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alta performance
Resumo
O cantor de alta performance possui uma intensa rotina de preparação. É um processo de anos
de construção, que pode ser definido equivocadamente como algo de desenvolvimento natural,
sem necessidade de intervenção ou estimulação. O presente artigo tem como principal objetivo
investigar como a Musicoterapia pode contribuir para o processo de construção de um self bem
definido do cantor, ou seja, os elementos que constituem a sua subjetividade e
consequentemente, sua personalidade, realizando uma ponte entre a preparação técnica e o
autoconhecimento deste profissional. Neste processo, busca-se promover estruturas base dos
aspectos musculares, interpretativos, e de autoconhecimento. Cantar no palco é apenas uma das
etapas a serem concluídas, e é resultado de uma correta preparação multidisciplinar. Se o cantor
se sente bem, e sabe comandar bem seu corpo e mente durante a performance, mais seguro ele
estará com sua própria voz, e o discurso que deseja levar ao ambiente em que está inserido.
1. Introdução
1
Aluna da pós-graduação em Musicoterapia da Faculdade Censupeg edmusicalbrunalemes@gmail.com
2
Professor orientador mauroanastacio@gmail.com
A música é uma poderosa fonte de expressão. O homem sempre teve uma profunda
relação com as estruturas que regem o universo sonoro. Seja por apreciação, ou pela
necessidade inconsciente em se buscar compreensão da própria existência, há um
consenso histórico sobre a importância da musicalidade para o ser humano. De acordo
com as leis físicas, o som é uma onda mecânica, que nasce por meio de um estímulo
específico que movimenta o ar, que por sua vez entra em contato com nosso corpo,
gerando impulsos elétricos auditivos, sensoriais, cerebrais e fisiológicos. Diante disso, a
percepção sonora vai além do reflexo auditivo, medido em decibéis (dB). (MUNDO
EDUCAÇÃO, 2022)
Ao entrar em contato com o indivíduo, o som é recebido a níveis moleculares. Daí a
importância de analisar os efeitos do som, da música e da experiência musical para o ser
humano. É através das respostas de cada indivíduo ao fenômeno sonoro, suas
frequências, e como isso se relaciona com sua origem, personalidade, crenças e cultura,
que se pode compreender melhor como a música é parte construção da psique do cantor
profissional.
A rotina do cantor de palco é intensa. Seja ele um artista erudito ou popular, é
indiscutivelmente necessária uma preparação completa para que este possa atingir sua
potencialidade máxima. Tal preparação envolve aspectos técnicos, como a preparação
vocal e o condicionamento muscular, assim como psicológicos.
2. Objetivo
O presente artigo tem como principal objetivo investigar como a Musicoterapia pode
contribuir para o processo de construção de um self bem definido do cantor, ou seja, os
elementos que constituem a sua subjetividade e consequentemente, sua personalidade,
realizando uma ponte entre a preparação técnica e o autoconhecimento.
3. Materiais e Métodos
O presente artigo é uma revisão narrativa, desenvolvido para investigar e
compreender mais sobre a temática abordada. Foram realizadas pesquisas em diversas
fontes como livros que serviram de referência para sua elaboração. Serão apresentados
os procedimentos resultados de pesquisas abordando, entre outros assuntos, como
acontece a interação entre o terapeuta e cliente nesse contexto. A técnica vocal será
apresentada a partir dos ensinamentos de Barcelos (2016), Bruscia (2015) e Chagas
(2008).
Os conteúdos referenciais, resultados de pesquisas bibliográficas, foram selecionados
a partir da criação de uma estrutura de pesquisa. Primeiramente, o processo de estudo
partiu da ideia de investigar a relação da prática Musicoterápica para cantores
profissionais. Foram consultados autores que permitiram elaborar um pensamento
estruturado acerca do tema principal; e consequentemente direcionar o tema para uma
abordagem concreta e direta sobre o assunto.
4. Resultados e Discussão
Neste tópico será discutido como a Musicoterapia pode influenciar a performance de
cantores profissionais. Serão contemplados a técnica vocal, a interpretação e a prática da
musicoterapia, além de explicar conceitos como a fonação, articulação e ressonância a
partir de Sílvia Maria Rebelo Pinho (2014) entre outros autores que abordam o universo
sonoro-musical como prática terapêutica.
Para que se possa compreender melhor como a Musicoterapia pode influenciar a
performance de cantores profissionais, é fundamental entender os seus conceitos e
definições, bem como contemplar os aspectos técnicos e fisiológicos, que são
responsáveis pela produção dos sons. Que constituem a técnica vocal, a interpretação e
se fundamentam na musicoterapia.
De acordo com os ensinamentos de Sílvia Maria Rebelo Pinho (2014, p.3) a fonação
tem origem no córtex cerebral, que ativa os núcleos motores do tronco encefálico e da
medula, transmitindo os impulsos para a musculatura da laringe, dos articuladores, do
tórax e do abdome. Desse modo podemos perceber que o processo de fonação é um
complexo e vasto conjunto de estímulos, que envolvem diversas musculaturas. Cada
músculo intrínseco da laringe exerce uma função importante para a produção do som.
A musculatura que faz parte do complexo aparelho da laringe contribui
predominantemente para que a fonte glótica seja ajustada, são eles os músculos
abdutores e adutores. Os abdutores (CAP) são músculos pares compostos pelos
cricoaritenóides posteriores (compartimentos horizontal e vertical) e são pares. Já os
adutores (AA) são músculos representados pelos aritenóideos, transverso, ímpar e os
oblíquos pares, bem como os cricoaritenóideos (CAL) laterais, que são pares e o externo
tireoaritenóideos externos (TA) que são pares de tensores que englobam uma porção
tireo-muscular ou compartimento externo. E os tensores internos (TA) são pares de
músculos que compõem a porção vocal ou compartimento interno. Os cricotireóideos
(CT) – parte reta e oblíqua também são músculos pares (PINHO, 2014).
Os músculos abdutores abrem as pregas vocais no processo de respiração; enquanto
os músculos adutores fecham as pregas e estão relacionadas com a emissão de sons
fortes e fracos. Os músculos tensores são alongadores e encurtadores, atuando na
produção de sons graves e agudos; e os músculos aritenóideos também atuam na adução
e fechamento das pregas, auxiliando na fonação.
Diante dessas afirmações, há que se observar o conjunto do trabalho dessa
musculatura que permite que o aparelho fonador alcance a sua potencialidade máxima
contribuindo para a perfeita articulação que é como uma moldura para a ressonância da
voz, tanto para a proferir palavras, mas também para que ocorra o canto. Só então pode
ser concebida como um outro conjunto de ferramentas multifacetadas a interpretação.
4.2 Interpretação
A interpretação é a forma que a música, após sentida pelo corpo todo, é transformada
em arte através de nossa voz e de nossos gestos. É um ato realizado de dentro para fora,
e por isso merece a devida atenção. Uma vez entendido que o processo de cantar
envolve um conjunto de estímulos, nervos e musculaturas, é inevitável que tais ações
também entrem em contato com nossas emoções. É a junção destes elementos que
determinará a forma que o cantor decide traduzir e representar sua forma de cantar.
O processo de interpretar envolve aspectos como: a familiaridade com a melodia e o
texto, o ambiente em que a peça será executada, a quantidade de pessoas que estarão
presentes neste ambiente, nível de autoconfiança e controle de ansiedade, possíveis
traumas ou experiências anteriores já vividas, sejam elas de sucesso ou fracasso diante
do público e palco, e quais profissionais acompanharão a condução artística. Cada
interpretação é única e cabe ao cantor a sensibilidade de acolher e elaborar um processo
criativo de construção e desconstrução, mediante aos efeitos pretendidos com a
execução musical. Mais adiante, falaremos sobre como a interpretação se relaciona com
a Musicoterapia através da Experiência de Recriação.
A música tem a poderosa capacidade de invadir diversas áreas cerebrais
simultaneamente. Isso garante estimulação com emoção: ao mesmo tempo que áreas
diversas são ativadas, o Sistema Límbico, responsável pelas emoções também é
acessado. Dominar tais aspectos, e compreender como os elementos sonoro-musicais se
comportam no cérebro, baseados no histórico individual de cada cantor, garantem maior
familiaridade com o material artístico a ser reproduzido, pois memórias são registradas
e evocadas, durante o processo particular de cada indivíduo. Tais memórias
posteriormente se consolidam como a identidade sonora, causando reações diversas, de
acordo com a história de cada um. Além disso, a prática consciente garante a segurança
de se executar com determinada facilidade, de forma saudável.
4.3 Musicoterapia
5. Considerações Finais
O sucesso de uma performance musical é um caminho de constante aperfeiçoamento
que utiliza técnicas multidisciplinares como de acordo com o processo de cada artista,
que estabelecem conexões entre estilos, culturas, estruturas fisiológicas, psicológicas
para que o cantor consiga chegar ao ápice de expresser a sua voz em toda plenitude que
ela lhe exige.
Em virtude dessas considerações, pode-se concluir que o sucesso na performance
musical para os cantores de palco é um híbrido entre o aperfeiçoamento através da
habilitação técnica, adquiridas de acordo com seus estilos, culturas, fisiologia e
preferências pessoais; e do processo de autoconhecimento. Dentro de tais aspectos, a
prática da Musicoterapia auxilia na descoberta do eu artista, auxiliando na construção,
orientação, organização psicológica, e estabelecimento de uma postura musical coerente
diante da plateia e da obra que será executada. Todos esses aspectos contribuem e
aumentam as possibilidades de um perfil artístico que esteja seguro e integrado ao
número no qual pretende executar.
A Música é fonte de expressão e comunicação de um indivíduo e sua comunidade. O
artista é um missionário, que carrega consigo a missão de dar voz àquilo que muitas
vezes soa oculto, ou que as palavras não são capazes de expressar. Saber enviar tais
mensagens, fazem do artista, figura indispensável na construção de uma sociedade mais
humana, e melhor.
Referências
ARAÚJO, Marconi. Belting Contemporâneo: aspectos técnicos-vocais para teatro musical e música pop.
(Série todo canto; v. 1) Brasília, DF: Musimed Edições Musicais, 2013.
BARCELLOS. Lia Rejane Mendes. Cuadernos de Musicoterapia e Coda. Barcelona Publisher, 2016.
CUIDAR, Instituto. O que é self para a psicanálise. www.institutocuidar.com, 2022. Disponível em:
https://institutocuidar.com/o-que-e-self-para-a-psicanalise/ . Acesso em: 22-07-2022.
PINHO, Sílvia M. Rebelo. Músculos intrínsecos da laringe e dinâmica vocal – Sílvia Maria Rebelo Pinho,
Gustavo Polacow Korn, Paulo Pontes. – 2. Ed. – vol.1 – Rio de Janeiro: Revinter, 2014