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SELEÇÃO DE MATERIAIS MECÂNICOS

PROCESSOS, MATERIAIS
COMPÓSITOS E MEIO AMBIENTE
Autor: Drª. Roberta Paye Bara
Reviso r: Allan Berbert

I NI CI AR

introdução
Introdução
Na vida profissional de um engenheiro (de materiais, mecânico, de produção, de automação,
automotivo, mecatrônico, civil, industrial mecânico e áreas afins) é necessário conhecer os
processos envolvidos na fabricação de peças para analisar os aspectos logísticos e econômicos no
momento do planejamento.

Além disso, é importante considerar os materiais que foram desenvolvidos nas últimas décadas,
provenientes da combinação de outros, denominados compósitos. É uma tendência de pesquisa,
inclusive com enfoque ambiental, pois alguns engenheiros utilizam materiais antes descartados,
como a fibra de coco, que, quando utilizada na fabricação de compósitos, agrega aspectos
mecânicos ao material e reduz resíduos, contribuindo para a preservação do meio ambiente.
Processos

No cotidiano profissional ligado à engenharia de materiais, ocorre, com frequência, a necessidade


de adquirir um produto ou de ter que fabricar um produto, a partir de ligas metálicas. Dessa forma,
é necessário atender a determinadas características mecânicas. Para isso, é importante
compreender os processos envolvidos na fabricação da peça.

Classificação de Processos
Há diversos processos disponíveis para serem utilizados, sendo que a escolha fica a cargo da
funcionalidade da peça, ou seja, de quais características ela deverá apresentar. Por exemplo, uma
engrenagem com dentes pode ser criada a partir do processo de fundição em areia, ou fundição
em molde permanente, ou conformação a frio, ou laminação a frio ou cortados com fresa
(BUDYNAS, 2011).

Fundição em Areia
Esse processo consiste em moldes de areia onde é derramado o metal fundido. Esse molde de
areia é confeccionado a partir de “um padrão” de metal ou madeira, como um protótipo do modelo
da peça, que é utilizado para formar a cavidade na areia no formato da peça. Trata-se de um
processo com baixo custo que permite moldes de diversos tamanhos (BUDYNAS, 2011).

Processos de Trabalho a quente


Todo o processo em que o metal é aquecido em alguma temperatura acima da de recristalização é
considerado processo de trabalho a quente. Segundo Budynas (2011, p. 69), os processos de
trabalho a quente são: laminação, forjamento, extrusão e prensagem.

A laminação a quente é comumente utilizada na fabricação de barras de aço, alumínio, ligas de


cobre e magnésio, com formatos específicos de perfis, como semioval, redonda, hexagonal, em T,
entre outras.
O forjamento é o processo em que é aplicada uma pressão no metal quente, por meio de
ferramentas como martelo manual ou martelo pneumático. O forjamento é um processo que
aumenta a resistência e a ductilidade do material.

A extrusão a quente consiste em pressionar o metal quente por uma matriz com orifícios no
formato em que se deseja formar os perfis das hastes metálicas. É recomendada a extrusão para
materiais com baixo ponto de fusão, por exemplo, alumínio, cobre, estanho e zinco.

Processos de Metalurgia do Pó
Consiste em utilizar materiais na forma de pó, que são pressionados em moldes e depois
aquecidos (em temperaturas abaixo do ponto de fusão do principal ingrediente). Podem ser
utilizados pós de um metal, de diferentes tipos de metais e até de misturas de metais e não metais.
É um processo muito utilizado na reciclagem de metais. É considerado de baixo custo, contudo os
moldes são caros.

Processos Térmicos do Aço


Os processos térmicos do aço modificam as propriedades de dureza, ductilidade e tenacidade. Os
tratamentos térmicos do aço mais conhecidos e utilizados são: recozimento, têmpera, cementação
e revenimento.

No recozimento, o metal é aquecido até superar a temperatura crítica para que o carbono das
tensões residuais (provenientes de processos anteriores) se dissolva no material. O material é
resfriado lentamente (geralmente deixado dentro do forno para esfriar).

Na têmpera, o material é resfriado rapidamente, de forma controlada, em água ou óleo. A água


resfria mais rápido que o óleo, e isso pode gerar trincas no material.

Na cementação, o carvão puro é chamado de cemento, sendo adicionado no fundo de uma caixa
metálica. Em seguida, são colocadas as peças que serão cementadas e, por último, tudo é coberto
por mais carvão puro. A caixa é colocada no forno para aquecer. Nesse processo, há transferência
de carbono para o material, deixando a camada externa mais dura.

Figura 4.1 - Exemplo de aço: faca com lâmina damasco (damascus steel)

Fonte: Tarmorlan / Wikimedia Commons.


No revenimento, o material é aquecido lentamente com o objetivo de reduzir as tensões residuais
(como as que são geradas em corpos de prova). Depois disso, ele é deixado para esfriar lentamente
ao ar.

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Aço damasco é o nome dado à combinação de aços de
diferentes formatos, como pó e pregos. Antigamente, era
difícil obter o aço puro, então, quando necessário, eram
utilizados restos de outros materiais que, inseridos em uma
estrutura (caixa), eram forjados. É possível criar padrões
forjando pedaços ou sobrepondo pedaços com
determinados formatos ou, ainda, torcendo o lingote. No
aquecimento, os materiais se unem e formam padrões
geométricos diferenciados.

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Seleção Sistemática de Processos


É possível associar mais de um processo para formar um material, por exemplo, uma faca pode ser
forjada e depois passar por uma têmpera. Por isso, para poder escolher qual processo será
utilizado (ou quais processos), é preciso ter clara a estrutura que se deseja formar no material ou
quais propriedades se deseja alterar nele. Um corpo de prova que foi submetido a ensaios
mecânicos, certamente irá apresentar tensões residuais que poderão ser aliviadas por meio do
revenimento. Quando após a fabricação de um material é constatado que sua camada externa
precisa ser mais dura, a cementação pode ser aplicada.

praticar
Vamos Praticar
Leia o trecho a seguir.

“A seleção efetiva de um material para determinada aplicação de projeto pode ser muito fácil, tomando-se
como base, digamos, aplicações prévias (um aço 1020 sempre é um bom candidato em razão dos seus
diversos atributos positivos) ou, pelo contrário, pode ser um processo complicado e de proporções
enormes como acontece com qualquer problema de projeto envolvendo avaliação de muitos parâmetros
físicos, de natureza econômica e de processamento dos materiais”.

BUDYNAS, R. G.
Elementos de Máquinas de Shigley
: Projeto de Engenharia Mecânica. Porto Alegre:
AMGH, 2011. p. 82.

Considerando o processamento dos materiais, em qual processo é empregado o uso de martelos no metal
quente?

a)
Forjamento.
b)
Revenimento.
c)
Têmpera.
d)
Metalurgia do pó.
e)
Extrusão.
Compósitos

Os compósitos são materiais obtidos artificialmente pela união de dois ou mais materiais
diferentes, de forma que a nível macroscópico é possível distinguir a separação entre eles. Os
materiais compósitos são constituídos de duas fases, denominadas matriz e fase dispersa (também
chamada de reforço). O reforço é a fibra que será utilizada; já a matriz é o que liga o reforço.

Principais Tipos de Compósitos


Os compósitos são classificados em: reforçados com partículas, reforçados com fibras, estruturais
e nano. Os compósitos reforçados com partículas são subdivididos em: compósito reforçado com
partículas grandes, em que a resistência mecânica é melhorada em função do reforço das
partículas; e compósito reforçado por dispersão, em que quanto menor as partículas dispersas,
melhor a resistência. O concreto é um exemplo de compósito com partículas grandes.

Figura 4.2 - Classificação dos compósitos

Fonte: Adaptada de Callister e Rethwisch (2018, p. 583).


Nos compósitos reforçados com fibras, a eficácia da melhoria das características mecânicas
depende do comprimento da fibra, pois há uma descontinuidade nas extremidades desta.
Fase Matriz e Fase Reforço
Os materiais de natureza uniforme (isotrópicos) como os metais, possuem propriedades mecânicas
como resistência e rigidez, são independentes da orientação dentro do material. Já nos compósitos
a orientação das fibras altera as propriedades mecânicas. Essa alteração ocorre em função da
combinação dos materiais da fase matriz e da fase de reforço, a fase matriz é a base normalmente
onde são inseridas as fibras que são o reforço. A fase matriz geralmente precisa de uma cura, seja
secando ou esfriando. Essa separação entre os materiais terá um comportamento similar a
orientação de fibras e é essa orientação que influencia nas propriedades mecânicas dos materiais.

Há estudos específicos sobre a relação fibra-matriz, que analisam a força de ligação (resistência da
ligação fibra-matriz τ ), comprimento, diâmetro (d) e resistência da fibra (resistência à tração da
c
σf  ⋅ d
fibra σ ). O comprimento crítico da fibra (l ), definido por: l =
f c c . 2τc

A forma com que a fase dispersa está orientada na matriz determina sua classificação: fibras
particuladas, fibras descontínuas aleatórias, fibras contínuas alinhadas e fibras contínuas
entrelaçadas.

Figura 4.3 - Orientação das fibras da fase na matriz

Fonte: Adaptada de Budynas (2011, p. 82).


Nas fibras descontínuas aleatórias há algumas limitações na eficiência do reforço, mas, no geral,
elas se comportam como um material isotrópico.

Nos compósitos com fibras contínuas e alinhadas, o reforço e a resistência são superiores quando
estão na direção do alinhamento das fibras do reforço e os valores são mínimos quando
submetidos a tensões na direção transversal ao alinhamento do alinhamento das fibras do reforço.
Em função disso, alguns possuem várias camadas de fibras de reforço posicionadas em mais de
uma direção. O módulo de elasticidade do compósito na direção do alinhamento E (algumas cl

referências apresentam como direção longitudinal) é definida pela relação com o módulo de
elasticidade da matriz (E ) e da fibra (E ), bem como da fração volumétrica da matriz (V ) e da
m f m

fibra (V ), conforme a seguinte relação: E = E V + E V (BUDYNAS, 2011; CALLISTER;


f cl m m f f

RETHWISCH, 2018).

Por exemplo, considere o seguinte problema: um compósito reforçado com fibras de vidro
contínuas e alinhadas, no qual a porcentagem volumétrica de fibra de vidro é de 35% v. Sabendo
que o módulo de elasticidade da fibra de vidro é de 69 GPa (1 x 10 psi) e que foi adicionado uma
6

resina poliéster que seca e endurecida apresenta módulo de elasticidade igual a 3,4 GPa ( 1 x 10 6

psi), qual o módulo de elasticidade desse compósito na direção do alinhamento?

Solução
: Primeiro, é necessário verificar se temos todos os valores necessários para resolver a
equação E = E V + E V . Temos que E ,  E e V . Mas se a porcentagem volumétrica da
cl m m f f m f f

fibra é 35%v, a porcentagem volumétrica da matriz é o complementar para 100%, ou seja V = m

65%v (porque só tem dois materiais).

Agora, basta substituir os valores na equação E


cl = Em Vm + Ef Vf .

Logo:
6 6 6
Ecl =   (3, 4 GP a  (1  × 10 )) (0, 65) + (69 GP a  (1  × 10 )) (0, 35)   = 26, 36 GP a  (1  × 10 psi

Segundo Callister e Rethwisch (2018), alguns compósitos de fibras descontínuas e alinhadas podem
ter resistência de até 90% dos seus análogos com fibras contínuas. Por isso, cada vez mais tem-se
utilizado e desenvolvido materiais nessa categoria. A resistência longitudinal em tração (σ ) de cd

compósitos com fibras descontínuas alinhadas é: , na



lc

σcd = σ  ⋅Vf (1  −   ) + σm (1  −  Vf )
f 2l

qual σ é a resistência a ruptura da fibra, l é o comprimento médio da fibra,



f
lc   é o comprimento
crítico da fibra, σ é a tensão na matriz quando o compósito falha   e é a porcentagem

m Vf

volumétrica da fibra no compósito.

Nos compósitos com matriz polimérica, destacam-se o uso de fibra de vidro ou fibra de carbono ou
fibras de aramida.

Os compósitos com matriz polimérica reforçados por fibras de vidro apresentam resistência
elevada. Por isso, são utilizados na fabricação de cascos de barcos e carrocerias de automóveis.

Os compósitos com matriz polimérica reforçados por fibras de carbono apresentam alto módulo de
tração e são muito utilizados em equipamentos esportivos, como vara de pescar.

Os compósitos com matriz polimérica reforçados por fibras de aramida apresentam características
mecânicas muito úteis, como o kevlar que é mais resistente que o aço e muito leve; por isso, é
utilizado nos coletes a prova de bala.

Além de compósitos com matriz polimérica, é possível encontrar (ou desenvolver) compósitos com
matriz metálica ou cerâmica. Os compósitos com matriz metálica não são inflamáveis como os de
matriz polimérica e apresentam maior resistência à degradação por fluídos orgânicos. Segundo
Callister e Rethwisch (2018, p. 604): “já os compósitos de matriz cerâmica apresentam maior
tenacidade à fratura em função do reforço das fibras, apresentando também uma maior vida útil”.

praticar
V P ti
praticar
Vamos Praticar
Um compósito reforçado com fibras de carbono apresenta  porcentagem volumétrica da matriz de 70% v.
Considerando que o módulo de elasticidade da fibra de carbono é de 190 GPa (1 x 10 psi) e que a matriz é
6

composta de uma resina de poliéster, que seca e endurecida apresenta módulo de elasticidade igual a 3,4
GPa ( 1 x 10 psi), qual o módulo de elasticidade desse compósito na direção do alinhamento?
6

Solução
: Primeiro, como a porcentagem volumétrica da matriz é de 70%v, então a porcentagem
volumétrica da fibra de vidro só pode ser 30%v. Substituindo os valores na equação temos que
E cl= E Vm m+ E V , ou seja:
f f

6 6 6
Ecl =   (3, 4 GP a  (1  × 10 )) (0, 7) + (190 GP a  (1  × 10 )) (0, 3)   = 59, 38 GP a  (1  × 10 psi)

a)
32 GP a (1  × 10 psi)6

b)
52 GP a 
c)
59, 38 GP a  (1  × 10 psi)
6

d)
134, 02 GP a 
e)
49, 32 GP a (1  × 10 6
psi)
Materiais Híbridos

São considerados materiais híbridos os compósitos que resultam da combinação de uma matriz
(polimérica, metálica ou cerâmica) com dois ou mais tipos de fibras ao mesmo tempo, o que
garante características mecânicas especiais e aplicações em diversas áreas como engenharia
espacial e biomédica.

Os materiais híbridos apresentam melhores propriedades mecânicas do que os compósitos


tradicionais (com um único tipo de fibra), exatamente em função da fase de reforço associar mais
de um tipo de fibra. Por exemplo: “o híbrido vidro-carbono que associa a fibra de vidro (mais
econômica) com a fibra de carbono resultando em um material mais resistente e tenaz, com maior
resistência ao impacto e mais econômico” (CALLISTER; RETHWISCH, 2018, p. 607).

Compósitos Estruturais
Os compósitos estruturais são compósitos multicamadas, ou seja: há uma sobreposição de
camadas de materiais que garantem resistência à compressão, à tração, à torção e rigidez. Os
compósitos estruturais são classificados em laminados ou painéis-sanduíche e suas propriedades
mecânicas dependem dos materiais utilizados como matriz e fase reforço bem como de sua
estrutura.

Os compósitos estruturais laminados são constituídos por camadas de placas planas de compósito
que são coladas, podendo fazer combinações de direção das fibras entre as camadas, o que
influencia nas propriedades mecânicas.

Figura 4.4 - Compósito estrutural laminado unidirecional (a), cruzado (b), camada em ângulo (c) e
multidirecional (d)

Fonte: Adaptada de Callister e Rethwisch (2018, p. 611).


Nos compósitos estruturais tipo painel-sanduíche duas lâminas superficiais rígidas envolvem um
núcleo como um sanduíche. Os núcleos mais utilizados são: espumas poliméricas, madeira de
baixa massa específica (como por exemplo o MDF e o MDP) e estrutura de colmeia.

Figura 4.5 - Compósito estrutural painel-sanduíche (com núcleo em forma de colmeia)

Fonte: Adaptada de Callister e Rethwisch (2018, p. 612).


Segundo Callister e Rethwisch (2018, p. 618): “um exemplo de produto que constituído de
compósitos de estrutura laminada e compósitos estruturais do tipo painel-sanduíche com núcleo
colmeia é o Boeing 787”.

saiba mais
Saiba mais
Já pensou em como são feitos os aeromodelos? Todos os
anos, a SAE Brasil promove a competição de aerodesigns
que ocorre no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA),
onde estudantes universitários competem com
aeromodelos desenvolvidos do zero, ou seja, os alunos
elaboram projeto e constroem os aeromodelos o que
garantem a experiência de lidar com várias partes de um
projeto, incluindo o uso de compósitos estruturados
laminados com ângulos diferentes na criação do
aeromodelo.

A CES S A R

Estudo de Caso
Tanto as fibras de vidro quanto as fibras de carbono podem ser utilizadas para formar um
compósito híbrido ou um compósito estrutural (multicamadas). No trabalho de Belão et al. (2019),
foi desenvolvida uma metodologia de obtenção de compósito estruturado para aplicação em
longarinas de modelos de aerodesigns utilizando fibra de carbono e resina epóxi.

Os materiais   utilizados foram tecido de carbono, resina Araldite LY 5052/Ardur 5052, cera
desmoldante e desmoldante líquido PVA verde da Alltec.

Os métodos utilizados foram: laminação manual e laminação à vácuo. Foram confeccionadas


amostras com 3, 5 e 8 camadas de fibra de carbono intercaladas com epóxi. Na laminação à vácuo,
a cura do compósito foi realizada por 24h sobre pressão reduzida por meio da aplicação de uma
bomba de vácuo e uma bolsa de vácuo.

As amostras foram confeccionadas no formato de corpos de prova e caracterizadas utilizando uma


máquina universal de ensaios da Time Group (modelo WDW-100B), onde foram realizados ensaios
de tração. As amostras também foram analisadas com microscopia eletrônica de varredura com
EDX (análise de raio X).

Por meio da análise das amostras, percebe-se que foi possível controlar os valores das
propriedades mecânicas em função do número de camadas da fibra de carbono, da metodologia
de laminação e da temperatura de cura. Nas amostras onde a laminação foi realizada em
temperatura acima da temperatura ambiente ocorreram descontinuidades e falhas. Pelo MEV, foi
possível concluir a boa compatibilidade entre a fase e a matriz, ou seja, entre a resina epóxi e a
fibra de carbono. Em todas as amostras confeccionadas à vácuo, houve redução da densidade em
comparação com as outras amostras.

praticar
Vamos Praticar
Leia o trecho a seguir.

“Os primeiros materiais híbridos orgânicos/inorgânicos foram sintetizados no contexto das indústrias de
polímeros e tintas, dispersando pigmentos ou aditivos inorgânicos em componentes orgânicos como
solventes, surfactantes e polímeros, de molde a melhorar as propriedades do material final”.

MELO, J. Sérgio de; MORENO, Maria João; BURROWS, Hugh D.; GIL, Maria Helena.
Química de Polímeros
:
contribuições portuguesas. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2004. p. 388.

Por que os materiais híbridos apresentam melhores propriedades mecânicas do que os compósitos
tradicionais?

a)
Porque utilizam fibras contínuas cruzadas.
b)
Porque utilizam fibras contínuas alinhadas.
c)
Porque utilizam fibras particuladas dispersas aleatórias.
d)
Porque combinam duas ou mais fibras na fase de reforço.
e)
Porque utilizam fibras contínuas desalinhadas.
Materiais e Meio
Ambiente

Com o desenvolvimento da indústria e da engenharia de materiais e com o desenvolvimento da


população mundial, houve aumento do consumo de produtos industrializados e fabricados a partir
de diversos materiais. Inicialmente, as preocupações industriais eram voltadas para o
desenvolvimento do produto, depois, percebeu-se a necessidade de se analisar os aspectos de
segurança do trabalho (essa preocupação é bem recente se comparada com o início do
desenvolvimento industrial). A preocupação com o meio ambiente surgiu por último, e ainda há
quem desconsidere os impactos da indústria no meio ambiente, nas mudanças climáticas e na
saúde das pessoas.
reflita
Reflita
Por que há quem não acredite nos alertas dos
cientistas sobre a falta de preservação do meio
ambiente? Será que sempre existiram pessoas
assim? Considerando que, historicamente muitos
cientistas foram perseguidos pelo simples fato de
pesquisarem, serem estudiosos e curiosos por
respostas, temos o indicativo que sempre tivemos
pessoas que desacreditassem os fatos e as
evidências científicas. Talvez, a sensação de que
agora seja maior, ocorra devido à globalização e
das redes sociais, pois quem antes não tinha
visibilidade pode, por meio da internet, expor suas
teorias, mesmo sem nenhum embasamento
teórico científico (e sem lógica), o que
denominamos como “
fake news
”.

Fato é que a realidade bate na porta mesmo de quem não acredita em evidências e pesquisas
científicas. Como quando a cidade alaga porque as pessoas não possuem a cultura de encaminhar
os resíduos de forma correta ou quando os aterros sanitários das cidades chegam ao limite da
capacidade e nenhuma cidade próxima aceita a construção de um novo aterro. Ou mesmo quando
a ilha de lixo no oceano pacífico ultrapassa três vezes o tamanho do estado de Minas Gerais e fica
destacada nas imagens de satélite como um novo continente que se forma. Esses são só alguns
dos muitos exemplos dos impactos do que o descarte incorreto dos materiais pode resultar. Por
isso, primeiro é necessário ter em mente o ciclo de vida das matérias primas, pois se não são
recicladas e reutilizadas tornam-se resíduo, lixo.
Figura 4.6 - Ciclo de vida das matérias-primas

Fonte: Adaptada de Callister e Rethwisch (2018, p. 803).


Algumas cidades aboliram o uso de descartáveis plásticos, como sacolas, canudos e embalagens
alimentícias. Alegaram que isso era para reduzir os impactos no meio ambiente. Mas o plástico
pode ser reciclado várias vezes e pode, também, ser associado a outros materiais formando
compósitos e melhorando suas características mecânicas. Então, qual é o problema em utilizar
embalagens plásticas? É um conjunto de fatores, culturais e econômicos. Cultural porque muitos
alegam se preocupar com o meio ambiente, mas jogam lixo no chão e descartam de forma
incorreta os materiais recicláveis. Econômico, porque precisa de equipamentos para reciclar alguns
produtos, como as embalagens acartonadas multicamadas (conhecidas pela marca Tetra Pak), que
é possível separar o papel, do plástico e do metal, formando lingotes de metal, papelão e
pelets
(só
de plástico ou do compósito plástico papel) que poderão ser injetados em moldes criando novos
materiais. Outro aspecto econômico é a criação de novos produtos reutilizáveis com a propaganda
de serem “ambientais” por substituírem os abolidos descartáveis de plástico, contudo, estes são
mais caros e precisam de higienização individual (porque os descartáveis de plástico durante o
processo de reciclagem são lavados em grupo e há reuso da água utilizada).

Independente das políticas locais de reciclagem e utilização de descartáveis plásticos, é fato que
itens de plásticos, isopor, bituca de cigarro, componentes eletrônicos, vidro, metal, papel, madeira
e borracha podem e devem ser reciclados.

Impacto no Meio Ambiente na Seleção de


Materiais
Atualmente, além de todos os aspectos que envolvem o desenvolvimento de produtos e a
construção de edifícios, há uma preocupação com o impacto ambiental no desenvolvimento do
projeto e mesmo durante sua utilização. São considerados aspectos como emissão de gases,
poluição do ar (que afetam no aquecimento global e na saúde das pessoas), bem como dos
aspectos de eficiência energética e descarte de resíduos.

Os resíduos no mundo e no Brasil são orgânicos (que podem ser compostados), inorgânicos
recicláveis ou inorgânicos que não podem ser reciclados (como fraldas usadas). A maioria dos
materiais inorgânicos demora mais de 30 anos para se decompor, por isso, é fundamental reciclar
os que podem ser reciclados.

Figura 4.7 - Tempo estimado para decomposição de alguns materiais

Fonte: Adaptada de Senado Federal (2020, on-line).


Durante a seleção de material pode ocorrer que dois materiais tenham sido classificados e sejam
candidatos para utilização, nesse caso um critério utilizado para o desempate é o aspecto
ambiental. O aspecto ambiental considera a possibilidade de reuso ou reciclagem desse material,
quando este se tornar obsoleto. Segundo Callister e Rethwisch (2018, p. 809):

A operação eficiente do ciclo dos materiais fica facilitada com o emprego de um


inventário de entradas/saídas para avaliação do ciclo de vida de um produto. Os
materiais e a energia são os parâmetros de entrada, enquanto as saídas incluem os
produtos usáveis, os efluentes aquosos, as emissões para a atmosfera e os resíduos
sólidos.

Muitas empresas estão aplicando diretrizes para redução do impacto ambiental em seus modelos
de negócio, por isso, é importante considerar os atributos ecológicos dos materiais.

Os Atributos Ecológicos de Materiais


Os materiais podem ser recicláveis, biodegradáveis ou descartáveis (dejetos que podem apresentar
toxicidade). Alguns metais possuem uma parcela biodegradável, que ocorre durante a oxidação e
outros são descartáveis pelo seu caráter tóxico, nesse caso, são encaminhados para o fabricante
para armazenamento em local próprio para evitar contaminação do solo ou dos ecossistemas
aquáticos (que afetaria fauna e flora).

Dentre os cerâmicos, o vidro é o mais comum no descarte residencial, sendo um material


reciclável.

Há trabalhos recentes que confirmam a possibilidade de reciclagem de materiais compósitos,


como no trabalho de Jedyn (2018) que foram analisadas as propriedades mecânicas de compósito
de matriz polimérica reforçada com fibras de serragem, após consecutivos processos de
reciclagem.
saiba mais
Saiba mais
Há diversos grupos de pesquisa no Brasil que trabalham
com compósitos, incluindo pesquisas sobre análise das
propriedades mecânicas do material após a reciclagem.
Jedyn (2018) realizou diversas análises para compósito de
matriz polimérica avaliando as características mecânicas
após suscetíveis reciclagens.

A CES S A R

Para cada processo e para cada material, é possível elaborar inventários de emissão de gases no
efeito estufa (GEE). É necessário considerar todo o processo envolvido, desde a sede
administrativas até todos os ambientes utilizados durante o projeto.

Figura 4.8 - Definição da abrangência do inventário de emissões de gases no efeito estufa

Fonte: Elaborada pela autora.


É fundamental considerar as fontes de emissão e o tempo de duração. Há recursos digitais que
podem ser utilizados para elaboração do inventário, como planilhas eletrônicas e
softwares
.

praticar
Vamos Praticar
Considerando os aspectos relacionados à biodegradabilidade, decomposição, descarte e reciclagem de
materiais, muitos projetos necessitam do desenvolvimento de inventários de emissão GEE, dentre outras
análises, para utilizar mostrar qual foi o impacto ao meio ambiente o desenvolvimento do produto. Qual é
o principal critério analisado no inventário GEE?

a)
O preço da matéria-prima.
b)
O tempo que o material demora para se degradar.
c)
Possibilidade de reciclagem do material quando se tornar obsoleto.
d)
A poluição do ar.
e)
As emissões de gases que contribuem para o efeito estufa.
indicações
Material
Complementar

LIVRO

Compósitos Estruturais: Ciência e Tecnologia


Editora
: Blucher
Autor
: Flamínio Levy Neto
ISBN
: 978-85-212-1079-5
Comentário
: Neste livro, são detalhados vários aspectos relacionados
aos compósitos, com destaque para o enfoque na fabricação a partir de
diversos exemplos de uso de fibras diferentes, como fibras naturais.
Além disso, há um detalhamento sobre diversas características
relacionadas aos compósitos híbridos.
WEB

Reciclagem Mostra um Final Feliz na Vida dos Veículos


Ano
: 2015
Comentário
: Em países como a Inglaterra e a Suécia, 100% dos
materiais que compõe um automóvel antigo são recicláveis, mas, no
território brasileiro, essa prática é recente. No Brasil, alguns itens são
devolvidos para o fabricante providenciar o descarte correto, que pode
ser um reuso ou uma reciclagem.

ACESSAR
conclusão
Conclusão
O entendimento sobre processos, compósitos (das diversas possibilidades de combinação de
materiais como matrizes e fase de reforço), materiais híbridos e seus impactos no meio ambiente
fazem parte da seleção de materiais. Ele influencia nas características mecânicas dos materiais
(melhorando ou piorando as propriedades mecânicas) e/ou interfere nos aspectos econômicos,
fundamentais na análise de viabilidade de um projeto e na administração de uma empresa. A
seleção de materiais envolve muitas áreas, por isso, é importante ter ideia de cada aspecto para
que, durante a vida profissional, se consiga gerir projetos buscando recursos tecnológicos que
possibilitem auxiliar esse processo.

referências
Referências
Bibliográficas
BELÃO, G. B. L.; CARNAVALLE, C. A; MOURA, M. R. de; AOUADA, F. A. Desenvolvimento de
metodologia visando a obtenção de compósitos estruturais para aplicação em longarinas de
Aerodesigns.
Journal of Experimental Techniques and Instrumentation
,   V. 2, n. 1, 2019.
Disponível em:
https://periodicos.ufms.br/index.php/JETI/article/view/7607
. Acesso em: 3 maio
2020.

BUDYNAS, R. G.
Elementos de máquinas de Shigley
: Projeto de Engenharia Mecânica. Porto
Alegre: AMGH, 2011.

CALLISTER JÚNIOR, W. D.; RETHWISCH, D. G.


Ciência e engenharia de materiais
: uma introdução.
9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

JEDYN, F. G.
Preparação e caracterização de compósitos reprocessados de matriz de
polipropileno reforçados por serragem
. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) -
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2018.
SENADO FEDERAL.
Infográfico
- Nova Política de resíduos sólidos exigirá mudança de hábitos da
população. Em discussão. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/revista-em-discussao-edicao-junho-
2010/infografico-nova-politica-de-residuos-solidos-exigira-mudana-de-habitos-da-populaao.aspx
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Acesso em: 04 maio 2020.

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