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Resenha 5 – Luca Vilela Zwernemann

MAZZUCATO, Mariana; PENNA, Caetano. The rise of mission-oriented state investment banks:
the cases of Germany’s KfW and Brazil’s BNDES. SWPS 2015- 26, [s.l.], set. 2015.

No artigo, publicado em 2015, Mazzucato e Penna mostram como a retração do


setor privado no financiamento da inovação tecnológica abre possibilidades para
bancos estatais de desenvolvimento. Os autores analisam os casos da Kreditantstalt
für Wiederaufbau (KfW), da Alemanha, e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, do Brasil. O objetivo mais amplo é demonstrar – seguindo o que
Mazucatto já havia feito em outras obras – que o Estado guia o processo econômico
de forma ativa, facilitando a tomada de decisão dos investidores privados. Os bancos
de desenvolvimento são considerados essenciais nessa dinâmica, que autores
identificam como “mission orientated framework”

A escolha pelo KfW e BNDES deve-se não somente ao fato desses bancos serem
os dois maiores bancos estatais de investimento do mundo, mas também às enormes
diferenças existentes entre ambos, decorrentes do fato de um pertencer a um país
industrializado e outro a um país emergente. De acordo com os autores, bancos
desse tipo possuem quatro características:

1) assumem um papel contracíclico (The countercyclical role)


2) financiam inovações tecnológicas, bens e serviços públicos para desenvolver
a estutura de capital (capital development role)
3) Assumem riscos elevados (venture capitalista role)
4) São orientados por missões (Mission-oriented or challenge-led role)

Os autores fazem uma análise detalhada quanto a esse último ponto. Mostram
que o KfW, banco originalmente criado no âmbito do plano Marshall, atuou
intensamente durante a Energiewende, uma “missão” de mudança da matriz
energética alemã. Entre 2009 e 2012, por exemplo, a participação de projetos que
visam proteger o meio ambiente e o clima saltou de 30% a 50%, encerrando o ciclo
da primeira década do século XX, quando o foco do banco esteve no financiamento
de startups e outros investimentos.
O BNDES, em contrapartida, também atuou com base em missões, porém
focando em setores manufatureiros capital-intensivos e em pesquisa e
desenvolvimento. Em 2012, a participação do banco no conjunto da massa de crédito
do país (21%) foi bem maior do que do KfW (13%), dado crescimento acima da média
mundial que a economia brasileira observava no período e o papel estratégico que o
BNDES ocupou durante o PAC. De acordo com os autores, o banco baseou-se em
três princípios para guiar os seus investimentos: inovação (crescimento inteligente),
desenvolvimento socio-ambiental (crescimento sustentável) e desenvolvimento
regional (crescimento inclusivo). Para os autores, a estrutura do banco é mais
complexa do que a estrutura do KfW, dado que havia, além de três subsidiárias
(FINAME, BNDESPAR e BNDES PIc), oito departamento que administra 22 divisões
operacionais, enquanto o grupo KfW conta com somente três departamentos (KfW
Mitteslstandsbank, DEG e KfW Stiftung)

Após mostrar como o BNDES atuou, a partir de 2003, para fomentar o


desenvolvimento industrial e estimular a inovação em setores como aviação, indústria
farmacêutica e biotecnologia, os autores concluem que o banco assumiu um papel
schumpeteriano na economia, sobretudo a partir de 2006. Ao contrário do que
advoga a visão neoclássica, portanto, os bancos de desenvolvimento não serviriam
somente para minimizar o impacto de falhas de mercado. Na verdade, essas
instituições estariam criando mercados completamente novos, dado que possuem
uma estrutura macro-micro de intervenção econômica, harmonizando a interação
entre Estado e mercado e viabilizando projetos com determinado sentido histórico e
social.

Vale ressaltar, por fim, que o artigo de Mazucatto e Penna foi publicado em
2015, último ano de governo do Partido dos Trabalhadores. A partir daquele
momento, o papel do BNDES mudou drasticamente, de modo que pode haver certo
estranhamento por parte dos leitores. No entanto, ainda que a conjuntura atual seja
totalmente diferente do que aquela que o artigo apresenta, é importante retornar à
discussão posta pelos autores, uma vez que ela pode ser proveitosa para discutir o
papel do banco nos próximos anos.

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