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Onde a autora busca problematizar acerca de quê forma que o gênero “romance
histórico” pode se configurar, nos métodos teóricos do pós – colonialismo em especial
quando inseridos na literatura africana ? Vale salientar que a literatura africana se liga a
teoria pós – colonial, onde as colônias buscaram após a independência a questionar os
valores literários impostos pelas suas então metrópoles na expressão cultural e literária,
na África isso se configurou como uma forma de questionar os valores eurocêntricos,
revisitar as histórias Africanas, construir seus próprios caminhos de se expressar na
literatura. Entre outra alternativa de pensar a literatura, estava presente o “romance
histórico” considerado pela autora como um elemento “eurocêntrico, monológica e
nacional” Mas por que ela afirma isso, bom primeiro é que na vida do acadêmico de
letras, o ensinamento que ele aprende ao longo do curso é de quê o “romance histórico”
trata dos aspectos fundadores de uma nação, com seus símbolos nacionais, figuras que
formaram a sua sociedade e etc”, ou seja, essa é a visão única que recebemos dos estudos
literários e logo traduz um aspecto eurocêntrico que se enraizou nos estudos literários de
diversas nações, exemplo, quando estudamos o romantismo, qual o primeiro aspecto que
se estuda, em Portugal por exemplo é a questão dos aspectos históricos medievais que
moldaram Portugal; o Brasil, o romance histórico se figura no nascimento da nação entre
o europeu e o índio, expostos na obra Iracema, , a autora no caso, não diz isso porém ela
infere.
No entanto, com a sua obra ela busca trilhar outras alternativas teóricas inseridas
no romance histórico para a literatura africana.
Na obra Mayombe, isso fica evidente em determinados trechos como por exemplo na
página 20; quando o comissário falou sobre a relação de exploração e injustiça material
ao qual o colonizador impunha no trabalho dos derrubadores das árvores.
“Vocês ganham vinte escudos por dia, para abaterem as árvores a machado, marcharem,
marcharem, carregarem pesos. O motorista ganha cinquenta escudos por dia, por trabalhar
com a serra. Mas quantas árvores abate por dia a vossa equipa? Umas trinta. E quanto
ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse
dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o machado com que vocês trabalham nem
sequer é dele. É vosso, que o compram na cantina por setenta escudos. E a catana é dele?
Não, vocês compram-na por cinquenta escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com
que vocês trabalham pertencem ao patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são
descontados do vosso salário no fim do mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas,
são nossas, porque estão na terra angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não,
são vossos. O suor do trabalho é do patrão? (...)” p. pág. 20
Nesse trecho fica explícito a exploração que o colonizador direcionava aos africanos, vale
salientar que a colonização tinha essa essência nefasta, de explorar recursos nos casos
madeiras, para a metrópole usufruir, isso faz pensar como o discurso imperialista de que
o aspecto de dominação era pra desenvolver tecnologicamente e civilizar povos africanos
era uma mentira, um discurso construído historicamente é que se enraizou nos
conhecimentos. Nesse trecho podemos notar como o personagem buscava tachar
negativamente a imagem do colonizador ou melhor o aspecto explorador da metrópoles
portuguesa. Além de buscar com o discurso, fazerem os africanos terem a visão as
injustiça pela qual eles (os trabalhadore) sofriam.
Além de que sempre a literatura colonial havia de ter um posicionamento politico isto e
de ação, isso se traduz num outro trecho quando Teoria se pergunta o que motivava as
pessoas de Angola (os guerrilheiros lutarem?):
E era esse segredo de cada um que os fazia combater, frequentemente por razões
longínquas
das afirmadas. Porquê Sem Medo abandonara o curso de Economia, em 1964, para entrar
na guerrilha? Porquê o Comissário abandonara Caxito, o pai velho e pobre camponês
arruinado pelo roubo das terras de café, e viera? Talvez o Comissário tivesse uma razão
mais evidente que os outros, sim. Porquê o Chefe de Operações abandonara os Dembos?
Porquê Milagre abandonara a família? Porquê Muatiânvua, o desenraizado, o marinheiro,
abandonara os barcos para agora marchar a pé, numa vida de aventura tão diferente da
sua? E porquê ele, Teoria, abandonara a mulher e a posição que podia facilmente adquirir?
Consciência política, consciência das necessidades do povo! Palavras fáceis, palavrasque,
no fundo, nada diziam. Como age em cada um deles essa dita consciência?
Um outro aspecto teórico que ela coloca é em questão ao pós – modernismo “ que pode
ser bem mais compreendido como de que a consciência europeia não é mais o centro
inquestionável e dominante do mundo (...) dando a consciência sobre a relatividade
histórica de uma cultural é o seu produto de relato histórico ocidental “ pág. 24
Na leitura da obra podemos notar uma mudança de percepção que se tem de uma
obra por exemplo, nacionalista, sobre o nacionalismo, tradicionalmente no romance
histórico, a obra tem uma matriz de expressão onde se busca mostrar as grandezas de uma
nação, algum personagem místico (pessoa) que fundou o país sempre com aspectos de
idealização isto e, sem defeitos, ou erros, mais sim , com aspectos de bravura, heroísmo
e etc. No “Maiombe” não há muito isso, o que que se tem é o retrato de lutas históricas
inseridas num contexto até então colonial, onde soldados buscavam lutar contra a
opressão colonial, além de quê a ideia de nação , o seu heroísmo , a bravura, não era fruto
de apenas um ser , mais sim de todo o povo de Angola, que apesar de suas diferenças,
resistiam contra a opressão colonial, buscando fazer o povo se desligar da opressão
colonial, visto para os povos como algo “normal” , não há idealização de personagens,
todos detém de algum aspecto de fraquezas, ou de altos e baixos, seja na forma de guiar
a luta, ou de orientar os combatentes para se unirem com a única finalidade de abolir a
opressão em suas vidas.
O que a autora aponta, é de quê muitas vezes se tacha uma literatura de “menor”
ou “maior” isso está muito relacionado ao pensamento eurocêntrico de obras com
atribuições europeias serem bem mais requisitadas, sendo o padrão literário a ser seguido
por todas as obras do mundo, em detrimento de outras (muitas vezes produtos literários
de países que sofreram o processo de colonização), que são consideradas literaturas
menores. Isso até então e uma coisa que ocorre ainda nos estudos literários tendo como
centro o cânone, que aponta as obras de maior prestígio para serem lidas estudadas do
que outras; as Literaturas indígenas e as Africanas estão nesse rol de preconceitos, de
considera – las uma literatura “menor” principalmente por romper com os mecanismos
estéticos eurocêntricos. Onde no meio dessa consideração de literatura menor esconde o
preconceito a atividade literária de índios e negros. Uma obra como essa de Mayombe
representa uma resistência, de ver a escrita africana se mostrada no que tange a cultura,
a história da colonização; as lutas por uma sociedade mais de liberdade, de progresso e
contra a opressão.
Na página 30 a autora pontua que a “situação colonial pode ser compreendida
como dimensão cultural , social e política incontornável na inscrição discursiva ou
narrativa dos fatos que constituem o passado histórico, e colocando desse modo, em Foco
os “passados subalternos” e simultaneamente o que vem a ser definido como “biblioteca
colonial”.
Voltando numa parte não abordada, na página 22 l, a autora faz uma concordância
com Lyotard na qual “encara o relato como forma mais consagrada de conhecimento,
enxerga a condição pós- moderna como o fim das grandes narrativas, a religião, o
liberalismo, como relatos totalizantes, universais e produtores de conhecimentos, todavia
fundamentadas em práticas de exclusão, marginalização e opressão, e incapazes de
ilustrar a diversidade de sujeitos e espaços na contemporaneidade pós- moderna” p. 22.
Ou seja diversos conceitos são únicos, o que não deve mais ser permitido pois
todo discursos não deve seguir apenas um parâmetro de construção comunicativa, mais
sim uma diversidade que agreguem diversas vozes, cada núcleo social tem a sua visão de
mundo, suas percepções frente a realidade o que deve ser respeitadas. O Relato deve
também ser modificado ao se situar apenas numa única visão. Na obra estudada podemos
notar como o relato era presente na escrita, as vezes confundia um pouco o leitor por
conta de um personagem estar falando depois outro, depois outro aparece falando. Mas
fora isso, podíamos compreender como a oralidade era um aspecto primordial na obra, o
contato face a face , quando os personagens falavam da guerra, na falta de preparo dos
recrutas, na organização dos combatentes o que era mais presente era a oralidade que ora
poderia levar o leitor a estranhar a obra com as tradicionais (obras eurocêntricas)
envolvidas em parágrafos logos e poucos diálogos, na literatura africana em especial
nesse romance ocorria o inverso Isso era fruto de outras possibilidades discursivas
incluídas nos discursos literário africanos, em ver o relato como algo a ser preservado, e
assim vezes com maior veracidade do que algo escrito, pois pode haver a manipulação
ideológica que ora é mais corrente na escrita que na fala.
Isso se traduz no trecho final da obra quando apesar das diferenças étnicas que as
vezes fazia haver guerras tribais entre a própria guerrilha, o comandante sem medo morre
após salvar um soldado que ora era de outra etnia africana, isso traduz como apesar das
diferenças buscavam em si se recomeçar a uma função de lutarem por um bem comum
qie era de resistir a invasão colonial: O Chefe de Operações disse:
— Lutamos, que era cabinda, morreu para salvar um kimbundo. Sem Medo, que
era
kikongo, morreu para salvar um kimbundo. É uma grande lição para nós,
camaradas.
Milagre, o bazukeiro, suspirou e disse:
— Foi um grande Comandante! E Lutamos um bom combatente!
Afastou-se uns passos dos outros e lançou um obus de bazuka que foi estoirar no
tronco
duma amoreira, a cem metros deles. Os guerrilheiros imitaram e as AKAs e
Pépéchás cantaram, em última homenagem. As flores de mafumeira caíam sobre a campa,
docemente, misturadas às folhas verdes das árvores. Dentro de dias, o lugar seria
irreconhecível. O Mayombe recuperaria o que os homens ousaram tirar-lhe. (p. 171).