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versão Carlos Carvalheiro

2 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

resumo

o rei alonso de Nápoles envia o irmão, sebastião, a


milão, e convence antónio a usurpar o trono ao irmão,
o duque prospero. este e a filha, miranda, são abando-
nados no alto mar por Gonçalo, que assim desobedece
às ordens do rei, que lhe ordenara que os matasse.
Graças ao mapa dos mares que Gonçalo lhes deixou,
prospero e miranda chegam a uma ilha onde encontram
ariel e um tal Calibã. prospero convence ariel a desen-
cadear uma tempestade que faça naufragar na ilha
alonso e o filho Fernando, sebastião, Gonçalo, antónio
e marinhagem, todos vindos do casamento de Claribel,
filha de alonso.
Naufragam na ilha em grupos separados, cada um deles
pensando que todos os outros morreram. prospero e
ariel vão criando situações que levam os seus inimigos
ao desespero. Quando, finalmente, prospero se podia
vingar do que lhe tinham feito, decide perdoar-lhes e
todos voltam para casa.
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dramaTis persoNæ

sebasTião, irmão de alonso


GoNçalo, nobre napolitano
aNTóNio, irmão de prospero
prospero, duque de milão
miraNda, filha de prospero
FerNaNdo, filho de alonso
esTeFâNio, marinheiro napolitano
TríNCulo, marinheiro napolitano
aloNso, rei de Nápoles
ariel, espírito dos ares
Calibã, indígena
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1.
CoNspiração
aNTóNio • GoNçalo • sebasTião

[& 1 sebasTião eNTra aCompaNhado de GoNçalo, ambos


eNQuadrados por molduras]

aNTóNio: [eNTraNdo, eNQuadrado por uma moldura]

sebastião. disseram-me que tinhas chegado. Que boa


surpresa. Como vai Nápoles?

sebasTião: bem, antónio, bem. e aqui por milão?

aNTóNio: Tudo na mesma. prospero continua no poder


mas, em vez de se dedicar ao governo deste ducado, pre-
fere embrulhar-se nos seus estudos de fantasia e de
encantamento. e cá estou eu a guardar-lhe o lugar, a
tratar-lhe dos negócios do estado e a ser eternamente o
segundo do ducado.

sebasTião: porque queres. o meu irmão, o rei alonso de


Nápoles, estaria disposto a apoiar-te como duque de
milão se aceitasses prestar-lhe vassalagem.

aNTóNio: elevado preço me propões. prospero sempre


conseguiu que milão se mantivesse independente.

sebasTião: a ambição tem custos, antónio. se queres


ser duque, terás de pagar por isso.
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aNTóNio: Foi para me propores isso que vieste a milão?

sebasTião: sim. embora oficialmente haja duas razões. a


primeira é convidar o duque de milão para se integrar na
comitiva do casamento de Claribel.

aNTóNio: a filha do rei de Nápoles vai casar?

sebasTião: vai ser um casamento muito proveitoso.


Claribel vai casar com o herdeiro do trono de Tunes.

aNTóNio: alonso vai casar a filha com um preto?

sebasTião: Não sejas tão branco, antónio. o casamento


com o herdeiro dum trono africano permitirá expandir a
influência de Nápoles pela África, esse novo continente
todo por descobrir, mas já muito conhecido pela sua
riqueza. uma filha pesa menos que os pesados custos de
uma invasão militar. e é muito mais amoroso. além do
mais, o outro filho de alonso, o meu sobrinho Fernando,
é o herdeiro do trono de Nápoles.

aNTóNio: podiam sempre casá-lo com miranda, a filha de


prospero…

sebasTião: essa seria a minha segunda incumbência: unir


milão e Nápoles por um casamento real. mas prospero
exigiria uma definição conjunta da política externa. e o
rei de Nápoles tem em mente uma política muito diferente
da de prospero.

aNTóNio: e é aí que eu entro…


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sebasTião: se quiseres, futuro duque de milão.

aNTóNio: e o que é que fazemos de prospero? [sebas-


Tião ri] matamo-lo?

sebasTião: Que palavra tão forte. porque não dizes


antes fazê-lo desaparecer?

aNTóNio: e miranda?

sebasTião: Também desaparecida. por encanto. por


magia. Não é essa a especialidade de prospero?

aNTóNio: Ninguém em milão acreditará nisso. prospero é


muito querido aqui.

sebasTião: porque pensas que trouxe Gonçalo? o rei de


Nápoles está disposto a ajudar-te em tudo.

aNTóNio: e com o desaparecimento de prospero e de


miranda recairia em mim o governo de milão…

sebasTião: inevitavelmente. o rei de Nápoles não se


pode dar ao luxo de usurpar o ducado de milão. prefere
no trono um nobre milanês.

aNTóNio: Que lhe seja fiel.

sebasTião: e que perceba depressa. Gonçalo está ao


teu dispor. perceberás, antónio, que é conveniente para
Nápoles que esta minha visita fique confidencial.
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aNTóNio: Naturalmente, sebastião.

sebasTião: [saiNdo] ah, já me esquecia. [& 1 Formal] o


meu irmão, o rei de Nápoles, tem a honra de vos convidar
para o casamento da sua filha Claribel com o herdeiro do
trono de Tunes, senhor duque de milão.

aNTóNio: [Formal] informai o rei de Nápoles que o


duque de milão se sente muito honrado em aceitar o con-
vite. [para GoNçalo depois de sebasTião sair] esperai
aqui por prospero.

GoNçalo: Às vossas ordens, senhor. [aNTóNio sai]


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2.
Golpe de esTado
aNTóNio • GoNçalo • miraNda • prospero

prospero: [eNTraNdo Com o mapa dos mares e eNQua-


drado por uma moldura] o meu irmão disse-me que
trazes um recado urgente do rei de Nápoles…

GoNçalo: assim é, meu senhor. ordenaram-me que vos


fizesse desaparecer.

prospero: Que brincadeira é esta? atreves-te a insul-


tar-me na minha própria casa?

GoNçalo: duque prospero, perdoai-me. devo lealdade


ao rei alonso de Nápoles e por isso tenho de executar a
ordem que me deram de vos fazer “desaparecer”. mas
não serei tão escrupuloso a cumpri-la que tenha de ficar
com o vosso sangue nas minhas mãos. Far-vos-ei embar-
car no navio de Nápoles e, uma vez no mar alto, abando-
nar-vos-ei num bote, esperando sinceramente que a
providência vos faça encontrar uma nova terra.

prospero: e como pensas obrigar-me a isso tudo? [& 2]

GoNçalo: suplico-vos que não ofereçais resistência.


[prospero baixa a sua moldura]

prospero: Que vão fazer da minha filha?


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GoNçalo: para o melhor ou para o pior, a vossa filha


acompanhar-vos-á.

aNTóNio: [empurraNdo miraNda] miranda, minha querida


sobrinha, vai ter com o teu querido pai, vai.

miraNda: meu pai, que é isto?

prospero: um golpe de estado, minha filha.

miraNda: Que quer isso dizer?

prospero: Que o teu tio antónio, aliado ao rei de


Nápoles, me usurpou o ducado. [baixa a moldura de

miraNda]

miraNda: mas ele é vosso irmão…

prospero: a tua avó assim o afirmava.

aNTóNio: despachem-se! [sai. prospero, Com o mapa

dos mares, eNCamiNha-se para o boTe Com miraNda]

GoNçalo: [leva as molduras de prospero e de miraNda


para o boTe] É aqui que vos abandono à vossa sorte.
[aFasTa-se] permita a providência que sobrevivam. [sai.
§ 3]
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3.
a ilha
miraNda • prospero

miraNda: Que vai ser de nós?

prospero: Não sei, minha filha. mas temos de ficar gra-


tos a Gonçalo.

miraNda: mas foi ele que nos deixou neste triste estado.

prospero: Gonçalo é vassalo da autoridade de Nápoles.


Tinha de executar o que lhe ordenaram. mas deixou-nos
vivos, com um bote e, o que sem isso de nada servia, o
mapa dos mares. [deseNrola o mapa dos mares] vê.
deixou-nos aqui. Fizemos este caminho. agora estamos
aqui. vai seguindo a nossa rota. [§ 3]

miraNda: [seGue a roTa. À visTa da ilha] pai, terra ali em


frente.

prospero: estamos salvos. e isso é o mais importante.


de momento. [desembarCam] olha a nossa ilha.

miraNda: É esta a nossa nova casa…

prospero: É. arruma os nossos poucos pertences. eu


vou explorar as redondezas. [miraNda arruma as mol-

duras. exTeNuada, adormeCe. s5]


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4.
eNCoNTro

ariel • prospero

[ouvem-se Gemidos]

prospero: Quem és tu?

ariel: sou um espírito muito simpático.

prospero: Como te chamas?

ariel: ariel.

prospero: o que estás aí a fazer?

ariel: estou preso, prospero.

prospero: Como sabes o meu nome?

ariel: eu sei ler os pensamentos. agora estás a pensar


quem é que me teria prendido.

prospero: pois estou. Quem foi?

ariel: Foi uma bruxa, que queria aproveitar-se dos meus


poderes para fazer maldades.

prospero: e o que é que tu fizeste?


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ariel: descarreguei uma tempestade em cima da cabeça


dela. e então ela prendeu-me aqui.

prospero: e o que é feito da bruxa?

ariel: morreu. só ficou o filho, o Calibã.

prospero: e onde é que ele está?

ariel: Neste momento prepara-se para possuir a tua


filha miranda.
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5.
violação
Calibã • miraNda • prospero

Calibã: [aproxima-se de miraNda] Quem és tu?

miraNda: [aCordaNdo] Chamo-me miranda. e tu?

Calibã: Calibã, o rei desta ilha. e tu és muito bonita.

miraNda: porque me olhas assim? [Calibã aTaCa miraN-

da]

prospero: [derrubaNdo Calibã] Que estavas a fazer?

Calibã: a conhecer miranda.

prospero: a isso não se chama conhecer.

Calibã: eu sou Calibã, o rei desta ilha. Tudo o que aqui


está me pertence e por isso posso violar quem eu muito
bem entender.

prospero: e eu sou prospero, e te garanto que não vais


violar a minha filha miranda.

Calibã: [Faz um FeiTiço] Que o mais cruel orvalho que


jamais minha mãe fabricou com penas de corvo empesta-
do caia sobre ti e te cubra de pústulas.
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p rospero: [o FeiTiço Não FuNCioNa ] Fora daqui.


depressa. Não ouviste o que eu te disse? se não me obe-
deceres vou pôr-te a rugir de dores.

Calibã: Não, não, peço-te. [aFasTa-se] Tenho de lhe


obedecer. Tem mais poder do que eu, do que a minha
mãe e do que o deus da minha mãe. [sai]

miraNda: pai, tive medo.

prospero: descansa agora, minha filha. eu estarei por


perto. [adormeCe miraNda]
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6.
liberTação
ariel • prospero

prospero: [volTa a ariel] obrigado, ariel. Fico-te


devedor.

ariel: podes pagar-me a dívida: liberta-me.

prospero: Tomara eu ser capaz de o fazer.

ariel: Não tens passado a vida a estudar a fantasia?


basta quereres, e conseguirás libertar-me.

prospero: e como o conseguirei fazer?

ariel: diz a palavra.

prospero: e dará resultado?

ariel: experimenta. vá, diz a palavra.

prospero: muito bem. liberta-te! [s6 ariel liberTa-se]

ariel: [aproxima-se de prospero CalçaNdo umas eNor-


mes boTas] vês como foi simples? obrigado.

prospero: disseste que inventates uma tempestade


para castigares a bruxa…
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ariel: sim.

prospero: Todos os meus inimigos vão passar ao largo


desta ilha. vêm de um casamento. Gostaria muito de os
fazer naufragar aqui. importas-te de inventar outra tem-
pestade?

ariel: Com muito gosto, prospero.


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7.
TempesTade
aloNso • aNTóNio • ariel • esTeFâNio • FerNaNdo • GoNçalo • sebasTião •
TriNCulo

[§ 6 ariel deseNCadeia a TempesTade]

esTeFâNio: Trínculo!

TríNCulo: hãn?

esTeFâNio: Trínculo!

TríNCulo: Qu’é, estefânio?

esTeFâNio: Começa a baldear água senão vamos ao


fundo. [Começam a baldear ÁGua]

sebasTião: piloto, onde está o capitão?

esTeFâNio: eu sei lá.

GoNçalo: vamos, meu amigo, um pouco de paciência.

TríNCulo: Quando o mar a tiver.

aNTóNio: lembra-te de quem tens a bordo.

TríNCulo: Ninguém com mais amor à pele do que eu.

esTeFâNio: a tempestade bem se rala se o rei aqui vai…


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aloNso: malcriado!

FerNaNdo: o inferno está vazio e os diabos aqui.

esTeFâNio: raios parta que não se calam!

TríNCulo: Fiquem nos vossos camarotes e pouco baru-


lho.

GoNçalo: Tenhamos confiança neles. Não parecem dis-


postos a morrer afogados. [os Nobres saem]

esTeFâNio: estamos perdidos!

TríNCulo: Nossa senhora me valha!

esTeFâNio: estamos perdidos!

TríNCulo: adeus mãe, adeus pai, adeus irmão…

esTeFâNio: deixa lá a família que não nos pode valer.

TríNCulo e esTeFâNio: estamos a afundar! estamos a


afundar! [saem]
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8.
eNCaNTameNTo
(ariel) • FerNaNdo • miraNda • prospero

miraNda: se é por vossa arte, meu querido pai, que esta


tempestade se soltou, acalmai-a! aquele navio, com
todos os que tinha dentro, ficou feito em pedaços.
pobres criaturas. pudesse eu salvá-los!

p rospero: acalma-te, minha filha. Não aconteceu


nenhum mal.

miraNda: mas eu vi!

prospero: Não aconteceu nenhum mal, já te disse!


sossega. o que viste foi ilusão, para ti e para todos os
que iam no barco. Não aconteceu nenhum mal a nenhum
deles. de momento. Quis somente fazê-los desembarcar
nesta ilha. ali vem o primeiro, o filho do mais importante
dos viajantes.

FerNaNdo: [eNTra, eNQuadrado por uma moldura] o


que será esta música? Fez-me chegar aqui, na esperança
de encontrar sobreviventes. mas não há ninguém.

miraNda: Como é lindo!

prospero: sim, apesar daquele ar abatido, pode dizer-


se que é um bonito rapaz.
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miraNda: É tão lindo.

FerNaNdo: está ali uma menina… a música… estarei a


delirar? maravilhosa menina, habitais nesta ilha?

miraNda: maravilhosa não, senhor, mas menina, sim. e


habito nesta ilha. e vós quem sois?

FerNaNdo: seria o primeiro na minha terra, se lá estives-


se agora.

prospero: o primeiro? Que diria o rei de Nápoles se te


ouvisse?

FerNaNdo: mas como conheceis vós o rei de Nápoles?


infeliz de mim, que sou eu agora o rei de Nápoles. o meu
pai naufragou ao largo desta ilha com o duque de milão
e outros nobres.

prospero: Que queres daqui?

miraNda: porque lhe falas tão asperamente?

prospero: É um espião!

FerNaNdo: isso não é verdade.

miraNda: ele acabou de naufragar.

prospero: Cala-te! Não o defendas. É um traidor. [para


FerNaNdo] Ficarás sujeito a trabalhos forçados até se
esclarecerem os motivos da tua vinda.
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FerNaNdo: Nunca! [vai para aTaCar prospero Com a

moldura mas esTe imobiliza-o Com o mapa dos mares]

miraNda: porque estás a fazer tudo isto?

prospero: atreves-te a atacar-me, traidor? vá, tenta


atingir-me, tenta.

FerNaNdo: estou preso.

miraNda: por favor.

prospero: larga-me!

miraNda: Tem piedade!

prospero: silêncio! estás a interceder por um impostor!


[para FerNaNdo] Como vês, não consegues mexer-te.
estás sob o meu poder. e vais obedecer-me, queiras ou
não. [reTira a moldura a FerNaNdo e ColoCa-lhe o

mapa dos mares aos ombros Como se Fosse uma CaNGa]

miraNda: [para FerNaNdo] Coragem! ele tem melhor


coração do que parece pelas palavras que diz. Nunca fez
nada disto antes.

prospero: [para miraNda] Não o defendas. [para Fer-

NaNdo] e tu segue-me. [iNdiCa a saida a FerNaNdo.

miraNda arruma a moldura juNTo das ouTras e seGue-

o. prospero FiCa preseNTe mas Não visível.]


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9.
bêbados
(ariel) • Calibã • esTeFâNio • (prospero) • TriNCulo

Calibã: [eNTra] Que todos os miasmas que vêm dos pan-


tanos, charcos e paúis caiam sobre prospero e lhe dei-
xem o corpo todo podre. [ouve-se um boCejo de TriN-

Culo] ai que é ele que ali vem. [esCoNde-se]

TríNCulo: [eNTra] estou todo cansado. o naufrágio


deixou-me de rastos. Quero dormir. enfim, já não posso
mais e aqui dormirei. [emaraNha-se Com Calibã e dorme]

esTeFâNio: [§ 7 eNTra Com um odre de viNho a CaNTar]

Nunca mais irei ao mar,


nunca mais embarcarei
e aqui nesta terra,
morrerei, morrerei…
[para o odre] anda cá minha Consolação. [bebe. § 8
CaNTa]

o grumete e o capitão,
o contramestre e eu,
gostávamos da Consolação,
mas da Catarina não,
nenhum de nós gostava não
porque tinha a lingua afiada
e dizia "vão-se lixar!",
porque do nosso cheiro não gostava.
vamos para o mar, rapazes, e levemos a Consolação. e a
Catarina que se lixe. [para o odre] anda cá minha
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Consolação. [bebe e desCobre Calibã] Quem é este?


está vivo ou morto? deve estar morto. Cheira a podre
que tresanda. deve ser um habitante da ilha fulminado
pela tempestade.

Calibã: deixa-me.

esTeFâNio: Não escapei do naufrágio para ter medo de


ti.

Calibã: ai!

esTeFâNio: deve ser o monstro cá da ilha. vou dar-lhe de


beber. se o conseguir domesticar, levo-o para Nápoles e
ganho a vida à custa dele. Toma, bebe.

Calibã: Não me faças mal.

esTeFâNio: Cala-te e abre a boca. abre a boquinha,


anda. vais ver que acalmas num instante. bebe, bebe
para aí com força!

TríNCulo: parece a voz do… mas ele morreu afogado. É


um demónio. socorro!

esTeFâNio: duas vozes? então tens duas bocas. ah meu


monstrinho precioso. Nem que gaste o meu vinhozinho
todo, hei-de acalmar-te. pronto, já chega. agora vou dar
de beber à tua boca traseira.

TríNCulo: estefânio…
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esTeFâNio: Como é que sabes o meu nome? É o diabo! É


o diabo! [FoGe]

TríNCulo: estefânio! estefânio! anda cá, não tenhas


medo, sou eu, o Trinculo!

esTeFâNio: se és o Trinculo sai daí! És o Trinculo, és!


Não morreste?

TríNCulo: e tu? És mesmo tu? Não te afogaste?

esTeFâNio: agarrei-me a uma pipa de vinho e vim dar à


costa. e tu?

TríNCulo: vim a nado. e sobrou vinho?

esTeFâNio: a pipa inteira, homem! À sede não há-de a


gente morrer.

Calibã: dá-me mais dessa pinga, meu senhor.

esTeFâNio: então beija-me os pés. [Calibã beija] Toma


lá então. [Calibã bebe]

TríNCulo: Que monga tão estúpido!

Calibã: vou-te ensinar onde ficam as nascentes de água


doce.

esTeFâNio: Nem me fales nisso… Quando a pipa se aca-


bar, talvez lá vá. até lá, nem me lo digas. À abordagem!
monga, bebe à minha saúde.
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TríNCulo: enquanto houver vinho na nossa ilha, o gover-


no vai oscilar.

Calibã: veio para cá um homem muito mau que se tornou


o rei desta ilha. e tem uma filha muito bonita. se o mata-
res, podes ficar com a filha para ti.

esTeFâNio: monga, matarei esse homem. vamos lá então


à procura dele. sempre sonhei ser rei. [§ 9 saem]
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10.
TeNTaTiva
aloNso • aNTóNio • ariel • GoNçalo • prospero • sebasTião

prospero: ariel, vem aí o meu irmão, o rei de Nápoles e o


irmão dele. vai começar a minha vingança.

ariel: vou adormecer o rei de Nápoles e o Gonçalo.

prospero: para quê?

ariel: já vais ver.

GoNçalo: [§ 10 eNTraNdo Com aloNso, aNTóNio e sebas-


Tião, Todos eNQuadrados por molduras] peço-vos,
senhor, ficai alegre. a causa do nosso infortúnio é fre-
quente. Não há dia em que a mulher de um marinheiro ou
o dono de um barco não tenham precisamente o mesmo
motivo de infortúnio que nós tivemos. mas quanto ao
milagre do nosso salvamento, poucos são os que podem
falar como nós. sendo assim, contrabalancemos a nossa
dor com a nossa consolação.

aloNso: Cala-te, por favor.

aNTóNio: o consolador não vai ficar por ali.

sebasTião: está a dar corda ao relógio. Não tarda a


bater as horas.
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GoNçalo: senhor…

sebasTião: estás a ver?

aloNso: peço-te que me deixes em paz.

sebasTião: Não se consegue aguentar calado, vais ver.

GoNçalo: embora esta ilha pareça deserta…

sebasTião: estás a ver?

GoNçalo: …e quase inacessível…

sebasTião: Não obstante…

GoNçalo: …não obstante…

sebasTião: Não podia faltar.

GoNçalo: …o clima parece ameno e o vento é suave.


aqui há de tudo quanto é preciso para a vida…

aNTóNio: o que não há é meios para viver.

GoNçalo: …há erva por todo o lado…

aNTóNio: Come-a tu!

aloNso: martelas-me os ouvidos com palavras que a


minha alma não deseja. oxalá nunca tivesse casado a
minha filha em Tunes, porque foi no regresso que perdi o
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meu filho e, a acreditar no meu pressentimento, também a


ela.

sebasTião: podeis, senhor, agradecer a vós próprio tão


grande perda.

aloNso: Cala-te, peço-te!

sebasTião: ajoelhámo-nos diante de vós suplicando que


não entregasses a vossa filha a um africano. entre a
repugnância e a obediência, sujeitámo-nos à última. No
regresso perdemos o vosso filho para sempre. milão e
Nápoles vão ficar cheios de viúvas. e tudo isto por vossa
culpa.

aloNso: eu sei.

GoNçalo: senhor sebastião, às verdades que dizeis fal-


tam caridade e oportunidade. irritais a ferida em vez de
lhe pordes um bálsamo.

sebasTião: mas é a verdade.

GoNçalo: Todos nós estamos a passar um tempo mau,


meu bom senhor.

sebasTião: um tempo mau?

aNTóNio: uma tempestade!

GoNçalo: se eu fosse encarregado de cultivar esta ilha,


meu bom senhor…
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aNTóNio: semearias urtigas.

sebasTião: ou silvas.

aloNso: Cala-te, peço-te. o que dizes e nada é o mesmo


para mim. [ariel adormeCe aloNso e GoNçalo] sinto
que os meus olhos têm vontade de fechar-se. [adorme-
Ce]

GoNçalo: Também fiquei repentinamente cheio de sono.


[adormeCe]

aNTóNio: adormeceram num instante.

sebasTião: Que estranha sonolência se apossou deles.

aNTóNio: É talvez devido ao clima.

sebasTião: então porque não nos ataca também a nós?


eu não tenho sono.

aNTóNio: Nem eu. Que estranho. adormeceram ao


mesmo tempo. vê: a ocasião convida-te. já vejo uma
coroa a descer sobre a tua cabeça.

sebasTião: estás a delirar?

aNTóNio: Não me ouves?

sebasTião: oiço, mas as tuas palavras é de quem está a


sonhar.
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aNTóNio: És tu que estás a deixar escapar o teu sonho.


És tu que, estando acordado, fechas os olhos.

sebasTião: bem, há um sentido no teu ressonar.

aNTóNio: Falo mais a sério do que nunca.

sebasTião: explica-te melhor.

aNTóNio: há alguma esperança de que Fernando, o filho


do rei que ali está, se tenha salvo?

sebasTião: Nenhuma.

aNTóNio: Quem é, depois dele, o mais próximo herdeiro


do trono de Nápoles?

sebasTião: a minha sobrinha Claribel.

aNTóNio: a que é actualmente rainha de Tunes e que vive


para lá do sol posto?

sebasTião: e então? o que tem a distância entre Tunes


e Nápoles a ver com o herdeiro do trono?

aNTóNio: Todos dirão: “Claribel deixará Tunes e virá


para Nápoles? Queremos um rei preto? Não, que fique
em Tunes e que sebastião governe!” se pensasses como
eu, aproveitavas-te daquele sono. estás a compreender-
me?
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sebasTião: parece-me que sim. Tal como tu suplantaste


o teu irmão prospero…

aNTóNio: os servidores do meu irmão eram meus pares.


agora são meus servidores.

sebasTião: e a consciência? Não te pesa?

aNTóNio: a consciência, sebastião? o que é isso? olha


para o teu irmão ali deitado. se estivesse morto, coisa
que tu farias num ápice, eu fazia o mesmo à carcaça do
lado e o senhor prudêncio não poderia testemunhar
nada. depois deste naufrágio todos diriam que é conve-
niente, na actual conjuntura…

sebasTião: o que ganharias com isso?

aNTóNio: Teríamos de rever a sujeição de milão a


Nápoles. sempre quis ser rei.

sebasTião: assim como conquistaste milão, Nápoles


será minha.

aNTóNio: vamos. ao mesmo tempo. [vão para maTar

aloNso e GoNçalo Com as molduras. ariel aCorda-os]

GoNçalo: [desperTaNdo] o que foi isto? Que significa


esse olhar sinistro?

aloNso: [desperTaNdo] Que aconteceu?

aNTóNio: Não ouviram um rugido de um leão?


32 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

aloNso: eu não ouvi nada.

sebasTião: Foi o rugido de um bando de leões.

aloNso: vamos atrás desse rugido. Quem sabe se não


foi o meu filho que o provocou.

GoNçalo: mostrai-nos o caminho! [§ 10 saem Com as

molduras preparadas para o CombaTe.

prospero: porque é que os acordaste?

ariel: porque tu não gostarias que o Gonçalo fosse


morto.
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 33

11.
passaGem
(ariel) • FerNaNdo • miraNda • (prospero)

[§ 11 FerNaNdo passa CarreGaNdo a CaNGa imposTa por

prospero. miraNda seGue-o]


34 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

12.
molduras
(ariel) • Calibã • esTeFâNio • (prospero) • TriNCulo

esTeFâNio: [§ 12 eNTraNdo Com TríNCulo e Calibã e reFe-


riNdo-se ao odre] oh monga, isto está vazio!

TríNCulo: estou cheio de sede.

Calibã: Tenham cuidado. andem devagarinho.

esTeFâNio: se volta a acontecer uma destas, vais ver.

TríNCulo: acaba-se o monga.

Calibã: meu senhor, continua a dar-me a tua confiança.


Tem paciência. a paga que irás ter compensará todos
estes dissabores. mas fala baixo. ouve-se tudo neste
silêncio.

TríNCulo: Ficámos sem a nossa Consolação.

esTeFâNio: e isso não é só uma vergonha: é uma deson-


ra. É uma desgraça nacional.

TríNCulo: a culpa é tua, monga. [deambula]

Calibã: [para esTeFâNio] peço-te, meu senhor, que sos-


segues. Faz o que precisa de ser feito e ficarás dono de
uma bonita donzela.
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 35

TríNCulo: [desCobre as molduras] ó estefânio! olha


só as roupas que aqui te esperam.

Calibã: deixa isso, imbecil. isso não vale nada.

TríNCulo: Cala-te monga! pensas que não sei o que é


isto?

Calibã: deixa lá isso, meu senhor. vamos mas é matar o


prospero. se ele acorda, racha-nos de alto a baixo.

esTeFâNio: Cala-te, monga! alto lá, senhor gibão. está


preso à ordem do rei estefânio!

TríNCulo: vamos roubar isto com muito nível.

esTeFâNio: muito bem dito. Com muito nível.

TríNCulo: Com muito nível.

Calibã: isso não vale nada. estamos só a perder tempo.


o prospero faz-nos em carne picada.

esTeFâNio: Cala-te, monga. vamos levar isto para o pé


da pipa.

TríNCulo: Com muito nível. [saem. § 9]


36 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

13.
remorsos
aloNso • aNTóNio • (ariel ) • GoNçalo • prospero • sebasTião

GoNçalo: [§ 13 eNTraNdo Com aloNso, sebasTião e

aNTóNio] valha-me Nossa senhora, meu senhor. já não


aguento mais.

aloNso: Não te posso censurar. Também a mim me atin-


ge a fadiga e o desânimo. perdi toda a esperança de
encontrar o meu filho.

aNTóNio: [aparTe para sebasTião] ainda bem. Não per-


cas tu a esperança de executarmos o nosso propósito.

sebasTião: [aparTe] aproveitaremos a primeira ocasião.

aNTóNio: [aparTe] esperaremos pela noite.

sebasTião: [aparTe] sim, esta noite.

prospero: [sem ser visTo] vós os três sois criminosos.


vós os três fizesteis desaparecer prospero para dardes
larga à vossa ganância. sobre os três recairá uma des-
truição lenta —muito pior do que a morte que de um
golpe actua— que vos acompanhará a par e passo para
onde quer que vão.

aloNso: Que horror! prospero continua presente e o


vento acusa-me do meu crime. [sai]
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 37

aNTóNio: Que todos os demónios do inferno avancem.


Não ficarei de braços cruzados. [sai]

sebasTião: Não me deixes sózinho. [sai]

GoNçalo: será possível que prospero e a filha se tenham


salvo? desde que os meti no bote, rezo por isso todos os
dias. e se o meu senhor me castigar pela minha desobe-
diência, suportarei com alegria todos os sofrimentos,
pela esperança de ter salvo inocentes. [sai]
38 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

14.
deClaração
ariel • FerNaNdo • miraNda • prospero

[§ 14 FerNaNdo eNTra seGuido de miraNda]

miraNda: [poNdo-se À FreNTe de FerNaNdo] peço-te


que descanses. eu levo isso.

FerNaNdo: Não, maravilhosa menina. prefiro rebentar os


músculos a ver-te carregada com isto.

miraNda: mas a mim não me custa nada. eu levo.

FerNaNdo: Não, maravilhosa menina. vem comigo. É tudo


o que te peço.

miraNda: mas tens um ar tão cansado.

FerNaNdo: Como te chamas?

miraNda: miranda.

FerNaNdo: maravilhosa miranda, esta tarefa que o teu


pai me ordenou seria para mim tão pesada como odiosa.
No entanto, ela torna-se leve e em prazer porque sei que
estás aqui ao meu lado. o amor tem destas coisas.

miraNda: amas-me?
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 39

FerNaNdo: mais do que a quanto há no mundo. estás a


chorar…

miraNda: sou tola por chorar com o que mais alegria me


dá.

FerNaNdo: então porque choras?

miraNda: por causa dos meus poucos méritos.

FerNaNdo: Tu és tudo o que eu poderia desejar. aceitas


a minha mão?

miraNda: ai que não ouso aceitar o que tanto queria ter


nem oferecer o que morro por dar. Queres mesmo dar-
me a tua mão?

FerNaNdo: mil e mil vezes, do íntimo do coração, como um


escravo que anseia por liberdade.

miraNda: eis aqui a minha, e nela o meu coração. [§ 15


saem]

prospero: Não era assim que eu tinha imaginado o fim


desta história.
40 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

15.
FashioN
(ariel) • Calibã • esTeFâNio • (prospero) • TriNCulo

[§ 16 esTeFâNio, TríNCulo e Calibã desFilam Com as mol-


duras]
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 41

16.
perdão
aloNso • aNTóNio • (ariel) • Calibã • esTeFâNio • FerNaNdo • GoNçalo • miraNda •
prospero • sebasTião • TriNCulo

aloNso: [§ 13 eNTra Com GoNçalo, sebasTião e aNTóNio]


mas é prospero que ali está. Como é isto possível? [GoN-
çalo GeNuFleTe]

prospero: [levaNTa a moldura de GoNçalo] levanta-


te, meu nobre amigo.

aloNso: agora percebo tudo o que de estranho nos


aconteceu. estivemos à tua mercê e mesmo assim não
mataste os teus inimigos.

prospero: vontade não me faltou.

aloNso: mas não o fizeste. Fico a dever-te a vida.


renuncio ao teu ducado. Que melhor vizinho se pode ter
do que um ser magnânimo?

prospero: e vocês, não dizem nada?

sebasTião: eu concordo com o meu irmão.

aNTóNio: oh mano… [prospero Cala-o Com o olhar]

pronto, calo-me.

prospero: ora aí está um bom princípio.


42 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

aloNso: depois do que te fizemos, continuo sem perce-


ber porque resististe à vingança e nos concedes o per-
dão.

prospero: o perdão é uma forma de vingança.

aloNso: Tudo isto terminaria em bem se eu não tivesse


perdido o meu filho no naufrágio.

prospero: Foi também por essa altura que eu perdi a


minha filha.

aloNso: somos agora irmãos na desgraça.

prospero: Não. somos compadres —palavra estranha,


esta— compadres na felicidade.

aloNso: Não te percebo. [§ 17 FerNaNdo e miraNda sur-


Gem lado a lado, CarreGaNdo o mapa dos mares]

GoNçalo: se as lágrimas internas não estivessem a sufo-


car-me, já eu teria dito “ó deuses, fazei descer sobre
este par uma coroa abençoada”.

aloNso: amen, Gonçalo. [prospero vai busCar o mapa

dos mares a FerNaNdo e miraNda, mas aCaba por lhes

devolver o mapa]

TríNCulo: [§ 12 surGiNdo Com esTeFâNio e Calibã, devol-


vem as molduras] se os meus olhos estão a ver bem, eis
aqui um belo espectáculo.
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 43

prospero: só faltavam estes dois extraviados e mais


este patife que tenho muito gosto em oferecer a Nápoles.
Faz parte do meu perdão. [§ 18]

esTeFâNio: vamos para o mar, rapazes.

TríNCulo: e levemos a Consolação.

Calibã: e a Catarina que se lixe. [Todos saem À exCep-

ção de prospero e ariel]


44 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

17.
despedida
ariel • prospero

prospero: meu ariel! Toma conta da tua liberdade.


[ariel desCalça as boTas, despede-se de prospero e

sai em FoGo de arTíFiCio verde]


a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 45

18
FiNal
aloNso • aNTóNio • ariel • Calibã • esTeFâNio • FerNaNdo • GoNçalo • miraNda •
prospero • sebasTião • TriNCulo

prospero: e agora o que é que eu faço? agradeço-


vos… [§ 19 surGem Todas as persoNaGeNs. aGradeCimeN-
Tos. § 21 Fim] isto não correu lá muito bem, pois não?
vamos repetir?
46 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

baNda soNora

o: Queen: a Night at The opera


r: Queen: a day at The races
W: Queen live at Wembley’86
Q: We Will rock You

[§ 1] • CoNspiração [o 1 (0.00/1.00) death on Two legs


[§ 2] • Golpe [r 1 (0.00/1.02) Tie Your mother down]
[§ 3] • mar [o 8 (0.00/0.24) The prophet’s song]
[§ 4] • ilha [o 5 (0.00/0.35) ‘39]
[§ 5] • liberTação [r 6 (0.00/0.17 + 3.00/3.57) somebody To love]
[§ 6] • TempesTade [o 8 (3.25/8.20) The prophet’s song + o 9 (0.00/3.34) love
of my life]
[§ 7] • CoNsolação 1 [r 4 (0.00/0.21) The millionar Waltz]
[§ 8] • CoNsolação 2 [r 4 (2.48/3.25) The millionar Waltz]
[§ 9] • molduras [o 2 (0.52/1.07) lazing on sunday afternoon]
[§ 10] • proCura [o 3 (0.00/0.11) i’m in love With my Car]
[§ 11] • CaNGa [r 10 (0.00/1.56) Teo Torriate - let us Climb Together]
[§ 12] • bebados [o 2 (0.00/0.07) lazing on sunday afternoon]
[§ 13] • remorsos [r 2 (4.44/5.04) Youo make my breath away]
[§ 14] • desCaNsa [r 10 (3.27/3.58) Teo Torriate - let us Climb Together]
[§ 15] • deClaração [r 10 (3.59/5.51) Teo Torriate - let us Climb Together]
[§ 16] • FashioN [o 2 (0.00/1.07) lazing on sunday afternoon]
[§ 17] • reeNCoNTro [W 1 (3.18/3.59) love of my life]
[§ 18] • despedida [W 14 (0.00/4.05) We are The Champions]
[§ 19] • aGradeCimeNTos [W 15 (0.00/1.27) God save The Queen]
[§ 20] • eNCore [o 12 (0.00/1.12) God save The Queen]
[§ 21] • FiNal [Q 11 (-0.23/4.22) No one but You (only The Good die Young]
[§ 22] • saída [Q 24 (0.00/5.42) bohemian rapsody]
a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare 47

a TempesTade
a partir de William shakespeare

versão 1995: Carlos Carvalheiro, estreada em 11 de junho de 1995 pelo Clube de


Teatro da escola C+s barquinha, no Teatro da escola

eNCeNação : Carlos Carvalheiro


trabalho integrado no estágio do Curso de estudos superiores especializados em
Teatro e educação da escola superior de Teatro e Cinema de lisboa

musiCa: Queen

loGísTiCa: maria antónia Coelho, maria josé morujo

persoNaGeNs e iNTÉrpreTes

sebasTião: margarida robert


GoNçalo: maria josé morujo
aNTóNio : Cláudia plácido
prospero: Carlos Carvalheiro
miraNda: vera viegas
TríNCulo: marília lopes
esTeFâNio: rita santos
ouTros mariNheiros: [Na versão Foi iNCluído um exCerTo de “soNho de uma NoiTe
de verão] Teseu: alexandra duarte, FilósTraTo : ana Costa, Tisbe: Cláudia
miranda, leão: Élia ribeiro, luar: rosana bento, muro: sara Cunha, hipóliTa:
sónia bailadeira, piramo: sónia passos
aloNso: paulina ribeiro
FerNaNdo: pedro Coelho
Calibã: Tiago ribeiro
ariel: ana justino e andreia Ferreira, andreia vitório, bruno dias, Clarisse silva,
Claudio pinto, débora esteves, dora Cruz, dulce pedro, edna aleixo, eduardo
silva, Fábio Carvalho, inês serra, joão reis, joão xavier, lúcia brito, lúcia lopes,
magda moura, patricia Cristina, paula Fernandes, raquel Costa, renato esteves,
renato Teodósio, ricardo ventura, rute alexandra, sara Filipa Cunha, sara
martinho, vânia Triguinho, vera veloso

TÉCNiCa : Fábio Fonseca (som), Tiago Tomé (luz), Filipe lopes, joão Gorjão,
ricardo santos (video)

aGradeCimeNTos: ana paula eusébio, belmira e antónio lopes, eleutério e ana


pinto, Fatias de Cá de Tomar, josé Candeias, manuela silva, ermelinda Grazina,
isabel Ferrerira e anabela sousa (funcionárias da cozinha), Nuno plácido, orquidea
augusto, familia passos leitão, Teatro Contemporâneo de lisboa

apoios: adirN, Câmara municipal da barquinha, Cp-Caminhos de Ferro


portugueses, escola C+s barquinha, Governo Civil de santarém, instituto da
juventude, seguros Fidelidade
piroTeCNia: manuel martins & Filhos, lda
48 a T empesTade • versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

a TempesTade
versão de Carlos Carvalheiro a partir de William shakespeare

eNCeNação

Carlos Carvalheiro

iNTerpreTação

sebasTião :
GoNçalo:
aNTóNio :
prospero:
miraNda:
ariel:
Calibã:
TríNCulo:
esTeFâNio:
FerNaNdo:
aloNso:

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