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21 Especial | 1
2 | O Jornal Económico 29 setembro 2021
INOVAÇÃO
Tecnológicas da
saúde registam
investimento
recorde, mas
falta formação
Estudo da Deloitte conclui que 80% dos profissionais de saúde
diz que a sua clínica ou hospital aumentou a adoção de tecnologias
em 2020, mas poucos receberam instruções sobre como utilizá-las.
O DESAFIO DA ÉTICA
Istock
“Ciência e tecnologia sim,
mas com rosto humano”
Rui Nunes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do
Porto, defende que a Humanidade não pode ficar subjugada pela
ciência e pela tecnologia nem pelas grandes plataformas tecnológicas.
ALMERINDA ROMEIRA
tista chinês que recombinou gene- acontecer. É muito fácil haver des-
aromeira@jornaleconomico.pt ticamente dois embriões femini- vios e muito difícil escrutiná-los”,
nos que deram duas meninas já salienta.
nascidas, está preso, mesmo na Outra questão crítica, segundo
A ciência e a tecnologia evoluíram China porque se percebeu que era Rui Nunes, é a justiça no acesso à
de forma extraordinária nos últi- uma linha vermelha quando não ciência e à tecnologia, extraordi-
mos 50 anos. Nos campos da bio- havia ainda consenso internacio- nariamente dispendiosas e feitas
tecnologia e da engenharia genéti- nal sobre a matéria. por grandes empresas transnacio-
ca, os benefícios fazem sentir-se O modo como se faz ciência e nais que perseguem o lucro e o in-
nos mais diferentes domínios da tecnologia é de facto uma questão- dexam ao preço final do fármaco,
vida e traduzem-se em elevadíssi- chave, afirma Rui Nunes, e não da vacina, do tratamento e prote-
mos níveis de bem-estar. Exem- pode haver complacência com gidas por patentes. “A questão vai
plos? A vacinação para a Covid-19, “desvios imorais e não éticos”, se- tornar-se ainda mais complexa
as técnicas de procriação medica- jam de desrespeito pelos direitos com a Medicina de Precisão que
mente assistida, ou o surgimento humanos, pela falsificação de da- vai desenvolver fármacos inova-
de novos fármacos que podem dos, ou pelo plágio da publicação. dores que já não serão de utilização
transformar neoplasias em está- O professor defende uma ciência global, mas direcionados para de-
dios avançados em doenças cróni- com ética e com integridade e a terminados grupos de pessoas, que
cas e, assim, prolongar as nossas existência de instituições regulado- os podem pagar”, explica. “O aces-
vidas. ras fortes e um quadro regulatório so já não é equitativo e sê-lo-á me-
“Os benefícios são tremendos, nacional e sobretudo internacional nos ainda no futuro”, salienta.
mas apesar disso há questões éticas que permitam uma supervisão ade- A quarta grande questão levan-
absolutamente centrais que têm quada assim como uma adequada tada por Rui Nunes foi acelerada
que ser consideradas ao falar da partilha do próprio conhecimento pela pandemia da Covid-19 e diz
ciência e de tecnologia. Não é para científico. “O cientista move-se por respeito à transformação digital e
servirem de obstáculo, mas para princípios de cariz utilitário, com o mais especificamente às atividades
servirem de consideração, muitas objetivo de fazer avançar a ciência. que são impactadas pela Inteligên-
vezes prévia”, afirma Rui Nunes, No entanto, pode haver, por vezes, cia Artificial. “Vai mudar radical-
professor catedrático da Faculdade a tentação de pôr a ciência à frente mente o panorama da saúde nos
de Medicina da Universidade do das pessoas e isso não pode nunca próximos anos”, adianta o profes-
Porto, ao Jornal Económico sor da Universidade do Porto, a
Não é por acaso, salienta, que as começar no modo como a própria
instituições onde se faz ciência e Medicina se vai desenvolver.
investigação que envolva seres hu- Dentro de uma década, no máxi-
manos dispõem de comités de éti- mo, grande parte do trabalho mé-
ca. “Ciência, sim, tecnologia sim, dico será feito por algoritmos de
mas com rosto humano e devida-
A ciência e a inteligência artificial. É extraordi-
mente fiscalizada pelas entidades tecnologia não são nariamente positivo em alguns as-
próprias, nomeadamente os comi- neutras do ponto de petos, como a precisão, a rapidez e
tés de ética”. A ciência e a tecnolo- vista ético. A energia o networking, mas o processo não
gia não são neutras do ponto de poderá ficar em roda livre. “O que
vista ético. A energia atómica, no atómica, no passado, não pode acontecer nunca é estar a
passado, como a inteligência artifi- como, no presente, Humanidade subjugada pela ciên-
cial ou a engenharia genética de a engenharia genética cia e tecnologia e aqueles que a
melhoramento, no presente, têm controlam, nomeadamente as
consequências e, por vezes, desas- de melhoramento, grandes plataformas tecnológicas”,
trosas. Não é por acaso que o cien- têm consequências conclui Rui Nunes. ■
DISRUPÇÃO NA SAÚDE
Inovação tecnológica
alavanca novos
conceitos de medicina
Inovação tecnológica permitiu aumentar esperança média de vida em 20 anos. Big Data e 5G
vão criar novos conceitos de medicina. Centro de simulação médica é aposta de futuro.
“não é um fim em si mesmo”, mas, dica foi pensado “para ser muito
mais uma “ferramenta” fruto da flexível, potenciando assim a cria-
inovação tecnológica. ção de vários cenários distintos
“A saúde é ainda um dos sectores que permitem alargar certamente
com menor nível de digitalização, o espetro de tecnologias médicas
e só agora começamos a conseguir passíveis de serem testadas, assim
aproveitar a enorme quantidade e como as condições em que o são”.
variedade de dados que é produzi- Por isso, o Hospital da Luz Lear-
da em saúde. Estes dados, quando ning Health também está a desen-
trabalhados, têm o potencial para volver simuladores com compo-
transformar a saúde como a co- nentes de realidade aumentada e
nhecemos hoje, através de algorit- realidade virtual.
mos inteligentes que podem auxi- Questionada sobre os desafios e
liar os médicos nas tomadas de de- oportunidades que suscitam as
cisão”, considera Francisca Leite. inovações tecnológicas na saúde e
como é que o centro pode ajudar
Como o maior centro na adaptação e desenvolvimento
de simulação médica do país de novas tecnologias aplicadas à
vai alavancar a formação saúde, Francisca Leite sublinha
na saúde que, fundalmentalmente, aquele
Foi, precisamente, a pensar na me- espaço é o local ideal para “explo-
lhor forma de tirar proveito da tec- rar novos conceitos, desenvolver
nologia para formar profissionais novas ideias e testar novos produ-
de saúde mais capazes que o grupo tos/serviços num ambiente livre
Luz Saúde, proprietário do Hospi- de risco para o doente e para os
tal da Luz, criou o maior centro de profissionais”, que pode atuar
simulação médica de Portugal, ins- como espaço de “aceleração e co-
talado naquele hospital. criação”.
O Hospital da Luz Learning A simulação de procedimentos,
Health conta onze salas de simula- cenários e casos clínicos é “tam-
ção avançada, quatro salas de de- bém determinante para a forma-
briefing, uma equipa de peritos em ção das competências não-técnicas
simulação e um ambiente de alta- sociais, como a comunicação, o
fidelidade, tudo apoiado em tecno- trabalho em equipa e a liderança,
logia, para integrar as actividades ou cognitivas, como a situation
de formação, investigação e inova- awareness e a tomada de decisão,
ção. “Este centro funciona como essenciais para criar processos
um hospital simulado dentro do mais seguros, eficientes e resilien-
hospital real, onde sem risco para tes”. Para Francisca Leite, tal é fun-
o doente e para o profissional se damental, uma vez que a introdu-
observa, se identifica, se investiga, ção de tecnologia na realidade mé-
se desenvolve, se inova, se treina, dica e a digitalização “implica no-
se melhora, se procura sempre ir vas funções e competências para os
ao encontro daquilo que o doente profissionais, sendo necessário dar
mais valoriza. Neste centro desen- formação aos trabalhadores no
volvem-se os profissionais de saú- âmbito do novo processo e siste-
de do futuro”, explica a líder desta ma”. “Mas, numa verdadeira ótica
unidade, Francisca Leite. de engenharia de fatores humanos,
Como pode este centro de simu- a simulação torna-se ainda mais
lação médica alavancar a investi- premente e decisiva para o desen-
gação, inovação e formação médi- volvimento sustentado”, diz Fran-
ca, em Portugal? “Aqui faz-se in- cisca Leite, explicando que o cen-
vestigação de ponta sobre factores tro de simulação médica pode, ain-
humanos, por exemplo o mapea- da, ajudar em questões relaciona-
mento de redes de comunicação das com a legislação envolvida nos
intra e inter-equipas, que é o pri- processos de regulamentação das
meiro passo para desenvolver e es- inovações tecnológicas.
tabelecer melhores práticas e con- “Este é um processo bastante
tribuir eficazmente para a segu- moroso e complexo que implica
rança dos doentes e profissionais”, um esforço muito grande por par-
refere a diretora do Hospital da te de todas as equipas envolvidas.
Luz Learning Health. Neste centro procuramos cada vez
Outro ponto a favor é a ambição encontrar mecanismos que nos
do centro de simulação clínica aju- permitam facilitar estes proces-
dar a desenvolver um consultório sos”, conclui. ■
digital, mais focado na “individua-
lidade de cada doente”, onde ainda
antes de uma consulta é possível,
de forma rápida, “medir sinais vi-
tais e outras variáveis fundamen-
tais para a construção de um digi-
tal twin de cada doente, o principal
enabler da medicina de precisão”.
“Temos também vários projetos
de investigação a decorrer com
instituições académicas, tanto em
Portugal como no estrangeiro,
procurando desenvolver sensores “Sabemos hoje
e outras ferramentas de monitori- que os resultados
zação à distância que permitirão em saúde dependem
melhorar a prevenção, o diagnós-
tico precoce e também gerar sinais muitíssimo de outros
de alerta, antecipando o tratamen- factores para além
to a doentes potencialmente gra- dos cuidados
ves”, acrescenta.
Francisca Leite explica, ainda, médicos”,
que este centro de simulação mé- diz Francisca Leite
6 | O Jornal Económico 29 setembro 2021
ENTREVISTA | CARLOS CORTES | Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos FÓRUM
Cristina Bernardo
RICARDO SANTOS FERREIRA
rsferreira@jornaleconomico.pt faz? empreendedorismo
Não posso fazer uma avaliação posi- destacam a importância
tiva. Posso afirmar que existiram es-
A tecnologia tem feito crescer a forços importantes nestes últimos do acompanhamento dos
capacidade da medicina, não nas anos, isso é inegável. Mas o ‘estado doentes em tempo real,
ferramentas de comunicação, da arte’ nesta matéria ainda está lon- que só é possível graças
mas também nos meios comple- ge de ser adequado. Não sentimos a sistemas e softwares
mentares de diagnóstico e na in- uma vontade de investimento e des-
tervenção. Em entrevista ao Jor- envolvimento por parte do Minis-
inovadores.
nal Económico (JE), Carlos Cor- tério da Saúde. Um exemplo típico é
tes, presidente da Secção Regio- a falta de integração entre progra-
nal do Centro da Ordem dos Mé- mas informáticos dentro do SNS 1. A pandemia acelerou
dicos sublinha o desenvolvimen- [Serviço Nacional de Saúde] que se- efetivamente a inovação
to tecnológico e a aceleração ria de uma ajuda crucial para ligar, nesta indústria ou os
motivada pela pandemia, mas por exemplo, os cuidados de saúde avanços surgiram como
alerta para a necessidade de pre- primários aos cuidados hospitalares uma inevitabilidade?
servação da relação próxima en- e cuidados continuados. Mas mes- 2. Como é que a tecnologia
tre médico e paciente. mo em cada um deles existem deze- está a apoiar os
nas de programas informáticos a
profissionais de saúde
Qual a importância funcionar autonomamente sem li-
do desenvolvimento gação entre si. a serem mais eficientes
tecnológico para a saúde? Quanto ao SNS, uma das suas ca- no acompanhamento
A medicina, através do desenvol- racterísticas prende-se com o facto dos doentes?
vimento científico, tem tido uma de estarmos perante um parque
enorme capacidade de incorporar tecnológico obsoleto com equipa-
os avanços tecnológicos na sua ati- mentos em fim de vida e, por ve-
vidade. Os médicos perceberam zes, sem apoio de manutenção. É
muito cedo a importância, para os natural que possa existir um signi-
seus doentes, de integrarem as ficativo custo financeiro, mas o in-
modernas tecnologias na preven- vestimento no SNS também é uma
ção das doenças, nos diagnósticos, prioridade pela qual o Ministério
nos tratamentos, na monitoriza- da Saúde pode optar ou decidir. A
ção e na comunicação com os seus Em que áreas da saúde seu desenvolvimento e na resposta meu ver, será sempre uma má op-
utentes. Apesar de existirem aspe- é notada uma maior em cuidados de saúde. Na área da ção quando a tutela secundariza o
HÉLDER SOARES
tos éticos e de ligação aos doentes preponderância comunicação não presencial, na investimento em saúde. Chief Operations Officer
que é essencial ter em conta, as no- da tecnologia? medicina à distância, para citar al- da Abtrace
vas tecnologias são uma mais-valia As modernas tecnologias são trans- guns exemplos. Atualmente, a co- Que desafios coloca
1. Ao passo que a pandemia
indispensável para a melhoria da versais a toda a medicina, nas várias municação, em casos bem defini- o desenvolvimento tecnológico colocou a descoberto algumas
qualidade na prestação dos cuida- especialidades médicas e durante o dos, pode ser feita entre um profis- aos profissionais de saúde? fragilidades dos sistemas de
dos de saúde. percurso da doença. E têm também sional e o seu doente através de É ticos, de formação? saúde, teve também um efeito
A tecnologia não só permite um preponderância antes da doença no meios digitais e da internet. Pode- O principal desafio é ético e deon- catalisador no desenvolvimento de
conhecimento mais aprofundado, que concerne aos cuidados na área mos evitar deslocações desneces- tológico. A medicina é, fundamen- tecnologias capacitadas de
como permite tratar mais doentes. da prevenção da doença. sárias aos doentes às unidades de talmente, baseada numa relação promoverem uma maior eficiência
Neste sentido, as modernas tecno- O desenvolvimento dos meios saúde que, frequentemente, têm de estreita entre um médico e o seu no sector. Ao mesmo tempo,
acelerou o desenvolvimento de
logias são um fator de melhoria do complementares de diagnóstico e dedicar quase um dia para ter uma doente. Sem essa relação, podere- investigação mais fundamental e
acesso aos cuidados de saúde e de de seguimento dos doentes tem consulta. A monitorização dos mos ter algo que não será, propria- disruptiva que possa dar resposta
aumento da sua qualidade. tido um avanço excecional nestes doentes, para o seu conforto, tam- mente, medicina. É preciso nunca a desafios como este e que nos
últimos anos. As possibilidades de bém pode ser feita à distância. perder de vista este conceito hu- torne melhor equipados para as
A pandemia de Covid-19 tratamento ligadas às novas tecno- Mas, para tudo isto, é preciso defi- manista e solidário que é intrínse- enfrentar. Existe, no entanto, uma
contribuiu para acelerar logias também têm permitido à nir regras específicas para que as co à medicina. O encantamento grande lacuna ainda por
preencher, uma vez que a inovação
o desenvolvimento medicina dar saltos ‘de gigante’ no tecnologias sejam limitadas ao es- das novas tecnologias não pode
tecnológica e o sector da saúde
tecnológico na saúde? tritamente necessário e podermos permitir que estas ocupem este es- viajam a velocidades diferentes e
A pandemia contribuiu muito para privilegiar o contacto humano. A paço primordial na relação médi- ambos necessitam de se ajustar
o desenvolvimento das tecnologias desumanização preocupa-me. Não co-doente. para que estas inovações sejam
de informação e comunicação liga- só a aquela desumanização que em As novas tecnologias são muito mais rapidamente adoptadas e
das à saúde. São uma ferramenta grande parte que nos trouxe esta importantes, indispensáveis para o tragam de facto benefícios para os
incontornável nos dias de hoje, mais recente pandemia, mas a que desenvolvimento e melhoria do sistemas de saúde e
útil em muitos casos, mas que O ‘estado da arte’ se reporta à perda da importância sistema de saúde, mas têm um lu- principalmente um maior impacto
para a saúde e bem estar dos
nunca poderá substituir uma rela- nesta matéria ainda do valor da Pessoa, que tem acon- gar próprio de auxílio ao trabalho pacientes.
ção presencial e próxima com os está longe de ser tecido nas nossas sociedades dos médico e não de substituição. Para
doentes. É preciso não esquecer- últimos anos, por força da moder- isso são necessárias regras claras de 2. Através de novas tecnologias de
mos isso. Mas todos percebemos
adequado. Não nidade, da imposição tecnológica atuação, orientações específicas suporte à tomada de decisão e
que, durante os períodos mais crí- sentimos uma vontade que nos ajuda no nosso dia-a-dia. que permitam, com as novas tec- novas plataformas para interagir e
monitorizar a saúde dos pacientes
ticos da pandemia Covid-19, as de investimento Este é um grande desafio. nologias, valorizar ainda melhor a
e também através da automação
novas tecnologias foram essenciais relação presencial humana do mé-
para continuar a tratar os doentes
e desenvolvimento As instituições da área da saúde dico com o seu doente. Este, para
de tarefas rotineiras que possam
ser agilizadas e que libertem o
e estabelecer uma comunicação por parte do Ministério em Portugal têm respondido mim, é o caminho que deve ser re- staff clínico para terem mais tempo
com eles. da Saúde ao desenvolvimento servado à tecnologia na saúde. ■ para avaliar e diagnosticar
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situações clínicas. Ao potenciar a do doente. O kit destaca-se pela melhores cuidados de saúde se de trabalho no sector da saúde. A Realidade Virtual para prevenir e
informação armazenada nos sua simplicidade de utilização por apoiam na tecnologia como um rapidez com que os sistemas de detetar precocemente Alzheimer.
registos electrónicos de saúde será parte de todos os intervenientes, pilar acelerador e facilitador para saúde estão a mudar é Nada disto é ficção científica, mas
também possivel permitir que os pela capacidade de aumentar obtermos melhores resultados em absolutamente incrível. Sendo exemplos do que algumas
profissionais de saúde tenham ao consideravelmente o número de saúde. tendencialmente uma indústria de empresas fazem já em Portugal.
seu dispor mais e melhor camas afetas a doentes adoção lenta, a situação que Finalmente, coisas aparentemente
informação para tomarem decisões acompanhados pelo hospital, temos vindo a enfrentar obrigou a menos noticiadas, como
e favorecer uma mudança de conferindo ao utente o conforto todos – indústria e profissionais de acompanhamento de idosos, o
paradigma para um prestação de que é tão valorizado quando saúde - a dar resposta às tratamento do autismo com apoio
cuidados de saúde menos reactiva estamos doentes. O kit é composto necessidades de milhões de de software, a correção de
e focada no tratamento para um por um tablet com a “enfermeira pacientes, em condições muito problemas motores, a tradução
foco maior na prevenção e no virtual” que orienta os doentes no difíceis. Por essa razão a automática de impedimento de
diagnóstico precoce. Na Abtrace, uso dos seguintes equipamentos: necessidade de acelerar a fala, são outras áreas a ser
estamos a apoiar os centros de balança, esfigmomanómetro, digitalização na saúde e melhorar revolucionadas.
saúde e os médicos de família glicómetro, termómetro, oxímetro e os processos de diagnóstico e
através de uma plataforma botão de pânico. tratamento foram, sem dúvida,
inteligente que permite a MIGUEL AMADOR áreas que inevitavelmente foram
Regional manager
automação da monitorização colocadas como prioridades pelo
de Portugal na EIT Health InnoStars
contínua de pacientes com sector. A Philips, procura colaborar
doenças crónicas e a desenvolver A inovação tecnológica em saúde é de forma muito próxima com os
novos algoritmos para a detecção um processo contínuo, que tem seus clientes, no sentido de
de casos de cancro numa fase mudado o paradigma dos cuidados identificar as necessidades e
inicial da doença baseados nos de saúde. O grande desafio que promover a adoção tecnológica
dados dos registos clínicos dos instituições como o EIT Health sempre com o objetivo de melhorar
pacientes. enfrentam, juntamente com os seus a vida dos pacientes, a experiência
dos profissionais de saúde e NELSON FERREIRA PIRES
parceiros, é que a adopção de
promover uma gestão eficiente dos Diretor geral
novas tecnologias não é tão rápida da Jaba Recordati
quanto o seu desenvolvimento. O recursos disponíveis. Essa é a
HUGO MENDES
Parter grande paradigma de inovação nossa missão. 1. A indústria farmacêutica (IF) é a
da Healthyfi atual é o da Saúde Digital, em que área da saúde que mais investe em
a tecnologia muda não só 2. Um dos avanços mais I&D no mundo. Este foco na I&D
A pandemia veio alterar os hábitos significativos tem sido a adoção da
procedimentos, mas também as não surge como consequência da
e o modo como vivíamos. Era conectividade na área da saúde.
relações entre pacientes, pandemia, mas como missão da IF:
necessária uma resposta rápida e Desde os cuidados intensivos com
profissionais de saúde e as acrescentar mais e melhor vida aos
efetiva a esta nova realidade. centrais de monitorização
instituições, permitindo cuidados de cidadãos e, em consequência,
Podemos dizer que alguns setores conectadas, permitindo uma
saúde que acompanham a pessoa melhores resultados financeiros
foram impulsionados por uma nova monitorização permanente com
RUI CORTES no seu dia a dia, e fora do hospital. para as empresas e seus
realidade e que outros surgiram menos recursos, até à
Especialista A pandemia veio expor as empregados.
como uma inevitabilidade. O e- implementação de tecnologias de
na Lean Health Portugal fraquezas dos sistemas saúde, que A pandemia acelerou o processo
commerce e as plataformas de telemedicina, que serão cada vez
a comunidade de inovação já de I&D em relação à Covid-19,
1. Sem dúvida que a pandemia vídeo conferência por exemplo mais uma realidade em Portugal e
estava a tentar resolver. devido ao elevado investimento de
acelerou a inovação no sector da tiveram um aumento significativo que permitem melhorar a gestão
Verificámos, porém, um acelerar do mais de 10 biliões de USD para I&D
saúde pela pressão da do número de utilizadores, no dos pacientes e proporcionar um
processo de adopção. Perante a da vacina. Quanto à restante I&D,
necessidade de respostas aos entanto, muitas destas soluções já atendimento cada vez mais
pressão nos Hospitais, no EIT houve, provavelmente, algum
desafios que emergiram, mas existiam. Outras foram criadas próximo às suas necessidades. Por
Health vimos por toda a Europa, atraso e desinvestimento, pois os
sobretudo criou uma maior para dar resposta a necessidades outro lado, a pandemia também
inclusive em Portugal, o recursos não são ilimitados.
predisposição das organizações específicas, como é o caso de evidenciou a necessidade de
crescimento do uso de soluções de Portanto, a I&D Covid foi uma
para a mudança, quer tecnológica, novas plataformas de eventos melhorar o sistema de diagnóstico
telemedicina e Inteligência Artificial inevitabilidade, mas o seu
quer organizacional. Evidência online, streaming, que tentaram nos hospitais, através de sistemas
já existentes, que permitiram levar resultado surgiu muito rápido fruto
disso é a enorme quantidade de “substituir”, na medida do possível, de diagnóstico mais rápidos e
os cuidados para fora do Hospital, do conhecimento e investimento
processos que, nestes 18 meses, a experiência dos utilizadores num precisos. Para tal é imprescindível
e para casa das pessoas. A no desenvolvimento de outras
que foram desmaterializados, o evento presencial, o que constitui, o suporte da Inteligência Artificial
pandemia deixou claro as vacinas no passado, mas também
que anteriormente parecia como sabemos, um enorme que permite o apoio ao diagnóstico
limitações nos recursos humanos no desenvolvimento de novas
impossível. A par disto, a desafio. Com as limitações de e à tomada de decisão, permite a
em saúde. O uso da tecnologia é plataformas.
tecnologia surgiu como gerador de acesso a cuidados de saúde e otimização de fluxos de trabalho e
por isso fundamental, não para os Portugal tem uma dinâmica
eficiência e de melhoria de tratamentos provocados pela com isso permite reduzir as listas
substituir, mas estender o seu fantástica de I&D, mas tem de
prestação dos cuidados de saúde. pandemia, a tecnologia poderia ter de espera e os custos associados.
alcance, já que a tecnologia começar a desenvolvê-la, pois é
sido um poderoso aliado no Julgo que estamos a viver um
permite acompanhar em tempo real um país com exemplos únicos: a
2. Sentimos a necessidade para combate a essas limitações ao momento único na transformação
o estado de saúde de uma pessoa, empresa LXBio e a Technophage
nos reorganizarmos e apostarmos nível do diagnóstico, as tecnológica no sector da saúde.
esteja onde ela estiver. Por um têm I&D de uma vacina para a
em ferramentas que privilegiassem terapêuticas e mesmo na
lado, os dados gerados permitem a Covid-19 em fase II, mas também é
as interações remotas. Neste organização e eficiência do setor
tomada de decisões mais rápidas e a primeira empresa a conseguir
sentido, desenvolvemos a da saúde. No entanto, o que
com informação mais completa, por dois feitos na FDA com o seu
plataforma house of lean. Este é assistimos foi uma alteração
outro acompanhar o paciente no medicamento biológico TP102:
um projeto interno que nos brusca do modus operandi, para a
seu dia-a-dia. Com a redução da aprovar um estudo clínico
possibilita continuar a fazer a qual quase ninguém estava
pressão da pandemia sobre os (tratamento do pé diabético) e um
gestão de projetos de melhoria preparado. Se considerarmos o
Hospitais, fica a dúvida se vamos “fast approval”, devido às
contínua e a fazer programas de nível de literacia digital de parte da
regredir na adopção da tecnologia. expectativas elevadas de salvar
capacitação, tudo remotamente. À população afetada e a inexistência
Tendo todo o processo sido vidas ou amputações, que pode
semelhança de outras empresas, de meios para fazer face a esta
acelerado num tão curto espaço de conseguir. Bem como o grupo
sentimos necessidade de nos “nova realidade”, concluímos que
tempo, falta ainda muita da “FHC - the future of healthcare”,
adaptar. Isto é possível porque a mesmo existindo capacidade VÍTOR FERREIRA
estrutura de incentivos, processos que investe muito em várias áreas,
plataforma foi construída de raiz tecnológica, a mesma não estava Diretor geral
e treino necessários para que a da Startup Leiria inclusive na I&D de fabrico
com o ciclo PDCA, que é o ciclo da disponível para ser utilizada pela
adopção da inovação atinja o seu industrial de medicamentos.
melhoria contínua, em mente. Esta maioria dos profissionais de saúde
potencial e seja sustentável. 1. A pandemia acelerou a inovação.
é uma ferramenta inovadora e a e pelos cidadãos. Podemos afirmar
Todavia, depois de experimentar o Sobretudo, porque a urgência do 2. O mundo será “Human with a
única desenvolvida com base na que neste caso a pandemia foi o
seu potencial em primeira mão, são Covid trouxe um influxo de digital touch”, em minha opinião. A
framework de trabalho da agente acelerador e transformador
pacientes e profissionais de saúde investimento e recursos humanos tecnologia ajudou a estar perto
metodologia Lean, permitindo aos digital para muitas empresas,
os principais impulsionadores das para algumas áreas. É verdade que dos doentes de forma remota, mas
profissionais de saúde incluindo instituições de saúde.
mudanças ainda necessárias. certos campos de investigação também a criar softwares de
interessados em introduzir ou Estamos hoje mais bem
(como a CRISPR) tinham já algoritmo de risco, para definir
conduzir projetos nos seus preparados para fazer face a uma
avanços, mas os novos influxos de quem são os doentes com maior
serviços ter um guia online para o utilização racional e profícua da
investimento catapultarem os risco, por exemplo. Mas também
fazer. Outro desenvolvimento tecnologia disponível na saúde?
resultados. nos meios de diagnóstico (com
tecnológico que surgiu da Talvez, mas não nos podemos
sensores corporais que medem a
necessidade de libertar camas nos avaliar o sucesso da tecnologia ao
2. Neste momento, a “revolução TA permanentemente),
hospitais foi a hospitalização serviço da saúde, dos seus
digital” já chegou à medicina. agendamento de contactos,
domiciliária, tornado possível profissionais e da população, à
Algoritmos preditivos permitem integração da informação de saúde
através de kits digitais. Este foi um massificação do agendamento e
prevenir o risco de enfarte, corrigir dos cidadãos e muitos outros.
projeto coproduzido entre a Lean realização de consultas online, ou
posturas corporais, sequenciar Existem alguns “milestones” que
Health Portugal, a Vodafone, a de algumas apps para os
medicamentos ajustados ao ADN devem ser geridos como a
Think Digital e Hospital Garcia de profissionais de saúde poderem
individual, permitem monitorizar privacidade dos dados, a
Orta (HGO). Alguns doentes com acompanhar os seus utentes ANDRÉ CABRAL doentes, com sensores que segurança digital e a integração da
características especificas, com remotamente. Alguns passos já Country manager detetam alterações de estados inteligência artificial.
condições para recuperar em casa, foram dados na direção certa, mas da Philips Portugal
metabólicos. Novos algoritmos são
tiveram a oportunidade de estar temos de apostar numa estratégia
treinados para olhar para o
“internado” na sua casa. Levavam global e integrada para a saúde, 1. Julgo que a pandemia veio
histórico dos pacientes, analisar
consigo um kit de hospitalização onde a prevenção, literacia em sobretudo acelerar a adoção de
exames e antecipar doenças.
domiciliária que permitiam no HGO saúde, promoção de estilos de vida tecnologias já existentes e
Existe hoje a aplicação de
monitorizar e avaliar a recuperação saudáveis, acesso e prestação de introduzir formas revolucionárias
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