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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE MATERIAIS
DISCIPLINA: ENG02051- FÍSICA DA MATÉRIA CONDENSADA

PROFA. DRA. LISETE CRISTINE SCIENZA

1
IMPORTÂNCIA

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Diagrama de fase – microestrutura que deveria se
desenvolver, supondo que a temperatura fosse alterada
lentamente e o suficiente para manter o equilíbrio

3
Na prática, no processamento de materiais  o tempo
se torna um fator importante

Tratamento térmico  histórico da temperatura versus


tempo  cinética

 Ocorrências de fases ou transformações em


temperaturas diferentes daquela prevista no diagrama

 Existência à temperatura ambiente de fases que não


aparecem no diagrama

4
Tratamentos térmicos consistem em processos em que
eleva-se a temperatura até a sua transformação e controla-
se a velocidade de seu resfriamento para obter
características desejadas.

O diagrama chamado
Curva TTT (tempo
– temperatura –
transformação)
possibilita o controle
das transformações

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TRANSFORMAÇÕES DE FASES

6
TRANSFORMAÇÕES DE FASES
COM DIFUSÃO

Sem variação no número e composição de fases


Ex: solidificação metal puro e transformação alotrópica

Com variação no número e composição de fases


Ex: Transformação eutética, eutetóide...

Fe Fe3C
g Reação
eutetóide (cementita)
(Austenita) +
C
a
FCC (ferrita) (BCC)

SEM DIFUSÃO

Ocorre com formação de fase metaestável


Ex: transformação martensítica 7
CINÉTICA DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASES

•Leva tempo (não instantânea) -> cinética (velocidade)

Como a maioria das reações dá origem à formação de


novas fases via difusão, elas não ocorrem
instantaneamente.

* Estágios da transformação de fases:

1) Nucleação = formação de partículas (ou núcleos) da


nova fase.

2) Crescimento = aumento de tamanho dos núcleos até que


as condições de equilíbrio sejam atingidas
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CINÉTICA DAS REAÇÕES NO ESTADO SÓLIDO

Energia de livre de superfície


GS = 4r2g
(necessita de energia para
Variação da energia livre, G

criar a interface,
desestabiliza os núcleos)

GT = GS + GV (energia livre


total)

Energia livre volumétrica


GV = 4/3 r3 G
(libera energia)
r* = raio crítico
g = tensão superficial
G = energia livre / unidade de volume 9
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Crescimento
•Crescimento -> após o raio crítico
•Crescimento e Nucleação ocorrem simultaneamente

Crescimento envolve:
–Difusão até a fronteira (logo alcance)
–Difusão para o núcleo
–Taxa de crescimento:

Eq. de Arrhenius  válida para qualquer transformação de fase

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FRAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO

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Equação de Avrami

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 Transformações de fase podem ocorrer em função de
variações de temperatura, pressão e composição. Os
tratamentos térmicos são a forma mais conveniente de induzir
transformações de fases.

 O diagrama de fases não indica o tempo necessário para


transformações em equilíbrio.
 Na prática, os tempos de resfriamento necessários para as
transformações entre estados de equilíbrio são inviáveis.

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TRANSFORMAÇÕES DE FASES EM AÇOS

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TRANSFORMAÇÃO
ISOTÉRMICA

resfriamento
g a + Fe3C
aquecimento

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Temperatura de transformação em equilíbrio

Taxa de
Crescimento (Difusão)
Temperatura

Taxa total de
Transformação
Taxa de
Nucleação (Solidificação)
Taxa 

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Temperatura constante ao longo de toda a transformação
Porcentagem de austenita
transformada em perlita

Temperatura da Final da
transformação 675 °C transformação

Início da
transformação

Tempo (s)

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Diagramas de Transformações Isotérmicas

• Sistema Fe-C, Co = 0,77%m C


• Transformação em T = 675ºC

27
Diagramas de Transformações Isotérmicas
 Composição eutetóide, Co = 0,77%m C
 Início em T > 727ºC
 Resfriada rapidamente até 625ºC mantida nesta isoterma.

28 Curvas TTT
para uma liga
eutetóide de
Fe-C.

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29

29
Mecanismo de formação da perlita estrutura lamelar

1 Nucleação heterogênea de uma das fases do microconstituinte perlita (Fe3C)


nos contornos de grãos da austenita (γ). Este precipitado possui uma interface
coerente de um lado e uma incoerente do outro lado. A interface incoerente será
glissile (móvel) e crescerá dentro do grão correspondente (γ2).

2 e 3  A região nas vizinhanças do precipitado de Fe3C ficará depreciada em


carbono e as condições serão propícias para a nucleação da fase α adjacente a
esta.

4  O processo é repetido para dar origem a uma colônia perlítica. A ramificação


de uma placa também pode ser observada. 30
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Morfologia da Perlita
• Dois casos:

 Ttransf logo abaixo da Te  Ttransf bem abaixo da Te


 T maiores: difusão é mais rápida  T menores: difusão é mais lenta
 Perlita é grosseira.  Perlita fina

• Baixo T:
- Maiores T:
Colônias são Colônias são
mais largas menores

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Morfologia da Perlita

• Observações experimentais:

Microestrutura da perlita em função da isoterma mantida:


(a) 655ºC, (b) 600ºC, (c) 534ºC e (d) 487ºC.
A morfologia da estrutura de 2 fases é a mesma, mas o espaçamento entre
elas diminui com o decréscimo da temperatura da isoterma.
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Diagrama de Transformação Isotérmica para Composição
Não Eutetóide

Em um sistema de
Fe-C, para uma liga
com 1,13%m C,
uma cementita
proeutetóide irá se
formar primeiro,
como mostrado na Fim da formação da perlita

figura ao lado.
Fim da formação de cementita
proeutetóide e início da formação da
Formação de perlita
cementita
proeutetóide

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Bainita
• Bainita:
 ripas de Fe-a (tiras), separadas por partículas de Fe3C;
 forma-se entre 200 e 540ºC:
 bainita superior: entre 300 e 540ºC
 bainita inferior: entre 200 e 300ºC
 tanto a superior quanto a inferior são formadas por ferrita, cementita e
martensita, modificando-se apenas seu arranjo na estrutura.

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Perlita = estrutura lamelar
Bainita = agulhas ou placas
Para temperaturas entre 300 e
540 °C ocorre a formação de placas Para temperaturas entre 200 e
finas de ferrita (“penas de 300 °C ocorre a formação de agulhas
aves”)separadas por partículas de ferrita e partículas de cementita.
alongadas de cementita. Esta Esta estrutura é conhecida por
estrutura é conhecida por bainita bainita inferior.
superior.

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Bainita

Transformações perlíticas e bainíticas são concorrentes.


A taxa da transformação bainítica aumenta com o aumento da temperatura 38
Outros Produtos do Sistema Fe-C

• Cementita Globulizada:
 Matriz de Fe-a com Fe3C em
forma esférica;
 obtida pelo aquecimento da
bainita ou perlita até uma
temperatura próxima da
temperatura eutetóide por longo
intervalo de tempo (18-24 h);
 redução da área interfacial (força Fe-a
motriz).

Partícula de
cementita

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Outros Produtos do Sistema Fe-C
• Martensita:
 Fe- g (CFC) para Martensita (TCC);
 Transformação ocorre apenas com o resfriamento rápido do Fe-g;
 % de transformação depente da temperatura apenas.

ferro

carbono

Estrutura Tetragonal de Corpo Centrado (TCC)

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Martensita

A = Austenita
P = Perlita
M = Martensita
B = Bainita

Formação da martensita é
controlada pela temperatura
e independe do tempo

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Transformação martensítica
 Não envolve difusão  transformação instantânea

 Duas diferentes microestruturas:

Menos de 0,6%p C  ripas Mais de 0,6%p C  lentículas

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Rota Tempo x Temperatura x Microestrutura

A = Austenita
P = Perlita
M = Martensita
B = Bainita

A = 100% bainita
B = 100% martensita
C = 50% P + 50% B

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A presença de outros elementos além do carbono
altera o diagrama de transformação isotérmica.

Aço 4340 = 95,2% Fe,


0,4% C, 1,8% Ni, 0,8% Cr,
0,25% Mo, 0,7% Mn
Influência de Outros Elementos de Liga

joelho da
bainita
Tempo mais
longo para o
cotovelo A-P

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Transformação por resfriamento contínuo

 Os tratamentos isotérmicos não são os mais práticos pois


a liga tem de ser aquecida a uma temperatura maior que a
temperatura eutetóide e então resfriada rapidamente e
mantida a uma temperatura elevada!
 A maioria dos tratamentos térmicos envolve o
resfriamento contínuo até a temperatura ambiente 
diagrama de transformação isotérmica não é mais válido.

 No resfriamento contínuo, as curvas isotérmicas são


deslocadas para tempos maiores e temperaturas
menores.

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Temperatura eutetóide

Transformação por
Temperatura (°C)
resfriamento contínuo

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Diagramas de Transformação por Resfriamento Contínuo

Transf. Resf. Contínuo

Transf. isotérmica

Taxa de resf. alta

Taxa de resf. moderada

Taxa de resf. baixa

Para o resfriamento contínuo


a curva TTT se desloca para
baixo (temperaturas
menores) e para a direita
(tempos maiores) no
diagrama.

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Resfriamento moderadamente rápido e resfriamento lento

Início da
transformação Resfriamento lento
(recozimento total)

Temperatura (°C) Resfriamento


moderadamente
rápido (normalização)

M (início)

Com a continuidade do resfriamento


Microestrutura
a austenita não convertida em perlita
Indica uma
se transforma em martensita ao transformação durante Perlita Perlita
o resfriamento
cruzar a linha M (início) fina grosseira

49
Taxas de Resfriamento Críticas

Curvas de resfriamento para


a formação de 100% de
martensita ou de
perlita.

TRC = Taxa de Resfriamento Crítico

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Influência de Outros Elementos de Liga
A presença de outros elementos diminuem a taxa de resfriamento
crítica.

 Elementos de liga como o


Ni, Cr, W e Si deslocam o
joelho A-P para tempos mais
longos, logo pode-se obter
martensita para taxas de
resfriamentos mais lentas;
 A formação de bainita é
possível;
 Para aços com menos de
0,25%p C, a taxa de
resfriamento para a obtenção
de 100% de martensita é
muito alta para ser praticada.

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Comportamento Mecânico de Ligas Fe-C
%p Fe3C
Limite de escoamento e resistência à tração (103 psi)

Energia de impacto Izod (ft-lbf)


Limite de resistência

Ductibilidade (%)
Índice de dureza Brinell
à tração

Dureza Brinell Redução


de área

Limite de escoamento
Alongamento

Composição (%p C) Composição (%p C)

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 Existe forte aderência entre ferrita
e cementita através dos contornos
entre as fases a e Fe3C. Quanto

Índice de Dureza Brinell


maior a área superficial, maior a Perlita
dureza. fina

Perlita
 Os contornos de grão grosseira
restringem o movimento de
discordâncias. Assim, maior área
superficial, maior dureza.

Composição (%p C)
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A perlita fina é mais dura que a perlita grosseira!


Cementita globulizada

Menor área de contorno de grãos


por unidade de volume = menor

Índice de Dureza Brinell


dureza e maior ductibilidade
Perlita
fina
Perlita
grosseira

Cementita
globulizada

Composição (%p C)
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Bainita

Partículas mais finas


= Bainita Perlita
Maior resistência e
maior dureza.

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Martensita
Mais dura, mais resistente e mais frágil!

 A dureza está associada


à eficiência dos átomos de
carbono em restringir o

Índice de dureza Brinell


Martensita
movimento das
discordâncias.

 Como a austenita é
mais densa que a Perlita fina
martensita, ocorre aumento
de volume durante a
têmpera podendo causar
trincas.
Composição (%p C)
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Martensita Revenida

 Após a têmpera, a martensita é tão frágil que não pode


ser usada na maioria das aplicações.

 Pode-se melhorar a ductibilidade e a tenacidade da


martensita com um tratamento térmico, o revenido.

 Revenido = aquecimento a temperaturas abaixo da


temperatura eutetóide durante algum tempo seguido por
resfriamento lento até a temperatura ambiente.

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O revenido permite, através de processos de
difusão, a formação da martensita revenida:

Martensita
 Martensita revenida
Tratamento
(TCC, monofásica) térmico (a + Fe3C)

58
Comportamento Mecânico de Ligas Fe-C

 A martensita é muito dura


para determinadas aplicações;
 A ductilidade e a tenacidade
da martensita podem melhorar
com a apliação de um
tratamento térmico de alívio de
tensões (revenimento);
 Revenimento: aquecimento
de um aço temperado até 250-
650ºC para deixar a difusão
ocorrer e formar a martensita
revenida conforme a equação:
Mart. (TCC) -> Mart. rev. (Fea+Fe3C)

A microestrutura da martensita
revenida é similar a da
cementita globulizada, mas
possui partículas de Fe3C
menores, o que acarreta em
dureza e resistência maiores. 59
Martensita Revenida Cementita Globulizada
(9300X) (1000X)

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Martensita Revenida Martensita Lenticular
(pequenas partículas de Fe3C em uma matriz de ferrita)

Austenita Martensita
Ferrita Cementita

61
Martensita Revenida

A martensita revenida é quase tão


dura quanto a martensita!
A fase contínua de ferrita confere
ductibilidade à martensita revenida Martensita

Dureza Brinell
Martensita revenida
a 371°C

Composição (%p C)
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 A martensita é a mais dura,
mais resistente e mais frágil
dentre as microestruturas
possíveis em uma liga de FeC;

Índice de dureza Brinell


 Sua alta dureza está

Dureza Rockwell C
relacionada à capacidade dos
átomos intersticiais de carbono
de restringir o movimento das
discordâncias, bem como ao
número relativamente pequeno
de sistemas de escorregamento
para a estrutura TCC.

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Resumo
Austenita
(ferrita CFC)

Resfriamento Resfriamento
lento Resfriamento rápido (têmpera)
moderado
Martensita
Perlita (TCC)
(a + Fe3C) Bainita
(a + partículas Fe3C
Reaquecimento

Martensita revenida

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Resumo

Temperatura eutetóide
Austenita

Cementita globulizada
Perlita

Martensita
Revenida Bainita

Aquecimento
Martensita

Temperatura ambiente
Têmpera

Austenita, perlita, bainita e martensita podem co-existir


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REFERÊNCIAS

PORTER, D. A. et al. Phase Transformations in Metals and alloys


(Cap. 5 – Diffusional transformation in solids, Cap. 6 –
Diffusionless Transformations)

ASKELAND, D. R.; PHULÉ, P. P. Ciência e Engenharia dos


Materiais (Cap. 12 – Endurecimento por dispersão,
Transformações de fase e tratamento térmico)

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