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RESUMO
INTRODUÇÃO
Os benefícios da utilização das folhas de Flandres (FF) para acondicionar
produtos foram percebidos no século XIX, buscando atender as necessidades militares para
transportar alimentos de forma preservada em recipientes metálicos, confeccionados em
ferro estanhado (SOUZA, 2010). As FFs são definidas de acordo com as características de
uma folha de aço, com faixa de 0,14 a 0,45 mm de espessura e com características
bastantes dúcteis, podendo ser dobradas ou estampadas e cujo revestimento de estanho
é muito aderente e acompanha a deformação da chapa, sem romper (SOUZA, 2010).
A folha de Flandres é formada por distintas camadas, conforme ilustrado na
Figura 1. Sobre o aço-base, encontra-se uma camada de liga ferro/estanho; sobre essa o
revestimento de estanho livre, recoberto por uma camada fina de passivação, que é
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formada por compostos de cromo. Normalmente, as folhas de Flandres recebem uma
camada de óleo, a qual torna-se útil para manuseio e proteção contra corrosão atmosférica.
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Figura 2- Utilização de FF para no processo de fabricação de latas 3 peças
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circularidade uniforme no corpo a ser eletrossoldado; desvios na curvatura das blanks,
segundo Soudronic (2006), acarretam falhas na eletrossoldadora e equipamentos de
conformação posteriores existentes no processo de fabricação de latas.
As bordas dos corpos da lata devem ser paralelas ao longo de todo o seu
comprimento, e a seção transversal dos corpos da lata deve ser o mais circular possível. O
ideal, segundo Soudronic (2006), é configurar conforme a espessura e qualidade das folhas
que devem ser determinadas por tentativa e erro; é recomendado que a abertura seja de
aproximadamente 2mm, conforme A na Figura 4, e, dependendo da qualidade da folha,
deve estar entre B; em caso de C ou aumento de B, deve haver intervenção para garantir
a circularidade do corpo da lata.
A soldagem de costura com roldana, segundo Soudronic (2006), representa,
conforme a Figura 5, uma soldagem por pontos em linha em que os eletrodos, para
soldagem por resistência, foram substituídos por polias condutoras, em que essa deve
assumir, além da fonte de energia (I) e transmissão (T), também a força de compressão
(F), o transporte do material e transpasse (R) a ser eletrossoldado.
De acordo com a Lei de Joule, a quantidade de calor "Q" é equivalente ao
trabalho elétrico "W", conforme a equação 1.
𝑊 = 𝑖 2 . 𝑟. 𝑡 (1)
𝑖 2 = Corrente elétrica
𝑟 = 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 (𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 𝑐𝑎𝑙𝑎𝑛𝑑𝑟𝑎𝑑𝑜
𝑡 = 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 (𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜)
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Figura 5 – Soldagem contínua por resistência nos canudos
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escoamento do material, e quanto menor, maior será o escoamento e o grau de
conformabilidade.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para realização deste projeto, utilizou-se a metodologia DMAIC, por Werkema
(2004), em que se iniciou com a estratificação de dados através do software SAM, no qual
são apontadas as falhas. Foram mensuradas graficamente no Minitab no período de abril
de 2014 até março de 2015, conforme Gráfico 1, com média de 1289 paradas não
planejadas.
Fonte: O Autor
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equipamento, em que se identificaram duas perdas consideráveis da empresa, que são
perdas de material e pequenas paradas operacionais. Devido ao grande impacto na rotina
fabril e tempo bom de produção AI (Assesst intensity), será necessário reduzir a média de
paradas em 85%, padronizar e manter os resultados. Portanto, fazem-se necessários
estudos do tal comportamento da matéria-prima com a máquina eletrossoldadora para
otimização do consumo de folha de Flandres durante o processo produtivo de embalagens
metálicas, considerando as especificações técnicas, conforme norma NBR6665/2014.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo como base o número de paradas, gerou-se então um gráfico de Pareto
conforme o Gráfico 2, para entender e priorizar os eventos, utilizando os apontamentos
discriminados por sistemas da máquina, tipo de paradas não planejadas e comentários.
Fonte: O Autor
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Gráfico3 - Problemas prioritários
Fonte: O Autor
CONHECIMENTO TÉC.
Fonte: O Autor
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Após definição das causas reais (X’vital), iniciou-se o estudo do processo para
aplicar ações matadoras, assim, percebeu-se que os eventos vitais ocorriam aleatoriamente
a cada duas horas, em que se finalizava um fardo de FF. Esses fardos contêm 1400 folhas,
o que representa 56000 latas. Então foi necessário entender o que havia de diferente, com
ajustes da eletrossoldadora e de um fardo para o outro; se fez necessária uma visita à
siderúrgica fornecedora para entender o processo de fabricação de FF, discutir e aprender
com os engenheiros de desenvolvimento de chapas metálicas. Durante a visita, foi possível
acompanhar ensaios mecânicos destrutivos e todo fluxo do processo in loco; durante o
aprendizado, alertara-se sobre os limites de escoamento e anisotropia. Na sequência,
juntamente com os engenheiros da siderúrgica, estudaram-se no laboratório de ensaios
mecânicos diferentes lotes por meio de ensaio de tração e observadas pequenas variações
entre eles; foi possível também acompanhar a análise de ferrografia pelo microscópio
eletrônico de varredura MEV.
De acordo com Sorour Junior (2002), a tensão de escoamento tem uma
desvantagem, devido à sua sensibilidade, a velocidade de deformação, em que há o
aumento dessa tensão quando há aumento da velocidade de deformação. Logo,
correlacionando com as variações que ocorrem dentro de um mesmo lote de FF, descrita
por Souza (2010), fez-se necessário o direcionamento do estudo para limites de
escoamento da folha em função do processo de fabricação, o qual trataria as duas ações
prioritárias, que, de acordo com Souza (2010), são a influência da microestrutura e tamanho
de grão ferrítico – quanto maior for o grão, menor será o escoamento do material, e quanto
menor o grão, maior será o escoamento e o grau de conformabilidade –, em que se
relacionam diretamente a composição química do material e processo de fabricação desse
em conformidade com a NBR6665/2014.
Após entendimento do processo de fabricação na siderúrgica, a consideração
para o estudo direcionou ações consistentes para as causas reais (X’vital), assim, gerou-
se um plano de ações para eliminar as causas dos fenômenos, priorizadas por meio de
análise de uma Matriz de priorização, “Impacto vs Esforço”, com a equipe técnica de
embalagens a qual contemplou ações para fixação dos pontos de ajuste no equipamento,
restauração de condições básicas e métodos de consumo da FF.
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Figura 7- Matriz de impacto vs Esforço
Fonte: O Autor
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Fonte: O Autor
Poderão existir variações de dureza dentro do mesmo lote em uma faixa de 73±3
HRC, conforme NBR6665/2014, o limite de escoamento tende a ser o mais próximo do
valor referência por se tratar de uma mesma composição química, processo contínuo de
laminação, recozimento e encruamento.
Partindo do ponto sobre a desvantagem da tensão de escoamento devido à sua
sensibilidade à velocidade de deformação citada por Srour Junior (2002), foi tomada como
base de direcionamento para a principal causa raiz deste projeto, a fim de contemplar a
ação de organização dos fardos de FF por lotes, devido à velocidade do equipamento
350CPM2, ou seja, cerca de 6 corpos produzidos por segundo na eletrossoldadora. O
consumo por lotes é de fundamental relevância para alcance do objetivo no qual se fez
necessária a padronização logística e consumo in loco (FIG. 9).
Fonte: O Autor
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a) ao abastecer o caminhão pelo fornecedor, o operador de empilhadeira deverá
garantir o carregamento de lotes por completo no caminhão (OCAP);
b) a empresa do ramo alimentício de Montes Claros deve descarregar a FF por
"LOTES", colocando-as nas ruas do armazém do setor sem misturá-las.
Para identificação desses lotes in loco, utilizou-se área exclusiva para consumo,
onde ocorrerá o abastecimento da rua 1 para rua 3, conforme a esquerda da Figura 9; o
consumo deve ser iniciado pela rua 1 por completo até a rua 3 por lotes, a utilização de
forma cíclica irá garantir o FEFO (First-Expire, First-Out).
Durante implementações das ações prioritárias do diagrama de esforço vs
impacto, notou-se a evolução no ano de 2016 com a implementação do consumo por lotes,
mudando o patamar médio de 1250 paradas para 550 paradas; em 2017 com as demais
implementações (consolidadas em agosto de 2016) com padronização de armazenamento
e faixas de ajuste no equipamento, tabela sinóptica de falhas e causas para fácil detecção
do possível desvio, treinamento de todas as partes interessadas. A empresa utiliza a
metodologia da TPM (manutenção produtiva total), em que, segundo Kardec e Nacif (2001),
método assume um papel importantíssimo na indústria, sendo utilizada como um poderoso
instrumento para a redução dos custos e aumento da produtividade por meios de padrões
e conhecimentos do processo e técnicos.
Em 2017 houve redução de 550 para 62 paradas, conforme o Gráfico 4, com a
sistematização dos métodos propostos e a realização de capacitação pessoal, envolvendo
habilidades desejadas para operadores do setor de fabricação de latas; após capacitação
percebeu-se uma redução de 95% das paradas não planejadas e contribuição positiva de
81% no tempo bom de produção.
Fonte: O Autor
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Com os ganhos obtidos em número de paradas e tempo das paradas, foi
possível obter ganho financeiro de 85 salários mínimos/anual e, consequentemente, os
ganhos em relação à redução de perdas material de embalagem representaram 12 salários
mínimos/anual. Apesar dos resultados esperados quanto à viabilidade econômica, um
grande ganho considerado para a empresa, por se tratar de uma multinacional certificada
em diversas Normas Regulamentadoras. Foi possível reduzir:
a) Geração de resíduos/embalagem, energia, ar comprimido, água e produtos
químicos os quais eram desperdiçados por improdutividade; em alguns casos
gerando pequenos impactos ambientais, o que é considerado inadmissível para
a empresa quanto a sua política de valor compartilhado e ISO 14001;
b) 358 contatos HOMEM/MÁQUINA (contato durante intervenção durante paradas
não planejadas, o ato de desenroscamento de corpos metálicos no equipamento
oferece alto risco de cortes e colisão), que também é algo indiscutível para
empresa a questão de saúde e segurança ocupacional, prevista também pela
OSHAS 18001;
c) Possíveis defeitos de qualidade em relação à eletrossoldagem e má formação
de corpos que atende a ISO 9001;
CONCLUSÃO
Analisando o comportamento do material de embalagem em suas propriedades
intrínsecas, foi possível alcançar o objetivo deste estudo com padronizações de consumo,
identificando pequenas variações de dureza e limites de escoamento, para tal, fez-se
necessário uso de laboratório de ensaios mecânicos durante a visita à siderúrgica, o que
tornou em uma das maiores dificuldades por falta de literatura sobre folha de Flandres.
É indispensável a utilização de forma organizada por lotes, pois a
conformabilidade do metal depende diretamente da velocidade ao qual esse é conformado;
sendo assim a sensibilidade de ajuste em eletrossoldadoras em diferentes velocidades
depende exclusivamente das propriedades intrínsecas da FF para obtenção de melhor
desempenho e redução de custos oriundos de falhas. Além de melhorias, fixação de pontos
e padrões de processo, a participação dos colaboradores também é de fundamental
importância, pois a disciplina se dissolve em conhecimento, habilidade e atitude, o que a
torna medular para a garantia do processo.
Vale ressaltar que, devido a possíveis variações durante o processo fabricação
das folhas de Flandres, dentro das normas estabelecidas, há oportunidade para novos
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estudos, visando o processo de fabricação de chapas metálicas nas etapas de recozimento
em caixa, recozimento contínuo e encruamento para folhas de simples e dupla redução.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6665: Folhas laminadas de
aço carbono revestidas eletroliticamente com estanho ou cromo ou não revestida -
Especificação: Referências. Rio de Janeiro, p. 22. 2014.
DANTAS, Silva Tondella et al. Embalagens metálicas e a sua interação com alimentos
e bebidas. Campinas: CETEA/ITAL, 1999.
SOUZA, Paulo Roberto Campissi de. Metodologia para Determinação dos Limites de
três peças. 2010. 81 F. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Metalúrgica,
Universidade Federal Fluminense, Volta Redonda, 2010.
WERKEMA, Cristina. Criando a Cultura Seis Sigma. Nova Lima: Werkema, 2004. 253 p.
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