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Experiências Musicoterápicas no processo de preparação do cantor de

alta performance

Bruna Lemes Carneiro da Silva1


Mauro Pereira Amoroso Anastacio Júnior2

Resumo
O cantor de alta performance possui uma intensa rotina de preparação. É um processo de anos
de construção, que pode ser definido equivocadamente como algo de desenvolvimento natural,
sem necessidade de intervenção ou estimulação. O presente artigo tem como principal objetivo
investigar como a Musicoterapia pode contribuir para o processo de construção de um self bem
definido do cantor, ou seja, os elementos que constituem a sua subjetividade e
consequentemente, sua personalidade, realizando uma ponte entre a preparação técnica e o
autoconhecimento deste profissional. Neste processo, busca-se promover estruturas base dos
aspectos musculares, interpretativos, e de autoconhecimento. Cantar no palco é apenas uma das
etapas a serem concluídas, e é resultado de uma correta preparação multidisciplinar. Se o cantor
se sente bem, e sabe comandar bem seu corpo e mente durante a performance, mais seguro ele
estará com sua própria voz, e o discurso que deseja levar ao ambiente em que está inserido.

Palavras-chave: Cantor, preparação, performance, interpretação, musicoterapia.

1. Introdução

O presente trabalho é o fruto de investigação e compreensão de como o cantor de alta


performance pode ser preparado para uma apresentação satisfatória, utilizando teoria e
técnicas da musicoterapia e assim propor formas de contribuir com o artista em sua
potencialidade, conduzindo o trabalho de forma multidisciplinar para que, quando o
momento de cantar em um palco chegue, isso aconteça forma orgânica para o artista.
Primeiramente, serão abordados aspectos conceituais sobre as estruturas que regem o
universo sonoro e o ser humano, bem como as leis que da física e da mecânica que são
parte dessa estrutura fundamental que engloba o som que todo indivíduo é capaz de
produzir, e da complexidade que faz parte da expressão, da musicoterapia e do canto,
para um profissional de alta performance.

1
Aluna da pós-graduação em Musicoterapia da Faculdade Censupeg edmusicalbrunalemes@gmail.com
2
Professor orientador mauroanastacio@gmail.com
A música é uma poderosa fonte de expressão. O homem sempre teve uma profunda
relação com as estruturas que regem o universo sonoro. Seja por apreciação, ou pela
necessidade inconsciente em se buscar compreensão da própria existência, há um
consenso histórico sobre a importância da musicalidade para o ser humano. De acordo
com as leis físicas, o som é uma onda mecânica, que nasce por meio de um estímulo
específico que movimenta o ar, que por sua vez entra em contato com nosso corpo,
gerando impulsos elétricos auditivos, sensoriais, cerebrais e fisiológicos. Diante disso, a
percepção sonora vai além do reflexo auditivo, medido em decibéis (dB). (MUNDO
EDUCAÇÃO, 2022)
Ao entrar em contato com o indivíduo, o som é recebido a níveis moleculares. Daí a
importância de analisar os efeitos do som, da música e da experiência musical para o ser
humano. É através das respostas de cada indivíduo ao fenômeno sonoro, suas
frequências, e como isso se relaciona com sua origem, personalidade, crenças e cultura,
que se pode compreender melhor como a música é parte construção da psique do cantor
profissional.
A rotina do cantor de palco é intensa. Seja ele um artista erudito ou popular, é
indiscutivelmente necessária uma preparação completa para que este possa atingir sua
potencialidade máxima. Tal preparação envolve aspectos técnicos, como a preparação
vocal e o condicionamento muscular, assim como psicológicos.

2. Objetivo
O presente artigo tem como principal objetivo investigar como a Musicoterapia pode
contribuir para o processo de construção de um self bem definido do cantor, ou seja, os
elementos que constituem a sua subjetividade e consequentemente, sua personalidade,
realizando uma ponte entre a preparação técnica e o autoconhecimento.

3. Materiais e Métodos
O presente artigo é uma revisão narrativa, desenvolvido para investigar e
compreender mais sobre a temática abordada. Foram realizadas pesquisas em diversas
fontes como livros que serviram de referência para sua elaboração. Serão apresentados
os procedimentos resultados de pesquisas abordando, entre outros assuntos, como
acontece a interação entre o terapeuta e cliente nesse contexto. A técnica vocal será
apresentada a partir dos ensinamentos de Barcelos (2016), Bruscia (2015) e Chagas
(2008).
Os conteúdos referenciais, resultados de pesquisas bibliográficas, foram selecionados
a partir da criação de uma estrutura de pesquisa. Primeiramente, o processo de estudo
partiu da ideia de investigar a relação da prática Musicoterápica para cantores
profissionais. Foram consultados autores que permitiram elaborar um pensamento
estruturado acerca do tema principal; e consequentemente direcionar o tema para uma
abordagem concreta e direta sobre o assunto.

4. Resultados e Discussão
Neste tópico será discutido como a Musicoterapia pode influenciar a performance de
cantores profissionais. Serão contemplados a técnica vocal, a interpretação e a prática da
musicoterapia, além de explicar conceitos como a fonação, articulação e ressonância a
partir de Sílvia Maria Rebelo Pinho (2014) entre outros autores que abordam o universo
sonoro-musical como prática terapêutica.
Para que se possa compreender melhor como a Musicoterapia pode influenciar a
performance de cantores profissionais, é fundamental entender os seus conceitos e
definições, bem como contemplar os aspectos técnicos e fisiológicos, que são
responsáveis pela produção dos sons. Que constituem a técnica vocal, a interpretação e
se fundamentam na musicoterapia.

4.1 A Técnica Vocal

A voz é produzida através de um fenômeno chamado processo fonatório. Essa


produção se constitui resumidamente de três etapas: fonação, articulação e ressonância.

De acordo com os ensinamentos de Sílvia Maria Rebelo Pinho (2014, p.3) a fonação
tem origem no córtex cerebral, que ativa os núcleos motores do tronco encefálico e da
medula, transmitindo os impulsos para a musculatura da laringe, dos articuladores, do
tórax e do abdome. Desse modo podemos perceber que o processo de fonação é um
complexo e vasto conjunto de estímulos, que envolvem diversas musculaturas. Cada
músculo intrínseco da laringe exerce uma função importante para a produção do som.
A musculatura que faz parte do complexo aparelho da laringe contribui
predominantemente para que a fonte glótica seja ajustada, são eles os músculos
abdutores e adutores. Os abdutores (CAP) são músculos pares compostos pelos
cricoaritenóides posteriores (compartimentos horizontal e vertical) e são pares. Já os
adutores (AA) são músculos representados pelos aritenóideos, transverso, ímpar e os
oblíquos pares, bem como os cricoaritenóideos (CAL) laterais, que são pares e o externo
tireoaritenóideos externos (TA) que são pares de tensores que englobam uma porção
tireo-muscular ou compartimento externo. E os tensores internos (TA) são pares de
músculos que compõem a porção vocal ou compartimento interno. Os cricotireóideos
(CT) – parte reta e oblíqua também são músculos pares (PINHO, 2014).
Os músculos abdutores abrem as pregas vocais no processo de respiração; enquanto
os músculos adutores fecham as pregas e estão relacionadas com a emissão de sons
fortes e fracos. Os músculos tensores são alongadores e encurtadores, atuando na
produção de sons graves e agudos; e os músculos aritenóideos também atuam na adução
e fechamento das pregas, auxiliando na fonação.
Diante dessas afirmações, há que se observar o conjunto do trabalho dessa
musculatura que permite que o aparelho fonador alcance a sua potencialidade máxima
contribuindo para a perfeita articulação que é como uma moldura para a ressonância da
voz, tanto para a proferir palavras, mas também para que ocorra o canto. Só então pode
ser concebida como um outro conjunto de ferramentas multifacetadas a interpretação.

4.2 Interpretação
A interpretação é a forma que a música, após sentida pelo corpo todo, é transformada
em arte através de nossa voz e de nossos gestos. É um ato realizado de dentro para fora,
e por isso merece a devida atenção. Uma vez entendido que o processo de cantar
envolve um conjunto de estímulos, nervos e musculaturas, é inevitável que tais ações
também entrem em contato com nossas emoções. É a junção destes elementos que
determinará a forma que o cantor decide traduzir e representar sua forma de cantar.
O processo de interpretar envolve aspectos como: a familiaridade com a melodia e o
texto, o ambiente em que a peça será executada, a quantidade de pessoas que estarão
presentes neste ambiente, nível de autoconfiança e controle de ansiedade, possíveis
traumas ou experiências anteriores já vividas, sejam elas de sucesso ou fracasso diante
do público e palco, e quais profissionais acompanharão a condução artística. Cada
interpretação é única e cabe ao cantor a sensibilidade de acolher e elaborar um processo
criativo de construção e desconstrução, mediante aos efeitos pretendidos com a
execução musical. Mais adiante, falaremos sobre como a interpretação se relaciona com
a Musicoterapia através da Experiência de Recriação.
A música tem a poderosa capacidade de invadir diversas áreas cerebrais
simultaneamente. Isso garante estimulação com emoção: ao mesmo tempo que áreas
diversas são ativadas, o Sistema Límbico, responsável pelas emoções também é
acessado. Dominar tais aspectos, e compreender como os elementos sonoro-musicais se
comportam no cérebro, baseados no histórico individual de cada cantor, garantem maior
familiaridade com o material artístico a ser reproduzido, pois memórias são registradas
e evocadas, durante o processo particular de cada indivíduo. Tais memórias
posteriormente se consolidam como a identidade sonora, causando reações diversas, de
acordo com a história de cada um. Além disso, a prática consciente garante a segurança
de se executar com determinada facilidade, de forma saudável.

4.3 Musicoterapia

A musicoterapia é uma ampla área de conhecimento que estuda tanto os efeitos


da música, como principalmente das experiências musicais. O trabalho ocorre com o
intuito de favorecer as possibilidades de promoção, prevenção ou reabilitação de saúde,
e transformar contextos sociais ou individuais. Uma prática terapêutica que também
pode auxiliar no desenvolvimento da performance de músicos especializados.
De acordo com a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM,
2018) a Musicoterapia é um estudo das experiências musicais que ocorrem a partir da
relação entre o musicoterapeuta e as pessoas que são por ele assistidas. A prática
pretende proporcionar uma maior possibilidade de existência e ação no que compreende
tanto o indivíduo, quanto os coletivos que possam estar inseridos.
Nesse sentido, o musicoterapeuta é o profissional de nível superior ou especialização,
com formação reconhecida pelo MEC e com registro em seu órgão de representação de
categoria (UBAM, 2018). Esse profissional está habilitado para exercer a profissão em
todo o país, sendo o facilitador no processo musicoterápico por meio de avaliações que
são específicas e com base na musicalidade de acordo com a necessidade e
especificidade de cada pessoa ou grupo.
Ao estabelecer um plano de cuidado diante de um processo musicoterápico, pode-se
avaliar especificamente e atender as premissas da promoção da saúde, aprendizagem,
habilitação, reabilitação e também do empoderamento e das mudanças de contextos
sociais proporcionando uma qualidade de vida das pessoas e grupos ou comunidades
atendidas. Nesse processo o musicoterapeuta pode atuar no campo da saúde, educação,
social, comunitária, organizacional, entre outros (UBAM, 2018).
Uma vez que utiliza o universo sonoro-musical como ferramenta terapêutica, a
Musicoterapia pode contribuir significativamente para o processo de preparação do
cantor de alta performance. É através das experiências e respostas ao som que o
Musicoterapeuta poderá elaborar sua estratégia, que apesar de ser realizada de forma
individual, é pautada na relação do artista com a música e com o terapeuta.
O processo Musicoterápico conta com etapas bem definidas, como a entrevista
inicial, anamnese e preenchimento da Ficha Musicoterápica, importante ferramenta de
coleta de dados, que proporciona ao terapeuta conhecer qual é o histórico sonoro do
cliente. Este histórico faz parte do ISO – Identidade Sonora do indivíduo, conceito
fundamental da abordagem criada por Rolando Benenzon (1939), Musicoterapeuta
argentino. Segundo ele, a Identidade Sonora é o conjunto de sonoridades que integram e
compõem o sujeito, e atuando diretamente na forma em que ele se coloca perante o
mundo.
Dentro dessa perspectiva o ISO pode ser: Gestalt, que se classifica como a identidade
sonora individual; A complementar, que se refere às pequenas transformações sujeitas
com as mudanças de rotina; O ISO Universal, que é a identidade sonora relacionada a
todos os indivíduos; A Cultural, que pode ser classificada como a identidade sonora de
uma população específica, própria da comunidade, e os modos culturais em que o
indivíduo está inserido e; A Grupal, que sugere o grupo que se classifica diante de uma
identidade sonora específica àquele grupo. (BENENZON, 1985 apud PAIDOS)
Após a coleta de dados e análise do ISO, é realizado o Plano Musicoterápico, onde
consta a queixa inicial do cliente, e os objetivos que o Musicoterapeuta deseja alcançar;
seguindo pelas etapas de intervenção, e posteriormente à alta.

4.4 Experiências Musicoterápicas no processo de preparação do cantor de alta


performance
As experiências em Musicoterapia para a preparação do cantor de alta performance
possuem o objetivo terapêutico de integrá-lo, enquanto cliente, à sua própria
musicalidade, e consequentemente, a seu self. A integração interpessoal, intrapessoal,
espiritual, mental e cinestésica são pilares essenciais na elaboração da performance, e
consequentemente, da segurança artística para toda a sua carreira.
Para que se possa contemplar todos os aspectos que a música oferece ao ser humano,
as experiências são classificadas em cinco níveis: pré-musical, musical, extramusical,
paramusical e não-musical. Esses níveis podem ser contemplados em 4 métodos:
Composição, recriação (execução), improvisação e ouvir (receptiva).
A composição é a experiência musical de se criar um produto sonoro, em conjunto
com o terapeuta; e registrá-lo, seja em gravações, escritos, entre outros. O processo
composicional pode ser feito através de paródias musicais, colagens sonoras,
composição instrumental ou canção. Através da composição, elementos da
personalidade e das emoções podem emergir através da letra e dos sons (melodia,
harmonia e ritmo). Outros objetivos podem ser destacados (BRUSCIA, 2015).
Diante dessas observações faz-se necessário compreender que faz parte da
experiência musical desenvolver habilidades criação das estruturas para que se possa
expressar tanto os pensamentos quanto os sentimentos com outras pessoas. A habilidade
na organização dos pensamentos e sentimentos também, de modo que se possa encaixar
a estrutura adotada e assim, explorar diferentes formas para expressar os pensamentos e
sentimentos de acordo com cada estrutura.
Nessa linha de análise, é significativo ressaltar a importância das habilidades para
tomada de decisões, bem como documentar e comunicar de maneira que os outros
podem recriar a composição. É ainda, primordial, promover a exploração de temas
terapêuticos por meio das letras e desenvolver a habilidade de integrar e sintetizar partes
de um todo.
Neste momento, vale lembrar que em Musicoterapia, dentro do contexto de
preparação do cantor de alta performance, as experiências podem ser terapêuticas e
integrar o indivíduo, enquanto cliente, essa integração interpessoal, intrapessoal,
espiritual, mental e cinestésica são construtores de pilares essenciais para a
performance, e consequentemente para toda a carreira artística. E assim é possível
contemplar as pautas oferecidas pela música ao ser humano, essas experiências se
classificam em níveis que vai do pré-musical ao paramusical.
A experiência de recriação consiste em executar um produto sonoro-musical já
existente, colocando aspectos pessoais em sua interpretação. A recriação em
Musicoterapia não é o mesmo que desenvolver performance, popularmente conhecida
como covers, versões, entre outras nomenclaturas, pois na execução performática, o
artista se apresenta perante o público, e na recriação, a atividade é realizada perante o
terapeuta, com o objetivo de evocar sentimentos que dão sentido ao momento do
cliente. Porém é pertinente destacar a importância desta experiência musical, e como ela
pode auxiliar no processo geral de construção do artista, compreendendo como a
recriação em terapia pode gerar uma extensão até o momento performático de palco.
Num segundo lance, o conceito de re-criar uma peça musical já existente nos traz a
consciência da apropriação artística, sem deixar de lado o respeito à obra original.
Banhado por referências próprias de seu histórico musical, o cantor tem a oportunidade
de “criar novamente” a música a cada execução, mergulhado em seus aspectos mais
íntimos e profundos.
De acordo com os ensinamentos de Bruscia (2015), há uma forma para que a
recriação aconteça, com possibilidades de se desenvolver as habilidades sensório-
motoras. No processo é possível adotar um comportamento adaptativo e ordenado no
tempo, bem como aprimorar a atenção e orientação à realidade. É possível, ainda,
desenvolver a capacidade da memória, a habilidade de escutar e também monitorar a si
mesmo, assim como promover a identificação e a empatia com os outros, além de
experimentar e liberar os sentimentos em um ambiente seguro e apropriado. Estimular
habilidades que permitam distinguir, interpretar e comunicar ideias e sentimentos.
Para Bruscia (2015) é importante aprender diferentes funções chaves em situações
interpessoais, bem como aprimorar e desenvolver habilidades interativas e de grupo.
Para então, identificar-se com determinado valor ou crença do grupo, da comunidade,
bem como da sociedade ou a cultura. Desse modo, para Bruscia (2015) indicou a
importância de se desenvolver um senso de comunidade, além de identificar-se com o
valor de uma crença ou de um grupo, em especial, ou da comunidade, mas de modo que
seja significativo tanto para a sociedade, quanto para a cultura.
A experiência receptiva, por outro lado, diz respeito ao ato de ouvir música, seja ela
realizada através de uma gravação ou executada pelo terapeuta. Em terapia, o cliente
pode obter uma dissolução do processo receptivo de várias formas: reagindo de forma
não-verbal, verbal, entre outros. Nesse processo de interação entre terapeuta e cliente é
que acontece a musicoterapia e que os espaços ocupados são preenchidos pela música e
para a música.
De acordo com Bruscia (2015), se faz necessário alcançar algumas metas que
incluem promover a receptividade, evocar as respostas corporais específicas bem como
relaxar a pessoa, para que assim sejam desenvolvidas habilidades tanto auditivas quanto
motoras. Nessa perspectiva, é interessante explorar ideias e pensamentos dos outros,
além de facilitar a memória oferecendo espaço para reminiscência e para regressão; Ao
evocar o imaginário e as fantasias promove-se a conexão entre o ouvinte e sua
comunidade, bem como o grupo no contexto sociocultural. Esses processos estimulam
as experiências culminantes e espirituais.
A experiência da improvisação compreende uma prática musical realizada de forma
espontânea, e de modo conjunto com o terapeuta ou com outros indivíduos, de acordo
com o objetivo terapêutico, tendo como material de produção recursos variados, como a
voz, o corpo, instrumentos e outros materiais que estejam no setting terapêutico, e que
façam sentido ao momento específico.
Cumpre observar preliminarmente que o Musicoterapeuta Kenneth E. Bruscia,
teórico da Musicoterapia, catalogou e organizou 64 técnicas improvisacionais clínicas,
que estão divididas em técnicas de empatia, de estruturação, de facilitação, de redireção,
de intimidade, de procedimento, referenciais, técnicas de exploração emocional e
técnicas de debate, entre outras.
Uma amostra desses métodos podem ser estabelecer um canal de comunicação não
verbal e uma ponte para a comunicação verbal, bem como fornecer meios gratificantes
de auto expressão e formação de identidade. Para o ator é importante ainda explorar
diferentes aspectos do eu em relação aos outros; identificar, expressar e trabalhar
emoções difíceis, desenvolver a capacidade de respeito interpessoal e de intimidade,
além de desenvolver habilidades interpessoais ou de grupo.
Nesse sentido é extremamente importante resolver os problemas interpessoais ou de
grupo, além de desenvolver a criatividade, expressar liberdade, espontaneidade e
ludicidade em diversos contextos de estrutura e cultura. Além de desenvolver os
sentidos e as habilidades perceptivas e cognitivas.

4.5 Exercícios Técnicos associados à preparação vocal do cantor de alta performance.

 Exercícios de respiração: junção dos exercícios de respiração que atuam nas


emoções do cantor, e controle de ansiedade e frequência cardíaca;
 Aquecimento vocal do cantor: melodias de canções e música que fazem parte
de sua Identidade Sonora;
 Vocalizes: textos que preparam a voz e a musculatura, com textos de afirmações
positivas;
 Experiências para relaxamento: utilização das experiências musicoterápicas
receptivas com o objetivo terapêutico de relaxar e controlar o stress pré e pós
palco;
 Cura de traumas e ressignificação de crenças: desenvolver um olhar analítico
diante das possíveis crenças e traumas instalados durante a vida do cantor, onde
através das experiências Musicoterápicas, ele possa desenvolver um novo
significado.

5. Considerações Finais
O sucesso de uma performance musical é um caminho de constante aperfeiçoamento
que utiliza técnicas multidisciplinares como de acordo com o processo de cada artista,
que estabelecem conexões entre estilos, culturas, estruturas fisiológicas, psicológicas
para que o cantor consiga chegar ao ápice de expresser a sua voz em toda plenitude que
ela lhe exige.
Em virtude dessas considerações, pode-se concluir que o sucesso na performance
musical para os cantores de palco é um híbrido entre o aperfeiçoamento através da
habilitação técnica, adquiridas de acordo com seus estilos, culturas, fisiologia e
preferências pessoais; e do processo de autoconhecimento. Dentro de tais aspectos, a
prática da Musicoterapia auxilia na descoberta do eu artista, auxiliando na construção,
orientação, organização psicológica, e estabelecimento de uma postura musical coerente
diante da plateia e da obra que será executada. Todos esses aspectos contribuem e
aumentam as possibilidades de um perfil artístico que esteja seguro e integrado ao
número no qual pretende executar.
A Música é fonte de expressão e comunicação de um indivíduo e sua comunidade. O
artista é um missionário, que carrega consigo a missão de dar voz àquilo que muitas
vezes soa oculto, ou que as palavras não são capazes de expressar. Saber enviar tais
mensagens, fazem do artista, figura indispensável na construção de uma sociedade mais
humana, e melhor.

Referências
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BARCELLOS. Lia Rejane Mendes. Cuadernos de Musicoterapia e Coda. Barcelona Publisher, 2016.

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Musicoterapia. Vitória-Gasteiz: Agruparte, 1999. Cap. 25, p.385-411.

_____. Definindo Musicoterapia. 3ª Edição, Barcelona Publisher, 2015.

CHAGAS, Marly. Musicoterapia: desafios entre a modernidade e a contemporaneidade – como sofrem os


híbridos e como se divertem. Rio de Janeiro: Mauad X: Bapera, 2008.

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PINHO, Sílvia M. Rebelo. Músculos intrínsecos da laringe e dinâmica vocal – Sílvia Maria Rebelo Pinho,
Gustavo Polacow Korn, Paulo Pontes. – 2. Ed. – vol.1 – Rio de Janeiro: Revinter, 2014

UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA. Definição Brasileira de


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Acesso em 19-07-2022.

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