Você está na página 1de 8

Este suplemento faz parte integrante do Jornal Económico Nº 2117 não pode ser vendido separadamente 29 setembro 2021

21 Especial | 1
2 | O Jornal Económico 29 setembro 2021

Especial Saúde e Tecnologia

INOVAÇÃO

Tecnológicas da
saúde registam
investimento
recorde, mas
falta formação
Estudo da Deloitte conclui que 80% dos profissionais de saúde
diz que a sua clínica ou hospital aumentou a adoção de tecnologias
em 2020, mas poucos receberam instruções sobre como utilizá-las.

cos. “Se tivermos de fazer um ba-


MARIANA BANDEIRA
mbandeira@jornaleconomico.pt lanço, podemos assumir que a
pandemia veio acelerar o desen-
volvimento e a adoção de soluções
O investimento de capital de risco digitais na saúde permitindo me-
(venture capital) global em empre- lhorar a qualidade dos serviços e a
sas tecnológicas ligadas ao sector sua eficiência”, conclui Luís Lopes
da saúde (healthtech) quebrou todos Pereira.
os recordes no primeiro semestre O dinamismo do sector é notó-
de 2021, com 15 mil milhões de rio pelas transações que ocorreram
dólares (cerca de 13 mil milhões de logo na primeira metade do ano,
euros) em financiamento a estes como a aquisição da Nuance pela
negócios, de acordo com um rela- Microsoft por 19,7 mil milhões de
tório do grupo de investigação dólares (aproximadamente 17 mil
norte-americano Mercom Capital. milhões de euros) ou a compra da
Apesar de os projetos científico- Therapy Brands pelo fundo KKR
tecnológicos exigirem uma eleva- por 1,5 mil milhões (perto de 1,3
da quantidade de capital para ar- mil milhões de euros). Por cá, des-
rancarem e se manterem, os inves- tacou-se a startup portuguesa
tidores demonstram confiar que o Sword Health, que em junho fe-
futuro das clínicas, dos hospitais e chou uma ronda de financiamento
mesmo das nossas casas virá com 72 milhões de euros liderada pela
(muita) tecnologia. General Catalyst, investidora de
“A indústria das tecnologias e empresas como o Airbnb, Stripe
dispositivos médicos é o sector ou Snapchat.
mais inovador da saúde, quer em O empreendedor português
número de soluções, quer no seu Eduardo Freire Rodrigues é outro
rápido desenvolvimento, com ci- dos rostos que se destaca neste
clos de melhoria muito curtos. Os meio por ter fundado a UpHill,
seus produtos melhoram e salvam uma empresa que cria conteúdos e
vidas e permitem uma recuperação desenvolve software de apoio aos promover a saúde, torná-la mais tiu para a inexistência de uma
mais célere dos doentes, em simul- profissionais de saúde. Recente- acessível, quebrar barreiras, nive- perspetiva comum a nível nacional
tâneo poupando recursos na ges- mente, esta startup assinou uma lar assimetrias, reduzir gastos des- que garanta o alinhamento de es-
tão da sua doença e tornando-os parceria com a Direção-Geral da necessários e libertar as unidades tratégias e cooperação no desen-
mais produtivos, uma vez que be- Saúde para otimizar e modernizar de saúde para quem efetivamente volvimento e adoção de eHealth.
neficiam de uma maior autonomia o processo de recolha de evidência precisa delas”, argumenta. “No caso dos dispositivos IoT [In-
e permitem uma melhor qualidade científica e divulgação de normas Em causa está a preocupação ternet of Things - Internet das
FILIPA FIXE
de vida dos doentes”, garante ao Administradora clínicas. O cofundador e CEO com as conclusões de estudos Coisas] falamos de vantagens rela-
Jornal Económico (JE) o diretor da Glintt acredita que é necessário haver como o “Digital Transformation: cionadas com a monitorização
geral da Medtronic Portugal, Luís mais acordos como estes entre as Shaping the future of European contínua dos doentes, facilidade
Lopes Pereira. Para o líder desta diversas entidades para que Portu- healthcare”, elaborado pela consul- em partilhar e aceder a dados de
empresa de serviços e soluções tec- gal possa ter hospitais ainda mais tora Deloitte em 2020. Dos sete saúde, maior aposta na prevenção,
nológicas médicas, é igualmente digitais e eficazes. “O presente já é países europeus analisados, Portu- entre outras. Uma das faces mais
importante assegurar a formação digital, mas a criação de soluções gal encontra-se abaixo da média visíveis desta realidade são os wea-
quer dos doentes, nomeadamente tecnológicas não é suficiente para europeia na utilização de tecnolo- rables, cujas projeções globais
na utilização dos softwares de ges- uma saúde digital. É importante gias 4.0 na saúde e quase metade apontam para uma taxa de cresci-
tão de doenças como a diabetes, aproveitar a força motriz que a dos profissionais do sector (47,3%) mento anual de 20,5%, atingindo
quer dos centros hospitalares que pandemia gerou para mudar o pa- nunca recebeu formação interna os 46,6 mil milhões de dólares em
tenham sistemas de monitorização radigma da prestação de cuidados, relacionada com o digital. Eduardo 2025. A realidade virtual está em
remota de doentes, tal como o que Luís Lopes Pereira
ouvir os profissionais de saúde e o Freire Rodrigues faz ainda refe- ascensão e deve chegar aos 9,5 mil
desenvolveram designado “MyCa- Diretor geral cidadão e alterar processos. Em rência ao think tank “eHealth em milhões de dólares em 2028. Além
reLink” para os problemas cardía- da Medtronic Portugal causa está uma oportunidade para Portugal: Visão 2020”, que adver- de ter provas dadas enquanto fer-
29 setembro 2021 O Jornal Económico | 3

O DESAFIO DA ÉTICA

Istock
“Ciência e tecnologia sim,
mas com rosto humano”
Rui Nunes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do
Porto, defende que a Humanidade não pode ficar subjugada pela
ciência e pela tecnologia nem pelas grandes plataformas tecnológicas.

ALMERINDA ROMEIRA
tista chinês que recombinou gene- acontecer. É muito fácil haver des-
aromeira@jornaleconomico.pt ticamente dois embriões femini- vios e muito difícil escrutiná-los”,
nos que deram duas meninas já salienta.
nascidas, está preso, mesmo na Outra questão crítica, segundo
A ciência e a tecnologia evoluíram China porque se percebeu que era Rui Nunes, é a justiça no acesso à
de forma extraordinária nos últi- uma linha vermelha quando não ciência e à tecnologia, extraordi-
mos 50 anos. Nos campos da bio- havia ainda consenso internacio- nariamente dispendiosas e feitas
tecnologia e da engenharia genéti- nal sobre a matéria. por grandes empresas transnacio-
ca, os benefícios fazem sentir-se O modo como se faz ciência e nais que perseguem o lucro e o in-
nos mais diferentes domínios da tecnologia é de facto uma questão- dexam ao preço final do fármaco,
vida e traduzem-se em elevadíssi- chave, afirma Rui Nunes, e não da vacina, do tratamento e prote-
mos níveis de bem-estar. Exem- pode haver complacência com gidas por patentes. “A questão vai
plos? A vacinação para a Covid-19, “desvios imorais e não éticos”, se- tornar-se ainda mais complexa
as técnicas de procriação medica- jam de desrespeito pelos direitos com a Medicina de Precisão que
mente assistida, ou o surgimento humanos, pela falsificação de da- vai desenvolver fármacos inova-
de novos fármacos que podem dos, ou pelo plágio da publicação. dores que já não serão de utilização
transformar neoplasias em está- O professor defende uma ciência global, mas direcionados para de-
dios avançados em doenças cróni- com ética e com integridade e a terminados grupos de pessoas, que
cas e, assim, prolongar as nossas existência de instituições regulado- os podem pagar”, explica. “O aces-
vidas. ras fortes e um quadro regulatório so já não é equitativo e sê-lo-á me-
“Os benefícios são tremendos, nacional e sobretudo internacional nos ainda no futuro”, salienta.
mas apesar disso há questões éticas que permitam uma supervisão ade- A quarta grande questão levan-
absolutamente centrais que têm quada assim como uma adequada tada por Rui Nunes foi acelerada
que ser consideradas ao falar da partilha do próprio conhecimento pela pandemia da Covid-19 e diz
ciência e de tecnologia. Não é para científico. “O cientista move-se por respeito à transformação digital e
servirem de obstáculo, mas para princípios de cariz utilitário, com o mais especificamente às atividades
servirem de consideração, muitas objetivo de fazer avançar a ciência. que são impactadas pela Inteligên-
vezes prévia”, afirma Rui Nunes, No entanto, pode haver, por vezes, cia Artificial. “Vai mudar radical-
professor catedrático da Faculdade a tentação de pôr a ciência à frente mente o panorama da saúde nos
de Medicina da Universidade do das pessoas e isso não pode nunca próximos anos”, adianta o profes-
Porto, ao Jornal Económico sor da Universidade do Porto, a
Não é por acaso, salienta, que as começar no modo como a própria
instituições onde se faz ciência e Medicina se vai desenvolver.
investigação que envolva seres hu- Dentro de uma década, no máxi-
manos dispõem de comités de éti- mo, grande parte do trabalho mé-
ca. “Ciência, sim, tecnologia sim, dico será feito por algoritmos de
mas com rosto humano e devida-
A ciência e a inteligência artificial. É extraordi-
mente fiscalizada pelas entidades tecnologia não são nariamente positivo em alguns as-
próprias, nomeadamente os comi- neutras do ponto de petos, como a precisão, a rapidez e
tés de ética”. A ciência e a tecnolo- vista ético. A energia o networking, mas o processo não
gia não são neutras do ponto de poderá ficar em roda livre. “O que
vista ético. A energia atómica, no atómica, no passado, não pode acontecer nunca é estar a
passado, como a inteligência artifi- como, no presente, Humanidade subjugada pela ciên-
cial ou a engenharia genética de a engenharia genética cia e tecnologia e aqueles que a
melhoramento, no presente, têm controlam, nomeadamente as
consequências e, por vezes, desas- de melhoramento, grandes plataformas tecnológicas”,
trosas. Não é por acaso que o cien- têm consequências conclui Rui Nunes. ■

ramenta de treino médico de alta- vez que estas empresas e institui-


fidelidade, também foi utilizada ções guardam os dados mais sensí-
para efeitos terapêuticos junto de veis das pessoas: os da sua saúde.
pacientes com dor crónica”, deta- “Não nos podemos esquecer de
lha ao JE. que temos de crescer em dois veto-
Segundo o estudo da Mercom res muito importantes: o Tecnoló-
Capital, na área de healthtech, as ca- gico, permitindo que os dispositi-
tegorias que acabaram por ser vos IoT sejam uma realidade dis-
mais bem financiadas nos primei- ponível para cada profissional de
ros seis meses do ano foram a tele- saúde e cada utente, e segurança.
medicina (4,2 mil milhões), o Os dispositivos IoT da saúde pre-
bem-estar (1,7 mi milhões), as cisam de ser capazes de proteger os
aplicações móveis para controlo da dados que transacionam, de forma
saúde (1,6 mil milhões), analítica a protegemos informação sensível
(1,5 mil milhões) e apoio à decisão de hackers. É fundamental que as
clínica (1,1 mil milhões). instituições de saúde que iniciam o
Filipa Fixe, membro executivo seu caminho na healthtech, tenham
do conselho de administração da um sistema de segurança adequado
Glintt, considera “imperativo” a estes novos desafios”, avisa a ad-
adotar este tipo de soluções mo- ministradora da tecnológica que
dernas, mas alerta para a necessi- opera há mais de 20 anos neste
dade de se atestar a segurança, uma mercado. ■
4 | O Jornal Económico 29 setembro 2021

Especial Saúde e Tecnologia

DISRUPÇÃO NA SAÚDE

Inovação tecnológica
alavanca novos
conceitos de medicina
Inovação tecnológica permitiu aumentar esperança média de vida em 20 anos. Big Data e 5G
vão criar novos conceitos de medicina. Centro de simulação médica é aposta de futuro.

JOSÉ VARELA RODRIGUES


Cluster Portugal. “A inovação tec- ning Health admitem que a inova- tados da inovação tecnológica e as
editorial@jornaleconomico.pt nológica permitiu que em apenas ção tecnológica, ao influenciar po- terapêuticas que proporcionam.
50 anos, aumentássemos a espe- sitivamente terapêuticas, pode al- Resultado? “Estar doente, não ter
rança média de vida mais de 20 terar a noção de bem-estar. qualidade vida a partir de uma de-
A inovação tecnológica tem in- anos”, sublinha o gestor, realçando Para Francisca Leite, “a inova- terminada idade ou morrer, dei-
fluenciado positivamente a inova- que um novo conceito de envelhe- ção tecnológica é um driver da xou de ser algo natural”.
ção na saúde, ajudando na desco- cimento foi criado - “o ativo”. mudança” no bem-estar do doente, “Seria normal uma pessoa com
berta e alcance de novos resultados Além disso, Nelson Ferreira Pi- que é influenciado por “múltiplas 97 anos não viver até esta idade até
de diagnóstico e tratamentos mé- res indica que inovação tecnológi- dimensões” (sociais e económicas). há alguns anos (a esperança média
dicos, impactando na noção de ca “acrescentou muito valor ao “Um facto interessante é que o de vida era de 60 anos e agora é de
bem-estar do doente e contribuin- diagnóstico e ao conhecimento bem-estar do doente deve ser leva- cerca de 83 anos). Hoje este faleci-
do para novos conceitos de medi- médico”. “Veja-se o exemplo do do em conta pelo médico ou outro mento é causa de abertura de um
cina. Esta é uma constatação para Covid-19, em que o mapeamento profissional de saúde na gestão da telejornal, porque faleceu com co-
dois especialistas na área da saúde genético do vírus foi feito em me- sua doença. Sabemos hoje que os vid-19. Basta pensar que investi-
ouvidos pelo Jornal Económico, nos de um mês e a vacina desco- resultados em saúde dependem mos biliões de euros para desco-
que alertam, contudo, que nenhu- berta e produzida em 10 meses muitíssimo de outros factores para brir melhor tecnologia de saúde
ma inovação substitui o papel fun- (quando antes duraria mais de 8 além dos cuidados médicos. De que nos prolongue a vida e nos dê
damental do médico e para a ne- anos). É um admirável mundo facto, estes explicam apenas 10% a dignidade na morte”, resume.
cessidade de cautela com eventuais novo que nos permite reduzir bas- 20% dos resultados em saúde. Os
riscos, no longo prazo, perante tante os riscos de erros na I&D, se- restantes 80 a 90% são explicados Big Data e 5G vão criar
uma disrupção tecnológica na área lecionar terapêuticas que já exis- pela genética do indíviduo (20 a novos conceitos de medicina
da saúde. tem para tratar outras doenças, 30%), pelo seu comportamento (30 As mudanças geradas pela inova-
“As inovações tecnológicas têm uma maior farmacovigilância dos a 50%), pela envolvência física e ção tecnológica na saúde não se
sido um dos motores de inovação efeitos secundários”. ambiental (5 a 20%) e pelas cir- sentem apenas junto da comunida-
na saúde e estão na base das maio- Outro exemplo de sucesso tec- cunstâncias sócio-económicas (15 de médica, farmacêutica ou entre
res disrupções nesta área. Os im- nológico na saúde (que ainda a 40%)”, comenta. os doentes. Também levou a no-
pactos têm sido bastante significa- aguarda as devidas aprovações), Nelson Ferreira Pires salienta, vos paradigmas em processos ad-
tivos, com uma melhoria substan- mencionado por este gestor, é o da por sua vez, que as exigências no ministrativos ou na aposta de em-
cial tanto da qualidade da presta- portuguesa LxBio, o primeiro la- tratamento dos doentes “são cada presas, tradicionalmente fora do
ção de cuidados como dos resulta- boratório a desenvolver o primei- vez maiores”, por isso, todos que- espetro da saúde, a olharem para o
dos”, começa por afirmar Francis- ro medicamento de de biotecnolo- rem “ter qualidade de vida sem- potencial de desenvolverem servi-
ca Leite, diretora do Hospital da gia para tratamento do pé-diabéti- pre”. “Desde bébés até sermos ve- ços ou produtos nesta área.
Luz Learning Health, instituição co, com o apoio da Technophage. lhinhos”, vinca. E a responsabili- “Julgo que o big data e o 5G per-
que vai apoiar o primeiro curso “Conseguiram pela evidência de- dade dessa exigência são os resul- mitirão criar um novo conceito de
privado de medicina (desenvolvi- monstrada que a FDA (agência medicina, inclusive com novos
do pela Universidade Católica norte-americana do medicamen- players que armazenam já hoje
Portuguesa) e que inaugurou re- to) fizesse a primeira aprovação de muitos dados, como a Apple ou a
centemente o maior centro de si- um estudo clínico de um medica- Google.”, aposta Nelson Ferreira
mulação médica de Portugal. mento português (que está a ser Pires. Para o gestor estas duas tec-
O impacto das inovações, que concluído em Israel) mas para nologias, em particular, vão levar a
Francisca Leite refere, têm ajuda- além disso a FDA atribuiu, pela “uma reengenharia” de processos,
do na “redução da mortalidade in- primeira vez, a um medicamento produtos e pessoas em diferentes
fantil e o aumento significativo da português (designado TP-102) , o áreas, incluindo a saúde. Os dois
esperança médica de vida”, além de estatuto de ‘fast track’ na aprova- modelos vão permitir “conectar
que tem permitido “diagnosticar ção”, o que vai acelerar o processo sistemas, armazenar e transformar
mais cedo, tratar mais, melhor e de administrativo para colocar rapi- dados em informação”, culminan-
forma mais precisa, monitorizar damente o medicamento à disposi- do no diagnóstico à distância, no
eficazmente a evolução do estado ção de médicos e doentes. FRANCISCA LEITE
agendamento de consultas remo-
dos doentes (até à distância) e con- Nelson Ferreira Pires também Diretora do Hospital da Luz tas ou definidos matrizes de risco.
tribuir para uma melhor qualidade entende que há cautelas a ter, “pois Learning Health No fundo, definir workflows e in-
de vida”. Porém, num mundo cada em qualquer novidade [se incre- dicadores-chave de desempenho,
vez mais digital à cuidados a ter mental é menos intensa, mas se reduzindo “bottlenecks”. “Só desta
com os dados pessoais. “[Todos] os disruptiva é mais intensa] existe o forma conseguimos ter uma vaci-
processos de aprovação exigem risco de existir um efeito desco- na para tratar o Covid-19 em 10
que as soluções sejam amplamente nhecido de longo prazo”. meses, porque a inteligência artifi-
testadas antes de serem disponibi- O mundo da saúde, e toda a in- cial permitiu mapear genetica-
lizadas aos profissionais ou doen- dústria que desenvolve e avalia mente o vírus e identificar as pla-
tes”, ressalva. tratamentos e previne doenças, é taformas que proporcionariam o
Leitura idêntica faz Nelson Fer- tão complexo que qualquer dis- desenvolvimento das vacinas”, re-
reira Pires, general manager da rupção pode alterar os atuais con- lembra. No entanto, “a interven-
Jaba Recordati, uma companhia de sensos. Por isso, tanto o general NELSON FERREIRA PIRES
ção humana será sempre necessá-
referência do mercado ambulató- manager da Jaba Recordati como a General Manager da Jaba Recordati ria, para validar o sistema e as de-
rio nacional e que integra o Health diretora do Hospital da Luz Lear- e da Recordati Reino Unido e Irlanda cisões”, sendo que este cenário
29 setembro 2021 O Jornal Económico | 5

“não é um fim em si mesmo”, mas, dica foi pensado “para ser muito
mais uma “ferramenta” fruto da flexível, potenciando assim a cria-
inovação tecnológica. ção de vários cenários distintos
“A saúde é ainda um dos sectores que permitem alargar certamente
com menor nível de digitalização, o espetro de tecnologias médicas
e só agora começamos a conseguir passíveis de serem testadas, assim
aproveitar a enorme quantidade e como as condições em que o são”.
variedade de dados que é produzi- Por isso, o Hospital da Luz Lear-
da em saúde. Estes dados, quando ning Health também está a desen-
trabalhados, têm o potencial para volver simuladores com compo-
transformar a saúde como a co- nentes de realidade aumentada e
nhecemos hoje, através de algorit- realidade virtual.
mos inteligentes que podem auxi- Questionada sobre os desafios e
liar os médicos nas tomadas de de- oportunidades que suscitam as
cisão”, considera Francisca Leite. inovações tecnológicas na saúde e
como é que o centro pode ajudar
Como o maior centro na adaptação e desenvolvimento
de simulação médica do país de novas tecnologias aplicadas à
vai alavancar a formação saúde, Francisca Leite sublinha
na saúde que, fundalmentalmente, aquele
Foi, precisamente, a pensar na me- espaço é o local ideal para “explo-
lhor forma de tirar proveito da tec- rar novos conceitos, desenvolver
nologia para formar profissionais novas ideias e testar novos produ-
de saúde mais capazes que o grupo tos/serviços num ambiente livre
Luz Saúde, proprietário do Hospi- de risco para o doente e para os
tal da Luz, criou o maior centro de profissionais”, que pode atuar
simulação médica de Portugal, ins- como espaço de “aceleração e co-
talado naquele hospital. criação”.
O Hospital da Luz Learning A simulação de procedimentos,
Health conta onze salas de simula- cenários e casos clínicos é “tam-
ção avançada, quatro salas de de- bém determinante para a forma-
briefing, uma equipa de peritos em ção das competências não-técnicas
simulação e um ambiente de alta- sociais, como a comunicação, o
fidelidade, tudo apoiado em tecno- trabalho em equipa e a liderança,
logia, para integrar as actividades ou cognitivas, como a situation
de formação, investigação e inova- awareness e a tomada de decisão,
ção. “Este centro funciona como essenciais para criar processos
um hospital simulado dentro do mais seguros, eficientes e resilien-
hospital real, onde sem risco para tes”. Para Francisca Leite, tal é fun-
o doente e para o profissional se damental, uma vez que a introdu-
observa, se identifica, se investiga, ção de tecnologia na realidade mé-
se desenvolve, se inova, se treina, dica e a digitalização “implica no-
se melhora, se procura sempre ir vas funções e competências para os
ao encontro daquilo que o doente profissionais, sendo necessário dar
mais valoriza. Neste centro desen- formação aos trabalhadores no
volvem-se os profissionais de saú- âmbito do novo processo e siste-
de do futuro”, explica a líder desta ma”. “Mas, numa verdadeira ótica
unidade, Francisca Leite. de engenharia de fatores humanos,
Como pode este centro de simu- a simulação torna-se ainda mais
lação médica alavancar a investi- premente e decisiva para o desen-
gação, inovação e formação médi- volvimento sustentado”, diz Fran-
ca, em Portugal? “Aqui faz-se in- cisca Leite, explicando que o cen-
vestigação de ponta sobre factores tro de simulação médica pode, ain-
humanos, por exemplo o mapea- da, ajudar em questões relaciona-
mento de redes de comunicação das com a legislação envolvida nos
intra e inter-equipas, que é o pri- processos de regulamentação das
meiro passo para desenvolver e es- inovações tecnológicas.
tabelecer melhores práticas e con- “Este é um processo bastante
tribuir eficazmente para a segu- moroso e complexo que implica
rança dos doentes e profissionais”, um esforço muito grande por par-
refere a diretora do Hospital da te de todas as equipas envolvidas.
Luz Learning Health. Neste centro procuramos cada vez
Outro ponto a favor é a ambição encontrar mecanismos que nos
do centro de simulação clínica aju- permitam facilitar estes proces-
dar a desenvolver um consultório sos”, conclui. ■
digital, mais focado na “individua-
lidade de cada doente”, onde ainda
antes de uma consulta é possível,
de forma rápida, “medir sinais vi-
tais e outras variáveis fundamen-
tais para a construção de um digi-
tal twin de cada doente, o principal
enabler da medicina de precisão”.
“Temos também vários projetos
de investigação a decorrer com
instituições académicas, tanto em
Portugal como no estrangeiro,
procurando desenvolver sensores “Sabemos hoje
e outras ferramentas de monitori- que os resultados
zação à distância que permitirão em saúde dependem
melhorar a prevenção, o diagnós-
tico precoce e também gerar sinais muitíssimo de outros
de alerta, antecipando o tratamen- factores para além
to a doentes potencialmente gra- dos cuidados
ves”, acrescenta.
Francisca Leite explica, ainda, médicos”,
que este centro de simulação mé- diz Francisca Leite
6 | O Jornal Económico 29 setembro 2021

Especial Saúde e Tecnologia

ENTREVISTA | CARLOS CORTES | Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos FÓRUM

“[TIC] são ferramenta Vírus foi


catalizador da
incontornável, mas nunca poderão digitalização
no sector
substituir relação presencial” da saúde
Empresas de dispositivos
A evolução tecnológica tem sido um grande auxílio para o exercício da medicina, mas não
médicos, entidades
substitui a relação entre médico e paciente. Falta de investimento da Saúde nas TIC. europeias, associações
e representantes
tecnológico? Que avaliação do ecossistema do

Cristina Bernardo
RICARDO SANTOS FERREIRA
rsferreira@jornaleconomico.pt faz? empreendedorismo
Não posso fazer uma avaliação posi- destacam a importância
tiva. Posso afirmar que existiram es-
A tecnologia tem feito crescer a forços importantes nestes últimos do acompanhamento dos
capacidade da medicina, não nas anos, isso é inegável. Mas o ‘estado doentes em tempo real,
ferramentas de comunicação, da arte’ nesta matéria ainda está lon- que só é possível graças
mas também nos meios comple- ge de ser adequado. Não sentimos a sistemas e softwares
mentares de diagnóstico e na in- uma vontade de investimento e des-
tervenção. Em entrevista ao Jor- envolvimento por parte do Minis-
inovadores.
nal Económico (JE), Carlos Cor- tério da Saúde. Um exemplo típico é
tes, presidente da Secção Regio- a falta de integração entre progra-
nal do Centro da Ordem dos Mé- mas informáticos dentro do SNS 1. A pandemia acelerou
dicos sublinha o desenvolvimen- [Serviço Nacional de Saúde] que se- efetivamente a inovação
to tecnológico e a aceleração ria de uma ajuda crucial para ligar, nesta indústria ou os
motivada pela pandemia, mas por exemplo, os cuidados de saúde avanços surgiram como
alerta para a necessidade de pre- primários aos cuidados hospitalares uma inevitabilidade?
servação da relação próxima en- e cuidados continuados. Mas mes- 2. Como é que a tecnologia
tre médico e paciente. mo em cada um deles existem deze- está a apoiar os
nas de programas informáticos a
profissionais de saúde
Qual a importância funcionar autonomamente sem li-
do desenvolvimento gação entre si. a serem mais eficientes
tecnológico para a saúde? Quanto ao SNS, uma das suas ca- no acompanhamento
A medicina, através do desenvol- racterísticas prende-se com o facto dos doentes?
vimento científico, tem tido uma de estarmos perante um parque
enorme capacidade de incorporar tecnológico obsoleto com equipa-
os avanços tecnológicos na sua ati- mentos em fim de vida e, por ve-
vidade. Os médicos perceberam zes, sem apoio de manutenção. É
muito cedo a importância, para os natural que possa existir um signi-
seus doentes, de integrarem as ficativo custo financeiro, mas o in-
modernas tecnologias na preven- vestimento no SNS também é uma
ção das doenças, nos diagnósticos, prioridade pela qual o Ministério
nos tratamentos, na monitoriza- da Saúde pode optar ou decidir. A
ção e na comunicação com os seus Em que áreas da saúde seu desenvolvimento e na resposta meu ver, será sempre uma má op-
utentes. Apesar de existirem aspe- é notada uma maior em cuidados de saúde. Na área da ção quando a tutela secundariza o
HÉLDER SOARES
tos éticos e de ligação aos doentes preponderância comunicação não presencial, na investimento em saúde. Chief Operations Officer
que é essencial ter em conta, as no- da tecnologia? medicina à distância, para citar al- da Abtrace
vas tecnologias são uma mais-valia As modernas tecnologias são trans- guns exemplos. Atualmente, a co- Que desafios coloca
1. Ao passo que a pandemia
indispensável para a melhoria da versais a toda a medicina, nas várias municação, em casos bem defini- o desenvolvimento tecnológico colocou a descoberto algumas
qualidade na prestação dos cuida- especialidades médicas e durante o dos, pode ser feita entre um profis- aos profissionais de saúde? fragilidades dos sistemas de
dos de saúde. percurso da doença. E têm também sional e o seu doente através de É ticos, de formação? saúde, teve também um efeito
A tecnologia não só permite um preponderância antes da doença no meios digitais e da internet. Pode- O principal desafio é ético e deon- catalisador no desenvolvimento de
conhecimento mais aprofundado, que concerne aos cuidados na área mos evitar deslocações desneces- tológico. A medicina é, fundamen- tecnologias capacitadas de
como permite tratar mais doentes. da prevenção da doença. sárias aos doentes às unidades de talmente, baseada numa relação promoverem uma maior eficiência
Neste sentido, as modernas tecno- O desenvolvimento dos meios saúde que, frequentemente, têm de estreita entre um médico e o seu no sector. Ao mesmo tempo,
acelerou o desenvolvimento de
logias são um fator de melhoria do complementares de diagnóstico e dedicar quase um dia para ter uma doente. Sem essa relação, podere- investigação mais fundamental e
acesso aos cuidados de saúde e de de seguimento dos doentes tem consulta. A monitorização dos mos ter algo que não será, propria- disruptiva que possa dar resposta
aumento da sua qualidade. tido um avanço excecional nestes doentes, para o seu conforto, tam- mente, medicina. É preciso nunca a desafios como este e que nos
últimos anos. As possibilidades de bém pode ser feita à distância. perder de vista este conceito hu- torne melhor equipados para as
A pandemia de Covid-19 tratamento ligadas às novas tecno- Mas, para tudo isto, é preciso defi- manista e solidário que é intrínse- enfrentar. Existe, no entanto, uma
contribuiu para acelerar logias também têm permitido à nir regras específicas para que as co à medicina. O encantamento grande lacuna ainda por
preencher, uma vez que a inovação
o desenvolvimento medicina dar saltos ‘de gigante’ no tecnologias sejam limitadas ao es- das novas tecnologias não pode
tecnológica e o sector da saúde
tecnológico na saúde? tritamente necessário e podermos permitir que estas ocupem este es- viajam a velocidades diferentes e
A pandemia contribuiu muito para privilegiar o contacto humano. A paço primordial na relação médi- ambos necessitam de se ajustar
o desenvolvimento das tecnologias desumanização preocupa-me. Não co-doente. para que estas inovações sejam
de informação e comunicação liga- só a aquela desumanização que em As novas tecnologias são muito mais rapidamente adoptadas e
das à saúde. São uma ferramenta grande parte que nos trouxe esta importantes, indispensáveis para o tragam de facto benefícios para os
incontornável nos dias de hoje, mais recente pandemia, mas a que desenvolvimento e melhoria do sistemas de saúde e
útil em muitos casos, mas que O ‘estado da arte’ se reporta à perda da importância sistema de saúde, mas têm um lu- principalmente um maior impacto
para a saúde e bem estar dos
nunca poderá substituir uma rela- nesta matéria ainda do valor da Pessoa, que tem acon- gar próprio de auxílio ao trabalho pacientes.
ção presencial e próxima com os está longe de ser tecido nas nossas sociedades dos médico e não de substituição. Para
doentes. É preciso não esquecer- últimos anos, por força da moder- isso são necessárias regras claras de 2. Através de novas tecnologias de
mos isso. Mas todos percebemos
adequado. Não nidade, da imposição tecnológica atuação, orientações específicas suporte à tomada de decisão e
que, durante os períodos mais crí- sentimos uma vontade que nos ajuda no nosso dia-a-dia. que permitam, com as novas tec- novas plataformas para interagir e
monitorizar a saúde dos pacientes
ticos da pandemia Covid-19, as de investimento Este é um grande desafio. nologias, valorizar ainda melhor a
e também através da automação
novas tecnologias foram essenciais relação presencial humana do mé-
para continuar a tratar os doentes
e desenvolvimento As instituições da área da saúde dico com o seu doente. Este, para
de tarefas rotineiras que possam
ser agilizadas e que libertem o
e estabelecer uma comunicação por parte do Ministério em Portugal têm respondido mim, é o caminho que deve ser re- staff clínico para terem mais tempo
com eles. da Saúde ao desenvolvimento servado à tecnologia na saúde. ■ para avaliar e diagnosticar
29 setembro 2021 O Jornal Económico | 7

situações clínicas. Ao potenciar a do doente. O kit destaca-se pela melhores cuidados de saúde se de trabalho no sector da saúde. A Realidade Virtual para prevenir e
informação armazenada nos sua simplicidade de utilização por apoiam na tecnologia como um rapidez com que os sistemas de detetar precocemente Alzheimer.
registos electrónicos de saúde será parte de todos os intervenientes, pilar acelerador e facilitador para saúde estão a mudar é Nada disto é ficção científica, mas
também possivel permitir que os pela capacidade de aumentar obtermos melhores resultados em absolutamente incrível. Sendo exemplos do que algumas
profissionais de saúde tenham ao consideravelmente o número de saúde. tendencialmente uma indústria de empresas fazem já em Portugal.
seu dispor mais e melhor camas afetas a doentes adoção lenta, a situação que Finalmente, coisas aparentemente
informação para tomarem decisões acompanhados pelo hospital, temos vindo a enfrentar obrigou a menos noticiadas, como
e favorecer uma mudança de conferindo ao utente o conforto todos – indústria e profissionais de acompanhamento de idosos, o
paradigma para um prestação de que é tão valorizado quando saúde - a dar resposta às tratamento do autismo com apoio
cuidados de saúde menos reactiva estamos doentes. O kit é composto necessidades de milhões de de software, a correção de
e focada no tratamento para um por um tablet com a “enfermeira pacientes, em condições muito problemas motores, a tradução
foco maior na prevenção e no virtual” que orienta os doentes no difíceis. Por essa razão a automática de impedimento de
diagnóstico precoce. Na Abtrace, uso dos seguintes equipamentos: necessidade de acelerar a fala, são outras áreas a ser
estamos a apoiar os centros de balança, esfigmomanómetro, digitalização na saúde e melhorar revolucionadas.
saúde e os médicos de família glicómetro, termómetro, oxímetro e os processos de diagnóstico e
através de uma plataforma botão de pânico. tratamento foram, sem dúvida,
inteligente que permite a MIGUEL AMADOR áreas que inevitavelmente foram
Regional manager
automação da monitorização colocadas como prioridades pelo
de Portugal na EIT Health InnoStars
contínua de pacientes com sector. A Philips, procura colaborar
doenças crónicas e a desenvolver A inovação tecnológica em saúde é de forma muito próxima com os
novos algoritmos para a detecção um processo contínuo, que tem seus clientes, no sentido de
de casos de cancro numa fase mudado o paradigma dos cuidados identificar as necessidades e
inicial da doença baseados nos de saúde. O grande desafio que promover a adoção tecnológica
dados dos registos clínicos dos instituições como o EIT Health sempre com o objetivo de melhorar
pacientes. enfrentam, juntamente com os seus a vida dos pacientes, a experiência
dos profissionais de saúde e NELSON FERREIRA PIRES
parceiros, é que a adopção de
promover uma gestão eficiente dos Diretor geral
novas tecnologias não é tão rápida da Jaba Recordati
quanto o seu desenvolvimento. O recursos disponíveis. Essa é a
HUGO MENDES
Parter grande paradigma de inovação nossa missão. 1. A indústria farmacêutica (IF) é a
da Healthyfi atual é o da Saúde Digital, em que área da saúde que mais investe em
a tecnologia muda não só 2. Um dos avanços mais I&D no mundo. Este foco na I&D
A pandemia veio alterar os hábitos significativos tem sido a adoção da
procedimentos, mas também as não surge como consequência da
e o modo como vivíamos. Era conectividade na área da saúde.
relações entre pacientes, pandemia, mas como missão da IF:
necessária uma resposta rápida e Desde os cuidados intensivos com
profissionais de saúde e as acrescentar mais e melhor vida aos
efetiva a esta nova realidade. centrais de monitorização
instituições, permitindo cuidados de cidadãos e, em consequência,
Podemos dizer que alguns setores conectadas, permitindo uma
saúde que acompanham a pessoa melhores resultados financeiros
foram impulsionados por uma nova monitorização permanente com
RUI CORTES no seu dia a dia, e fora do hospital. para as empresas e seus
realidade e que outros surgiram menos recursos, até à
Especialista A pandemia veio expor as empregados.
como uma inevitabilidade. O e- implementação de tecnologias de
na Lean Health Portugal fraquezas dos sistemas saúde, que A pandemia acelerou o processo
commerce e as plataformas de telemedicina, que serão cada vez
a comunidade de inovação já de I&D em relação à Covid-19,
1. Sem dúvida que a pandemia vídeo conferência por exemplo mais uma realidade em Portugal e
estava a tentar resolver. devido ao elevado investimento de
acelerou a inovação no sector da tiveram um aumento significativo que permitem melhorar a gestão
Verificámos, porém, um acelerar do mais de 10 biliões de USD para I&D
saúde pela pressão da do número de utilizadores, no dos pacientes e proporcionar um
processo de adopção. Perante a da vacina. Quanto à restante I&D,
necessidade de respostas aos entanto, muitas destas soluções já atendimento cada vez mais
pressão nos Hospitais, no EIT houve, provavelmente, algum
desafios que emergiram, mas existiam. Outras foram criadas próximo às suas necessidades. Por
Health vimos por toda a Europa, atraso e desinvestimento, pois os
sobretudo criou uma maior para dar resposta a necessidades outro lado, a pandemia também
inclusive em Portugal, o recursos não são ilimitados.
predisposição das organizações específicas, como é o caso de evidenciou a necessidade de
crescimento do uso de soluções de Portanto, a I&D Covid foi uma
para a mudança, quer tecnológica, novas plataformas de eventos melhorar o sistema de diagnóstico
telemedicina e Inteligência Artificial inevitabilidade, mas o seu
quer organizacional. Evidência online, streaming, que tentaram nos hospitais, através de sistemas
já existentes, que permitiram levar resultado surgiu muito rápido fruto
disso é a enorme quantidade de “substituir”, na medida do possível, de diagnóstico mais rápidos e
os cuidados para fora do Hospital, do conhecimento e investimento
processos que, nestes 18 meses, a experiência dos utilizadores num precisos. Para tal é imprescindível
e para casa das pessoas. A no desenvolvimento de outras
que foram desmaterializados, o evento presencial, o que constitui, o suporte da Inteligência Artificial
pandemia deixou claro as vacinas no passado, mas também
que anteriormente parecia como sabemos, um enorme que permite o apoio ao diagnóstico
limitações nos recursos humanos no desenvolvimento de novas
impossível. A par disto, a desafio. Com as limitações de e à tomada de decisão, permite a
em saúde. O uso da tecnologia é plataformas.
tecnologia surgiu como gerador de acesso a cuidados de saúde e otimização de fluxos de trabalho e
por isso fundamental, não para os Portugal tem uma dinâmica
eficiência e de melhoria de tratamentos provocados pela com isso permite reduzir as listas
substituir, mas estender o seu fantástica de I&D, mas tem de
prestação dos cuidados de saúde. pandemia, a tecnologia poderia ter de espera e os custos associados.
alcance, já que a tecnologia começar a desenvolvê-la, pois é
sido um poderoso aliado no Julgo que estamos a viver um
permite acompanhar em tempo real um país com exemplos únicos: a
2. Sentimos a necessidade para combate a essas limitações ao momento único na transformação
o estado de saúde de uma pessoa, empresa LXBio e a Technophage
nos reorganizarmos e apostarmos nível do diagnóstico, as tecnológica no sector da saúde.
esteja onde ela estiver. Por um têm I&D de uma vacina para a
em ferramentas que privilegiassem terapêuticas e mesmo na
lado, os dados gerados permitem a Covid-19 em fase II, mas também é
as interações remotas. Neste organização e eficiência do setor
tomada de decisões mais rápidas e a primeira empresa a conseguir
sentido, desenvolvemos a da saúde. No entanto, o que
com informação mais completa, por dois feitos na FDA com o seu
plataforma house of lean. Este é assistimos foi uma alteração
outro acompanhar o paciente no medicamento biológico TP102:
um projeto interno que nos brusca do modus operandi, para a
seu dia-a-dia. Com a redução da aprovar um estudo clínico
possibilita continuar a fazer a qual quase ninguém estava
pressão da pandemia sobre os (tratamento do pé diabético) e um
gestão de projetos de melhoria preparado. Se considerarmos o
Hospitais, fica a dúvida se vamos “fast approval”, devido às
contínua e a fazer programas de nível de literacia digital de parte da
regredir na adopção da tecnologia. expectativas elevadas de salvar
capacitação, tudo remotamente. À população afetada e a inexistência
Tendo todo o processo sido vidas ou amputações, que pode
semelhança de outras empresas, de meios para fazer face a esta
acelerado num tão curto espaço de conseguir. Bem como o grupo
sentimos necessidade de nos “nova realidade”, concluímos que
tempo, falta ainda muita da “FHC - the future of healthcare”,
adaptar. Isto é possível porque a mesmo existindo capacidade VÍTOR FERREIRA
estrutura de incentivos, processos que investe muito em várias áreas,
plataforma foi construída de raiz tecnológica, a mesma não estava Diretor geral
e treino necessários para que a da Startup Leiria inclusive na I&D de fabrico
com o ciclo PDCA, que é o ciclo da disponível para ser utilizada pela
adopção da inovação atinja o seu industrial de medicamentos.
melhoria contínua, em mente. Esta maioria dos profissionais de saúde
potencial e seja sustentável. 1. A pandemia acelerou a inovação.
é uma ferramenta inovadora e a e pelos cidadãos. Podemos afirmar
Todavia, depois de experimentar o Sobretudo, porque a urgência do 2. O mundo será “Human with a
única desenvolvida com base na que neste caso a pandemia foi o
seu potencial em primeira mão, são Covid trouxe um influxo de digital touch”, em minha opinião. A
framework de trabalho da agente acelerador e transformador
pacientes e profissionais de saúde investimento e recursos humanos tecnologia ajudou a estar perto
metodologia Lean, permitindo aos digital para muitas empresas,
os principais impulsionadores das para algumas áreas. É verdade que dos doentes de forma remota, mas
profissionais de saúde incluindo instituições de saúde.
mudanças ainda necessárias. certos campos de investigação também a criar softwares de
interessados em introduzir ou Estamos hoje mais bem
(como a CRISPR) tinham já algoritmo de risco, para definir
conduzir projetos nos seus preparados para fazer face a uma
avanços, mas os novos influxos de quem são os doentes com maior
serviços ter um guia online para o utilização racional e profícua da
investimento catapultarem os risco, por exemplo. Mas também
fazer. Outro desenvolvimento tecnologia disponível na saúde?
resultados. nos meios de diagnóstico (com
tecnológico que surgiu da Talvez, mas não nos podemos
sensores corporais que medem a
necessidade de libertar camas nos avaliar o sucesso da tecnologia ao
2. Neste momento, a “revolução TA permanentemente),
hospitais foi a hospitalização serviço da saúde, dos seus
digital” já chegou à medicina. agendamento de contactos,
domiciliária, tornado possível profissionais e da população, à
Algoritmos preditivos permitem integração da informação de saúde
através de kits digitais. Este foi um massificação do agendamento e
prevenir o risco de enfarte, corrigir dos cidadãos e muitos outros.
projeto coproduzido entre a Lean realização de consultas online, ou
posturas corporais, sequenciar Existem alguns “milestones” que
Health Portugal, a Vodafone, a de algumas apps para os
medicamentos ajustados ao ADN devem ser geridos como a
Think Digital e Hospital Garcia de profissionais de saúde poderem
individual, permitem monitorizar privacidade dos dados, a
Orta (HGO). Alguns doentes com acompanhar os seus utentes ANDRÉ CABRAL doentes, com sensores que segurança digital e a integração da
características especificas, com remotamente. Alguns passos já Country manager detetam alterações de estados inteligência artificial.
condições para recuperar em casa, foram dados na direção certa, mas da Philips Portugal
metabólicos. Novos algoritmos são
tiveram a oportunidade de estar temos de apostar numa estratégia
treinados para olhar para o
“internado” na sua casa. Levavam global e integrada para a saúde, 1. Julgo que a pandemia veio
histórico dos pacientes, analisar
consigo um kit de hospitalização onde a prevenção, literacia em sobretudo acelerar a adoção de
exames e antecipar doenças.
domiciliária que permitiam no HGO saúde, promoção de estilos de vida tecnologias já existentes e
Existe hoje a aplicação de
monitorizar e avaliar a recuperação saudáveis, acesso e prestação de introduzir formas revolucionárias
PUB

Você também pode gostar