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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO Dg JANEIRO

Rei/on
Nilcéa Freire

Vice'reilor
Celso Pereira de Sá

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uerf As Representagões Sociais
EDITORA DA UNIVERSIDÁDE DO ESTÀDO DO RIO DE JÀNEIRO
De ,r..rse JonsLE,f
OÊGANrzÀDoRA
Conselho Editorial
Afonso Carlos MÂrques dos Saoros
Elon Lages Lrmr
lvo BaÍbicri (Prcsilente\ Llr-r.r.r LIlup
José Augurro McssiJs TFADUÍOFA
Lccndro Kondcr
Luiz Bemardo Leite Araújo

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Rio de Janeiro

2001
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RtpnrsrurnÇóES soctAts l
Ut'rt OOlrtít'ttO EM EXPANSÃO

Denise Jodelet
P4erturuúuhn hÉlnct1.! Hnaet tnrta ! SLi ft\ Sb. tuLlcx ttu.i\)

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empre hí nccessidade de estarmos informados sobre o
l mundo à nossa volta. Além de nos ajustar a elc, precislmos sabcr
como nos comportar, dominá-lo física ou intelectualmente, identificar e resolver
os problemas que se apÍesentam: é por isso quL'criamos represr'ntitções. Frente
t, a esse mundo de objetos, pessoas, acontecimentos ou idéias, não somos (apenas)

li. automatismos, nem estamos isolados num vazio social: partilhamos csse mundo
com os outros, que nos servem de apoio, às vezes de forma convergente, oulras
pelo conflito, para compreendê-lo, administrÍ-lo ou enfrentii-lo, Eis por que a.s
representações são sociais e tlo importantes na vida cotidiana. Elas nos guium
no modo de nomear e definir conjuntamente os dif'erentes aspectos da realidade
lt diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomâr decisões e, eventualmentc,
posicionar-se frente a eles de forma defensiva.

ti Com as representações sociais, tratamos de fenômenos observávcis


diretamente ou reconstruídos por um trabalho científico. De alguns anos para
cá, estes fenômenos vêm-se tomando um assunto central para as ciénciirs
ii humanas. Em torno deles constituiu-se um domínio de pesquisa dotaclo cle
instrumentos conceituais e metodológicos próprios, que inleressu a váÍiüs
disciplinas, como se pode depreender da composição deste Iivro. Esre capírulo
esboça um quadro deste domínio e das questões tratâdas sobre essas realidades
mentais, cuja evidência nos é sensível cotidianâmente.
i Na realidade, a observação das representações sociais é algo natural
em múltiplas ocasiões. Elas circulam nos discursos, são trazidas pelas
palavras e veiculadas em mensagens e imagens midiáticas,rcristalizadas
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i No oritinil. ,rl,ftrhr.r rcliiilN ar miüii. (N. T )

il
DcniscJodclcl
ReDrcsentiçôes sociiis: um dooíoio em expansio
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em condutas e em organizâções materiais e espaciais. Nada melhor do que


um exemplo para ilustlar. que ocupa uma posição feminina; os parceiros ativos não se sentem atingidos
pelas medidas ligadas à homossexualidade, que julgam difamantes parr si
RÊpREsENTAçôEs soctÂls No rRABÁLHo próprios.
Esta visão moral faz da doença um estigmâ social que pode provocar
Este exenrplo se refere flos fenômeros que acompanharam. no início ostracismo e rejeição e, da parte daqueles que são assim estigmatizados ou
dos anos 80, o aparecimento da Aids - primeira doença cujas histórias médica excluídos, submissão ou revolta. Submissão do travesti brasileiro, de quem
e social se desenvolveram juntâs. A mídiâ e as pessoas se apoderaram deste ouvi: "Não há precaução a tomar, já que é uma doença moral parl punir o
mal desconhecido e estraÍlho, cuja proximidude ainda não tinha sido revelada. pecado. Se ela tem de vir, vem". Revolta diante do uso social da doença,
A ausência de referências médicas favoreceu uma qualificação social da considerada em 1985, por 707c dos homossexuais franceses, como pretexto
doença, mesmo com a permissão da análise do discurso da mídia na observaçao para condenar a homossexualidade (Pollack, 1988). Revolta do cantor bâsco
de uma rápida cônjugflção do progresso de conhecimentos científicos e de Ochoa, que disse, em I 988, numa entrevista ao jornal El Correo, que "a Aids
inragens construídâs no espaço público, em torno da Aids e de suas vítimas é uma doença inventâda para excluiÍ os homossexuais, sobretudo nos Estados
(Herzlich e PieÍret, 1988). Antes que a pesquisa biológica trouxesse al-quns Unidos, onde começaÍam a surgir prefeitos e candidatos homossexuais à
esclarecimentos sobre a natureza da Aids, as pessoas elaboraranr teoriüs eleição presidencial". Revolta do antigo combatente do Vietnã, atingido pela
apoiad;rs nos dados de que dispunharr.r, relativos aos portadores (dro-uados, Aids, declarando a um jornalista nova-iorquino: "Tenho essa teoria sobre a
hemofílicos, homossexuais, receptores de trânsfusões) e aos vetores do mal Aids: a doença é feita pelo homem: é uma conspiração governâmental em
(sângue, esperma). O que se sabia sobre a transmissão da doença e de suas escala mundial para exterminar o indesejável. Eles querem cometer um
vÍtimas favoreceu, ern palticular, a eclosão de duas concepções: umt de tipo genocídio conosco". Esta intelpretação política e criminal repete os mmores
moral e social, oúra de tipo biológico, com a influência evidente de cadir que imputavam a epidemia à experimentação de um produto pala a guerra
uma delas sobre os componamentos, nas relaçôes íntimas ou para com as bacteriológica: exprime uma posição pessoal de vítima social marginalizada.
pessoas afetadas pela doença. apoiando-se num precedente histórico: o genocídio. Teoria política e criminal
No primeiro tipo de interpretlção, considera-se a Aids uma doença- que propaga rumores de formâ a relacionaÍ a origem do mal à expelimenrirçio
punição que se abate sobre a licença sexual. Markova e Wilkie (1987) de um produto utilizado para a guerra biológica.
encontraram nos meios de comunicação expressões em que a Aids é vista - Desde o início, um outro aspecto da Aids acenou o público em cheio
tal qual a sífilis (Querel, 1986) - como efeito de uma sociedade permissiva, - sua transmissão pelo sangue e esperma, dando lugar a uma visdo biológica
uma condenaçio pelas condutas degeneradas. uma punição pela muito mais inquietante: o contágio poderia ocorrer também por meio de
irresponsabilidade sexual, um flagelo do qual são poupados "os bons cristros outros líquidos corporais além do esperma, particularmente a saliva e o suor.
que nem sonhum em se compoúar mal". Ao lado desta visão, observam um Assim, reavivavam-se crenças antigas, cujo vigor pude cbnstatar a propósito
retorno aos valores familiares tradicionais, o que replesenta simultaneamente da representação da doença mental (Jodelet, 1989). Estas crenças, onde se
uma garantia de proteção contra a doença e a deíesa de uma ordem moral encontram vestígios da teoria dos humores, relacionam o contágio pelos
conservadora. Daí a denúncia das medidas que visam a assegurar uma vida Iíquidos do corpo à sua osmose com sangue e esperma. Tal como no caso da
sexual livre mas sadia, pârticularntente pelo uso dos p[eservativos. Esta doença mental cuja degenerescência afeta os nervos, e o sangue se trunsmite
interpretação moral espontânea Foi amplamente encorajada pelas instâncias pela saliva e pelo suor, assim seria com a Aids e com a sífilis, que podem
religiosas. Pollack (1988) cita o exemplo do Brasil, onde a Conferência contaminar por meio do simples contato com as secreções corporais ou pelos
Nacional dos Bispos se levantou contra as campanhas govemamentais de objetos sobre os quais estão depositadas. Corbin (1977) lembra que estas
crenças conduziram a aberrações no caso da sífilis, mesmo nos meios médicos
iirornoção do preservativo, qualificanclo a Aids cle conseqüência da declclência
moral, castiso de Deus otr vineança da natureza. Nesse caso, a proibição mais renomados; que elucubrações foram forjadas a propósito da sífilis dos
religiosa veio reforçar as prevenções de um machismo ambiente bastante inocentes, contaminados por descuido. As mesmas ameaçâs se manifestam
desenvolvido: o quaiificativo de homossexurl como designação apenas daquele com a Aids: sabemos os terrores que inspiraram e continuam a inspirar,
apesar dos desmentidos do corpo médico. Este ressurgimento de crenças
l - RepresenlÂçôes sociilisr um domínio em expansio
De,riseJodelel 2t
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arcaicas ocone em virtude da falta de informação. Paradoxalmente, isso com um podel de evocação tal que induzem a enquadrar os doentes numtr
favoreceu uma assimilação da Aids a doenças contagiosas correntes, reforçando categoril à palte e a adotar ou justificar condutas de discriminação.
o peso inquietante desta doença (Jodelet et al., 1994). Entretanto, sua força Assim, duas lepresentações - uma moral e outra biológicn - sno
advém também de seu valor simbólico: desde a Antigüidade, o perigo do construídas para acolher um elemento novo: veremos que se tmta de uma
contato corporal é um temâ recomente do discurso racista, que utiliza a função cognitiva maior da representação social. Apóiam-se em valores
referência biológica para fundamentâr a exclusão da alteridade (Delacampagne, variáveis - segundo os grupos socilis de onde tilam suas significlções - c
1983). Então, não é surpreendente vet um movimento como a Frente Nacional em saberes antcriores, reiu,jvados por uma situaçio social particular: e
unindo sob o mesmo anátema imigrantes e aidéticos, lançar-se conh? os Írotarcn'ros que são processos centrris nr elaborrção representativa. Estlo
riscos de contágio que representam esses últimos, preconizar precauções ligadas tanto il sistemrs de pensamento mais amplos, ideológicos on cultuuis.
obsessivas pam as pessoas que cuidam deles, e, para o corpo social, medidas a unr estado dos conhecimentos científicos, quanto à condiçio social c à
de proteção, chegando até a criação de espaços reservados, como o aidetório,2 esfera da experiência privadr e afetiva dos indivíduos.
de conotações sombrias. As instâncias ou substitutos institucionais e as redes de comunrc.rçi,,
Detenhamo-nos um instante neste exemplo históricô, que teve alguns inÍbrmais ou da mídia intervêm ern sua elaboração. abrindo caminho u
dados modificados graças à luta contra os riscos de exclusão das pessoas plocessos de influência e até mesmo dc miinipulação socia) constalalemos
infectadas pelo HIV e os riscos de contágio, bem como pela mobilização da que sc trirtlr de fatores dctcrmin ntes nJ construçaio rL'pre\cntiltiva- EsIas
solidariedade coletiva, açõ.es empreendidas por crmpanhas de informaçào e representaçõcs tbrmam um sistema e dio Iugar a lcorils cspontâneas. \et\ir.s
pela mídia. O que ocorreu? pm acontecimento surge no horizonte social, que tla realidade encarnadls por irllrgens ou condcnsaclirs por palavlas. urnas c
não se pode mostrar indiférente: mobiliza medo, atenção e uma atividade olrtlils carregadas dc significações concluirenros que se trata de estldtrs
cognitiva para compreendê-lo, dominá-lo e dele se defender. A falta de aprecndidos pelo estudo cicntílico rius representrções sociuis. Finalnrenre.
informação e a incerteza dâ ciência favorecem o surgimento de representâções pol nrcio destas várias significações. ls represenl,rçôes erprc'ss.rlrr acluclcs
:
que vão circular de boca em boca ou pular de um veÍculo de comunicaçào (indivfuuos ou srupos) que as fbrjanl e diro unrr definiçao espccífiea ro
i a outrol Desde o cartaz brandido nas ruas dos Estados Unidos (Jeanneney, objcro por elas representado. Estas definiçõcs prrtilhadcs pclos membros de
1987.1: "Deus nio criou Adam e Steve" (observe-se a imagem televisionada um mesmo .grupo constrocrÍl unra visiro consensual da realidadc pilra e\sa
i
- os filhos na novela "Dinastia", em que um, Steve, é homossexual - é grupo. Estir vislo. que pode entrar em coltlito conr lt dc outtos gmpo\, ( unr
I elevada ao nível da imagem bíblica do casal Adão e Eva, para significar a -uuia
plla iis ações e trocls cotidianas - tratlt-sc das funções e da diniLmicn
! ilegitimidade da inversão), até os jornais, a televisão (investidos, além disso, sociuis dls replcsentlçóes.
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de um papel educativo) e os panfletos políticos ou outros textos alarmistas.
Elaboradas com o que se apresenta, estâs representações se inscrevem Atj,,t?t,.\,.1.\: t\ \.r\'.\L, t,t't 't t.tSI \T\Çi,. sôCt.\L
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I nos quadros de pensamento preexistentes e enveredam por uma moral social -
I faça-se ou não o ar.nálgama entre perigos físico-e moral. A liberdade do sexo Este exemplo mostl'r, como tantos outros poderiam fazê-lo. cluc as
I
I seguro se opõe às "virtudes" da tradição e encontra aí um novo cavalo de representaçôes sociais si-ro Íenômenos complexos sempre ativados e cm iiçritr
I batalhâ, sustentado pela autoridade religiosa. Valores e modelos sociais na vida social. Enr sua riqueza como fenômcno. dcscobrimos diversos
carÍelam de conteúdos diferentes a palavra Aids, a doença e suas vítimas. clementos (alguns. às vezes, estudados de modo isolado): infornrltrvos.
Representações biológicas correspondentes a saberes entemados na memória cognitivos, idcológicos, normativos, crenças. valores. atitudes. oliniôe\.
social ressurgem, por causa de seu valor simbólico, às vezes orquestrado com imagens etc. Contudo, estes elemcntos são organizados sempre sob a apurrincir
I {ins políticos e sociais, Forjam-se palavras portadoras de representaçào; de um saber qLre riiz algo sobrc o cstado dr reulid.lle, E est.r totalidude
I aidético soa como "judaico", "aidetório" como "sanatório" ou "crematório",r significante que, em re)açao conr a açiro, encontra-se no centro da investigacão
I cientÍl'ica. a qual xtribui como tarefa descrevê'lr, analisá-la, explicí-ll crr
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; No ôriex)il, ! Íl,r: Jtí últr)tr) . riLl.róro (N 'l l
ú chrn lx suas climensões. formas, processos e funcionamcnto. Durkhcim (18951 foi o
r No ^i(is (xrLlirc.) yr!.oooir,/,i/rrx,iruJd.ôl.ri,1ltr,n,r
origríil. Ji,/,Iir!? (ârL]d1óno) cômo r,,zr,ir,,1ín,n,ioor
I ou .z,rd,rn,, (rÍcD1aróí].) (N Tl plirneiro a identifica[ tais objetos como produções mentais sociais, extraídos
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Dcüise I0dclcl Cor.a.)sUsir co.r $.c0ii
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Represenlâções socixis: uü domínio em cxprnsão

de um estudo sobre l ideação coletiva. Illoscovici (1961) r'cnovou a análise,


âtividades mentais (perceptiva, conceitual, mnemônica etc.). Por outro lado.
insistindo sobrc a especi[icidailc'dos fcnômcnos rcpresentrlivos uils socicdldes il rcprcsentlção mental - cômo a pictórica. a teatral ou a política - ilprcsenta
contempôrâneas, caracterizadas por; intensidrdc e flr:iclez das trocirs e
esse objeto, o substi(ui, tonla seu lugar; tornir-o presente quando ele est,i
comunicações; desenvolvimento da ciênciiu pluralidadc e mobilidade souiurs clistante ou ausentc. É assinl o representante mental do objeto que ela [cstitui
Nosso exemplo pernritc lambérl a aproximação de unta plrnrcilu simbolicamente. Alérn disso, conteúdo concreto do ato de pensxmento, il
Liiriic(L-ri1uçJo it reprcsentirçio social, sobre a qual a comunidade cicntíl'icil representâção rnental traz a malca do sujeito e de sua atividade. Estc últirno
csru dc uc.rrdo:] .< unr.r fortnr -dc. conhccimento. socialmente elaboracla e aspecto [emete às carlcterísticas de construção, criatividade e autononril du
partilhada, com urr obietivo pflitico. e quc contribui para a construção de reprcsent çÍo. quc comportam uma parte de recorstrução. de intcrprr't;tçrio
uma realidade conlum a um cottjunto social. Igualmentc designadn cotrtt do ohlcto e Je erprersio do srrjeito.
slber dc senso cornlrm ou ainda sabet ingênuo, natural, esla folrnl de Estas caracteríslicas gerâis do íato de reprcsentação explicam os locos
r'onhecimcnto é dilcrellciada, ent[e outliis. clo conhccimento cientíl'ico- dls pcsquisas quc tratam drs representações sociais: considcrilçio dil
Entletanto. é tida como unl obleto dc cstudo tão lcgítimo quanto cstc, clevido particulalidade dos objetos; dupla centração - sobre contcúdos c sobrc proccsso-\:
à sua itrportância nlt vida social c it elncidacio possibilitadora dos processos atenciro à dirnersão social suscetível cle infletir a ntividade fepresentrti\ l c s(Lr
r o;.nrtir o. e J.r. inl(rJfic'.o.i.rr.. produto. Partinclo da riclueza lenonrônica obscrvada intuitivamente, as diÍêÍcntes
Gcrl1lnlentc, r-cconhec('-\! (lur ir\ rcpre\ent.lçJes soci rs - unquirrlo abordugens vrio recortirr objctos que seriro colhidos, lnrlisaclos e manipul.rdos.
sisterras de inlcrprcttçao quc rcgem nossa rc)ação corir o rrundo e corl o\ graças a procedinrenlos empíricos comprovados, parl descmbocar em constnlctos
ourros - olllrnt4m ç o..rgaqjz.4nr as condutas c as corrrunicrçircs sociiLis. Da científicos. sujeitos ir tratamento teórico. .A riciueza dlt noção dc rcprc\cntir(i.,
ntesma Íbrnl, clas intervêm t:m Processos vrtriarlos, titis como a drlusrLo c ii
- como a divcrsidldc das correntes de pcsquisii plesta-se a ângulos dc atlquc
assir.nilaçiio dos conhccimentos, o ilesenvolvinrento individual e colL'livo. il e óticirs lariados no triltârrcnto dos fenômenos replesentlltivos. VamL)s tcnlltl
deiiniçiiq rla-s identidailcs pessoais c socinis, a explessalo clos grupos e us :\'. rlrr :rl,lllrt.l\ pi:l:t.. nl.ltore\. \4J. irnt(\. umll cIn.lirl.rr.iL)
llans[ormações sociais.
Conlo tênômcoos cognitivos, cnvolvcm a pcrlcfrcil social dos inilivírluos V rr.",LtD,rDt.:. t ltÀNs\,ERsÀl-tDAI)F. E cot\tpt-ExtDAIlt-l
com as implicações atttit,as c ronn.llvir\. eorrr .rs rnteriorizaçocs clc
expcliências, prlilicas. mrtdelos dc corrdutas c penslrnclrto. socillrncntc
Qualquer pessol clue observe o clmpo c : pesqLrisa hqe cristrliz,uti,
ineLrlcl,l,-,s ou trlnsrnitidr.r' pellr conrunicuçao socilrl. cluc a ell estiro ligldlrs. crn tolno da noção de representação social rão deixarír dc notiLr tris
- Por isso. sr'u cstLrdo ron\tilui Llma contribuiçlLo dccisivl paÍa r llbordlgcnl dn
, laridades marcantes: vitxlidade. trans vcrsaliclade e complexidiide.
par t icu
vida mentirl individual c coletira. Dcssc ponto dc vi\til. as representuç(-)es .A vitalidrde: eis uma noçiro cloravantt consagrada nas Ciências
sociais são tbordadts concolnitantemerlte como proçitrto _e proccsso de uma ÍIumanas lor um uso que. jír há unra década, tende a se gencralizar. mits que.
a(ividadc .l!'lpropriação da rcalldade cxterior ao pcrlsümL'Írto c dc elabonrçlio desde Durkheim, tcm sido constanic. Rapidantenle cilídâ em dcsuso. iI n(,!.1,1
psicológica e social clcssa lcllidade. Isto cluer clizcr que nos interessamos por
de representaÇão social, após ter sido relançada na Psicologia Social por
Ltma modalidade dc pensamento. sob scu lspccto constiluintc - os processos
N'loscovici. ainda leve de passar por um período de latência, àDtcs dc mobilizar
c constituído - os produtos ou conteúdos. \Íodalidade de pensilmcntu euJ.r uma vastir correntc de pesquisa da qua) a bibliogrulia constante no início
especificidade vem dc seu cariiter social. desre livro dir uma primeira idéia. Esta intensificação ó irtestada não só pela
De fato, reprcscntar ou se lepresentar-colresponde a um ato dc pelsa- quantidade de publicações, mxs tlmbénr pela diversidade dos países onde é
mento pclo qual urn su.jcito se lepoltir a um objeto. Estc pode ser tanto uma empregada. dos domínios onde é aplicada. das abordagens metodológicas c
pessoa, quanto uma coisa, urn llcontecimcnto material, psí(luico ou social, unr
teóricas que inspira.
fenômeno nirlulal, urna idéia. uml tcoriir etc.: pode ser tanto real qrrar]io Tai conciuista se explica pelâ supressaro de obstáculos de tipo
imaginário ou mítico. mas é sernple necesshlio. N" alo hii relresentaçio \cnl cpistemológico que impediram o desdobramento da noção. Sob esse ângulo.
objeto. Quanto ao ato de pensirnento pelo qual se estabelece a relaçiU urtrc Nloscovici (cap. l) aborda a fasc que prccedeu a retomada da noçio de
sujeito e ob]eto, ele possui cru'ilcterísticirs cspccííicrs enr relação a outras
rcprcsentação sociiil. Para o período scguinte, indiquci cm outras obras (Jodelet,
24 DeniseJodelet
- .Represenhções socixis: um dominio em erpansio
25

1984 e 1985) como seu desenvolvimento teve de enfrentar, denirc outros, um fator de transformação sociâl (Bourdieu, 1982; Faye, 1973). Desde 1961,
duplo aprisionaniento. Primeiramente, em Psicologia. pol'causa do domÍrio algumas propriedades são atribuídas à representação social por Moscovici,
do modelo bchaviorista, que negàva qualqucr validade à considefttçio dos com quem convergem, por outro lado, a Sociologia do Conhecimento elaborada
Íenômenos ntentais e de sua especificidade. Em seguida, nas Ciências Socilis. no quadro do interacionismo simbólico (Berger e Luckman, 1966), a
em virlude do domínio de unr modelo marxista. cuja conccpção mecrnicist;L Etnometodologia (Cicoulel, 1973) e a Fenomenologia (Schutz, 1962), que
das relações entre infra e superestmtula negava qualquer legitinridade a este relacionam a realidade social a uma construção consensual, estabelecida na
campo de estudo, tido conro povoado de puros reflexos ou suspeito dc interação e na comunicação.
idealisrro. iVÍas a evolução das pesquisas e as nrudanças de paradigmas nas Entretanto, esta dinâmicâ - que ultrapassa amplamente os limites do
divelsrs Ciências Humanls der olveram à noção toda sua atualidtde. abritldo domínio psicossociológico - não é suficiente para explicar sua fisionomia
p( rspc(Il\.15 l.ttrnJ:rs. inclttsive (oln llo\rl\ l(squisir{ atual. É preciso também se reportar à fecundidade da noção, mensuúvel pela
Em Psicologia produziu-se uma reviravoltl, descrita por MlrkLrs c divelsidade das perspectivas e dos debates que suscita. Uma das razões que
Zaionc (1987), que fbi ao encontro do ponto de vista defendido desde I96l levaram Moscovici (1969, 1984) a restabelecer o uso da noção foi a rerçào
por JV{oscovici. Nos anos 70, com o dcclínio do Behaviorismo e as revoluções contra a insuficiência dos conceitos da Psicologia Social, a limitação de seus
do net ktok, e, ros u'ros 80, do Cognitivisnro. o paradigma eslírnulo-resposla objetos e paradigmas. Esta perspectiva crÍtica pode provocar uma certâ
(S-R) se enriqueceu progressivamente. Em um primeilo momento, o srUett. ,igrprecisão nocignal, razão também de fecundidad_e,-Na realidade, aurorizou
empreendimentos empíricos e conceituais diversos e a articulação da concepçâo
- dcnorninado organismo - é integrado ao esquema original como instâncil
rncdiadora cntrc o estímulo e a lespostr, tlirduzido pelo esquema S-O-R. Enr psicossociológica à de outms disciplinas. É também motivo de vitalidade nâ
um segundo motrrcl]to. levando-se em conta as estruturas ment.il\, l\ medida em que autoriza interpretâções múltiplas da noção e das discussôes
representaçõcs - estirdos psicológicos internos correspondentcs a urlir que são fonte de avanços teóricos. Este florescimento se relaciona diretamente
cotlstmçaro cosnitiva ativa do ambiente, tributúriil de fatolcs individuais c com outras características que mencionamos: transversalidade e complexidade.
sociais rccebenr unr papel criador no processo de elaboraçuo dl conclirta Situada na intcrface do psicoiógico e do social. esta noção interessa a
O que ,-, esqucml O-S-O-R exprirne, que, por srir vcz coincide con a p[o]loslil todas as Ciênciils Humanas: é encontrada cm Sociologix. Antropologia c
de N{oscovici ein sua crítica ao esquema S-R. ao dizer que a lepresenrit!,.r(i História, estudada em suas relações com a ideologia, os sistemas simbólicos
deternrina ao mesÍno tcmpo o eslÍnulo e a resposta. é clue niro há "luplLrr.r e as atitudes sociais refletidas pelas mentalidades. Sperber (cap.4) e Laplantine
entle o univcrso cxtcü)o c o universo interno do indivíduo (ou do grupo)' (cap. !3) ilustram assim a operacionalidade da noção e seu enriquecimento
( I969, p. 9). U. em Antropologiâ. Ela alcança igualmente. via processos cognitivos envolvidos,
O conceito. renovador cnr Psicologia Social, apiirece'como reuniÍicador o campo da Psicologia Cognitiva, da cognição social com a qual Doise (cap.
nas ciôncias sociais. A mudança das concepçõcs de idcologia (lransformada, l0 e 16). Semin (cap. ll) e Hewstone (cap. 12) examinam algumas
com os traballros cla escoll althusrcriana, cm instância autônoma, contexto d. ârticulações. Remetendo a uma forma de pensamento, seu estudo diz respeito
toda pr'ática, produzindo elcitos de conhecimento e dotada de uma cficácia também à lógica abordada sob seu aspecto nâtural, por Grize (cap.6), ou
própria) leva a superlr as aporias da hierarquizaçao dos níveis da estnlturil social, por Windish (cap. 7). Ainda não 6 tudo. Como mostram Kaês (cap.
social e l reabilitar a rellresentação. Estal é conccbida pelo historfudor como 3), Chombart de Lauwe e Feuerhahn (câp. l5), pode-se observar na produção
um clemento necessário à cldeil conceitual, pelmitindo pensar "as relaçõcs representatiya o jogo dâ fantasmagoria individual e do imaginário social, o
entre o material e o nrental la evoluçÍo das sociedadcs" (Duby, 1978, p. 20). que nos remete à Psicanálise. Da mesma forma, o papel da linguagem nos
O 11rt.!gpóiogo Ihe conferc as seguintes propriedades: particularizar, enr cada fenômenos representativos analisados por Harré (cap.5) envolve também a
formação social, a ordem cultural (Héritier, 1979)l scr constitutiva do rcill e reflexão dos teóricos da linguagem (Fodor, l98l; Searle, 1983). Esta
da organização social (Augé, 1974; Godelier, l9E4): tcr uma eficácia próprir multiplicidade de relações com disciplinas próximas confere ao tratamento
em seu vir a-scl Para o sociólogo, elt explica comportantentos polí1icos psicossociológico da reprcsentação um estatuto transverso que interpela e
(Micheht c Simon. 19771 e rciigiosos (Maitre. 1972) c aparece, r i.i sua .
ârticula diversos campos de pesquisa, reclamando não uma justaposição. mas
objctivação na Iingulgcnt e suir accitaçio pelo discurso polÍtico, conro irnt uma real coordenação de seus pontos de vista. Sem dúvida, nessa
Dcnrsc.lodelct Ileprcscnlrçôcr sotllus: turr donlrrrro clll c\i)iLrltir0

transversalidade reside uma das contribuiçõcs mais promissoras desse Além disso, deve-se desenvolver a teoria em uma abordagem que
de estudo. [cspeite a complexidade dos fenômenos e da noção, mesmo que isso parcça
Pofliutto, a noçÍo de rcpresentaçiio social aprcsentâ, como os fenômenos um grande desafio.
que ela permite abordar, unra celta complexidatie em sua clefinição e em scu
tratamento. "Sua posição mista na encruzilhada de uma série de conceitos O tiÇ1,\!1, t,l. t-s1t,,, t,\s kt'pRI:(HNT\çôt s s,rct.\ts
sociológicos e de conceitos psicológicos" (Moscovici, 1976, p. 39) implica
sua rehçao conr processos de dinirnicirs social e psíquica e cont a elabo rçio Durirn!e mais de vinte anos. constituiu-se, particularmerrte ent Psicologia
de um sisterra teórico trnrbón complexo. Pol unt lado. devc-se lr'var. ent _
Social, um cumpo, objctô de mrtériirs de revistas e de comentiirios diversos
considenrçuo o funciot'tamelto cognitivo e o do trparelho psíquico, e, por (Codol. I969; Farr, 1977. 1984 e 1987; Harré. I984; HcLzlich, 1972; Jodelct.
outro. o iirIlCi0nlrrnento do sistentil social, clos grupos e das ilttelxçôc\. n.r l9il:1: Potter e Litton. 198-r), cujas conquistlrs upresentlrn nÍtidüs
ntedida erl qLrc alttlrrn a ginesc. a cstrLrlunl e .r evoluçio diis represeltaçt-rus collvelgôncias. EntretantO. a rruItipiicidadc das pcrspectivas desenh telri1órios
que siio afctadls por sut intcncnção. Conto verenros, vasto programa, lon-qe mais oLr menos autônomos, enr Íinçiro da ênfase dada a aspectos específicos
r1c jti efetivudo, cstli aincla crll curso. \Ils ú pleciso clizer: as r.epresentiLçiies
clos lcnônrcnos rcprcsclrtiltivos. Daí rcsultu um r:spaço de estutlo
sociais dcvern ser Lrstudlldiis alti(jLlliindo sc elemcDtos afetivos. rnent.lis c multidinrensional que vauros tentar billizu[. com o auxílio do quadro I. quc
sociais c iutcgritndo ao lrdo du cognicÍo. da linguagcm e da comLlnr(it!io sintctizl as problcmÍticlis e scus cixos de descnvolvirlcnto.
a considcraçio cl.Ls rclrções socluis quc alct.im ils lcpresentações e a rcalidaclc No centro dessc tluldro Iigura o csqrrenrl dc basc, clue caraatenz.r ir
ntiltet ilt l. so.ial c iclc'litir,l sobre a qtral clls tôm cle in1cn, ir. É ,r".s,, par.p".l,, ., rclllcsenlaçato conro Llrll fbrnra dc sabcr pr/rtico lir:ando url sujeito a unr
,que r\loscorici lilrrulorr e iiescnr,olrcu suu tcoria (cf. principalrnente I9i(r.
objeto. Toclos os tcrritórios se lelrneÍn Ire\\!'e\qut:lrrJ. nrL'\rr, que confilam
1931. 19111 c l9SJt. clue cr)nstirui l únicii leDrativa sistcmiitica e slobnl r scu\ tcnnos Lrrl rlcirncc c irlplicaçôcs variÍr'cis. Nelc encontranlos elententos
eristenlc hoic crrl dil. conro lenrbla Kerzlich (J972). e relaçõcs. jir rrencionailos, cujas modalidades as pescluisus bu.scanr cspccrficar
l)r. fxlo, nllra crploraciLo cnt permtncnte tcnsão entrc os pólo\ e explicar'. Vejrnros quais são. anles <ie exaninar as pesquisas:
psicr,lógico c social. os clilelentcs lrll)rlhos desenvolvidos em Ilboratór.io.,
cir canlpo livc|irnr lr-ccliientcnrcnte sL:u focit. pot preoÇupaçio heur.Ística. sobr.L: . a [epresenlaçio socill ú scnplc rep[escntaçaLo dc rir:unra coisa íoblctot
.lslt!-ctos ltL,lr circrrnscIitrts dos le tintc,nos reprcselltativos. Niro sent corrcr. e cle alguún (\u.icito). As crrrilcterísticxs i1o su]eito c cio objeto nelu
iis r,c'zcs. o lisco de lcvli-los ir aconlccirnantos intrl-indivicluais ou de dilrrí- se nnnittstan:
los cm processrts idcolrigicos oLr cullultis. C) dcsenvolviricnto tcórico dx . a reprcscntaçaro sociirl tcm conr seu obleto unra rclaçio dc simbolizlçio
noçlo podr' padcccr c1e lirnitacrlcs e lerluc ion isrnos, o que é prcciso crrt.rr, (suhstituinclo-o) c de interpretaçartr (con[crinc]o-lhe si-snilic.rr ücs r.
conro rrrblinha Doisc: F"stas sigrriiicaçôes resultam dc Lrrtta iitividadc qLIc irz da [eprc\cnrr\ri,
Lrnril construçaro c unl H\tl aljvidiLcle pode rerreter
expressno riit suicilo.
À pluritlidrd0 dc llbor(lirscns dr noçio c l diversidrdc dc signilir:ações quc vciculinl
a processos cognitivos - o srucito é entaro consrdelldo dc urn ponto dc
lorcor Jclir rm insllurncnro dc lrlLr.llho dilícil dc mÂnipular. N{as a prripl.il riqLhza vista cpistênrico . assim con]o rr rnecrnisnros intrapsíc}ricos (proJcçi,c\
t a vur'ir'chclc dos l[Jbn]hos inspirrdos por cla Íàzcnl com que sc hesila crn Írr,j
Íantasrrliticas. investinrentos pulsionais. icientitíLrios. r'l)otivrçõe\ eIc.)
I croluir pirr unr ri:ducionisnto quc pri!ilegiarit, por cxcrlrplo, umt iibordagan] o sujeito é considerado de urn ponto de vista psicológico. IVIas a
cxclusi\ ilnlenta psicoliigicl ou sociológicir- Seria cxatlmentc tiru lhe sua litrç;Lo paflicularidadc do estudo clas leprcsentilções sociais é o flto clc integr.rr
tic lnicullçio dc ililcrcnlcs sislcmas cxplicâlivos. Não sc pode eljminar dx nocr() nu .tnillse des:.' fro-c..O. J l(Ilr'nCil C ir 1r.rrti.i1açio. suriii. OLr
llc rcl)resantaçio sociul ds rctarôfcias aos múltiplos prcrccssos inclividLraLs.
culturais, tjo sujeito. É o clue a distiu-gue cle unra perspectivil puranlentc
intcriIrli\ iduuis. intcr-!rlrpuis c idaológicos quc icqiictltclllelÍe rcâScm nluruiuncnl(. cogrlitivista ou clfuica. Por outro lado, ela tamllém pode relaeion.ir sc
uns tos outros c cui:rs ilin,lrrriclls dc colÚLtnto rcsulUnt nessas rcalidades vivls qur: à ativiclade rnental de um grupo ou de uml colctividadc. ou considcrlu
sào. cnl úllin)r insLi cix. ils ri!r.\entrç(lcs socjais (Doisc, 1936. pp. l9-Si1
essa iltividade como o elr:ito dc proccssos ideológicos qur: atraves\am
os indivícluos. Illais adiante voltürenos a csses po'rtos esscnui.ris.
Uenrse Jodclet BlpreseÍlhçõcs sociris: unt domínio em cspansío

. jforma de saber: a representação será apresentada como uma dos conhecimentos a que fazem referência Schiele e Boucher (cap. l9). Ecoa
rmodelização do objeto diretamente legível em (ou
inferida de) diversos nos trabalhos que examinam, além da interdependência entre os processos
suportes lingüísticos, comportamentais ou materiais.]Todo estudo de
f
de representação e de vulgarização (Ackermann et al., 1963, 1911 e 1973-
replesentação passará por uma análise das características ligadas ao
741 Barbichon, 1972; Roqueplo, 1974), a ênfase dada, com uma insistência
fato de que ela é uma forma de conhecimento; crescente, em didática das ciências e formação de adultos, ao papel das
. qualificar esse saber de prático se refere à experiência a paltir da
representações sociais como sistema de acolhimento, podendo criar
lqual ele é produzido, aos contsxtos e condições em que ele o é e. obstáculos ou servir de ponto de apoio para a assimilação do saber científico
sobretudo, ao fato de que a reprcsentação serve para agir sobre o e técnico (Albertini e Dussault, 1984: Astolfi, Giordan et al., 1978; Audigier
mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e eficácia sociais. ct â1., 1986).
A posição ocupada pela representação no ajustamento prÍrtico do
Estas duas óticas convergem em felação ao fato de que o conhecimento
sujeito a seu meio fará com que seja qualificada por al-euns de ingênuo não deve ser invalidado como falso ou enviesado, o que vai ao
compromisso psicossocial. encontro de cefios postulados cognitivistas, segundo os quais existiriam vieses
naturais, inerentes ao funcionamento mentâl espontâneo (pol exernplo, na
As questões levantadas pela articulação deste conjunto de elementos e atribuição de causalidade). Trata-se de um conhecimento "outro". diferenre
dc' relações podem ser condensadas na seguinte formulação: "Quem sabe e
da ciência. mas que é adaptado à ação sobre o mundo e mesmo corrohorado
de onde sube?"; "O que e como sabe?"; "Sobre o que sabe e com clue por ela. Sua especificidade, justificada por formação e finalidades sociris.
efeitos?", Estas perguntas desembocanr em três ordens de problemáticas constitui-se em objeto de estudo epistemológico não apenas legítimo mas
apresentadas, da esquerda para a direita, no quadro l: a) condiçóes de produção
necessário para compreender plenamente os mecanismos do pensamento, além
e de circulação; b) processos e estados; c) estaruto epistemológico das de ser pertinente perra tratar do próprio saber científico. exemplificldo por
representações sociais. Estas problemáticas são interdependentes e abmngem
Palmonari e Zani (cap. 14) no campo da Psicologia.
os temas dos trabalhos teóricos e empú'icos. Assim, aproximamo-nos de um postulâdo fundamental no estudo das
Se rcompanharmos o histórico do campo de pesquisa, teremos de nos
representações sociais: õ da inter-relação, da correspondência, entre as formas
voltar à rclação da representação com a ciência e a sociedade. Dc fato. de organizução e de comunicação sociais e as modalidades do pensamento
quando Moscovici retomou o conceito de Durkheim, não foi apenas numa
social, considerado sob o ângulo de suas categorias, de suas operações e de
perspectiva crítica, que tinha, aliás, uma intenção consrrutiva: dar à psicologia
sua lógica. Sua primeira formulação foi feita por Durkheim, que insistiir no
Sociâl objetos e instrumentos conceituais que permitissem um conhecimento isomorfismo entre representações e instituições: as categorias, que seÍvem i
cumulativo, em contato direto com as verdadeiras questões colocadas pela classificação das coisas, são solidárias às formas de agrupamento social: as
vida social. A obra Á psicanálise, xn imagen e seu público, seguindo a
relações entre classes o são face àquelas que organizam a sociedade. O
deriva de umâ teoria científica - a Psicanálise -, à medida que penetÍava na postulado foi diferentemente desenvolvido, segundo os autores tenham dirigido
sociedade, entendia estar contribuindo para uma psicossociologia do
sua atenção sobre o vínculo existente entre comunicâção social de um lado
conhecimento então inexistente, ao lado de uma sociologia do conhecimento
ou estÍutura social de outro, e reprcsentações.
florescente e de uma epistemologia do senso comum recém-nascida (Heicler.,
1958). Este estudo do choque entre uma teoria e os modos de pensamento
Soene o pepet- DA coMUNIcAçÁo
próprios a diferentes grupos sociais delimitava como se opeÍa a transformaçâo
de um saber (científico) num outro (senso comum) e vice-yersa. Dois eixos
O postulado visto acima é uma hipótese forte em Moscovici, que explica
de preocupação estáo aÍ associados: o primeiro se Iiga à fabricação de um
os fenômenos cognitivos a partir dâs divisões e interações sociais. Por diversas
cónhecimento popular. à apropriação social da ciência por uma sociedade
I razões. insistiu particularmente no papel da comünicação social: primeiro.
pensante, composta de cientistas amadores, e ao estudo das características
trâta-se de um objeto próprio da Psicologia Social que contribui, de modo
distintivas do pensamento natural em relação ao pensamento cientílico
I original, para a abordagem dos fenômenos cognitivos. Em seguida. a
(Moscovici e Hewstone. I983 e 198.1). O segundo eixo diz respeito à ditirsão
comunicação desempenha um papel fundamental nas trocas e interações que
I

I
llcprcsrnlilçôes socris: tlnr donÍtio enr erpms:io
-

concorfem para a criação de um univelso consensual. Finâlmente, remete â transformí-lo em artellto. escarnecer dcle. introduzi-lo num outro contexto a
fenômenos de influência e de pertença sociais decisivos na elaboração dos (íulo de prcrnissn. ou, cm rlguns casos, verificá-lo, comprová-lo e passá-lo lal
sistemas intelectuais e de suas fotmas. qull ir oulr. pessoi. que. por suil vez, o passlrá adiante. A cxpresslo 'é um llto'
A inciclência da comunicação é examinada por Moscovici em três níveis: não dcfine a essência dc ccrtos enunciados. mas alguns pcrcursos pela multidio
(Lâtour, I983).
l) Ao nível da emelgência das representaçÔes cujls condições afetâm
os aspectos cognitivos. Dentre essas condições, encontram-se: a dispersão e Este percurso niio diz respeito âpenâs ao fato científico: esth na base
a deÍasagern das inlonnações relativts ao objeto representado e que siio de muitls produções rnentais institucionais, Isso é particularmente visível nas
desigualmente acessíveis de acordo cotn os gnrposi o foco sobre certos aspectos comunidades urbanas ou nrais. cujas unidade e identidade são asseguradas
do objeto, em tunçâo dos interesses e da implicaçiro dos sujeitos; a pre\si-Io pelas trocas informais estabelecidas entre os grupos "co-ativos" (Maget, 1955)
à inferência ret'erente à necessidade de a-eir. de tomar posição ou de obter o que as compõcm- Eles partilham o mesmo tipo de atividade, constituindo, de
reconhecimento e a adesão dos outros - elementos que vio diferenciirr o modo dialógico. o sistema no[mativo e nocional que rege sua vida profissional
pcnsamento natural em suas operações, sua lógicil e seu estilo; e cotidiana. Este processo aclara os obstáculos encontrados pela transíerência
2) Ao nível dos processos rle formição das representações' a objetivaçiio e pela mudançu tecnológicu exemplificada por Darré (1985), a propósito da
c a ancorilSem que explicam a interdependência entre a ltividade cogniti! clirçÍo de irnirr:ri: no mr'io cirrnl'onis.
c suas condições sociais de exetcício, nos planos da orgatlização dos conteúdos' Eristcm igualnrente causas cmocionais na fabricação dos ttüos. Dessa
das significações e da utilidade que lhe são conlcriclas: formu. a conrunicaçiro serve de vÍlvLrla plrl liberar os sentimentos dislóricos
3) Ao nível das dinlensões das representitções tclacionadas à edilicaçiro susci(ados por situlções colctivirs ansiógcnas ou mal toleraclas. É o que ocorre
da conduta: opinião, atitude e estereótipo, sobre os quais intervêm os sistenus com os Íenômenos dc boatos que su[gem tieqüentemente no meio urbano por
cle comunicaçÍo midiáticos. Estes, segundo pesquisas dos el'eitos sobre sua ocasiÍo de crises ou conflitos irrtcrgruplis (Morin, 1970). O medo e a rqeiçiro
audiência, têm plopriedldes estrutürais diferentes. correspondentes à difusão' da alteridade. cntre outros. suscitarn trocas que dão corpo ir informlçõc.s ou
à propagaçÍo e ir propaganda. A difusÍo é relacionitda com a formaçao drs acontecimenros fictícios. Assim. criam-se verdadeiras "lendas urbanus"
opiniocs: a pÍoPagaçalo com a lbrnlaçÍo dls atitudes e a propaganch conl a (Brunvand. l98l ), cujos tem s apÍesentam unra notável estabilidade no tempo
rJos estereótiPos. c no espaço (Crmpion-Vinccnt. l9u9). A irtuaçÍo do imaginário coletivo na
comunicação é tarnbém ilustrldlr pelo discurso soblc a insegurança
Assim, a comunicaçito social, sob seus asPcctos interindiv iduais. (Ackcrmann. Dulong. Jcutly. 198-3). Os relatos quc as vílimas de rgressio
institucionais e midiiiticos, aparece corrro cordiçiro dc possibilidade e de (roubos. ataclues etc.) lirzem do que lhes aconteceu seguem ao pé da letruL um
cleterminação das representaçôcs e do pensanrento sociais. Numerosos autores mesmo roteiro. retomado colctivanrcntc, e permitem situlr-se numa mesma
desenvolveram as impticaçôes de trl estatulo. Grize (1984 e neste livro) categoria vitirrrda, lbrma dc uma nova solidariedade social. Encontramos
relaciona os plocessos de esquenlalizxção das reprcsentações e as propriedadcs fenômenos semelhantes ern relação à Aids.
da lógica natural às reiações de influência envolvidas nas situaçôes de Em seu capítulo. Sperber insiste sobre a importância de considerar a
interlocução, influência essa que visa a fazer de suas idéias evidências circulação das representaçôes culturais. Sua observaçío vai além da
objetivas. Da mesma forma, as lelaçôes de influência íundamentam o papcl Antropologia. As pesquisas que aboldlm i1s rcprese[tações como formas de
da comunicação nos meios científicos (KnoÍr-Cetinâ, l98l), quando se trata explessio cullural remetem nrlis ou nrenos diretamente a tais processos de
da fabricaçâo da ciência e de seus t'âtos: difusiio, quer se tratc de códigos sociais. que servem para interpretaÍ as
experiências do indir,íduo em sociedade por exemplo, a da doença (Herzlich,
Dc todas Âsâlividldcs humdnâs. a lirbricâção dos lÂtos é À mâis intcnsamcnlc 1969) quer se trate de vâlores e modelos que servem para definir urn estatuto
-,
social: tbi essa cvidência que PeÍtÍtiliu recentemenlc à sociologia das ciências
I
sociul por exemplo, a mulher, a criança (Chombart de Lauwe, 1963 e l97l )
-
lilcrâlmentg, nas mios dc tlnlil
dcscnvolvcr,sc. O dcstino dc urn cnunciado cstá,
- ou, ainda. a dos sÍmbolos e inviuiirntes que servem p a pensar entidades
I multidior câdx uln podc csquccê-lo, contradizô'lo, traduzi-lo' modilicat-lo coletivas - por exemplo, o grupo (Kaês. 1976) e a loucura (Schurmans, 1985t.
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D^S RF:PITESENl À(Ot§ S(X rAr\ RETRESENIAÇOES SOCTATS
- REPRESENTÀçÔES SOCIAIS

Cul'lra (nrlrra / dc gn'|o)


. Íúllçes enrr. pcnsrmenros
. nrudelos nrurnl c.i.Dri6c.
. dinrsiô rios coihecimenrôs
. rransiôrnr"çâo de unr slbcr on

. elií.nnnogia do s.nrc corum


1-!rSun!en). ( .nnúr.nç.i,) Fúrr\r,r-:.r-;,,ú
Itrfrt!únraçio cCrénci.

' !ülilhr c \nr.ul, sorirl


...nr§(' kltinó!1ro, l,l!t,1!ico

- lu!Jr c n,dçi,,so.iris
.ompnnniso psi.osoci

PRÁTrc^

ExJ)eriêncid Açao
Ftrnçio drs tuIrrcs{nraça)ús Ír.intr
Eicícir drs EIr.senrâÇõcs soci!is

Quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe? Sobre o que sabe e com que efeitos?
Quadro l. O espaço de estudo das representações sociais
DcniscJodelet ncprcsenltçõcs socixis: ur» donrírio clll cxpins:io il
35

as norrnâsinstitucionais e os modelos ideológicos aos quais obedecem Gilly Furçóes soclers E RELAÇÃO coM o REAL
(câp. l2) exâmilra a artictrlação entle estes elementos no caso do sistemlt
educacional. Vergês (cap. l8) analisa sob uma ótica semelhante os Compreende-se que a representação preencha certas funções na manu-
componentes e determinârtes das rePresentações econômicas tenção da identidade social e do equilíbrio sociocognitivo a ela ligados. Basu
Outros trabalhos, cr:mo o de Kaês (1968) e o de Larrue (1972) observar as defesas mobilizadas pela irrupção da novidade. Qüândo a
sobrc as representações da cultura, ilustram o fato de que partilhar uma Psicanálise apareceu, foi sentida como uma ameaça, porque infringia valores
mesma condição social (a condiçio operária) - que é acompanhadâ de e modelos de pensamento vigentes em diferentes grupos religiosos ou políticos.
uma relação com o mundo. valotes, modelos de vida, imposições ou desejos Da mesma forma, vêem-se âgrupamentos políticos considerarem como
especÍficos - produz efeitos sobre o modo de conceber a cultura. O mesmo perigoso o fato de se informar sobre a teoria marxista ou de falar dela, como
é vhlido para a pressío exercida pela ideologia dilundida pelos aparelhos se, com isso, corressem o risco de perturbar seus esquemas mentais.
de Estado. como o Judiciário (Robert e Faugeron. 1978), e que estruturl. Todavia. quando a novidade é incontomável, à ação de evitii-la segue-se
por meio das atitudes sociais. os campos de representação relativos rros um tlabalho de ancoragem, com o objetivo de torní-lâ familiat e transformir-
diferentes domÍnios e atores do sistema penal. Em todos estes casos. a Ia pam integrá-la no universo de pensamento preexistente- Este é um trabalho
partilhâ social se rettrc' a um mecanismo de determinações ligadas à que corresponde a uma função cognitiva essencial da representação e capàz
estrutura e às relações sociais. também de se referil a todo elementô estrilnho ou desconhecido no ambiente
Eltretanto. ülesmo nesses cxsos de deteln]inação. em que a pâttilha social ou ideal. A propósito das representações da inteligência, Mugny e
das representações é um dado pleexistente à conrunicaçilo, podem-se observitr'
Carugati (1985) fazem uma análise sutil desta dialética. A disparidade de
inteligênciu aparece. quando não se dispõe de informação sobre suas causas
fenônrenos de aderência i\s fotmas de pensamento da classe, do meio ou do
sociais (herança cultural. papel diferenciador da escola), como irlgo estrâlho
grupo â que se pertence. por causâ da solidariedade e da afiliação soei.ris.
que chama a atenção e leva a buscar explicações na ideologia do dom,
Partilhar umu idéia ou uma linguagem é tambérn afirmat um vínculo social
mascarando e naturalizando as desigualdades sociais. Esta ideologia atende
e urna identidade. Não taltam exemplos de que essa função é evidente, quanto
t, mais nao fosse na esfera teligiosa ou poJítica. A pârtilha serve à tlirmação
a um princípio de economia cognitiva e é tanto mais facilmente invocada
quanro a identidade social é posta em questão pelas diferenças de inteligência.
simbólica de uma unidade e de uma pertença. A adesão coletiva contribui
como é o caso parâ pais e professores. Desse modo, acrescenta-se à função
para o estabelecimento e o reforço do vínculo social. Ora, como observa
cognitiva uma função de proteção e de legitimação.
Douglas (1986), nas Ciências Sociais plendcmo-nos pouco "ao papel da
Tratâ-se de processos igualmente observáveis em escala coletiva. Jú
cogniçiro na folnração do vínculo social" (p. l9). Acrcscenta que se levrt
mostrei ( 1985) que, numa comunidade rural onde vivem doentes menrais em
pouco em consideração o que se sâbe muito bem: "Os grupos têm influência
liberdade. a população constrói um sistema de representâçóes da loucura que
sobre o pensamento de seus membros e desenvolvem até mesmo estilos de
lhe permite não só gerenciar sua interação cotidiana com eles, mas também se
pensamento distintivos" (p, 2l). Olhando pelg ângulo das representações e
i defender de uma presença quejulga perigosa para sua imagem e sua inregridade.
das solidariedades que elas engendram, estamos prontos a elucidar os aspectos
Teme ser assimilada aos dôentes e não pode aceitar que sejam integrados, com
] cognitivos que constituem a matéria e a trÍlma da vida social. Assim, a plenos direitos, no tecido social. Desenvolve uma representação da loucura,
i capacidade de extensão das representações permite captar, ao nível dos postulando uma insuficiência do controle cerebral sobre o funcionamento
I atributos intelectuais de uma coletividade, a expressão de sua particularidade. orgânico e mental, que criaria um impedimento à retomada de uma atividade
í
l É o que mostrou Moscovici a propósito das representações da Psicanálise, e de um lugar sociais normais. Assim, é possíveJ manter os doentes num
*pelas quais os diíerentes glupos definem seus contortlos e sua identidade. A estâtuto alienado e restritivo, opor-se a qualquer reivindicação de inserçào, em
ii
expressão identitária jí havia sido sublinhada por Durkheim: "O que as pé de igualdade, na localidade, no que a representação assemelha-se à ideologia.
lt
representações coletivas traduzem é o modo como o gÍupo se pensil em suas Estas funções se acrescem às de orientação das condutas e comunicações,
li relações com os objetos que o âfetam" (1895, p. xvii).
li de justificação antecipada ou retrospectiva das interações sociais ou relações
tl intergrupais (Doise, 1973). No que chegamos a uma outra especificação do
ti

E
DeniseJodelet ---Ilepresentxções sociais: um domínio em expansáo J7
36

cari'itcr social das representaçõcs, com duas conseqiiências maio[es. embora propósito das representações da natureza e da florestâ. A primeira está
dii'erentes. Uma diz fespeito ao estudo das replesentações: o social niro é carregada de significações opostas às da cidade, espaço de pressões sociais;
unidintensional nls teprcsentações e pode-se espcrar tel de repoüá lo, segunclo a segunda, de imagens infantis que remetem ao corpo e à sexualidade.
os casos, à piutilha e/ou irs determinações, e/ou às lunções sociais da reprcsentaçio. Enfim, a subtração coresponde à supressão de âtributos pertencentes
A segunda corrseqüência rernete ao estatuto epistelrológico riu ao objeto: nâ maior parte dos casos, resulta do efeito repressivo das normas
representaç:ro. Do clue acabamos dc ver', ressalta seu cari1ter prático. isto é. sociais. Encontramos uma ilustração doravante clássica no esquema figurâtivo
orientado pirm a açiio e pal. â gestio da relação com o muldo. Como diz da teoria psicanâlítica, destacado por Moscovici (1976). A representação
Iriaget (1976), ela permanecc urn modo dc conhecimento sociocônlri.o, lr comporta conceitos centrais: consciente, inconsciente, recalque, complexo,
serviço das necessidades, dcsejos e intercsses do gnrpo. Esta finalidaclc'e o mas exclui um conceito, tâmbém central, a libido, por causa de sua associaçào
fato de a rcpresentiição ser urnr rccorlstnlçalo clo objeto. cxpressiva do sLr-jc-rro, com a sexuâlidade, sobre a qual pesa, no momento do estudo, um veto social.
prolocat'n uma delasagcrn crn relaçito iI scu rc[crartc. Esta clefasagent pode Da mesma forma, veremos a sexualidade dos deficientes mentais representâdâ
ser dc!ida igullmcntc à intervençio crspeci[icadora dos va]ores c códigos de modo radicalmente diferente por seus educadores e por seus pais, devido
coleri!os. clls inrplrcações pessoilis e dos enlajanrentos sociuis dos indivíduos. aos respectivos papéis, de sua recusa comum de se identificar com eles. Os
Ploduz três tipos de elcito ao nír'el clos contcúclos [epreserltiltivos: r]rsrt-rrçi,cs. primeiros atribuem às crianças uma sexualidade selvagem, brutal e sem
suplcmcntaçõcs e subtrüçôes. afetividade, ao passo que os segundos têm de seus filhos uma visão assexuada.
No clso da clistorcão. todos o\ atribuíos do objcto rcllrcsclttil(lo cstaio mas transbordante de afetividade (Giami et al., 1983).
presentes. porénr ircentuados ou atcnuildos. dc modo cspecílico. Assint ocorrc
coln as lrarlsfornlações na lvaliação dls qualicluiles cle Lrm objcto. de rrnt lto. Esrnnos e pRocEssos REpRESENTACIoNAIS
para redLrzir utna dissonâncil cognitivrL (Fcstin{cr, 19571. Outrt exentplo.
tomado dc Chombrrt de Laurvc (i98.1); a lepresentaçiro de caterolias srter.Lrs A relação a um referente objetivo está sintetizâdâ nâ parte central do
dontinadas (crianças ou mulhercs), que é elabollda tcrdo como refr'rôncir quadro l: os estados e processos que caracterizam a representaçâo como
uma ailtegoriir dominunte (adLrltos 0u honrcns). Os dorrinados tôrn tlaços forma de saber. Significa terminar nosso percurso no que está no cerne de
scmelhtntes ir!)s dos donrinantcs de cluenr sÍo. enlrclilltto, copiados dc dLras todas as pesquisas: o fenômeno cognitivo, após ter situado o que define seu
mancims: seja pot unr tnccanisnto dc rcdução prcscnçu das mesntls aspecto social e funcional, as condições que regem sua gênese, seu
características. mas sob form.i atenulcla. cle nrenor clualidade: na imagem quc funcionamento e sua eficácia.
I mttliu irprc.ettt:r d:rs cnrrnç.r.. ir{ mJrliIil\ se JoIlll\or1,Ir] ('otno 1,. mc tnr... O estudo do fenômeno cognitivo se faz a pârtir dos conteúdos
mas sua autonomia em relaçlio ao entotno é nrcnor; seja por um mcLlLnisnto representativos, tomados de diferentes suportes: linguagem, discurso.
de inversÍo - o dominado apresenta ns cilracterísticüs inversas i'ts do dominiurtr: documentos, práticas, dispositivos materiais, sem prejulgar, no câso de alguns
assim, a inragcrn da cúança aulênticr é o reflexo invertido da imagern clo autores, a existência correspondente de eventos intra-individuais ou de hipóstases
adulto em sociedade. coletivâs (espírito, consciência de grupo). Trabalhar sobre conteúdos objetivados
A suplementaçáo, quc coltsiste cm conferir atlibutos e conotaçôcs qlrc permite não sobrecarregaÍ a pesquisa de debates que o trabalho empírico não
não lhe são próprias ao objeio representado. resulta dc um acréscinto de pode resolver. Isso resulta numa primeira diferença com a Psicologia Cognitiva,
significações devido ao investimento do sujeito naquilo e a seu imagirÍrio. no modo de abordar a representação como saber. Esta se refere a objetos e
Analisando o "preconceito em açio". Doise (1980) Iembra resnltados processos hipotéticos ou apreendidos indiretamente por meio da realização de
experimentais que colocam em evidência uma tendôncia â proietar em outra tarefas intelectuais ou provas de memorização, por exemplo. A abordagem
p.essoa traços que se possui, sobretudo se acreditamos que esscs traços são social das representações trata de uma matériâ concretâ, diretamente observável,
avaliados desfavoravelmente: a projeção soble outro selve para restiiurar a mesmo que a organização latente de seus elementos tenha sido objeto de
auto-estima, uma representação do outro confolme a si nresmo valolrz.r sua reconstÍução por paÍte do pesquisador.
imagem, construídâ a partir de grupos de referência. Num estudo Nesse modo de apreender o conteúdo das representações * tratado sejâ
ambiente, Lugassy (1970) ilustra esse aumenro conoraiivo ir como campo estruturado, seja como núcleo estruturante -, duas orientações,

d
I
DeniseJodclct Reprcseltições soclâls: um domínio e$ expansiio

intes das lr
de sua inscrição num sistema de acolhimento nocional, um já pensado. Por um I

(informações, imagens, crenças, valores, opiniões, elementos


trabalho da memória, o pensamento constituinte apóia-se sobre ô pensamento
culturais, ideol6gicos etc.). Esta análise dimensional é completada pela constituÍdo para enquadrar a novidade a esquemas antigos, ao já conhecido.
pesquisa do princípio de coerência que estruturâ os campos de representação: Por outro lado, a ancoragem seÍve para a instrumentalização do saber,
organizadores socioculturais, ati(udes, modelos normativos ou ainda esquemas conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente.
cognitivos. Estes campos são geralmente colhidos por meio de métodos de Assim, dá continuidade à objetivação. A naturâlização das noções lhes dá
enquete por questionário, entrevista ou tratamento de material verbal registrado valor de realidades concretas, diretamente legíveis e utilizáveis na ação sobre
em documentos (ver na bibliografia os textos que se relacionam às imagens o mundo e os outros. De outra parte, a estrutura imagética da representação
de objetos socialmente valorizados, tais como o corpo, a cultura, a crianç1. se tornâ guia de leitura e, por generalizâção funcional, teoria de referência
a mulher, o grupo, a doença, a Psicologia, a saúde, o trabalho etc.). Também para compreender a realidade.
são abordados do ponto de vista semântico, conjuntos de significações r,'- Estes processos generativos e funcionais, socialmente marcados,
identificados com a ajuda de diferentes métodos de associação de palavras permitem que nos aproximemos das representações em diferentes níveis de
(Di Giacomo, 1981 e 1985;Le Bouedec, 1984; Galli e Nigro, 1986). Nesse complexidade. Desde a palavra até a teoria, que serve de versão do real:
último caso, as pesquisas se aproximam da segunda orientação, que busca desde os conceitos ou categorias até as operações de pensâmento, que os
destacar as estrutüras elementares em tomo das quais se cristalizam os sistemas relacionam. e à lógica natural, câracterística de um pensamento orientado à
de representação. Abric (cap. 8) e Flament (cap. 9) desenvolvem um modelo comunicação e à ação. Permitem igualmente explicar o caráter ao mesmo
teórico que distingue elementos centrais de periféricos, de onde tiram tempo concreto e abstrato das representaçoes e de seus elementos. que têm
importantes implicações do ponto de vista tanto da estabilidade e da nrudançir
um estatuto misto de fenômeno percebido e de conceito. Estatuto ligado
das representuções quanto de sut relação com a príüica. também ao fato de que o pensâmento sociâl remete a eventos concretos dit
Estas propriedades estruturais sao examinadas em representações j1l prática social e deve, para ser comunicado, permanecer vivo na sociedade.
constituídas. Mas. para explicar a emergência das estruturas, é precrso se ser um pensamento em imagem, como destacava Halbwachs a propósito da
lep(rrtar aos processos que presidem a gênese das repfesentações. Esta pode memória social:
ser analisada levando-se em conta as aprendizagens sociais que intervêm no
decorrer do desenvolvimento infantil (Duveen e Lloyd, 1986 e 1988; Emlel Não há idéia sem imagcns: mais precisâmente. idéia c imâgem Dáo designam dois
e Dickenson, 1985; Emler, Ohunu, Moscovici, 1987; ver também os capítulos
clctnentos - um social c outro individual - dc nossos estados de consciência. mas
da presente obra, de Chombart de Lau',ve e Doise). Entretanto,
dois pontos dc vista dc onde a sociedade pode examinar os objctos. ao mesmo
independentemente dos âspectos de desenvolvimento, os processos de formação
tempo em que os silua no conjunto de suas noções, ou em §ua vida e sua históriâ
das representações explicam sua estrut[mção. Isto vale particularmente pâra a (1925. p. 281).
objetivação, processo evidenciado por Moscovici e ilustrado e enriquecido pol
diversos autores. O processo é decomposto em três fases: construção seletiva,
Moscovici ( l98l ) demonstrou â imporiância dessas idéias-imagens na
esquematizâção estÍututante e nâturalização. As duas primeiras, sobretudo,
mobilização psicológica das multidões. Com a ancoragem das representações
manifestâm, como tivemos a oportunidade de observar, o efeito da comunrclcio
na vida coletiva, voltamos à questão de sua eficácia. Há aí um caráter distintivo
e das pressôes. Iigadas à pertençâ social dos sujeitos, sobre a escolha e a
do pensamento social que chamâ particularmente a atenção das Ciências
organização dos elementos constitutivos da representação,
Sociais. O papel das representâções no devir social se ânuncia como um
Conteúdos e estrutura são infletidos por um outro processo, a ancoragem,
objeto de estudo estimulante no futuro.
,, que intervém ao longo do processo de formação das representações, assegurando
sua incorporação ao social. Por um lado, a ancoragem enÍaíza a representírção
CoNCLUsÀo
e seu obj€to numa rede de significações que permite situá-los em relação aos
valores sociais e dar-lhes coerência. Enlretanto, nesse nível, a ancoragem
Concluir um percurso necessariamente incompleto e freqüentemente
desempenha um papel decisivo, essencialmente no que se refcre à realização
demasiado alusivo nos faz avaliar, espero, a especificidade da abordagem das
DeniseJodelet _ _
RepÍesentnções sociais: um domínio em c\pansão

reprcsertações sociais e sua originalidade Suas superposições com o modo É nessa perspectiva que se desenvolvem as pesquisas sobre as
pelo qual a Psicologia CoSnitiva e as Ciências Sociais tratam â representação representações sociais. Cada uma contribui com uma pedra para a construção
deixam-se facilmente entrever; suas divergências também. de uma ciência psicológica e social do conhecimento. Alguns pensam que
Encontram-se objetos comuns com o estudo cognitivo do saber: estudo seria desejável estabelecer um modelo unitário, uma "concêpção
do conteúdo do pensamento, o saber declarativo e processual (saber o quê e multicompatível" (Le Ny, 1985) da representação, devido, principalmente, às
o como); análise desse saber em termos de estrutum e de memória. Contudo, exigências da transdisciplinaridade e da existência de uma "solidariedade
remeter suas camcterísticas estruturais e processuais às condições sociais de entre os conhecimentos e representações elementares de um indivíduo e os
produção, de circulação e à finâlidade dâs representações cria uma diferença sistemâs teóricos âutônomos" (Morf, 1984, p. 425). Não haveria nesse caso
radical. Conhecimento derivado tanto quanto inferido, a representação social riscos de reducionismo e não seria demasiado cedo? A julgar pelo domínio
não pode ser pensada de acordo com o modelo dominante do tratamento da que acabamos de sobrevoar, parece necessário aprofundar a reflexão a partir
informação. Seu estudo permite contornar as dificuldades que este tratamento de territórios autônomos, abordando, cada um à sua maneira, a interface do
levanta, a saber: o risco de reduzir o funcionamento mental ao funcionamento psicológico e do social, tendo como única condição o acesso dos pesquisadores
do computador, como diz Anderson (1983), para quem os "sistemas de
produção", essas organizações de conteúdo onde são detectâdos os mecanismos a um arsenâl de estilos de ârgumentaçáo que tÍânscenderá o que câda uma dâs
e processos cognitivos, são ambíguos pelo fato de serem em parte linguagens disciplinâs trâdicionais propôe. Essa é a esperança no que se refere ao recente
de programação para computador e, em parte, teorias psicológicas. Risco inteÍesse pelo desenvolvimento de uma ciência cognitiva (FodoÍ, 1981, p. l9).
lembrado por Ehrlich, para quem a informática, embora respondendo à
preocupâção de objetivar um funcionamento subjetivo, permanece, entrctan[o, O que vemos atualmente? Um espaço de pesquisa que se vem ampliando
criticável pela "sujeição dos modelos de funcionamento do sujeito aos
há vinte anos, com: uma multiplicação dos objetos de representação tomados
princípios de funcionamento do computador e à problemática dos tratamentos como temas de pesquisa; abordagens metodológicas que se vão diversificando
de textos pelas máquinas" (1985, p. 286). Além disso, o fato de se interessirt' e fazem um recorte de setores de estudo específicos; problemáticas que visam
pela função da representâção e por sua relação a um referente e à comunicaçio a delimitar melhor certos aspectos dos fenômenos representat iv os; â
permite esclarecer o que ainda resta das zonas obscuras na abordagem cognitivu emergência de teorias parciais que explicam estados e processos definidosl
da representação: a de seus funcionamentos e de suas funções (Ehrlich, rdeml; paradigmas que se propõem a elucidar, sob certos ângulos, a dinâmica
a da formação e da transformação dos esquemas cognitivos, de sua relação representacional. Tudo isso leva a constituir campos independentes e dotados
com a linguagem (Arnault de La Menardiàre e de Montmollin, 1985). de instrumentos conceituais e empíricos sólidos, onde florescem trabalhos
Na verdade, pensar a cognição como algo social abre novos caminhos coerentes.
de pesquisa. O mesmo se dá com as Ciências Sociais, que não integram, em Tudo isso dá a impressão de um universo em expansão no qual se
sua abordagem do pensamento social, a dimensão propriamente cognitivir estruturâm galáxias de saber. Ao contrário do paradigma informático, que
e não estão em condições de pensar o social qomo.cognitivo. Isso se impóe recobre todo o esforço científico sob a capa de uma mesma fôrma, o modelo
como uma necessidade para alguns, como Douglas, que Ihes dá como tarefa das representações sociais impulsiona a diversidade e a invenção, traz o
li identificar os "processos cognitivos que fundam a ordem social", estudar desafio da complexidade. E, se é verdade o que diz Aron: "É explorando um
i.
li como "as instituições pensam" e como "o processo cognitivo individual mundo por essência equívoco que se tem a oportunidade de alcançar a verdade.
!r mais elementar depende das instituições sociais" (1986, p. 45). Por isso, O conhecimento não é inacabado porque nos falta a omnisciência, mas porque
tl juntamo-nos a Piagel (1967), que vê a Psicologia e a Sociologia como
l! a riqueza das significações está inscrita no objeto" (1955, p. 167), não
ti que tratam do mesmo objeto": "o conjunto das condutas
-"duas disciplinas terminamôs de explorar sua fecundidade.
fi humanas que comportam, cada uma delas, desde o nascimento e em graus
il
diversos, um aspecto mentâl e um aspecto social" (p. l9), afirmando que
il "o homem é um e que todas suas funções mentalizadas são igualmenre
II socializadas" (p. 20).
II
lt
lt
.llcprcseutrçõcs sociiusr uü domíÍo ell oipansaro 45

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