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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OURÉM CULTURA, LÍNGUA E COMUNICAÇÃO

Formação Complementar
CENTRO QUALIFICA
Núcleos Geradores 1 (EST) e 5 (TIC)
Sessão de formação n.º 1
15 de novembro de 2023

LÍNGUA
Leia a crónica que se segue.

Há décadas que temos telemóveis, mas durante muito tempo pouco mais faziam do que chamadas.
A mulher com quem partilho a minha existência sobre este planeta chamou-me a atenção para um detalhe: a nossa
incapacidade – e a minha em particular – para estar como se estava antigamente. Ou seja, estando. Passo a explicar:
boa parte da Humanidade deixou de estar em sítios sem fazer mais nada – por exemplo, quando se está à espera de
alguém. Deixámos de saber olhar para o ar, para as pessoas que passam, para os pássaros ou os ramos das árvores
balançando com doçura ao vento (ou com força, em dias de vendaval); deixámos de pensar na vida ou, simplesmente,
de praticar a nobre arte perdida de esvaziar a nossa mente e não pensar em nada. Porquê? Porque temos telemóveis.
Na verdade, há décadas que temos telemóveis, mas durante muito tempo eles pouco mais faziam do que chamadas.
Ou seja, por muito que admirássemos a modernidade do objeto, não tinha grande coisa para nos encantar que não a
fascinante possibilidade de telefonarmos para quem quiséssemos do lugar que quiséssemos. De repente, devagarinho,
a alienação começou. As SMS, sim senhor; mas culpo também os criadores de “Snake” de terem aberto a porta: foi
com o lendário jogo da cobra retangular comilona que começámos a baixar a cabeça nos tempos livres e a deixar de
encarar o nada nos olhos. Nós pura e simplesmente tínhamos que alimentar aquele estupor daquela cobra!
Aos poucos, um telemóvel deixou de ser só um telemóvel – e hoje carregamos orgulhosamente na algibeira centros
de entretenimento mais poderosos que um multiplex de 10 salas, com ligação ao divertimento mais infinito de todos: a
Internet. Resultado? Se temos o telemóvel na algibeira e se está carregado, temos de lá estar a fazer alguma coisa.
Acontece que eu nunca tinha racionalizado isto, o que é inquietante: sacar do telemóvel enquanto espero, por
exemplo, que a pessoa amada saia de uma loja de roupa tornou-se tão natural e inquestionável como respirar –
simplesmente, fazemo-lo. Faz parte desse momento – como alçar a perna quando passamos por uma poça.
É claro que – como manda a tradição -, quando a pessoa amada nos diz uma verdade, é nosso dever contestar e
provar-lhe que tal se trata de um exagero. Mesmo que, no fundo da nossa mente – ou talvez nem sequer tão fundo -,
uma voz nos garanta: “Raios, ela tem razão.” Por isso, decidi mostrar-lhe que poderia, de forma natural e sem esforço,
deixar o telemóvel em casa e, num eventual tempo de espera que ocorresse, durante uma visita dela a uma sapataria,
por exemplo, praticar o nada com o mesmo talento que me tornou famoso a praticar o nada na minha juventude e que
levava pais e professores a considerarem-me “distraído” e “sempre na lua”. Não era isso; estava de forma exímia e
com grande talento, a estar.
E foi horrível. Foi horrível porque assim que a minha mulher entrou na loja, a minha mão, como que movida por
vontade própria, deslizou, rápida e eficaz, pelo bolso das calças adentro – constatando, em choque, que nenhum
telemóvel lá estava. Seguiu-se um profundo desconforto: tremuras, suores – e nova incursão por todas as algibeiras
das calças. Já sabia que não estava lá qualquer telemóvel, mas tinha de lá estar alguma coisa. Alguma coisa que me
“vestisse”, que fizesse desaparecer esta terrível sensação de que estava nu em público, de que tinha de olhar para
coisas e pessoas ou de abraçar a relaxante pacatez do não fazer nada.
E estava.
Caramba, já repararam como uma bolinha de cotão do bolso das calças pode conter cores e cambiantes tão
fascinantes? Ah, se o cotão tivesse wi-fi…
MARKL, Nuno (2011). Ide Nós. Revista Única, 10/06/2011

1. Aponte os factos que, na opinião do cronista, levam os portadores de telemóveis a não saberem estar sem fazer
nada.
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2. Explique o sentido da afirmação: “Aos poucos, um telemóvel deixou de ser só um telemóvel”.

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3. O cronista procurou demonstrar que ele não era dependente telemóvel.

a) Como?
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b) O que aconteceu?

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c) Como resolveu ele a situação?

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COMUNICAÇÃO

1. Aponte as principais funcionalidades do seu telemóvel.


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1.1 Diga quais utiliza, com maior frequência, no seu dia a dia.
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2. Apesar das inúmeras vantagens que a invenção de Martin Cooper (considerado o “pai” do telemóvel) trouxe
para o mundo das comunicações, o uso do telemóvel trouxe algumas desvantagens, sobretudo na gestão da
interação com os outros.
2.1 Aponte algumas vantagens e desvantagens do uso do telemóvel.
TELEMÓVEL
Vantagens Desvantagens

CULTURA

1. A partir da visualização do sketch “Escravos da tecnologia”, da autoria de Steve Cuts, faça uma reflexão
sobre a dependência do ser humano pelas tecnologias, nomeadamente o telemóvel.

Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=TbdV9tq0wEU&ab_channel=TVC%C3%A1tedra

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FIM

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