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Região: a tradição geográfica

O texto inicia trazendo o significado do termo região, termo que surgiu na época do
império Romano, vinda do sinônimo de governar, inicialmente tinha uma conotação política.
Hoje o termo designa uma dada porção de terra reconhecida como diferente de outra. O
objetivo desse texto é apresentar os diferentes significados que esse termo possui.
No tópico "Tradição e Pluralismo" discute a evolução do conceito de região ao longo
da história moderna do pensamento geográfico, destacando três principais conceitos de
região que foram estabelecidas entre os geógrafos:

• Região Natural
Inicialmente, o conceito de região estava ligado à ideia de uma porção da superfície
terrestre identificada por elementos naturais como clima, vegetação e relevo. Essa
abordagem foi adotada tanto por geógrafos físicos quanto por aqueles que seguiam o
determinismo ambiental. A região natural era vista como a unidade relevante para explicar
diferenças no desenvolvimento econômico e social, e foi usada para justificar a expansão
colonial.

• Região Paisagem
Uma reação ao determinismo levou ao conceito de região paisagem, onde a região é
entendida como uma área onde ocorre uma mesma paisagem cultural. Nesse contexto, a
região é o resultado da transformação da paisagem natural em paisagem cultural,
incorporando elementos como sistema agrícola, hábitos e dialetos locais. Essa abordagem
foi mais proeminente entre 1920 e 1950.

• Diversificação Conceitual
A partir dos anos 1950, com a revolução teorético-quantitativa e a influência do
positivismo lógico, a abordagem conceitual de região se diversificou ainda mais. A região
passou a ser considerada a partir de propósitos específicos, não mais sendo restrita à
natureza ou cultura. Essa visão considera a região como uma classe de área, sujeita a
diferentes tipos de recortes com base em objetivos de pesquisa, como regiões climáticas,
industriais ou nodais.

A partir da década de 1970, o conceito de região continuou a evoluir e se diversificar em três


principais concepções:
• Região como Organização Espacial dos Processos Capitalistas
Nesse contexto, a região é vista como a organização espacial dos processos sociais
ligados ao modo de produção capitalista. Ela reflete a divisão social do trabalho, a
acumulação capitalista, a reprodução da força de trabalho e os processos políticos e
ideológicos. Alguns autores associam a região a práticas de classe, culturas distintas e
regionalismo.

• Região como Foco de Identificação e Identidade


Aqui, a região é entendida como um conjunto de relações culturais entre um grupo e
lugares específicos. Ela se torna um elemento constituinte da identidade, uma apropriação
simbólica do espaço por um grupo. Essa abordagem tem raízes na geografia humanista e na
geografia cultural renovada.

• Região como Meio para Interações Sociais


A terceira concepção pós-70 considera a região como um meio para interações
sociais, enfatizando a dominação e o poder como fatores-chave na diferenciação de áreas.
Autores como Pred, Gregory e Raffestin exploram essa abordagem política da região.

As razões do Pluralismo

Os conceitos de região só reforçaram a diferenciação das áreas, as regiões estão se


transformando e diferenciando com o tempo, a globalização foi fundamental para a
fragmentação articulada do território, diz Eric Hobsbawm. Através do fluxo material e
imaterial, há integração de áreas e pontos diversos do globo, o capitalismo industrial
influenciou diretamente na formação e deturpação de regiões, a partir do século XIX, formou-
se um mosaico complexo com diversos cortes espaciais que se sobrepunham, dependendo
do ângulo de estudo, o mosaico pode ser analisado de diferentes maneiras.
Na segunda metade do século XIX houve maior diferenciação entre os fluxos e regiões, sendo
elas variados e multidirecionais, aceleração do processo de fragmentação após a primeira
guerra, mais força ao capitalismo para moldar a superfície terrestre. Processo de
reconstituição das diferenças espaciais, virou uma característica da economia global o poder
de fazer, refazer e desfazer uma das diferenças espaciais. O Brasil é um dos principais
exemplos disso.
Os geógrafos perceberam como a economia influenciava na formação das regiões, é
reconhecido que cada conceito de região tem um ângulo de pesquisa, cada um tem um ponto
de observação, do mundo já fragmentado ou não, a globalização acentuou o ponto de vista
das pesquisas, influenciando diretamente a partir do século XX.

Região e a categoria da particularidade

As áreas diferentes, resultadas tanto de processos da natureza e processos sociais e


de razão de um saber da própria geografia, pode-se através destes, falar em região, onde
cada uma tem sua particularidade, advinda de processos da globalização e do singular.
Segundo Lucaks “com relação ao singular, representa uma universalidade relativa e,
com relação ao universal, uma singularidade relativa”, o mesmo afirma que o particular tem
ocorrência na natureza e na sociedade, por meio de espécies, gênero, classe, estrato e
região. Englobando as especificidades herdadas do passado ancoradas no espaço, criados
socialmente ou com barreiras naturais, com a globalização o caráter particular de região, não
mais dotada de autonomia, fica mais evidente. E com as Multipla possibilidades de recortar a
superfície terrestre, a categoria da particularidade torna-se mais relevante.
Ou seja, além da própria realidade impor o conceito de região, ela constitui-se
importante para a geografia o tema relevante e difícil, que é a categoria da particularidade.

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