segurança da Sociedade e do
endereço, telefone e CNPJ) das Estado”.1 (sem grifos no original).
empresas que estão executando
obras para o DER. Gostaria de sa- Visto isso, compete frisar que,
ber se existe amparo legal para o conforme observado pelo refe-
rido autor, o aludido Princípio
fornecimento ou não desses da-
Constitucional encontra guarida,
dos particulares.
inclusive, em sede Constitucio-
Sabe-se que, na seara do Direi- nal, destacando-se os seguintes
to Administrativo, a relevância dispositivos da Carta Magna:
do Princípio da Publicidade é in-
Art. 5º Todos são iguais perante a
dubitável e, considerando isso, lei, sem distinção de qualquer na-
importante iniciar o deslinde do tureza, garantindo-se aos brasilei-
questionamento em tela com os ros e aos estrangeiros residentes
seguintes comentários de Celso no País a inviolabilidade do direito
Antonio Bandeira de MELLO: à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos ter-
Consagra-se nisto o dever adminis-
trativo de manter plena transpa- mos seguintes:
rência em seus comportamentos. (...)
Não pode haver em um Estado
XXXIII - todos têm direito a rece-
Democrático de Direito, no qual
ber dos órgãos públicos informa-
o poder reside no povo (art. 1º,
ções de seu interesse particular,
parágrafo único da Constituição)
ou de interesse coletivo ou geral,
ocultamento aos administrados
que serão prestadas no prazo da
dos assuntos que a todos interes-
lei, sob pena de responsabilidade,
sam, e muito menos em relação
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
aos sujeitos individualmente afe-
tados por alguma medida. imprescindível à segurança da so-
ciedade e do Estado;
Tal princípio está previsto expressa-
mente no art. 37, caput, da Lei Mag- 1 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso
na, ademais de contemplado em de Direito Administrativo. 19. ed. São
manifestações específicas do direi- Paulo:Malheiros, 2005. p. 102-103.

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Art. 37. A administração pública E, segundo posicionamento do
direta e indireta de qualquer dos Tribunal Regional da 1ª Região:
Poderes da União, dos Estados, do
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
Distrito Federal e dos Municípios
SEGURANÇA. LICITAÇÃO. PROCES-
obedecerá aos princípios de legali-
SO ADMINISTRATIVO. VISTA DOS
dade, impessoalidade, moralidade,
AUTOS E OBTENÇÃO DE CÓPIAS.
publicidade e eficiência e, também,
PUBLICIDADE PRINCÍPIO DE OBSER-
ao seguinte (sem grifos no original).
VÂNCIA OBRIGATÓRIA (ART. 5º, XX-
E, transpondo os apontamentos XIII, LX, ART. 37, CAPUT, DA CF/88,
supra à seara das licitações e con- ART. 2º DA LEI Nº 9.784/99 E ART.
tratos administrativos, há que se 3º DA LEI Nº 8.666/93).
ressaltar que a Lei 8.666/93 con- 1. A Administração Pública está
sagra, expressamente, o princípio adstrita ao princípio da publicidade,
ora aludido. Entre os dispositivos conforme previsto no art. 37, caput,
da Constituição Federal, sobretudo
que o preveem destacam-se os
quando se trata de licitações e con-
seguintes: tratos administrativos, cuja publici-
Art. 3º A licitação destina-se a ga- dade é expressamente exigida pelo
rantir a observância do princípio art. 3º da Lei n. 8.666/1993.
constitucional da isonomia, a se- 2. Ressalvadas as hipóteses cons-
leção da proposta mais vantajosa titucionais de sigilo (segurança do
para a administração e a promoção Estado e da Sociedade e preser-
do desenvolvimento nacional sus- vação da intimidade de cidadão),
tentável e será processada e julga- todos os atos do Poder Público de-
da em estrita conformidade com os vem ser transparentes, franque-
princípios básicos da legalidade, da ando-se aos interessados e aos ci-
impessoalidade, da moralidade, da dadãos ampla e irrestrita consulta2
igualdade, da publicidade, da pro- (sem grifos no original).
bidade administrativa, da vincula-
ção ao instrumento convocatório, Isto posto, conclui-se que res-
do julgamento objetivo e dos que salvados os casos de sigilo (que
lhes são correlatos. envolvem segurança do Estado/
sociedade e preservação da inti-
(...)
midade do cidadão), todos os atos
§3º A licitação não será sigilosa, da Administração Pública devem
sendo públicos e acessíveis ao pú- ser públicos. Considerando que
blico os atos de seu procedimento, o Princípio da Publicidade consti-
salvo quanto ao conteúdo das pro- tucionalmente assegurado e que
postas, até a respectiva abertura.
o art. 63 da Lei 8.666/93 oportu-
Art. 63. É permitido a qualquer niza a obtenção de cópia auten-
licitante o conhecimento dos ter- ticada do processo licitatório a
mos do contrato e do respectivo qualquer interessado, seja este
processo licitatório e, a qualquer licitante ou não, o entendimento
interessado, a obtenção de cópia
autenticada, mediante o paga- 2 TRF1. Acórdão 2003.34.00.033575-5/DF.
mento dos emolumentos devidos Relator: Desembargadora Selene Maria de
(sem grifos no original). Almeida. DJ: 24/04/08.

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desta Consultoria é no sentido de se público, gostaríamos de saber


que não haverá óbices para que se Vossas Senhorias possuem co-
se disponibilize para o sindicato nhecimento de entendimentos
estadual os dados (nome, ende- jurisprudencial e doutrinários ao
reço, telefone e CNPJ) das empre- contrário (e, em caso afirmativo,
sas que estão executando obras
solicitamos a gentileza de trans-
para a Administração Consulente,
crevê-los).
ressalvada a hipótese de necessi-
dade de sigilo acima comentada. Em síntese, questiona o Consu-
Lembra-se, ainda, que a Lei de lente se pode custear, a expen-
Acesso à Informação (LAI) da sas de verbas públicas, uma festa
Transparência (Lei 12.527/11) para os servidores. Ao que, pron-
– norma de cumprimento obri- tamente se responde que há im-
gatório para todos os entes go- peditivos de ordem principiológi-
vernamentais e que estabelece ca que obstaculizam a pretendida
orientações gerais quanto aos contratação.
procedimentos de acesso – é Isso se afirma porque, efetiva-
garantido ao cidadão o amplo mente, no caso ora analisado
acesso a qualquer documento ou não se vislumbra a presença de
informação produzidos/custodia- interesse público a ser satisfeito.
dos pelo Estado que não tenham Nesse sentido há que se relem-
caráter pessoal3 ou estejam pro- brar que:
tegidos por sigilo.
a) Toda e qualquer contratação
3 Relativas à intimidade, à vida privada, à procedida pela Administração
honra e à imagem das pessoas, as quais não Pública insere-se no rol dos cha-
dizem respeito ao interesse público, sendo mados atos administrativos1. Es-
seu acesso (à informação pessoal) restrito tes, por sua vez, conformam-se
aos agentes públicos autorizados e às pes-
mediante a conjugação dos se-
soas a quem a informação se referir.
guintes elementos: “sujeito, for-
ma, objeto, motivo e finalidade”2.

1 Ato administrativo, na conceituação pro-

07. “Esta Administração Pública posta por Celso Antônio Bandeira de


MELLO, constitui-se na “... declaração do Es-
está querendo realizar uma festa tado (ou de quem lhe faça as vezes – como,
para os seus servidores e, para por exemplo, um concessionário de serviço
tanto, pretende custear parte público), no exercício de prerrogativas pú-
da festa (custear apenas o local blicas, manifestada mediante providências
jurídicas complementares da lei a título de
do espaço físico, o DJ e a comida
lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle
que ao total dá em torno de R$ de legitimidade por órgão jurisdicional.” In:
60 mil). Muito embora tenhamos MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de
notícias de que existem julgados Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo:
nos Tribunais de Contas que não Malheiros, p. 356.

pode ante a ausência de interes- 2 Ibid., p. 361.

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Deste modo, sob o viés motivo/ O “interesse público não se con-
finalidade a contratação inten- funde com interesse do Estado”.4
tada pela Entidade Consulente Com efeito, “não é possível de-
apenas poderia ser reputada finir interesse público a partir
válida se devidamente motiva- da identidade de seu titular, sob
da, ou seja, se presentes as ra- pena de inversão lógica e axioló-
zões que as tornasse necessária, gica. O equívoco está em que o
oportuna e conveniente; Estado existe para satisfazer as
necessidades coletivas (...). Ou
b) Ademais disso, toda despesa seja, o interesse público existe
realizada com recursos públicos, antes do Estado”5 (destaques do
norteia-se em dois princípios ba- autor).
silares do Regime Jurídico Admi-
O “interesse público não se con-
nistrativo, quais sejam: a Supre-
funde com o interesse do aparato
macia do Interesse Público sobre administrativo”.6 Isto porque, a
o Privado e, a Indisponibilidade Administração pode desenvolver
do Interesse Público.3 Conse- interesses tais quais os interesses
quentemente, a contratação em privados. Esses interesses esta-
liame deverá, inexoravelmente, tais “secundários” (ou seja, com
pautar-se na satisfação do inte- características individuais) não
resse público, sob pena de irre- podem ser reconhecidos como
gularidade. A assertiva nos convi- interesse público primário.
da a investigar: o que é interesse Por fim, “o interesse público não
público? se confunde com o interesse do
A pergunta parece simples, e até agente público”7 (sem grifos no
mesmo despretensiosa, mas não original). Mesmo porque, o agen-
é. Isto porque não é fácil delimi- te público pode ter interesses que
tar os contornos jurídicos do Prin- conflitam com o interesse públi-
cípio da Supremacia do Interesse co. Sobre este último viés, JUS-
Público. Seu conceito é impreci- TEN FILHO acrescenta de forma,
ainda, mais contundente que:
so/indeterminado, o que a um só
tempo afasta a exatidão de con- Também é necessário distinguir o
teúdo e facilmente induz a erro interesse público do interesse pri-
vado do sujeito que exerce função
os mais desavisados.
administrativa. O exercício da fun-
Não obstante a fluidez que lhe é ção pública não pode ser afetado
imanente é possível estabelecer
critérios negativos de identifica- 4 FILHO, Marçal Justen. Curso de Direito Ad-
ministrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. p.
ção, por meio dos quais, pode-se
37.
determinar o que não equivale
em substância ao interesse públi- 5 Idem.
co. Veja-se:
6 Ibidem, p. 38.

3 Ibid., p. 60-65. 7 Ibidem, p. 39.

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pelos interesses privados e egoís- do órgão, bem assim estranhas


ticos do agente público. Eles conti- aos programas de trabalhos cons-
nuam a serem interesses privados, tantes do orçamento anual, de-
submetidos às regras comuns, que vendo a União ser ressarcida dos
disciplinam a generalidade de inte-
valores pagos indevidamente.”9
resses dos integrantes da comuni-
dade8 (sem grifos no original). Voto: (...) 20. Em reiteradas de-
cisões, este Tribunal tem consi-
Por fim, não é demais esclarecer derado irregular a realização de
que a contratação de qualquer despesas em finalidades que não
objeto que não se destine di- se coadunam com as atividades
retamente ao atendimento de precípuas do órgão ou entida-
necessidades da própria Admi- de, dentre as quais se enqua-
nistração Pública, e que por isso dram as despesas com lanches,
se descaracterize como sendo refeições, festividades ou coffee
voltado à satisfação do interes- breaks. Vale citar os Acórdãos nº
741/2010-Plenário, 5268/2008-
se público, como é o caso, por
1ª Câmara, 691/2006-Plenário,
exemplo, da concessão de diárias 1386/2005-Plenário, 2431/2004-1ª
e alimentação a seus servidores, Câmara, 73/2003-2ª Câmara. (...)
a realização de festividades e re-
22. Ao meu ver, gastos com lan-
cepções, etc., dentre outros con-
ches ou coffee breaks oferecidos
gêneres, poderá sim ser objeto
durante eventos, seminários ou
de questionamento pelos órgãos reuniões realizados no âmbito de
de controle, se não guardar rela- um órgão ou entidade, por vezes,
ção com as finalidades/objetivos são justificáveis, pois relacionados
do órgão/entidade contratante. às atividades do órgão10 (sem gri-
fos no original).
Dito de outro modo, contrata-
ções administrativas que não Em razão do exposto, percebe-se
se voltem diretamente ao aten- que a realização da festividade,
dimento de necessidades da pela Administração, volta-se pri-
própria Administração Pública, mariamente à satisfação de inte-
apenas serão admitidas na exa- resses individuais (dos servidores
ta medida em que se demonstre integrantes dos quadros funcio-
a pertinência de sua celebração nais da entidade) e não a uma
com as finalidades/objetivos finalidade pública, propriamente
do órgão/entidade contratante. dita. Daí porque, em nosso ver,
Neste sentido, aliás, vejamos as revela-se incompatível com os
seguintes manifestações do Tri- vetores regentes das contrata-
bunal de Contas da União (TCU), ções públicas.
sobre o assunto, apresentadas a
título referencial: “Considera-se 9 TCU. Acórdão 691/06. Órgão Julgador: Ple-
irregular a realização de despesas nário. Relator: Ministro Valmir Campelo.
DOU 15/05/06.
em finalidades que não se coadu-
nam com as atividades precípuas 10 TCU. Acórdão 1.730/10. Órgão Julgador:
Plenário. Relator: Ministro Benjamin Zym-
8 Idem. ler. DOU 29/07/10.

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so interposto. Como se sabe, “a
08. “Quando da abertura do
interposição recursal opera, no
processo administrativo para
plano processual e também no
aplicação de multas previstas no plano fático, inúmeros efeitos,
contrato, adotamos o seguinte alguns com maior, outros com
procedimento: primeiro, é feito menor intensidade”.1 Tais efeitos
um comunicado para defesa pré- “são sentidos, por vezes, logo na
via do fornecedor em relação à interposição do recurso, eventu-
irregularidade ocorrida, a memó- almente em momento anterior a
ria de cálculo conforme previsão este, e por outras vezes somente
contratual, a citação das alíneas no julgamento da impugnação”.2
não atendidas e a concessão do Não cabe nesse particular dis-
prazo de defesa previsto no art. correr sobre cada um dos efeitos
87, §2º, da Lei 8.666/93. Após a recursais, até porque nem todos
análise da defesa prévia, caso a incidiriam na situação narrada
mesma seja indeferida, será dada pelo Consulente. Por isso, se dará
continuidade ao processo com o enfoque àquele que efetivamen-
envio da notificação da penalida- te guarda estrita relação com a
de com o direito ao recurso pre- matéria analisada, a saber: o efei-
visto no art. 109 da Lei 8.666/93 to suspensivo.
e neste momento, caso o forne- Quando se fala que determinado
cedor possua créditos vincendos recurso possui efeito suspensivo
junto à Administração, é lançado está-se, na realidade, a se afirmar
o valor da multa no sistema de que a decisão que por ele possa
pagamentos para a realização ser recorrida não produzirá efei-
do bloqueio, que será efetivado tos. Assim, uma decisão impug-
quando da liberação do crédito nável por recurso investido dessa
ao fornecedor. A nossa dúvida é: “característica”, somente poderá
podemos fazer o lançamento do produzir efeitos depois de escoa-
bloqueio de créditos vincendos do o prazo recursal (ou seja, após
o julgamento do recurso), ou ain-
simultaneamente com a notifica-
da a partir do momento em que a
ção, ou deve ser concluído toda a
parte aceitar a decisão ou renun-
fase recursal?”
ciar ao direito de recorrer.
Em síntese, questiona o Con-
Analisemos, então, quais os efei-
sulente se é possível dar início
tos atribuíveis aos recursos dis-
à execução provisória de uma
ciplinados pelo art. 109 da Lei
multa, proveniente de processo
8.666/93, verbis:
sancionador, pendente ainda, de
julgamento de recurso adminis-
1 MARINONI. Luiz Guilherme. ARENHART,
trativo. Sergio Cruz. Processo de Conhecimento. 7.
A resposta para o questionamen- ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
p. 522.
to proposto variará a depender
dos efeitos atribuídos ao recur- 2 Idem.

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Respostas Objetivas

Art. 109. Dos atos da Administra- recursos, a Lei 8.666/93 impõe


ção decorrentes da aplicação des- como obrigatória a concessão
ta Lei cabem: do efeito suspensivo “quando
I - recurso, no prazo de 5 (cinco) o recurso se voltar contra a ha-
dias úteis a contar da intimação do bilitação ou inabilitação do lici-
ato ou da lavratura da ata, nos ca- tante e contra o julgamento das
sos de: propostas”.4 Nada obstante, fa-
a) habilitação ou inabilitação do li- culta a atribuição do citado efeito
citante; para os demais casos, dentre os
b) julgamento das propostas; quais se inclui o recurso contra
decisão na qual se decretou a
c) anulação ou revogação da licita-
aplicação de multa ao Contrata-
ção;
do.
d) indeferimento do pedido de ins-
crição em registro cadastral, sua al- Assim, a possibilidade de bloque-
teração ou cancelamento; ar-se ou não os créditos devidos
e) rescisão do contrato, a que se re-
ao Contratado, com vistas a dar
fere o inciso I do art. 79 desta Lei; concretude à decisão inicialmen-
te proferida, vincular-se-á à con-
f) aplicação das penas de adver-
cessão (seja ela de ofício ou me-
tência, suspensão temporária ou
de multa;
diante solicitação) ou denegação
do efeito suspensivo ao recurso
Omissis do Contratado. Uma vez conce-
§2º O recurso previsto nas alíneas dido o efeito suspensivo a Admi-
"a" e "b" do inciso I deste artigo nistração não poderá proceder
terá efeito suspensivo, podendo a ao bloqueio dos créditos devidos.
autoridade competente, motiva- Nada obstante, uma vez dene-
damente e presentes razões de in-
gada (ou mesmo não solicitada)
teresse público, atribuir ao recur-
so interposto eficácia suspensiva sua concessão a Administração
aos demais recursos (sem grifos no poderá, desde logo, bloquear os
original). valores decorrentes dos créditos
devidos ao Contratado.
Vê-se, pois, que além do efeito
devolutivo,3 imanente a todos os Embora não tenha sido objeto
mediato da Consulta cumpre nos
3 “Todo recurso possui efeito devolutivo, con- alertar que nos termos do art.
sistente na renovação de conhecimento e 86, caput, da Lei 8.666/93, c/c o
apreciação da questão. O ato recorrido será inc. II, de seu art. 87, a aplicação
objeto de revisão, verificando-se se está
da pena de multa será feita em
correto e se foi adequadamente proferido.
conformidade com as disposições
A decisão proferida no recurso substituirá
a recorrida, ainda quando a confirme e se
insertas no instrumento convoca-
reporte aos seus fundamentos”. In: JUSTEN tório ou no contrato.
FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licita-
ções e Contratos Administrativos. 16. ed. 4 “Assim se impõe para evitar que a confusão
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. procedimental entre a fase de habilitação e
1.197. a fase de julgamento das propostas.” Idem.

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Respostas Objetivas
Ademais disso, nos termos dos daquela descontada, se prestada
§§2º e 3º, do art. 86, da Lei em dinheiro. Isto, numa interpre-
8.666/93, c/c o §1º, de seu art. tação restrita do dispositivo. Con-
87, temos que o valor a elas cor- tudo, em se adotando a doutrina
respondente será, inicialmente, de JUSTEN FILHO, poderá ocorrer,
descontado da garantia contra- diretamente, a glosa do valor de-
tual, quando houver e, na hipóte- vido das parcelas de pagamento,
se deste valor superar o valor da independentemente do prévio
garantia, poderá a Contratante desconto da garantia contratual;
descontar o valor remanescente c) O remanescente da multa será
dos “pagamentos eventualmente descontado dos pagamentos ou
devidos pela Administração ou cobrado judicialmente, conforme
ainda, quando for o caso”, cobrá- o caso.
lo judicialmente. Sendo que, na
inteligência dos destacados co-
mandos normativos, o desconto
do valor das multas dos paga-
mentos devidos ocorrerá ape- 09. Entidade pertencente ao
nas após o desconto da garantia, Sistema S questiona: é possível
em caso de insuficiência desta. fazer acréscimo contratual para
Inobstante o teor do texto legal, aumentar a quantidade do obje-
apresentando um posicionamen-
to a ser entregue quando o prazo
to mais flexível, assim se pronun-
contratual de entrega dos equi-
cia Marçal JUSTEN FILHO: “... o
pamentos já está encerrado e
valor da multa será compensado
com os créditos que o particular os equipamentos constantes do
tiver a receber. Se insuficientes contrato já foram entregues, es-
esses créditos, a Administração tando em vigor, contudo, os pra-
poderá recorrer à garantia e pro- zos de garantia e suporte técnico
mover a cobrança judicial, nos dos equipamentos e, por isso,
termos aludidos no comentário também a vigência contratual?
ao art. 80, inc. III.” 5
Cumpre consignar que tendo
Isto posto, em resumo, pontuam- sido extinto o prazo de vigência
se as seguintes considerações: do contrato ao qual se alude na
a) O bloqueio dos créditos devi- presente consulta, não haverá
dos ao Contratado dependerá da possibilidade de efetuar alte-
concessão ou não de efeito sus- ração no mesmo, seja quantita-
pensivo ao recurso interposto; tiva ou qualitativa, nos termos
pretendidos, com base no que
b) Em contratos em que tenha dispõe o art. 65 da Lei 8.666/93,
sido requisitada a prestação de citado apenas a título referencial.
garantia, pelo particular, o va-
lor correspondente à multa será Com efeito, o período de valida-
de do correspondente contrato,
5 Ibidem, p. 1.137. para fins de realização de adita-

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Respostas Objetivas

mento, encerra-se exatamente Sendo que, em situações em que


no momento em que a Entidade ainda se encontre vigente o pe-
Contratante cumpre com a parte ríodo destinado à garantia, re-
que lhe toca na avença, o paga- alização de assistência técnica/
mento – melhor ainda: na data suporte técnico, cumpre adver-
marcada para tanto, de modo tir-se que tal prazo não integra
que não haja atraso visando jus- o prazo de vigência contratual,
tamente a realização de acrés- ao que leva à ilação de que res-
cimos. Acerca disso, ao tratar da tará obstado o entendimento de
definição da vigência dos con- que alterações contratuais pode-
tratos administrativos, assim se riam ser feitas sob o argumento
pronuncia Gabriela Verona PÉR- da vigência da garantia relativa
à assistência técnica. Sobre o as-
CIO: “É o período durante o qual
sunto, vede entendimento do Tri-
seus efeitos típicos [do contrato]
bunal de Contas da União (TCU):
poderão ser regularmente produ-
zidos. E como tais, entendam-se ... no sentido de que observe os li-
tanto as obrigações e deveres do mites estabelecidos no art. 57, da
Lei 8.666/93, deixando de incluir,
contratado, referentes à execu-
no prazo de vigência contratual, o
ção do objeto, quanto às obriga- período de garantia, uma vez que
ções e deveres da Administração a responsabilidade do fornecedor
contratante, que se findam, a ri- dos produtos ou serviços já está
gor, com o pagamento.”1 prevista nos arts. 69 e 73, §2º, da
mesma lei.
À vista disso, o prazo de vigência
será considerado expirado, para Ademais, é pertinente observar
que, nas situações em que seja
fins de modificações contratuais,
aplicável a Lei 8.078/90, poderá
logo após a entrega do bem, com ser obtido termo de garantia con-
o correspondente pagamento tratual, de acordo com o disposto
pela Administração Contratante. no art. 50 e parágrafo único da ci-
Assim sendo, o período de vigên- tada lei.
cia do contrato administrativo, Decisão: (...)
para fins de eventual modificação
8.2. dar à determinação cons-
que se repute válida pelo orde-
tante do item II, do Ofício - 3ª Se-
namento, encerra-se, a rigor, no cex 1.064/00, que comunicou ao
momento em que a Entidade Con- IPqM a deliberação tomada por
tratante cumpre com a parte que esta Primeira Câmara, em sessão
lhe toca na avença, o pagamento de 06.06.00, contida na Relação
– melhor ainda: na data marcada 44/00, Ata 19/00, a seguinte reda-
para tanto. Findo o contrato, não ção:
há que produzir, portanto, quais- “II - observe, nas contratações fu-
quer outros efeitos jurídicos. turas, as disposições constantes da
Lei nº 8.666/93, art. 57, que dispõe
1 PÉRCIO, Gabriela Verona. Contratos Ad- sobre o prazo da duração dos con-
ministrativos. Curitiba: Negócios Públicos, tratos, sem incluir no período de
2008. p. 39. vigência o prazo de garantia, uma

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Respostas Objetivas
vez que esse direito, de acordo objeto tem prazo de vigência
com o que preceitua o art. 69, e próprio e desvinculado daquele
o §2º, do art. 73, todos da Lei nº fixado no contrato, permitindo
8.666/93, perdura após a execu- eventual aplicação de penalida-
ção do objeto do contrato. des em caso de descumprimen-
8.3. esclarecer ao IPqM que, nas to de alguma de suas condições,
hipóteses em que for aplicável mesmo depois de expirada a vi-
a Lei 8.078/90, poderá exigir do gência contratual" (sem grifos no
contratado, termo de garantia em original).
separado, segundo o disposto no
art. 50 e parágrafo único, da men-
cionada lei; e”2 (Sem grifos no ori-
ginal).
Em outra ocasião, a Colenda Cor- 10. É correto utilizarmos o limi-
te de Contas ratificou seu enten- te de valor estabelecido na Lei
dimento. Vede excertos do Acór- 8.666/93 para formalizar os aditi-
dão 1.789/05 – Primeira Câmara:
vos de valor nos contratos decor-
Acórdão: (...) rentes de contratação realizada
1.Determinar à Diretoria do Foro da com base no Decreto 8.241/14
Seção Judiciária do Ceará que: (...) ou será de conveniência da Fun-
1.8. atente para o cumprimento dação estabelecer tais limites?
do art. 57 c/c o art. 69, §2º do art.
Primeiramente, cumpre salientar
73, da Lei nº 8666/93 que trata do
prazo de duração dos contratos, no que o Decreto Federal 8.241/14
qual não deve ser incluído o perí- regulamenta o art. 3º da Lei
odo de vigência da garantia, uma 8.958/94, para dispor sobre a
vez que esse direito perdura após aquisição de bens e a contrata-
a execução do objeto do contrato ção de obras e serviços pelas fun-
(Decisão TCU nº 202/2002 - Primei-
dações de apoio. Assim dispõe o
ra Câmara).3
art. 1º da Lei 8.958/94:
Demais disso, cumpre mencio-
As Instituições Federais de Ensino
nar entendimento, também, da
Superior - IFES e as demais Insti-
Advocacia Geral da União (AGU), tuições Científicas e Tecnológicas -
cuja citação se faz a título mera- ICTs, de que trata a Lei nº 10.973,
mente referencial, por não vin- de 2 de dezembro de 2004, pode-
cular a Entidade Consulente, na rão celebrar convênios e contratos,
Orientação Normativa 51/14: "a nos termos do inciso XIII do caput
garantia legal ou contratual do do art. 24 da Lei nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, por prazo determi-
2 TCU. Decisão 202/02. Órgão Julgador: Pri- nado, com fundações instituídas
meira Câmara. Relator: Ministro Walton com a finalidade de apoiar proje-
Alencar Rodrigues. DOU 22/05/02. tos de ensino, pesquisa, extensão,
3 TCU. Acórdão 1.789/05. Órgão Julgador:
desenvolvimento institucional,
Primeira Câmara. Relator: Ministro Marcos científico e tecnológico e estímulo
Bemquerer Costa. DOU 30/08/05. à inovação, inclusive na gestão ad-

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Respostas Objetivas

ministrativa e financeira necessária pode-se concluir que, no âmbito


à execução desses projetos. das contratações efetivadas pelas
Sendo que, com base no que pres- fundações de apoio, com base no
creve o art. 3º da Lei 8.958/94, que dispõe o Decreto Federal re-
cujos termos foram regulamen- ferenciado, os limites impostos,
tados pelo Decreto 8.241/14, para fins de aditivos contratuais,
conforme mencionado alhures, pelo art. 65 da Lei 8.666/93 não
“na execução de convênios, con- se aplicam.
tratos, acordos e demais ajustes Portanto, in casu, os acréscimos
abrangidos por esta Lei, inclusive ou supressões no objeto contra-
daqueles que envolvam recursos tado serão definidos por acordo
provenientes do poder público, entre as partes, observando-se
as fundações de apoio adotarão sempre as disposições contidas
regulamento específico de aqui- no instrumento convocatório.
sições e contratações de obras e
Por derradeiro, apenas a título
serviços, a ser editado por meio
de informação, advirta-se que
de ato do Poder Executivo fede-
essa Consultoria Jurídica des-
ral”.
conhece quaisquer decisões já
Pois bem, de modo a se dar início proferidas pelo Poder Judiciário
à análise em específico da ques- ou mesmo por parte do Contro-
tão que se apresenta, observe- le de Contas externo, acerca de
se o que prescreve o art. 29 do eventual entendimento quanto
Decreto Federal 8.241/14, que à (i)legitimidade das disposições
“os acréscimos ou supressões no contidas no art. 29 do Decreto
objeto do contrato serão defini- Federal 8.241/14, posto que, em
dos por acordo entre as partes, tese, maculam as regras de limi-
observado o estabelecido no ins- tações impostas pelo art. 65 da
trumento convocatório”. Ao que, Lei 8.666/93.

COMO CITAR
ESTA FONTE: Notas:
CONSULTORIA
NEGÓCIOS
PÚBLICOS. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG/SLTI) dis-
Respostas Objetivas. ponibiliza em seu sítio oficial uma cartilha contendo o Plano de Geren-
LICICON – Revista ciamento de Resíduos Sólidos como instrumento de responsabilidade
de Licitações e
Contratos. Instituto Socioambiental na Administração Pública.1
Negócios Públicos:
Curitiba, PR, ano
1 Confira acessando o site: <https://www.comprasgovernamentais.gov.br/arquivos/carti-
VII, n.84, p.43-66,
dezembro 2014. lhas/cartilha_pgrs_mma.pdf.>

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edital
comentado

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Edital Comentado

(IN)COMPATIBILIDADE DA MODALIDADE ESCOLHIDA (PREGÃO) COM


O OBJETO LICITADO: CLASSIFICAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS COMUNS
EDITAL DE PREGÃO PRESENCIAL Nº 14/2014

DO EDITAL: de 2000, Decreto n.º 3.722, de 9


UASG: XXXXX de janeiro de 2001 e, subsidiaria-
mente, pela Lei nº 8.666, de 21
PROCESSO Nº XXXX.000 XXX/2014-XX
de junho de 1993; Lei Comple-
A União, por intermédio XXXXXXX, mentar 123/2006, regulamenta-
mediante o Pregoeiro Oficial de- da pelo Decreto 6.204/2007, Ins-
signado pela Portaria nº XX de XX trução Normativa nº 02, de 11 de
de XXXXX de 2013, do Coordena- outubro de 2010, da SLTI/MPOG;
dor-Geral de XXXX, publicada no pelos dispositivos aplicáveis da
D.O.U. nº XXX de XX de XXXXX de Lei n.º 8.078, de 11 de setembro
2013, torna público, para conhe- de 1990; Decreto 7.892 de 23 de
cimento dos interessados que, na janeiro de 2013; pelas Regras de
data, horário e local abaixo indi- Comércio Internacional e de Po-
cados, fará licitação para REGIS- lítica Monetária adotadas pelo
TRO DE PREÇO na modalidade de Brasil; e as disposições estabele-
PREGÃO PRESENCIAL INTERNA- cidas neste Edital e em seus ane-
CIONAL, do Tipo MENOR PREÇO, xos.
para futura e eventual aquisição
1. DO OBJETO
de 44 veículos especiais equipa-
dos com escâneres (geradores de 1.1. Registro de Preços para
imagens), de acordo com as es- aquisição de veículos especiais
pecificações técnicas constantes equipados com escâneres (ge-
neste edital e seus anexos. radores de imagens), para uso
em atividades de policiamento
O procedimento licitatório obe-
nas operações de fiscalização
decerá, integralmente, às dispo-
de veículos e cargas, de modo
sições da Lei nº 10.520, 17 de ju-
não intrusivo e não destrutivo,
lho de 2002, regulamentada pelo
através de processo de visuali-
Decreto n.º 3.555, de 8 de agosto
zação do seu interior, atendendo

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a demanda da XXXXX – XXXXX,

Edital Comentado
XXXXX, conforme condições,
Comentários da
quantidades e exigências estabe- Consultoria:
lecidas neste instrumento e seus
anexos: O presente edital, tomado ape-
1.2. A especificação completa do nas para fins de estudos, foi
objeto de impugnação e ques-
objeto está descrita no Anexo I
tionamento, à época, quanto à
deste instrumento.
adequabilidade da modalidade
(...) escolhida (Pregão) e a classifica-
8. DO CRITÉRIO DE JULGAMEN- ção do objeto como “comum”.
TO, DISPUTA E ACEITABILIDADE Houve, então, a impugnação
DAS PROPOSTAS do mesmo por parte de licitan-
te que considerava inadequada
8.1. No julgamento das propos-
a modalidade adotada para a
tas será adotado o critério de aquisição do objeto descrito no
MENOR PREÇO POR ITEM, aten- edital.
didas as condições estabelecidas Sobre a utilização da modalida-
neste Pregão. de Pregão, importa relembrar
(...) que sua escolha derivará de
TERMO DE REFERÊNCIA um obrigatório exercício do ad-
ministrador - o de identificar e
1. DO OBJETO
enquadrar o objeto a ser licita-
1.1. Registro de Preços para aqui- do às características do bem ou
sição de veículos especiais equi- serviço considerado “comum”.
pados com escâneres (geradores Isto é, deverá o agente respon-
de imagens), para uso em ativi- sável apurar a configuração
dades de policiamento nas ope- de tal característica com o fim
rações de fiscalização de veículos de avaliar a aplicabilidade do
e cargas, de modo não intrusivo, Pregão como modalidade lici-
tatória apta ao certame. Para
através de processo de visualiza-
tal desempenho poderá o res-
ção do seu interior, atendendo
ponsável solicitar a ajuda e co-
a demanda da XXXXX – XXXXX, laboração do setor requisitante
XXXXX XXXXX XXXXX, conforme do objeto a ser licitado, o qual
condições, quantidades e exigên- detém conhecimento mais deta-
cias estabelecidas neste instru- lhado sobre o mesmo.
mento: Marçal JUSTEN FILHO bem es-
1.2. A especificação completa do clarece que:
objeto está descrita no Anexo I O ponto de partida reside
deste instrumento. em reconhecer que a Lei nº
1.3. Estimativas de consumo indi- 10.520 não instituiu compe-
vidualizadas, para o órgão geren- tência discricionária para a
determinação das hipóteses
ciador e órgãos Participantes: (...)

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Edital Comentado

de cabimento do pregão. Ou ocorre quando se prefere


melhor, existe uma margem utilizar concorrência quando
de autonomia instituída le- a hipótese de tomada de pre-
gislativamente, de modo que ços seria suficiente para aten-
o agente administrativo pode der à Lei nº 8.6661 (sem grifos
optar entre pregão e outra no original).
modalidade prevista na Lei nº
Da disposição prevista pela Lei
8.666 – o que caracteriza dis-
Federal 10.520/02, que instituiu
cricionariedade. Mas não há
no âmbito da União, Estados,
discricionariedade no tocante
Distrito Federal e Municípios
aos limites de cabimento do
(nos termos do art. 37, inc. XXI,
pregão. A utilização da fór-
da Constituição da República),
mula bem ou serviço comum
a modalidade licitatória Pre-
derivou da vontade legislativa
gão, para aquisição de bens e
de submeter a decisão admi-
serviços comuns, advém a tão
nistrativa a controles e limi- recorrente dúvida sobre “o que
tes. Dito de outro modo, não são bens e serviços comuns”.
é possível que a Administra- O parágrafo único do art. 1º da
ção Pública afirme-se titular citada lei apresenta um conceito
do poder de adotar o pregão lato sensu sobre o que vem a ser
para hipóteses em que não ou pode ser denominado “bem
se configurar um bem ou ou serviço comum”: “conside-
serviço comum. Logo, não ram-se bens e serviços comuns,
é possível adotar o pregão para os fins e efeitos deste ar-
simplesmente porque a Ad- tigo, aqueles cujos padrões de
ministração reputa que tal desempenho e qualidade pos-
é adequado ou conveniente. sam ser objetivamente defi-
A utilização da cláusula “bem nidos pelo edital, por meio de
ou serviço comum” produz a especificações usuais no mer-
vinculação do administrador, cado” (sem grifos no original).
que deverá apurar a confi-
guração de tal pressuposto Este conceito, muito amplo,
para avaliar o cabimento da acaba não explicitando uma di-
adoção do pregão. Somente ferenciação clara entre os cha-
depois de comprovada a exis- mados bens e serviços comuns
tência de um bem ou serviço e os que não o são. Para melhor
comum é que se poderá cogi- compreensão do conceito “bem
tar de discricionariedade, eis ou serviço comum” e suas de-
que o agente administrativo batidas particularidades, faz-se
deverá apurar se o pregão interessante percorrer os se-
será a modalidade efetiva-
1 JUSTEN FILHO, Marçal. Pregão (Comen-
mente mais adequada, no
tários à Legislação do Pregão Comum e
caso concreto, para selecio- Eletrônico). 4. ed. São Paulo: Dialética,
nar a melhor oferta, tal como 2005. p. 21-22.

70 | www.negociospublicos.com.br
Edital Comentado
guintes comentários formulados no edital.4 Em outras palavras,
pela doutrina. considera Fernanda MARINELA
Marçal JUSTEN FILHO afirma que “podem ser adquiridos, por
que ”...a interpretação do con- meio de pregão, os bens e ser-
viços comuns cujos padrões de
ceito de ‘bem ou serviço co-
desempenho e qualidade sejam
mum’ deve fazer-se em função
objetivamente definidos em edi-
das exigências do interesse pú-
tal, por meio de especificações
blico e das peculiaridades pro-
usuais de mercado. Por exem-
cedimentais do próprio pregão. plo, incluem-se, nessa categoria,
A natureza do pregão deve ser as peças de reposição de equi-
considerada para determinar pamentos, mobiliário padroni-
o próprio conceito de ‘bem ou zado, combustíveis, material de
serviço comum’.2 escritório e serviços, tais como:
Jessé Torres PEREIRA JUNIOR limpeza, vigilância, conserva-
esclarece que “...o objeto pode ção, seguro-saúde, locação,
portar complexidade técnica manutenção de equipamentos,
e ainda assim ser ‘comum’, no agenciamento de viagem, vale-
sentido de que essa técnica é refeição, bens e serviços de
perfeitamente conhecida, do- transporte e outros.”5
minada e oferecida pelo merca- Acrescenta, ainda, Armando
do. Sendo tal técnica bastante Moutinho PERIN que “...somen-
para atender as necessidades te poderão ser classificados
da Administração, a modalidade como ‘comuns’ os bens e servi-
pregão é cabível a despeito da ços de fácil identificação e des-
crição, cuja caracterização tenha
maior sofisticação do objeto.”3
condições de ser feita mediante
Para Sidney BITTENCOURT, os a utilização de especificações
bens e serviços comuns são gerais, de conhecimento públi-
aqueles corriqueiros no dia a co, sem prejuízo da qualidade do
dia da Administração e que não que se pretende comprar.“6
exigem maiores detalhamentos
e especificações, sem embargo 4 BITENCOURT, Sidney. Pregão Eletrônico.
da necessidade de existirem pa- 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p.
39.
drões razoáveis de desempenho
e qualidade a serem definidos 5 MARINELA, Fernanda. Direito Adminis-
trativo. 4. ed. Niterói: Impetus, 2010. p.
2 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à 351.
Legislação do Pregão Comum e Eletrô-
nico. São Paulo: Dialética, 2001. p. 20. 6 PERIN, Armando Moutinho. Pregão:
breves considerações sobre a nova
3 PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres. Comen- modalidade de licitação, na forma pre-
tários à Lei de Licitações e Contratações sencial. In Interesse Público, a. 5, n. 18,
da Administração Pública. 6. ed. Rio de mar./abr. 2003. Porto Alegre: Notadez,
Janeiro: Renovar, 2003. p. 1006. 2003, p. 174.

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Edital Comentado

Podemos, então, perceber, que serviço não-comum. Marçal


a própria natureza do procedi- Justen Filho (...) explana o en-
mento de Pregão fixará carac- tendimento que vem sendo
terísticas comuns aos objetos consagrado na doutrina, de
licitados, os quais poderão que as principais caracterís-
conter determinada comple- ticas de serviço comum são
xidade técnica e mesmo assim a disponibilidade no merca-
ser amplamente conhecidos e do próprio e a padronização.
executados pelo mercado com Para justificar o primeiro atri-
facilidade trivial e costumeira. buto, afirma que “Somente
Em outras palavras, é assente na existe a disponibilidade no
doutrina e na jurisprudência que mercado quando existir ati-
o fato de o objeto apresentar- vidade empresarial habitual,
-se tecnicamente complexo não que disponibiliza objetos com
determina sua natureza de “in- características homogêneas,
comum” e que, havendo a pos- competitivamente, num cer-
sibilidade de defini-lo mediante to mercado.” Ou seja, para
especificações usuais no mer- que se configure comum, é
cado, o Pregão terá cabimento. necessário que o serviço já
Pertinente tecermos, ainda, tenha mercado específico de
breves comentários sobre a ca- negociação, sendo oferecido
racterização dos serviços que e prestado habitualmente
podem ou não ser considera- já antes da demanda da Ad-
dos comuns, e o fazemos com o ministração. Disponibilidade
seguinte entendimento de Jorge significa que o serviço é usu-
Ulisses Jacoby FERNANDES: al no mercado, afastando-se,
Essa definição, no entanto, assim, as atividades que ne-
não parece ser suficiente, cessitam de especificidades
na medida em que, confor- para atender à demandada
me o art. 6º, inciso IX, da Lei Administração. Não pode ser
8.666/93, mesmo as obras e um serviço elaborado somen-
serviços de engenharia não te para atender determinada
comuns devem ser definidos demanda da Administração,
objetivamente, possuindo “o mas sim de uso comum, dis-
conjunto de elementos ne- ponível em mercado próprio.
cessários e suficientes, com (...) um serviço que é explo-
nível de precisão adequado rado por mercado específi-
para caracterizar a obra ou co, de uso habitual, somente
serviço...”. (...) está em disponibilidade no
Alguns autores, na incumbên- mercado à medida que possui
cia de superar essa lacuna especificação padronizada,
estabeleceram critérios ob- é realizado de forma unifica-
jetivos para a distinção ma- da, independente do local ou
terial entre serviço comum e qualquer outra variável. Se o

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Edital Comentado
serviço é de caráter especí- depende da sofisticação ou de-
fico, dependendo de deter- senvolvimento tecnológico do
minadas variantes para sua bem ou serviço, e será o mer-
adequabilidade e execução, cado quem ditará a linguagem
não pode estar disponível no definidora de certos padrões de
mercado, pois essa disponibi- desempenho ou qualidades ne-
lidade pressupõe a oferta em cessários à classificação do “ser-
larga escala, e não somente viço comum” que se pretende
para determinado grupo ou contratar por Pregão.
pessoa.
Porém, se existir necessidade
Nada obstante se reconheça de maiores averiguações acerca
ampla possibilidade de aplica- da capacidade técnica dos lici-
ção da doutrina do professor tantes, diante de peculiaridades
Marçal Justen Filho, entende- do objeto, haverá indicativo de
se que a análise específica do que o mesmo não deverá ser
caso concreto é indispensável considerado comum para os fins
7
(destaques do autor). da Lei 10.520/02. Nesse caso,
Em resumo, pode-se dizer que será necessário avaliar e julgar
a definição de “comum” não a técnica dos licitantes (via lici-
tação do tipo “melhor técnica”
7 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Con- ou “técnica e preço”), restando
tratação de Obras e Serviços de Enge-
afastada a modalidade Pregão
nharia pela Modalidade Pregão. In O
Pregoeiro, ano IV, Curitiba, abril/2008,
por conta de a mesma limitar o
p. 07. julgamento apenas ao preço.

COMO CITAR Notas:


ESTA FONTE:
CONSULTORIA Controladoria Geral da União (CGU) orienta promotores culturais e ges-
NEGÓCIOS
PÚBLICOS. tores sobre a transferência de recursos destinados ao setor cultural por
Edital Comentado. meio de Cartilha intitulada “Gestão de transferências financeiras para
LICICON – Revista
de Licitações e
execução de políticas culturais por meio de Editais de Seleção Pública”. 1
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: 1 Íntegra do material disponível para acesso por meio do site: <http://www.cgu.gov.br/Pu-
Curitiba, PR, ano
blicacoes/auditoria-e-fiscalizacao/arquivos/transferencias-financeiras-projetos-culturais.
VII, n.84, p.68-73
dezembro 2014. pdf>.

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Jurisprudência
Comentada

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Jurisprudência Comentada

Contratação de serviços hoteleiros/de hospedagem por


intermédio de agência de turismo.

Identificação xação de prazo para extinção de


Acórdão 165/2001 - Plenário contrato. Determinação. Juntada às
contas. - Licitação de objeto de na-
Número Interno do Documento
tureza divisível. Considerações.
AC-0165-28/01-P
Grupo/Classe/Colegiado
Ementa
Grupo II - CLASSE V - Plenário
Auditoria. Cerimonial do Ministé-
rio das Relações Exteriores. Área Processo
de licitação e contratos. Restrição 003.499/1999-5 Visualizar tramita-
ao caráter competitivo ao definir ção do processo
o objeto e ao utilizar o critério do Natureza
menor preço global. Não definição
Relatório de Auditoria
dos itens e dos preços acertados em
contratos. Pagamento continuado Entidade
de faturas de prestação de servi- Unidade: Cerimonial do Ministério
ços. Dispensa irregular de licitação. das Relações Exteriores
Assunção de serviços e custos de
Interessados
serviços contratados. Aceitação,
como garantia em contrato, de ces- Responsáveis: Srs. Frederico Cézar
são de direito de TDAs pelo valor de Araújo (Chefe do Cerimonial), Ju-
de face. Ausência de fiscalização liano Feres Nascimento, Carlos José
de contrato. Pagamento de serviço Areias Moreno Garcete e Elio de
não previsto. Adjudicação à licitante Almeida Cardoso, Marco Antônio
que apresentou o maior preço. Fra- Nakata, Eduardo Carvalho, Betsai-
cionamento de despesas. Inexigibili- da Capile Tunes, Ricardo Casimiro
dade de licitação. Não definição, no Batista, Arnaldo Cetrone, Rogério
edital, do critério de aceitabilidade Baruffaldi, Rita de Cássia Leitão Un-
de preço. Não desclassificação de garetti, Sandra Myriam Amorim
proposta com cotações de preços Dantas e Kátia de Oliveira Motta
em moeda estrangeira. Multa. Fi- Sumário

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Jurisprudência Comentada

Relatório de Auditoria realizada no Cuidam os autos de Relatório de Au-


Cerimonial do Ministério das Rela- ditoria efetuada, em 1999, no Ceri-
ções Exteriores, na área de licita- monial do Ministério das Relações
ções e contratos. Fracionamento de Exteriores, abrangendo as áreas de
despesas. Contratação de agência licitações e contratos.
de turismo para oferecimento de Em virtude de ocorrências aponta-
acomodações em hotéis. Identifica- das pela equipe encarregada dos
ção de irregularidades na condução trabalhos, o então Relator do feito
do respectivo processo licitatório. determinou a audiência do chefe do
Assunção de tarefas de competên- Cerimonial, bem como dos mem-
cia da contratada. Audiência dos bros da Comissão Permanente de
responsáveis. Aplicação de multa Licitação e dos encarregados pela
aos membros da Comissão Per- fiscalização da execução dos Contra-
manente de Licitação. Autorização tos nºs 02/97 e 03/98.
para cobrança executiva caso não Os fatos apontados nos autos, as jus-
atendida a notificação. Determina- tificativas apresentadas pelos res-
ções. Juntada às respectivas contas. pectivos responsáveis, bem como
a pertinente análise procedida pelo
Assunto
Analista da 3ª SECEX estão sucinta-
V - Relatório de Auditoria mente apresentados a seguir:
Ministro Relator RESPONSÁVEL: Sr. Frederico Cézar
GUILHERME PALMEIRA de Araújo (ordenador de despesas)
Representante do Ministério Pú- a) OCORRÊNCIA: Restrição ao cará-
blico ter competitivo da Concorrência nº
01/97, ao se definir como objeto da
MARIA ALZIRA licitação a prestação de serviços de
Unidade Técnica locação de automóveis de serviço,
3ª SECEX automóveis de luxo, vans, microô-
nibus, ônibus, furgões e caminhões
Dados Materiais
em todas as capitais do território
ATA 28/2001 nacional, muito embora sejam raras
DOU 09/08/2001 as contratações de automóveis na
INDEXAÇÃO maior parte dessas capitais, e ao uti-
lizar, no julgamento das propostas, o
Auditoria; MRE; Execução de Obras critério do menor preço global, im-
e Serviços; Adjudicação; Habilitação pedindo a divisão do objeto da licita-
de Licitantes; Princípios Básicos da ção por itens, de forma a se aprovei-
Licitação; Contrato; Hospedagem; tar as peculiaridades do mercado,
Moeda Estrangeira; Cotação de conforme determina o inciso IV do
Preços; Dispensa de Licitação; Ine- art. 15 da Lei nº 8.666/93.
xigibilidade de Licitação; Fraciona- JUSTIFICATIVA: O Ministério das Re-
mento de Despesa; Multa; Veículo; lações Exteriores não possui unida-
Locação; des administrativas em todas as ca-
Relatório do Ministro Relator pitais dos estados, como ocorre com

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Jurisprudência Comentada
os demais Ministérios. Inicialmente, os serviços de locação de veículos
houve a solicitação de abertura de necessários, onde quer que seja,
processo licitatório, na modalidade dentro do padrão estabelecido pela
concorrência, para a contratação de Unidade quanto aos carros e aos
serviços de locação de veículos de motoristas, com cadastro regular no
pequeno, médio e grande portes, SICAF e a preços compatíveis com o
nas cidades de Brasília, São Paulo, mercado. Este padrão reflete, tam-
Rio de Janeiro, Manaus, Porto Ale- bém, aquele dos países estrangeiros
gre, Foz do Iguaçu, Salvador e Recife. anfitriões do Presidente da Repúbli-
No entanto, por sugestão da Consul- ca e de outras autoridades brasilei-
toria Jurídica, no Despacho ao Me- ras.
morando CPL/018/97, de 11.03.97, Ademais, conforme levantamento
o objeto da licitação passou a ser efetuado nos processos de paga-
serviços de locação de veículos de mento de despesas com locação de
pequeno, médio e grande porte, em veículos no primeiro semestre de
todas as capitais brasileiras. 1997, anteriormente à assinatura do
"Muito embora a grande maioria Contrato nº 02/97, pode-se verificar
dos eventos organizados pelo Ceri- que os preços praticados por outras
monial se concentre na capital do locadoras que não a Locadora Brasal
País, Brasília, alguns eventos tam- Ltda., fora de Brasília, encontravam-
bém ocorrem em outras cidades de -se acima dos valores da propos-
acordo com a programação de visi- ta vencedora da Concorrência nº
tas de autoridades estrangeiras ao 01/97. Em face do exposto, consta-
Brasil. (...) ta-se que, ao invés de obter preços
A programação de eventos orga- mais caros do que os que vinham
nizados pelo Cerimonial apresenta sendo praticados, o Cerimonial op-
como característica específica a re- tou por solução que se configurou
duzida previsibilidade, depende de mais vantajosa para a Administra-
variáveis exógenas sobre as quais a ção Pública.
Unidade tem pouco controle (datas No que tange ao critério de menor
das visitas, dimensão e composição preço global, cumpre observar que
das delegações), podendo ocorrer o artigo 15 da Lei nº 8.666/93 não
visitas em qualquer localidade do impõe incondicionalmente o parce-
País desde que consideradas rele- lamento, apenas estabelece que 'As
vantes na agenda da autoridade es- compras, sempre que possível, de-
trangeira visitante. Cumpre destacar verão:' [grifo do original].
visitas a algumas cidades inusitadas, Por outro lado, é inegável que a lici-
tais como Rolândia e Carambeí, no tação tinha uma dimensão de servi-
Paraná. ço. Ainda que o artigo 8º, §1º, da Lei
A exigüidade de tempo disponível nº 8.666/93 estivesse em vigor, veri-
para o equacionamento da ope- ficar-se-ia que a subdivisão em par-
racionalização de cada um desses celas seria técnica e economicamen-
eventos não permite ao Cerimonial te inviável. A hipótese de divisão, no
deixar de contar com a garantia de referido artigo, foi porém suprimida
se dispor de empresa apta a prestar pela Lei nº 8.883, de 08.06.94".

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Jurisprudência Comentada

ANÁLISE: Das 32 empresas que ad- da Tomada de Preços nº 08/97, do


quiriram o edital, apenas três apre- que vem a ser o critério de aceitabili-
sentaram propostas válidas, sendo dade de preços empregado no julga-
que duas das empresas que não mento das propostas, contrariando
apresentaram propostas justifica- o disposto no inciso X do art. 40 da
ram sua desistência por não esta- Lei nº 8.666/93.
rem em condições de cumprir rigo- JUSTIFICATIVA: O encaminhamen-
rosamente as condições do edital, to dos procedimentos licitatórios
ou seja, de oferecer para locação no âmbito do Itamaraty compete
automóveis de serviço e de luxo, à Comissão Permanente de Licita-
vans, ônibus, microônibus, furgões e ção - CPL, vinculada à Divisão de
caminhões em todas as capitais do Serviços Gerais do Departamento
território nacional. de Administração, sendo que escla-
Com relação à aludida diversidade recimentos específicos podem ser
na localização das contratações, fornecidos por seus integrantes que,
verifica-se, quanto à execução do a propósito, também estão sen-
contrato em vigor até a data da re- do ouvidos pelo TCU acerca dessa
alização da auditoria, que somente questão.
foram contratadas locações em Bra- ANÁLISE: "Não resta nenhuma dú-
sília, São Paulo e Rio de Janeiro. vida quanto à responsabilidade da
O TCU já se posicionou contraria- DSG sobre a condução dos proces-
mente à adjudicação global quando sos licitatórios em todas as unidades
o objeto for divisível, sem prejuízo do MRE, o Cerimonial incluso. Ocor-
do conjunto ou do complexo, con- re que a DSG atende a demandas de
forme Decisões nºs 393/94 e 826/97, todas as unidades, sempre com a
ambas do Plenário. competente autorização do respon-
"Quanto à comparação de preços sável. Em princípio, as razões de jus-
elaborada pelo responsável, ela tan- tificativa apresentadas pelo respon-
to pode demonstrar que a contrata- sável poderiam ser consideradas
ção da Brasal foi economicamente insuficientes". No entanto, levando-
vantajosa quanto pode indicar que -se em conta os esclarecimentos
os preços contratados no primeiro dos integrantes da CPL, podem-se
semestre de 1997 foram excessi- ter por elididas as irregularidades
vos". apontadas.
Não consta das razões de justifica- c) OCORRÊNCIA: Não-definição dos
tiva apresentadas nada que obste a itens e dos preços acertados nos
adjudicação por itens ou a realização Contratos nºs 02/97, 03/97, 04/97,
de licitações distintas para as diver- 01/98 e 03/98, constando apenas
sas cidades que demandam locação o valor estimativo ou global dos
de automóveis por parte do MRE, referidos contratos, bem como o
devendo ser encaminhada determi- não-estabelecimento de vínculos
nação à Unidade nesse sentido. desses contratos com as respectivas
b) OCORRÊNCIA: Não-definição, nos propostas apresentadas nos proces-
editais da Concorrência nº 01/97 e sos licitatórios.

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Jurisprudência Comentada
JUSTIFICATIVA: "O encaminhamen- d) OCORRÊNCIA: Pagamento con-
to dos procedimentos licitatórios no tinuado de faturas de prestação de
âmbito do Ministério das Relações serviços de locação de automóveis
Exteriores, incluindo a elaboração sem que esteja presente a compe-
de editais de licitação bem como tente confirmação do responsável
de minutas dos correspondentes pela fiscalização do contrato, cons-
contratos, constitui competência da tando apenas o seu visto em notas
Comissão Permanente de Licitação fiscais, que, no mais das vezes, en-
(CPL) do MRE, vinculada à Divisão de globam serviços prestados em vá-
Serviços Gerais do Departamento rios dias e anotados nos documen-
de Administração", sendo que tanto tos 'Extratos para Conferência de
os editais quanto as minutas de con- Contratos', de emissão da própria
trato são devidamente analisadas empresa contratada, onde sequer
pela Consultoria Jurídica do Minis- consta quem eram os usuários do
tério, antes da publicação dos avisos serviço.
de licitação e após o julgamento e
JUSTIFICATIVA: Foram designados,
homologação dos processos licita-
mediante portarias publicadas em
tórios.
Boletins de Serviço do MRE, três res-
"Estes procedimentos foram devi- ponsáveis pela fiscalização do Con-
damente observados nos contratos trato nº 02/97.
questionados pela auditoria do Tri-
bunal de Contas. (...) "Tais designações foram necessá-
rias considerando a especificidade
Cumpre observar, entretanto, a di- do quadro de pessoal do Itamaraty,
ficuldade existente quanto à previ-
que apresenta rotatividade acentu-
são de quantitativos físicos para os
ada em função da remoção de seus
serviços de locação de veículos, con-
servidores para servir nos Postos no
fecção de impressos, confecção de
Exterior. Convém observar, ainda,
arranjos florais e hospedagem. Tal
que a natureza das atividades do
deve-se ao dinamismo e imprevisibi-
Cerimonial inclui deslocamentos e
lidade das agendas de Visitas de Es-
ausências freqüentes e, por vezes,
tado, Oficiais e de Trabalho, realiza-
prolongadas de seus funcionários.
das tanto por nossos Presidente da
República e Ministro de Estado das Os serviços de locação de veículos
Relações Exteriores quanto por seus objeto do Contrato nº 02/97 são so-
homólogos estrangeiros ao Brasil". licitados à empresa Locadora Brasal
ANÁLISE: A dificuldade levantada Ltda. pelos diplomatas da Subchefia
pelo responsável é procedente. No do Cerimonial encarregados da or-
entanto, o Tribunal pode determi- ganização de cada evento. Durante
nar que, "nos futuros contratos, seja a prestação dos serviços também
incluída cláusula contratual com os existe um diplomata encarregado
preços dos itens a serem forneci- do acompanhamento de cada even-
dos, ou, ainda, sejam esses preços to".
vinculados, em cláusula contratual, Os documentos apresentados pela
à proposta declarada vencedora no empresa contratada "são rigorosa-
processo licitatório". mente conferidos pelos encarrega-

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Jurisprudência Comentada

dos dos eventos, recebendo endos- de exemplo registra o pagamento


so do responsável pelo Contrato nº de quilometragem excedente a 100
02/97, atestados e encaminhados km/dia, o que é irregular por não
para pagamento. estar previsto em contrato, sendo
O responsável pelo contrato só está inclusive objeto de audiência no pre-
atestando a Nota Fiscal com o re- sente processo.
sumo dos serviços de cada missão, As informações prestadas pelo Sr.
consoante orientação da Secretaria Embaixador são contraditórias. Pri-
de Controle Interno deste Ministé- meiro ele afirma que os documen-
rio, tendo em vista o grande número tos são rigorosamente conferidos
de folhas correspondentes a cada pelos encarregados dos eventos,
uma das missões. Considerando que para mais adiante afirmar que um
a atestação da Nota Fiscal é emitida único diplomata é designado para
pelo seu valor global, fica implícito acompanhar autoridades visitantes,
que as parcelas também foram con- concentrando sua atenção na au-
feridas. (...) toridade máxima visitante. Informa
Além disso, designa-se apenas um ainda que o responsável pelo con-
diplomata para acompanhar auto- trato só está atestando a nota fiscal
ridades visitantes, o qual concentra com o resumo dos serviços de cada
sua atenção central na autoridade missão, e logo em seguida afirma
máxima visitante. A programação que fica implícito que as parcelas fo-
paralela dos demais integrantes das ram conferidas, uma vez que a ates-
comitivas é igualmente de difícil tação da nota fiscal é emitida pelo
acompanhamento". seu valor global.
ANÁLISE: "De início, o documento Conclui-se que, a despeito da exis-
apresentado como exemplo da fis- tência de responsável pela fisca-
calização do contrato com a Brasal lização do contrato nomeado por
é de data posterior à realização da portaria, a fiscalização é de fato de-
auditoria e de fato já incorpora al- ficiente, sendo possível a ocorrência
guns avanços, como o visto do fis- de pagamentos de valores indevi-
cal do contrato, da Chefe do Setor dos, como o verificado pagamento
Financeiro e do Ordenador de Des- de quilometragem excedente, e, em
pesa por Delegação. Mas persistem tese, até mesmo o pagamento por
todas as falhas mencionadas na au- serviços não prestados".
diência, uma vez que consta apenas
o visto na nota fiscal, a qual engloba Dessa forma, o Tribunal pode acatar
serviços prestados em vários dias e parcialmente as razões de justificati-
anotados nos documentos Extra- va apresentadas e determinar à uni-
tos para Conferência de Contratos, dade que, nos contratos de locação
emitidos pela própria empresa con- de veículos, o pagamento às empre-
tratada, onde sequer consta quem sas contratadas seja feito a partir de
eram os usuários e muito menos a controles efetuados por represen-
confirmação de efetiva prestação tantes do Cerimonial.
dos serviços. Além disso, a própria e) OCORRÊNCIA: Pagamento irregu-
documentação apresentada a título lar da quilometragem que exceder

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Jurisprudência Comentada
a 100 km/dia na locação de auto- anexados também os comprovan-
móveis, a despeito de acordado, no tes de pagamento efetuados pela
Contrato nº 02/97, que a quilome- Locadora Brasal Ltda., nos valores
tragem seria livre. de R$26.522,43, relativos aos exer-
JUSTIFICATIVA: "Constatou-se que cícios de 1997 e de 1998, deposi-
a empresa apresentou Notas Fiscais tado em favor da Conta Única do
com cobrança irregular de quilome- Tesouro Nacional, e de R$13.549,47,
tragem excedente, o que não foi relativos ao exercício de 1999, rein-
devidamente constatado na época corporado ao Programa de Trabalho
e as faturas foram pagas com tais 12.072.0410.2061.0001 - Manuten-
incorreções. Deste modo, esta Uni- ção do Cerimonial].
dade Gestora efetuou pagamento ANÁLISE: Diante do reconhecimen-
de parcela não devida referente a to expresso da irregularidade e do
quilometragem extra, no montante ressarcimento do prejuízo aos co-
de R$ 41.599,58 (quarenta e um mil, fres públicos, considera-se sanada a
quinhentos e noventa e nove reais e ocorrência apontada.
cinqüenta e oito centavos). Tais valo- f) OCORRÊNCIA: Realização das
res estarão sendo devidamente res- Concorrências nºs 06/97 e 01/98 e
sarcidos à União pela empresa, con- celebração do Contrato nº 03/98
forme determina a legislação e de com o objetivo explícito de, por in-
acordo com correspondências entre termédio de interposta pessoa - a
as partes envolvidas (Anexo 19). empresa contratada -, tornar pos-
O elevado número de eventos que sível a contratação de hospedagem
ocorrem no âmbito do Cerimonial, em qualquer hotel, independente-
muitas vezes simultaneamente, mente de sua regularização junto
o grande número de veículos in- ao SICAF.
tegrando cada cortejo, aliados ao JUSTIFICATIVA: "O Cerimonial, por
excesso de minúcias dos relatórios cortesia e tendo em vista a praxe
apresentados pela Contratada, têm internacional, tem dado ao visitan-
dificultado a tempestiva identifica- te liberdade de selecionar os hotéis
ção de falhas. em que deseja hospedar-se, sempre
Nesse sentido, a auditoria do Tribu- tomando-se em conta a opinião dos
nal de Contas constituiu-se em ins- órgãos competentes brasileiros re-
trumento de suma importância para lativamente ao risco à segurança.
nortear revisão dos procedimentos A este aspecto, soma-se a preocu-
internos desta Unidade Gestora no pação com que os preços para uma
acompanhamento dos contratos determinada categoria de estabe-
existentes". lecimento de hospedagem estejam
[Posteriormente¸ foi juntada docu- dentro da faixa que se pratica no
mentação contendo novo estudo mercado".
sobre o pagamento indevido de Com vistas a buscar uma solução
quilometragem extra, em que foi que permitisse a manutenção da fle-
corrigido o valor total desses paga- xibilidade necessária para a garantia
mentos para R$ 40.071,90. Foram da hospedagem de visitantes es-

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Jurisprudência Comentada

trangeiros no Brasil, em consonân- foi a Voetur Turismo e Representa-


cia com a legislação vigente, o MRE ções Ltda. (Contrato nº 03/98).
encaminhou consulta ao Tribunal de "O Cerimonial tem envidado todos
Contas da União, o qual, mediante a os esforços possíveis para a viabili-
Decisão Plenária nº 447/97, admitiu zação de suas atividades de acordo
a inexigibilidade da licitação, com com os preceitos legais da adminis-
fulcro no art. 25, caput, da Lei nº tração pública".
8.666/93, "desde que presentes as
ANÁLISE: O responsável admitiu
circunstâncias que recomendam a
explicitamente que as Concorrên-
adoção deste procedimento excep-
cias nºs 06/97 e 01/98 e a celebra-
cional, observadas as formalidades
ção do Contrato nº 03/98 foram
prescritas no Estatuto das Licitações
feitas com o objetivo de, por inter-
e Contratos. (...)
médio de interposta pessoa - a em-
Considerando que a grande maioria presa contratada -, tornar possível
dos hotéis enquadrados na catego- a contratação de hospedagem em
ria utilizada pelo Cerimonial não se qualquer hotel, independentemen-
encontrava regularmente cadastra- te de sua regularização junto ao
da no Sistema de Cadastramento SICAF. Além disso, ficou esclareci-
Unificado (SICAF) do Governo Fede- do que essa providência fora reco-
ral, foram realizadas diversas consul- mendada pela Consultoria Jurídica
tas a órgãos internos e externos ao do MRE.
Ministério, com vistas à elaboração
de edital que atendesse aos rigoro- "Esse tipo de ocorrência configura
sos termos da lei". ilícito, conforme estabelece o inciso I
do art. 102 do Código Civil Brasileiro
A Consultoria Jurídica do Itama-
(Lei 3071, de 01/01/1916):
raty recomendou que se realizas-
se licitação para a contratação de 'Art. 102 - Haverá simulação nos atos
agência de viagens, razão pela qual jurídicos em geral:
o Cerimonial solicitou à Divisão de I - quando aparentarem conferir ou
Serviços Gerais o início de certame transmitir direitos a pessoas diver-
para a contratação de agência de sas das a quem realmente se confe-
turismo/viagem especializada que rem, ou transmitem.'
oferecesse acomodações em hotéis, É o caso em questão. Aparentemen-
em qualquer parte do Brasil, para as te está-se contratando empresa de
atividades oficiais do Cerimonial do turismo, quando na verdade está-se
Ministério. possibilitando contratar qualquer
Tal processo resultou na Concorrên- hotel, mesmo que se encontre em
cia nº 06/97, não tendo havido, en- situação irregular. Corrobora esse
tretanto, comparecimento de agên- entendimento a comprovação de
cias interessadas no processo, razão que à empresa Voetur cabe apenas
pela qual a Unidade solicitou novo intermediar os pagamentos aos ho-
procedimento licitatório, que cul- téis, ficando toda a parte operacio-
minou na Concorrência nº 01/98. A nal das contratações de hospeda-
empresa vencedora desse certame gem a cargo do próprio Cerimonial".

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Jurisprudência Comentada
Dessa forma, as razões de justificati- Assim, solicitou parecer da Con-
va apresentadas não elidiram a res- sultoria Jurídica do MRE acerca da
ponsabilidade do Sr. Frederico Cézar possibilidade de contratação direta
de Araújo, devendo o Tribunal, com emergencial de tais serviços, com
base no parágrafo único do art. 43 base no art. 24, inciso IV, da Lei nº
da Lei nº 8.443/92, aplicar-lhe a mul- 8.666/93, que, em conseqüência,
ta prevista nos incisos II e III do art. orientou a Unidade a formular con-
58 da mesma Lei. sulta às oito empresas que haviam
g) OCORRÊNCIA: Contratação de retirado cópia do Edital da Concor-
empresa, Contrato nº 01/98, por rência nº 06/97, a qual foi efetuada.
dispensa de licitação lastreada em No entanto, somente a agência Voe-
caráter emergencial, não estando tur Turismo e Representações Ltda.
presentes os elementos caracteri- compareceu à reunião de recebi-
zadores da pleiteada emergência. mento e abertura, razão pela qual
Além disso, a referida contratação foi considerada vencedora, confor-
teve o objetivo explícito de, por in- me a Ata da Sessão (Anexo 30).
termédio de interposta pessoa - a "Na seqüência, em 15.01.98, foi
empresa contratada -, tornar pos- assinado o Contrato nº 01/98 com
sível a contratação de hospedagem a empresa Voetur Turismo e Re-
em qualquer hotel, independente- presentações Ltda., no valor de R$
mente de sua regularização junto ao 417.250,00 (quatrocentos e dezesse-
SICAF. te mil e duzentos e cinqüenta reais),
JUSTIFICATIVA: Como não compa- conforme extrato publicado no DOU
receram agências de turismo inte- em 20.01.98, com vigência de 180
ressadas na Concorrência nº 06/97, dias, improrrogáveis".
anteriormente mencionada, o Ce-
ANÁLISE: Não há comentários adi-
rimonial, considerando os prazos
cionais quanto ao fato de interposi-
legais que começariam a ser nova-
ção de empresa de turismo para a
mente contados para o novo pro-
contratação de hotéis, uma vez que
cedimento licitatório (Concorrência
não foi trazido nenhum elemento
nº 01/98), e "tendo em vista que a
novo às razões de justificativa apre-
programação de visitas de autori-
sentadas para a ocorrência mencio-
dades estrangeiras ao Brasil e pelo
Ministro de Estado das Relações Ex- nada na alínea f, que trata do mes-
teriores não teria condições de ser mo assunto.
interrompida", necessitaria tomar Quanto à emergência, lastrea-
uma decisão que permitisse a con- da no inciso IV do art. 24 da Lei nº
tinuidade de suas atividades, "em 8.666/93, o Tribunal pode aceitar
especial no tocante aos serviços de as razões de justificativa apresen-
hospedagem de comitivas de outros tadas, "pois mesmo que não esteja
países - como era o caso do Primei- caracterizada a emergência, restou
ro-Ministro do Canadá, que havia demonstrado que poder-se-ia, com
programado visita a nosso País ain- o mesmo objetivo, ter sido utili-
da para o mês de Janeiro/98, dentre zado o inciso V do art. 24 da Lei nº
outras". 8.666/93".

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Jurisprudência Comentada

h) OCORRÊNCIA: Assunção, pelo ponsável pelo Contrato nº 03/98,


Cerimonial do MRE, das principais atestados e encaminhados à Voe-
tarefas e dos custos a elas ineren- tur Turismo e Representações Ltda.
tes, que, por força dos Contratos com vistas ao correspondente fa-
nºs 01/98 e 03/98, estariam a cargo turamento pela Contratada, que
da contratada Voetur, limitando-se os devolve a esta Unidade Gestora
a contratada a intermediar o paga- para liquidação e pagamento.
mento aos hotéis, o que em princí- Cumpre ressaltar a impossibilidade
pio caracteriza a antieconomicida- de delegação de tais responsabili-
de dos referidos contratos. dades à empresa Voetur Turismo e
JUSTIFICATIVA: "Os serviços de hos- Representações Ltda., por envolver
pedagem objeto do Contrato nº negociações com as Embaixadas
01/98 e do Contrato nº 03/98 foram dos países visitantes, questões de
e são solicitados aos hotéis selecio- quantitativo de participantes das
nados e à empresa Voetur Turismo comitivas, especificidades de cada
e Representações Ltda., por uma autoridade no que tange às despe-
questão de eficácia, pelos diplo- sas passíveis de pagamento pelo Ce-
matas da Subchefia do Cerimonial rimonial.
(atual denominação da Divisão de Ademais, a Voetur não adiciona
Visitas do Cerimonial) encarregados quaisquer valores às faturas dos es-
da organização de cada evento. (...) tabelecimentos hoteleiros, em que
As despesas de prestação de servi- constam a integralidade das despe-
ços de hospedagem são apresenta- sas efetivadas pelas delegações es-
trangeiras quando de sua estada em
das pelos hotéis para cada um dos
território brasileiro. Por conseguin-
eventos solicitados, em Nota Fiscal/
te, a intermediação da Contratada
Fatura específica, onde é consigna-
não onera as despesas de hospe-
do o valor global referente a cada
dagem de autoridades estrangeiras
missão, em cada uma das cidades
e não caracterizaria antieconomici-
separadamente e o seu período de
dade do referido Contrato, uma vez
duração. (...)
que o valor pago corresponde ao
Os procedimentos de reserva deta- montante constante da fatura dirigi-
lhada utilizados pela Subchefia do da àquela empresa".
Cerimonial permitem a minuciosa
ANÁLISE: A audiência foi proposta
conferência e identificação precisa porque a equipe de auditoria cons-
das despesas passíveis de pagamen- tatou indícios de que o Cerimonial
to por esta Unidade Gestora, bem executava todos os procedimentos
como a impugnação dos valores re- que deveriam estar a cargo da con-
lativos a despesas porventura não- tratada, tais como solicitação de re-
-autorizadas. servas nos hotéis e outros, arcando
Assim, tais documentos contábeis, com todas as despesas operacionais
apresentados ao Cerimonial para decorrentes, como mão-de-obra,
apreciação, são devidamente con- telefone, fax e outras, cabendo à
feridos pelos encarregados dos contratada apenas a intermediação
eventos, recebem endosso do res- dos pagamentos aos hotéis.

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Jurisprudência Comentada
O responsável confirma que efeti- i) OCORRÊNCIA: Aceitação, como
vamente é o Cerimonial que efetua garantia no Contrato n° 03/98, de
todos os procedimentos necessários cessão de direitos de Títulos da Dí-
à contratação de hotéis, objeto dos vida Agrária - TDA, pelo seu valor de
Contratos nº 01/98 e nº 03/98, ce- face. Esses títulos são sabidamente
lebrados com a empresa Voetur Tu- comercializados com deságio e o
rismo, salientando a impossibilidade seu resgate, ante eventual inadim-
de delegação de tais responsabilida- plemento contratual por parte da
des àquela empresa de turismo. contratada, pode não ser imediato
"Cabe então a seguinte indagação: e oferecer riscos para o contratante.
se não é possível delegar as res- JUSTIFICATIVA: "Essa modalidade de
ponsabilidades que são objeto dos garantia não havia sido, até então,
referidos contratos, por que então apresentada como lastro de contra-
eles foram firmados? Qual é o ver- tos anteriores, mas, como previsto
dadeiro fundamento da contratação no artigo 56 da Lei nº 8.666/93 e no
de empresa de Turismo? A resposta, Edital de Licitação, depreende-se
conforme admitido pelo Sr. Chefe do que constitui alternativa legítima e
Cerimonial no Memorando C/714/ legal, factível de utilização".
AEFI, de 27/10/97 (fls. 208/209 do ANÁLISE: "A Voetur ofertara, na sua
Volume I) e já comentado anterior- proposta, a garantia na modalidade
mente, é que 'a contratação de ho- fiança bancária, a qual foi substitu-
téis por interposta pessoa nos dá ída, com autorização do Sr. chefe
a garantia de que seja possível a do Cerimonial, por Títulos da Dívida
eleição de qualquer hotel, indepen- Agrária TDA.
dentemente de estar ou não regular Os TDA, conforme frisado no Rela-
junto ao Sicaf'". tório de Auditoria, são considerados
Quanto à questionada antieconomi- 'moeda podre' no mercado de capi-
cidade dos mencionados contratos, tais, sendo normalmente comercia-
"ainda que a Voetur não adicione lizados com grande deságio. Dessa
nenhum valor às faturas dos hotéis, forma, a garantia prestada por eles,
alguma retribuição financeira ela considerando-se o valor de face
deve receber, e isso não foi esclare- dos títulos, pode não ser suficiente
cido pelo Sr. Chefe do Cerimonial". para ressarcir o erário por prejuízos
Assim, as justificativas apresenta- decorrentes de eventuais inadim-
das, além de se mostrarem insufi- plementos contratuais causados
cientes, reforçam o entendimento pela contratada.
de que aquelas oferecidas para as Acrescente-se que os títulos em
ocorrências tratadas nas alíneas f e questão não foram dados em cau-
g igualmente o são, razão pela qual ção e não estão em poder do Ceri-
propõe-se, com base no parágrafo monial. Segundo a documentação
único do art. 43 da Lei nº 8.443/92, levantada na auditoria, foi apenas
a aplicação ao responsável da multa emitida a cessão de direitos (fls.
prevista nos incisos II e III do art. 58 294/299 do Volume I). A proprie-
da mesma Lei. dade desses títulos foi comprovada

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Jurisprudência Comentada

apenas por outra cessão de direitos, da realização da auditoria, pela do-


formalizada no Tabelionato e Regis- cumentação de fls. 310/343 do Vo-
tro Civil de Santa Quitéria, Estado lume I.
do Paraná, por um único procurador "O responsável silenciou-se sobre a
representando as duas partes envol- ausência de fiscalização no Contrato
vidas na negociação". nº 01/98.
Assim, as justificativas oferecidas Dessa forma, as razões de justifi-
pelo responsável não elidem as ir- cativa apresentadas não elidem a
regularidades apontadas, razão irregularidade detectada em au-
pela qual propõe-se, com base no ditoria, podendo o Tribunal, caso
parágrafo único do art. 43 da Lei nº julgue conveniente, determinar a
8.443/92, a aplicação de multa ao instauração de tomada de contas
responsável, nos termos do art. 58, especial para verificar a responsa-
incisos II e III, da mesma Lei. bilidade pelo débito e o montante
j) OCORRÊNCIA: Ausência de fisca- devido em função da não-cobrança
lização no Contrato n° 01/98, possi- por parte do Cerimonial de descon-
bilitando o pagamento das faturas to oferecido em proposta comercial
dos hotéis sem nenhum controle pela Voetur".
por parte do MRE e sem que fosse k) OCORRÊNCIA: Pagamento de taxa
oferecido o desconto de 5% sobre de serviço de 10% nas faturas apre-
a tarifa-balcão ou tarifas promocio- sentadas pelos hotéis, apesar de
nais, quando ofertadas pelos hotéis, não estar previsto no edital da Con-
conforme previsto no item 16 da corrência nº 01/98, no Contrato nº
proposta da Voetur. 03/98 e nem na proposta da empre-
JUSTIFICATIVA: "De acordo com le- sa, a qual assegurava, no seu item
vantamento realizado por esta Uni- 17, que todos os impostos, taxas,
dade Gestora quanto aos processos seguros e encargos sociais e traba-
de pagamento efetuados em favor lhistas estavam inclusos.
da Voetur, na vigência do Contrato JUSTIFICATIVA: Os pagamentos efe-
nº 01/98, verificou-se que todos os tuados no âmbito do Contrato nº
descontos ofertados e concedidos 03/98, correspondentes aos servi-
pelos estabelecimentos hoteleiros ços de hospedagem faturados pelos
foram integralmente repassados ao hotéis com taxa de serviço de 10%,
Cerimonial, com percentuais de até estão devidamente amparados pelo
33% (Anexo 38)". inciso II do art. 25 do Regulamento
ANÁLISE: Da documentação apre- dos Meios de Hospedagem de Turis-
sentada para fundamentar as razões mo, aprovado pela Deliberação Nor-
de justificativa, não se constatou a mativa nº 367/96 do Instituto Bra-
existência do desconto de 5% sobre sileiro do Turismo ¿ Embratur, e no
a tarifa-balcão ou sobre as tarifas item 3.7 do Anexo I - Projeto Básico
promocionais, caso ofertadas pelos do Edital da Concorrência nº 01/98.
hotéis, conforme previsto no item "A proposta financeira apresentada
16 da proposta da Voetur. Esse fato pela Voetur Turismo e Representa-
já tinha sido comprovado, quando ções Ltda., datada de 17/03/98, con-

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Jurisprudência Comentada
signou em seu item 17 que arcaria presa licitante. O próprio responsá-
com todos os tributos incidentes so- vel, nas razões de justificativa apre-
bre as atividades da Voetur Turismo sentadas para a ocorrência da alínea
e Representações Ltda. e não dos h, informa que 'a Voetur não adicio-
estabelecimentos hoteleiros (Anexo na quaisquer valores às faturas dos
42). Tal compromisso tem sido hon- estabelecimentos hoteleiros'.
rado pela empresa no decorrer da O art. 25 e seu inciso II, do Regula-
vigência do Contrato nº 03/98, de mento dos Meios de Hospedagem e
forma que os valores apresentados Turismo, dizem o seguinte:
pelos hotéis são absolutamente os
'Art. 25 - O meio de hospedagem de-
mesmos faturados pela Voetur, sem
verá incluir nos impressos distribuí-
quaisquer acréscimos. (...)
dos, ou nos meios de divulgação uti-
Quanto aos procedimentos opera- lizados, ainda que de forma sintética
cionais adotados, cumpre esclarecer e resumida, todos os compromissos
que a Subchefia do Cerimonial envia recíprocos entre o estabelecimento
fac-simile aos hotéis para reserva. e o hóspede, especialmente em re-
Após o recebimento de confirmação lação a:
de reserva dos hotéis, é encaminha- (...)
do Mini-memorandum ao Ordena-
dor de Despesas, por delegação de II- importâncias ou porcentagens
competência, desta Unidade Gesto- que possam ser debitadas à conta
ra, autorizando os serviços de hos- do hóspede, inclusive, quando apli-
pedagem. cável, o adicional de serviço para
distribuição aos empregados;'
Em vista do que precede, os paga-
mentos efetuados no âmbito do Objetivamente, o instrumento le-
Contrato nº 03/98, correspondentes gal invocado pelo responsável para
aos serviços de hospedagem fatura- justificar a pretensa legalidade do
dos pelos hotéis com taxa de serviço pagamento da taxa de 10% sobre
de 10%, estão devidamente ampa- o valor da diária, na verdade proíbe
essa cobrança por parte dos hotéis,
rados pelos instrumentos anterior-
a menos que efetivamente divulga-
mente citados".
do antes da contratação, o que de
ANÁLISE: "Relativamente a impos- fato não ocorreu, uma vez que não
tos e taxas, o item 17 da proposta da constava da proposta comercial da
Voetur diz o seguinte: 'Declaramos empresa Voetur.
que todos os impostos, taxas, segu-
Já o item 3.7 do Anexo I - Projeto Bá-
ros e encargos sociais e trabalhistas
sico, diz o seguinte:
estão inclusos na nossa proposta'.
'III-DAS OBRIGAÇÕES DA LICITANTE
Não é possível imaginar que esses
VENCEDORA
impostos, taxas, seguros e encargos
sociais e trabalhistas sejam inciden- (...)
tes sobre as atividades da Voetur, 3.7 - Apresentar, juntamente com as
vez que a proposta inclui, exclusiva- faturas, as notas fiscais de serviços
mente, valores de diárias dos hotéis relativos às diárias dos hotéis agru-
e não de eventuais despesas da em- pados por eventos e, quando for o

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Jurisprudência Comentada

caso, com as taxas de serviço devi- ANÁLISE: As razões de justificativa


damente autorizadas por funcioná- apresentadas podem ser acolhidas
rio do Ministério das Relações Exte- pelo Tribunal.
riores designado pelo Cerimonial'. m) OCORRÊNCIA: Adjudicação do
Aqui não se está fazendo referência objeto da Concorrência nº 01/98 à
à taxa de serviço de 10%, mas às ta- empresa que apresentou a propos-
xas de serviços prestados pelo hotel ta mais onerosa, em detrimento de
a seus hóspedes, como por exemplo proposta mais vantajosa.
serviços de lavanderia ou de outras JUSTIFICATIVA: Foi homologado o
despesas eventualmente autoriza- resultado da licitação apurado pela
das, como ficou explícito também Comissão Permanente de Licita-
nas razões de justificativa apresen- ção, em atenção ao Memorando
tadas para a ocorrência de que trata CPL/019/98, de 20/03/98, que re-
a alínea h. cebeu despacho favorável do titu-
Dessa forma, as razões de justifi- lar da DSG. Ante a inexistência de
recursos, o objeto da concorrência
cativa apresentadas não elidem a
foi então adjudicado à empresa con-
irregularidade aventada, podendo
siderada vencedora, Voetur Turismo
o Tribunal, caso julgue conveniente,
e Representações Ltda.
determinar a instauração de tomada
de contas especial para quantificar ANÁLISE: "As razões de justifica-
o montante do pagamento irregular tiva apresentadas atenuam, mas
da taxa de serviço de 10% e identifi- não elidem a responsabilidade do
Ordenador de Despesas. Afinal, foi
car os responsáveis pelo débito".
ele a autoridade responsável que
l) OCORRÊNCIA: Pagamento conti- homologou o resultado da licitação
nuado de faturas de prestação de e adjudicou o seu objeto à empresa
serviços de hospedagem sem estar que ofereceu uma proposta que,
presente a competente confirma- abstraindo-se de sua ilegalidade em
ção do responsável pela fiscalização cotar preços em moeda estrangeira,
dos Contratos nºs 01/98 e 03/98. representava custos maiores para a
JUSTIFICATIVA: "Após a total confe- administração pública".
rência da documentação contábil Assim, propõe-se, com base no pa-
apresentada pelos hotéis, o respon- rágrafo único do art. 43 da Lei nº
sável pelo Contrato só está atestan- 8.443/92, que o Tribunal aplique ao
do a Nota Fiscal com o resumo dos responsável a multa prevista nos in-
serviços de cada missão, consoante cisos II e III do art. 58 da mesma Lei.
orientação da Secretaria de Contro- n) OCORRÊNCIA: Restrição do cará-
le Interno deste Ministério, tendo ter competitivo da Tomada de Pre-
em vista o grande número de folhas ços nº 08/97, ao se utilizar, no julga-
correspondentes a cada uma das mento das propostas, o critério do
missões. Considerando que a ates- menor preço global, o que impedia
tação da Nota Fiscal é emitida pelo a divisão do objeto da licitação em
seu valor global, fica implícito que as parcelas ou a adjudicação por itens,
parcelas também foram conferidas". visando aproveitar as peculiarida-

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Jurisprudência Comentada
des do mercado, conforme deter- Durante as visitas de vistoria dos
mina o inciso IV do art. 15 da Lei nº itens do edital junto ao Cerimonial,
8.666/93. alguns representantes das gráficas
JUSTIFICATIVA: O objeto da contra- comentaram a complexidade dos
tação era a prestação de serviços impressos e o inadequado apare-
gráficos para o Cerimonial, impres- lhamento de suas empresas para
sos esses "que exigem um altíssimo produzi-los".
padrão de qualidade, em nível inter- Apenas três empresas comparece-
nacional, com utilização de papéis ram à Sessão de Abertura da Toma-
especiais, (...), com impressão em da de Preços nº 08/97, sendo que
alto relevo americano e as Armas uma delas não pôde participar do
da República em alto relevo fran- certame por não estar em dia com
cês ouro e em alto relevo seco. Tais o SICAF, sagrando-se vencedora a
especificações não são usuais para Relevo Gráfica Rafaela Ltda. por ter
todo o parque gráfico local, que está cotado todos os itens do Anexo I.
mais voltado para trabalhos gráficos "O reduzido número de participan-
de maior simplicidade, não dispon- tes da abertura da tomada de pre-
do, na sua maioria, de equipamen- ços pareceu confirmar que a relação
tos adequados para o atendimento de impressos do Cerimonial não se-
das especificações do Cerimonial. ria de fácil confecção por todas as 32
(...) empresas inicialmente interessadas.
Empresas distintas poderiam pro- (...)
duzir um mesmo símbolo, como por O artigo 15 da Lei nº 8.666/93 não
exemplo as Armas da República, em impõe incondicionalmente o par-
alto relevo francês ouro, em tons celamento, apenas estabelece que
dourados e/ou espessura de traços 'As compras, sempre que possível,
diferentes. Isto levaria a que, num deverão:'
mesmo jantar, o convite, a capa do Por outro lado, é inegável que a lici-
discurso e a capa do menu tivessem tação tinha uma dimensão prepon-
cada um Armas da República dife- derantemente de serviço. Ainda que
rentes entre si". o artigo 8º, §1º, da Lei nº 8.666/93
A CPL elaborou, então, o respectivo estivesse em vigor, verificar-se-ia
edital de licitação e o enviou à Con- que a subdivisão em parcelas seria
sultoria Jurídica, que apresentou técnica e economicamente inviável.
diversos comentários sobre alguns A hipótese de divisão, no referido
aspectos específicos do Edital e da artigo, foi porém suprimida pela Lei
Minuta de Contrato, mas não sobre nº 8.883, de 08.06.94".
o critério de julgamento pelo menor ANÁLISE: As razões de justificativa
preço global. apresentadas reforçam a tese de
"Confirmando a boa divulgação do que o critério de julgamento empre-
processo licitatório, trinta e duas gado restringiu o caráter competiti-
empresas retiraram cópia do Edital vo do certame, com possíveis refle-
junto à Comissão Permanente de Li- xos negativos na economicidade da
citação. contratação.

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Jurisprudência Comentada

"Mesmo que alguns impressos de- trimento da realização de processo


vam, por força de sua especificida- licitatório, e a repetida escolha de
de, ser feitos com características uma única floricultura, numa cidade
similares (como a igualdade das ar- em que existem dezenas, o que em
mas da república em impressos uti- princípio caracteriza favorecimento
lizados no mesmo evento), poderia a determinado fornecedor.
ter sido considerada a possibilidade JUSTIFICATIVA: As contratações
de formação de grupos de impres-
foram efetuadas por dispensa de
sos similares para serem adjudica-
licitação enquanto se aguardava a
dos em conjunto.
conclusão de processo licitatório
Do confronto das duas propostas instaurado no início de 1997, o qual
válidas, verifica-se que, para os itens demandou mais tempo do que o
cotados pela ME-Antônio Amân- previsto. Com isso, para as contrata-
cio da Silva, os preços da proposta ções de serviços de ornamentação
declarada vencedora eram 128% floral, foram efetuados levantamen-
maiores. É de se imaginar que, caso
tos de preços junto a três fornece-
o edital previsse a cotação por itens,
dores para cada evento, todos eles
outras empresas também se habili-
organizados em processos de paga-
tariam, com provável economicida-
mento.
de nas contratações".
"Poderia ter sido encaminhado, pa-
Ademais, o TCU já se posicionou
ralelamente, processo de carta-con-
contrariamente à adjudicação glo-
bal quando o objeto for divisível, vite, cujo limite era de R$ 38.550,49,
sem prejuízo do conjunto ou do em março/97, o que teria permitido
complexo, conforme Decisões de nº a realização de despesas com ar-
393/94-Plenário e nº 826/97-Plená- ranjos florais para alguns eventos,
rio. durante cerca de dois meses. Toda-
via, considerando que a legislação
Assim, as razões de justificativa
não permite a edição de seguidas
apresentadas não elidem a irregula-
ridade constatada na auditoria, de- cartas-convites com o mesmo ob-
vendo ser procedida determinação jetivo, tal alternativa não teria sido
ao Cerimonial no sentido de que, suficiente para albergar as neces-
nas próximas licitações visando à sidades de serviços de arranjos flo-
contratação de serviços gráficos, o rais, que, no período de janeiro/97 a
objeto seja dividido em grupos si- agosto/97 questionado, montaram
milares de impressos para que a ad- a R$100.353,87. (...)
judicação seja por itens e não pelo Verifica-se que os gestores, para
preço global. seleção da proposta mais vantajosa
o) OCORRÊNCIA: Fracionamento das para a administração, pautaram-se
compras de arranjos florais ocorri- pelos princípios básicos enuncia-
das no primeiro semestre de 1997, dos no artigo 3º, caput, da Lei nº
com a realização de sucessivas con- 8.666/93, observadas as necessida-
tratações por dispensa de licitação, des e peculiaridades das atividades
num total de R$ 92.940,00, em de- do Cerimonial".

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Jurisprudência Comentada
A Tomada de Preços nº 15/97 foi objeto da licitação como sendo o
vencida pela empresa Flores da Al- fornecimento de arranjos florais em
vorada Ltda., com a qual foi firmado todas as capitais do território na-
o Contrato nº 04/97 em 29/08/97, cional, quando era sabido que esse
com vigência de dois anos, no valor fornecimento dificilmente seria so-
de R$ 400.000,00. licitado fora de Brasília, e pela utili-
ANÁLISE: "As contratações por dis- zação, no julgamento das propostas,
pensa de licitação foram realizadas do critério do menor preço global, o
com a mesma empresa que ven- que impedia a divisão do objeto da
ceu a licitação, a Flores da Alvorada licitação em parcelas visando apro-
Ltda., histórica fornecedora do Ce- veitar as peculiaridades do merca-
rimonial, sendo que as outras duas do, conforme determina o inciso IV
do art. 15 da Lei nº 8.666/93.
empresas consultadas para cotar os
preços foram sempre as mesmas: JUSTIFICATIVA: "Muito embora a
a Tropicália Flores e Decorações e grande maioria dos eventos organi-
a Flores Belly. Essas duas floricultu- zados pelo Cerimonial se concentre
ras, a despeito de nunca venderem na capital do País, Brasília, alguns
ao Cerimonial um buquê sequer, deles também ocorrem nas demais
sempre apresentaram suas cota- capitais das Unidades da Federação,
ções com preços superiores aos de acordo com a programação das
ofertados pela Flores da Alvorada", visitas de autoridades estrangeiras
indicando inclusive forte indício de ao Brasil. (...)
conluio. A programação de eventos organi-
Quanto à justificativa do responsá- zados pelo Cerimonial é imprevisí-
vel, depende de variáveis não-con-
vel para o fato de não ter realizado
troláveis, além da intempestividade
licitações na modalidade de convi-
das definições, podendo ocorrer
te, "há que se considerar que mui-
visitas em qualquer ponto do País
to menos são legais as sucessivas
desde que consideradas relevantes
contratações por dispensa de licita-
na agenda da autoridade estrangei-
ção com o mesmo objetivo lastrea-
ra visitante, ou seja, de interesse na-
das no inciso II do art. 24 da Lei nº
cional. (...)
8.666/93, que caracterizam o fracio-
namento da despesa em detrimento Como é do interesse geral, o mer-
do devido processo licitatório". cado de flores apresenta como ca-
racterística bastante peculiar o fato
Assim, as justificativas apresentadas de trabalhar, há muito tempo, com
não elidem as irregularidades, razão sistema de interação espacial, de
pela qual propõe-se, com base no forma a permitir que consumidores
parágrafo único do art. 43 da Lei nº de uma determinada cidade possam
8.443/92, que o Tribunal aplique ao escolher as flores que gostariam que
responsável a multa prevista nos in- fossem entregues em uma outra ci-
cisos II e III do art. 58 da mesma Lei. dade, inclusive no plano internacio-
p) OCORRÊNCIA: Restrição do ca- nal. Nesse sentido, as floriculturas
ráter competitivo da Tomada de estão interligadas em redes de com-
Preços nº 15/97, pela definição do plementaridade de serviços".

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Jurisprudência Comentada

Quanto à utilização, no julgamento como do Presidente e do Vice-Pre-


das propostas, do critério do menor sidente da República ao exterior. A
preço global, o responsável utilizou troca de presentes é uma das práti-
a mesma argumentação empregada cas observadas internacionalmente
para a ocorrência tratada na alínea em ocasiões do gênero, sendo que
n. a escolha dos presentes deve ser
ANÁLISE: As razões de justificativa cuidadosa e levar em consideração
apresentadas para a exigência edi- vários critérios: não ofender os usos
talícia de fornecimento de arranjos e costumes do visitante ou de seu
florais em todas as capitais do terri- país, ser de categoria equivalente à
tório nacional são satisfatórias, em do presente que se recebe, ter re-
virtude da peculiaridade do merca- lação com a vida do visitante ou de
do de flores. seu país, ou ser representativo de
algum aspecto da realidade do país
Quanto ao critério de julgamento
anfitrião.(...)
empregado, de menor preço global,
os argumentos oferecidos não eli- São muito apreciados, internacio-
dem a irregularidade constatada na nalmente, objetos confeccionados
auditoria, devendo ser determinado em pedras brasileiras combinadas
ao Cerimonial que, nas próximas li- com prata e, dentre os artistas e as
citações visando a contratação de empresas que já forneceram obje-
arranjos florais, o objeto seja divi- tos com tais características para o
dido em grupos similares de arran- Cerimonial, destacam-se: H. Stern
jos, para que a adjudicação seja por Comércio e Indústria S/A., Pedras
itens e não pelo preço global. Nativas Comércio de Pedras Ltda.,
Gemas da Terra Comércio Exporta-
q) OCORRÊNCIA: Aquisição, no pe-
ção Representações e Serviços Ltda.
ríodo de janeiro de 1997 a janeiro
e Grupo GAL. (...)
de 1999, por inexigibilidade de li-
citação, de objetos para presen- Destes fornecedores, o Grupo GAL é
tes confeccionados em prata e em considerado o que possui a melhor
pedras brasileiras, num total de R$ qualidade das peças (...).
245.626,42, sempre de uma única É importante observar que o pro-
fornecedora, o que em princípio cesso de seleção de peças a serem
caracteriza o favorecimento a de- adquiridas pelo Cerimonial para
terminado fornecedor. Além disso, presentear autoridades estrangei-
não foram apresentadas justificati- ras é desenvolvido pessoalmente
vas para os preços praticados, o que por diplomatas lotados na Chefia e
contraria o disposto no inciso III do Subchefia desta Unidade, mediante
parágrafo único do art. 26 da Lei nº visitas a diversos ateliês brasileiros e
8.666/93. apreciação do acervo disponível nas
JUSTIFICATIVA: "Compete ao Ce- mesmas".
rimonial, dentre outras funções, De acordo com a programação
planejar e executar programas de de eventos da época indicada, foi
visitas de Chefes de Estado e de Go- possível estimar com antecedência
verno estrangeiros ao Brasil, bem a necessidade do Cerimonial, no

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Jurisprudência Comentada
tocante a presentes a serem confec- de fornecedor, uma vez que, pela
cionados pelo Grupo GAL, e a con- prática comercial, o 'produtor' é que
seqüente solicitação de parecer à oferece o melhor preço".
Consultoria Jurídica quanto à admis- ANÁLISE: "Mesmo partindo-se do
sibilidade de que a Unidade pudesse pressuposto da conveniência da
contratar a empresa corresponden- aquisição de objetos confecciona-
te, com base no inciso III do art. 25 dos com pedras brasileiras combina-
da Lei nº 8.666/93. dos com prata, não foi apresentado
"A Consultoria Jurídica tem-se mani- nenhum documento que comprove
festado favoravelmente a tais solici- ou que indique ser a ME Adriana
tações, considerando que se incluem de Benedictis Marinoni a única for-
as aquisições pretendidas dentro do necedora capacitada. Da mesma
que a doutrina denominou 'serviços forma que foram apresentados re-
de atividade singular' e consideran- cortes de jornais com notas sobre
do que a singularidade, nos casos exposições e críticas positivas sobre
em tela, se revela por ser produção essa artista, poderiam ser apresen-
artística que se define pelo cunho tados sobre vários outros.
pessoal ou coletivo expressado em
Consultando o SIAFI, não foi encon-
características artísticas.
trada nenhuma aquisição, durante
Cabe ressaltar que os preços apre- os exercícios de 1997, 1998 e 1999,
sentados pela empresa na época junto às empresas citadas nas razões
encontravam-se dentro dos valo- de justificativa, ou seja, H. Stern Co-
res praticados pelo mercado para a mércio e Indústria, Pedras Nativas
venda de peças artísticas em pedras Comércio de Pedras Ltda., Gemas da
brasileiras e prata com característi- Terra, ou de qualquer outra empre-
cas semelhantes, conforme deter- sa ou artista que forneça objetos da
mina o inciso III do artigo 26 da Lei mesma natureza.
nº 8.666/93.(...)
Não foram apresentados documen-
O Itamaraty, ao presentear autori- tos ou informações objetivas que
dades estrangeiras, procura sempre justifiquem os preços praticados nas
divulgar a arte brasileira em suas compras em comento".
diferentes formas e manifesta-
ções. Nesse sentido, e com aquela Dessa forma, as razões de justifi-
finalidade, adquirem-se pinturas, cativa apresentadas não elidem as
tapeçaria, tecidos, livros de arte, li- irregularidades apontadas, motivo
vros antigos, pedras semipreciosas, pelo qual propõe-se, com base no
metais nobres, etc. Dentro de cada parágrafo único do art. 43 da Lei nº
segmento, procura o Cerimonial 8.443/92, que o Tribunal aplique ao
selecionar na conjuntura um artis- responsável a multa prevista nos in-
ta mais representativo. Por isso, a cisos II e III do art. 58 da mesma Lei.
aquisição de objetos de pedras e RESPONSÁVEIS: Juliano Feres Nasci-
prata de Adriana de Benedictis Ma- mento, Carlos José Areias Moreno
rinoni ME representa apenas a con- Garcete e Elio de Almeida Cardoso
centração de aquisições de um mes- (encarregados pela fiscalização da
mo artista, mas não favorecimento execução do Contrato nº 02/97)

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Jurisprudência Comentada

a) OCORRÊNCIA: Aparente inexis- fia inclui deslocamentos freqüentes


tência de fiscalização no Contrato nº e, por vezes, prolongados de seus
02/97, função que lhes fora atribuída servidores. Por exemplo, durante o
por Portarias do Cerimonial, o que período de cinco meses que estive
tornou possível a continuada co- a cargo do acompanhamento e fis-
brança irregular de quilometragem calização do Contrato nº 02/97, este
extra e a continuada apresentação servidor permaneceu 36 dias fora
de faturas sem a competente con- de Brasília. (...)
firmação da prestação dos serviços. Na prática, coube a este servidor, na
JUSTIFICATIVA: As razões de justifi- qualidade de responsável pelo Con-
cativa apresentadas pelos responsá- trato nº 02/97, conferir tão-somente
veis seguem a mesma linha apresen- se os serviços a que se referem as
tada pelo Sr. Embaixador Frederico notas fiscais que chegam às suas
Cézar de Araújo para as ocorrências mãos para atestação foram efetiva-
tratadas nas alíneas d, no que se mente solicitados e prestados; se o
refere à ausência de fiscalização no número de carros a que diz respeito
Contrato nº 02/97, e e, quanto ao a nota fiscal corresponde ao pedido
pagamento irregular da quilometra- realizado; se o período da prestação
gem excedente a 100 km/dia. do serviço corresponde ao período
No entanto, o Sr. Elio de Almeida solicitado; se o horário de apresen-
Cardoso acrescentou ainda as se- tação do veículo corresponde ao ho-
guintes informações: rário instruído; se a localidade onde
"A atribuição para a qual este servi- o serviço foi realizado está de acor-
dor foi designado (...) caracteriza-se do com a solicitação. (...)
como atípica dentro das funções Na qualidade de responsável pelo
normalmente exercidas dentro des- referido contrato, este servidor
ta unidade. (...) limitou-se, portanto, a atestar a
A jornada de trabalho realizada realização dos serviços solicitados
pelos diplomatas desta Subchefia nas respectivas notas fiscais, após
caracteriza-se por ser demasiada- verificar com os demais diplomatas
mente ampla e intensiva, tendo em e funcionários se o disposto nas fa-
vista o envolvimento na prepara- turas correspondia exatamente aos
ção de eventos de tal natureza, que pedidos formulados para os diver-
ocorrem ininterruptamente. Nor- sos eventos".
malmente, o expediente estende-se ANÁLISE: Quanto ao pagamento ir-
às noites, aos fins de semana e aos regular da quilometragem exceden-
feriados, restando, portanto, pouco te a 100 km/dia, os responsáveis ad-
tempo para os diplomatas se dedica- mitiram a irregularidade, a exemplo
rem às tarefas de natureza contábil do Sr. Embaixador Frederico Cézar
e administrativa, sem o imprescindí- de Araújo, sendo que a empresa
vel apoio do Setor de Contabilidade contratada ressarciu a quantia ir-
do Cerimonial. regularmente recebida aos cofres
Convém observar, ainda, que a na- públicos, conforme anteriormente
tureza das atividades desta Subche- mencionado. Diante disso, foram sa-

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Jurisprudência Comentada
nadas as irregularidades atinentes a mesmos motivos enunciados an-
essa questão. teriormente, podendo o Tribunal,
No tocante à deficiência de fiscaliza- caso julgue conveniente, determinar
ção do contrato de locação de auto- a instauração de tomada de contas
móveis, as razões de justificativa do especial para quantificar o montan-
Sr. Elio de Almeida Cardoso, acima te do pagamento irregular e identifi-
descritas, corroboram a constata- car os responsáveis pelo débito.
ção da auditoria. No entanto, restou RESPONSÁVEIS: Betsaida Capile Tu-
evidenciado que quaisquer que fos- nes, Ricardo Casimiro Batista, Arnal-
sem os responsáveis designados a do Cetrone, Rogério Baruffaldi, José
fiscalização seria deficiente, motivo Carlos da Silveira Batista (membros
pelo qual devem ser acatadas as ra- da Comissão Permanente de Licita-
zões de justificativa ora em análise, ção)
devendo, por outro lado, ser pro- a) OCORRÊNCIA: Não-definição, nos
cedida determinação ao Cerimonial editais da Concorrência nº 01/97 e
no sentido de que, nos contratos da Tomada de Preços nº 08/97, do
de locação de automóveis, os pa- que vem a ser o critério de aceita-
gamentos às empresas contratadas bilidade de preços, contrariando o
sejam feitos a partir de controles disposto no inciso X do art. 40 da Lei
efetuados por representantes do nº 8.666/93.
Cerimonial.
JUSTIFICATIVA: Os responsáveis
RESPONSÁVEIS: Marco Antônio apresentaram razões de justificativa
Nakata e Eduardo Carvalho (encar- de mesmo teor, argumentando que
regados pela fiscalização da execu- "o critério de aceitabilidade de pre-
ção do Contrato nº 03/98) ços, conceito utilizado nos editais
a) OCORRÊNCIA: Aparente inexis- da Concorrência nº 01/97 e Tomada
tência de fiscalização no Contrato de Preços nº 08/97, refere-se aos
nº 03/98, função que lhes fora atri- preços utilizados no mercado, que
buída por Portarias do Cerimonial, faziam parte da Planilha de Preço,
o que tornou possível a continuada anexa aos editais. A CPL não preten-
cobrança irregular, por parte de al- deu contrariar o disposto no inciso
guns hotéis, da taxa de serviço de X do artigo 40 da Lei nº 8.666/93;
10%, não prevista em contrato e a ao contrário, quis assegurar que a
continuada apresentação de faturas Administração não aceitaria preços
sem a competente confirmação da comprovadamente fora daqueles
prestação dos serviços. praticados no mercado".
JUSTIFICATIVA: Segue a mesma li- ANÁLISE: As razões de justificativa
nha das apresentadas pelo Embaixa- podem ser consideradas satisfató-
dor Frederico Cézar de Araújo para rias.
as ocorrências de que tratam as alí- b) OCORRÊNCIA: A não-adjudicação,
neas j e k. na Tomada de Preços nº 08/97, em
ANÁLISE: As justificativas não eli- favor da licitante ME-Antônio Amân-
dem a irregularidade do pagamen- cio da Silva, dos itens em que essa
to da taxa de serviço de 10%, pelos empresa cotou preços inferiores ao

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Jurisprudência Comentada

da licitante Relevo Gráfica Rafaela o disposto no caput do art. 5° da


Ltda. Lei n° 8.666/93; 2) Adjudicação do
JUSTIFICATIVA: Os responsáveis objeto da Concorrência n° 01/98 à
apresentaram razões de justificativa empresa que apresentou a propos-
de mesmo teor, argumentando que ta mais onerosa, em detrimento de
"a licitante ME-Antônio Amâncio proposta mais vantajosa.
da Silva não pôde ser considerada JUSTIFICATIVA: Os responsáveis
como licitante vencedora na Toma- apresentaram razões de justificati-
da de Preços nº 08/97, de tipo me- va de mesmo teor, argumentando o
nor preço e empreitada por preço que se segue.
global, por não haver cotado os 105 "A não-desclassificação, na Con-
(cento e cinco) itens do Anexo I (...), corrência nº 01/98, da proposta
como previa o instrumento convo- financeira da licitante Voetur, que
catório". apresentou cotações em moeda es-
ANÁLISE: "De fato, a licitante não trangeira, contrariando, no caso, a
apresentou cotação para todos os Lei nº 8.666/93, deveu-se ao fato de
itens e o edital previa, como critério a Comissão de Licitação ter sido in-
de julgamento, o menor preço glo- duzida a uma compreensão inexata,
bal. Nesse sentido, a CPL agiu dentro ignorando os preços apresentados
das normas editalícias. em dólares norte-americanos, de
No entanto, esta Egrégia Corte de vez que o total expresso em dólar
Contas já posicionou-se contraria- praticamente correspondia ao total
mente à adjudicação global quando expresso em Real, considerando-se
o objeto for divisível, sem prejuízo os valores de troca da época. A Co-
do conjunto ou do complexo, con- missão, ao desconsiderar o valor em
forme Decisões de nº 393/94-Plená- dólar, não o somou ao valor em Real,
rio e nº 826/97-Plenário". o que teria também desclassificado
Assim, as razões de justificativa a referida empresa pelo valor.
apresentadas podem ser acatadas, Ressalte-se também a postura da
sem prejuízo de que seja procedida outra concorrente, a Interline, que,
a determinação à Unidade nos ter- apesar de ter analisado e rubricado
mos consignados anteriormente. a proposta da Voetur, não se ma-
RESPONSÁVEIS: Rita de Cássia Leitão nifestou sobre o erro constante da
Ungaretti, Sandra Myrian Amorim mesma, o que teria contribuído para
Dantas, Arnaldo Cetrone, Kátia de alertar a Comissão. (...)
Oliveira Motta, Rogério Baruffaldi e Constatado o equívoco por esse
Ricardo Casimiro Batista (membros Egrégio Tribunal no exercício de suas
da Comissão Permanente de Licita- funções, e a fim de verificar possível
ção) impacto da decisão adotada em ter-
a) OCORRÊNCIAS: 1) Não-desclassifi- mos de despesa, o grupo que forma-
cação, na Concorrência n° 01/98, da va a Comissão realizou de imediato
proposta financeira da licitante Vo- um levantamento de todos os gas-
etur, que apresentava cotações em tos referentes às diárias em hotéis
moeda estrangeira, o que contraria realizados por aquela Unidade Ges-

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Jurisprudência Comentada
tora, desde a assinatura do termo e no item 5.1.2 do edital da Concor-
contratual em 1º de julho de 1998 rência nº 01/98.
até 21 de junho do corrente. (...) Com relação à adjudicação do obje-
Como resultado do levantamento, to da Concorrência n° 01/98 à em-
averiguou-se que em 1998 o mon- presa que apresentou a proposta
tante gasto com diárias, na reali- mais onerosa, as razões de justifi-
dade, foi inferior ao que teria sido cativa procuram demonstrar que,
gasto se contratada fosse a Inter- a despeito da escolha ter recaído
line, gerando, portanto, benefício sobre a maior proposta, não houve,
aos cofres públicos, da ordem de R$ até o momento, prejuízo ao erário.
405,49 (quatrocentos e cinco reais e Dessa forma, mesmo que sejam
quarenta e nove centavos) (Anexo, procedentes os levantamentos leva-
pág. 27). Em contrapartida, em 1999 dos a cabo pelos membros da CPL,
apurou-se uma diferença de aproxi- o Tribunal deve ignorá-los, por inde-
madamente R$ 18.470,97 (dezoito vidos.
mil, quatrocentos e setenta reais e Restando comprovado que foi esco-
noventa e sete centavos) (Anexo, lhida a proposta mais onerosa para
pág. 28). No entanto, deve-se com- os cofres públicos, propõe-se que
putar a favor da Comissão de Licita- o Tribunal, com base no parágrafo
ção que os preços dos hotéis mesmo único do art. 43 da Lei nº 8.443/92,
em moeda nacional têm, pela práti- aplique aos responsáveis a multa
ca comercial brasileira, sua base de prevista nos incisos II e III do art. 58
referência fixada em dólar norte- da mesma Lei.
americano, razão pela qual todos b) OCORRÊNCIA: Não-consideração,
os preços tiveram aumento efetivo no Convite nº 158/97, com previsão
decorrente da maxi-desvalorização de abertura em 04/12/97, da pro-
do Real pelo Banco Central, em 13 posta comercial da empresa Unitem
de janeiro último, que alterou a taxa Comercial Ltda. feita em 09/10/97,
de câmbio de forma inesperada e com o mesmo objeto do Convite,
violenta, o que certamente teria porém com os preços inferiores em
ocorrido também com a concorren- R$ 8.184,44 aos preços da proposta
te Interline, principalmente conside- da mesma empresa Unitem Comer-
rando-se a declaração expressa na cial Ltda., declarada vencedora des-
sua proposta de que 'todas as tarifas se processo licitatório.
estão sujeitas a reajuste sem prévio JUSTIFICATIVA: Os responsáveis
aviso'". apresentaram razões de justificativa
ANÁLISE: Com relação à não-des- de mesmo teor, argumentando o se-
classificação da licitante Voetur, cuja guinte: "Com relação ao Convite nº
proposta apresentava cotações em 158/97, para a aquisição de água mi-
moeda estrangeira, as justificativas neral, refrigerantes e sucos de fru-
apresentadas não merecem ser aco- tas a serem servidos na Sala VIP do
lhidas, uma vez que o referido pro- Aeroporto Internacional de Brasília,
cedimento contraria o disposto no a proposta da empresa Unitem Co-
caput do art. 5º da Lei nº 8.666/93 mercial Ltda. encaminhada, via fax,

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Jurisprudência Comentada

em 09 de outubro de 1997, com va- ticados no mercado, fato ignorado


lidade de 30 (trinta) dias, visava uma pela CPL.
estimativa de custos para entrega Assim, as razões de justificativas
imediata. O referido Convite, aber- apresentadas não merecem acolhi-
to em 18 de dezembro do mesmo da, devendo o Tribunal, em conse-
ano, para o qual a validade daque- qüência aplicar aos responsáveis,
la proposta já havia expirado, teve com base no parágrafo único do art.
por objeto o fornecimento mensal 43 da Lei nº 8.443/92, a multa pre-
das citadas bebidas, pelo período de vista nos incisos II e III do art. 58 da
dois anos. Quando da abertura do mesma Lei, "sem prejuízo de se de-
Convite, verificou-se que os preços terminar a abertura de tomada de
cotados por todas as empresas con- contas especial para quantificar o
correntes apresentavam variação débito e identificar os responsáveis
significativa, sendo escolhida a em- pelo aumento da despesa devido à
presa Unitem Comercial Ltda. por contratação da Unitem, no Convite
oferecer, em proposta válida e cor-
nº 158/97, por preços superiores aos
reta, o menor valor, conforme mapa
por ela mesma apresentados em
em anexo (pág. 29)".
09/10/97".
ANÁLISE: A proposta apresentada
Diante do exposto, propôs o Analis-
pela empresa Unitem Comercial
ta que o Tribunal:
Ltda. no Convite nº 158/97, em de-
zembro/97, num valor total de R$ "I) com base no inciso IX do art. 71
22.926,90, é, de fato, a menor den- da Constituição Federal, combina-
tre todas as propostas apresentadas do com o caput do art. 45 da Lei
para esse convite. No entanto, essa nº 8.443/92, fixe prazo para que o
mesma empresa apresentara, em Sr. Embaixador Frederico Cézar de
09/10/97, uma proposta comercial, Araújo, chefe do Cerimonial, adote
com os mesmos itens e quantitati- as providências necessárias ao exato
vos, num valor de R$ 14.742,46, com cumprimento da lei, no que tange
a declaração de "... total submissão ao Contrato nº 03/98, firmado com
aos termos e condições estabeleci- a empresa Voetur Turismo e Repre-
das no edital" (fls. 265/266 do Volu- sentações Ltda, sob os seguintes as-
me II). pectos:
"É de se estranhar o fato de a CPL ter a) licitação aberta com o confesso
desconhecido esse fato por comple- objetivo de tornar possível a contra-
to e adjudicado o objeto com preços tação de hotéis independentemente
56% maiores aos preços apresen- da exigência legal de regularização
tados há poucos dias, mesmo que no SICAF, o que permite a contra-
a previsão seja de entrega mensal tação de hotéis inadimplentes com
pelo período de dois anos, dado não suas obrigações fiscais, contrariando
haver previsão de inflação nesses ainda o art. 102 do Código Civil Bra-
níveis". sileiro;
Além disso, as propostas apresen- b) objeto adjudicado à proposta
tadas e os preços contratados eram que, além de mais onerosa, é ilegal e
manifestamente superiores aos pra- deveria ter sido desclassificada, por

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Jurisprudência Comentada
contrariar o disposto no caput do cidiu responder ao consulente "que
art. 5º da Lei nº 8.666/93; a contratação de serviços de hospe-
c) garantia contratual prestada pela dagem para autoridades estrangei-
cessão de direitos de Títulos da Dívi- ras em visita ao País pode prescindir
da Agrária, considerando o do certame licitatório, com funda-
mento no art. 25, caput, da Lei nº
Voto do Ministro Relator
8.666/93, desde que presentes as
As conclusões do meticuloso tra- circunstâncias que recomendam a
balho empreendido pela equipe de adoção deste procedimento excep-
auditoria da 3ª SECEX mereceram cional, observadas as formalidades
alguns ajustes por parte do Diretor- prescritas no Estatuto de Licitações
Substituto e da representante do e Contratos".
Ministério Público, com os quais, por
Naquela assentada, observou o Re-
seus lídimos fundamentos, manifes-
lator que "em determinadas circuns-
to, desde já, minha concordância.
tâncias a contratação pode assumir
Passo, assim, a examinar as ocorrên- contornos especiais" e que "tais par-
cias que, após tais ajustes, enseja- ticularidades, relacionadas a aspec-
ram a proposição de multa ao Che- tos de segurança, estratégia, convi-
fe do Cerimonial do Ministério das vência, comodidade ou, mesmo, de
Relações Exteriores, bem como aos preferência da autoridade visitante,
membros da Comissão Permanente devem ser respeitadas pelo Minis-
de Licitação - CPL. tério das Relações Exteriores, até
Uma das questões diz respeito à real mesmo por uma questão de corte-
necessidade de se contratar agência sia, em observância ao princípio da
de viagem/turismo para ofereci- reciprocidade, que encontra ampla
mento de acomodações em hotéis, aplicação no campo das relações in-
em qualquer parte do Brasil, para ternacionais".
as atividades oficiais do Cerimonial/ Percebe-se, na situação presente,
MRE, aí incluídas as hospedagens a que a unidade, em que pese a orien-
autoridades estrangeiras. Segundo tação emanada desta Casa, viu-se
os pareceres, a solicitação para que premida entre a exigência de regula-
fosse realizada a correspondente ridade junto ao SICAF, estabelecida
licitação teve por objetivo tão-so- pela IN-MARE nº 05/95, e a necessi-
mente possibilitar a contratação, dade inquestionável de providenciar
por intermédio de interposta pes- as acomodações requeridas pelas
soa, de qualquer hotel, independen- autoridades visitantes.
temente de sua regularização junto Cabe aqui um parêntesis para re-
ao Sistema de Cadastramento Unifi- gistrar que muitos órgãos da Ad-
cado de Fornecedores - SICAF. ministração Pública Federal, em
De início, é importante assinalar obediência à mencionada Instrução
que a contratação de serviços de Normativa, têm exigido que as em-
hospedagem já foi inclusive objeto presas, tanto para participarem de
de consulta do Ministério a este Tri- licitação como para serem contra-
bunal, que, mediante a Decisão nº tadas diretamente, estejam cadas-
447/97 - Plenário (ata nº 29/97), de- tradas junto ao SICAF. O Decreto nº

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Jurisprudência Comentada

3.722/2001, contendo dispositivo dades hoteleiras não atendia a tal


semelhante, só veio reforçar a ne- exigência, o Chefe do Cerimonial
cessidade de tal cadastramento. formulou consulta a várias unida-
No entanto, o Tribunal, em diversas des, entre elas o Departamento
oportunidades, considerou que a Jurídico do próprio Ministério das
exigência de regularização junto ao Relações Exteriores, com a nítida
SICAF para licitar e contratar com a intenção de solucionar o problema
Administração Pública contraria os pelas vias legais.
artigos 3º, §1º, inciso I; 22, §§1º, 2º e Das correspondências trocadas no
3º; 27 e 115 da Lei nº 8.666/93. Re- âmbito do Ministério, depreende-
centemente, mediante a Decisão nº se, entretanto, que a sugestão
80/2001-Plenário (ata nº 07/2001), oferecida pelo órgão jurídico, no
esse entendimento foi ratificado, sentido de se contratar agência de
tendo sido inclusive comunicado ao turismo para efetuar tais serviços,
Excelentíssimo Senhor Presidente não se pautou somente na neces-
da República para fins de adoção sidade de encontrar caminhos que
das providências que julgasse cabí- viabilizassem a disponibilização de
veis quanto ao estabelecido no art. um universo maior de hotéis, mas
1º, §1º, do Decreto nº 3.722/2001, e, também na possibilidade de tais
ainda, recomendado ao Ministro de empresas concederem descontos
Estado do Planejamento, Orçamen- sobre os valores cobrados direta-
to e Gestão que tomasse as medidas mente pelas entidades hoteleiras.
necessárias ao exato cumprimento Com efeito, as propostas apresen-
da lei, tornando insubsistente o dis- tadas pelas licitantes revelaram
posto no subitem 1.3 e, conseqüen- expressivos descontos nos valores
temente, no subitem 1.3.1, da IN- das diárias, fruto de negociação das
MARE nº 05/95. agências junto aos hotéis. É impor-
É importante ressaltar que o não- tante ressaltar que o ganho dessas
cadastramento junto ao SICAF não operadoras de turismo, nos termos
significa necessariamente a inadim- da Resolução Normativa CNTur nº
plência das empresas com obriga- 04/83, dá-se mediante o recebi-
ções relativas a impostos e contri- mento de comissão paga pelas em-
buições. presas hoteleiras.
Deixo, entretanto, de propor deter- Penso, ademais, que o Cerimonial,
minação acerca da matéria, uma vez mediante tal contratação, procu-
que a mesma já foi exarada à Divisão rou obter maior flexibilidade para
de Serviços Gerais do MRE, median- atender de forma mais adequada
te a Decisão nº 861/2000 - Plenário as mais diferentes demandas.
(ata nº 40/00). Cumpre destacar que as agências
Retornando ao caso em exame, de turismo não atuam como inter-
observa-se que, certo da necessida- mediadoras somente dos serviços
de de cadastramento das empresas de hospedagem como também
junto ao referido Sistema e ante o dos serviços de fornecimento de
fato de que a maior parte das enti- passagens aéreas, sendo que com

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Jurisprudência Comentada
relação a estes últimos o Tribunal a proposta mais vantajosa à ad-
já se manifestou favoravelmente à ministração. Segundo o edital, as
participação dessas empresas nos licitantes deveriam informar, para
processos licitatórios (Decisões nºs os hotéis ali listados, os valores das
409/94 e 592/94, ambas do Plená- tarifas-balcão, os descontos conce-
rio), para fins de contratação. didos sobre tais tarifas (em percen-
Com essas ponderações, entendo tuais) e, por fim, os valores das tari-
que podem ser acolhidas as justifi- fas a serem cobradas do Cerimonial
cativas apresentadas pelo respon- (tarifas-balcão x descontos). A em-
sável. presa vencedora seria aquela que
Observo, por outro lado, que o Ce- computasse o menor somatório
rimonial tem assumido tarefas que desses últimos valores.
seriam de competência da empresa É de se notar que as tarifas-balcão
contratada, o que a propósito julgo não foram pré-fixadas, e, sendo
compreensível, ante as peculiarida- assim, as diferenças identificadas
des dos serviços da unidade, que nessas tarifas para um mesmo ho-
envolvem, entre outras, questões tel podem revelar, dentre outros
de segurança e de especificidades fatos, cotações para tipos de aco-
da autoridade visitante. modações diferentes, pois o edital
Todavia, considerando que a uni- não indicou o tipo de acomodação
dade tem avocado para si essas a ser cotada (apartamento duplo/
tarefas e, ainda, que existe a possi- suíte, standard/luxo, etc.).
bilidade de ela também conseguir
Significa ainda dizer que o maior
descontos diretamente junto aos
desconto, para uma mesma entida-
hotéis, tenho por pertinente a de-
de hoteleira, não implicaria neces-
terminação sugerida pelo Diretor,
sariamente o menor valor da tarifa
no sentido de que seja avaliada a
a ser cobrada da unidade, já que a
real necessidade da contratação de
tarifa-balcão poderia ser muito su-
agência de viagens para disponibili-
zação de hospedagens a autorida- perior àquelas apresentadas pelas
des estrangeiras no Brasil. outras licitantes.
Outro aspecto que ensejou audiên- Faço essas observações por enten-
cia dos responsáveis refere-se à ad- der necessário que se encaminhe
judicação da mencionada licitação ao Cerimonial determinação no
à Voetur Representações e Turismo sentido de que, em futuras licita-
Ltda., que, além de apresentar a pro- ções dessa natureza, procure de-
posta mais onerosa, ofertou preços finir com clareza e objetividade os
em moeda estrangeira, caracteri- critérios de seleção da melhor pro-
zando inobservância ao caput do posta oferecida.
art. 5º da Lei nº 8.666/93. Tratando, agora, do procedimento
Antes de enfrentar a questão apon- licitatório desencadeado, em que se
tada, gostaria de, preliminarmente, sagrou vencedora a Voetur, constato
fazer algumas considerações sobre que, de fato, a proposta da referida
o critério adotado para selecionar agência era, dentro dos critérios es-

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Jurisprudência Comentada

tabelecidos e acima mencionados, a cipais documentos do processo lici-


mais onerosa para a administração. tatório, omitia a proposta de preços
Tal irregularidade restou efetiva- em moeda estrangeira apresentada
mente comprovada nos autos, ten- pela Voetur, fato que a meu ver re-
do sido, inclusive, admitida pelos leva a responsabilidade daquele ges-
próprios membros da Comissão Per- tor no ato exarado.
manente de Licitação - CPL. Considero oportuno, ademais, con-
Para melhor compreensão da ma- forme proposto pelo Analista, que
téria, esclareço que na proposta da o Tribunal assine prazo para que o
Voetur havia dois somatórios, um Cerimonial adote as providências
relativo aos preços apresentados em necessárias ao exato cumprimento
reais e outro atinente às cotações da lei, no que se refere ao Contrato
em moeda estrangeira. A CPL, en- nº 03/98 celebrado com a Voetur Tu-
tendendo que o montante relativo rismo.
à moeda estrangeira correspondia Também sobre a mesma contrata-
à conversão da quantia oferecida ção, foi apontada como irregulari-
em real, considerou somente este dade a não-cobrança, no contrato
último. Tal procedimento revela, no emergencial, do desconto de 5%
mínimo, negligência por parte da sobre a tarifa-balcão ou tarifas pro-
Comissão, que não se deu sequer ao mocionais, conforme proposta da
trabalho de checar as somas efetua- empresa.
das pelas próprias licitantes. Cumpre destacar que esse fato levou
Diante desses fatos, considero, na o Analista a propor a instauração de
mesma linha dos pareceres, que não Tomada de Contas Especial. O exa-
merecem acolhida as razões de jus- me dos autos, entretanto, não me le-
tificativa apresentadas pelos mem- vou a tal convicção pelas razões que
bros da Comissão Permanente de passo a expor.
Licitação, cabendo aplicar-lhes, em A proposta apresentada pela empre-
conseqüência, a multa prevista no sa, quando da contratação emergen-
art. 58, inciso III, da Lei nº 8.443/92. cial, estabeleceu que seria repassado
Verifico, de outra parte, que a ad- o desconto naquele percentual so-
judicação ficou adstrita à Comissão bre a tarifa-balcão ou tarifas promo-
Permanente de Licitação, nos ter- cionais. A meu ver, houve um equí-
mos do extrato publicado no DOU voco de interpretação, uma vez que
de 30.03.98 (fl. 284 do Volume 1), o termo utilizado sugere que esse
estando afastada, pois, a respon- desconto estaria embutido nas fatu-
sabilidade da Chefia do Cerimonial ras dos hotéis para a agência (e não
quanto a essa questão. Conforme seria apropriado por ela), a exemplo
documento de fl. 285 do Volume 1, dos descontos repassados pela pró-
apenas a homologação do certame pria empresa, quando vencedora do
ficou a cargo daquela unidade, não certame licitatório. Em nenhum mo-
tendo sido, todavia, exarada pelo mento foi proposta, como faz crer o
seu Titular. Outrossim, a ata de julga- Analista, a concessão de desconto
mento das propostas, um dos prin- sobre o valor faturado pelos hotéis,

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Jurisprudência Comentada
situação que, no meu entender, po- racterizar fracionamento, tendo em
deria inclusive comprometer a mar- vista o disposto no inciso II do art. 24
gem de comissão da empresa e, em da Lei nº 8.666/93.
conseqüência, o equilíbrio financeiro No tocante ao processo licitatório
do contrato. para o fornecimento desses arranjos
Assinalo, por outro lado, que os va- (Tomada de Preços nº 15/97) em to-
lores constantes das notas fiscais das as capitais do território nacional,
expedidas no período demonstram considero que, de fato, merecem ser
a concessão de significativos des- acolhidas as razões expostas pelo
contos em relação às tarifas-balcão, Chefe do Cerimonial, principalmente
se compararmos com as quantias se forem levadas em conta as pecu-
indicadas pela empresa no anexo do liaridades do mercado de flores, que
procedimento licitatório instaurado se encontra interligado em redes
posteriormente. de complementaridade de serviços.
Nada obstante, considerando que a
O que se constata, na verdade, é que
utilização dessas redes implica maior
as notas fiscais foram emitidas pelos
custo na contratação, entendo que
valores efetivamente cobrados, sem
o Cerimonial deve efetuar certames
discriminar detalhadamente a natu-
licitatórios por estado, quando a de-
reza das tarifas e os descontos con-
manda por esses serviços justificar
cedidos, não permitindo, portanto,
tais procedimentos.
o efetivo controle do cumprimento
do contrato, fato que, a meu ver, Relativamente à adoção do crité-
ensejaria determinação saneadora à rio de menor preço global, tanto na
unidade. mencionada Tomada de Preços nº
15/97 quanto na Concorrência nº
Outra questão apontada nos autos 01/97 (contratação de locadora de
trata das sucessivas compras, sem li- automóvel) e na Tomada de Preços
citação, de arranjos florais ocorridas nº 08/97 (contratação de serviços
no primeiro semestre de 1997. Dos gráficos), em que pese compreen-
documentos examinados, constata- der as razões de ordem estratégica
se, todavia, que a licitação instaura- e operacional que levaram o Ceri-
da no início daquele mesmo ano so- monial a adotá-lo, restou patente a
freu, realmente, considerável atraso. restrição ao caráter competitivo dos
Dessa forma, considerando as ca- certames, razão pela qual entendo
racterísticas típicas da atividade de que deva ser encaminhada determi-
cerimonial, totalmente compatíveis nação saneadora à unidade.
com tais aquisições, e considerando, Sobre a aquisição de objetos para
ainda, que havia um procedimento presentes confeccionados em prata
licitatório em curso, entendo que po- e em pedras brasileiras, discordo da
dem ser acatadas as justificativas do manifestação dos pareceres, pois, a
responsável, sem, contudo, deixar meu ver, a mesma encontra ampa-
o Tribunal de encaminhar determi- ro no inciso III do art. 25 da Lei nº
nações à unidade para que planeje 8.666/93, que reza que é inexigível
suas compras de modo a evitar a re- a licitação "para contratação de pro-
alização de despesas que possam ca- fissional de qualquer setor artístico,

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Jurisprudência Comentada

diretamente ou através de empresá- licitações e contratos, no período de


rio exclusivo, desde que consagrado 15.03.99 a 19.03.99.
pela crítica especializada ou pela 2. Relativamente à questão da ces-
opinião pública". são de direitos de Títulos da Dívida
A Lei neste caso não estabelece, Agrária TDA, pelo seu valor de face,
como faz crer a Unidade Técnica, como garantia nas contratações,
que devam ser apresentados docu- subitem 3.2.14 (f. 11/12 do vol. prin-
mentos que comprovem que se tra- cipal) e itens 57/62 (f. 66/67 do vol.
ta de único fornecedor, até porque a principal) é de ver o que dispõe a Lei
existência de mais de um fornecedor nº 8.666/93, com redação dada pela
pressupõe que os produtos adquiri- Lei nº 8.883/94:
dos são manufaturados, passíveis de
"Art. 56. A critério da autoridade
comparação com outros de mesma
competente, em cada caso, e desde
finalidade, circunstância inconcebí-
que prevista no instrumento convo-
vel para objetos de arte.
catório, poderá ser exigida presta-
Conforme observa o Professor Mar- ção de garantia nas contratações de
çal Justen Filho, em seu livro Comen- obras, serviços e compras.
tários à Lei de Licitações e Contratos
§1º. Caberá ao contratado optar por
Administrativos: "A atividade ar-
uma das seguintes modalidades de
tística consiste em uma emanação
garantia:
direta da personalidade e da criati-
vidade humanas. Nessa medida, é I - caução em dinheiro ou títulos da
impossível verificar-se identidade dívida pública;
de atuações". II - seguro-garantia;
Entendo, assim, que podem ser acei- III - fiança bancária."
tas as justificativas oferecidas pelo 3. Por seu turno, o Decreto nº 578,
responsável. de 24.06.92, que deu nova regula-
Diante do acima exposto, peço vê- mentação ao lançamento dos Títulos
nias por discordar em parte dos pa- da Dívida Agrária, assim dispõe:
receres e VOTO que seja adotado o "Art. 4º. Os TDA serão nominativos
Acórdão que ora submeto à aprecia- e terão valor nominal, a preços de
ção deste Plenário.
maio de 1992, de:
Sala das Sessões, em 11 de julho de
.................................
2001.
§1º. O valor nominal dos TDA será
GUILHERME PALMEIRA
atualizado, no primeiro dia de cada
Ministro-Relator mês, por índice calculado com base
Parecer do Ministério Público na Taxa Referencial - TR referente ao
Proc. TC-003.499/1999-5 mês anterior.
Relatório de Auditoria §2º Compete ao MEFP a declaração
Parecer mensal do valor nominal do TDA.
Trata-se de auditoria realizada pela .................................
3ª SECEX no Cerimonial do Ministé- Art. 11. Os TDA poderão ser utiliza-
rio das Relações Exteriores, área de dos em:

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Jurisprudência Comentada
I - pagamento de até cinqüenta por Considerando que, em virtude de
cento do Imposto sobre a Proprieda- ocorrências apontadas pela Unidade
de Territorial Rural; Técnica, foi promovida a audiência
II - pagamento de preços de terras dos responsáveis, os quais tempesti-
públicas; vamente apresentaram suas razões
III - prestação de garantia; de justificativa;
IV - depósito, para assegurar a exe- Considerando que restou comprova-
cução em ações judiciais ou adminis- da a adjudicação do objeto da Con-
trativas; corrência nº 01/98 à empresa que
apresentou a proposta mais onerosa
V - caução, para garantia de:
e com cotações em moeda estran-
a) quaisquer contratos de obras ou geira, o que contraria o disposto no
serviços celebrados com a União;" caput do art. 5º da Lei nº 8.666/93;
(Grifamos).
Considerando que a responsabilida-
4. Vê-se, portanto, que não há qual- de de tal adjudicação está adstrita à
quer restrição quanto à aceitabilida- Comissão Permanente de Licitação;
de dos títulos da dívida agrária, pelo
Considerando que as razões de jus-
seu valor nominal, mesmo porque
tificativa apresentadas pelos res-
esse valor é atualizado mensalmente
ponsáveis, em relação às demais
por índice oficial. Entretanto, deverá
ocorrências apontadas, podem ser
haver a transferência dos títulos para
Administração. acolhidas, uma vez que lograram ex-
plicá-las satisfatoriamente, devendo,
5. Assim, em atenção à audiência entretanto, ser encaminhadas deter-
solicitada pelo eminente Ministro- minações saneadoras à unidade;
-Relator, GUILHERME PALMEIRA,
manifestamo-nos de acordo com as ACORDAM os Ministros do Tribunal
proposições apresentadas pelo ana- de Contas da União, reunidos em
lista José Manoel Caixeta (f. 83/86), Sessão Plenária, com fundamento no
com as alterações sugeridas pelo art. 1º, inciso IX, da Lei nº 8.443/92,
diretor em substituição, às folhas em:
90/91, excluindo-se, contudo, pelas a) aplicar, individualmente, aos Srs.
razões expostas, as restrições conti- Arnaldo Cetrone, Kátia de Oliveira
das no inciso II, c (f. 84) e no item 1, Motta, Rogério Baruffaldi, Ricardo
l (f. 90). Casimiro Batista, Rita de Cássia Lei-
Brasília, 29 de novembro de 2000. tão Ungaretti e Sandra Myrian Amo-
rim Dantas (membros da Comissão
MARIA ALZIRA FERREIRA
Permanente de Licitação), a multa
Procuradora prevista no art. 58, inciso III, da Lei
Acórdão nº 8.443/92 c/c o art. 194, §2º, do RI/
VISTOS, relatados e discutidos estes TCU, no valor de R$ 2.000,00 (dois
autos de Relatório de Auditoria efe- mil reais), fixando-lhes o prazo de 15
tuada, em 1999, no Cerimonial do (quinze) dias, a partir da notificação,
Ministério das Relações Exteriores, para que comprovem, perante este
abrangendo as áreas de licitações e Tribunal (art. 165, alínea "a", do Re-
contratos. gimento Interno), o recolhimento da

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Jurisprudência Comentada

quantia aos cofres do Tesouro Na- assumir tarefas que, a princípio, se-
cional, atualizada monetariamente riam da empresa contratada;
a partir do dia seguinte ao término e.2) caso venha a considerar neces-
do prazo estabelecido, até a data do sária a contratação mencionada na
efetivo recolhimento; alínea anterior:
b) autorizar, desde logo, nos ter- e.2.1) estabeleça, nos próximos
mos do art. 28, inciso II, da Lei nº procedimentos licitatórios, critérios
8.443/92, a cobrança judicial da dívi- que permitam, de forma clara e ob-
da, caso não atendida a notificação; jetiva, selecionar a melhor proposta
c) acolher as justificativas dos de- para a administração;
mais responsáveis indicados no item e.2.2) defina, com clareza, no edital
3 supra; da licitação e no contrato corres-
d) assinar o prazo de 15 (quinze) pondente, as taxas que eventual-
dias, com base no inciso IX do art. mente serão cobradas pelos hotéis
71 da Constituição Federal c/c o e que serão repassadas à unidade;
caput do art. 45 da Lei nº 8.443/92, e.2.3) exija que as faturas dos servi-
para que o Cerimonial do Ministé- ços prestados sejam discriminadas
rio das Relações Exteriores adote detalhadamente, fazendo constar
as providências necessárias ao exa- a natureza das tarifas e os percen-
to cumprimento da lei, consistente tuais de descontos repassados, per-
na extinção do Contrato nº 03/98, mitindo, assim, um maior controle,
firmado com a empresa Voetur Tu- na execução do contrato, dos pre-
rismo e Representações Ltda., caso ços efetivamente cobrados;
o mesmo ainda esteja em vigor, e.2.4) estabeleça com clareza as
uma vez constatada irregularidade atribuições que cabem à empresa
na adjudicação do certame vincu- contratada, assumindo somente as
lado à essa contratação, que pro- tarefas que considerar imprescindí-
clamou vencedora a proposta que, veis à administração;
além de mais onerosa, contrariou o
e.3) quando da contratação de lo-
disposto no caput do art. 5º da Lei
cadoras de automóveis e de flo-
nº 8.666/93, por ofertar preços em
riculturas, realize os respectivos
moeda estrangeira;
procedimentos licitatórios separa-
e) determinar ao Cerimonial do damente para cada estado, caso as
Ministério das Relações Exteriores circunstâncias indiquem a neces-
que: sidade do certame nos termos do
e.1) avalie a real necessidade da art. 23 da Lei nº 8.666/93, devendo
contratação de agência de viagens ainda o objeto ser dividido por gru-
para disponibilização de hospeda- pos que guardem similaridade, para
gens a autoridades estrangeiras no que a adjudicação seja procedida
Brasil, levando em consideração por itens, com vistas a propiciar a
tanto o aspecto da economicidade ampla participação dos licitantes e
dessa contratação quanto as cir- a contratação mais vantajosa para a
cunstâncias que levam a unidade a unidade;

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Jurisprudência Comentada
e.4) nos futuros procedimentos li-
citatórios destinados à contratação
Comentários da
de empresas que prestem serviços Consultoria:
gráficos, divida o objeto por grupos
que guardem similaridade, para Dentre outros aspectos anali-
que a adjudicação seja procedida sados no acórdão em apreço,
por itens, com vistas a permitir a relativamente a contratações
participação de um maior número firmadas pelo Ministério das Re-
de licitantes e a contratação mais lações Exteriores, nesta oportu-
vantajosa para administração; nidade, esta Consultoria Jurídica
e.5) planeje suas compras de modo elege como temática a ser co-
a evitar a realização de despesas mentada, a possibilidade de se
contratar serviços hoteleiros/de
que possam caracterizar fraciona-
hospedagem por intermédio de
mento, tendo em vista o dispos-
agência de turismo. Sobre este
to no inciso II do art. 24 da Lei nº
aspecto, ganham destaque as
8.666/93;
seguintes passagens do julgado
e.6) inclua, nos contratos celebra- ora examinado:
dos pelo Cerimonial, cláusula indi- Voto: (...) Das correspondên-
cando os preços dos itens a serem cias trocadas no âmbito do
fornecidos ou, ainda, vinculando Ministério, depreende-se, en-
esses preços à proposta declarada tretanto, que a sugestão ofe-
vencedora no processo licitatório; recida pelo órgão jurídico, no
e.7) somente efetue o pagamento sentido de se contratar agên-
às empresas locadoras de veículos cia de turismo para efetuar
contratadas após rigorosa confe- tais serviços, não se pautou
rência procedida por representan- somente na necessidade de
tes do próprio Cerimonial; encontrar caminhos que viabi-
lizassem a disponibilização de
f) juntar, para exame em conjunto e
um universo maior de hotéis,
em confronto, o presente processo
mas também na possibilidade
às contas de 1999 e, por cópia, às
de tais empresas concederem
contas de 1997 e 1998.
descontos sobre os valores co-
Quorum brados diretamente pelas en-
Ministros presentes: Valmir Campe- tidades hoteleiras.
lo (na Presidência), Marcos Vinicios Com efeito, as propostas apre-
Rodrigues Vilaça, Iram Saraiva, Wal- sentadas pelas licitantes reve-
ton Alencar Rodrigues, Guilherme laram expressivos descontos
Palmeira (Relator), Ubiratan Aguiar e nos valores das diárias, fruto
o Ministro-Substituto Lincoln Maga- de negociação das agências
lhães da Rocha. junto aos hotéis. É importante
Sessão ressaltar que o ganho dessas
T.C.U., Sala de Sessões, em 11 de ju- operadoras de turismo, nos
termos da Resolução Norma-
lho de 2001

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Jurisprudência Comentada

tiva CNTur nº 04/83, dá-se si essas tarefas e, ainda, que


mediante o recebimento de existe a possibilidade de ela
comissão paga pelas empresas também conseguir descontos
hoteleiras. diretamente junto aos hotéis,
tenho por pertinente a de-
Penso, ademais, que o Ceri-
terminação sugerida pelo Di-
monial, mediante tal contra-
retor, no sentido de que seja
tação, procurou obter maior
avaliada a real necessidade
flexibilidade para atender de
da contratação de agência de
forma mais adequada as mais
viagens para disponibilização
diferentes demandas.
de hospedagens a autoridades
Cumpre destacar que as agên- estrangeiras no Brasil.
cias de turismo não atuam
Rememorados estes trechos do
como intermediadoras so-
Voto do Ministro Relator, pro-
mente dos serviços de hos- nunciando-nos sobre o assunto
pedagem como também dos em voga, cumpre-nos pontuar,
serviços de fornecimento de inicialmente, nosso desconhe-
passagens aéreas, sendo que cimento quanto à existência de
com relação a estes últimos o qualquer norma de caráter geral
Tribunal já se manifestou fa- que obste a contratação de ser-
voravelmente à participação viços de hospedagem, por inter-
dessas empresas nos proces- médio de agência de turismo.
sos licitatórios (Decisões nºs
Neste contexto, aliás, no sen-
409/94 e 592/94, ambas do
tido de corroborar a viabilida-
Plenário), para fins de contra-
de de se contratar agência de
tação.
turismo para tal finalidade, de
Com essas ponderações, en- modo convergente ao entendi-
tendo que podem ser acolhi- mento externado pelo Tribunal
das as justificativas apresenta- de Contas da União (TCU), é
das pelo responsável. oportuno trazer-se à colação o
que dispõe o inc. III, do art. 15,
Observo, por outro lado, que
da Lei 8.666/93 (aplicado numa
o Cerimonial tem assumido
interpretação extensiva tam-
tarefas que seriam de com-
bém aos contratos que envol-
petência da empresa contra-
vam a prestação de serviços),
tada, o que a propósito julgo
in verbis: “Art. 15 - As compras,
compreensível, ante as pe-
sempre que possível, deverão:
culiaridades dos serviços da
(...) III - submeter-se às condi-
unidade, que envolvem, entre
ções de aquisição e pagamento
outras, questões de segurança
semelhantes às do setor priva-
e de especificidades da autori-
do”. Deste modo, se a contra-
dade visitante.
tação em liame, revelar-se real-
Todavia, considerando que mente uma prática comum no
a unidade tem avocado para mercado correspondente (no

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Jurisprudência Comentada
caso, o ramo hoteleiro), com econômica de intermediação
fundamento no comando nor- remunerada entre fornece-
mativo em destaque, em nosso dores e consumidores de ser-
entender, não parece haverá viços turísticos ou os fornece
quaisquer óbices de ordem le- diretamente. (...)
gislativa tendente a inviabilizar a
§3º As atividades de interme-
consumação de tratativa nestes
diação de agências de turis-
termos.
mo compreendem a oferta, a
Assim, no caso concreto, cum- reserva e a venda a consumi-
prirá, em verdade, a cada Ór- dores de um ou mais dos se-
gão/Entidade que pretenda con- guintes serviços turísticos for-
tratar serviços desta natureza necidos por terceiros: (...)
avaliar, à luz de seus recursos
humanos e operacionais exis- II - acomodações e outros ser-
tentes, se lhe parece mais con- viços em meios de hospeda-
veniente contratar os serviços gem (sem grifos no original).
de hospedagem diretamente Bem como, ao disposto no De-
junto ao estabelecimento hote- creto 89.934/80, que dispõe
leiro ou, então, via agência de sobre as atividades e serviços
turismo. Neste diapasão, aliás, das Agências de Turismo, regula-
é oportuno exemplificar que ca- menta o seu registro e funciona-
sos haverá em que será mais dis- mento e dá outras providências,
pendioso para a Administração a saber:
disponibilizar servidor(es) para
Art. 1º - Compreende-se por
proceder pesquisas de mercado
Agência de Turismo a socie-
e negociar junto aos fornecedo-
dade que tenha por objetivo
res, ao invés de contratar uma
social, exclusivamente, as ati-
agência de viagem para tanto.
vidades de turismo definidas
Sendo que se assim o for, em
neste Decreto.
nossa análise, restará justifica-
da a contratação de serviços de Art. 2º - Constitui atividade
hospedagem por intermédio de privativa das Agências de Tu-
agência de turismo, in casu. rismo a prestação de serviços
Por fim, a título de complemen- consistentes em: (...)
to à presente análise, pela per- II - Intermediação remunerada
tinência temática da matéria, na reserva de acomodações;
entendemos pertinente fazer (...)
referência ao dispõe o inc. II, do
§3º, do art. 27, da Lei 11.771/08, V - representação de empresas
que dispõe sobre a Política Na- transportadoras, empresas de
cional de Turismo: hospedagem outras prestado-
ras de serviços turísticos; (..)
Art. 27 - Compreende-se por
agência de turismo a pessoa §1º - Observado o disposto no
jurídica que exerce a atividade presente Decreto as Agências de

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Jurisprudência Comentada

Turismo poderão prestar todos tro e funcionamento, as Agências


ou alguns dos serviços referidos de Turismo classificam - se em
neste artigo. duas categorias:
§2º - O disposto no inciso V des- I - Agência de Viagens e Turismo;
te artigo não se aplica ao repre- II - Agência de Viagens.
sentante exclusivo de empresa §1º - É privativa das Agências de
transportadora e de empresa Viagens e Turismo a prestação
hoteleira. (...) dos serviços referidos no inciso
Art. 4º - Conforme os serviços IV, do artigo 2º, quando relativos
que estejam habilitadas a pres- a excursões do Brasil para o ex-
tar, e os requisitos para seu regis- terior...

COMO CITAR
ESTA FONTE: DICA DA CONSULTORIA
CONSULTORIA
NEGÓCIOS Na contratação direta de profissional de qualquer setor artístico,
PÚBLICOS. para fins de comprovação de sua consagração, com base no que
Jurisprudência
Comentada.
dispõe o art. 25, inc. III, da Lei 8.666/93, poderá ser juntado aos
LICICON – Revista autos da inexigibilidade de licitação, matérias jornalísticas, mate-
de Licitações e rial publicitário, fotos, vídeos etc. Veja-se que o profissionalismo
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: do artista a ser contratado se dará mediante a apresentação de
Curitiba, PR, ano documento que comprove o seu registro na Delegacia Regional do
VII, n.84, p.75-110,
dezembro 2014.
Trabalho (DRT). .

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Jurisprudência
Selecionada

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Jurisprudência Selecionada

Licitação. Parecer Jurídico. Utilização de minuta-padrão. Exceção.


Quando houver identidade do objeto e não restarem dúvidas acerca
da possibilidade de adequação das cláusulas exigidas no contrato e às
previamente estabelecidas.

Acórdão 2.674/14 - Plenário


Sumário: 2. O Acórdão 1.944/2014-TCU-Ple-
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. nário foi prolatado, em suma, nos
AGU. REPRESENTAÇÃO. ALEGA- seguintes termos:
ÇÃO DE OBSCURIDADE. DÚVIDA "9.4. determinar à Comissão Mu-
QUANTO À INTERPRETAÇÃO DE nicipal de Licitação de Manaus e à
ENTENDIMENTO CONTIDO NO Secretaria Municipal de Educação
ACÓRDÃO. CONHECIMENTO. NE- de Manaus que:
GATIVA DE PROVIMENTO. CIÊNCIA (...) 9.4.4. observem as disposições
constantes dos arts. 30, 31, inciso III,
Relatório:
56, §1º, inciso I, 38 e 41, §1º, da Lei
Trata-se de embargos de decla- nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
ração opostos pela Advocacia- e a jurisprudência deste Tribunal no
Geral da União (AGU) em face do que se refere às exigências de qua-
Acórdão 1.944/2014-TCU-Plenário, lificação técnica, à apresentação de
sob a alegação de obscuridade garantia pelos licitantes, à adoção
quanto à parte dispositiva da deci- de pareceres jurídicos, ao prazo de
são e de dúvida razoável quanto à resposta às impugnações aos edi-
interpretação a ser dada ao item tais de licitação e às exigências de
9.4.4 da referida decisão. visitas técnicas;"

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Jurisprudência Selecionada
3. Enfim, o embargante apresentou, 27. Este Tribunal já se posicionou
à Peça nº 118, os seguintes argu- acerca da necessidade de os pare-
mentos: ceres jurídicos exigidos pelo art. 38
"O item 9.4.4 do Acórdão da Lei nº 8.666, de 21 de junho de
27/2014-Plenário determina que 1993, integrarem a motivação dos
seja observada a jurisprudência do atos administrativos, com abran-
Tribunal de Contas da União rela- gência suficiente, evidenciando a
tivamente à adoção de pareceres avaliação integral dos documentos
jurídicos, tendo em vista os itens submetidos a exame (v. g.: Acórdão
25 a 28 da fundamentação do voto 748/2011-Plenário)."
do Exmo. Sr. Ministro Relator, que Por sua vez, o Acórdão 748/2011-Ple-
repudia a adoção de pareceres ju- nário, tornado como exemplo da
rídicos pró-forma, nos seguintes jurisprudência a que se reportou
termos: o Exmo. Ministro Relator, trata do
"25. Por outro lado, a partir da aspecto deficiente de pareceres
análise mais aprofundada dos do- jurídicos que não incluem o exame
cumentos vinculados aos referidos adequado de editais de licitação e
certames, e ensejando a proposta seus anexos, na forma abaixo:
de anulação dos procedimentos li- "23. Outra irregularidade verificada
citatórios, foram constatadas as se- diz respeito à deficiência dos pare-
guintes irregularidades: ceres jurídicos que aprovam os edi-
a) adoção de pareceres jurídicos tais de licitação, que se constituíram
pró-forma; e em documentos pro forma, com
b) projeto de implantação das cre- conteúdo genérico, os quais não
ches diferentes do aprovado pelo examinavam de forma adequada os
FNDE. editais de licitação e seus anexos,
26. De fato, a utilização de parece- não perquiriam acerca da legali-
res jurídicos sintéticos, de apenas dade das cláusulas constantes dos
uma página, com conteúdo gené- instrumentos convocatórios, entre
rico, sem demonstração da efetiva as quais as minutas dos contratos,
análise do edital e dos anexos, em limitando-se a examinar a estrutu-
especial quanto a legalidade das ra formal dos editais de licitação,
cláusulas editalícias, permitiu, no tendo como objetivo único aferir se
caso concreto, a presença de itens continham os elementos de preâm-
posteriormente impugnados, inclu- bulo, texto e fecho, abstendo-se de
sive por meio da presente represen- se manifestar, por exemplo, quanto
tação, e que foram alterados nos às exigências restritivas da competi-
certames subsequentes. tividade elencadas no item 22."

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Jurisprudência Selecionada

Ambas fundamentações voltam-se ATENDIMENTO DAS EXIGÊNCIAS LE-


para a ineficiência de pareceres jurí- GAIS A PARTIR DA SIMPLES CONFE-
dicos que não cumprem o seu obje- RÊNCIAS DE DOCUMENTOS."
tivo primordial, que é o exame dos A ideia por trás da Orientação Norma-
documentos editalícios pertinentes às tiva nº 55 é de que, a partir do exame
licitações públicas. Disso, a Advocacia- minucioso da legalidade de um edital,
Geral da União (AGU) não têm dúvi- e de seus anexos, seja elaborado um
das.
parecer detalhado que posteriormen-
Entretanto, a depender do entendi- te servirá de fundamento para os sub-
mento dessa Egrégia Corte de Contas, sequentes processos de licitação que
o enunciado da Orientação Normati- utilizarem os mesmos modelos de ins-
va nº 55 da AGU, poderia ou não ser trumentos convocatórios.
entendido como contraditório com a
A orientação introduz o parecer refe-
jurisprudência citada.
rencial corno uma ferramenta eficien-
A Orientação Normativa nº 55 da AGU
te para o controle da legalidade que
possui o seguinte teor:
se impõem aos procedimentos licita-
"OS PROCESSOS QUE SEJAM OB- tórios e para a maximização racional
JETO DE MANIFESTAÇÃO JURÍDICA dos serviços jurídicos públicos.
REFERENCIAL, ISTO É, AQUELA QUE
Da forma exposta no enunciado da
ANALISA TODAS AS QUESTÕES JU-
Orientação Normativa nº 55, o pare-
RÍDICAS QUE ENVOLVAM MATÉRIAS
cer referencial deve analisar todas as
IDÊNTICAS E RECORRENTES, ESTÃO
questões jurídicas que envolvam ma-
DISPENSADOS DE ANÁLISE INDIVIDU-
térias idênticas e recorrentes, dispen-
ALIZADA PELOS ÓRGÃOS CONSULTI-
sando a análise individualizada, pelos
VOS, DESDE QUE A ÁREA TÉCNICA
ATESTE, DE FORMA EXPRESSA, QUE órgãos consultivos da AGU. Todavia,
O CASO CONCRETO SE AMOLDA AOS sua aplicação dar-se-á somente nos
TERMOS DA CITADA MANIFESTAÇÃO. casos em que a área técnica respon-
II - PARA A ELABORAÇÃO DE MANI- sável emita o EXPRESSO atestado de
FESTAÇÃO JURÍDICA REFERENCIAL que o caso concreto encontra-se den-
DEVEM SER OBSERVADOS OS SE- tro dos moldes da manifestação refe-
GUINTES REQUISITOS: A) O VOLUME rencial. A adoção desse procedimento
DE PROCESSOS EM MATÉRIAS IDÊNTI- se justifica quando o volume de pro-
CAS E RECORRENTES IMPACTAR, JUS- cessos em matérias idênticas e recor-
TIFICADAMENTE, A ATUAÇÃO DO ÓR- rentes impactar, justificadamente, a
GÃO CONSULTIVO OU A CELERIDADE atuação do órgão consultivo ou a ce-
DOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS; E leridade dos serviços administrativos
B) A ATIVIDADE JURÍDICA EXERCIDA e, ainda, a atividade jurídica exercida
SE RESTRINGIR Á VERIFICAÇÃO DO se restringir à verificação do atendi-

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Jurisprudência Selecionada
mento das exigências legais a partir da (...) 9.4.4. observem as disposições
simples conferência de documentos. constantes dos arts. 30, 31, inciso III,
Assim, entende a AGU que a Orienta- 56, §1º, inciso I, 38 e 41, §1º, da Lei nº
ção Normativa nº 55 preenche todos 8.666, de 21 de junho de 1993, e a ju-
os requisitos que a legislação licitatória risprudência deste Tribunal no que se
exige, tanto em seus aspectos formais refere às exigências de qualificação
quando em seus aspectos materiais. técnica, à apresentação de garantia
Porém, há dúvida se, aos olhos dessa pelos licitantes, à adoção de pareceres
Egrégia Corte de Contas, a sua juris- jurídicos, ao prazo de resposta às im-
prudência encontra-se em harmonia pugnações aos editais de licitação e às
com o entendimento orientado aos exigências de visitas técnicas;".
órgãos consultivos da União. 3. Preliminarmente, entendo que os
Ante o exposto, é salutar o acolhimen- presentes embargos de declaração
to dos presentes embargos para que devem ser conhecidos pelo TCU, vez
essa Egrégia Corte esclareça se o en- que, a despeito de o aludido item
tendimento firmado no presente caso 9.4.4 não lhe ter transmitido nenhum
se choca com o enunciado da Orienta- comando direto, sobressai o interesse
ção Normativa nº 55 da AGU, uma vez recursal e a legitimidade da AGU para
que, no âmbito interno desta institui- buscar o esclarecimento da questão
ção, houve questionamento quanto em nome da União.
ao possível conflito de teses." 4. No mérito, vê-se que tal dispositivo
É o Relatório envolve a necessidade de observância
do entendimento jurisprudencial do
VOTO
TCU acerca da emissão de pareceres
Trata-se de embargos de declara- jurídicos para aprovação de editais
ção opostos pela Advocacia-Geral licitatórios, aspecto que teria gerado
da União (AGU) em face do Acórdão dúvidas no âmbito da advocacia públi-
1.944/2014-TCU-Plenário, sob a ale- ca federal.
gação de obscuridade quanto à par-
5. Com efeito, tendo em vista a atri-
te dispositiva da decisão e de dúvida
buição legal dada à ora embargante
razoável quanto à interpretação a ser
para coordenar e orientar a atuação
dada ao item 9.4.4 da referida decisão.
dos órgãos jurídicos vinculados à AGU,
2. Em suma, o referido item 9.4.4 do segundo a Lei Complementar nº 73,
acórdão foi prolatado pelo TCU, nos de 10 de fevereiro de 1993, e a vincu-
seguintes termos: lação existente entre a matéria ques-
"9.4. determinar à Comissão Munici- tionada e as disposições do normativo
pal de Licitação de Manaus e à Secre- citado, ela pode ser recebida como
taria Municipal de Educação de Ma- interessada no presente feito, nos ter-
naus que: mos do art. 282 do RITCU.

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Jurisprudência Selecionada

6. Assim, a Advogacia-Geral da União o caso concreto se amolda aos termos


indaga sobre a correta interpretação da citada manifestação.
a ser dada ao dispositivo, tendo em II - Para a elaboração de manifes-
vista a edição da Orientação Normati- tação jurídica referencial devem ser
va AGU nº 55, de 23 de maio de 2014, observados os seguintes requisitos:
que regula o que foi chamado de "ma- a) o volume de processos em maté-
nifestação jurídica referencial". rias idênticas e recorrentes impactar,
7. Bem se sabe que a orientação do justificadamente, a atuação do órgão
TCU a respeito da emissão dos pare- consultivo ou a celeridade dos servi-
ceres jurídicos emitidos quanto à ade- ços administrativos; e b) a atividade
quabilidade das minutas dos editais jurídica exercida se restringir à verifi-
licitatórios previstos no art. 38, pará- cação do atendimento das exigências
grafo único, da Lei nº 8.666, de 21 de legais a partir da simples conferência
junho de 1993, tem sido no sentido da de documentos."
impossibilidade de os referidos pare- 10. Anote-se que, atendo-se ao caso
ceres serem incompletos, com con- concreto apreciado pelo TCU nestes
teúdos genéricos, sem evidenciação autos, não sobressai qualquer conflito
da análise integral dos aspectos legais entre o conteúdo desse normativo da
pertinentes. AGU e o do dispositivo ora embarga-
8. A dúvida levantada pela AGU, pres- do, cabendo, para tanto, destacar os
supondo uma suposta obscuridade apontamentos registrados na Propos-
no acórdão embargado, diz respeito ta de Deliberação que fundamentou
à adequabilidade e à legalidade do a aludida decisão, em que se aduziu o
conteúdo veiculado na Orientação seguinte:
Normativa AGU nº 55, de 2014, que "26. De fato, a utilização de pareceres
autoriza a emissão de "manifestação jurídicos sintéticos, de apenas uma pá-
jurídica referencial", a qual, diante do gina, com conteúdo genérico, sem de-
comando do item 9.4.4, poderia não monstração da efetiva análise do edi-
ser admitida. tal e dos anexos, em especial quanto
9. Ocorre que, em síntese, a referida à legalidade das cláusulas editalícias,
ON AGU nº 55/2014 aduz que: permitiu, no caso concreto, a presen-
"I - Os processos que sejam objeto de ça de itens posteriormente impugna-
manifestação jurídica referencial, isto dos, inclusive por meio da presente
é, aquela que analisa todas as ques- representação, e que foram alterados
tões jurídicas que envolvam matérias nos certames subsequentes.
idênticas e recorrentes, estão dispen- 27. Este Tribunal já se posicionou acer-
sados de análise individualizada pelos ca da necessidade de os pareceres ju-
órgãos consultivos, desde que a área rídicos exigidos pelo art. 38 da Lei nº
técnica ateste, de forma expressa, que 8.666, de 21 de junho de 1993, inte-

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grarem a motivação dos atos adminis- ACORDAM os Ministros do Tribunal de
trativos, com abrangência suficiente, Contas da União, reunidos em Sessão
evidenciando a avaliação integral dos do Plenário, diante das razões expos-
documentos submetidos a exame (v. tas pelo Relator, com fulcro nos arts.
g.: Acórdão 748/2011-Plenário)." 32, inciso II, e 34 da Lei nº 8.443, de 16
11. Desse modo, a despeito de não de julho de 1992, c/c os arts. 277, inci-
pairar obscuridade sobre o acórdão so III, 282 e 287, §1º do RITCU, em:
ora embargado, pode-se esclarecer 9.1. conhecer dos presentes embar-
à AGU que o entendimento do TCU gos de declaração, para, no mérito,
referenciado nos Acórdãos 748/2011 negar-lhes provimento;
e 1.944/2014, ambos prolatados por 9.2. informar à Advocacia-Geral da
este Plenário, não impede a utilização, União que o entendimento do TCU
pelos órgãos e entidades da adminis- quanto à emissão de pareceres jurí-
tração pública federal, de um mesmo dicos sobre as minutas de editais lici-
parecer jurídico em procedimentos tatórios e de outros documentos, nos
licitatórios diversos, desde que en- termos do art. 38, parágrafo único, da
volvam matéria comprovadamente Lei nº 8.666, de 1993, referenciado
idêntica e sejam completos, amplos e nos Acórdãos 748/2011 e 1.944/2014,
abranjam todas as questões jurídicas
ambos prolatados pelo Plenário, não
pertinentes.
impede a utilização, pelos órgãos e
12. Por tudo isso, entendo que os entidades da administração pública
presentes embargos merecem ser federal, de um mesmo parecer jurí-
conhecidos pelo TCU, para, no mérito, dico em procedimentos licitatórios
ser-lhes negado provimento, sem pre- diversos, desde que envolva matéria
juízo de enviar à AGU a informação na comprovadamente idêntica e que
forma ora proposta. seja completo, amplo e abranja to-
Pelo exposto, voto que seja aprovado das as questões jurídicas pertinentes,
o Acórdão que ora submeto à aprecia- cumprindo as exigências indicadas na
ção deste Colegiado. Orientação Normativa AGU nº 55, de
Acórdão: 2014, esclarecendo-a, ainda, de que a
VISTOS, relatados e discutidos es- presente informação é prestada dian-
tes autos de embargos de declara- te da estrita análise do caso concreto
ção opostos pela Advocacia-Geral apreciado nestes autos, não se consti-
da União (AGU) em face do Acórdão tuindo na efetiva apreciação da regu-
1.944/2014-TCU-Plenário, sob a ale- laridade da aludida orientação norma-
gação de obscuridade quanto à par- tiva, em si mesma; e
te dispositiva da decisão e de dúvida 9.3. encaminhar cópia deste Acórdão,
razoável quanto à interpretação a ser bem como do Relatório e do Voto que
dada ao item 9.4.4 da referida decisão. o fundamenta, ao embargante.

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Pregão. Contratação de Serviços Terceirizados. Impossibilidade


de Somatório dos Atestados de Capacidade Técnica.

Acórdão 2.387/14 – Plenário


Sumário:
PREGÃO ELETRÔNICO. CONTRA- 2. O objeto da licitação é a con-
TAÇÃO DE SERVIÇOS DE VIGILÂN- tratação de empresa especializa-
CIA PATRIMONIAL. EXIGÊNCIA da na prestação, de forma con-
TÉCNICO-OPERACIONAL. VEDA- tínua, dos serviços de vigilância
ÇÃO DA SOMA DE QUANTITATI- patrimonial armada e desarmada,
VOS DE ATESTATOS DISTINTOS. diurna e noturna, a serem execu-
REPRESENTAÇÃO. CONHECI- tados na sede daquele Ministé-
MENTO. SITUAÇÃO EM QUE O rio, bem como em outros imóveis
AUMENTO DE QUANTITATIVOS que venham a ser ocupados pelo
EXIGE MAIOR CAPACIDADE OPE- referido órgão em Brasília/DF
RATIVA E GERENCIAL DA LICITAN- (peça 3, p. 5).
TE. POSSIBILIDADE DA SOMA DE 3. O valor estimado de contrata-
ATESTADOS QUE APRESENTEM ção é de R$ 3.647.419,24 por ano
SERVIÇOS EXECUTADOS CONCO- (peça 3, p. 5).
MITANTEMENTE. PROCEDÊNCIA. EXAME DE ADMISSIBILIDADE
PARCIAL
4. Preliminarmente, registra-se
Relatório: que a presente representação
Adoto como relatório a instrução preenche os requisitos de admis-
da unidade técnica: sibilidade constantes no art. 235
Tratam os autos de represen- do Regimento Interno do TCU
tação, com pedido de cautelar (RI/TCU), haja vista a matéria
inaudita altera pars, formulada ser de competência do Tribunal,
pela empresa GSI Gestão de Se- referir-se a responsável sujeito a
gurança Integrada - Vigilância e sua jurisdição, estar redigida em
Segurança Ltda., a respeito de linguagem clara e objetiva, con-
possível irregularidade ocorrida ter nome legível, qualificação e
na fase de habilitação do Pregão endereço do representante, bem
Eletrônico 20/2014, sob respon- como encontrar-se acompanhada
sabilidade do Ministério das Co- dos indícios concernentes à irre-
municações (MC). gularidade ou ilegalidade.

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5. Além disso, a empresa GSI Ges- serviços compatíveis com o obje-
tão de Segurança Integrada - Vi- to do Termo de Referência;
gilância e Segurança Ltda. possui 10.6.6 O atestado que se refere
legitimidade para representar ao o item 10.6.1 deve referir-se a
TCU, em virtude do previsto no in- contratos que envolveram a con-
ciso VII do art. 237 do RI/TCU c/c tratação de no mínimo 20 (vinte)
o art. 113, §1º, da Lei 8.666/1993. postos;
5.1. Há, ainda, o interesse público 10.6.9 Somente serão acei-
no trato das supostas irregulari- tos atestados expedidos após
dades no que diz respeito à pro- a conclusão do contrato ou se
teção do erário público, visto que decorrido, pelo menos, um ano
há um indício que aponta afronta de início de sua execução, exce-
à economicidade do certame. to se firmado para ser executado
6. Dessa forma, a representação em prazo inferior.
poderá ser apurada, com o fim 8. A representante alega que o
de comprovar a sua procedência, somatório dos atestados apre-
nos termos do art. 234, §2º, se- sentados comprova a gerência
gunda parte, do RI/TCU, aplicável
concomitante de 49 postos de
às representações de acordo com
vigilância, mais que o dobro exi-
o parágrafo único do art. 237 do
gido pelo edital. Expõe que a des-
RI/TCU.
classificação ocorreu exatamente
EXAME TÉCNICO porque nenhum dos atestados
Dos fatos e pedidos da Represen- tinha o quantitativo mínimo de
tante vinte postos, conforme foi jus-
7. A ora representante foi ina- tificado quando da negativa de
bilitada no Pregão Eletrônico provimento ao recurso adminis-
20/2014 por supostamente não trativo interposto contra a inabi-
ter atendido aos itens 10.6.1, litação.
10.6.6 e 10.6.9 do edital de aber- 9. Argumenta que tal conduta
tura (peça 3, p. 20-21), referentes praticada ofendeu claramente a
à comprovação da capacidade jurisprudência do TCU, visto que
técnico-operacional, quais sejam: há diversos precedentes que ad-
10.6.1 No mínimo, 1 (um) Ates- mitem o somatório de atestados
tado de Capacidade Técnica, com a finalidade de comprovar a
fornecido por pessoa jurídica de capacidade técnica-operacional
direito público ou privado, o qual de empresas licitantes, a exem-
comprove que a licitante tenha plo dos Acórdãos 1.231/2012 e
prestado, de forma satisfatória, 1.865/2012, ambos do Plenário.

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Jurisprudência Selecionada

10. Além da suposta ilegalidade, a do somatório de quantitativos, de


GSI Gestão de Segurança Integra- forma a ampliar a competição do
da ressalta o risco de desrespeito certame (Ver Acórdãos 786/2006,
aos princípios da economicidade 170/2007, 1.239/2008, 727/2009,
e da vantajosidade da proposta, 1.231/2012 e 1.865/2012, todos
haja vista que o seu último lance do Plenário). Pouco importa qual
foi de R$ 3.091.426,22, ao passo empresa tem mais qualificação ou
que o lance da empresa convoca- experiência (se a que apresenta
da posteriormente, e declarada um atestado ou se a que apresen-
vencedora do certame, é de R$ ta cinco, por exemplo), mas sim
3.112.519,32. qual empresa demonstra condi-
11. Diante dos fatos, a represen- ções técnica para a devida execu-
tante solicita a concessão de me- ção do objeto com preço vantajo-
dida cautelar inaudita altera pars so para o erário público.
para suspender o andamento do 14. Conforme citado no item 8 da
Pregão 20/2014 e que o Tribunal presente instrução, a inabilitação
faça determinação ao Ministério ocorreu exatamente porque ne-
das Comunicações no sentido de nhum dos atestados apresentados
aceitar os atestados apresentados tinha o quantitativo mínimo de
ou, se for o caso, anular todo o vinte postos. Para fundamentar a
certame. referida decisão, o pregoeiro ofi-
Análise cial do certame, Sr. Santiago Car-
12. Em consulta aos atestados valho Guedes, citou o item 9.1.12
apresentados pela GSI Gestão de do Acórdão 1.214/2013-TCU-Ple-
Segurança Integrada (peça 3, p. nário, que trata de propostas de
186-195), foi constatado que eles melhorias nos procedimentos de
comprovam de fato que a repre- contratação e execução de con-
sentante gerenciou de forma con- tratos de terceirização de serviços
comitante 49 postos de vigilância, continuados na Administração Pú-
número superior àquele do objeto blica Federal (peça 3, p. 255):
da licitação em tela - 39 postos 9.1.12 seja fixada em edital, como
(peça 3, p. 33). Além disso, todos qualificação técnico-operacional,
eles são relativos a contratos fina- para a contratação de até 40 pos-
lizados ou que estão vigentes por tos de trabalho, atestado com-
período superior a um ano. provando que a contratada tenha
13. De acordo com os precedentes executado contrato com um míni-
da jurisprudência do TCU, em rela- mo de 20 postos e, para contratos
ção à exigência de atestados, sem- de mais de 40 (quarenta) postos,
pre que possível, deve ser permiti- seja exigido um mínimo de 50%.

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Jurisprudência Selecionada
15. Da leitura do trecho citado convocatório, visto que o impedi-
combinado com o disposto no mento à utilização de mais de um
item 10.6.6 do edital de abertura, atestado, "por implicar algum tipo
o pregoeiro entendeu que seria de restrição à competitividade do
cabível somente um atestado para certame, é que demandaria, além
comprovar o quantitativo exigido, da demonstração do seu cabi-
visto que tanto o acórdão deste mento por parte do contratante,
Tribunal como o edital trazem a
estar expressamente previsto no
expressão "Atestado", o que, se-
edital".
gundo ele, não abre a possibilida-
de de aceitar atestado sem uma 16.2. Observa-se ainda que a nor-
quantidade mínima nem tampou- ma que disciplina a contratação
co a soma de atestados. de serviços continuados para os
16. Salienta-se que o Acórdão órgãos do Poder Executivo, a IN -
1.214/2013-TCU-Plenário não dis- SLTI/MPOG 2/2008, também não
põe explicitamente sobre a aceita- prevê a possibilidade de somató-
ção ou não do somatório de ates- rio de atestados com o objetivo
tados para fins de comprovação de comprovar número mínimo de
técnico-operacional. Todavia, na postos de trabalho que já foram
omissão quanto a esse aspecto, prestados pelo licitante, mas tão
não se vislumbra necessidade de somente para comprovação de
ressalvar a jurisprudência domi- experiência mínima de três anos
nante do TCU quanto a esse tema de execução de serviços compatí-
às contratações de prestação de veis com o objeto licitado, sendo
serviços de natureza continuada, que esta comprovação só é exi-
de que trata a referida delibera- gida a critério da administração
ção. contratante (art. 19, §5º, inciso I).
16.1. Nesse sentido, recente- A norma referida traz, ainda, reda-
mente, mediante o Acórdão ção que possibilita entender que a
1.983/2014-TCU-Plenário, ao comprovação do número de pos-
analisar certame licitatório para
tos só pode ser efetuada por um
contratação de serviços técnicos
atestado (art. 19, §8º):
especializados na área de infra-
estrutura de tecnologia da infor- §8º Quando o número de postos
mação, essa Corte de Contas en- de trabalho a ser contratado for
tendeu que a não existência de igual ou inferior a 40 (quarenta),
cláusula expressa no edital per- o licitante deverá comprovar que
mitindo o somatório de atestados tenha executado contrato com
de serviços realizados não confi- um mínimo de 20 (vinte) postos.
gurara violação ao instrumento (grifou-se)

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Jurisprudência Selecionada

17. Diante dessas considera- ção de serviços, exceto quando a


ções, conclui-se que a interpre- especificidade do objeto assim o
tação do pregoeiro, baseada no exigir e não houver comprometi-
item no item 9.1.12 do Acórdão mento à competitividade do cer-
1.214/2013-TCU-Plenário, não tame, e desde que devidamente
é adequada em vista dos prece- justificada na fase de planejamen-
dentes deste Tribunal. Contudo, to do processo administrativo de
pode-se considerá-la possível, aquisição.
tendo em vista a forma como foi 18.1. Isso se justifica, conforme ci-
disciplinado o critério de habili- tado no item 13 desta instrução,
tação no edital (item 10.6.6), os porque o referido somatório en-
termos dispostos na norma apli- contra amparo na jurisprudência
cável ao objeto (IN - SLTI/MPOG deste Tribunal, sendo, inclusive,
2/2008) e o fato de o Acórdão previsto na norma interna que
1.214/2013-TCU-Plenário não ter regula as licitações e execução
sido explícito quanto a esse tó- dos contratos de serviços no âm-
pico (somatório de atestados). O
bito da Secretaria do TCU (Por-
entendimento do pregoeiro não
taria -TCU 128/2014), a qual já
é a mais adequada na visão desta
considera os entendimentos e as
Corte porque, em princípio, para o
orientações contidas no Acórdão
objeto em tela, a comprovação de
1.214/2013-TCU-Plenário, mos-
gerenciamento de postos conco-
trando:
mitantes em diferentes contratos
Art. 13. As qualificações técnico-
é similar ao da mesma quantidade
de postos em um único contrato. operacional,técnico-profissional e
econômico-financeira serão fixa-
18. Ante a situação constata-
das de acordo com os critérios a
da, propõe-se encaminhar có-
seguir enumerados:
pia da deliberação a ser pro-
ferida pelo TCU ao Ministério I - qualificação técnico-operacio-
de Planejamento, Orçamento e nal:
Gestão para ciência deste caso e a) exigência de comprovação por
adoção das providências que en- parte do licitante de, no mínimo,
tender cabíveis em relação à ad- 3 (três) anos de experiência na
missão do somatório de atestados execução de serviços semelhantes
para comprovar número mínimo ao objeto da licitação, comprova-
de postos já prestados como crité- dos por meio de atestados ou de-
rio de habilitação relativo à capa- clarações de capacidade técnica,
cidade técnico-operacional, a fim cópias de contratos, registros em
de ampliar a competitividade dos órgãos oficiais, ou outros docu-
certames destinados à terceiriza- mentos idôneos;

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Jurisprudência Selecionada
b) para contratação de serviços R$ 3.091.745,52, valor este abaixo
por meio da disponibilização de do inicialmente estimado e que
empregados terceirizados ao TCU não se mostra materialmente
vinculados à contratada, na forma superior ao lance dado pela ora
de postos de trabalho, exigência representante (R$ 3.091.426,22).
de apresentação de um ou mais Conclui-se, assim, pela improce-
atestados ou declarações de ca- dência dessa alegação.
pacidade técnica expedidos por Da medida cautelar
pessoa jurídica de direito público
21. Em relação ao pedido de me-
ou privado, comprovando que ge-
dida cautelar, consoante o art.
renciou ou gerencia contratos em
276 do RI/TCU, o relator poderá,
atividades pertinentes e compatí-
em caso de urgência, de fundado
veis com o objeto da licitação de,
receio de grave lesão ao erário, ao
no mínimo, 50% (cinquenta por
interesse público, ou de risco de
cento) do número de empregados
ineficácia da decisão de mérito, de
terceirizados previstos no edital
ofício ou mediante provocação,
de licitação (...)
adotar medida cautelar, determi-
(grifos nossos) nando a suspensão do procedi-
18.2. Além disso, propõe-se dar mento impugnado, até que o Tri-
ciência ao Ministério das Comu- bunal julgue o mérito da questão.
nicações para que, nos editais de Tal providência só deverá ser ado-
futuros certames, seja admitido o tada se presentes os pressupostos
somatório de atestados para fins do fumus boni iuris e do periculum
de comprovação de capacidade in mora.
técnico-operacional. 22. Pela análise apresentada, ve-
19. A representante ressalta ain- rifica-se que não há o fumus boni
da que há um risco de prejuízo ao iuris, pois embora não alinhada ao
erário, pois o valor do seu lance entendimento desta Corte, a in-
é consideravelmente inferior ao terpretação do pregoeiro de não
valor apresentado pela empresa admitir o somatório de atestados
convocada posteriormente, e, por para fins de habilitação pode ser
fim, declarada vencedora da licita- considerada possível em vista do
ção. previsto no edital (item 10.6.6) e
20. No entanto, em consulta ao na IN - SLTI/MPOG 2/2008, bem
termo de homologação do cer- como na redação do item 9.1.12
tame (peça 4), foi verificado que do Acórdão 1.214/2013-TCU-Ple-
houve negociação do lance ofer- nário. Além disso, o preço final
tado, sendo acordado com a em- negociado com a vencedora da
presa vencedora o valor final de licitação não se mostrou lesivo ao

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Jurisprudência Selecionada

erário, conforme apontado no pa- 17 desta instrução) e inegável dano


rágrafo 20. à economicidade da contratação
22.1. Há a presença do periculum (item 20 desta instrução).
in mora inverso, visto que o con- CONCLUSÃO
trato anterior para a prestação dos 24. O documento constante da
serviços referentes ao objeto da li- peça 1 deve ser conhecido como
citação em tela (peça 5) teve sua vi- representação por preencher os
gência encerrada no dia 31/7/2014, requisitos previstos nos arts. 235
além do que o contrato decorrente e 237, VII e parágrafo único, do Re-
do Pregão 20/2014 já está em ple- gimento Interno do TCU c/c o art.
na execução (peça 6), de modo que 113, §1º, da Lei 8.666/1993, consi-
qualquer medida adotada pelo TCU derando-a, no mérito, parcialmen-
no sentido de paralisar a prestação te procedente.
dos serviços resulta em um alto ris- 25. No que tange o pedido de cau-
co de prejuízo ao interesse público, telar, inaudita altera pars, entende-
pois os serviços contratados estão se que tal medida deve ser indefe-
diretamente relacionados à prote- rida, ante a ausência dos requisitos
ção dos servidores e do patrimônio do fumus boni iuris e do periculum
do Ministério das Comunicações. in mora, e da presença do pericu-
22.2. Quanto ao periculum in mora, lum in mora inverso.
cabe ressaltar a orientação expos- 26. Nesse sentido, propõe-se en-
ta no Memorando Circular - Sege- caminhar cópia da deliberação
cex 25/2013, segundo a qual o TCU a ser proferida pelo TCU no pre-
tem considerado que não há esse sente processo ao Ministério de
requisito em certames cujos con- Planejamento, Orçamento e Ges-
tratos já tenham sido assinados e tão, para adoção das providências
os serviços se encontrem em exe- que entender cabíveis em relação
cução (peça 6). à admissão do somatório de ates-
23. Por fim, também não se mos- tados para comprovar número mí-
tram presentes as outras cir- nimo de postos já prestados como
cunstâncias que podem ensejar critério de habilitação na IN - SLTI/
a concessão de medida cautelar, MPOG 2/2008.
mencionadas nos Memorandos 27. Ademais, julgou-se pertinente
Circular - Segecex 25/2013 e propor dar ciência ao MC de que é
27/2014, quais sejam: restrição à inadmissível nos editais de futuros
competitividade, haja vista a parti- certames licitatórios a vedação a
cipação de dezessete empresas no somatório de atestados para fins
certame (peça 3, p 217-219); dano à de comprovação de capacidade
lisura do processo licitatório (item técnico-operacional.

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Jurisprudência Selecionada
BENEFÍCIOS DO CONTROLE EXTER- vidade do certame, e desde que
NO devidamente justificada na fase de
28 No caso em análise, vislum- planejamento do processo admi-
bram-se alguns benefícios da atua- nistrativo de aquisição;
ção do TCU, tais como: exercício da d) dar ciência da decisão que vier
competência do TCU em resposta à ser adotada, juntamente com có-
demanda da sociedade e o aperfei- pia da presente instrução, ao(à):
çoamento dos procedimentos de d.1) Ministério das Comunicações;
contratação de serviços pela Admi-
d.2) representante; e
nistração Pública.
d.3) Ministério do Planejamento,
PROPOSTA DE ENCAMINHAMEN-
Orçamento e Gestão, para ciência
TO
deste caso e adoção das providên-
29. Ante o exposto, submetem-se cias que entender cabíveis em re-
os autos à consideração superior, lação à explicitação, na IN - SLTI/
propondo: MPOG 2/2008, da possibilidade do
a) conhecer da presente represen- somatório de atestados para com-
tação, em razão do atendimento provar número mínimo de pos-
dos requisitos de admissibilidade tos já prestados como critério de
previstos nos arts. 237, VII e pará- habilitação relativo à capacidade
grafo único, e 235 do Regimento técnico-operacional dos licitantes,
Interno deste Tribunal c/c o art. exceto quando a especificidade do
113, §1º, da Lei 8.666/1993, para, objeto assim o exigir e não houver
no mérito, considera-la parcial- comprometimento à competiti-
mente procedente; vidade do certame, e desde que
b) indeferir o pedido de medida devidamente justificada na fase de
cautelar inaudita altera pars, pela planejamento do processo admi-
ausência de seus pressupostos; nistrativo de aquisição; e
c) com amparo na Portaria - Segecex e) arquivar os autos após as devi-
13/2011, e visando evitar o ocorri- das comunicações processuais, nos
do no Pregão Eletrônico 20/2014, termos dos arts. 160, inciso II, e
dar ciência ao Ministério das Co- 170 do RI/TCU.
municações que a jurisprudência
É o relatório.
do TCU considera indevida a não
Voto:
admissão do somatório de atesta-
dos para fins de comprovação de VOTO
capacidade técnico-operacional, Como visto, trata-se de represen-
exceto quando a especificidade do tação formulada pela empresa GSI
objeto assim o exigir e não houver Gestão de Segurança Integrada
comprometimento à competiti- - Vigilância e Segurança Ltda., a

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Jurisprudência Selecionada

respeito de possível irregularida- 10.6.6 O atestado que se refere o


de ocorrida na fase de habilitação item 10.6.1 deve referir-se a con-
do Pregão Eletrônico 20/2014, sob tratos que envolveram a contrata-
responsabilidade do Ministério das ção de no mínimo 20 (vinte) pos-
Comunicações (MC). tos; (grifei)
2. O objeto da licitação, no valor 5. A unidade técnica entende que
anual estimado de R$ 3.647.419,24, assiste razão ao representante. En-
foi a contratação de empresa espe- tretanto, por se tratar de contrato
cializada na prestação, de forma em execução, propõe apenas que
contínua, dos serviços de vigilância seja dada ciência ao órgão acerca
da falha.
patrimonial armada e desarmada,
diurna e noturna, a serem execu- II
tados na sede daquele Ministério, 6. Discute-se aqui como deve ocor-
bem como em outros imóveis que rer a comprovação da capacidade
venham a ser ocupados pelo ór- técnico-operacional de licitantes.
gão em Brasília/DF. Como é sabido, esse requisito téc-
nico diz respeito à demonstração
3. A referida licitação já se encon-
da existência de aptidão para o de-
tra encerrada e o contrato dela
sempenho de atividade pertinente
decorrente encontra-se em exe-
com o objeto do certame. Nesse
cução.
sentido, menciono a seguinte deci-
4. A representante insurge-se são do Superior Tribunal de Justiça:
contra os itens 10.6.1. e 10.6.6.
MANDADO DE SEGURANÇA. CON-
do edital, a seguir transcritos, os
CORRÊNCIA PÚBLICA. EXIGÊNCIA
quais exigem a comprovação da DE COMPROVAÇÃO DE CAPACI-
capacidade técnico-operacional TAÇÃO "TÉCNICO-OPERACIONAL"
por meio da apresentação de um DA EMPRESA PARA EXECUÇÃO DE
único atestado, ou seja, sem a OBRA PÚBLICA.
permissão de que a comprovação
- A exigência não é ilegal, se ne-
ocorra mediante a soma de quan- cessária e não excessiva, tendo
titativos de vários atestados: em vista a natureza da obra a ser
10.6.1 No mínimo, 1 (um) Atestado contratada, prevalecendo, no caso,
de Capacidade Técnica, fornecido o princípio da supremacia do inte-
por pessoa jurídica de direito pú- resse público. Art. 30, da Lei das
blico ou privado, o qual comprove Licitações.
que a licitante tenha prestado, de - A capacitação técnica operacional
forma satisfatória, serviços com- consiste na exigência de organiza-
patíveis com o objeto do Termo de ção empresarial apta ao desem-
Referência; penho de um empreendimento,

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Jurisprudência Selecionada
situação diversa da capacitação 8. Para tratar dessa questão, no
técnica pessoal.(...) (REsp 331.215 - âmbito do TCU, foi constituído Gru-
SP, Rel. Ministro Luiz Fux, 1ª T., DJ po de Trabalho com a participação
27/5/2002) (grifei) de representantes do Ministério
7. Quanto à capacidade técnico- do Planejamento, Orçamento e
operacional de empresas prestado- Gestão - MP, da Advocacia-Geral
ras de serviços terceirizados, situa- da União - AGU, do Ministério da
ção objeto destes autos, interessa, Previdência Social, do Ministério
primordialmente, avaliar a capaci- da Fazenda, do Tribunal de Con-
dade da licitante em gerir mão de tas do Estado de São Paulo e do
obra (por exemplo, atividades de Ministério Público Federal.
seleção de pessoal, setor de paga- 9. Os trabalhos foram objeto de
mentos, almoxarifado, compras, apreciação pelo TCU mediante
contabilidade, execução e fiscali- o Acórdão 1.214/2013-Plenário,
zação dos serviços contratados). A quando se concluiu que:
respeito, menciono o seguinte tre-
9.1.12 seja fixada em edital, como
cho do relatório que acompanha o
qualificação técnico-operacional,
Acórdão 8.364/2012-2ª Câmara:
para a contratação de até 40 pos-
71. No que se refere à aferição da tos de trabalho, atestado compro-
capacidade técnico-operacional vando que a contratada tenha exe-
de empresas que prestam serviços cutado contrato com um mínimo
de terceirização, prospera a ale- de 20 postos e, para contratos de
gação de que o atributo precípuo mais de 40 (quarenta) postos, seja
dessas empresas, que as habilita
exigido um mínimo de 50%; (grifei)
para executar regularmente tais
10. Em consonância com esse en-
serviços e que as mantém no mer-
tendimento, a Instrução Norma-
cado é a capacidade de gerir mão
tiva 02/2008 da Secretaria de Lo-
de obra, haja vista que os serviços
gística e Tecnologia da Informação
terceirizados são geralmente de
baixa complexidade técnica. Por do Ministério do Planejamento,
exemplo, essas entidades precisam Orçamento e Gestão (SLTI/MPOG) -
concentrar esforços para recrutar que disciplina a contratação de ser-
e capacitar profissionais, alocá-los viços, continuados ou não - sofreu
e realocá-los de acordo com as ne- alteração pela IN 6/2013-SLTI-
cessidades contratuais, coordenar MPOG, de forma que matéria res-
os trabalhos, gerir folhas de paga- tou assim regulada:
mento, como também observar os §7º Na contratação de serviços
diversos direitos e encargos traba- continuados com mais de 40 (qua-
lhistas, além das obrigações fiscais. renta) postos, o licitante deverá
(grifei) comprovar que tenha executado

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Jurisprudência Selecionada

contrato com um mínimo de 50% jam comprovados mediante a apre-


(cinquenta por cento) do número sentação de mais de um atestado.
de postos de trabalho a serem con- 13. Esse entendimento geral, con-
tratados tudo, não afasta a possibilidade de
§8º Quando o número de postos de que a restrição à soma de atesta-
trabalho a ser contratado for igual dos ocorra quando o objeto licita-
ou inferior a 40 (quarenta), o lici- do assim exigir. A respeito, o TCU
tante deverá comprovar que tenha manifestou-se mediante o Acór-
executado contrato com um míni- dão 2.150/2008 - Plenário, subitem
mo de 20 (vinte) postos. (grifei) 9.7.2:
11. De se verificar que tanto a reda- 9.7.2. somente limite o somatório
ção da parte dispositiva do acórdão de quantidades de atestados para
quanto da norma infralegal fazem a comprovação de capacidade
menção a exigência de que tenha técnico-operacional dos editais nos
sido "executado contrato" com de- casos em que o aumento de quan-
terminados postos de trabalho para titativos do serviço acarretarem,
a comprovação técnico-operacio- incontestavelmente, o aumento da
nal dos licitantes. Resta permitida, complexidade técnica do objeto ou
portanto, a interpretação de que a uma desproporção entre as quan-
exigência deveria ser demonstrada tidades e prazos para a sua execu-
em uma única contratação, não se ção, capazes de ensejar maior ca-
podendo, pois, considerar o soma- pacidade operativa e gerencial da
tório dos quantitativos referen- licitante e de potencial comprome-
tes a mais de um atestado. Assim, timento acerca da qualidade ou da
por exemplo, não caberia aceitar finalidade almejada na contratação
a apresentação de dois atestados da obra ou serviços; [...]. (grifei)
referentes a dez postos de trabalho 14. Pertinentes também as lições
cada um para comprovar experiên- de Marçal Justen Filho (in Comentá-
cia com vinte postos de trabalho. rios à Lei de Licitações e Contratos
12. Entretanto, o mencionado acór- Administrativos - 15ª ed., p. 510):
dão não tratou especificamente "A qualificação técnico operacional
da possibilidade de comprovação consiste na execução anterior de
da experiência técnica mediante a objeto similar àquele licitado. Ora,
soma de atestados. É bem verdade isso significa que a identidade do
que, de acordo com a tradicional de objeto licitado é que determina a
jurisprudência desta Corte de Con- possibilidade ou não de somatório.
tas, em regra, deve haver a permis- (...) Muitas vezes a complexidade
são de que os requisitos técnicos do objeto deriva de certa dimen-
exigidos em licitações públicas se- são quantitativa. Nesses casos, não

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Jurisprudência Selecionada
terá cabimento o somatório de de técnico operacional das licitan-
contratações anteriores." tes. Isso porque se uma empresa
15. Nas situações de terceirização apresenta sucessivos contratos
de mão de obra, como já adianta- com determinados postos de tra-
do, busca-se averiguar a capaci- balho, ela demonstra ter expertise
dade das licitantes em gerir pes- para executar somente os quanti-
soal. Nesse sentido, o seguinte tativos referentes a cada contrato e
trecho do voto condutor do Acór- não ao somatório de todos. Em ou-
dão 1.214/2013-Plenário: tras palavras, a demanda por estru-
tura administrativa dessa empresa
64. Quando se trata de qualificação
está limitada aos serviços exigidos
técnico-operacional, a jurisprudên-
simultaneamente, não havendo
cia e a doutrina são pacíficas em
que se falar em duplicação dessa
admitir que se exija dos licitantes
capacidade operacional apenas
que tenham executado quantida- porque determinado objeto execu-
des mínimas do serviço, de forma tado em um exercício é novamente
a assegurar que elas terão condi- executado no exercício seguinte.
ções de prestar os serviços que
17. Em suma, não há porque, e aqui
estão sendo contratados. Isso por-
divirjo pontualmente da unida-
que se entende não ser suficiente
de técnica, supor que a execução
para uma empresa demonstrar a
sucessiva de objetos de peque-
capacidade para administrar 100
na dimensão capacite a empresa
postos de trabalho, por exemplo,
automaticamente para a execu-
que ela tenha prestado um serviço ção de objetos maiores. De forma
com apenas 10 postos de trabalho, exemplificativa, a execução suces-
dada a clara diferença de dimen- siva de dez contratos referentes a
são entre as duas situações, que dez postos de trabalho cada não
envolvem um know-how distinto. necessariamente capacita a em-
Entende-se que avaliação do porte presa para a execução de contratos
dos serviços que já foram presta- abrangendo cem postos de traba-
dos por uma determinada empresa lho.
é importante para que a adminis- 18. Não é demais rememorar que a
tração se certifique das condições jurisprudência desta Corte, em re-
técnicas da empresa para a execu- gra, é conservadora no sentido de
ção dos serviços que estão sendo que a exigência técnico-operacio-
contratados. (grifei) nal se limite a 50% do objeto con-
16. Sob essa ótica, entendo que ad- tratado. Ou seja, caso o objeto seja
mitir a simples soma de atestados dimensionado para cem postos de
não se mostra o procedimento mais trabalho, as exigências editalícias
adequado para se aferir a capacida- devem se limitar a cinquenta pos-

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Jurisprudência Selecionada

tos. Desta feita, ao se aceitar a sim- serviços fossem referentes a uma


ples soma de atestados, estar-se-á única contratação. Com efeito, se
se permitindo que uma empresa uma empresa executa simultanea-
com experiência, ainda utilizando mente dez contratos de dez postos
do exemplo anterior, em gerenciar de serviços cada, cabe a suposição
dez postos de trabalho assuma um de que a estrutura física da empre-
compromisso dez vezes maior com sa é compatível com a execução de
a administração pública. objetos referentes a cem postos de
19. Trata-se, a meu sentir da típica serviços. Vislumbra-se, inclusive,
situação em que avalia a experi- nessa situação hipotética, maiores
ência em executar determinados exigências operacionais para ge-
quantitativos, de forma que não renciar simultaneamente diversos
caberia a consideração de contra- contratos menores em locais dife-
tações sucessivas como se única rentes do que gerenciar um único
fosse. Situação similar foi retrata- contrato maior (sempre conside-
da no voto condutor do Acórdão rando que haja identidade entre o
2.079/2005-1ª Câmara: somatório dos objetos desses con-
7. No caso concreto, o objeto licita- tratos menores e o objeto desse
do referia-se ao fornecimento de contrato maior).
20.000 (vinte mil) refeições diárias. 21. Nesse sentido, insta mencio-
É razoável supor que o forneci- nar o disposto na Portaria TCU
mento de tal quantidade deman-
128/2014, que trata sobre a licita-
de capacidade operacional diversa
ção e a execução de contratos de
daquela necessária, por exemplo,
serviços no âmbito da Secretaria do
para o fornecimento de 1000 (mil)
Tribunal de Contas da União (TCU):
refeições. Ou seja, a simples soma
de atestados referentes a diversos Art. 14. Será aceito o somatório de
fornecimentos de menor monta, atestados para comprovar a qualifi-
principalmente se não forem pres- cação técnico-operacional e profis-
tados simultaneamente, pode não sional, desde que os contratos que
atender aos interesses da Adminis- lhes deram origem tenham sido
tração. (grifei) executados de forma concomitan-
20. Exceção a esse entendimento te.
deve ser feita quanto os diferen- Parágrafo único. Somente poderão
tes atestados se referem a servi- ser aceitos atestados de capacida-
ços executados de forma conco- de técnica expedidos após a con-
mitante. Nessa situação, para fins clusão do contrato ou se decorrido,
de comprovação de capacidade no mínimo, um ano do inicio de sua
técnico-operacional, é como se os execução, exceto se houver sido fir-

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Jurisprudência Selecionada
mado para ser prestado em prazo submeto à deliberação deste Cole-
inferior. (grifei) giado.
22. No caso concreto, os atestados TCU, Sala das Sessões Ministro
apresentados pela representante Luciano Brandão Alves de Souza,
indicam o gerenciamento conco- em 10 de setembro de 2014.
mitante de 49 postos de vigilância
BENJAMIN ZYMLER
(em cinco contratos distintos), su-
perior ao dobro do que o mínimo Relator
de vinte exigido pelo edital. (peça Acórdão:
3, p. 186-195). Assim, de acordo o
VISTOS, relatados e discutidos es-
entendimento antes esposado, tan-
tes autos de representação formu-
to a cláusula editalícia que vedava
a possibilidade de soma de atesta- lada em face de pregão eletrônico
dos quanto a conduta do pregoeiro realizado com o objetivo da contra-
que desclassificou a representante tação de serviços de vigilância,
por esse motivo, não se mostraram ACORDAM os Ministros do Tribunal
adequadas. de Contas da União, reunidos em
23. Entretanto, como bem ex- Sessão do Plenário, ante as razões
posto pela unidade técnica, a expostas pelo Relator, em:
desclassificação indevida da lici-
9.1. conhecer da presente repre-
tante não caracterizou a prática de
sentação, satisfeitos os requisitos
ato antieconômico, pois a empresa
contratada, depois de negociação, de admissibilidade previstos nos
reduziu seu preço a valores mate- arts. 235 e 237, inciso VII, do Regi-
rialmente próximos àquele cons- mento Interno deste Tribunal, c/c
tante da proposta da representan- o art. 113, §1º, da Lei 8.666/1993,
te inabilitada. para, no mérito, considerá-la par-
24. Ademais, como o contrato já cialmente procedente;
se encontra em execução desde 9.2 dar ciência desta deliberação ao
1/8/2014 (peça 6), o interesse pú- representante e ao Ministério das
blico pende para que se permita
Comunicações;
a continuidade da execução con-
tratual, pois os ônus referentes ao 9.3. encaminhar cópia deste Acór-
entendimento contrário podem dão, acompanhado do Relatório
ser superiores aos benefícios de- e Voto que o fundamentam, à
correntes da retomada do procedi- Secretaria de Logística e Tecnolo-
mento licitatório. gia da Informação do Ministério do
25. Diante do exposto, voto por que Planejamento, Orçamento e Ges-
o Tribunal adote o Acórdão que ora tão (SLTI/MPOG).

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Jurisprudência Selecionada

Licitação. Exigência de habilitação. Certificação do INMETRO.


Aquisição de bens ou contratação de serviços de informática e
automação. Ilegalidade. Restrição do caráter competitivo do
certame.

Acórdão 2.318/14 – Plenário


Sumário: 1. Cuidam os autos de representa-
ção formulada pela empresa Eba
REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE
Office Comércio de Máquinas para
MEDIDA CAUTELAR. POSSÍVEIS IR-
Escritório Ltda.-EPP, com pedido de
REGULARIDADES EM LICITAÇÃO.
cautelar (peça 1), versando sobre
OITIVA PRÉVIA. ESCLARECIMEN-
supostas irregularidades ocorridas
TOS INSUFICIENTES PARA ELIDIR
no Pregão Eletrônico 8/2013, da
A TOTALIDADE DAS IRREGULA-
Agência Nacional do Petróleo, Gás
RIDADES SUSCITADAS. CONTRA-
Natural e Biocombustíveis (ANP),
TO JÁ CELEBRADO E OBJETO JÁ
cujo objeto foi a aquisição de má-
ENTREGUE. PREJUÍZO MAIOR AO
quinas fragmentadoras de papéis
INTERESSE PÚBLICO EM CASO DE
(peça 3, p. 1), departamentais e in-
ANULAÇÃO DO CERTAME LICI-
dividuais (peça 3, p. 13).
TATÓRIO E DO CONTRATO DELE
DECORRENTE. INDEFERIMENTO DA 1.1. A estimativa de preços dos ser-
CAUTELAR E PROCEDÊNCIA PAR- viços alcançou o valor anual de R$
CIAL DA REPRESENTAÇÃO. CIÊN- 153.501,20 (peça 3, p. 1).
CIA. ARQUIVAMENTO ADMISSIBILIDADE
2. Mediante Despacho exarado
Relatório:
em 3/1/2014, acostado à peça 10
Adoto, como parte integrante dos autos, o presente processo foi
deste relatório, a instrução pro- conhecido como representação,
duzida no âmbito da Secretaria de uma vez atendidos os requisitos de
Controle Externo de Aquisições admissibilidade previstos nos arts.
Logísticas (Selog), pela Auditora 235 e 237, inciso VII, do Regimento
Maria Célia Silva Viana, vazada nos Interno deste Tribunal (RI/TCU), c/c
seguintes termos: o art. 113, §1º, da Lei 8.666/1993.
"INTRODUÇÃO HISTÓRICO

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Jurisprudência Selecionada
3. A representante insurgiu-se con- medida cautelar, e, assim, propôs
tra os seguintes fatos: os seguintes encaminhamentos,
3.1. os sócios de empresas que entre outros:
solicitaram alteração nas espe- (...)
cificações das fragmentadoras b) determinar, nos termos do art.
(Prosperar, Net Machines e Frag- 276, §2º, do Regimento Interno/
center) possuem relação de pa- TCU, a oitiva prévia da Agência
rentesco em primeiro grau, além Nacional do Petróleo, Gás Natural
de ser a mesma pessoa atuando e Biocombustíveis para, no prazo
como procuradora/representante de cinco dias úteis, manifestar-se
da Prosperar e da Fragcenter; sobre os fatos apontados na re-
3.2. essas três empresas do mesmo presentação formulada por Eba
grupo apresentaram orçamentos Office Comércio de Máquinas
na fase de pesquisa de preços; Para Escritório Ltda. - EPP (CNPJ
3.3. há a utilização frequente, por 09.015.414/0001-69), e na presen-
esse grupo de empresas, da Net te instrução, especialmente apre-
Machines - que não pode partici- sentando esclarecimentos, acom-
par de licitações públicas por estar panhados da devida comprovação
com débito previdenciário - para documental, em relação ao Pregão
solicitar impugnação de edital de Eletrônico 8/2013, acerca do(a):
licitação e sugerir mudança nas es- b.1) necessidade de que as frag-
pecificações das fragmentadoras, mentadoras a serem adquiridas
direcionando para o produto que possuam engrenagens e pentes
vendem (pentes e engrenagens metálicos, e não plásticos, além
metálicas, funcionamento contí- de funcionamento contínuo, en-
nuo e certificados IEC); e caminhando cópia da documenta-
3.4. alguns licitantes foram inabili- ção de planejamento da aquisição
tados por não possuírem a certifi- das fragmentadoras que indique
cação requerida no edital (cf. peças as funcionalidades exigidas para
8 e 10). os setores destinatários das frag-
3.5. Na instrução preliminar à peça mentadoras e cópia dos estudos
8, esta Selog, considerando a au- técnicos preliminares, onde conste
sência, nos autos, de informações a relação dos equipamentos/forne-
sobre os fatos apresentados e, cedores que atendem às condições
ainda, a possibilidade da existên- do edital;
cia do periculum in mora reverso, b.2) comprovação de que os pre-
verificou a necessidade de obter ços das fragmentadoras contrata-
esclarecimentos adicionais para das estão de acordo com os preços
subsidiar eventual concessão de efetivamente praticados pelo mer-

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Jurisprudência Selecionada

cado (e.g., contratos da Adminis- 3.7. Foram, então, realizadas as oi-


tração Pública Federal); tivas da ANP e da Fragcenter Ltda.
b.3) motivo da desclassificação mediante, respectivamente, os Ofí-
das respectivas propostas das em- cios Selog/TCU 19 (peça 12) e 20
presas J.B.L. Comércio de Eletro- (peça 11), ambos de 8/1/2014. Os
eletrônicos Ltda.- ME e Tricomex expedientes foram recebidos em
Importação e Exportação - EIRELI 13/1/2014, conforme comprovan-
- EPP, referente ao item 1 da licita- tes às peças 13 e 22.
ção; EXAME TÉCNICO
b.4) atendimento das fragmenta- 4. Após solicitação de prorrogação
doras oferecidas na proposta da de prazo (peças 14 e 15), concedida
contratada ao requisito de funcio- por este Tribunal (peça 19 e 25), a
namento contínuo; ANP apresentou os esclarecimen-
c) encaminhar cópia da peça 1 e tos acostados à peça 24 e 26. A
da presente instrução à Agência Fragcenter Ltda. forneceu os ele-
Nacional do Petróleo, Gás Natural mentos constantes da peça 21.
e Biocombustíveis, que deverão 4.1. Passa-se, então, a análise dos
subsidiar as manifestações a serem esclarecimentos remetidos.
requeridas; e Esclarecimentos sobre a seguinte
d) alertar a Agência Nacio- questão: necessidade de que as
nal do Petróleo, Gás Natural e fragmentadoras a serem adquiri-
Biocombustíveis sobre a possibi- das possuam engrenagens e pen-
lidade de o Tribunal vir a anular o tes metálicos, e não plásticos, além
Pregão Eletrônico 8/2013 (e con- de funcionamento contínuo, en-
sequentemente o contrato dele caminhando cópia da documenta-
decorrente) e, caso tenha ocorrido ção de planejamento da aquisição
algum pagamento indevido, a apu- das fragmentadoras que indique
ração de responsabilidade. as funcionalidades exigidas para
3.6. Recebidos os autos, o Gabine- os setores destinatários das frag-
te do Presidente concordou com mentadoras e cópia dos estudos
o encaminhamento sugerido pela técnicos preliminares, onde conste
unidade técnica, tendo determi- a relação dos equipamentos/forne-
nado, ainda, a remessa de cópia cedores que atendem às condições
de peças processuais desta repre- do edital.
sentação à empresa Fragcenter Manifestação da ANP (peça 26, p.
Comércio e Serviço Ltda. - ME, 1-3 e 5)
como subsídio para eventuais ma- 5. A exigência de as fragmentado-
nifestações atinentes à defesa de ras pretendidas possuírem engre-
seus interesses (peça 10). nagens e pentes metálicos, e não

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de plásticos, serve ao propósito p. 40) e não foram resultados de
da ANP de adquirir maquinário indicação de nenhuma empresa.
eficiente e resistente, tendo como 5.4. A exigência de funcionamento
base a experiência com as atuais contínuo sem parada para resfria-
máquinas da Agência: das sessenta mento do motor foi incluída no edi-
cinco fragmentadoras existentes, tal após avaliação de seu benefício,
cinquenta e sete possuem essas em decorrência de impugnação
características (engrenagens e que sugeria seu reconhecimento.
pentes metálicos), e oito delas não 5.5. Nos modelos de fragmenta-
se sabe o material de que são cons- doras que não possuem funciona-
tituídas. mento contínuo do motor garan-
5.1. Há 3 anos foi realizada licitação tido pelo fabricante há a exigência
para o serviço de manutenção pre- de ciclos de trabalho versus de des-
ventiva e corretiva das máquinas, canso, de modo a respeitar à con-
mas o certame foi deserto. Desde servação produtiva da máquina. A
então, o parque de fragmentado- ANP possui em seu quadro cerca
ras permanece operando com uma de mil e trezentas pessoas e ga-
rantir o respeito a esses ciclos sig-
aplicação mensal de óleo nos pen-
nifica assumir compromisso com
tes cortadores, não havendo regis-
risco evidente, além disso o grande
tro de engrenagens danificadas ou
vulto de documentos a serem des-
pentes quebrados. Assim, o mate-
cartados pela Agência, exige frag-
rial metálico das engrenagens/pen-
mentadoras capazes de suportar a
tes apresenta grande durabilidade
rotina intensa de atividades.
e resistência, garantindo ao maqui-
5.6. O entendimento da ANP a res-
nário um ciclo de vida duradouro e
peito da importância destas duas
eficiente frente à rotina fatigante.
características (engrenagens/pen-
5.2. Em 2011 foram adquiridas 12 tes metálicos e funcionamento
fragmentadoras com engrena- contínuo do motor) não é destoan-
gens/pentes metálicos, e, diante te, dado que outros órgãos da Ad-
de tal precedente, restou reforça- ministração Pública recentemente
do o raciocínio pela manutenção as exigiram em seus editais e cele-
dos mesmos requisitos no Pregão braram os respectivos contratos,
8/2013. conforme pode ser verificado à
5.3. Além disso, os requisitos en- peça 26, p. 8.
grenagens e pentes em material 5.7. A contratação avulsa de em-
metálico já constavam no corpo presa para serviços de reparo/
do termo de referência desde seu conserto de equipamento, além de
processo de elaboração (peça 26, apresentar alto custo frente ao va-

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Jurisprudência Selecionada

lor depreciado do bem, nem sem- reter a proteção dos fios e dos ca-
pre pode se concretizar em virtu- bos de eletricidade, provocando
de da escassez de recurso público, curto circuito e danificando a placa
restando um equipamento ocioso eletrônica do motor, com risco de
a espera de manutenção. Assim, a explosão do equipamento.
aquisição de um maquinário robus- 5.11. A compra de fragmentadoras
to e durável corrobora com o rol de deve ser cautelosamente estudada
características presentes no Edital pela Administração para que não
do Pregão Eletrônico 8/2013. haja aquisição de equipamentos
Manifestação da Fragcenter Ltda. que causem prejuízos. A legisla-
(peça 21) ção confere ao servidor público
5.8. Engrenagens metálicas pos- o direito e a responsabilidade da
suem maior resistência do que as aquisição criteriosa de bens, que
mistas (plástico e metal). As en- possuam padrões de desempenho
grenagens de plástico, diante de e qualidade que contribuam com a
qualquer travamento brusco, que eficiência e rendimento dos traba-
pode ocorrer com a inserção de lhos da Administração.
folhas além da capacidade do equi- Análise
pamento, são as primeiras peças a 5.12. A ANP demonstrou que as
serem danificadas. exigências coadunam-se com as
5.9. Os pentes de plástico se des- especificações exigidas em, pelo
gastam facilmente com a ação con- menos, 12 licitações realizadas por
tínua dos papéis e principalmente órgãos públicos, entre 2011 e 2013
dos metais, como grampos e cli- (peça 26, p. 8), não se configuran-
pes, ocorrendo, assim, a sua que- do, portanto, excessivas tais condi-
bra. Daí, a importância de que os ções.
pentes sejam metálicos. 5.13. Os argumentos apresentados,
5.10. Fragmentadoras que funcio- pela ANP e pela Fragcenter, para
nam com paradas intermitentes adoção desses dois requisitos são
para resfriamento do motor pos- razoáveis, e sinalizam que a Agên-
suem custo mais baixo do que as cia teve como objetivo atender aos
que funcionam continuamente. interesses da Administração.
Porém, o sensor térmico dessas 5.14. Conforme alegado pela ANP,
máquinas, que necessitam de res- o quesito "engrenagens e pentes
friamento, pode falhar e não ativar em material metálico" não resul-
o desligamento do equipamento, tou das sugestões de mudança nas
vindo a funcionar com sobrecar- especificações das fragmentadoras
ga. O motor sobrecarregado pode oferecidas pela Net Machines, con-
atingir temperatura elevada e der- forme pode ser verificado à peça 3,

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Jurisprudência Selecionada
p. 84 - diferentemente do exposto adquirida. Considerando as parti-
pela representante - tendo a Agên- cularidades de cada aquisição, os
cia encaminhado, ainda, cópia do valores do Contrato 9.087/2013,
termo de referência antes das al- decorrente do Pregão 8/2013,
terações nele efetivadas, que tam- estão alinhados com os valores
bém confirma tal argumentação. médios das contratações públicas
5.15. A própria representante afir- para o mesmo objeto.
mou, em sua proposta, cumprir Manifestação da Fragcenter Ltda.
com as exigências em comento 6.1. Não apresentou elementos
(peça 3, p. 114 e 115), além disso sobre a questão.
suas alegações vieram desacompa-
Análise
nhadas de elementos que pudes-
sem confirmar a desnecessidade 6.2. Os itens 1 e 2 licitados (peça
desses requisitos. 3, p. 13-14) foram adjudicados à
empresa Fragcenter Comércio e
5.16. Ademais, nenhuma empresa
Serviços Ltda-ME, pelos valores
impugnou o edital por conta des-
negociados de R$ 118.800,00 e R$
sas condições, conforme se verifica
30.000,00, respectivamente (peça
no sítio eletrônico do Comprasnet.
3, p. 150).
5.17. Dessa forma, não se vislum-
bra ocorrência de irregularidade 6.3. Para a máquina do item 1,
quanto a esta questão. que requeria nível mínimo de se-
Esclarecimentos sobre a seguinte gurança 5, a empresa ofereceu
questão: comprovação de que os a fragmentadora Kobra 260 TS
preços das fragmentadoras con- C2 (peça 26, p. 14-15), pelo valor
tratadas estão de acordo com os unitário de R$ 5.400,00, e para a
preços efetivamente praticados máquina do item 2, que requeria
pelo mercado (e.g., contratos da nível mínimo de segurança 2, ofe-
Administração Pública Federal), receu a fragmentadora Kobra 240
peça 26, p. 3 SS5 (peça 26, p. 17-19), pelo valor
Manifestação da ANP (peça 26, p. 3) unitário de R$ 2.500,00 (peça 26,
p. 8).
6. O Anexo 1, acostado à peça 26,
p. 8, apresenta tabela comparati- 6.4. Quanto ao preço de merca-
va entre contratações realizadas do do item 1 licitado, na pesqui-
nos anos de 2011, 2012 e 2013, sa encaminhada pela ANP (peça
contendo os licitantes, as empre- 26, p. 8) em resposta à oitiva, há
sas contratadas, os valores pactu- apenas uma fragmentadora com
ados por unidade fragmentadora, nível de segurança 5, a Kobra 240
as marcas/modelos das máquinas C2 Turbo, adquirida, pelo valor
e a quantidade total de máquinas de R$ 2.958,00, em certame do

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Jurisprudência Selecionada

Ministério do Desenvolvimento, tratos anteriores do próprio órgão,


Indústria e Comércio Exterior, re- contratos de outros órgãos, valo-
alizado em 2013. Porém, tal frag- res registrados no Sistema Integra-
mentadora não possui as mesmas do de Administração de Serviços
especificações da oferecida para o Gerais e nas atas de registro de
item 1, no pregão em exame (Ko- preços da Administração Pública
bra 260 TS C2), não sendo possível Federal, de forma a possibilitar a
fazer uma comparação efetiva. estimativa mais real possível. As-
6.5. Quanto ao preço do item 2, sim, apenas o documento encami-
na pesquisa encaminhada consta nhado pela ANP para demonstrar
fornecimento de fragmentadoras a compatibilidade dos preços das
Kobra 240 SS5, mesma que a ad- fragmentadoras adquiridas com os
quirida no âmbito do pregão em de mercado não é suficiente.
exame, pelo valor de R$ 2.145,00, 6.7. No entanto, consta dos autos
no certame realizado, em 2012, que a Agência consultou, na fase
pelo Tribunal Regional da 8ª Re- interna que antecedeu a publica-
gião; pelo valor de R$ 2.460,00, ção do edital, dez empresas sobre
no certame realizado pela Receita
os preços das fragmentadoras pre-
Federal, em 2012; e pelo valor de
tendidas, tendo recebido resposta
2.300,00, no certame realizado
de cinco empresas (peça 8, p. 4),
pelo Ministério da Educação, em
realizando estimativa orçamen-
2011. Levando-se em conta esses
tária unitária de R$ 5.561,00 para
valores, o preço médio da frag-
as fragmentadoras constantes do
mentadora estaria em torno de R$
item 1 e de R$ 2.596,00 para as do
2.300,00. Como as máquinas do
item 2(peça 3, p. 31).
item 2 foram oferecidas pelo valor
de R$ 2.500,00, em 2013, não se 6.8. Em pesquisa realizada na
vislumbra discordância significati- internet, não foi possível aferir o
va com os preços das aquisições in- preço de mercado das fragmenta-
formadas na relação encaminhada doras. Como as máquinas foram
pela ANP (peça 26, p. 13). adquiridas abaixo do preço orça-
6.6. Consoante entendimento des- do, e, ainda, como a representante
te Tribunal de Contas da União não demonstrou desconformidade
(Acórdãos 819/2009-TCU-Plená- dos preços da Fragcenter Ltda. com
rio, 1685/2010-TCU-2ª Câmara e os praticados no mercado, não há
265/2010-TCU-Plenário), para se elementos nos autos que indiquem
comprovar o preço de mercado, a a ocorrência de sobrepreço ou su-
pesquisa deve levar em conta di- perfaturamento nas aquisições.
versas origens, como, por exemplo, Esclarecimentos sobre a seguinte
cotações com fornecedores, con- questão: motivo da desclassifi-

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cação das respectivas propostas de requisitos previstos na cláusula
das empresas J.B.L. Comércio de do termo de referência.
Eletro-eletrônicos Ltda.- ME e Tri- 7.4. A Tricomex-Eireli ofertou a
comex Importação e Exportação máquina Menno-15C1, conforme
- EIRELI - EPP (peça 3, p. 115), refe- proposta acostada à peça 26, p.
rente ao item 1 da licitação, peça 12-13. Consultando as especifi-
26, p. 3-4. cações no manual da fragmenta-
Manifestação da ANP (peça 26, p. dora, indicado pela ANP (http://
3-4) www.menno.com.br/produtos/di-
7. A empresa JBL Ltda. foi desclas- visao/escritorio/fragmentadoras-
sificada em função do não aten- -e-ortadeiras/fragmentadora-se-
creta-15c, peça 26, p. 4), também
dimento de requisitos mínimos
se verificou descumprimento da
estabelecidos no edital (Anexo 1 -
cláusula 2.1.
termo de referência, cláusula 2.1),
relativamente ao número de folhas 7.5. Dessa forma, não houve
exigido, nível de segurança, volu- irregularidade na desclassifica-
me do cesto e ruído das fragmen- ção das empresas JBL Ltda. e Tri-
tadoras (cf. peça 26, p. 4). comex-Eireli, do Pregão 8/2013.
Além disso, deve-se ressaltar que
7.1. A empresa Tricomex-Eireli foi
não foi detectado, no sítio do
desclassificada também em função
Comprasnet, elementos que in-
do não atendimento de requisitos
dicassem que essas empresas te-
mínimos estabelecidos no edital
nham se insurgido contra a recusa
(Anexo 1 - termo de referência,
de suas propostas.
cláusula 2.1), relativamente ao ní-
Esclarecimentos sobre a seguinte
vel de segurança, abertura da fen-
questão: atendimento das frag-
da, volume do cesto e regime de
mentadoras oferecidas na propos-
funcionamento (cf. peça 26, p. 4).
ta da contratada ao requisito de
Manifestação da Fragcenter Ltda. funcionamento contínuo, peça 26,
6.2. Não apresentou elementos so- p. 4.
bre a questão. Manifestação da ANP (peça 26, p. 4)
Análise 8. Para os itens 1 e 2, a Fragcenter
7.3. Comparando-se as especifi- Ltda. apresentou máquinas fabri-
cações da cláusula 2.1 do termo cadas pela Elcoman, modelo Kobra
de referência (peça 3, p. 13) com 260 TS C2 (peça 26, p. 14-15) e mo-
a proposta da empresa JBL Ltda., delo Kobra 240 SS5 (peça 26, p. 17-
encaminhada pela APN e acostada 19), respectivamente, afirmando o
à peça 26, p. 9-11, verifica-se que, cumprimento das especificações
de fato, houve descumprimento editalícias.

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Jurisprudência Selecionada

8.1. A fim de comprovar a infor- Esclarecimentos sobre a seguinte


mação fornecida pela empresa, questão: Certificação IEC
acessou-se o sítio eletrônico do fa- Manifestação da ANP (peça 26, p.
bricante (http://www.elcoman.it) e 5-6)
extraíram-se os manuais originais 9. Após publicação do edital do
de ambas as máquinas. Para o item Pregão Eletrônico 8/2013, a pri-
1 consta a seguinte característica: meira impugnação foi feita, em
"24 hour continuous duty motors: 28/2/2013, pela empresa Net Ma-
no duty cycle or timed cool down chine, em conformidade com o art.
periods", ou seja, "motores de tra- 18 do Decreto 5.450/2005. A alu-
balho contínuo 24 horas: sem ciclo dida empresa pleiteou a inserção
de trabalho ou períodos para res- de 4 alterações (peça 26, p. 41-44;
friamento". Para o item II, consta peça 3, p. 78-84), dentre elas a de
"24 hours continuous duty motor", que, nos itens I (departamental) e
ou seja, "motores de trabalho con- II (individual), houvesse a exigência
tínuo 24 horas". da certificação de segurança de
8.2. Além disso, a contratação con- acordo com a norma IEC 60.950.
diciona garantia de 12 meses aos 9.1. A sugestão foi acolhida, pois
produtos que, porventura, apre- sua obrigação é originária do De-
sentarem desempenho desconfor- creto 7.174/2010 - que regulamen-
me ou vícios. ta as compras de equipamentos
Manifestação da Fragcenter Ltda. eletrônicos e de automação (frag-
mentadoras) para administração
8.3. Não apresentou elementos so-
pública direta e indireta - em seus
bre a questão.
arts. 1º e 3º, inciso II, combinados
Análise
com a Portaria 170/2012 do Inme-
8.4. Em consulta ao sito eletrônico tro, em seus Anexos A e B.
do fabricante, indicado pela ANP,
9.2. Tendo em vista recurso in-
ratificou-se o atendimento das terposto pelas empresas Riotron
fragmentadoras ofertadas pela e Eba Office (peça 26, p. 45-53),
Fragcenter Ltda. ao requisito fun- requerendo a exclusão da exi-
cionamento contínuo. A descrição gência inserida (certificação de
nas propostas da empresa tam- segurança) - com base no enten-
bém afirma o cumprimento da exi- dimento do TCU exposto no Acór-
gência (peça 26, p. 15 e 18). dão 670/2013-TCU-Plenário, que
8.5. Dessa forma, sob esse quesito, verificou ilegalidade do Decreto
não houve irregularidade no aceite 7.174/2010 - formulou-se consul-
dos produtos oferecidos pela em- ta à Procuradoria Geral, vinculada
presa vencedora do certame. a Advocacia Geral da União (peça

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Jurisprudência Selecionada
26, p. 54-55), solicitando pronun- tuições por ele credenciadas, a fim
ciamento especializado e compe- de permitir maior competitividade
tente sobre a matéria. Em retorno, possível no certame.
a Procuradoria emitiu a Nota Téc- 9.4. Assegurada, então, a regulari-
nica 275/2013/PF-ANP/PGF/AGU dade do Pregão Eletrônico 8/2013,
(peça 26, p. 60-62), afirmando que o certame foi homologado, em
é obrigatória a observância do De- seguida foi providenciada a assi-
creto 7.174/2010 pela ANP. natura e publicação do Contrato
9.3. O entendimento exposto na 9.087/13 e emitida a respectiva
aludida nota técnica foi no sentido Nota de Empenho (peça 26, p. 65-
de que o TCU não tem competên- 73)
cia para suspender ato adminis-
Manifestação da Fragcenter Ltda.
trativo normativo expedido pelo
(peça 21)
Presidente da República, no caso
o Decreto 7.174/2010, tendo em 9.5. A certificação solicitada pela
vista que seria do Congresso Na- ANP visou à aquisição de produtos
cional tal incumbência, a teor do fabricados com exigências mínimas
art. 49 da Constituição Federal; de segurança e conforto aos usuá-
o próprio tribunal admite a certi- rios.
ficação, quando necessária para 9.6. A certificação não restringe a
atestar a qualidade do produto ou competitividade, pois o mercado
serviço, nos termos do inciso II do oferece inúmeras fragmentadoras
art. 30 da Lei 8.666/1993; é inacei- que possuem certificado de segu-
tável que o gestor não possa exigir rança ao usuário.
produtos que dêem atendimento 9.7. Decidir pela aquisição de equi-
às alíneas do inciso II do art. 3º do pamentos seguros e certificados é
Decreto 7.174/2010; o atesto de ato discricionário da ANP, que ob-
que o produto a ser adquirido pela
jetivou o cuidado do patrimônio,
ANP não possui substâncias perigo-
bem como a segurança do trabalho
sas que comprometam a saúde e o
de seus servidores.
meio ambiente deve ser realizado
9.8. A obrigatoriedade da Adminis-
por órgão qualificado/competente;
deve-se entender que a exigência tração em acatar as decisões do
é decorrente do inciso II do art. Tribunal é relativa, sendo em casos
30 da Lei 8.666/1993 (atestado de concretos e específicos na aplica-
qualidade do produto), e não uma ção da Lei 8.666/1993.
exigência para a habilitação do li- 9.9. O pregão realizado pela ANP
citante; deve ser aceito atestado teve objeto diverso daquele ana-
de qualquer instituição idônea, e lisado no âmbito do acórdão
não apenas o do Inmetro ou insti- 670/2013-TCU-Plenário, que foi a

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Jurisprudência Selecionada

aquisição de microcomputadores gatoriamente a licitante deverá


desktop. apresentar para cada modelo de
9.10. O citado acórdão foi proferi- máquina fragmentadora certifica-
do incidentalmente, portanto não ção emitida seguindo a Norma do
vincula a Administração, pois seus IEC 60.950.
efeitos são restritos apenas às par- (...)
tes daquele processo. Somente 7.1.3. A imposição da certifica-
as decisões do Supremo Tribunal ção encontra amparo legal na Lei
Federal têm força vinculante erga 8.666/93 em seu art. 30, que assim
omnes, conforme art. 102 da Cons- dispõe:
tituição Federal. Além disso, a ob-
"Art. 30. A documentação relativa
servância da cláusula de reserva
à qualificação técnica limitar-se-á
de plenário é condição de validade
a:
para as decisões das Cortes no con-
trole de constitucionalidade, nos (...)
termos do art. 97 da Constituição IV - prova de atendimento de re-
Federal. quisitos previstos em lei especial,
Análise quando for o caso."

9.11. Conforme constou no item 7 9.12. O TCU, mediante o aludido


do termo de referência do Pregão Acórdão 670/2013-TCU-Plenário,
8/2013 (peça 3, p. 16-17), abaixo manifestou-se no sentido de que
transcrito, a exigência de certifi- a exigência da certificação emitida
cação das fragmentadoras estava por instituições públicas ou priva-
amparada no art. 30, inciso IV, da das credenciadas pelo Inmetro,
Lei 8.666/93, ou seja como condi- prevista no inciso II do art. 3º do
ção de habilitação, diferentemente Decreto 7.174/2010, abaixo discri-
do entendimento consignado na minado, é ilegal, visto que estipula
Nota Técnica 275/2013 da Procu- novo requisito de habilitação por
radoria Geral, que indicou o art. II meio de norma regulamentar e
do art. 30 da Lei 8.666/1993 como restringe indevidamente o caráter
base da condição: competitivo do certame.
7. CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DO Decreto 7.174/2010
OBJETO Art. 3º Além dos requisitos dis-
7.1. Conforme determina o Decre- postos na legislação vigente, nas
to 7.174/2012 em seus art. 1º e aquisições de bens de informática
art. 3º, III e a Portaria nº 170/2012 e automação, o instrumento con-
do Inmetro - Instituto Nacional de vocatório deverá conter, obrigato-
Metrologia, Qualidade e Tecno- riamente:
logia, na fase de habilitação obri- (...)

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Jurisprudência Selecionada
II - as exigências, na fase de habili- "(...)
tação, de certificações emitidas por O art. 3º do Decreto nº. 7.174/2010
instituições públicas ou privadas possui um vício grave, posto que
credenciadas pelo Instituto Nacio- limita a competitividade sem ter
nal de Metrologia, Normalização e sido instituído por lei. Vulnerando
Qualidade Industrial - Inmetro, que assim a primeira parte do inciso
atestem, conforme regulamenta- XXI do art. 37, da Constituição Fe-
ção específica, a adequação dos deral.
seguintes requisitos:
Também colide a forma como foi
a) segurança para o usuário e ins-
instituída a regra de habilitação
talações;
prevista no art. 3º do Decreto nº.
b) compatibilidade eletromagnéti- 7.174/2010 com o disposto no art.
ca; e 30, caput e IV, da Lei nº. 8.666/93,
c) consumo de energia; haja vista que a documentação de
(...) habilitação de qualificação técnica
9.13. Cabem destacar os seguin- limita-se à prova de atendimento
tes posicionamentos exarados de requisitos previstos em "lei es-
naquela decisão plenária (Acór- pecial" (o quê flagrantemente não
dão 670/2013-TCU), que tratou é o caso), senão vejamos:
de representação contra supostas (...)
irregularidades existentes no Pre- Isto posto, o art. 3º do Decreto nº.
gão Eletrônico 162/2012, realiza- 7.174/2010 não pode ser aplicado
do pela empresa de Tecnologia e a esteio do art. 37, XXI, da CF/88
Informações da Previdência Social c/c art. 30, caput e IV, da Lei nº.
(Dataprev), cujo objeto era a aqui- 8.666/93".
sição de microcomputadores. As
(...)
fragmentadoras (bens de automa-
ção), como os mencionados micro- Do entendimento deste relator
computadores, não necessitam da Entendo assistir razão à Dataprev,
certificação em tela para serem data venia dos posicionamentos
comercializados no país, conforme contrários.
a Portaria 170/2012 do Inmetro. (...) não cabe ao poder regulamen-
Assim, as considerações exaradas tar erigir norma que restrinja o ob-
naquele acórdão aplicam-se tam- jeto a ser licitado, em substituição
bém ao caso em estudo. ao juízo de conveniência e oportu-
VOTO do Acórdão 640/2013-TCU- nidade do administrador. Esse tipo
-Plenário de restrição também só poderia
Das alegações da Dataprev resultar de disposição legal.

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(...), nada impede que a administra- 9.14. Do voto do Acórdão 670/2013,


ção adote como critério de pontua- cujo excerto foi acima reproduzido,
ção técnica o certificado expedido verifica-se que a ANP até poderia,
pelo Inmetro ou por instituições discricionariamente e motivada-
conveniadas. Ou, de forma ain- mente, exigir que o objeto licitado
da mais rigorosa, mas motivada, possuísse as características que a
que o objeto a ser licitado possua certificação busca aferir (seguran-
as características que a certifica- ça para o usuário e instalações,
ção busca aferir (segurança para o compatibilidade eletromagnética
usuário e instalações, compatibili- e consumo de energia), mas não
dade eletromagnética e consumo poderia restringir o fornecimento
de energia). Nesta hipótese, a uti- somente àquelas empresas que
lização do certificado pelo licitante detivessem tal certificado.
seria facultativa, mas tornaria mais 9.15. A exigência de certificação no
simples o processo de demonstra- Pregão 8/2013 levou à desclassifi-
ção da compatibilidade do produto cação da representante, empresa
ofertado com o objeto licitado. Eba Office Comércio de Máquinas
Para Escritório Ltda. - EPP, unica-
Ademais, fosse admitida a possibi-
mente por não lograr cumprir com
lidade de o Inmetro exigir a certi-
essa condição, conforme se de-
ficação como condição prévia para
preende da ata acostada à peça 3,
a comercialização de bens de infor-
p.145. As demais empresas foram
mática no País, lícito seria o edital
desclassificadas por descumprirem
de licitação expressamente exigir
outros requisitos ou esse da cer-
tais certificados, uma vez que o ad-
tificação combinado com outros
ministrador estaria apenas se asse-
(peça 3, p. 113-119 e 141-149).
gurando que o produto atende às
9.16. Registra-se que a Eba Ltda.
especificações definidas para sua
ofertou as fragmentadoras do item
comercialização.
1 pelo valor total de R$121.870,00
Mas não é o caso que ora se exa-
e as do item 2 pelo valor de R$
mina.
23.499,99 (peça 3, p. 45), enquan-
Portanto, devem ser acolhidas as to que o valor negociado com a
alegações da Dataprev para con- Fragcenter Ltda. foi de 118.800,00
siderar improcedente a presen- e 30.000,00, respectivamente para
te representação, uma vez que a o item 1 e 2 (peça 3, p. 150) . Co-
exigência de certificação prevista tejando-se esses valores, há uma
no inciso II do art. 3º do Decreto diferença a menor da proposta da
7.174/2010 não encontra respaldo Eba Ltda., relativamente ao item 2,
legal em torno de R$ 6.500,00.

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9.17 Como se vê, a exigência in- de sua missão institucional, soa
devida pode ter causado compro- estapafúrdia a tese ora sustentada
metimento ou restrição do caráter pela Petrobras de que um parecer
competitivo do certame. da AGU, após o beneplácito do
9.18. No que se refere à alegação de Chefe do Poder Executivo Federal,
impossibilidade de suspensão de teria efeito vinculante sobre os de-
ato administrativo pelo TCU, traz- mais poderes e sobre o Tribunal de
-se excerto do relatório do Acór- Contas da União. Especificamente
dão 3.613/2013-Primeira Câmara, quanto ao TCU, cumpre assinalar
que esta Corte de Contas haure
exarado na sessão de 4/6/2013,
suas competências diretamente da
no qual restou consignado posicio-
Constituição Federal e que, por-
namento acerca da possibilidade
tanto, não pode ter sua atuação
de afastamento, pelo Tribunal, da
condicionada ou limitada por ato
aplicação de ato normativo expe-
de vontade do Presidente da Repú-
dido pelo executivo. No aludido
blica.
acórdão também ficou registrado
que os pareceres da Advocacia Ge- Ora, se esta Corte de Contas, como
ral da União não vinculam o TCU, já reconheceu o excelso STF, pode,
no exercício de sua competência
sendo oportuno evidenciar tam-
de fiscalizar a atividade da Adminis-
bém esse entendimento, tendo em
tração Pública Federal, examinar
vista a Nota Técnica 275/2013/PF-
a constitucionalidade de leis pro-
-ANP/PGF/AGU, encaminhada pela
manadas do Congresso Nacional,
ANP para justificar a exigência da
afastando a incidência das que ti-
Certificação IEC 60.950:
ver por inconstitucionais, a fortiori,
Os pronunciamentos do AGU com muito mais razão, atos norma-
quanto à aplicação do Decreto tivos de menor hierarquia poderão
2.745/1998, ainda que corrobora- ser examinados e ter sua incidência
dos pelo Exmo. Presidente da Re- afastada pelo Tribunal de Contas
pública, vinculam tão somente os da União, como é o caso de decre-
órgãos do Poder Executivo, não tos do Poder Executivo e também
tendo autoridade para alcançar de pareceres da AGU, chancelados
o TCU, cuja competência e inde- pelo Presidente da República, que
pendência de instância estão de- versem conteúdo considerado in-
lineadas na Constituição Federal." constitucional ou ilegal pela Corte
(grifou-se) de Contas." (grifou-se)
Com as devidas vênias e sem ne- Portanto, a alegação de que o Pa-
nhum demérito ao brilhante tra- recer AGU AC-15 dá validade à apli-
balho que desenvolve a Advocacia- cação do Decreto 2.745/98 deve
-Geral da União no cumprimento ser rejeitada.

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Jurisprudência Selecionada

9.19. Vê-se, pois, que o TCU pode 5.450/2005 permite que qualquer
afastar a incidência de atos norma- pessoa impugne o ato convocatório
tivos, como o fez no caso do Acór- do pregão eletrônico. Sendo assim,
dão 670/2013. não serão analisados os esclareci-
9.20. Com relação à obrigatorieda- mentos apresentados pela Fragcen-
de da Administração em acatar as ter Ltda. relativamente a esses pon-
decisões do Tribunal, a Súmula TCU tos (peça 21).
222 dispõe que "as Decisões do Tri- 11. Consoante o art. 276 do RI/
bunal de Contas da União, relativas TCU, o Relator poderá, em caso
à aplicação de normas gerais de li- de urgência, de fundado receio de
citação, sobre as quais cabe priva- grave lesão ao Erário, ao interesse
tivamente à União legislar, devem público, ou de risco de ineficácia da
ser acatadas pelos administradores decisão de mérito, de ofício ou me-
dos Poderes da União, dos Estados, diante provocação, adotar medida
do Distrito Federal e dos Municí- cautelar, determinando a suspen-
pios". Ademais, o Pregão 8/2013 da são do procedimento impugnado,
ANP está sendo, no momento, ana- até que o Tribunal julgue o mérito
lisado pelo TCU, sendo as conclu- da questão. Tal providência deverá
ser adotada quando presentes os
sões retiradas neste caso concreto.
pressupostos do fumus boni iuris e
9.21. Dessa forma, a irregularida-
do periculum in mora.
de em estudo não foi afastada pela
12. O contrato oriundo do Pre-
ANP, nem pela Fragcenter Ltda.
gão Eletrônico 8/2013 já foi ce-
10. A análise consubstanciada na lebrado em 9/12/2013 (Contrato
instrução à peça 8 (p. 4) conside- 9.087/2013-ANP - peça 26, p. 65-
rou que a representação não veio 71), tendo a contratada entregue,
acompanhada dos indícios concer- em 27/12/2013, as 12 unidades de
nentes ao apontamento de que as fragmentadoras referentes ao item
empresas Prosperar, Net Machines 2 da licitação, as quais foram rece-
e Fragcenter possuem sócios com bidas provisoriamente pela ANP
relação de parentesco, bem como (peça 26, p. 6), razão pela qual se
ao apontamento de que houve uti- aventou, na instrução à peça 8, a
lização, pelas empresas Prosperar existência do perigo da demora ao
e Fragcenter, da empresa Net Ma- reverso. Ademais, frente à pequena
chines para solicitar impugnação monta da diferença da proposta da
de edital de licitação, não tendo Eba Ltda. em relação à da empre-
abordado, assim, tais fatos na oitiva sa vencedora (cf. item 9.16 acima),
da ANP. Quanto a essa última ques- não se verifica o interesse público
tão, a análise ponderou, também, em atender ao pedido da represen-
que o art. 18, caput, do Decreto tante para anular o certame, com

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efeitos retroativos à fase interna da recer da AGU e que não foram evi-
elaboração do edital (peça 8, p. 3). denciados prejuízos significativos ao
13. Quanto ao direito pleiteado pela interesse público, é suficiente dar
representante, deve-se registrar ciência à ANP acerca da falta de am-
que, embora tenha restado eviden- paro em lei para a adoção da certifi-
ciada a irregularidade na exigência cação da Portaria Inmetro 170/2012
da Certificação IEC 60.950 no Pre- como requisito de habilitação.
gão 8/2013 da ANP, o que se obser- 16. Também é pertinente dar ciên-
va é que, inicialmente, as empresas cia à ANP, em vista da análise rea-
participantes da licitação concorda- lizada nos itens 6.4 a 6.6 acima, de
ram com os termos do edital e se que para se comprovar o preço de
mantiveram silentes quanto a essa mercado, a pesquisa deve levar em
previsão, não se valendo do direito conta diversas origens, como, por
de impugnar o ato convocatório. exemplo, cotações com fornecedo-
Somente em momento posterior, res, contratos anteriores do próprio
ao se sentirem prejudicadas com a órgão, contratos de outros órgãos,
condição, é que duas das empresas valores registrados no Sistema Inte-
licitantes (Riotron e a Eba) se mani- grado de Administração de Serviços
festaram contra essa disposição do Gerais e nas atas de registro de pre-
termo de referência, interpondo re- ços da Administração Pública Fede-
curso no âmbito do pregão. Seus re- ral, de forma a possibilitar a estima-
cursos administrativos consistiram, tiva mais real possível. Além disso, a
na verdade, em tentativa de impug- Agência deve ser cientificada acerca
nação do edital, o que deveria ter do alcance das decisões do TCU.
ocorrido até dois dias úteis antes da 17. Considerando, então, que o
data fixada para abertura da sessão estado deste processo permite a
pública, nos termos do art. 18 do formulação imediata da proposta
Decreto 5.450/2005. de mérito, propõe-se, entre outros
14. Ante o exposto nos itens 12 e 13 encaminhamentos, considerar a
acima, não há que se falar em con- representação parcialmente proce-
cessão de cautelar, já que ausentes dente, com fulcro no art. 276, §6º,
os pressupostos para a sua adoção, in fine, do RI/TCU.
não se vislumbrando, portanto, re- CONCLUSÃO
ceio de grave lesão ao erário, nem 18. Mediante Despacho exarado
ao interesse público, nem risco de em 3/1/2014, acostado à peça 10
ineficácia da decisão de mérito. dos autos, o presente processo foi
15. Considerando que a irregulari- conhecido como representação,
dade na exigência da Certificação uma vez atendidos os requisitos de
IEC 60.950 estava amparada em pa- admissibilidade previstos nos arts.

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Jurisprudência Selecionada

235 e 237, inciso VII, do Regimento 18.2.4. alguns licitantes foram inabi-
Interno deste Tribunal (RI/TCU), c/c litados por não possuírem a certifi-
o art. 113, §1º, da Lei 8.666/1993. cação requerida no edital.
18.1. No que tange ao requerimen- 18.3. Diante dos fatos apurados e
to de medida cautelar, verifica-se das informações constantes dos
que não deve ser acolhido, por não autos, verifica-se que as alegações
estarem presentes nos autos os re- da representante são parcialmente
quisitos necessários. procedentes. Assim, observa-se a
18.2. A representante insurgiu-se necessidade de expedição de ciên-
cia à ANP, conforme parágrafos 15
contra o resultado do Pregão Eletrô-
e 16, acima.
nico 8/2013, que declarou a empre-
sa Fragcenter Comércio e Serviço 18.4. Pelo exposto, propõe-se inde-
Ltda. - ME vencedora do certame, ferir o pedido de cautelar, uma vez
alegando, em suma, que ausentes os requisitos necessários
à sua concessão, e, no mérito, con-
18.2.1 os sócios de empresas que
siderar a presente representação
solicitaram alteração nas especifi-
parcialmente procedente, com ful-
cações das fragmentadoras (Pros-
cro no do art. 276, §6º, do mesmo
perar, Net Machines e Fragcenter)
normativo.
possuem relação de parentesco
BENEFÍCIOS DA AÇÃO DE CONTRO-
em primeiro grau, além de mesma
LE
pessoa atuando como procurado-
ra/representante da Prosperar e da 19. Garantir o livre direito de repre-
Fragcenter; sentação ao TCU de empresa lici-
tante em certame da Administração
18.2.2. essas três empresas do mes- Pública Federal, incentivando, as-
mo grupo apresentaram orçamen- sim, o controle social das licitações
tos na fase de pesquisa de preços; públicas.
18.2.3. há a utilização frequente, PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
por esse grupo de empresas, da Net 20. Ante todo o exposto, subme-
Machines - que não pode participar tem-se os autos à consideração su-
de licitações públicas por estar com perior propondo:
débito previdenciário - para solicitar a) indeferir o requerimento de
impugnação de edital de licitação e medida cautelar, formulado pela
sugerir mudança nas especificações Eba Office Comércio de Máquinas
das fragmentadoras, direcionando Para Escritório Ltda. - EPP (CNPJ
para o produto que vendem (pentes 09.015.414/0001-69), tendo em vis-
e engrenagens metálicas, funciona- ta a inexistência dos pressupostos
mento contínuo e certificados IEC); necessários para adoção da referida
e medida;

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Jurisprudência Selecionada
b) considerar, no mérito, parcial- administradores dos Poderes da
mente procedente a representação União, dos Estados, do Distrito Fe-
formulada pela Eba Office Comércio deral e dos Municípios;
de Máquinas Para Escritório Ltda. - d) comunicar à representante a de-
EPP; liberação que vier a ser adotada; e
c) dar ciência à Agência Nacional do e) arquivar os presentes autos, nos
Petróleo, Gás Natural e Biocombus- termos do art. 237, parágrafo único,
tíveis (ANP) sobre o seguinte: c/c o art. 250, inciso II, do Regimen-
c.1) a adoção da certificação IEC to Interno/TCU."
60.950, fundamentada na Porta- 2. O Diretor da 1ª DT, ao aquiescer
ria Inmetro 170/2012 e Decreto integralmente à proposta de enca-
7.174/2010, constante do Edital do minhamento alvitrada na instrução,
Pregão Eletrônico 8/2013, como re- manifestou-se quanto à posterior
quisito de habilitação, não encontra solicitação de reconhecimento da
amparo em lei; empresa Fragcenter Comércio e
c.2) consoante entendimento des- Serviços Ltda. - ME como parte inte-
te Tribunal de Contas da União ressada, nos seguintes termos:
(Acórdãos 819/2009-TCU-Plená- "1.1. Conforme consta do docu-
rio, 1685/2010-TCU-2ª Câmara e mento à aludida peça, a empresa
265/2010-TCU-Plenário), para se Fragcenter Comércio e Serviços
comprovar o preço de mercado, a Ltda. - ME solicita ao Ministro Re-
pesquisa deve levar em conta di- lator o "seu cadastramento como
versas origens, como, por exemplo, parte interessada no sistema do
cotações com fornecedores, con- TCU", para que possa acompanhar
tratos anteriores do próprio órgão, todos os atos processuais de seu
contratos de outros órgãos, valores interesse, visto ser vencedora do
registrados no Sistema Integrado pregão eletrônico em apreço nos
de Administração de Serviços Ge- presentes autos.
rais e nas atas de registro de preços 1.2. O art. 144, §2º, do Regimento
da Administração Pública Federal, Interno do TCU (RITCU) define inte-
de forma a possibilitar a estimativa ressado como sendo "aquele que,
mais real possível; em qualquer etapa do processo,
c.3) conforme disposto no Enun- tenha reconhecida, pelo relator ou
ciado da Súmula - TCU - 222, as pelo Tribunal, razão legítima para
Decisões do Tribunal de Contas da intervir no processo".
União, relativas à aplicação de nor- 1.3. A instrução à peça 30 infor-
mas gerais de licitação, sobre as ma, em seu item 12, que a refe-
quais cabe privativamente à União rida empresa não somente foi a
legislar, devem ser acatadas pelos licitante vencedora do certame li-

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Jurisprudência Selecionada

citatório como já foi contratada em 2. A empresa Eba Office Comércio


9/12/2013 pela Agência Nacional do de Máquinas para Escritório Ltda.-
Petróleo, Gás Natural e Biocombus- EPP, na condição de representante,
tíveis (ANP), tendo, inclusive, entre- suscitou possíveis irregularidades
gue os bens referentes ao item 2 da no âmbito do Pregão Eletrônico
licitação em 27/12/2013. 8/2013, realizado pela Agência Na-
cional do Petróleo, Gás Natural e
1.4. Percebe-se, portanto, estar
Biocombustíveis (ANP), tendo por
configurado o interesse da empresa
objeto a "aquisição de máquinas
Fragcenter em intervir nos presen-
fragmentadoras de papéis".
tes autos, visto ter interesse legí-
timo de defender seus interesses 3. Manifesto-me de acordo com os
fundamentos expendidos na ins-
decorrentes do contrato celebrado
trução produzida pela Selog, ado-
(Contrato 9.087/2013-ANP - peça
tando-os, desde já, como minhas
26, p. 65-71).
razões de decidir, sem prejuízo de
2. Diante do exposto, encaminhem- aduzir as considerações que se se-
se os autos à consideração do Sr. guem.
Secretário da Selog, acrescentan-
4. Especificamente quanto às exi-
do a proposta de que, com base
gências de que "as fragmentadoras
no art. 144, §2º, do Regimento
a serem adquiridas possuam engre-
Interno do TCU, a Fragcenter Co- nagens e pentes metálicos, e não
mércio e Serviços Ltda. - ME (CNPJ plásticos, além de funcionamento
12.353.625/0001-16) seja reconhe- contínuo", os esclarecimentos ofe-
cida como parte interessada nos recidos em sede de oitiva prévia
presentes autos." mostraram-se aptos a afastar as
3. O Secretário da Selog manifestou irregularidades apontadas. Como
sua anuência à proposição do Dire- bem asseverou a Selog, a ANP de-
tor. monstrou que tais exigências co-
É o relatório adunam-se com as especificações
exigidas em, pelo menos, 12 licita-
Voto:
ções realizadas por órgãos públicos,
VOTO entre 2011 e 2013 (peça 26, p. 8).
A presente representação atende 5. Acerca da "comprovação de
aos pressupostos do art. 237, VII e que os preços das fragmentadoras
parágrafo único, do Regimento In- contratadas estão de acordo com
terno deste Tribunal, c/c o art. 113, os preços efetivamente pratica-
§1º, da Lei nº 8.666/93, já tendo dos pelo mercado", sem reparos
sido conhecida mediante despacho a conclusão da Selog: "Como as
inserto à peça 10 dos autos. máquinas foram adquiridas abaixo

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do preço orçado, e, ainda, como de representação contra supostas
a representante não demonstrou irregularidades existentes no Pre-
desconformidade dos preços da gão Eletrônico 162/2012, realiza-
Fragcenter Ltda. com os praticados do pela empresa de Tecnologia e
no mercado, não há elementos nos Informações da Previdência Social
autos que indiquem a ocorrência de (Dataprev), cujo objeto era a aqui-
sobrepreço ou superfaturamento sição de microcomputadores. As
nas aquisições." (grifei) fragmentadoras (bens de automa-
6. No que concerne à "Certificação ção), como os mencionados mi-
IEC", a Selog foi precisa na análise da crocomputadores, não necessitam
matéria: da certificação em tela para serem
"9.11. Conforme constou no item 7 comercializados no país, conforme
do termo de referência do Pregão a Portaria 170/2012 do Inmetro. As-
8/2013 (peça 3, p. 16-17), abaixo sim, as considerações exaradas na-
transcrito, a exigência de certifica- quele acórdão aplicam-se também
ção das fragmentadoras estava am- ao caso em estudo.
parada no art. 30, inciso IV, da Lei [...]
8.666/93, ou seja como condição de 9.14. Do voto do Acórdão 670/2013,
habilitação (...). cujo excerto foi acima reproduzido,
[...] verifica-se que a ANP até poderia,
9.12. O TCU, mediante o Acórdão discricionariamente e motivada-
670/2013-TCU-Plenário, manifes- mente, exigir que o objeto licitado
tou-se no sentido de que a exi- possuísse as características que a
gência da certificação emitida por certificação busca aferir (segurança
instituições públicas ou privadas para o usuário e instalações, com-
credenciadas pelo Inmetro, previs- patibilidade eletromagnética e con-
ta no inciso II do art. 3º do Decreto sumo de energia), mas não poderia
7.174/2010, abaixo discriminado, é restringir o fornecimento somente
ilegal, visto que estipula novo re- àquelas empresas que detivessem
quisito de habilitação por meio de tal certificado.
norma regulamentar e restringe in- 9.15. A exigência de certificação no
devidamente o caráter competitivo Pregão 8/2013 levou à desclassifica-
do certame. ção da representante, empresa Eba
Office Comércio de Máquinas Para
[...]
Escritório Ltda. - EPP, unicamente
9.13. Cabem destacar os seguin- por não lograr cumprir com essa
tes posicionamentos exarados condição, conforme se depreende
naquela decisão plenária (Acór- da ata acostada à peça 3, p.145. As
dão 670/2013-TCU), que tratou demais empresas foram desclassi-

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ficadas por descumprirem outros ção e, via de consequência, do con-


requisitos ou esse da certificação trato dela decorrente.
combinado com outros (peça 3, p. 9. Considerando que a irregularida-
113-119 e 141-149). de na exigência da Certificação IEC
9.16. Registra-se que a Eba Ltda. 60.950 estava amparada em pare-
ofertou as fragmentadoras do item cer da AGU, entendo ser suficiente,
1 pelo valor total de R$121.870,00 na esteira da proposição da Selog,
e as do item 2 pelo valor de R$ dar ciência à ANP acerca da falta
23.499,99 (peça 3, p. 45), enquan- de amparo legal para a adoção da
to que o valor negociado com a certificação da Portaria Inmetro
Fragcenter Ltda. foi de 118.800,00 170/2012 como requisito de habi-
litação.
e 30.000,00, respectivamente para
o item 1 e 2 (peça 3, p. 150). Co- 10. Urge destacar ainda, como
tejando-se esses valores, há uma bem pontuou a Selog, que a aná-
diferença a menor da proposta da lise consubstanciada na instrução
Eba Ltda., relativamente ao item 2, à peça 8 (p. 4) considerou que a
em torno de R$ 6.500,00." representação não veio acompa-
nhada dos indícios concernentes
7. É fato que a irregularidade em
ao apontamento de que as em-
apreço não foi afastada pela ANP,
presas Prosperar, Net Machines e
nem pela Fragcenter Ltda. Toda-
Fragcenter possuem sócios com
via, o contrato oriundo do Pre- relação de parentesco, bem como
gão Eletrônico 8/2013 já foi ce- ao apontamento de que houve uti-
lebrado em 9/12/2013 (Contrato lização, pelas empresas Prosperar
9.087/2013-ANP - peça 26, p. 65- e Fragcenter, da empresa Net Ma-
71), tendo a contratada entregue, chines para solicitar impugnação
em 27/12/2013, as 12 unidades de de edital de licitação, não tendo
fragmentadoras referentes ao item assim tais fatos sido abordados na
2 da licitação. oitiva da ANP.
8. Nesse contexto, a pequena mon- 11. Pelo exposto, propõe-se inde-
ta da diferença da proposta da Eba ferir o pedido de cautelar, uma vez
Ltda. em relação à da empresa ven- ausentes os requisitos necessários
cedora do pregão (em torno de R$ à sua concessão, e, no mérito, con-
6.500,00 para o item 2) e a ausên- siderar a representação parcial-
cia de indícios de sobrepreço no mente procedente.
certame licitatório justificam sim 12. Por derradeiro, anuindo à ma-
a não adoção da medida extrema nifestação do Diretor da Selog,
por parte deste Tribunal, qual seja, entendo restar configurado o inte-
a declaração de nulidade da licita- resse da Fragcenter em intervir nos

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presentes autos. A referida empre- inexistência dos pressupostos ne-
sa não somente foi a vencedora do cessários à sua adoção;
Pregão Eletrônico 8/2013 como já 9.2. no mérito, considerar a repre-
fora contratada pela ANP, tendo, sentação parcialmente proceden-
inclusive, entregue os bens refe- te;
rentes ao item 2 da licitação. 9.3. dar ciência à ANP de que:
Ante o exposto, VOTO por que seja 9.3.1. a exigência da certificação
adotada a deliberação que ora IEC 60.950 como requisito de habi-
submeto à apreciação deste Cole- litação, fundamentada na Portaria
giado. Inmetro 170/2012 e no Decreto
TCU, Sala das Sessões Ministro Lu- 7.174/2010, não encontra amparo
em lei;
ciano Brandão Alves de Souza, em
3 de setembro de 2014. 9.3.2. para se comprovar o preço
de mercado, a pesquisa deve levar
JOSÉ JORGE
em conta diversas origens, como,
Relator por exemplo, cotações com forne-
Acórdão: cedores, contratos anteriores do
VISTOS, relatados e discutidos es- próprio órgão, contratos de outros
tes autos de representação for- órgãos, valores registrados no Sis-
mulada pela empresa Eba Office tema Integrado de Administração
Comércio de Máquinas para Escri- de Serviços Gerais e nas atas de re-
gistro de preços da Administração
tório Ltda.-EPP, apontando possí-
Pública Federal, de forma a possibi-
veis irregularidades no âmbito do
litar a estimativa mais real possível
Pregão Eletrônico 8/2013, realiza-
(Acórdãos 819/2009-TCU-Plená-
do pela Agência Nacional do Petró-
rio, 1685/2010-TCU-2ª Câmara e
leo, Gás Natural e Biocombustíveis
265/2010-TCU-Plenário);
(ANP), tendo por objeto "aquisição
9.4. com base no art. 144, §2º, do
de máquinas fragmentadoras de
Regimento Interno do TCU, re-
papéis, departamentais e individu-
conhecer a empresa Fragcenter
ais".
Comércio e Serviços Ltda. - ME
ACORDAM os Ministros do Tribu- (12.353.625/0001-16) como parte
nal de Contas da União, reunidos interessada nos presentes autos;
em Sessão Plenária, ante as razões 9.5. encaminhar cópia deste acór-
expostas pelo Relator, em: dão, bem como do relatório e do
9.1. indeferir o pedido de medida voto que o fundamentam, à repre-
cautelar formulado pela Eba Office sentante, à ANP e à empresa con-
Comércio de Máquinas Para Escri- tratada;
tório Ltda. - EPP, tendo em vista a 9.6. arquivar o processo

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Jurisprudência Selecionada

Notas:
TCU: a melhor instituição pública para se trabalhar
O Tribunal de Contas da União (TCU) foi eleito, pela 18ª edição do Guia
Você S/A – As Melhores Empresas para Você Trabalhar 2014, a melhor
instituição pública para se trabalhar. A cerimônia de premiação foi reali-
zada no Auditório Ibirapuera, na capital paulista.

Em 2014, 348 empresas foram avaliadas, incluindo 17 órgãos e institui-


ções públicas. Desse total, 184 foram pré-classificadas e receberam vi-
sitas técnicas da equipe de jornalistas da revista. O guia apresentou as
empresas que mais investem – e alcançam resultados – na satisfação e
na motivação de seus colaboradores.

Publicado pela revista Você S/A, o Guia Você S/A é resultado da maior
pesquisa sobre clima organizacional realizada no País e é uma das princi-
pais referências em carreira e finanças pessoais. A cada ano, ele elabora
estudo e detalhada pesquisa, em parceria com a Fundação Instituto de
Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP).

A pesquisa de avaliação das melhores instituições no setor público ava-


liou o Índice de Felicidade no Trabalho, composto pelo Índice de Quali-
dade do Ambiente de Trabalho (70%) e o Índice da Qualidade da Gestão
de Pessoas (30%).

O Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho é formado por dados


relativos à visão do servidor sobre a instituição e obtido por diagnóstico
de clima organizacional.

O Índice da Qualidade da Gestão de Pessoas é formado por dados pres-


tados pela instituição sobre seus processos de gestão de pessoas e por
visita de jornalista da revista à instituição pré-classificada.1

1 Fonte: Portal - Agência TCU

154 | www.negociospublicos.com.br
doutrina

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Doutrina

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CERTIDÃO NEGATIVA DE


DÉBITOS TRABALHISTAS (CNDT).

RONNY CHARLES LOPES DE TORRES

Advogado da União. Professor/palestrante. Mestre em Direito Econômico. Pós-graduado


em Direito tributário. Pós-graduado em Ciências Jurídicas. Autor de diversos livros jurídi-
cos, entre eles: Leis de licitações públicas comentadas (5ª Edição. Ed. JusPodivm); Licitações
públicas: Lei nº 8.666/93 (5ª Edição. Coleção Leis para concursos públicos: Ed. Jus Podivm);
Direito Administrativo (3ª Edição. Ed. Jus Podivm) e Terceiro Setor: entre a liberdade e o
controle (Ed. Jus Podivm).

1. Introdução. 2. Constitucionalidade da regularidade trabalhista. 3. Certidão traba-


lhista e exigência em qualquer contratação. 4. Certidão trabalhista e contratos em
vigência. 5. Conclusão.

1. Introdução

A Lei nº 12.440/2001 gerou alterações na Lei nº 8.666/93, acrescentando


um novo elemento à antiga regularidade fiscal prevista no inciso IV do
artigo 27 da Lei Geral de Licitações, que passou a englobar a regularidade
fiscal e trabalhista.
Se, nos termos delineados pelo STF (ADI 173-6/DF), a regularidade fiscal
implica exigibilidade da quitação do tributo, quando ele não for objeto
de discussão judicial ou administrativa, a regularidade trabalhista será

156 | www.negociospublicos.com.br
demonstrada mediante a apresentação de certidão negativa de débitos
trabalhistas (CNDT).
O interessado não obterá a CNDT, quando em seu nome constar:
I – o inadimplemento de obrigações estabelecidas em sentença condenatória
transitada em julgado, proferida pela Justiça do Trabalho ou em acordos judiciais
trabalhistas, inclusive no concernente aos recolhimentos previdenciários, a
honorários, a custas, a emolumentos ou a recolhimentos determinados em lei; ou
II – o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados
perante o Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia.
Verificada a existência de débitos garantidos por penhora suficiente ou
com exigibilidade suspensa, será expedida Certidão Positiva de Débitos
Trabalhistas, em nome do interessado, com os mesmos efeitos da CNDT,
que possui prazo de validade de 180 dias e certificará a empresa em relação
a todos os seus estabelecimentos, agências e filiais.
As alterações geradas pela Lei federal nº 12.440/2011 entraram em vigor
180 dias após a sua publicação. Em geral, a referida Lei teve como intuito
dar maior efetividade à execução trabalhista, uma vez que a empresa não
cumpridora das decisões da Justiça do Trabalho passará a constar em um
cadastro público de devedores, permitindo tanto aos órgãos públicos como
a qualquer pessoa saber se ela “respeita os direitos de seus empregados”.
Para o âmbito das licitações, parece evidente o intuito de evitar a contratação
de empresas inadimplentes com seus trabalhadores, problemática que há
anos vem preocupando as gestões públicas, notadamente em contratações
de serviços terceirizados, nas quais o Poder Público vem sendo condenado
a responder subsidiariamente por débitos trabalhistas entre as empresas
(contratadas pela Administração) e seus empregados. Com tal disposição
legal, muda-se o foco no combate à inadimplência dessas empresas de
serviços terceirizados, contratadas pelo Poder Público. Antes se apostou em
um maior controle das contratações (visão que se demonstrou ineficiente,
por não resolver o problema e gerar outros, como a sobrecarga dos
servidores responsáveis pela fiscalização desses contratos), agora busca-
se filtrar melhor as empresas que serão contratadas pela Administração,
atitude que já reputávamos outrora como a mais correta.
É necessário, contudo, ter cautela na execução de tais exigências. Isso
porque a Certidão deve atestar a empresa em relação a todos os seus
estabelecimentos, agências e filiais. Dessa imposição podem ser apontadas
duas dificuldades: primeiramente, a preocupação sobre a efetividade
desse controle tão abrangente, com certificação que consiga rastrear tais
imputações, em quaisquer débitos existentes perante a Justiça do Trabalho,
Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia, nos
limites legais; em segundo, preocupa que a exigência de manutenção
das condições de habilitação, em contratos vigentes (firmados após a
entrada em vigor da disposição), gere entendimento que possa prejudicar
o pagamento das contratações em andamento, por conta de débitos

www.negociospublicos.com.br | 157
trabalhistas, assim que eles imediatamente se enquadrem nas disposições
impeditivas à emissão de Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas.
Doutrina

Nesse sentido, vale citar recente Acórdão nº 964/2012, em que o TCU,


sob o argumento de que o contratado deverá manter, durante a execução
contratual, todas as condições de habilitação e de qualificação exigidas na
licitação, determinou que:
“...todas as unidades centrais e setoriais do Sistema de Controle Interno
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União que orientem
os órgãos e entidades a eles vinculados no sentido de que exijam das
empresas contratadas, por ocasião de cada ato de pagamento, a
apresentação da devida certidão negativa de débitos trabalhistas, de
modo a dar efetivo cumprimento às disposições constantes dos artigos
27, IV, 29, V, e 55, XIII, da Lei nº 8.666, de 1993, c/c os artigos 1º e 4º da Lei
nº 12.440, de 7 de julho de 2011, atentando, em especial, para o salutar
efeito do cumprimento desta nova regra sobre o novo Enunciado 331 da
Súmula de Jurisprudência do TST, sem prejuízo de que a Segecex oriente
as unidades técnicas do TCU nesse mesmo sentido”
Tendo em vista posicionamentos anteriores do STJ, acerca da manutenção
da regularidade fiscal, parece-nos que deve ser estabelecido o raciocínio
de que eventual impedimento gerado pela impossibilidade de emissão
da CNDT, por parte da empresa, pode gerar a rescisão contratual ou
a aplicação de sanções, mas não a retenção dos valores devidos pelos
serviços legitimamente prestados ou bens oferecidos.
Vale lembrar que, percebendo a retenção de crédito como uma sanção ilícita,
a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento
de que “se não consta do rol do art. 87 da Lei 8.666/93, a retenção do
pagamento pelos serviços prestados, não cabe aplicar tal sanção, sob
pena de violação ao princípio constitucional da legalidade”. (STJ - AGRESP
200800838427. Rel. Min. Castro Meira. DJE DATA:10/09/2009).

2. Constitucionalidade da regularidade trabalhista

A constitucionalidade da exigência de regularidade trabalhista poderá


ser questionada em nossos Tribunais. Recentemente, nesse sentido, a CNI
ajuizou a ADI 4716. Um argumento interessante, por parte daqueles que
criticam a constitucionalidade da norma, está relacionado ao fato de que o
inciso XI do artigo 37 da Constituição federal não faz remissão a esta espécie
de habilitação, para as licitações públicas, mas apenas para a habilitação
técnica e econômica. Vejamos o dispositivo:
Art. 37. (...)

158 | www.negociospublicos.com.br
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure

Doutrina
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Este raciocínio já era defendido por ilustre doutrina, como Di Pietro, em


relação à regularidade fiscal, também não citada no dispositivo constitucional.
Em que pese percebermos correta preocupação doutrinária com excessivas
exigências na habilitação, que restringem a competitividade, a redação do
dispositivo constitucional não deve ser percebida sob um foco literal. A não
inclusão ou referência às exigências de regularidade fiscal ou trabalhista não
gera óbice constitucional à imposição de tais habilitações.
Parece mais importante perceber a “função” da cláusula apontada pelo
constituinte. O dispositivo, ao restringir as exigências habilitatórias (“... nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica
e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.”),
buscava impedir que a habilitação, inclusive em relação às exigências técnicas
e econômicas, fosse utilizada como um instrumento desproporcionalmente
restritivo à competitividade. Por isso que, segundo o constituinte, essas
exigências devem se limitar ao conteúdo indispensável “à garantia do
cumprimento das obrigações”.
Mesmo as exigências legais de qualificação técnica e econômica devem
guardar consonância com os princípios da razoabilidade/proporcionalidade.
Em outras palavras, as exigências de habilitação devem sempre ser adequadas
ao fim desejado: “a garantia do cumprimento das obrigações”. Este é o
vetor fundamental que deve ser respeitado nas exigências de habilitação
apresentadas pelos certames licitatórios, inclusive as regularidades fiscais e
trabalhistas.
Em princípio, não identificamos inconstitucionalidade na criação da
regularidade trabalhista, por lei federal. O legislador infraconstitucional
pode sim estabelecer exigências de habilitação além das previstas no
texto constitucional (técnica e econômica), todavia, sempre respeitando o
parâmetro estabelecido pelo constituinte, que impõe específica “função” às
exigências de habilitação.
Seja em relação às qualificações técnicas e econômicas, à regularidade
trabalhista, à regularidade fiscal ou outra exigência de habilitação criada pelo
legislador federal, suas aplicações nas licitações, por imposição do constituinte,
devem sempre respeitar uma função primordial, qual seja, a “garantia do
cumprimento das obrigações”. Caso a restrição habilitatória exceda tal função,
será inconstitucional e impugnável pelo licitante interessado.

www.negociospublicos.com.br | 159
3. Certidão trabalhista e exigência em qualquer contratação

É importante indagar: tal requisito de habilitação (regularidade trabalhista) é


constitucionalmente adequado a quaisquer contratações?
A previsão legal admite a exigência de regularidade trabalhista a quaisquer
pretensões contratuais, dentre elas: aquisições, serviços e obras. Nada
obstante, as exigências de habilitação se submetem aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, que geram limitações materiais à ação
da Administração Pública.
Como destacou o STF, o exame da adequação de determinado ato estatal
ao princípio da proporcionalidade, exatamente por viabilizar o controle
de sua razoabilidade, inclui-se no âmbito da própria fiscalização de
constitucionalidade das ações emanadas do Poder Público. Sob esse aspecto,
o princípio da proporcionalidade é essencial ao Estado Democrático de Direito,
servindo como instrumento de tutela das liberdades fundamentais, proibindo
o excesso e vedando o arbítrio do Poder, enfim, atuando como verdadeiro
parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais (STF
HC 103529-MC/SP. Informativo 585).
A Constituição Federal expressamente restringe as exigências de qualificação
(habilitação) à “função” garantidora do indispensável cumprimento das
obrigações contratuais. Requisitos que extrapolem esse fundamento se
apresentam como desvio da função constitucionalmente estabelecida para a
habilitação nas licitações públicas.
Admitindo a correção desta premissa, voltamos à questão: é sempre adequada
a exigência de regularidade trabalhista para todas as licitações realizadas pelo
Poder Público? Entendemos que a resposta é negativa.
Em diversas contratações, como a de serviços contínuos com dedicação
exclusiva de mão de obra, a exigência de regularidade trabalhista demonstrar-
se-á razoável e constitucional, por servir à finalidade de garantia do
cumprimento das obrigações; contudo, em outras contratações, como na
aquisição de bens comuns, podemos não identificar claramente, no caso
concreto, a adequação entre a exigência de regularidade trabalhista e as
obrigações pactuadas. Nesse ponto, não é admissível a utilização das licitações
para finalidades outras, que não a identificada na norma constitucional.
É certo que o justo objetivo de ampliar a eficácia das execuções trabalhistas
fortalecerá o raciocínio favorável à admissibilidade da regularidade trabalhista
em qualquer licitação, contudo, não se deve olvidar a função/finalidade
que foi expressamente imposta aos requisitos de habilitação, pelo texto
constitucional. Nessa feita, em pretensões contratuais para as quais a exigência
de regularidade trabalhista não beneficie em nada a garantia do cumprimento
das obrigações, tal imposição pode ser suprimida. Nos casos de aquisições ou
fornecimentos de bens, pode ser suscitada, inclusive, a regra disposta no §1º
do artigo 32 da Lei nº 8.666/93.

160 | www.negociospublicos.com.br
4. Certidão trabalhista e contratos em vigência

Doutrina
Um aspecto importante, que precisa ser discutido, está relacionado à exigência
da CNDT para contratos vigentes.
São duas as situações que merecem análise. A primeira está relacionada à
contratação recentemente licitada, sem exigência do referido requisito de
habilitação. Com a entrada em vigor da Lei nº 12.440/2011, pode ser exigida a
regularidade trabalhista no contrato em andamento?
A resposta, em princípio, é negativa. O próprio inciso XIII, do caput do artigo
55 da Lei nº 8.666/93, ao regrar sobre a necessidade de manutenção das
condições de habilitação, durante a execução do contrato, restringe tal
exigência às obrigações assumidas pela empresa, de acordo com as exigências
da licitação. Vejamos o dispositivo:
Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:
In omissis
XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução
do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas,
todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação.
O licitante para o qual não foi cobrada a regularidade trabalhista, no certame,
não pode ser surpreendido por esta exigência durante a execução contratual.
Uma segunda situação poderá ocorrer quando tratarmos de serviços
contínuos, passíveis de prorrogação temporal. Neste caso, a faculdade de
prorrogar o contrato envolve um elemento consensual, que precisa ser
ponderado.
Por parte do licitante, sua aceitação dependerá do interesse econômico
na manutenção daquela contratação. Se a contratação for prejudicial ao
seu interesse, ele não aceitará prorrogação, atitude legítima e que deve ser
acatada.
Por parte da Administração, o legislador já estabeleceu o interesse público a
ser atendido, descrevendo a obtenção de preços e condições mais vantajosas
como justificativa legal para tal prorrogação. Vejamos:
COMO CITAR Art. 57.
ESTA FONTE:
TORRES, Ronny In omissis
Charles Lopes de.
Considerações II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que
sobre a Certidão poderão ter a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos
Negativa de Débitos
Trabalhistas (CNDT).
com vistas à obtenção de preços e condições mais vantajosas para a
LICICON – Revista administração, limitada a sessenta meses; (Redação dada pela Lei nº
de Licitações e 9.648, de 1998)
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: Partindo do pressuposto legal que a exigência de regularidade trabalhista
Curitiba, PR, ano
VII, n.84, p.156-162, envolve uma condição vantajosa para a Administração (garantia do
dezembro 2014. cumprimento das obrigações) e não gera transformação ou alteração no

www.negociospublicos.com.br | 161
objeto contratual, entendemos que, nesses casos, embora a licitação tenha
ocorrido sem o requisito de regularidade trabalhista no edital, a inserção desta
exigência poderá ser acordada entre as partes contratantes, no momento da
prorrogação.
Caso a empresa entenda que tal acréscimo cria empecilho ao seu interesse
de prorrogação, tem o direito de abdicar dela, tendo em vista o elemento
consensual envolvido.
5. CONCLUSÃO
Resumimos aqui alguns dos questionamentos que certamente serão
provocados, em vista das alterações promovidas pela Lei federal nº
12.440/2011, já em vigor.
Embora seja evidente o correto intuito de dar maior efetividade à execução
trabalhista, protegendo o trabalhador, necessário ponderar que a aplicação
dessa regra nas licitações públicas exige a inserção de princípios próprios,
vinculados ao Direito Administrativo e à Constituição.
Importante a atuação da doutrina, da jurisprudência e dos órgãos
regulamentadores, para evitar distorções e auxiliar os agentes públicos que
manejam com licitações (notadamente os concretamente responsáveis), na
escorreita aplicação da norma criada, sem prejuízos às finalidades e limites
que incidem sobre a atividade administrativa contratual.

GLOBALIZAÇÃO E SEU IMPACTO SOBRE O CONCEITO DE


CONSTITUIÇÃO ECONÔMICA

RONNY CHARLES LOPES DE TORRES

Advogado da União. Professor/palestrante. Mestre em Direito Econômico. Pós-graduado


em Direito tributário. Pós-graduado em Ciências Jurídicas. Autor de diversos livros jurídi-
cos, entre eles: Leis de licitações públicas comentadas (5ª Edição. Ed. JusPodivm); Licitações
públicas: Lei nº 8.666/93 (5ª Edição. Coleção Leis para concursos públicos: Ed. Jus Podivm);
Direito Administrativo (3ª Edição. Ed. Jus Podivm) e Terceiro Setor: entre a liberdade e o
controle (Ed. Jus Podivm).

Partindo do conceito de Constituição Econômica como o conjunto de


preceitos e instituições jurídicas que instituem uma determinada forma
de organização e funcionamento da economia,1 constituindo uma ordem

1 MOREIRA, Vital. apud SILVA, Américo Luís Martins da. A ordem constitucional econômica.
1996. Rio de Janeiro. Forense. Pág. 21.

162 | www.negociospublicos.com.br
econômica, parece evidente que as transformações ocorridas no mundo nas
últimas décadas, dentre elas a exaustão do Estado Social intervencionista

Doutrina
tradicional e os fenômenos que envolvem aquilo que se conceituou como
globalização, passaram a influenciar as formas de organizações econômicas.
Durante o período da 2ª Grande Guerra Mundial, com a queda na atividade
econômica mundial e as turbulências econômicas causadas por políticas
nacionalistas e restritivas do comércio internacional, representantes dos
países aliados se reuniram em Bretton Woods, em New Hampshire, Estados
Unidos, com a intenção de reconstruir o capitalismo mundial, de maneira
a impedir novas crises sistemáticas como as que aconteceram durante a
Grande Depressão dos anos 30.
Pelo acordo de Bretton Woods, os países se comprometeram a adotar uma
política monetária que mantivesse a taxa de câmbio de suas moedas dentro
de um determinado valor; em outras palavras, foi criado um sistema de
gestão de taxas chamado de padrão dólar-ouro, o qual procurava flexibilizar
o chamado Padrão-Ouro, que era a base do sistema monetário internacional
antes da Primeira Guerra Mundial.2
Melhor explicam as palavras de Gremaud:3
“O sistema consagrado em Bretton Woods estabeleceu o dólar como
moeda internacional e esta era a única moeda que manteria sua
conversibilidade em relação ao ouro. (...) Quando uma moeda nacional
apresentava tendência demasiadamente forte a se afastar de seu valor
estabelecido em relação ao dólar, havia a possibilidade de se ajustar a
taxa de câmbio. Esta possibilidade de ajustamento, quando se verificasse
um desequilíbrio fundamental, era a principal distinção entre o sistema
de Bretton Woods e o padrão-ouro.
O sistema de Bretton Woods concebia, assim, um regime de taxas
de câmbio fixas, mas ajustáveis, sendo que, idealmente, tais ajustes
deveriam ser acordados entre os países.
Acordou-se também a criação de instituições, como o FMI (Fundo Monetário
Internacional), encarregado de dar estabilidade ao sistema, através de
cooperação financeira que permitisse suporte a dificuldades temporárias,
e o BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e desenvolvimento), com
a função de auxiliar na reconstrução dos países arrasados pela 2ª Guerra
e, posteriormente, promover o desenvolvimento dos países ainda não
desenvolvidos. Outra instituição criada a partir do encontro de Bretton
Woods foi o GATT - Acordo Geral de Tarifas e Comercio (que mais tarde
originou a Organização Mundial de Comércio OMC), cujo objetivo era igualar

2 GREMAUD, Amaury Patrick. VASCONCELOS, Marco Antonio Sandoval de. Toneto Jr., Rudinei.
Economia Brasileira Contemporânea. 3ª edição. São Paulo. Atlas. 1999.

3 Idem.

www.negociospublicos.com.br | 163
os países e diminuir as barreiras entre estes, permitindo o fortalecimento do
comércio mundial.
Doutrina

Com relação à política monetária sugerida, após a década de 1970, o Sistema


Bretton Woods entrou em colapso pela impossibilidade de controle do
compromisso de conversão do padrão dólar-ouro. Já as instituições criadas
pelo acordo, depararam-se com o agigantamento do tamanho dos problemas
financeiros que atingiram os países após a década de 70, e com a inesperada
movimentação dos capitais exclusivamente financeiros da atualidade e
alterações do panorama econômico causados pela Globalização.4 5 6
Se, quando fora realizado o Acordo de Bretton Woods, encontrava-se forte
a convicção de que o Estado precisava intervir na economia para garantir
o desenvolvimento, a atualidade proporcionada pelo mundo globalizado,
somada ao pensamento de falência do Estado Social, apresentou um novo
panorama em que a circulação de capitais, sobretudo o financeiro, ocorre
de forma ágil e poderosa, não apenas independente da atuação dos Estados,
como influenciadora da configuração econômica dos mesmos.
César Benjamin expõe com clareza esse novo quadro:
“Para aumentar sua fluidez, o capital sempre buscou lidar com povos
e espaços os mais homogêneos possíveis, sem especificidades, sem
diferenciações, sujeitos a serem enquadrados em uma contabilidade
abstrata e em estratégias amplas de produção e consumo padronizáveis.
O mundo globalizado leva essa tendência adiante. Grandes empresas,
capitais e mercadorias recebem liberdade de movimentação, com
a correspondente redução dos poderes de reguladores, internos e
externos, exercidos pelas sociedades. Assim, a parte moderna da
economia capitalista deixa de referenciar-se em um conjunto de
economias nacionais vinculadas entre si por fluxos de comércio e
investimento, para converter-se em uma rede única, tanto no nível
produtivo como no financeiro.7
Nesse novo panorama globalizado, com a diminuição das distâncias pelo
avanço dos recursos tecnológicos, seja na informática ou no transporte, os
Estados não seriam mais os regentes maiores da economia mundial, uma vez
que as possibilidades mercadológicas ampliaram o Poder de outros atores,

4 ALMEIDA, Paulo Roberto de. Modelo de Bretton Woods. Endereço eletrônico para consulta do
artigo: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/778BrettonWoods.html

5 NUNES, Antonio José Avelãs Nunes. Neoliberalismo & Direitos humanos. Rio de Janeiro-São
Paulo. 2003. Renovar. Págs. 73.

6 Vale destacar a ambivalência e imprecisão constitutiva que encerra as conceituações apresen-


tadas para o fenômeno globalização, conforme explica Maria Luiz P. de Alencar Mayer Feitosa,
sem seu artigo “Globalização: alguns aspectos conceituais e analíticos (Revista Verba Júris. V.3.
n.3 janeiro/dezembro 2004. João Pessoa. Editora Universitária UFPB).

7 BENJAMIN, César. ... (et. al.). A opção brasileira. Rio de Janeiro. Contraponto. 1998. Pág. 29.

164 | www.negociospublicos.com.br
fomentando o desenvolvimento de novas formas de organização, como
as empresas transnacionais, alterando a distribuição do poder mundial e

Doutrina
pondo em cheque a compreensão clássica do Estado-Nação como unidade
soberana, autogovernável e autônoma.8
Matias9 explica que assim como o capitalismo, em sua origem, precisou
do Estado para conseguir condições de se desenvolver, atualmente ele
precisa da globalização, sendo as transnacionais agentes fundamentais da
expansão do comércio internacional (transnacional) e “atores por excelência
do regime capitalista, cuja lógica é a derrubada das barreiras e a unificação,
em escala planetária, de um espaço econômico para a ação desimpedida do
capitalismo”.
Com as inovações tecnológicas foram reduzidos os custos para a circulação
de capital, informações e monitoramento do mercado, além de ter sido
ampliada vertiginosamente a velocidade com que esses atos passaram a
ser praticados. A Internet, o desenvolvimento do transporte aéreo e as
telecomunicações oferecem uma estrutura essencial para a competição
em um mercado cosmopolita,10 permitindo que contratações complexas,
cujos pactuantes encontrem-se separados não apenas por milhares de
quilômetros, mas também pela diferença continental, sejam efetuadas em
períodos impensáveis nos anos 50.
Essa circulação de capitais estimula que países, que consigam se adaptar
às exigências dos investidores, sejam objeto da entrada, em seu território,
de uma gama considerável de recursos, capaz de gerar alguns sintomas de
desenvolvimento, como geração de empregos, ampliação do PIB, aumento
da arrecadação tributária, entre outros.
Conforme asseverou Friedman,11 o mundo atual apresenta alguns exemplos
de países que conseguiram moldar projetos que permitiram um maior
aproveitamento desse novo cenário, como a China e a Índia, bem como
aponta também outros exemplos de países que, embora beneficiados por
aspectos geográficos ou naturais, não conseguiram o êxito esperado na
participação desse mundo globalizado, cada vez menor.
A busca de cada país por seu espaço nesse mundo econômico globalizado e a
intenção de percorrer um curso sustentável de desenvolvimento tem exigido
a realização de reformas em sua ordem econômica, alterações que alcançam

8 MATIAS, Eduardo Felipe P. A Humanidade e suas Fronteiras: Do Estado Soberano à Sociedade


Global. São Paulo. Paz e Terra, 2005. Pág. 103.

9 Idem. Pág. 128.

10 NAISBITT, John. Paradoxo global. Tradução de Ivo Korytowski. São Paulo. 1999. Campus. Pág.
53.

11 FRIEDMAN, Thomas L.. O mundo é plano: Uma breve história do século XXI. Rio de Janeiro.
Objetiva. 2005.

www.negociospublicos.com.br | 165
a constituição econômica, inclusive no concernente à intervenção/atuação
do Estado na economia. Essa é a idéia defendida pro Friedman:12
Doutrina

“... mercados mais abertos e competitivos são o único caminho sustentável


para que uma nação se liberte da pobreza, porque constituem a única
garantia de que novas idéias, tecnológicas e melhores práticas cheguem
com facilidade ao país, e de que as empresas privadas, e até mesmo o
governo, tenham o incentivo da competição e a flexibilidade para adotar
essa idéias e transformá-las em mais empregos e produtos.”
Em relação ao Sistema Bretton Woods, observa-se que a crença da necessidade
do Estado interventor foi relativizada, pela constatação de insuficiência de
recursos para que apenas o ente estatal, per si, consiga proporcionar o Estado
de Bem Estar Social que objetiva para seus membros. Outrossim, atualmente
as diferenças cambiais estão evidenciadas, provocando, pela condição de
interdependência comum ao processo de globalização, o chamado efeito
contágio, onde uma crise de desvalorização que assole um país pode alcançar
todos os outros.
Os investidores transnacionais passam a agir em manada, muitas vezes
sem uma lógica coerente ou até de forma histérica, movidos por boatos
e especulações do mercado financeiro, o que causa instabilidade a esse
ambiente econômico. Recentemente acompanhamos todos os transtornos
causados por conta de uma crise de confiança no mercado imobiliário norte-
americano, que afligiu as economias de países em todos os continentes.13
Essa instabilidade, que permeia a circulação do capital financeiro no mundo
globalizado, é um problema que assusta e exige reflexão e esforço dos
Estados, no intuito de encontrarmos uma solução mundial. “O desafio crucial
a ser enfrentado é a manutenção de um ambiente econômico e político no
qual a tendência a uma crescente integração econômica possa continuar, e
de instituições que representem o desenvolvimento de uma infra-estrutura
mais forte para o capitalismo”.14
A globalização causa um impacto de relativização das fronteiras e diminuição
das distâncias, permitindo ao mercado uma atuação sequer imaginada pelos
que projetaram o Sistema Bretton Woods, fazendo com que os países, ávidos
em participar desse novo panorama, alterem e adaptem suas Constituições
Econômicas às necessidades dessa nova realidade. Cada vez mais esse
mercado globalizado, em que preponderam as empresas transnacionais,
busca novos caminhos de investimentos, o que faz com que muitos países,
como candidatas a um concurso de beleza patrocinado pelo capital externo,
passem a tomar medidas que alterem suas constituições econômicas,

12 Idem. Págs. 281/282.

13 http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u320606.shtml

14 MATIAS, Eduardo Felipe P. A Humanidade e suas Fronteiras: Do Estado Soberano à Sociedade


Global. São Paulo. Paz e Terra, 2005. Pág. 141.

166 | www.negociospublicos.com.br
muitas não apenas necessárias para apresentá-los como destinos atraentes
aos investimentos (no intuito de alcançar desenvolvimento econômico,

Doutrina
pelo aumento dos postos de empregos, dinheiro em circulação interna e
arrecadação tributária), como também úteis pela inserção de regras de
saneamento fiscal que ajudam a melhorar a eficiência e a saúde econômica
de Estados obesos, que contrastam com a miséria de seus cidadãos e com a
péssima qualidade dos serviços públicos prestados.
Para concluir, vale transcrever a lições proféticas de Ohmae.15
Numa economia sem fronteiras, a ação da “mão invisível” do mercado
tem um alcance e uma força além de qualquer coisa que Adam Smith
pudesse ter imaginado. Na época de Smith, a atividade econômica
tinha lugar numa paisagem amplamente definida - e circunscrita – pelas
fronteiras políticas dos Estados-Nações: a Inglaterra com sua lã, Portugal
com seus vinhos. Agora, em contraposição, é a atividade econômica
que define a paisagem em que todas as outras instituições, inclusive a
máquina do governo, devem funcionar.
Desde a falência do Estado Liberal, os Estados passaram a assumir a
regulação da economia. Ainda têm essa prerrogativa, mas com o impacto
da globalização econômica e seus fenômenos, cada vez mais identificamos
o mercado mundial condicionando e influenciando diretamente as ordens
econômicas nacionais, portanto, influenciando as definições de suas
Constituições Econômicas.
Em outras palavras, numa ironia perversa, cada vez mais a ampliação da
força econômica transnacional projeta uma forma própria de “regulação”
pelo mercado, em detrimento do Estado, como fator condicionante para a
realização de investimentos.

15 OHMAE, Kenichi. O fim do Estado-nação. Tradução de Ivo Korytowski. São Paulo. 1999. Cam-
pus. Pág. 35.

COMO CITAR DICA DA CONSULTORIA


ESTA FONTE:
TORRES, Ronny Considerando a necessidade de atendimento à critérios de susten-
Charles Lopes de.
Globalização
tabilidade nas lictações, é possível destacar uma hipótese de dis-
e seu Impacto pensa de licitação prevista no inc. XXVII, do art. 24, da Lei 8.666/93:
sobre o conceito “na contratação da coleta, processamento e comercialização de
de Constituição
Econômica.
resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com
LICICON – Revista sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou co-
de Licitações e operativas formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: renda reconhecidas pelo poder público como catadores de mate-
Curitiba, PR, ano riais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as
VII, n.84, p.162-167,
dezembro 2014.
normas técnicas, ambientais e de saúde pública.”

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Jurisprudência
em Foco

168 | www.negociospublicos.com.br
Jurisprudência em Foco

Este espaço é destinado para abordar e comentar a posição do Poder Judiciário e/ou das
Cortes de Contas sobre a legislação de licitações públicas e contratos administrativos.
Para tal objetivo, o colunista, Dr. Luciano Elias Reis, comentará a partir de acórdãos e
decisões que integram o seu livro “Licitações e Contratos: um guia da jurisprudência”
(Editoria Negócios Públicos, 2013).
A referida obra é uma coletânea de aproximadamente 4.000 decisões das Cortes de Con-
tas (com ênfase no Tribunal de Contas da União e vários Tribunais de Contas Estaduais)
e do Poder Judiciário sobre a Lei n. 8.666/1993, razão pela qual tem sido elencada pelos
gestores públicos como uma obra indispensável para os órgãos e entidades de todo o
Brasil.

por Luciano Elias Reis

Advogado; Sócio do escritório Reis, Correa e Lippmann Advogados


Associados; Mestre em Direito Econômico pela PUCPR; Especialista em
Processo Civil e em Direito Administrativo, ambos pelo Instituto de
Direito Romeu Felipe Bacellar; Presidente da Comissão de Gestão Pública
e Controle da Administração da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção
Paraná; Professor de Direito Administrativo da UNICURITIBA; Professor
convidado de diversas Instituições de Ensino em cursos de Pós-Graduação
Autor das obras Licitações e Contratos: um guia da jurisprudência
(Editora Negócios Públicos, 2013) e Convênio administrativo: instrumento
jurídico eficiente para o fomento e desenvolvimento do Estado (Editora
Juruá, 2013); Autor de diversos artigos jurídicos e co-autor também
das seguintes obras Estado, Direito e Sociedade (Editora Iglu), Estudos
dirigidos de gestão pública na América Latina (Editora Fórum), Direito
Administrativo Contemporâneo (2. Ed. - Editora Fórum), Direito
Público no MERCOSUL (Editora Fórum, 2013), Co-coordenador dos
Anais do Prêmio 5 de junho 2011: Sustentabilidade na Administração
Pública”(Editora Negócios Públicos); Ministrante de cursos e palestras na
área de licitações públicas e contratos administrativos.

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A RESCISÃO UNILATERAL E O PROCESSO ADMINISTRATIVO

Para a aplicação de qualquer res- Com esteio na Constituição, a Lei de


trição de direitos, é imprescindível Licitações previu em seu artigo 78,
que sejam respeitados os princípios parágrafo único, que:
constitucionais da ampla defesa, do Art. 78. Constituem motivo para res-
contraditório e do devido processo cisão do contrato:
legal.
(...)
O artigo 5º, incisos LIV e LV, da Parágrafo único. Os casos de resci-
Constituição da República de 1988 são contratual serão formalmente
assegura como direitos e garantias motivados nos autos do processo,
fundamentais os mencionados prin- assegurado o contraditório e a ampla
cípios a partir da seguinte prescrição defesa.
constitucional: A obediência aos princípios do con-
“Art. 5º Todos são iguais perante a traditório e da ampla defesa aplica-
lei, sem distinção de qualquer natu- -se em toda e qualquer espécie de
reza, garantindo-se aos brasileiros e rescisão contratual, ainda mais fla-
aos estrangeiros residentes no País a
grante a sua utilidade nos casos de
inviolabilidade do direito à vida, à li-
berdade, à igualdade, à segurança e rescisão unilateral.
à propriedade, nos termos seguintes: Neste sentido, não pode a ordena-
(...) dora da despesa simplesmente co-
LIV - ninguém será privado da liber- municar a rescisão contratual e, pior,
dade ou de seus bens sem o devido já convocar a segunda colocada para
processo legal; a contratação por dispensa de licita-
LV - aos litigantes, em processo judi- ção - artigo 24, XI, da Lei n. 8.666.
cial ou administrativo, e aos acusados
Esta conduta viola frontalmente a Lei
em geral são assegurados o contradi-
tório e ampla defesa, com os meios e de Licitações e é repudiada de modo
recursos a ela inerentes; visceral pelo Tribunal de Contas da
União, o qual tem posicionamento
Pelo dispositivo constitucional sus-
solidificado que a rescisão unilateral
citado, dessume-se que é indispen-
não afasta o dever de conceder o
sável o respeito ao devido processo
contraditório e a ampla defesa pré-
legal, bem como são assegurados a
vios à tomada de decisão da Admi-
todos os litigantes em processo ad-
nistração Pública.
ministrativo e processo judicial o res-
peito aos princípios da ampla defesa Para não restar qualquer dúvida
e contraditório. sobre o tema, anexam-se algumas

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Jurisprudência em Foco
decisões do Tribunal de Contas da 23. No presente caso, a necessida-
União: de de motivação e garantia do con-
traditório e da ampla defesa, para
Voto regular utilização do instrumento
18. Como se depreende das conside- da rescisão administrativa, ainda
rações transcritas, a fundamentação que não pudesse, numa interpre-
para a rescisão contratual estaria en- tação estreita, ser fundada no art.
tre as relacionadas no art. 78, inciso 79, § 1º, da Lei nº 8.666/1993, o
XII, da Lei nº 8.666/1993, qual seja: que não me parece ser o caso, re-
“razões de interesse público, de alta flete, antes de tudo, o exercício do
relevância e amplo conhecimento, cumprimento de mandamentos
justificadas e determinadas pela constitucional e legal.
máxima autoridade da esfera admi- 24. A ampla defesa e o contraditó-
nistrativa a que está subordinado o rio são direitos fundamentais, pro-
contratante e exaradas no processo tegidos pela Constituição Federal,
administrativo a que se refere o con- no art. 5º, inciso LV: “aos litigan-
trato”. tes, em processo judicial ou admi-
19. Ocorre, como bem destacou o nistrativo, e aos acusados em geral
MP/TCU, que não consta dos autos são assegurados o contraditório e
nenhum documento que expresse a ampla defesa, com os meios e re-
os motivos, de forma determinada cursos a ela inerentes”.
e justificada, pelos quais o contrato 25. Para que a defesa, necessária
não mais atenderia ao interesse pú- em processos de rescisão contra-
blico, e aos ditames da legalidade, tual unilateral, possa ser plena-
impessoalidade, moralidade e efici- mente exercida, há necessidade
ência, mencionados de forma vaga de que o ato da Administração po-
no ato de declaração de rescisão tencialmente lesivo a direitos do
contratual. Tais referências a prin- contratado seja adequadamente
cípios da Administração Pública são motivado e que seja observado o
extremamente vagas, insuficientes, direito ao contraditório.
portanto, para cumprir o coman-
do do art. 78, inciso XII, da Lei nº (Tribunal de Contas da União, Acór-
8.666/1993. dão nº 1.343/2009-Plenário, Rela-
tor Ministro Weder de Oliveira).
(…)
Observância de procedimentos
21. Ainda que também não previsto para rescisão contratual
no art. 121, entendo que o disposto
no art. 78, XII, aplica-se ao contrato (...). Destacou, ainda, que o recor-
em discussão, como elemento que rente contrariou os termos da Lei
deve balizar a atuação da Adminis- nº 8.666/93, especialmente os
tração em sua decisão discricioná- arts. 78 e 79, “ao não seguir as hi-
ria, mas não arbitrária, de rescindir póteses previstas de rescisão; não
unilateralmente o contrato, de for- conceder à contratada a oportu-
ma a observar os princípios consti- nidade de contraditório e ampla
tucionais sedimentados no art. 37, defesa; não levar em conta o de-
destacadamente, os da impessoali- ver de indenizar a empresa e não
dade e da eficiência. motivar formalmente a rescisão”.
Ao final, enfatizou que “o dano
(…) maior só não foi concretizado gra-

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Jurisprudência em Foco

ças à intervenção da Justiça Fede- formalidades enfeixadas na própria


ral, que mandou a (omissis) retomar Lei n. 8.666/93 e, no caso da Ad-
o contrato (...). De todo modo, por ministração Pública Federal, na Lei
certo que a entidade incorreu em n. 9.784/99, a fim de que tudo seja
custos ao ter de enfrentar a deman- compatível com os princípios admi-
da judicial”. Referendando o voto nistrativos.
do relator, decidiu o Plenário negar
De plano, é importante que seja
provimento ao recurso.
aberto processo administrativo para
(Informativo de Jurisprudência so- realizar a rescisão do contrato, de-
bre Licitações e Contratos nº 7 vidamente autuado. Sugere-se que
do Tribunal de Contas da União, esse processo administrativo tramite
Acórdão nº 422/2010-Plenário, TC- em apenso aos autos do próprio con-
013.895/2005-6, Rel. Min. José Mú- trato.
cio Monteiro, 10.03.2010).
Demais disso, dessa feita com arrimo
Na mesma linha, o Tribunal Regional no parágrafo único do artigo 78 da
Federal da 4ª Região já determinou Lei nº. 8.666/93, é necessário asse-
inclusive a invalidação de rescisão gurar ao contratado o direito ao con-
traditório. Portanto, muito embora
unilateral da Administração Pública a rescisão seja unilateral, isto é, de-
desrespeitou a regra do artigo 78, cidida pela entidade administrativa,
parágrafo único, da Lei de Licitações: antes dela deve-se ouvir as razões
CONTRATO ADMINISTRATIVO. DES- do contratado, em especial atenção
CUMPRIMENTO. INEXECUÇÃO. RES- à versão dele dos fatos que ensejam
CISÃO. PERDAS E DANOS. A cele- a rescisão. Trata-se de expressão do
bração de contrato sucessivo com o princípio constitucional do contra-
mesmo objeto com outra contratada ditório, amplamente aplicável aos
é hipótese de rescisão contratual, processos administrativos como re-
que não pode prescindir de proce- conhecido pelo inciso LV do artigo 5º
dimento administrativo prévio, cuja da Constituição Federal.
ausência se caracteriza em abuso de Para que haja o contraditório, a enti-
poder da Administração. Enquanto dade deve expedir ato administrativo
não rescindido licitamente o con- para o efeito de intimar o ontratado
trato administrativo remanescem sobre a intenção dela de rescindir o
direitos e obrigações ao contratado contrato, deixando claro quais os fa-
e à Administração, exigíveis judicial tos que a levam a tomar tal medida e
e administrativamente. Apelações e qual o fundamento legal para tanto.
remessa oficial desprovidas. Ao contratado, então, depois de re-
(Tribunal Regional Federal da 4ª Re- cebida tal intimação, abre-se o prazo
gião, APELREEX 2008.70.01.005903- para expor a sua versão dos fatos e
0, Terceira Turma, Rel. Carlos Edu- do direito, exercendo o contraditó-
ardo Thompson Flores Lenz, D.E. rio.” (NIEBUHR, Joel de Menezes.
28/04/2010) Licitação pública e contrato admi-
nistrativo. Curitiba: Zênite, 2008, p.
Sob o mesmo raciocínio da jurispru- 584-585).
dência, a doutrina é unânime: A rescisão do contrato exige estrito
“Muito embora a rescisão seja ad- cumprimento ao princípio do contra-
ministrativa e unilateral, a entidade ditório e observância ao devido pro-
administrativa deve seguir algumas cedimento administrativo. Expôs-se

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Jurisprudência em Foco
em outra oba a extensão da garantia Se não bastasse a interpretação con-
assegurada ao particular. Por ora, é forme a Constituição e a literalidade
imperioso considerar que o devido do parágrafo único do artigo 78 da
processo significa que a rescisão de- Lei de Licitações, ainda existe a Lei n.
verá ser precedida de um procedi-
9.784 que também assegura o con-
mento administrativo, ao qual o par-
ticular tenha amplo acesso e no qual traditório e a ampla defesa PRÉVIOS
possa deduzir sua defesa e produzir às restrições de direitos:
suas provas. A instauração do proce- Art. 3º O administrado tem os se-
dimento administrativo deverá ocor- guintes direitos perante a Adminis-
rer formalmente, inclusive com a de- tração, sem prejuízo de outros que
finição dos fatos que se pretendem lhe sejam assegurados:
apreciar. Deve-se dar oportunidade I - ser tratado com respeito pelas au-
ao particular para produzir uma de- toridades e servidores, que deverão
fesa prévia e especificar as provas facilitar o exercício de seus direitos e
de que disponha. Em seguimento, o cumprimento de suas obrigações;
deverão produzir-se as provas, sem-
pre com participação do particular. II - ter ciência da tramitação dos pro-
cessos administrativos em que tenha
Não se admite a realização de uma
a condição de interessado, ter vista
perícia sem que o particular possa
dos autos, obter cópias de documen-
indicar um representante e o vício
tos neles contidos e conhecer as de-
não será suprido através da poste-
cisões proferidas;
rior comunicação ao interessado do
conteúdo da perícia. Mas, muito pior III - formular alegações e apresentar
do que isso, é a pura e simples rejei- documentos antes da decisão, os
ção da produção das provas. Após quais serão objeto de consideração
encerrada a instrução, deverá ser pelo órgão competente;
proferida a decisão, da qual caberá Dessa maneira, está notoriamente
recurso para a autoridade superior. demonstrada que a rescisão con-
Após exaurido o procedimento, será
tratual unilateral deverá ser mate-
proferido o ato administrativo uni-
rializada por um processo adminis-
lateral da rescisão.” (JUSTEN FILHO,
Marçal. Comentários à Lei de Licita- trativo em que sejam assegurados,
ções e Contratos Administrativos. dentre outros, os princípios da am-
11. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. pla defesa, contraditório e devido
602). processo legal.

COMO CITAR
ESTA FONTE:
REIS, Luciano Elias.
Jurisprudência
em foco.
LICICON – Revista
de Licitações e DICA DA CONSULTORIA
Contratos. Instituto
Negócios Públicos: Nos termos do art. 7º da Lei 8.666/93, o projeto básico é documen-
Curitiba, PR, ano to obrigatório nas contratações que envolvam a execução de obras
VII, n.84 p.169-173, ou serviços.
dezembro 2014.

www.negociospublicos.com.br | 173
Jurisprudência em Foco

Notas:
TCU julga relatório consolidado de obras
O Tribunal de Contas da União (TCU) julgou, no dia 05/11 relatório que
consolida 102 fiscalizações em obras públicas, correspondentes a 389
empreendimentos auditados in loco, para atendimento às determina-
ções da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Nas 102 fiscalizações
foram encontradas 840 irregularidades, das quais 637 referem-se às
auditorias realizadas nas áreas de saúde e educação e 203 nas demais
áreas.
As obras foram selecionadas de acordo com os critérios estabelecidos
na LDO 2014, cujos comandos determinam que o TCU considere os
seguintes fatores na seleção das obras: relevância dos gastos; projetos
de grande vulto; regionalização do gasto; histórico de irregularidades
pendentes e reincidência de irregularidades; e obras contidas no qua-
dro de bloqueio do orçamento a ser executado em 2015.
As auditorias abrangeram R$ 12,38 bilhões de dotações orçamentárias
de 2014. No entanto, se for considerado o montante dos objetos audi-
tados (editais, contratos e contratos de repasse), o volume de recursos
fiscalizados no Fiscobras 2014 chega a R$ 27,1 bilhões.
As irregularidades mais recorrentes nas áreas de saúde e educação fo-
ram: existência de atrasos nas obras e serviços, fiscalização deficiente
ou omissa, inobservância dos requisitos legais e técnicos de acessibi-
lidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade re-
duzida, execução de serviços com qualidade deficiente e ausência de
anotação de responsabilidade técnica do projeto básico ou executivo.1

1 Fonte: Portal – Agência TCU

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Concurso
público

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Concurso Público

ENTENDENDO O CADASTRO DE RESERVA E QUANDO SER


APROVADO NO MESMO GERA DIREITO À NOMEAÇÃO DO
CANDIDATO.

Alessandro Dantas Coutinho


Especialista em Direito Tributário, Mestre em Direito Constitucional, Professor
em graduação e em pós-graduação em diversas instituições de ensino, Pro-
fessor da Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo, Professor da
Escola Superior da Escola do Ministério Público do Estado do Espírito Santo,
Professor de Direito Administrativo em Cursos Preparatórios no ES, DF, GO,
Palestrantes em eventos nacionais; Instrutor de Licitações e Contratos adminis-
trativos do ESESP – Escola de Servidores Públicos do Espírito Santo; Instrutor
de Licitações da ESAFI; Instrutor de Licitações da Vianna Consultores; Profes-
sor e Palestrante da rede de Ensino LFG, Autor de obras jurídicas, Advogado
especializado em licitações e concurso público, Consultor jurídico da ANDACON
– Associação Nacional de Defesa e apoio ao Concurseiro, colaborador da
revista LICICON.

INTRODUÇÃO mas deverá informar o número cer-


Você sabia que sempre existiu ca- to de vagas. Entendo ser fundamen-
dastro de reserva? É verdade. Sabe tal tanto a informação do número de
por que? Por que o cadastro de re- vagas já disponíveis quanto a previ-
serva nada mais é que o contingente são do cadastro de reserva, este úl-
de candidatos aprovados no concur- timo, por uma questão óbvia, para
so público, porém fora do número prestigiar o princípio eficiência e da
de vagas. Então se o candidato foi boa administração pública.
aprovado no concurso, porém fora E o que o cadastro de reserva garan-
do número de vagas, ele está no ca- te ao candidato aprovado? Garante
dastro de reserva. sua nomeação? A princípio não, pois
Mas é possível o edital informar que se ele não foi aprovado dentro do
não haverá cadastro de reserva? É, número de vagas apresentadas no

176 | www.negociospublicos.com.br
edital, que, em tese, seriam as que com bem poucas vagas. E é isso que

Concurso Público
necessitavam ser preenchidas para hoje está ocorrendo em alguns cer-
a continuidade das atividades públi- tames, infelizmente.
cas, o mesmo teria apenas mera ex- Acontece que essa manobra está
pectativa de direito a ser convocado. sendo diariamente percebida pelo
Deve haver um planejamento, onde Judiciário, de modo que, agora, mui-
inicialmente a Administração se tas vezes, mesmo aprovado apenas
comprometeria em contratar os no cadastro de reserva, o candidato
aprovados dentro do número de passa a ter o direito à nomeação. Por
vagas ofertadas e ao longo do prazo isso, administrador, fique atento às
de validade do certame, sobrevindo dicas abaixo.
necessidade, vai-se utilizando do ca- Se é cadastro, seja com apresenta-
dastro de reserva. ção ou não de vagas iniciais no edi-
Ocorre que na prática a teoria é ou- tal, quer dizer que, a princípio, não
tra! há necessidade de contratação de
pessoal. Assim fica fácil.
Há um tempo atrás segmentos da
Administração sequer nomeavam Em regra, quando o aprovado no
os aprovados dentro do número de cadastro de reserva terá direito à
vagas. Era um absurdo: o candidato nomeação? Quando ficar provada
a necessidade. E como resta carac-
era aprovado dentro do número de
terizada a necessidade? De diversas
vagas apresentadas e esperava, es-
formas.
perava, esperava e chegado o térmi-
no do prazo de validade do concurso Vejamos!
não havia nomeação. PRETERIÇÃO POR TERCEIRIZADOS.
Isso ainda ocorre hoje, porém em Quando a Administração, dentro do
menor escala. prazo de validade do concurso, ao
Mudando seu entendimento, os Tri- invés de aproveitar o cadastro de
bunais Superiores, ou seja, STF e STJ, reserva, terceiriza a função, ou seja,
passaram a entender que o candi- contrata uma empresa via licitação,
cujo objeto é o serviço referente
dato aprovado em concurso público
ao cargo disputado pelo candidato.
dentro do número de vagar apresen-
Exemplo: ao invés de convocar os
tadas tem direito à nomeação e, por
contadores aprovados em concur-
isso, passou a determinar compulso-
so a Administração licita e contrata
riamente a nomeação do mesmo.
uma empresa para prestar serviço
Frente a essa grande vitória em prol de contabilidade.
do concurso público veio o golpe
Sobre o tema o SUPERIOR TRIBUNAL
maior. Já que apresentar o número
DE JUSTIÇA entende que:
de vagas no edital vincula a Adminis-
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRA-
tração ao seu preenchimento então TIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
a manobra é fácil: fazer concurso CONCURSO PÚBLICO. CONTRATA-
apenas com cadastro de reserva ou ÇÃO DE EMPRESA TERCEIRIZADA.

www.negociospublicos.com.br | 177
PRETERIÇÃO DE CANDIDATO. DI- afastar a ilegalidade do ato omis-
Concurso Público

REITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. sivo da Administração. Em face do


ART. 1º DA LEI 12.016/2009. DIREITO exposto, concedo a segurança para
LÍQUIDO E CERTO. VERIFICAÇÃO. IM- determinar que o impetrado, incon-
POSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. O tinenti, observadas as formalidades
Recurso Especial não é a via recur- e requisitos legais, nomeie e dê pos-
sal adequada para verificar suposta se à candidata Maria Almeida dos
ofensa ao art. 1º da Lei 12.016/2009, Reis no cargo para o qual a mesma
porquanto, para aferir a existência de foi aprovada." 3. Inafastável a apli-
direito líquido e certo, bem como a cação do óbice da Súmula 7/STJ na
impropriedade da via mandamental espécie, porquanto é inviável exa-
por ausência de prova pré-constitu- minar a tese defendida no Recurso
ída, faz-se necessário, como regra, Especial acerca da ausência de pro-
reexaminar o conjunto fático-pro- va pré-constituída no mandamus,
batório, o que é vedado pelo óbice a qual busca afastar as premissas
da Súmula 7/STJ. 2. Hipótese em fáticas estabelecidas pelo acórdão
que o Tribunal de origem, soberano recorrido, o que demanda a revisão
na análise dos elementos fático- do conjunto probatório dos autos.
probatórios dos autos, concedeu a 4. Agravo Regimental não provido.
segurança pleiteada no writ por en- (STJ - AgRg no AREsp: 384787 RO
tender que foi devidamente com- 2013/0267962-9, Relator: Ministro
provada a preterição e a violação do
HERMAN BENJAMIN, Data de Julga-
direito líquido e certo da impetran-
mento: 08/10/2013, T2 - SEGUNDA
te, nos seguintes termos: "Deixan-
TURMA, Data de Publicação: DJe
do a Administração de convocar
16/10/2013)
candidato devidamente aprovado
dentro do número de vagas para No mesmo sentido o entendimento
contratar empresa terceirizada a do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
fim de realizar o mesmo serviço,
resta caracterizada a preterição AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
dos candidatos aprovados dentro DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚ-
do número de vagas, uma vez de- BLICO. TERCEIRIZAÇÃO DE VAGA.
monstrada tanto a necessidade PRETERIÇÃO DE CANDIDATOS
do serviço como a existência de APROVADOS. DIREITO À NOMEA-
orçamento para tanto. (...) No caso ÇÃO. REEXAME DE PROVAS. IMPOS-
dos autos, houve a contratação de SIBILIDADE EM RECURSO EXTRAOR-
empresa terceirizada, em caráter DINÁRIO. 1. Uma vez comprovada a
emergencial para execução do ser- existência da vaga, sendo esta pre-
viço que seria feito pelos candidatos enchida, ainda que precariamente,
aprovados no concurso, uma vez fica caracterizada a preterição do
que consta expressamente do edi- candidato aprovado em concurso.
tal do certame que o cargo de Au- 2. Reexame de fatos e provas. Invia-
xiliar em Serviços Gerais tinha como bilidade do recurso extraordinário.
objetivo a Limpeza e Conservação Súmula n. 279 do Supremo Tribunal
do Hospital Regional de Cacoal. As- Federal. Agravo regimental a que se
sim, atento à aprovação da impe- nega provimento. (STF - AI: 777644
trante dentro do número de vagas, GO, Relator: Min. EROS GRAU, Data
bem como a contratação de em- de Julgamento: 20/04/2010, Se-
presa terceirizada para realização gunda Turma, Data de Publicação:
do mesmo serviço, não há como DJe-086 DIVULG 13-05-2010 PUBLIC

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14-05-2010 EMENT VOL-02401-11 No mesmo sentido o posicionamen-

Concurso Público
PP-02463) to do SUPREMO TRIBUNAL FEDE-
PRETERIÇÃO POR CONTRATADOS RAL:
TEMPORARIAMENTE. DIREITO ADMINISTRATIVO. CON-
CURSO PÚBLICO. CARGO DE PRO-
Ocorre quando a Administração,
FESSOR. DISCUSSÃO QUANTO À
dentro do prazo de validade do COMPROVAÇÃO DA PRETERIÇÃO
concurso, ao invés de aproveitar ca- DE CANDIDATOS APROVADOS. MA-
dastro de reserva, contrata pessoas TÉRIA INFRACONSTITUCIONAL.
com base no artigo 37, IX, da CF, por REEXAME INCABÍVEL NO ÂMBITO
meio de designação temporária. DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. NE-
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA CESSIDADE DO SERVIÇO. PREEN-
tem entendimento pacífico que: CHIMENTO DE VAGA. DIREITO À
DIREITO ADMINISTRATIVO. PRO- NOMEAÇÃO. VIOLAÇÃO DO PRIN-
CESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚ- CÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODE-
BLICO. APROVAÇÃO. CANDIDATA. RES NÃO CONFIGURADA. ACÓR-
VALIDADE DO CERTAME. CONTRA- DÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
TAÇÃO TEMPORÁRIA. TERCEIROS. 24.02.2011. Tendo a Corte Regional
CONFIGURAÇÃO. PRETERIÇÃO. examinado a matéria à luz da legisla-
CONCESSÃO. MANDADO DE SE- ção infraconstitucional e do quadro
GURANÇA. NOMEAÇÃO. RECURSO fático delineado, obter decisão em
ESPECIAL. DENEGAÇÃO. SEGUIMEN- sentido diverso demanda a análise
TO. FALTA DE PREQUESTIONAMEN- de matéria infraconstitucional, o
TO. NECESSIDADE. REVOLVIMENTO que torna oblíqua e reflexa eventu-
FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULAS al ofensa, insuscetível de viabilizar
07/STJ E 211/STJ. 1. Não cumpre o o conhecimento do recurso extra-
requisito do prequestionamento o ordinário, considerada a disposição
recurso especial para salvaguardar do art. 102, III, da Lei Maior. Com-
a higidez de norma de direito fede- provada a necessidade de pessoal
ral não examinada pela origem, que e a existência de vaga, configura
tampouco, à guisa de prequestio- preterição de candidato aprovado
namento implícito, confrontou as em concurso público o preenchi-
respectivas teses jurídicas. Óbice mento da vaga, ainda que de forma
da Súmula 211/STJ. 2. Tampouco temporária. Precedentes. O regu-
se admite o apelo extremo quando lar exercício da função jurisdicional,
o exame das teses levantadas pelo na hipótese, o exame da legalidade
recorrente não prescinde do revol- dos atos administrativos pelo Poder
vimento fático-probatório. Incidên- Judiciário, não transgride o princípio
cia da Súmula 07/STJ. 3. Agravo re- da separação de Poderes. Agravo re-
gimental não provido. (STJ - AgRg no gimental conhecido e não provido.
AREsp: 420887 RO 2013/0361252-2, (STF - ARE: 649047 MA , Relator: Min.
Relator: Ministro MAURO CAM- ROSA WEBER, Data de Julgamento:
PBELL MARQUES, Data de Julga- 25/06/2013, Primeira Turma, Data de
mento: 19/11/2013, T2 - SEGUNDA Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO
TURMA, Data de Publicação: DJe DJe-160 DIVULG 15-08-2013 PUBLIC
25/11/2013) 16-08-2013)

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SERVIDORES EM DESVIO DE FUN- Além desses casos, há decisões re-
Concurso Público

ÇÃO. conhecendo o direito do candidato


Esta hipótese se dá quando a Ad- aprovado no certame no cadastro de
ministração, dentro do prazo de reserva ser nomeado caso surjam no-
validade do concurso, ao invés de vas vagas, seja pela forma que for, ao
aproveitar cadastro de reserva, co- longo do prazo de validade do certa-
loca outros servidores em desvio de me. Quanto a este ponto, atualmen-
te há divergência dos Tribunais não
função exercendo as atividades per-
tendo a matéria se pacificado ainda.
tinente àquela que o candidato fez
o concurso e a Administração não o CADASTRO DE RESERVA NUMERA-
convoca. DO.
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Há decisões reconhecendo o direito
analisou um caso deste e reconheceu de nomeação em caso de "cadastro
o direito à nomeação. de reserva numerado", pois se é ca-
dastro de reserva, por uma questão
Vejamos trecho da decisão: lógica, não poder ser numerado.
“5. Na hipótese examinada, a recor-
rente foi aprovada para o cargo de
Isso porque se o concurso fosse ape-
Escrivão, fora do número de vagas nas para a formação de cadastro de
previsto no edital, em regular con- reserva, o edital não poderia indicar
curso público realizado pelo Tribunal nenhuma quantidade de vagas –
de Justiça do Estado do Rio Grande pois, se é somente para cadastro de
do Sul. Além disso, é incontroverso reserva, é porque não existe nenhu-
o surgimento de novas vagas para ma vaga no momento e as convoca-
o referido cargo, no período de vi-
ções serão feitas conforme surjam
gência do certame, as quais foram
ocupadas, em caráter precário, por as vagas.
meio de designação de servidores do Citamos como exemplo uma deci-
quadro funcional do Poder Judiciário são proferida pela 3ª Vara Federal
Estadual. Cível de Vitória/ES, no julgamen-
6. Portanto, no caso concreto, é mani- to do Mandado de Segurança nº
festo que a designação de servidores 2010.50.01.014929-7. Na sentença
públicos de seus quadros, ocupantes ficou assentado o seguinte:
de cargos diversos, para exercer a Contudo, entendo que a razão está
mesma função de candidatos apro- com os impetrantes, na medida em
vados em certame dentro do prazo que não faz o menor sentido esta-
de validade, transforma a mera ex- belecer número definido de vagas
pectativa em direito líquido e certo, a serem preenchidas e indicá-las
em flagrante preterição a ordem de como se fossem todas para cadastro
classificação dos candidatos aprova- de reservas, sob pena de ferir o prin-
dos em concurso público.” (RMS nº cípio da confiança e da moralidade
31.847 – RS, DJe: 30/11/2011) administrativa. É que a indicação de
número específico de vagas é total-
SURGIMENTO DE NOVAS VAGAS mente contrária à própria finalidade
AO LONGO DO PRAZO DE VALIDADE de criação de cadastro de reserva,
DO CERTAME. formado para o preenchimento de

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novas vagas que forem surgindo MAGISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

Concurso Público
com o tempo e de impossível previ- DO RIO GRANDE DO SUL. CANDI-
são exata. DATA APROVADA EM PRIMEIRO
Assim, o que normalmente é feito LUGAR. DIREITO À NOMEAÇÃO.
nos concursos públicos é estabele- CONTROVÉRSIA DECIDIDA PELO STF
cer determinado número de vagas, NO JULGAMENTO DO RE 598.099/
garantindo aos que as preencherem MS. AGRAVO IMPROVIDO, ACOM-
direito subjetivo à nomeação, e, ao PANHANDO O RELATOR (AgRg no
mesmo tempo, criar um cadastro de RECURSO EM MANDADO DE SEGU-
reserva para o preenchimento das RANÇA Nº 33.426 – RS)
vagas que surgirem com o tempo.
Para os posicionados nessas últimas
Em voto vista o MINISTRO TEORI
não haveria direito à nomeação, ALBINO ZAVASCKI arremata infor-
mas mera expectativa de direito. mando que quando o edital não in-
Logo, a indicação de número de forma o número de vagas (por isso
vagas no edital é completamente cadastro de reserva) é de se pre-
incompatível com a própria ideia de sumir a existência de pelo menos
cadastro de reservas, fazendo pare- uma, sob pena de esvair a essência
cer que a intenção da Administração
constitucional do concurso, que ob-
Pública era tão-somente não se vin-
cular ao posicionamento dos tribu- jetiva, como é obvio, a contratação
nais pátrios. de pessoal.

APROVADOS EM PRIMEIRO LUGAR Segundo o douto ministro “no caso,


o voto do Ministro relator guarda
Por fim, há uma decisão do STJ re-
inteira sintonia com esse entendi-
conhecendo o direito do candidato
mento do STF. Ainda que se consi-
aprovado em primeiro lugar a ser
dere que o edital não fixou o núme-
nomeado, mesmo que o concurso
ro de vagas a serem preenchidas
seja apenas para composição de ca-
com a realização do concurso, é de
dastro de reserva.
se presumir que, não tendo dito o
Tendo em vistas as flagrantes ile-
contrário, pelo menos uma vaga
COMO CITAR galidades que estão ocorrendo nos
ESTA FONTE: estaria disponível. Sendo assim, é
concursos apresentando cadastro
COUTINHO, certo que essa vaga só poderia ser
Alessandro Dantas. de reserva o SUPERIOR TRIBUNAL
destinada à aqui demandante, que
Entendendo DE JUSTIÇA, em agosto de 2011,
o cadastro de foi a primeira colocada na ordem
reserva e quando
em decisão brilhante decidiu que
de classificação.”
ser aprovado o candidato aprovado em primeiro
no mesmo
lugar no concurso tem direito à no- CONCLUSÃO
gera direito à
nomeação do meação, mesmo que o edital ape- Frente a esses inúmeros preceden-
candidato.
LICICON – Revista
nas apresente vaga em cadastro de tes e o contragolpe do Judiciário às
de Licitações reserva. manobradas da Administração, o
e Contratos.
Instituto Negócios O referido julgado ficou ementado bom gestor deve estar atento a esta
Públicos: Curitiba, da seguinte forma: realidade jurídica e administrar com
PR, ano VII,
n.84, p.176-181, ADMINISTRATIVO. CONCURSO eficiência e moralidade o cadastro
dezembro 2014. PARA O QUADRO DE CARREIRA DO de reserva.

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ORIENTAÇÃO
TéCNICA

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Orientação Técnica

Contratação direta de profissional do setor artístico:


apontamentos importantes

Elaine Cristina Bertoldo


OAB/PR 44.585
Advogada. Graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pós-
-Graduada em Direito Administrativo Aplicado pelo Instituto de Direito Romeu
Felipe Bacellar. Atualmente é Consultora Jurídica da Consultoria Negócios
Públicos e integrante da Comissão de Gestão Pública e Controle da Administra-
ção da OAB/PR.

Aproximando-nos das comemora- se apresentarão os apontamentos a


ções natalinas e alusivas ao término seguir.
de mais um ano, resta pertinente a 1. Amplitude geográfica/territorial
análise que se fará a seguir, acerca a ser considerada para que o ar-
da contração direta de profissional tista seja reputado “consagrado”
do setor artístico, com base no art. pela crítica especializada ou pela
25, inc. III, da Lei 8.666/93. Não é opinião pública.
novidade que este tipo de contra-
A contratação direta1 de profissio-
tação, por vezes, acaba por ensejar
nal de qualquer setor artístico deve-
muitos questionamentos por parte
dos controles internos dos órgãos/ 1 Nada obsta que a Administração instaure
entidades e, principalmente, por licitação para contratação de artista. Isso,
parte dos Tribunais de Contas. E é a depender do interesse público envolvido
com o intuito de auxiliar o Adminis- e da natureza do objeto. Observe-se que o
fato de haver possibilidade jurídica de con-
trador Público, respaldando-o para
tratação sem licitação não impede eventual
que celebre um contrato, sem lici- comparação entre performances artísticas,
tação, imbuído de legitimidade, que se for o caso.

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Orientação Técnica

rá observar o requisito legal contido inc. III, da Lei 8.666/93 não se refe-
na hipótese do inc. III do art. 25, da re à amplitude geográfica/territo-
Lei 8.666/93, qual seja, a consagra- rial que deva ser considerada para
ção pela crítica especializada ou que determinado artista seja con-
pela opinião pública. A respeito do siderado “consagrado” pela crítica
mencionado dispositivo legal, vede especializada ou pela opinião públi-
ensinamento de Marçal JUSTEN FI- ca. Sobre esse aspecto, importan-
LHO: “há casos em que a necessi- te colacionarmos ensinamento de
dade estatal relaciona-se com o de- Edgar GUIMARÃES, para quem: “no
sempenho artístico propriamente tocante à opinião pública, não se
dito. Não se tratará de selecionar o exige que a consagração seja plena
melhor para atribuir-lhe um desta- e absoluta, vale dizer, que se trate
que, mas de obter préstimos de um de uma unanimidade em âmbito
artista para atender certa neces- nacional” 4.
sidade pública” 2. Vede também o Importa dizer, neste diapasão, que
que diz Joel de Menezes NIEBUHR: a consagração não se perfaz em
É frequente que a Administração critério, mas sim em pré-requisito,
Pública procure contratar serviços de modo a se afirmar que não é o
artísticos dos mais variados naipes,
profissional “mais consagrado” que
como pinturas, esculturas, espetá-
culos musicais etc. A própria Consti- deverá ser contratado, sob pena de
tuição Federal prescreve ao Estado desvirtuamento do instituto da ine-
o dever de promover a cultura, que xigibilidade, ante critérios eminen-
é realmente essencial para o desen- temente subjetivos de julgamento5.
volvimento da identidade nacional,
para a educação e, no mínimo, para Observe-se que o simples fato de
o lazer. A contratação de serviços que em um país, a exemplo do Bra-
artísticos revela outra hipótese que sil, com as dimensões que apresenta
enseja a inexigibilidade de licitação e com a diversificação cultural a que
pública, haja vista que, sob determi- se encontra imbuído, não se pode
nadas condicionantes, torna inviável
desconsiderar que um determinado
a competição, mormente tomando-
-se e conta o critério para comparar artista atuante na região Sul tenha
os possíveis licitantes é a criativida- a mesma consagração do que um
de, portanto, de fio a pavio, subjeti- artista que atua na região Nordeste
vo3. do país. Sem que tal motivo, no en-
Com efeito, impera o destaque de tanto, possa alijar o artista sulista de
que a norma estatuída no art. 25, eventual processo de contratação
direta no âmbito do Rio Grande do
2 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei Sul. O fato de não haver consagra-
de Licitações e Contratos Administrativos.
16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 4 GUIMARÃES, Edgar. Contratação direta: co-
2014. p. 515. mentários às hipótese de licitação dispen-
sável e inexigível. 2. ed. Curitiba: Negócios
3 NIEBUHR, Joel de Menezes. Dispensa e ine- Públicos, 2013. p. 156.
xigibilidade de licitação pública. 2. ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2008. p. 323 5 NIEBUHR, Joel de Menezes. Op. Cit, p. 328.

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Orientação Técnica
ção nacional, neste caso, não pode regional; se estiver dentro do limite
se caracterizar como razão para de concorrência, será nacional.”6
obstar a contratação fundada no Em sentido um pouco distinto a esse
inc. III, do art. 25, da Lei 8.666/93. respeito, cite-se posicionamento de
Além do mais, ao legislador ordi- Jorge Ulysses Jacoby FERNANDES,
nário não cabe eximir-se de seu em artigo intitulado “Contratação
cumprimento quanto o manda- direta de artistas”, cuja veiculação
mento de ordem constitucional, se deu na Revista “O Pregoeiro”, do
mais especificamente o contido Grupo Negócios Públicos:
no art. 215, inc. V, da Consti- Demanda referência breve, mas es-
tuição da República, no qual se pecial, a amplitude geográfica da
prescreve que: “o Estado garan- consagração anteriormente referida
tirá a todos o pleno exercício dos para justificar a contratação direta.
Haverá inexigibilidade de licitação,
direitos culturais e acesso às fon-
se o profissional for consagrado
tes da cultura nacional, e apoiará apenas pela opinião pública de uma
e incentivará a valorização e a cidade? Ou de um Estado? Ou é ne-
difusão das manifestações cultu- cessário que tenha sido consagrado
rais; figurando como obrigatória nacionalmente? (...) Gasparini, Car-
“a valorização da diversidade los Motta e Mariense Escobar, que
aludem à conveniência de aceitar
étnica e regional” (sem grifos no
a notoriedade local, regional ou
original). nacional, se o contrato estiver den-
Não haverá óbices, portanto, para tro do limite do convite, no âmbito
do limite de tomada de preços, ou
que um Município, por exemplo,
dentro do limite de concorrência,
possa contratar profissionais de respectivamente. (...) parece que
qualquer setor artístico, com base a amplitude geográfica da consa-
no art. 25, inc. III, da Lei 8.666/93, gração não deve levar em conta
consagrados (pela crítica especia- propriamente a modalidade de
lizada ou pela opinião pública) em licitação, mas o universo dos pos-
síveis licitantes, estabelecido a par-
âmbito regional ou local/municipal.
tir do âmbito alcançado com a di-
Contudo, cumpre observar que a vulgação do ato convocatório, nos
exigência quanto à consagração termos do art. 21 da Lei 8.666/93.
suscita maior aprofundamento, Nesse sentido, para convite, que só
uma vez que a lei não determinou a precisa ser afixado no local da lici-
extensão dada à expressão “consa- tação, a consagração pode restrin-
gir-se ao âmbito local, da cidade
gração pela crítica especializada ou
ou Município licitante; no caso de
pela opinião pública”. editais que são publicados apenas
Destarte, esclarecedor o posicio- em jornal local ou Diário Oficial
namento do saudoso administrati- do Estado, a consagração pode ser
vista Diógenes GASPARINI, “... se o Regional; mas, quando se tratar
de serviço que exijam publicação
contrato estiver dentro do limite do
convite, será local; se estiver dentro 6 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrati-
do limite de tomada de preços será vo. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 331.

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Orientação Técnica

mais ampla ou nacional, esse será o serviço que exijam publicação mais
âmbito em que se deverá avaliar a ampla ou nacional, esse será o âm-
consagração, pela crítica especiali-
bito em que se deverá avaliar a
zada ou opinião pública (sem grifos
consagração, pela crítica especiali-
no original).7
zada ou opinião pública. Isto, funda-
Isto posto, competirá à Adminis- mentando-se em entendimento de
tração verificar se o profissional do Jorge Ulisses Jacoby FERNANDES,
setor artístico a ser contratado é entendimento com o qual corrobo-
considerado consagrado pela crítica ramos.
especializada ou pela opinião públi-
2. Artista profissional X artista
ca, em âmbito nacional, regional ou
local (municipal); sendo que a deli- amador.
mitação geográfica/territorial deve- A contratação direta de profissional
rá se dar: do setor artístico, repise-se, deverá
a) Com base no valor a ser despen- observar o requisito legal contido
dido para o custeio dos serviços a na hipótese do inc. III, do art. 25,
serem prestados (arraigando-nos da Lei 8.666/93, qual seja, a con-
na recomendação de Diógenes sagração pela crítica especializada
GASPARINI acima colacionada, no ou pela opinião pública. O objeto a
que tange à consideração dos va- ser contratado deve ser o serviço
lores referentes às modalidades de de um artista profissional, o que
licitação). De forma a exemplificar, exclui, portanto, “... a possibilidade
cite-se como exemplo situação na da contratação direta, os artistas
qual o preço estimado da contrata- amadores”8, de forma que “... só os
ção esteja contido no valor conside- profissionais, definidos pelos parâ-
rado limite para a modalidade Con- metros existentes em cada ativida-
vite (art. 23 da Lei 8.666/93). Neste de, podem ser contratados...”9; O
caso, a consagração do profissional artista a ser contratado deverá ser
deverá ser verificada a nível munici- consagrado pela crítica especiali-
pal/local; ou zada ou pela opinião pública, o que
b) Com base no universo dos pos- “se destina a evitar contratações
síveis licitantes, de modo que para arbitrárias, em que uma autoridade
Convite, que só precisa ser afixado pública pretenda impor preferên-
no local da licitação, a consagração cias totalmente pessoais na contra-
pode restringir-se ao âmbito local, tação de pessoa destituída de qual-
da cidade ou município; no caso quer virtude.”10
de editais que são publicados ape-
nas em jornal local ou Diário Oficial 8 Ibid., p. 622.
do Estado, a consagração pode ser
9 Id.
regional; mas, quando se tratar de
10 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei
7 Contratação Direta de artistas”. Revista “O de Licitações e Contratos Administrativos.
Pregoeiro”, edição julho, 2010, p. 16. p. 367.

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Orientação Técnica
Segundo Benedicto de TOLOSA FI- senta. Uma das formas de se com-
LHO: provar tal reconhecimento é pela
juntada aos autos de inexigibilida-
A hipótese de inexigibilidade para
de de licitação de matérias jorna-
contratação de artista é a mais pa-
lísticas, material publicitário, fotos,
cífica, desde que o escolhido, in-
vídeos etc. (sem grifos no original).13
dependentemente de estilo, que é
muito subjetivo, seja consagrado Acerca disso, em complemento, ve-
pelos críticos especializados ou pelo jam-se as seguintes considerações
gosto popular. O artista tem que ser
de FERNANDES:
conhecido, mas não precisa neces-
sariamente ser excepcional, e sua É óbvio que não se pretende que
contratação independe do ramo a o agente faça juntar centenas de
que se dedique, bem como, pode recortes de jornal, por exemplo,
sobre o artista, mas que indique
ser tomado no coletivo, isto é, uma
sucintamente por que se conven-
orquestra ou uma escola de sam-
ceu do atendimento desse requisito
ba.11
para promover a contratação direta,
Como prova da citada “consagra- como citar o número de discos gra-
ção”, entendeu o Tribunal de Con- vados, de obras de arte importan-
tes, referência a dois ou três famo-
tas do Distrito Federal (TCE/DF): “...
sos eventos.
quanto à inexigibilidade prevista no
art. 25, inciso III, da Lei nº 8.666/93, Não se pode confundir expressões
distintas atinentes à mera qualifica-
na contratação de profissionais ar-
ção profissional, como frequência a
tísticos é necessária a apresentação conservatórios de música, à consa-
de curriculum acompanhado de do- gração pela crítica especializada ou
cumentos que atestem a consagra- pela opinião pública. Aqui, só fama
ção pela crítica e opinião pública.”12 e a notoriedade do artista permitem
a contratação direta; os demais que
Ainda, vede entendimento do Tribu- ainda não alcançaram esse grau de
nal de Contas do Estado de Tocan- reconhecimento podem ser contra-
tins (TCE/TO), emitido na Resolução tados mediante concurso ou outra
15/13 – Pleno: modalidade de licitação, ou ainda
A Lei não exige que a consagração com dispensa, por exemplo, na for-
pela crítica especializada ou pela ma do inciso II do art. 24 da Lei nº
opinião pública seja caracterizada 8.666/1993.14
pelo reconhecimento nacional ou Observe-se que o que deve ser
internacional. Não podemos olvidar, comprovada, de forma absoluta e
que por vezes um artista mesmo
justificada, é a consagração do ar-
sem ser consagrado pela critica na-
cional, pode o ser na região ou local tista pela crítica especializada ou
em que costumeiramente se apre- opinião pública e não necessaria-
mente o seu “profissionalismo”.
11 TOLOSA FILHO, Benedicto de. Contratando
sem Licitação: Comentários Teóricos e Prá- 13 Resolução 15/13-TCE/TO-Pleno.
ticos. 3. ed. Rio de Janeiro: GZ, 2010. p. 159.
14 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Contrata-
12 TC/DF. Processo nº 6029/95. Decisão ção Direta sem Licitação. 7. ed. Belo Hori-
6968/96. zonte: Fórum, 2007. p. 642.

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Orientação Técnica

Mesmo porque a lei é clara no sen- Para a definição de artista, bem


tido de permitir a contratação por como o requisito para a demons-
inexigibilidade de licitação apenas tração de seu profissionalismo,
de artista profissional e não ama- observe-se o ensinamento de Jorge
dor. O profissionalismo é requisito Ulisses Jacoby FERNANDES:
indissociável do artista aludido no Artista, nos termos da lei, é o pro-
art. 25, inc. III, da Lei 8.666/93. fissional que cria, interpreta ou
Importante esclarecer-se que a lei executa obra de caráter cultural
não proíbe a contratação de artistas de qualquer natureza, para efei-
amadores, mas apenas preceitua to de exibição ou divulgação pú-
que a sua contratação sem licitação blica, por meios de comunicação
não deverá ser feita por inviabili- de massa ou em locais onde se
dade de competição; podendo ser, realizam espetáculos de diversão
evidentemente, cabível a instaura- pública. O profissional artista
ção de licitação para contratação de deve estar inscrito na Delegacia
artistas amadores, se a contratação Regional do Trabalho, o mesmo
destes revelar-se o desiderato da ocorrendo com os agenciado-
Administração. res dessa mão-de-obra, consti-
Sendo que, em tese, o que diferen- tuindo esse registro elemento
cia os artistas profissionais dos ar- indispensável à regularidade da
tistas amadores, para fins de apli- contratação16 (sem grifos no ori-
cação do inc. III, do art. 25, da Lei ginal).
8.666/93 é justamente a necessida- Portanto, para o eminente admi-
de do registro dos primeiros na De- nistrativista, e à luz do que dispõe
legacia Regional do Trabalho (DRT), a Lei 6.533/78 (que dispõe sobre a
nos termos da Lei 6.533/78.15 regulamentação de Artistas e téc-
nicos em espetáculos e diversões),
15 Ressalva-se, por oportuno, ensinamento em seus arts. 2º, 4º e 6º, é requisito
de Joel de Menezes NIEBUHR acerca de
primordial para a contratação dire-
tal aspecto: “Outrossim, advirta-se que o
referido inciso III do artigo 25 não proíbe a
ta de artista, que este esteja devi-
contratação de artistas amadores. Ele ape- damente registrado na Delegacia
nas preceitua que a contratação deles não Regional do Trabalho. E, segundo o
é feita por inexigibilidade, obrando em con- FERNANDES, a exigência quanto ao
tradição, já que para os artistas profissio-
nais reconhece a inviabilidade de compe- inexigibilidade. Ademais, é possível que o
tição e, por conseguinte, a inexigibilidade. artista amador seja consagrado pela critica
Mas, para admitir tal distinção, a natureza e pelo público, seja mais renomado do que
do contrato de artista amador deve ser uma plêiade de artistas profissionais. A arte
diversa da natureza do contrato de artista repousa no espírito, não nos registros da
profissional, o que, evidentemente, não é Delegacia do Trabalho.” In NIEBUHR, Joel de
verdadeiro. Num e noutro caso, a escolha Menezes. Op. Cit, p. 326.
do artista depende de critério subjetivo,
calcado na criatividade, o que torna invi- 16 FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Op. Cit,
ável a competição e, por efeito, autoriza a p. 638.

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Orientação Técnica
registro serve também ao agencia- 3. Contratação por meio de empre-
dor/empresário. sário exclusivo. Forma de compro-
Isto porque, conforme consta no vação quanto à exclusividade do
art. 3º, parágrafo único, da Lei contrato.
6.533/78: “aplicam-se, igualmente, Conforme delimitado pelo próprio
as disposições desta Lei às pessoas inc. III, a contratação do artista po-
físicas ou jurídicas que agenciem derá ser procedida de forma direta
colocação de mão-de-obra de pro- (junto ao próprio artista) ou, então,
fissionais definidos no artigo ante- por meio de agenciador/empresá-
rior”. Sendo que, com base no art. rio, deste que este se caracterize
como sendo seu “empresário ex-
4º da referida Lei: “as pessoas físicas
clusivo”, fato que deverá ser com-
ou jurídicas de que trata o artigo an-
provado por meio de contrato de
terior deverão ser previamente ins-
exclusividade do artista junto ao
critas no Ministério do Trabalho”.
empresário. Com base no enten-
Cumpre salientar, no entanto, que dimento do Tribunal de Contas da
quanto à inscrição do empresário, União (TCU), a exclusividade de-
a doutrina diverge, visto que para verá ser comprovada por meio de
Joel de Menezes NIEBUHR, “a ri- contrato firmado entre o artista e
gor jurídico, o inciso III do artigo 25 o empresário, devendo ainda ser
da Lei 8.666/93 prescreve apenas registrado em cartório. Não po-
que o artista deve ser profissional, dendo ser aceita “carta” ou “de-
não o seu empresário ou agente, claração” de exclusividade. Vede
que simplesmente intermedeia o excertos do Acórdão 642/14 – Pri-
contrato”17. meira Câmara:
Não foi possível localizar no âmbi- 3. Após análise da documenta-
to jurisprudencial qualquer decisão ção encaminhada pelo tribunal
que trate a respeito do assunto; de contas estadual, a Secex/PB
fato que nos leva à ilação de que, constatou que as cartas de ex-
embora a divergência doutrinária clusividade, apresentadas como
apresentada (a qual, data venia, exigência para ratificação do
processo de inexigibilidade de li-
nos parece, que não levou em con-
citação, conferem exclusividade
ta as disposições legais aplicáveis
apenas para as datas especifica-
ao caso), a rigor, serão os preceitos
das e para a localidade do even-
contidos na Lei 6.533/78 que deve-
to. Além disso, foi identificado o
rão ser fielmente aplicados tanto
pagamento de despesa fora da
para o artista, quanto para o seu vigência do convênio, em deso-
agenciador/empresário, do qual bediência ao art. 8º, inciso V, da
haverá que se exigir, igualmente, o IN/STN 01/97.
registro na DRT.
4. Diante das citadas irregulari-
17 NIEBUHR, Joel de Menezes. Op. Cit, p. 326. dades, a unidade técnica propõe

www.negociospublicos.com.br | 189
Orientação Técnica

determinar ao Ministério do Tu- te, sujeita a glosa: contratação de


rismo que instaure processo de bandas de música, por meio de
tomada de contas especial, co- inexigibilidade de licitação, sob
municando ao TCU as providên- o fundamento da exclusividade
cias adotadas, a fim de serem de representação, com base na
monitoradas. apresentação de "cartas" e de
"declarações" que supostamen-
5. Manifesto-me de acordo com
te atestariam a dita exclusivida-
a análise realizada, promovendo,
de, mas na verdade não se pres-
todavia, ajustes na proposta de
tam para tanto, o que só pode
encaminhamento formulada, pe-
ser feito por meio de contrato
las razões que passo a expor.
firmado entre artistas e empre-
6. De fato, as irregularidades fo- sários, devendo ainda constar
ram confirmadas. As cartas de registro em cartório, além de
exclusividade apresentadas, regular publicação, conforme as
com especificação de dias e lo- disposições contidas no termo
cal dos shows, não cumprem a de convênio, no item 9.5 do Acór-
orientação deste Tribunal, expe- dão nº 96/2008-TCU-Plenário e
dida diretamente ao Ministério nos arts. 25, inciso III, e 26, todos
do Turismo, por meio do Acór- da Lei 8.666/93"18 (sem grifos no
dão nº 96/2008 - Plenário, no original).
sentido de que "o contrato de Conforme salientado acima, a con-
exclusividade difere da autori- tratação do artista poderá ser pro-
zação que confere exclusividade cedida de forma direta ou, então,
apenas para os dias correspon- por meio de agenciador/empresá-
dentes à apresentação dos artis- rio, deste que este se caracterize
tas e que é restrita à localidade como sendo seu “empresário ex-
do evento". (...) clusivo”, fato que deverá ser com-
8. Não obstante tais improprie- provado por meio de contrato de
dades, pondero que a determi- exclusividade do artista junto ao
nação nos termos sugeridos pela empresário.
Secex/PB revela-se escusável. Dito de outro modo, tem-se que
É que este Tribunal já expediu a contratação de profissionais de
idêntico comando, por meio qualquer setor artístico, quando
do Acórdão nº 3826/2013 - 1ª caracterizada a inviabilidade de
Câmara, para que o Ministério competição, poderá se dar “direta-
do Turismo "instaure processo mente”, hipótese na qual a contra-
de Tomada de Contas Especial, tação correspondente terá como
quando no exame da prestação partes contraentes o próprio artista
de contas forem constatadas as
18 TCU. Acórdão 642/14. Órgão julgador: Pri-
mesmas irregularidades aqui re- meira Câmara. Relator: Ministro Valmir
feridas, especialmente a seguin- Campelo. DOU: 18/02/14.

190 | www.negociospublicos.com.br
Orientação Técnica
e a Administração Contratante ou, sários, devendo ainda constar
então, por meio de “empresário/ registro em cartório, além de
agenciador”, hipótese na qual a regular publicação, conforme as
contratação terá como partes este disposições contidas no termo
(na qualidade de representante do de convênio, no item 9.5 do Acór-
artista) e a Entidade a ser beneficia- dão nº 96/2008-TCU-Plenário e
da. Isto, aliás, nos exatos termos do nos arts. 25, inciso III, e 26, todos
inc. III, do art. 25, da Lei 8.666/93. da Lei 8.666/93"20 (sem grifos no
Sendo que não há, rigorosamente, original).
possibilidade de que a intermedia- 4. Comprovação de qualificação e/
ção do contrato ocorra por meio de ou experiência do artista X prova
produtores de eventos. de consagração.
Vede, por oportuno, a esse respei- Como prova da “consagração” do
to, posicionamento da Procuradora artista, nos termos já explanados
Federal Fernanda Mesquita FER- alhures, com base no entendimen-
REIRA, com o qual corroboramos, to do Tribunal de Contas do Distrito
em artigo intitulado “A Contrata- Federal, no Acórdão citado acima,
ção direta de artistas no âmbito para fins de aplicação do art. 25, inc.
da Administração Pública Federal”: III, da Lei 8.666/93, na contratação
“também vimos que certos desvir- de profissionais artísticos é neces-
tuamentos devem ser evitados, tais sária a apresentação de curriculum
como: apresentação de contratos acompanhado de documentos que
de exclusividade de empresários atestem a consagração pela crítica
atrelados a determinada data do especializada ou opinião pública, no
evento, alegação de sigilo contra- âmbito nacional, regional ou local/
tual, bem como intermediação de municipal, conforme o caso. Obser-
empresas produtoras de evento”19 ve-se, uma vez mais que a prova da
(sem grifos no original). consagração é condição sine qua
bandas de música, por meio de non que se impõe para legitimar-se
inexigibilidade de licitação, sob a contratação direta, via inexigibili-
o fundamento da exclusividade dade de licitação, de qualquer pro-
de representação, com base na fissional de qualquer setor artístico.
apresentação de "cartas" e de Sendo que, concretamente, para
"declarações" que supostamen- fins de comprovação da consagra-
te atestariam a dita exclusivida- ção, poderá ocorrer a juntada aos
de, mas na verdade não se pres- autos da inexigibilidade de licitação,
tam para tanto, o que só pode matérias jornalísticas, material pu-
ser feito por meio de contrato blicitário, fotos, vídeos etc. Veja-se
firmado entre artistas e empre- que o profissionalismo do artista

19 Disponível em: <http:/www.conteudojuridi- 20 TCU. Acórdão 642/14. Órgão julgador: Pri-


co.com.br/?artigos&ver=2.42983&seo=1>. meira Câmara. Relator: Ministro Valmir
Acesso em: 17/10/14. Campelo. DOU: 18/02/14.

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Orientação Técnica

a ser contratado se dará mediante indicação no processo, dos preços


a apresentação de documento que praticados por outros artistas.
comprove o seu registro na Dele- Em situações como essas, a justifi-
gacia Regional do Trabalho (DRT), cativa de preço residirá na demons-
nos termos já enunciados oportu- tração pela Administração de que o
namente. preço contratado é compatível com
Observe-se que a prova do registro o preço que o artista normalmente
na DRT já pressupõe que houve a pratica com particulares e com ou-
observância aos requisitos contidos tros Órgãos/Entidades, quando da
em normas aplicáveis (no caso, a execução deste mesmo objeto; ou
Lei 6.533/78 e também o Decreto mesmo junto à iniciativa privada;
Federal 82.385/78) para fins de se valendo-se das regras que cons-
comprovar o profissionalismo do tam no art. 15, incs. III e V, da Lei
artista a ser contratado. Ao que 8.666/9321.
não se fará necessária, em tese, a A esse respeito, não se pode olvidar
exigência documental quanto à pre- quanto ao teor da Orientação Nor-
sença em cursos ou qualquer forma mativa 17/09, da Advocacia Geral
de demonstração/comprovação de da União (AGU): “é obrigatória a
experiência profissional. Tal expe- justificativa de preço na inexigibi-
riência profissional, advirta-se, não lidade de licitação, que deverá ser
deve ser confundida com a prova da realizada mediante a comparação
consagração do artista, a qual, con- da proposta apresentada com pre-
forme já salientado alhures, perfaz- ços praticados pela futura contra-
-se em condição indispensável para tada junto a outros órgãos públicos
a legitimidade da contratação dire- ou pessoas privadas.” Neste mes-
ta. mo sentido, aliás, pronunciou-se o
TCU, por meio do Acórdão 819/05,
5. Justificativa do preço.
observe-se:
Nos termos do art. 26 da Lei
9.1.3. quando contratar a reali-
8.666/93, as contratações emba-
zação de cursos, palestras, apre-
sadas na inexigibilidade de licita-
sentações, shows, espetáculos
ção, deverão ser, necessariamente
ou eventos similares, demons-
justificadas, sendo que o processo
tre, a título de justificativa de
correlato deverá ser instruído, no
preços, que o fornecedor cobra
que couber, com elementos conti-
igual ou similar preço de outros
dos nos incisos do parágrafo único
do referido dispositivo legal, dentre 21 Lei 8.666/93: “Art. 15 - As compras, sempre
os quais, encontra-se a justificativa que possível, deverão: (...) III – submeter-se
de preço (inc. III). E, a esse respeito, às condições de aquisição e pagamento se-
ante a característica de inviabilida- melhantes às do setor privado; (...) V - ba-
lizar-se pelos preços praticados no âmbito
de de competição (subjetividade
dos órgãos e entidades da Administração
de critérios), não há que se falar na Pública.”

192 | www.negociospublicos.com.br
Orientação Técnica
com quem contrata para evento preços praticados por tal prestador
de mesmo porte, ou apresen- de serviço, em suas demais contra-
te as devidas justificativas, de tações com outros órgãos públicos
forma a atender ao inc. III do ou empresas privadas, respeitadas
parágrafo único do art. 26 da as singularidades de cada negocia-
Lei 8.666/199322 (sem grifos no ção.
original). Essa comprovação poderá ser re-
alizada mediante a apresentação,
Assim, tem-se que as contratações
exemplificativamente, de um dos
diretas por inexigibilidade de lici-
seguintes documentos: tabela de
tação, quando devidamente confi-
preços do prestador exclusivo, no-
guradas no caso concreto, terão o
tas de empenho, notas fiscais, fa-
preço a ser estipulado, justificado
turas, contratos assinados, recibos
mediante demonstração de que o
de pagamentos, etc. Em síntese, a
valor ofertado pelo potencial con-
Administração deverá solicitar dos
tratado constitui-se no preço que
artistas que pretende contratar,
ele normalmente pratica no mer- curriculum acompanhado de docu-
cado. Ou, noutras palavras, o preço mentos que atestem a consagração
poderá ser justificado com base nos pela crítica ou opinião pública e ta-
bela de preços, notas fiscais ou fa-
22 TCU. Acórdão 819/05. Órgão Julgador: Ple-
nário. Relator: Ministro Marcos Bemquerer.
turas que comprovem o preço por
DOU 30/06/05. eles praticado.

COMO CITAR
ESTA FONTE:
BERTOLDO,
Elaine Cristina.
Contratação
direta de
Profissional do
setor Artístico:
apontamentos
importantes.
LICICON – Revista
de Licitações
e Contratos.
Instituto Negócios
Públicos: Curitiba,
PR, ano VII,
n.84, p.183-193,
dezembro 2014.

www.negociospublicos.com.br | 193
Arena

194 | www.negociospublicos.com.br
Arena

A possibilidade de prorrogação do contrato de serviços contínuos


deve estar prevista no edital e no contrato respectivo?

1) Pela desnecessidade:
Para Jessé Torres PEREIRA JUNIOR, a exigência de que a possibilidade de
prorrogação do prazo de vigência de serviços continuados seja expressamente
colacionada no edital ou no contrato firmado, é desnecessária1, já que o
próprio texto da lei assim não prevê2.
Joel de Menezes NIEBUHR:
Não há porque condicionar a eficácia da Lei a ato administrativo, como é o caso
de edital de licitação pública. Se a situação concreta subsume-se à hipótese pre-
vista em Lei, autorizadora da prorrogação, aos contratantes é permitido prorro-
gar a avença. A Lei já é o bastante; não é necessário que o edital e/ou contrato
repita o que está prescrito na Lei” (sem grifos no original).3
2) Pela necessidade:
Marçal JUSTEN FILHO:
A renovação do contrato, na hipótese do inc. II, depende de explícita autorização
no ato convocatório. Omisso esse, não poderá promover-se a renovação. Essa
asserção deriva do princípio da segurança. Não é possível que se instaure a lici-
tação sem explícita previsão acerca do tema. Os eventuais interessados deve-
rão ter plena ciência da possibilidade de prorrogação (sem grifos no original).4

1 PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres. Comentários à Lei das Licitações e Contratações da Administra-
ção Pública. 8. ed. São Paulo: Renovar, 2009, p. 652.

2 A propósito, a obrigatoriedade legal quanto à menção editalícia, da possibilidade de prorroga-


ção do prazo de vigência contratual encontra guarida apenas na hipótese do inc. I, do art. 57, da
Lei 8.666/93. Observe-se: “Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita
à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos: I - aos projetos
cujos produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, os quais
poderão ser prorrogados se houver interesse da Administração e desde que isso tenha sido
previsto no ato convocatório (sem grifos no original)”.

3 NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação Pública e Contrato Administrativo. 2 ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2011, p. 732.

4 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 16. ed.

www.negociospublicos.com.br | 195
Lucas Rocha FURTADO:
Devemos, desde já, advertir que somente contratos de serviços contínuos
A rena

admitem a possibilidade de prorrogação da sua vigência, nos termos do


art. 57, II e §4º, da Lei nº 8.666/93. A prorrogação depende, todavia, de que
além da necessária previsão contratual, que as partes consensualmente
consintam nesse sentido, o que deverá ser formalizado por meio de
aditivo ao contrato.5

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 955.

5 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Licitações e Contratos Administrativos. 2. ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2009. p. 515.

DICA DA CONSULTORIA
Considera-se alienação nos termos do inc. IV, do art. 6º, da Lei
8.666/93, de acordo com o qual se considera alienação “... toda
transferência de domínio de bens a terceiros”. Neste contexto, es-
clarece-nos Marçal JUSTEN FILHO, que “a expressão ‘alienação’ é
utilizada numa acepção ampla. Compreende tanto a alienação no
sentido próprio e técnico como também outros institutos que pos-
sibilitam a outro sujeito o uso e a fruição parcial ou temporária de
bens e de direitos de titularidade da Administração Pública.”1

1 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 16.


ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 154.

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Índice Remissivo

Aditivos contratuais. Limites. Art. Contrato extinto. Prazo de garantia


29 do Decreto Federal 8.241/14. No e suporte técnico. Vigência. Altera-
âmbito das contratações efetivadas ção quantitativa. Impossibilidade.
pelas fundações de apoio, os limites Prazo de vigência da garantia não
impostos, para fins de aditivos con- deve ser incluído no prazo de vigên-
tratuais, pelo art. 65 da Lei 8.666/93 cia do contrato. (RO09, p.63)
não se aplicam. Considerações im- Documentos de habilitação. Apre-
portantes. (RO10, p.65) sentação de documentação com
Alienação. Conceituação. (Dica 01, divergência de endereço da sede do
p.184) licitante, mas contendo o mesmo
Cadastro de reserva x direito à no- CNPJ. Inadequação: regra. Exceção
meação do candidato (Concurso aventada pela Consultoria Jurídica.
Público, p.176) Considerações. (RO02, p.46)
Decreto Federal 8.241/14. Aditivos
Certidão Negativa de Débitos Tra-
contratuais. Limites. Art. 29 do De-
balhistas (CNDT). Considerações.
creto Federal 8.241/14. No âmbito
(Doutrina, p.156)
das contratações efetivadas pelas
Considera-se alienação nos termos fundações de apoio, os limites im-
do inc. IV, do art. 6º, da Lei 8.666/93. postos, para fins de aditivos contra-
(Dica 01, p.196) tuais, pelo art. 65 da Lei 8.666/93
Contratação direta de profissional não se aplicam. Considerações im-
de qualquer setor artístico. Com- portantes. (RO10, p.65)
provação de sua consagração, com Elaboração do orçamento estima-
base no que dispõe o art. 25, inc. do. Fontes de pesquisa. Ausência de
III, da Lei 8.666/93. Formas. Profis- formatação específica para verifica-
sionalismo. Apresentação de do- ção dos preços. (RO05, p.53)
cumento que comprove o registro Endereço da sede do licitante. Do-
na Delegacia Regional do Trabalho cumentos de habilitação. Apresen-
(DRT). (Dica 04, p.110) tação de documentação com di-
Contratação direta de profissional vergência de endereço da sede do
de qualquer setor artístico. (Orien- licitante, mas contendo o mesmo
tação Técnica, p.183) CNPJ. Inadequação: regra. Exceção
Contrato de fornecimento. Prorro- aventada pela Consultoria Jurídica.
gação da vigência contratual. Forne- Considerações. (RO02, p.46)
cimento versus serviços. Distinções Fiscal do contrato. Designação. Hi-
elementares. Diferenciação entre póteses indispensáveis. Instrumen-
as espécies de prorrogação do art. to formalizador da avença x natu-
57. Considerações. (PA03, p.25) reza da prestação a ser executada.

www.negociospublicos.com.br | 197
Entendimento aparente do Tribunal Licitação. Festividade. Ausência de
de Contas da União (TCU). Entendi- interesse público. Impossibilidade.
ÍNDICE

mento doutrinário. Entendimento (RO07, p.58)


da Consultoria. (RO03, p.49) Licitação. Limitação de número de
Fiscal do contrato versus gestor do empresas por consórcio. Ausência
contrato. Principais atribuições. de entendimento pacificado acer-
(RO03, p.49) ca da matéria. Obrigatoriedade de
Fundações de apoio. Decreto Fede- verificação do posicionamento da
ral 8.241/14. Aditivos contratuais. Corte de Contas Estadual a respeito
Limites. Art. 29 do Decreto Federal da questão. Considerações. (PA02,
8.241/14. No âmbito das contrata- p.17)
ções efetivadas pelas fundações de Licitação. Parecer Jurídico. Utiliza-
apoio, os limites impostos, para fins ção de minuta-padrão. Exceção.
de aditivos contratuais, pelo art. Quando houver identidade do ob-
65 da Lei 8.666/93 não se aplicam. jeto e não restarem dúvidas acerca
Considerações importantes. (RO10, da possibilidade de adequação das
p.65) cláusulas exigidas no contrato e às
Gestor do contrato versus fiscal do previamente estabelecidas. (Juris-
contrato. Principais atribuições. prudência Selecionada, p.112)
(RO03, p.49) Prazo de garantia e suporte técnico.
Globalização. Impacto ao conceito Vigência. Alteração quantitativa.
de Constituição Econômica (Doutri- Impossibilidade. Prazo de vigência
na, p.162) da garantia não deve ser incluído
Hospedagem. Contratação. Trata- no prazo de vigência do contrato.
tiva diretamente junto ao estabe- (RO09, p.63)
lecimento hoteleiro versus inter- Software Robô. Art. 2º da IN 03/11
mediação por meio de agência de SLTI/MPOG, alterada pela IN 03/13
turismo. Análise a ser ponderada SLTI/MPOG: em caso de falha no
pela Administração caso a caso. (Ju- sistema, os lances em desacordo
risprudência Comentada, p.75) com a norma deverão ser desconsi-
Hotéis. Reservas. Contratação. Tra- derados pelo Pregoeiro, devendo a
tativa diretamente junto ao esta- ocorrência ser comunicada imedia-
belecimento hoteleiro versus inter- tamente à Secretaria de Logística e
mediação por meio de agência de Tecnologia da Informação. Análise,
turismo. Análise a ser ponderada por parte do Pregoeiro, após a fase
pela Administração caso a caso. (Ju- de lances/disputa: ilegalidade. Con-
risprudência Comentada, p.75) siderações. (PA04, p.31)
Licitação. Exigência de habilitação. Pregão. Classificação de bens e ser-
Certificação do INMETRO. Aquisi- viços comuns. Compatibilidade da
ção de bens ou contratação de ser- modalidade escolhida ao objeto li-
viços de informática e automação. citado. (Edital Comentado, p.68)
Ilegalidade. Restrição do caráter Pregão. Contratação de serviços
competitivo do certame. (Jurispru- terceirizados. Impossibilidade de
dência Selecionada, p.132) somatório dos Atestados de Capaci-

198 | www.negociospublicos.com.br
dade Técnica. (Jurisprudência Sele- taxa administrativa. Lei 8.666/93,
cionada, p.118) art. 40, inc. X: possibilidade, a priori.

ÍNDICE
Pregão eletrônico. Tempo randômi- Conflito em potencial com o Princí-
co exíguo. Lance vencedor compatí- pio Constitucional da Livre Iniciati-
vel com o valor estimado. Potenciais va. Deslinde final a ser adotado pela
lances de valor ainda mais reduzido Administração Consulente de for-
(hipótese). Anulação: ausência de ma devidamente motivada. Reco-
vício de legalidade. Descabimento. mendação de consulta ao Tribunal
Revogação. Hipótese de cabimento de Contas respectivo. (PA01, p.09)
(RO04, p.51) Rescisão unilateral. Processo admi-
Pregão eletrônico. Utilização de nistrativo (Jurisprudência em Foco,
software Robô. Art. 2º da IN 03/11 p.170)
SLTI/MPOG, alterada pela IN 03/13 Reservas em hotéis. Contratação.
SLTI/MPOG: em caso de falha no Tratativa diretamente junto ao es-
sistema, os lances em desacordo tabelecimento hoteleiro versus in-
com a norma deverão ser desconsi-
termediação por meio de agência
derados pelo Pregoeiro, devendo a
de turismo. Análise a ser ponderada
ocorrência ser comunicada imedia-
pela Administração caso a caso. (Ju-
tamente à Secretaria de Logística e
risprudência Comentada, p.75)
Tecnologia da Informação. Análise,
por parte do Pregoeiro, após a fase Robô. Art. 2º da IN 03/11 SLTI/
de lances/disputa: ilegalidade. Con- MPOG, alterada pela IN 03/13 SLTI/
siderações. (PA04, p.51) MPOG: em caso de falha no siste-
Pregão. Orçamento estimado. ma, os lances em desacordo com
Desnecessidade de divulgação no a norma deverão ser desconside-
edital. Modalidades tradicionais. X rados pelo Pregoeiro, devendo a
Pregão. Pregão: indicação no pro- ocorrência ser comunicada imedia-
cesso administrativo correspon- tamente à Secretaria de Logística e
dente. (RO01, p.43) Tecnologia da Informação. Análise,
Princípio da publicidade. Reque- por parte do Pregoeiro, após a fase
rimento do sindicato estadual so- de lances/disputa: ilegalidade. Con-
licitando os dados das empresas siderações. (PA04, p.31)
contratadas. Possibilidade. Justifi- Sanção. Recurso Administrativo.
cativa. Princípio constitucional da Efeitos recursais. (RO08, p.61)
publicidade. Considerações. (RO06, Sede do licitante. Endereço. Docu-
p.56) mentos de habilitação. Apresen-
Processo administrativo. Rescisão tação de documentação com di-
unilateral. (Jurisprudência em Foco, vergência de endereço da sede do
p.170) licitante, mas contendo o mesmo
Projeto básico. Exigência. Obras ou CNPJ. Inadequação: regra. Exceção
serviços. (Dica03, p.173) aventada pela Consultoria Jurídica.
Propostas comerciais. Estabeleci- Considerações. (RO02, p.46)
mento em edital do valor/percentu- Serviços contínuos. Prorrogação
al máximo a ser cotado a título de do contrato. Necessidade ou não

www.negociospublicos.com.br | 199
de previsão no edital e no contrato va. Deslinde final a ser adotado pela
respectivo. (Arena, p.195) Administração Consulente de for-
ÍNDICE

Serviços de hotelaria. Contratação. ma devidamente motivada. Reco-


Tratativa diretamente junto ao es- mendação de consulta ao Tribunal
tabelecimento hoteleiro versus in- de Contas respectivo. (PA01, p.09)
termediação por meio de agência Taxa de administração. Taxas zero
de turismo. Análise a ser ponderada ou negativas. Possibilidade. Enten-
pela Administração caso a caso. (Ju- dimento do Tribunal de Contas da
risprudência Comentada, p.75) União (TCU) (referencial). (PA01,
Sustentabilidade. Dispensa de li- p.09)
citação. Art. 24, inc. XXVII, da Lei Vales/tíquetes alimentação e re-
8.666/93. (Dica 02, p.167) feição. Fornecimento. Critério de
Taxa de administração. Conceitua- julgamento a ser adotado. (PA01,
ção. (PA01, p.09) p.09)
Taxa de administração. Edital. Es- Visita à sede do licitante. Inexistên-
tabelecimento do valor/percentu- cia de fundamento legal para tanto.
al máximo a ser cotado a título de Documentos de habilitação. Rol
taxa administrativa. Lei 8.666/93, taxativo. Inexistência de sede do li-
art. 40, inc. X: possibilidade, a priori. citante. Necessidade de consulta a
Conflito em potencial com o Princí- profissional do Direito Empresarial.
pio Constitucional da Livre Iniciati- (PA05, p.37)

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Ano VII • Dezembro 2014

ISSN 1984371

9 771984 371202

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