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Laerte E. Ottaiano
Especial para A RELÍQUIA
Hanga, traduzido literalmente, quer dizer "estampa" ou "gravura" através de chapa. No Ocidente a
gravura japonesa ficou conhecida pelo nome genérico "Ukiyo-ê", ou desenhos do mundo flutuante. O
Japão usa os dois termos concomitantemente: Hanga, referindo-se à técnica e Ukiyo-ê, referindo-se ao
gênero.
Origens
Após a unificação do Japão, por volta de 1600, levada a cabo pelo Shogum
Yeyassu Tokugawa e com o estabelecimento da nova capital, Edo (atual Tokyo), o
país entrou em uma era de isolamento e com isso viu um período de tranqüilidade
que iria durar cerca de 300 anos. A estabilidade política trouxe consigo paz e
desenvolvimento. A nova capital borbulhava de gente, de todos os níveis sociais.
O comércio prosperava e bairros inteiros dedicavam-se a diversões. A vida era
vivida intensamente nos teatros, restaurantes, casas de chá e bairros reservados. Os habitantes de Edo
chamavam esse modo de vida de "Mundo Flutuante". A filosofia então prevalecente era baseada na
impermanência das coisas, onde nada é definitivo nem permanente; ou como o ditado "A vida de um
samurai tem a duração de uma pétala de cerejeira"...Para retratar esse estilo de vida, os artistas da época,
pintores, desenhistas e gravadores, juntos, num esforço comum, produziram desde o final do século XVII
uma forma de obra de arte de baixo custo, destinada ao consumo de toda a população. Retrataram tudo
aquilo que era caro a todos - as cenas do mundo flutuante - determinando assim o gênero "UKI" (flutuar);
"YÔ" (mundo); "Ê" (desenho).
Os Grandes Artistas e Suas Obras
Foi a partir do século XVIII que artistas individuais importantes fizeram história.
Torii KIYONAGA (1762-1815) desenhou a elegância e a beleza das mulheres, de corpo inteiro, e artistas
do Teatro Kabuki em poses clássicas. Seguiu os passos de Shunshô (1726-1793) que também fez esse
gênero, com linhas mais simples.
Kitagawa UTAMARO (1753-1806), considerado o mestre dos mestres, apresentou grandes "gueixas", em
retrato de meio-busto (Okubi-ê) e de corpo inteiro, dando especial destaque às atitudes "eróticas" de suas
beldades. As expressões no rosto de suas mulheres são de sonho e irrealidade e fortemente carregadas de
sensualidade. Junto com ele, e trabalhando "porta-a-porta" Eishi, Eisho, Eiri e Tchoki seguiram a mesma
linha; são desse período as famosas cortesãs Hanaogi, Kassugano, Ohissa e Ossen.
As gravuras desse tipo correspondiam, então, aos nossos atuais "posters" de "pin-up girls"... e a mesma
conotação era dada às gravuras retratando os famosos atores de teatro Kabuki.
No final do século XVIII aparece no cenário um artista misterioso de nome Toshussai SHARAKU (que
produziu somente entre 1794 e 1795). Pouco se sabe da sua biografia. Teria sido um protegido do grande
editor Tsutaya Juzaburo e, eventualmente, um samurai desempregado. As gravuras de Sharaku retratavam
apenas atores de teatro Kabuki nas suas expressões mais fortes das peças que representavam e o realismo
colocado nas expressões dos personagens. Chegou a chocar tanto os outros artistas como também o
público que comprou suas gravuras. Como já foi dito, sua carreira foi curta e termina abruptamente, sem
explicações. Suas gravuras são raríssimas e extremamente caras. O período que vai de 1800 a 1870 é de
total desenvolvimento, onde se encontra o maior volume de estampas. Neste período (1825-1850) surgem
também os dois grandes mestres da paisagem japonesa.
O primeiro é Ando HIROSHIGUE (1797-1858), com sua obra prima "As 53 Estações da estrada de
TOKAIDO" (estrada que ia desde Tokyo até Kyoto). Produziu também outras tantas séries de estampas
de paisagens e lugares famosos do Japão. Em algumas instâncias foi chamado de "Poeta da Paisagem" e
também de "Poeta da Chuva".
Outro tão importante e não menos famoso foi Katsuchika HOKUSSAI (1760-1849), com sua obra prima
"36 vistas do Monte Fuji" que inclui a mais famosa das estampas, a "Grande Onda" e outra também muito
importante, o "Fuji Vermelho". Seus desenhos são extremamente arrojados e muitas vezes insólitos, com
maravilhoso colorido.
A partir de TOYOKUNI, surgem outros "Kuni": Kunissada I, Kunissada II, Kuniyoshi e Kunitchika.
Todos fazem a mesma escola e basicamente têm o mesmo nível artístico. São freqüentes nesse momento e
nessa escola, retratos de personagens históricos, heróis, atores, lutadores de Sumô, grandes cortesãs.
Kuniyoshi especificamente destacou-se pelos trípticos mostrando batalhas de samurais. Suas figuras têm
vida e movimento.
A última grande estrela é YOSHITOSHI (1838/1892), com sua série mais famosa; "Os 100 aspectos da
Lua". Os desenhos são de uma linha muito mais atrevida, as perspectivas e proporções diferentes e fora
do comum. Um verdadeiro inovador, com um novo estilo, mas que manteve, porém, um grande interesse
pelo desenho japonês.
Laerte E. Ottaiano é especialista em arte oriental antiga (China e Japão) e proprietário de loja na Central
dos Antiquários, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1.795 - Sobreloja 42. Tel. (11) 3819-0098
marcostadao@uol.com.br
http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/reliquia_setembro_2004/gravjap.htm