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IVA

NAS OPERAÇÕES INTERNAS


TAXAS – ART. 18.º
◦ Regra geral: a taxa aplicável às operações tributáveis deve ser, segundo a Diretiva IVA (art. 93.º) a
taxa em vigor no momento em que ocorre o facto gerador.
◦ Contudo: art. 18.º/9 do CIVA – situações em que a taxa aplicável é a taxa em vigor no momento em que o
imposto se torna exigível
◦ Os Estados-membros aplicam uma taxa normal, que é idêntica para a entrega de bens e para a prestação de
serviços, a qual não pode ser inferior a 15%.
◦ Os Estados-membros podem aplicar uma ou duas taxas reduzidas, apenas a certas entregas de bens e
prestações de serviços (as constantes do Anexo III), as quais não podem ser inferiores a 5%.
◦ PORTUGAL: artigo 105.º da Diretiva IVA estipula que Portugal pode aplicar às portagens nas pontes da
zona de Lisboa uma das duas taxas reduzidas previstas no artigo 98.º e aplicar, às operações efetuadas nas
Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e às importações efetuadas diretamente nestas regiões, taxas de
montante inferior às aplicadas no Continente.
Taxas
Taxa Continente Madeira Açores

Normal 23% 22% 16%

Intermédia – Lista II 13% 12% 9%

Reduzida – Lista I 6% 5% 4%

Beneficiam da taxa reduzida alguns produtos alimentares, publicações periódicas, livros, produtos
farmacêuticos, alojamento hoteleiro, bens de produção agrícola e transporte de passageiros.
Beneficiam da taxa intermédia alguns produtos alimentares, determinados serviços de restauração
e entradas em espetáculos de canto, dança, música, teatro, cinema, circo, entradas em exposições,
entradas em jardins zoológicos, botânicos e aquários públicos, desde que não beneficiem da
isenção prevista no n.º 13 do artigo 9.º do Código do IVA.
Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo
Processo: 065/13

Data do Acordão: 23-10-2013

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: DULCE NETO

Descritores: IVA
MASSAS ALIMENTICIAS

Sumário: I - Da interpretação da verba 1.1.4 da Lista I anexa ao Código do IVA, na redacção


introduzida pelo art. 41º, nº 4, da Lei nº 2/92, de 9/03, retém-se que foi intenção do
legislador tributar as massas secas à taxa reduzida e as massas recheadas à taxa
normal, independentemente do nome que as mesmas assumam.
II - À data dos factos (entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2004), e à luz da referida
verba, as massas comercializadas secas (sem recheio) eram tributadas à taxa
reduzida de IVA, ou seja, de 5%, ainda que comercializadas sob o nome de cannelloni
ou de lasanha.
Casos práticos:
◦ A realização de uma obra de renovação de um court de ténis num condomínio privado é:

(a) Isenta de IVA ao abrigo do art. 9º, nº 8 do CIVA


(b) Tributada à taxa de 6%

(c) Tributada à taxa de 13%


(d) Tributada à taxa de 23 %

◦ As empreitadas de beneficiação, remodelações, renovações, restauro, reparações ou conservação de imóveis, ou partes


autónomas destes destinados à habitação, beneficiam de tributação em IVA à taxa reduzida de 6% - 2.27 da Lista I

◦ Porém excluem-se no âmbito da tributação à taxa reduzida as empreitadas em piscinas, saunas, campos de ténis, golf ou
minigolf e instalações similares, ainda que estes se insiram no âmbito mais geral de um imóvel destinado à habitação.

◦ Excluindo-se, portanto, a obra em causa da aplicação da taxa reduzida e não constando também da lista II, anexa ao CIVA
(taxa de 13%), será a mesma sujeita à taxa normal de 23% - Art. 18º, nº 1, al. a) do CIVA e verba 2.27 da lista I, anexa ao CIVA
◦ Uma refeição servida e consumida num restaurante em Lisboa deve
considerar-se:
a) Uma transmissão de bens tributada à taxa de 23%;
b) Uma prestação de serviços tributada à taxa de 23%;
c) Uma operação de caráter misto, parte tributado à taxa de 23% e parte
tributada à taxa de 13%
d) Uma prestação de serviços à taxa de 6%
A verba 3.1 da Lista II anexa ao Código do IVA faz menção expressa a “prestações de serviços de alimentação e bebidas”, e por isso este tipo de prestações de serviços
beneficiam da tributação à taxa intermédia de IVA (13%), prevista na alínea b) do n.º 1 do artigo 18.º do Código do IVA.
De acordo com a informação da AT constante no Ofício-Circulado n.º 30181, de 06-06-2016, esta verba aplica-se:
“ao fornecimento de alimentação efetuado no âmbito de um serviço de restauração ou de catering, independentemente de se tratar de refeição principal ou não
(entradas, aperitivos, sandes, sobremesas, gelados, etc.), para consumo nas instalações do prestador do serviço, no caso do serviço de restauração, ou para
consumo no local onde o serviço é prestado, no caso do catering”.
Acrescentando que esta verba é ainda aplicável às prestações de serviços de bebidas, como por exemplo:
Água natural;
Chá;
Café;
Café com leite;
Leite com chocolate ou chocolate quente.
Contudo, a própria verba 3.1 exclui expressamente as prestações de serviços das seguintes bebidas, que por isso beneficiam da tributação à taxa normal de IVA:
Bebidas alcoólicas;
Refrigerantes;
Sumos;
Néctares;
Águas gaseificadas ou adicionadas de gás carbónico ou outras substâncias.
◦ A prestação de serviços de alimentação e bebidas, é todo o tipo de alimentação e bebidas que são servidas no âmbito da atividade da
restauração e bebidas, em que o consumo é efetuado no estabelecimento (onde estão incluídas as esplanadas), e é considerado
serviço, pois para além do ato de servir a alimentação ou a bebida, os clientes beneficiam de um conjunto de serviços de apoio,
nomeadamente de mesas e cadeiras, WC, limpeza do estabelecimento, entre outros;
◦ Ou seja, toda e qualquer alimentação que seja servida e consumida no estabelecimento (entradas, aperitivos, sandes,
sobremesas, gelados, etc.), como estamos perante a prestação de um serviço, é enquadrada na verba 3.1 da Lista II do
Código do IVA, e por isso é tributada à taxa de 13%.
◦ TAKE-AWAY OU ENTREGA AO DOMICÍLIO VENDA DE PRODUTOS PARA CONSUMO FORA DO
ESTABELECIMENTO (Transmissão de Bens)
◦ No âmbito da atividade de restauração e bebidas, a venda de produtos para consumo fora do estabelecimento é considerada uma mera
transmissão de bens, uma vez que apenas consiste na preparação e entrega de alimentação e bebidas, sem que esteja associado um serviço de
restauração.
◦ De acordo com a Verba 1.8 da Lista II anexa ao Código do IVA, as refeições prontas a consumir, sem qualquer prestação de serviço associado e
tratando-se de produtos confecionados, são tributadas à taxa intermédia, desde que sejam para consumo imediato;
◦ Todos os restantes produtos que acompanham o prato principal (que é apenas o que é considerado refeição), são tributados à taxa de IVA desse
produto (se estiver na Lista I do Código do IVA é tributado à taxa reduzida, se estiver na Lista II do Código do IVA é tributado à taxa intermédia, e se
não constar na Lista I ou na Lista II, é tributado à taxa máxima).
Exemplo:
◦ No âmbito de um jogo da realização da UEFA, a ter lugar no quarto trimestre de 2021, no estádio da Luz, a
SAD do Sport Lisboa e Benfica vai comercializar bilhetes, cuja aquisição proporciona aos seus clientes assistir
ao jogo de futebol, seguido de um jantar nas instalações do estádio, e, ainda, o estacionamento das suas
viaturas.
◦ Qual a taxa de IVA incluída nos referidos bilhetes?

◦ PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MISTA.


◦ A aquisição do bilhete comporta por parte da sociedade organizadora do jogo a prestação de vários serviços: o
espetáculo desportivo; a restauração; a locação do imóvel (estacionamento).
◦ Por assim ser, há que averiguar qual a prestação de serviços que assume uma predominância face às demais e
adotar-se a chamada teoria da absorção (que vigora para os contratos mistos) – neste caso o espetáculo
desportivo (jogo).
◦ Antes da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, aplicava-se a taxa reduzida à prestação de serviços dominante
(espetáculo desportivo) (verba 2.15 da lista I que foi revogada). Atualmente taxa de 23%.
LIQUIDAÇÃO (EXERCÍCIO DO
DIREITO À DEDUÇÃO)
Método de dedução do imposto (método subtractivo indirecto)

dedução do imposto suportado nas operações passivas ao valor do imposto arrecadado nas
operações activas.

Para o sujeito passivo ter direito à dedução é necessário que:

o imposto suportado tenha incidido sobre bens ou serviços adquiridos, importados ou utilizados
para a realização de operações que, segundo o art. 20.º do CIVA, confiram o direito à dedução

Excluem-se operações que


deem lugar aos
pagamentos em nome e
por conta do adquirente
Que são no caso das operações internas:
dos bens ou do
destinatário dos serviços,
Transmissões de bens sujeitas a imposto e dele e prestações de serviços sujeitas a imposto e dele registadas pelo sujeito
não isentas não isentas passivo em contas de
terceiros apropriadas – art.
20.º/2
• Art. 22.º/1 do CIVA - o direito à dedução nasce no momento em que o imposto dedutível se torna exigível,
de acordo com o estabelecido pelos artigos 7.º e 8.º, efetuando-se mediante:

Ao montante global do imposto devido pelas operações tributáveis do sujeito passivo, durante um período de
declaração

Subtrai-se

O montante do imposto dedutível, exigível durante o mesmo período.


Art. 19.º CIVA
Para apuramento do imposto devido nas operações internas, os sujeitos passivos deduzem ao imposto incidente sobre
as operações tributáveis que efectuaram:

• O imposto devido ou pago pela aquisição de bens e serviços a outros sujeitos passivos;

• O imposto devido pela importação de bens;

• O imposto pago pelas aquisições de bens ou serviços abrangidas pelas alíneas e), h), i), j), l) e m) do n.º 1 do artigo 2.º;

• O imposto pago como destinatário de operações tributáveis efectuadas por sujeitos passivos estabelecidos no estrangeiro,
quando estes não tenham no território nacional um representante legalmente acreditado e não tenham facturado o
imposto;

• O imposto pago pelo sujeito passivo à saída dos bens de um regime de entreposto não aduaneiro, de acordo com o n.º 6
do artigo 15.º.
Art. 19.º/2 do CIVA – condições formais para o exercício do direito à
dedução

Só confere o direito à dedução o imposto mencionado nos seguintes documentos em nome e na posse do
sujeito passivo:

• em facturas passadas na forma legal;

• no recibo de pagamento do IVA que faz parte das declarações de importação, bem como em documentos
emitidos por via electrónica pela Autoridade Tributária e Aduaneira, nos quais constem o número e a data
do movimento de caixa;

• nos recibos emitidos a sujeitos passivos enquadrados no «regime de IVA de caixa», passados na forma legal
prevista neste regime.

Ø Não pode deduzir-se: art. 19.º, n.ºs 3, 4 e 7


Art. 21.º do CIVA - operações cujas despesas não conferem o direito à dedução:

• O fundamento da exclusão do direito à dedução previsto no art. 21.º, do C.I.V.A., encontra-se no facto de muitas das situações ali previstas dizerem
respeito a I.V.A. suportado nos "inputs" em relação às quais se configura difícil, ou mesmo impossível, controlar da sua bondade, visando-se, pela via
da exclusão, obstar à dedução do imposto suportado com bens ou serviços não essenciais à actividade produtiva ou facilmente desviáveis
para consumos particulares, não empresariais/profissionais. Esta norma é, no fundo, uma norma especial anti-abuso em sede de I.V.A.

• Despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação, à utilização, à transformação e reparação de viaturas de turismo, de barcos de recreio,
helicópteros, aviões, motos e motociclos, excepto se a venda ou a exploração destes bens constituir o objecto da actividade deste sujeito passivo – art. 21.º/1a)
e 2a) do CIVA;

◦ O art. 21.º, nº.1, al.a), do C.I.V.A., não define o conceito de viaturas de turismo por contraposição ao conceito de viaturas de mercadorias.
◦ Na definição do conceito de viatura de turismo constante desta norma, apresenta-se como viaturas de turismo:
◦ por um lado, os veículos que, pelo seu tipo de construção e equipamento, não sejam destinados unicamente ao transporte de mercadorias ou a uma utilização
com carácter agrícola, comercial ou industrial,
◦ e, por outro lado, os veículos que, sendo mistos ou de transporte de passageiros, não tenham mais de 9 lugares
Ex: viatura Nissan Pick Up (4x4), que possui cinco lugares reservados a passageiros e com caixa aberta - esta viatura não se destina, pela sua construção e
equipamento, apenas ao transporte de mercadorias ou como único destino possível uma utilização de carácter agrícola (comercial ou industrial). Ou seja, pela sua
construção e equipamento a viatura tanto pode ser utilizada para o transporte de mercadorias, no e para o desenvolvimento de uma daquelas actividades como uma
utilização particular, sendo, de resto, como a realidade vem demonstrando, cada vez comum a aquisição deste tipo de viaturas precisamente pela multiplicidade de
utilizações que o seu tipo de construção e equipamento possibilita.
Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo
Processo: 0353/11.5BECTB 01017/17

Data do Acordão: 03-02-2021

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: ANABELA RUSSO

Descritores: IVA
EXCLUSÃO
DEDUÇÃO
VEÍCULO
TURISMO

Sumário: I - O direito à dedução do IVA encontra-se dependente do preenchimento de dois requisitos: que o imposto
tenha incidido sobre qualquer uma das operações descritas no artigo 20.º do CIVA - operações relativas a
bens ou serviços adquiridos, importados ou utilizados pelo sujeito passivo e que sejam pertinentes para o fim
da actividade prosseguida); que a dedução pretendida não se mostre excluída por o imposto se encontrar
contido em qualquer uma das despesas identificadas no artigo 21.º do mesmo Código.
II - No conceito de viatura de turismo imposto pelo legislador fiscal são o tipo de construção e o equipamento
da viatura, e não o fim a que esta seja afectada pelo adquirente, que constituem o elemento determinante da
exclusão do direito de dedução suportado na respectiva aquisição.
III - Só estão excluídos do conceito referido em II. os veículos automóveis que, face ao tipo de construção e ao
equipamento que possuem (i) se destinam unicamente ao transporte de mercadorias ou a ser exclusivamente
utilizados no desenvolvimento de uma actividade agrícola, comercial ou industrial ou que, (ii) sendo misto, não
tenha mais do que nove lugares incluindo o condutor.
III - Tendo resultado provado que a viatura possuiu cinco lugares para passageiros há que concluir que não se
destina, pela sua construção e equipamento, apenas ao transporte de mercadorias nem tem como único
destino possível uma utilização de carácter agrícola, comercial ou industrial.
◦ Será possível a dedução do IVA se a venda ou exploração dos referidos veículos constitui objeto de atividade
do sujeito passivo – artigo 21.º, n.º 2, al. a). Exemplos em que a dedução é possível:

◦ Viatura de passageiros de 7 ou 9 lugares adquirida e utilizada por empresa não isenta de IVA
exclusivamente em atividade de transporte de crianças acessória às atividades de creche, centro de atividade
de tempos livres ou ama, desde que o transporte de crianças seja objeto de faturação aos clientes, com
liquidação do respetivo IVA;

◦ Viatura de passageiros de 5 a 9 lugares adquirida e utilizada por empresa com alvará de agência de viagens
para realização exclusiva de passeios turísticos com os seus clientes ou transfers de e para aeroportos (AT
recomenda que devem ser estabelecidos critérios de verificação da utilização das viaturas, nomeadamente,
através de listagens que identifiquem o percurso, a quilometragem do veículo no início e no termo do
serviço realizado, a identificação do cliente e a referência à fatura que suportou a operação e na qual foi
liquidado o IVA).
Viaturas de turismo elétricas ou híbridas plug-in
◦ Exceção face às viaturas de turismo – IVA dedutível
◦ Na sequência da reforma da chamada Fiscalidade Verde, a Lei n.º 82-D/2014, de 31 de dezembro, procedeu
à alteração das normas fiscais ambientais nos setores da energia e emissões, transportes, água, resíduos,
ordenamento do território, florestas e biodiversidade, alterando, para o efeito, o Código do IVA, aditando a
alínea f) do n.º 2 do artigo 21.º.
◦ Portaria n.º 467/2010, de 7 de julho, alterada pela Lei n.º 82-D/2014, de 31 de dezembro.
◦ De acordo com a alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º do Código do IRC conjugado com a al. a) do n.º 4 do art.
1.º da Portaria n.º 467/2010 as alterações aos limites a partir dos quais não são aceites como gasto fiscal as
depreciações praticadas relativamente às seguintes viaturas, adquiridas em períodos de tributação que se
iniciem em 1 de janeiro de 2015 ou após essa data:
◦ 50 000 euros relativamente a veículos híbridos plug-in;
◦ 62 500 euros relativamente a veículos exclusivamente elétricos
◦ A Informação Vinculativa processo n.º 9 577, por despacho de 2015-12-09, vem esclarecer o seguinte
enquadramento em termos de IVA no ponto 12:
«Assim sendo, tendo em conta o referido no ponto anterior e dado que o IVA é dedutível por força da norma
contida na alínea f) do n.º 2 do artigo 21.º do CIVA, os limites estabelecidos na Portaria n.º 467/2010, para
este efeito, são consideradas com exclusão do IVA.»

◦ Com a entrada em vigor da Lei n.º 2/2020, de 31 de março, referente ao Orçamento do Estado para 2020, foi
aditada uma alínea h) ao número 2 do artigo 21.º do CIVA, passando, assim, a ser dedutível o IVA suportado
nas seguintes despesas:
«h) Despesas respeitantes a eletricidade utilizada em viaturas elétricas ou híbridas plug-in.»
◦ O IVA suportado nas manutenções e outros encargos (exceto combustível e energia elétrica) relativa a uma
viatura de turismo, ainda que híbrida plug-in, não é dedutível, por enquadramento na alínea a) do n.º 1 do artigo
21.º do Código do IVA.
Art. 21.º do CIVA - operações cujas despesas não conferem o direito à dedução:

• Despesas respeitantes a combustíveis normalmente utilizáveis em viaturas automóveis, com excepção das aquisições de gasóleo, de gases de
petróleo liquefeitos (GPL), gás natural e biocombustíveis, cujo imposto é dedutível na proporção de 50%, a menos que se trate dos bens a seguir
indicados, caso em que o imposto relativo aos consumos de gasóleo, GPL, gás natural e biocombustíveis é totalmente dedutível:
o Veículos pesados de passageiros;
o Veículos licenciados para transportes públicos, exceptuando-se os rent-a-car;
o Máquinas consumidoras de gasóleo, GPL, gás natural ou biocombustíveis, bem como as máquinas que possuam matrícula atribuída pelas
autoridades competentes, desde que, em qualquer dos casos, não sejam veículos matriculados;
o Tractores com emprego exclusivo ou predominante na realização de operações culturais inerentes à actividade agrícola;

o Veículos de transporte de mercadorias com peso superior a 3500 kg;

◦ Em suma: no que respeita ao IVA contido em despesas realizadas com a aquisição de gasóleo, segundo decorre na norma acima
transcrita, é o mesmo dedutível na proporção de 50%, salvo se se destinarem ao consumo de veículos pesados de passageiros e de
veículos licenciados para transportes públicos, com exceção dos rent-a-car, caso em que o imposto é totalmente dedutível.
◦ Ao contrário do que acontece com o gasóleo, sempre que o combustível utilizado por uma viatura seja a gasolina, não é possível
deduzir o IVA suportado nessa despesa. Mesmo que em causa estejam viaturas utilizadas unicamente para fins profissionais.
Art. 21.º do CIVA - operações cujas despesas não conferem o direito à dedução:

• Despesas de transportes e viagens de negócios do sujeito passivo do imposto e do seu pessoal, incluindo as
portagens – art. 21.º/1c) e al. d) e e) do n.º 2;

• Despesas respeitantes a alojamento, alimentação, bebidas e tabacos e despesas de receção, incluindo as relativas
ao acolhimento de pessoas estranhas à empresa e as despesas relativas a imóveis ou parte de imóveis e
seu equipamento, destinados principalmente a tais receções, exceto as:
• relativas a fornecimento ao pessoal da empresa, pelo próprio sujeito passivo, de alojamento, refeições, alimentação e
bebidas, em cantinas, economatos, dormitórios e similares ou as que respeitem a necessidades diretas de
participantes em feiras, congressos, seminários e similares (neste último caso são dedutíveis em 50% ou em 25% se
resultarem de contratos celebrados com entidades organizadoras) – art. 21.º/1d) e 2b)/d)/e) do CIVA

• Despesas de divertimento e de luxo, sendo consideradas como tal as que, pela sua natureza ou
pelo seu montante, não constituam despesas normais de exploração - art. 21.º/1e)
Art. 21.º/1d) e 2b)/d)/e) do CIVA - Processo C-837/19, Super Bock
Bebidas SA vs Autoridade Tributária e Aduaneira
◦ Super Bock Bebidas SA qualifica-se como um sujeito passivo de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), enquadrado no regime
normal e com periodicidade mensal
◦ No âmbito da atividade desenvolvida, adquiriu um conjunto de serviços de carácter empresarial, conexos com essa atividade, que
consistiram em despesas respeitantes a alojamento, alimentação e transportes dos seus colaboradores nas áreas comerciais (contactos
com fornecedores e clientes).
◦ Entre 1 de Setembro de 2016 e 31 de Dezembro de 2017, o IVA suportado nas despesas de refeições e alojamento ascendeu a € 38
966,55, e nas despesas com aluguer de viaturas, portagens e combustíveis o valor do imposto totalizou € 309 237,30. Na
autoliquidação do valor do IVA relativo aos meses incluídos naquele horizonte temporal, Super Bock SA respeitou a disciplina do
artigo 21º do Código do IVA, que não permite a dedução integral do IVA correspondentemente suportado, mas apresentou depois
junto da Autoridade Tributária e Aduaneira reclamação graciosa, solicitando anulação parcial daquelas autoliquidações, invocando
para tal o direito à dedução integral do respetivo IVA, com base na indispensabilidade das despesas à atividade desenvolvida e na
existência de um nexo direto e imediato entre as mesmas e as suas operações tributadas.
◦ O que Super Bock SA questiona é a ilegalidade do artigo 21º em si próprio por incompatibilidade com o Direito da União Europeia,
e mais concretamente com a disciplina da Diretiva IVA. Qualificando-se as despesas como absolutamente indispensáveis à sua
atividade e intrinsecamente conexas com a prossecução do seu objeto social, com nexo direto e imediato com o conjunto
da atividade económica, o IVA suportado deve ser considerado dedutível, não sendo aplicável a exclusão do artigo 21º em
cujo fundamento estará a presunção de que tais despesas não têm total ou sequer parcialmente relação/nexo com a
atividade tributada da empresa.
Art. 21.º/1d) e 2b)/d)/e) do CIVA - Processo C-837/19, Super Bock
Bebidas SA vs Autoridade Tributária e Aduaneira

◦ Quando uma questão prejudicial seja idêntica a outra sobre a qual o Tribunal de Justiça já se tenha
pronunciado ou quando a resposta a essa questão não suscite nenhuma dúvida razoável ou possa ser
claramente deduzida da jurisprudência, o Tribunal de Justiça pode adotar uma tramitação mais acelerada
decidindo por meio de despacho fundamentado, depois de ouvir o advogado-geral.
◦ Assim aconteceu, com o seguinte Despacho dado em 17 de Setembro de 2020:
◦ O artigo 17.°, nº 6, da Sexta Diretiva 77/388/CEE do Conselho, de 17 de maio de 1977, relativa à
harmonização das legislações dos Estados-Membros respeitantes aos impostos sobre o volume de negócios
— Sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado: matéria coletável uniforme, bem como o artigo
168.°, alínea a), e o artigo 176.° da Diretiva 2006/112/ CE do Conselho, de 28 de novembro de 2006,
relativa ao sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado, devem ser interpretados no sentido
de que não se opõem à legislação de um Estado-Membro entrada em vigor na data da adesão
deste à União Europeia segundo a qual as exclusões do direito a dedução do imposto sobre o
valor acrescentado que incide sobre as despesas respeitantes, designadamente, a alojamento,
alimentação, bebidas, aluguer de viaturas, combustível e portagens se aplicam igualmente no caso
de ser demonstrado que essas despesas foram efetuadas para a aquisição de bens e de serviços
utilizados para os fins das operações tributadas.
Caso prático:
◦ Uma empresa que se dedica à atividade de «comércio por grosso» enquadrada no regime normal
periodicidade mensal do IVA deduziu o imposto suportado com artigos de luxo (móveis, quadros e
artigos decorativos). Podia fazê-lo?

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, processo n.º 03655/09, de 10 de julho de 2015:
No que respeita à dedutibilidade do IVA suportado com despesas de luxo, conclui o Tribunal que a aquisição de móveis, quadros e
artigos decorativos (jarrões da China antiga, busto em bronze, caixa antiga em gótico antigo), não possa ser considerada uma despesa
normal de exploração, quer pela própria natureza dos bens em causa, como pelo montante da despesa quanto comparado com o capital
próprio do sujeito passivo. – artigo 21.º, n.º 1, al. e)

Recorde-se que o legislador apenas permite deduzir ao imposto incidente sobre as operações tributáveis efetuadas o imposto
que tenha incidido sobre os bens ou serviços adquiridos, importados ou utilizados pelo sujeito passivo para a realização das
mesmas, sendo pressuposto necessário do direito à dedução que os bens e serviços estejam diretamente relacionados com o
exercício da sua atividade.
Caso prático:
◦ A Encosta dos Túneis possui um refeitório por si explorado diretamente, fornecendo refeições aos seus
empregados. A empresa renunciou à isenção prevista no art. 9.º, nº. 36 do CIVA, passando a aplicar imposto na
venda das refeições. O IVA suportado pela empresa na aquisição de serviços e produtos destinados ao
respetivo refeitório é dedutível?

◦ Art.s 9º, nº. 36 e 12º, n.º 1, al. a) do CIVA


◦ O IVA contido nas despesas de alimentação e bebidas não é dedutível, salvo em casos excecionais - Art. 21º n.º
1, al. d) do CIVA.
◦ Caso as despesas em causa disserem respeito ao fornecimento de refeições, alimentação e bebidas, pelo próprio
sujeito passivo ao seu pessoal, sendo esse serviço tributado, o referido imposto pode ser dedutível, segundo a
exceção à exceção prevista na al. b), do n.º 2, do art. 21.º do CIVA.
◦ Isto porque a dedução do IVA, suportado a montante, pressupõe, regra geral, a ligação da despesa efetuada
(pela qual se paga IVA), a uma atividade tributada (pela qual se liquida IVA) - Art.s 9º, nº. 36 e 12º, n.º 1, al. a)
do CIVA.
◦ A sociedade “Fashion Shoes” preparou um congresso internacional sobre sapatos ortopédicos. Convidou para esse evento
dois ortopedistas americanos, tendo gasto € 500,00 com o alojamento e a alimentação de ambos em Portugal, durante 3
dias. Esta sociedade pode deduzir o IVA destas despesas?

◦ Pode deduzir 25%, nos termos do art. 21.º, n.º 1, al. d) e n.º 2, al. e) CIVA. Aplica-se neste caso a al. e) e não a al. d)
daquele número, uma vez que o contrato foi celebrado diretamente com a entidade organizadora do evento e não com
entidades legalmente habilitadas para o efeito.
Reporte e direito ao reembolso a favor do sujeito passivo

◦ Art. 22.º/4 do CIVA - reporte de imposto a favor do sujeito passivo:


◦ sempre que a dedução de imposto a que haja lugar supere o montante devido pelas operações tributáveis, no período
correspondente, o excesso é deduzido nos períodos de imposto seguintes
◦ Art. 22.º/5 do CIVA - Se, passados 12 meses relativos ao período em que se iniciou o excesso, persistir crédito a favor do sujeito
passivo superior a (euro) 250€, este pode solicitar o seu reembolso
◦ Art. 22.º/6 do CIVA - O direito ao reembolso pode também ser exigido quando:
i) antes do fim do período de 12 meses, desde que o valor do reembolso seja igual ou superior a (euro) 25€, quando (art. 22.º/6 do
CIVA):
◦ o sujeito passivo cesse a actividade;
◦ o sujeito passivo passe a enquadrar-se exclusivamente no regime de operações isentas;
◦ o sujeito passivo passe para o regime especial de isenção – arts. 53.º e 54.º
◦ o sujeito passivo passe para o regime especial dos pequenos retalhistas – art. 61.º;
ii) em qualquer caso, quando o crédito a seu favor exceder (euro) 3000€.
◦ Art. 22.º/8 – momento de reembolso
◦ Art. 98.º/2 - O direito ao reembolso pode exercido até ao decurso do prazo de quatro anos após o pagamento em excesso do
MÉTODOS DE DEDUÇÃO RELATIVA A
BENS DE UTILIZAÇÃO MISTA
• Método de afetação real
• Método pro rata
Bens de utilização mista

Quando o sujeito passivo, no exercício da sua


atividade, efetuar operações que conferem
direito a dedução e operações que não
conferem esse direito

A dedução do imposto suportado na aquisição


de bens e serviços que sejam utilizados na
realização de ambos os tipos de operações é
determinada nos termos do n.º 1, do art. 23.º
◦ Bens de utilização mista
Dedução:

üTratando-se de um bem ou serviço parcialmente afeto à realização de operações não decorrentes


do exercício de uma atividade económica prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º (ex. renda de
um imóvel que é, simultaneamente, sede de uma IPSS e sede de uma empresa dessa IPSS – sujeito
passivo misto), o imposto não dedutível em resultado dessa afetação parcial é determinado com
base no método de afetação real;
üTratando-se de um bem ou serviço afeto à realização de operações decorrentes do exercício de
uma atividade económica prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º, parte das quais não confira
direito à dedução (ex. utilização esporádica de uma viatura comercial para fins alheios aos da
empresa), o imposto é dedutível na percentagem correspondente ao montante anual das operações
que deem lugar a dedução, ou seja, com base no método pro rata, sem prejuízo de o sujeito
passivo poder optar pela afetação real.
n.º 2, do art.º 23.º - a AT pode impor
Método de condições ou fazer cessar o
procedimento no caso de se verificar
Método pro
afetação real que provocam ou podem provocar rata
distorções significativas na tributação.

aplica-se aos casos em que as despesas


estão relacionadas com um bem que é optativo e aplica-se aos casos em que um
está apenas parcialmente afeto a bem ou serviço se encontra afeto à
operações não decorrentes do realização de operações decorrentes do
exercício de uma atividade económica exercício de uma atividade económica
para efeitos do CIVA prevista, mas parte das despesas com esse
bem não confira direito à dedução segundo
a percentagem da as regras do CIVA
dedução é calculada
pode também aplicar-se quando o bem provisoriamente com
esteja afeto à realização daquelas base no montante das
operações, mas uma parte das despesas o valor das despesas a deduzir resulta de
não confira, segundo o art. 21.º do operações realizadas uma fração que comporta, no numerador,
CIVA, o direito à dedução no ano anterior, pelo o montante anual, imposto excluído, das
operações que dão lugar a dedução nos
que há depois lugar à termos do n.º 1 do artigo 20.º e, no
regularização das denominador, o montante anual, imposto
o valor da dedução é calculado segundo a deduções efectuadas, excluído, de todas as operações
afetação real de todos ou parte dos bens e a qual deve constar efetuadas pelo sujeito passivo decorrentes
serviços utilizados, com base em critérios do exercício de uma atividade
da declaração do económica, bem como as subvenções
objetivos que permitam determinar o grau de
utilização desses bens e serviços em operações último período do não tributadas que não sejam subsídios ao
que conferem direito a dedução e em ano (art. 23.º/6 do equipamento (art. 23.º/4 CIVA).
operações que não conferem esse direito – art. CIVA).
23.º, n.º 2
◦ O ofício circulado nº 30103, de 2008.04.23, do Gabinete do Subdiretor-Geral da área de Gestão do IVA, procedeu à
divulgação de instruções genéricas no sentido de uniformizar a interpretação a dar às alterações introduzidas ao
artigo 23º do Código do IVA
◦ Para apurar o imposto dedutível contido em bens e/ou serviços de utilização mista, aplica-se supletivamente o método da
percentagem ou prorata, exceto quando estejam em causa operações não decorrentes de uma atividade económica, caso em
que é obrigatória a afetação real.
◦ Nos demais casos, a afetação real é facultativa podendo, no entanto, a Administração Tributária impor esse método de
imputação quando a aplicação do prorata conduza a distorções significativas na tributação (nº 3 artº 23º).
◦ No caso de utilização da afetação real, obrigatória ou facultativa, e segundo o n.º 2 do artigo 23.º, o sujeito passivo para
determinar o grau de afetação ou utilização dos bens e serviços à realização de operações que conferem direito a dedução ou
de operações que não conferem esse direito, deve recorrer a critérios objetivos devendo, em qualquer dos casos, a
determinação desses critérios objetivos ser adaptada à situação e organização concretas do sujeito passivo, à natureza das
suas operações no contexto da atividade global exercida e aos bens ou serviços adquiridos para as necessidades de todas as
operações, integradas ou não no conceito de atividade económica relevante.
◦ Os critérios adotados podem ser corrigidos ou alterados pela DGCI, com os devidos fundamentos de facto e de direito, ou,
se for caso disso, fazer cessar a utilização do método, se se verificar a ocorrência de distorções significativas na tributação.

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