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17/07/22, 15:00 Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S.

Miguel (Açores)

53 | 2007
Criminalidade e Repressão
Dossier: Criminalidade e Repressão

Alcoolismo e Criminalidade no
século XIX. O caso da ilha de S.
Miguel (Açores)
Alcoolisme et criminalité au XIXe siècle. Le cas de l’île de S. Miguel (Açores)
Alcoholism and criminality in the 19th Century. The case of São Miguel island (The Azores)

Susana Serpa Silva


p. 93-111
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.2978

Resumos
Português Français English
Da percepção do alcoolismo como problema social – quer a nível dos comportamentos, quer no âmbito da saúde pública – à
criminalização da embriaguez, decorreu um longo processo, na Europa Ocidental, que se iniciou no fim do século XVIII e culminou
nos finais do século XIX. Tomando como base de estudo a ilha de S. Miguel, no arquipélago dos Açores, procuramos explicar como o
problema do alcoolismo foi encarado pela opinião pública e pelas autoridades, ao longo de oitocentos, e como o discurso jurídico e a
legislação penal evoluíram na interpretação deste fenómeno, intrinsecamente relacionado com a violência criminal.

En Europe occidentale, de la perception de l’alcoolisme comme problème social – aussi bien au niveau des comportements que de la
santé publique – à la criminalisation de l’ivresse, s’est déroulé un long processus qui débuta à la fin du XVIIIe siècle pour s’achever
vers la fin du XIXe. A partir du cas de l’île de S. Miguel, dans l’archipel des Açores, nous cherchons à expliquer comment le problème
de l’alcoolisme fut perçu par l’opinion publique et par les autorités et comment les discours juridiques et la législation pénale ont
évolué, dans leur interprétation de ces phénomènes étroitement liés à la violence criminelle.

From the perception of the alcoholism as social problem – either in terms of behaviours, or in the context of the public health – to
the criminalization of the drunkenness, a long process has gone, in Western Europe, which began in the end of the 18th. Century and
finished in the last days of the 19th Century. Taking as study base the island of São Miguel, in the archipelago of The Azores, the
Author tries to explain how the alcoholism problem was viewed by the public opinion and the authorities, along that century, and
how the legal speech and the criminal law evolved in the interpretation of this phenomenon, intrinsically connected with the
criminal violence.

Entradas no índice
Mots-clés : alcoolisme, criminalité, droit pénal, Açores
Keywords: alcoholism, criminality, criminal law, the Azores
Palavras-chave: alcoolismo, criminalidade, direito penal, Açores

Notas do autor
Este artigo teve como base a primeira parte do Cap. V da tese de doutoramento da autora,
intitulada Violência, Desvio e Exclusão na Sociedade Micaelense Oitocentista (1842-1910), Ponta Delgada, Universidade dos
Açores, 2006 [policopiado].

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17/07/22, 15:00 Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)

Texto integral
“Por detrás de um pequeno balcão sobre o qual se viam copos encardidos, medidas de vinho de barro vermelho, um
funil de lata ferrugento e um canjirão esbranquiçado, postava-se o taberneiro. (…). Logo que nos sentámos, pegou o
lojista no canjirão grande, encheu-o de vinho a espumar, tirado de um dos cascos próximos, (…)”.
Joseph e Henry Bullar, (1839)1

1. O abuso, a dependência do álcool e a criminalidade


Desde finais do século XVIII, as mudanças demográficas e sociais, associadas às alterações de comportamentos,
fizeram com que o uso excessivo de bebidas alcoólicas passasse a ser visto, por alguns sectores, como uma doença ou
desordem. Ao longo do século XIX, o agravamento do alcoolismo na Europa industrializada viria a transformar este
problema numa preocupante questão social. A relação entre o abuso do álcool com comportamentos violentos
tornavam-no num autêntico flagelo que, sem ser novo, ter-se-á avolumado com maior gravidade devido ao incremento
da indústria, em particular, a do fabrico desta substância. Ainda que tenha havido algum alarmismo exacerbado por
parte de certos espíritos burgueses mais moralistas, na realidade o hábito de ir à taberna, depois de um dia de trabalho,
foi-se cimentando entre o operariado urbano, enquanto novas bebidas alcoólicas iam chegando aos campos,
substituindo o consumo de vinho. O alcoolismo crónico agravou-se consideravelmente em determinadas regiões e, por
tudo isto, terá emergido uma maior consciencialização relativamente às consequências nocivas deste problema, de
onde resultaram tentativas de repressão e controlo, associadas a invectivas moralizadoras2.
Na Inglaterra vitoriana, o aumento da embriaguez e dos comportamentos impróprios que lhe estavam subjacentes
despertou o ataque das autoridades, tanto no próprio debate parlamentar, como no crescimento de movimentos
abstémios, que contribuíram para a promulgação de legislação anti-alcoólica com vista a combater um mal em
crescendo, que desregulava até os hábitos de trabalho. Contudo, a resolução da questão ultrapassava as imposições
legislativas e a acção policial, pois o problema tornara-se bem mais profundo e permanente do que poderiam supor, à
partida, os poderes repressivos da segunda metade de oitocentos3. Durante várias décadas o debate em torno do
alcoolismo abriu-se em toda a Europa, beneficiando dos contributos e dos avanços da ciência, em geral, e da medicina,
em particular.
Na segunda metade do século XIX, Portugal acompanhou a tendência europeia e o consumo de bebidas alcoólicas
aumentou, com destaque para o vinho corrente, acabando por se tornar o alcoolismo, também entre nós, num novo e
grave problema social. O aumento do número de tabernas, o crescimento da produção vinícola fomentada pela
exportação, enfim, os próprios costumes tornaram-se responsáveis pelo agravamento do fenómeno, correspondente à
crescente preocupação das autoridades. Entre os hábitos alimentares dos estratos sociais mais baixos o consumo do
vinho ocupava um lugar de destaque, dado que o seu valor energético era tido como « uma das fontes tradicionais de
calorias, necessárias à renovação da força de trabalho »4. Além do vinho, a ingestão de aguardentes, ainda mais
perniciosas, ia agudizando o problema que se alastrava entre as diferentes camadas etárias.
Na ilha de S. Miguel, inúmeros lares e famílias achavam-se ameaçados por causa do abuso do álcool e também do
jogo, pois as cenas de violência e as situações de privação e miséria provocadas por estes vícios sucediam-se
quotidianamente. As mulheres e os filhos eram as vítimas preferenciais, sendo espancados e mal-tratados pelos
maridos e pais embriagados, ao mesmo tempo, que se viam espoliados do seu sustento diário, porque o salário ganho
era deixado na venda mais próxima, a troco de copos de vinho e de bebidas espirituosas ou de apostas e partidas de
jogos de azar.
Um velho adágio francês afirmava o seguinte : « maison du buveur, maison de malheur »5. De facto, o alcoolismo
destruía os lares ao provocar comportamentos violentos e indecorosos devido à perda do senso moral, bem como à
deterioração do controlo cerebral sobre o corpo, suscitando verdadeiras aberrações como o próprio incesto. Muitos dos
casos de violência doméstica, ontem, como hoje, resultavam deste tipo de dependências geradoras de carências e de
conflitualidades6. Também rixas, desordens e ofensas corporais graves resultavam de inúmeros confrontos quando,
pelo menos um dos intervenientes, se não mais, se encontrava ébrio. A agressividade caracterizava muitos dos
comportamentos dos alcoólicos que não se limitavam a insultar verbal ou fisicamente as pessoas, — em especial os
regedores e os cabos de polícia, sempre que intervinham —, como ofendiam a moral pública ou originavam distúrbios,
chegando a atacar moradias, havendo queixas de danos causados nas portas e janelas7.
Descritas na época como verdadeiros « antros » causadores de violências eram as tabernas, as vendas e as casas de
prostituição, pois nestes lugares predominava o abuso do álcool, conjugado com a jogatina e outras perdas, que
acarretavam consequências perniciosas e de maior monta, muitas vezes em detrimento do bem-estar do agregado
familiar. Não obstante o decréscimo na produção vitivinícola micaelense, a introdução das castas americanas permitira
o aparecimento do vinho de cheiro, muito comum por todas as tabernas e vendas da ilha onde era consumido,
acompanhado das apimentadas linguiças que os taberneiros forneciam e que acentuavam ainda mais a sede. O convívio
e a sociabilidade popular masculina, no final de dia ou da noite, eram acompanhados da ingestão de bebidas que
constituíam um dos raros prazeres de quantos eram menos abonados8. Por consequência, as tabernas e as vendas iam-
se tornando, cada vez mais, sinónimo de confusão, de conflitos e gritarias, de desordens e navalhadas9. « Os grandes
templos do vinho eram as tabernas », normalmente situadas no coração da localidade e quase sempre relacionadas
com « grandes acontecimentos da terra : negócios, jogos, namoros, cenas de pancadaria e de facadas, etc. »10. Ao longo
de oitocentos, em que a vida familiar foi ganhando privacidade e se defende que o lugar da mulher é o espaço
doméstico, a taberna ou venda representava, para os homens, o local de encontro e de animação. O duro labor e as
agruras da vida eram partilhados ou esquecidos neste lugar de convívio e de encontro de gerações que, não obstante, o
eclodir de desordens e de agressões provocadas pelas libações excessivas e as consequentes críticas de que eram alvo
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por parte dos mais moralistas, lograram prevalecer em todas as aldeias, vilas e cidades. O grave problema residia, de
facto, no excesso do consumo e na perda do controlo pessoal que suscitavam provocações, animosidades, rixas e, por
último, agressões e crimes de sangue.
A partir dos anos 1880, tanto na cidade, como na vila da Ribeira Grande e Vila Franca do Campo, a imprensa lançou-
se num feroz combate à embriaguez, justificando esta acção pelo facto de, como afirmam, cada vez mais se registar
« uma propensão crescente para o abuso do vinho », e o número de ébrios « cambaleando, soltando impropérios
ofensivos da moral pública » aumentar e resistir contra a diminuta e mal organizada polícia. A venda de bebidas
alcoólicas, desde o vinho à aguardente e ao cognac, ia proliferando, sem controlo, entre adultos e menores, desde o
clube mais aristocrata à mais plebeia associação, pois todas estas instituições mantinham o seu botequim11.
Considera-se que o alcoolismo não só gerava inúmeros dependentes, cujas vidas se iam degradando, como provocava
numerosas vítimas de acidentes, de crimes ou suicídios. Cada vez mais, o ébrio representava um tipo social repulsivo e
desviante, amiúde associado à vadiagem e à ociosidade, a casos de desordem e de perturbação, devido a constantes
assomos de violência física e verbal. Alguns deles acabavam mesmo por perder a vida na sequência de rixas provocadas
pelos próprios ; outros sucumbiam a quedas, desastres e doenças súbitas e, por consequência, deixavam, por vezes,
viúva e numerosos filhos menores entregues a completo desamparo12.
No entanto, os estados de embriaguez não eram apanágio da masculinidade, pois algumas mulheres também se
entregavam à bebida. Considerava-se que muitas delas arrastavam para este hábito nefasto as próprias filhas ou
causavam deploráveis cenas de rua, onde se quedavam caídas, quase inanimadas e de criança ao colo, ou obrigavam à
intervenção dos filhos mais velhos, para as defenderem de insultos e chacotas do rapazio13. Tal como sucedia no mundo
ocidental, onde o alcoolismo ia assumindo cifras avassaladoras, a embriaguez feminina que, por exemplo, atingia
valores elevadíssimos em Inglaterra14, também se ia tornando preocupante entre determinados segmentos sociais
micaelenses.
Os avanços da medicina ocidental há muito que insistiam nos efeitos degenerativos que um progenitor ébrio
transmitia aos seus descendentes, salientando o carácter patológico do vício, perturbador do temperamento, gerador
de doenças graves e de envelhecimento precoce e causador de afecções mentais que poderiam conduzir à demência.
Afirmava-se a existência de uma relação entre o abuso do álcool e a loucura, o que se torna uma premente preocupação
para os clínicos e alienistas de oitocentos, defensores de que a passagem para o estado crónico acabava por causar o
« enfraquecimento da força vital », acelerando a morte do indivíduo15. O alcoolismo — encarado como uma doença
comum a europeus e americanos — era tido, portanto, como origem de degenerescência física, de entorpecimento
moral e de falência intelectual, reflectindo-se, em última instância, como um factor de desorganização social e de
agravamento da violência e da criminalidade16.
A multiplicidade de razões que despoletavam actos de violência física na sociedade micaelense oitocentista,
preferencialmente rural ou camponesa, levou-nos a tentar englobá-las em determinadas categorias17. Embora muitos
queixosos e muitos arguidos não referissem o motivo da desavença, havendo por outro lado casos totalmente
excepcionais18, foi-nos dado apurar que as questões em torno da propriedade, isto é, da posse da terra e de animais, ou
então de dívidas monetárias contraídas e reclamadas19, ocupavam um lugar de destaque, seguidas pelas brigas
domésticas ou entre famílias e vizinhos, velhas rixas ou pendências mal resolvidas, rivalidades por causa de mulheres
ou desavenças no local de trabalho, normalmente entre criados de servir ou artífices que se desentendiam quanto às
suas funções20. De facto, como em outras regiões do país, a violência das condutas não se restringia ao âmbito da
defesa pessoal, da propriedade ou da família. Ela « impregnava as relações sociais aos mais diversos níveis », sendo por
isso inerente também ao mundo do trabalho onde, muitas vezes, « o pior inimigo era oficial do mesmo ofício »21.
A todas estas causas, acrescia, como se afirmava na época, o mau génio e as paixões associadas ao abuso do álcool,
que constituíam motivos de monta para fazer transbordar a agressividade e passar às vias de facto, às vezes « com
espera e caso pensado » ou simplesmente « à traição ». Ocasiões festivas, propícias a libações sem parcimónia, como os
bailaricos ou os Impérios do Espírito Santo, suscitavam múltiplos excessos, como sucedeu com um António Raposo
que, tendo bebido em demasia, perseguiu e espancou um Manuel Sardinha que, regressava a sua casa, já de noite,
vindo de uma « charamba » (casa de baile), sem ter dado qualquer motivo ou provocação22. Isento de qualquer culpa
parece ter estado o soldado João do Rosário, quando, ao regressar da apanha de lapas, foi violentamente agredido, por
dois indivíduos a quem se recusou dar mais do que uma pequena porção daquele marisco. Segundo as testemunhas,
ambos os réus pelo « excesso de vinho que tinham, os forçava a serem impertinentes no seu pedido »23. Entre as causas
consideradas como indutoras da violência criminal, não se podia, portanto, minimizar os efeitos da embriaguez. Ainda
que o povo português, em geral, fosse de temperamento apaixonado e belicoso, de raça fogosa e agressiva — no qual os
micaelense também se inscreveriam —, os abusos alcoólicos faziam das ofensas corporais muito mais do que uma mera
fatalidade biológica24. Segundo alguns criminalistas de meados de novecentos, o ébrio tornava-se um tirano para a
família, propenso à criminalidade, com um perfil « trivial, obsceno, irascível e violento, mas habitualmente com
pessoas que dependem dele e mais fracas »25.
De acordo com Jean-Claude Chesnais e, no caso da França, era manifesto o paralelismo entre o alcoolismo e o
número de crimes de ferimentos e agressões, pois a oferta abundante de álcool, num país de forte tradição vitivinícola,
bem como o habitual consumo quotidiano exerciam uma enorme influência sobre os índices de criminalidade26.
Embora com proporções diferentes, o alcoolismo também era descrito como um flagelo entre a sociedade micaelense
oitocentista e não raro era os indiciados ou arguidos assumirem a sua embriaguez como causa principal da agressão
cometida, uma vez que o vinho ou, mais tarde, as bebidas espirituosas, constituíam excitantes que condicionavam as
atitudes e o humor do ébrio quando confrontado com situações hostis. O estado de embriaguez quase permanente em
que se encontravam muitos indivíduos das classes populares constituía um autêntico detonador de desordens. Uma
teimosia ou pequena provocação era o suficiente para despertar a ira, como sucedeu com Francisco Boguinha e José
Tavares Feiteira. O primeiro queria retirar do cais um bote, no qual o querelado estava deitado, completamente
alcoolizado. Acabaram por se travar de razões, ambos « a cair com a bebedeira », do que resultou ficar ferido o
querelante na região orbital esquerda e com algum perigo para a visão27.

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Embora até meados do século XIX, os criminalistas modernos não salientassem o alcoolismo como causa directa da
violência e do crime, preferindo destacar a perversidade, a falta de cultura, de educação ou ainda os vícios e as paixões,
na realidade, cada vez que um ébrio se apresentava em tribunal, nunca deixava de invocar como desculpa ou meio de
justificação o estado de embriaguez em que se achava no momento do crime28. No auto de perguntas inerente aos
processos são inúmeros os depoimentos de arguidos que alegam o estado de embriaguez, ora como factor responsável
pela ignorância dos factos, ora como causa do comportamento criminal29. Por vezes, as próprias testemunhas de
acusação, tendo presenciado o acto criminoso de esfaqueamento ou pauladas, reconheciam que o arguido agira com
violência por se achar « toldado de vinho »30. Este estado era então encarado não como um meio de escusa, mas como
uma circunstância atenuante, não sendo raro o júri dar o delito como não provado. Ora, esta visão não deixava de ser
algo paradoxal, na medida em que se por um lado as leis procuravam reprimir e condenar a ebriedade, por outro,
facultavam a sua propagação, uma vez que a tinham como uma atenuante do crime. De um modo geral, a tendência
que se verificava entre a legislação penal europeia era a de punir a embriaguez nos mesmos moldes em que se
penalizavam os vadios e os vagabundos. Afinal, o alcoolismo não se distanciava muito da vadiagem, pois ambas as
situações eram perniciosas para o equilíbrio e bem-estar social e ao mesmo tempo representavam uma ameaça à
segurança e ordem públicas31. O abuso do álcool aviltava e degradava o ser humano, levando-o à desonra e ao
embrutecimento e, por consequência, a excessos e misérias de que eram vítimas, em primeiro lugar, o viciado, em
segundo a família e, por fim, a sociedade em geral32.
A propensão geral é a condenação do alcoolismo como vício, sendo considerado relevante quando seguido de crime.
Contudo, ao longo dos tempos, enquanto em algumas nações o alcoolismo foi considerado factor atenuante, noutras
era tido como agravante. No Direito português prevaleceu a primeira vertente, embora alguns juristas, como Melo
Freire, tenham considerado o alcoolismo como um agravo em relação ao delito. Se o Código Penal de 1852 assumiu
uma posição de compromisso, considerando os ébrios inimputáveis apenas em casos de completa embriaguez e como
factor atenuante a embriaguez não completa, já o de 1886 criminalizou o próprio fenómeno em si, determinando como
contraventor todo aquele que fosse encontrado em manifesto estado de ebriedade, na via pública e, como tal, sujeito a
pena correccional33.
Nos finais da centúria, a doutrina favorável ao entendimento do alcoolismo como factor atenuante foi perdendo
terreno no Direito Penal, sobressaindo cada vez mais, a corrente que o considerava um motivo para agravamento da
condenação, fazendo restringir os pretextos em prol da impunidade. Finalmente, a embriaguez tornou-se, em si
mesma, um acto passível de punição correccional.
Na ilha de S. Miguel, a embriaguez tornou-se, na transição entre os séculos XIX e XX, um dos crimes predominantes
no espectro da pequena criminalidade. Enquanto os autos de querela diminuíram, os de polícia correccional
continuaram um percurso ascendente, indiciando a persistência de comportamentos de pequena violência. Como
podemos verificar no Quadro I, o volume deste tipo de processos era bastante elevado como testemunho de conflitos e
tensões que continuaram a marcar a sociedade local devido aos desequilíbrios económicos, sociais e demográficos de
finais da centúria. Ainda que nesta ilha determinados crimes possam ter diminuído, como os ferimentos graves, os
homicídios, as violações ou os roubos perpetrados com circunstâncias agravantes, outros crimes, porém, foram-se
impondo e, ainda que menos grave, a violência persistiu, contra pessoas e contra a propriedade.
De um modo geral, e de acordo com o Quadro I, no âmbito das autuações correccionais e dos registos policiais, os
delitos de embriaguez, as ofensas corporais e as faltas militares eram aqueles que predominavam no cômputo geral da
ilha, sem esquecer as eventuais omissões resultantes da intransponível cifra negra. No entanto, temos de ressalvar a
enorme diferença entre o número de autuações feitas em Ponta Delgada e as efectuadas nas restantes comarcas ou
julgados, sobressaindo, de entre elas, precisamente as que visavam o excessivo consumo de álcool. Dos 1369 delitos por
embriaguez de que as autoridades tiveram conhecimento, 93 % ocorreram na cidade e respectivo concelho, o que,
todavia, não terá resultado apenas de um aumento do alcoolismo nestas localidades. Sendo certo, como veremos, que
devido à abertura das fábricas de álcool na vila da Lagoa e em Santa Clara, o problema do alcoolismo ter-se-á agravado
em algumas zonas da ilha, contudo, este elevado número de detenções terá sido também uma consequência de
alterações à lei penal e de uma maior repressão contra este abuso.

Quadro I - Delitos de polícia correccional e actuações de polícia registados na ilha de S. Miguel, por comarca ou julgado,
nos finais do século XIX e inícios do século XX (1890-1911)

Tipologia de Comarca de P. Comarca da R. Julgado/ Comarca da Povoação e Julgado Julgado da


Totais
Crimes Delgada Grande do Nordeste Lagoa

Agressão 138 29 - - 167

Ameaças 7 14 12 17 50

Dano 22 8 21 6 57

Desobediência 156 5 15 6 182

Desordem 231 - - - 231

Embriaguez 1277 80 6 6 1369

Faltas Militares* 152 169 306 56 683

Ferimentos 8 20 5 13 46

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Furtos 254 43 17 20 334

Injúrias/Difamação 56 32 36 44 168

Ofensas
302 146 141 114 703
Corporais

Ofensas à Moral** 71 21 12 10 114

Vadiagem 32 - - - 32

Uso arma proibida 4 1 2 2 9

Outros 200 43 21 20 284

Sem indicação 167 28 10 64 269

* Incluem falta à revista ou inspecção militar, processos de reservistas e infracções do regulamento militar.
** Incluem ultrajes ao pudor ou actos desonestos.
Fonte : BPARPD – FTJPD, Livros Judiciais (não inventariados), Livros de Cartório dos Ofícios da Comarca de Ponta Delgada ; FTJRG, Livros
Judiciais (não inventariados), Livros de Cartório dos Ofícios da Comarca da Ribeira Grande e de Registo de Participações Judiciais ;
FTJP, Livros Judiciais (não inventariados), Livros de Cartório dos Ofícios da Comarca da Povoação e do Julgado do Nordeste ;
FTJL, Livros Judiciais (inventariados),Livros de Cartório dos Ofícios do Julgado Lagoa, c.p.

Por um lado, como já referimos, o Código Penal de 1886, que veio reformar o de 1852, impunha uma punição, como
contraventor, a todo aquele que, em lugar público, se apresentasse em manifesto estado de embriaguez34. Por outro
lado, desde 1900, a criação do corpo de polícia civil na cidade de Ponta Delgada, propiciou mais rusgas e detenções e
daí o maior controlo policial sobre os ébrios, em conformidade com a própria moldura penal e, também por estes
serem indivíduos susceptíveis de desencadearem desordens e actos de violência. A intercessão destes factores explica
porque de entre 4638 autos de polícia correccional, exarados num período de vinte anos, cerca de 30 % incidem sobre o
crime de embriaguez.
A criminalização da embriaguez justifica o elevado número de detenções policiais, em especial na comarca de Ponta
Delgada, não obstante o fenómeno do alcoolismo, – que se agravou com a difusão das bebidas espirituosas –,
representasse um problema social bastante mais antigo. Em muitos processos penais, como os autos de querela, o
estado de embriaguez dos indiciados ou réus enquadrava inúmeros delitos por alterar humores e comportamentos,
significando, pois, o consumo excessivo de álcool um factor impulsionador da violência.
No mundo ocidental, e na luta contra a violência e os comportamentos desviantes, o Direito foi-se aliando ao
combate contra o alcoolismo, o que levou até à organização de congressos internacionais, como o de Paris, em 1899.
Contudo, os motivos economicistas contrariaram sempre as teses abstencionistas, uma vez que as restrições ao
consumo representariam « um golpe cruel na mais importante indústria dos países agrícolas meridionais ». O controlo
do abuso passava então pela carga fiscal que, além dessa função, representava uma avultada receita para os cofres
estatais. Porém, em vez de limitar eficazmente o consumo, na prática o resultado assentava na falsificação das bebidas,
com sérios danos para a saúde pública. Se o povo não podia pagar caro, ingeria o produto barato, mas adulterado35.
Daqui decorre que além do aspecto nocivo que a ingestão excessiva de álcool comportava, a qualidade da bebida
passou também a constituir motivo de cogitação por parte das autoridades. Cada vez mais o alcoolismo assumia
contornos preocupantes que os responsáveis não podiam descurar.

2. A indústria do álcool em S. Miguel e o agravamento


do problema nos finais do século
Em Portugal, desde inícios da década de 1890, os governantes acompanhavam os projectos franceses, pois a França
era o país da Europa onde melhor se tratavam as questões relativas à indústria do álcool. Numa primeira fase, as
comissões formadas neste país em 1830, 1849 e 1880 debruçaram-se sobre a problemática fiscal com vista a atenuar as
dificuldades dos agricultores, devido às doenças vinículas que tanto afectaram a produção. Até aqui o alcoolismo não
era visto como apresentando proporções tão assustadoras que se sobrepusessem às questões económicas. Porém, a
partir de 1886, a nova comissão francesa nomeada para inquirir o consumo de álcool no país, já tinha como prioridade
o problema social causada pelo alcoolismo e, a partir daqui, o assunto passou a dominar as grandes preocupações dos
legisladores. O que sucedera em França, não se diferenciava muito da realidade portuguesa com : a invasão
do oidium e mais tarde da filoxera, a premência em suprir as necessidades de consumo interno e as de comércio com o
exterior, pressionaram o progresso científico que determinou uma verdadeira revolução com a substituição do vinho
pelo álcool. Ora, a substituição do álcool vinícola pelo industrial, não obstante os benefícios económicos, era entendida
como tendo resultado, pela sua nocividade cientificamente reconhecida, num verdadeiro drama social. Considerava-se
que este perigo se agravava de dia para dia, manifestando-se « pela perda anual dos salários, por factos de alienação
mental, de doenças nervosas, de mortes acidentais e de suicídios, pelo enfraquecimento da natalidade, pela
multiplicação dos casos de reforma perante os conselhos de revisão e pelo aumento da criminalidade »36. Eis, portanto,
as consequências daquele que poderia chamar-se o « verdadeiro alcoolismo » que se agravou, precisamente, depois dos
flagelos que dizimaram as vinhas em França, em Portugal e nas ilhas atlânticas37. Daí que, nos finais do século XIX, o
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combate ao alcoolismo — entenda-se, ao consumo de bebidas espirituosas — se tenha tornado muito mais insistente e
acutilante.
O álcool produzido a partir da fermentação era muito diferente do obtido pela destilação, pois se ambos gozavam de
propriedades tóxicas, o segundo era muito mais perigoso para a saúde pública e era precisamente aquele que se
aplicava nos licores, nas aguardentes e noutras bebidas desta natureza. Sob o ponto de vista da origem, a nocividade do
produto resultante da destilação de grãos, beterrabas e batatas era também a mais elevada de todas. Se a estas toxinas
intrínsecas eram associadas impurezas provenientes, por exemplo, da batata, então o que se obtinha era, como se
referia na época, um « autêntico veneno »38. Ora, tanto no continente, como nas ilhas de S. Miguel e Terceira, o álcool
industrial obtinha-se primordialmente da destilação da batata-doce e do milho e, por isso, se por um lado estas fábricas
detiveram um papel relevante na recuperação económica insular após o declínio da economia da laranja39, por outro,
terão sido muito prejudiciais pelo agravamento de um consumo excessivo e, sobretudo, das suas perniciosas
consequências tanto para a saúde pública, como para o bem-estar social. Aos benefícios económicos contrapunham-se
efeitos patológicos muito complexos para os indivíduos e para a sua descendência, repartidos entre o alcoolismo agudo
e o crónico considerava-se este último como o que fazia mais vítimas e que causava mais estragos na família e na
sociedade. Ao elenco de padecimentos e lesões há muito denunciados pela medicina, somavam-se muitos outros que se
iam detectando, sem esquecer o grave problema da hereditariedade.
Na ilha de S. Miguel, nos finais da centúria e inícios do novo século, a cruzada contra o alcoolismo, através de uma
« sã propaganda » afigurava-se o único meio de mitigar os progressos do consumo excessivo cada vez mais apontado
como um dos maiores factores da miséria social. O degrau da taberna era olhado como o primeiro da curta escada de
acesso ao hospital, ao banco dos tribunais ou ao asilo dos alienados. Nos dias santificados, nos domingos e épocas
festivas o aumento do consumo disparava e com este a probabilidade de subida dos índices de criminalidade e
violência40. Os periódicos micaelenses não se cansavam de clamar contra a embriaguez, olhando-a como a origem da
pobreza, da miséria e do crime, citando os exemplos de reprovação que remontavam a Montaigne, a Lentz e a muitos
outros intelectuais e médicos que denunciaram os males a ela associados41. Porém, embora se achasse « tão
generalizado este vício em todas as classes da sociedade »42, a mais ampla camada de alcoólicos, de assíduos
frequentadores de vendas ou tabernas nem tão pouco sabia ler e escrever, muito menos tinha acesso aos periódicos e
aos escritos dos propagandistas anti-alcoolismo. Desconheciam as recomendações da medicina e ignoravam os males a
que estavam sujeitos.
Talvez por isso, mediante esta evidência, tornava-se também urgente que, a par da implementação de medidas
moralizantes, se promulgassem medidas de cariz legislativo atinentes a coartar o avanço e a liberdade de produção e
consumo. Em Portugal existiam demasiadas tabernas, pois em pequenos vilarejos, com pouco mais de 50 fogos,
chegava-se a contar seis e sete tabernas e a ilha de S. Miguel não era excepção. Por isso, não obstante a susceptível
polémica e a força dos argumentos baseados nos direitos de liberdade individual e propriedade, havia quem defendesse
a abolição da indiscriminada abertura de tais estabelecimentos, bem como a imposição de pesadas taxas sobre os
destiladores e até a proibição do fabrico de álcool a partir dos cereais43. Este último alvitre, embora pertinente em prol
da causa, era adverso aos interesses económicos micaelenses, dado que as fábricas de destilação de álcool
representavam então uma das mais importantes indústrias locais que, de certo modo, estando no cerne das discórdias
entre os autonomistas e o poder central, simbolizavam também a afirmação do movimento autonómico insular.
Contudo, em 1899, durante a visita que efectuou à ilha, o médico Miguel Bombarda previra, num futuro próximo, o
florescimento das doenças de foro alcoólico, por causa da existência das fábricas de álcool. Apesar de representarem
uma fonte de riqueza, haviam permitido uma crescente produção de licores alcoólicos, em detrimento do vinho, o que
era prejudicial ao consumidor. Naquela época, segundo dados que Miguel Bombarda conseguiu coligir, o consumo
anual de álcool em S. Miguel, andava pelos 500.000 litros o que, em média, resultava num consumo médio individual
de 4,2 litros. Quando comparado com os países do norte da Europa, onde se bebia muita aguardente, o valor não era
muito elevado, mas dentro dos padrões nacionais afigurava-se excessivo, pois a média em Lisboa era de 2,91 litros por
pessoa44. Segundo dados apresentados na Câmara dos Deputados, em 1893, esse valor rondaria os 3,3 litros anuais
atendendo ao contrabando efectuado e à existência de alambiques ilegais dentro da cidade. Ainda assim, a média
atribuída aos habitantes de S. Miguel continuava a ser superior e, como tal, considerada como mais grave do que a de
países com os Estados Unidos da América, o Canadá, a Inglaterra ou a Itália45. Portanto, na transição da centúria, o
alcoolismo era já um problema social de monta, agudizado pela má qualidade do álcool consumido e a associação entre
o consumo de bebidas alcoólicas e as doenças mentais ia-se afirmando e era tida como uma realidade cada vez mais
perceptível à comunidade médica local46.
Curiosamente, aos olhos dos viajantes estrangeiros a população micaelense manifestava tendências pacíficas e
ordeiras. Havia muito pouca vida nocturna na ilha e tanto ricos, como pobres, deitavam-se cedo, o que explicaria a
relativa tranquilidade vivida, pois após as 9h da noite as ruas eram de uma imensa quietude. Aliás, notava Lyman
Weeks, a qualquer hora, fosse de dia ou de noite, as vias eram seguras e tranquilas, sendo, porém, de estranhar que
durante os dois Invernos que passou na ilha, nunca visse, como afirma, um autóctone embriagado, atribuindo as
desordens por embriaguês aos marinheiros estrangeiros47. Segundo Weeks, o vinho vulgar era uma bebida acidulada e
fraca, semelhante ao vin ordinaire francês, do qual era necessário beber meia dúzia de copos, sem pé e de razoável
tamanho, para que um indivíduo ficasse em completo estado de embriaguez. Para ele as desordens cometidas por
excesso de álcool ocorriam muito mais por intermédio de tripulantes estrangeiros dos navios ancorados no porto de
Ponta Delgada, do que por iniciativa dos locais48 que, contudo, também sucumbiam ao mesmo vício.
De facto, por ser uma cidade portuária, por onde passavam numerosas embarcações que perfaziam as rotas
atlânticas, Ponta Delgada era visitada por muitos tripulantes e marinheiros que, uma vez desembarcados, se
entregavam aos prazeres e actos mundanos. As desordens e os excessos por eles cometidos quando alcoolizados
tornaram-se mesmo num problema para as autoridades locais, atendendo aos abusos e distúrbios que praticavam, pois
não só desencadeavam rixas entre si, alterando o sossego público, como davam azo a desacatos com os taberneiros,
com alguns cidadãos e, sobretudo, com as meretrizes com quem formavam verdadeiras « súcias » de relaxados49. A
pacatez de algumas ruas da cidade era, pois, de vez em quando abalada, com a presença destes indivíduos, com especial

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destaque para os ingleses. Porém, de modo algum eram eles os únicos responsáveis por actos de violência associados à
embriaguez, pois o consumo excessivo de álcool há muito que se instalara na ilha. Entre as classes populares
micaelenses o abuso do álcool era uma realidade com consequências económicas e sociais muito graves.
A co-relação entre o álcool e a violência, por exemplo, pelo estigma do preconceito e pelo predomínio dos hábitos e
costumes, estavam muito associados à classe piscatória. Aliás, o antagonismo entre a classe jornaleira e os pescadores
sobressaía nas descrições feitas na época. Os camponeses de S. Miguel eram tidos por bons trabalhadores, honestos,
sóbrios e económicos, respeitadores « quanto possível » do direito de propriedade. Empregavam-se, de manhã à noite,
nalguma propriedade sua ou de renda ou que tivessem aforada, mas as regulares visitas à taberna contribuíam para
abalar essa imagem positiva. Já o pobre pescador, que nada tinha de seu, a não ser numerosa família, procurava nas
águas do mar, o alimento, muitas vezes escasso, para tão vasta prole. De Inverno era triste a sua sorte por causa das
intempéries que o impediam de ganhar um vintém. Sem roupa para se agasalhar, sem alimento para se robustecer, só
lhe restava o « mata o bicho » logo que o taberneiro se dispusesse a fiar. Caso contrário, e na expressão da época, o
homem do mar « pragueja por todas as ruas e becos da cidade, e lá vai pancadaria na mulher e nos filhos sem dó nem
compaixão. O pescador é um ente infeliz, a quem faltam quase todos os recursos e comodidades, mas logo que o mar
lhe proporcione o pão nosso de cada dia e a sua aguardente de manhã », « nem o imperador da China vive mais
satisfeito »50.
Por tudo isto, algumas autoridades tentaram reprimir estes comportamentos por via legislativa. A 17 de Dezembro de
1880, o então governador civil, Veríssimo d’Aguiar Cabral, promulgou, por meio de editais, um regulamento com vista
a impor regras ao funcionamento das tabernas, « a bem da ordem, segurança, e comodidade pública » e em
conformidade com o previsto no código administrativo. Dali por diante, qualquer taberna ou loja de bebidas tinha de
encerrar, nos meses de Outono e Inverno, às 21 horas e no período da Primavera / Verão, às 22 horas, permitindo-se a
abertura a partir das 3 horas da madrugada. Apenas mediante licença concedida pelos administradores dos concelhos,
podiam manter-se no estabelecimento por mais tempo, até às 23 horas ou meia-noite, conforme a época, sob a
condição de não praticarem quaisquer actos perturbadores do sossego público. Só podiam cantar e tocar instrumentos,
nas horas da licença, durante os três dias de Carnaval, na véspera e dia das festas do Senhor Santo Cristo e do Natal.
Qualquer infracção ficava sujeita ao pagamento de multa, cobrada correccionalmente, cessando o procedimento
correccional desde que o multado pagasse prontamente51.
Ainda que os estados de embriaguez se manifestassem nos mais variados lugares, as tabernas e vendas continuaram
a simbolizar, ao longo de todo o século, locais de sociabilidade masculina e de privilegiado consumo alcoólico e, por
isso, de agressão e violência52. Muitos desacatos entre dois ou três indivíduos começavam dentro de portas e mesmo
que terminassem na rua, acabavam por envolver o próprio taberneiro53. Esta profissão, que era exercida também por
mulheres, fossem casadas com os donos ou suas viúvas, não deixava de envolver alguns riscos, não só devido às
frequentes rixas, agressões e distúrbios provocados pelos clientes alcoolizados, de que resultavam prejuízos, mas
também por causa dos furtos e roubos a que estava sujeita. Além disso, alguns taberneiros ou vendeiros facultavam
ainda a prática do jogo, incorrendo em incumprimentos legais e, ao mesmo tempo, propiciando outros motivos de
desordens e zaragatas.
Entre clichés e realidades, a violência era, em oitocentos, para Frédéric Chauvaud o nome da diversidade : ela era
triste privilégio das pequenas populações, inscrevia-se na paisagem e no labor quotidiano, podia representar uma
transgressão às normas ou favorecer a inversão de papéis, confundindo-se com o mal geral e interior e acabando por
assemelhar-se ao crime e à imoralidade pública54.
Em suma, nos finais do século, a questão do alcoolismo tornou-se mais premente obrigando a uma maior atenção e
repressão por parte das autoridades, ainda que nem sempre as regras impostas fossem cumpridas. Se, por um lado, a
produção das fábricas do álcool contribuiu para um agravamento do fenómeno, por outro, o aumento das queixas dos
familiares e vizinhos, apoiados por uma maior vigilância das autoridades, fez avolumar o número de casos conhecidos e
autuados. Desde a década de 1880 que, no concelho da Povoação, o comandante do destacamento militar tinha ordens
para mandar prender todo o indivíduo que se apresentasse em público, em manifesto estado de embriaguez, assim
como em Vila Franca do Campo, onde os oficiais de diligências e as patrulhas estavam encarregados de igual
procedimento, ainda que se tratasse de uma mulher55. Em Ponta Delgada, com a criação do corpo de polícia civil em
1900, a perseguição e autuação dos alcoólicos acabou por atingir índices bastantes elevados que, por um lado,
traduziam o aumento excessivo e destabilizador da embriaguez e, por outro, a maior eficácia das medidas repressivas.
Não se tratava de mera retórica, ontem, como hoje, afirmar que o álcool é um elemento impulsionador da
criminalidade e da violência.

Notas
1 Joseph e Henry Bullar, Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale das Furnas, 2.ª edição, trad. de João H. Anglin, Ponta Delgada,
Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1986 (ed. original : 1839), pp. 348-349.
2 Lars Magnusson, « Proto-Industrialisation, culture et tavernes en Suède (1800-1850) », in Annales. Économies, Sociétés,
Civilisations, 45.e Année, n.º 1, Jan.-Fev., 1990, pp. 22-23.
3 Cf. Barbara Weinberger, « Urban and rural crime rates and their genesis in Late Nineteenth and Early Twentieth-Century
Britain », in Eric Johnson and Eric Monkkonen, (ed.), The Civilization of Crime. Violence in Town and Country since the Middle
Ages, University of Illinois Press, 1996, p. 206.
4 Irene Maria Vaquinhas, Violência, justiça e Sociedade Rural. Os campos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Penacova de 1858 a
1918, Porto, Edições Afrontamento, 1995, p. 409. Sobre a produção e o consumo de produtos alimentares, entre eles o vinho, veja-se
Miriam Halpern Pereira, « Níveis de consumo e níveis de vida em Portugal (1874-1922) », in Das Revoluções Liberais ao Estado
Novo, Lisboa, Editorial Presença, 1994 (ed. original do artigo : 1975), pp. 164-169.

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17/07/22, 15:00 Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)
5 Pierre Harichaux e Jean Humbert, O Alcoolismo, 2.ª edição, Coimbra, Livraria Almedina, 1978, p. 79.
6 Veja-se a alegoria de « A Garrafa », sucessão de imagens apresentadas por Catherine Hall, « Lar, doce lar », in Philippe Ariès e
Georges Duby (dir.), História da Vida Privada, Porto, Edições Afrontamento, 1990, vol. 4, pp. 74-75.
7 Inúmeras queixas de regedores de paróquia aos respectivos administradores dos concelhos e destes ao poder judicial visavam
desordens ou distúrbios provocados pelos excessos do alcoolismo. B.P.A.R.P.D. – F.A.C.P.D., Pasta 34, Correspondência Recebida,
1872, Ofício n.º 113, 12 de Agosto de 1872. C.C.R.G. – Arquivo Municipal, Série Administração do Concelho, Livro
33, Correspondência expedida para o poder judicial, n.º 2, 1882/1892, fls. 31-31v e 75v. B.P.A.R.P.D. – F.A.C.P., Livro 2, Registo de
Correspondência oficial expedida, 1899/1903, Ofício n.º 116, 24 de Julho de 1901, fls. 87-87v ; Livro 6, Registo de Correspondência
oficial expedida, 1909/1910, Ofício n.º 88, 7 de Abril de 1909 e outros, s/fls.
8 Sobre o papel social das tabernas no mundo rural continental, veja-se : Irene Maria Vaquinhas, Violência, Justiça… ob. cit.,
pp. 413-418.
9 « Para taberna que se prezasse, ausência de confusão significava falta de clientes ». Júlio César Machado, Lisboa na Rua, 1874, cit.
por Paulo Guinote e Rosa Bela Oliveira, « Prostituição, boémia e galanteria no quotidiano da cidade », in António Reis
(dir.), Portugal Contemporâneo, Lisboa, Publicações Alfa, 1990, vol. 2, p. 343.
10 Gabriel Frada, Namoro à Moda Antiga. O Amor na Gândaraa , Lisboa, Edições Colibri, 1992, p. 227.
11 O Cri-Cri, n.º 23, 26 de Julho de 1888.
12 De vez em quando alguns periódicos micaelenses noticiavam a morte, por embriaguez, de certos indivíduos, citando casos de
acidentes fatais, de zaragatas e pancadaria e até de mortes súbitas, mas indissociáveis do consumo excessivo de álcool.
13 13 Em 1890, por exemplo, deram azo a notícia jornalística uma mãe e filha que seguiam, rua fora, de tal forma embriagadas que
facultavam « o mais triste e repugnante espectáculo ». No mesmo ano, um rapaz « partiu a cara a uns insolentes » que injuriavam a
mãe dele, porque esta « a custo se sustinha, devido ao estado de embriaguez em que se achava ». Novo Diário dos Açores, n.º 2045,
17 de Junho de 1890 e n.º 2162, 3 de Novembro de 1890.
14 Segundo dados publicados num jornal micaelense, em 1892, só na cidade de Londres haviam sido presas mais de 8000 mulheres
por embriaguez e em Glasgow cerca de 10.500, muitas reincidentes por algumas dezenas de vezes. O aumento da clientela feminina
nos « bars », coisa rara vinte anos antes, era tida como uma das causas deste crescimento abusivo. O Correio Michaelense, n.º 219,
15 de Junho de 1893.
15 Diário dos Açores, n.º 31, 13 de Março de 1870. A Civilização, n.º 138, 28 de Setembro de 1878.
16 Veja-se, a propósito : Michel Foucault, Os Anormais. Curso no Collège de France, 1974-1975, S. Paulo, Martins Fontes Editora,
2002 ; Raul Max Lucas da Costa, « Medicalização e Criminalização do Uso do Álcool em Fortaleza (1916-1930) », in www.neip.info.
17 Nos inícios do século XX, Mendes Correia retratou a relação da sociedade portuguesa com a violência. O modo como ele a
descreve articula-se em perfeita sintonia com o que se passava em S. Miguel, ao longo de oitocentos, pelo que não resistimos a
transcrever : « Uma disputa mais violenta, uma inimizade, um ressentimento pessoal, uma questão de pundonor, um ímpeto de
ciúme, o mais simples debate político, degeneram com frequência em agressões. A embriaguez é muitas vezes um dos principais
factores destes delitos. Nos arraiais, nas romarias, nas grandes feiras, as desordens são números quase infalíveis do programa ». Cit.
por João Fatela, O Sangue e a Rua : elementos para uma antropologia da violência em Portugal, 1926-1946 , Lisboa, Publicações
Dom Quixote, 1989, p. 47.
18 Houve, por exemplo, casos de ferimentos associados a uma tentativa de fuga da cadeia, como resultado de um furto ou ainda de
querelas em torno de artigos publicado na imprensa.
19 Por exemplo : B.P.A.R.P.D. – F.T.J.R.G., Processos Penais, Maço 37, Proc. N.º 2401, Autos de Querela, 12 de Março de 1862.
20 Por exemplo, em 1853, João Fagundes, criado de servir do Morgado Canto e Albuquerque, estando em casa de seu amo, recusou-
se perante outro criado a ir buscar um barril de água para deitá-la aos porcos e como o outro estivesse ocupado, avançou para ele de
navalha aberta e fez-lhe vários ferimentos. B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 14, Proc. N.º 1721, Autos de Querela,
17 de Setembro de 1853.
21 Aurízia Anica, A Transformação da Violência no Século XIX. O caso da Comarca de Tavira, Lisboa, Edições Colibri, 2001,
p. 132.
22 B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 16, proc. N.º 1910, Autos de Querela, 23 de Fevereiro de 1855.
23 B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 5, Proc. N.º 667, Autos de Querela, 20 de Julho de 1842.
24 Mendes Correia, Os Criminosos Portuguêses. Estudos de Anthropologia Criminal, 1914, cit. por Irene Maria
Vaquinhas, Violência, Justiça …ob. cit., p. 400.
25 Enrico Altavilla, O Delinquente e a Lei Penal, Coimbra, Coimbra Editora, Lda, 1964, vol. II, p. 69.
26 Jean-Claude Chesnais, Histoire de la Violence en Occident de 1800 à nos jours, Paris, Éditions Robert Laffont, 1981, p. 134.
27 B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 43, Proc. nº 5066, Autos de Querela de 10 de Junho de 1873 ; Maço 8, Proc. nº
1031, Autos de Querela, 25 de Março de 1845.
28 M. de Neyremand, “Da necessidade de reprimir a embriaguez”, Gazeta da Relação, nº 825, 14 de Junho de 1873.
29 Victorino Cabral, de 26 anos, morador em Ponta Delgada, alegou por acusação de roubo, que no dia indicado « se encontrava em
tal estado de embriaguez » que não se lembrava « de coisa alguma que naquele dia fizera ». B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos
Penais, Maço 15, Proc. n.º 1815, Autos de Querela, 28 de Julho de 1854. Francisco Cabral, arrieiro, da Arquinha, respondeu a uma
acusação por crime de ferimentos dizendo que, estando na venda de António dos Santos junto com o queixoso e « ambos tocados de
vinho », começaram a altercar na ocasião em que ele réu estava a picar um cigarro com a navalha. Quando o queixoso se atirou a ele
réu, caíram os dois ao chão ficando então ferido o dito queixoso. B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 24, Proc. n.º
2882, Autos de Querela, 14 de Agosto de 1862. Idênticos argumentos experimiram António Garcia, caiador e João da Costa Rosado,

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17/07/22, 15:00 Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)
ambos réus em querelas de ferimentos e em cujas audiências o júri deu os crimes por não provados. B.P.A.R.P.D. –
F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 26, Proc. n.º 3232, Autos de Querela, 8 de Outubro de 1864 e Proc. nº 3238, Autos de Querela, 4
de Março de 1864.
30 B.P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 16, Proc. n.º 1901, Autos de Querela, 27 de Setembro de 1855.
31 M. de Neyremand, « Da necessidade de reprimir a embriaguez », Gazeta da Relação, n.º 826, 17 de Junho de 1873.
32 A Civilização, n.º 147, 1 de Dezembro de 1878.
33 Cf. Codigo Penal approvado por Decreto de 10 de Dezembro de 1852, Lisboa, Imprensa Nacional, 1855 ; Codigo Penal
sancionado por Decreto de 16 de Setembro de 1886, conforme a Edição Oficial seguido da Reforma Penal e de Prisões que faz
parte da lei de 1 de Julho de 1867 e de um repertorio alfabetico, 6.ª edição, Lisboa, Typ. Universal, 1915. J.E. Reino Pires, « Álcool e
Criminalidade », in Criminalidade e Cultura .I. Actas do Colóquio Internacional organizado pela Associação Mundial de
Psiquiatria e Psicologia Forense e pelo Centro de Estudos Judiciários, Lisboa, Gabinete de Estudos Jurídico-Sociais / Cadernos do
CEJ, 1990, n.º 2, pp. 79-82
34 Cf. J. E. Reino Pires, « Álcool e Criminalidade », in ob. cit., p. 82.
35 « O alcoolismo e o Congresso de Paris », Gazeta da Relação, n.º 4837, 9 de Maio de 1899.
36 Arquivo Parlamentar – Debates, Diário das Sessões da Câmara dos Senhores Deputados, Apêndice à Sessão n.º 71 de 11 de
Julho de 1893, p. 53.
37 A cultura da vinha assumiu algum relevo na economia de S. Miguel e de outras ilhas dos Açores, atingindo o seu apogeu no século
XVIII e inícios do XIX. Porém, na década de 50, o oidium atacou os vinhedos provenientes de castas europeias, provocando a
redução da produção vitivinícola e obrigando à introdução da vinha americana, responsável pela produção do denominado vinho de
cheiro, considerado de qualidade inferior. Cf. Susana Serpa Silva, Violência, Desvio e Exclusão… ob. cit., p. 81.
38 Arquivo Parlamentar – Debates, ob. cit., p. 54.
39 Desde finais da década de 1880 e inícios dos anos 1890, as fábricas de álcool assumiram grande preponderância nas ilhas de S.
Miguel e Terceira, chegando a produzir, no quinquénio de 1888 a 1892, 6.129.226 litros. Por cada 100 kg de milho obtinham-se 33,5
litros de álcool, enquanto que pelo mesmo peso de batata-doce se lograva obter 11,5 litros. Cf. Susana Serpa Silva, Violência, Desvio
e … ob. cit., pp. 96-97.
40 O alcoolismo », A Ilha, n.º 10, 23 de Janeiro de 1899.
41 « A embriaguez », O Commercio Michaelense, n.º 954, 15 de Maio de 1900.
42 « A embriaguez », A Estrella Oriental, n.º 29, 21 de Julho de 1900.
43 « Alcoolismo », A Estrella Oriental, n.º 40, 25 de Outubro de 1902.
44 Miguel Bombarda, Açores Medico, Lisboa, Typographia de Adolpho de Mendonça, 1899, pp. 21-22.
45 Arquivo Parlamentar – Debates, ob. cit., p. 57.
46 Miguel Bombarda refere o estudo do médico Mont’Alverne de Sequeira e o facto de este apontar o concelho da Povoação como o
de maior consumo de álcool da ilha, sendo também aquele que oferecia o mais elevado coeficiente de alienação mental. Idem, p. 22.
47 Lyman Weeks, « Os Açores », in Insulana, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1958, vol. XIV, 2.º semestre, (ed.
original : 1882), p. 256.
48 Idem, pp. 255-256.
49 A Ventosa, n.º 52, 29 de Outubro de 1881.
50 Almanach popular dos Açores…ob. cit., pp. 32-33 e 36-37.
51 B.P.A.R.P.D. – F.G.C.P.D., Livro 350, Livro para o registo de Alvarás de diferentes determinações passadas por este Governo
Civil, 1870/1883, fls. 42v-43.
52 Sobre o papel das tabernas de Ponta Delgada na sociabilidade masculina e no despoletar de conflituosidades latentes e
consequentes actos de violência, veja-se : Susana Serpa Silva, Criminalidade e Justiça na Comarca de Ponta Delgada. Uma
abordagem com base nos processos penais, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2003, pp. 277-279.
53 P.A.R.P.D. – F.T.J.P.D., Processos Penais, Maço 6, Proc. nº. 687, Auto de Querela, 3 de Janeiro de 1842. B.P.A.R.P.D. –
F.R.J.R.G., Processos Penais, Maço 26, Proc. n.º 1764, Autos de Querela, 24 de Janeiro de 1854.
54 Frédéric Chauvaud, De Pierre Riviere a Landru. La violence apprivoisée au XIXe siècle, s/l., Brepols, 1991, p. 37.
55 B.P.A.R.P.D. – F.A.C.P., Livro 31, Registo de Correspondência oficial expedida, 1884/1888, Ofício n.º 99, 11 de Junho de 1886,
s/ fl. B.P.A.M.V.F.C. – Série Administração do Concelho, Livro 424, Registo dos Ofícios dirigidos a diferentes Autoridades,
1883/1885, Diversos Ofícios, fls. 57v, 61v, 73v-74, 82.

Para citar este artigo


Referência do documento impresso
Susana Serpa Silva, «Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)», Ler História, 53 | 2007, 93-
111.

Referência eletrónica

https://journals.openedition.org/lerhistoria/2978 9/10
17/07/22, 15:00 Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)
Susana Serpa Silva, «Alcoolismo e Criminalidade no século XIX. O caso da ilha de S. Miguel (Açores)», Ler História [Online],
53 | 2007, posto online no dia 22 março 2017, consultado no dia 17 julho 2022. URL:
http://journals.openedition.org/lerhistoria/2978; DOI: https://doi.org/10.4000/lerhistoria.2978

Este artigo é citado por


Antunes‐Ferreira, Nathalie. Prates, Carlos. Curate, Francisco. (2021) Interpreting injury recidivism in a rural
post‐medieval male individual from Bucelas, Portugal. International Journal of Osteoarchaeology, 31.
DOI: 10.1002/oa.2943

Autor
Susana Serpa Silva

https://journals.openedition.org/lerhistoria/2978 10/10

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